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VüBLíCÃO-SESEIS NUMEKOS MEKSAKS

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NA IIVMAttlA UNIVERSAL

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Rua da Quitanda H.o 77Pur un. am.o IU. 12#, por 6 meies Hs. 7$

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4> PINTOK.

Em uma ffiaahãa do mez de maio, aotempo que se dispunha para lejantar ferroa tripulação de um dos barcos de vaporque de alguns annos a esta parte fazem áquotidiana viagem entre Sevilba e Cadiz ,uma carruagem puehada a quatro cavallospretos atravessava a todo o galope a cidade,e to» parar no cães defronte do vapor quesc preparava para partir-, *Apeou-se um cavalleiro de aspecto res-peitavel, e que por suas èãs e rugosa frontemostrava ter uns setenta e cinco annos deidade.

Acompanhava-o, dando-lhe o braço paraencostar-se, uma senhora mui elegante, ede maneiras distinetas, que- poderia terquarenta annoà de idade,

Tendo entrado no vapor seguidos deaJguns criados, dirigiam-se á câmara depopa, e ahi ficaram, até que o movimentodo barco, e o estrondo das rodas os fizeramsubir para a tolda, onde se achavam osdemais passageiros, não podemos dizer seporque nesse sitio lhes fosse menos mo-lesta a viagem, ou se por gosar dasbellezasque esta offerece, sobretudo na estação daprimavera, • m

A proa do barco fondia as águas cristal-hnas e pacificas de Guadalquivir, e seguiao seu rumo ^mÍT^ duas ma J

«nadas pela natureza com todas as pompase primores da vegetação. ¥

O sol estava coberto de algumas ligeirasnuvens, e uma brisa que soprava dolado do mar tornavam a manhãa frescae deliciosa.A aragern que tinha atravessado as beUascampinas de Andaluzia vinha impreenadado perfume das flores, e bandos de passa-nnhos passavam de uma para a outramargem do rio, saudando a primavera comseus alegres cantos, e pausando ás vezescomo para gosarem do fresco das acuas'sobre os mastros do navio. '

Todos os passageiros que estavam natoada, ou tomavam chá, ou reunidos emgrupos conversavam entre si, fixando seusolhos nas cem torres de Sevijha, que aindase avistavam por cima das espessas alame-das^sobresaliindo entre todos a colossalOiralda, ou dirigiam suas vistas para &Joao de Alfarache, e ontras pequenas po-^«^qmjífcn^uaa^^u^p,^;banhadas pelas águas do Guadalquivir êquasr sempre coroadas de sua fortaWoucastello meio arruinado, porei» de gosto oarchitectura oriental. 6

Todos contemplavam com interesse tãobello e variado panorama, excepto os douspassageiros que se tinham apeado da car-ruagem, què não obstante estarem sobre gtolda, permaneciam afastados dos demais,silenciosos e como indifferentes ás belíezasQiatijraes que os rodeavam. ^O ancião era um fidalgo mui conhecidona cidade em qm habitava pelo seu orgulhoepelo seu titulo de marquez de Gualmellaío,

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que herdara de seus pães, o que era umdos mais rendosos de toda a Andaluzia.

A senhora que o acompanhava, era suafilha, viuva do conde de Olmo, c aristo-crata até ao extremo como seu pae, e lidaem conta de um modelo dc pura nobreza.Em vista d'isto não parecerá estranho queestas duas personagens não tomassem partenas conversações e entretenimentos comque os demais passageiros procuravam con-sumir as horas da via sem.

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l^fgà uma da tarde quando o barcojou a Sanlucar, c tendo entrado no

mar, passando a barra, e dobrando o cabode Rola, com vento e maré favoráveldivisaram Cadiz, que se acha no meio dooceano, como uma concha no meio daságuas. A sua bahia eslava cheia dc cenle-nares de navios de differen tes lotes e formas,e de diversas nações e bandeiras, e des-cobria-se também uma vasta extensãod'agua, sém outros limites mais que ohorisonte.

A vista d'este mar immenso o marqueze sua filha se animavam, alongavam avista por aquelia dilatada superfície, comose buscassem um objecto que chamava asua attenção, c era õ alvo de seus cuidados.

Capitão, disse o marquez ao com-mandante do vapor, aquillo que se divisaao longe parece-me ser um navio?

O capitão dirigiu o seu óculo para oponto que se lhe indicava e respondeu r— Sim, senhor, é um navio que navegaa todo o panno para entrar no porto antesde anoitecer.

