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Boletim Informativo1 º SemeStre de 2019

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Apresentação

Compartilhamos, neste boletim, temas e discussões que tomaram a pauta tributária no primeiro semestre de 2019, mais especificamente na prática da advocacia em nosso escritório.

O material anexo foi desenvolvido a partir de textos diversos, trabalhos concretos e produções teóricas dos nossos profissionais, em especial dos mais jovens do time, os quais são estimulados a cultivar o hábito de se reunir semanalmente para o estudo coletivo daqueles assuntos.

Essas discussões são acompanhadas pelos profissionais mais seniores, com o objetivo de guiar e aprimorar o senso crítico dos menos experientes, possibilitando que, com o passar do tempo, possam realizar que o acúmulo de experiência depende muito mais da dedicação, do que do fator cronológico.

Nesta edição, integramos as contribuições do nosso time do Rio de Janeiro, com comentários sobre temas específicos que ocuparam a sua atenção naquele Estado e junto às empresas que concentram as suas atividades em território fluminense.

Como resultado, organizamos este boletim em sessões que compreendem:

- Comentários: textos mais curtos e de caráter eminentemente informativo, onde se busca chamar a atenção do leitor para novidades do primeiro semestre de 2019 e possíveis implicações que elas poderão ter no futuro;

- Recursos repetitivos admitidos para julgamento: indicação de temas tributários que foram admitidos para julgamento vinculante pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça, podendo ter impactos relevantes por ocasião da sua análise de mérito;

- Súmulas: alertas e análises a respeito de súmulas tornadas vinculantes, no âmbito do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), e de temas propostos para a edição de novas súmulas no segundo semestre deste ano;

- Temas para reflexão: breves textos elaborados em teoria ou a partir de casos concretos, com reflexões e questionamentos sobre a validade ou a aplicação de normas tributárias em situações das mais variadas; e

- Artigos publicados: reprodução da íntegra de artigos publicados pelos profissionais do nosso escritório em obras coletivas, revistas científicas ou plataformas digitais de divulgação de estudos em matéria tributária.

O conteúdo de todo este boletim é essencialmente informativo, não devendo ser tomado, para nenhum efeito, como orientação jurídica para qualquer caso concreto.

São Paulo, agosto de 2019.

Brazuna, Ruschmann e Soriano Sociedade de Advogados

OAB/SP nº 14427

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Abreviaturas

ABAG – Associação Brasileira do AgronegócioADCT – Ato das Disposições Constitucionais TransitóriasADE – Ato Declaratório ExecutivoADI – Ato Declaratório InterpretativoAIIM – Auto de infração e imposição de multaBEPS – Base Erosion and Profit ShiftingCADIN / Cadin – Cadastro de devedores inadimplentesCARF – Conselho Administrativo de Recursos FiscaisCAT – Coordenação-Geral de Assuntos TributáriosCCiF – Centro de Cidadania FiscalCDA – Certidão de dívida ativaCF/88 – Constituição Federal de 1988CIDE – Contribuição de Intervenção no Domínio EconômicoCIESP – Centro das Indústrias do Estado de São PauloCIF – Cost, insurance and freightCLT - Consolidação das Leis do TrabalhoCMN – Conselho Monetário NacionalCND – Certidão negativa de débitos fiscaisCofins – Contribuição para o financiamento da seguridade socialCosit / CST - Coordenação-Geral de Tributação da Secretaria da Receita Federal do BrasilCPC – Código de Processo CivilCPI – Comissão Parlamentar de InquéritoCPL – Método Custo de Produção mais LucroCPRB - Contribuição Previdenciária sobre a Receita BrutaCSLL – Contribuição Social sobre o Lucro LíquidoCSRF - Câmara Superior de Recursos FiscaisCTN – Código Tributário NacionalDANFE – Documento Auxiliar da Nota Fiscal EletrônicaDISIT – Divisão de TributaçãoDJ – Diário de JustiçaDOU – Diário Oficial da UniãoEFD – Escrituração Fiscal DigitalEIRELI - Empresa individual de responsabilidade limitadaFecomércio-SP – Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São PauloFOB – Free on boardg.n. – grifo nossoIBS – Imposto sobre Bens e ServiçosICMS – Imposto sobre operações relativas à Circulação de Mercadorias e prestação de Serviços de transporte intermunicipal e interestadual e de comunicaçãoIDPJ – Incidente de Desconsideração de Personalidade JurídicaIN – Instrução NormativaINPI - Instituto Nacional de Propriedade IndustrialIOF – Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliáriosIPI – Imposto sobre Produtos Industrializados

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IPTU – Imposto sobre propriedade Predial e Territorial UrbanaIRDR – Incidente de Resolução de Demandas RepetitivasIRPJ – Imposto de Renda da Pessoa JurídicaIRRF – Imposto de Renda Retido na FonteISS – Imposto Sobre Serviços de qualquer naturezaITBI – Imposto sobre transmissão Inter Vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisiçãoME – Ministério da EconomiaMF – Ministério da FazendaMP – Medida ProvisóriaNF-e – Nota fiscal eletrônicaNFS-e – Nota Fiscal de Serviço EletrônicaOCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento EconómicoPCI – Método do Preço sob Cotação na ImportaçãoPEC – Proposta de Emenda ConstitucionalPECEX – Método do Preço sob Cotação na ExportaçãoPEP - Programa Especial de ParcelamentoPIC – Método de Preços Independentes Comparados)PIS – Contribuição ao Programa de Integração SocialPGCAT - Procuradoria-Geral Adjunta de Consultoria Tributária e PrevidenciáriaPGFN – Procuradoria Geral da Fazenda NacionalPRDI – Pedido de revisão de dívida ativaPRL – Método de Preço de Revenda Menos LucroRegip – Registro especial de papel imuneReintegra – Reintegração de Valores Tributários para as Empresas ExportadorasRET – Regime especial de tributaçãoRFB – Secretaria da Receita Federal do BrasilRICMS/SP – Regulamento do ICMS do Estado de São PauloRIPI – Regulamento do IPIRIR – Regulamento do Imposto de RendaSC – Solução de ConsultaSCP – Sociedades em Conta de ParticipaçãoSefaz – Secretaria de FazendaSinditelesbrasil – Sindicato nacional das Empresas de Telefonia e Serviço Móvel Celular e PessoalSiscoserv – Sistema Integrado de Comércio Exterior de Serviços, Intangíveis e Outras Operações que Produzam Variações no PatrimônioSRRF – Superintendência Regional da Receita FederalSTF – Supremo Tribunal FederalSTJ – Superior Tribunal de JustiçaTI – Tecnologia da informaçãoTIT – Tribunal de Impostos e Taxas do Estado de São PauloTJ-SP – Tribunal de Justiça do Estado de São PauloTRF – Tribunal Regional FederalUFESP – Unidade Fiscal do Estado de São PauloVTM - Valor Tributável MínimoZFM – Zona Franca de Manaus

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Sumário

Apresentação

Abreviaturas

ComentáriosSTJ - Incidente de desconsideração da personalidade jurídica e as execuções fiscaisSTJ - Responsabilidade tributária e dissolução irregular de sociedadeNão pagamento de ICMS e aspectos penaisModulação de efeitos – Exclusão do ICMS das bases de cálculo do PIS e da Cofins0Ações populares para anulação de decisões de tribunais administrativos fiscaisSociedade em Conta de Participação (SCP) e a sua utilidade na realização de empreendimentos imobiliáriosExclusão do ICMS da base de cálculo da CPRB – Jurisprudência do STJNão incidência de contribuições previdenciárias sobre o hiring bonus“Pejotização” e contribuição previdenciária (caso Globo)Direitos de imagem e de arenaContribuição previdenciária sobre as férias pagas a trabalhador intermitente- Solução de Consulta COSIT nº 17/2019IRPJ - Isenção de serviços de consultoria prestados por sindicato patronalIRPJ - Subvenção para investimento e créditos de ICMSIRPJ – Lucro real – Dedução de saldo credor de ICMS-exportação como custo - Solução de Consulta Cosit nº 111/2019IRPJ - Termo inicial para amortização linear do ágio - Solução de Consulta COSIT nº 223/2019PIS e Cofins – Algumas discussões sobre creditamentoIPI – Compra de embalagens por produtor rural pessoa física - Solução de Consulta COSIT nº 140/2019Conceito de industrialização – Impressão 3D – Solução de Consulta COSIT nº 97/2019Drawback - Juros de mora e descumprimento do regimeExportação temporária para aperfeiçoamento ativo e combinação de regimes aduaneiros - Solução de Consulta COSIT nº 149/2019Exportação de commodities e identificação do destinatário no exteriorImportação por encomenda - Soluções de Consulta COSIT nºs 129/2019, 156/2019 e 192/2019Zona Franca de Manaus e créditos de IPIReintegra e Zona Franca de ManausExportação e IOF de 0% sobre contratos de câmbio – Parecer SEI nº 83/2019/CAT/PGACTP/PGFN-MEPreços de transferência – PECEX e a Solução de Consulta Interna nº 02/2019Preços de transferência - Instrução Normativa RFB nº 1.870/2019IRPJ/CSLL – Rateio de despesas centralizadas em empresa do mesmo grupo no exterior

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Serviços Técnicos e de Assistência Técnica – Convenção para Evitar a Dupla Tributação com a França - Solução de Consulta DISIT/SRRF02 2004/2019Dedutibilidade de royalties pagos a pessoa jurídica de mesmo grupo econômico, situada no exterior - Solução de Consulta COSIT 182/2019Imposto de renda: incidência ou não sobre doações para e recebidas do exterior - Soluções de Consulta COSIT nº 104/2019 versus 122/2019ICMS - Cresce a carga sobre insumos agropecuários no Estado de São PauloEstado do Rio de Janeiro autoriza a utilização de saldo credor de ICMS de seus contribuintesITBI e valor venal – IRDR julgado pelo TJ-SPISS e a sua cobrança na CPI da Sonegação Tributária no Município de São PauloStreaming e veiculação de publicidade na internet: emissão de NFS-e mensalISS - Tema nº 581/STF e as operadoras de plano de saúde

Recursos repetitivos admitidos para julgamentoSTF – Exclusão da taxa de cartão de crédito das bases do PIS e da CofinsSTF – Desembaraço aduaneiro e arbitramentoSTF – Adicional de Cofins-importaçãoSTJ – Exclusão do ICMS do lucro presumidoSTJ – Inclusão da capatazia no valor aduaneiro

SúmulasSúmulas vinculantes do CARF e propostas de novas súmulasCIDE – Súmula vinculante CARF nº 127 – Transferência de tecnologia não é requisito para a incidênciaDespesas de royalties e CSLL - Súmula vinculante CARF nº 117

Temas para reflexãoConceito de praça, VTM, IPI e operações entre interdependentesA não incidência da CIDE nos contratos de licença de softwares, sem transferência de tecnologiaCrédito fictício na Convenção para Evitar a Dupla Tributação com a Espanha - Solução de Consulta COSIT 82/2019Serviços de construção civil: regime cumulativo ou não-Cumulativo da contribuição ao PIS e da CofinsAlterações da rede brasileira de acordos internacionais em matéria tributáriaComentários sobre a suspensão da exigibilidade do crédito tributárioA Portaria PGFN nº 33/2018 e suas inovações nos procedimentos prévios ao ajuizamento da execução

Artigos publicadosTributação na Teoria e no PapelObservatório do TIT: recapitulação de penalidades

Colaboradores

Anexo

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Comentários

STJ - Incidente de desconsideração da personalidade jurídica e as execuções fiscaisEm recente julgado, a 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça concluiu que o Incidente de Desconsideração de Personalidade Jurídica (IDPJ), instrumento disciplinado pelo Código de Processo Civil de 2015, seria incompatível com o processo de execução fiscal.

De acordo com o acórdão proferido no julgamento do Recurso Especial nº 1.786.311-PR, o redirecionamento da execução fiscal pode ser feito diretamente aos administradores, diretores, sócios ou outras empresas quando houver liquidação da sociedade devedora, determinação legal expressa, interesse comum no fato gerador do tributo, excesso de poderes ou infração de lei, contrato ou estatuto. Assim, ficaria afastada a possibilidade de o suposto responsável tributário defender-se e manter suspensa a exigibilidade da exação independentemente de prévia garantia do juízo.

A questão ainda será submetida à apreciação da 1ª Seção, tendo em vista que a 1ª Turma tem decidido de forma diversa a mesma matéria.

Com efeito, de acordo com o entendimento exarado no julgamento dos Recursos Especiais nº 1.775.269 e nº 1.173.201, para a 1ª Turma o IDPJ seria cabível para discutir o interesse comum do suposto responsável solidário na ocorrência do fato gerador do tributo, quando o direcionamento tiver fulcro no inciso I do artigo 124, do Código Tributário Nacional.

A nosso ver, não há impedimento algum para a adoção do IDPJ em matéria de execução fiscal, devendo ser observada a nova norma especial editada em 2015, que deveria se aplicar complementarmente à lei de execução fiscal, inclusive para assegurar a validade e o sucesso do redirecionamento de processos de cobrança, em situações nas quais assim seja efetivamente cabível.

Patrícia [email protected]

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STJ - Responsabilidade tributária e dissolução irregular de sociedadeO instituto da prescrição tem por objetivo pacificar as relações sociais e jurídicas, em razão da inércia do titular do direito de ação, fazendo com que, com o passar de determinado lapso temporal, esse titular já não possa mais acionar outra pessoa para satisfazer uma obrigação que entende lhe ser devida.

Em matéria tributária, o transcurso do tempo prejudica o direito da Fazenda Pública a exigir forçadamente o pagamento do tributo, mediante o ajuizamento de execução fiscal, o que é regido pelo artigo 174, do Código Tributário Nacional, segundo o qual o prazo de cinco anos da prescrição é contado da data da constituição definitiva do crédito tributário, interrompendo-se apenas: (i) pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal; (ii) pelo protesto judicial; (iii) por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; ou (iv) por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor.

Nessa temática, no entanto, chamava a atenção a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça em torno do redirecionamento de execuções fiscais, contra terceiros considerados responsáveis, em especial na hipótese do artigo 135, do mesmo CTN, que se aplica às sociedades dissolvidas irregularmente.

Desde 2010, o Superior Tribunal de Justiça chamou para si decidir, em caráter vinculante, no Recurso Especial n⁰ 1.201.993-SP, se, na hipótese de dissolução irregular, o prazo prescricional teria início (i) no momento em que a Fazenda Pública tem ciência da dissolução irregular da sociedade ou (ii) na data do próprio ato de dissolução irregular.

Por ocasião do julgamento realizado em maio de 2019, segundo noticiado pelo próprio STJ, fixou-se o entendimento de que: (i) caso a dissolução irregular tenha ocorrido antes da citação do devedor na execução fiscal, o prazo de prescricional de 5 (cinco) anos para o redirecionamento contra os sócios é contado a partir da citação; já se (ii) a dissolução for posterior à citação positiva do devedor, o prazo prescricional se iniciará a partir da data da prática do ato inequívoco de dissolução irregular.

José Luis Ribeiro [email protected]

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Não pagamento de ICMS e aspectos penaisEm nosso boletim anterior, comentamos a decisão da 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, no Habeas Corpus nº 339.109-SC, considerando que o não pagamento do ICMS pode configurar crime de apropriação indébita tributária, tipificado no artigo 2º, inc. II, da Lei nº 8.137/1990.

Dada a sua relevância, o tema chegou ao Supremo Tribunal Federal, por meio do Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 163.334-SC, tendo ingressado como amicus curiae do paciente a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), o Sindicato nacional das Empresas de Telefonia e Serviço Móvel Celular e Pessoal (Sinditelesbrasil), a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) e, ainda, a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG).

Em favor do recorrido (Ministério Público de Santa Catarina), ingressaram na mesma condição o Distrito Federal e os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Sergipe e Tocantins.

Em fevereiro de 2019, dada a repercussão da decisão anterior do STJ, o Min. Roberto Barroto, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, houve por bem conceder medida liminar para determinar que não fosse executado qualquer tipo de pena contra as recorrentes, até que o tema seja julgado pelo Plenário, para onde o caso foi afetado “em homenagem à segurança jurídica” e nos termos do artigo 21, inc. XI, do Regimento Interno do STF.

Importante acompanhar com atenção esse julgamento, na medida em que poderá confirmar ou não aquele posicionamento mais rigoroso adotado pelo STJ.

Katia Soriano de Oliveira [email protected]

Thiago [email protected]

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Modulação de efeitos – Exclusão do ICMS das bases de cálculo do PIS e da CofinsConforme comentado em nosso boletim anterior e notoriamente divulgado, diversos setores econômicos aguardam ansiosamente o julgamento dos Embargos de Declaração opostos pela Procuradoria da Fazenda Nacional, no Recurso Extraordinário nº 574.706-PR, pleiteando não apenas a reforma da decisão ali tomada, como também, em caráter subsidiário, a modulação dos seus efeitos no tempo.

Segundo esse pleito, o objetivo é que a exclusão do ICMS das bases de cálculo da contribuição ao PIS e da Cofins surta efeitos erga omnes somente a partir da data em que vierem a ser julgados os tais embargos.

Embora o pedido soe absurdo e tenha sido criticado durante o julgamento do Recurso Extraordinário nº 574.706-PR, esse tipo de modulação já foi realizada. Ademais, no início de junho, o Ministério Público Federal apresentou opinião favorável à modulação, justificando para tanto que:

“... a visão tomada pela Suprema Corte, formada em sede de repercussão geral e, portanto, com eficácia vinculante e efeitos ultra partes, produz importante modificação no sistema tributário brasileiro, alcança um grande número de transações fiscais e pode acarretar o pagamento de restituições que implicarão vultosos dispêndios pelo Poder Público.

Todos esses riscos, somados à atual e notória crise econômica por que passa o país e à necessidade de dar-se primazia ao equilíbrio orçamentário financeiro do Estado, impõem a cautela de proceder-se à modulação dos efeitos da decisão embargada, de modo que o cumprimento do aresto não detenha efeitos retroativos, mas eficácia póstera.”

Todo o cuidado e toda a atenção são recomendados, em especial nas ações individuais ainda não transitadas em julgado, mas que, como alertamos em nosso boletim anterior, podem e devem ter os seus julgamentos mantidos e realizados nos termos do precedente já estabelecido, na medida em que não há nenhum impedimento legal para o seu processamento regular.

José Luis Ribeiro [email protected]

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Ações populares para anulação de decisões de tribunais administrativos fiscaisA ação popular encontra-se prevista no artigo 5º, inc. LXXIII, da Constituição Federal, que legitima qualquer cidadão a ajuizá-la para “anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural”. A ação popular, portanto, pode ser ajuizada somente por pessoa física (súmula nº 365/STF).

O seu regime legal é ditado pela Lei nº 4.717/65, que dá à expressão “patrimônio público” uma acepção extremamente elástica, englobando os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico.

O objeto envolvido nesse tipo de processo, portanto, é mais específico, de modo que não há relação de fungibilidade entre a ação popular e o mandado de segurança coletivo (súmula nº 101/STF). Com efeito, “o objeto mediado da ação popular é sempre o patrimônio das entidades públicas, o que não se confunde com o patrimônio público em geral, no qual estão encartados os interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos de caráter tributário” (Recurso Especial nº 776.857-RJ. 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, j. em 16.12.2008). É por isso, ainda, que nesse mesmo precedente o Superior Tribunal de Justiça afirma que a ação popular não pode “veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias” cujos interessados possam ser individualmente determinados.

Nem a ação popular pode ser empregada como sucedâneo de ação direta de inconstitucionalidade, nem esta pode ser utilizada no lugar daquela (Ação direta de inconstitucionalidade nº 769-6-MA. Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, j. em 22.4.1993; e Agravo Regimental na Ação Originária nº 1.725-DF. 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, j. em 24.2.2015).

Pode ser utilizada, na prática: (i) tanto para defender a incidência e a cobrança de um tributo – tal como se daria no caso de um cidadão questionar a validade de um benefício fiscal concedido a determinada categoria de sujeitos passivos, entendendo-o ilegal ou inconstitucional e, por conta disso, lesivo ao patrimônio público; quanto (ii) para afastar o ônus fiscal, o que ocorreria na hipótese de ação popular ajuizada contra a tributação indevida de uma entidade imune, por exemplo.

Não cabe, todavia, para a anulação de decisões finais em processos administrativos de revisão do lançamento, sob a argumentação genérica de que a composição paritária do órgão de julgamento atentaria contra a moralidade administrativa e, como resultado, o cancelamento de autuações nesse tipo de tribunal seria lesivo ao patrimônio público.

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo teve a oportunidade de examinar essa questão, no início de 2019 (Apelação / Remessa Necessária nº 1034056-58.2015.26.0053. 3ª Câmara de Direito Público, Rel. Des. Encinas Manfré, j. em 28.5.2019), tendo concluído a favor da manutenção de decisões do Tribunal de Impostos e Taxas do Estado de São Paulo.

Algumas ações similares forma ajuizadas contra julgamentos do CARF, no ano de 2012, tendo sido igualmente malsucedidas1.

José Luis Ribeiro [email protected]

1. Vide ações judiciais nºs 0061322-21.2012.4.01.3400, 0039451-32.2012.4.01.3400, 0040422-17.2012.4.01.3400, 0044103-92.2012.4.01.3400, 0051726-13.2012.4.01.3400, 0052068-24.2012.4.01.3400, 0056772-80.2012.4.01.3400, 0057190-18.2012.4.01.3400, 0057288-03.2012.4.01.3400 e 0058380-16.2012.4.01.3400, to-das perante a Justiça Federal do Distrito Federal.

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Sociedade em Conta de Participação (SCP) e a sua utilidade na realização de empreendimentos imobiliáriosEm fevereiro, por meio da Solução de Consulta nº 56, a Cosit apresentou um interessante resumo da utilidade e do uso das Sociedades em Conta de Participação (SCP), reguladas pelo artigo 991 e seguintes, do Código Civil, como instrumento de captação de recursos e organização de empreendimentos imobiliários envolvendo diferentes investidores.

No caso concreto analisado na consulta, uma pessoa jurídica formalmente constituída, com o propósito específico de realizar um determinado empreendimento imobiliário, celebrou contrato de SCP com terceiros, que houveram por bem investir recursos no empreendimento, com o objetivo de, em momento oportuno, receberem dividendos e unidades imobiliárias em devolução do capital aplicado.

Confirmou-se que, uma vez equiparada à pessoa jurídica pela legislação relativa aos tributos federais sobre a renda e o faturamento (vide Ato Declaratório Interpretativo no 14/2002), a SCP pode aderir ao regime especial de tributação (RET), instituído pela Lei no 10.931/2004, segundo o qual realiza o pagamento consolidado de IRPJ, CSLL, contribuição ao PIS e Cofins mediante a aplicação da alíquota fixa global de 4% (quatro por cento) sobre a receita mensal apurada.

Uma vez apurado e assim tributado o lucro da SCP, os seus sócios ostensivo e participantes podem receber dividendos isentos de tributação, inclusive de maneira desproporcional, se assim permitir o contrato entre eles celebrado, conforme dispõe o artigo 1.007, do Código Civil.

Alerta-se, no entanto, para o fato de que a distribuição desproporcional não poderá ter o propósito de dissimular e ocultar a prestação de serviços pelos sócios à SCP, o que vem sendo encarado pelo Fisco Federal (Solução de Consulta Cosit no 142/2018) como uma hipótese em que o sócio apuraria uma receita tributária, o que deve ser analisado em confronto com o entendimento do CARF manifestado no acórdão no 1401-002.823 (Rel. Cons. Daniel Ribeiro Silva, j. em 14.8.2018)2.

Finalmente, os sócios poderão receber devolução de capital na forma de entrega de ativos, inclusive de unidades autônomas construídas, situação em que poderá haver apuração de ganho de capital, caso a devolução ocorra a valor de mercado, conforme artigo 22, § 1º, da Lei no 9.249/1995.

José Luis Ribeiro [email protected]

2. A respeito da distribuição desproporcional de dividendos, em que se discutiu a possível dissimulação de pagamentos de outra natureza, vale também a leitura, dentre outros, dos seguintes acórdãos do CARF: 2402-006.980, Rel. Cons. Luís Henrique Dias Lima, j. em 13.2.2019; 2401-005.677, Rel. Cons. Rayd Santana Fer-reira, j. em 7.8.2018; 2301-005.705, Rel. Cons. Marcelo Freitas de Souza Costa, j. em 04/10/2018; e 2301-004.133, Rel. Cons. Mauro José Silva, j. em 10.9.2014.

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Exclusão do ICMS da base de cálculo da CPRB – Jurisprudência do STJEm abril deste ano, a 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial nº 1.624.297/RS, afetado pelo rito dos recursos repetitivos (tema nº 994), fixou a tese de que “os valores de ICMS não integram a base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB), instituída pela Medida Provisória 540/2011, convertida na Lei 12.546/2011”.

A Fazenda Nacional sempre se posicionou de forma contrária, no sentido de que o ICMS deveria compor a base de cálculo da CPRB, utilizando, para isso, as justificativas de que: (i) se o valor do ICMS integra o preço, deveria compor a receita bruta; (ii) a Lei nº 12.546/11 exclui da base de cálculo o montante do ICMS apenas nas hipóteses nas quais o vendedor dos bens ou prestador de serviços seja substituto tributário; e (iii) seria irrelevante o fato de o tributo recolhido pelos contribuintes ser destinado aos cofres públicos dos Estados e do Distrito Federal.

Todavia, como bem rememorado no voto da Relatora, Ministra Regina Helena Costa, a questão jurídica guarda semelhança axiológica com a tese firmada pelo STF no Recurso Extraordinário nº 574.706/PR, concluindo que: “O ICMS não compõe a base de cálculo para incidência do PIS e da Cofins” (tema nº 69).

Na oportunidade, a Ministra ressaltou que a acepção de receita se atrela ao requisito da definitividade, pontuando, ainda, o voto proferido pelo Ministro Marco Aurélio naquele Recurso Extraordinário, que exarou o entendimento de que “o contribuinte não fatura e não tem, como receita bruta, tributo, ou seja, o ICMS”.

Em resumo, o Tribunal Superior entendeu que o ICMS não é receita própria, visto que as empresas exercem uma substituição no papel de arrecadadora do tributo. Assim, por se tratar de um ônus fiscal e não receita, o imposto estadual não pode compor a base de cálculo da CPRB.

Ressaltamos que a matéria ainda não resta pacificada no STF, que a apreciará no Recurso Extraordinário nº 1.187.264-SP, sob o rito da repercussão geral. Apesar disso, tudo leva a crer que seja aí utilizado o mesmo raciocínio adotado no julgamento do Recurso Extraordinário nº 574.706-PR.

De todo modo, deve ser levado em consideração que o precedente exarado pelo STJ é de extrema relevância para os contribuintes, visto que, por se tratar de julgamento realizado sob o rito dos recursos repetitivos, conforme preconiza o artigo 1.036, do Código de Processo Civil, deverá ser observado por todos os demais Tribunais Federais do Brasil.

