lavoisier e a ciencia no iluminismo braga,freitas,guerra,reis
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livro paradidático sobre alquimia , pode ser utilizado por profs do 9º ano e alunos das diversas seriesTRANSCRIPT
Este livro nasceu da vontade de ver a ciência sendo
ensinada na escola deforma diferente. De uma maneira quefaça com que o aluno perceba que a produção do conhecimento técnico-científico é parte da cultura humana, assimcomo a literatura, a pintura, a música, o cinema.
Às sextas-feiras os autores deste livro, todos professores do ensino médio, se reúnem num grupo de estudo denominado Teknê. Assim como nos velhos ateliês da Idade Mé
dia, onde os artesãos estudavam e trabalhavam o ferro, o
bronze, a pedra, no Teknê se estuda a ciência, a técnica, aarte e se trabalha a palavra. Lá não só são lidos e discutidos
textos de filosofia e história da ciência e da técnica comotambém são escritos textos didáticos e ensaios, além de se
rem produzidas experiências educacionais. Nesse trabalhocompartilha-se uma grande amizade. O Teknê é a formaque encontramos de manter vivo um sonho que alimentamos desde os bancos universitários: continuar estudando,
discutindo, escrevendo e, acima de tudo, ensinando de forma criativa. Este livro é dedicado a todos aqueles que nosajudaram na construção desse projeto de vida.
Os autores••••••••••••••••••••••••••••••••
Para que estudara ciência no
iluminismo?•••••••••••••••••••••••••
Você já parou para observar à suavolta e ver quantas coisas encontram-se em seu estado natural e
quantas já foram transformadas pelamão do homem? Dessas coisas, quantasforam transformadas pela indústria química? Tintas, plásticos, remédios, quasetudo. Vivemos num mundo em que talvez seja impossível imaginar como seriao cotidiano sem os produtos fornecidospor indústrias que se utilizam de conhecimentos químicos acumulados duranteséculos.
Pare e pense mais um pouco!Quando isso tudo se iniciou? Quan
do o homem começou a procurar conhecer melhor as substâncias da natureza e a
m transformá-Ias em outras substâncias,.8
~ úteis aos seus propósitos?-ij
~ O estudo da natureza e a produçãog de novas substâncias são atividadesci que talvez remontem à Pré-História.E
~ Entretanto, apenas a partir do séculogCJ XVt com o reconhecimento dos benefí-
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cios farmacêuticos conquistados por esses estudos/ a manipulação de substâncias/ ou seja/ a prática química/ passou a
. ter sua importância reconhecida pelasuniversidades. Mas é somente no século XVIII que a química se tornou umaciência moderna/ seguindo os passosdados por outra ciência/ a física/ um século antes.
Que tipo de transformações ocorreram então? Quais as diferenças entre amanipulação de substâncias feita anteriormente ao século XVIII e a químicamoderna?
Na realidade/ foram necessários vários séculos de transformações antes dea química ser reconhecida como umaciência moderna. O ponto culminante
desse processo ocorreu ao longo doséculo XVIII e fez parte de um movimento mais amplo/ que mudou porcompleto diversos ramos do conhecimento. Nesse período ocorreram transformações fundamentais nos processosde construção do conhecimento científico. Mesmo tendo se tornado uma ciência moderna no século XVIt a físicatambém esteve no centro das transformações do século XVIII.A física produzida a partir daí é/ de certa forma/ diferente daquela de Galileu Galilei/ RenéDescartes e Isaac Newton.
Vamosexemplificar.Se você tivesse a oportunidade de
ler um livro escrito pelos fundadoresda ciência moderna/ talvez ficasse sur-
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preso com a forma de apresentação dasidéias. Você encontraria diversas referências religiosas e até conceitos tipicamente característicos de uma visão mágica da natureza. Os físicos· e astrônomos de hoje se apresentam como herdeiros desses fundadores, mas tambémcomo detentores de um conhecimento
que se pretende puramente racional,baseado em fatos experimentais e expresso numa linguagem matemática.Portanto, um cientista moderno, ao leros escritos originais dos fundadores desua ciência, tenderia a achar a maioriadas conclusões corretas, mas consideraria falso o ponto de partida dessas concepções sobre a natureza.
Algo então mudou ao longo de todo esse tempo. Não foram só novas teorias que surgiram nem apenas se descobriram novos fenômenos. Algo mudouna forma de se olhar para a natureza, naforma de se construir o conhecimentocientífico.
Essa transformação, ocorrida no século XVIII,é considerada hoje uma verdadeira revolução científica por muitos
historiadores da ciência. Por ter acontecido no interior de um movimento culturalmais amplo, que hoje conhecemos pelonome de iluminismo, também poderiaser chamada de revolução científica doiluminismo.
A química moderna nasceu comoum produto dessa "revolução", comandada por um cientista francês chamadoAntoine-Laurent Lavoisier. Ele liderouum movimento científico, e ao mesmotempo político, de criação das bases para a ciência moderna. Para compreendermos o que representou a revoluçãocientíficado iluminismo, vamos seguir ospassos das transformações que foramocorrendo na química desde a Antiguidade até a revolução comandada porLavoisier.
Será importante, entretanto, que,antes de começar a leitura, você não seesqueça de uma questão. A revoluçãocientífica do iluminismo não nasceu damente de uma única pessoa. Ela é partede transformações por que passava a totalidade da sociedade européia do século XVIII.
11 ~
CAPíTULO 1
A tradição
alquímica
Desde a Antiguidade já havia umaintensa atividade de manipula
. cão de substâncias, em diversas
partes do mundo, sempre associada àmedicina e à fabricação de metais. Noprimeiro caso, procurava-se prepararmisturas com ervas e plantas em buscada cura para doenças. No segundo, o objetivo era utilizar o fogo para derretermetais, misturando-os e transformandoos em novos metais. Esse tipo de manipu-"lação era denominado transmutação. Oseuropeus tomaram conhecimento dogrande desenvolvimento alcançado pelos egípcios nesse campo e passaram adenominar essa arte khemia, que era onome utilizado pelos egípcios para denominar as transmutações. Mais tarde, já naIdade Média, a partir da influência dacultura árabe na península Ibérica, os europeus passaram a utilizar a palavra alquimia para denominar a khemia egípcia.
Você já deve ter ouvido falar nessapalavra. Muita gente hoje a tem usadopara indicar coisas misteriosas, ligadas aalgum tipo de ocultismo. Se você parar B
um pouco para pensar em tudo o que nos t.-'"
vem à mente quando as palavras alquimia a"-
e alquimista são utilizadas, perceberá que, ~<:
com quase toda certeza, surgirá a idéia de iEalgo misterioso, oculto, esotérico (algo só ~
2acessível a iniciados). CJ
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Esse raciocÍIÚonão é de todo um en
gano. Aalquimia representou uma formade compreender a natureza e de manipulá-Ia baseada numa concepção mágicada natureza, que, vinda da Antiguidade,permaneceu viva durante séculos. Muitos acreditam que essa concepção aindaesteja viva, não só nos discursos esotéricos, mas no fundamento de algunsdiscursos ditos científicos e racionais.
O saber dos alquimistas, principalmente na Idade Média, formava um cor-
Os primórdios
po de conhecimentos secretos, restrito aalguns poucos iniciados, que pertenciam a grupos fechados, corporaçõessecretas. Os alquimistas transmitiamseu saber e sua arte contando suas experiências uns para os outros, desenvolvendo uma tradição oral. Entretanto,como alguns alquimistas também organizavam em manuscritos suas observações sobre a manipulação das substâncias, um pouco dessa arte pôde chegar até nós.
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Não se sabe ao certo quando a alquimia surgiu. Há registros de manuscritosda Antiguidade, escritos em diversaspartes do Oriente. Algumas das principais características da concepção de natureza própria da alquimia podem serencontradas em diversas dessas culturas.
Os chineses, por exemplo, sempreimaginaram. o universo como um grandeorganismo. Nesse organismo existiriamsimpatias, ou afinidades, e antipatias. Todas as ligações entre as coisas, incluindoaí os homens, se davam por meio dessasafinidades ou antipatias. Como explicar ofato de que, entre tantas pessoas existentes no mundo, você só se tome amigo dealgumas delas? Talvez você responda:"Porque tenho afinidade com elas". Masvocê pensou em que consiste essa afinidade? Mesmo quando sabemos intuitivamente o que é afinidade, é difícil explicáIa apenas pela razão.
Os chineses acreditavam que a idéiade afinidades e antipatias poderia ajudar
Da alquimia chinesa fazia parte um conjunto detécnicas desenvolvidas desde a Antiguidade e quesó se tornaram conhecidas na Europa durante aIdade Média. Entre elas se incluíam novos tipos demetalurgia, a fabricação do papel e da pólvora. Ailustração representa chineses trabalhando nametalurgia.
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a compreender por que algwnas substâncias tinham maior facilidade de se combi
nar do que outras, fato difícil de ser explicado pela razão.
Outra idéia presente na filosofia chinesa e também usada na sua alquimia eraa do par ljin/ljnng. Essas palavras representam o lado escuro (ljin) e o lado ensolarado (ljnng) da montanha e servem paraexplicar dualidades existentes no cosmoe que formam, na realidade, uma unidade. Diversos são os exemplos desses dualismos: claro/escuro, homem/mulher,quente/frio, etc. Cada uma dessas partescompleta a outra, não existindo uma sema outra. O ljnng representa o forte, o poderoso, o homem, o céu. Já o ljin representao receptivo, o dócil, a mulher, a terra.
Os alquinústas clúneses foram fortemente influenciados por essa visão filosófica, em que a harmonia do universo é pensada a partir dessa complementaridade.
Muitas das concepções alquímicasdos chineses foram, com O tempo, se espalhando pela Ásia e pela África. A partir doconhecimento da tradição chinesa, lugarescomo a Arábia e o Egito desenvolveramsuas próprias concepções de alquimia. Osegípcios, por exemplo, tornaram-se hábeisna matúpulação de substâncias. Eles fabricavam cosméticos, produziam peças emouro ou tin tas para a pintura de tumbas.Por sua vez, muitas das concepçõesalquímicas egípcias influenciaram fortemente a alquimia desenvolvida na Europadurante a Idade Média.
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Mural encontrado em um túmulo em Tebas, dataede 1400 a.C.
Yin/yang - esse é osímbolo utilizado peloschineses para representar a dualidade complementar yin/yang. Observe que a porção maisexpandida de cada umadas partes representa aomesmo tempo seu fim eo início da outra. A bolinha existente em cadaum dos lados significaque o yintrazem si a semente do yang e viceversa.
A alquimiamedieval •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••.
Na Europa, a difusão dos manuscritos alquimicos só ocorreu durante a Idade Média. Os grandes responsáveis poressa difusão foram os árabes. Durante
um período de quase setecentos anos, entre os séculos VIII e XV, os árabes domi-
naram grande parte da península Ibér:,onde fundaram importantes universi.:.des, que se tornaram pólos de difusão.novas idéias. Para lá dirigiam-se filóso:de toda a Europa em busca de conh"mento. Dos estudos ali empreendi.:
constava a leitura de diversos manuscri
tos da alquimia árabe, além de outros,provenientes da China e do Egito. Essestextos haviam sido conservados duranteséculos em bibliotecas, no Oriente.
Ao mesmo tempo, os árabes tambémforam responsáveis pela difusão de diversos textos da filosofia grega. A junção dostextos alquírnicos com a filosofia grega e
A alquimia européia medieval, assim como muitas de suas correntes ante
cessoras, partia de uma visão mágica danatureza, isto é, partia do princípio deque existia um espírito nas substânciase que muitos fenômenos poderiam serexplicados pela ação desses espíritos.
Muitos alquimistas medievais erammonges que realizavam suas investigações em laboratórios situados no interior dos mosteiros. A ordem dos fradesfranciscanos foi uma das mais envolvidas
com as experiências alquímicas. SãoFrancisco de Assis, fundador dessa or-
Adaptado de Alias ilÍslárico - Eucyclopll,'dill lirilmlllim do Brasil. Barcelona: Editorial Marín, 1988.
