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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ INGRID BERNS PAVEZI LAUDOS DE INSANIDADE MENTAL E PERICULOSIDADE: A PSIQUIATRIA A SERVIÇO DO SISTEMA PENAL CURITIBA 2010

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Page 1: LAUDOS DE INSANIDADE MENTAL E PERICULOSIDADE: A ... · insanidade mental. Estes são produzidos por uma especialidade específica, a psiquiatria forense, que funciona como uma espécie

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

INGRID BERNS PAVEZI

LAUDOS DE INSANIDADE MENTAL E PERICULOSIDADE:

A PSIQUIATRIA A SERVIÇO DO SISTEMA PENAL

CURITIBA

2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

INGRID BERNS PAVEZI

LAUDOS DE INSANIDADE MENTAL E PERICULOSIDADE:

A PSIQUIATRIA A SERVIÇO DO SISTEMA PENAL

Monografia apresentada como requisito parcial à conclusão do Curso de Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. Orientador: Pedro Rodolfo Bodê de Moraes

CURITIBA

2010

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ÍNDICE

RESUMO .....................................................................................................................................05

INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................06

1. CAPÍTULO 1 – A PRISÃO QUE TAMBÉM É HOSPITAL: BREVE HISTÓRICO DA

CONSTITUIÇÃO DE UMA INSTITUIÇÃO TOTAL HÍBRIDA E DE UM SABER

MISTO..........................................................................................................................................09

1.1. Dos manicômioa e da psiquiatria em geral.........................................................................09

1.2. As prisões na idade moderna: nova forma de organização social dos métodos

punitivos........................................................................................................................................14

1.3. Da psiquiatria forense: noções gerais..................................................................................16

1.4. Os Manicômios Judiciários e o Complexo Médico Penal Paranaense.............................20

2. CAPÍTULO 2 – AMOSTRA E CATEGORIAS DE ANÁLISE DOS LAUDOS

ANALISADOS.............................................................................................................................22

2.1. Amostra..................................................................................................................................22

2.2. Contexto dos laudos analisados...........................................................................................23

2.3. Categorias que utilizamos....................................................................................................24

3. CAPÍTULO 3 – OS LAUDOS DE INSANIDADE MENTAL E PERICULOSIDADE:

DADOS COLETADOS E COMPARATIVO COM AS ESTATÍSTICAS PARANAENSE E

NACIONAIS.................................................................................................................................25

3.1. Quais são os laudos que os psiquiatras elaboram? Como os dividem?............................26

3.2. O perfil do analisando – gênero, idade, e grau e escolaridade..........................................29

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................36

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ANEXOS.......................................................................................................................................38

Anexo 1: Dados do ministério da Justiça Brasileiro, sobre a população carcerária do

Estado do Paraná, para o ano de 2008.......................................................................................38

Anexo 2: Dados do Ministério da Justiça Brasileiro, sobre a população carcerária de todas

as unidades da federação, para o ano de 2008..........................................................................46

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RESUMO

Uma forma de controle social na atualidade opera através da punição dos indivíduos que não se enquadram no perfil da normalidade. Por sua vez, analisar a criminalização é desnaturalizar os processos sociais de exclusão na contemporaneidade. Tendo como pressuposto da normalidade nas sociedades complexas a racionalidade, foi necessário criar um saber que defina as fronteiras da loucura e da civilidade para assegurar o processo de exclusão dos indivíduos rotulados como desviantes. O saber da psiquiatria forense produz uma categoria específica de estigmatizado, chamado ‘inimputável’, que é o indivíduo rotulado como desprovido de razão que cometeu um crime. Esta especialidade emprega-se especificamente nos procedimentos criminais. Ou seja, a psiquiatria forense produz o seu discurso para a área jurídica especificamente, distinguindo os indivíduos perigosos dos não perigosos e os normais dos não normais. Demonstraremos como esse saber, cujo expert é o psiquiatra forense, constroi esse indivíduo com base nessa especialidade que se pretende um específico estatuto de cientificidade. Procuraremos elucidar como, a partir de uma série de distinções, a fronteira entre crime, normalidade e racionalidade é construída pela psiquiatria forense atualmente. No entanto, essa especialidade destina-se a solucionar antes um problema político do que jurídico ou médico: responde a uma questão de controle social, colocando o psiquiatra forense como medidor da insegurança pública. Atua o psiquiatra forense analisando a periculosidade dos indivíduos para a sociedade e se haverá internamento em instituições totais, neste caso os chamados manicômios judiciais, bem como que indivíduos poderão vir a sair deles. Este trabalho tem como objetivo esmiuçar quem é, do ponto de vista das categorias socio-econômicas como idade, escolaridade, profissão, dentre outras esmiuçadas neste trabalho, os analisandos submetidos a exames pela psiquiatria forense. Com isso, podemos, para além de traçar um perfil sócio – econômico desta população, compará-los com a massa carcerária comum do Estado do Paraná e do Brasil e averiguar se, apesar da doença mental, ou por causa dela, que diferenças significativas existem entre esses analisandos e a massa carcerária comum das prisões. Faremos isso através da análise dos laudos de insanidade e periculosidade produzidos pelos psiquiatras forenses no Complexo Médico Penal do Paraná, antigo manicômio judiciário paranaense.

Palavras chave: psiquiatria forense, pesquisa comparativa, processo de criminalização.

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INTRODUÇÃO

A área temática do presente trabalho é relativamente recente na sociologia no Brasil, que

é a sociologia da punição e da violência. Na tradição do pensamento brasileiro, o crime e a

violência foram, durante muito tempo, estudados preponderantemente pelo direito, mais

especificamente o direito penal. Estudava-se o crime e a violência relacionando-os com as leis,

as penas e a moral, sem um maior aprofundamento epistemológico e metodológico sobre esse

assunto.

É aproximadamente a partir dos idos de 1980 que os departamentos de sociologia,

antropologia e ciência política das universidades federais brasileiras começaram a se debruçar

sobre o controle social, o crime e a punição como temas a fins das ciências sociais. Como é um

tema recente da sociologia brasileira, ainda há muitas pesquisas que podem ser feitas sobre esse

assunto. O presente trabalho apresentado pretende, dentro de suas limitações, contribuir com o

conhecimento que vem sendo desenvolvido nesta área.

Deste modo, o tema é o crime e a punição como forma de controle social nas sociedades

contemporâneas, sob uma abordagem e metodologia sociológicas, a partir da perspectiva teórica

e da pesquisa empírica proposta.

O lugar em que se deu a pesquisa é o Complexo Médico Penal do Paraná, antigo

Manicômio Judiciário. Ele está localizado no município de Quatro Barras, há 25 kms de

Curitiba, próximo a Piraquara. Esta é a zona da região metropolitana de Curitiba que tem um

grande número de Instituições Totais, como hospitais psiquiátricos, leprosário e uma série de

prisões.

O Complexo Médico Penal do Paraná foi construído em 1969, em pleno regime militar

no Brasil. Possui hoje capacidade para 350 internos, sendo que atualmente tem quase 600

internos homens e 50 internas mulheres. Os seus internos e internas, especificamente, são os

doentes mentais que cometeram crimes. Tem tanto características de hospital psiquiátrico como

de prisão; e burocraticamente está subordinado ao Departamento Penitenciário do Estado do

Paraná, portanto é inserido no sistema prisional paranaense1. É uma instituição prisional,

portanto; apesar de sua natureza híbrida e peculiar, por não abrigar criminosos comuns, mas

antes indivíduos que cometeram algum delito e que são tidos como, simultaneamente, doentes

mentais.

É justamente essa peculiaridade que nos chamou a atenção; o fato de não ser apenas uma

prisão comum, mas também um manicômio; de ser um local abarcado por dois saberes; o

1 Essas informações podem ser verificáveis no site do depen: http://www.depen.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=13, acessado em 29/06/2009.

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jurídico-penal e o psiquiátrico. Como essa interseção é construída, como se materializa na fala

dos agentes envolvidos e nas suas práticas, como está burocraticamente justificado nos seus

valores e normas é o que nos perguntamos inicialmente. E é esse o ponto de partida deste

trabalho de conclusão de curso de graduação: apresentar essa Instituição sui generis do sistema

penal, utilizar-se do olhar sociológica para abarcar um pouco desse lócus social em particular.

Muitos poderiam ser os enfoques utilizados; muitas as teorias sociológicas para pensar

esse local, e muitos os objetos a serem recortados nesta realidade específica, a do manicômio

judiciário.

Lenoir (1998) chama a atenção, em seu trabalho, para as questões que envolvem o objeto

sociológico proposto e como um problema social é definido como tal. Para tanto, ele vai alertar

para o perigo das prenoções ao chamar a atenção para como uma categoria social, em nosso

objeto de estudo os inimputáveis, é potencialmente colocada como natural, ou seja, o indivíduo

já nasceria assim e cabe ao psiquiatra forense reconhecê-lo como tal. No entanto, os

estigmatizados são criados nas interações sociais, e esse processo de criação é que deve ser

desnaturalizado.

Lenoir também esmiúça o discurso das instituições e dos especialistas, que reivindicam

para si o monopólio sobre diversos objetos de estudos que o sociológico pode eventualmente se

debruçar. Ou seja, os objetos estudados estão em constantes tensões entre diferentes campos de

conhecimento, e podem ter suas abordagens bem ou mal aceitas, ou mesmo compreendidas, a

depender de uma série de relações institucionalizadas e políticas. Cabe ao sociólogo tomar

consciência das representações sociais que são resultado de lutas e podem assumir diversas

formas, contribuindo com o seu saber em relação com os demais saberes e constituindo sua

especificidade. Em muito lembra o dizer de Simmel, ao enunciar que:

A Sociologia pertence àquele tipo de ciências, cujo caráter especial decorre, não de que seu objeto esteja compreendido junto com outros sob um conceito mais amplo [...] e sim de considerar um ponto de vista especial o campo total dos objetos. O que a distingue das demais ciências histórico-sociais não é, pois, o seu objeto, e sim o modo de considerá-lo, a abstração particular que nele se processa. (SIMMEL, 1983). (grifo nosso).

Ou seja, a especificidade da sociologia não está no seu objeto, que pode compartilhar com

qualquer outra área do conhecimento, mas antes na abordagem que se procede sobre o objeto.

Nesse sentido justificamos teoricamente a contribuição da presente pesquisa, pela abordagem da

sociologia sobre o discurso da psiquiatria forense e sobre as práticas dessa especialidade.

Neste trabalho nos focaremos em um ponto específico: os laudos de periculosidade e

insanidade mental. Estes são produzidos por uma especialidade específica, a psiquiatria forense,

que funciona como uma espécie de informador para o sistema penal sobre a condição mental do

criminoso, no decorrer do processo judicial. Esses laudos são feitos no Complexo Médico Penal,

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a pedido do Poder Judiciário, para que o psiquiatra forense informe ao sistema judicial se o

indivíduo analisado é também designado como “doente mental” ou não, pois isso vai infruir na

sentença que o juiz irá proferir sobre o indivíduo que cometeu o delito. Todas essas relações

serão melhor esmiuçadas no decorrer deste texto.

Neste trabalho procuraremos compreender, primeiramente, como se forma historicamente

essa prisão de natureza peculiar, e como se constitui o Complexo Médico Penal Paranaense. Em

um segundo momento, pretendemos analisar o que são esses laudos, que categorias o psiquiatra

forense cria para analisar os indivíduos nesses laudos e quem são os sujeitos analisados que são o

objeto dessa especialidade jurídico – médica. Com estes objetivos que apresentamos o presente

trabalho.

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1. CAPÍTULO 1 - PRISÃO QUE TAMBÉM É HOSPITAL: BREVE HISTÓRICO DA

CONSTITUIÇÃO DE UMA INSTITUIÇÃO TOTAL HÍBRIDA E DE UM SABER

MISTO

Neste capítulo, pretendemos fazer um breve histórico do surgimento do manicômio

judiciário – tanto enquanto instituição, em um sentido mais amplo, quanto no caso específico do

Complexo Médico Penal do Estado do Paraná. Para tanto, faremos um pequeno retrocesso

histórico desde o início da formação do discurso institucionalizado tanto da loucura quanto do

crime. Pretendemos, por consequência, esboçar sobre o surgimento de duas instituições totais

que vão marcar o discurso da modernidade: o manicômio e a prisão.

Em um dado momento, estas duas instituições se fundem, formando o manicômio

judiciário. Paralelamente, dois saberes se mesclam, o penal e o psiquiátrico, formando o saber da

psiquiatra forense. Demonstrar como é formada essa instituição e este saber é o objetivo deste

primeiro capítulo.

1.1. Dos manicômios e da psiquiatria em geral

Se o século XIX surge como o século das normatizações, regulamentações e

classificações; também é o século em que as instituições de internamento ganham mais força e

visibilidade social, dentre as quais destacamos os manicômios e as prisões. Afinal, não foi

sempre que existiram manicômios, prisões e psiquiatras. Conjuntamente ao crescimento dos

manicômios nas grandes cidades dos idos de 1900, a especialidade da psiquiatria ganha maior

visibilidade e inserção social.

