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K alango # 7 cuidado 1 ANO no ar

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Fotografia, Poesia, literatura, astronomia

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Page 1: Kalango 7

Kalango #7

cuidado

1 ANO no ar

Page 2: Kalango 7

SÃO PAULO POR COMANDANTE LUIS PIRES

Só aqui, na Kalango.

KALANGO #7

como ler a revistaOs botões abaixo indicam, respectivamente, a visualização da página, o folhear, à esquerda e à direita, leitura em páginas simples ou duplas e fechar o zoom.No PDF, vá ao Menu Visualizar e peça “Tela Cheia”, ou o atalho Control L

Para baixar, acesse o link do MEDIAFIRE na página da Kalango

Page 3: Kalango 7

COLUNISTAS8 - Delta9 9 - Haissem Abaki 10 - Paulo Netho 11 - Orivaldo Biagi

CAPA - CUIDADO12 - William Araújo

14 - Leonardo Boff

16 - Moriti Neto18 - Mário Sérgio de Moraes

CAMINHOS20 - Osni Dias - Vida de cão

LETRAS26 - 50 Anos a mil , por Osni Dias

IMAGEM30 - Documentários debatem lutas indígenas

LETRAS32 - Daniel Munduruku - Seguindo a trilha dos ancestrais

38 - Claudinei Nakasone - São Paulo

39 - Luis Pires - São Paulo

ENTREVISTA52 - Exclusiva com o cubano Félix Contreras

LETRAS60 - Marcelino Lima - No tempo dos quintais

61 - Thiago Cervan - Qualé?

ESTANTE62 - Roger Cellus 63 - Paulo Netho

64 - Amne Farias - A menina que passa

66 - Ana Procopiak - Déambulations Poétiques

68 - Luis Brandino - Erro de português

70 - Luciana Meinberg - BEATLES

78 - Osni Dias - Beleza vai ao Porto

79 - Osni Dias - Linkado no Tio Dunha

Foto: NASA

Foto: ARQUIVO PESSOAL

Editorial

Edição/Programação Visual: Osni Dias MTb21.511

A Kalango trabalha com Jornalismo Colaborativo. Seus repórteres, colunistas, fotógrafos, artistas, poetas, ilustradores e articulistas cedem seus trabalhos por paixão e profissionalismo. A publicação não tem vínculos políticos, econômicos nem religiosos e aceita contribuições. Você pode ler a Kalango online ou fazer download.

Prezados leitores, aqui por vós esperamos com mais uma edição cheia de novidades. A edição #7 da Kalango trata do cuidado. E todo cuidado é pouco. Essa frase nunca foi tão precisa quanto agora. Enquanto políticos preocupados com nossa segurança e especialistas de emissoras de TV repetem à exaustão a questão do cuidado, nossos colaboradores tratam do tema, sob outra perspectiva. Por isso a Kalango escreve sobre o assunto em questão nas áreas da sustentabilidade, saúde, comunicação social, destacando as palavras de Leonardo Boff, para quem o cuidado “é uma arte, um paradigma novo de relacionamento para com a natureza, para com a Terra e para com os humanos”. Queremos disseminar a ideia de que cuidar é preciso, pois nossa permanência no Planeta é breve e a responsabilidade sobre o futuro da humanidade não pode ser transferida para terceiros. Ao mesmo tempo, celebramos nosso primeiro aniversário comemorando uma vitória importante: a nossa sobrevivência. No entanto, queremos mais. A Kalango deseja se tornar uma revista totalmente digital e produzir edições impressas que possam chegar às mãos de seus leitores. Quem acredita no jornalismo colaborativo e acredita em si mesmo, sabe que chegaremos lá. Parabéns pra você que nos prestigia. Parabéns a você que continua sendo nosso colaborador. Venha soprar a velinha de aniversário conosco, nas páginas seguintes.Quero que você se aqueça nesse inverno e que tudo mais você encontre aqui, na Kalango!

Osni Dias

Um ano de vida

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WEBERSON SANTIAGO

http://webersonsantiago.carbonmade.com/by Marcela Alvim

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Colunistas

* Delta9 é extraterrestre, Publicitário e atua no Judiciário

É uma palavrinha interessante. É advertência, interjeição.É substantivo masculino. É particípio.Mais ainda. Cuidar é tomar conta, é responsabilizar-se; é imaginar, julgar, supor; é interesse, precaução... consideração.

“Quando a gente ama é claro que gente cuida”, e o descuido é um “não dar-se conta”.

“Cuidar” degenera-se no “espiar”, um zelo mal intencionado; um ciúme que não faz bem.

O Ministério do Amor adverte: todo cuidado é pouco e pouco cuidado é nada. Sorria, você está sendo cuidado. Assim como todo mundo. Assim, assado...

Nunca o planeta foi tão bem cuidado (após tantos maus tratos).

Você, inadvertido leitor, foi muito bem cuidado. E agora?Você cuida de quê? Quem cuida de você?O cuidado cuida que todos nós estejamos bem. Todos cheios de cuidados.

A vida é o que acontece enquanto tomamos cuidados, ou quase isso. Cuidado: a vida acontece! Às vezes quando se descuida.

Assim, cantemos a canção: “Cuide-se bem. Perigos há por toda parte. E é bem delicado viver de uma forma ou de outra. É uma arte. Como tudo...”

Cuidado! Cuidado, cuidado...

Por Delta9* Da crônica esportiva ao torcedor mais desinteressado, todos sempre pregaram que o futebol brasileiro impõe respeito e desperta medo nos adversários. Era só aparecer algum time mais ousado que logo algum comentarista dizia que não se podia jogar daquele jeito contra a Seleção. E quando a Canarinho reagia era a satisfação geral da turma do “eu não disse?”, como se a outra equipe estivesse pagando o preço pela “afronta”.Já faz tempo que o tempo se encarregou de desmentir isso e teve gente que demorou pra perceber e que até insiste na ladainha. Não é um empatezinho no final e nem uma reviravolta com o título da Copa América que vão tirar nosso futebol da nova realidade. Os adversários perderam o medo do Brasil. E que bom que isso aconteceu!O Paraguai não tem medo do Brasil e merecia a vitória neste sábado. A Argentina não tem medo, o

Uruguai também não, nem o Chile... Ninguém precisa ter medo do Brasil mais. Nem a Venezuela! O futebol se globalizou e se banalizou.Então, o Brasil, sim, é que precisa ter medo do Brasil. Medo do Brasil que se julga superior e que vai resolver o jogo quando quiser. Ainda bem que a TV, pelo menos, mostrou imagens da Larissa Riquelme no estádio. Placar “moral”: 3 a 2 para o Paraguai!

* Jornalista desde 1986, com passagens pelas rádios CBN e Bandeirantes. Professor universitário desde 1994, atualmente na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC).

http://sabidaofc.blogspot.com

selecao Medonha

Por Haisem Abaki*

http://www.undiverso.blogspot.com/

, ~

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Alegria é uma estação, uma temporada de bons ventos. É a comunhão dos astros. É a alforria da alma.

É quando a tristeza se retira de campo e o caminho fica livre e o céu azul mais azul ainda. Alegria é uma ponte que liga o nada a lugar nenhum, e só é alegria por ser assim.

Alegria é o déjà vu das primeiras descobertas. É a apoteose de todos os arrepios. Alegria é o beijo na boca. O gol de canela, de bicicleta, o gol. É a mão de Deus a nos resgatar bem na hora do aperreio.

Alegria é o rim novo. Alegria é doação. É o domingo de sol quarando nossas sombras e nossos sonhos. Alegria é um estado de passagem. Alegria transforma as pessoas, quebra icebergs, prepara o homem pra quando a hora monstra se nos revelar silenciosa e implacável.

A apoteose de todos os arrepios

Por Paulo Netho*

* Paulo Netho é poeta, escritor e “um encantador de pessoas”.http://caradepavio.wordpress.com/

O fim do Cuidado e do Respeito Social

Podemos notar que os conceitos de cuidado e de respeito em relação ao próximo tornaram-se raros nos últimos tempos. Está cada vez mais difícil de estabelecer um convívio com o mínimo de condições aceitáveis: são atos impacientes, nervosos e ofensivos que vemos praticamente o tempo todo. Vamos discutir uma das razões.

Desde o final da Segunda Guerra Mundial, com o grande desenvolvimento dos meios de comunicação e das mais variadas motivações comerciais e consumistas, um individualismo excessivo foi ganhando forma nas sociedades. A satisfação do “EU” tornou-se prioridade, atingindo o tecido social, qualquer que seja.

