kebur - boletim informativo nº 8

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KEBUR Boletim Informativo Nº 8 – 2º Semestre de 2013 Distribuição Gratuita PA MUNDO RURAL Escoamento e comercialização de produtos agro-alimentares TUSTUMUNHUS Fórum Sociedade Civil, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional PDSA - Programa Descentralizado de Segurança Alimentar e Nutricional nas Regiões da Guiné-Bissau ENTREVISTA Tomane Camará, Coordenador da RESSAN-GB

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8ª edição da newsletter do Programa Descentralizado de Segurança Alimentar e Nutricional nas Regiões da Guiné-Bissau (PDSA-GB)

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Page 1: Kebur - Boletim Informativo nº 8

KEBUR

BoletimInformativoNº8–2ºSemestrede2013Distribuição Gratuita

PAMUNDORURALEscoamento e comercializaçãode produtos agro-alimentares

TUSTUMUNHUSFórum Sociedade Civil, Soberaniae Segurança Alimentar e Nutricional

PDSA-ProgramaDescentralizadodeSegurançaAlimentareNutricionalnasRegiõesdaGuiné-Bissau

ENTREVISTATomane Camará,Coordenador da RESSAN-GB

Page 2: Kebur - Boletim Informativo nº 8

EDITORIAL

Caros Leitores,

O 2º semestre de 2013 foi também o último de implementação do PDSA.

Foi, então, um período de fecho de ciclo, com as últimas campanhas agrícolas apoiadas pelo programa e a convicção de que, graças ao empenho e compromisso das Organizações Comunitárias de Base (OCB) com a autossuficiência, bem como ao reforço das respetivas estruturas, mecanismos de gestão e capacidades técnicas, as comunidades beneficiárias terão condições para continuar as atividades bem para além do fim do PDSA. De facto, no decurso do PDSA II, no total das regiões abrangidas, verificou-se, em geral, um aumentocontinuadodasáreasdecultivodecereais,leguminosas,raízesetubérculoscommeiosprópriosdosbeneficiários oferecendo fortes perspetivas de sustentabilidade.

No total das 4 campanhas acompanhadas, incluindo da época seca, cerca de 90% das 7.110 toneladas de variedades locais de arroz produzidas e 66% das 157 toneladas de cereais secundários, leguminosas, raízes e tubérculos obtidas foram produzidas com meios próprios dos produtores e apenas com seguimento técnico do programa. No decurso deste registou--se também um aumento da quantidadeglobaldeprodutotransformado, acompanhando os aumentos produtivos e traduzindo simultaneamente uma maior capacidade de gestão dos equipamentos comunitários. O uso destes equipamentos rendeu às OCB beneficiárias ao longo do PDSA II 11,2 toneladas de arroz e 2,6 toneladas de farinha de milho ou mandio-ca. Por sua vez, a operacionalização dos Bancos de Cereais comunitários construídos ou reabilitados no quadro do PDSA I rendeu às OCB beneficiárias 6,8 toneladas de sementes de cereais (volumeglobaldeempréstimosdesementes de 73 toneladas). Em geral, não obstante diferenças de índole regional, verifica-se uma acrescidacapacidadeprodutiva,deconservaçãoedetransformaçãoendógenadasOCB beneficiárias, que se traduziu num aumentodoperíodomédioparaoqualosseusmembrostêmalimentosproduzidosporsipróprios.

Em setembro de 2013, o PDSA teve ainda o privilégio de coorganizar o FórumSociedadeCivil,SoberaniaeSeguran-çaAlimentareNutricionalcom a Rede da Sociedade Civil para a Soberania e Segurança Alimentar na Guiné-Bissau (RESSAN-GB) e, em conjunto, contribuir para impulsionar um processo de reflexão crítica sobre desafios e oportunidades em diferentes domínios da Soberania e Segurança Alimentar na Guiné-Bissau, que caberá, doravante, à recém-dinamizada Rede liderar.

Neste último número da KEBUR, não posso deixar de aproveitar a oportunidade para agradecer a todos os que partilharam os esforços e contribuíram para os resultados de 4 anos de intervenção. OmeuObrigadaatodaaequipadoPDSA(do IMVF – de Bissau e Lisboa, DIVUTEC, Adic Nafaia, ADS, AiFA PALOP, AMBA, Amigos da Guiné-Bissau, APROMODAC, DDS-IEGB, Guiarroz e OCB beneficiárias, cujo limite de carateres me impede de citar os nomes), aosparceiros como a RESSAN-GB, o UE-PAANE, a Rede Regional da Sociedade Civil para a Segurança Alimentar e Nutricional na CPLP, a Caritas da Guiné-Bissau, o Centro de Recuperação Nutricional de Cacheu/ Projeto No Kume Sabi e o Centro Feira das Possibilidades de Nhabidjon, eaosfinanciadores do programa – a União Europeia e o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.

Obrigada e Bon Kebur!

FICHA TÉCNICAEdição: IMVF (Carla Carvalho) Redação: Adulai Baldé, Graciete Brandão, Carla Carvalho, Pauline Gibourdel, Bacar Mané Revisão: IMVF E-mail: [email protected] Site: www.imvf.org Conceção gráfica: Matrioska Design Impressão: Ondagrafe Tiragem: 400 exemplares

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Kebur|Nº8|2º Semestre 2013

Títulos

Pa mundo rural: Escoamento e comercialização de produtos agro-alimentares

Bombolon di Region: Insegurança Alimentar na Guiné-Bissau

Entrevista a Tomane Camará, Coordenador da RESSAN-GB

Programa de Atividades Inovadoras para Segurança Alimentar na Guiné-Bissau - União Europeia

Po di Buli

Tustumunhus | Fórum Sociedade Civil, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional

Páginas

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Kebur|Nº8|2º Semestre 2013

PA MUNDO RURAL

ESCOAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO

DE PRODUTOS AGRO-ALIMENTARES*

Importânciadaatividadecomercialparaodesenvolvi-mentodaprópriaatividade

produtiva

O exercício de qualquer atividade económica, seja comercial ou de ou-tra natureza no território nacional, exige autorização legal por parte do governo da Guiné-Bissau: a obtenção de um alvará ou licença, documento comprovativo da habilitação do seu titular para a prática da atividade comercial requerida. A licença para o exercício de atividade comercial é concedida pelo Ministério do Comér-cio.

Como desenvolver a atividadeprodutiva?O produto é o resultado de uma ativi-dade produtiva; seja de que natureza for o seu destino final (consumo ou co-mercialização), merece um tratamento especial. Ele é uma variável importan-te, já que constitui o elemento princi-pal em função do qual os outros meios de ação são determinados. A elabo-ração da política de produto em to-dos os seus aspetos deve, por isso, ser particularmente cuidada para respon-der o melhor possível às necessidades e expetativas das pessoas às quais o produto é destinado. Isso começa pela conceção do próprio produto, ou seja, pela definição do que se pretende comercializar. Ele deve responder às expetativas e comportamento dos con-sumidores.