É por conta da atuação do psiquiatra que as pessoas consideradas doentes mentais, ou os

loucos2 como se diz em linguagem comum desde tempos imemoriais, passam a ser apartados da

sociedade mais ampla e vigiadas, controladas e normatizadas em lócus específicos, os

manicômios. Mas o que vem antes, o psiquiatra ou o manicômio? Se na época de Dom Quixote, 2 Há uma vasta gama de termos que podemos usar para nos referir ao indivíduo considerado “louco”. Nas próprias obras de Foucault, que muito escreveu sobre esse tema, não é uniforme a nomenclatura utilizada para este indivíduo; louco, anormal, desajustado, a-social: estes são alguns dos termos que encontramos folheando as páginas por Foucault escritas. Já a psiquiatria, por sua vez, insiste por uma linguagem com conotação menos pejorativa, chamando-os “doentes mentais” atualmente. Popularmente, há também o demente, o insano, o desajuizado, e podemos ocupar muitas linhas dessa nota de rodapé procurando termos sinônimos. Escolhemos, no decorrer desta dissertação, utilizar o termo “louco”, apesar de todas as outras denominações sinônimas e menos incômodas ao ouvido que existem, por três razões: 1) para insistir nessa estranheza e nesse incômodo com o fim de ajudar na nossa reflexão sociológica sobre a situação de exclusão em que se encontram esses indivíduos; 2) em parte pela falta de uma definição sociológica uniforme para tratar desta categoria e 3) para fugir da assepsia médica - e em certa medida mascaradora da situação de estigma e exclusão sociais em que se econtram os loucos – que acreditamos que existe na definição de doente mental; sendo este último motivo de índole claramente política e militante. Portanto, daqui por diante, trataremos do “louco”.

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lá pelos idos de 1500, os “loucos” conviviam lado a lado com os “sãos”, gradativamente eles vão

sendo confinados em locais específicos, os manicômios, e tratados por um saber próprio, a

psiquiatria. Pretendemos aqui traçar um breve histórico de como isso ocorreu.

Foucault3 demonstra como se constituíram no Ocidente os manicômios e a psiquiatria enquanto especialidade médica. Nem sempre a humanidade colocou seus loucos sob a grande figura do internamento. Foucault resgata, por exemplo, a imagem da Nau dos loucos (FOUCAULT, 2005, p. 09), muito utilizada durante a Renascença, e que consistia na prática de colocar em um navio toda espécie de louco e soltá-lo oceano afora, para que o “limbo” dê a eles um destino longe do convívio da civilização.

No entanto, gradativamente e no período da Idade Clássica, vai surgindo o internamento

enquanto prática de controle sobre os loucos. A primeira grande instituição de internamento,

segundo Foucault, é o Hospital Geral de Paris (FOUCAULT, 2005, p. 49). Este foi inaugurado

por decreto em 1656. Na Alemanha, por este período, também começam a proliferar as casas de

correção, o mesmo na Inglaterra. Portanto, pode-se dizer que é um fenômeno mais ou menos

comum em toda a Europa Ocidental a criação de instituições de internamento que passam a

acolher todo tipo de indesejável: loucos, pobres, desajustados, libertinos, etc. Porque, ao

contrário do que podemos imaginar, o Hospital Geral de Paris, apesar desse nome, não é um

estabelecimento médico, mas sim uma instituição para os pobres4 de Paris:

Trata-se de recolher, alojar, alimentar aqueles que se apresentam de espontânea vontade, ou aqueles que para lá são encaminhados pela autoridade real ou judiciária. É preciso também zelar pela subsistência, pela boa conduta e pela ordem geral daqueles que não puderam encontrar seu lugar ali, mas que poderiam ou mereciam ali estar (...) De saída, é um fato evidente: o Hospital Geral não é um estabelecimento médico. É antes uma estrutura semijurídica, uma espécie de entidade administrativa que, ao lado dos poderes já constituídos, e além dos tribunais, decide, julga e executa. (FOUCAULT, 2005, p. 49-51).

O internamento, portanto, surge para Foucault como uma necessidade da Idade Clássica

de controlar uma série de indivíduos considerados desviantes: os pobres, os doentes, os imorais,

os suicidas mal sucedidos, os místicos, etc. Todos tinham o mesmo fim, muito mais com

características de internamento em um sentido geral do que de tratamento médico. Ao lado desta

característica, também temos o imperativo do trabalho: a não aceitação do ócio para as camadas

populares fazem com que muitos dos chamados “vagabundos” que antes deambulavam pelas

ruas fossem parar nessas instituições que, muitas vezes, previam trabalho forçado e lucravam

com a produção dessa mão de obra.

3 Utilizaremos como referência daqui por diante, preponderantemente, o livro História da Loucura na Idade

Clássica (FOUCAULT, 2005), pois consideramos que este livro abarca minuciosamente o processo histórico através do qual a loucura é construída como objeto do discurso médico na sociedade ocidental.

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Detectamos o início do internamento de suas instituições em fins de 1500 e início de

1600. Mas como surge a internação da loucura especificamente? Foucault aponta o internamento

como criação institucional própria do século XVII, sendo o isolamento dos a-sociais, como ele

designa essa parcela da sociedade, como o motivo inicial para o internamento (FOUCAULT,

2005, p. 79). O que antes era um desconforto social, mas que tinha certa tolerância, passa a ser

colocado sob controle e sob os muros que vigiam. A loucura seria, inicialmente, um desses

desconfortos, ao lado dos pobres, vagabundos, doentes, imorais e toda sorte de indivíduo que

causasse incômodo.

Em algum tempo, no entanto, as instituições vão se especializando e os a-sociais vão

sendo tratados diferentemente. É no classicismo do final do século 1600 que a loucura deixa de

ser considerada como mal estar da sociedade para ser entendida como doença. A Idade Clássica é

também chamada a Idade da Razão, e os loucos apresentam uma doença no sentido em que não

compartilham da mesma racionalidade que os demais membros da sociedade. O que antes era

incômodo e estranheza vira patologia e, aos poucos, vai sendo tratado pelo saber médico.

Também podemos pensar a figura do louco, na história ocidental, através de uma

categoria que Norbert Elias nos proporciona. O processo civilizador5 que se deu gradualmente na

sociedade ocidental resultou na criação de um modelo de homem considerado como civilizado

(ELIAS, 2001). Esse padrão de homem tem também a sua antítese, o seu antimodelo, alguém

sobre o qual o homem civilizado deve refletir para criar com este o máximo possível de

discrepância. O classicismo, já assinala Foucault, é a Idade da Razão. Foi essa ‘antítese da

civilidade’, por assim se dizer, um dos elementos que legitimou, no decorrer da história e

desenvolvimento do processo civilizador, a dominação pela subjugação de todo aquele que não é

o modelo padrão.

Estigmatizar o contrário desta imagem, de ser humano racional e dotado de razão, é um

dos mecanismos para afirmar o indivíduo modelo que se almeja. Sobre esses incivilizados,

bárbaros ou anormais, recaem os estigmas da sociedade civilizada, para que, ao olhar para eles, o

indivíduo padrão seja o seu oposto: o homem ‘civilizado’. São os estigmatizados de que trata

Goffman (1988), através de uma definição simples e útil sobre o que vem a ser um indivíduo

estigmatizado: é aquele que está inabilitado para a aceitação social plena (GOFFMAN, 1988, p.

7). O processo de criação do indivíduo estigmatizado como simultaneamente louco e criminoso

pela psiquiatria forense será examinado neste trabalho, nos capítulos posteriores. Por ora, vamos

5 Norbert Elias, na introdução à edição de 1968 do seu O Processo Civilizador, enuncia que “[...] agimos na suposição tácita de que é possível elaborar teorias sobre as estruturas emocionais do homem em geral, com base no estudo de pessoas em uma sociedade específica que pode ser observada aqui e agora – a nossa.” (ELIAS, 1994, vol I, página 214.) E é a sociedade contemporânea e com alta especialidade definida, fruto desse processo civilizador para o qual aponta Elias, que utilizamos como pano de fundo para o nosso estudo.

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apenas sinalizar que esse processo de estigmatização tem uma história, e é sobre essa que

pretendemos falar por enquanto.

Voltando à nossa trajetória histórica, no final de 1600, constatamos que os indivíduos

estigmatizados como loucos pela “Idade da Razão” estão muito próximos de todos aqueles

indivíduos que não desfrutam de um certo padrão de “civilidade”: os libertinos, os revoltosos,

etc. Embora se reconheça que os loucos tem sua própria especificidade, principalmente após

Pinel e outros psiquiatras que são considerados marcos da moderna psiquiatria, são necessários

muitos anos para que a loucura se separe dos demais tipos de imoralidade. E muitos mais anos

para se dividir a loucura em sentido geral para uma série de categorias mais estritas: o maníaco

depressivo, o demente, o histérico, etc.

Aos médicos, em um longo processo histórico, vai cabendo a função de categorizá-los e o

poder de dizer se são loucos ou não, se podem conviver em sociedade ou não. Não vamos aqui

fazer uma genealogia de todos os tipos de loucura e como esta se processou na história até o

século XIX. Foucault já fez esse trabalho minucioso no seu História da Loucura, e não vamos

repetir o que ele já esmiuçou em 500 e poucas páginas. Antes, queremos neste texto dar

pequenas orientações sobre a sua obra e que podem ajudar-nos a compreender como a loucura é

apreendida no pensamento ocidental, e como surgem os manicômios e os psiquiatras.

Façamos, agora, um salto histórico para o século XIX. Antes, durante 300 anos, a

sociedade ocidental (e nesse período, portanto, por sociedade ocidental podemos considerar,

eurocentricamente, a Europa) vai desfiando a figura do internamento e do internado em várias

espécies. Já haviam, em 1900, os manicômios para os loucos, os presídios para os criminosos, os

orfanatos para as crianças, os hospitais para os doentes. Se, no começo do internamento, em

meados de 1600, o médico não era essencial, depois de três séculos, eles são figuras chave para

dizer quem entra no manicômio e quem sai. Agora, para os loucos, há quem os controle, trate e

classifique: os psiquiatras ou alienistas; e um local específico: o manicômio.

É no século XIX que surge uma multiplicidade de diagnósticos da loucura para justificar

a internação. São, portanto, os manicômios os espaços geográficos para apartar o doente mental

da sociedade. É o manicômio a instituição total em que a psiquiatria, enquanto especialidade, vai

se desenvolver por excelência. No século XIX, já está completamente determinado o manicômio

como instituição total para os loucos. Por instituição total, vamos adotar a definição de Goffman

neste trabalho:

“Uma instituição total pode ser definida como um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada [...]. Uma disposição básica da sociedade moderna é que o indivíduo tende a dormir, brincar e trabalhar em diferentes

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lugares, com diferentes co-participantes, sob diferentes autoridades e sem um plano racional geral. O aspecto central das instituições totais pode ser descrito com a ruptura das barreiras que comumente separam essas três esferas da vida. Em primeiro lugar, todos os aspectos da vida são realizados no mesmo local e sob uma única autoridade. Em segundo lugar, cada fase da atividade diária do participante é realizada na companhia imediata de um grupo relativamente grande de outras pessoas, todas elas tratadas da mesma forma e obrigadas a fazer as mesmas coisas em conjunto. Em terceiro lugar, todas as atividades diárias são rigorosamente estabelecidas em horários, pois uma atividade leva, em tempo predeterminado, à seguinte, e toda a seqüência de atividades é imposta de cima, por um sistema de regras formais explícitas e um grupo de funcionários. Finalmente, as várias atividades obrigatórias são reunidas num plano racional único, supostamente planejado para atender aos objetivos oficiais da instituição” (GOFFMAN, 1974, p. 11)

Dessa descrição de instituição total, podemos deduzir que elas são uma importante forma

de vigilância que se opera sobre praticamente todas as atividades desenvolvidas pelas pessoas

que nelas vivem, até as mais íntimas e corriqueiras. Essa vigilância constante das instituições

totais que aponta Goffman é o que Foucault vai chamar a atenção como sendo uma das novas

características do controle no século XIX: a vigilância.

Já afirmamos que o século XIX é o período em que a psiquiatria se consolida como saber

e o manicômio como instituição total para os loucos. Castel assinala que há quatro elementos no

marco da problemática da modernidade sobre a loucura: 1) O contexto político do advento do

legalismo na modernidade: o recurso direto ao poder público para realizar e bloquear a repressão

à loucura; 2) o surgimento de novos agentes, como o médico; 3) a atribuição do status de doente

ao louco e 4) a constituição de uma nova estrutura institucional, que já mencionamos acima

como sendo os manicômios como instituições totais para os loucos. O louco, neste contexto do

começo do século XIX, passa a ser um alienado que precisa ser medicalizado (CASTEL, 1978,

p. 9-11).

Temos, neste tempo histórico, a formação de um modelo para tratar a loucura que Castel

coloca no binômio medicina e hospitalização (CASTEL, 1978, p. 56): há o desenvolvimento das

categorias psiquiátricas, da tecnologia hospitalar e de práticas centradas no internamento. É no

início do século XIX que se firma um longo processo histórico que vinha tomando corpo até

então: a prática de medicalizar o louco, interná-lo, asilá-lo, classificá-lo e tratá-lo. O psiquiatra

ganha poder neste contexto como agente especializado para esta situação que é tão própria da

modernidade.

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1.2. As prisões na idade moderna: nova forma de organização social dos métodos punitivos

Assim como o século XIX é o século em que se firmam os manicômios como

instituições destinadas aos loucos, no mesmo período surgem as instituições que segregam do

convívio social os indivíduos chamados de criminosos, tais como as conhecemos hoje: as

prisões.