Não traz bandeira? disse o marquez.-—Não a diviso bem; mas pela cons-trucção do barco, e pelo rumo que traz,conheço que é inglez, e provavelmentevem de Londres ou de Liverpool.

É o que esperamos, disse o marqueza sua filha.

--Outra pergunta, capitão; chegará ábahia muito depois de nós?

Se houver differença será muitopequena.

Para secoroj.rehender o vivo interesseque este navio inspirava ao marquez e asua filha, é preciso saber que á esta ficarade seu defunto marido uma filha que teriaentão desbitò annos, e havia quatro quètinha sido epíada para tím collegio deLondres, afim dè receber alli ornaeducaçãotao esmerada e completa como convinhaao seu illustre nascimento è gtafide fortuna,

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porque esta menina não só possuía o tituloe riquezas cle seu pae, mas também deviaherdar por morte dc seu a.vô os bens dacasa cle Gualmellalo.

Muitas difficuldades tinha havido paraque a menina fosse a Londres, nascidasnão só da afleição que todos em casa lheprofessavam, mas lambem dos receios quetinha seu avô de que sua neta educando-sen'um collegio estrangeiro, adquirisse osP^nc'PY>s e costumes modernos, que tàoaborrecidos Ite eram. Comtudo, outrasreflexões relativas ao bem estar c felicidadede sua neta, venceram as difficuldades devontade que se oppunham, e cila por fimpartiu para o collegio dc Londres, onde,segundo as suas cartas, e as da pessoa deconfiança que a acompanhava aproveitoumuito, achando-se emfim no eslado deregressar ao seio da sua família , não sóporque a sua educação estava acabada,mas porque tendo chegado a certa idade,era tempo de sé rcalisarem òs brilhantesprojectos que a seu respeito se formavam.

No dia anterior havia chegado a Sevilhauma carta participando o dia cm que de-viam partir de Londres Thereza , (poisassim se chamava a menina), ca pessoa aquem fora encarregada, por cujo motivoseu avô e mãe emprehenderam a viagemde Cadiz, onde já teria chegado, ou deveriachegar em breve, o navio que a trazia, paraa receberem em seus braços, pagando comesta impaciência um tributo ao carinhoque lhe tinham, e ao que delia deviam opensavam exigir para 6 futuro;

Cadiz, que ao principio parecia umanuvem no meio do mar, ia pouco, c àproporção que o vapor se aproximavaclevando-se d'enlre as agüas, e deixandodistinguir suas torres, castellos, baluartes.e ameias.

Também ao mesmo tempo o navio quetinha sido o objecto das perguntas domarquez, se ia aproxiiííàndo, e já sedistinguia bem claramente, não só o seuvélame até ao mais pequeno galhardé te,mas também as peças que tinha, e òsmarinheiros e passageiros que vinham na

Por fim os dous barcos, o vapor e onavio de guerra inglez, sulcàvam $s mes-mas águas í é navegavam já na bahia, e atiro de peça das fortalezas de .Cadiz,ancorando depois a pouca distancia u|ndo outro.

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H\ wfgjp*»' "W

wwpwMp wwtmmmmO marquez e sua filha saltaram logo

para uma lancha das que sc aproximaramao vapor , para. condusir os passageirospara terra, e mandou remar para o navioinglez, que acabava de ancorar.

^ Com efleito vinha n'elle a menina, cd'alli a poucos instantes ella se viu aper-tada nos braços de sua mãe e contra o friocoração de seu avô, que nesta oceasiãonão pôde deixar de bater mais velozmente.

Passados aquelles primeiros momentos,o marquez ordenou a sua neta que séapromptasse para os acompanhar ao vapord'ondc acabavam de sahir, pois tendoeste de regressar naquella mesma tardepara Sevilha, tencionava ir nelle, c nãose demorar em Cadiz senão as poucas horasque decorriam até á sua sabida.

A menina seguiu a sua familia depoisde sc haver despedido de todos os seuscompanheiros de viagem, porém não deixoude lançar entretanto repetidas e expressivasvistas a um mancebo, que encostado aoleme do navio parecia abismado na maisprofunda tristeza e abatimento.

— Senhor, disse Thereza chegando-sea elle pelo braço do velho marquez, vamosseparar-nos já, pois parece que esta noitepartiremos para Sevilha no vapor em queveio meu avô, sem nos demorar-nos aquisenão algumas horas.