15 ~
dem, havia afirmado, no século XIII, queDeus também falava aos homens através
da natureza. Essa afirmação, que na verdade era uma crítica ao excessivo poderdos teólogos da época, foi interpretadapelos franciscanos como um incentivo aoestudo dos fenômenos naturais.
Um dos principais objetivos dosalquimistas medievais era encontrar a pedra filosofa I e o elixir da longa vida. Apedra filosofal era uma espécie de agenteespiritual que, em contato com os metais,seria capaz de transformá-Ios em ouro. Abuscado ouro não estava necessariamen
te ligada à obtenção de riqueza, mas àbusca do elixir da longa vida. Esse elixir,como o próprio nome já indica, seria umasubstância que, ao ser ingerida por umapessoa, a tornaria imortal. Os alquimistasacreditavam que o ouro era o metal maisnobre e durável existente na natureza. Por
esse motivo, o elixir da longa vida deveria ter por base o ouro. O trabalho nos laboratórios dos alquimistas visava produzir ouro, por meio do contato com a pedra filosofal, e transformá-io mun líquidcque pudesse ser bebido. Dessa forma, seria obtida a cura para todas as doenças eportanto, a vida eterna.
Ilustrações de um livro medieval mostrando duas f
ses distintas do trabalho dos alquimistas: à esquEda, o recolhimento de ervas; à direita, a manipulaç;das ervas em um laboratório.
Os elementos danatureza segundo os ••••••••••••••••••••••••alquimistas medievais
Esse desenho, datado de 1100, mostra os quatro elementos interligados: ar, água, terra e fogo.
Para os homens medievais, o uni
verso era dividido em mundo supralunar (além da Lua) e mundo sublunar (a
Terra). O mundo sublunar constituía-se
quatro elementos fundamentais:
terra - ar - água - fogo
Essa forma de encarar a cc
ti tuição da na tureza era wnarança da filosofia grega. Emdocles, filósofo e médico gr,que viveu por volta do sécula.c., acreditava que os quatromentos da natureza eram coe
tuídos a partir de dois pares,mando quatro qualidades bás:
seco/úmido - quente/fric
Essas qualidades, ao serem associaIas, formariam cada um dos elementos:
seco + quente = fogoseco + frio = terra
úmido + quente = arúmido + frio = água
Tais concepções da filosofia grega·oram muito difundidas através dos es:ritos de Aristóteles. Este filósofo e PIa tão
·oram os pensadores mais lidos ao longoIa Idade Média. Os alquimistas árabesltilizaram as idéias difundidas por es;es escritos para compreender a constiuição das substâncias com as quais traJalhavam. Os alquimistas europeusnedievais absorveram essa concepção.
Outra busca empreendida pelos aljuimistas medievais era por encontrar a,hamada quinta-essência. A quinta-essência estaria além dos quatro elementos;;eria uma espécie de espirito que, alémie ocupar todo o espaço, preenchendo-o,'staria em todos os corpos. Muitos ai quinistas tentaram desenvolver métodos
Jara extrair a quinta-essência dos corpos.Vluitos processos químicos foram desenIOlvidos e aperfeiçoados com esse objeti10, como foi o caso da destilação. A proiução de "água ardente" - nome pelolual era conhecido o álcool na Europa da
lIermes Trismegisto e o
Idade Média - tinha, muitas vezes, a in
tenção de conseguir uma substância quepossibilitasse a obtenção da quinta-essência. Os alquimistas sabiam que a misturade "águas ardentes" extremamente puras(álcool 95°) com plantas, flores, frutos eraízes permitia a obtenção de substânciasaromáticas bastante voláteis (perfumes).Alguns chegaram a acreditar que, ao extrair tais aromas de folhas e flores, haviam
conseguido descobrir um método de separação da quinta-essência dos corpos.
Pintura mostrando um laboratório alquímico. Obser~ve os instrumentos utilizados: o fole para manter achama, o alambique, a ampulheta para medir o tempo das reações (pendurada na chaminé) e a balança,deixada no chão (canto direito inferior do quadro).
hermetismo .Os escritos de alguns alquimistas
'icaram famosos ao longo do Renascinento. Talvez o mais importante deles:enha sido o Corpus herl11eticul11, de Hernes Trismegisto. Na realidade, não exis-
tiu um indivíduo com esse nome, queseria o autor dessa obra. Os manuscri
tos atribuídos a Hermes Trismegisto sãopossivelmente uma coletânea de textosde diversos autores traduzidos pelos
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antigos gregos. Esse nome, Hermes,provém da mitologia grega, na qual é odeus da sabedoria. Ao lerem textos alquímicos inspirados por Thot, deusegípcio que representava a sabedoria, osgregos o associaram ao deus grego Hermes. Portanto, na tradução grega, ostextos foram atribuídos a Hermes, oTrismegisto, isto é, o três vezes grande.Na Idade Média, os alquimistas judeuse cristãos o compararam a Moisés, aquem as Tábuas da Lei foram entregues
por Deus. Dessa forma, o Corpus her
meticum adquiriu um caráter sagradoentre os alquimistas.
Vocêjá deve ter ouvido as palavrashermético ou Ilenlletismo para descreveralgo que esteja fechado ou uma linguagem difícil de ser compreendida. Poisbem, o atual sentido dessas palavras sedeve ao fato de os escritos de HermesTrismegisto serem conhecidos só pelosiniciados na arte da alquimia, que formavam um grupo fechado.
o MA""'t\,,~,\MEDlA'I\\.\J\
o brasileiro [saias Pessott escreveu um romallce histórico milito illteressallte, chli",
mado O manuscrito de Mediavilla, lançado pela Edito"a 34. Ele nan-a a busca de u,.l
pesqllisadOJ; na Itália, por 11m ma
IIl1scrito, sllpostamellte p",-dido, escri
to pelo mOllge frallcisca,lO Rica/'do deMediavilla, que, além de ser um filó
sofo importallte, era adepto da alquimia na Idade Média. Nessa busca, à
medida que o leitor vai sendo envolvido pela trama, também passa a conhecer alguns dos mistérios da alquimia praticada nos mosteiros medievais. Al110res, vinhos e ótimas COlHi
das italianas são descritos Hesse li
vro, dando 11msabor todo especial àbllsca do manllscrito.
~ 18
Paracelso e a medicina
alquímica .A busca da eternidade e, portanto, o
combate às doenças fizeram com que aalquimia se ligasse de forma estreita àmedicina. Um dos alquimistas mais importantes foi um médico chamado Paracelso. Seu nome verdadeiro era Aureolus Theofrastus Bombastius von Hohen
heim. Nasceu na Suíça em 1493 e faleceuna Áustria em 1541. Paracelso estudouos fundamentos da medicina em diver
sos lugares, como nas escolas de Basiléia, na Suíça, e de Ferrara, na Itália.
Para celso procurou criar uma novaconcepção de medicina, assocíada à alquimia. Para ele, os médicos deveriam sedesvencilhar do passado: tudo o que havia sido escrito por médicos, como Galeno, a suprema autoridade em medicinana época, e por filásofos, como Aristáteles, deveria ser colocado de lado. A
nova medicina deveria partir da experiência, de um conhecimento aprendidodü:<;:t""m<;:l\t<;:d"" l\""t\1t<;:"U\.r""m Ü;~Q, b.",,'I<;:-
ria necessidade de uma revolução na formação dos médicos.
Para celso acreditava na existência de
uma Íntima relação entre o macrocosmo,que era Deus, e o microcosmo, a natureza.O homem era visto como parte da harmonia desses cosmos, sendo ele uma pequena parte imperfeita do cosmo maior,que é perfeito. Segundo Paracelso, adoença era consíderada uma desarmoniaentre o corpo e o espírito do homem. Curar seria, portanto, fazer retornar essa harmonia. Entretanto, contrariamente ao quepregava a medicina de Galeno, Para celsoacreditava que esse equilíbrio poderia serafetado por fatores externos como, porexemplo, a ingestão de alguma substância química. Foi aí que surgiu o uso daspoções na restituição do equilíbrio docorpo. Como a natureza operava quimicamente, a restituição da saúde deveria seguir o mesmo principio.
Paracelso viajou muito por toda aEuropa, realizando conferências, procurando difundir suas idéias. De forma geral, entre as duas correntes da alquimiade sua época - a panacéia (proteção contra as doenças e o envelhecimento) e acrisopéia (transformação de metais emouro) -, ele optou pela primeira. Aabundância do ouro proveniente do NovoMundo fez com que diminuísse o interesse pela obtenção desse metal por meiosartificiais.
Paracelso também desenvolvia uma
alquimia do espírito. Para ele, Jesus Cristo era a pedra filosofal do espírito. O hom<;:m "m CQl\t"tCl CClill CüStCl s" t'."ns-
mutaria da imperfeição para a perfeição,da mesma forma que os metais se transmutariam em ouro. Embora vivesse em
um tempo extremamente conturbado,numa região - a Suíça - onde as divergências religiosas entre católicos e protestantes estavam muito intensas, ele não se
envolveu nessas polêmicas. Permaneceucatólico, mas contrário ao poder dos papas dentro da Igreja.
A alquimia e a medicina de Paracelso influenciaram enormemente o
pensamento europeu dos séculos XVI eXVII. Muitos estudiosos da história
das ciências consideram mesmo que onascimento da química moderna foium processo lento e gradual, que começou com Paracelso e só terminou comLavoisier.
A partir do século XVUI, a alquimiana sua forma tradicional, começa a perder importância. Essa decadência é po,vezes atribuída à ascensão dos novo
métodos da ciência moderna, surgido,a partir do século XVII, com a física. Ertretanto, parte desses novos método,como a experimentação nas práticas de I,·boratório, já existiam na alquimia haYi:séculos. Aquilo que chamamos hoje é,química moderna nasce muito mais étentativa de se apagar por completo o Cê
ráter místico presente na tradição alqumica do que pelo surgimento de no\'lmétodos de investigação da nah,reza. E"caráter estava em desacordo com a no'
sociedade e com as novas formas de pesar o mundo que começavam a se estr.rurar dentro de um movimento chamaciluminismo.
A HOtA~Q"K\\~Se observarmos (f l1ledici/la de hoje,
percebemos que ela POIlCO011 nada temem C0I111lnt com a medicina praticada no
passado. Entreta/lto, existe uma cOITentede peIlSame1lto, criada no século XVIII,que apresenta algumas concepções herdadas da medici/la de Paracelso. É a 110
meopatia, criada pelo médico alemãoChristian Fl'iedrich Samuel Hallllemall/l
(1755-1843). A l1Omeopatiaparte de algllns
.ail '0
prinCtplOS básicos, que sintetizamO'
seguir. O primeiro deles é que não ftem doenças, mas doe/ltes. COl/l isscidéia de doença como algo extel'iorhomem é abando/lada, i/ldividualizaJlse os problemas apresentados: o mérdeve analisar seus pacielltes caso a cO seg/lndo p1'Í/lcipio é o da similitudegtlndo o qual os semelha/ltes são Clil"l
pelos semellta/ltes; em outras pala •
toda substância capaz de provocar umproblema num organismo sadio tambémserá capaz defazê-lo desaparecer. O último princípio é o de que a diluição de umasubstância, isto é, a sua utilização emdoses muito pequenas, é capaz de curaruma doença sem causar efeitos colaterais.
De forma geral, Hahnemann sofreuforte influência de Paracelso ná construção de seus métodos terapêuticos. Ele estudou as obras de Parace/so e de seus se
guidores, baseando seus métodos em algumas idéias defendidas por eles. O princípio da similitude baseia-se numa frase
atribuída a Parace/so e escrita numa edi
ção de um de seus livros de 1658: similiasimilibus curantur (os semelhantes são
curados pelos semelhantes). A idéia deque a doença é fruto de um desequilibrioentre o corpo e o cosmo maior tambémfoi absorvida do alquimista suíço.
A homeopatia foi vista com muitadesconfiança pelas academias de ciênciaao longo do século XVIII, chegando a sercondenada e proibida em 1835. Em 1925foi criada a Liga Homeopática Internacional, e somente em 1980 ela foi reconhecida no Brasil como uma especialidademédica.