Métodos punitivos e um sistema coercitivo sempre estiveram presentes desde os mais

remotos tempos e acompanham praticamente todas as sociedades já existentes. No entanto,

assinala Foucault, há uma mudança significativa nos métodos punitivos neste período: é a partir

do final do século XVIII e começo do século XIX que os suplícios corporais são excluídos e

substituídos pelo castigo do enclausuramento e da vigilância nas instituições prisionais.

Segundo Foucault, este é o período em que é redistribuída a economia do castigo

(FOUCAULT, 1987, p. 11 - 13) e que representa uma nova era para a justiça penal. Somem os

suplícios e o corpo esquartejado, amputado, dado como espetáculo. Todo o cerimonial da pena

vai passando a ser um procedimento administrativo, e não mais de praça pública. O fim passa a

ser não mais o de domínio do corpo ao ponto de dilacerá-lo nos suplícios, mas sim o de controlá-

lo através da vigilância nas prisões.

É neste período que também se modelam grande parte das legislações penais para abarcar

essa mudança significativa no mundo ocidental. Universalmente, os suplícios vão desaparecendo

das legislações ditas `civilizadas` e sendo substituídas pela administração da liberdade dos

condenados. Isso porque o objetivo não é mais punir o corpo dos condenados, como bem

assinala Foucault, mas sim seu espírito. E aqui surge o poder disciplinar como centro das

discussões foucaultianas para pensar esse novo modelo punitivo. Para abarcar esse novo modelo,

milhares de prisões vão sendo construídas desse momento em diante. Este modelo dura, como é

sabido por todos, até os dias de hoje.

Assinalamos que este também é o período em que há o fortalecimento dos Estados

Nacionais e quando o Estado passa a ser, mais fortemente do que nunca, detentor do monopólio

da violência legítima (WEBER, 1999, p. 525). Também na administração da justiça e do

encarceramento, o Estado é detentor legítimo do monopólio da coerção física sobre os seus

condenados. Foucault complementa que, mais que a disciplina dos corpos, são vigiadas todas as

ações dos sentenciados. Vigiar e punir passam a ser atribuições dos Estados Nacionais destes

dias até a atualidade (embora muito se fale da privatização das prisões em diversos países nos

dias de hoje, continua a administração da justiça ficando a cargo dos Estados e não da

administração privada).

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Muito poderia ser escrito sobre as prisões e seu surgimento, mas dedicamos a elas breves

linhas, pois nossa finalidade é ligá-las historicamente ao surgimento dos manicômios, nos idos

de 1800. Através deste breve panorama histórico do surgimento dos manicômios e das prisões,

podemos chegar ao nosso ponto de estudo: os manicômios judiciários e a psiquiatria forense.

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1.3. Da psiquiatria forense: noções gerais

Sobre o histórico da medicina legal, Ruth Harris (1993) assinala o surgimento deste saber

no final do século XIX na Europa como uma área de conhecimento que responde ao ideal

iluminista de racionalização. A racionalização da loucura e do crime requer um saber

especializado. A razão é quem vai dizer quem é o louco, produzi-lo através de um saber

específico. A elaboração do discurso médico legal é o embasamento para a produção de práticas

que, por sua vez, irão produzir verdades, como assinala Foucault (2005). Um ramo da medicina

legal é justamente a psiquiatria forense.

Grande parte das legislações penais, a partir de fins do século XIX até os dias atuais,

baseiam-se no princípio de que o indivíduo criminoso deve ter “consciência” do crime

cometido. Ou seja, não basta que o indivíduo cometa o crime para ser punido, ele também deve

ter, almejando ao ideal de racionalização que nos trouxe o processo civilizatório, consciência de

que estava fazendo algo errado. E mais, ele deve poder determinar a sua vontade de acordo com

esta consciência.

Com essa nova racionalidade para o sistema punitivo, não é de se estranhar que todos os

loucos e furiosos de todos os tipos, sem racionalização suficiente para compreender, como os

indivíduos chamados normais, a barreira entre o lícito e o ilícito; e mais, para agir de acordo com

esta percepção, ficaram em uma espécie de vácuo jurídico e estatal-administrativo.

O direito penal da época moderna vai, durante muitos anos, se debater sobre várias teorias

que procurem abordar a punição do indivíduo com base no seu grau de consciência no delito

cometido. Predominantemente no direito penal, a essa capacidade vai-se chamar imputabilidade,

ou seja, a capacidade de imputar o crime a um indivíduo. Com base nesse raciocínio, o indivíduo

a quem se pode imputar um crime vai ser chamado de imputável, enquanto o indivíduo que não

tem consciência do que fez, e que, portanto, não pode ser responsabilizado pelos crimes que

cometeu, serão chamados de inimputáveis.

Podemos ver como essa nova categoria de criminosos corresponde ao princípio iluminista

de racionalização e de civilidade. Imputabilidade, de acordo com Zaffaroni e praticamente todos

os penalistas, é a capacidade psíquica de culpabilidade (ZAFFARONI, 2007, p. 535). Aos que

não têm consciência do ilícito que cometem, ou que “não podem determinar-se de acordo com

este entendimento”, cria-se o saber específico da psiquitria forense para que os classifique, rotule

e controle. Tudo racionalmente justificado na moderna burocracia dos Estados Nacionais

conforme nos fala Weber.

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Portanto, o sistema penal, quando tem diante de si um indivíduo que é simultaneamente

louco e criminoso, chama a psiquitria forense para classificá-lo. Devolve-se ao especialista sobre

a loucura, que é o psiquiatra, o seu objeto de saber, o louco. Mas exige-se dele um certo

conhecimento jurídico para atuar, pois não se trata de um louco comum, mas sim, de um louco

que é, simultaneamente, criminoso. Com base nesta demanda do sistema penal moderno, cria-se

a figura do psiquiatra forense.

A psiquiatria forense produz o seu discurso para a área jurídica especificamente,

distinguindo os indivíduos perigosos dos não perigosos e os normais dos não normais. Com essa

prática, cria uma forma de vigilância dos padrões de normalidade e institui uma forma de

controle social em fins do século XIX.

Foucault (2002) chamará o indivíduo desviante de anormal e de indivíduo a ser corrigido.

Para disciplinar (FOUCAULT, 2004) os desviantes, surgem vários saberes específicos. Para o

louco, surge uma nova especialidade, como vimos, no começo do século XIX: a psiquiatria. Para

o louco que é simultaneamente criminoso, surgirá, no fim deste mesmo século, o saber da

psiquiatria forense.

Portanto, se no decorrer de um processo judicial penal, qualquer das partes suspeite que o

indivíduo em questão é louco, chama-se o psiquiatra forense para que esse, dotado do seu

conhecimento específico, diga ao sistema penal se aquela pessoa pode responder pelo delito ou

não.

Entendemos que a psiquiatria forense cria, com sua prática e discurso, a categoria do

indivíduo inimputável, ou seja, aquele a quem não se pode imputar, mais que uma pena, a

responsabilidade por seu delito.

Como vamos tratar da psiquiatria paranaense mais especificamente, podemos considerar

a legislação brasileira como exemplo deste discurso, uma vez que se aplica ao Estado do Paraná.

Portanto, é a lei brasileira que nos traz uma primeira concepção, enquanto linguagem nativa, no

dizer antropológico, de quem é o indivíduo designado como inimputável, de acordo com o artigo

26 do código penal: “É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento

mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de

entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”

(CÓDIGO PENAL BRASILEIRO, p.549). É o sujeito destituído de razão que é criminoso, o

doente mental que delinqüe. Este inimputável é o que Foucault (2002) vai chamar de anormal,

que ele trata como o indivíduo a ser corrigido pela psiquiatria e pelo sistema penal. Nesse

sentido, o anormal ganha uma dimensão de estigma, segundo Goffman, de que comentamos mais

acima.

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Há certos tipos de estigmas que são criados como tecnologias de controle social e que

acarretam a exclusão de muitos indivíduos de uma série de círculos sociais. Desta forma, o

procedimento de criação do indivíduo estigmatizado (GOFFMAN, 1988) como inimputável pela

psiquiatria forense e o procedimento judicial existente em face do indivíduo que é rotulado como

sendo, ao mesmo tempo criminoso e louco, pode ser compreendido como uma forma de controle

social na nossa sociedade.

Um dos traços marcantes da sociedade ocidental contemporânea é a razão, o pressuposto

do uso da racionalidade. É em nome dessa razão que o saber se bifurca em inúmeros outros

ramos ou especialidades (GIDDENS, 1991). A essas especialidades, Giddens dá o nome de

sistemas de confiança ou sistemas abstratos. Para este autor, a natureza das Instituições nas

sociedades modernas está profundamente ligada ao mecanismo de confiança em sistemas

abstratos. Quem faz a interação entre os sistemas abstratos e os indivíduos leigos é o perito, que

é a pessoa que detém o conhecimento inerente àquela especialidade. Conseqüentemente, ele tem

o poder de emitir pareceres sobre a sua área de domínio, acatados pelos demais indivíduos

leigos, que não estão legitimados a discordar, pois não são portadores do mesmo poder simbólico

que o perito. No dizer de Bourdieu:

“[...] o que faz o poder das palavras e das palavras de ordem, poder de manter a ordem ou de a subverter, é a crença na legitimidade das palavras e daquele que as pronuncia, crença cuja produção não é da competência das palavras” (BOURDIEU, 2003, p. 15).

Assim, percebe-se que o especialista detém esse poder não apenas sobre o indivíduo

desviante, mas em relação à sociedade mais ampla, uma vez que é imbuído de legitimidade pelo

sistema abstrato que representa. Ou seja, o poder não está apenas no que é dito, mas em quem

está dizendo, o perito.

O perito que vai dizer quem é o anormal na sociedade contemporânea é o psiquiatra, por

excelência. Ele tem o poder para discursar sobre o que é um comportamento desviante e quem é

o anormal. E, por exclusão, determinar quem é o normal, como deve ser o homem “apto” a

conviver socialmente. É através da rotulação de inúmeras anomalias, disfunções, síndromes e

desvios que a fronteira entre o normal e o anormal vai sendo construída: o psiquiatra, enquanto

perito, faz inúmeras distinções. Bourdieu vê a produção simbólica como uma forma de

dominação da cultura dominante que contribui para a legitimação da ordem estabelecida por

meio das distinções. Podemos, dessa forma, entender o psiquiatra como o especialista em

distinguir o normal do desviante (BOURDIEU, 2003).

O instrumento através do qual o psiquiatra forense analisa o criminoso potencialmente

louco chama-se laudo de insanidade mental, e é uma peça chave na decisão do juiz ao imputar

ao indivíduo se ele era ou não “responsável” pelo crime que cometeu. Analisaremos esses laudos

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no decorrer desta monografia de conclusão de curso (160, para sermos mais exatos). Mais

adiante, discutiremos de maneira mais aprofundada essas peças jurídico-médicas, acreditando

serem estas relevantes para pensarmos punição, normalidade e doença mental na atualidade.

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1.4. Os Manicômios Judiciários e o Complexo Médico Penal Paranaense

Já fizemos um breve esboço de como surge a psiquitria, os manicômios, as prisões e a

psiquiatria forense. Resta nos perguntarmos qual instituição total a modernidade designou para

essa particularidade de criminosos, o que é considerado simultaneamente doente mental.

Para ‘tratar’ o doente mental criminoso, a instituição total destinada são os manicômios

judiciários. No caso do estado do Paraná, o lócus correspondente é o Complexo Médico Penal do

Paraná, o antigo Manicômio Judiciário Paranaense. Este é o espaço de atuação, especificamente,

da psiquiatria forense no Estado do Paraná. Foi também o lugar no qual realizamos o nosso

levantamento de dados e a pesquisa de campo.

Dentro da história da punição, podemos dizer que é extremamente nova a criação de uma

instituição total que abarque esse tipo de indivíduos. O primeiro manicômio judiciário em terras

brasileiras data de 1903, criado no Rio de Janeiro6. Se este surge no começo do século XX,

observaremos que até o final deste século, praticamente todos os estados da federação irão contar

com um manicômio judiciário dentro da estrutura do sistema penitenciário brasileiro.

A nossa pesquisa procura analisar os laudos produzidos pelos psiquiatras forenses e

psicólogos no antigo Manicômio Judiciário do Paraná, que atualmente possui a denominação de

Complexo Médico Penal do Paraná.

Ao olhar o Complexo Médico Penal do Paraná, percebemos que ele é hierarquicamente

subordinado à Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná7, e mais especificamente ao

departamento penitenciário do Estado. Com isso, ao averiguarmos sua disposição burocrática e

legal, constatamos que a psiquiatria forense é uma área do saber médico específico: é a

especialidade da medicina que dialoga fortemente com o direito, por isso a sua inserção espacial

nesta instituição.

O atual Complexo Médico Penitenciário do Paraná está situado em Quatro Barras,

município da região metropolitana de Curitiba. Como grande parte dos presídios, ele está

localizado em uma zona um pouco mais afastada dos grandes centros urbanos. Sua data de

inauguração remonta ao dia 31 de janeiro de 19698. Antes dessa instituição específica para

abrigar os presos portadores de doenças mentais, estes eram conduzidos ao Hospital Psiquiátrico

6 CARRARA, Sérgio. Crime e loucura – o aparecimento do manicômio judiciário na passagem do século. Rio de Janeiro, Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1998, p. 220. 7 Conforme informações verificáveis no site www.pr.gov.br/depen, acessado em 10/08/2008. 8 PRÁ, Alcione. Paraná: das cadeias públicas às penitenciárias (1909-2009). Curitiba: Instituto Memória, 2009, p. 286.