Como pelo perigo dc que me salvastes,e do qual mais devagar informarei a minhamae, contrahi para coravosco particularesobrigações, não posso deixar de dizer-vosque se alguma vpz fordos a Sevilha, tendesali uma casa onde sereis recebido com pra-zer,e uma familia que desejará ser-vosutil.—Muito agradecido, senhora! respondeuo imnçeho respoitosamen te.

O^marquez não pôde deixar de repelira offerta que acabava de fazer sua netaainda que num tora secco, que revelavaaJna etiqueta e urbanidade do homemaltivo e orgulhoso.Saltaram finalmente para a lancha, eo mancebo immovel sempre na popa donavio ^seguiu com os olhos aquelle barco

que.afastava delle Thereza, a qual da suaparte não deixava de dirigir tambem ateu-mas vistas furtivas para o navio onde ficavao seu companheiro de viagem.— Fallaste, disse o. marquez a suaneta, de não sei que serviços que te fez essemancebo. % ,

Suppondo que será alguma cousa mais

seria, do que essas allençóes com que com-mumente servem ás damas os maneebosbem educados.— Sim , senhor. Na terceira noite quepassamos no mar, um vento contrario, euma tempestade furiosa, que fizeram al-

gumas avarias no navio, obrigaram o capitãoa entrar n um porto próximo.Quando arribamos a elle resolveu-se quedesembarcássemos; e indo cu a descer paraa lancha, uma onda quebrou o cabo que a

prendia ao navio, e eu cahi ao mar; sendomui difficil o salvar-me tanto pela bravezado mar, como pela escuridão da noite.Todos estavam perplexos sem saber o quêfariam., e muitos nem se quer sabiam oocorrido; quando esse mancebo se lançoua água expondo sua vida, e depois de terlutado alguns momentos com as ondas.conseguiu salvar-me... Julgo, senhor, queé um serviço que merece o offerecimentoque em vosso nome acabo de fazer-lhe.

O perigo dc sua nela tinha affectado omarquez de maneira, que sentiu não tersido mais expressivo com aquelle mancebo.e alé determinou reparar esta falta se elleviesse a Sevilha, pagando-lhe o serviço feitoa sua neta.Poréní esta já o tinha recompensado comas ternas vistas que lhe havia dirigido, ecom uma lagrima, que ao despedir-sed elle havia corrido por suas faces, e queelle só tinha notado.Thereza era o encanto, não só da suafamília, mas tambem de quantos a conhe-ciam. Mui superior por sua educação àsdemais meninas da sua jerarchia, sobre-sahia tambem dentre ellas por sua amabi-lidade e formosura.

Aos dezanove annos, a sua estatura eraalta, sua cintura flexível como o vime, opé pequeno, a cutis rosada , c os olhosazues, rasgados e de um brilho como o dasestrellas n'uma noite escura.

Em vão seus pães a tinham apresentadono grande mundo, deixando-a passar noitesinteiras nos bailes e altas assembléas debevilha , onde mil adoradores faziam áporfia soar a seus ouvidos, palavras deternura e phrases amorosas.

Thereza, insensível a taes obséquios,e superior a tudo que a rodeava, em nadafixou a sua attenção por um momento, eparecia oecupada de algumVsecreto pensa-mento que absorvia todas as suas idèas. eoecupava exclusivamente a sua alma.

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i .. ,,'im mim,iww,,/i.. ,l&;.<f$m.79

_ ffi&lPira© 3fl„WMJr.MM„Esta continua distracção, esla volubili-

dade de idéas era lida por uns como umaristocrático orgulho herdado de seus avós,e por outros como um effeito da candurade sua alma innocente, ou resultado dasua falta de experiência e pratica do mundo.Pouco a pouco este estado foi-se tornandohabitual, e mais pronunciado, até chegara cen-erter-se, em poucos mezes, n'umattisteza continua, numa profunda melan-cholia, que se manifestava no seu decididodesgosto pelos prazeres, e no amor dasolidão, que freqüentemente buscava noscampos e mais solitários passeios apenasacompanhada de uma aia de toda a con-fiança, e um criado que as seguia, nadistancia de alguns passos.Thereza^ escolhia as mais das vezes paraestes passeios, as margens do Guadalquivir,

comprazendo-se em ver aportar os vaporesque vinham dc Cadiz.