Katia Soriano de Oliveira [email protected]

Thiago [email protected]

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Não incidência de contribuições previdenciárias sobre o hiring bonus

De forma inédita, a Câmara Superior de Recursos Fiscais do CARF afastou a incidência das contribuições previdenciárias sobre o hiring bonus, por compreender que este valor não representa um pagamento em retribuição ao trabalho. Em casos anteriores3, o entendimento desfavorável aos contribuintes havia sido definido por voto de qualidade.

No julgamento de 27.2.2019, a 2ª Turma do CSRF compreendeu que os valores pagos a esse título – uma espécie de pagamento adicional para incentivar a atração de novos talentos – têm caráter incondicional, sem vinculação a qualquer contraprestação decorrente de trabalho. Em razão disso, os hiring bonus não ingressam no conceito de “demais rendimentos do trabalho”, contido no artigo 195, inc. I, alínea “a”, da Constituição Federal, e, portanto, estão fora do campo de incidência das referidas contribuições.

Segundo a Relatora do caso, Conselheira Maria Helena Cotta Cardozo, a fiscalização não conseguiu comprovar a existência de alguma contraprestação ao valor pago ao empregado a título de bônus de contratação, impossibilitando, assim, a conclusão de que essas verbas ingressariam no salário de contribuição.

Entendeu-se, dessa forma, que a existência de caráter comutativo e sinalagmático (i.e., prestações recíprocas e uma relação bilateral) são requisitos essenciais para o enquadramento da verba como remuneração sujeita à incidência das contribuições previdenciárias.

Esse tipo de conclusão, no entanto, ainda não é unânime no CARF, sendo este um importante precedente para pacificar a questão ainda no âmbito administrativo.

Edward Shindy [email protected]

3. Acórdãos 9202-004.308, j. 21.07.2016, e 9202-005.156, j. 21/01/2017.

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“Pejotização” e contribuição previdenciária (caso Globo)Em fevereiro de 2019, a 2ª Turma, da 4ª Câmara, da 2ª Seção o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), por voto de desempate, decidiu que seria devida a contribuição previdenciária, pela Globo Comunicação e Participações S/A, sobre valores pagos a pessoas jurídicas que, no entender da fiscalização, ocultariam a prestação de serviços com vínculo empregatício por atores, jornalistas e artistas.

No entender da Turma julgadora, nem a realidade fática examinada, tampouco a regra do artigo 129, da Lei nº 11.196/2005, autorizariam a contratação de empregados “pejotizados”, em prejuízo à arrecadação da contribuição previdenciária sobre folha de salários.

A decisão também discutiu a competência ou não da fiscalização tributária em reconhecer a existência do vínculo empregatício, sem a necessidade de intervenção da Justiça do Trabalho. E, nesse particular, reconheceu-se tal competência, com base na norma do artigo 33, da Lei n° 8.212/1991, e no precedente do Superior Tribunal de Justiça, no Recurso Especial nº 575.086-PR (2ª Turma, Rel. Min. Castro Meira, j. em 21.3.2006).

Assim, afirmando que a contratação das pessoas jurídicas seria simulada, o acórdão nº 2402-006.976 resolveu que haveria, no caso concreto, os elementos da pessoalidade, não-eventualidade, subordinação e onerosidade, essenciais à caracterização do vínculo empregatício.

Destaque-se que, por se tratar de autuação relativa a fatos geradores ocorridos no ano de 2010, não se discutiu no julgamento a previsão legal, inserida no Código Civil somente em 2011, para a constituição de empresas individuais de responsabilidade limitada (EIRELI), cujo objeto social pode compreender a prestação de serviços de qualquer natureza, incluindo a cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o seu titular, vinculados à sua atividade profissional.

Com efeito, a criação da EIRELI demonstra, em conjunto com a norma do artigo 129, da Lei nº 11.196/2005, e com as regras da Lei nº 13.467/2017, alterando a Lei nº 6.019/74, que a contratação de pessoas jurídicas para a prestação de serviços, inclusive personalíssimos, é possível e legítima, devendo surtir os devidos efeitos, sob o ponto de vista da não incidência previdenciária, desde que, evidentemente, não se trate de contratação simulada.

De todo o modo, destaque-se que a decisão aqui analisada ainda não transitou em julgado na esfera administrativa, valendo acompanhar os próximos eventos desse processo, por se tratar de importante precedente sobre a matéria.

Anita dos Santos [email protected]

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Direitos de imagem e de arenaNo início de 2019, segundo noticiado, a 2ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF) deu provimento, por voto de qualidade, ao recurso especial da Fazenda Nacional no processo administrativo nº 11080.728104/2011-17, concluindo que: (i) os valores pagos aos atletas diretamente pelo clube como direito de arena têm natureza remuneratória; e (ii) o direito de imagem, em regra, tem natureza civil, não se confundindo com o direito de arena, mas, quando a fonte pagadora não os distingue ou não consegue provar a utilização e/ou proveito de fato da imagem do atleta, este perde a sua natureza civil para ser juridicamente requalificado como verba remuneratória, sobre ele incidindo a contribuição previdenciária sobre folha de salários.

O artigo 42, da Lei nº 9.615/1998, conhecida como “Lei Pelé”, define o direito de arena como a prerrogativa exclusiva das entidades desportivas de negociar, autorizar ou proibir a transmissão ou a reprodução de imagens dos eventos esportivos.

Em sua redação original, o § 1º do artigo 42 estabelecia que 20% (vinte por cento) do valor total arrecadado pela entidade desportiva, com a transmissão ou reprodução das imagens do evento, deveriam ser repassados aos atletas profissionais participantes.

Enquanto vigente tal dispositivo, havia o entendimento consolidado na doutrina e na jurisprudência de que os valores do direito de arena, repassados pelas entidades desportivas aos seus atletas, tinham natureza remuneratória, visto que a cessão de uso da imagem dos atletas aos clubes, em espetáculos ou eventos esportivos, era inerente ao contrato de trabalho.

A controvérsia surgiu com a entrada em vigor da Lei nº 12.395/2011, que trouxe várias alterações à lei em comento, modificando o § 1º do artigo 42, para ali prever de forma expressa que são de natureza civil os direitos de arena recebidos pelos atletas:

“Art. 42 - Pertence às entidades de prática desportiva o direito de arena, consistente na prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou processo, de espetáculo desportivo de que participem.

§ 1º Salvo convenção coletiva de trabalho em contrário, 5% (cinco por cento) da receita proveniente da exploração de direitos desportivos audiovisuais serão repassados aos sindicatos de atletas profissionais, e estes distribuirão, em partes iguais, aos atletas profissionais participantes do espetáculo, como parcela de natureza civil.”

No julgamento da CSRF, pelo que se tem notícia, a 2ª Turma entendeu que essa nova redação não alcançaria os eventos ocorridos antes da sua entrada em vigor, em razão do princípio da irretroatividade da lei tributária, e ainda por óbice do disposto no artigo 144, do Código Tributário Nacional, que estabelece que o lançamento se reporta à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e se rege pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada.

Dessa maneira, teria concluído que os pagamentos de direito de arena ocorridos até 17.3.2011, data da entrada em vigor da Lei 12.395/2011, possuiriam natureza remuneratória e deveriam ser tributados pela contribuição previdenciária, enquanto os pagamentos realizados após a alteração da lei, ao sindicato correspondente com posterior repasse aos atletas participantes, teriam natureza civil por expressa previsão legal, ressalvando-se que, se a entidade pagar direito de arena diretamente ao atleta, retomaria a sua natureza remuneratória e sofreria a incidência da contribuição.

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Com relação aos pagamentos do direito de imagem, não haveria dúvida de que sua natureza é civil, sem prejuízo de, a depender da situação concreta, haver elementos que levem à conclusão de simulação no pagamento desse tipo de verba, com o objetivo de reduzir a base de incidência da contribuição previdenciária.

Vale acompanhar e verificar, no momento oportuno da formalização do acórdão, eventuais detalhes adicionais para elucidar o tratamento tributário das verbas pagas nesse tipo de relação contratual.

Anita dos Santos [email protected]

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Contribuição previdenciária sobre as férias pagas a trabalhador intermitente- Solução de Consulta Cosit nº 17/2019A Lei nº 13.467, de 13.7.2017, comumente referida como “Reforma Trabalhista”, trouxe consigo mudanças e também novidades para a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), dentre as quais o chamado contrato de trabalho intermitente, regulamentado pelo artigo 452-A, que garante ao empregado, ao final de cada período de prestação de serviço, o direito de receber o pagamento imediato de remuneração, férias proporcionais acrescidas de um terço, décimo terceiro salário proporcional, repouso semanal remunerado e adicionais legais.

Passados quase dois anos da entrada em vigor da dita “Reforma”, muitas ainda são as dúvidas existentes acerca da nova modalidade de contratação, dentre elas a incidência ou não de contribuição previdenciária sobre férias pagas no término de cada período de serviço prestado.

De acordo com o § 8º do artigo 452-A, “o empregador efetuará o recolhimento da contribuição previdenciária e o depósito do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, na forma da lei, com base nos valores pagos no período mensal e fornecerá ao empregado comprovante do cumprimento dessas obrigações”.

Segundo a Instrução Normativa nº 1.867/2019, da Secretaria da Receita Federal do Brasil, o trabalhador intermitente é segurado obrigatório da Previdência. Ademais, nesse tipo de contratação, o fato gerador da contribuição previdenciária incidente sobre a parcela relativa ao décimo terceiro proporcional e férias proporcionais ocorrerá mensalmente, quando essas parcelas forem pagas, devidas ou creditadas.

Embora haja a previsão legal de recolhimento da contribuição previdenciária sobre os valores pagos ao trabalhador intermitente, inclusive férias, a questão suscitou dúvidas e foi objeto de consulta à RFB, respondida na Solução de Consulta Cosit nº 17/2019.

Nos contratos de trabalho intermitente, como o empregado recebe as férias antecipadamente, ao final de cada período trabalhado, questionou-se qual seria a natureza do montante recebido a esse título, uma vez que, se caracterizado como verba indenizatória, não estaria sujeito à incidência da contribuição previdenciária.

Na Solução de Consulta, então, entendeu-se que o pagamento das férias é vinculado ao seu próprio gozo e fruição, nos termos do § 9º, do artigo 452-A, da CLT. Em virtude dessa vinculação, a natureza da remuneração das férias seria retributiva dos serviços prestados ou postos à disposição do empregador, integrando assim o salário de contribuição do segurado empregado. Portanto, sobre a rubrica incidiriam todas as contribuições sociais previdenciárias de que trata a Lei nº 8.212/1991.

A solução não enfrentou, porém, como se deve tratar o pagamento da contribuição previdenciária paga ao trabalhador que se desliga ou é desligado antes da fruição das férias, o que foi objeto de questionamento pelo consulente.

Pelas mesmas premissas adotadas, se as férias acabaram não sendo gozadas, seria o caso de transmutação da natureza da verba de retributiva para indenizatória, a justificar a recuperação das contribuições indevidamente recolhidas.

Não por acaso, nesse ponto particular, a consulta foi declarada ineficaz.

Anna Lydia [email protected]

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IRPJ - Isenção de serviços de consultoria prestados por sindicato patronalCom a publicação do Decreto nº 9.580/2018 (RIR/2018), foi retirada a menção aos sindicatos na seção “Das Isenções”, existente no revogado Regulamento do Imposto sobre a de Renda de 1999 (Decreto nº 3.000), permanecendo apenas as associações e fundações (artigos 184 a 195).

Assim, através da Solução de Consulta Cosit nº 39/2019, a Secretaria da Receita Federal do Brasil reafirmou o seu entendimento sobre a isenção do IRPJ e da CSLL sobre as receitas auferidas nos serviços de consultoria prestados pelas entidades previstas no artigo 15, da Lei nº 9.532/1997, e no artigo 184, do RIR/2018, mencionando como fundamentos, ainda, as Soluções de Consulta Cosit nºs 70/2017 e 171/2015.

No seu entender, desde que cumpridas as exigências dos artigos 12 e 15, da Lei nº 9.532/1997, e dos artigos 181 e 184, do RIR/2018, permanecem isentas as receitas auferidas nos serviços de consultoria prestados pelos sindicatos patronais, considerando que: (i) a atividade seja realizada tanto para associados como para não associados, sem extrapolar os limites de seus objetivos sociais; (ii) não se apure superávit em suas contas e, se apurado, observe os requisitos legais para a manutenção da isenção; e, por fim, (iii) não seja caracterizada concorrência com outras pessoas jurídicas que não possuem a referida isenção.

Na mesma Solução de Consulta, afastou-se a aplicação da isenção da Cofins prevista no artigo 14, inc. X, da Medida Provisória nº 2.158-35/2011, na medida em que os serviços de consultoria não se enquadrariam na definição de “atividade própria” do artigo 47, § 2º, da Instrução Normativa SRF nº 247/2002, que se refere apenas às “doações, anuidades ou mensalidades fixadas por lei, assembleia ou estatuto, recebidas de associados ou mantenedores, sem caráter contraprestacional direto, destinadas ao seu custeio e ao desenvolvimento dos seus objetivos sociais”.

Lembrando-se que, conforme o artigo 150, inc. VI, alínea “c”, da Constituição Federal, apenas as entidades sindicais dos trabalhadores são imunes, as isenções previstas para os sindicatos patronais estariam sujeitas à interpretação estrita do artigo 111, inc. II, do Código Tributário Nacional.

É questionável, todavia, que se possa submeter as duas isenções referidas acima: (i) a requisitos incertos e abertos tais como a verificação da existência ou não de concorrência com outras pessoas jurídicas; e (ii) a uma definição de “atividade própria” dada por norma infralegal e de caráter bastante restritivo.

Ana Sayuri [email protected]

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IRPJ - Subvenção para investimento e créditos de ICMSEm novembro de 2017, no julgamento dos Embargos de Declaração em Recurso Especial nº 1.517.492-PR, a 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento (muito embora fora da sistemática do artigo 1.036, do Código de Processo Civil) de que créditos presumidos de ICMS concedidos a título de incentivo fiscal não podem ser tributados pelo IRPJ e pela CSLL.

Nesse julgamento, ao invés de adentrar à discussão em torno da qualificação do crédito presumido como subvenção para custeio, subvenção para investimento ou recuperação de custos, o STJ simplesmente declarou que a sua tributação pela União, mediante a imposição do IRPJ e da CSLL, seria inválida.

E isto porque, a seu ver, a imposição desses tributos federais interferiria na política fiscal adotada pelo Estado-Membro, mediante a criação do benefício relativo ao ICMS, ofendendo o princípio federativo e a segurança jurídica, podendo levar “ao esvaziamento ou redução do incentivo fiscal legitimamente outorgado pelo ente federativo, em especial porque fundamentado exclusivamente em atos infralegais, consubstanciados na Soluções de Consulta da Superintendência Regional da Receita Federal da 6ª Região Fiscal ns. 144/2008 e 10/2007, e no Parecer Normativo CST n. 112/1978, consoante declinado pela própria autoridade coatora nas informações prestadas” (grifos do original).

Com base nessa premissa, o mesmo STJ passou a reiteradamente repetir a irrelevância da classificação do crédito presumido de ICMS, inclusive após a vigência da Lei Complementar nº 160/2017, cujo 9º, ao alterar o artigo 30, da Lei nº 12.973/2014, passou a estabelecer, no seu § 4º, que os incentivos e os benefícios fiscais ou financeiro-fiscais relativos ao imposto estadual “são considerados subvenções para investimento”.

À luz de jurisprudência tão clara, assim como do próprio texto do artigo 30, a Câmara Superior de Recursos Fiscais do CARF, no acórdão nº 9101-004.108, em abril de 2019, afastou a cobrança do IRPJ, da CSLL, da contribuição ao PIS e da Cofins sobre benefício fiscal do ICMS usufruído pelo contribuinte.

Alertou, porém, que a não tributação do crédito presumido do ICMS dependeria do atendimento a “outros requisitos ou condições” previstos no próprio artigo 30, conforme ressalva da parte final do seu § 4º. E que tais requisitos seriam, nos termos do caput do artigo 30: (i) a intenção do Estado em estimular a implantação e a expansão de empreendimentos; e (ii) o registro do crédito, pelo contribuinte, em conta de reserva de lucros.

Em relação a benefícios fiscais do ICMS concedidos em desconformidade com o artigo 155, § 2º, inc. XII, alínea “g”, da Constituição Federal, a não incidência daqueles tributos federais dependeria, ainda, da respectiva convalidação nos termos do artigo 3º, da Lei Complementar nº 160/2017, regulado pelo Convênio ICMS nº 190/2017.

José Luis Ribeiro [email protected]

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IRPJ – Lucro real – Dedução de saldo credor de ICMS-exportação como custo - Solução de Consulta Cosit nº 111/2019Em 29.3.2019, a Secretaria da Receita Federal do Brasil publicou a Solução de Consulta nº 111, afirmando inexistir previsão legal que autorize a inclusão dos créditos de ICMS decorrentes da aquisição de matérias-primas e demais insumos utilizados no processo produtivo de mercadorias a serem exportadas com imunidade, nos custos de produção dos bens vendidos, para fins de composição das bases de cálculo do IRPJ e CSLL dentro do regime do Lucro Real.

Diante da impossibilidade operacional de compensação/recuperação do crédito de ICMS acumulado, a consulente buscava que não lhe fosse aplicada a norma do § 3º do artigo 301 do RIR/2018 (“Os impostos recuperáveis por meio de créditos na escrita fiscal não integram o custo de aquisição”), sob a alegação de que, na qualidade de empresa eminentemente exportadora, não lhe seria possível “consumir” os créditos de ICMS.

No entanto, o entendimento da Receita Federal foi de que, mesmo diante da situação fática de impossibilidade de recuperação do ICMS, a ausência de previsão legal neste sentido impediria a aplicação do entendimento do consulente e a consequente redução das bases de cálculo do IRPJ e CSLL dentro do regime do lucro real, mediante a integração dos supostos créditos como custo no processo produtivo de mercadorias destinadas à exportação.

Salvo melhor juízo, parece-nos que aqui o Fisco Federal está aplicando uma interpretação literal da legislação tributária afastada da realidade econômica, posição que normalmente combate quando autua contribuintes sob acusação de planejamentos tributários que considera abusivos.

Vinicius Araujo [email protected]

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IRPJ - Termo inicial para amortização linear do ágio - Solução de Consulta Cosit nº 223/2019A Receita Federal, através da Solução de Consulta Cosit nº 223, de 26 de junho de 2019, tratou do termo inicial para amortização do ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill), nos termos do artigo 22, caput, da Lei nº 12.973/2014.

Segundo o disposto na SC 223/2019, a pessoa jurídica que realizar operação societária de incorporação, fusão ou cisão, e absorver o patrimônio de outra, deve, “no primeiro período de apuração após a operação”, iniciar a amortização do ágio da base de cálculo do IRPJ e da CSLL, definindo a razão a ser utilizada – desde que não superior a 1/60 (um sessenta avos) -, e aplicá-la de modo ininterrupto e linear, não podendo ser modificada posteriormente.

Esse entendimento da RFB foi tomado a partir da interpretação literal dos artigos 7º da Lei nº 9.532/1997 e 22 da Lei nº 12.973/2014, que trazem tanto a expressão “nos balanços [...] levantados posteriormente” quanto “dos períodos de apuração subsequentes”, de modo que o entendimento externado na SC 223/2019 foi no sentido de que a amortização deve ocorrer imediatamente após o evento societário, e aplicada em todos os balanços / períodos de apuração.

Cabe ressaltar a expressão “no primeiro período de apuração após a operação”, o que, numa perspectiva literal e conservadora, força a conclusão de que dentro de uma apuração de lucro real anual, o início da amortização poderá ser postergado por alguns meses a depender da data da operação de reestruturação societária.

Seguindo a mesma interpretação literal, também foi vedada a interrupção ou paralização da amortização, devendo a fração escolhida (desde que não superior a 1/60) no momento da incorporação ser respeitada até que não haja mais saldo de ágio a ser utilizado. Como pano de fundo dessa posição das autoridades fiscais, temos a vedação à manipulação de bases tributáveis, em especial diante da limitação de compensação de prejuízos fiscais acumulados à razão de 30% dos lucros auferidos nos períodos subsequentes.

Cristiano Frederico [email protected]

Edward Shindy [email protected]

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PIS e Cofins – Algumas discussões sobre creditamentoEm nosso boletim anterior, tratamos de algumas repercussões derivadas do julgamento do caso Anhambi (Recurso Especial no 1.221.170-PR), pelo Superior Tribunal de Justiça, dentre elas a edição do próprio Parecer Normativo Cosit nº 5/2018.

Desde então, algumas questões interessantes vêm se apresentando a respeito da não-cumulatividade da contribuição ao PIS e da Cofins, valendo aqui tecer breves comentários para reflexão.

A primeira delas diz respeito à contribuição do caso Anhambi para o amadurecimento da jurisprudência relativa à possibilidade de creditamento do PIS e da Cofins relativo a despesas com o pagamento de IPTU e de despesas condominiais, seja por pessoas jurídicas que tenham esse tipo de gasto atrelado ao aluguel de prédios utilizados em suas atividades (artigo 3º, inc. IV, das Leis nºs 10.637/2002 e 10.833/2003), seja por aqueles para quem essas despesas têm a natureza de insumos para a prestação de serviços (artigo 3º, inc. II).

Nesse sentido, vale a referência aos acórdãos do CARF nºs 3301-003.874 (Rel. Cons. Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, j. em 28.7.2017) e 3301-004.483 (Rel. Cons. Semiramis de Oliveira Duro, j. em 22.3.2018).

Também vale comentar a orientação firmada pela própria Secretaria da Receita Federal do Brasil, na Solução de Divergência Cosit nº 1/2019, reconhecendo o direito das sociedades cooperativas aos créditos de PIS e Cofins advindos de insumos relacionados com receitas excluídas de tributação, a exemplo do que ocorre com as receitas de vendas de mercadorias a cooperados ou de receitas oriundas de beneficiamento, armazenamento e industrialização de produtos dos associados.

Apesar disso, ressalvou a Cosit que os créditos assim gerados e eventualmente acumulados na sociedade cooperativa não poderiam ser compensados com outros tributos federais, tampouco ressarcidos, na medida em que a exclusão daquelas receitas não se enquadraria em nenhuma das modalidades (suspensão, isenção, alíquota zero ou não-incidência) mencionadas no artigo 17, da Lei nº 11.033/2004.

A bem da verdade, no entendimento que já havia sido manifestado na Solução de Consulta Cosit nº 383/2017, as exclusões consolidadas no artigo 11, da Instrução Normativa nº 635/2006, não seriam hipóteses de não-incidência propriamente dita da contribuição ao PIS e da Cofins, mas meras regras didáticas que identificam receitas que sequer seriam de titularidade da sociedade cooperativa, mas sim dos seus cooperados.

Outro tema digno de nota é a orientação firmada na Solução de Consulta Cosit no 63/2019, que reconheceu como válido o creditamento de PIS e Cofins com despesas de conexão de acesso à internet incorridos por pessoa jurídica dedicada a operação 100% digital (no caso, serviços de fotografia digital). No entanto, não considerou como insumo para essa operação as despesas incorridas com serviços de pagamento online, negando o crédito correspondente.

Também vale mencionar a Solução de Consulta Cosit nº 228/2019, que reconheceu o direito de crédito a empresas de transporte de cargas, relativamente às suas despesas com rastreamento de cargas e veículos, assim como sobre despesas com vale-pedágio.

José Luis Ribeiro [email protected]

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IPI – Compra de embalagens por produtor rural pessoa física - Solução de Consulta Cosit nº 140/2019Na solução aqui comentada, a Secretaria da Receita Federa do Brasil concluiu que as aquisições de materiais de embalagem, realizadas por produtores rurais pessoas físicas, a serem utilizados no acondicionamento de produtos hortícolas para sua adequada apresentação ao mercado de consumo, não fariam jus à suspensão do IPI prevista no artigo 29, da Lei nº 10.637/2002.

Afirmou que a aplicação da suspensão estaria condicionada à condição do adquirente / destinatário como “industrial” e como “empresa”, excluindo disso a pessoa física produtora rural.

A orientação é equivocada, por vários motivos.

Em primeiro lugar, porque o conceito de empresa abrange todo aquele que exerce profissionalmente atividade econômica para a produção ou circulação de bens ou de serviços, conforme artigo 966, do Código Civil.

Ademais, o artigo 29, no seu caput, não exige que o adquirente da matéria-prima, do produto intermediário ou do material de embalagem com suspensão do IPI seja contribuinte desse imposto. Muito pelo contrário, lista mercadorias que, em grande parte, são produzidas fora do segmento industrial, justamente porque a suspensão criada pela Lei nº 10.637/2002 teve o propósito de desonerar o setor agrícola.

Ademais, o próprio caput refere-se ao uso dos insumos com suspensão do IPI para a elaboração dos produtos ali listados, “inclusive aqueles a que correspondente a notação NT (não tributados)”. Ou seja, não exige que o adquirente realize industrialização

Basta a leitura dos parágrafos e incisos do artigo 29 para se confirmar que, quando necessário, a caracterização como industrial é exigida expressamente ao se referir ao fabricante dos insumos beneficiados com a suspensão (caput) ou para se regular o benefício do § 1º, inc. I, que se aplica especificamente às indústrias automotiva, aeronáutica e de informática.

Se a questão vier a ser levada ao Judiciário, espera-se que aí se opere uma análise mais detida e correta da norma do artigo 29, da Lei nº 10.637/2002.

José Luis Ribeiro [email protected]

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Conceito de industrialização – Impressão 3D – Solução de Consulta Cosit nº 97/2019Em interessante manifestação, a Secretaria da Receita Federal do Brasil afirmou que a atividade de impressão em 3D, dadas as suas características de permitir a produção de modelos tridimensionais físicos, utilizando materiais decompostos em camadas, configura operação de industrialização, na modalidade de transformação, podendo submeter o respectivo executor à incidência do IPI quando da saída do produto do seu estabelecimento.

No entanto, reconheceu que, quando essa mesma atividade for realizada por encomenda direta do consumidor ou usuário final, na residência do preparador ou em sua oficina, com preponderância do seu trabalho profissional, não haverá incidência do imposto federal, nos termos do artigo 5º, inc. V, c/c o artigo 7º, inc. II, alíneas “a” e “b”, do Regulamento do IPI (aprovado pelo Decreto nº 7.212/2010).

Tais dispositivos, de fato, excluem da incidência do IPI o preparo de produtos nessas circunstâncias. Mas vale tomar o cuidado para o fato de que apenas se poderá considerar: (i) como oficina, o estabelecimento que empregar, no máximo, cinco operários e, quando utilizar força motriz, não dispuser de potência superior a cinco quilowatts; e (ii) como trabalho preponderante do profissional, aquele que contribuir no preparo do produto, para a formação do seu valor, a título de mão de obra, com no mínimo sessenta por cento.

José Luis Ribeiro [email protected]

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Drawback - Juros de mora e descumprimento do regimeEm 26.2.2019, no julgamento do Recurso Especial nº 1.310.141-PR, a 1ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por maioria de votos, decidiu que a incidência de juros e multa de mora, na hipótese de descumprimento do compromisso de exportar no Drawback-Suspensão, somente se inicia no 31º (trigésimo primeiro dia) do vencimento do prazo do regime.