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Adauto Botelho. Este hospital, também localizado em Quatro Barras e ao lado do Complexo

Médico Penitenciário, possuía a época uma ala específica para abrigar esse “tipo” de pessoas.

Podemos observar, portanto, como os criminosos doentes mentais ‘migram’, no Estado

do Paraná, da custódia de uma instituição de saúde para uma de segurança pública. Esse

movimento significa um novo enquadramento deste grupo de indivíduos sob a tutela do Estado,

passando de um discurso de saúde pública para um de segurança pública, ao serem postos aos

cuidados, agora, não mais de uma instituição de saúde, mas sim de uma instituição do sistema

penitenciário.

Mas esse não é um movimento isolado do estado do Paraná e pode ser observado em todo

o Brasil. A maioria dos criminosos com algum tipo de doença mental eram, inicialmente,

mandados para os manicômios convencionais. No entanto, gradativamente eles deixam de ser um

problema da esfera da saúde para ser um assunto a ser tratado pelo sistema penitenciário.

Sobre o Complexo Médico Penal do Paraná, Fernandes (2000) elaborou uma dissertação

apresentada perante essa Universidade em que foi esmiuçado o surgimento da loucura como

construção histórica, o histórico do Complexo Médico Penal do Paraná e como se dá a

sociabilidade dos internos nesta Instituição. Não dispõe este trabalho, especificamente, sobre o

campo9 da psiquiatria forense como saber especializado e tão pouco sobre as práticas e discursos

de seus peritos, pois que é outro o objeto proposto. A fim de que a produção acadêmica não se

torne repetitiva, não trabalharemos com o histórico dos manicômios, tão pouco com o histórico

do Complexo Médico Penal do Paraná, pois que já temos a produção de uma dissertação sobre o

assunto. Trabalharemos, a fim de compreender o significado sociológico do objeto de estudo

apresentado neste projeto, a partir da idéia de que a medicina legal constitui-se em um campo

específico de saber da sociedade contemporânea porque engloba dois discursos: o jurídico e o

médico-psiquiátrico.

9 A noção de campo (BOURDIEU, 2003) é essencial porque “[...] compreender a gênese social de um campo, e apreender aquilo que faz a necessidade específica da crença que o sustenta, do jogo de linguagem que nele se joga, das coisas materiais e simbólicas em jogo que nele se geram, é explicar, tornar necessário, subtrair ao absurdo do arbitrário e do não-motivado os actos dos produtores e as obras por eles produzidas e não, como geralmente se julga, reduzir ou destruir”.

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2. CAPÍTULO 2 – AMOSTRA E CATEGORIAS DE ANÁLISE DOS LAUDOS

ANALISADOS

2.1. Amostra10

Compreendemos que a cristalização do saber psiquiátrico – forense está nos laudos em

que eles avaliam os indivíduos. Portanto, é sobre esses laudos que nos debruçaremos daqui por

diante. O material analisado compõe-se dos laudos produzidos pelos psiquiatras e psicólogos do

complexo médico penal paranaense no ano de 2008. Durante esse ano, foram produzidos 454

laudos. Coletamos o material no período de setembro de 2008 a setembro de 2009.

Optamos por utilizar o ano de 2008 porque foi o ano mais recente em que conseguimos

fechar um universo completo e do qual poderíamos retirar uma amostra significativa. Como a

pesquisa se encerraria em setembro de 2009, até lá não teria sido fechada a produção de laudos

de 2009, e sem um montante concluído não poderíamos trabalhar com uma amostra segura.

Utilizando o método aleatório, com reposição. Ou seja, depois que cada laudo era

analisado, ele voltava para o montante principal e retirávamos outro para análise.

Dos 454 laudos, precisaríamos de 160 desse total para compor uma amostra probabilística

simples proporcional corrigida pelo FCP (fato de correção de população, cuja margem de erro é

de 4%). Portanto, é desse universo de 160 laudos, escolhidos aleatoriamente dentre os 454

produzidos no ano de 2008, que trataremos daqui por diante.

10 Agradecemos em especial ao professor do departamento de ciências sociais Emerson Urizzi Cervi, pela orientação que nos deu para definir qual o tamanho da amostra e qual o método utilizado.

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2.2. Contexto dos laudos analisados

Esses laudos referem-se a uma demanda que o Judiciário remete aos psiquiatras e

psicólogos do complexo médico penal. Se, no decorrer de um processo judicial penal suspeita-se

que a pessoa que cometeu um crime, o ‘acusado’, não dispunha do que se entende por suas

‘faculdades mentais plenas’ durante o momento do cometimento do delito, o Judiciário recorre à

psiquiatria forense para que esta informe qual o estado de ‘sanidade mental’ em que o acusado se

encontrava no cometimento do delito.

Portanto, o que analisamos são os laudos que os psiquiatras forenses e psicólogos do

complexo médico penal elaboram com base nessa demanda do Judiciário.

Esta demanda existe por conta da atual estrutura do direito penal brasileiro. Um dos

postulados sob o qual ele se sustenta é a racionalidade do indivíduo, a consciência individual que

existe no momento em que se comete o ato que é considerado criminoso.

A retribuição do sistema penal com uma pena ao indivíduo que ao final do processo é tido

como criminoso só pode ser imposta, de acordo com o direito penal brasileiro atual, àquele que

tem consciência do ato que cometeu.

Perante o louco que comete um crime, o direito é questionado, segundo Foucault (2002)

não conseguindo ser aplicado, pois como impor uma pena a quem não tem consciência do que

fez? O pressuposto enunciado do direito contemporâneo é a racionalidade, a finalidade que o

sujeito tem em mente ao cometer a ação criminosa (CAPEZ, 2006). O direito acaba, perante o

inimputável, tendo que questionar os próprios fundamentos, pois não pode retribuir com uma

pena ao indivíduo que não dispõe de razão sobre os seus atos. E é obrigado, de acordo com

Foucault (2002), a apelar para outro sistema de referência, cuja idéia nós levantamos, aqui, que é

a psiquiatria forense. Esta chama para si a responsabilidade de classificar e rotular os indivíduos,

dizendo quem tem razão (leia-se: condições de civilidade) e quem não as tem. Portanto, o que

trazemos para análise são esses laudos que a psiquiatria forense produz para o sistema penal.

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2.3. Categorias utilizadas

Inicialmente não tínhamos nenhuma pré noção de que categorias utilizar para pensar os

laudos de insanidade mental. Ao ler e reler os laudos, no entanto, procuramos ver os dados que

eles possuíam para, então, poder formular as categorias que apresentamos nesse trabalho. Dessa

forma, montamos uma tabela utilizando da amostra de 160 laudos dentre o universo dos 454

produzidos no ano de 2008.

Os dados que esses laudos nos traziam eram os seguintes: nome, gênero, idade, cidade do

estado do Paraná em que o indivíduo nasceu, cidade do estado do Paraná de origem do seu

processo (e conseqüentemente local do crime), crime cometido, escolaridade, profissão, estado

civil, histórico de internamento em hospital psiquiátrico ou passagem pelo sistema penal (se

delegacia, prisão, instituição para menores infratores), se ele tinha ou não consciência do ilícito

que cometeu no momento do crime, se há um diagnóstico da sua situação mental e que de tipo de

laudo se trata.

Dessas categorias, podemos dividir algumas que dizem respeito à condição sócio-

econômica do agente: nome, gênero, idade, escolaridade, profissão, estado civil e cidade de

nascimento.

Outras dizem respeito à como a psiquiatria forense o classifica: o parecer se ele tinha ou

não consciência do ilícito que cometeu no momento do crime e, eventualmente, a psiquiatria

forense lhes dá o status de uma doença psiquiátrica ou um diagnóstico mais específico.

Outras falam da sua relação com o sistema penal: o crime que cometeu e em que cidade

do estado do Paraná que tem origem o seu processo.

Outra divisão é o histórico que o indivíduo tem com o sistema penal e a psiquiatria: se

ele tem passagens por prisão, hospitais psiquiátricos, delegacias, consultas a psiquiatras, etc.

Finalmente, ao final dos laudos a psiquiatria forense informa ao juiz se é um indivíduo a

ser incorporado pelo sistema penal ou se ele deverá ter um tratamento psiquiátrico em uma

instituição psiquiátrico-penal, que são os complexos médicos penais, antigos manicômios

judiciários.

De acordo os dados que tivemos acesso nos laudos, são essas as categorias que

construímos e com as quais iremos trabalhar a seguir.

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3. CAPÍTULO 3 – QUEM ESTÁ NOS LAUDOS DE INSANIDADE MENTAL E

PERICULOSIDADE

Neste capítulo, pretendemos nos debruçar sobre os dados coletados a partir dos laudos de

insanidade mental e periculosidade propriamente ditos. Vamos apresentar que dados coletamos

no Complexo Médico Penal Paranaense no ano de 2008, bem como que categorias foram

utilizadas para fazê-los. Pretendemos fazer uma abordagem de cunho objetivista neste capítulo,

demonstrando que informações conseguimos coletar, através dos laudos, dos indivíduos

analisados pelos psiquiatras forenses no complexo médico penal.

Para podermos comparar com um universo maior esses dados que coletamos, vamos

colocar alguns desses dados que coletamos em comparação com os dados emitidos pelo

Ministério da Justiça11 brasileiro. Faremos essa comparação com duas bases de dados do MJ;

uma primeira, sobre o perfil dos presos no Estado do Paraná no ano de 2008. Com isso, podemos

comparar se o perfil dos analisandos do Complexo Médico Penal Paranaense correponde ao

perfil dos demais presos no Estado do Paraná. A outra base que utilizaremos é dos presos no

Brasil como um todo. Assim, podemos comparar o perfil do analisando do complexo médico

penal paranaense com os demais presos do sistema penitenciário brasileiro. Ambas as bases de

dados que utilizaremos do Ministério da Justiça correspondem ao ano de 2008, para com isso

fazermos um paralelo com os dados que coletamos durante o ano de 2008 no Complexo Médico

Penal Paranaense.

Com essa pesquisa, podemos dizer se os analisandos do complexo médico penal tem um

perfil sócio econômico parecido com os demais presos paranaenses e brasileiros. Dessa forma,

podemos concluir se há um perfil próprio para o criminoso doente mental ou não, e mesmo se a

doença mental é determinante para o cometimento do crime ou não. Se não for, podemos colocar

em cheque a eficácia deste procedimento? São perguntas que colocamos antes de iniciar a

apresentação comparativa, para que possamos ir pensando nessas questões enquanto

apresentamos os dados.

11 Disponíveis em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRNN.htm . Acesso em 02/11/2010.

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3.1. Quais são os laudos que os psiquiatras elaboram? Como os dividem?

Observamos na nossa pesquisa que os psiquiatras emitem, significativamente, dois tipos

de laudos: os laudos que eles denominam de “sanidade mental” e os laudos de “dependência

toxicológica”. Pudemos encontrar a seguinte proporção, e também denominação, dos laudos

analisados:

Os laudos de sanidade mental representam 73,125% da nossa amostra, enquanto os de

dosagem toxicológica representam 21,875%. Juntos, eles totalizam 95% do universo dos 160

laudos analisados. Os outros 5% são laudos de cessação de periculosidade (3,125%), e outras

categorias que representam menos de 1% da amostra e, portanto, que consideramos residual

nesta pesquisa.

Os laudos de dosagem toxicológica visam avaliar se a pessoa é usuária de drogas. Isto

implica em que, se ela era usuária ao ponto de ter sua percepção da realidade alterada pelo uso

das drogas, ela não poderia ter ‘consciência’ dos atos que cometeu e portanto seria considerada

irresponsável pelos seus atos. Geralmente o Judiciário demanda esse tipo de laudo no caso da

pessoa que é presa por tráfico de drogas, ou com pequena quantidade de tóxico, para averiguar se

a sua dependência se correlaciona com o crime. Portanto o juiz, geralmente em um processo por

tráfico, ao suspeitar que a pessoa é dependente do uso de drogas, pede ao psiquiatra forense que

analise a pessoa em questão para ver se a sua relação com a droga interferiu na sua percepção da

realidade. Se o resultado da análise do psiquiatra é pela inimputalibidade do sujeito por conta do

uso da droga no laudo, e o juiz acatar o que o psiquiatra sugeriu, o indivíduo vai ser levado, ao

final do processo, para cumprir sua medida de segurança no complexo médico penal. Já se o

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psiquiatra conclui que ele não estava sob a influência da droga a ponto disso interferir na sua

conduta ‘criminosa’, o juiz continua o processo normalmente e o indivíduo pode receber uma

pena, indo para o sistema penitenciário comum. Constatamos que, na maioria dos casos, o

psiquiatra decide que o sujeito não sofria influência da droga e o processo continua

normalmente, sendo o indivíduo absorvido pelo sistema penitenciário geral. Mas esta demanda

dos laudos toxicológicos não é a principal dos psiquiatras forenses.

A grande maioria dos laudos, no entanto, dizem respeito à análise que o psiquiatra faz da

chamada “sanidade mental” e da “periculosidade” que o sujeito vai apresentar para a sociedade,

representando 73,125% do montante total analisado. Pela sua representatividade quantitativa e

por ser o tipo de laudo que mais elucida o trabalho no psiquiatra forense, é nele que vamos nos

concentrar com um pouco mais de atenção.