Então parava a observar os passageirosque desembarcavam, e freqüentemente aorehrâr-se soltava umprofundo suspiro queninguemouvia, e que se perdia nas refregasdo vento ou entre os clamores dos barquei-ros e mareantesvEducada n'um collegio, com a almaardente de uma hespanhola, e um talentoadornado pela leitura, Thereza ao chegar acerta idade tinha creado na sua imaginaçãoa imagem de um homem tal qual convinhaa sua felicidade; mas sem se lembrar se

quer da classe em que elle nascesse, e deque era mister que o homem, que oceu-passe seus pensamentos, tivesse no mundoum logar tão distineto, como o que ellaoecupava por seu nascimento e riqueza.

Nos poucos dias que se demorou em-Londres, depois da sabida do collegiotez conhecimento com um mancebo, tam-bem hespanhol, que devia voltar á suapátria no mesmo navio em que ella vinhae que se achava em Inglaterra, depois dêter percorrido a ítalia e outros paizes, ondetutha estudado quanto era necessário parase aperfeiçoar na pintura, arte a que,oommais esperanças e desejo de gloria, que detwtunaj se-havia dedicado.

Estes dous jovens tinham-se visto *_ sym-palhisadú reciprocamente; porém o pintor,que logo concebeu uma profunda paixãopor Thereza, foi timido com ella, não-sóporque o amor verdadeiro sempre o é£ masforque, sabendo a classe a que ella per-Icncia, viu e conheceu desde logo,que entre

os dous mediava uma distancia immensa,c que estavam separados por um abvsmo'que seria perigoso talvez por ambos quere-rem transpor.

Em vista d'isto suffocou denlro de seupeito a paixão que Thereza lhe tinha ins-pirado, e seus lábios não proferiramdurante os dias que passara junto d'ellanem uma só palavra que podessé revelar-lheseus sentimentos.

Comtudo, Thereza observara certa ani-mação nas palavras, e olhar daquellejoven, quando a ella se dirigia, que insen-sivelmente a levou a consideral-o commaior attenção, e então descobriu n'elleuma figura varonil e sympalhica , umaalma de artista, elevadaccheia de nobrese generosos sentimentos, um talento pro-lundo, e ao mesmo tempo adornado demil conhecimentos amenos, uteis e inte-ressantes.

A queda de Thereza ao mar, o valorcom que o joven pintor se lançou á aguapara a salvar, no momento ein que atéos mais intrépidos marinheiros temiam servictimas do seu arrojo, a commocão quea vista dc tal perigo se manifestou emsuas feições, e as pulsações de seu coraçãoque lhereza sentira clara e distinetamentequando o seu salvador, louco de enthu-siasmo pela ter livrado de uma morte certaa apertava em seus braços e contra seu'peito, com apaixonada ternura, tudo istotoi causa de que as boas disposições que iáde antemão havia n'ella para o seu com-panheiro de viagem, se formulassem (sejanos permittida a expressão), e de um sen-timento vago, uma sympathia sem objéctopassassem a uma inclinação effecliva, eque numa palavra, se convertessem dumasupposta gratidão em um amor verdadeiro,exclusivo e vehemente, como sempre é oprimeiro que sentimos empossa vida»

O pintor firme em seu propósito, conhe-ceu tambem quanto havia ganhado nocoração de Thereza, mas isso não foi bas-tante para que lhe declarasse o seu affecto,por isso chegou o dia da sua separação,'sem que a pobre menina tivesse oceasiao

_ de «assegurar-lhe que nunca o seu beneficioseria esquecido; porém ao mesmo tempoa tristeza que elle manifestou ao separar-se, foi a causa de que ella se confirmassecada vez mais na idéa de que era amada,não podendo todavia attinar com o motiroqne podia obrigal-o a guardar tanto silen-

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msimsmm WMsmmmmcio , quando já devia lambem conhecer queseus sentimentos seriam bem acolhidos.

muI8la d'Í8to» nào parecerá estranhoque Thereza se achasse desgostosa nasaristocráticas reuniões, a que a levava asua familia, que ouvisse com indifferençaos lnvolos galanteios dos amadores dc of-ficio, e que sua alma voasse o outra regiãomais sublime de ternura e idealismo, quesem estes antecedentes, e a cerla classede pessoas era impossível adivinhar c com-

prehender.* A rosada aurora derramava já seus pra-teados raios sobre as correntes do Guadal-quivir, que as refletia sobre as negras clustrosas pedrarias que guarnecem os tem-pios de Sevilha, quando Thereza, depoisde uma noite de dolorosas cogitações, sahiade casa para gosar do ar livre, e refrigeraro ardor de sua cabeça e a febre de seupeito a matutina brisa do outono, que purac embalsamada sopra quasi sempre nasnsonhas alamedas que circumdam Sevilhaguarnecendo de eterna verdura as margensdo Guadalquivir.