O Drawback, na modalidade suspensão, é um regime aduaneiro especial que permite a suspensão de tributos incidentes sobre insumos importados para utilização na industrialização de produto a ser exportado. O prazo de vigência é de 1 (um) ano, sendo o termo final para o cumprimento do compromisso de exportação.

Realizada a exportação, a suspensão tributária converte-se em isenção. Em contrapartida, configurado o inadimplemento do compromisso de exportador, a mercadoria fica sujeita à nova destinação, nos termos do artigo 390, do Regulamento Aduaneiro. Se destinada ao consumo, a legislação prevê que a destinação deve ocorrer no prazo de 30 (trinta) dias, com o pagamento dos tributos suspensos e dos acréscimos legais devidos.

No caso analisado pelo STJ, vencido o prazo do regime, o contribuinte destinou as mercadorias importadas ao mercado interno mediante o pagamento dos tributos correspondentes, mas sem os acréscimos legais decorrentes de mora, pois realizado dentro do prazo de 30 dias após o vencimento do regime.

No entanto, foi-lhe exigido o pagamento de multa e juros de mora como condição à baixa do Ato Concessório do regime no Siscomex, o que deu ensejo à impetração de mandado de segurança que deu origem ao caso.

Ao final, a ação foi julgada procedente e a sentença mantida, que declarou inexigíveis a multa e os juros moratórios cobrados pela Receita.

Inconformada, a Fazenda Nacional interpôs o recurso especial aduzindo que, concedida a suspensão sob condição resolutória futura e sendo descumprida essa condição, o crédito tributário suspenso deveria ser cobrado, sendo cabíveis os acréscimos moratórios diante do descumprimento da obrigação de exportar.

No julgamento o Relator, Ministro Napoleão Nunes de Maia Filho, esclareceu que “no drawback, o regulamento, primeiramente, estipula a suspensão da exigibilidade do tributo, não podendo cogitar-se de infração, por parte da contribuinte, durante o prazo da referida suspensão”.

Durante a vigência do regime, em que pese a ocorrência de fato gerador com o desembaraço aduaneiro, o tributo não é exigível já que, até o vencimento do prazo, a isenção condicionada impede a constituição do crédito tributário (lançamento). Logo, não havendo exigibilidade do pagamento do tributo, não há inadimplemento do contribuinte e, via de consequência, não há mora.

Assim, restou definido que o termo inicial para fins de exigência de multa e juros moratório será o trigésimo primeiro dia contado do inadimplemento do compromisso de exportar, ou seja, quando caracterizada a mora pelo escoamento do prazo legal.

A decisão é um importante precedente, na medida em que estabelece um critério claro que pode servir de referência aos importadores no cumprimento de obrigações referentes aos regimes aduaneiros especiais.

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No entanto, cabe destacar que o acórdão não foi proferido sob a égide dos recursos repetitivos e, portanto, não possui força vinculante.

Tatiana Caroline de [email protected]

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Exportação temporária para aperfeiçoamento ativo e combinação de regimes aduaneiros - Solução de Consulta Cosit nº 149/2019Em 7.5.2019, a Receita Federal editou solução de consulta esclarecendo parâmetros para a adoção do regime aduaneiro especial de exportação temporária para aperfeiçoamento passivo, combinada a uma importação comum.

No caso concreto, a consulente questionou quais os procedimentos que deveriam ser adotados no retorno de pás de um rotor de turbina hidráulica de usina hidroelétrica submetidas ao regime. Estariam envolvidas, na operação, duas modalidades de operação de comércio exterior:

• Reimportação: as pás, seriam (i) adquiridas de produtor nacional, (ii) enviadas ao exterior para usinagem, preparação sob regime de exportação temporária para aperfeiçoamento passivo e (iii) retornariam ao Brasil junto com o produto final; e

• Despacho para consumo: importação de um rotor completo adquirido de empresa estrangeira.

Tendo em vista a realização de duas modalidades de importação em um mesmo embarque, o consulente questionou à Receita Federal: (i) se a Declaração de Importação (DI) deve conter uma adição específica para as pás reimportadas ou não; (ii) na hipótese de adição única, se a DI deve conter as informações referentes à Exportação Temporária no campo “dados complementares”; e (iii) se a tributação dos serviços decorrentes da preparação e montagem deve ser feita na própria DI ou se os valores devem ser declarados no Sistema Integrado de Comércio Exterior de Serviços, Intangíveis e Outras Operações que Produzam Variações no Patrimônio (Siscoserv).

Ultrapassado o cabimento da consulta, restou definido que é possível a combinação de modalidades de importação (despacho para consumo e reimportação) e que o bem exportado temporariamente retorne ao Brasil incorporado a outro produto.

Ainda, que o cálculo dos tributos devidos na operação deverá considerar a classificação fiscal do produto final (rotor) e que no cálculo do valor aduaneiro do bem (“valor agregado”) “deve-se (sic) embutir todos os seus custos, inclusive os serviços eventualmente empregados e o valor aduaneiro das mercadorias objeto da exportação temporária”. Desse cálculo, deduz-se o montante dos tributos incidentes sobre o produto exportado temporariamente (pás), caso estivesse sendo importado do mesmo país em que se deu a operação de aperfeiçoamento.

Não obstante, a Receita considerou a consulta ineficaz com relação aos dois primeiros questionamentos, por se tratar de questão que não decorreria de interpretação da legislação, mas sim de aspectos procedimentais que devem ser questionados às seções de despacho aduaneiro das Alfândegas.

O terceiro questionamento foi analisado por se tratar de assunto relacionado à composição o valor aduaneiro na importação de produto decorrente da operação de aperfeiçoamento passivo.

Tatiana Caroline de [email protected]

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Exportação de commodities e identificação do destinatário no exteriorEm caso julgado em março de 2019, a 2ª Câmara, 1ª Turma Ordinária, da 3ª Seção de Julgamento do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, considerou como fato atípico – em comparação à hipótese sancionada pelo artigo 23, inc. V, c/c § 1º do Decreto-Lei nº 1.455/76 –, a exportação de commodity por empresa brasileira para uma filial sua em paraíso fiscal, que posteriormente a revendia a outro destinatário no exterior.

De acordo com a acusação fiscal, a exportação assim declarada não ocorreu de fato, tendo na verdade acobertado as vendas das mercadorias para trading companies que, por sua vez, teriam feito chegar as commodities aos destinatários finais. Ou seja:

O referido artigo 23 prevê pena de perdimento, por dano ao erário, às empresas estrangeiras ou nacionais que, na importação ou na exportação de mercadorias, ocultarem o sujeito passivo, o real vendedor, comprador ou responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição de terceiros.

No entender do CARF, consolidado no seu acórdão nº 3201-005.152, esses elementos não se encontravam presentes na situação acima, uma vez que:

- todos os “reais adquirentes” estariam devidamente informados em todas as obrigações acessórias, contabilidade, contratos e declarações prestadas por todos que participaram das operações;

- os “reais adquirentes” não foram ocultados, pois correspondiam às trading companies para as quais a filial do exportador vendeu as commodities no exterior;

- a filial da exportadora não é uma empresa “laranja” ou interposta de si mesma, mesmo que tivesse uma estrutura pequena, com endereço em uma PO box em paraíso fiscal, sem funcionários, sem imóvel ou aluguel e sem gastos com energia;

- um eventual abuso dessa estrutura poderia configurar alguma outra infração ou descumprimento de obrigação acessória, mas não a interposição fraudulenta de terceiros, na modalidade do artigo 23, inc. V, do Decreto-Lei nº 1.455/76;

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- além disso, haveria previsão legal (artigos 19, caput e § 9º, e 23, da Lei nº 9.430/96) para que as matrizes nacionais vendessem mercadorias para suas filiais estrangeiras, sem que isso represente qualquer tipo de irregularidade;

- no caso concreto, tratando-se de commodities, a exportação feita para a filial servia para cumprir com a necessidade de exportação imediata, em razão do mercado futuro e para evitar oscilações cambiais e de preços dos produtos;

- ademais, diferentemente do que ocorre no caso das importações, os registros de exportação não comportam campo para identificação dos “reais compradores”, não havendo exigência de indicação dos “clientes finais” ou do “cliente depois da empresa ligada no exterior”; e

- não se comprovou ocultação dolosa de interveniente na operação de comércio exterior, havendo apenas a organização de uma estrutura formal que possuía motivações próprias, ainda que com possíveis e eventuais ilícitos em outros âmbitos, o que não permitiria a aplicação da sanção do artigo 23, inc. V, do Decreto-Lei nº 1.455/76, por ausência de tipicidade da conduta.

Interessante acompanhar o caso, para verificar se a decisão prevalecerá ou não na esfera administrativa, podendo se concretizar como uma importante referência contra as inúmeras autuações relativas a acusações de interposição fraudulenta em operações de comércio exterior, algumas delas por vezes abusivas.

José Luis Ribeiro [email protected]

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Importação por encomenda - Soluções de Consulta Cosit nºs 129/2019, 156/2019 e 192/2019Seguindo a nova regulamentação da importação por conta e ordem e importação por encomenda, com a edição da IN RFB 1.861, em dezembro de 2018, a Receita Federal se posicionou em diversas ocasiões com relação à importação por encomenda.

Neste sentido, no primeiro semestre deste ano, foram editadas três Soluções de Consulta Cosit com relação à importação por encomenda, nºs 192/2019, 156/2019 e 129/2019.

As duas últimas soluções de consulta fazem referência à mesma situação fática: o importador por encomenda irá realizar (diretamente ou por meio de terceiros) operações de acondicionamento da mercadoria importada antes da revenda ao encomendante, questionando-se se isso descaracterizaria a importação por encomenda.

Seguindo a disposição expressa no artigo 3º, § 6º, da IN 1.861/2018, que determina que as operações de montagem, acondicionamento ou reacondicionamento realizadas pelo importador por encomenda não alteram a natureza da transação comercial, a Receita Federal concluiu que não há alteração da modalidade de importação.

Já o caso sob análise na SC 129/2019 merece maior destaque. No caso concreto, a consulente indicou que tem relação jurídica com ambas as empresas envolvidas na importação por encomenda: é controladora da encomendante e concede empréstimos à importadora por encomenda para viabilizar as importações contratadas por sua controlada.

O questionamento da consulente dizia respeito ao cumprimento de requisito essencial à operação: que o importador por encomenda tenha capacidade econômica para o pagamento da importação. Ou seja, se o fato de uma empresa vinculada à encomendante realizar contratos de empréstimo com a importadora por encomenda descaracterizaria a demonstração de sua capacidade econômica.

Neste ponto, a Receita Federal concluiu que a concessão de empréstimos ou financiamentos pela controladora da encomendante não influencia ou descaracteriza a importação por encomenda, tendo em vista que em decorrência do empréstimo o importador passa a deter a capacidade econômica para o pagamento das importações com recursos próprios e, assim, cumpre o requisito exigido para a regular importação por encomenda.

O entendimento foi, inclusive, reproduzido no site da Receita Federal, em espaço destinado à orientação aduaneira com relação à importação por encomenda4.

Tatiana Caroline de [email protected]

4. http://receita.economia.gov.br/orientacao/aduaneira/manuais/despacho-de-importacao/topicos-1/importacao-por-conta-e-ordem-e-importacao-por-encomenda-1/importacao-por-encomenda/cuidados-especiais

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Zona Franca de Manaus e créditos de IPIEm abril de 2019, finalmente, o Plenário do Supremo Tribunal Federal julgou os Recursos Extraordinários nºs 592.891-SP e 596.614-SP, estabelecendo a tese de que “há direito ao creditamento de IPI na entrada de insumos, matéria-prima e material de embalagem adquiridos junto à Zona Franca de Manaus sob o regime da isenção, considerada a previsão de incentivos regionais constante do art. 43, § 2º, III, da Constituição Federal, combinada com o comando do art. 40 do ADCT”.

Embora o acórdão não tenha sido publicado, a decisão tomada pelos Ministros do STF parece ser um desfecho à polêmica em torno do crédito de IPI em aquisições de matéria-prima, produtos intermediário e material de embalagens que foram beneficiados por algum tipo de desoneração fiscal, iniciada em 1998, com o julgamento do Recurso Extraordinário nº 212.484-RS (Rel. Min. Nelson Jobim, Pleno).

A partir desse precedente, o STF, num primeiro momento, adotou postura favorável aos contribuintes, declarando o direito ao crédito de IPI nas mais variadas situações, inclusive de tributação de insumos por alíquota de 0% (Recursos Extraordinários nºs 350.446-RS, 353.668-PR e 357.277-RS).

Em meados de 2007, no julgamento dos Recursos Extraordinários nº 370.682-SC e 353.657-PR, porém, o Supremo voltou atrás na sua orientação, sustentando que os princípios da não-cumulatividade e da seletividade não permitiriam que houvesse crédito de IPI sem a efetiva oneração sobre a operação anterior.

Do outro lado da não-cumulatividade, no que se refere à possibilidade de manutenção de créditos de IPI quando a operação posterior fosse desonerada, o Supremo acabou por estabelecer, igualmente, que aquele princípio constitucional não autorizaria o crédito. Mas ressalvou que isso poderia ser feito por legislação especial, como seria o caso, no seu entendimento, do artigo 11, da Lei nº 9.779/1999 (vide Recurso Extraordinário nº 566.819-RS).

Sem criar aparentes contradições com essas premissas, a notícia é que o Supremo Tribunal Federal assegurou o creditamento do IPI, no caso da Zona Franca de Manaus, precisamente porque, nesse caso, haveria normas especiais à não-cumulatividade do IPI, notadamente o artigo 43, § 2º, inc. III, da Constituição Federal, e o artigo 40, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

Vale aguardar a publicação dos acórdãos para verificar se, de fato, o desfecho a que se chegou manteve a coerência com as demais decisões sobre a matéria, que acima acabamos de relembrar.

Isadora Malheiros Aguirre [email protected]

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Reintegra e Zona Franca de ManausNo julgamento do Recurso Especial n° 1.679.681-SC, a 1ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, firmou o entendimento de que as receitas provenientes da venda de mercadorias destinadas à Zona Franca de Manaus (ZFM) devem ser equiparadas à exportação de produto brasileiro, fazendo jus ao benefício fiscal do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra).

Instituído pela Lei n° 12.546/2011, e atualmente previsto na Lei n° 13.043/2014, o Reintegra tem por objetivo a redução dos custos tributários residuais embutidos na cadeia de produção destinada à exportação, garantindo aos contribuintes o direito ao aproveitamento de créditos calculados sobre as suas receitas auferidas com a exportação.

A maioria dos Ministros integrantes da 1ª Turma seguiu o voto da Ministra Relatora Regina Helena Costa, para negar provimento ao Recurso Especial da União, prevalecendo o entendimento de que o artigo 4º, do Decreto-lei nº 288/1967, foi muito claro ao estabelecer que “equiparam a Zona Franca de Manaus à área fora do Brasil, para todos os efeitos fiscais”.

Em voto-vista, o Ministro Benedito Gonçalves acompanhou divergência anteriormente aberta pelo Ministro Gurgel de Faria, defendendo que o Decreto-lei nº 288/67 não se coadunaria com o objeto pretendido pelo legislador ao instituir o Reintegra, “porquanto as expressões ‘venda direta ao exterior’, ‘exportação para o exterior’ e ‘receita de exportação’, constantes nas Lei n. 12.546/2011, delimitam de forma específica o campo de alcance do regime especial do REINTEGRA. ”

A Fazenda Nacional não recorreu da decisão, certificando-se o trânsito em julgado no dia 29.4.2019. Os autos foram remetidos ao Supremo Tribunal Federal para julgamento do Recurso Extraordinário interposto pelo ente público. Vale acompanhar.

Isadora Malheiros Aguirre [email protected]

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Exportação e IOF de 0% sobre contratos de câmbio – Parecer SEI nº 83/2019/CAT/PGACTP/PGFN-MECom base no artigo 135, da Lei Complementar nº 73/1993, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) foi provocada a emitir o parecer em questão, no qual tratou da aplicação da alíquota zero do IOF-câmbio, prevista no artigo 15-B, inc. I, do Decreto nº 6.306/2007, relativamente a valores derivados de operações de exportação, mas que sejam mantidos no exterior, na forma do artigo 1º, da Lei nº 11.371/2006.

Tal manifestação foi provocada à luz da Solução de Consulta nº 246/2018, na qual a Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) havia concluído não haver fato gerador do IOF enquanto os recursos resultantes da exportação fossem mantidos no exterior; mas, quando houvesse o contrato de câmbio para o seu ingresso no Brasil, aí sim incidiria o IOF à alíquota de 0,38%.

Ao final, a PGFN fez ressalvas à orientação da RFB, mas não chegou ao ponto de abraçar a tese de grande parte dos exportadores, no sentido de que a aplicação da alíquota 0% do IOF sobre receitas de exportação (artigo 15-B, inc. I) não teria limite temporal para ser aplicada.

A seu ver, o contrato de câmbio para ingresso dos recursos no Brasil manteria a sua essência vinculada à exportação, desde que realizado dentro do prazo máximo estipulado pela regulamentação do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do Banco Central do Brasil (Bacen), para a liquidação desse tipo de operação, conforme artigo 99, da Circular Bacen nº 3.691/2013.

A interpretação não é de todo desprovida de razão, mas, indiretamente, acaba por permitir ao Bacen e ao CMN que, por meio de alterações nos prazos para liquidação dos contratos de câmbio de exportação, interfira na aplicação da alíquota 0% do IOF, o que parece bastante questionável e talvez merecesse um pouco mais de reflexão.

José Luis Ribeiro [email protected]

5. “Art. 13 - A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional desempenha as atividades de consultoria e assesso-ramento jurídicos no âmbito do Ministério da Fazenda e seus órgãos autônomos e entes tutelados. Parágrafo único. No desempenho das atividades de consultoria e assessoramento jurídicos, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional rege-se pela presente Lei Complementar.”

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Preços de transferência – PECEX e a Solução de Consulta Interna nº 2/2019Em 12 de junho último, foi publicada a Solução de Consulta Interna Cosit nº 2, de 29 de abril, visando esclarecer dúvidas relativas ao ajuste no preço parâmetro a ser calculado pelas pessoas jurídicas exportadoras de commodities.

Naquela oportunidade, a consulente pessoa jurídica exportadora de laranja, para pessoa vinculada situada na Europa, questionou a Receita Federal do Brasil sobre dois pontos: (i) a possibilidade de efetuar o ajuste do preço parâmetro, em função da tarifa americana cobrada sobre a entrada de produtos brasileiros nos Estados Unidos; e (ii) a obrigatoriedade de efetuar ajustes relacionados ao frete e seguro, quando a cotação da Bolsa de Valores extraída para calcular o preço parâmetro não computar tais custos em suas precificações.

O entendimento defendido pela consulente era o de que, em relação ao primeiro ponto, ajuste poderia ser feito quando as condições jurídicas do negócio permitissem demonstrar que competiria à pessoa jurídica exportadora arcar com o ônus financeiro da tarifa cobrada pelos Estados Unidos, e desde que esse valor não fosse discriminado no contrato padrão da Bolsa de Valores utilizada como fonte para cálculo do preço parâmetro. Em casos tais, o ajuste não poderia ser adotado em operações de exportação para outros continentes.

Quanto ao segundo ponto, o entendimento apresentado pela consulente era o de que seria necessário ajuste do preço parâmetro, relativamente ao seguro e ao frete, por assim determinar o artigo 34, § 10, inc. VI, da Instrução Normativa RFB nº 1.312/2012.

Em resposta, a RFB concluiu que somente é possível efetuar o ajuste das despesas suportadas pelo exportador em operações de exportação com pessoa vinculada pactuadas em contrato padrão, além dos ajustes do prêmio de mercado, nos termos dos §§ 9º, 10 e 12, do referido artigo 34. Em outras palavras, o ajuste estará sempre condicionado à previsão contratual dos dispêndios a serem incorridos pelo exportador nas operações de exportação, tais como gastos com armazenagem, frete, seguro, entre outros.

Se a transação realizada pelo contribuinte tiver tido contratada com base na Incoterm CIF, haverá a necessidade do ajuste do preço parâmetro em função dos gastos de frete e seguro suportados pelo contribuinte.

Por outro lado, se da análise das condições de mercado refletidas pela cotação ajustada pelo prêmio for verificado que se está diante de preço FOB, haverá a necessidade de ajustar o preço parâmetro devido à existência de uma diferença em relação às condições de negócio pactuadas na transação realizada pelo contribuinte, na qual se estipulou o Incoterm CIF.

Tudo dependerá, portanto, das condições pactuadas e das condições de mercado prevista na legislação comentada.

De outro lado, a RFB concluiu que não há previsão legal para que o contribuinte reduza o valor da cotação com a finalidade de retirar o efeito de variáveis listadas no contrato padrão, que supostamente tenham influenciado o preço futuro de commodities.

A finalidade da norma, no entender da Receita, não permitiria que o valor da cotação seja decomposto com base em determinadas variáveis retiradas aleatoriamente das especificações do contrato padrão, a fim de que, a partir daí, se construa um preço parâmetro supostamente mais próximo às condições de negócio do contribuinte.

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Eventuais diferenças existentes entre os fatores econômicos que influenciam a determinação do preço futuro e o preço do mercado local serão refletidas no prêmio de exportação, sendo este passível de compor a determinação do preço parâmetro, conforme artigo 19-A, § 1ª, da Lei nº 9.430/1996.

Entretanto, inexistindo prêmio de mercado para a commodity, o contribuinte não poderá construir um prêmio baseando-se em supostas diferenças entre o detalhamento do contrato padrão e as condições de sua operação, o que inclui o ajuste pretendido referente à tarifa cobrada pelos Estados Unidos sobre o ingresso do suco de origem brasileira. Neste caso, o preço parâmetro será determinado apenas com base no valor da cotação, sem que seja efetuado qualquer ajuste adicional.

Katia Soriano de Oliveira [email protected]

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Preços de transferência - Instrução Normativa RFB nº 1.870/2019Em 30.1.2019 foi publicada a Instrução Normativa RFB nº 1.870/2019, que alterou a Instrução Normativa RFB nº 1.312/2012 para não só trazer alguns ajustes terminológicos, como também modificar questões pontuais nas regras de controle de preços de transferência no Brasil e seus impactos nas apurações das bases de cálculo de IRPJ/CSLL, dentre as quais destacamos:

Preço parâmetro na importação – momento da apuração

Para o cálculo do preço parâmetro de importação, de acordo com os métodos CPL (Custo de Produção mais Lucro), PCI (Preço sob Cotação na Importação) e PIC (Preços Independentes Comparados), devem ser consideradas todas as operações de importação realizadas durante o ano-calendário, exceto em relação ao PRL (Preço de Revenda menos Lucro), em que se exige o cálculo do preço parâmetro no ano-calendário em que o bem, serviço ou direito importado tiver sido baixado dos estoques para resultado.

Margem de divergência – cálculo sobre preço praticado

A nova regra de apuração de margem de divergência determina que, a partir de 1º.1.2019, o preço praticado médio ponderado pode variar até 5% do preço parâmetro médio ponderado, para mais ou para menos; ou 3%, no caso de transações com commodities.

De acordo com as novas disposições, a margem de divergência agora é calculada a partir do preço praticado médio ponderado, ao passo que, pela redação anterior, a margem de divergência era calculada a partir do preço parâmetro médio ponderado.

Com isso, temos um novo critério de cálculo mais favorável aos contribuintes a ensejar menores valores de ajuste nas bases de cálculo de IRPJ/CSLL.

PIC – ampliação do conceito de vinculação

Para a aplicação da metodologia PIC, houve a substituição da expressão “operações de compra e venda praticadas entre terceiros não vinculados”, por “operações de compra e venda praticadas entre terceiros não vinculados entre si” (sublinhamos), deixando claro que operações entre empresas vinculadas - ainda que não ligadas diretamente à empresa brasileira – não serão aceitas como preços comparáveis.

PRL – valores a serem excluídos

Houve a revogação do § 13, do art. 12, da Instrução Normativa RFB nº 1.312/2012, que até então previa no cálculo do método PRL (Preço de Revenda Menos Lucro) a exclusão apenas dos descontos incondicionais concedidos no preço de revenda praticado. O referido dispositivo conflitava com o inciso I do caput do art. 12 da própria Instrução Normativa RFB nº 1.312/2012, que sempre determinou a exclusão, na apuração do preço líquido de venda, dos descontos incondicionais concedidos, tributos incidentes e comissões e corretagens pagas.

Assim, resolve-se uma contradição normativa em nível infralegal, conferindo-se mais segurança aos contribuintes.

Raphael O. F. de Toledo Piza [email protected]

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IRPJ/CSLL – Rateio de despesas centralizadas em empresa do mesmo grupo no exteriorReiterando as orientações firmadas em 2013, na Solução de Divergência Cosit no 23, a Secretaria da Receita Federal do Brasil divulgou a sua Solução de Consulta Cosit no 94/2019, confirmando os requisitos necessários para a dedutibilidade de despesas administrativas comuns a empresas de um mesmo grupo econômico, que sejam pagas a entidade no exterior que mantem estrutura administrativa centralizada.

Assim, reafirmou que a dedutibilidade se encontra vinculada a que: (i) os custos e despesas sejam necessários, normais e usuais, devidamente comprovados e pagos; (ii) sejam calculados com base em critérios de rateio razoáveis e objetivos, previamente ajustados e formalizados por instrumento firmado entre os intervenientes (cost sharing agreement); (iii) correspondam ao efetivo gasto de cada empresa e ao preço global pago pelos bens e serviços; (iv) a empresa centralizadora da estrutura administrativa aproprie como despesa sua tão somente a parcela que lhe cabe de acordo com o critério de rateio, devendo da mesma forma proceder as demais empresas participantes do rateio; e (v) seja mantida escrituração destacada de todos os atos diretamente com o rateio das despesas administrativas.

A respeito do assunto em si, remetemos à leitura do nosso artigo “Efeitos fiscais do rateio de despesas – importância e ônus da prova”, in Revista Tributária e de Finanças Públicas no 107. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 237-256.

José Luis Ribeiro [email protected]

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Serviços técnicos e de assistência técnica – Convenção para Evitar a Dupla Tributação com a França - Solução de Consulta DISIT/SRRF02 nº 2004/2019Mantendo entendimento, a Receita Federal reforçou a não incidência do Imposto sobre a Renda Retido na Fonte (IRRF) sobre as remessas realizadas por pessoa jurídica domiciliada no Brasil, para o pagamento de serviços técnicos e de assistência técnica prestados por empresas domiciliadas na França.

O entendimento, definido na Solução de Consulta Cosit nº 153/2015 à qual a Solução de Consulta DISIT/SRRF02 nº 2004/2019 se vincula expressamente, decorre da Convenção com a França para Evitar a Dupla Tributação da Renda e Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre o Rendimento6, que, nos termos do Ato Declaratório Interpretativo (ADI) nº 5/2014, deve ser observada para a definição do tratamento tributário dispensado aos pagamentos realizados “por fonte situada no Brasil a pessoa física ou jurídica residente no exterior pela prestação de serviços técnicos e de assistência técnica, com ou sem transferência de tecnologia”.