Sempre existiram grupos contrários a esse individualismo, como aconteceu na formação da Contracultura – movimento que buscava, justamente,

outros valores menos egoísticos e com uma maior participação humana das relações sociais. Comunidades alternativas, religião oriental, valorização do underground e de experimentações mais intensas e coletivas – um cardápio explosivo contra a cultura do “EU”. Mas a própria Contracultura tem muitas de suas origens nos meios de comunicação e muitas das suas motivações também eram comerciais e consumistas, o que ajudou na “derrota” do movimento.

O movimento contracultural era visto como radical, mas podemos concluir que ele era conservador, pois lutava por uma participação social maior na vida humana, algo que os novos tempos individualistas destruíram - e a atual falta de cuidado e respeito entre os seres humanos corroboram tal situação.

* Orivaldo Leme Biagi é Pós-Doutor em História pela USP e Professor da FAAT Faculdades

Por Orivaldo Biagi

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,

Natal e passagem de ano, período em que reina a alegria, a confraternização e o desejo de esperanças. Mas a vida real, onde nem tudo são só flores, está presente e persistente.

No Natal de 2011, um senhor de 82 anos com hérnia escrotal mal cuidada dá entrada em um Pronto Socorro da Capital paulistana com fortes dores. Depois de atendido, o médico de plantão pede para falar com o responsável pelo idoso, sugerindo fosse levado para o Hospital Tatuapé: em quadros de cirurgia, este hospital tem UTI, o que ajuda no pós-operatório.

Uma vez que as ambulâncias demoram cerca de 2 horas para deslocamento de pacientes, o idoso foi deslocado no automóvel do familiar. Lá, o que era esperança virou indignação. O paciente dá entrada via “cirurgia”, que remete a uma sala 13, por onde passam as emergências. No corredor de espera, um quadro inusitado: uma

Saude desqualificada inverte valores

homem sai da sala de suturas correndo, cambaleante, sangrando e xingando. Em seguida, a enfermeira sai e pergunta para onde foi o homem, sem obter resposta. Seguranças e PMs são mobilizados e depois de um longo tempo, ele volta falando de suas proezas em uma briga de bar. Sem camisa e todo tatuado, procura um canivete que não estava mais na bainha de sua bermuda. Questionado, disse que era marceneiro e não encontrava o canivete, ”pois deixara na barriga daquele com quem brigara”.

Outros rapazes bêbados chegam e dormem no mesmo corredor, um deles ocupando três cadeiras. Na hora do idoso ser atendido, o médico decide deixá-lo sob observação, sem indicação de cirurgia. O local para onde foi encaminhado —e para onde todos vão—, a sala nº1, é uma espécie de Emergência e de triagem. O idoso vai receber soro em uma poltrona velha e rasgada, e depois —em virtude da idade— para uma maca velha, enferrujada e suja de sangue.

Na noite do dia 26 de dezembro, em conversa com a enfermagem e com a chefia foi possível saber que estas macas eram do período em que a Marta Suplicy governara a cidade.

Interessante observar o barulho ensurdecedor que ocupa todo este local. Explicação: a emergência fica ao lado de um gerador de energia. Questionada, a enfermagem diz, sem esperanças: “Sabe que nem ouvimos mais este barulho!?”

À noite, em virtude da friagem, foi solicitado um cobertor e, mediante autorização, foi retirado pelo acompanhante, que observa uma total bagunça no almoxarifado improvisado no local. À espera de uma vaga no 4º andar, o idoso fica nesse local sem que os médicos dessem qualquer parecer de liberação ou mesmo de internação.

Diante dessa indecisão e visível desconsideração, o acompanhante resolveu tomar medidas mais práticas, sinalizando que caso seu pai não fosse liberado, o mesmo o seria mediante a presença da PM, tamanha a imprecisão médica. No dia seguinte, o primeiro a ser liberado para casa foi o idoso de 82 anos, que no dia 27 de dezembro, pode deitar em uma cama mais confortável.

Antes disso, pode-se notar várias incongruências e inversão de valores além da relatada. Um exemplo foi o fato do jovem suturado ter dormido na mesma unidade, em uma maca no chão, ao lado do idoso, ter recebido presente de natal (kit com toalha de rosto e sabonete) e ter sido levado para casa, ou melhor, perto de sua casa, uma vez que o mesmo não tinha endereço fixo.

Outro descaso observado desde o dia de entrada foi uma senhora idosa, espanhola, que, sem memória, ficou perambulando pelo hospital sem alimentação e sem previsão para ser atendida, uma vez que nestes dias nenhum assistente social estava de plantão.

Depois dessa experiência desagradável, o acompanhante do idoso ficou a refletir sobre a sugestão do médico do PS Alexandre Zaio quanto à qualidade do Hospital Tatuapé. Essa experiência, no entanto, serviu para uma convicção: Nestes lugares, jamais retornaria com este idoso.

Sua conclusão: “impossível acreditar que na maior cidade da América Latina a saúde esteja caótica até —ou especialmente— no período natalino”.

* Jornalista, é doutor pela UMESP.

Por William Araújo*

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Por Leonardo Boff*

Há muitos anos, venho trabalhando sobre a crise de civilização que se abateu perigosamente sobre a humanidade. Não me contentei com a análise estrutural de suas causas, mas, através de inúmeros escritos, tratei de trabalhar positivamente as saídas possíveis em termos de valores e princípios que confiram real sustentatibilidade ao mundo que deverá vir. Ajudou-me muito, minha paricipação na elaboração da Carta da Terra, a meu ver, um dos documentos mais inspiradores para a presente crise. Esta afirma:”o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal”. Dois valores, entre outros, considero axiais, para esse novo começo: a sustentabilidade e o cuidado. A sustentabilidade significa o uso racional dos recursos escassos da

Sustentabilidade e cuidado: um caminho a seguir

Terra, sem prejudicar o capital natural, mantido em condições de sua reprodução, em vista ainda ao atendimento das necessidades das gerações futuras que também têm direito a um planeta habitável. Trata-se de uma diligência que envolve um tipo de economia respeitadora dos limites de cada ecossistema e da própria Terra, de uma sociedade que busca a equidade e a justiça social mundial e de um meio ambiente suficientemente preservado para atender as demandas humanas. Como se pode inferir, a sustentabilidade alcança a sociedade, a política, a cultura, a arte, a natureza, o planeta e a vida de cada pessoa. Fundamentalmente importa garantir as condições físico-químicas e ecológicas que sustentam a produção e a reprodução da vida e da civilização. O que, na verdade, estamos constatando, com clareza crescente, é que o nosso estilo de vida, hoje

mundializado, não possui suficiente sustentabildade. É demasiado hostil à vida e deixa de fora grande parte da humanidade. Reina uma perversa injustiça social mundial com suas terríveis sequelas, fato geralmente esquecido quando se aborda o tema do aquecimento global. A outra categoria, tão importante quanto a da sustentabilidade, é o cuidado, sobre o qual temos escrito vários estudos. O cuidado representa uma relação amorosa, respeitosa e não agressiva para com a realidade e por isso não destrutiva. Ela pressupõe que os seres humanos são parte da natureza e membros da comunidade biótica e cósmica com a responsabilidade de protegê-la, regenerá-la e cuidá-la. Mais que uma técnica, o cuidado é uma arte, um paradigma novo de relacionamento para com a natureza, para com a Terra e para com os humanos. Se a sustentabilidade representa o lado mais objetivo, ambiental, econômico e social da gestão dos bens naturais e de sua distribuição, o cuidado denota mais seu lado subjetivo: as atitudes, os valores éticos e espirituais que acompanham todo esse processo sem os quais a própria sustentabilidade não acontece ou não se garante a médio e longo prazo. Sustentabilidade e cuidado devem ser assumidos conjutamente para impedir que a crise se transforme em tragédia e

para conferir eficácia às praticas que visam a fundar um novo paradigma de convivência ser-humano-vida-Terra.