Quatro mezes tinham passado desde atarde em que lançara a ultima vista sobreo seu companheiro de viagem, sem queneste elle se houvesse apresentado em suacasa, nem ella tão pouco tivesse podidosaber onde elle parava, ignorando abso-utamente se tinha vindo a Sevilha, quetambem era a terra natal, se teria ficadocm Cadiz, ou se teria tomado algum outrorumo, sem tratar de vel-a, nem participar-lhe o seu destino. '— Enganei-me, dizia ella comsigo mes-ma; clle não me ama.*.. se sentisse pormim a inclinação de que me lisongiei,nao teriam passado quatro mezes sem ouêviesse vêi^me, sem se recordar se quer demim.*,. Mas não importa, emquanto nãoencontrar um homem como elle, não dareia minha mão, nem o meu coração a outro...A minha família não poderá condemnar-nie

por me serem indiflèrentes os que méapresenta.,., Pôde ser que com o tempose^issipeeste sentimento, qué tão obsti-nadaoiente se ha apoderado de mim...;.^ntaoi

senão ditosa, ao menos podereiviver socegada. '

asErtfl! ÇroP°sitos '%£ ««a, e taes eram^reflexões e pensamentos que como li-geiras nuvens passavam pela sua almaquando por entoe os arvoredos da alamedade um antigo edifício do tempo do rei D.

Pedro, divsou sentado n'um banco depedra um mancebo, que como lapl namao, e a sua carteira aberta sobre o joelhodZo„°e<,rJ:odo'cihoedi,ici°<-™ttn^

O estridor que fazia o andar de Therezacoberto, despertou a attenção do mancebo,e lhe fez voltar a cabeça para o sitio em quêsentira o ruido. M

Um grito de surpreza e de júbilo escapoudos lábios de Thereza. F— Vós aqui? disse ella ao mancebo. Semduvida chegastes hontem ?Já o leitor conhecerá que o joven quoinereza tao inesperadamente encontraraera o pintor seu companheiro de viaeem

'o que tinha salvado á sua vida, numa palavraaquelle a quem amava.Quando chegastes? lhe tornou ella aperguntar.Ha dous mezes, respondeu o pintor.Ha dous mezes, Raymundo!Dous mezes, senhora.Não o acereditaria se não o dissesseis.ta em dous mezes não vos lembrastes deque teria muito gosto de ver-vos aquellaque vos deve a vida?

Ç Tenho pensado muitas vezes em vóssenhora; mas julguei que a minha visitanao vossena agradável, e mormente quandotendes tantos amigos novos, que devemter-vos feito esquecer....A quem, a vós? Não, senhor, nun-ca... ünao tinha bem acabado depronunciarestas palavras, que suas faces se cubriamao mais vivo rubor.«Sou mui néscia, continuou ella,em ^manifestar tanto interesse por quemnenhum sente por mim... *Esta aceusação era demasiado forte paraque o pintor deixasse de respondei*. Elleamava tambem Thereza, seu coração eravictima de uma paixão ardente, e ô silen-cio, que a esse respeito tinha guardadoate então, era devido á consideração, quélhereza por sua falta de experiência nemse quer podia comprehender.

— Accusaes-me injustamente, disse-lheo pintor, convidando-a ao mesmo temp^a sentar-se no banco que eMe oecupava;se soubesse.** quantos sacrifícios tenho feitopara vencer-me, e não aproveitar da offertaque vos dignastea fazei-me de me apre^sentar em vossa casa; se soubesseisquantotenho pensado em vós.»•'•.. iu:

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<***•*•.¦*-¦¦¦¦¦^¦•w-

WNimMé wmnmmmmPoderá ser certo tudo isso quantodizeis; porém não sei que motivo possatcr-vos obrigado a esse sacrifício. Se dese-

javeis ver-me, não Unheis a certeza de serbem recebido em minha casa ?

Por vós talvez. Mas poderia eu esperarigual acolhimento da vossa familia ? Emesmo suppondo que mé recebessem com^agrado uma ou duas vezes, poderia esperarque isso continuasse por muito tempo ? Eentão de que serviria ver-vos uma ou duasvezes! Oh! incendiar mais o fogo que meconsome, alimentar com a vossa vista loucasesperanças, que mui custoso me tem sidocombater e repellir.