Ao analisar o texto da Convenção, a Receita Federal determinou que os serviços técnicos e de assistência técnica não preenchem os requisitos listados na Convenção para sua definição na qualidade de royalties (artigo 12), por não estarem contidos na definição do item 3 do artigo - que evidencia a abrangência semântica do termo – ou de profissões independentes (artigo 14), por não estar vinculado ao exercício de profissão liberal ou de outras atividades independentes.

Uma vez afastada a aplicação dos referidos artigos 12 e 14, a Receita Federal definiu que deve ser dispensado às remessas para o pagamento de serviços técnicos e de assistência técnica prestados por empresas domiciliadas na França o mesmo tratamento tributário estabelecido na Convenção com relação ao lucro das empresas (artigo 7º), concluindo que o pagamento não sofre a incidência do IRRF, já que o artigo 7º da Convenção prescreve que os lucros de uma empresa somente serão tributados no seu estado de residência, exceto se possuir no Brasil um estabelecimento permanente, o que não ocorria no caso sob análise.

Tatiana Caroline de [email protected]

6. Decreto 70.506/1972

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Dedutibilidade de royalties pagos a pessoa jurídica de mesmo grupo econômico, situada no exterior - Solução de Consulta Cosit nº 182/2019Em 31.5.2019 a Receita Federal fixou entendimento no sentido de que os pagamentos feitos por pessoa jurídica brasileira a uma pessoa jurídica do mesmo grupo econômico localizada no exterior, a título de royalties, poderão ser considerados despesas dedutíveis para fins de apuração de rendimento líquido ou do lucro real sujeito ao Imposto de Renda.

Narra a consulente ter como principal atividade a distribuição de softwares, com base em contratos de distribuição e/ou licenciamento, entabulados com pessoas jurídicas sediadas no exterior que fazem parte de seu grupo econômico. Note-se que não se discute na consulta a qualificação do rendimento, cuja qualidade de royalty foi estabelecida na Solução de Divergência Cosit nº 18/2017.

A consulente questionou se os valores remetidos devem implicar na aplicação da restrição de dedutibilidade a que se refere a alínea ‘d’ do parágrafo único do artigo 71 da Lei 4.506/1964, o qual determina como não dedutíveis, para efeito de apuração de rendimento líquido ou do lucro real sujeito ao Imposto de Renda, “d) os “royalties” pagos a sócios ou dirigentes de emprêsas, e a seus parentes ou dependentes”.

Em sua solução, a Receita Federal esclarece, inicialmente, que o referido artigo de lei, combinado ao artigo 353 do RIR/1999, especifica a aplicação do conceito às pessoas físicas ou jurídicas e que esse tratamento foi mantido na atualização do Regulamento do Imposto de Renda (RIR/2018 – Decreto 9.580/2018 – artigo 363, inc. I).

Em seguida, afirma que o cerne da análise é o termo “sócios”, como elemento central da norma que restringe a dedutibilidade, o qual deve ser definido na forma da legislação comercial – como “aquele que contribui para a formação do capital social com bens ou serviços, fazendo jus a parte do resultado da sociedade”.

Definiu, por fim, que o conceito deve ser diferenciado dos conceitos de “pessoas vinculadas” para fins de preços de transferência (artigo 23, da Lei 9.430/1996) e “pessoas ligadas” para fins de caracterização de distribuição disfarçada de lucros (artigo 529, RIR/2018), sendo que nenhum dos conceitos analisados autoriza a extensão do conceito de sócios para as pessoas pertencentes ao mesmo grupo econômico (controladores indiretos).

Logo, de forma acertada e em consonância ao artigo 1107, do Código Tributário Nacional, a Receita Federal considerou legítima a dedutibilidade dos pagamentos realizados para a remuneração de contratos de distribuição e/ou licenciamento de software, entabulados com pessoas jurídicas sediadas no exterior que fazem parte de seu grupo econômico, pois estas não se enquadram no conceito de sócio exigido para a restrição da dedutibilidade.

Tatiana Caroline de [email protected]

7. “Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e for-mas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competên-cias tributárias.”

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Imposto de renda: incidência ou não sobre doações para e recebidas do exterior - Soluções de Consulta Cosit nº 104/2019 versus nº 122/2019Durante o primeiro semestre deste ano, a Receita Federal se pronunciou, de forma conflitante, sobre a incidência tributária do imposto de renda com relação às doações realizadas para e recebidas do exterior. Ainda que analisado o mesmo tipo de rendimento – doações – restou definido tratamento tributário simetricamente oposto a depender da procedência dos valores.

Para o rendimento proveniente do exterior e destinado a residente no Brasil, decidiu-se pela isenção tributária. Já com relação ao rendimento destinado ao exterior, enviado por residente localizado no Brasil, restou definida a incidência tributária.

A doação recebida do exterior foi objeto da Solução de Consulta nº 122/2019, na qual restou definido que a doação recebida por pessoa física é isenta do Imposto sobre a Renda, com fulcro no artigo 6º, inc. XVI, da Lei nº 7.713/1988.

Em sentido inverso, na Solução de Consulta nº 104/2019, a Receita Federal definiu que, na doação realizada ao exterior, os valores sujeitam-se à incidência do IRRF, à alíquota de 15% (quinze por cento), ou de 25% (vinte e cinco por cento), na hipótese de o beneficiário ser residente ou domiciliado em país ou dependência com tributação favorecida.

No caso sob análise, uma entidade sem fins lucrativos brasileira, diante da necessidade de desenvolver estudo no exterior e manter intercâmbio, efetuou doações a outras entidades sem fins lucrativos, do mesmo setor, no exterior. A consulente buscava o reconhecimento de isenção tributária ao rendimento enviado ao exterior.

A isenção, no entanto, foi afastada sob o fundamento de que a norma que concede isenção do IRPJ e da CSLL às entidades filantrópicas não é aplicada aos pagamentos feitos pela entidade, já que a isenção aplicável às entidades filantrópicas tem caráter subjetivo.

Assim, aplicar-se-ia a regra de que os proventos de qualquer natureza auferidos por residentes ou domiciliados no exterior, provenientes de fontes situadas no País, sujeitam-se de modo genérico ao Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF). Esta regra só pode ser excetuada em casos expressamente previstos na legislação e, não existindo regra isentiva aplicável, os valores estariam sujeitos à incidência tributária.

A diversidade de tratamento decorre da revogação do artigo 690, inc. III, do RIR/1999 – que afastava a retenção do IRRF nas remessas de valores havidos por doação por residente ou domiciliado no exterior – pelo RIR/2018 (Decreto 9.580/2018).

É importante fazer a ressalva, por fim, de que ambas as soluções de consulta poderiam ser consideradas inconstitucionais, tendo em vista que a competência tributária para a instituição de imposto sobre a doação de bens e direitos foi atribuída pela CF/88 aos Estados e ao Distrito Federal (artigo 155, inc. I). Logo, seria vedado à União instituir tributos com a mesma base de cálculo e o mesmo fato gerador.

Cristiano Frederico [email protected]

Tatiana Caroline de [email protected]

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ICMS - Cresce a carga sobre insumos agropecuários no Estado de São PauloNo início de 2019, o setor agropecuário paulista foi surpreendido pelo aumento imediato da carga tributária incidente sobre os seus insumos, em decorrência da publicação do Decreto nº 64.213, de 30.4.2019, que revogou a norma que permitia aos contribuintes não estornarem os créditos decorrentes de insumos agropecuários beneficiados pela isenção de que trata o artigo 41, do Regulamento do ICMS Paulista (RICMS/SP, aprovado pelo Decreto nº 45.490/2000), com produção de efeitos a partir de 1º.4.2019.

Os insumos agropecuários sempre tiveram um tratamento diferenciado quanto à incidência do ICMS, tanto nas operações interestaduais (Convênio ICMS nº 100/1997) quanto nas internas (artigo 41, do RICMS/SP), autorizando-se a redução de base de cálculo nas remessas interestaduais, a isenção nas saídas internas e a desnecessidade de estorno dos créditos pelo contribuinte beneficiado.

Ocorre que, em 9.4.2019, foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) o Convênio ICMS nº 28/2019, para autorizar o Estado de São Paulo a exigir o estorno proporcional dos créditos de insumos agropecuários de que trata o Convênio ICMS nº 100/1997, o que ocasionou na edição do Decreto nº 64.213/2019, revogando a autorização para a manutenção dos créditos.

Assim, muitas dúvidas surgiram sobre a possibilidade de efeitos imediatos da revogação a partir da sua publicação, em razão do princípio da anterioridade (“não-surpresa”), previsto no artigo 150, inc. III, alíneas “b” e “c”, da Constituição Federal. Apesar da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ter se consolidado, no passado, no sentido de que a revogação de benefícios fiscais não se sujeitaria à observância do princípio da anterioridade geral e nonagesimal, o panorama vem sendo alterado pouco a pouco na Suprema Corte.

Tanto a 1ª quanto a 2ª Turma do STF possuem julgados recentes no sentido de que “o entendimento desta Corte vem se firmando no sentido de que não só a majoração direta de tributos atrai a aplicação da anterioridade nonagesimal, mas também a majoração indireta, decorrente da revogação de benefícios fiscais”, de modo que qualquer revogação de benefício, por surpreender o contribuinte com um acréscimo de tributo não antes esperado, deveria respeitar o lapso temporal previsto nas alíneas “b” e “c”.

Diante disso, mostra-se bastante questionável o aumento da carga tributária promovido de imediato pelo Estado de São Paulo, através do Decreto nº 64.213/2019, sendo possível já encontrar decisões do Tribunal de Justiça Paulista protegendo empresas afetadas.

Sergio Pin [email protected]

Edward Shindy [email protected]

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Estado do Rio de Janeiro autoriza a utilização de saldo credor de ICMS de seus contribuintesEm 21.5.2019, foi publicado o Decreto Estadual nº 46.668, que alterou o Regulamento do ICMS/RJ, para autorizar a utilização do saldo credor acumulado do ICMS de seus contribuintes na seguinte ordem:

1) a compensação dos saldos credores, de forma unificada, com todos os estabelecimentos da empresa situados no Estado do Rio de Janeiro;

2) a utilização dos saldos credores para o pagamento do ICMS na importação; débitos constantes de autuações, notas de lançamento, notas de débitos ou certidões de dívida ativa; compra de sucata e parcelamento pelo próprio estabelecimento detentor ou por estabelecimento da mesma empresa localizado no Estado; e

3) a transferência dos saldos credores a outra empresa localizada no Estado para compra de insumos, mercadorias ou bens do ativo permanente, utilização e transferência.

Ainda segundo essa norma, é vedada: (i) a transferência de saldos credores acumulados para outro estabelecimento também detentor de saldo credor; (ii) a retransferência de saldos credores acumulados para outro estabelecimento da mesma sociedade ou de outra - inclusive para o estabelecimento de origem; (iii) a transferência de saldo credor existente na data do encerramento das atividades de qualquer estabelecimento, salvo nos casos de reorganização societária; e (iv) a utilização de crédito na hipótese de eventual reativação da inscrição baixada.

Na mesma data foi publicada a Resolução Sefaz nº 35, dispondo sobre os procedimentos para compensação, utilização e transferência do saldo credor.

Patrícia [email protected]

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ITBI e valor venal – IRDR julgado pelo TJ-SPEm 23.5.2019, o 7º Grupo de Direito Público do Tribunal de Justiça julgou Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR nº 2243516-62.2017.8.26.0000), no qual fixou a tese de que o ITBI deve ser calculado “sobre o valor do negócio jurídico realizado e, se adquirido em hastas públicas, sobre o valor da arrematação ou sobre o valor venal do imóvel para fins de IPTU, aquele que for maior, afastando o valor de referência”.

A decisão é bastante confusa, seja em relação aos seus fundamentos, seja no que diz respeito à tese acima transcrita.

Reconhece que o ITBI, tal como o IPTU, tem com base de cálculo o valor venal do imóvel objeto da transação, afirmando que “o valor venal é necessariamente o valor do negócio jurídico realizado” (g.n.).

Pouco antes, porém, afirma que a base de cálculo do ITBI “não é o preço de venda, mas o valor venal. A diferença entre preço e valor é relevante. O preço é fixado pelas partes, que em princípio são livres para contratar. O valor dos bens é determinado pelas condições do mercado. Em princípio, pela lei da oferta e da procura”.

Dá a entender, portanto, que o valor livremente negociado entre duas partes em uma operação imobiliária não seria o de mercado, determinado pela lei da oferta e da procura, negando assim a própria ideia de preço de equilíbrio ou de preço de ajustamento de mercado8.

Contradiz, ainda, o precedente da Apelação nº 1000337-22.2014.8.26.0053, mencionada como fundamento da decisão tomada, e no qual se concluiu que: “A base de cálculo do ITBI encontra-se definida sobre dois parâmetros: ou é o valor venal do qual o contribuinte já tem prévio conhecimento e é definido pela Fazenda Pública, ou então é o valor indicado no instrumento de venda e compra, sendo defeso ao Município surpreender o contribuinte com outro valor que não reflita nenhuma destas realidades. Impossibilidade de arbitramento de outro valor por outro parâmetro” (g.n.).

Não dá explicação plausível, finalmente, para a adoção do critério do “valor que for maior”, conforme insistem as decisões do mesmo Tribunal de Justiça, o que não encontra respaldo no Código Tributário Nacional, cujos artigos 33 e 38, fixam a base de cálculo dos dois impostos como sendo o valor venal. E ponto final.

Resta aguarda que, caso eventualmente provocado por embargos de declaração, o Tribunal de Justiça Paulista possa esclarecer e rever a sua decisão. Se não, restará levar o tema ao Superior Tribunal de Justiça, para que possa preservar a eficácia dos referidos dispositivos do CTN.

José Luis Ribeiro [email protected]

8. MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. Tradução Allan Vidigal Hastings. São Paulo: Pioneira Thom-son Learning, 2005, p. 76.

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ISS e a sua cobrança na CPI da Sonegação Tributária no Município de São Paulo

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Sonegação Tributária, de autoria do vereador Eduardo Tuma, foi iniciada na Câmara Municipal de São Paulo para apurar eventuais práticas ilegais cometidas contra a Fazenda Municipal por prestadores de serviços estabelecidos de fato em São Paulo, mas que tinham suas sedes localizadas em municípios da região metropolitana, para recolher o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) com a alíquota reduzida.

O principal alvo da CPI foram as empresas do setor financeiro que prestam serviços de agenciamento, corretagem, leasing, factoring e franchising, com matrizes estabelecidas em outras localidades, mas que, segundo o posicionamento da CPI, efetivamente realizariam os seus serviços no Município de São Paulo.

Apesar de a CPI investigar a prestação de serviços de diversas naturezas, foi no leasing que ela demonstrou a maior efetividade aos cofres paulistanos.

Até a publicação deste boletim, estima-se que tenham sido firmados acordos para o pagamento de débitos na ordem de R$ 1,15 bilhão, além da promessa, por parte de outras empresas investigadas, de trazer ao Município de São Paulo as suas matrizes, o que representará um futuro incremento de caixa para os cofres paulistanos.

A questão sobre o município competente para exigir o ISS decorrente do serviço de leasing foi pacificada com o julgamento do Recurso Especial nº 1.060.210/SC, jugado na sistemática dos repetitivos.

Segundo o entendimento aí firmado pelo STJ, como a atividade do leasing envolveria um contrato complexo, com diversas etapas para o seu aperfeiçoamento, entendeu-se que o “serviço ocorre no local onde se toma a decisão acerca da aprovação do financiamento, onde se concentra o poder decisório, onde se situa a direção geral da instituição”.

Portanto, independentemente do local em que é celebrado o contrato ou em que se localiza o bem, para fins de incidência do ISS, o leasing é considerado como prestado no local de aprovação do arrendamento mercantil.

Para os membros da CPI, apesar de diversas empresas do setor financeiro terem suas sedes em municípios da região metropolitana (e.g., Poá, Barueri, Osasco, etc.), as decisões de concessão do crédito eram efetivamente tomadas no Município de São Paulo e, portanto, o imposto correspondente deveria ter sido recolhido nesta localidade.

O ponto que mais chama atenção, entretanto, reside na criação de uma CPI para investigar, apurar e cobrar créditos tributários pretensamente devidos pelos contribuintes, o que não parece encontrar respaldo nas regras gerais sobre constituição e cobrança do crédito tributário, previstas no Código Tributário Nacional.

Ademais, é curiosa a referência ao fato de que a CPI teria possibilitado a quitação de créditos tributários sem incidência de multas de mora e de ofício, de certa forma “em prejuízo” aos contribuintes cobrados por meio de autos de infração e execuções fiscais.

De todo o modo, é marcante nesse episódio a pressão exercida pela ameaça da Câmara Municipal em promover a condução coercitiva dos diretores de alto escalão dos grupos econômicos investigados, ameaçando-os também de serem investigados criminalmente pelo Ministério Público Estadual.

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Novamente, há uma curiosa assunção de novos papéis no exercício da atividade de cobrança do crédito tributário, cuja validade deve ser melhor examinada à luz do Código Tributário Nacional e da própria Constituição, que é clara em reservar tal função a “servidores de carreiras específicas”, conforme o seu artigo 37, inc. XXII.

Edward Shindy [email protected]

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Streaming e veiculação de publicidade na internet: emissão de NFS-e mensalAs atividades de streaming e veiculação de publicidade na internet foram incluídas na lista anexa de serviços tributados pelo Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) da Lei Complementar n° 116/2003, por meio da Lei Complementar n° 157/2016.

O item 1.09 da lista passou a se referir, então, às atividades de “disponibilização, sem cessão definitiva, de conteúdo de áudio, vídeo, imagem e texto por meio da internet”, ou seja, à prestação de serviços de streaming.

O item 17.25, por sua vez, passou a fazer referência à “inserção de textos, desenhos e outros materiais de propaganda e publicidade, em qualquer meio (exceto em livros, jornais, periódicos e nas modalidades de serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e gratuita)”.

Discussões à parte sobre a constitucionalidade da incidência do ISS, os municípios brasileiros têm buscado adequar as suas legislações de forma a conseguir efetivamente tributar essas atividades.

Em razão das características desses serviços, porém, as empresas que exercem essas atividades passaram a cumprir um volume elevado de obrigações acessórias. E isto porque se viram obrigadas a emitir um sem número de notas fiscais, relativamente às assinaturas mensais pulverizadas dos seus serviços.

Não são raros os casos de empresas prestadoras dos serviços de streaming e veiculação de publicidade na internet que chegam a emitir 500 (quinhentas) mil Notas Fiscais de Serviços Eletrônicas (NFS-e) por mês.

Diante desse quadro, o Município de São Paulo, por exemplo, permite9 a emissão de uma única NFS-e mensal, na qual o campo “valor total da nota” deve ser preenchido com o somatório do preço dos serviços prestados durante o mês.

De forma semelhante, a cidade do Rio de Janeiro também autorizou10 a emissão de uma única NFS-e – NOTA CARIOCA por mês, com o valor total da receita auferida com os serviços de disponibilização, sem cessão definitiva, de conteúdos de áudio, vídeo, imagem ou texto por meio da internet, para pessoas naturais.

As empresas de prestadoras dos serviços de streaming e veiculação de publicidade na internet, portanto, estão aptas a reduzir circunstancialmente o número de notas fiscais emitidas ao final do mês. Essa medida, além de reduzir os gastos com atividades de compliance, acaba por dirimir potenciais riscos inerentes à aplicação de multas por irregularidades na emissão de documentos fiscais.

Raphael O. F. de Toledo Piza [email protected]

9. Vide Instrução Normativa SF/SUREM nº 22/2017, com alterações promovidas pela Instrução Normativa nº SF/SUREM nº 17/2018.10. Resolução nº 2.966/2018, da Secretaria Municipal da Fazenda do Rio de Janeiro.

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ISS - Tema nº 581/STF e as operadoras de seguro-saúdeNo julgamento do Recurso Extraordinário nº 651.703-PR (tema nº 581), em 29.9.2016, o Supremo Tribunal Federal firmou a tese de que: “as operadoras de planos privados de assistência à saúde (plano de saúde e seguro-saúde) realizam prestação de serviço sujeita ao Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISSQN, previsto no art. 156, III, da CRFB/88”.

As partes envolvidas e terceiros interessados opuseram embargos de declaração contra a decisão, os quais foram parcialmente acolhidos, em fevereiro de 2019, para o fim de excluir da tese acima a referência à atividade do “seguro-saúde”.

Entendeu-se que o caso concreto que estava em discussão, naquela oportunidade, tratava apenas de empresas prestadoras de serviços de plano de saúde, de tal forma que a tese do tema nº 581 não poderia ter sido firmada de maneira extensiva para além do objeto da própria ação de origem do Recurso Extraordinário nº 651.703-PR.

Por ocasião dessa correção, então, o Supremo Tribunal afirmou que “o regime jurídico tributário das empresas operadoras de planos de saúde, tributadas pelo ISSQN, não se aplica às seguradoras de saúde, posto estarem submetidas ao IOF, razão pela qual a eventual imposição também do imposto sobre serviços às últimas implicaria dupla tributação”.

E, por fim, retificou o tema nº 581, para ali orientar apenas o seguinte: “as operadoras de planos de saúde realizam prestação de serviço sujeita ao Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISSQN, previsto no art. 156, III, da CRFB/88.”

Bianca Santana de [email protected]

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Recursos repetitivos admitidos para julgamento

STF – Exclusão da taxa de cartão de crédito das bases do PIS e da CofinsEm 2.2.2019, por maioria de votos, foi reconhecida a existência de repercussão geral quanto à exclusão dos valores retidos pelas administradoras de cartões da base de cálculo das contribuições ao PIS e da Cofins, devidas por empresa que recebe pagamentos por meio de cartões de crédito e débito.

O Recurso Extraordinário foi interposto pela HT Comércio de Madeiras e Ferragens, contra o acórdão proferido pela 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região que, por unanimidade de votos, negou provimento à apelação sob o entendimento de que “inexiste norma autorizadora que exclua da base de cálculo das exações em comento (PIS e COFINS) os valores que as Administradoras de cartão de crédito descontam das vendas realizadas por meio de cartão de crédito e/ou débito (as Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003 não autorizam tal exclusão)”.

Recurso Extraordinário nº 1.049.811-SE

Tema nº 1.024/STF

Bianca Santana de [email protected]

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STF – Desembaraço aduaneiro e arbitramentoEm 26.4.2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu em plenário virtual a repercussão geral no Recurso Extraordinário nº 1.090.591-SC, de relatoria do Ministro Marco Aurélio, da discussão sobre a constitucionalidade ou não do condicionamento do despacho aduaneiro de bens importados ao pagamento de diferenças apuradas por arbitramento pela autoridade fiscal do valor da mercadoria (tema nº 1042).

O recurso foi interposto pela Fazenda Nacional contra decisão do Tribunal Regional Federal da 4º Região, que entendeu incabível a retenção das mercadorias para o cumprimento de exigências relacionadas à retificação do valor das mercadorias e consequente recolhimento de multas e tributos, com fulcro na súmula nº 323 do STF, “mormente porque a liberação das mercadorias não impede o prosseguimento do Fisco na autuação e na futura cobrança das diferenças de tributos e multas apuradas”.

No recurso extraordinário, a União aduz a inaplicabilidade da súmula nº 323 ao caso, por ausência de semelhança entre os precedentes, pois no precedente que deu origem à súmula discutia-se que a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos configurava sanção política. O caso em discussão, por sua vez, envolveria a retenção das mercadorias em despacho aduaneiro até que fossem satisfeitas todas as condições para a regular importação.

O tema é de vital importância aos importadores brasileiros, já que a Receita Federal não raras vezes retém e condiciona o desembaraço aduaneiro de mercadorias ao cumprimento das exigências fiscais, como, por exemplo, a alteração da classificação fiscal adotada e o recolhimento de eventual diferença tributária. A retenção implica aumento do custo da operação para os importadores, tais como demurrage e armazenagem das mercadorias.

Recurso Extraordinário nº 1.090.591-SC

Tema nº 1.042/STF

Tatiana Caroline de [email protected]

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STF – Adicional de Cofins-importaçãoEm 9.5.2019, o Plenário Virtual do Supremo Tribunal Federal (STF), reconheceu a existência de repercussão geral de questão constitucional suscitada no Recurso Extraordinário n° 1.178.310-PR, relativa ao adicional de 1% da alíquota da Cofins-importação incidente sobre determinados bens importados, conforme artigo 8º, § 21, da Lei nº 10.865/2004, com redação dada pela Lei nº 12.715/2012.

O Recurso Extraordinário foi interposto por uma empresa importadora em face do acórdão proferido pelo TRF4 que, ao negar provimento à sua apelação, entendeu constitucional o recolhimento do adicional.

O contribuinte defende que a regra deveria ter sido inserida no ordenamento jurídico por meio de Lei Complementar e que desrespeitaria a não-cumulatividade prevista no artigo 195, § 12, da Constituição Federal, ante a impossibilidade de aproveitamento do crédito correspondente ao adicional.

A União, por outro lado, sustenta que a instituição do adicional é instrumento de incentivo de isonomia da oneração de custos entre os produtos externos (importados) e internos (nacionais), tendo em vista o aumento da carga tributária sobre estes últimos. Outrossim, alega que a previsão constitucional a respeito da não cumulatividade tributária não especifica a forma pela qual deve ser implementada.

De outro lado, lembre-se que o artigo 15, § 1º-A, da própria Lei nº 10.865/2004, apenas passou a vedar expressamente o crédito do adicional de 1% a partir da publicação da Lei nº 13.137/2015.

Nesse sentido, a vedação não pode ser vista como norma meramente interpretativa, reveladora de uma proibição que já estaria contida no texto legal anterior: a uma, porque a Lei nº 10.865/2004, artigo 15, § 1º, sempre autorizou o crédito da contribuição ao PIS e da Cofins “efetivamente pagas na importação de bens e serviços” (g.n.); e, a duas, porque não se atribuiu expressamente aplicação retroativa a essa proibição, conforme autorizaria o artigo 106, inc. I, do Código Tributário Nacional, caso realmente se tratasse de lei tributária de caráter interpretativo.

Recurso Extraordinário n° 1.178.310-PR

Tema nº 1.047/STF

Isadora Malheiros Aguirre [email protected]

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STJ – Exclusão do ICMS do lucro presumidoA 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, afetou os Recursos Especiais nºs 1.767.631-SC, 1.772.634-RS e 1.772.470-RS sob o rito dos recursos repetitivos, de relatoria da Ministra Regina Helena Costa, para julgar a possibilidade de inclusão de valores do ICMS nas bases de cálculo do IRPJ e da CSLL, quando apurados pelo lucro presumido.

Os recursos especiais foram interpostos pelos contribuintes, os quais defendem que o ICMS não pode ser incluído na receita bruta considerada como base de cálculo do IRPJ e da CSLL, uma vez o tributo estadual não representa uma receita da empresa, mas mero valor que transita na sua contabilidade e que é repassado aos cofres dos Estados, em linha com o quanto decidido no precedente do Recurso Extraordinário nº 574.706-PR (tema nº 69/STF).

Apesar do contato com a tese firmada no tema nº 69, a exclusão do ICMS da base de cálculo do IRPJ e da CSLL apurados pelo regime do lucro presumido decorreria diretamente do texto do artigo 12, § 4º, do Decreto-Lei nº 1.598/77, que exclui do conceito do conceito de “receita bruta”: “os tributos não cumulativos cobrados, destacadamente, do comprador ou contratante pelo vendedor dos bens ou pelo prestador dos serviços na condição de mero depositário”.

