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Juventude e pensamento conservador no Brasil (1961-1980) Introdução Quando eu era jovem a crença corrente era a de que a juventude era progressista por índole. Desde então isso revelou-se falso, pois aprendemos que movimentos reacionários e conservadores também podem formar organizações juvenis... A juventude não é nem conservadora, nem progressista por índole, porém é uma potencialidade pronta para qualquer oportunidade. Karl Mannheim. O problema sociológico da juventude O trabalho apresenta as representações de juventude apreendidos em um periódico educacional de alta circulação na época apontada, durante o período de cerco e golpe do governo de João Goulart e os anos subsequentes da ditadura civil-militar no Brasil. Estudou-se a imagem que foi construída sobre a juventude entre os anos 1960 e 1980, a partir dos artigos produzidos e publicados na Revista da Editora do Brasil S/A (EBSA). Este interesse surgiu, em primeiro lugar, porque esse periódico educacional se apresentou notadamente favorável ao governo autoritário instituído em 1964. Foi observado que tal periódico circulava como um clipping de notícias. Filtrava-se o conteúdo produzido por outros veículos de comunicação em massa, tais como os jornais O Estado de S.Paulo (OESP); O Estado de Minas (OEM); a Folha de S.Paulo (FSP); o Correio da Manhã, o Diário de Notícias, O Globo, entre outros. Esses jornais, estudados em paralelo ao produto da editora, se posicionavam contra as manifestações estudantis de rua. Deixavam evidente o apoio aos militares; criaram plataforma políticas em torno da “purificação dos jovens brasileiros”, de modo que se evitasse o aumento de manifestações contrárias ao regime autoritário estabelecido. Tratava-se de um periódico que tratava de uma gama variada de assuntos sobre a educação brasileira. Mas, que durante os anos da ditadura civil-militar se esmerou em mobilizar um discurso panfletário em torno da ideia de desenvolvimentismo

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Juventude e pensamento conservador no Brasil (1961-1980)

Introdução

Quando eu era jovem a crença corrente era a de que a juventude era progressista por índole.

Desde então isso revelou-se falso, pois aprendemos que movimentos reacionários e

conservadores também podem formar organizações juvenis... A juventude não é nem

conservadora, nem progressista por índole, porém é uma potencialidade pronta para qualquer

oportunidade.

Karl Mannheim. O problema sociológico da juventude

O trabalho apresenta as representações de juventude apreendidos em um

periódico educacional de alta circulação na época apontada, durante o período de cerco

e golpe do governo de João Goulart e os anos subsequentes da ditadura civil-militar no

Brasil.

Estudou-se a imagem que foi construída sobre a juventude entre os anos 1960 e

1980, a partir dos artigos produzidos e publicados na Revista da Editora do Brasil S/A

(EBSA). Este interesse surgiu, em primeiro lugar, porque esse periódico educacional se

apresentou notadamente favorável ao governo autoritário instituído em 1964.

Foi observado que tal periódico circulava como um clipping de notícias.

Filtrava-se o conteúdo produzido por outros veículos de comunicação em massa, tais

como os jornais O Estado de S.Paulo (OESP); O Estado de Minas (OEM); a Folha de

S.Paulo (FSP); o Correio da Manhã, o Diário de Notícias, O Globo, entre outros. Esses

jornais, estudados em paralelo ao produto da editora, se posicionavam contra as

manifestações estudantis de rua. Deixavam evidente o apoio aos militares; criaram

plataforma políticas em torno da “purificação dos jovens brasileiros”, de modo que se

evitasse o aumento de manifestações contrárias ao regime autoritário estabelecido.

Tratava-se de um periódico que tratava de uma gama variada de assuntos sobre a

educação brasileira. Mas, que durante os anos da ditadura civil-militar se esmerou em

mobilizar um discurso panfletário em torno da ideia de desenvolvimentismo

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concentrando uma considerável parte de seu conteúdo moldando representações sobre a

juventude e os estudantes brasileiros. Tornou-se interessante estudá-la levando em

consideração que, pela sua tiragem, circulação e periodicidade foi possível detectar um

grupo considerável de professores brasileiros tendo-a em mãos, o que será apresentado

adiante.

À época, o que era chamada de “juventude” era o grupo que se mobilizava por

meio de uma variada gama de manifestações em vários locais do mundo. Tornou-se

interessante compreender como foi edificada uma ideia de juventude em uma revista

educacional, que não escondiam o seu apoio ao Estado militar. Diante dos manifestos

juvenis nos anos 1960-1980, um “projeto de juventude” foi organizado em suas páginas,

buscando um ideal de jovem que fosse mais “adequado” ao ajustamento social diante

daqueles que se mobilizavam politicamente em desacordo ao governo. O período

demarcado na pesquisa compreende de 1961, ano em que são publicados os primeiros

artigos sobre os jovens estudantes na revista, a 1980, ano em que se percebeu um

decréscimo de conteúdo sobre a juventude, coincidindo com a abertura política que se

iniciava no país.