Senhor! eu não julgava que.. *.-— Ah! Thereza! Para não ter conhecidoos sentimentos do meu coração, é precisonão ter fixado um pouco em mim a vossaattenção. É verdade que meus lábios nuncao manifestaram; porém n'aquelle dia emque fui bastante feliz de vos poder apertarem meus braços, não sentistes as pulsaçõesde meu peito ? não chegou ao vosso coraçãoa febre abrasadora, que devorava o meu?não crestaram essas faces de neve as arden-tes lagrimas que derramavam meus olhos ?— Pois bem, Raymundo, disse Thereza,já que tanto me amais, não devo occullar-vos que me não soisindiflerente. Desdeque vos conheci olhei-vos com predilecção;e quando me salvastes a vida senti por vósum sentimento de outra espécie. Julgueique fosse gratidão, porém assás tenho co-nhecido que era amor. Soffri um tormenloatroz no dia em que nos separamos; depoisnão tenho feito senão pensar em vós, etenho-vos procurado por toda a parte.Tenho ido constantemente ao porto ver osvapores que chegam, com a esperança deque verieis em algum d'elies; tenho'per-corrido os passeios, os templos onde hamelhores quadros, sempre procurandoencontrar-vos, até que por fim, quandomenos o esperava.... Ah! agora somosielizes....

— Felizes! bella Thereza!... Oh! quantonos falta para o ser! Ha um instante quenos encontramos, e já estamos conformes,porque as nossas almas o estiveram desdeo instante em que se conheceram. É ver-dade! porém que podemos esperar d'esteamor ? Noites inteiras tenho pensado emvós. A condessa de Olmo, a neta dosfidalgos mais orgulhosos do reino, c umpobre pintor que a adora!... Quem seria

capaz dc unir dous entes que se acham atão grande distancia um do outro? Vós,Thereza, representando a mais alta aristo-cracia da Hespanha, ennobrecida por seunascimento, e o que é mais n'este século,por suas immensas riquezas; e eu, filhodo povo, artista sem protecção no mundo,sem outro patrimônio que os meus pincéis,sem outro meio de illustr&r o meu nome,que alguns medíocres quadros.E esses sublimes sentimentos, queadornam a vossa alma, nada valem? Queimporta que não sejais senhor de uma bri-lhante fortuna? De que pôde servir-me aminha ? Para que a queremos.Essas palavras valem muito para mim,porque são um testemunho da candidezda alma da mulher, que tinha eligido.Porém não sabeis, Thereza, quantos malesdevem seguir-se a nosso amor. Ah! eu ostemo mais por vós do que por mim. Essemundo que agora vos idolatra, essa socie-dade que vos respeita, bem depressasabendo do nosso affecto mudaria de opi-nião; pensariam que tinheis faltado aosvossos deveres, e que eu abusara da vossafalta de experiência.

E por ventura, respondeu a decididajoven, temeis o pensar d'essa sociedade,onde não tenho encontrado senão adula-dores e gente frivola?

Nada a temo, muito a despreso, enunca se dirá, disse Raymundo, que umamulher fraca e inexperta me tem excedidoem valor e resolução. Não fallemos maisdos obstáculos que se podem oppór á nossapaixão. Pensemos só nos meios de a reali-sar, e de ser quanto antes felizes.

Thereza e o pintor Raymundo não pen-saram mais nos obstáculos e males quepoderia causar-lhes seu nascente amor.Abandonaram-se a todos os sonhos da suaimaginação, e n'ella crearam para o futurouma vida de encanto e de illusões, quelhes promettia não só amor, mas tambémfelicidade e constante ventura.

Correram perto de dous mezes, semque a felicidade dostes dous amantes fosseperturbada.

Thereza todas as manhãas sob o pretextode tratar da sua saude, dava largos passeiospelas alamedas que cercam Sevilha, enellas se encontrava e passava horas inteirascom Raymundo, alimentando um e outroesperanças quimericas, que estavam muilonge de poderem realisar-se, e ás quaes

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P-tWaiM.

^^^m*mmm*mmmm"mmm^mmmmmmm*lm^impmw® mwmsmmmnão era já possivel renunciar, por quanto oamor de ambos linha augmcntado a pontode não conceberem já a felicidade, nematé a existência separados um do outro.IJina só circumstancia, que ao principiolhes tinha parecido indiírcrenlc, começavatodavia a perturbal-os no meio de seussonhos de ventura.