A crise atual, com as severas ameaças que globalmente pesam sobre todos, coloca uma impostergável indagação filosófica: que tipo de seres somos, ora capazes de depredar a natureza e de por em risco a própria sobrevivência como espécie e ora de cuidar e de responsabilizar-nos pelo futuro comum? Qual, enfim, é nosso lugar na Terra e qual é a nossa missão? Não seria a de sermos os guardiães e e os cuidadores dessa herança sagrada que o Universo e Deus nos entregaram que é esse Planeta, vivo, que se autoregula, de cujo útero todos nós nascemos? É aqui que, novamente, se recorre ao cuidado como uma possível definição operativa e essencial do ser humano. Ele inclui um certo modo de estar-no-mundo-com-os-outros e uma determinada práxis, preservadora da natureza. Não sem razão, uma tradição filosófica que nos vem da antiguidade e que culmina em Heidegger e em Winnicott defina a natureza do ser humano como um ser de cuidado. Sem o cuidado essencial ele não estaria aqui nem o mundo que o rodeia. Sustentabilidade e cuidado, juntos, nos mostram um caminho a seguir.

www.leonardoboff.com.br* Leonardo Boff é teólogo e autor de mais de 60 livros nas áreas de Teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística.

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Por Moriti Neto*

O mundo deveria acabar (???) no último dia 21 de maio. Ao menos é no que apostavam os adeptos do grupo cristão evangélico estadunidense Family Radio, que comprou dezenas de outdoors nas principais cidades dos Estados Unidos e Canadá para anunciar que o juízo final viria na data.

Com sede na Califórnia, o Family Radio lançou uma campanha mundial na qual advertia que �só os verdadeiros crentes se salvariam�. Em sítios na internet, assim como nas ruas, o grupo gastou uma fábula para estampar frases como: “o Dia do Juízo Final é o dia 21 de maio de 2011. A Bíblia garante”.

Cuidado com a invasao

A não ser que eu ainda não tenha percebido o fim e que a Kalango tenha ultrapassado barreiras dimensionais, indo muito além do virtual, acredito que o planeta, assim como a vida que nele existe, resolveu contrariar a previsão. Alguns dirão que estou sendo irônico em demasia. Talvez. Contudo, grandes ironias se dão no âmbito da comunicação. Exemplo clássico disso ocorreu a partir das 20h de 30 de outubro de 1938. Era o Dia das Bruxas nos Estados Unidos e Orson Welles transmitia uma dramatização de “A Guerra dos Mundos”, de H.G. Wells, pela rádio CBS.

Por uma hora, músicas eram interrompidas com entradas de repórteres em crescente tom de desespero à medida

que relatavam explosões em Marte e meteoritos caindo na Terra, o que, na sequência, seria descrito como uma invasão alienígena que aniquilaria o mundo. Pura travessura de Welles. Uma traquinagem midiática que, como experimento, testou a capacidade das pessoas em acreditar no que os veículos de comunicação transmitem.

Na semana do dia 21 de maio, órgãos midiáticos circularam a informação do “fim do mundo”. Muitos crentes ficaram crédulos. Uns não trabalharam. Outros pensaram em suicídio. Nova experiência com o poder de influência da informação?

Claro que a maioria das pessoas não levou as notícias a sério. No geral, emissores e receptores compartilhavam mensagens em tom de zombaria. Enfim, após tanta invencionice, penso na falta de cuidado de boa parte da mídia

~

ao trabalhar informações – não tomando por base o fim do mundo da Family Radio ou a destruição alienígena de Welles, mas os noticiosos cotidianos.

Bastou uma edição regular do Jornal Hoje, da Rede Globo, no dia 24 de maio, para forçar reflexões. Reportagem sobre o crescimento do número de celulares no Brasil e a repórter larga para a entrevistada: “entre dois rapazes, se um tiver o aparelho da sua operadora e outro não, você liga pra quem?”. Resposta: “ligo pro que tiver o da minha operadora”.

Depois dessa, para que preocupação com o fim do mundo ou com invasões alienígenas? O maior cuidado é tirar minhas filhas da sala quando começa um telejornal.

* Moriti Neto é jornalista.

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Guia do sucessoUm dos meus alunos de Mogi, em 2010, foi convidado para ingressar no Partido Republicano (PR).

Outros dois de São Paulo foram chamados, agora, para compor os quadros do Partido do Movimento

Democrático Brasileiro (PMDB). Acenaram para eles com um “presentinho”: a candidatura a vereador.

Pois bem, eles me interrogaram sobre o beneficio ou não desta missão (ou submissão?). Fiquei perplexo

na resposta. Mas, inspirado na vitória do Tiririca --- que recebeu o convite e apoio de nobres políticos

mogianos --- achei a solução. E ofereço aos moços sete conselhos de sucesso. Que agora publico:

1. Eis o sucesso-rápido. Seja esperto. Aceite a melhor mercadoria dos dias de hoje: o conchavo. E qual a

melhor carreira? É a política. Mas como fazer? Construa uma pirâmide. Aos do andar de cima obedeça

como “office boy de luxo”, e aos de baixo, eleitores, ofereça promessas.

2. Eis o sucesso-longo. Seja persistente. Fique ao lado do poder e sempre situacionista. E atenção: só faça

elogios aos mandantes.

3. Eis o sucesso-assistencialista. Seja paternal. Crie uma associação caritativa. Não destas que incentivam a

independencia e participação crítica dos mais fragilizados. Isto é bobagem. Ao contrário, crie espetáculos

onde só os doadores mostrem o quanto amam os “invisíveis” do dia a dia.

4. Eis o sucesso-aparência. Seja uma “marca”. Lembre-se: as pessoas curtem imagens. Porte altivo. Nariz

para cima. Sorridente e simpático com um “arzinho” de oferecer prosperidade a todos.

5. Eis o sucesso-religioso. Seja penitente. Vá a cultos onde surjam salvações instantâneas. Atenção: sente-

se humildemente na primeira fila com um semblante piedoso. Nos problemas jogue a culpa no Demônio.

E pelas soluções busque as contribuições em prol da fé e caridade. Deus por R$ 1,99.

6. Eis o sucesso das palavras. Use frases de efeito: “Estamos inaugurando uma nova fase”; “É preciso

superar desafios, acreditando em si mesmo”; “Só o amor constrói”. E, se possível, ao final do discurso

use palavras em inglês como “low profile”. Mesmo que outros não entendam, não tem importância. Pega

bem!

7. Eis o sucesso-volta por cima. Seja esperto. Se der alguma coisa errada, não fique desesperado. Renegue

firmemente o que fez e insista nos erros. Mas como? Recomece do item 1 e prossiga ao item 6, fazendo

um novo marketing. Você verá como muitos se esquecem do que aconteceu.

E, depois destes conselhos, se o aluno novamente perguntar: “até onde posso chegar?”. Responderei:

longe de mim!

* Mario Sérgio de Moraes é Doutor em História pela USP e Conselheiro do Insituto Vladimir Herzog

Por M

ario

Sérg

io d

e M

orae

s*

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Caminhos

VIDA DE CÃOPor Osni DiasFotos: Jean Takada

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Em meados dos anos 90, um grupo preocupado com o abandono dos animais começou a se reunir na Câmara Municipal de Atibaia com o intuito de criar uma associação que, envolvendo a comunidade, promovesse ações de interesse público. Três anos depois dos encontros, nascia a AVA – Associação Vidanimal, decretada de utilidade pública pela Lei 2696, em maio de 1996. O objetivo da Associação é promover e fomentar uma nova filosofia de convivência com os animais, a fim de que a sociedade conquiste, enfim, um status de civilidade. Em parceria com a Prefeitura da Estância, foram criadas ações na área da saúde e, ao mesmo tempo, de amparo ao sofrimento dos animais. Anos depois, em 2001, foi criada uma Lei Municipal para regular a atuação da Secretaria da Saúde, dos agentes do

Poder Público e também dos fiscais da Protetora dos Animais, estabelecendo normas e diretrizes nesse sentido. Em razão do grande número de animais abandonados e vítimas de maus tratos levados para a sede da AVA, ela foi notificada a abandonar o espaço reservado para esse cuidado – o artigo 34 da Lei fixa a quantidade máxima de 10 animais em espaço localizado em área urbana. “Na antiga sede ficavam mais de 30 cães. Todos os dias a sede amanhecia com pedras, pedaços de pau, ovos, laranja, tudo jogado no quintal pelos vizinhos”, desabafa Elza Martoratto Takada, diretora da entidade. O imóvel ficou em péssimas condições de utilização e hoje passa por reformas para, futuramente, gerar renda para as ações da AVA. “O que recebíamos era insuficiente para continuarmos nosso

trabalho. Realizamos vários mutirões (de castração), mas o custo é alto, além da prestação de contas. Se não obtivermos 2 mil reais mensais não temos condições de ir adiante”, diz. Os maus tratos lideram os casos envolvendo os animais, além do abandono. Segundo Anne Yamato, médica veterinária do Santuário dos Animais e voluntária da AVA, diminuiu muito o número de cães nas ruas. “A castração diminui bastante o número de animais nas ruas, mas ainda encontramos muitos filhotes”. Segundo ela, em 2010 foram realizadas 870 castrações, entre cães e gatos. Anne vai além do profissionalismo. “Além de profissional, ela também é protetora. Se recebe animais em condições ruins, ela cuida, muitas vezes até sem cobrar”, observa Elza Takada.