Um outro elemento constitutivo desta política é a marca. Criar uma marca é impor essa marca no mercado, fazê-la evoluir; e isto são etapas que necessi-tam de uma reflexão madura.

É também indispensável que o produ-to esteja em condições e seja emba-lado para poder estar protegido e ser transportado, armazenado e apresen-tado à clientela.

OPreçoO preço é outro elemento muito im-portante para o desenvolvimento da atividade produtiva. Esta variável foi durante muito tempo desprezada, mas o aumento da pressão concorren-cial conduz a um reforço da atenção para com este fator. É, com efeito, im-portante adotar uma política de preço com sucesso, que possa responder às expetativas dos clientes. A determina-ção do preço induz, igualmente, uma avaliação de todos os custos de pro-dução, distribuição e venda que deve-rão ser cobertos pelos rendimentos.

Estabelecidos esses parâmetros é ne-cessário ainda analisar as tabelas praticadas pela concorrência para po-der tê-las em conta ou mesmo propor uma oferta mais vantajosa.

DistribuiçãoDistribuir produtos é conduzi-los ao local exato, na qualidade exigida, nas condições requeridas, no momen-to certo, com os serviços necessáriosà sua venda.

ComunicaçãoÉ importante para a empresa ou pro-dutor comunicar com os seus dife-rentes públicos – clientes, potenciais compradores, distribuidores, etc. – de modo a reforçar a sua imagem, a de-

senvolver ou estimular as vendas, au-mentar a sua notoriedade e fidelizar a clientela. Os principais instrumentos da comunicação são a publicidade, a promoção de vendas, as relações pú-blicas, etc.

RelaçõescomacomunidadePor “relações com a comunidade” en-tende-se qualquer ato da comunicação que vise estabelecer ou reforçar laços de cordialidade entre empresa e todae qualquer entidade pertencente a uma comunidade. As relações com a co-munidade têm por objetivo aproximara empresa dos diversos públicos que a envolvem. Os principais objetivosa atingir são:

• Notoriedade – conferir maior no-toriedade ao produto ou serviço;

• Aceitação – existem maiores possi-bilidades de o produto ser bem acei-te quando a comunidade sente que a empresa vai trazer uma mais-valia local.

Em suma, o cliente é o juiz supremo que dita a sentença final dos produtos que lhe são propostos. Neste contexto, a satisfação contínua do clienteéofator-chavequemaiscontri-buiparaosucessoelongevidadedasempresasounegócios.

Tiposdedenominaçãodeatividadecomercialeconceitosassociados:

•AgenteComercial– pessoa comercial ou coletiva que possui uma organização para a realização de negócio em nome de uma ou mais entidades nacionais ou estrangeiras;• AgentedeComercializaçãoAgrícola – aquele que compra produtos agrícolas nas zonas rurais e os vende nas mesmas ou nas zonas urbanas;• ComércioCumulativo – exercício simultâneo de atividade de venda a grosso e a retalho;• ComércioGeral – exercício de atividade comercial a retalho de várias mercadorias sem obediência ao princípio de especialização;• ComércioaGrosso – atividade comercial que consiste na venda por atacado aos retalhistas;• ComércioaRetalho– atividade comercial que consiste na venda de produtos ao público consumidor em estabe-lecimento próprio ou em regime ambulante;• ComércioRural – o exercício de atividade comercial a retalho nas zonas rurais, nomeadamente, numa loja, bar-raca ou banca incluindo comércio ambulante;• Loja – estabelecimento comercial de venda a retalho onde se observa o princípio da especialização.

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Anecessidadedeseconsiderardeformaintegrada,produção,

transformaçãoecomercializaçãonumaóticadecadeiadevalor

Fruto da ausência de uma política de incentivo à produção agrícola, o País está votado ao consumo e venda de pequenas quantidades de produtos para pagamento de despesas fami-liares, o que o torna num mercado consumidor. Por outro lado, tomando como exemplo a castanhadecaju, há diversos anos que se debate a pos-sibilidade de aumento do seu valor através da sua transformação no País, mas ainda não foi possível a criação de uma cadeia de ligação entre pro-dutores, transformadores e comer-ciantes. O mesmo se passa com os restantes produtos agroalimentares. Estes estímulos existiam até aos anos 80, havendo necessidade de, em con-junto, os diferentes atores-chave de-baterem a problemática de produção e transformação dos produtos agro--alimentares na Guiné-Bissau.

ConceitodeValorAcrescentadoA expressão “valor acrescentado” de-signa a diferença entre o valordosbensproduzidoseos custosdos bens intermédios utilizadosna sua produção. Assim definido, o valor acrescentado é constituído pe-los salários, juros e lucros utilizados ou acrescentados à produção pela empresa, setor de atividade ou país. Além de utilizado para medir a produ-ção acrescentada por uma empresa,o valor acrescentado é também utili-zado para medir a produção de bens finais de uma determinada economia.

A questão está, pois, em diferenciar o produto relativamente aos con-correntes, e em garantir que essa diferença seja vista como um valor acrescentado aos olhos do consu-midor. A diferenciação poderá ser em termos do produto (por exemplo,a sua qualidade intrínseca) do serviço (por exemplo, a forma como é entre-gue), do pessoal (a relação dos fun-cionários com os clientes), da imagem (um símbolo, uma cor, a existência de uma marca, influenciam a qualidade percebida), ou do preço (um preço mais baixo é muitas vezes percebido como um produto de pior qualida-de); quantomaistratamentotiverum produto maior será tambémoseupreçonomercado.

Diversificaçãodoslocaisdeven-da e cálculo do lucro potencialparaverificarsecompensa

Os produtos agrícolas têm uma série de especificidades e por isso não po-dem, nem devem, ser vistos de forma igual a produtos industriais ou servi-ços.

• Localização relacionada coma produção e não com merca-do. Regra geral as indústrias tendem a localizar-se próximo dos mercados de consumo ou de vias de rápido ace-so ao mercado. No caso dos produ-tos agrícolas tal não é, obviamente, possível. Este fator, em conjunto com outras características específicas dos produtos agrícolas, vai condicionar uma série de decisões ao nível, por exemplo, dos fatores de produçãoe dos circuitos de distribuição, depen-dentes das distâncias de transportee dos seus custos.

• Os produtos agrícolas são em si mesmo produtos altamente indi-ferenciados e quer em termos físi-cos quer em termos de comunicação, a distância entre o produtor econsumidor tem implicaçõesnasestratégias de marketing ado-tadas. Em termos físicos, ao nível das decisões relacionadas com os transportes, com as margens, com o desenvolvimento de novos produtos, embalagens ou outras formas de ul-trapassar o problema da perecibilida-de e indiferenciação dos produtos. Em termos de comunicação, pode ser di-fícil aos produtores reunir informações sobre as necessidades e desejos dos consumidores, o que dificulta as suas decisões estratégicas. A dificuldade de comunicação com os consumidores fi-nais limita também a capacidade da empresa para ser reconhecida e valo-rizada no mercado.