Um irmão do pae de Thereza cinha vindoa fcevilha, sem duvida com a idéa decasar com sua sobrinha; e por meio desteconsórcio adquirir o titulo e riquezas dalamina.Esta união não era tambem desvantajosa

para ella, porque seu tio, que tocava nosquarenta annos de idade, se bem lhe nãotrouxesse grossos cabedaes, de que nãoprecisava, era um official superior de ma-rinha, c por isso podia offerecer-lhe umJogar honorífico e considerado na suaidade, que elle havia adquirido por seuvalor e eminentes serviços prestados ápátria.

O marqueze a mãe de Thereza pensaramq^f n? i casamen*° convinha a sua filhae desde logo deram o seu consentimento,'fazendo saber a esta a sorte que sc lhedestinava, ponderando-lhe a conveniênciae vantagens, que um tal enlace lhe pro-mettia. lPorém Thereza recusou abertamente dara sua mão, por então, a homem algum,fazendo tambem desanimar com suas re-

pulsas e maneiras seccas o enamorado lioque lhe prodigalisava mil caricias e atten-çoes c que punha todo o seu esmero ocuidado em ganhar um coração, que lhehavia de trazer em dote o titulo de condee mnumeraveis riquezas.

Este homem, veterano já nas cousas domundo não concordava com todo o restoda lamilia em ,dgar que a repugnânciade Thereza era effeito da sua innocenciae ingênuo coração; acreditava que suasobrinha amava secretamente, c que talvezempregava seus affectos em um homemindigno da sua mão. Poucos dias de tratocom ella tinham sido bastantes para conhe-cer o caracter d'esta menina e para seIZlluL* T *¦* ParticiP*va '"• &:;Preoccupaçoes de seus avós a respeito dosaltos pnvi egios da nobreza e fidalguia?Conheceu tambem, que não devia esperarparude.algum d'e)l. ,'^e, sm £g™l~Te2TeiÚ° COntinu«™ cmquanJsenao empregasse o rigor, cousa que a sua

ir

lii^i""0 fa,ia' ««-quanto senão persua-

nnsddos l2 °S CSCr•Up,í,08 de íh<*ez* «ramnascidos de uma inclinação vcrjronhosa •para o que se propoz iriXi. ;;'reonnosa

*e-mi.il -. rln -„i 8 ,r seus passos,espial-a de todas as maneiras, e até em-pregar algumas som.nas em sedusir^spessoas que lhe parecia gosarem da sua-confiança, e d'ellas tirar não só noticiascircunstanciadas, mas tambem uma ocea-siao para convencer o marquez, por seuspróprios olhos, dos amores de sua neta aquem elle suppunha cândida como uiiiapomba, conservando ainda dentro de seupeito a innocencia da infância.

Para este cOeito chamou ao seu quarto ocriado que freqüentemente a acompanhavanos seus passeios matutinos, e lhe disse:— INao te chamo para saber de ti cousaalguma, porque tudo está descoberto, massun porque te suppõem mais cumplicadonos amores de tua ama, do que eu juleoque realmente és; e quero ver se podesjust,ficar-le para te livrares do castige- quete esla preparado, e do qual sera duvida tenas leito credor.

Este ardiloso preâmbulo fez tremer ocriado, c o dispoz favoravelmente paraum interrogatório, no qual confessou nãoso os amores de sua senhora, e os passeiosem que commummenle via o seu amantemas tambem declarou o nome d'este, suaprofissão, onde vivia, e atéajuntou, quealgumas noites entrava pela porta falsadq jardim, que elle deixava aberta, secundoa ordem de sua senhora , e q„e Ssta orecebia no seu quarto, ainda que semprena presença da sua aia. •

O astuto official, oceultando o jubiloque lhe causavam estas noticias, despediuo criado depois de o ter recompensado ,ordenando-lhe segredo acerca dà conver-saçao que acabavam de ter, e fazendo-lhetortes c terríveis ameaças no caso de quealguma cousa viesse a transpirar.IN aquelle mesmo dia procurou o tio teruma conferência com seu irmão, à quemcontou tudo o que havia descoberto, depoisdo que ajuntou *Já vedes que vossa neta não deixou dese aproveitar da sua residência em Londres.Educada longe da casa paterna, e porpessoas que, se bem que instruídas, sãoda classe do povo, tendo por companheiras

muitas meninas qúe nao pertencem á pri-meira ordem da sociedade, habituou-se adescer do seu gráo, e a não apreciar a no-

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o wmftam wmmmmmbreza de seu sangue. Bem o vedes: deu oseu coração a um homem obscuro, a ummiserável pintor.