VEJA TAMBÉMCom 1.800 animais, ONG vira “campo de refugiados” no Rio Grande do Sulhttp://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/06/19/com-1800-animais-ong-vira-campo-de-refugiados-no-rio-grande-do-sul.jhtm

http://noticias.uol.com.br/album/110619cachorros_album.jhtm#fotoNav=10

Nos EUA, contratos especiais garantem cuidado com os animais depois da morte do donohttp://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2011/06/26/nos-eua-contratos-especiais-garantem-cuidado-com-os-animais-depois-da-morte-do-dono.jhtm

Hipermercado é suspeito de capturar e matar gatos no interior de SPhttp://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/06/22/hipermercado-e-suspeito-de-capturar-e-matar-gatos-no-interior-de-sp.jhtm

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“Sou protetora desde os meus 10 anos de idade”. Assim Elza Takada se define, contando histórias que lembram muito sua infância. Ela revela que sempre morou em lugares grandes, em meio a cavalos, vacas, cachorros, enfim, “tudo o que você possa imaginar”. E relembra uma de suas aventuras. “Uma vez um boxer de um tio se perdeu no mato. Andei quase 15 dias atrás dele, mas o achei caído em um buraco, era só um esqueleto, sem as unhas, por tentar sair do buraco em desespero. Pena que já estava morto”. Elza diz que o legado veio da família. “Quando vejo cães sofrendo, nas casas, não consigo ficar imune. Isso eu herdei do meu pai, ele era protetor e não sabia”. E aponta a posse responsável como uma solução para resolver a questão dos maus tratos. Segundo ela, muita gente recolhe um animal quando é pequeno, bonito, não consome muita ração e não dá gastos. Quando cresce, o animal consome mais, exige medicação, maior higiene e aí aparecem os gastos e, consequentemente, o abandono. “Antes de adotar um animal, é preciso ter responsabilidade. Nosso trabalho é também de conscientização”, alerta.

Sempre fui protetora

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LobãoEm julho de 2010 encontramos João Luiz Woerdenbag Filho – o Lobão e Claudio Julio Tognolli – considerado um dos mais brilhantes profissionais na área do jornalismo investigativo do país, no Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), em São Paulo, para a palestra 50 anos a mil: como biografar alguém vivo. O livro, lançado em 2010, chegou a ocupar o terceiro lugar no ranking dos livros mais vendidos na categoria não-ficção da Livraria da Folha. Na página seguinte, os principais trechos do encontro.

Por Osni Dias

A MIL

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“No livro do Lobão fizemos, em princípio, uma série de gravações dele, ou seja, registramos suas confissões”, explicou Tognolli, no início da conversa. O jornalista explicou que o exercício da biografia pressupõe um método, mas Lobão não se sentiu confortável com essa ideia. Foi então que ele teve a percepção de que o contato com o gravador não era interessante e decidiu mudar sua estratégia. Tognolli jogou fora o método inicial e passou a investigar a vida do biografado. “Comecei a almoçar com o Lobão três vezes por semana, acompanhado por um amigo jornalista, que acompanhava os depoimentos. Esse processo durou aproximadamente um ano”. O jornalista comprou todos os bancos de dados possíveis sobre o artista e digitou todas as matérias, num processo que ele chamou de “aggiornamento” (de agiornar, ordem do dia). Depois disso, passou todo o material às mãos de Lobão, para análise. Tognolli diz que teve um insight, “um encontro” com Garcia Marques: “é necessário perguntar ao entrevistado o que ele pensava naquele momento”. Lobão foi então questionado sobre determinados acontecimentos em sua vida, fatos marcantes e bastidores de sua carreira.

A segunda fase foi mais técnica. Tognolli pegou de empréstimo várias biografias. Uma delas trazia, ao final dos capítulos, “o outro lado” da história. Foi quando apresentou a ideia a Lobão, de trazer personagens para confrontar os fatos, confirmando ou destruindo o que ele havia escrito, ou seja, potencializando esses momentos. “Lobão fez descobertas de si mesmo. Uma delas de que era esteta do Comando Vermelho – facção criminosa do Rio de Janeiro – na época em que teve contato com o grupo, na prisão.

A terceira parte do trabalho foi uma busca por processos, documentos com advogados,

enfim, material do tempo em que a figura do músico se tornou vítima das autoridades policiais e foram criados certos estereótipos do músico, como “elemento mal formado socialmente, psicopata e epilético”, entre outros, termos encontrados em documentos da época. Entretanto, o músico disse ao jornal O Globo que “todos que comentam sobre o livro se impressionam com o grau de doçura que a narrativa apresenta”, garante. “É um livro elegante, presumo. Não vou brincar com a história de uma vida que tenho tanto carinho e orgulho. Fazer uma autobiografia requer muita responsabilidade, atenção e generosidade no coração.”

Na última fase, já no processo de edição, Tognolli foi ao encontro do produtor Roy Cicala (50 anos a mil), que produziu um disco a ser lançado com o livro. Para se ter uma ideia, Cicala mixou as músicas dos álbuns de Lennon, de Imagine (1971) a Double Fantasy (1980).

Ao final, Tognolli revelou que o almoço diário com Lobão fez parte de um processo de rechecagem. E conclui que a paciência é um exercício, pois, segundo ele, nesse momento o entrevistado tem os “insights” em seu processo de reflexão. Agora é ler o livro e conferir.

Claudio Julio Tognolli é professor da ECA/USP e membro da Abraji http://www.abraji.org.br/

http://twitter.com/#!/claudiotognolli

http://www.lobao.com.br/bio.php

MP3 e trechos do livro, aqui: http://www.ediouro.com.br/50anosamil/default.php

Autorizado por PETA

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À Sombra de um Delírio Verde (29′ – 2011) De Cristiano Navarro, An Baccaert e Nicolas Muñoz

Na região sul do Mato Grosso do Sul, fronteira com Paraguai, a etnia indígena com a maior população no Brasil luta silenciosamente por seu território para tentar conter o avanço de poderosos inimigos. Expulsos pelo contínuo processo de colonização, mais de 40 mil Guarani Kaiowá vivem hoje em menos de 1% de seu território original. Sobre suas terras encontram-se milhares de hectares de cana-de-açúcar plantados por multinacionais que, em acordo com governantes, apresentam o etanol para o mundo como o combustível limpo e ecologicamente correto. Sem terra e sem floresta, os Guarani Kaiowá convivem há anos com uma epidemia de desnutrição que atinge suas crianças. Sem alternativas de subsistência, adultos e adolescentes são explorados nos canaviais em exaustivas jornadas de trabalho. Na linha de produção do combustível limpo são constantes as autuações feitas pelo Ministério Público do Trabalho que encontram nas usinas trabalho infantil e escravo. Em meio ao delírio da febre do ouro verde (como é chamada a cana-de-açúcar), as lideranças indígenas que enfrentam o poder que se impõe muitas vezes encontram como destino a morte encomendada por fazendeiros.

http://www.youtube.com/watch?v=M-Vg4GSoAaU

Documentáriosdebatem luta dosGuarani Kaiowá

Mbaraka, A Palavra que Age (26′ – 2011) De Spensy Pimentel, Edgar Cunha e Gianni Puzzo

Os cantos dos xamãs Guarani Kaiowá são fórmulas verbais que têm uma ação sobre o mundo. Tradicionalmente, eles curam doenças, afastam pragas da lavoura e bichos peçonhentos, anunciam a chegada dos deuses. Eles não só preveem o futuro, mas o conformam. Hoje, esses indígenas vivem em seu mundo uma crise sem precedentes. Confinados em pequenas porções de terra e com os recursos naturais da região onde residem totalmente degradados, eles se veem diante de um impasse: será que suas palavras conseguirão conformar um mundo novo que reverta a crise cosmoecológica por que passam atualmente? Se a palavra pode ser história, mito e narrativa, entre os Guarani-Kaiowá, ela também é poesia e profecia: um canto de esperança em um futuro melhor.