O estímulo para a confecção dessa comunicação tem relação com os estudos de

Sarlo (2007) sobre a construção de uma historiografia sobre o período de ditadura

militar na Argentina. Sarlo (2007) apontou uma preocupação em torno das fontes

documentais como elemento fundamental para a identificação de traços significativos na

história da ditadura militar, no caso, argentina, a partir da necessidade de criação de um

sistema de hipóteses em que fossem captadas as contradições sociais. Para isso, pedia

por pesquisas que buscassem pela variação documental. No caso deste texto, buscou-se

outra possibilidade narrativa de história dos jovens e estudantes naquele período. Tenta-

se compreender que espécie de discursividade modelou as representações juvenis e, em

contrapartida, como aqueles jovens vivenciavam e respondiam às próprias

manifestações criadas para eles, num cenário autoritário que depositava no tempo futuro

as esperanças do país.

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Isso significa dizer que, sobre os ombros dos jovens brasileiros pairaram

expectativas e promessas, por isso, entender como uma parcela dos grupos juvenis

urbanos assumia ou repudiavam tais planos, passou a ser interesse de pesquisa.

Reforçou ainda mais o interesse nesse tema a constatação de que havia uma “falta” de

estudos históricos sobre as representações da juventude no Brasil, como é o caso deste

estudo e de estudos históricos sobre a juventude em geral.1

Hilsdorf e Peres (2009) analisaram os estudos históricos sobre a juventude entre

1999-2006. Segundo esse levantamento, há uma concentração de estudos sobre a década

de 1960-1970, dando ênfase aos aspetos ligados ao movimento estudantil. O foco dos

trabalhos está centralizado na atuação política dos estudantes contra o autoritarismo

militar, desconsiderando tanto o aspecto “estudantil” do movimento, quanto à existência

de grupos juvenis que se posicionassem a favor do governo militar. Além disso, as

pesquisadoras apontam para um bloco de análises que formaliza uma imagem

monolítica dos estudantes, como se todos eles fossem rebeldes e militantes,

desconsiderando a existência de um contingente juvenil que não se manifestava nas ruas

ou, simplesmente, se comportava de outras maneiras, muitas vezes, contrariados com

as ações de seus pares etários. Mais claramente, o estudo apontou para um grupo juvenil

conservador e avesso aos atos praticados pelos demais.

Sanfelice (2008) nos adverte sobre a escrita da história que tem em vista

somente o recorte da União Nacional dos Estudantes (UNE), outro bloco substancial de

pesquisa que consolida a história da entidade como sendo a mais importante instituição

representativa dos estudantes. De acordo com o autor isso é como “contar uma parte da

história”, ainda que seja uma parte importante dela. O autor deixa claro que nem todos

os estudantes universitários dos anos 1960 participaram do movimento estudantil e que

1 Entre 2003 a 2016 o Banco de Dissertações e Teses da Capes 8 trabalhos com o descritor “história da

juventude”. Destes, 5 são análises historiográficas do passado, sendo contemplados os seguintes

assuntos: História da juventude católica na Diocese de Santa Cruz do Sul (SILVANO, 1996); A

construção da ameaça: juventude, delinqüência e educação nos primeiros tempos da república no Brasil

(1890-1940) (BERNARDO, 2008); Children of the revolution: o glitter rock de Elton John (a obra, os

artistas, o público) (SANTANA, 2002); Da contestação ao consumismo: a trajetória da cultura jovem nas

páginas da Revista Veja (1968 - 2006) (CALDAS, 2007); A invenção da juventude transviada no Brasil

(1950-1970) (SANTOS, 2013).

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nem todos reconheciam a UNE como uma entidade representativa. Ao contrário, dentre

os estudantes havia quem se estabelecesse em outros grupos juvenis, de representação

política, ou não, mostrando uma gama amplificada de associações juvenis, apesar de

apagadas da história.

Dos levantamentos bibliográficos surgiram três imagens que abriram a

possibilidade de construção da pesquisa completa. Uma, que percebeu um foco muito

centralizado na atuação política dos estudantes contra o autoritarismo militar,

desconsiderando o aspecto “estudantil” do movimento. No caso, compreende-se que

parte do que se podia considerar como uma ação política eram reivindicações ligadas ao

cotidiano escolar e que denunciavam os problemas de ordem administrativa, legal, e de

planejamento do sistema educacional. A segunda, que constituiu uma imagem

monolítica destes jovens como se todos eles fossem rebeldes e ativistas, não percebendo

os movimentos não se manifestava ou que demonstrava a sua mobilização de outra

forma. No caso, a ideia era perseguir outras representações juvenis, inclusive buscando

compreender como seria a posição daquele jovem que se omitia das atividades políticas.

A terceira, que menospreza as histórias sobre a juventude que não fossem referentes às

manifestações políticas dos estudantes, principalmente àquelas caracterizadas como

estando à esquerda. Ao final, constatou-se que uma carga bastante grande das

representações de “boa juventude brasileira” estava ligada exatamente aos jovens que

não estavam nas ruas se manifestando e preferiam continuar nos bancos escolares,

demarcando esta ação como índice da boa conduta.