Recursos Especiais n°s 1.767.631-SC, 1.772.634-RS e 1.772.470-RS

Tema nº 1.008/STJ

Isadora Malheiros Aguirre [email protected]

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STJ – Inclusão da capatazia no valor aduaneiroEm 3.6.2019, a 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça afetou os Recursos Especiais nºs 1.799.306-RS, 1.799.308-SC e 1.799.309-PR, de relatoria do Ministro Gurgel de Faria, para a definição de tese relativa à inclusão de serviços de capatazia (artigo 40, § 1º, inc. I, da Lei nº 12.815/2013) na composição do valor aduaneiro, base de cálculo do imposto de importação (tema nº 1014).

Os recursos, em todos os casos, foram interpostos pela Fazenda Nacional contra decisão do Tribunal Regional Federal da 4º Região e defendem que: “enquanto não ocorrer o desembaraço aduaneiro da mercadoria ou a sua nacionalização, os gastos relativos à descarga, manuseio e transporte no porto de origem e no porto de destino são componentes do valor da mercadoria”.

Os contribuintes, por sua vez, pleiteiam a exclusão dos valores referentes à taxa de capatazia do valor aduaneiro e a declaração de ilegalidade do § 3º do artigo 4º da Instrução Normativa nº 327/2003, da Secretaria da Receita Federal do Brasil:

• por violar os limites impostos no Acordo de Valoração Aduaneiro e no Regulamento Aduaneiro, que determinam a inclusão no valor aduaneiro de despesas ocorridas “até o porto ou local de importação”; e

• porque a capatazia de destino e o descarregamento no terminal de desembaraço, por ocorrerem após o fato gerador da importação – entrada da mercadoria no território aduaneiro – não poderiam ser incluídos no valor aduaneiro.

A tese tende a se consolidar de forma favorável aos contribuintes, já que os precedentes da 1º11 e da 2º12 Turmas do STJ são favoráveis à tese do contribuinte, existindo, inclusive, inúmeras decisões monocráticas proferidas com fundamento nas Súmulas nºs 568/STJ13 e 8314/STJ, o que demonstra a uniformidade do entendimento da Corte.

Recursos Especiais 1.799.306-RS, 1.799.308-SC e 1.799.309-PR

Tema nº 1.014/STJ

Tatiana Caroline de [email protected]

11. Recurso Especial nº 1.239.625-SC, julgado em 4.9.2014, Rel. Min. Benedito Gonçalves.12. Recurso Especial nº 1.528.204-SC, julgado em 19.4.2017, Rel. Min. Mauro Campbell Marques.13. Súmula 568: “O relator, monocraticamente e no Superior Tribunal de Justiça, poderá dar ou negar provi-mento ao recurso quando houver entendimento dominante acerca do tema”.14. Súmula 83: “Não se conhece do Recurso Especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida”.

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Súmulas

Súmulas vinculantes do CARF e propostas de novas súmulasEm abril deste ano, por meio da sua Portaria nº 129/2019, o Ministro da Economia atribuiu efeitos vinculantes a 29 (vinte e nove) súmulas já aprovadas anteriormente pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF).

Com isso, pretende torná-las de aplicação obrigatória por toda a Administração Tributária Federal, inclusive pelos Conselheiros do próprio CARF, limitando bastante a sua liberdade de julgamento em relação aos temas sumulados.

Ademais, em sua Portaria nº 29/2019, o CARF convocou sessão extraordinária para setembro, na qual deliberará sobre mais 50 (cinquenta) propostas de súmulas, igualmente com o propósito de restringir as possibilidades de discussão em relação aos temas arrolados.

Recomenda-se atenção, pois eventuais autos de infração envolvendo esses assuntos terão perspectivas não muito positivas de sucesso quanto ao seu enfrentamento na esfera administrativa.

Os teores das súmulas tornadas vinculantes e dos novos enunciados podem sem encontrados anexos a este boletim.

José Luis Ribeiro [email protected]

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CIDE – Súmula vinculante CARF nº 127 – Transferência de tecnologia não é requisito para a incidênciaDentre as súmulas vinculantes acima mencionadas, a de número 127 consolida o entendimento do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), de que a incidência da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) à alíquota de 10% na contratação de serviços técnicos prestados por pessoas residentes ou domiciliadas no exterior independe da efetiva transferência de tecnologia.

Essa conclusão vem a corroborar a posição do Fisco federal, no sentido de que os serviços técnicos e de assistência administrativa, inseridos pela Lei nº 10.332/2001 e regulamentados pelo inciso III do artigo 10, do Decreto nº 4.195/2002, não necessitam da efetiva transferência de tecnologia a fim de legitimar a cobrança de CIDE.

Isto porque, a Lei nº 10.168/2000, após as alterações introduzidas pela Lei nº 10.332/2001, nada dispõe sobre a necessidade de averbação no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) dos contratos de prestação de serviços técnicos, de forma a ampliar o alcance da CIDE a todas as remunerações de serviços dessa natureza.

Por fim, o Fisco federal ainda invoca que inexiste conflito aparente entre o texto legal (Lei nº 10.168/2000) e aquele traduzido pelo Decreto nº 4.195/02, tendo em vista que este último nada mais faria do que exemplificar ou enumerar situações que estariam sujeitas ao recolhimento da CIDE.

É certo que, do ponto de vista do contencioso administrativo federal, a discussão encontra-se sedimentada em razão da súmula vinculante nº 127, obrigando o contribuinte a recorrer ao Poder Judiciário para buscar o afastamento da CIDE sobre essas operações.

Vinicius Araujo [email protected]

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Despesas de royalties e CSLL - Súmula vinculante CARF nº 117Chamamos também a atenção para a súmula vinculante nº 117, afirmando que as regras de indedutibilidade para IRPJ de despesas com royalties pagos a sócios ou dirigentes de empresas, a seus parentes ou dependentes, prevista no artigo 71, parágrafo único, alínea “d”, da Lei nº 4.506/1964, não são aplicáveis à apuração da CSLL, por falta de previsão legal expressa.

Cabe ressaltar que a Secretaria da Receita Federal do Brasil já havia editado a Instrução Normativa nº 1.700/2017, a qual, no item 186 do seu Anexo I, reconhece que as restrições à dedutibilidade fiscal de royalties não são extensíveis à apuração de base de cálculo da CSLL.

Ou seja, apesar de não se tratar de uma novidade normativa propriamente dita, a atribuição de caráter vinculante à súmula nº 117 é positiva, pois torna obrigatório à Administração Pública Federal a observância estrita do entendimento consolidado pelo CARF, de forma a resolver conflitos já instaurados, como também evitar a instauração de novos litígios relativamente ao tema.

Vinicius Araujo [email protected]

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Temas para reflexão

Conceito de praça, VTM, IPI e operações entre interdependentesO Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) julgou, recentemente, através de sua 3ª Turma da Câmara Superior, Recurso Especial de Divergência interposto pela Fazenda Nacional nos processos nº 16682.722461/2015-30 e nº 16682.722760/2016-55, com o intuito de determinar o alcance do termo “praça”, contido na norma do artigo 195, inc. I do Regulamento do IPI (RIPI)15.

Interpretando a matéria, a Receita Federal já havia se manifestado através da Solução de Consulta Interna nº 8/2012, na qual concluiu que se “o mercado atacadista de determinado produto, como um todo” possui um único vendedor, é inevitável que o valor tributável mínimo seja determinado a partir das vendas por este efetuadas.

Nem por isso tais operações de compra e venda por atacado deixariam de caracterizar a existência de um “mercado atacadista”, possibilitando a aplicação da regra prevista no normativo em comento.

Concluiu a Receita Federal do Brasil, à época, que o valor tributável mínimo aplicável às saídas de determinado produto do estabelecimento industrial que o fabrique, e que tenha na sua praça um único distribuidor dele interdependente, corresponderia aos próprios preços praticados por esse distribuidor único nas vendas que efetuasse no atacado.

O processo administrativo submetido a julgamento decorreu de autuação na qual se desconsiderou a venda feita pelo braço industrial ao braço atacadista do mesmo grupo econômico, uma vez que ela teria sido feita com preços inferiores aos praticados na saída do atacadista.

A partir daí, entrou em discussão a questão relativa à extensão territorial do conceito de “praça”, colocando-se em questão a definição dada pelos Pareceres Normativos CST nºs 44/81 e 89/70, que tratam “praça” como sinônimo de Município.

Entendeu-se que a aplicação daquele conceito de “praça” permitiria alcançar a elisão fiscal que a norma do artigo 195 buscou precipuamente combater, ao instituir o valor tributável mínimo (VTM) pelo IPI. Logo, o conceito de praça não deveria ficar restrito ao município, podendo-se estender a regiões metropolitanas inteiras.

Não obstante estivesse julgando recurso especial – no qual os elementos de fato não deveriam ser considerados para a sua decisão, cabendo somente uma análise de direito –, o CARF proferiu o seu julgamento à luz das seguintes premissas fáticas:

- que o contribuinte autuado não estaria protegido por consulta que havia formulado anteriormente ao Fisco (ao invés de vender os seus produtos a diferentes atacadistas, comercializaria toda a sua produção com um único distribuidor interdependente);

- o valor da saída do produto do industrial para o único comercial atacadista seria muito inferior ao praticado por este perante os seus clientes, sendo o preço do distribuidor 500% superior ao do fabricante; e

15. “Art. 195. O valor tributável não poderá ser inferior: I – ao preço corrente no mercado atacadista da praça do remetente quando o produto for destinado o outro estabelecimento do próprio remetente ou a estabelecimento de firma com a qual mantenha relação de inter-dependência. (...)”

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- limitar o conceito de “praça” literalmente a um Município levaria, em tese, a situações em que o fabricante e o distribuidor, instalados cada um de um lado de rua limítrofe entre dois municípios, não estariam sujeitos ao VTM.

Com esses fundamentos, concluiu-se que: “é de admitir que a norma que visa justamente coibir esta prática [adoção de preços artificialmente inferiores] venha a viabilizá-la, com base em uma interpretação restritiva de um termo que, não só pela umbilical relação com o comércio, mas também pela não necessária relação com a divisão geopolítica, não limita a região geográfica do Município”. E, ao final, mantiveram-se as cobranças relativas ao principal, juros e multas inicialmente aplicados ao autuado.

Além da peculiaridade das decisões, aparentemente motivadas por especificidades dos casos concretos de que tratavam, é notável a absoluta falta de referência à norma do artigo 100, inc. I e parágrafo único, do Código Tributário Nacional, que consideram norma complementar à legislação tributária, “os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas” e que asseguram a exclusão de penalidades e juros de mora de eventual autuação lavrada contra o sujeito passivo que observou aqueles atos normativos.

Ora, ao longo dos julgamentos aqui analisados, não houve divergência com relação ao fato de que permaneceriam válidos e vigentes ambos os Pareceres Normativos CST nºs 44/81 e 89/70. Os Conselheiros vencedores, no entanto, houveram por bem desconsiderar o seu conteúdo e atribuir-lhes um “novo alcance”, formulando assim uma nova norma complementar à legislação tributária.

Se a premissa era essa, não cabia ao CARF fazer o que, de acordo com o artigo 327, inc. III, do Regimento Interno da Secretaria da Receita Federal do Brasil, competiria ao próprio Secretário, a quem é dado o poder de editar atos declaratórios executivos (ADE) para revogar normas complementares que, no seu entender, teriam se tornado incompatíveis com legislação tributária superveniente.

É o que se faz nesse tipo de situação, havendo uma ampla gama de ADEs publicados pelo Secretário da Receita Federal para esse fim. Nenhum deles, até hoje, modificou o conceito de “praça” dos Pareceres nºs 44/81 e 89/70.

Por fim, ainda que houvesse fundamento para se desconsiderar a orientação normativa fixada nesses atos, isso jamais poderia ser feito sem o respeito à proteção do parágrafo único do artigo 100, mencionado acima.

De todo o modo, cabe registrar esse novo episódio – agora desfavorável aos contribuintes – dessa longa batalha que há anos é intentada por agentes fiscais inconformados com forma de aplicação da norma antielisiva do artigo 195, inc. I, do RIPI, ditada pelos Pareceres Normativos nºs 44/81 e 89/70.

Vale acompanhar, nesse sentido, o que está por vir do projeto de lei nº 1.559/2015, já aprovado pela Câmara dos Deputados e remetido recentemente ao Senado Federal, no qual se busca levar à legislação ordinária a mesma definição de “praça” praticada há décadas pela Receita Federal e pelos contribuintes do IPI, com base nos referidos normativos.

Patrícia [email protected]

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A não incidência da CIDE nos contratos de licença de softwares, sem transferência de tecnologiaA Lei nº 10.168/2000, no caput do seu artigo 2º, instituiu a contribuição de intervenção de domínio econômico - CIDE sobre os contratos de licença de uso ou de aquisição de conhecimentos tecnológicos, bem como sobre os contratos que impliquem transferência de tecnologia, quando firmados com residentes ou domiciliados no exterior.

O § 1º desse dispositivo definiu que contratos de transferência de tecnologia são aqueles relativos: (i) à exploração de patentes ou de uso de marcas; bem como (ii) os de fornecimento de tecnologia e prestação de assistência técnica.

Com o advento da Lei nº 11.452/2007, foi adicionado o § 1º-A ao artigo 2º daquela lei, a fim de regular que a CIDE “não incide sobre a remuneração pela licença de uso ou de direitos de comercialização ou distribuição de programa de computador, salvo quando envolverem a transferência da correspondente tecnologia”.

Logo, de acordo com a letra fria da lei, a incidência da CIDE sobre a remuneração pela licença de uso ou de direitos de comercialização ou distribuição de software ocorre somente quando houver transferência de tecnologia.

A transferência de tecnologia, segundo a jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3), consiste: (i) na abertura dos “códigos fontes” e outros dados técnicos da tecnologia envolvida; e (ii) no registro junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI16.

Acrescente-se que o artigo 21, da Lei nº 11.452/2007, expressamente conferiu caráter retroativo ao § 1º-A, a fim de que surtisse os seus efeitos a partir de 1º de janeiro de 2006.

Diante dessa retroação parcial de efeitos, a norma contida no artigo 21 estaria dando caráter interpretativo ao dispositivo introduzido no § 1º-A ou, diversamente, teria a natureza de verdadeira remissão com relação à CIDE incidente sobre fatos geradores pretéritos?

Tanto o § 6º do artigo 150, da Constituição Federal, c/c o caput do artigo 176, do Código Tributário Nacional, quanto o artigo 14, da Lei Complementar nº 101/2000, exigem lei específica para a concessão de remissão e estimativa do seu impacto orçamentário-financeiro, o que não foi atendido nesse caso e, por isso, resultaria na ilegalidade do § 1º-A.

De outro lado, encarando-a como norma interpretativa – o que é coerente com a sua retroação, frente à norma do artigo 106, inc. I, do Código Tributário Nacional – restaria saber se a retroação da norma interpretativa poderia ser limitada no tempo, parando em 1º de janeiro de 2006, como pretendeu o artigo 21, da Lei nº 11.452/2007.

Ao que nos parece, a resposta é negativa, não havendo autorização para tanto no referido artigo 106. E isto porque, considerando que as leis interpretativas não possuem o objetivo de criar um direito novo, mas, sim, de esclarecer a aplicação da norma pretérita, não faria mesmo sentido limitar no tempo a sua aplicação retroativa.

Portanto, parece fazer sentido que a norma do §1º-A, inserida no artigo 2º, da Lei nº 10.168/2000, pela Lei nº 11.452/2007, deveria retroagir até a data da própria instituição da CIDE.

16. Apelação em Mandado de Segurança nº 2005.61.00.028245-4, 3ª Turma, Rel. J. Conv. Claudio Santos, DJF3 15.12.2009; Apelação em Mandado de Segurança nº 00048862220014036100, 3ª Turma, Rel. Des. Nery Junior, DJ de 27.1.2012; e 3ª Turma, Apelação nº 0015142-53.2003.4.03.6100, Rel. Des. Cecília Marcondes, julgado em 21.3.2013.

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É nesse sentido que se firmou a orientação do TRF3:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. EFEITOS INFRINGENTES. PREMISSA EQUIVOCADA. MODIFICAÇÃO DO JULGADO. LEI Nº 10.168/00 E 10.332/01. AQUISIÇÃO DE SOFTWARE. LICENÇA DE USO. CIDE E IMPOSTO DE RENDA. NÃO INCIDÊNCIA.

(...)

5. A CIDE deve ser suportada pela pessoa jurídica detentora de licença de uso ou adquirente de conhecimentos tecnológicos, bem como pelos signatários de contratos que impliquem transferência de tecnologia, firmados com residentes ou domiciliados no exterior.

6. Embora a presente ação tenha sido distribuída em 26.06.2006 - em data anterior à entrada em vigor da alteração acima referida - o fato é que esta Turma já sedimentou o entendimento de que por se tratar de norma de natureza interpretativa, a mesma pode ser aplicada a situações anteriores à sua vigência conforme art. 106, I, do Código Tributário Nacional (AMS 200561000282454, Relator Juiz Federal Convocado Cláudio Santos, DJF3 CJ2 15/12/2009, p. 112).”

(3ª Turma, Apelação Cível nº 1620597 - 0013978-48.2006.4.03.6100, Rel. Juiz Federal Convocado Rubens Calixto, j. em 19.3.2015)

“AGRAVO LEGAL. ARTIGO 557 DO CPC. CONTRIBUIÇÃO DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO - CIDE. LEI Nº 10.168/2000. CONTRATO DE LICENÇA DE USO E MANUTENÇÃO DE SOFTWARE. TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA. INOCORRÊNCIA. NÃO INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA. INVERSÃO DO ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. NON REFORMATIO IN PEJUS. NÃO VIOLAÇÃO. RECURSO NÃO PROVIDO.

(...)

10. Neste aspecto, a Lei nº 11.452/2007, reconhecendo a existência de possíveis dúvidas quanto à interpretação do alcance da CIDE-Tecnologia, fez incluir o § 1º-A ao artigo 2º, com o seguinte teor: “§ 1º-A. A contribuição de que trata este artigo não incide sobre a remuneração pela licença de uso ou de direitos de comercialização ou distribuição de programa de computador, salvo quando envolverem a transferência da correspondente tecnologia”.

11. Ainda que na redação originária, a hipótese era de não incidência, sendo evidente que referida norma tem unicamente o caráter interpretativo, de modo que mesmo em relação aos fatos consumados antes de seu advento, não era devida a contribuição, na hipótese ali discriminada.”

(3ª Turma, Apelação Cível nº 1535569 - 0005929-13.2009.4.03.6100, Rel. Juiz Federal Convocado Leonel Ferreira, j. em 10.3.2016)

É importante dizer que, tendo em vista o reconhecimento da repercussão geral do Recurso Extraordinário nº 928.943-SP (ainda pendente de julgamento), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem intimado os contribuintes a se manifestarem acerca da suspensão de seus processos cujo objeto seja a incidência da CIDE sobre os contratos de licença de uso e exploração de softwares.

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Entretanto, a hipótese do Recurso Extraordinário nº 928.943-SP não se assemelha à discussão específica do licenciamento de software sem transferência de tecnologia, na medida em que o caso concreto ali envolvido cuida de contratos de prestação de serviços e licença de uso de patente, com transferência de tecnologia.

Ademais, o Recurso Extraordinário trata de temas exclusivamente constitucionais, como não poderia deixar de ser, abordando suposta violação da cobrança da CIDE aos princípios da isonomia, da proporcionalidade, da razoabilidade, e aos artigos 170, inc. III, 174, 218 e 219, da Constituição Federal.

Importante, portanto, que a devida distinção seja feita, não apenas para efeito de andamento dos processos que não deveriam ser sobrestados em função do Recurso Extraordinário nº 928.943-SP, como também para que não sejam eles automaticamente afetados pelo que vier a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal, na hipótese de uma eventual decisão desfavorável aos contribuintes.

Afinal, persistirão os importantes temas infraconstitucionais acima referidos, a indicar a impossibilidade de cobrança da CIDE sobre os contratos de licenciamento de software sem transferência de tecnologia, relativamente a fatos geradores anteriores a 1º.1.2006.

Bianca Santana de [email protected]

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Crédito fictício na Convenção para Evitar a Dupla Tributação com a Espanha - Solução de Consulta Cosit nº 82/2019Em 28.3.2019 a Receita Federal analisou o procedimento e a aplicação do crédito fictício estabelecido na Convenção para Evitar a Dupla Tributação com a Espanha17 determinando os parâmetros para a compensação de crédito presumido decorrente do seu artigo 23.

A consulente é empresa brasileira que presta serviços de pesquisas de mercado, recolhimento de informações e elaboração de relatórios sobre as atividades aéreas e industriais aeronáuticas, espaciais, de defesa, de segurança pública ou privada e de telecomunicações a empresa com sede na Espanha.

Tendo em vista a Convenção entabulada entre Brasil e Espanha, a consulente buscava esclarecer os seguintes pontos:

• a qualificação do rendimento recebido por ela como remuneração aos serviços prestados, buscando a confirmação de tratar-se de royalties;

• a aplicabilidade de cláusula da Convenção que impõe ao Brasil a consideração de um crédito mínimo de 25%, presumido, para a tributação dos rendimentos recebidos como remuneração de royalties, mesmo que a tributação espanhola na fonte esteja limitada a 15%;

• a base de cálculo do crédito a ser apurado e a taxa de câmbio utilizadas para o cálculo do crédito; e

• se o crédito, após compensado com o IRPJ e caso haja excesso, poderá ser compensado com a CSLL e em anos subsequentes.

A Receita Federal afastou a análise do primeiro ponto indicado pela consulente, sob o fundamento de que não haveria dúvida de interpretação da legislação tributária e que, para fixar a qualificação do rendimento, bastaria à consulente verificar se os serviços por ela prestados se subsumem à definição de royalties estabelecida na Convenção (artigo 12, § 3º). Portanto, declarou a ineficácia parcial da consulta com relação a este questionamento.

Os demais pontos foram explorados pela Receita Federal considerando a qualificação indicada pela própria consulente, ou seja, o tratamento dado aos royalties na Convenção Brasil-Espanha. Definiu-se, desta forma, a aplicação de um crédito presumido com alíquota de 25%, definido no artigo 23 da Convenção Brasil-Espanha.

A Receita Federal, então, determinou:

• que o crédito deve ser calculado sem o reajustamento da base de cálculo;

• tratamento tributário idêntico ao do tributo efetivamente pago na origem, ou seja:

o pode ser compensado com os valores devidos de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); e

o diante de eventual prejuízo fiscal, poderá ser compensado com o Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) devido em períodos posteriores; e

• para a conversão do crédito a compensar deve ser considerada a taxa de câmbio da data da contabilização do rendimento correspondente.

17. Decreto 76.975/1975

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Isto porque a CSLL está incluída dentre os tributos visados pela Convenção (artigo 2º), por estar contida na expressão “impostos idênticos ou substancialmente semelhantes que forem posteriormente criados seja em adição aos impostos já existentes, seja em sua substituição”, qualidade reconhecida à CSLL de forma expressa pelo artigo 11, da Lei nº 13.202/2015.

A possibilidade de compensação do crédito presumido, inclusive com a CSLL, resta reconhecida pelo parágrafo único do artigo 21, da MP 2.158-35/2001. Ademais, com relação aos períodos posteriores do IRPJ é determinada como contrapartida à possibilidade de compensação do imposto pago no exterior nos períodos posteriores, nos termos da IN SRF 213/2002.

Com relação à data da taxa de câmbio de conversão na compensação do crédito, a Receita Federal determinou a aplicação, por analogia aos § 5º do artigo 87 da Lei nº 12.973/2014 (tributação de controlada) e § 1º do artigo 25 da Lei nº 9.249/1995 (rendimentos e ganhos de capital auferidos no exterior), da taxa de câmbio da data da contabilização do rendimento correspondente.

Fez, ademais, expressa ressalva de que esse entendimento se aplicaria somente aos casos em que não exista qualquer tributo pago no exterior. Existindo, de forma efetiva, o pagamento de tributo no exterior, a sua compensação deverá considerar a taxa de câmbio da data do efetivo pagamento (artigo 26, § 3º, Lei nº 9.249/1995).

Indicados os argumentos e conclusões da Receita Federal, é importante esclarecer, por fim, que a resposta à consulta faz referência à aplicação da técnica de crédito fictício de direito tributário internacional denominado tax sparing quando, na realidade, na Convenção Brasil-Espanha foi estabelecida a aplicação de técnica de crédito presumido denominada matching credit.

Ambos os institutos dependem de previsão específica em Convenção e estabelecem que o país de residência da pessoa que recebe o rendimento estará obrigado à concessão de um crédito, independente do efetivo recolhimento tributário no país da fonte com relação ao rendimento sob análise.

No entanto, o tax sparing somente será aplicado quando o país da fonte proceder a uma desoneração tributária do rendimento e o crédito no país de residência corresponda ao imposto que teria sido pago na origem caso não existisse a desoneração. O matching credit, por sua vez, estabelece um crédito fixo que independe da existência de desoneração tributária na origem e cuja alíquota deve estar prevista no texto da Convenção.

Essa distinção entre as técnicas de crédito e o equívoco da Receita Federal na análise da consulta deixam clara a sua inadequação ao caso concreto, com relação à taxa de câmbio a ser considerada na conversão do crédito. E isto porque a técnica de matching credit (crédito presumido) exige o pagamento de tributo na origem e, sendo esta a técnica prevista na Convenção Brasil-Espanha, não é correto o entendimento da Receita Federal com relação à aplicação da taxa de câmbio do dia de contabilização do rendimento.

Tatiana Caroline de [email protected]

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Serviços de construção civil: regime cumulativo ou não-cumulativo da contribuição ao PIS e da CofinsComo regra, a contribuição para o PIS e a Cofins incidem com base no regime não-cumulativo, sendo que as exceções estão previstas taxativamente no artigo 10, da Lei nº 10.833/2003, em que se estabelecem uma série de hipóteses para as quais as contribuições devem ser apuradas de acordo com o regime anterior (i.e., cumulativo – Lei nº 9.718/1998).

Dentre as exceções, se destaca a referida no inciso XX daquele artigo18, que diz respeito às receitas decorrentes da execução de “obras de construção civil”, nas modalidades empreitada, subempreitada ou administração.

Como a legislação específica sobre tais contribuições nunca trouxe uma definição exata do que viria a ser “obra de construção civil”, a Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) editou o Ato Declaratório Interpretativo RFB (ADI) nº 10/2014, dispondo que, para fins de aplicação do inciso XX, estão abrangidas “as obras e os serviços auxiliares e complementares da construção civil”, tais como aqueles exemplificados no Ato Declaratório Normativo Cosit nº 30/199919.

Este ato normativo, editado em 1999, traz um rol meramente exemplificativo das atividades que, ao se encaixar no conceito de obra de construção civil, não estão abrangidas pelo SIMPLES, diante da vedação trazida pela Lei nº 9.317/199620. A referida lei, por sua vez, conceitua como “obras de construção civil”, a construção, demolição, reforma, ampliação de edificação ou outras benfeitorias agregadas ao solo ou ao subsolo21-22.