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seguindo a trilha dos ancestrais

Letras

No 8º Encontro Nacional de Escritores e Artistas Indígenas - “Literatura é Resistência”, no Rio de Janeiro,Daniel Munduruku nos mostra que podemos usá-la de forma madura para fazer valer nossos sonhos

ENCONTRO 2011: Manoel Tukano, Marcos Terena, Ailton Krenak e Daniel Munduruku

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Chegamos a mais uma edição do Encontro de Escritores e Artistas Indígenas.Já é o oitavo encontro. Muitas “águas rolaram por debaixo da ponte” como diz o ditado popular. Muito se avançou nas discussões e debates sobre este fenômeno literário que agora já faz parte da realidade brasileira. Pela oitava vez nos encontramos no Rio de Janeiro para expressar nossos pensamentos sobre saberes ancestrais que temos manifestado através da arte escrita e das ilustrações.

Descobrimos o valor do livro como instrumento de luta, de conscientização da sociedade brasileira, de educação e, até, como um bem cultural capaz de auxiliar na manutenção financeira das pessoas que a ela se dedicam.Portanto, o instrumento livro acabou por ser um ponto de partida importante para alimentar o espírito da sociedade limpando preconceitos, esteriótipos, equívocos que vinham sendo reproduzidos ao longo de sua história. No lugar desse lado negativo estamos oferecendo - através de nossa

literatura - imaginação, respeito, conhecimentos verdadeiros, convivência saudável, autoestima, entre outras possibilidades.

Se fizermos uma avaliação madura e isenta destes oito anos passados, iremos perceber que houve grande avanço na compreensão de nossa gente, mas também notaremos que ainda falta muito a ser feito, muitos precisa ser produzido que é urgente preparar jovens indígenas para assumirem o protagonismo na produção literária.Temos que pensar em profissionalizar rapazes e moças para ocupar um lugar definitivo no universo da produção literária e

não pensamo apenas em torná-los escritores, mas técnicos em design, gráficos, diagramadores, revisores, capistas, ilustradores, enfim, profissionais competentes que possam lidar com todo o processo de preparação de livros. É um sonho possível, realizável. Já temos experiência e um olhar treinado para fazer isso acontecer.

Nestes oito anos pudemos conhecer, conviver, aprender a utilizar a técnica do livro. Pudemos ouvir editores, escritores, ilustradores, profissionais de direitos autorais, convidados internacionais, exposições diversas que nos deram suporte para sonhar-mos um caminho novo a partir da magia do livo e da literatura. O caminho está feito. Antes era apenas uma picada na mata da literatura, hoje é um caminho seguro que podemos trafegar por ele.

Literatura é Resistência Por tudo isso consideramos, parentes, literatura como instrumento de resistência. Foi pensando isso que elegemos este mote como tema deste oitavo encontro.

Queremos mostrar como podemos usá-la de forma madura para fazer valer nossos sonhos, nossa sobrevivência física, nossos rituais [que também são literários], nossos cantos e danças. Com ela queremos lembrar a injustiça que foi cometida contra nossa gente e dizer que somos contra todo tipo de violência contra nossos povos e também contra a natureza, nossa parente.Somos contra a construção de Belo Monte por considerá-la um afronta ao meio ambiente vivo e aos brasileiros em geral.

Somos contra por ser um projeto político que beneficiará um pequeno grupo de construtoras. Somos contra os Meios de Comunicação Social que preferem reforçar esteriótipos ao invés de educar o olhar dos cidadãos, somos contra as campanhas violentas que assassinaram líderes indígenas em todos os cantos do Brasil.

Ao mesmo tempo somos solidários com os parentes indígenas que estão sofrendo este tipo de coação, coerção, perseguição e dor por conta de todos estes descalabros políticos.

Por Daniel Munduruku*

* Daniel Munduruku é graduado em Filosofia, tem licenciatura em História e Psicologia e é doutorando em Educação na Universidade de São Paulo.

http://www.danielmunduruku.com.br/

Fotos: Luana Fortes

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Nos solidarizamos com os familiares dos jovens Terenas que foram assassinados no Mato Grosso do Sul; com o líder Kayapó Raoni Mektutire - que sabe- como ninguém os malefícios de grandes projetos hidrelétricos em terra indígena; com os parente Xavantes que lutam por reaver suas terras tradicionais; com os parentes do Nordeste brasileiro que sofrem perseguições - físicas e ideológicas - há centenas de anos.

Enfim, queremos lembrar que nossa luta é militante porque é feita por pessoas comprometidas com o bem estar de seus povos, com os saberes da tradição a que pertencem e com a continuidade destas tradições.Este é o sentido, parentes, deste nosso encontro.

É o sentido de estarmos buscando novos horizontes para dar continuidade à trajetória que nossos ancestrais iniciaram na origem dos Tempos.

Acima: Manoel Moura TukanoPágina ao lado: Escritores indígenas reunidos; Graça Graúna e Ademário Payayá; Joaquim Crixi Munduruku e Marcos Terena

Ritual de Abertura, no

Centro de Convenções

SulAmérica-RJ

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Ô dia corrido! Manhã toda ocupada dando aulas na Faculdade. Inicio a aula, passo vários exercícios a serem criados no laboratório de fotografia, peço um esboço do próximo projeto e saio por meia hora para ir ao Tribunal das Contas fazer uma foto do Hospital Servidor Público. Pausa para o trânsito. Pausa para o tremor nas pernas durante as fotos no terraço do edifício – tenho pavor de altura. Trabalho é trabalho, ok? Volto para a faculdade e depois corro até Higienópolis – uma hora de fisioterapia com o Gutenberg. Estica, puxa, faz respiração abdominal e mais estica e puxa.São Paulo é uma loucura, uma corrida, muitas pessoas, mas ao mesmo tempo é uma delícia: as cores, os aromas, os rostos da nossa gente, a culinária e a arquitetura encantadora do centro de Sampa.O centro! É um grande delírio. As horas voam. Gosto das pessoas que andam por ali, do colorido das ruas, dos botecos, dos camelôs, do barulho do trânsito e dos cds piratas que insistem em tocar nos aparelhos eletrônicos. Um rápido passeio na deliciosa galeria do rock, cheia de punks e roqueiros. Aproveitei o dia livre para andar. Fui ao Teatro Municipal, Anhangabaú, 25 de Março, Ladeira Porto Geral, deixei

por último o Mercadão para repor as energias, tomar uma água de coco, uma “breja” e bolinho de bacalhau. Isso é felicidade.Três da tarde: Ponto Chic, uma lanchonete famosa por seu bauru de queijo transbordante. Não resisti, tinha ouvido falar tanto desse bauru, dessa lanchonete que foi inaugurada em 1922. Será que os modernistas depois de um sarau davam uma passadinha lá? Ah! Fiquei pensando que sim. Ali sentava Anita Malfati, logo na mesa da frente. Próximo ao bar, a Tarsila, e na mesma mesa, o Oswald de Andrade, fumando um cigarro sem filtro com muito charme. O Oswald fumava? Ele era charmoso? Essas coisas me interessam e a viagem pela imaginação agradece.Curiosidade interessante do bar: os pratos ficam sobre um jogo americano de papel que possui um jogo de caça palavras. Certamente para os fregueses matarem o tempo em dias muito lotados. Na parede, ao lado de um quadro, um poema de Sérgio Milliet, da coletânea Poemas Análogos, de 1927. Eram de lá as palavras selecionadas ocultas no jogo. Esta é a Sampa dele. Que obras lindas! O poema e Sampa.Detalhe: faltou encontrar a palavra “engraxates” no jogo.

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Canto a cidade das neblinase dos viadutosminha cidadeamante de futebol e vendedora de caféOs aventureiros bigodudoscomo nas fitas da Paramounto Friedenreich pé de anjoe a bolsa de mercadoriasas chaminés parturientes do Brásos quinze mil automóveis orgulhososno barulho ensurdecedor dos Klaxonse a cultura envernizada dos burguesesos engraxates da Praça Antônio Pradoe o serviço telegráfico do “Estado”a febre do dinheiroas falências sírio-nacionais

a especulação sobre os terrenosa politicagem dos politiqueirose a negra de pó-de-arroza até os bondes da Lightpara o Tietê das regatas e dos bandeirantesos homens dizem que tu és ingratae que devoras teus próprios filhos...

Mas que linda madrasta tu ésToda vestida de jardins minha cidadeAmo também teus plátanos nostálgicosImigrantes infelizesteus crepúsculos de seda japonesatuas ruas longas de casas baixase teu triângulo provinciano...