É através dos chamados laudos de periculosidade e de sanidade mental que o psiquiatra

forense define quem é anormal e quem é normal (Foucault, 2002), produzindo a categoria de

indivíduos que o direito designa como inimputável. Os laudos designam quem tem sanidade

mental e quem apresenta periculosidade para a sociedade.

A noção de periculosidade é uma categoria nativa não do saber médico e psiquiátrico,

mas do direito. Voltando-se para o campo jurídico, este saber nos informa sobre o que viria a ser

essa periculosidade, como ele a designa. Segundo um autor brasileiro do campo jurídico,

Fernando Capez, podemos entender pelo seguinte a categoria da periculosidade:

[...] é a potencialidade para praticar ações lesivas. Revela-se pelo fato de o agente ser portador de doença mental. Na imputabilidade, a periculosidade é presumida. Basta o laudo (do psiquiatra) apontar a perturbação mental [...] (CAPEZ, 2006, p. 425. grifo nosso).

A área jurídica informa que a concepção de periculosidade significa o perigo potencial

que o doente mental apresenta para a sociedade enquanto indivíduo desprovido de razão.

Portanto, é o campo do direito quem informa ao psiquiatra o que é a categoria ‘periculosidade’.

Esta conclusão nos faz retornar para a idéia que Foucault (2002) traz de que a psiquiatria forense

é um sistema de referência para o direito, uma vez que ela informa aos operadores jurídicos, no

procedimento judicial, qual indivíduo apresenta ou não periculosidade.

Portanto, é monopólio do campo da psiquiatria forense analisar, através dos laudos, a

racionalidade dos indivíduos à época em que estes cometiam o crime.

Entendemos que as verdades produzidas pelo discurso da psiquiatria forense atuam

contemporaneamente, produzindo os indivíduos inimputáveis, através dos laudos de insanidade

mental e de periculosidade. O poder destes não está em sua cientificidade, mas antes na sua

produção simbólica de verdades que é emanada pelo discurso de uma especialidade específica, a

psiquiatria forense. Compreendemos que esta cria o processo de estigmatização de uma série de

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indivíduos como inimputáveisl. O documento que materializa esse procedimento são os laudos

de periculosidade e de insanidade mental.

Por sua vez, os laudos de periculosidade e de insanidade mental fornecem um

significativo objeto de estudo para a sociologia na medida em que representam uma espécie de

estatuto de cientificidade racional (BOURDIEU; CHAMBOREDON; PASSERON, 2004) dentro

dos procedimentos judiciais. Como perito, o psiquiatra enumera, através do saber especializado

que domina, quem detém o mínimo de racionalidade e quem não detém, quem apresenta risco

para a coletividade e quem não apresenta. Deste modo, o psiquiatra adquire uma postura como

medidor da insegurança pública (QUINET, 2006) ao avaliar a pertinência da razão em um

indivíduo a ponto deste poder ou não conviver em sociedade. Apoiado no seu estatuto de

cientificidade, ele desempenha uma forma de controle social.

Bourdieu, Chamboredon e Passeron (2004) denominaram de senso comum erudito a

sobreposição de crenças e discursos do senso comum com o discurso dito científico. No entanto,

ao olhar para os laudos, nos questionamos se o discurso (FOUCAULT, 2004)) médico legal,

mais especificamente o da psiquiatria forense, acabou incorporando, ou até mesmo legitimando

crenças e percepções construídos e entendidos a partir do senso comum.

No entanto, devemos estar atentos para o fato de que o senso comum está reproduzindo

categorias historicamente construídas. O louco e a loucura não são criações do senso comum

unicamente, mas sim uma longa criação cuja historia está intimamente ligada ao nascimento da

clínica médica e da psiquiatria como saber dito científico (FOUCAULT, 1982). Nesse sentido, a

ciência médica e o senso comum teriam percepções semelhantes sobre o doente mental

criminoso. A psiquiatria forense dá estatuto de cientificidade, através dos seus laudos, para que

sejam apartados os doentes mentais criminosos da sociedade. Entendemos que é esse o objetivo

dos laudos chamados de “insanidade mental” que analisamos no decorrer do ano de 2008.

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3.2. O perfil do analisando – gênero, idade, e grau e escolaridade

Quem é, objetivamente, o analisando nos laudos psiquiátricos? É possível falar em um

perfil? Se sim, esse perfil se aproxima dos demais presos do sistema prisional paranaense? E dos

demais presos do sistema prisional brasileiro? Estas são algumas perguntas que pretendemos

responder nesta parte da pesquisa.

1. Gênero

Primeiramente, portanto, vamos averiguar o gênero das pessoas analisadas no ano de

2008 no Complexo Médico Penal. São elas:

Preponderantemente são homens os indivíduos analisados nos laudos psiquiátricos. As

mulheres representam apenas 8,12% da amostra, enquanto os homens são 91,88% da amostra.

Podemos nos perguntar, mas qual é a população dos internos do complexo penal paranaense?

Segue esta mesma proporção? De acordo com os dados do Ministério da Justiça, no ano de 2008,

cumpriam medida de segurança 323 homens e 20 mulheres no Estado do Paraná. Portanto, a

preponderância do gênero masculino está presente não apenas entre aqueles que são analisados

pelos psiquiatras através dos laudos, mas também entre aqueles que são condenados pelo sistema

judiciário a cumprir medida de segurança no manicômio paranaense.

Já averiguamos que os homens são, portanto, maioria absoluta tanto quando são

analisados pelos psiquiatras forenses quanto quando são condenados a medidas de segurança.

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Mas, essa desproporção brutal também se aplica aos detentos do sistema penal paranaense, ou

mesmo brasileiro?

Podemos responder que sim. Pelos dados do Ministério da Justiça, eram 11.827 os presos

homens no sistema penitenciário paranaense como um todo, sendo o número de mulheres na

mesma situação de 1.431. Novamente, as mulheres não representam nem 10% dos presos

paranaenses.

O mesmo se repete no sistema penitenciário brasileiro como um todo. São 50.681 homens

presos em todo o Brasil, e 7.050 mulheres. Neste caso, as mulheres representam cerca de 13,9%.

Mesmo estando um pouco acima da média paranaense, são muito poucas as mulheres presas no

Brasil perto do contingente masculino.

No caso das pessoas que cumprem medida de segurança no Brasil, são 2.754 homens e

217 mulheres. Novamente, elas representam menos de 10% dos indivíduos que cumprem medida

de segurança no território nacional.

Portanto, concluímos em um primeiro momento, no tocante ao gênero, que são

preponderantemente os homens os indivíduos analisados pelos psiquiatras forenses, com mais de

90% na nossa pesquisa. Esse percentual também se repete no sistema prisional paranaense como

um todo, nas medidas de segurança cumpridas em todo o Brasil e no sistema penitenciário

brasileiro considerado em sua integralidade, para o ano de 2008.

Logo, podemos concluir que se comparmos doença mental e crime com gênero, esses

dados não permitem nenhuma correlação com a doença mental, pois que se repete a mesma

proporção entre homens e mulheres, seja no sistema prisional mais amplo, quando comparado,

tanto no Estado do Paraná quanto no Brasil. Os laudos analisados só repetem um percentual já

encontrado no sistema penal geral, seja estadual ou federal.

2. Idade.

E qual a idade dos periciados? De acordo com os dados que analisamos, eles são, no

geral, pessoas muito jovens. Quarenta por cento tem até 29 anos de idade, como observado

abaixo, somando-se a coluna 1 e a 2 do seguinte gráfico:

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Portanto, é significativo o número de jovens e adultos jovens que integram o contingente

populacional dos analisandos dos psiquiatras forenses. Vamos, agora, comparar essa população,

em sua maioria jovem, com a população carcerária que cumpre medida de segurança no Estado

do Paraná e no Brasil, assim como com a população carcerária geral paranaense e brasileira.

Do Paraná, podemos observar que a população carcerária também é jovem, de acordo

com os dados do Ministério da Justiça para o Estado do Paraná no ano de 2008, dados que

podem ser averiguados no anexo I desta monografia: Dos 23.195 indivíduos que estão

incorporados ao sistema penitenciário paranaense, 12.490 tem até 29 anos de idade, ou seja,

53,85% são jovens e adultos jovens.

O mesmo para o contingente nacional. São 393.488 os indivíduos contidos no sistema

penitenciário nacional, 220.539 com idade até 29 anos, ou seja, 56,05% dessa população é

composta de jovens e adultos jovens.

Podemos dizer, que no tocante à idade, a predominância dos analisandos no complexo

médico penal é de pessoas jovens e adultos jovens, e que este dado está de acordo com a

população carcerária paranaense e brasileira para o mesmo período.

3. Grau de escolaridade.

De acordo com os dados coletados, podemos da seguinte maneira esquematizar o grau de

escolaridade dos analisandos:

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De acordo com o gráfico acima, nos salta aos olhos que a imensa maioria tem o chamado

primeiro grau incompleto (hoje chamado ensino básico fundamental, mas mantivemos nesta

tabela as categorias utilizadas pelos psiquiatras forenses nos seus laudos).

Um dado que nos chamou a atenção, e que aqui vamos apenas fazer uma pequena

menção, podendo ser posteriormente melhor analisado, é o pequeno número de indivíduos que

passou pela chamada “apae”. Curiosamente, por serem laudos que visam analisar se há doença

mental nos indivíduos que cometem crimes, ou o chamado “desenvolvimento mental incompleto

ou retardado”, é praticamente insignificante o número de indivíduos que passaram pela

instituição, no Brasil, que se destina aos indivíduos com algum tipo do que é chamado

“deficiência mental”. Sendo o universo de apenas 2% dos analisandos, é algo praticamente

desconsiderável dentro da categoria nível de escolaridade.

Portanto, é gritante o número de pessoas analisadas que possuem o primeiro grau

incompleto, chegando a 52% da população dos analisandos. Logo, são pessoas que tiveram um

primeiro contato com o sistema de ensino, mas que não conseguiram concluir nem ao menos o

ciclo reconhecido como básico de educação. Não é necessário dizer que pessoas com baixa

escolaridade tem, consequentemente, baixa qualificação e portanto muito pouca chance de ter um

emprego formal, quanto mais um emprego formal que possa propiciar um padrão de qualidade

de vida mínimo. Pensamos, com base neste dado, que a existência de doença mental aqui não é

um fator importante, mas sim, novamente, as condições sócio econômicas que esses indivíduos

tem, inclusive acesso à educação, para pensarmos no porque eles estão no sistema penal, ou

mesmo como analisandos dos psiquiatras forenses e na porta de entrada do sistema penitenciário.

Mais uma vez, a correlação entre possibilidade de doença mental e crime cometido não é

averiguada.

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Vamos, agora, comparar com o sistema penitenciário paranaense e nacional para ver se

essa estimativa da grande maioria ter primeiro grau incompleto também se mantém nestes

universos.

De acordo com os dados do anexo I, a população mais representativa no sistema

penitenciário paranaense no quesito escolaridade é o chamado “ensino fundamental incompleto”,

o que corresponde à categoria “primeiro grau incompleto” no nosso gráfico. Dos 23.195 internos

paranaenses, 10.104 possuem ensino fundamental incompleto, o que totaliza 43,56% dos

indivíduos. As demais categorias: analfabeto, ensino superior incompleto, ensino médio, etc, são

significativas, porém, como no nosso gráfico, não chegam perto do grande contingente de

pessoas abrigadas pelo sistema penitenciário paranaense.

Quando comparamos ao sistema penitenciário nacional, ao olharmos o anexo II,

novamente esta proporção se mantém: do total de 393.488 pessoas abrigadas pelo sistema

penitenciário nacional, 172.926 detém “ensino fundamental incompleto”, ou seja, 43,94% da

população. Novamente, os demais indicadores de escolaridade, como ensino fundamental

completo, analfabetos, etc, são significativos, mas nem de perto conseguem ter uma porcentagem

que ameace a primazia dos indivíduos que têm ensino fundamental incompleto.

Novamente, neste quesito grau de escolaridade, não podemos averiguar uma

correspondencia entre possível doença mental dos analisandos e escolaridade. Isto porque 52%

estão na categoria primeiro grau incompleto, e quando relacionaos aos 43,56% dos presos

paranaenses e 43,94% dos presos brasileiros, podemos ver que eles mantém um mesmo perfil de

escolaridade com os presos que podemos chamar de “comuns”.

Novamente, concluímos que são as baixas condições sócio econômicas as responsáveis

pela situação de indivíduo abrangido pelo sistema penitenciário paranaense e nacional, assim

como de analisando pela psiquiatria forense.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Procuramos, neste trabalho de conclusão de curso de ciências sociais, adentrar um pouco

na área da sociologia da punição e do controle social, dentro das limitações de um trabalho de

conclusão de graduação. Uma das coisas que este campo vem contantemente demonstrando nas

suas pesquisas é como o sistema penitenciário acaba abarcando, desafortunadamente, indivíduos

que não conseguem se inserir em outras instituições da sociedade, principalmente pelo abismo

sócio-econômico existente entre os indivíduos em sociedades que não propiciam iguais

condições de vida para os seus membros. Ou seja, a desiguadade social acabaria destinando o

sistema penitenciário para os seus indíviduos mais frágeis.