É interessante notar que o ADI nº 10/2014 foi precedido da Solução de Divergência Cosit nº 11/2014, que, reconhecendo que o conceito de “obra de construção civil” não é uníssono nas normas técnicas ou na legislação tributária, preferiu enquadrar no regime cumulativo também “as obras e os serviços auxiliares e complementares de construção civil” (g.n.), em contraposição à dualidade de “obra de construção civil” versus “serviço de construção civil” trazida na Instrução Normativa RFB nº 971/1996, que, ao final, acaba por restringir a aplicação do inciso XX.

A partir das orientações da RFB expostas acima, o conceito de “obra de construção civil” engloba não apenas os serviços dessa natureza propriamente ditos, mas também aqueles que lhe sejam auxiliares e complementares. Com efeito, para fins de enquadramento no regime cumulativo, a RFB optou por incluir todas as atividades vinculadas a uma determinada obra, independentemente da natureza jurídica isolada de determinado serviço.

18. “Art. 10. Permanecem sujeitas às normas da legislação da COFINS vigentes anteriormente a esta Lei, não se lhes aplicando as disposições dos arts. 1º a 8º: (...) XX – as receitas decorrentes da execução por administração, empreitada ou subempreitada, de obras de construção civil; (Redação dada pela Lei nº 13.043, de 2014)”19. Este ato regulamentar, editado em 1999, traz um rol meramente exemplificativo das atividades que, por adentrarem no conceito de obra de construção civil, não estão abrangidas pelo SIMPLES, diante da vedação trazida pela Lei nº 9.317/1996, são elas: 1. a construção, demolição, reforma e ampliação de edificações; 2. sondagens, fundações e escavações; 3. construção de estradas e logradouros públicos; 4. construção de pon-tes, viadutos e monumentos; 5. terraplenagem e pavimentação; 6. pintura, carpintaria, instalações elétricas e hidráulicas, aplicação de tacos e azulejos, colocação de vidros e esquadrias; e 7. quaisquer outras benfeitorias agregadas ao solo ou subsolo.20. “Art. 9º Não poderá optar pelo SIMPLES, a pessoa jurídica: (...) V – que se dedique à compra e à venda, ao loteamento, à incorporação ou à construção de imóveis;” (g.n.)21. “§ 4º Compreende-se na atividade de construção de imóveis, de que trata o inciso V deste artigo, a execução de obra de construção civil, própria ou de terceiros, como a construção, demolição, reforma, ampliação de edificação ou outras benfeitorias agregadas ao solo ou subsolo.”22. Essa mesma definição é trazida no art. 257, § 13º, do Decreto nº 3.048/1999, e no artigo 322, inc. I, da IN RFB nº 971/1999, que tratam das normas gerais de tributação previdenciária.

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É dentro desse cenário que, em fevereiro de 2019, foram publicadas as Soluções de Consulta Cosit nºs 40, 43, 44 e 4623, para dispor sobre o enquadramento, ou não, de diversas atividades no escopo do inc. XX do artigo 10º da Lei nº 10.833/2003 e, por via de consequência, no regime cumulativo de apuração da contribuição ao PIS e da Cofins.

Após perquirirem o conceito de “obras de construção civil” à luz da legislação federal, dos pronunciamentos de órgãos técnicos de engenharia, da doutrina e da jurisprudência, as Soluções de Consulta da RFB adotaram o seguinte entendimento: “pode-se afirmar que estão abarcadas nesse conceito [de obras de construção civil] os trabalhos de engenharia que, mediante construção, reforma, recuperação, ampliação, reparação e outros procedimentos similares, transformam o espaço no qual são aplicadas”.

Quanto à abrangência dos “serviços de construção civil” dentro do conceito de “obras de construção civil”, os pronunciamentos foram ainda mais explícitos do que o ADI nº 10/2014, para afirmar que apenas os serviços auxiliares e complementares incluídos nos contratos de obra é que devem ser abarcados pela regra da cumulatividade, mas não os serviços contratados independentemente da conclusão de uma obra de construção civil.

No entendimento da RFB publicado no início de 2019, portanto, apenas estarão sujeitas ao regime de apuração cumulativo as receitas decorrentes de um contrato de administração, empreitada ou subempreitada que tiver como objetivo a entrega de uma “obra de construção civil” concluída, na qual estejam indicados de forma clara os serviços auxiliares e complementares da referida obra (e.g., instalação e montagem de elevadores, pintura predial, etc.)

O serviço de construção executado apenas para a finalidade de acrescentar uma utilidade à edificação, sem um contrato de obra vinculado no respectivo momento, foge do conceito trazido no inciso XX do art. 10, de modo que as suas receitas devem ser submetidas ao regime de apuração não-cumulativo.

Verifica-se, portanto, que as respostas formuladas pela RFB no ano de 2019 vão muito além das conclusões alçadas em 2014, com a Solução de Divergência nº 11/2014 e com o ADI 10/2014, esclarecendo que apenas estariam sujeitas ao regime cumulativo as receitas decorrentes de: (i) um contrato de execução por administração, empreitada e subempreitada de obras de construção civil, que tenha por objeto atividades que transformam o espaço no qual são aplicadas; e (ii) que nesse mesmo instrumento contratual estejam previstos todos os serviços auxiliares e complementares que serão necessários à conclusão da obra, demonstrando-se, assim, que a finalidade desse contrato é a entrega da obra concluída à contratante.

Com fundamento nestas premissas, ao analisar os casos concretos formulados nas Soluções de Consulta, a RFB compreendeu:

– quando se tratar de dragagem por resultado, se as receitas forem advindas de uma dragagem inicial com o objetivo de aprofundamento, alargamento ou expansão de áreas aquaviárias, contratada mediante os regimes de administração, empreitada ou subempreitada, as suas receitas estarão sujeitas ao regime de apuração cumulativa. De outro lado, caso se trate de uma dragagem de manutenção, tais receitas serão tributadas sob o regime não-cumulativo (Solução de Consulta Cosit nº 40/2019);

– as receitas decorrentes de serviços técnico-especializados de laudos, inspeções, assessoria técnica, etc., quando não vinculadas à execução das obras de construção civil, estarão submetidas ao regime não-cumulativo das contribuições (Solução de Consulta Cosit nº 43/2019);

23. Que tratam, respectivamente, da dragagem por resultado; a prestação de serviços técnicos não-especia-lizados de laudos, inspeções, assessoria técnica; a construção de estações e redes de distribuição de energia elétrica; e a operacionalização de gruas para movimentação de cargas e materiais em obras.

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– a construção de estações e redes de distribuição de energia elétrica é considerada “obra de construção civil”, devendo submeter as receitas ao regime de apuração cumulativo. Em contrapartida, a receita decorrente de serviços de manutenção de estações e redes de distribuição de energia elétrica deles decorrentes será apurada pelo regime não-cumulativo, a não ser que os serviços auxiliares estejam vinculados ao mesmo contrato de obra de forma incondicional (Solução de Consulta Cosit nº 44/2019); e

– a operacionalização de gruas utilizadas para a movimentação de cargas e materiais em obras constitui-se em “serviço de construção civil” e suas receitas não estão abarcadas pelo regime cumulativo da contribuição ao PIS e da Cofins (ou seja, estão no regime não-cumulativo), salvo se a prestação desse serviço estiver vinculada a um contrato de administração, empreitada ou subempreitada de obra de construção civil e a utilização das gruas se dê na execução da referida obra, quando as receitas se sujeitarão ao regime cumulativo, previsto no artigo 10, inc. XX, da Lei nº 10.833/2003 (Solução de Consulta Cosit nº 46/2019).

Edward Shindy [email protected]

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Alterações da rede brasileira de acordos internacionais em matéria tributáriaO primeiro semestre do ano foi marcado por significativas alterações na rede brasileira de acordos internacionais de natureza tributária, com relação tanto às Convenções já vigentes, quanto à assinatura de novos acordos. As alterações são relevantes, merecendo atenção das empresas brasileiras.

• Convenções para Eliminar a Dupla Tributação em Relação aos Tributos sobre a Renda e sobre Capital e Prevenir a Evasão e a Elisão Fiscais

o Dinamarca

Por meio do Decreto 9.851/2019, em 25 de junho de 2019, o Brasil promulgou o Protocolo que altera a Convenção para Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre a Renda assinada com a Dinamarca e promulgada pelo Decreto 75.106/1974.

O Protocolo altera, principalmente, o artigo 23 da Convenção, que trata dos métodos para eliminar a dupla tributação e entrou em vigor em 20.3.2019.

Com a alteração foram retirados dos textos cláusulas que previam (i) um crédito presumido (matching credit) para os rendimentos referentes a juros e royalties recebidos por um residente na Dinamarca, (ii) a não tributação no Estado contratante dos lucros não distribuídos e das ações emitidas por uma S.A do outro Estado, cujo capital pertencer ou for controlado, total ou parcialmente, direta ou indiretamente, por residente do primeiro Estado.

Essa última alteração teve como objetivo evitar os efeitos de planejamentos tributários que buscavam a não incidência do IRPJ e da CSLL sobre os lucros obtidos por holdings dinamarquesas controladas por empresas brasileiras. Não existindo a previsão na Convenção aos rendimentos se aplica a regra geral, que prevê a tributação automática no Brasil dos lucros auferidos por controladas no exterior, por ficção, na data da apuração dos referidos lucros (artigo 76, da Lei nº 12.973/2014).

o Suécia

Em 19.3.2019 o Brasil assinou um Protocolo de Emenda à Convenção entre o Brasil e a Suécia para evitar a Dupla Tributação em Matéria de Impostos sobre a Renda, de forma a atualizar o texto do tratado assinado em 1975, diante da crescente mobilidade das atividades comerciais e de internalização das empresas.

No caso da Suécia, foram incluídas significativas alterações a 8 (oito) artigos. Em que pese o Protocolo assinado ainda não tenha data para entrar em vigor, é importante a reanálise das operações comerciais para a sua futura adequação às novas regras evitando a dupla tributação dos rendimentos auferidos.

Dentre as principais alterações, podemos destacar: (i) a alteração do procedimento de determinação da residência, no caso de dupla residência, que deverá ocorrer por meio de procedimento amigável e passa a ser condição de acesso aos benefícios e isenções previstos na Convenção; (ii) a alteração dos limites de tributação na fonte para dividendos, juros e royalties, tendo sido incluídas condicionantes antes não previstas; (iii) a alteração dos métodos para a eliminação de dupla tributação, com a eliminação do crédito presumido (matching credit) com relação a juros, royalties e dividendos; e (iv) a alteração da disciplina do procedimento amigável e de troca de informações.

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Destaquem-se os novos limites máximos de tributação na fonte para dividendos, juros e royalties:

Limites de IRRF

Rendimento Regra Geral Exceção Hipótese da Exceção

Dividendos 15% 10% Beneficiário efetivo for sociedade que detenha 10% do poder de voto da sociedade pagadora

Juros 15% 10%

Empréstimos concedidos por um banco, por um pe-ríodo mínimo de 7 anos, ligados à venda de equipa-mentos industriais ou projetos de investimento e fi-nanciamento de obras públicas

Royalties 10% 15% Provenientes do uso, ou direito de uso, de marcas de indústria ou de comércio

Ademais, foi alterado o protocolo original do Acordo, tendo sido estabelecido no novo protocolo que no conceito de royalties estão compreendidos, também, os pagamentos referentes à assistência técnica e serviços técnicos. Logo, por força do Ato Declaratório Interpretativo (ADI) nº 5/2014, deverão ser qualificados como royalties e ser-lhe-ão impostas as condições previstas no artigo 12 do Acordo.

Ainda, é importante mencionar a inclusão de artigo específico de combate à elisão fiscal e ao uso abusivo do acordo, com a inclusão de uma cláusula que determina o cumprimento de requisitos de acesso aos benefícios da Convenção e uma cláusula para limitar o usufruto dos benefícios da Convenção, quando constatado que o objetivo da operação seja somente usufruir os referidos benefícios.

o Uruguai

Em 7.6.2019 o Brasil celebrou Convenção internacional para evitar a bitributação com o Uruguai, país indicado como prioritário segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O texto do tratado, ainda sem data para entrar em vigor, incorpora alterações decorrentes do “Projeto BEPS”, inclusive com a inclusão de artigo específico de combate à elisão fiscal e ao uso abusivo do acordo, da mesma forma que possui cláusula que determina o cumprimento de requisitos detalhados para possibilitar o acesso aos benefícios da Convenção.

Outras cláusulas cujo texto merece destaque são: (i) a aplicação de procedimento amigável para a determinação da residência, no caso de dupla residência, quando o conflito não puder ser resolvido com a fixação da sede efetiva da empresa; (ii) a adoção de uma cláusula específica para serviços técnicos, que afasta a aplicação do artigo referente aos lucros, mantendo o tratamento diferenciado com relação ao modelo OCDE e permitindo a tributação pelo Estado da fonte de pagamento; (iii) a previsão que permite a aplicação da Convenção às entidades fiscalmente transparentes, quando o rendimento seja tratado como sendo de um residente de um dos Estados Contratantes.

Com as novas convenções celebradas, o Brasil amplia a sua rede de tratados, que passa a conter 37 (trinta e sete) tratados. Além do mencionado acordo, aguardam-se os trâmites necessários à vigência os acordos assinados com Suíça, Cingapura e Emirados Árabes Unidos, todos assinados em 2018.

• Troca de Informações em Matéria Tributária

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Igualmente merece destaque a promulgação de Acordos para o Intercâmbio de Informações sobre Matéria Tributária com a Suíça (Decreto nº 9.814/2019) e Reino Unido e Irlanda do Norte (Decreto nº 9.815/2019), que possibilitam a troca de informações relativas a quaisquer tributos federais mediante pedido por escrito da autoridade competente de cada país.

Os países se comprometem, também, a fornecer à autoridade do outro país informações financeiras e societárias, as quais terão caráter sigiloso e poderão ser utilizadas somente para fins de lançamento e cobrança de tributos e o cumprimento de obrigações acessórias.

Também merecem destaque a aprovação do acordo firmado com a Jamaica (2014), por meio do Decreto Legislativo nº 51/2019 e a ratificação pelo Brasil do acordo firmado com Jersey (2013), ocorrida somente em 22.1.2019 em contrapartida à ratificação de Jersey efetuada já em 15.4.2013.

Com as alterações, o Brasil passa a ser signatário de 8 (oito) acordos internacionais para a troca de informações em matéria tributária, mas somente 4 (quatro) deles vigentes – Estados Unidos, Jersey, Reino Unido e Irlanda do Norte, e Suíça.

• Lista Taxativa de Paraísos Fiscais

Por fim, cabe ressaltar a retirada pela Receita Federal, através da Instrução Normativa nº 1.896, de 28.6.2019, da República de San Marino da lista taxativa de paraísos fiscais contida na IN RFB nº 1.037/2010.

Portanto, a partir da publicação da Instrução Normativa, há a consequente diminuição do percentual de retenção do imposto de renda na fonte nas remessas de empresas e pessoas físicas para residentes naquela país e, ainda, a inaplicabilidade automática das regras de preços de transferência e de subcapitalização para operações realizadas por empresas residentes no Brasil e residentes em San Marino, mesmo que não vinculados.

Cristiano Frederico [email protected]

Tatiana Caroline de [email protected]

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Comentários sobre a suspensão da exigibilidade do crédito tributárioUma vez constituído o crédito tributário, a sua exigibilidade poderá ser suspensa mediante a ocorrência dos seguintes eventos: (i) moratória; (ii) depósito do seu montante integral; (iii) apresentação de reclamação ou recurso, pelo sujeito passivo, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; (iv) concessão de medida liminar em mandado de segurança; (v) concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; e (vi) parcelamento.

A primeira questão a analisar é o que significa ter a exigibilidade suspensa.

A exigibilidade do crédito tributário é uma qualidade necessária à sua cobrança judicial, mediante execução fiscal, o que deve ser antecedido por sua inscrição em dívida ativa, para a constituição do respectivo título executivo extrajudicial (CDA).

A CDA, como autoriza o artigo 1º, parágrafo único, da Lei n⁰ 9.492/97, pode ser protestada. O sujeito passivo titular de débito em aberto com a Fazenda Pública, pode ter o seu nome inscrito no Cadin, o que lhe impedirá de realizar operações de crédito com recursos públicos, gozar de incentivos fiscais e financeiros, assim como celebrar convênios, acordos, ajustes ou contratos que envolvam desembolso, a qualquer título, de recursos públicos, e respectivos aditamentos.

E, uma vez exigível o crédito tributário, o sujeito passivo não conseguirá obter a sua CND, o que igualmente resultará em limitações às suas atividades da vida civil, dentre elas a participação em licitações e a contratação com o Poder Público.

Todas essas situações, portanto, em algum grau manifestam a exigibilidade do crédito tributário, sendo possível dizer que se traduzem em atos concretos de exercício dessa qualidade atribuída ao objeto da obrigação tributária.

Por isso é que, no julgamento do tema n⁰ 271, o Superior Tribunal de Justiça (Recurso Especial nº 1.140.956-SP. 1ª Seção, Rel. Min. Luiz Fux, j. em 15.10.2009) decidiu que a suspensão da exigibilidade do crédito tributário impede não só o ajuizamento da execução fiscal (exigibilidade-execução), como também a lavratura do auto de infração (exigibilidade-autuação) e a inscrição em dívida ativa (exigibilidade-inscrição), na medida em que todos esses eventos materializam a exigência do crédito fiscal.

Em relação à execução fiscal, no julgamento do tema n⁰ 365 (Recurso Especial nº 957.509-RS. 1ª Seção, Rel. Min. Luiz Fux, j. em 5.3.2010), o Superior Tribunal de Justiça afirmou também que “a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, perfectibilizada após a propositura da ação, ostenta o condão somente de obstar o curso do feito executivo e não de extingui-lo”.

Afirmar que a suspensão da exigibilidade alcançaria a própria possibilidade de lavratura do auto de infração, impedindo o lançamento de ofício, nos parece ser uma contradição em termos, porquanto: (i) não poderá haver suspensão do que ainda sequer foi constituído; (ii) o lançamento do crédito tributário é pressuposto à sua própria exigibilidade; e (iii) sem ele, não há crédito tributário, não há o que ser exigido e, portanto, não há exigibilidade a ser suspensa.

Vale também recapitular a forma como aquele mesmo Superior Tribunal de Justiça decide causas controvertidas relativas à inscrição do sujeito passivo no Cadin, tomando por referência a legislação de regência do cadastro federal de devedores inadimplentes (Lei n⁰ 10.522/2002).

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Nesse caso, aparentemente dando prevalência ao artigo 7º, da Lei n⁰ 10.522/2002, em relação ao que dispõe o artigo 151, do Código Tributário Nacional, o Superior Tribunal de Justiça vem entendendo que não basta uma causa de suspensão da exigibilidade do crédito tributário para que, automaticamente, seja suspensa a inscrição do devedor no Cadin. A seu ver, dever-se-ia também observar, cumulativamente, o que prescreve aquele artigo 7º, inc. I, que exigiria adicionalmente a existência de uma ação judicial promovida pelo devedor contra a cobrança que lhe é direcionada. Assim sendo:

- não seria possível a exclusão do Cadin quando o sujeito passivo ajuíza ação de antecipação de garantia da execução fiscal ainda não iniciada, nos termos do tema n⁰ 237 (Recurso Especial nº 1.123.669-RS. 1ª Seção, Rel. Min. Luiz Fux, j. em 30.9.2009), mas ainda não moveu ação contra o próprio mérito do crédito tributário contra si constituído (Recurso Especial nº 1.307.961-MT. 2ª Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. em 4.9.2012; Recurso Especial nº 1.232.447-SC. 2ª Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. em 22.2.2011; Embargos de Divergência no Recurso Especial nº 1.002.798-SP. 1ª Seção, Rel. Min. Eliana Calmon, j. em 12.8.2009; e Recurso Especial n⁰ 633.805-RS. 1ª Turma. Rel. Min. Denise Arruda, j. em 3.2.2005);

- de outro lado, não seria possível a exclusão do Cadin quando há ação contra a dívida, movida pelo sujeito passivo, mas ainda não há causa de suspensão da exigibilidade do crédito tributário (Recurso Especial nº 853.441-PE. 2ª Turma, Rel. Min. Humberto Martins, j. em 21.5.2009); e

- também não caberia excluir o seu nome do Cadin quando a execução fiscal é suspensa para verificar a exatidão do pagamento do tributo ou para verificar a liquidez e certeza do crédito tributário, se não houver causa de suspensão da exigibilidade nos termos do artigo 151 (Recurso Especial n⁰ 979.617-SP. 2ª Turma. Rel. Min. Eliana Calmon, j. em 12.8.2008; e Recurso Especial n⁰ 1.049.941-SP. 2ª Turma. Rel. Min. Carlos Fernando Mathias, j. em 3.6.2008).

Curiosamente, em situações nas quais o sujeito inscrito no Cadin é uma pessoa jurídica de direito público, o Supremo Tribunal Federal é bastante claro no sentido de entender que as causas de suspensão previstas nos incisos I e II, do artigo 7º, da Lei n⁰ 10.522/2002, são independentes entre si, de tal sorte que, seja pelo simples fato de que o sujeito passivo moveu ação judicial contra o mérito da cobrança contra si dirigida, com o oferecimento de garantia idônea, seja pela existência de uma causa de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, necessariamente o seu nome deveria ser excluído do cadastro de devedores (Medida Cautelar na Ação Cautelar n⁰ 1.620-SP. Pleno, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. em 25.6.2008; Medida Cautelar na Ação Cautelar n⁰ 259. Pleno, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 3.12.2004; Questão de Ordem na Ação Cautelar n⁰ 266. Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 28.10.2004; e Agravo Regimental na Questão de Ordem na Ação Cautelar n⁰ 1.033. Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 16.6.2006).

Com relação, finalmente, à suspensão da possibilidade de ajuizamento da execução fiscal para a cobrança do crédito tributário, a orientação do Superior Tribunal de Justiça (reforçada no tema nº 241, objeto do Recurso Especial nº 962.838-BA. 1ª Seção, Rel. Min. Luiz Fux, j. em 25.11.2009) acaba demandando que se encontre uma “saída” para que o direito de ação da Fazenda Pública não prescreva, se a causa de suspensão da exigibilidade perdurar por prazo superior aos cinco anos indicados no artigo 174, do Código Tributário Nacional. Afinal, conforme se vê do parágrafo único desse artigo, ali são arroladas apenas causas de interrupção do prazo prescricional, sem qualquer menção à possibilidade da suspensão da sua contagem.

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É nesse contexto que, ao arrepio da literalidade da norma, constrói-se a ideia de que as causas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário implicariam, automaticamente, em suspensão também do prazo prescricional para a cobrança executiva por parte da Fazenda Pública, nos termos do mencionado artigo 174, ainda que não estejam referidas nesse dispositivo legal.

Os fundamentos para esse tipo de conclusão, no entanto, oscilam a depender do tipo de causa de suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Por exemplo, no caso de parcelamento requerido pelo sujeito passivo, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça não é o de que o prazo prescricional se suspende, mas sim que se interrompe, por estar configurado ato inequívoco de reconhecimento do débito pelo sujeito passivo (Recursos Especiais nºs 1.658.517-PA e 1.641.011-PA. 1ª Seção, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. em 18.8.2017; Recurso Especial nº 1.742.611-RJ. 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, j. em 12.6.2018). O mesmo se dá em relação a pedidos de compensação formulados pelo sujeito passivo, no entender do mesmo Superior Tribunal de Justiça (Recurso Especial nº 1.650.828-SP. 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, j. em 9.3.2017).

José Luis Ribeiro [email protected]

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A Portaria PGFN nº 33/2018 e suas inovações nos procedimentos prévios ao ajuizamento da execuçãoEm 1º.10.2018, entrou em vigor a Portaria nº 33/2018, que trouxe diversas inovações na cobrança administrativa do crédito tributário pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN), notadamente (i) o pedido de revisão de dívida ativa (PRDI), (ii) a oferta antecipada de garantia em execução fiscal e (iii) a averbação pré-executória.

O PRDI consiste na possibilidade de o contribuinte, dentro do prazo de 30 (trinta) dias após a notificação da inscrição em dívida, demonstrar que o débito objeto de cobrança não possui liquidez, certeza e exigibilidade.

Em resumo, no PRDI é admitido alegar qualquer questão que afaste, suspenda, ou impacte de alguma forma a exigibilidade do crédito tributário ou, ainda, que seja causa de sua extinção, colocando em dúvida a liquidez, a certeza ou a exigibilidade dos débitos inscritos.

Se o PRDI for apresentado dentro do prazo de 30 (trinta) dias da notificação da inscrição em dívida e for aceito para análise, suspendem-se os atos do artigo 7º da Portaria, notadamente o envio do débito para inscrição no CADIN, o protesto da certidão de dívida ativa (CDA) e a averbação pré-executória.

No entanto, diz a portaria que não haverá suspensão da exigibilidade do crédito tributário, o que impedirá o sujeito passivo de obter a sua certidão positiva de débitos fiscais, com efeitos de negativa.

A oferta antecipada de garantia em execução fiscal também poderá ser realizada, dentro do prazo de 30 (trinta) dias da notificação da inscrição do débito em dívida ativa.

Nesse caso, segundo o artigo 9º, incisos I, II e III, a oferta poderá compreender depósito em dinheiro, apólice de seguro-garantia, carta de fiança bancária – estas duas desde que prestadas em conformidade com a regulamentação da PGFN – ou, finalmente, quaisquer outros bens ou direitos sujeitos a registro público, passíveis de arresto ou penhora, observada a ordem de preferência do artigo 11, da Lei de Execuções Fiscais (Lei nº 6.830/80).

Nos termos do artigo 13, a aceitação da oferta antecipada também não suspende a exigibilidade dos créditos inscritos em dívida, mas permite a emissão de certidão positiva, com efeitos de negativa, desde que o bem oferecido possua valor suficiente para garantir a dívida em sua integralidade.

Nesse sentido, a Portaria nº 33/2018 parece se respaldar na primeira parte do artigo 206, do Código Tributário Nacional, que atribui os mesmos efeitos da certidão negativa à certidão de que constem débitos em aberto, mas que estejam em curso de cobrança executiva na qual tenha sido efetivada penhora.

Ou seja, ainda que a garantia seja realizada em caráter antecipado à própria execução fiscal, acabaria surtindo os efeitos previstos no artigo 206, autorizando a emissão da certidão positiva, com efeitos de negativa.

A própria Portaria nº 33/2018, ainda, fixa prazo de 30 (trinta) dias para que a execução fiscal seja ajuizada pela PGFN, a contar da data da aceitação da garantia antecipada pelo sujeito passivo.

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Caso o contribuinte não atue de forma proativa, no sentido de apresentar o PRDI ou de antecipar a garantia, a Portaria oferece diversas ferramentas administrativas para que a PGFN obrigue o devedor a quitar o crédito tributário inscrito em dívida, destacando-se a regulamentação da averbação pré-executória, que tem por efeito causar a indisponibilidade dos bens antes do ajuizamento da execução fiscal.