Sao Paulo~Por Luis Pires

Sao Paulo~

Por Claudinei Nakasone

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O centro da cidade ostenta edificações como o Copan (abaixo) e Banespa (ao lado)

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Campo de Marte, Chegada a São Paulo pela Castelo Branco e o Jóquei Clube

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Marginal Pinheiros - Prédio do Unibanco, Prédio da Gerdau Palácio do Governo de São Paulo

Estádio do Morumbi - SPFC SESI da Vila Leopoldina

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Avenida 23 de Maio

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Parque do Ibirapuera

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Viaduto Santa Efigênia

Universidade de São Paulo

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Félix Contreras, defensor da revolução cubana, da música e da literatura da ilha de Fidel, continua jovem, vibrante e feliz. Amante do saboroso café brasileiro e do tradicional charuto cubano, o jornalista e escritor, de passagem por São Paulo, concedeu uma entrevista exclusiva na residência da jornalista e artista plástica Marta Alvim, onde abordou a Revolução Cubana, a música e a poesia, numa descontraída conversa de quase duas horas, ao lado da também jornalista Flávia Amaral Resende. Autor dos livros La Música Cubana, Una Cuestión Personal, Porque Tienen Filin e Eu Conheci Benny Moré, Contreras é taxativo: “Minha identidade é Cuba”, diz ele, rebatendo a provocações de uma jornalista sobre sua relação com a ilha. A seguir, fragmentos dessa conversa reveladora de um dos ícones da cultura cubana, que entre um gole e outro de café, nos mostra uma outra faceta da ilha. Fotos: Marta Alvim

FÉLIX CONTRERAS

Por Osni Dias

Entrevista

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Construção de uma nova culturaExiste um precedente que vocês conhecem. A revolução cultural cubana não começou com a revolução, em 1959, começou no século XIX. Os burocratas cubanos não gostam que eu fale assim, mas eu não sou um burocrata. Eu tenho uma visão própria. A Revolução Cubana começou a fazer a grande revolução culta da ilha, graças a uma herança – grande, ou melhor, fabulosa – que foi a riqueza cultural do século anterior, com grandes pensadores. Entre eles, um padre católico maravilhoso, Félix Varela, que iniciou um pensamento próprio da ilha, ou seja, o cubano começou a pensar como cubano, não como espanhol. José Martí e José Caballero, com a revolução cubana, potencializaram essa herança. É difícil explicar a grandeza que herdamos.

LiteraturaPara mim, o melhor romance da América Latina veio com Cecília Valdés. De Cuba surgiu também um dos maiores poetas do século XIX. Falo sem medo de arriscar que é o melhor. Seu nome é José Maria de Heredia. Grande poeta, pensador, botânico, cientista e gravurista. Herdamos toda essa grandeza cultural do século XIX que, pela primeira vez em Cuba, tem um governo de homens cultos como Fidel Castro, por exemplo, que era advogado. Hemingway, em suas memórias. Che Guevara, que era médico e poeta.

Guerras de IndependênciaTemos um país onde a cultura sempre caminhou de mãos dadas com escritores, poetas, romancistas. A primeira Guerra de Independência em Cuba durou 10 anos, aconteceu de outubro de 1868 a 1878. Ela foi comandada por poetas, um dos líderes se chamava Carlos Manuel De Céspedes. A segunda Guerra de Independência, contra a Espanha, durou de 1895 a 1898 e foi idealizada e comandada por um grande homem, talvez o homem mais importante de Cuba até hoje, José Martí. A última revolução, de caráter de libertação nacional, foi comandada por Fidel Castro, Ernesto Che Guevara e Camilo Cienfuegos, homens de cultura. Essa é uma coisa que surpreende: Cuba sempre fica grávida de intelectuais. Revolução cubanaEu sou de uma província chamada Pinar Del Rio. Naquele momento, eu era um rapaz de 20 anos de idade, com segundo ano primário, que havia começado a trabalhar com 9 numa loja de frutas. Graças a essa revolução socialista, aquele garoto que pensava em uma carreira, uma formação, começou a sonhar. Não participei da luta armada, não tive esse privilégio, mas foi uma coisa muito bonita, me lembro bem do primeiro dia da Revolução... Eu me lembro que em abril de 61, saiu em todos os jornais da ilha: “Garotos que querem ir para Havana seguir carreira, todas as carreiras

e profissões, devem se apresentar na Prefeitura”. Eu fui correndo, eu era engraxate, na rua. Minha mãe fazia sacrifícios para eu poder comer. Eu mesmo, hoje, sentado aqui, juro: penso que ainda é um sonho, se tudo aquilo era verdade.

NovidadeUma das coisas mais importantes da Revolução Cubana e que quase ninguém conhece, vou contar agora. É um dos fatos mais importantes da cultura cubana. Quando aconteceu a Revolução, o Che, com aquela visão, de olhar muito longe, disse ‘nós vamos desenvolver Cuba dentro de 10 anos. Vamos precisar de muitos intelectuais, cientistas e médicos, temos que nos preparar para os próximos anos. Precisamos trazer jovens das províncias para estudar em Havana. Vamos dar formação a eles, criar poetas, escritores, jornalistas. Fidel disse a ele: “você ficou louco com a descida da Sierra Maestra? Onde vamos colocar esses cinco mil caipirinhas?” “É muito fácil”, respondeu: “Nos hotéis”. Os melhores hotéis eram para o turismo americano, a beira-mar. Ali eu estudei por cinco anos. Graças ao socialismo cubano aquele garoto de província que não tinha mãe nem pai, nem o que comer, hoje tem livros publicados em 14 países. Isso só aconteceu com uma revolução radical, e não reformista – por um governo que coloca em primeiríssimo lugar a ciência e a cultura.

O século XXA primeira década do século XX, muito antes do triunfo revolucionário, viu surgir grandes escritores, romancistas, contistas e poetas. Na década de 30, mais ainda. Aparece a estética nova, quando começa a mistura da cultura negra com a cultura branca e o surgimento da grande música e da literatura afro-cubana, bem como a poesia negra, com poetas de destaque. Na década de 40, aparece a melhor revista de literatura da América Latina, a Origens, de um grupo de poetas de mesmo nome. Aparece pela primeira vez o “conto novo”, um novo romance e a música, que foi de uma riqueza enorme – aparece o mambo (1942), para mim, o melhor gênero da música cubana, e também o cha-cha-cha, na década seguinte, quando floresce também o cinema.

Cinema cubanoComo Cuba pode produzir um cinema tão bom, tão desenvolvido? A nossa sorte é que a burguesia cubana sempre teve inclinação pela cultura. O consagrado diretor Tomaz Alea se notabilizou dirigindo Morango e Chocolate, é estudioso do novo realismo italiano. Conto isso para reforçar a ideia de que a revolução explorou aquela herança de um maravilhoso passado cultural. O propósito da revolução era continuar aquela, anterior.

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As divergênciasNós brigamos muito com os soviéticos. Cuba não aceitou a imposição de um modelo. Em julho de 1977 o governo cubano mudou todo o Ministério da Cultura, composto por políticos dogmáticos. Atualmente um grande intelectual cubano ocupa a pasta da cultura, o Abel Prieto, homem que enfrenta Fidel e o contesta publicamente. “Vocês poetas vivem muito bem, não tem o que reclamar”, disse uma vez Fidel Castro. Prieto logo lhe respondeu: “Mentira sua, nós poetas somos como todo e qualquer trabalhador cubano”. É uma piada, disse logo Fidel. “A piada é sua e uma piada de Fidel custa muito”, devolveu o ministro.

Década de 80Aconteceu uma nova explosão da cultura, com uma nova geração de escritores, poetas, músicos e cineastas. Eu sou do primeiro grupo de poetas nascidos graças à revolução, sou membro da nova poesia, grupo esse nascido em 68, chamado Caimán Barbudo (jacaré com barba, que simboliza a rebeldia), todos formados pela revolução.

A ausência do Che Era uma figura importante, um exemplo. Mais do que a revolução, gostaria de falar sobre o pensamento da revolução. Um verdadeiro revolucionário é sempre crítico e Che era um homem crítico, claro, naturalmente. Quando Che desembarca do México, em 56, já vinha com uma formação intelectual, um homem que dizia as coisas de memória. O chamavam de “loco” Guevara e diziam que ele não podia ser revolucionário,pois “vive lendo poesia, é um bicha, maricón”. E Che recitava... Era um homem romântico, um verdadeiro revolucionário. Atirava, mas também lia livros com poemas de amor. Um homem completo. Quando eu estudava, ele e Fidel faziam visitas às escolas. De madrugada. Eu dizia “filhos da p..., vem nos acordar de madrugada e ainda ficam conversando até amanhecer”, lembra, aos risos...