Gravura de Pieter Bruegel (1525?-1569) satirizando a medicina praticada durante o Renascimento.
CAPíTULO 2
o iluminismoe a nova forma de
pensar o mundo
A o longo do século XVIII, surgena Europa um movimento inte
. lectual que pretende lançar asbases de uma nova razão, isto é, de umanova forma de pensar o mundo. Desde aIdade Média o pensamento na Europa vinha sendo regido por algo que poderíamos chamar de "razão teológica". De forma simplificada, poderíamos dizer quenessa razão as formas de pensar o mundotinham por base a ação ou a presença deDeus entre os homens. Muitos foram os
filósofos medievais que construíram asbases dessa forma de pensar. Santo Agostinho, que elaborou uma interpretação daobra do filósofo grego PIa tão à luz da fécristã, foi um deles. Santo Tomás deAquino, ao interpretar o pensamento deoutro filósofo grego, Aristóteles, seguindo esse mesmo caminho, foi também umpensador medieval de destaqLre.
À medida que a sociedade medievalfoi se transformando no plano religioso(com a decadência do poder eclesiástico),
no plano econômico (com a prática do ~mercantilismo) e no plano social (com a t'ascensão de uma nova classe, a burgue- ~"sia), começaram a ocorrer também trans- ~"formações no plano das idéias, nas for- f
mas de pensar o mundo. Durante os sé- iCLllosXVI e XVII, iniciaram-se as críticas ~
à razão teológica. Muitos filósofos procuraram romper com essa velha forma depensar, propondo novos caminhos. Dessas propostas surgiu o que conhecemoshoje como ciência moderna.
Preste atenção: a ruptura com asvelhas formas de pensar não se dá demaneira imediata. Trata-se de um processo longo, que envolve a participaçãode diversas gerações. Num primeiromomento, surgem apenas críticas aopensamento que está estabelecido. Esseprocesso de crítica é extremamente difícil para quem o faz. Vocêtalvez já tenhaouvido falar de pensadores como Gior-
dano Bruno, que morreu queimado nafogueira da Inquisição, ou talvez conheça o processo por que passouGalileu Galilei. A história desses ho
mens é um exemplo de como se podeaté pagar com a própria vida pelo fatode se elaborarem críticas às idéiasestabelecidas como verdadeiras. Numasegunda etapa desse processo de transformação, depois que as críticas já começam a se tornar comuns, chega o momento da construção de uma nova forma de pensar o mundo. É necessário ultrapassar a crítica para chegar ao planoda formu lação das novas idéias.
o iluminismo como
movimento filosófico .No século XVIII surgiu na Europa
um movimento que pretendia construiruma nova razão, diferente da medieval.Esse movimento foi chamado de ;Ium;
n;smo ou esclarecimento. Sua importânciafoi tão grande que o sécu10 XVIIIé, porvezes, chamado de Século das Luzes.
É muito difícil resumir o que foi oiluminismo, pois fizeram parte dessemovimento vários filósofos, que defendiam diversas correntes de pensamento.Entretanto, em linhas gerais, pode-seafirmar que os iluministas queriam fundar uma nova razão. Acreditavam numanova forma de pensar e ver o mundo,1ívre das influências religiosas que formavam a base da razão teológica medieval, razão essa que eles denunciavamcomo supersticiosa.
Você é supersticioso? Muita gentetem superstições! Vocêjá pensou sobre oque é superstição? É a crença na existência de relações entre fatos que não podemser comprovados por meios racionais.Pense no seguinte: o torcedor de um clube de futebol assiste a diversos jogos deseu time e, por acaso, em todas as vezesele está vestindo a mesma camisa. Se otime dele vencer todas as partidas, elepode começar a imaginar que existe alguma relação entre sua camisa e a vitóriado time e passar a usá-Ia sempre que assistir aos jogos. Acreditar nesse tipo derelação, que não tem nenhuma base racional, é típico de uma postura supersticiosa ou visão mágica do universo.
A nova razão procurava se opor àssuperstições. Grande parte dos ilumirustas criticava as concepções religiosas
por basearem-se, segundo sua perspectiva, em superstições. As tradições religiosas baseiam-se em verdades que foramreveladas por Deus a alguns homens. Asformas dessas revelações são muito variadas. Entretanto, para os que têm fé, essas revelações são verdades inquestionáveis. Mesmo que sejam submetidas àrazão, sempre chegará um momento emque não haverá mais explicações possíveis, e considerá-Ias falsas ou verdadei
ras será uma questão de fé. Os ilumi-
nistas declaravam que esse conhecimen·to revelado, como não podia ser provado'em sua totalidade por caminhos puramente racionais, não poderia ser considerado verdadeiro. Aceitar um conheci
mento revelado era, para eles, inadlnissÍvel e poderia levar ao irracionalismo, à_
crendices.
Dessa forma, filosofia e religião deveriam estar em campos opostos. O novalmovimento surgia para iluminar as mentes. A difusão dessa nova racionalidade\
Família burguesa em 1785.
levaria à construção de urna nova cultura, que seria completamen te livre dedogmas e de autoritarismos intelectuais.
O iluminismo surge como base filosófica da sociedade que se estava construindo. Uma sociedade em que grandeparte do poder político e cultural aindase encontrava nas mãos da Igreja. Anova classe ascendente, a burguesia, desejava conquistar não só o poder econômico e político, mas também as formas
de produção cultural. E para isso tinhaque desqualificar as antigas idéias, divulgando outras.
Lavoisier viveu durante essa épocade elaboração das novas idéias. A França foi um 'dos países em que o iluminismo se desenvolveu de forma mais
intensa. Vamos procurar conhecer algumas dessas idéias em dois camposnos quais Lavoisier atuou com mais intensidade.
o iluminismo na
economia ••••••••••••••••••••••••••••••••••••
A Europa dos séculos XVI e XVII jáhavia se organizado políticamente sob aforma dos Estados nacionais. Até então, aorganização política girava em tomo dascidades. Com o advento do absolutismo,
surgiu uma nova organização política emque um território maior era governadopor um poder central, o rei. Uma dasprincipais preocupações desses reinosera tornarem-se cada vez mais ricos. Os
estudiosos da economia dessa época procuraram analisar esse problema e sugeriram algumas saídas. Bastaria que se produzissem mais riquezas do que a naçãonecessitava para seu consumo. O excedente deveria ser exportado; e o lucro obtido, armazenado. Os Estados, para queisso pudesse ocorrer, deveriam controlartoda a economia criando normas que regulassem o seu funcionamento. Com essecontrole poderiam ser alcançados os objetivos pretendidos. Esse tipo de políticaeconômica ficou conhecido mais tarde
pelo nome de mercantilistllo e foi praticado por grande parte dos países europeusno princípio do século XVIII.
Os economistas ligados ao movimento ilLUninista propuseram outra forma de encarar esse problema. Eles defendiam que, para a economia prosperar,não deveria haver intervenção do Estado.Consideravam a economia semelhante à
natureza e, portanto, sujeita às leis naturais. Assim, os economistas, a exemplodos físicos, deveriam apenas procurarcompreender as leis que regem os mercados, sem propor nenhuma intervençãodo Estado.
Veja que situação interessante! Asidéias apresentadas pelos físicos, fundadores da ciência moderna, influenciarama economia das nações. Os economistas,embora estivessem estudando o funcio
namento do mercado, conheciam aquiloque Galileu, Descartes e Newton haviamproposto para a ciência.
Esses economistas ficaram conlleci
dos como fisiocratas. Esse vocábulo tem amesma origem de físíca, isto é, a palavragrega physis, que significa, de formasimplificada, o que nós hoje chamamosde natl/reza. O lema desses economistas
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era laissez-jaire, que em francês significadeixai jazer.
A França foi a nação em que o controle mercantilista sobre a economia foimais radical. Existia um verdadeiro exér
cito de fiscais que controlavam a econolnia. Por exemplo: imagine que um produtor de tecidos, observando as preferências das pessoas de sua região, decidisse fabricar um novo tipo de tecido.Não podia' As leis impediam que sua fábrica produzisse tecidos fora dos padrões estabelecidos.
Os fisiocratas defendiam que a raizde toda a riqueza de uma nação estavana agricultura. O comércio e a indústriaapenas transformavam os bens gerados
o iluminismo
pelo campo. Por isso defendiam a idéiade um incentivo à agricultura em detrimento das outras áreas da produção.
Para os fisiocratas, o controle total da
economia era absurdo porque os produtores deveriam seguir o curso natural domercado, isto é, fazer o que fosse possívelpara ampliar sua riqueza. As normas impediam o fluxo natural do mercado.
Como a maioria dos países europeus no século XVIII era governada pormonarquias, e como toda a economia eracontrolada por elas, nada mais previsíveldo que a nova classe, a dos burgueses, embusca de uma ascensão em termos econô
micos e políticos, passar também a defender as idéias dos fisiocratas.
." .nas ClenClaS "..
A ciência moderna surge no séculoXVII como parte de um movimento maisamplo. A burguesia, à medida que vaiampliando seu poder na área econômica,também começa a questionar o poder emoutros campos. Nada mais natural que sequestionem as velhas formas de produção de conhecimentos ligadas à Igreja.Galileu irá viver o ponto alto desse embate ao defender suas idéias perante os tribunais da Santa Inquisição. Embora saiaderrotado, obrigado a permanecer emprisão domiciliar até o fim de sua vida,não há mais como impedir que a novaciência se estabeleça*. Será só uma questão de tempo para que ela se estruturecomo saber. À medida que o tempo passa,aumenta a desconfiança no poder da
Igreja e em todo conhecimento baseadoem elementos místicos.
As novas ciências, pouco a pouco,vão procurando abandonar as referênciasreligiosas que ainda persistiam nos escritos de seus fundadores.
Talvez você ache isso estranho' Re
ferências religiosas nos escritos dos fundadores da ciência?! Pode parecer esquisito, porém é a mais pura verdade. Os escritos dos fundadores das ciências, como
Copérnico, Descartes, Galileu e Newton,continham, de maneira explícita, referências às concepções religiosas de suaépoca.
Copérnico, no século XVI, colocou oSol no centro do sistema planetário porque acreditava, entre outras coisas, que
'* Leia mais sobre esse assunto em GlllifclI e o IIllscill/r'IIto da cit'lIcil1l1lodcl"IIlJ, desta coleção.
)eus não poderia ter feito um astro tão,rilhante e não colocá-Io no centro, demde poderia iluminar tudo. Newton, no.éculo XVII, ao imaginar a atração entre'orpos como a Terra e o Sol, em seu estu10 sobre a gravitação, afirmou que essaItração acontecia em um meio que preen:heria todo o espaço e que ele denominoule fléter". Para ele, o éter seria o senSOrillJ1l
)ei, ou os "sentidos de Deus", pois esta'ia em todos os lugares do universo, re)[esentando uma espécie de quinta-essên:ia (um conceito proveniente da alquimia).viuitos OUtros conceitos existentes na fí,ica newtoniana continham referências a
Telhas idéias aIquímicas. A atração entre)S corpos, criada por Newton para expli:ar o movimento dos planetas em tornoio Sol, possui algo daquele conceito de'afinidade" presente nos primórdios dallquimia*.
Todo esse caráter da obra de Newon, e dos demais fundadores da ciên:ia moderna, será considerado meafísico pelos cientistas iluministas.
Diversos cientistas ligados ao molimento iluminista procuraram eliminarIS referências metafísicas ainda existen
'es na ciência. A melhor forma para isso~ra apagar O passado, reescrevendo noras livros. Foram então escritas diversas
)bras, denominadas Ti'nlndos, que apre;entavam as teorias de NewtoTI, assim:omo as dos demais fundadores da ciên:ia moderna, sem o caráter meta físico:on tido nos originais. Essa ati tude dos:ientistas iluministas foi consideradanais tarde uma nova revolução científi:a. Na física, essa revolução preservou as:lrincipais idéias de fundadores como=opérruco, Galileu e Newton. Na verda-
Isaac Newton (1642-1727).
de, o que se fez foi uma releitura de suasobras a partir de novas bases.