Tem passado com elle manhãas inteirasno meio dos passeios públicos, onde semduvida alguém os terá visto. E até lhe ha-permittido a entrada em vossa casa. Énecessário pof tanto que este matrimôniose conclua quanto antes.

(Continua.)

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MENDIGO.

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BAIXATA.

IVaquellc cuja lyra sonoro, a ,Será maii • fama da , que ditosa.Ca u Ses.

É noile!—Negra sombra inunda as ruas,Inunda lodo o ar,

Da cidade que em tetro manto involtoParece repousar.

Coberto de andrajoso e pobre inanloO mendigo lá sae,

A esmolar um pão para seu amo,Por quem chorando vae.

È vae a commover humanos peitosCo'a triste e rude voz!Pede um pão c si quer um pão consegue r

Qh! que vergonha atroz!£ dia!—Haia o sol; desfaz-se a nevoa ;— Já basta dc esmolar! —— Eil-o que busca a casa de seu amo,*:**'' Só

para o consolar! ¦-¦•-E junto a elle inteiros dias passa. Chorando a ingratidãoDa pátria, que negava ao caro amo

O justo galardão!Poftre célla..;; Eis ahi toda a moradaií? > l)o tetrico amo seu 1

Pobre estrado.... Eis o leito em que descançaQuem muilo a pátria deu!

De um lado da parede e>lá pendenteRiqnissimp painel....Retrato dessa amante, por quem sente •$..!Saudade tâo cruel!

De ouUo lado uma espada.... Testemunha*.. Defeitos de valor;

E sôbrc a banca utnlivro.... que lê sempre,_ J - Não sem prazer e dôr!

E um dia.... sobre o leito.... elle jaziafil Sem mais se revolver, .l.

Que o cpração.,.# não mais.,., lhe palpitava....^

r? J Qúe vinha de môtrern.. ^

E junto a elle o escravo inseparávelQúe em vão chorando estai

Cüülxo aemo era ditoso.... mas agoramyl Quem delle cuidará?

Irá choroso feias ruas, praçasMovendo á compaixão?

Que nome soltará dos frios lábios *>Que mais lhe lucre um pão?Dobram qs finos..., A terra se revolve. ,..,,E a lousa já cahiu.

*« atraz do esquífe.... e ap&sxfe sobre a loúsaí...O mendigo sc víiií...*

n

Saudoso cnire soluços repetia:« — Dc mim o que será?...

Com elle era ditoso.... mas agoraDc mim quem cuidará?... — »

E quando as portas do sagrado temploAbriam-se aos fieis

Sobre o sepulchro seu eil-o que vinhaSoltar mil ais cruéis!

E um dia assim estava.... e eslava immovcl!...E as faces já sem cor!...

E os olhos já sem luz,... já moribundos../.Tão grande era a sua dôr!

E parecia ainda ler oa lousaParte das inscripções:

Ao MAIOR DOS POETAS DE SEU TEMPO ,A Luiz de Camões! *

J. Norberto oi S. S.

motte.Muito padece quem ama

Triste tousa é querer bem.*;. GLOSA. "

Meu terno peito c chamma,h chamma meu coração,Káo logro satisfação.

• Muito padece quem ama. »Toda a mente se m inflam maQuando vejo aquella a quemMeu amor e meu desdémTenho constante empregada;Tudojiorém é baldado.

« Triste cousa é querer bem. »

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CHARADAS.'-'¦-¦

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Por troca ficaipei lá. tDentro do ovo somente. 2Sirvo ao.crime, e á virtude,Ao Rei, ao triste indigente:

•*.-:*

JÈr>

IVão rá de certo longe, oh leitores,O que n estes dous versos sc descreve;Um outro como o filho de Cíjpliisò,A fabulosa historia não prescireve.

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CONCEITO,

São ps dtlerminaDoces prizões fCom que sujeitaAos corações: .

i Se os deixa livres,Sq espalharem,Vecm-se seus mi mosSc redobíareiii.

tf. F. R, dAzevedo.

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A rfgnitiGáção do Logogripho insei to no numeroantecedente é: Caparrosa._í__.' *;

i Rio de Janeiro, 1843. — Typographia Universal de LA^iVIMERT,rua do Lnviadio , 55.

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