Leia entrevista de Félix Contreras para a revista Caros Amigos:

http://carosamigos.terra.com.br/index_site.php?pag=revista&id=149&iditens=775

Entrevista de Jotabê Medeiros, para o Estadão:

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100821/not_imp598106,0.php

Sobre Caimán Barbudo http://www4.usp.br/index.php/saude/9890http://www.caimanbarbudo.cu/

Nas páginas seguintes, um pequeno glossário com referências desta entrevista

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Abel Prieto Jiménez é o atual Ministro da Cultura de Cuba. É também escritor. Leia mais em http://www.cubadebate.cu/categoria/autores/abel-prieto-jimenez/ e http://www.cubadebate.cu/opinion/2004/05/02/en-cuba-no-nos-interesa-formar-fanaticos-sino-hombres-y-mujeres-cultos/

Benny Moré (Bartolomé Maximiliano Moré Gutiérrez, 24 de agosto de 1919 - 19 Fevereiro 1963), ou Beny, considerado o maior cantor popular cubana de todos os tempos, era dotado de uma musicalidade inata. Moré foi um mestre da maioria dos gêneros da música cubana, como o mambo, guaracha e bolero. Moré também formou e liderou grandes bandas cubanas da década de 1950, até sua morte, em 1963. Veja mais em http://en.wikipedia.org/wiki/Benny_Mor%C3%A9

Camilo Cienfuegos Gorriarán (6 de Fevereiro de 1932 - 28 de Outubro de 1959) foi um revolucionário cubano, nascido em Calabazar de Sagua. Participou de atividades clandestinas contra o ditador de Cuba Fulgencio Batista e foi um importante protagonista da Revolução Cubana, sendo um dos principais líderes. Che Guevara, que se tornou um dos seus grandes amigos, dedicou-lhe o seu livro Guerra de Guerrilhas. Mais em http://pt.wikipedia.org/wiki/Camilo_Cienfuegos

Carlos Manuel de Céspedes del Castillo (Bayamo, Oriente, 18 de abril de 1819 – San Lorenzo, Oriente, Fevereiro de 1874) foi um fazendeiro cubano que libertou seus escravos e redigiu a declaração de independência de Cuba, em 1868, o que deu início à Guerra dos Dez Anos. Mais em http://www.quintavenida.it/cultura-cubana/88-i-personaggi-della-storia-di-cuba/2121-carlos-manuel-de-cespedes-il-padre-della-patria-cubana.html

... é que em Cuba esse passado se oferece incólume, pois o que há de abandono (devido principalmente ao isolamento imposto pelo embargo americano), resulta em preservação. Os carros, casas, prédios, praças e postes de iluminação antigos, apesar de deteriorados, mantém a feição de um tempo que teria se perdido, se tivessem sido restaurados, ou reconstruídos. A referência a esse passado se acentua para nós, pelo fato do samba-canção dos anos 40 e 50, que moldou, em parte, a sensibilidade musical de Bethânia, ter dividido seu espaço, nas rádios brasileiras da época, com boleros, rumbas, salsas e mambos. A música cubana, desde então, deixou marcas inconfundíveis na tradição da canção popular do Brasil — do piano de João Donato ao canto de Jamelão, dos bailes de gafieira aos boleros na voz Nelson Gonçalves, dos encontros de Pablo Milanés com Chico Buarque às canções de Bola de Nieve interpretadas por Caetano, da Timbalada a Carlito Marrón.

Arnaldo Antunes, músico, poeta, escritor

http://www.arnaldoantunes.com.br/new/sec_textos_list.php?page=4&id=204

Cecilia Valdés é um romance de Cirilo Villaverde (1812-1894), obra de importância por sua qualidade e sua revelação sobre a interação de classes e raças, em Cuba. A primeira versão do romance apareceu em Havana em 1839; sua versão definitiva e maior, foi publicada em Nova York, em 1882, sendo reeditada várias vezes. Há várias edições em inglês (como Cecilia Valdes ou Monte Angel). É considerado o melhor romance de Cuba do século XIX, originando versões em óperas e filmes. Veja http://www.facebook.com/pages/Cecilia-Vald%C3%A9s/104016149634184

Gutiérrez Alea, nascido em uma família de progressistas, graduou-se em Direito pela Universidade de Havana, em 1951 e foi estudar cinema no Centro Sperimentale di Cinematographia em Roma, graduando-se em 1953, sob grande influência do neo-realismo italiano. Mais em http://xikino.wordpress.com/2008/06/30/memorias-do-subdesenvolvimento-e-tomas-gutierrez-alea-em-foco-no-festival-latino-americano-de-sp/ e http://cineclubeybitukatu.blogspot.com/2009/04/tomas-gutierrez-alea.html

Ignacio Jacinto Villa Fernández (Guanabacoa, Cuba, 11 de setembro de 1911 - Ciudad de México, 2 de outubro de 1971), mais conhecido por seu nome artístico, Bola de Nieve, foi um cantor, compositor e pianista cubano. Provavelmente um dos mais geniais músicos nascidos no Caribe. Mais em http://www.lastfm.com.br/music/Bola+de+Nieve/+images. Leia no site do Estadão http://m.estadao.com.br/noticias/arteelazer,bola-de-nieve-ganha-finalmente-uma-biografia,598333.htm

José Cipriano de la Luz y Caballero (11 de julho de 1800 - 22 de junho de 1862) foi um estudioso cubano do século 19, considerado uma fonte de autonomia intelectual para o país. Formado em Filosofia em 1817 na Universidade Real e Pontifícia de São Jerônimo, em Havana e em Direito na San Carlos Seminary. Mais em http://www.cubaliteraria.com/autor/jose_de_la_luz_y_caballero/html/biografia.htm

José Maria de Heredia (La Fortuna, Cuba, 22 de novembro de 1842 – França, 2 de outubro de 1905) foi um poeta de origem cubana, naturalizado francês em 1893. http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Mar%C3%ADa_de_Heredia

Para saber mais:

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No tempo dos quintais

Por Marcelino Lima

Marcelino Lima nasceu em Bela Vista do Paraíso, no Paraná. É jornalista formado pela PUC-SP, com pós-graduação em Teoria da Comunicação pela Cásper Líbero (SP).

Brinquedo era sabugo. Ou toco. Assustador era morcego no abacateiro e, perigoso, cair no poço. Dependendo do bairro, ser picado por cobra. Longe era ir de bicicleta. De ônibus, ave-maria! Inocência era colocar passarim morto na forquilha mais alta do pessegueiro: Deus sempre vinha buscá-lo. Ou comer a “gelatina” da mesma árvore, depois da chuva, para jamais ficar velho. Autoridade era o pai. E que festa quando ele nos levava à feira ou ao armazém! Felicidade era chupar uma laranja, ainda sentado na barraca. Tomar uma grapette, geladinha. Ou voltar para casa com os bolsos cheios de bala! Medo só se sentia quando São Pedro resolvia lavar o céu e arrastava móveis, provocando curtos-circuitos do diabo, oh! Santa Bárbara e São Jerônimo, valha-nos os terços e os ramos bentos. Ou quando os mais velhos liam à luz de lamparinas ou de lampiões histórias de assombração de gelar a barriga. E por falar em coisas do além, morrer era apenas virar uma estrela, ter a mesma sorte de nossos avós. E viver um tempo sem relógios. Sem muros. Com toda a liberdade possível dos quintais. Apesar dos poços, os quintais eram o mundo. E com muitas vantagens, viviam coalhados de maria-pretinha, de amora, de gabiroba...

LetrasThiago Cervan

http://cervan.blogspot.com/

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Amne Fariahttp://amnenoteatrodepalavras.blogspot.com/

As marcas nos seus olhos tristonhosO colorido de suas asas a flutuar sonhos e poeira

Numa fantasia faceira Num último suspiro de vidaCunhada na terra vermelhaNo barroNa simplicidade da arteNa delicadeza da auroraNo tempo que não veio

Aquilo que um dia belo dançava entre as floresAplacando suas maiores doresSeus lençóisSua sina de meninaSua coleção de tempestadesDe pedras e punhaisDe véus acetinados Da espera tranqüila de quem passaDe quem virá e de quem veio

Triste sina Dos seus olhos tristesDa fantasia faceiraDe um sonho amanhecidoO Pó.