Quando iniciamos nossa pesquisa de campo no complexo médico penal paranaense, a

curiosidade em saber qual era o perfil das pessoas que estavam nesta instituição total tão

particular foi uma das coisas que motivou a pesquisa. Como procuramos demonstrar

historicamente, os manicômios judiciários e os psiquiatras forenses surgem para cobrir o vácuo

de como tratar, dentro da órbita do sistema penitenciário, as pessoas que eram portadoras do que

se designa “doença mental” (seja lá o que isso for), e que cometiam crimes.

Atualmente, tanto essa especialidade médica-jurídica (o psiquiatra forense) quanto essa

prisão-hospital (atual complexo médico penal) continuam existindo, e justificam a sua existência

com base no discurso analisado nesta monografia, e resumido no parágrafo anterior. No entanto,

ao olharmos para a população de analisandos dos psiquiatras forenses, constatamos que, para

além da relação doença mental e crime, bem como todos os discursos que giram ao redor dessa

relação, o mais significativo é o perfil sócio – econômico dos analisandos.

Ou seja, indicadores como idade, grau de escolaridade e gênero demonstram que essa

população em nada difere do contingente da população carcerária paranaense e brasileira. Em

uma conclusão radical, podemos arriscar dizer que a relação doença mental e crime é

insignificante quando comparamos essas populações.

Podemos dizer que sistema penitenicário e laudo psiquiátrico-forense tem em comum o

fato de serem destinados para abranger uma população de homens, jovens e com baixa

escolaridade. Justamente a parcela da população brasileira mais vulnerável e com mais

dificuldade de inserção no mercado de trabalho que requer, cada vez mais, pessoas bem

qualificadas. Os que não se enquadram neste perfil acabam sendo abarcados pelo sistema

penitenciário, seja nos laudos dos pisquiatras forenses ou nas senteças criminais que mandam

para as prisões brasileiras um contingente enorme de pessoas que deveriam estar, para utilizar

uma categoria tão comum hoje em dia, na “população economicamente ativa” brasileira.

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Procuramos, nesta monografia, esclarecer como se deu a criação da especialidade da

psiquiatria, em especial a psiquiatria forense; das prisões, e em especial dos manicômicos

judiciários; e qual o discurso institucional que justifica a existência dessa profissão e dessa prisão

tão peculiar. Demonstramos como essas relações se operam hoje, através da pesquisa de coleta

de dados obtida no atual complexo médico penal paranaense, e procuramos elucidar algumas

características dos indivíduos que atualmente são objeto dessa instituição, desta especialidade e

deste discurso. Concluímos, comparando com a população carcerária paranaense e brasileira, que

à parte estarem abrangidos por um discurso, instituição e especialidade à parte, em nada diferem

deste contingente carcerário maior.

Ou seja, mais uma vez, não é a suspeita de doença mental a responsável por estes

indivíduos estarem onde estão, sendo analisados pelos psiquiatras forenses. Mas sim o seu perfil

de jovens homens com pouco estudo e qualificação, como os demais indivíduos abrangidos pelos

sistema penitenicário paranaense e nacional.

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ANEXOS12

Anexo 1: Dados do ministério da Justiça Brasileiro, sobre a população carcerária do Estado do Paraná, para o ano de 200813: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL Sistema Integrado de Informações Penitenciárias – InfoPen

Formulário Categoria e Indicadores Preenchidos Paraná - PR Referência:12/2008 População Carcerária (Secretaria de Justiça e Segurança Pública): N° Habitantes (Fonte IBGE - Julho/2008): População Carcerária por 100.000 habitantes: 36.453 10.590.169 344,90 Indicadores Automáticos Indicador: Quantidade de Presos (Polícia e Segurança Pública) Item: Polícia Judiciária do Estado (Polícia Civil/SSP) 11.827 1.431 13.258 11.827 1.431 13.258 Indicador: Quantidade de Presos custodiados no Sistema Penitenciário Item: Sistema Penitenciário - Presos Provisórios 2.769 126 2.895 Item: Sistema Penitenciário - Regime Fechado 7.881 242 8.123 Item: Sistema Penitenciário - Regime Semi Aberto 2.051 107 2.158 Item: Sistema Penitenciário - Regime Aberto 8.653 1.023 9.676 Item: Sistema Penitenciário - Medida de Segurança - Internação 323 20 343 Item: Sistema Penitenciário - Medida de Segurança - Tratamento ambulatorial 0 0 0 21.677 1.518 23.195 Categoria: Quantidade de Presos/Internados Masculino Feminino Total Indicador: Número de Vagas (Secretaria de Justiça e Seg. Pública) Item: Sistema Penitenciário Estadual - Provisórios 2.551 0 2.551 Item: Sistema Penitenciário Estadual - Regime Fechado 9.005 402 9.407 Item: Sistema Penitenciário Estadual - Regime Semi-Aberto 1.784 98 1.882 Item: Sistema Penitenciário Estadual - Regime Aberto 0 0 0 Item: Sistema Penitenciário Estadual - RDD 723 0 723 Item: Sistema Penitenciário Federal - Regime Fechado 208 0 208 Item: Sistema Penitenciário Federal - RDD 12 0 12 Item: Polícia Judiciária do Estado (Polícia Civil/SSP) 7.406 540 7.946 21.689 1.040 22.729 Categoria: Capacidade Masculino Feminino Total Indicador: Quantidade de Estabelecimentos Penais (Sec. de Justiça e Segurança Pública) Item: Penitenciárias 17 1 18 Item: Colônias Agrícolas, Indústrias 3 1 4 Item: Casas de Albergados 2 0 2 Item: Cadeias Públicas 474 87 561 Item: Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico 1 0 1 497 89 586 Indicador: Seções Internas Item: Creches e Berçários 0 1 1 Item: Módulo de Saúde Feminino (Gestantes/Parturientes) - 0 0 Item: Módulo de Saúde 0 0 0 Item: Quantidade de Crianças 42 0 42 42 1 43 Indicador: Informações Complementares Item: Estabelecimentos Terceirizados - Regime Fechado 0 0 0 Item: Estabelecimentos Terceirizados - Regime Semi-Aberto 0 0 0 Item: Centro de Observação Criminológica e Triagem 1 0 1 1 0 1 Categoria: Estabelecimentos Penais Masculino Feminino Total Indicador: Quantitativo de Servidores Penitenciários (Funcionário Públicos na Ativa) Item: Apoio Administrativo 466 466 Item: Agentes Penitenciários 3.429 3.429 Item: Enfermeiros 20 20 Item: Auxiliar e Técnico de Enfermagem 105 105 Item: Psicólogos 45 45 Item: Dentistas 16 16 Item: Assistentes Sociais 65 65 Item: Advogados 20 20 Item: Médicos - Clínicos Gerais 24 24 Item: Médicos - Ginecologistas 0 0 Item: Médicos - Psiquiatras 15 15 Item: Pedagogos 11 11

12 Ambos os anexos 1 e 2 foram obtidos através do site do Ministério da Justiça Brasileiro, no link: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRNN.htm . Acesso em 02/11/2010.

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Item: Professores 0 0 Item: Terapeutas 2 2 Item: Policial Civil em atividade nos estabelecimentos penitenciários 0 0 Item: Policial Militar em atividade nos estabelecimentos penitenciários 499 499 Item: Funcionários terceirizados (exclusivo para tratamento penal) 0 0 - - 4.717 Categoria: Administração Penitenciária Masculino Feminino Total Categoria: População Prisional Masculino Feminino Total Indicador: Quantidade de Presos por Grau de Instrução Item: Analfabeto 869 36 905 Item: Alfabetizado 1.142 80 1.222 Item: Ensino Fundamental Incompleto 9.549 555 10.104 Item: Ensino Fundamental Completo 2.819 269 3.088 Item: Ensino Médio Incompleto 3.697 199 3.896 Item: Ensino Médio Completo 2.282 193 2.475 Item: Ensino Superior Incompleto 999 107 1.106 Item: Ensino Superior Completo 312 41 353 21.677 1.518 23.195 Categoria: Perfil do Preso Masculino Feminino Total 20/08/2009 14:44 R009 - Página 1 de 5 Item: Ensino acima de Superior Completo 7 1 8 Item: Não Informado 1 37 38 Valor automático de correção de itens inconsistentes - Diferença com relação à população carcerária do Estado 0 0 0 Indicador: Quantidade de Presos por Nacionalidade Item: Brasileiro Nato 21.541 1.516 23.057 Item: Brasileiro Naturalizado 1 0 1 21.677 1.518 23.195 Grupo: Estrangeiros do Sistema Penitenciário 135 2 137 Grupo: Europa Item: Alemanha 0 0 0 Item: Áustria 0 0 0 Item: Bélgica 0 0 0 Item: Bulgária 0 0 0 Item: República Tcheca 0 0 0 Item: Croácia 0 0 0 Item: Dinamarca 0 0 0 Item: Escócia 0 0 0 Item: Espanha 2 0 2 Item: França 1 0 1 Item: Grécia 0 0 0 Item: Holanda 0 0 0 Item: Hungria 0 0 0 Item: Inglaterra 0 0 0 Item: Irlanda 0 0 0 Item: Itália 1 0 1 Item: Noruega 0 0 0 Item: País de Gales 0 0 0 Item: Polônia 0 0 0 Item: Portugal 1 0 1 Item: Rússia 0 0 0 Item: Reino Unido 0 0 0 Item: Romênia 0 0 0 Item: Sérvia 0 0 0 Item: Suécia 0 0 0 Item: Suíça 0 0 0 Item: Outros países do continente Europeu 0 0 0 5 0 5 Grupo: Ásia Item: Afeganistão 0 0 0 Item: Arábia Saudita 0 0 0 Item: Catar 0 0 0 Item: Cazaquiztão 0 0 0 Item: China 1 0 1 Item: Coréia do Norte 0 0 0 Item: Coréia do Sul 0 0 0 Item: Emirados Árabes Unidos 0 0 0 Item: Filipinas 0 0 0 Item: Índia 0 0 0 Item: Indonésia 0 0 0 Item: Irã 0 0 0 Item: Iraque 0 0 0 Item: Israel 0 0 0 Item: Japão 0 0 0 Item: Jordânia 0 0 0 Item: Kuwait 0 0 0 Item: Líbano 7 0 7 Item: Macau 0 0 0 Item: Malásia 0 0 0 Item: Paquistão 0 0 0 Item: Síria 0 0 0 Item: Sri Lanka 0 0 0 Item: Tailândia 0 0 0 Item: Taiwan 0 0 0 Item: Turquia 1 0 1 Item: Timor-Leste 0 0 0 Item: Vietnã 0 0 0 Item: Outro países do continente asiático 0 0 0

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9 0 9 Grupo: África Item: África do Sul 3 0 3 Item: Angola 0 0 0 Item: Argélia 0 0 0 Item: Cabo Verde 0 0 0 Item: Camarões 0 0 0 Item: República do Congo 0 0 0 Item: Costa do Marfim 0 0 0 Item: Egito 0 0 0 Item: Etiópia 0 0 0 Item: Gana 0 0 0 Item: Guiné 0 0 0 Item: Guiné Bissau 0 0 0 Item: Líbia 0 0 0 Item: Madagascar 0 0 0 Item: Marrocos 0 0 0 Item: Moçambique 0 0 0 Item: Nigéria 1 0 1 Item: Quênia 0 0 0 4 0 4 20/08/2009 14:46 R009 - Página 2 de 5 Item: Ruanda 0 0 0 Item: Senegal 0 0 0 Item: Serra Leoa 0 0 0 Item: Somália 0 0 0 Item: Tunísia 0 0 0 Item: Outros países do continente africano 0 0 0 Grupo: América Item: Argentina 9 0 9 Item: Bolívia 5 0 5 Item: Canadá 0 0 0 Item: Chile 1 0 1 Item: Colômbia 2 0 2 Item: Costa Rica 0 0 0 Item: Cuba 0 0 0 Item: República Dominicana 0 0 0 Item: Equador 2 0 2 Item: Estados Unidos 0 0 0 Item: Guatemala 0 0 0 Item: Guiana 0 0 0 Item: Guiana Francesa 0 0 0 Item: Haiti 0 0 0 Item: Honduras 0 0 0 Item: Ilhas Cayman 0 0 0 Item: Jamaica 0 0 0 Item: México 2 0 2 Item: Nicarágua 0 0 0 Item: Panamá 0 0 0 Item: Peru 1 0 1 Item: Porto Rico 0 0 0 Item: El Salvador 0 0 0 Item: Suriname 0 0 0 Item: Trindade e Tobago 0 0 0 Item: Uruguai 6 0 6 Item: Venezuela 0 0 0 Item: Outros países do continente americano 0 0 0 Item: Paraguai 89 2 91 117 2 119 Grupo: Oceania Item: Austrália 0 0 0 Item: Nova Zelândia 0 0 0 Item: Outros países do continente oceania 0 0 0 0 0 0 Valor automático de correção de itens inconsistentes - Diferença com relação à população carcerária do Estado 0 0 0 Indicador: Quantidade de Presos por Tempo Total das Penas Item: Até 4 anos 8.584 814 9.398 Item: Mais de 4 até 8 anos 4.411 268 4.679 Item: Mais de 8 até 15 anos 3.069 150 3.219 Item: Mais de 15 até 20 anos 1.599 68 1.667 Item: Mais de 20 até 30 anos 815 57 872 Item: Mais de 30 até 50 anos 307 26 333 Item: Mais de 50 até 100 anos 122 8 130 Item: Mais de 100 anos 1 1 2 - - - Indicador: Quantidade de Crimes Tentados/Consumados 25.609 1.456 27.065 Grupo: Código Penal 20.852 1.010 21.862 Grupo: Crimes Contra a Pessoa Item: Homicídio Simples (Art 121, caput) 1.641 119 1.760 Item: Homicídio Qualificado (Art 121, Paragráfo 2º) 1.069 62 1.131 Item: Seqüestro e Cárcere Privado (Art 148) 92 11 103 2.802 192 2.994 Grupo: Crimes Contra o Patrimônio Item: Furto Simples (Art 155) 3.493 215 3.708 Item: Furto Qualificado (Art 155, Parágrafo 4º e 5º) 1.921 116 2.037 Item: Roubo Qualificado (Art 157, Parágrafo 2º) 3.695 93 3.788 Item: Latrocínio (Art 157, Parágrafo 3º) 961 43 1.004