• Omercadodosprodutosagrí-colas foi evoluindo de uma for-mamais lenta do que os restantes mercados e com o aumento da infor-mação disponível e da variedade de produtos existentes os consumido-resestãocadavezmaisexigenteemtermosdarelaçãoqualidade/preço.

Atualmente não só produtos agríco-las, mas também produtos industriais e serviços tendem a diversificar os lo-cais de venda; devido à complexidade do próprio mercado e à exigência dos clientes. Por exemplo, várias agências bancárias e outras estruturas presta-doras de serviços ou de venda de bens estão espalhadas em diferentes regi-ões, setores e bairros da capital com vista a facilitar o acesso pelos clientes, por um lado, e maximizar os lucros, por outro.

* Artigo elaborado com base no programa radiofónico redigido por Lay Adulai Baldé, para o Escola Agrícola do PDSA

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Noteque o produto em si e a sua qualidade têm uma importância fundamental para a estratégia de preço! Quando compramos um determinado produto, criamos uma certa expetativa em relação ao pro-duto e aos serviços que lhe estão associados, através da imagem que nos foi passada pela comunicação do vendedor, por quem nos aconse-lhou, etc.. Se um ou outro falharem, o produto não satisfaz as expetati-vas e o seu valor diminui aos olhos do consumidor, pelo que poderá não haver uma segunda compra. É fundamental perceber que nãohá uma segunda oportunida-de para criar uma primeiraimpressão,peloqueéimpres-cindível avaliar e satisfazerousuperarasexpetativasdosclienteseconsumidores!

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Kebur|Nº8|2º Semestre 2013

BOMBOLOM DI REGIONO bombolom é um instrumento de repercussão ainda hoje utilizado na Guiné-Bissau para a comunicação entre tabancas e em cerimónias fúnebres (toca tchur), para contar a história da pessoa em questão. No KEBUR, o Bombolom di Region traz-nos as reflexões dos parceiros regionais do PDSA sobre temáticas relacionadas com a Segurança Alimentar e Nutricional.

INSEGURANÇA ALIMENTARNA GUINÉ-BISSAU

Por Bacar Mané - Coordenador Executivo da AiFA PALOP - Associação de Investigadores e Formação Orientada para Acção nos Países Africa-nos de Língua Oficial Portuguesa

A Guiné-Bissau apresenta grandes problemas no que se refere à in-segurança alimentar, sobretudo pela fragilidade das suas instituições públicas, por escassez de equipamentos e materiais para a realiza-ção das suas tarefas de implementação, seguimento e avaliação das atividades no terreno.

A instabilidade política no país, nos últimos tempos, também não favorece o cumprimento da execução dos programas existentes na sua plenitude no âmbito da agricultura. Outro fator da insegurança alimentar é a extrema dependência da produção de castanha de caju no País, uma das situações que tem provocado a importação de parte dos alimentos, especialmente o arroz, que é a base da alimen-tação dos guineenses. Ainda, no nosso país há população que sofre com a insegurança alimentar, resultante da falta de acesso ao crédito agrícola (sementes e insumos agrícolas), a degradação de solos, as mudanças climáticas e o acesso aos recursos naturais como a água.

Apesar dos esforços do Governo e das Organizações Não Governa-mentais nesta área, é ainda necessário “uma concertação das insti-tuições públicas, da sociedade civil, do setor privado para se decidir onde, quando e como se deve concentrar esforços” para garantir a segurança alimentar. Para que isso seja real, o estado guineense tem que garantir um clima de estabilidade e paz, proporcionando um arranque viável e contínuo para o desenvolvimento agrícola, em todas as suas vertentes.

O trabalho das ONG tem vindo a promover a capacitação e infor-mação de populações comunitários nas zonas rurais, ajudando na melhoria das infraestruturas, equipamentos e materiais (sementes e insumos), na transformação dos produtos locais, influenciando as-sim, a modificação/diversificação dos hábitos alimentares locais, ge-rando as condições nutritivas adequadas nas famílias em que já fo-ram implementados projetos de Segurança Alimentar e Nutricional.

A produção de hortaliças na Guiné-Bissau está a suscitar cada vez mais interesse e tem vindo a ser desenvolvido pelas Associações co-munitárias, através de pequenas subvenções disponibilizadas por ONG, que por sua vez, são financiadas pelos organismos interna-cionais. A sua vantagem advém precisamente da sua rentabilidade económica, para além de jogar um importantíssimo papel na dieta

alimentar das populações consumidoras. Mais de 80% das mulheres praticam a horticultura, sendo a sua maior fonte de receitas tanto ur-banas, como semiurbanas. É uma alternativa para enfrentar a cres-cente taxa de desemprego da camada feminina. A produção hortí-cola chega a atingir cerca de 50 a 60 toneladas/ano. Também nas zonas urbanas, estima-se que cerca de 40% da população pratica a agricultura, estando 35% afetos à horticultura.

No que toca à agricultura familiar, mesmo sendo ainda o êxodo rural uma realidade, esta atividade deve ser reconhecida e apoiada através de pequenas subvenções para que se desenvolva e possa in-fluenciar a nossa economia. Ao nível da produção, a reabilitação das “lalas” de bas fond e bolanhas de mangrove é uma das vertentes em que é necessário atuar para assegurar a segurança alimentar. Por outro lado, o aproveitamento dos rios e pequenas bacias de água doce constitui uma vantagem para a produção de arroz na época seca e a utilização das novas tecnologias de irrigação. Um dos outros fatores complementares na luta contra a insegurança alimentar é atuar na mitigação dos riscos e impactos das mudanças climáticas, através da implementação de programas de reflorestação, corte ra-cional da floresta, controlo das queimadas e incentivo do uso de sistemas biológicos de adubagem das lavras. Neste âmbito, convém inventariar e identificar as variedades locais de forma a promover a sua proteção com vista a manter a linhagem da mesma dada a grande vulgarização e influência de sementes geneticamente modifi-cadas no nosso sistema agrícola.

Quanto às atividades agroindustriais no País, devem envolver es-tudos, planificação e implementação de estratégias, criação de in-dústrias e levar em consideração a comercialização e o escoamento desses produtos e a construção de infraestruturas e meios para um funcionamento durável e sustentável desta área.

Com a execução destas medidas e com o engajamento de todos os atores de desenvolvimento, nomeadamente do Estado, parceiros internacionais, ONG, Associações locais, agrupamentos de base e população em geral, o nosso País poderá gozar de uma segurança alimentar durável e sustentável.