Já no campo da química essa revolução foi mais radical. Antoine LaurentLavoisier foi o principal nome dessa revolução. Ele tomou parte do movimentoiluminista procurando fundar uma novaquímjca, ou seja, sem as referências rne
tafísicas da alquimia. Assim, seu principal objetivo foi apagar todo o passadoherdado da alquimia e se proclamar Ofundador da química moderna.
- Leia mais sobre esse assunto em Ncw/oll (' o frilflljo do IJIccnllicislIIO, desta coleção.
27 ~
VOCÊ SABE O QUE É METAFíSICA?
Estátua de Aristóte
les (384-322 a.C.), filósofo grego.
,~ o prefixo mel(n)
t significa "além de"~ ou "após" alguma
coisa. A palavra me
Infísiea foi inventadapelo filósofo And ro~nico de Rodes, no ano50 a.c., para classificar e denominar osescritos de Aristóte
les posteriores aosseus estudos sobrefísica. Nos escritosmeta físicos, Aristó
teles procurou pensar aquilo que ficouconhecido como a
"filosofia primeira",isto é, a busca da essência de todas as
coisas. Ao redigir esses escritos, ele inaugurou um campoda filosofia que, de causa em causa,busca o conhecimento da natureza
última de todas as coisas. Você já deveter visto como as crianças gostam de fazer perguntas sobre o porquê das coisas. A cada resposta dada pelo adultoela emenda um outro: por quê? Nameta física também é assim, vai-se de
porquê em porquê, à procura da explicação última para tudo. Nas ciências,um conhecimento é considerado meta
físico quando tem suas bases de sustentação apoiadas em alguma explicaçãoou elemento da natureza que não possater sua existência confirmada por meiosexperimentais.
Vamos exemplificar: você se lembra que ao comentarmos as referências
religiosas existentes nas obras dos fundadores da ciência moderna nós mencio
namos o éter, aquele meio material quepreencheria todo o universo e que foiutilizado por Newton e outros cientistas para explicar como um planeta conseguia atrair outro estando a uma granded istãncia dele. O éter nunca teve sua exis
tência confirmada por meios experimentais. Logo, a justificação do fenômeno daatração a distãncia estava baseada numelemento da natureza que não tinha suaexistência confirmada. Os cientistas do
século xvrn consideravam-na uma explicação metafísica, que por isso não deveriafazer parte da ciência. Outro exemplo interessante é também uma conseqüênciada obra de Newton. A força de atração entre os planetas também foi consideradapor alguns cientistas do século XVlIIcomo metafísica, pois a capacidade de umcorpo atrair outro era percebida comotendo relação com o princípio alquímicodas afinidades entre corpos e substãncias.
Os cientistas mecanicistas do século
XVI]] tentaram afastar toda e qualquer explicação que não tivesse por base a existência de corpos que pudessem ser observados ou ter sua existência comprovada experimentalmente. Mais tarde, já noséculo XIX,alguns cientistas tentaram banir completamente a metafisica da ciência. Eles acreditavam que a ciência nãopoderia buscar compreender a essênciada natureza. Os cientistas simplesmentedeveriam criar expressões matemáticasque descrevessem seu comportamento. Atentativa de banir a metafísica da ciência
gerou, no século XIX, lllna corrente filosófica denominada positivismo.
A P.\ ~,~.
TOME PIt(.\\lEJ:..
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T~ •••••-••Jo"f"o.~""''-_·&<.o.,.
I'AIl t";.•r. SOCIET~ /)c CE."s J)C LCITIlES.
"'- '''0(:. II.•••,<~~~~"s ••,,"~« .•••~.• c."" •• t.
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ENCYCLOPEDJE, .~()lj 1..
DICTIONNAlltE RAISONNE &
DES SCIENCES,DES ARTS foT DES METIERS.
Wio•• _"';-o.,..!o!.N/)Fl'Of ••• ,~_"" ••.,,,,,_ •. .., r.o.~'- •••.•.•.,,_ ••,.•,,,"'_~",<,..••.:>L.D·"'l_.<.oT.:\~_ •..'--.•.•...•.~"'•...•..•.•.•.-...'"
A enciclopédia nãofoiinventada na França.Entretanto, os iluministas franceses se propuseram a escrever lima que ficou mili
to famosa. O objetivo deles era reunir mim grandelivro, dividido em volumes,todo o conhecimento produzido até aquela época.Essa enciclopédia francesateve como subtítulo os se
guintes dizeres: "Dicionário racional das ciências,
das artes e dos ofícios".Dois filósofos iluministas, Denis Diderot(1713-1784) e Jean d'Alembert(1717-1776),coordenaram a edição dessa enciclopédiae convidaram diversos sábios da época aescreverem sobre os assuntos dos quais elesmais entendiam. Os livros foram divididos em verbetes, isto é,palavras que sugeriam temas. Os 35 volumes da enciclopédia levaram 21 anos para serem editados.
.~ A edição da enciclopédia teve IIIn~ grande valor simbólico para a con; solidação da sociedade modema. Ela
representa uma tentativa de se criaruma forma de organização de todo osaber existente em detenniuada época, a partir da óptica dos iluministas.É como se eles estivessem dizendo ao
mundo: a partir de agora este passará a ser o verdadeiro conhecÍlnento,
quem quiser adquiri-Ia é só consul-Jean d'Alembert (1717-1776). tar os verbetes.Denis Diderot (1713-1784).
Quando você desejafazer uma pesquisa sobreum assunto que conhecepouco, ou do qual nuncaouviu falar, onde procura asinfonnações sobre o tema?O P"óprio título desta seção já deve ter indicado aresposta. O que é uma enciclopédia? Você já pensousobre isso? É uma tentativa de reunir todo O conhecimento existente e anna
zená-Io num lÍnico lugar.Você deve sabe,' a utilidade
que esse tipo de livro tem. Numa biblioteca encontramos diversos livros sobre os'mais variados assuntos.
Por onde começar uma pesquisa?A boa enciclopédia fornece essa por
ta de entrada. Ela dá uma informação resumida sobre um tema e aponta comocontÍllllar se aprofillldando nele atravésde outros livros.
29 <a>
CAPíTULO 3
Lavoisier:político e cientista
A ntoine Laurent Lavoisier nasceuem 26 de agosto de 1743, em Paris. Seus pais tinham urna situa
ção econômica muito boa. Sua mãe faleceu quando ele tinha cinco anos. Seu pai,que era advogado e procurador do Parlamento, procurou criá-Io com ajuda deuma tia, irmã da mãe do menino. O fatode a fanúlia materna possuir muitas posses permitiu que Lavoisier estudasse emcolégios de prestígio. Um deles, o CollegeMazarin, era famoso pelos seus cursos de 2
ciências. Seu pai desejava que ele tam- ~bém se tornasse advogado. Lavoisier sa- ~~tisfez o deseJ·o de seu pai. Entretanto, -!após concluir O curso de direito, passou a ise dedicar às ciências. Naquela época, di- ~versos cientistas ministravam cursos, l
fora das universidades, a estudantes quese interessassem pelo tema. Lavoisier participou de muitos deles. Seus interessesiam da botânica à geologia, da química àastronomia. Um de seus mestres, o professor Rouelle, era famoso pelos cursosque ministrava no Jardin du Roi, uma espécie de jardim botânico de Paris. Alémde Lavoisier, freqüentaram esses cursosvários cientistas e políticos, que participaram ativamente do movimento iluminista.
Lavoisier começou a estudar qlúmica devido ao seu interesse pela geologia.Alguns de seus professores o convenceram de que um bom mineralogista deveria conhecer muito bem os princípios da
o desenvolvimento
quimica. Por causa disso, começou a estudar os temas relativos à quimica queestavam em voga na época.
À medida que o tempo passava, doiscaminhos foram se apresentando à frentede Lavoisier: seguir uma carreira política,ligada à administração do reino como havia fei to seu pai, ou seguir uma carreiracientífica, realizando investigações nocampo da geologia e da química. Lavoisier não optou nem por uma nem por outra. Seguiu as duas. E as interligou de talforma que, ao estudar sua biografia, ficadifícil distinguir quando ele está atuandocomo administrador e político e quandoatua como cientista.
•de uma carreira .
Lavoisier escreveu seu primeiro trabalho sobre geologia em 1764. Era umestudo sobre a composição de diversostipos de gesso. Apresentou esse trabalhona renomada Academia Real de Ciências de Paris, em fevereiro de 1765. Essaacademia, fundada em 1666, reunia os
principais cientistas franceses da época.Lá, para realizar investigações nos campos da ciência e para controlar todos ostrabalhos ligados à produção científicafrancesa, eles recebiam um salário. Nessa época, existiam muitos cientistasamadores e inventores de máquinas;para terem seus trabalhos reconhecidos,eles precisavam apresentá-Ios aos membros da academia. Algumas vezes eraminstituídos prêmios para a realização detrabalhos em determinadas áreas. O trabalho da academia era dividido em seis
classes: geometria, mecânica, astronomia, anatomia, química e botânica. Cadaclasse possuía oito acadêmicos. Existiamtambém os acadêmicos suplentes, quenão eram nomeados pelo rei, mas podiam fazer parte das reuniões. Eramnormalmente escolhidos pelos própriosacadêmicos, caso mostrassem competência em suas áreas de estudo.
Em 1768, surgiu urna vaga na academia devido à morte de um dos acadêmi
cos. Lavoisier candidatou-se a ela, tendoa indicação dos membros para ocuparessa cadeira. O rei, entretanto, acabou in
dicando outro cientista, um geólogo demaior prestígio que Lavoisier devido aostrabalhos realizados para o governo francês. Porém, atendendo ao pedido dosdemais acadêmicos, indicou o jovemLavoisier para um posto de suplente na
31
A principal sala de reuniões da Academia de Ciências de Parisvura do século XVII que mostra uma hoje. Nessa instituição são debatidas, desde o século XVII, as prin-nião da academia. cipais controvérsias relativas às teorias científicas.
sse de qtúmica. Um ano depois da in:ação, surgiu outra vaga de acadêmico,avoisier assumiu uma cadeira na Acania Real de Ciências.
À medida que o tempo passava, La.sier foi galgando cargos na hierarquiaacademia, até que, em 1785, assumiu a,sidência da instituição por um ano.>curou então elaborar uma reforma darutura acadêmica, criando duas novas,ses, a de Física Geral e a de Mineralo, mas reduzindo o número de acadê
:os por classe. Esse tipo de atitude cauImuito descontentamento e fez aumen
o número de cientistas politicamente.trários a Lavoisier. A reforma represena uma busca de elitização da academia,n momento em que diversos cientisamadores desejavam se profissionar, fazendo parte do grupo e recebendoirios por sua atividade. Note que a rena aconteceu quatro anos antes do inida Revolução Francesa.
No mesmo ano em que entrou para aldemia Real de Ciências, Lavoisier
'prou ações de uma empresa chama-
32
da Ferme Générale. A Ferme tinha sido
incumbida pelo rei da França de cobraros impostos da população, recebendouma parcela como pagamento pelo serviço. Os jermiers, sócios da Ferme Générale,administravam o trabalho de diversoscobradores de impostos em toda a França. Devido a isso, eles tinham de viajarmuito, vistoriando a cobrança desses impostos. A Ferme Générale não tinha boareputação junto à população francesa.Muitos a acusavam de retirar somas con
sideráveis dos impostos como pagamento, o que certamente tornava os impostosmuito altos .
Lavoisier observa
um experimento.
Ser membro da Academia Real deCiências e trabalhar na Ferme Gênéraleproporcionou uma situação muito proveitosa para a carreira científica deLavoisier. Sendo obrigado a realizar diversas viagens para vistoriar a cobrança de impostos no interior da França,ele aproveitava sua estada em cada cidade para realizar palestras nas academias científicas locais, pois, a exemplode Paris, as cidades do interior tambémpossuíam suas pequenas academiascientíficas. Isso contribuiu muito paraque sua fama como cientista se propagasse por todo o país.
Detalhe de pintura que retrata o casal Lavoisier,feita por Jacques Louis David em 1788.