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Item: Extorsão (Art 158) 339 24 363 Item: Extorsão Mediante Seqüestro (Art 159) 191 106 297 Item: Apropriação Indébita (Art 168) 41 8 49 Item: Apropriação Indébita Previdenciária (Art 168-A) 0 0 0 Item: Estelionato (Art 171) 382 13 395 Item: Receptação (Art 180) 559 18 577 Item: Receptação Qualificada (Art 180, Parágrafo 1º) 139 2 141 Item: Roubo Simples (Art 157) 4.264 138 4.402 15.985 776 16.761 Grupo: Crimes Contra os Costumes Item: Estupro (Art 213) 698 4 702 Item: Atentado Violento ao Pudor(Art 214) 458 1 459 Item: Corrupção de Menores (Art 218) 189 8 197 Item: Tráfico Internacional de Pessoas (Art 231) 0 0 0 Item: Tráfico Interno de Pessoas (Art 231-A) 0 0 0 1.345 13 1.358 Grupo: Crimes Contra a Paz Pública Item: Quadrilha ou Bando (Art 288) 410 19 429 410 19 429 Grupo: Crimes Contra a Fé Pública Item: Moeda Falsa (Art 289) 40 0 40 Item: Falsificação de Papéis,Selos,Sinal e Documentos Públicos(Art 293 à 297) 57 0 57 Item: Falsidade Ideológica (Art 299) 48 1 49 223 5 228 20/08/2009 14:47 R009 - Página 3 de 5 Item: Uso de Documento Falso (Art 304) 78 4 82 Grupo: Crimes Contra a Administração Pública Item: Peculato (Art 312 e 313) 25 0 25 Item: Concussão e Excesso de Exação (Art 316) 0 0 0 Item: Corrupção Passiva (Art 317) 0 0 0 25 0 25 Grupo: Crimes Praticados Por Particular Contra a Administração Pública Item: Corrupção Ativa (Art 333) 29 0 29 Item: Contrabando ou Descaminho (Art 334) 33 5 38 62 5 67 Grupo: Legislação Específica Item: Estatuto da Criança e do Adolescente(Lei 8.069, de 13/01/1990) 10 3 13 Item: Genocídio (Lei 2.889 de 01/10/1956) 0 0 0 Item: Crimes de Tortura (Lei 9.455 de 07/04/1997) 8 2 10 Item: Crimes Contra o Meio Ambiente (Lei 9.605 de 12/02/1998) 0 0 0 Item: Lei Maria da Penha - Violência Contra a Mulher (Lei 9.605 de 11.340 de 07/08/2006) 51 0 51 4.757 446 5.203 Grupo: Entorpecentes (Lei 6.368/76 e Lei 11.343/06) Item: Tráfico de Entorpecentes (Art. 12 da Lei 6.368/76 e Art. 33 da Lei 11.343 3.542 408 3.950 Item: Tráfico Internacional de Entorpecentes (Art. 18 da Lei 6.368/76 e Art. 33 da 78 23 101 3.620 431 4.051 Grupo: Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826, de 22/12/2003) Item: Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Permitido (Art. 14) 846 10 856 Item: Disparo de Arma Fogo (Art. 15) 41 0 41 Item: Posse ou Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Restrito (Art. 16) 170 0 170 Item: Comércio Ilegal de Arma de Fogo (Art. 17) 0 0 0 Item: Tráfico Internacional de Arma de Fogo (Art. 18) 11 0 11 1.068 10 1.078 Indicador: Quantidade de Presos por Faixa Etária Item: 18 a 24 anos 5.968 381 6.349 Item: 25 a 29 anos 5.812 329 6.141 Item: 30 a 34 anos 4.005 304 4.309 Item: 35 a 45 anos 3.810 316 4.126 Item: 46 a 60 anos 1.833 175 2.008 Item: Mais de 60 anos 246 13 259 Item: Não Informado 3 0 3 21.677 1.518 23.195 Valor automático de correção de itens inconsistentes - Diferença com relação à população carcerária do Estado 0 0 0 Indicador: Quantidade de Presos por Cor de Pele/Etnia Item: Branca 14.498 1.034 15.532 Item: Negra 2.476 197 2.673 Item: Parda 4.585 220 4.805 Item: Amarela 48 6 54 Item: Indígena 0 0 0 Item: Outras 70 61 131 21.677 1.518 23.195 Valor automático de correção de itens inconsistentes - Diferença com relação à população carcerária do Estado 0 0 0 Indicador: Quantidade de Presos por Procedência Item: Área Urbana - Municípios do Interior 11.717 832 12.549 Item: Área Urbana - Municípios em Regiões Metropolitanas 5.826 328 6.154 Item: Zona Rural 4.134 358 4.492 21.677 1.518 23.195 Indicador: Quantidade de Presos em Programas de Laborterapia-Trabalho Externo Item: Parceria com a Iniciativa Privada 71 0 71 Item: Parceria com Órgãos do Estado 87 15 102 Item: Parceria com Paraestatais (Sistema S e ONG) 8 16 24 Item: Atividade Desenvolvida - Artesanato 0 0 0 Item: Atividade Desenvolvida - Rural 0 0 0 Item: Atividade Desenvolvida - Industrial 0 0 0 166 31 197 Indicador: Quantidade de Presos em Programas de Laborterapia-Trabalho Interno Item: Apoio ao Estabelecimento Penal 1.384 169 1.553

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Item: Parceria com a Iniciativa Privada 589 114 703 Item: Parceria com Órgãos do Estado 79 0 79 Item: Parceria com Paraestatais (Sistema S e ONG) 27 0 27 Item: Atividade Desenvolvida - Artesanato 599 6 605 Item: Atividade Desenvolvida - Rural 13 0 13 Item: Atividade Desenvolvida - Industrial 58 0 58 2.749 289 3.038 Indicador: Quantidade de Leitos Item: Leitos para Gestantes e Parturientes 0 0 Item: Leitos Ambulatoriais 11 0 11 Item: Leitos Hospitalares 0 0 0 Item: Leitos Psiquiátricos 0 0 0 Item: Leitos em Bercários e Creches 0 0 0 11 0 11 Indicador: Quantidade de Presos em Atividade Educacional Item: Alfabetização 380 15 395 Item: Ensino Fundamental 1.823 109 1.932 Item: Ensino Médio 516 3 519 Item: Ensino Superior 13 0 13 Item: Cursos Técnicos 11 0 11 2.743 127 2.870 Indicador: Sáidas do Sistema Penitenciário Item: Fugas 29 0 29 Item: Abandonos 63 1 64 Item: Alvarás de Solturas/Hábeas Corpus 328 16 344 Item: Transferências/Remoções 625 28 653 Item: Indultos 2 0 2 Item: Óbitos Naturais 5 0 5 Item: Óbitos Criminais 0 0 0 Item: Óbitos Suicídios 0 0 0 1.053 45 1.098 Categoria: Tratamento Prisional Masculino Feminino Total 20/08/2009 14:48 R009 - Página 4 de 5 Item: Óbitos Acidentais 1 0 1 20/08/2009 14:48 R009 - Página 5 de 5

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Anexo 2: Dados do Ministério da Justiça Brasileiro, sobre a população carcerária de todas as unidades da federação, para o ano de 2008 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL Sistema Integrado de Informações Penitenciárias – InfoPen

Formulário Categoria e Indicadores Preenchidos Todas UF's Referência:12/2008 População Carcerária Nacional (Secretaria de Justiça e Segurança Pública): N° Habitantes (Fonte IBGE - Julho/2008): População Carcerária por 100.000 habitantes: 451.219 189.612.814 238,10 Indicadores Automáticos Indicador: Quantidade de Presos (Polícia e Segurança Pública) Item: Polícia Judiciária do Estado (Polícia Civil/SSP) 50.681 7.050 57.731 50.681 7.050 57.731 Indicador: Quantidade de Presos custodiados no Sistema Penitenciário Item: Sistema Penitenciário - Presos Provisórios 132.404 6.535 138.939 Item: Sistema Penitenciário - Regime Fechado 157.089 9.299 166.388 Item: Sistema Penitenciário - Regime Semi Aberto 60.183 3.626 63.809 Item: Sistema Penitenciário - Regime Aberto 18.911 1.631 20.542 Item: Sistema Penitenciário - Medida de Segurança - Internação 2.754 217 2.971 Item: Sistema Penitenciário - Medida de Segurança - Tratamento ambulatorial 543 296 839 371.884 21.604 393.488 Categoria: Quantidade de Presos/Internados Masculino Feminino Total Indicador: Número de Vagas (Secretaria de Justiça e Seg. Pública) Item: Sistema Penitenciário Estadual - Provisórios 69.341 1.676 71.017 Item: Sistema Penitenciário Estadual - Regime Fechado 141.468 9.897 151.365 Item: Sistema Penitenciário Estadual - Regime Semi-Aberto 35.920 2.826 38.746 Item: Sistema Penitenciário Estadual - Regime Aberto 4.024 314 4.338 Item: Sistema Penitenciário Estadual - RDD 1.010 30 1.040 Item: Sistema Penitenciário Federal - Regime Fechado 416 0 416 Item: Sistema Penitenciário Federal - RDD 24 0 24 Item: Polícia Judiciária do Estado (Polícia Civil/SSP) 28.642 840 29.482 280.845 15.583 296.428 Categoria: Capacidade Masculino Feminino Total Indicador: Quantidade de Estabelecimentos Penais (Sec. de Justiça e Segurança Pública) Item: Penitenciárias 392 37 429 Item: Colônias Agrícolas, Indústrias 44 2 46 Item: Casas de Albergados 41 5 46 Item: Cadeias Públicas 1.070 95 1.165 Item: Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico 23 3 26 1.570 142 1.712 Indicador: Seções Internas Item: Creches e Berçários 0 45 45 Item: Módulo de Saúde Feminino (Gestantes/Parturientes) - 5 5 Item: Módulo de Saúde 59 9 68 Item: Quantidade de Crianças 116 58 174 175 117 292 Indicador: Informações Complementares Item: Estabelecimentos Terceirizados - Regime Fechado 8 0 8 Item: Estabelecimentos Terceirizados - Regime Semi-Aberto 4 0 4 Item: Centro de Observação Criminológica e Triagem 11 0 11 23 0 23 Categoria: Estabelecimentos Penais Masculino Feminino Total Indicador: Quantitativo de Servidores Penitenciários (Funcionário Públicos na Ativa) Item: Apoio Administrativo 4.135 4.135 Item: Agentes Penitenciários 59.751 59.751 Item: Enfermeiros 340 340 Item: Auxiliar e Técnico de Enfermagem 1.654 1.654 Item: Psicólogos 885 885 Item: Dentistas 316 316 Item: Assistentes Sociais 932 932 Item: Advogados 473 473 Item: Médicos - Clínicos Gerais 424 424 Item: Médicos - Ginecologistas 15 15 Item: Médicos - Psiquiatras 221 221 Item: Pedagogos 98 98 Item: Professores 332 332 Item: Terapeutas 52 52 Item: Policial Civil em atividade nos estabelecimentos penitenciários 275 275 Item: Policial Militar em atividade nos estabelecimentos penitenciários 3.516 3.516 Item: Funcionários terceirizados (exclusivo para tratamento penal) 442 442 - - 73.861 Categoria: Administração Penitenciária Masculino Feminino Total Categoria: População Prisional Masculino Feminino Total Indicador: Quantidade de Presos por Grau de Instrução Item: Analfabeto 27.192 1.240 28.432 Item: Alfabetizado 44.582 2.422 47.004