A ONG AiFA PALOP é uma Organização da Sociedade Civil criada e legalizada em 1995. Contando atualmente com 2 projetos em curso em 2 regiões (Quinara, setor de Fulacunda, e Setor Autónomo de Bissau), as principais áreas de intervenção da AiFA-PALOP são a Segurança Alimentar e Nutricional e Desenvolvimento Rural, Ambiente, Educação e Formação, Micro-finanças e Género. A AiFA-PALOP implementa o PIR do PDSA na região de Quinara, em parceria com a ADS, sendo responsável pelo setor de Fulacunda.

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ENTREVISTAEntrevista ao Coordenador Nacional da Rede da Sociedade Civilpara a Soberania e Segurança Alimentar na Guiné-Bissau(RESSAN-GB), Tomane Camará.

PDSA: A RESSAN-GB foi relançada e redinamizada em 2013. Quais são os principais objetivos da Rede e que desafios es-pera enfrentar?

Tomane Camara (TC): A Rede tem como objetivo geral refor-çar a capacidade de intervenção da Sociedade Civil da Guiné--Bissau, para que possa contribuir na formulação, implementa-ção e monitoria de políticas públicas da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). No que se refere aos objetivos específicos, existem cinco principais. O primeiro é promover ações de sen-sibilização e de advocacia para alcance da SAN e do Direito Humano à Alimentação Adequada na Guiné-Bissau; o segundo é contribuir ativamente nos processos de formalização, imple-mentação e monitoria de políticas públicas para a Soberania e SAN; o terceiro é capacitar os nossos membros nos vários domí-nios de Soberania e Segurança Alimentar; o quarto é contribuir para a melhoria da coordenação das atividades comuns na área da Soberania e Segurança Alimentar no nosso país; e o quinto, e último, é facilitar a disseminação de informação e partilha de experiências na nossa rede.

PDSA: Que mecanismos e espaços pensa a RESSAN-GB utili-zar para influenciar positivamente as políticas e intervenções na área da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional na nossa terra?

TC: A nossa principal preocupação foi a criação de espaços de partilha de informação, tanto ao nível local/regional, como na-cional e sub-regional. A nível local e nacional, através dos nossos membros e parceiros, vão ser criados grupos de trabalho em torno das quatro principais temáticas ligadas à Soberania Ali-mentar – a Capacidade Institucional, Comunicação, Visibilidadee Políticas Públicas Nacionais e Internacionais ligadas a Sobera-nia e Segurança Alimentar; a Produção Agropastoril, Transfor-mação e Comercialização; os Ecossistemas Florestal, Marinho/Costeiro, a Conservação de Recursos Naturais e a Biodiversida-de; e a Educação Alimentar e Nutricional, Qualidade dos Ali-mentos, Saúde e Género. Ainda a nível nacional, estamos a pen-sar participar, promover e incentivar a criação de um Conselho Nacional de Soberania e Segurança Alimentar, no qual devem participar as entidades governamentais e todos os atores que tra-balham neste domínio. Primeiro é, no entanto, necessário que o governo assuma o seu papel como chefe de fila e estamos a pro-curar promover essa atitude – estamos precisamente nessa fase.

A nível sub-regional já estamos integrados no espaço da Comuni-dade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) no quadro da Rede Regional da Sociedade Civil para a Segurança Alimentar e Nutri-cional na CPLP (REDSAN-CPLP) de que somos membros fundado-res. Para além destes, estamos a constituir novos espaços, como é o caso concreto da Plataforma Camponesa da CPLP, que neste momento está a ser coordenada por um dos nossos membros, que é a Federação KAFO; estamos a participar na criação de um Fórum de Mulheres da CPLP e a dinamizá-lo ativamente; e, ao mesmo tempo, estamos a trabalhar para fazer parte do Conselho Regional da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Nou-tra frente, estamos também a desenvolver relações com os parcei-ros da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da União Económica e Monetária do Oeste Africano (UEMOA), no que respeita à troca de experiências e de formação dos nossos membros.

PDSA: O que espera a RESSAN-GB das Organizações da Socie-dade Civil que a integram?

TC: A força da RESSAN-GB é precisamente a força dos seus mem-bros – que estão espalhados por todo o País –, as suas capacida-des na implementação de políticas e de ações e a sua capacida-de de influenciar localmente. Essa mais-valia motivou-nos a criar Pontos Focais Regionais para poderem acompanhar a política de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional nas comunidades que, por sua vez, vão criar Pontos Focais Setoriais e Locais. Isso permitirá que a RESSAN-GB, como uma Rede, obtenha informa-ção em tempo real do que se está a passar, quais são as ativida-des em curso localmente e em que sítio do nosso País. Por isso mesmo, a prioridade número um da nossa Rede é reforçar a ca-pacidade das nossas organizações em termos de implementação das atividades, que possibilite a redução da pobreza e promover a Segurança Alimentar e Nutricional a nível local e regional. Mas, ao mesmo tempo, que permita aos nossos membros terem capacida-de de participar no diálogo, na promoção e no acompanhamento das políticas públicas ligadas à Soberania e Segurança Alimentar.

PDSA: Com que meios vão poder fazer a capacitação dos vossos membros?

TC: Temos vindo a trabalhar com os nossos parceiros e com os próprios membros da RESSAN-GB que têm a capacidade de realizar, eles próprios, essas formações. Como pensamos pôr isso em prática? Muito simples. Se um membro da Rede tem a capacidade de organizar uma formação ou uma ação capaz de reforçar competências, em vez de organizá-la sozinho, convi-da todos os membros da Rede que estejam interessados nessa

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temática para participar nessa ação. Dou-lhe um exemplo con-creto: a ONG Acção para o Desenvolvimento - AD está pensar agora realizar um Fórum de Educação Alimentar e Nutricional. Nesse caso, AD vai convidar todos os membros da RESSAN-GB que estão interessados nessa temática.

PDSA: E o que espera da relação com a Rede Regional da Sociedade Civil para a Segurança Alimentar e Nutricional na CPLP (REDSAN) e com as Redes nacionais do espaço CPLP?

TC: Em relação às Redes congéneres esperamos partilhar as nossas experiências e reforçar as nossas capacidades, ter acesso a documentação e informação, possibilidade de participar nos Fóruns internacionais, sem esquecer a solidariedade entre os membros. Testemunhámos isso quando organizámos, aqui em Bissau, o primeiro Fórum Sociedade Civil, Soberania e Seguran-ça Alimentar e Nutricional, onde participaram membros do Bra-sil, de São Tomé e Príncipe e da própria REDSAN da CPLP, que nos apoiaram bastante com as suas experiências. Pensamos que esse tipo de atividades vai reforçar as nossas capacidades de âmbito nacional e fortalecer as relações entre as redes. Inte-grar esses espaços vai permitir-nos estar sempre atualizados no que diz respeito às políticas públicas, regionais, sub-regionais e internacionais ligadas à Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

PDSA: Falou do Fórum Sociedade Civil, Soberania e Seguran-ça Alimentar e Nutricional coorganizado pela RESSAN-GB e o PDSA em setembro último, em Bissau. Quais os principais re-sultados que considera que se alcançaram com este evento?