Precisamente porque se trata de um estudo de documentação que favorece o

estado autoritário, foi necessário fazer um estudo sobre o pensamento conservador, para,

finalmente, especificar como esse corpo documental apresentava a juventude no período

da ditadura militar.

O pensamento conservador foi pensado em torno da questão do “ativamento”

dos conservadores diante das manifestações juvenis. O “ativamento” do grupo

conservador foi objeto de discussão de Carvalho (2005), Hirschman (1997), Bobbio

(1987), Mayer (1977).

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Todos esses pesquisadores consideram que, na visão conservadora, enquanto a

história está desprovida de inquietações, há uma estabilidade estacionária entre os

agentes da conservação. Como disse Bobbio (1987), o conservadorismo só se pode

explicar com base na história, tido em conta a sua relação com o seu alternativo

histórico (BOBBIO, 1987, p. 243). A análise de registros teóricos e a atuação de grupos

que se reconheçam como conservadores é mais bem interpretada a partir de sua reação a

conjunturas históricas específicas e que tal “reação” depende da entrada de forças

consideradas perturbadoras.

Compreender o funcionamento das forças de conservação é importante no

momento em que elas são atingidas em pontos de reação. Neste caso, os pontos de

reação foram abordados com a anunciação de manifestações juvenis políticas de vários

matizes naquele momento. O periódico educacional, seus editores, e o conglomerado de

mídia que era ali representado, era uma colagem de ideias conservadoras ao estilo da

“tese de perversidade” e a “tese do risco”, apresentadas por Hirschman (1997, p. 16).

Isto é, divulgavam que todo movimento social que buscasse uma alteração

brusca das características da sociedade, não podia ser levado a sério, porque, desta

forma, corria-se o risco de perda das conquistas já programadas e feitas de forma

paulatina. Essa ideia rebatia categoricamente todo movimento social, inclusive

estudantil ou juvenil, que sonhava com modificações abruptas do sistema político, fosse

por meio de reformas amplas, fosse através da revolução socialista, esta que, à época,

por sua carga utópica e real, levando em conta à Revolução Cubana, fazia parte da

mentalização e dos projetos de vida de parte dos jovens.

Sugerimos que os argumentos publicados na Revista eram conservadores

exatamente porque, diante da possibilidade de alterações no funcionamento das bases

sociais, a partir do foi proposto durante o governo de João Goulart, foram mobilizadas

as ideias que oscilaram entre a perversidade e o risco. Isto é, entre pensar que todos os

movimentos de modificações estruturais eram vistos como motivo para uma crise

generalizada de costumes; e o risco, por acreditar que nada devia ser modificado,

exatamente porque desestabilizaria as conquistas, sociais, políticas e econômicas

adquiridas até então, de forma “estabilizada” e “harmoniosa”, acreditando que tais

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modificações poderiam perverter as conquistas já definidas.As mobilizações políticas

excessivas serviam apenas para evidenciar o baixo caráter daqueles que promoviam

inquietações na harmonia social.

É importante apontar que Mayer (1977) vê a condição de ser jovem, por si só,

por serem eles portadores de um novo tempo emergente, já causa desconfiança entre os

agentes da conservação.

Diante do conteúdo exposto, aparecem as seguintes perguntas: Se diante

agitações estudantis do início da década de 1960, os artigos de lançaram os jovens

estudantes à condição de diferentes, “alarmistas”, “iludidos” e “desprevenidos”, como

se manifestaram diante de estudantes que resistiram à ditadura após o Golpe? Eram

rebeldes apenas os estudantes? Como esses editores e os colaboradores traduziram o os

manifestos juvenis, além dos estudantis? Como foram observados os jovens não

engajados politicamente? Quais eram as manifestações juvenis que deveriam ser

valorizadas? Portanto, qual foi a ideia de juventude que esses sujeitos, notoriamente

conservadores, criaram pelas páginas do periódico educacional?

Portanto, a análise de registros teóricos e a atuação de grupos que se reconheçam

como conservadores é mais bem interpretada a partir de sua reação a conjunturas

históricas específicas e que tal “reação” depende da entrada de forças consideradas

conflitantes.

Diante da reação aos movimentos juvenis, os grupos apontados como

conservadores apresentariam um planejamento considerado por eles mais coerente e

harmonioso para a juventude brasileira, pensando-a como peça fundamental para o

desenvolvimento do “Brasil Grande”.