Lavoisier casou-se em 1771 comMarie-Anne-Pierrette Paulze, filha de outro fermier. Marie-Anne mostrou-se umacolaboradora dedicada de Lavoisier.
Aprendeu latim e inglês, tornando-se tradutora de diversos livros científicos. Ao
mesmo tempo, estudou pintura comJacques Louis David, um dos maiores
, '
J
Ilustração de Marie-Anne no livro de Lavoisier.
pintores franceses da época. Apartir desse conhecimento de desenho e pinturaela passou a ilustrar os livros de LaVOlSler.
Em 1775,Lavoisier foi chamado para resolver um problema científico e econômico vivido pela França. A escassezde salitre e a corrupção em algumasempresas produtoras de pólvora impediam o Estado de obter a pólvora necessária para a defesa de seu território.O cientista sugeriu ao controlador geraldas finanças que se criasse uma empresacontrolada pelo Estado para a produçãode pólvora. Lavoisier foi então nomeadopara dirigir essa empresa, chamada deAdministração de Pólvoras e Salitres,que ficou encarregada de produzir todaa pólvora necessária para a defesa daFrança. Lavoisier mudou-se para um arsenal e mandou construir ali um laboratório para o aperfeiçoamento da produção de pólvora. Esse laboratório tornouse um dos mais bem equipados do mundo. Lavoisier encomendou instrumentosde medição, como balanças, a diversosartesã os franceses. Nesse local, que hojepoderíamos chamar de um laboratórioindustrial, Lavoisier realizou diversaspesquisas no campo da química, alémde produzir a melhor pólvora da Europana época.
Lavoisier recebeu muita influência
:l pensamento iluminista no campo:onômico. A idéia dos fisiocratas de queverdadeira riqueza viria dos campos le:lUo cientista a comprar, na região fran~sa de Orleans, uma fazenda, que ele'eqüentava somente nas épocas de se\eadura e colheita. Nesse local procurouesenvolver métodos e processos para O
umento da produção agrícola. Verificouue o aumento da produtividade se relaionava com a quantidade de estercoxistente no solo. Calculou então a pro·orção adequada de cabeças de gado'ara a área de pastagem e de terra cultiada. Com isso, conseguiu duplicar a'rodutividade da lavoura e quintuplicar, número de cabeças de gado.
Como você pode notar, as carreiras)olíticae científica de o~...avoisier se nüstu- ]'avanl de fornla m- ~
ensa. Ele procurava\plicar idéias cientí-lCas no campo po- .~ítico e "ice-versa.::riar wn laboratório,lue modernamente:loderia ser denomi
~ado industrial, para:lroduzir a pólvoraio reino foi uma ati
vidade política e aomesmo tempo científica, já que o laboratório permitiu a Lavoisier realizar diver
sos experimentos científicos. De modo análogo, transformar sua fazenda num grande laboratório agrícola foi a forma que eleencontrou para oferecer comprovações práticas das idéias dos fisiocratas do ilurninismo francês.
Essa mistura de ciência e políticanão foi uma atitude isolada por parte deLavoisier. Assim como ele, em outroscampos e na mesma época, vários cientistas realizaram tarefas semelhantes:
Gaspard Monge (1746-1818) foi matemático e ministro da Marinha; PierreSimon Laplace (1749-1827) foi matemático, físico e auxiliou o Congresso durante os mais difíceis anos da Revolu
ção; Lazare Carnot (1753-1823) foi matemático, físico e trabalhou durante a Revolução, comandando o exército francês. Enfim, muitos cientistas se engajaram num processo político-científico.Não poderia ser diferente, uma vez quequase todos provinham das classes populares, eram filhos de burgueses e estavam inconformados conl a situação de
miséria em que se encontrava seu país. A maioria deles participou ativamente da RevoluçãoFrancesa.
cAPírUL04
Uma revoluçãona química
Em meados do século XVIII, a química ainda não tinha o statlls de
ciência, como a física possuía.Havia muito preconceito em relação aotrabalho dos químicos. A química era vista como uma atividade artesanal, em queapenas se manipulavam substâncias. Os
o preconceito existente em relação aos trabalhos ]
manuais levou muitos i1uministas a não considerar a ~química como uma ciência. Foi preciso vencer esse ~preconceito, que associava as experiências de labo- p.
ratório com as práticas artesanais, para que a quími- ~ca ascendesse a uma nova condição. Na figura, um ::::
,~artesão prepara um recipiente de vidro. .....
:ilósofos iluministas a viam como uma
ltividade ainda muito ligada à alquinia, conhecimento considerado mágico~sem as bases racionais que uma verdafeira ciência deveria ter. Na c1assifica
;ão dos conhecimentos feita por D' Alem)ert para a Enciclopédia, a química ocu:lava um lugar muito baixo na hierarluia científica.
Alguns químicos, entretanto, já co:neçavam a se esforçar na busca da cons-
trução das bases de uma química científica. Gabriel François Venel (1723-1775) foio médico francês que escreveu o verbetechymica (química) na Enciclopédia. Nesseverbete, Venel discordava de D' Alembert
e procurava dar à química um carátermais científico. Para tanto, procurou expor as recentes teorias de um médico nascido na Prússia (hoje Alemanha) que estava criando as bases de uma nova química. Seu nome era Georg Ernst Stahl.
fllJllil;tlJ .
Georg Emsl SI.hl (1660-1734).
Stahl, assim como todos os químicosdo século XVIII, trabalhava com os quatro elementos: terra, água, ar e fogo. Elehavia construído uma importante teoriapara explicar as reações químicas,principalmente as que ocorriamna presença do fogo. Esse pesquisador acreditava na existência de um "princípio do fogo",uma espécie de espírito do fogo, que era encontrado nassubstâncias e que se desprendia delas quando estaseram aquecidas. O princípio do fogo era denominado flogislo ou flogís
lico, palavra deriva-da do grego phlogislos, que significa"queimando". O flogisto seria urna substância imperceptívelaos olhos dos ho
mens e impossível deser isolada, pois esta-
ria sempre combinada com a terra presentenos corpos ou com o ar. A luz e o calor percebidos durante a queima das substâncias
eram as únicas manifestações sensíveis desse princípio do fogo.
Vamos dar um exemplode como os quimicos do século XVIII explicavam o fenômeno da combustão.
Você já deve ter observado que um pedaçode carvão, após queimar,
se transforma numa
pequena quantidadede cinzas. Stahl
defendia queo carvão eraformado deterra e de uma
enorme quantidade de flo
gisto; então,quando aquecido, ele liberaria todo o
flogisto existente em seu interior e sobraria apenas a pequena quantidade de terra, as cinzas. Outro fenômeno que era explicado por meio da teoria do flogisto eraa calcinação dos metais: quando um metal era aquecido, ele produziria uma cinza então denominada "cal" do metal;esse processo era conhecido como" calcinação" dos metais; o surgimento dessacal seria ocasionado pela perda de flogisto por parte do metal. A operação inversa, isto é, a transformação dessa calnum metal também seria possível: paraisso, bastaria aquecê-Ia com carvão; esteperderia o flogisto para a cal, que, aoabsorvê-lo, se reconstituiria como metal.
A teoria do flogisto funcionava como um grande princípio unificador, istoé, era uma teoria que explicava diversosfenômenos da química. Entretanto, aomesmo tempo que o flogisto explicavauma série de fenômenos, era um problema duplo para os químicos, pois haviacríticas à sua existência no campo filosófico e no campo experimental.
A crítica do ponto de vista filosóficovinha do fato de o flogisto apresentarum caráter meta físico. Lembre-se de queestamos nos referindo ao século XVIII, o
Século das Luzes, um tempo em que oshomens acreditavam estar se libertando
das visões mágicas do passado e criandouma forma diferente de ver o mundo e anatureza, baseada única e exclusivamente na nova razão científica. Tudo o
que não pudesse ser percebido pormeio da observação e cuidadosamentetestado por experimentos não poderiaser aceito como verdadeiro. O flogistonão podia ser percebido pelos sentidosnem podia ser isolado por meios experimentais. Muitos químicos, influenciados pelos ideais iluministas, começaram
então a desconfiar da existência do flo
gisto, que parecia ter um caráter místico,próprio da velha alquimia.
As críticas do ponto de vista experimental provinham de algumas experiências que eram então realizadas. Algunsquímicos perceberam que a massa decorpos queimados aumentava após o processo de combustão e calcinação. Lembre-se: dizia-se que a presença do fogo fazia com que o flogisto abandonasse o corpo. Como explicar tal fato? Alguns químicos defensores do flogisto ainda tentaram elaborar explicações, propondo, porexemplo, que o flogisto seria animadopor forças contrárias à da gravidade. Issofazia com que a sua presença tornasse ocorpo mais leve, e a sua ausência, maispesado. Esse tipo de explicação tornava oflogisto cada vez mais irreal aos olhosdos químicos. A teoria do flogisto começou a ser considerada metafisica, e essaera uma forma de pensar a natureza queos cientistas iluministas queriam ver banida da ciência.
Não pense que abandonar uma teoria seja tarefa fácil. Como a teoria doflogisto explicava de forma aparentemente coerente diversos fenômenos, eradefendida por inúmeros químicos do século XVIII. Para que ela fosse abandonada, deveria ser criada outra teoria quefosse, como ela, abrangente nas explicações dos fenômenos. A nova teoria, além
de explicar os fatos que a velha teoria jáexplicava, deveria também explicar os fatos que estavam causando problemaspara os cientistas. Portanto, a princípio,era mais fácil tentar aperfeiçoar a velhateoria, acreditando que a ausência de explicação dos fenômenos se devesse muitomais a uma incompetência dos cientistasdo que à falsidade da teoria existente.
Existe uma atividade que 110Spermicompreender melhor como se dá a subs:tlição de uma teoria por outra. ConsÚl'emos um quebra-cabeça para fazerna al1alogia com a c011st11lçãodo conhe>11entociel1tifico. Entretal1to, você não,de esquecer que analogias são compa.ções e não retratos fiéis do processo.
Você irá desafiar um colega, que:nda não tenha lido este liv1'O,a mOI1lr um quebra-cabeça. Ele terá de mOI/lr um quadrado a partir de peças feitas? papel. Sua atuação ficará restrita à?servação de como ele elabora soluJes para esse problema. Não se esqueçaisto: embora seja uma brincadeira,ocê deverá estar todo o tempo concen'ado, observando-o, sem dar dicas de91110se resolve o quebra-cabeça.
Recorte um quadrado numa folha deapel em bmnco. Se você tiver cartolinau papelão de embalagens será melhor.'sse quadrado deverá ter 20 cm de lado./'ace com "'" lápis a configul"ação da filtra 1 lto papel, obsenJando que existem:l1gulos retos l1a ligação de algumas li·has. Esses ângulos devem se,' respeita'os defonna precisa. Após desenhar as li,has na folha, recorte-a seguindo essas
linhas. Você terá transformado o papelnum conjunto de pedaços fonnados detriângulos, quadriláteros e um pentágono.
Entregue os pedaços desordenadosao seu colega. Diga-lhe que é um quebracabeça para ser mOl1tado. Observe que, sevocê não disser mais nada, ele irá pergUl/tar o que deverá ser mOl1tado, pois aspeças, sem a idéia do que deve se,' feitocom elas, não significam nada. Somenteentão lhe diga que ele deverá fonnar umquadrado com as peças,
Figura 1.
Normalmente as pessoas começamtentando posicionar os vértices das figurasde forma a fazer com que eles coincidamcom os do quadrado que se deseja montaJ',Como existem muitos vértices, o trabalho
toma-se bem difícil, Outra tendência é colocar os lados do retângulo coincidindocom os do quadrado. Como a posição do"etângulo na montagem é torta em relaçãoà disposição do quadrado, esse tipo de tentativa toma a montagem mais difícil.
Após encaixar duas ou três peças, eledificilmente abandonará essa configuração. Procurará adaptar as outras peças aessa disposição. Somente se o encaixe setornar muito difícil ele abandonará aprimeira configuração, desmanchando aspeças, para começar tudo de novo.