TC: Esse evento foi bastante importante para RESSAN-GB por-que, para além de permitir relançar a RESSAN e redinamizar toda a sua estrutura em diferentes níveis, permitiu chegar a um conjunto importante de conclusões e recomendações para dife-rentes tipos de atores. Por exemplo, anívelpolítico permitiu concluir que é necessário reconhecer o Direito Humano à Ali-mentação Adequada e salvaguardá-lo, afirmando a Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional como um eixo estratégico para o desenvolvimento do país e, em termos produtivoseor-ganizacionais, uma das principais conclusões que saiu deste encontro foi o papel nuclear da Agricultura Familiar Campone-sa para o desenvolvimento da Guiné-Bissau, a necessidade do seu fomento e do aumento e diversificação da produção agro-alimentar no país, e a necessidade de ter um quadro que reco-nheça e apoie a redução da sobrecarga da mulher guineense no sistema de produção agroalimentar.

A nível do mercado, também saíram do Fórum uma série de con-clusões, como a necessidade de promover o empreendedorismo no meio rural e valorizar e diversificar a oferta de produtos agroa-limentares locais, mas também a necessidade de uma forte aposta na melhoria das acessibilidades rurais - por exemplo, no acesso às zonas de produção, que às vezes dificultam o escoamento dos produtos agrícolas. Ficou ainda clara a necessidade de aposta em políticas e ações de educaçãodoconsumidor e promoção de uma dieta alimentar melhorada, acompanhadas de estratégias de qualificação de quadros a nível nutricional; e em termos das infor-maçõesdosprodutos – que é um domínio em que realmente temos carência no País – é preciso ter um quadro técnico, institu-cional e regulamentar para a análise e controlo de qualidade dos produtos agroalimentares no mercado, e os produtores nacionais também são responsáveis, porque devem fornecer informações importantes que nem sempre vêm no produto e fazem falta.

No que à alimentaçãomaternoinfantil diz respeito, concluiu--se que é necessário reduzir a vulnerabilidade nutricional da mu-lher guineense no seio da família, sensibilizar e informar acerca do aleitamento exclusivo e de uma alimentação saudável, entre outras.

O Fórum deixou clara a responsabilidadedaSociedadeCi-vil pela agilização da passagem de compromissos políticos à prá-tica, porque sabemos que há muitas políticas e manifestação de boas intenções que às vezes são difíceis de ser postas em prática. Nesse caso a Sociedade Civil tem um papel importantíssimo de fazer com que esses compromissos políticos sejam postas na prá-tica. Esta é apenas uma síntese das principais conclusões e reco-mendações que saíram do Fórum e que eu acho que são bastante importantes.

A lista completa, que divulgámos em Comunicado de Imprensa, vai ser um instrumento de trabalho da RESSAN-GB nos próximos tempos.

PDSA: Quer deixar alguma mensagem final?

TC: Para concluir queria dizer que a Segurança e Soberania Ali-mentar Nacional é um desafio para a sociedade guineense, e não só da RESSAN. É um desafio de todos os guineenses. Te-mos que trabalhar de uma forma articulada no sentido de in-verter a situação que estamos a viver neste momento. É um ano em que vai haver fome, principalmente na zona rural, porque sabemos que a maior parte das famílias dependem da receita de venda de castanha de caju para a sua sobrevivência, e este ano esta campanha correu mal. Esta situação vai refletir-se de uma forma negativa na Segurança Alimentar dessas famílias. Temos de precaver essas situações porque são os resultados de políticas mal feitas que nos levam a essas situações. Um país não pode depender só de um produto, não pode depender só de castanha de caju. Uma das recomendações que saiu no Fó-rum foi a necessidade de diversificar, tanto no que se refere aos produtos alimentares, como aos produtos de exportação. Dessa forma, não ficaremos dependentes da flutuação do mercado e das condições climatéricas, porque sabemos que a nossa agri-cultura ainda vai continuar, por algum tempo, a depender das condições agroclimáticas, e essas condições variam de um ano para outro. Este ano pode haver boa produção, mas no próximo ano pode haver uma má produção, e não podemos depender exclusivamente disso.

PDSA: Os maiores sucessos para os esforços da Rede!

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Kebur|Nº8|2º Semestre 2013

PROGRAMA DE ATIVIDADESINOVADORAS PARA A SEGURANÇAALIMENTAR NA GUINÉ-BISSAU - UNIÃO EUROPEIAO Programa de Atividades Inovadoras para a Segurança Alimentar na Guiné-Bissau, lançado em 2011 e em que se insere o PDSA II, pretende estimular e capturar soluções ino-vadoras, localmente possuídas e sustentáveis, para desafios de segurança alimentar correntes e futuros. Integra 4 projetos que encerram 4 visões distintas mas concorrentes para um objetivo comum: a Segurança Alimentar e Nutricional no País.Terminamos este segmento com um balanço do apoio da União Europeia ao setor da Segurança Alimentar e Nutricio-nal na Guiné-Bissau, da autoria da Delegação da União Eu-ropeia em Bissau.

SEGURANÇAALIMENTARCOMPREENDER E ENFRENTAR

O DESAFIO DA POBREZA

AUniãoEuropeiaealutacontraainsegurançaalimentar

Uma em cada cinco pessoas sofre, hoje, no mundo, de fome e de subnutrição, com consequências por vezes irreversíveis. Esta situação é inaceitável do ponto de vista moral, já que a fome representa também um obstáculo para o desenvolvimento eco-nómico e humano dos países menos desenvolvidos. A política de desenvolvimento da União Europeia coloca a segurança alimen-tar como elemento essencial para a luta contra a pobreza. Asso-cia igualmente a segurança alimentar ao desenvolvimento rural e agrícola, bem como a gestão sustentável dos recursos naturais e a saúde (incluindo o acesso à água), dando também importância às infraestruturas e à economia doméstica.