A posição conservadora do clipping educacional: editora e jornais

A Revista da Editora do Brasil S/A (EBSA) militava abertamente em nome da

escola particular, posicionou-se como anticomunista e partidária à intervenção do

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exército no governo.2 Foi inteiramente favorável ao Golpe Militar de 1964, chamado de

“Revolução”. Nas páginas da Revista, era manifestada a indignação diante da

“desordem pública”, fato este que os editores simplesmente abominavam. Registrava-

se como editora que contribuía para o engrandecimento do Estado e o bem-estar social

da sua gente, “marchando paralela ao Governo” (EBSA, 1972, pp. 1-8).3

Em 1971, quando a imprensa sofria forte censura, a editora orgulhava-se de não

ter tido seus escritos bloqueados. Isso é um indicativo de que suas ideias não entravam

em choque com a ordem instituída ao ponto de passarem por uma censura. Mais do que

isso, seus editores enalteciam o senso de organização dos militares e a rápida condução

do país ao desenvolvimento (EBSA, 1971, pp. 1-6). A Revista se proclamava

“imparcial”. Em outras palavras, os responsáveis assumiam a posição de quem se

pretende influenciar os outros: a de neutralidade e fidelidade aos “fatos”.

Para reforçar essas posições articulavam-se conteúdos que circulavam na

imprensa periódica diária que pensava da mesma forma, se pronunciando através de

editoriais, reportagens, articulação intelectual feita por Gustavo Corção; Daniel Rops;

Nelson Rodrigues e diversos outros autores, às vezes autores didáticos; às vezes

membros de facções da Igreja Católica; outras tantas, por sujeitos de entidades civis e

militares.

Ao longo de suas páginas, a Revista divulgou a existência de uma “guerra

psicológica” no país, de forma que o vocabulário de guerra perpassou por todo o

trabalho e políticas educacionais criadas a partir de um ideário militar passaram a fazer

parte das discussões dos artigos.

2 O estudo introdutório sobre a imprensa (revista e jornais) foi feito a partir do roteiro que está implícito

no texto de Anne-Marie Chartier e Jean Hébrard (1996), quando estes analisaram a revista L´Educacion

Nationale. Os autores pautaram-se pelo posicionamento do “lugar da fala” dos responsáveis pelo

periódico: a apresentação de suas posições políticas e educacionais; suas crenças; parceiros; seus suportes

de produção, transmissão de ideias; como entra na arena dos discursos o tema de análise etc.. 3 A Revista EBSA era uma publicação mensal da Editora do Brasil. Foi lançada em 1947, quatro anos

após a fundação da própria Editora, e desativada nos anos 1990. Tratava-se de um periódico educacional

que foi intitulado “documentário de ensino”. Em novembro de 1947, os editores pensaram a publicação

como uma espécie de caderno de informações educacionais para os profissionais de ensino de todos os

segmentos, mas, especialmente, voltada para o Ensino Médio brasileiro e era tida como porta-voz dos

editores (EBSA 1957, p.1-4).

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Quanto à distribuição de informações, EBSA funcionou como uma vitrine que

espelhava um “todo” construído por seus próprios editores a partir da convergência de

ideias que vinham de outros agentes. Isto é, o periódico educacional distribuía a ideia de

propagandistas, defensores de políticas golpistas e governistas, de acordo com a

ocasião, e ativistas de várias instituições: jornais, entidades civis etc., que variavam

entre publicar ideias ora profundamente conservadoras, ora reacionárias, e muitas vezes

uma combinação complexa em que essas duas atitudes estavam imbricadas.4

Com relação à estrutura política mais complexa, observamos que a Editora do

Brasil fez o esforço de ganhar à frente nos negócios do Estado no que concernia à

produção de livros didáticos e de leitura, mas que ela não estava sozinha nessa

empreitada. Neste sentido, ao tratar de políticas públicas voltadas para a produção de

livros, os membros da Editora demonstraram que, diante da possibilidade de tomar

proveito para a ampliação do mercado de livros, sempre havia a possibilidade de

alianças entre concorrentes mediante a probabilidade de interferência na política de

livros.

Pronunciavam-se como uma “elite do bem”, gente que não tinha intenções

outras senão aquelas que pensavam o bem do Brasil (BRAGHINI, 2015, p. 72)

Duas faces da juventude nos anos 1960: “subversivos” e “democráticos”

A primeira grande perturbação com os estudantes ditos “subversivos” era o fato

de eles se posicionarem contra o movimento em torno do “desenvolvimento do Brasil”.

Estudantes subversivos desaceleravam a marcha para o crescimento econômico no país.

As considerações publicadas também se voltaram aos aspectos educacionais, o que deu

luz aos seus significados implícitos a partir da atuação dos sujeitos na escola. O que

4 Foi possível dar conta da abrangência geográfica alcançada por EBSA por meio da confecção de uma

lista durante a pesquisa. A listagem contém o nome dos colégios cujas cartas foram indicadas na seção

correspondência de EBSA. Ao todo, foram contabilizados 318 colégios em todas as regiões do país. Essa

pequena amostra foi elaborada a partir da enumeração das escolas e as suas respectivas localidades

citadas em EBSA entre os números 11 (1947) e 15 (1948). Podem-se perceber cidades de todas as regiões

do país: Três Corações (MG), Blumenau (SC), São Leopoldo (RS), Sobral (CE), Porto Alegre (RS),

Recife (PE), São João Del Rey (MG), Manaus (AM).

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sustentava a ideia de subversão, em primeiro lugar, eram ações tidas como

inconvenientes e que desestabilizavam a rotina das pessoas.