Lavoisier foi o químico que se opôsde forma mais intensa à teoria do f1o
gisto. Mesmo percebendo que a químicade Stahl já havia rompido, em parte, coma alquimia, restavam ainda alguns pontos de discordância,
Lavoisier, junto com alguns físicosde sua época, como Laplace, defendiauma visão mecanicista da natureza: paraeles, a natureza era como uma grandemáquina formada por uma infinidadede corpos. O comportamento desses corpos deveria ser explicado pelas leis damecânica de Newton. No projeto deconstrução de uma nova química desenvolvido por Lavoisier, as reações químicas também deveriam ser compreendidas a partir dessas leis.
A teoria do f1ogisto não poderia seraceita por Lavoisier, pois ela ainda pos-
Em ciência também é assim. No fimdo, a construção de teorias é como a montagem de um grande quebra-cabeça: semprese procura uma ordem para os fatos. Entretanto, antes da montagem, os cientistas játêm uma idéia do que desejam montar. Osdados das experiências são as peças que sedeseja ordenar. Quando conseguem encaixar algumas peças, procuram manter esseencaixe, tentando adaptar as outras peçasa ele. Só abandonam essa disposição se elase mostrar muito complicada e se existiruma crença muito forte de que outro caminho seja mais proveitoso. É lógico que asescolhas desses caminhos não nascem do
nada. As concepções filosóficas existentesem cada época são fimdamentais para a escolha desses caminhos,
suía muitos vestígios metafísicos, O caráter abstrato, quase espiritual, do flogistonão poderia ser aceito como um modeloexplicativo para o comportamento da natureza, Por não ser material, o f1ogistonão poderia ser explicado pelas leis deNewton.
A princípio, Lavoisier ainda trabalhoucom a teoria do f1ogisto e dos quatro elementos aristotélicos. Mas ele não poderiasimplesmente dizer que o flogisto não existia. Era preciso construir outra teoria, ouseja, desfazer-se das peças do quebra-cabeça e recomeçar a partir de uma nova disposição dessas peças. A maioria dessas peças já existia. Foram construídas por outros químicos a partir dos estudos sobreos elementos fiar" e lIágua". Lavoisier foiaquele que as juntou e que recompôs o formato do quebra-cabeça a partir de umanova ordem. Vamos acompanhar o processo de sua construção.
A decomposição
do ar .Vários cientistas britânicos desenvol
viam estudos sobre o ar desde o século
XVII.Diversos trabalhos experimentais foram feitos a partir da bomba de ar, umequipamento inventado no século XVIIpelo engenheiro alemão atto von Guericke (1602-1628) para provar a existênciado vácuo. Robert Boyle (1627-1691) eRobert Hooke (1635-1703), químicos comgrande experiência na construção e noaperfeiçoamento de equipamentos de laboratório, construíram na Inglaterra algumas dessas bombas - capazes de recolher os gases desprendidos de reaçõesquímicas - e desenvolveram métodospara sua operação. Esse trabalho foi fundamental para que os laboratórios ingleses do século XVIII contassem com exce
lentes instrumentos de pesquisa.
Robert Boyle (1627-1691).
a médico britânico·Joseph Black(1728-1799), utilizando as bombas de ar,verificou que alguns compostos orgânicos com que trabalhava, quando submetidos a intenso calor ou a ácidos, des
prendiam urna espécie de "ar". Blackchamou-o de "ar fixo", pois parecia encontrar-se fixo nas substâncias, só se desprendendo durante seu aquecimento ouem contato com ácidos. Hoje, esse "arfixo" é conhecido pelo nome de gáscarbõnico (Ca,).
Joseph Priestley (1733-1804), umquimico britânico que também era pastor presbiteriano, realizou diversasexperiências com os "ares". Nunla delas,em 1774, ao aquecer o óxido vermelhode mercúrio, obteve um "ar" sem cor.
Priestley observou que esse "ar" também
Projeto da bomba de ar de Boyle.
Laboratório de química no século XVIII.
tinha a propriedade de "nutrir a chama de uma vela",
como fora observado porBoyle e Hooke no século anterior. O aumento do fogona presença desse ar fezcom que Priestley o chamasse de "ar deflogisticado".Ele acreditava que a ausência do flogisto no ar faziacom que certa quantidadede flogisto saísse com maisintensidade do fogo paraocupar o espaço vazio existente nesse ar. Essa des
coberta já havia sido feitapelo farmacêutico suecoCarJ ScheeJe, em 1772. En
tretanto, suas pesquísas sóforam publica das fora daSuécia a partir de 1777.
Pare e pense por ummstante! Vocêdeve ter perceJido que o fato de Priestleychamar o "ar" que nutria achama de uma vela de "ar
:leflogisticado" tinha comoJase o fatode que ele acreditava que esse era o mesmo'ar" da teoria dos quatro elementos sólue modificado, isto é, sem o flogístico.
A grande questão com a qual Lamisier vai se defrontar é a de dar uma
~ova interpretação para esses fatos. LaJoisier tomou conhecimento de todas es
;as pesquisas sobre a natureza do ar pelaeitura das traduções feitas por sua esJosa a partir dos escritos desses cientis:as. Ele conversou ainda com Priestley~um encontro que tiveram em Paris, emL774. Para Lavoisier, que não acreditava~a existência do flogístico, esses" ares"lão poderiam ser considerados modifi-
cações do If ar" I um dos elementos aristotélicos básicos constituintes da nature
za. Ele (o ar) deveria ser considerado,portanto, um composto formado de gases. O ar deflogisticado de Priestley eScheele deveria ser um gás componentedo ar atmosférico, assim como o ar fixode Black, um outro.
Lavoisier, acreditando que as interpretações das experiências, feitas pelosquímicos britânicos, estavam erradas,começou a planejar uma série de experiências para verificar como se dava aparticipação do ar nos processos de com-
) e calcinação dos metais. EncoJU aos artesãos parisienses as ba; mais precisas que se conheciamoca. Cercou-se dos melhores insntos de laboratório existentes. Feziências nas quais aquecia materiaiso fósforo e o enxofre, e constatou'pós a combustão, os resíduos se~ntavam mais "pesados" do que os's originais. Aqueceu também o
:Iho de Lavoisier para o estudo do oxigênio.
42
óxjdo de chumbo e verificou que nesseprocesso ocorria um grande desprendimento de um gás. Esses experimentoslevaram-no à conclusão de que o flogisto realmente não poderia existir. ParaLavoisier, a velha questão do aumentodo peso das substãncias após sua combustão confirmava que deveria haveroutra explicação para esse fenômeno.Talvez o ar atmosférico tivesse um papel
fundamental nesses processos de combustão e calcinação dos metais, que não havia sido considerado pelosoutros quúnicos.
Após a realização da série de experimentos planejados por Lavoisier, pôde serconstruída uma teoria capazde explicar os fenômenos dacombustão e da calcinaçãodos metais. A primeira conclusão de Lavoisier foi que oar atmosférico não era umelemento puro. Ele era constituído de um conjunto de gases, e estes participavam ati-vamente da combustão e da
calcinação. O cientista procurou, então, identificá-los. Oprimeiro gás constituinte doar atmosférico a ser identificado foi aquele" ar" incolorque Priestley havia chamadode "ar deflogisticado". Comoele tornava a chama da velamais intensa, Lavoisierpercebeu que era a parte combustível do ar atmosférico, responsável pela queima dassubstãncias. Vamos ler o queLavoisier escreveu nas suasconclusões:
o ar da atmosfera não é 11m
elemento, isto é, lima substância sbnples, mas 'nna mistura
de diversos gases. O ar da atmosfera écomposto de aproximadamente 11m qllarto de ar deflogistieado, 011 ar eminentemente respirável, e três quartos de 11m armalcheiroso e nocivo."
Nesse trecho, Lavoisier ainda usaa nomenclatura de Priestley, chamando o novo gás de "ar deflogisticado".Entretanto, como a base de sua novateoria era a negação da existência dof1ogisto, Lavoisier iria criar outro nomepara esse componente do ar atmosférico. A principio chamou-o de "ar vi-
tal", por ter percebido, em suas experiências, ser ele de extrema importância para a respiração. Como também oencontrou em alguns ácidos, chamouo de "principio oxigênio", pois, no grego, oxus significa ácido. Mais tarde, permaneceu apenas o nome "oxigênio". Ooutro componente do ar identificadopor Lavoisier é o azoto, que hoje é conhecido por nitrogênio.
Com esse conjunto de experimentos e a partir da nova interpretação dadapor Lavoisier, O ar deixava de ser considerado um dos elementos básicos constituintes da natureza. Na realidade, eleera composto de gases.
A decomposição,dallllllll .................••.......................
Em 1783, Lavoisier tomou conhecimento de novas experiências queJoseph Priestley e Henry Cavendish(1731-1810) estavam realizando na Inglaterra. Eles haviam conseguido produzir orvalho através de descargas elétricas. Perceberam que o orvalho era,na realidade, água pura. O conhecimento desse fato levou Lavoisier a refazer as experiências dos químicos britânicos e dar aos fatos uma interpretação à luz de sua nova teoria.
Elerealizou uma experiência de análise (decomposição) da água e posteriorsíntese (recomposição). Na análise, elemostrou que a água é composta de duasIIsubstâncias"I sendo Ullla delas o seu"princípio oxigênio". A outra foi denominada "princípio da água'" 0,u "princípiohidrogênio" (do grego IH/dor, que signifi-
ca "água"). Em seguida ele conseguiujuntar esses dois gases e obter novamenteágua.
Lavoisier cOlllunicou suas experiências à academia e explicou que a águatambém não é uma substância simplesconstituinte da natureza, mas um composto.
A nova teoria de Lavoisier, explicando os fenômenos independentemente daidéia de flogisto, começou a ser aceita rapidamente pelos químicos. Joseph Blackjá a ensinava a seus alunos em 1784. Osquímicos franceses perceberam que algodiferente havia surgido na química. Novos elementos constituintes da matériaestavam nascendo. A química vivia ummomento revolucionário. Seria necessário reescrever os livros dessa ciência a
partir das novas idéias.
Nomes antigosNomes novos
espírito de vitríolo
ácido sulfúricoóleo de vitríolo
álcali vegetal cáustico
potássio amoníaco
dianalua
prata
espírito do sal
ácido muriático
(ácido clorídrico)
espírito do vinho
álcool
açafrão de marte
óxido de ferro
ncq/ln fortis
ácido nítrico
A alquimia já estava praticamentelUltada em fins do século XVIII. O monento iluminista, defensor de uma ra) que não deixava mais espaço para vi~smísticas da natureza, havia alcançapraticamente todos os campos do sa
-. Porém, as práticas químicas, embora:om novas concepções, ainda estavam,letas de referências às velhas concep~salquímicas. Lavoisier e alguns coles seus, como Claude Bertholet (174822), Antoine Fourcroy (1755-1809) euis Guyton de Morveau (1737-1816),eptos das idéias iluministas, decidiramllizar uma revolução radical. Não sem só as práticas que deveriam ser mudas. Era necessário mudar também osmes das substâncias. Esses cientistas
reditavam que a química só seria realmte uma ciência moderna se fizesse
mo a física, isto é, apagasse completa~nte as referências reli-:Jsas e místicas de seu,ssado. E como os no~s das substâncias esta
m muito carregados dess referências, o primeiroISSO da revolução deve1 ser trocá-los.
Pense no seu nome.
,r que você se chamasim? Já perguntou aosus pais? Muita gente es,lhe um nome porque:ha bonito. Às vezes os
tis inspiram-se no nome, um artista, uma persoIgem de cinema ou um
esportista. Outros colocam nos filhos onome de um parente muito querido, umavô ou avó, um tio ou tia, ete. De certa for
ma, querem associar a criança a alguém deque gostam e desejam que o filho incorpore um pouco das qualidades daquele queinspirou seu nome.
Lavoisier percebeu que os nomesdas substâncias químicas estavam muitoligados às concepções daqueles que oscriaram. Portanto, estavam cheios de referências místicas. Para que a alquimiafosse completamente esquecida e desselugar a uma nova ciência, esses nomesdeveriam ser trocados. Vamos relacionar,numa tabela, alguns nomes de substâncias para você perceber como eles aindacarregavam o caráter místico da velha alquimía. Algumas substâncias tinham vários nomes, vamos apenas relacionar al-guns deles: .