Asegurançaalimentareassuasdiferentesdimensões

Seria, pois, um erro limitar a segurança alimentar à simples questão da produção “bruta”. A segurança alimentar ultrapassa, assim, a simples noção de autossuficiência. O quadro da política de segurança alimentar da União Europeia assenta em quatro pilares:

(i) A disponibilidade física dos alimentos para todos os indivíduos. Isto implica uma oferta suficiente de produtos alimentares com vista a responder às necessidades de todos os indivíduos, através da produção agrícola nacional, da distribuição e das importa-ções,

(ii) O acesso económico e físico à alimentação, às necessidades básicas (saúde, educação, por exemplo) e aos recursos apropria-dos. Para tal, são necessários mercados estáveis, preços acessí-veis para as populações locais, rendimentos dignos e um poder de compra suficiente, que permita às famílias satisfazer as suas necessidades alimentares,

(iii) A utilização dos alimentos e dos recursos básicos (água po-tável, saneamento e cuidados de saúde primários). Trata-se de proporcionar uma alimentação apropriada e equilibrada de modo a satisfazer as necessidades fisiológicas das populações (nutrição) e permitir-lhes uma vida saudável e ativa,

(iv) A estabilidade do aprovisionamento alimentar a curto, médio e longo prazo. Deve garantir-se que o acesso aos alimentos não seja perturbado por acontecimentos repentinos (crise económica ou climática), nem por eventos cíclicos (insegurança alimentar sazonal).

Asvítimasdainsegurançaalimentar

Algumas populações são mais vulneráveis do que outras. A inse-gurança alimentar afeta particularmente as vítimas de conflitos, as populações marginalizadas dos meios urbanos e as famílias com baixos rendimentos ou com meios de subsistência precários. Entre estas categorias, as mulheres, as crianças e as pessoas que vivem sozinhas ou que fazem parte de famílias com baixos rendi-mentos são particularmente afetadas.

Instrumentosdeapoio

A União Europeia dispõe de uma combinação de instrumentos para financiar diferentes tipos de ações em matéria de segurança alimentar, visando períodos mais ou menos longos. O Fundo Europeu de Desenvolvimento (FED) é o principal instrumento fi-nanceiro de ajuda comunitária para o desenvolvimento dos pa-íses da África Subsaariana, signatários do Acordo de Cotonou. Os programas temáticos e transversais financiados pelo orça-mento geral da União Europeia como o “Programa Temático de Segurança Alimentar” (FSTP), permitem apoiar a investigação e desenvolver tecnologias para uso agrícola, bem como promover a gestão sustentável dos recursos naturais e dos ecossistemas, para além de reforçar os laços entre os sistemas de informação e alerta de segurança alimentar. O desenvolvimento de estratégias de resposta efetiva e o incremento da exploração do potencial das abordagens continentais e regionais de segurança alimentar, são igualmente objetivos destes programas.

Quatroexemplosnoterreno,comfinanciamentodaUE

• O Programa Descentralizado de Segurança Alimentar nas regi-ões da Guiné-Bissau II, implementado pelo Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF) e o seu parceiro DIVUTEC, permitiu a consolida-ção da melhoria das condições de produção, conservação, trans-formação e comercialização de bens agrícolas, aumentando as-sim a autossuficiência e a segurança alimentar das Organizações Comunitárias. No decurso do projeto promoveu-se também um aumento contínuo das áreas de cultivo com utilização dos pró-prios meios dos beneficiários. No caso do cultivo de arroz, no to-tal das 4 campanhas seguidas, os resultados preliminares apon-tam para uma produção total de 7.110 toneladas, das quais 6.410 foram produzidas com meios próprios dos beneficiários e seguimento técnico do programa, e apenas 700 toneladas gera-das por sementes disponibilizadas pelo programa.

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• O projeto de apoio à melhoria da segurança alimentar e a promoção económica dos setores agrícolas e florestais em cer-ca de 30 aldeias da região de Oio, implementado pela Federa-ção Camponesa KAFO com o apoio técnico da ONG ESSOR--FRANCE, já permitiu a intensificação das atividades agrícolas de 690 famílias (extensão da área cultivada para 442 hectares no primeiro ano e para 550 no segundo, sendo as previsões de produção de alimentos para a próxima campanha estimadas em 1.147 toneladas de alimentos) e a instalação de unidades de processamento e de armazenamento de produtos agrícolas e florestais. Estas ações foram acompanhadas do reforço das capacidades dos beneficiários no domínio das técnicas agroflo-restais e na área das tecnologias de processamento inovadoras e de conservação de produtos locais. Foi também implementado um centro de experimentação e demonstração de técnicas e um pequeno laboratório. O projeto está igualmente a contribuir para facilitar a comercialização dos produtos através de um marketing específico e do desenvolvimento de uma estrutura comercial cha-mada KAFO-COM.

• O projeto de apoio às cooperativas agrícolas e associações de produtores de sementes, implementado pela ONG LVIA e seus parceiros MANITESE, ADIM e AJAM já deu resultados concretos em termos do fortalecimento organizacional e institucional das associações que administram 15 Centros de Serviços Rurais (CSR) e contribuiu para a consolidação de 22 Grupos de Produtores de Sementes (GPS). No quadro do apoio ao GPS, foram colocados em produção 30 hectares de campos de multiplicação de se-mentes de arroz, possibilitando um rendimento médio de 13,5t/ha para o arroz de tarrafes e um rendimento médio de 4,5t/ha para o arroz irrigado. 48 toneladas de sementes de arroz foram produzidas durante a primeira campanha. Três culturas de não-cereais [feijão 2t/ha), gergelim (5t/ha) e amendoim (7t/ha)] foram cultivadas em 42 hectares. No quadro do apoio aos CSR, as associações foram monitorizadas e fortalecidas ao nível organizacional e institucional. Foram oficialmente legalizadas e registadas no Tribunal de Bissau e abriram as suas próprias con-tas bancárias. A maioria dos CSR desenvolveu iniciativas específi-cas junto dos serviços de base iniciais (serviços mecânicos do tipo motocultivador, descascadores…). A melhoria da modelização das contas de exploração e a revisão dos planos de negócio está em curso e facilitará a sustentabilidade das unidades, sendo fer-ramentas essenciais para o prosseguimento destes objetivos. A caraterização das variedades de arroz e dos solos de arroz de tarrafes está em curso.

• O projeto “Nubanale di Batcharabu: vamos acabar com a fome” implementado pela ONG AD e o seu parceiro AIN Onlus está no bom caminho. São já notórios os efeitos deste projeto, que tenta criar uma capacidade local dinâmica e inovadora que possa servir de referência para outras regiões. Podemos assinalar a introdução e divulgação de atividades inovadoras, que propor-cionaram não só melhor acesso dos pequenos agricultores aos serviços rurais, mas também permitiram o reforço das atividades geradoras de receitas, a vulgarização de boas práticas, a prote-ção vegetal e a produção local de sementes. A criação de uma equipa de paraveterinários é igualmente uma realidade. Tam-bém o apoio para a produção e o consumo de proteínas animais através do reforço da pesca artesanal progride. Podemos, por exemplo, mencionar a inauguração da “Unidade de Fabrico de Gelo” no dia 17 de janeiro de 2014, importante para a conser-vação do peixe.