Os Revista atacavam os estudantes de esquerda que se mobilizaram em favor de

melhores condições de ensino. Posteriormente, o ataque foi voltado para os estudantes

que se organizaram em resistência ao golpe militar de 1964. Simultaneamente à

contrariedade expressada aos movimentos estudantis, também foram apresentadas

alternativas para o comportamento e a atuação de jovens. Mais tarde, os jovens

observados a partir de 1968 e, mais precisamente, nos anos 1970, foram mudando de

aspecto. Em duas décadas, foi possível apreender que as considerações feitas sobre a

juventude foram se modificando e que, portanto, a condição de juventude não se

encerrava nas manifestações estudantis de rua.

Os ataques ao movimento estudantil tiveram três grandes focos. Primeiro, tinha-

se em mente o tempo de preparação de um sujeito político. Isto é, um sujeito

verdadeiramente político necessitava de um tempo de maturação, não nascia de forma

espontânea em movimentos de rua. Depois, criticavam-se os estudantes que

desrespeitavam as posições de domínio dos mais velhos dentro das instituições de

ensino, fazendo púlpito político, piquetes, em horário de aulas. Por fim, atacavam-se os

jovens militantes que não percebiam o quão precoce era a sua ação política, já que, um

político verdadeiro fazia carreira na escola e, preferivelmente, tinha um diploma do

ensino superior.

Mercenários; gatuno, patife; politiqueiros, demagogos; sem escrúpulos; torpes;

desonestos, assafadados; maliciosos, mascarados, corruptos, mercenários; sub-reptícios,

"lobos em pele de cordeiros"; tristes, feios, foram adjetivos, xingamentos públicos,

usados para apontar o mesmo tipo de estudantes em diversos jornais brasileiros do

período de modo a qualificá-los negativamente diante da opinião pública e justificar o

avanço da força repressiva sobre eles (BRAGHINI, 2015, p. 118, 127, 130).

A principal agressão para com os estudantes mobilizados ficou concentrada em

uma suposta precocidade dos jovens em participar da política sem ter um devido

preparo, feito à época, convencionalmente, por vias escolarizadas. A ideia de boa

preparação política estava vinculada ao tempo de permanência do estudante nos bancos

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escolares e, mais ainda, ao tipo de ensino que ele recebia em sua trajetória, que deveria

estar centrado, preferencialmente, no ensino secundário, depois, no ensino universitário.

Fazer política era uma prática social de sujeitos adultos que tinham passado pelo

processo de escolarização seriada, de preferência completa, e não estava aberta a todos.

No entanto, parte dos estudantes nos anos 1960 opinava sobre os critérios que

demarcavam a posição dos sujeitos de autoridade e transformavam tribunas

improvisadas em postos de comando político, o que aguçou a raiva dos discursos da

imprensa.

O que os editores e parte da imprensa diária mais temiam era o potencial

estudantil para a agremiação em torno do ato político principalmente por meio das

incursões intra e extra-escolares. Havia um descontentamento sobre a obtenção de

conhecimentos teóricos, pouco aprofundados, fora do ambiente escolar. O que os artigos

julgavam como “precocidade” parecia advertir que, para alguns jovens, o espaço

acadêmico não seria usado para formar os condutores políticos por meio do sistema

“clássico”. Lastimosamente, os editores diziam: “homens de amanhã” estavam

frustrando-se com “os homens de hoje” (EBSA, 1964, p. 2).

Segundo a proposta juvenil, era possível se destacar como sujeito político sem a

necessidade de permanência nos bancos acadêmicos nem da ajuda dos mais velhos. Isso

significa dizer que tais estudantes, brincavam com a ideia de que as “personalidades

condutoras” seriam apenas aquelas que empunhavam uma titulação de nível superior.

Tratava-se de burlar uma condição histórica, escolarizada, de formação de uma elite

condutora que levasse a massa governada por “imitação”. As “individualidades

condutoras” eram a apresentação de homens maiores que, formados pela escolarização

serial, processual, de elite e patriótica davam poder a esses sujeitos para assumirem as

maiores responsabilidades na condução do país (DECRETO-LEI n. 4.244 - de 9 de abril

de 1942). Portanto, a contrariedade dos jovens e a sua suposta precocidade política

parecia apontar um distúrbio no sistema escolar do tipo clássico, que tinha exato

objetivo de produzir a elite política brasileira. O potencial estudantil para agremiação

feita a partir de incursões extraescolares era odiado, porque era vistos como pouco

aprofundados.

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Os estudantes renegavam a juventude como sendo um período de espera para a

vida adulta. A vontade de ser guerrilheiro e lutar pela revolução socialista no Brasil

apareciam como alternativas de trajetória de vida e, nos artigos, eram configurações

esdrúxulas ou atos desviantes de vida. Dentro dos artigos, os estudantes eram agentes de

dois “desvios”: um que era relacionado ao trânsito e outro à trajetória de vida. Os

estudantes demonstravam que havia um descontentamento na sequência de vida que era

proposta para eles. Entre o momento de heteronomia do mundo infantil e de autonomia

do mundo adulto, os estudantes já estavam agindo como adultos. Os estudantes, dentro

da estrutura social oferecida e vivenciando a sua própria experiência de tempo,

demonstravam a coordenação de suas escolhas e comportamentos “como adultos” e isso

não foi bem aceito.