Nesse sentido, a Portaria regulamentou o disposto no artigo 20-B, § 3º, inc. II, da Lei nº 10.522/2002, que possibilita à PGFN “averbar, inclusive por meio eletrônico, a certidão de dívida ativa nos órgãos de registro de bens e direitos sujeitos a arresto ou penhora, tornando-os indisponíveis”.

A Portaria nº 33/2018, trata, portanto, de importante instrumento da PGFN para racionalizar a cobrança de dívidas e obter mais eficiência no bloqueio e na constrição de bens de devedores que se mantenham inertes em face de cobrança de dívidas pela União.

É necessário, portanto, que os contribuintes em débito com o Governo Federal tomem medidas proativas para afastar a cobrança de débitos que entenderem ilegais por meio do PRDI, ações antiexacionais para fins de suspensão do crédito tributário ou mesmo antecipar administrativamente a garantia em execução fiscal.

Caso contrário, poderão se deparar com bens tornados indisponíveis à sua revelia, além da própria impossibilidade da obtenção de certidão positiva de débitos fiscais, com efeitos de negativa.

Ressalte-se, por fim, que pendem de julgamento algumas ações diretas de inconstitucionalidade (nºs 5.932-DF, 5.931-DF, 5.925-DF, 5.890-DF, 5.886-DF e 5.881-DF) contra a norma do artigo 20-B, da Lei nº 10.522/2002, inserido pela Lei nº 13.606/2018, cujos fundamentos podem ser eventualmente utilizados para se questionar a validade da averbação pré-executória aqui comentada.

Mario Jabur [email protected]

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Artigos publicados

Tributação na Teoria e no Papel24

José Luis Ribeiro [email protected]

NA TEORIA

Reforma tributária

Passados poucos meses do início do novo governo federal, encontramo-nos diante da feliz notícia de avanço da reforma tributária no Congresso Nacional, com a aprovação da PEC 45/2019, pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, em maio último.

Gestada pelo Centro de Cidadania Fiscal, o projeto pretende unificar a contribuição ao PIS, a Cofins, o IPI, o ICMS e o ISS, em um único tributo a ser denominado de Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), o qual incidirá sobre transações com qualquer tipo de bens, serviços e intangíveis (inclusive cessão e licenciamento de direitos, locação de bens e importações) e cuja arrecadação será feita pelo governo federal, de forma centralizada, mas com compartilhamento financeiro com Estados e Municípios.

Fica de fora o imposto sobre operações financeiras (IOF), o que é uma pena, diante da possibilidade que a reforma apresenta de dar fim aos históricos conflitos em matéria de tributação indireta no Brasil, dentre os quais podemos lembrar de casos dos mais cotidianos:

• conflitos ICMS versus ISS: não-incidência do ICMS sobre o fornecimento de pré-moldados em contratos de empreitada global; incidência exclusiva do ISS no fornecimento de concreto produzido em caminhões betoneiras a caminho da obra; incidência do ICMS sobre operações de industrialização por encomenda de embalagens; incidência do ICMS na confecção de material de propaganda; prevalência do ISS na substituição ou troca de pneus; não incidência de ISS na realização de atividades-meio para a consecução de serviços de telecomunicação; a incidência do ICMS sobre o chamado software de prateleira e do ISS sobre o software produzido por encomenda; incidência de ICMS sobre serviço de TV por assinatura;

• conflitos ISS versus IPI: não tributação, pelo IPI, do serviço de composição gráfica personalizada e sob encomenda; não incidência de IPI, mas de ISS, sobre a produção e o fornecimento de elevadores; divergência de entendimentos com relação à incidência desses impostos em operações de industrialização por encomenda;

• conflitos ICMS/IPI versus IOF: inclusão ou não de juros na base de cálculo do ICMS e do IPI nas vendas a prazo e na venda financiada; e

24. Publicado na Revista O Papel, edição de junho/2019. São Paulo: ABTCP.

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• conflitos entre impostos existentes e não tributação: incidência do ISS sobre operações de leasing, ao mesmo tempo em que não há incidência sobre locação de bens móveis; não incidência do ICMS em importação de bens objeto de arrendamento mercantil; não incidência de ICMS, nem de ISS, sobre provedores de acesso à internet; não incidência do ICMS sobre assinatura pela contratação de serviço de telecomunicação; dentre outros tantos.

O IBS deverá ser um imposto não cumulativo e com alíquota uniforme para bens, serviços e direitos, sem qualquer tipo de diferenciação por critérios de seletividade ou essencialidade. A sua carga será composta pelo somatório de alíquotas singulares federal, estadual e municipal, sendo que as alíquotas estaduais e municipais poderão variar de acordo com a legislação do Estado ou Município de destino.

Será proibida a concessão de qualquer tipo de isenção, incentivo, benefício tributário ou financeiro, redução de base de cálculo ou concessão de créditos presumidos ou outorgados, que impliquem, direta ou indiretamente, em carga tributária menor do que a decorrente das alíquotas nominais do novo imposto.

A proposta é que a sua instituição ocorra ao longo de um período de transição de 10 anos, sendo que: (i) nos 1º e 2º anos, o IBS terá uma alíquota de 1%, com redução da contribuição ao PIS e da Cofins proporcionalmente à expectativa de arrecadação com o novo imposto; (ii) do 3º ao 9º ano, as alíquotas do IPI, ICMS, ISS, contribuição ao PIS e da Cofins serão reduzidas em 1/8 anualmente; e (iii) do 3º ao 10º ano, a alíquota do IBS será aumentada de maneira a compensar a perda de arrecadação dos impostos reduzidos / eliminados. Ou seja:

Sob o ponto de vista da distribuição da arrecadação do IBS, a PEC 45/2019 prevê um período de transição de quase cinquenta anos, sendo que, nos primeiros quarenta e nove anos, a parcela da receita do imposto destinada a cada Estado e Município será definida pela soma de três parcelas, a saber: (i) reposição da perda de receita própria decorrente da redução das alíquotas do ICMS e do ISS, corrigida monetariamente (integral nos primeiros vinte anos e decrescente ao longo dos vinte e nove anos seguintes); (ii) aumento

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ou redução da receita de IBS decorrente da fixação da alíquota do imposto pelo Estado ou pelo Município acima ou abaixo da respectiva alíquota de referência; e (iii) distribuição da diferença entre a receita total do imposto atribuível aos Estados e Municípios e o valor correspondente às demais parcelas, a qual será feita com base no princípio do destino, com base nas alíquotas de referência do imposto.

A partir do quinquagésimo ano, a receita do IBS será distribuída integralmente pelo princípio do destino, sem qualquer tipo de participação dos Estados e Municípios de origem da transação.

NO PAPEL

Enquanto não muda o sistema e seguimos imersos no nosso conhecido cipoal tributário, vale voltar os nossos olhos para o plano de fiscalização da Secretaria da Receita Federal do Brasil para 2019, no qual, apesar da troca de comando desse importante órgão do Ministério da Economia, são indicadas metas claras e números bastante expressivos sobre a arrecadação federal para este ano.

Grau de aderência das autuações fiscais

Chama a atenção, antes de mais nada, a medição das cobranças de tributos realizadas pela fiscalização federal e que acabam sendo mantidas na esfera administrativa, mesmo após oposição e defesa por parte do autuado, resultando em pagamento do valor exigido ou a sua cobrança forçada perante o Poder Judiciário.

Comparando a evolução dos números finais de 2017 e 2018, verifica-se a baixíssima possibilidade de, na prática, reverter autuações fiscais federais mediante defesa administrativa:

Fonte: Plano Anual da Fiscalização 2019 (Secretaria da Receita Federal do Brasil)

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Na visão do fisco federal, esses números demonstram um aumento da eficiência da fiscalização tributária. Na prática, resultarão em um aumento do já sobrecarregado contencioso judicial envolvendo matéria fiscal.

Expectativa de autuações para 2019

O grau de aderência também deve ser mantido à vista diante da meta de R$ 164,96 bilhões, indicada para ser alcançada no ano de 2019, mediante autuações fiscais contra um universo já selecionados de mais de 303 mil contribuintes com indícios de irregularidade.

Desse total, cerca de 7 mil pessoas físicas e jurídicas devem ser fiscalizadas ainda no primeiro semestre, com expectativa de autuações em montante total superior a R$ 100 bilhões.

Tudo isso a partir de cruzamentos de dados realizados através das informações fornecidas por eSocial, EFD-Reinf, Nota Fiscal de Serviços Eletrônica, EFD-ICMS/IPI, análise de balanços patrimoniais de acesso público, revisão de declarações fiscais, programas de malha fina da pessoa física e da pessoa jurídica, e etc.

Além disso, o plano de fiscalização para 2019 indica trabalhos focados nos segmentos de cigarros, bebidas, papel imune e combustíveis, mais auditorias derivadas de investigações penais no âmbito das operações Lava-Jato, Zelotes, Calicute, Fundos de Pensão, Repatriação, Acrônimo, Panama Papers, Aposentadorias especiais e outras.

Papel imune

No ano de 2018, registrou-se um total de 1.446 empresas que tiveram o seu registro especial de papel imune (Regip) cancelado pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, dentro do seu plano de monitoramento de contribuintes que operam com papel imune, mas acabam realizado revendas inidôneas do produto, destinadas a outras finalidades não protegidas pela imunidade constitucional sobre livros e periódicos.

Para o ano corrente, é prevista a continuidade desse trabalho de fiscalização e inteligência, como aumento dos mais de 3.000 autos de infração pendentes sobre o tema e envolvendo mais de R$ 25 milhões.

Operações com criptomoedas

Embora não estejam mencionadas no plano de fiscalização para 2019, as operações com criptomoedas estão na mira do Fisco Federal, que implementou a obrigatoriedade de comunicação eletrônica mensal das transações realizadas com esse tipo de ativo, quando o seu valor ultrapassar R$ 30.000,00/mês.

Superado esse limite, a Instrução Normativa nº 1.888/2019, determina que, a partir de 1º de agosto, toda a pessoa física ou jurídica reportará quaisquer operações que realizar com criptoativos, incluindo compra e venda, permuta, doação, transferência de criptoativo para uma exchange (pessoa jurídica que oferece serviços de intermediação, negociação ou custódia de criptoativos), retirada de criptoativo da exchange, cessão temporária ou aluguel, dação em pagamento, emissão e qualquer outras operações que impliquem em transferência desses ativos.

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Novamente aqui, a Secretaria da Receita Federal terá uma importante base de dados não apenas para fiscalizar os tributos de sua competência, como também identificar indícios de lavagem de dinheiro e crimes de natureza financeira (poder esse que, ao menos até o fechamento deste texto, foi mantido em favor da Receita Federal, no curso da conversão em lei da Medida Provisória nº 870/2019).

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Observatório do TIT: recapitulação de penalidades25

Sergio Pin [email protected]

Dando continuidade ao projeto “Observatório de Jurisprudência do TIT/SP”, a segunda fase do estudo tem como foco o monitoramento dos acórdãos proferidos pela Câmara Superior do TIT em período subsequente àquele abrangido pela fase inicial do estudo. Nesse artigo, consideramos os acórdãos publicados de 29.04.2019 a 10.05.2019.

No período foram publicados 18 acórdãos proferidos pela última instância do TIT, dos quais:• 10 (dez) acórdãos sem análise de mérito em decorrência do não conhecimento do

Recurso Especial pela impossibilidade de reexame de provas, ausência de dissídio na interpretação da legislação (Lei nº 13.457/2009, art. 49), adesão ao Programa Especial de Parcelamento – PEP (Decreto nº 62.709/2017), ausência de nulidade, falta de paradigma e existência de súmulas sobre a matéria (súmulas 6/2003, 10/2017 e 13/2018). (AIIMs nºs 4005127-4, 4103891-5, 4105313-8, 4072111-5, 4061375-6, 4018929-6, 4031128-4, 4055175-1, 4076659-7 e 4101284-7).

• 1 (um) acórdão em que o Recurso Especial da Fazenda não foi conhecido por estar sedimentado o entendimento da Câmara Superior acerca da impossibilidade de dupla penalização pela mesma conduta do contribuinte, devendo a infração menos onerosa ser absorvida pela mais onerosa (teoria da consunção) (AIIM nº 4096723-2). Vale destacar que o tema foi objeto de análise na 1ª fase do projeto Observatório de Jurisprudência do TIT (tema 20).

• 1 (um) acórdão também relativo à teoria da absorção, mas desta vez conhecido em face dos paradigmas apresentados pela Fazenda estadual, relativo à falta de pagamento do ICMS por quebra de diferimento e aplicação de multa em face da emissão de nota fiscal com inobservância de requisito complementar, em que a Câmara Superior manteve a decisão de segunda instância que aplicou a teoria da absorção (consunção) para a absorver a infração menos gravosa pela mais gravosa, uma vez que ambas partiram do mesmo pressuposto fático (mesma conduta) (AIIM nº 4036210-3).

• 1 (um) acórdão em que a Câmara Superior deu parcial provimento ao Recurso Especial do contribuinte para reclassificar a penalidade prevista na alínea Z-4, do inciso IV, do artigo 85, da Lei 6.374/89 para a penalidade da alínea Z-5, do mesmo dispositivo (AIIM nº 4045569-5).

• 1 (um) acórdão desfavorável à Fazenda, que pretendia reverter o julgamento de segunda instância para aplicar a infração de falta de pagamento de imposto ao contribuinte substituído, por responsabilidade supletiva decorrente de fraude, dolo ou simulação uma vez ter adquirido mercadorias de fornecedor considerado inexistente. Para a Câmara Superior, entretanto, apesar da boa-fé do contribuinte não ter sido comprovada, isso não significa ter agido com dolo, fraude ou simulação, o que afasta a aplicação do artigo 267, inciso 2, “b”, do RICMS/00 (AIIM nº 4104923-8). Fazemos menção à temática aprofundada na 1ª fase do projeto Observatório de Jurisprudência do TIT (tema 1).

25. Publicado em https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/observatorio-tit-recapitulacao-13062019.

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• 1 (um) acórdão favorável à Fazenda, que entendeu que a isenção e redução de base de cálculo nas operações com fertilizantes (art. 41, inciso XIII, do Anexo I, do RICMS/00 e Cláusula Segunda do Convênio ICMS nº 100/97), não se aplica no caso de venda desses produtos para atacadistas ou varejistas de plantas, flores, rações e animais, que possuem atividade preponderante de jardinagem e paisagismo, uma vez que tais incentivos apenas são aplicáveis quando os produtos são destinados à agricultura e pecuária (AIIM nº 4036210-3). Esse assunto também está compreendido na 1ª fase do projeto (tema 10).

• 1 (um) acórdão que conheceu parcialmente o Recurso Especial apresentado pelo contribuinte, para negar provimento à pretensão de ter assegurado o direito ao crédito de ICMS decorrente da entrada de mercadorias componentes da cesta básica que são beneficiadas com redução de base de cálculo nas saídas subsequentes, tendo em vista que tal sistemática (redução de base de cálculo) revela natureza de isenção parcial, o que implica no dever de estorno proporcional do crédito registrado na entrada, além de também negar o pedido de reclassificação da penalidade do art. 527, inciso I, alínea “i”, do RICMS/00 (100% do valor do imposto), para a alínea “b” do mesmo dispositivo (75% do valor do imposto), em virtude de posicionamento semelhante da Câmara Superior, levando em consideração o caso concreto dos autos. A Fazenda, por sua vez, teve seu Recurso Especial provido para que fosse aplicada regra decadencial contida no artigo 173, inciso I, do CTN, ao invés daquela disposta no artigo 150, § 4º, da mesma norma, em virtude da Súmula 09/17, do TIT: “Nas autuações originadas da escrituração de créditos indevidos de ICMS aplica-se a regra decadencial disposta no artigo 173, inciso I do Código Tributário Nacional.” (AIIM nº 4022215-9).

Tais matérias foram cuidadas na 1ª fase do projeto Observatório de Jurisprudência do TIT (tema 10 e 6), além das operações com cesta básica ter sido objeto de artigo publicado em 30/05/2019, de autoria de Dolina Sol Pedroso de Toledo e Celso Ferreira da Cruz.

• 1 (um) acórdão que conheceu parcialmente o Recurso Especial apresentado pelo contribuinte, mas negou provimento à parte conhecida para manter a exigência do ICMS devido por substituição tributária, pelo substituído. Assim como no AIIM nº 4104923-8 acima mencionado, a acusação fiscal também se apoiou na responsabilidade supletiva do destinatário paulista contida no art. 128, do CTN e no art. 66-C, da Lei nº 6.374/89, mas, diferentemente de lá, nesse caso ou auto de infração teve como origem o não atendimento pelo destinatário paulista de notificação para pagamento, nos termos do art. 267, inciso II, alínea “b”, do RICMS/00 (AIIM 4026047-1). Tal matéria também foi enfrentada na primeira fase do projeto Observatório da Jurisprudência do TIT – tema 7.

• 1 (um) acórdão que não conheceu o Recurso Especial do contribuinte por não demonstrar divergência jurisprudencial e, em relação ao Recurso Especial apresentado pela Fazenda, dar provimento para reformar a decisão de segunda instância que entendeu que a atualização dos valores das multas teria, na verdade, caráter de juros de mora, os quais somente podem incidir a partir do segundo mês subsequente ao da lavratura do AIIM. A Câmara Superior ressaltou os acórdãos paradigmas trazidos pela Fazenda (AIIMs e entendeu que o valor básico atualizado nos termos do art. 96, da Lei nº 6.374/89, nos termos do quanto exigido pelo § 9º, do art. 85 da mesma lei, não se confunde a cobrança de juros de mora e, ao final, ainda fez menção às súmulas 10/2017 e 13/2018 do TIT (AIIM nº 4092921-8).

Dentre os acórdãos acima, vamos analisar de forma mais cuidadosa o acórdão proferido

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pela Câmara Superior em relação ao AIIM nº 4045569-5, o qual reclassificou penalidade imposta pela autoridade fazendária e que apresenta a seguinte ementa:

“ICMS. Emissão de DANFEs consignando valores diversos nas correspondentes notas fiscais eletrônicas. Recurso Especial alegando a impossibilidade da exigência de juros em patamar superior á Taxa Selic e, pleiteando a reclassificação da penalidade da alínea Z-4,do inciso IV, do artigo 85 da Lei nº 6.374/89 para a alínea Z-5 do inciso IV, do artigo 85,da Lei nº 6.374/89. Apelo não conhecido quanto à juros moratórios. Matéria sumulada. Súmula 10, do Eg.T.I.T. Reclassificada a penalidade para a alínea Z-5 do inciso IV do art.85 da Lei nº 6.374/89. Recurso Especial parcialmente conhecido e nessa parte provido.”

Do julgamento o auto de infração nº 4045569-5

O contribuinte foi autuado pela emissão de Documento Auxiliar da Nota Fiscal Eletrônica (DANFE) com valor dissonante da respectiva Nota Fiscal eletrônica (NFe), relativa a operação de venda de mercadorias sujeitas ao recolhimento do ICMS por substituição tributária. O contribuinte emitiu a NFe sem o preenchimento dos campos “ICMS-ST” e “Base de Cálculo do ICMS-ST”, mas o DANFE que acompanhou as mercadorias continha essas informações.

Nesse contexto, foi imputada ao contribuinte a penalidade prevista no art. 85, inciso IV (infrações relativas a documentos fiscais e impressos fiscais), alínea: “z4”, da Lei nº 6.374/89, qual seja:

“z4) emissão ou impressão de documento fiscal com valor ou destinatário diverso do contido no correspondente documento fiscal eletrônico – multa equivalente a 100% (cem por cento) do valor total da operação ou prestação;”

Entretanto, por unanimidade (ausente o julgador Edison Aurélio Corazza), a Câmara Superior entendeu que a infração que mais se adequa à conduta do contribuinte seria a prevista na alínea “z5”, do inciso IV, do art. 58, da Lei nº 6.374:

“z5) emissão ou impressão de documento fiscal com informações divergentes das contidas no correspondente documento fiscal eletrônico, em hipóteses não abrangidas pela alínea “z4” deste artigo – multa equivalente ao valor de 20 (vinte) UFESPs por documento;”

Tal reclassificação teve como motivação o fato de que a penalidade prevista na alínea “z4”, pressupõe uma discrepância de informações na DANFE e respectiva NFe, exclusivamente em relação ao destinatário ou ao valor da operação.

No caso, além do destinatário ser o mesmo em ambos os documentos, os montantes totais informados também eram idênticos, havendo informações incompatíveis apenas em relação aos campos dedicados à substituição tributária (“ICMS/ST” e Base de Cálculo do ICMS/ST) o que afasta tal conduta da tipicidade descrita na aliena z4, almoedando-se ao fato descrito na alínea z5.

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Apresentação de paradigma após o protocolo do Recurso Especial

Vale a menção de que o contribuinte, após apresentar Recurso Especial única e exclusivamente para questionar a taxa de juros aplicada, aditou seu recurso com o pedido de recapitulação da infração, oportunidade em que apresentou paradigma sobre o tema (AIIM 4004774-0).

A Câmara Superior entendeu que, uma vez estar o contribuinte ainda dentro do prazo de trinta dias para apresentação de Recurso Especial (Lei nº 13.457/2009), o recurso pode ser aditado para trazer tema ao antes não se fazia menção, justamente por não ter localizado paradigma.

O cenário recente sobre o tema na Câmara Superior

Outro ponto que destacamos é a unanimidade de votação no julgamento do AIIM 4045569-5, ressalvada a ausência do julgador Edison Aurélio Corazza.

Em julgamentos pretéritos (nos anos de 2016 e 2017), inclusive envolvendo o mesmo contribuinte, apesar do mesmo desfecho no sentido da recapitulação da multa da alínea “z4”, para alínea “z5”, do inciso IV, do artigo 85, da Lei nº 6.374/89, existia posicionamento contrário no sentido de que, os valores do ICMS-ST na NFe sendo iguais a zero, estaria configurada a discrepância em relação aos valores da respectiva DANFE, sendo adequado o enquadramento na alínea “z4” (AIIMs 4044518-5, 4044179-9, 4044379-6, 4044507-0, 4045849-0, 4044528-8, 4049880-3, 4044601-3, 4044562-8).

Entretanto, analisando a composição da Câmara Julgadora daquele período e a que se fez presente no julgamento do AIIM 4045569-5 (assim como no julgamento do AIIM 4044474-0, também resolvido por unanimidade no mesmo sentido), nota-se a alteração de interpretação de alguns julgadores que antes seguiam o posicionamento exposto no parágrafo acima.

Conclusão

Percebe-se uma nítida solidificação de posicionamento pela Câmara Superior do TIT no sentido de que a penalidade prevista na alínea “z4”, do inciso IV, do artigo 85, da Lei nº 6.374/89 (multa equivalente a 100% (cem por cento) do valor total da operação ou prestação), possui limite bem delimitado, restrito à hipótese de divergência entre a NFe e a DANFE em relação ao destinatário e ao valor total da operação.

Discrepâncias entre os dois documentos que não se amoldarem nessas hipóteses, devem ser penalizadas nos termos da alínea “z5”, do inciso IV, do art. 85, da Lei nº 6.374/89 (multa equivalente ao valor de 20 (vinte) UFESPs por documento), incluindo situações em que os valores referentes à substituição tributária não estiverem em harmonia.

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Colaboradores

Este boletim contou com a colaboração dos seguintes profissionais:

José Luis Ribeiro [email protected]

Cristiano Frederico Ruschmann

[email protected]

Katia Soriano de O. [email protected]

Sergio Pin [email protected]

Patrícia [email protected]

Mario Jabur [email protected]

Anita dos Santos [email protected]

Anna Lydia [email protected]

Raphael O. F. de Toledo Piza [email protected]

Bianca Santana de [email protected]

Thiago [email protected]

Tatiana Caroline de [email protected]

Edward Shindy [email protected]

Isadora M. Aguirre [email protected]

Ana Sayuri [email protected]

Vinicius Araujo [email protected]

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Anexo

Súmulas tornadas vinculantes pela Portaria ME Nº 129/2019Súmula CARF nº 10Para fins de contagem do prazo decadencial para a constituição de crédito tributário relativo a lucro inflacionário diferido, deve-se levar em conta o pe-ríodo de apuração de sua efetiva realização ou o período em que, em face da legislação, deveria ter sido realizado, ainda que em percentuais mí-nimos.

Súmula CARF nº 113A responsabilidade tributária do sucessor abran-ge, além dos tributos devidos pelo sucedido, as multas moratórias ou punitivas, desde que seu fato gerador tenha ocorrido até a data da suces-são, independentemente de esse crédito ser for-malizado, por meio de lançamento de ofício, antes ou depois do evento sucessório.

Súmula CARF nº 22É nulo o ato declaratório de exclusão do Simples Federal, instituído pela Lei nº 9.317, de 1996, que se limite a consignar a existência de pendências perante a Dívida Ativa da União ou do INSS, sem a indicação dos débitos inscritos cuja exigibilidade não esteja suspensa.

Súmula CARF nº 114O Imposto de Renda incidente na fonte sobre pa-gamento a beneficiário não identificado, ou sem comprovação da operação ou da causa, subme-te-se ao prazo decadencial previsto no art. 173, I, do CTN.

Súmula CARF nº 29Os co-titulares da conta bancária que apresentem declaração de rendimentos em separado devem ser intimados para comprovar a origem dos depó-sitos nela efetuados, na fase que precede à lavra-tura do auto de infração com base na presunção legal de omissão de receitas ou rendimentos, sob pena de exclusão, da base de cálculo do lança-mento, dos valores referentes às contas conjuntas em relação às quais não se intimou todos os co-titulares.

Súmula CARF nº 115A sistemática de cálculo do “Método do Preço de Revenda menos Lucro com margem de lucro de sessenta por cento (PRL 60)” prevista na Instru-ção Normativa SRF nº 243, de 2002, não afronta o disposto no art. 18, inciso II, da Lei nº 9.430, de 1996, com a redação dada pela Lei nº 9.959, de 2000.

Súmula CARF nº 31Descabe a cobrança de multa de ofício isolada exigida sobre os valores de tributos recolhidos ex-temporaneamente, sem o acréscimo da multa de mora, antes do início do procedimento fiscal.

Súmula CARF nº 116Para fins de contagem do prazo decadencial para a constituição de crédito tributário relativo a glosa de amortização de ágio na forma dos arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997, deve-se levar em conta o período de sua repercussão na apuração do tri-buto em cobrança.

Súmula CARF nº 37Para fins de deferimento do Pedido de Revisão de Ordem de Incentivos Fiscais (PERC), a exigência de comprovação de regularidade fiscal deve se ater aos débitos existentes até a data de entrega da declaração de Rendimentos da Pessoa Jurídica na qual se deu a opção pelo incentivo, admitindo-se a prova da regularidade em qualquer momento do processo administrativo, independentemente da época em que tenha ocorrido a regularização, e inclusive mediante apresentação de certidão de regularidade posterior à data da opção.

Súmula CARF nº 117A indedutibilidade de despesas com “royalties” prevista no art. 71, parágrafo único, alínea “d”, da Lei nº 4.506, de 1964, não é aplicável à apuração da CSLL.