Estas ações melhoraram os níveis de segurança alimentar e nu-tricional da população em geral e contribuíram para um melhor acesso aos serviços rurais por parte da população rural. Por outro lado, a criação e o reforço de atividades geradoras de rendi-mento, para além de contribuírem para a redução da pobreza,

aumentaram a produção de sementes e a diversificação da produção agrícola, melhorando a qualidade dos produtos e as condições de trabalho dos operadores agrícolas ao facilitarem a transformação, a conservação e a comercialização dos produtos.

Desafiosparaofuturo

Os maiores desafios a enfrentar no futuro estão particularmente ligados à sustentabilidade (incluindo a rentabilidade dos inves-timentos) e à diversificação, transformação e comercialização dos produtos, bem como o aumento da capacidade organizati-va, funcional e de liderança das organizações camponesas para uma maior participação da população rural na tomada de deci-sões nacionais.

A política de desenvolvimento da União Europeia coloca a segu-rança alimentar e a nutrição como elementos essenciais da luta contra a pobreza. Recentemente, a União Europeia assumiu o compromisso político de, até 2025, ajudar os países parceiros a reduzir a menos sete milhões o número de crianças de menos de cinco anos que apresentam atraso de crescimento. Este problema exige uma abordagem multissetorial, que combine setores como a agricultura sustentável, o desenvolvimento rural, a segurança alimentar e nutricional, a saúde pública, a água e o saneamen-to, a proteção social e a educação. É necessário que os países parceiros estejam conscientes do problema e se comprometam a solucioná-lo. A Guiné-Bissau apresenta níveis elevados de pobre-za associados à insegurança alimentar e nutricional. Devem ser feitos esforços adicionais para melhorar a situação, multiplicar e intensificar as ações à escala nacional.

Através dos projetos em preparação, que alcançam um valor to-tal de 25 milhões de Euros (mais do que 16 millhões de milhões de FCFA), a União Europeia deseja contribuir para a consoli-dação dos esforços que têm por objetivos erradicar a pobreza e reduzir a insegurança alimentar crónica, criando ao mesmo tempo sinergias entre ações de emergência e estratégias de de-senvolvimento sustentável.

A União Europeia reitera o seu engajamento, juntamente com os seus Estados Membros, a favor das populações desfavorecidas e reafirma a importância da estreita colaboração entre a União Europeia, a sociedade civil e os parceiros nacionais e internacio-nais, a fim de promover, em conjunto, o desenvolvimento nacio-nal e contribuir para uma luta eficaz contra a pobreza.

Pauline Gibourdel, Adida para a Cooperação da Delegação da União Europeia na Guiné-Bissau

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PO DI BULIPo di buli quer dizer, em Crioulo, “colher de pau”, mas o conhecido cantor guineense Rui Sangara canta “Po di buli di nha mame”, signi-ficando em Português “a comida da minha mãe”. O KEBUR traz-nos o po di buli de alguns beneficiários do PDSA, procurando divulgar e valorizar a riqueza nutricional da culinária tradicional de diferentes regiões e etnias da Guiné-Bissau.

Ingredientes:3 kg de arroz/ 2 kg de quiabos (candja)/ 0,5 kg de beringela africana (djagatu) / ½ litro de óleo palma (siti)/ ¼ kg de tomates/ 3 kg de pimento “Bombardier” (suculbembe)/ ¼ de kg de búzios (cuntchurbedja)/ 4 peda-ços de escalada/ ¼ de kg ostras secas/ ½ kg de peixe seco

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Obrigado às cozinheiras de Campossa,

incluindo a Animadora da DIVUTEC,

Sábado Vaz!

Dica: O peixe seco pode ser substituído por qualquer tipo de carne, mas não pode haver Sigá sem ostras secas, escalada ou cuntchurbedja!

Receita partilhada pelas mulheres da Associação Campossa, de Bafatá, no Leste do país.

SIGÁ

Campossa é o nome atribuído ao rio Geba, às portas da cidade de Bafatá, e às bolanhas que se situam nas suas margens e o Sigá é um prato muito rico em nutrientes.

Tipodereceita: Prato principalNúmerodedoses:8Tempodepreparação:20 MinutosTempodeconfeção: 45 MinutosDificuldade: Fácil

Preparação:1. Lave o cuntchurbedja seco com água morna, retirando os restos de areia e outros resíduos. Leve ao lume/ fogo numa panela com bastante água a cozer. 2. De igual modo, proceda com as ostras secas e deixe-as escorrer. Ainda seguindo o mesmo processo, lave as escaladas retirando as espinhas. 3. Desfie os peixes secos retirando as espinhas. Divida-os em duas partes iguais. Pise uma parte do peixe no almofariz/pilão e reserve-o.À parte, corte a candja e o djagatu em pedaços pequenos e reserve. Corte também as cebolas em rodelas e reserve.4. 10 minutos depois, acrescente à panela a escalada desfiada, as ostras, o peixe desfiado e o djagatu. Deixe cozer mais um pouco, me-xendo de vez em quando, para não se agarrar ao fundo da panela. Amasse o tomate e acrescente ao molho. Junte também ao preparo a candja, o peixe pilado, as rodelas de cebola e o suculbembe e apure o sal. Continue a mexer o molho para não se agarrar à panela e deixe cozer mais uns 25 minutos para engrossar o molho. Adicione o óleo de palma ao molho e mexa com a colher de pau lentamente, só mais uma vez, para incorporar o siti.5. Baixe o lume e deixe apurar mais uns 10 minutos. Retire e reserve.6. Numa outra panela coza o arroz para comer com o molho. Junte sal, mas tenha atenção porque o peixe seco e a escalada já têm bastante sal. Reserve-o num lume brando para não esfriar.7. Sirva e tenha um bom apetite!

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Ingredientes: 4 kg de arroz/ meio kg de peixe fresco/ cebola / ¾ de litro de óleo palma (siti) ou óleo/ sal/ malagueta/ limão/½ de kg de arroz para farinha/ água

Receitas partilhadas pelas mulheres do Agrupamento “Coopera”, do setor de Fulacunda, Região de Quinara. O Agrupamento “Coopera” integra beneficiários da tabanca de Binhalon, bem como membros de Santão e Tomana.

POPORTADA

Este prato é chamado de “Guncalal”, em língua Beafada – etnia do Sul da Guiné-Bissau.