Em contrapartida, dentro do plano de saneamento dessa juventude rebelde foi

apresentado outro grupo que se mostrava pouco à vontade com o governo de João

Goulart; ficava incomodado com as manifestações estudantis de rua; eram

compreendidos como uma boa juventude que se comprometia com o trabalho e com os

estudos. Eles também atuavam politicamente, mas não seguiam os mesmos caminhos

dos seus semelhantes “revoltados”. Ficaram conhecidos como “estudantes

democráticos” na imprensa diária de então.5

A “vanguarda brasileira” ou “estudantes democráticos”: Contraface do

movimento estudantil vilipendiado

Diferentes ondas de antagonismo juvenil foram observadas em vinte anos de

análise, com a participação de atores variados, demonstrando que o caráter das

5 O termo “estudantes democráticos” já tinha sido usado pela imprensa paulista em outras ocasiões. Para

designar os estudantes que se manifestavam a favor da candidatura de João Pessoa à Presidência da

República. (OESP, 07/09/1929, p. 7) Depois, para os jovens que marcharam contra o mercado negro e a

carestia fazendo coro com a União Democrática Nacional (UDN). (OESP, 18/09/1946, p. 3) O termo

também foi utilizado em contraposição aos estudantes “comunistas” na União Nacional dos Estudantes

(UNE). (OESP, 10/08/1954, p. 15) Isso quer dizer que essa expressão circulava pela imprensa há tempos,

sendo usada de acordo com as conveniências políticas. Desde a década de 1950, foi usado como sujeitos

contrários às mobilizações comunistas (BRAGHINI e CAMESKI, 2015, p. 959).

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mobilizações não era estanque, unívoco, não se encerrava no manifesto estudantil e,

muito menos exclusivamente, no ideário político. Foi característico da juventude, na

construção da sua experiência, apresentar outras e novas dimensões humanas de vida,

que podia, ou não, colidir com forma de organização social proposta pela geração

precedente.

Foi observado que os artigos da revista atacavam os estudantes de esquerda que

se mobilizaram em favor de melhores condições de ensino. Posteriormente, o ataque foi

voltado para os estudantes que se organizaram em resistência ao golpe militar de 1964.

Simultaneamente à contrariedade expressada aos movimentos estudantis, também foram

apresentadas “alternativas” para o comportamento e a atuação de jovens. Essas

alternativas celebravam o dinamismo juvenil, mas, julgavam que o jovem era uma

categoria etária dependente das gerações mais velhas, e que diante dessa dependência,

havia a necessidade de autorização dos adultos para que se desse cabo a determinados

atos.

Mais tarde, os jovens observados a partir de 1968 e, mais precisamente, nos anos

1970, foram mudando de aspecto. Julgava-se que o grupo estudantil, do período de

1968, era mais acionado e mais propenso a atos que, ainda que corajosos, eram tidos

como ilegítimos. Percebeu-se que o grupo estudantil advindo da escola após 1968 era

mais arredios e tinha convicções advindas de teorias marxistas e outras consideradas

fora do cânone aceitável, tal como Marcuse, Freud, Mao Tsé-Tung etc., fossem elas

lidas de forma aprofundadas ou não. Já na década de 1970, as discussões circulavam

em torno dos jovens despreocupados e sem motivação para o estudo, dentro das escolas,

jovens de classe média que passaram a fumar maconha e o desdobramento do

movimento estudantil de 1977. Da parte dos registros ficou estampada uma raiva porque

os estudantes repudiavam uma herança educacional simbólica e material vinda dos mais

velhos.

E a raiva dos autores passou a ser condicionada pelas seguintes características

juvenis: a) os jovens instituíram uma cultura autofágica em que eram tanto

estimuladores de tendências da moda, da literatura, temas da imprensa; quanto

consumidores dos produtos produzidos por essas mesmas tendências; b) os meios de

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comunicação passaram a privilegiar os jovens: eles eram um dos seus temas

preferenciais exatamente porque cometiam atos que repercutiam nos veículos de

comunicação. Os jovens pareciam ter identificado uma forma de se autoproduzirem

usando as técnicas dadas em seu tempo. Por isso, esses jovens eram atacados por tinham

os seus “sentidos comercializados” (BRAGHINI, 2015, p. 260).

Ao se depararem com os estudantes rebeldes, os artigos passaram a julgá-los

seres com ideias utópicas que necessitavam de uma depuração. Foi constatado que os

jovens se inspiravam em outros jovens; que eles também buscavam inspiração para os

seus atos em livros; por meio do contato com professores; entre os colegas; e, por fim,

também nas páginas dos magazines e jornais. Nas documentações, paulatinamente, se

apresentou um plano que cercava de vigilância os estudantes e os “veículos” de onde

surgiam as suas inspirações.