Chcz C u C fI E T, LibrJire, rue &. hút:.:lScrl'CI.:':.
PR~:SENTE DANS UN ORDRE NlJUVr.:.\U
'i.
E
EI
TIN T A
A
PARIS,
R.
CHIl\IIE,
Avec Figure5:
D C C. L X X X I X.
A
R
M.
postas as bases do novo saber, desde a novanomenclatura até os caminhos metodo
lógicos que deveriam ser seguidos nas investigações científicas. Esse tratado tinhao objetivo didático de preparar as futurasgerações de químicos para dar continuidade ao que a geração de Lavoisier haviaconstruído. A partir dele não haveria maisnecessidade de se buscar o conhecimento
nos antigos manuais alquímicos. A história da química, para Lavoisier, começariaa partir desse momento.
T
DE
L É M E
ET O'APRES LES DÉCOüVERTES MODERNl>;
É
Suu,s !t' Privi/(gt: de l' AC<Irlúnje do S~·.;m:,.J"J a/ft' Ro\ -l/e d( l'.lf:.l· :11 .
Par M. LA vo I S I E R, de l'.-1crJd<.t:.:(; ,(0Scir:nn'.I, i:ü Ia So,'làr:' RO'y.lle dt: Mc../c"",·, ddSocierú d' AgricU{(lJre df! Puris & d'Orlc'I..J/I.f , d"!
Ia So..:iéli R(~yal( de LOlld,c:i , de ,'Jflflirill deBologfle : de til SlJ' t~Ú Hdv/!:ique de B,Jjl,:, deceI!o de Philadedphie, H,J.~üm J MancheJI..:rPodoru , &c.
o trabalho de modificação da nomenclatura realizado por Lavoisier eseus companheiros foi publicado em1787 sob o título Método de l1omellclat1lra
q1límica. A partir de então, os químicosteriam novos nomes para classificar assubstãncias, e os velhos textos alquímicos se tornariam ilegíveis para os futuros químicos.
O segundo passo do projeto foi criaruma outra estrutura de divulgação daspesquisas na área da química. A novaciência teria de criar formas
eficientes de registro e difusãodas investigações realizadasentre todos os químicos. Lavoisier e seus companheiroscriaram uma revista científicadenominada Annis de Q1IílllÍcne a fizeram ser distribuída em
toda a França e na Inglaterra.Qualquer químico que desejasse ter seu trabalho reconhecido deveria submeter sua
investigação aos editores darevista para que fosse divulgado. Hoje, toda a ciência éproduzida dessa maneira. Existem revistas especializadasem que um comitê de profis-sionais da área analisa os ar-
tigos e decide se os inclui ounão na publicação. Dessa for-ma, as investigações devem seenquadrar dentro das linhasestabelecidas como científicas
para serem publica das. Nãohá mais lugar para os alquimistas.
O terceiro e último passofoi escrever um Trntndo elemen
tar de q1límicano qual seriam ex-
llicação de um novo
itodo de investigação .luímica
,avoisier, ao utilizar a balança comolmento científico, estava aplicandoos flmdamentos básicos da ciência
,ma. Enquanto muitos dos químicosiores a ele, e mesmo muitos de seusmporâneos, privilegiavam explicaqualitativas para os fenômenos,
isier procurou construir explicaçôes,das em fatos quantitativos. Somenavés de medidas precisas se poderialtrar relações entre grandezas e ex.á-Ias a partir de funções matemáti\s leis seriam escritas numa linguamatemática.
Talvez você já tenha ou vida alguémciar um princípio que é atribuído a,isier. Ele ficou conhecido, em suaa popular, como:
Na natureza nada se cria e
nada se perde, tudo se transforma."
Esse princípio, conhecido como Prin, da Conservaçâo da Matéria, já exisia forma de um enunciado mais gejesde a Grécia antiga. Parmênides480 a.c.), lun filósofo grego, já havianado que algo não pode surgir doI e que as coisas não podem desapar, isto é, se transformar no nada.
Jisier utilizou essa idéia para descreIS transformações da ma téria. Ele nãomiou esse princípio na forma popu~scrita acima. Em seu livro, deno,do Tratado elementar de química, Laier escreveu:
46
Podemos estabelecer,como axi 0ma incontestável, que em todas
as operações da arte e da natu-reza nada é criado: existe lima qllantida
de igllal de matéria antes e depois do experimento; a qualidade e a quantidadedos elementos pennanecem precisamenteas mesmas e nada acontece além de mu
danças e modificações nas combinaçõesdesses elementos."
Ao escrever esse princípio e dar a eleum caráter prático, com a utilização dabalança, Lavoisier revolucionou a química, antes simples técnica de manipulaçãode substâncias. O matematismo aplicadoàs transformações, realizadas a partir dabalança, fez com que a química fosse reconhecida como uma ciência moderna.
Este é um fato muito interessante, pois asbases da ciência moderna são a experimentação e a expressão dos conceitos emlinguagem matemática. Ora, a alquimiajá era, desde antes da Idade Média, umatécnica experimental. Os filósofos dos séculos finais da Idade Média, ao proporem que o conhecimento verdadeiro deveria ter base experimental, inspiraramse no trabalho dos alquimistas. A físicafoi pioneira na incorporação das duasbases de uma ciência moderna. A química, mesmo possuindo muito antes da física uma de suas bases, a experimentação,só incorporou a outra, a expressão dosconceitos numa linguagem matemática,no século XVIII.
CAPíTULOS
)s últimos\ Revolução Francesa ecJodiu em
14 de julho de 1789. Os anos quese seguiram foram extremamen
umultuados. A partir de 1793,com a as,são do partido dos jacobinos ao poder, aolução se radicalizou. Iniciou-se um pe:!o, mais tarde conhecido como Era do
ror, em que ocorreram execuções emssa na guilhotina. A luta política peloler fazia vítimas de todos os lados. Não
tava mais condenar a antiga nobreza àrte: os revolucionários desencadearam
processo de luta pelo poder do qual eles:)rios se tomaram vitimas.
A situação de Lavoisier era extremalle difícil nesse momento. Ele havia
iado os revolucionários na criação deI monarquia constitucional. Entretanua vinculação com as velhas instituimonarquistas o ligava a um passado
queriam apagar. Mesmo reconhecen;ua importância como cientista, osJinos viam sua participação política:)contra-revolucionária.
Veja só que situação interessante!
A Revolução Francesa estava assu-10 uma postura semelhante à dos cienque, como Lavoisier,participaram das ~
formações ocorridas na ciência alguns ~
antes: desejavam criar um outro sis- !e, para isso, afirmavam que seria ne- ~rio apagar todos os vestígios do pas- iENa verdade, essa é uma postura co- I'
9a todas as revoluções. I.)
o novo governo não via com bonss as discussões científicas por achá~uito teóricas. Só reconhecia a impor.ia dos desenvolvimentos técnicos,aplicações práticas imediatas. O Parento começou a discutir o fechamene todas as academias literárias e cien
as. Os artesãos, que durante anos aiveram que submeter suas invençõesJrovação dos acadêmicos, e muitases viram rejeitados seus trabalhos, co;aram a conspirar contra estes últi,. Por outro lado, os diversos cientis
amadores que não conseguiam se,fissionalizar também lutavam pelodos privilégios e do poder das acade
IS. Uma das correntes mais influentes
,se processo foi a dos adeptos de umdico austríaco chamado Franz Antonsmer (1734-1815).
-<.- j"'"
••.•.•.•~~(~ ..j?..•.•
mz Anton Mesmer (1734-1815).
Mesmer havia realizado experiênas com o que ele denominava fluidoLagnético, acreditando que seria possí21realizar curas a partir desse princípio.I fluido magnético seria encontrável em
todos os corpos, porém, assim como oflogisto, não possuía uma existência material capaz de ser comprovada experimentalmente. Muitos médicos e cientistas amadores franceses aceitaram as idéiasde Mesmer e formaram um movimentodenominado /1/es/1/eris/1/o. Realizavam di
versas experiências de cura que procuraram submeter ao reconhecimento daAcademia de Ciências. Em 1784, uma co
missão formada por acadêmicos, entreeles Lavoisier, condenou o mesmerismo
como prática de charlatanismo, atribuindo à indução dos próprios pacientes assupostas curas obtidas. Entre os que atacavam a Academia, porém, encontravase Jean-Paul Marat (1743-1793), um doslíderes jacobinos.
I •
,A morte de Marat, quadro de Jacques-Louis Davidque retrata a morte de Jean-Paul Marat, assassinadonuma banheira por seus inimigos políticos. Por terpassado muitos dias se escondendo pelos esgotosde Paris, Marat adquirira uma doença de pele que oobrigava a banhar-se constantemente. Num dessesmomentos, ele foi assassinado.
Ao conquistar o poder, alguns jacobinos, adeptos do mesmerismo, procuraram dar o troco aos acadêmicos.Lavoisier ainda tentou defender as academias de ciências. Num discurso ao
Parlamento, em julho de 1793, ele procurou mostrar tanto que as ciências estavam na base de todos os desenvolvi
mentos técnicos quanto que essas instituições eram necessárias para o futuroda França. Seu esforço foi inútil. Todasas academias de ciências foram fechadas
em agosto de 1793.A vinculação de Lavoisier com a
Ferme Générale, que cobrava altos impostos do povo francês, agravou aindamais a situação do cientista, devido aotenso cenário político naquele momentode condenações em massa. Em oito demaio de 1794, Lavoisier foi condenado à
morte, pois o tribunal instituído pelos
Existiu um fundador
jacobinos considerou-o parte de um movimento que favorecia os inimigos daFrança. Na tarde desse mesmo dia, ele foiexecutado na guilhotina, junto com osdemais sócios da Ferme Générale.
Como você pode perceber, as carreiras científica e política de Lavoisier estavam intensamente entrelaça das. Emborasua condenação estivesse vinculada diretamente a sua participação na FermeGénérale, seu trabalho na Academia deCiências também precipitou os acontecimentos.
A Revolução Francesa queria apagaro passado, queria romper com a velha ordem política. Tudo o que estivesse ligadoa esse passado deveria ser retirado decena. Lavoisier, ainda que pertencesse ànova ordem no campo científico, era considerado parte da velha ordem no campopolítico.
, .da qUlmlca moderna? •••••••••••••••••••••••••••
Após sua morte, Lavoisier caiu emtotal esquecimento. Mesmo seus amigosmais chegados pouco falavam dele. Afinal, os tempos eram extremamente perigosos para se tomar uma posição a favorou contra. Melhor esquecer!
A partir de 1800, sua esposa, MarieAnne, passou a se dedicar com afinco àdivulgação da obra de Lavoisier. Ela desejava resgatar o papel histórico de Lavoisier e restituir-lhe a importância cientifica que a Revolução Francesa havia:lestruido. Marie-Anne consegue então
autorização do governo francês para recolher todos os papéis e equipamentosutilizados pelo marido. Esses papéis, quehaviam sido apreendidos pelo governo eretirados dos laboratórios do arsenal
após sua morte, a senhora Lavoisier osrecolhe e guarda-os para posterior consulta de historiadores da ciência. Em
1815, ela consegue publicar um livro denominado Memórias da químíca, uma obraque reúne diversos artigos de Lavoisier eque tinha começado a ser compilada porele mesmo nos seus meses finais de vida.
49 ~
;e livro foi distribuído por Marie-Anneiversas instituições universitárias paraô a obra do marido não fosse esquecipelas novas gerações.
Em 1836, 42 anos após a morte devoisier, ]ean-Baptiste Dumas (180014), um cientista francês que também,rceu funções políticas, ministra um'so sobre a história da química, no11 apresenta Lavoisier como o grandeldador dessa ciência. Dumas tinha
I11de admiração pelas críticas de\Toisier aos conceitos metafísicos. Em
ra não concordasse COln a posturacanicista de Lavoisier, compartilhavan ele a vontade de ver banido da
ncia tudo o que fosse metafísico.luímica do início do século XIX
·ive a questão da existência delceitos que não podem ser pro:los através da experimentação,que os alvos agora são os luecaistas, que não conseguem com)var a existência dos átomos.