Tipodereceita: Prato principalNúmerodedoses: 8Tempodepreparação:10 MinutosTempodeconfeção:1 HoraDificuldade: Fácil

Preparação:1. Num recipiente pequeno ponha de molho um quarto de kg de arroz durante uma hora, escoe e pise-o no almofariz/pilão até obter uma farinha de arroz e reserve-a.2. Leve ao lume uma panela média sem nada, deixe aquecer e deite na panela óleo ou siti, conforme queira o seu molho de Poporta-da branco ou com siti. Deixe aquecer o siti ou óleo, deite a cebola cortada em rodelas e deixe refogar sem parar de mexer. Acrescente água suficiente para a preparação do molho. 3. Acrescente o peixe previamente cozido e desfiado, sem espinhas. Em vez de peixe pode colocar carne bem temperada. Deixe cozer.4. Deixe cozinhar um pouco e acrescente a farinha de arroz, diluindo-a na água pouco a pouco e mexendo sempre para não se agarrar à panela. Se o molho estiver muito grosso, acrescente água até obter a consistência desejada. 5. Espere um pouco e adicione a malagueta e sal. Apure o tempero e deixe cozer mais um bocadinho. Acrescente o limão a gosto e mexa com a colher de pau.6. Deixe cozer mais uns 3 minutos para apurar o molho e retire do lume para arrefecer.7. Numa outra panela leve ao lume água para ferver. Depois de levantar a fervura, adicione o arroz e apure o sabor com sal.8. Quando estiver pronto, sirva o arroz, abra um buraco no meio e preencha com a Poportada! Bom apetite!

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Dica:O peixe fresco pode ser substituído por qualquer tipo de carne, ostras secas, peixe seco, caranguejo (cacri), escalada,búzios (cuntchurbedja), etc.. 2 4

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O nosso agradecimento às cozinheiras, aqui

com o Animador da AiFA PALOP, Ansumane

“N’dabó”.

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Esta publicação foi produzida com o apoio da União Europeia. O seu conteúdo é da exclusiva responsabilidade do Instituto Marquês de Valle Flôr e não pode, em caso algum, ser tomada como expressão das posições da União Europeia.

TUSTUMUNHUS|FóRUMSOCIEDADECIVIL,SOBERANIAESEGURANÇA

ALIMENTARENUTRICIONALO PDSA e a Rede da Sociedade Civil para a Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional na Guiné-Bissau (RESSAN-GB) promoveram, nos dias 11 e 12 de setembro de 2013, em Bissau, o primeiro Fórum Sociedade Civil, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

O Fórum pretendeu deixar orientações para a intervenção da Sociedade Civil e outros atores com vista a dar resposta aos principais desafios e oportunidades no âmbito da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (SAN); mobilizar os Atores da Sociedade Civil Guineense para o trabalho em rede como ferramenta para uma contribuição mais ativa para a promoção da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e sensibilizaro Público em geral para temáticas-chave da Soberania e da SAN.

No Fórum participaram representantes de 91 Organizações guineenses da Sociedade Civil das 9 regiões do País, 4 Organizações Não Go-vernamentais internacionais e 4 Parceiros Técnico-financeiros intervenientes na Guiné-Bissau em domínios relacionados com a SAN. O Fórum contou também com a participação de representantes do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar (FBSSAN), da Rede de Segurança Alimentar e Nutricional de São Tomé e Príncipe (RESCSAN) e da Rede Regional da Sociedade Civil para a Segurança Alimentar e Nutricional na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (REDSAN-CPLP), graças à colaboração com esta última e com o programa de Apoio aos Atores Não Estatais da União Europeia (UE-PAANE).

O evento foi muito bem acolhido pelos participantes, que já sentiam há muito a necessidade de terem a oportunidade de reunir, discutir, pensar juntos e perspetivar ações conjuntas para enfrentar a difícil situação da insegurança alimentar do País e da fraca coordenação das organizações da Sociedade Civil. Para Wilbonhe Na Obna, do Departamento de Desenvolvimento Social da Igreja Evangélica da Guiné-Bissau (DDS/IEGB), “este fórum é uma grande oportunidade para as organizações da sociedade civil da Guiné-Bissau; um espaço para exprimir, discutir a situação do País em geral e em termos de SAN. É um espaço que poderia ser mais alargado em termos de tempo, para dar oportunidade de ir à raiz da situação do País a este nível. Mas estes dois dias podem ser considerados como uma oportunidade para as OSC se prepararem de uma forma organizada para encarar as comunidades locais em termos de alternativas para resolver o problema de SAN na nossa terra”. Já para Sambel Baldé, do PRO-AGRI - Promoção para o Desenvolvimento Agrário na Guiné-Bissau, ONG sedeada em Bafatá, “durante o fórum houve troca de experiências de diferentes organizações e estamos a preparar documentos importantes para o futuro das nossas organizações a nível nacional. A questão da SAN deve ser prioridade número um para o nosso País! Há muitas organizações que não estiveram presentes e, neste caso, acho que as organizações que estiveram no fórum devem partilhar as informações com as congéneres da mesma região e também acho pertinente que o resumo final do fórum seja partilhado com todas as organizações que estiveram presentes no fórum”.

Para a Irmã Solange Lussi, do projeto “No Kume Sabi”, de Cacheu, e que aceitou facilitar um Grupo Temático, este Fórum foi muito importante “para a nossa Sociedade Civil, para cada um de nós e para todos os guineenses, para podermos comer bem e comermos o que é nosso”. A Irmã Solange explicou que é preciso encontrar soluções em conjunto, e não individualmente, mas deixou um recado aos organizadores “que nas próximas vezes as mulheres sejam representadas massivamente. Neste Fórum temos mais a presença dos homens do que das mulheres. Porém, elas é que estão mais ligadas às áreas da alimentação!”. Maria Homero, em representação do FBSSAN, do Brasil, disse ter ficado muito honrada por estar presente neste Fórum e acrescentou “as experiências que estou a adquirir neste fórum, ao primeiro momento parece que são diferen-ciadas do Brasil mas, se formos realmente aprofundar, a partir das falas das pessoas, são muito semelhantes. Porque geralmente é vendida uma imagem de um Brasil bem-sucedido que não mostra os pequenos agricultores, enquanto este fórum está trazendo pequenos agricultores, com as suas expetativas, as suas realidades.”. E não deixou de acrescentar “Espero que tenha outros momentos como este e que essa relação da CPLP seja cada vez mais fortificada”.

À recém-redinamizada RESSAN-GB, Maryland Leonarda Pereira, Técnica de Marketing e Comercialização na Federação KAFO, uma das OSC--membro, deixou votos para que consiga ser uma verdadeira Rede e que sirva de porta-voz de todas as OSC da Guiné-Bissau, levar informações a lugares onde as OSC não conseguem chegar – onde realmente faz falta. A voz de Celestino Sá, da ONG EDEC – Estrutura para Desenvolvimento da Educação Comunitária, sedeada em Quebo, traía a sua emoção nesse encontro “estou muito satisfeito hoje, porque a existência de facto da RESSAN-GB – uma coisa que há 5 meses atrás era impensável – hoje é uma realidade! Sabemos que a RESSAN-GB já existia, mas estava mo-ribunda e conseguimos resgatá-la, e hoje, o Fórum foi realizado. É um grande sucesso para as pessoas que estão a pensar sobre a Soberania Alimentar na Guiné-Bissau.”