O jovem, visto como um receptáculo de experiências dadas na escola mediante

um processo evolutivo teria os seus hábitos acelerados, voltados para o benefício do

Brasil. Essa foi uma das justificativas para a necessidade da disciplina de EMC nas

escolas: imprimir uma rotina cívica. O civismo proposto aos jovens era a condensação

da ideia de “espírito da nação”, ou seja, uma concepção grandiosa em que o Estado e a

Família estavam unidos por laços espirituais. Espírito dado ao jovem como uma nova

herança da qual a escola seria a guardiã. A partir dos atos estudantis de “esquerda” foi

proposto uma readequação dos potenciais estudantis, transformados no “equivalente

puro” daquilo que essa categoria já fazia como movimento político e estudantil. Todas

as boas qualidades observadas nos estudantes foram lançadas para uma juventude

prestativa e boa; idealizada e globalizante.

Dos jovens em geral e dos estudantes em particular foram retirados os valores e

características consideradas convenientes e parte da essência espiritual de todos os

jovens: a força transformadora, a bondade inerente, a energia etc. Da realidade brasileira

foram retiradas as características mais saudáveis. Os jovens eram “democráticos”,

“espontâneos”, “solidários” e “cooperativos”. Portanto, tratava de repassar a todos os

jovens do país, uma “maioria silenciosa”, de que eles, verdadeiros herdeiros do presente

e do futuro, aplacariam a “sanha” dos jovens, estudantes maus, minoria “teleguiada”.

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O jovem, visto como um receptáculo de experiências dadas na escola mediante

um processo evolutivo teria os seus hábitos acelerados, voltados para o benefício do

Brasil.

Ficou evidente nos artigos que, os defensores da inclusão da disciplina no

currículo, ao fazer uso das “tradições”, tão caras à Editora, demonstraram que junto a

ela havia toda uma gama nostálgica de interesses e de raiva sumária em que estavam em

jogo, a saudade da educação segregadora em forma de “pirâmide selecionadora”; a

melancolia pela falta das cerimônias cívicas escolares do passado; a gratificação

psicológica de preencher as próximas gerações com uma história conveniente, de forma

que elas não sentissem o “hiato” do civismo, apresentado na discussão como um

sentimento correspondente ao ajuizamento da idade madura.

Ao cooptar uma parcela da juventude para trabalhos práticos, com vistas ao

serviço social assistencialista, foi possível criar uma retórica cuja carga ideológica, ao

circular pela opinião pública, buscava desmoralizar o movimento estudantil

politicamente engajado nas universidades e escolas. O plano de desmobilização de um

tipo de juventude passou pelo enaltecimento da atuação de outra parcela juvenil, que

muitas vezes, respondeu positivamente.6 Portanto, o projeto de juventude purificada

apresentado não tinha somente o interesse em desmobilizar os estudantes engajados,

mas, antes, mobilizar favoravelmente a maioria silenciosa e englobar todos os jovens na

condição de seres bons e trabalhadores.

O objetivo para a mobilização da juventude universitária em torno de ações

comunitárias pragmáticas estava explícito nos objetivos do Projeto Rondon, por

6 Respondeu positivamente porque havia atuação estudantil de direita no Brasil. Há poucas pesquisas

sobre a atuação desses grupos na história política do movimento estudantil. Em primeiro lugar há uma

preferência da historiografia em apontar a atuação dos estudantes que resistiram à ação do Estado.

Depois, parte dessa lacuna pode ser explicada pela forma de atuação dos “estudantes democráticos” à

época, que funcionava, um tanto silencioso, junto às entidades da sociedade civil de caráter conservador,

como a Liga das Senhoras Católicas, por exemplo. Eram grupos estudantis de direita registrados à época:

Grupo de Ação Patriótica (GAP), patrocinado pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES); a

Vanguarda Universitária Católica; Associação dos Estudantes Democratas; Movimento de

Arregimentação dos Estudantes Democráticos (MAED); Frente Estudantil de São Paulo; Movimento

Estudantil Democrático; Movimento Estudantil de São Paulo; Frente da Juventude Democrática;

Associação de Estudantes Democratas; Associação Cristã de Moços (São Paulo e Rio de Janeiro); Frente

da Juventude Democrática (Rio de Janeiro) (BRAGHINI e CAMESKI, 2015, pp. 955-956).

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exemplo. O fato era que tais objetivos tinham um ideal de juventude engajada, pensando

que os seus atos pudessem interferir nos “problemas nacionais” por vias mais diretas. O

Projeto Rondon salientava que a "realidade brasileira" era mais abrangente do que

aquilo que era pregado nos discursos políticos dos estudantes rebeldes. Mas tornou-se

necessário salientar que a condição do trabalho extra-escolar direcionado pelo governo

não tinha o objetivo exclusivo de apaziguar ou purificar o movimento estudantil. Essas

atividades de ação comunitária faziam parte de um planejamento maior no âmbito

governamental e tinha relação direta com as atividades empreendidas pelo Exército,

agente dinamizador das ideias objetivadas na Escola Superior de Guerra (ESG).