A menina que passa

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A artista Ana Procopiak, nas suas déambulations poétiques, percorre o espaço urbano em busca do fugidio. Nesses percursos caminha captando fotograficamente os desvãos, as fragilidades escondidas nas entranhas das cidades onde mora ou, por uma razão ou outra, desenvolve laços afetivos. Seus múltiplos olhares registram os mais variados pontos de vista.

Ana Procopiak registra no revestimento urbano os vestígios da natureza que aparecem aqui e ali, a marcar sua presença, bem como, a copa das árvores que solta folhas e flores indiciando o ciclo vida/ morte/vida em meio à urbe revestida de cimento, pedra e asfalto. É a poética desses encontros que interessa a artista em espaços urbanos como Curitiba, Campo Grande, Florianópolis e Porto Alegre.

Ana vive em Curitiba, é artista visual, designer e professora universitária. Mestre em Comunicação e Linguagens, especialista em História da Arte, graduada em Desenho Industrial, é Professora em cursos de graduação e pós-graduação nas áreas de Design, Comunicação e Artes. Como artista visual trabalha no campo da pintura e da fotografia realizando diversas exposições individuais e coletivas e ministrando palestras, cursos e oficinas de criação.

DÉAMBULATIONS POÉTIQUES

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A polêmica sobre o livro de Língua Portuguesa adotado pelo MEC, Por

uma vida melhor, parece não ter fim. Depois de o livro ser

espezinhado

pelos meio de comunicação conservadores, o

caso acabou nas barras dos

tribunais. A Defensoria Pública da União no Distrito

Federal (DPU-DF)

entrou com uma ação na Justiça Federal para que sejam recolhidos das

escolas públicas os 485 mil exemplares do compêndio. Segundo matéria

do “Estadão” on-line, a “obra defende que o uso da língua coloquial

- ainda que com seus erros gramaticais - é v

álido na tentativa de

estabelecer comunicação”.

Ainda de acordo com a matéria do “Estadão”, o defensor público federal

Ricardo Salviano “esclarece” que questões

de sociolinguística não devem

ser discutidas dentro da sala de aula. “Escola é lugar onde se deve

ensinar a norma culta. Se você diz que falar errado é aceitável, está

prestando um desserviço à sociedade”, critica o tal defensor. Se fosse

assim, ninguém se comunicaria em sua própria língua, mas apenas os

doutos, os escritores

. Que disparate!

O livro não defende o uso apenas do “coloquial” – e do “erro” – como

insistem os meios de comunicação, mas mostra ao aluno as diferenç

as

dialetais, a existência de uma norma culta e outra inform

al e, portanto,

as variedades linguísticas do Português. É isto qu

e se espera do ensin

o da

Língua Portuguesa de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais,

aprovados em 1997, durante a gestão de Paulo Renato no MEC.

Mas como diz o linguista e antropólogo Maurizio Gnerre, a linguagem

constitui o arame farpado mais poderoso p

ara bloquear o acesso ao

poder. Insistir apenas no en

sino normativo da língua é perpetuar o

preconceito e a dominação.

Por Luís Brandino

Erro de português

Luís Brandino é jornalista

Pronominais

Dê-me um cigarroDiz a gramáticaDo professor e do alunoE do mulato sabidoMas o bom negro e o bom brancoDa Nação BrasileiraDizem todos os diasDeixa disso camaradaMe dá um cigarro

Oswald de Andrade

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Caro leitor, entre no submarino amarelo para mais uma viagem mágica e misteriosa. Dessa vez temos a companhia de quatro fábulas: Paul, George, John e Ringo. Não diga que são pessoas de lugar nenhum. Ao que parece eles enviaram seus covers, caídos do céu com a Lucy e seus diamantes, e levantaram uma pequena multidão que se encontrava ali no Pub, em Atibaia. Disseram que viram até o Sargento Pimenta e Jude no meio do público, e até quem os viu cantando junto. Durante todo o show a maioria se manteve ali, cantando, de braços erguidos e até pedindo músicas, muitos jovens levantaram-se e dançaram músicas que foram sucesso muito antes de suas mães terem nascido. Também pessoas de mais idade que provavelmente estavam vendo ali uma parte da adolescência, relembrando alguns momentos. Talvez até realizando, pelo menos uma parte de algum sonho de vê-los tocando. É fácil viver com os olhos fechados.O clima estava propício à comparação de que pareciam mesmo os Beatles tocando no Cavern Club. Assim como você é ele e você é eu e nós somos todo mundo...O show acabou e todos se dispersaram. Já era tarde e estava frio. Provavelmente passaram pelos campos de morango e foram embora...(No final, o amor que você recebe é igual ao amor que você faz.)

Por Luciana Meinberg*com pitacos de Delta9

Paulo, George Joao e Ricardo

* Fotógrafa, é acadêmica do Curso de Jornalismo da FAAT Faculdades

Imagem

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Edson Antonio Gonçalves, ou Edson Beleza, como é conhecido o Secretário Municipal de Cultura de Atibaia, esteve em Portugal participando do Festival Internacional de Curtas Metragens do Porto - Porto 7, que ocorreu entre os dias 8 e 12 de junho. Beleza foi convidado pela organização do Festival para presidir o júri da Mostra de Curtas Portugueses e participou também da mostra de desenho animado – competição internacional – e da mostra de videoclipes. O multiartista Igor Spacek, premiado em 2009 no Festival Porto 7 com o curta-metragem Tinha a Gata Gioconda, voltou a Portugal e desta vez recebeu Menção Honrosa dos diretores pelo curta-metragem O Belga. Beleza conta que foram muito bem recebidos pelos portugueses. “A cidade do Porto é maravilhosa. Queríamos mostrar que

Tio Dunha esteve na França em maio participando do Festival Internacional de Contis, realizado todos os anos no país. Ele esteve presente em Contis no ano passado e foi convidado para a direção artística e também expor seus trabalhos em 2011 – suas fotografias e intervenções urbanas. O Festival de Contis construiu sua reputação através da celebração do encontro de artes, da diversidade cultural e da liberdade de criação. Paralelamente às mostras cinematográficas, abre espaço para a literatura, pintura, música e escultura. “O evento é uma celebração, uma mistura de arte de rua, esporte, música e exposições”. Esse ano também foram desenvolvidas atividades com crianças de 6 a 12 anos, uma “Caça ao tesouro com o tio Dunha”, que foi reconhecido nas ruas por pessoas que passeavam pela cidade.

Os links abaixo são uma pequena mostra do universo do artista, confira:

BELEZA no Festival Internacional de Curtas Metragens

FOTO: IGOR SPACEK

era preciso ver a cidade com outros olhos e fizemos várias intervenções urbanas, colocando olhos nos cartazes espalhados pelas ruas. Fizemos também dois bonecões de papelão e andávamos pela cidade”. O artista é responsável pelo desfile de carnaval com bonecões no centro da cidade. Em entrevista no início do ano ao portal Atibaia Cultural, Beleza afirmou que existem mais de 100 bonecões gigantes e que as festas na cidade precisam ser preservadas. “Os nossos bonecões são os mais antigos do país. Os primeiros registros dos Bonecões de Olinda-PE datam de 1932 e, em Atibaia, de 1915. Esse, inclusive, é o assunto da minha dissertação de mestrado”, afirmou à reportagem. Veja matéria aqui http://www.atibaiamania.com.br/festas/folia/index.asp

Linkado no Tio Dunha

http://www.wix.com/uzinavisual/uncledunhahttp://www.wix.com/uzinavisual/vitorcarvalhoFestival de Contis by Vitor:http://www.youtube.com/watch?v=PlOnq4oDQu0Projeções gigantes:http://www.youtube.com/watch?v=LE4NDAg7lGoPerformance com carimbos em Contis:http://www.youtube.com/watch?v=5KDiFGYRrbQTrailer do primeiro diário visual lançado no Facebook:http://www.youtube.com/watch?v=V3bogO3pqMwTrailer do filme mostrado em Mont de Marsant:http://www.youtube.com/watch?v=FVt6gVImN1YUncle Dunha em Mont Marsant 2011:http://www.youtube.com/watch?v=d9GAdVnssYwUncle Dunha em Mont de Marsant esculturas:http://www.youtube.com/watch?v=Todo3PO2shYSite do Festival que participou:http://www.moundobrasil.fr/Revista ZE Mag, com entrevista concedida pelo artista:http://en.calameo.com/read/00060181526314b18c158

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