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Súmula CARF nº 58No regime do Lucro Real, as variações monetá-rias ativas decorrentes de depósitos judiciais com a finalidade de suspender a exigibilidade do cré-dito tributário devem compor o resultado do exer-cício, segundo o regime de competência, salvo se demonstrado que as variações monetárias passi-vas incidentes sobre o tributo objeto dos depósitos não foram computadas na apuração desse resul-tado.

Súmula CARF nº 118Caracteriza ganho tributável por pessoa jurídica domiciliada no país a diferença positiva entre o valor das ações ou quotas de capital recebidas em razão da transferência do patrimônio de entidade sem fins lucrativos para entidade empresarial e o valor despendido na aquisição de título patrimo-nial.

Súmula CARF nº 67Em apuração de acréscimo patrimonial a des-coberto a partir de fluxo de caixa que confronta origens e aplicações de recursos, os saques ou transferências bancárias, registrados em extratos bancários, quando não comprovada a destinação, efetividade da despesa, aplicação ou consumo, não podem lastrear lançamento fiscal.

Súmula CARF nº 119No caso de multas por descumprimento de obriga-ção principal e por descumprimento de obrigação acessória pela falta de declaração em GFIP, asso-ciadas e exigidas em lançamentos de ofício refe-rentes a fatos geradores anteriores à vigência da Medida Provisória n° 449, de 2008, convertida na Lei n° 11.941, de 2009, a retroatividade benigna deve ser aferida mediante a comparação entre a soma das penalidades pelo descumprimento das obrigações principal e acessória, aplicáveis à épo-ca dos fatos geradores, com a multa de ofício de 75%, prevista no art. 44 da Lei n° 9.430, de 1996.

Súmula CARF nº 78A fixação do termo inicial da contagem do prazo decadencial, na hipótese de lançamento sobre lucros disponibilizados no exterior, deve levar em consideração a data em que se considera ocorrida a disponibilização, e não a data do auferimento dos lucros pela empresa sediada no exterior.

Súmula CARF nº 120Não é válida a intimação para comprovar a origem de depósitos bancários em cumprimento ao art. 42 da Lei nº 9.430, de 1996, quando dirigida ao es-pólio, relativamente aos fatos geradores ocorridos antes do falecimento do titular da conta bancária.

Súmula CARF nº 84É possível a caracterização de indébito, para fins de restituição ou compensação, na data do recolhimento de estimativa.

Súmula CARF nº 121A isenção do imposto de renda prevista no art. 6º, inciso XIV, da Lei n.º 7.713, de 1988, referente à cegueira, inclui a cegueira monocular.

Súmula CARF nº 108Incidem juros moratórios, calculados à taxa re-ferencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC, sobre o valor correspondente à multa de ofício.

Súmula CARF nº 122A averbação da Área de Reserva Legal (ARL) na matrícula do imóvel em data anterior ao fato gera-dor supre a eventual falta de apresentação do Ato Declaratório Ambiental (ADA).

Súmula CARF nº 109O órgão julgador administrativo não é competente para se pronunciar sobre controvérsias referentes a arrolamento de bens.

Súmula CARF nº 123Imposto de renda retido na fonte relativo a ren-dimentos sujeitos a ajuste anual caracteriza pa-gamento apto a atrair a aplicação da regra de-cadencial prevista no artigo 150, §4º, do Código Tributário Nacional.

Súmula CARF nº 110No processo administrativo fiscal, é incabível a intimação dirigida ao endereço de advogado do sujeito passivo.

Súmula CARF nº 124A produção e a exportação de produtos classifi-cados na Tabela de Incidência do IPI (TIPI) como “não-tributados” não geram direito ao crédito pre-sumido de IPI de que trata o art. 1º da Lei nº 9.363, de 1996.

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Súmula CARF nº 111O Mandado de Procedimento Fiscal supre a auto-rização, prevista no art. 906 do Decreto nº 3.000, de 1999, para reexame de período anteriormente fiscalizado.

Súmula CARF nº 126A denúncia espontânea não alcança as penalida-des infligidas pelo descumprimento dos deveres instrumentais decorrentes da inobservância dos prazos fixados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil para prestação de informações à admi-nistração aduaneira, mesmo após o advento da nova redação do art. 102 do Decreto-Lei nº 37, de 1966, dada pelo art. 40 da Lei nº 12.350, de 2010.

Súmula CARF nº 112É nulo, por erro na identificação do sujeito passivo, o lançamento formalizado contra pessoa jurídica extinta por liquidação voluntária ocorrida e comunicada ao Fisco Federal antes da lavratura do auto de infração.

Súmula CARF nº 127A incidência da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) na contratação de serviços técnicos prestados por residentes ou do-miciliados no exterior prescinde da ocorrência de transferência de tecnologia.

Súmula CARF nº 128No cálculo do crédito presumido de IPI, de que tratam a Lei nº 9.363, de 1996 e a Portaria MF nº 38, de 1997, as receitas de exportação de produtos não industrializados pelo contribuinte incluem-se na composição tanto da Receita de Exportação - RE, quanto da Receita Operacional Bruta - ROB, refle-tindo nos dois lados do coeficiente de exportação - numerador e denominador.

Súmulas propostas pela Portaria CARF Nº 29/2019

1ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAConstatada irregularidade na representação pro-cessual, o sujeito passivo deve ser intimado a sa-nar o defeito antes da decisão acerca do conheci-mento do recurso administrativo.Acórdãos Precedentes: 1201-001.893, 1302-002.660, 1301-003.622, 3801- 004.745, 3402-002.265, 3202-000.473, 3402-00.396 e 2803-00.145.

26ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAA prova do imposto de renda retido na fonte de-duzido pelo beneficiário na apuração do imposto de renda devido não se faz exclusivamente por meio do comprovante de retenção emitido em seu nome pela fonte pagadora dos rendimentos.Acórdãos Precedentes: 9101-003.437, 9101-002.876, 9101-002.684, 9202- 006.006, 1101-001.236, 1201-001.889, 1301-002.212 e 1302-002.076.

2ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAAinda que se refira a crédito tributário depositado judicialmente, não é nulo o lançamento de ofício realizado para fins de prevenção da decadência, com reconhecimento da suspensão de sua exigi-bilidade e sem a aplicação de penalidade ao su-jeito passivo.Acórdãos Precedentes: 9101-003.474, 9202-007.129, 9202-007.297, 9202- 004.303, 1201-002.109 e 3301-004.967.

27ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAA presunção legal de omissão de receitas com base na manutenção, no passivo, de obrigações cuja exigibilidade não seja comprovada (“passivo não comprovado”), caracteriza-se no momento do registro contábil do passivo, tributando-se a irre-gularidade no período de apuração corresponden-te.Acórdãos Precedentes: 107-08.732, 1101-000.991, 1301-002.960, 1302-001.750, 1402-001.511, 1402-002.197, 9101-002.340 e 9101-003.258.

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3ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAA atribuição de responsabilidade a terceiros com fundamento no art. 135, inciso III, do CTN não ex-clui a pessoa jurídica do pólo passivo da obriga-ção tributária.Acórdãos Precedentes: 9101-002.605, 1202-00.740, 1302-002.549, 1302- 002.788, 1302-003.215, 1401-002.049, 1401-002.888, 2802-00.641 e 3201-002.186.

28ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAA dedução da amortização de ágio por rentabili-dade futura está condicionada à prova do seu fun-damento econômico, que, em conformidade com o que dispõe a redação original do § 3º do art. 20 do Decreto-lei nº 1.598, de 1977, se dá mediante documentação contemporânea à aquisição do in-vestimento, sendo inadmissível demonstração por meio de documento elaborado posteriormente à aquisição.Acórdãos Precedentes: 9101-003.008, 9101-003.364, 1102-001.104, 1201- 001.505, 1301-002.052, 1301-002.608 e 1402-003.701.

4ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAO ônus da prova de existência de direito creditório é do sujeito passivo.Acórdãos Precedentes: 3401-005.559, 3402-006.090, 3302-006.387, 1201- 002.389, 1302-003.312, 3301-005.405, 1101-001.084, 9101-002.548, 1302-002.328, 9101- 003.032, 1201-001.912 e 3302-005.291.

29ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAA partir da 01/10/2002, a compensação de crédito de saldo negativo de IRPJ ou CSLL, ainda que com tributo de mesma espécie, deve ser promo-vida mediante apresentação de Declaração de Compensação - DCOMP.Acórdãos Precedentes: 1201-000.705, 1201-001.435, 1301-002.832, 1301- 003.020, 1401-00.1450, 1401-002.044 e 1402-002.817.

5ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAO erro no enquadramento legal da infração não acarreta a nulidade da autuação caso a infração se encontre devidamente descrita nos autos, per-mitindo que o contribuinte possa exercer ampla-mente o seu direito de defesa.Acórdãos Precedentes: 1301-002.205, 3201-003.140, 2201-004.018, 1401- 002.503 e 2401-005.830.

30ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAOs Pedidos de Compensação, de créditos com débitos próprios, pendentes de apreciação em 01/10/2002 convertem-se em Declaração de Com-pensação para efeitos de aplicação das regras do art. 74 da Lei nº 9.430/96, e, nos termos do §5º do mesmo artigo, o prazo para homologação da com-pensação declarada é de 5 (cinco) anos contados da data da protocolização do pedido. Decorrido esse prazo sem manifestação da autoridade com-petente, considera-se tacitamente homologada a compensação efetuada.Acórdãos Precedentes: 9101-002.846, 9101-003.081, 9101-003.728, 9101- 003.808, 9101-004.005 e 1302-00.047.

6ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAO art. 76, inciso II, alínea “a” da Lei nº 4.502, de 1964, deve ser interpretado em conformidade com o art. 100, inciso II do CTN, e, inexistindo lei que atribua eficácia normativa a decisões proferidas no âmbito do processo administrativo fiscal fede-ral, a observância destas pelo sujeito passivo não o dispensa de penalidade.Acórdãos Precedentes: 9101-002.262, 9101-002.225, 9303-007.440, 1401- 001.900, 1401-002.077, 3301-003.005, 3402-004.827, 3402-004.929, 9303-004.397, 9303- 006.687 e 9303-006.987.

31ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAA variação cambial ativa resultante de investimen-to no exterior avaliado pelo método da equivalên-cia patrimonial não é tributável pelo IRPJ e CSLL.Acórdãos Precedentes: 1402-00.391, 1402-00.213, 105-16.365, 9101-001.671 e 1402-002.111.

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7ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAOs valores declarados aos Fiscos Estaduais cons-tituem prova de receitas auferidas pelo sujeito passivo nos lançamentos de ofício por omissão de receita.Acórdãos Precedentes: 9101-003.427, 101-96.387, 105-14.210, 204-01.794, 1101-001.268 e 1302-002.321.

32ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULADeve ser mantida a glosa da despesa de amor-tização de ágio que foi gerado internamente ao grupo econômico, sem qualquer dispêndio.Acórdãos Precedentes: 9101-003.469, 9101-003.399, 1201-001.896, 9101- 002.550, 1201-001.469, 1302-001.950, 9101-002.388, 1402-001.338 e 1402-001.278.

8ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAInexiste vedação legal à aplicação de multa de ofício na constituição de crédito tributário em face de entidade submetida ao regime de liquidação extrajudicial.Acórdãos Precedentes: 9101-002.484, 9101-00.774, 9303-003.277, 9303- 004.155, 9303-007.282, 1101-00.756, 1101-000.738, 1102-00.085, 1301-001.137, 1401- 002.646, 1402-002.789 e 2102-002.585.

33ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAEm operação de incorporação de ações, carac-teriza ganho tributável pela pessoa jurídica titular das ações incorporadas a diferença positiva entre o valor da participação societária que passa a ser detida na incorporadora e o valor das ações in-corporadas, registrado anteriormente à operação.Acórdãos Precedentes: 1301-003.286, 2402-006.047, 1401-001.989, 1401- 001.845, 9101-002.735, 1401-001.682, 1302-001.823, 1301-001.856 e 1401-001.416.

9ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULADepósito judicial do crédito tributário não se equi-para a pagamento para fins de caracterização de denúncia espontânea.Acórdãos Precedentes: 1301-00.149, 1402-001.515, 3302-002.770, 3302- 003.194, 3302-004.761, 9303-002.749 e 9303-004.565.

34ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULASomente com a edição da Medida Provisória nº 351/2007, convertida na Lei nº 11.488/2007, que alterou a redação do art. 44 da Lei nº 9.430/1996, passou a existir a previsão específica de incidên-cia da multa isolada na hipótese de falta de pa-gamento do carnê-leão (50%), sem prejuízo da penalidade simultânea pelo lançamento de ofício do respectivo rendimento no ajuste anual (75%).Acórdãos Precedentes: 2401-005.139, 2202-004.088, 2301-005.113, 2201- 002.719 e 9202-004.365.

10ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULANo caso de lançamento de ofício sobre débito ob-jeto de depósito judicial em montante parcial, a incidência de multa de ofício e de juros de mora atinge apenas o montante da dívida não abrangi-da pelo depósito.Acórdãos Precedentes: 9303-007.539, 3201-004.265, 3201-003.090, 1302- 001.502, 2201-002.132, 9101-001.598, 1301-000.795, 9101-000.775, 3302-000.671, 1101- 00.135, 1101-00.098, 101-96.857, 101-95.884, 105-15.685 e 203-08.164.

35ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAAs regras para percepção da Participação nos Lucros e Resultados - PLR, de que trata a Lei nº 10.101/2000, devem ser estabelecidas em acordo assinado anteriormente ao início do período de apuração.Acórdãos Precedentes: 9202-005.704, 9202-006.674, 9202-004.347, 9202- 005.211, 9202-004.307, 2401-00.276 e 2401-000.545.

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11ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAIrregularidade na emissão, alteração ou prorro-gação do Mandado de Procedimento Fiscal não constitui motivo suficiente para a nulidade do lan-çamento.Acórdãos Precedentes: 9202-007.528, 2401-005.964, 3201-004.353, 2202- 004.706, 2301-005.501, 1301-003.225, 1301-003.173, 2202-004.441, 9101-003.253, 3402- 004.756, 2202-003.835, 1201-001.657, 3302-004.019, 3401-003.437, 1301-002.205, 2401- 004.619, 1302-001.917, 3201-002.175, 9202-003.900 e 2301-004.542.

36ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULANo caso de multa por descumprimento de obriga-ção acessória previdenciária, a aferição da deca-dência tem sempre como base o art. 173, I, do CTN, ainda que se verifique pagamento antecipa-do da obrigação principal correlata ou esta tenha sido fulminada pela decadência com base no art. 150, § 4º, do CTN.Acórdãos Precedentes: 2401-005.513, 2401-006.063, 9202-006.961, 2402- 006.646, 9202-006.503 e 2201-003.715.

12ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAA falta de atendimento a intimação para prestar esclarecimentos não justifica, por si só, o agrava-mento da multa de ofício, quando essa conduta motivou presunção de omissão de receitas ou de rendimentos.Acórdãos Precedentes: 9101-002.992, 9101-003.147, 9202-007.445, 9202- 007.001, 1301-002.667, 1301-002.961, 1401-001.856, 1401-002.634 e 2202-002.802.

37ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULANão integra o salário de contribuição a bolsa de estudos de graduação ou de pós-graduação con-cedida aos empregados, em período anterior à vigência da Lei nº 12.513, de 2011, nos casos em que o lançamento aponta como único motivo para exigir a contribuição previdenciária o fato desse auxílio se referir a educação de ensino superior.Acórdãos Precedentes: 9202-007.436, 9202-006.578, 9202-005.972, 2402- 006.286, 2402-004.167, 2301-004.391 e 2301-004.005.

13ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAA simples existência, no contrato social, de ativi-dade vedada ao Simples Federal não resulta na exclusão do contribuinte, sendo necessário que a fiscalização comprove a efetiva execução de tal atividade.Acórdãos Precedentes: 9101-003.387, 9101-003.487, 9101-002.576, 1101- 000.931, 1102-000.932, 1803-000.860 e 302-39.756.

38ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULA

A inconstitucionalidade declarada por meio do RE 363.852/MG não alcança os lançamentos de subro-gação da pessoa jurídica nas obrigações do produtor rural pessoa física que tenham como fundamento a Lei nº 10.256, de 2001.

Acórdãos Precedentes: 2401-005.593, 9202-006,636, 2201-003.486, 2202- 003.846, 2201-003.800, 2301-005,268, 9202-005.128, 9202-003.706 e 9202-004.017.

14ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAA antecipação do recolhimento do IRPJ e da CSLL, por meio de estimativas mensais, caracte-riza pagamento apto a atrair a aplicação da regra decadencial prevista no art. 150, §4º do CTN.Acórdãos Precedentes: 1302-001.687 1301-002.278 1401-001.907 1402-001.294 1402-003.597 e 9101-002.245.

39ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULA

Aplica-se retroativamente o inciso II do § 4º do art. 1º da Lei 11.945/2009, referente a multa pela falta ou atraso na apresentação da “DIF Papel Imune” deven-do ser cominada em valor único por declaração não apresentada no prazo trimestral, e não mais por mês calendário, conforme anteriormente estabelecido no art. 57 da MP nº 2.158-35/ 2001, consagrando-se a retroatividade benéfica nos termos do art. 106, do Código Tributário Nacional.

Acórdãos Precedentes: 9303-006.670, 9303-006.734, 3201-004.121, 9303- 005.273, 9303-004.949, 3201-002.860 e 3101-001.160.

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15ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAOs ajustes decorrentes de superveniências e in-suficiências de depreciação, contabilizados pelas instituições arrendadoras em obediência às nor-mas do Banco Central do Brasil, não causam efei-tos tributários para a CSLL, devendo ser neutrali-zados extracontabilmente mediante exclusão das receitas ou adição das despesas correspondentes na apuração da base de cálculo da contribuição.Acórdãos Precedentes: 1401-002.549, 1402-002.074, 1103-000.684, 1102- 00.674 e 1201-000.097.

40ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAOs créditos relativos a tributos administrados pela Receita Federal do Brasil (RFB), reconhecidos por sentença judicial transitada em julgado que tenha permitido apenas a compensação com débitos de tributos da mesma espécie, podem ser compen-sados com débitos próprios relativos a quaisquer tributos administrados pela Receita Federal do Brasil, observada a legislação vigente por ocasião de sua realização.Acórdãos Precedentes: 9303-002.458, 3302-001.448, 3301-001.933, 3401- 004.404 e 3301-001.446.

16ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAOs resultados positivos decorrentes da avaliação de investimentos pelo método da Equivalência Pa-trimonial não integram a base de cálculo do IRPJ ou da CSLL na sistemática do lucro presumido.Acórdãos Precedentes: 1201-002.645, 1402-002.616, 1302-002.291, 9101- 003.884, 9101-003.963 e 1402-002.396.

41ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAAs receitas decorrentes das vendas de produtos efetuadas para estabelecimentos situados na Zona Franca de Manaus equiparam-se às recei-tas de exportação, não se sujeitando, portanto, à incidência das contribuições para o PIS/Pasep e para a COFINS.Acórdãos Precedentes: 9303-006.313, 9303-007.739, 9303-007.437, 3401- 003.271 e 9303-007.880.

17ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAOs acordos e convenções internacionais cele-brados pelo Governo da República Federativa do Brasil para evitar dupla tributação da renda que seguem o modelo da Organização para a Coope-ração e Desenvolvimento Econômico (OCDE) não impedem a tributação na controladora no Brasil dos lucros auferidos por intermédio de suas con-troladas no exterior.Acórdãos Precedentes: 9101-003.616, 1201-001.779, 1301-002.762, 1301- 003.001, 1401-002.040, 1401-002.740 e 1402-002.411.

42ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAConstatada a oposição ilegítima ao ressarcimento de crédito presumido do IPI, a correção monetá-ria, pela taxa Selic, deve ser contada a partir do encerramento do prazo de 360 dias para a análise do pedido do contribuinte, conforme o art. 24 da Lei nº 11.457/07.Acórdãos Precedentes: 9303-007.425, 9303-006.389, 3201-001.765, 9303- 005.423, 9303-007.747, 9303-007.011 e 3401-005.709.

18ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULASão indedutíveis juros sobre o capital próprio cal-culados sobre contas do patrimônio líquido de exercícios anteriores.Acórdãos Precedentes: 9101-002.180, 9101-002.691, 9101-003.216, 1101- 000.904, 1301-002.425, 1302-002.572, 1401-001.882 e 1402-002.444.

43ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAA multa prevista no art. 33 da Lei nº 11.488/07 não se confunde com a pena de perdimento do art. 23, inciso V, do Decreto Lei nº 1.455/76, o que afasta a aplicação da retroatividade benigna definida no art. 106, II, “c”, do Código Tributário Nacional.Acórdãos Precedentes: 9303-007.706, 9303-007.560, 9303-004.905, 9303- 006.001, 9303-004.714, 9303-006.510, 3201-003.647, 3202-003.057, 3102-002.316, 3401- 004.474 e 3402-005.242.

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19ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAImposto de renda retido na fonte incidente sobre receitas auferidas por pessoa jurídica, sujeitas a apuração trimestral ou anual, caracteriza paga-mento apto a atrair a aplicação da regra decaden-cial prevista no art. 150, §4º do CTN.Acórdãos Precedentes: 9101-002.245, 9101-003.603, 9101-003.239, 9101- 002.993, 9101-001.853, 1101-001.100, 1302-002.092, 1402-002.182, 1402-002.291 e 1402- 003.605.

44ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULANo regime de drawback, modalidade suspensão, o termo inicial para contagem do prazo quinquenal de decadência do direito de lançar os tributos sus-pensos é o primeiro dia do exercício seguinte ao encerramento do prazo de trinta dias posteriores à data limite para a realização das exportações compromissadas, nos termos do art. 173, I, do CTN.Acórdãos Precedentes: 9303-003.465, 9303-003.141, 3401-005.695, 3301- 005.215 e 9303-006.291.

20ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAOs descontos e abatimentos, concedidos por insti-tuição financeira na renegociação de créditos com seus clientes, constituem despesas operacionais dedutíveis do lucro real e da base de cálculo da CSLL, não se aplicando a essa circunstân-cia as disposições dos artigos 9º a 12 da Lei nº 9.430/1996.Acórdãos Precedentes: 9101-002.717, 1301-002.011, 1103-000.668, 1402- 002.413 e 1401-002.833.

45ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAO percentual da alíquota do crédito presumido das agroindústrias de produtos de origem animal ou vegetal, previsto no art. 8º da Lei nº 10.925/2004, será determinado com base na natureza da mer-cadoria produzida ou comercializada pela referida agroindústria, e não em função da origem do insu-mo que aplicou para obtê-lo.Acórdãos Precedentes: 9303-003.331, 9303-003.812, 3301-004.056, 3401- 003.400, 3402-002.469 e 3403-003.551.

21ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAAplica-se retroativamente o disposto no art. 11 da Lei nº 13.202, de 2015, no sentido de que os acordos e convenções internacionais celebrados pelo Governo da República Federativa do Brasil para evitar dupla tributação da renda abrangem a CSLL.Acórdãos Precedentes: 9101-002.598, 1201-001.872, 1301-002.488, 1301- 002.817, 1302-003.149 e 1401-002.008.

46ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULA

O Imposto de Renda Retido na Fonte - IRRF inciden-te sobre valores pagos, creditados, entregues, em-pregados ou remetidos, a cada mês, a residentes ou domiciliados no exterior, a título de remuneração pe-las obrigações contraídas, compõe a base de cálculo da Contribuição de Intervenção no Domínio Econô-mico - CIDE de que trata a Lei nº 10.168/2000, ainda que a fonte pagadora assuma o ônus financeiro do imposto retido.

Acórdãos Precedentes: 3102-002.141, 3302-005,578, 3201-003.344, 3201- 003.461, 9303-004.142, 9303-005.195, 9303-005.293, 9303-007.067, 3201-001.518 e 3301- 001.683.

22ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAAs aplicações financeiras realizadas por coope-rativas de crédito constituem atos cooperativos, o que afasta a incidência de IRPJ e CSLL sobre os respectivos resultados.Acórdãos Precedentes: 9101-002.782, 9101-001.518, 1803-001.507, 9101- 000.950, 1802-001.060, 1401-002.052, 1402-001.541, 103-23.202 e 9101-003.985.

47ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULANão é necessária a realização de lançamento para glosa de ressarcimento de PIS/Pasep e Co-fins não cumulativos, ainda que os ajustes se veri-fiquem na base de cálculo das contribuições.Acórdãos Precedentes: 3201-002.449, 3302-002.173, 3302-002.353, 3403- 003.591 e 3302-01.170.

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23ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAAté 31.12.2008 são enquadradas como servi-ços hospitalares todas as atividades tipicamente promovidas em hospitais, voltadas diretamente à promoção da saúde, mesmo eventualmente pres-tadas por outras pessoas jurídicas, excluindo-se as simples consultas médicas.Acórdãos Precedentes: 1401-003.024, 1302-002.979, 9101-003.334, 1402- 002.173 e 9101-001.559.

48ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAA aplicação da multa substitutiva do perdimento a que se refere o § 3º do art. 23 do Decreto-lei nº 1.455, de 1976 independe da comprovação de prejuízo ao recolhimento de tributos ou contribui-ções.Acórdãos Precedentes: 9303-007.454, 3302-006.328, 9303-006.509, 3201- 003.645, 3402-005.132, 9303-006.343, 3401-004.381 e 3402-004.684.

24ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULA

Até a entrada em vigor do art. 38 da Medida Provi-sória nº 563, de 2012 (convertida na Lei nº 12.715, de 2012), que deu nova redação ao art. 18 da Lei nº 9.430, de 1996, o valor do frete e do seguro, cujo ônus tenha sido do importador, e os tributos inciden-tes na importação devem ser incluídos no preço pra-ticado para fins de comparação com o preço parâ-metro determinado segundo o Método do Preço de Revenda menos Lucro (PRL), apurado conforme a Instrução Normativa SRF nº 243, de 2002.

Acórdãos Precedentes: 9101-002.315, 9101-002.461, 9101-003.205, 9101-003.817, 1301-00.967, 1302-001.420, 1402-001.864, 1402-002.503, 1401-002.279 e 1301-003.292.

49ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAO agente de carga e o agente marítimo, na con-dição de representantes no País do transportador estrangeiro, respondem pelas infrações cometi-das no transporte de mercadorias.Acórdãos Precedentes: 9303-007.649, 3301-005.347, 3402-005.615, 3302- 004.022, 3301-002.972, 3302-002.733, 3202-001.242, 3101-000.406 e 3302-004.061.

25ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAA divergência a maior entre o valor da receita de-clarada ao fisco estadual e os valores declarados à Receita Federal constitui fundamento válido para a caracterização de omissão de receitas, quando o sujeito passivo não comprova a origem das diferenças.Acórdãos Precedentes: 1301-001.456, 1401-001.272, 1101-001.268, 1302- 002.321 e 1401-001.177.

50ª PROPOSTA DE ENUNCIADO DE SÚMULAO erro de indicação, na Declaração de Importa-ção, da classificação da mercadoria na Nomen-clatura Comum do Mercosul, por si só, enseja a aplicação da multa de 1%, prevista no art. 84, I da MP nº 2.158-35, de 2001, ainda que órgão julga-dor conclua que a classificação indicada no lança-mento de ofício seria igualmente incorreta.Acórdãos Precedentes: 3201-000.007, 3102-002.198, 9303-006.331, 9303- 006.474 e 9303-008.194.

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