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Item: Ensino Fundamental Incompleto 163.518 9.408 172.926 Item: Ensino Fundamental Completo 46.476 2.786 49.262 Item: Ensino Médio Incompleto 39.212 2.489 41.701 Item: Ensino Médio Completo 26.578 2.394 28.972 Item: Ensino Superior Incompleto 3.301 417 3.718 Item: Ensino Superior Completo 1.493 212 1.705 371.884 21.604 393.488 Categoria: Perfil do Preso Masculino Feminino Total 21/08/2009 14:22 R009 - Página 1 de 5 Item: Ensino acima de Superior Completo 61 7 68 Item: Não Informado 19.366 625 19.991 Valor automático de correção de itens inconsistentes - Diferença com relação à população carcerária do Estado 105 -396 -291 Indicador: Quantidade de Presos por Nacionalidade Item: Brasileiro Nato 363.171 19.933 383.104 Item: Brasileiro Naturalizado 20 17 37 371.884 21.604 393.488 Grupo: Estrangeiros do Sistema Penitenciário 2.117 711 2.828 Grupo: Europa Item: Alemanha 25 5 30 Item: Áustria 6 2 8 Item: Bélgica 5 0 5 Item: Bulgária 16 2 18 Item: República Tcheca 2 0 2 Item: Croácia 3 1 4 Item: Dinamarca 0 0 0 Item: Escócia 0 0 0 Item: Espanha 91 20 111 Item: França 14 3 17 Item: Grécia 2 2 4 Item: Holanda 30 16 46 Item: Hungria 1 4 5 Item: Inglaterra 16 4 20 Item: Irlanda 2 2 4 Item: Itália 28 2 30 Item: Noruega 1 0 1 Item: País de Gales 0 0 0 Item: Polônia 9 1 10 Item: Portugal 48 19 67 Item: Rússia 0 2 2 Item: Reino Unido 0 0 0 Item: Romênia 20 7 27 Item: Sérvia 4 1 5 Item: Suécia 0 0 0 Item: Suíça 3 2 5 Item: Outros países do continente Europeu 15 0 15 341 95 436 Grupo: Ásia Item: Afeganistão 0 0 0 Item: Arábia Saudita 0 0 0 Item: Catar 0 0 0 Item: Cazaquiztão 0 0 0 Item: China 10 3 13 Item: Coréia do Norte 0 0 0 Item: Coréia do Sul 6 1 7 Item: Emirados Árabes Unidos 0 0 0 Item: Filipinas 11 17 28 Item: Índia 1 0 1 Item: Indonésia 1 1 2 Item: Irã 1 0 1 Item: Iraque 0 0 0 Item: Israel 12 0 12 Item: Japão 0 0 0 Item: Jordânia 0 0 0 Item: Kuwait 1 0 1 Item: Líbano 57 2 59 Item: Macau 1 0 1 Item: Malásia 5 15 20 Item: Paquistão 0 0 0 Item: Síria 1 0 1 Item: Sri Lanka 0 0 0 Item: Tailândia 0 9 9 Item: Taiwan 0 0 0 Item: Turquia 6 0 6 Item: Timor-Leste 0 0 0 Item: Vietnã 0 0 0 Item: Outro países do continente asiático 4 0 4 117 48 165 Grupo: África Item: África do Sul 86 91 177 Item: Angola 117 61 178 Item: Argélia 0 0 0 Item: Cabo Verde 5 15 20 Item: Camarões 10 0 10 Item: República do Congo 14 0 14 Item: Costa do Marfim 13 1 14 Item: Egito 0 0 0 Item: Etiópia 1 0 1 Item: Gana 16 4 20

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Item: Guiné 7 3 10 Item: Guiné Bissau 16 0 16 Item: Líbia 4 0 4 Item: Madagascar 0 0 0 Item: Marrocos 3 1 4 Item: Moçambique 18 15 33 Item: Nigéria 138 10 148 Item: Quênia 2 0 2 525 206 731 21/08/2009 14:24 R009 - Página 2 de 5 Item: Ruanda 1 0 1 Item: Senegal 0 0 0 Item: Serra Leoa 1 0 1 Item: Somália 3 0 3 Item: Tunísia 0 1 1 Item: Outros países do continente africano 70 4 74 Grupo: América Item: Argentina 73 16 89 Item: Bolívia 252 177 429 Item: Canadá 2 0 2 Item: Chile 64 4 68 Item: Colômbia 117 14 131 Item: Costa Rica 0 0 0 Item: Cuba 1 0 1 Item: República Dominicana 1 5 6 Item: Equador 5 1 6 Item: Estados Unidos 11 1 12 Item: Guatemala 0 0 0 Item: Guiana 16 1 17 Item: Guiana Francesa 0 0 0 Item: Haiti 1 0 1 Item: Honduras 1 0 1 Item: Ilhas Cayman 0 0 0 Item: Jamaica 1 0 1 Item: México 3 3 6 Item: Nicarágua 0 0 0 Item: Panamá 0 0 0 Item: Peru 219 53 272 Item: Porto Rico 0 0 0 Item: El Salvador 0 0 0 Item: Suriname 6 1 7 Item: Trindade e Tobago 1 0 1 Item: Uruguai 85 6 91 Item: Venezuela 26 10 36 Item: Outros países do continente americano 1 1 2 Item: Paraguai 236 69 305 1.122 362 1.484 Grupo: Oceania Item: Austrália 4 0 4 Item: Nova Zelândia 1 0 1 Item: Outros países do continente oceania 7 0 7 12 0 12 Valor automático de correção de itens inconsistentes - Diferença com relação à população carcerária do Estado 6.576 943 7.519 Indicador: Quantidade de Presos por Tempo Total das Penas Item: Até 4 anos 53.591 5.650 59.241 Item: Mais de 4 até 8 anos 63.646 4.091 67.737 Item: Mais de 8 até 15 anos 50.705 1.782 52.487 Item: Mais de 15 até 20 anos 24.679 626 25.305 Item: Mais de 20 até 30 anos 19.121 461 19.582 Item: Mais de 30 até 50 anos 18.840 665 19.505 Item: Mais de 50 até 100 anos 2.536 36 2.572 Item: Mais de 100 anos 524 6 530 - - - Indicador: Quantidade de Crimes Tentados/Consumados 352.039 18.366 370.405 Grupo: Código Penal 265.791 7.251 273.042 Grupo: Crimes Contra a Pessoa Item: Homicídio Simples (Art 121, caput) 18.881 572 19.453 Item: Homicídio Qualificado (Art 121, Paragráfo 2º) 25.614 795 26.409 Item: Seqüestro e Cárcere Privado (Art 148) 1.527 106 1.633 46.022 1.473 47.495 Grupo: Crimes Contra o Patrimônio Item: Furto Simples (Art 155) 29.635 1.271 30.906 Item: Furto Qualificado (Art 155, Parágrafo 4º e 5º) 30.368 776 31.144 Item: Roubo Qualificado (Art 157, Parágrafo 2º) 64.478 1.191 65.669 Item: Latrocínio (Art 157, Parágrafo 3º) 12.667 395 13.062 Item: Extorsão (Art 158) 1.855 74 1.929 Item: Extorsão Mediante Seqüestro (Art 159) 1.997 271 2.268 Item: Apropriação Indébita (Art 168) 409 21 430 Item: Apropriação Indébita Previdenciária (Art 168-A) 37 1 38 Item: Estelionato (Art 171) 4.381 226 4.607 Item: Receptação (Art 180) 9.117 204 9.321 Item: Receptação Qualificada (Art 180, Parágrafo 1º) 1.633 19 1.652 Item: Roubo Simples (Art 157) 35.446 791 36.237 192.023 5.240 197.263 Grupo: Crimes Contra os Costumes Item: Estupro (Art 213) 8.821 39 8.860 Item: Atentado Violento ao Pudor(Art 214) 7.394 69 7.463

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Item: Corrupção de Menores (Art 218) 789 30 819 Item: Tráfico Internacional de Pessoas (Art 231) 15 4 19 Item: Tráfico Interno de Pessoas (Art 231-A) 5 1 6 17.024 143 17.167 Grupo: Crimes Contra a Paz Pública Item: Quadrilha ou Bando (Art 288) 5.682 192 5.874 5.682 192 5.874 Grupo: Crimes Contra a Fé Pública Item: Moeda Falsa (Art 289) 285 4 289 Item: Falsificação de Papéis,Selos,Sinal e Documentos Públicos(Art 293 à 297) 997 81 1.078 Item: Falsidade Ideológica (Art 299) 654 22 676 3.936 151 4.087 21/08/2009 14:27 R009 - Página 3 de 5 Item: Uso de Documento Falso (Art 304) 2.000 44 2.044 Grupo: Crimes Contra a Administração Pública Item: Peculato (Art 312 e 313) 393 19 412 Item: Concussão e Excesso de Exação (Art 316) 39 1 40 Item: Corrupção Passiva (Art 317) 49 3 52 481 23 504 Grupo: Crimes Praticados Por Particular Contra a Administração Pública Item: Corrupção Ativa (Art 333) 386 18 404 Item: Contrabando ou Descaminho (Art 334) 237 11 248 623 29 652 Grupo: Legislação Específica Item: Estatuto da Criança e do Adolescente(Lei 8.069, de 13/01/1990) 259 17 276 Item: Genocídio (Lei 2.889 de 01/10/1956) 7 1 8 Item: Crimes de Tortura (Lei 9.455 de 07/04/1997) 71 17 88 Item: Crimes Contra o Meio Ambiente (Lei 9.605 de 12/02/1998) 64 7 71 Item: Lei Maria da Penha - Violência Contra a Mulher (Lei 9.605 de 11.340 de 07/08/2006) 1.825 9 1.834 86.248 11.115 97.363 Grupo: Entorpecentes (Lei 6.368/76 e Lei 11.343/06) Item: Tráfico de Entorpecentes (Art. 12 da Lei 6.368/76 e Art. 33 da Lei 11.343 61.502 10.096 71.598 Item: Tráfico Internacional de Entorpecentes (Art. 18 da Lei 6.368/76 e Art. 33 da 5.102 671 5.773 66.604 10.767 77.371 Grupo: Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826, de 22/12/2003) Item: Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Permitido (Art. 14) 12.806 174 12.980 Item: Disparo de Arma Fogo (Art. 15) 712 13 725 Item: Posse ou Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Restrito (Art. 16) 3.719 109 3.828 Item: Comércio Ilegal de Arma de Fogo (Art. 17) 129 1 130 Item: Tráfico Internacional de Arma de Fogo (Art. 18) 52 0 52 17.418 297 17.715 Indicador: Quantidade de Presos por Faixa Etária Item: 18 a 24 anos 113.635 5.686 119.321 Item: 25 a 29 anos 96.058 5.160 101.218 Item: 30 a 34 anos 63.475 3.903 67.378 Item: 35 a 45 anos 53.924 4.135 58.059 Item: 46 a 60 anos 20.800 1.729 22.529 Item: Mais de 60 anos 3.174 154 3.328 Item: Não Informado 12.869 510 13.379 371.884 21.604 393.488 Valor automático de correção de itens inconsistentes - Diferença com relação à população carcerária do Estado 7.949 327 8.276 Indicador: Quantidade de Presos por Cor de Pele/Etnia Item: Branca 138.941 8.497 147.438 Item: Negra 62.864 3.671 66.535 Item: Parda 142.439 8.186 150.625 Item: Amarela 2.617 116 2.733 Item: Indígena 475 36 511 Item: Outras 14.114 571 14.685 371.884 21.604 393.488 Valor automático de correção de itens inconsistentes - Diferença com relação à população carcerária do Estado 10.434 527 10.961 Indicador: Quantidade de Presos por Procedência Item: Área Urbana - Municípios do Interior 109.251 6.269 115.520 Item: Área Urbana - Municípios em Regiões Metropolitanas 143.494 7.576 151.070 Item: Zona Rural 12.633 671 13.304 265.378 14.516 279.894 Indicador: Quantidade de Presos em Programas de Laborterapia-Trabalho Externo Item: Parceria com a Iniciativa Privada 6.804 236 7.040 Item: Parceria com Órgãos do Estado 2.219 180 2.399 Item: Parceria com Paraestatais (Sistema S e ONG) 660 23 683 Item: Atividade Desenvolvida - Artesanato 2.563 112 2.675 Item: Atividade Desenvolvida - Rural 346 6 352 Item: Atividade Desenvolvida - Industrial 845 14 859 13.437 571 14.008 Indicador: Quantidade de Presos em Programas de Laborterapia-Trabalho Interno Item: Apoio ao Estabelecimento Penal 28.168 2.533 30.701 Item: Parceria com a Iniciativa Privada 16.885 1.985 18.870 Item: Parceria com Órgãos do Estado 1.969 335 2.304 Item: Parceria com Paraestatais (Sistema S e ONG) 157 31 188 Item: Atividade Desenvolvida - Artesanato 12.421 1.015 13.436 Item: Atividade Desenvolvida - Rural 2.399 18 2.417 Item: Atividade Desenvolvida - Industrial 2.882 145 3.027 64.881 6.062 70.943 Indicador: Quantidade de Leitos Item: Leitos para Gestantes e Parturientes 226 226 Item: Leitos Ambulatoriais 878 118 996 Item: Leitos Hospitalares 601 94 695 Item: Leitos Psiquiátricos 627 56 683

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Item: Leitos em Bercários e Creches 16 97 113 2.122 365 2.713 Indicador: Quantidade de Presos em Atividade Educacional Item: Alfabetização 9.217 800 10.017 Item: Ensino Fundamental 17.011 2.003 19.014 Item: Ensino Médio 5.237 555 5.792 Item: Ensino Superior 109 22 131 Item: Cursos Técnicos 804 33 837 32.378 3.413 35.791 Indicador: Sáidas do Sistema Penitenciário Item: Fugas 611 21 632 Item: Abandonos 4.387 341 4.728 Item: Alvarás de Solturas/Hábeas Corpus 14.164 908 15.072 Item: Transferências/Remoções 17.021 506 17.527 Item: Indultos 564 58 622 Item: Óbitos Naturais 79 2 81 Item: Óbitos Criminais 29 4 33 Item: Óbitos Suicídios 12 0 12 36.868 1.840 38.708 Categoria: Tratamento Prisional Masculino Feminino Total 21/08/2009 14:31 R009 - Página 4 de 5 Item: Óbitos Acidentais 1 0 1