DUlnas reafinna, elll seu CUf-
o papel fundador de Lavoisierquímica, realçando seu traba
I de exclusão do caráter meta
co das teorias químicas. Passa,·ão, a se dedicar ao trabalho de
'ulgação da obra do cientista,xado por Marie-Anne, falecida1836.
É a partir daí que Lavoisier;sa a ser considerado o funda
r da química moderna. Esseo gerou e ainda gera muita po1ica. Muitos consideram Robert
yle e outros ainda Stahl comoverdadeiros fundadores da
ímica moderna. Essa discus
J, que por vezes toma ares nanalistas, não é importante.
50
o importante é perceber que a transformação da química numa ciência moderna foi realizada ao longo de um processo que durou muitos anos. O fato deapontarmos Lavoisier e suas idéias como divisor de águas entre o velho e onovo deve-se ao seu trabalho de conclu
são desse processo de transformação.Lavoisier, pode-se dizer, arrumou a casadessa ciência ao enfatizar a nova me
todologia de investigação, ao criar a nova nomenclatura e, finalmente, ao admitir um modelo mecanicista para a química.
A metalísica foi
banida da ciência? ••••••••••••••••••••••••••••••
Após a morte de Lavoisier, os químicos continuaram desenvolvendo o programa de pesquisa que ele havia começado. Obter a decomposição daqueles queeram considerados, no início do século
XVIII, os quatro elementos fundamentaisda natureza levou os químicos a experimentarem novas decomposições. A idéiade átomo, elaborado na Grécia antiga, ganhou nova importãncia, levando muitosquímicos a explicarem uma série de fenõmenos a partir desse conceito. Entretanto, a idéia de átomo não era unanimidadeentre todos os químicos.
A idéia grega da existência de umelemento básico indivisível (o átomo)constituinte de toda a matéria foi revi
vida pelo químico inglês John Dalton(1766-1844) no início do século XIX. Dalton defendia a idéia de que as substãncias eram compostas por diversos tipos
de átomos. Entretanto, embora muitos
químicos tivessem aderido a essa concepção atômica, não havia ainda provas experimentais da existência dessaspartículas. Muitos químicos condenavam a concepção atômica e afirmavamser ela tão meta física quanto a idéia dofIogisto. Jean-Baptiste Dumas, o divulgador da obra de Lavoisier, foi um dessesquímicos. Certa vez, ele afirmou:
•• Se eu pudesse, apagaria a pa'" '" lavra átomo da ciêllcia, poisestou cOllve"cido de que ela
ultrapassa a experiêllcia."
As concepções sobre a fragmentaçãoda matéria continuaram se desenvolven
do e gerando polêmicas. O debate entreos atomistas e os que defendiam posiçõescontrárias a eles só começou a perder for-
Professor influente no College de France, Dumas era um famoso antiatomista.
51 e
52
Esse debate ainda hoje não estáconcluído. Talvez você tenha pensadoque, após o movimento iluminista, apósLavoisier ter derrubado a idéia de flo
gisto, a meta física tivesse sido banidacompletamente da ciência. Para além daquestão atômica, ainda hoje existe essedebate. Uma parte dos cientistas continua defendendo que não se pode fazerciência com "coisas" que não possam tersua existência comprovada por experimentos. Outros reconhecem que a metafísica tem um papel importante em fasesintermediárias, entre o momento da ela
boração de um modelo explicativo e suaconfirmação experimental. Estes pesquisadores, por sinal, tomam por base o fatode a idéia de átomo ter sido considerada
metafísica durante quase todo o séculoXIX e de, apesar disso (e a partir dessaidéia), a química ter avançado muito. Porfim, existem aqueles que acreditam serimpossível fazer ciência sem metafísica,defendendo que ela é parte integrante daconstrução do conhecimento científico.
E você, o que pensa disso?
" ,J. J. Thomson utilizou uma ampola para produzir descargas elétricase medir a relação entre a carga elétrica e a massa de um elétron. Essaampola, exposta em um museu no Laboratório Cavendish em Cambridge, Inglaterra, deu origem aos modernos tubos de imagem dastelevisões.
l partir de 1897. Nesseo físico britânico Joseph'ffison (1856-1940) con.J..iumedir a relação en1 carga e a massa de umron, feito esse consideo pelos atomistas umava irrefutável da exis:ia do elétron e, consentemente, do átomo.
Esse fato fez com quelefensores das idéias nâonistas ficassem na de,iva. Porélnl a idéia inide um átomo como medivisâo da matéria, conne acreditava Dalton e
>artidários da teoria atômica, já estavalpletamente desmontada. O elétrona uma parte constituinte daquele áto. que por isso não poderia mais sersiderado indivisível. Nessa época, já;tia a tabela periódica dos elementos,; reações químicas já eram explicadas"tir da combinação de átomos.
Talvez a princípio não seja muito:lente, mas essas discussões entre os
ltistas do século XIXpodem nos levarma reflexão sobre o papel da metaca na construção do conhecimentoltífiCO.Embora a existência do átomo:enha sido admitida como verdadeira
a maioria dos cientistas a partir do fido século XIX, havia muito tempo a
mica já trabalhava com esse conceito'az de explicar diversas coisas. Afinal,que diz respeito à explicação de fenônos, admitir a existência de "coisas"
~não possam ser comprovadas experintalmente ajuda ou não na construçãoconhecimento científico? Em outras
avras, a ciência deve procurar a todo,to deixar de ser meta física?
Em 1869, o químico Dimitri Mendeleiev (1834-1907)apresentou sua Tabela Periódica à Sociedade Quími·ca Russa. Mendeleiev buscou, durante toda a suavida, uma classificação dos elementos químicos, Verificando regularidades entre os elementos químicos,procurou ordená-Ias na tabela segundo diversas características. A tabela original, à esquerda, sofreuuma grande revisão em 1871. Com o tempo, novoselementos foram acrescentados e, hoje em dia, a tabela tem a forma abaixo.
FhO. C.O MIO KO N.O PO.1,3S8 ~,0S5 12,42) 31,4~1I ',8184',1111 _ lOO,'U3.
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<11.~~II~II~~r~!I~~:::~~eh:f:J:lIl':et~~I~:~k~c:b"",1aebell V.rb&1!ID, z.. B. l.J, Be, B, C, N, O, F •
•. DI. lu der N.blr nrbreltetltea EieIllClll.1lh&benkkiN AUI.IIIgetl'lcbte
Hei der VeTl'lelcltllDgder gefalldfllell ZUtalllllleuelJ.ullgde. KOrD'mit dlrdei Mchw erglebt aldl, da-. vmorea glogn:
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.OU10tl tA\\tl\\\\:IEN""l Q\) \~'-\\.\\'"o cinema é uma bela maneira de via
fiO tempo. Você pode vivenciar as dis,ões científicas dofinal do séwlo XVIII
rio o filme Dr. Mesmer: o feiticeiro, de1, dirigido por Roger Spottiswoode a~rde um roteiro de Dennis Potter. A
procura apresentar o drama vivido petédico Franz Anton Mesmer na Áustria
r França ao tentar provar que seus méos podimn curar os 111ais diversos nza
Ofilme apresenta, ainda, o embate entreedicina oficial da época e o mesme,;smo.
A medicina oficial encarava o prona da doença como um mal iuterno;orpo e que deveria ser curado atravésalimento das excreções do organismo., dos métodos mais utilizados paraJ em a sangria: fazia-se um corte '10
'iente deix01ldo-o sangmr o máximo'sível pam que o mal saís10 corpo. Além da sangria,:vam-se também purgati" para provocar diarréias,duziam-se vômitos. Algttnsnuais médicos recomenda
n que o paciente fosse sando até atingir a cor da porma chinesa.
Mesmer se rebelou conesses métodos. Ele acredi- r.o
'a mIm princípio vital, queo magnetismo animal, e
, a doença em provocada por
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desequiUbrio da harmonia do corpo. Suasteses emm muito parecidas com as de Paracelso e contrariavam a visão mecaui
cista, em que h/do era explicado pela açãode corpos materiais sobre corpos materiais. Como o fluido magtJético tinha umcaráter não material e não podia ter suaexistência comprovada experimentalmente, Mesmer foi acusado de charlatão.
Cena do filme Dr. Mesmer: o feiticeiro.
;<, -éONCLUSÃO
." .AClenCladOiluminismo para alémde Lavoisier
L avoisier é hoje considerado o pai daquímica moderna. Entretanto, nãose pode esquecer que a transfor
mação da química numa ciência moderna não dependeu do trabalho de um sóhomem, mas de toda uma geração.Hooke, Boyle, Black, Priestley, Scheele,Cavendish, Fourcroy, Bertholet, Guytonde Morveau e mesmo Stahl, todos contri
buíram para a construção da nova química. Lavoisier foi um cientista que exerceuum papel fundamental de liderança nodesenvolvimento de um programa depesquisa que levou a química a trabalharcom novos métodos e novas bases teóri
cas. Mas não pense que ele foi um gênio,isolado do mundo, que teve idéias revolucionárias tiradas do nada. Muitas ve
zes construímos essas falsas imagens doscientistas porque ouvímos falar de suasobras sem conhecermos o contexto fio
qual elas foram elaboradas. A importância de Lavoisier está em ter concebido um
novo rumo para a química a partir do j~reordenamento das peças do quebra-ca- ~beça. E esse reordenamento teve por base ~toda uma concepção de mundo existente ~10 século XVIII e subjacente à filosofia .=
luminista. ~
A nova concepção científica do ilu1ismo mudou por completo não só olorama da química, mas das ciênciasgeral. Aquilo que aprendemos hoje
; livros didáticos de ciências tem muinais as feições da ciência construída;se processo do que aquela fundadaséculo XVII.
Este livro procurou levar você aIhecer como os fatos históricos, delem política, científica ou mesmo reiosa, desencadéiam as atitudes todas pelos seres humanos frente aos,blemas de seu tempo. Lavoisier foil dos cientistas mais polêmicos datória da ciência. A sua dupla partici;ão na política e na ciência faz come muita gente não o veja com bons
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olhos. O importante é perceber queLavoisier foi um homem que vivenciouos problemas impostos pelo seu tempo.Ele procurou dar respostas que acreditava serem as mais corretas a esses problemas.
Você também é parte deste nossotempo. Que posições você tem sobre asquestões científicas e políticas de hoje?Sobre a cIonagem, a guerra química ebacteriológica7 Você acha que os cidadãos devem interferir no trabalho doscientistas, dizendo quais caminhos aciência deve seguir? Que atitudes vocêacha correto tomar na transformação deste nosso mundo? Essas são algumas dasquestões sobre as quais todos nós devemos refletir e nos posicionar.
A CIÊNCIA NO TEMPO DE LAVOISIER(1743-1794)
1752 Benjamin Franklin constrói o pára-raios de pontas.
1765 James Watt constrói a máquina a vapor com dois cilindros.
1783 Fierre Bernard Megnié constrói o balão de ensaios utilizado por Lavoisier em experimentosde decomposição da água.
1785 Ê inventado o tear mecânico.
1787 Meusnier constrói o calorúnetro utilizêldo por Lavoisier e Laplace em suas pesquisas sobrecalorimetria.
1789 Nicolas Fortin constrói a grande balança de precisão utilizada por Lavoisier no estabeleci-mento de um padrão de medidas para massa.Tomada da Bastilha.
1792 A Academia de Ciências dá início à medição do meridiano que originará a definição dometro como padrão de medida.
1793 A École Polytechnique é flU1dada com a intenção de formar engenheiros e cientistas nosfundamentos da nova ciência.
1799 Término da medição do meridiano que deu origem ao metro. Éleuthere Irénée du Pontquímico francês discípulo de Lavoisier, emigra para os Estados Unidos, onde criará a indústria Du Pont de Neumours & Cia. para fabricação de pólvora com os métodos aprendid<kcom seu mestre Lavoisier.
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