Serviços de apoio às comunidades carentes proliferavam nessa época e estavam

previstos em planejamentos propostos pela UNESCO, como forma de intervenção

social para a aceleração do desenvolvimento.

Esse pensamento, publicado pelo clipping, diante da sua relação com as diversas

manifestações juvenis de seu tempo, julgavam que a juventude brasileira era numerosa e

bastante dinâmica. Por conta disso, bastava apartar as boas atitudes juvenis em

detrimento daqueles que eram qualificados como indolentes, preguiçosos e “filhos de

papai”. Julgavam que, sendo para o bem, valia a pena apresentar um plano para a

juventude que reforçasse a criminalização do movimento estudantil.

Pensava-se um tipo de juventude forte e atuante, que podia voltar os seus

esforços, seu potencial, para causas que valessem à pena: para o bem do país, para a

possibilidade de um futuro individual promissor, para que fosse refreada a

“precocidade” daqueles que se julgavam adultos antes de sê-lo.

Juventude e pensamento conservador: 1968-1980

Os jovens apontados na Revista da Editora do Brasil foram observados, em

primeiro lugar, a partir da sua condição de estudantes. Entre 1961 a 1972, a posição dos

jovens no sistema escolar tornou-se o principal eixo de discussão dos artigos, sendo que

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estes privilegiavam o ataque ao movimento estudantil de “esquerda” acontecido em

algumas das principais capitais do país.

Os ataques ao movimento estudantil, estudantes “maus”, tiveram três grandes

focos. O primeiro tipo de agressão foi concentrado em uma suposta “precocidade” dos

estudantes em participarem da política sem um devido preparo, como o já apontado

acima.

Por um lado, os estudantes denunciaram um entrave educacional no período:

havia um acúmulo de jovens que partiam do ensino médio, lotavam as escolas de ensino

secundário e faziam pressão por vagas às portas da Universidade. Esses três eventos

somados, associados às más condições das escolas superiores foram apontados como

catalisadores das revoltas estudantis. A “questão dos excedentes" parece ter sido apenas

uma faceta do problema, já que a falta de vagas diante daqueles que queriam seguir pela

carreira universitária apontou para um desespero dos responsáveis por EBSA em

apontar soluções ou alguns subterfúgios poderiam resolver o problema.7

Entre 1968 a 1980, foram percebidas pela sequência dos artigos da Revista duas

discussões diferentes envolvendo os jovens. A primeira discussão foi a percepção de

que havia no mundo não só um movimento estudantil organizado, mas um movimento

de juventude mundial.

Essa percepção vai ao encontro do que foi discutido por Foracchi (1972) quando

a pesquisadora fez uma distinção entre o “movimento estudantil” e o “movimento de

juventude”, que parecia se processar com “nitidez” (FORACCHI, 1972, p. 13). De

acordo com a autora, o primeiro, radicalizava “a sua vinculação à universidade,

pretendendo nela ativar a criação de uma contracultura e tentando explorar as

perspectivas do jogo político institucionalizado”. Já o segundo, se apoiava “na

7 Excedentes eram os candidatos que obtinham a média nos vestibulares, mas não conseguiam se

matricular nas escolas de nível superior, pois o número de aprovados extrapolava ao número de vagas

disponíveis. Não raro, nos anos 1960, as manifestações juvenis tocavam nesse assunto e parte das

reivindicações estudantis daquele período estava diretamente relacionada a esse “ponto de

estrangulamento” na trajetória escolar dos estudantes brasileiros: havia jovens buscando o ensino

superior, eles atingiam as médias pedidas nos vestibulares e, ao final, por conta da insuficiência de postos

universitários, não assumiam a vaga requerida. Para saber mais sobre a história dos excedentes, ver:

BRAGHINI, Katya M. Z. (2014).

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improvisação e na espontaneidade, pretendendo implantar um estilo de vida”

(FORACCHI, 1972, pp. 13-14). Segundo a pesquisadora, embora fossem movimentos

de contestação e os seus membros às vezes agissem de formas similares, foram eventos

sociais bastante diferentes em seus propósitos.8

Foi possível apreender que, pelos artigos, que os dois movimentos foram

tratados de formas diferenciadas. Os artigos evidenciavam as más atitudes dos

estudantes de uma forma diversa das más atitudes dos hippies, por exemplo. No entanto,

pelas acepções aos dois movimentos eram semelhantes pela condição de anomalia. Para

os artigos, os jovens passaram a ser “impactantes”, pois além das manifestações

contestatórias, eles estavam criando efeitos estéticos comuns fosse dentro ou fora da

escola.

No início dos anos 1970, surgiram outros fenômenos sociais e educacionais nos

artigos. Tais acontecimentos, classificados de modo embrionário, acusavam o

aparecimento de novos “perigos” que não necessariamente tinham relação com a

política, mas inventariavam os jovens a partir de sua condição de alunos, como sujeitos

que recebiam um aprendizado escolar. Portanto, os artigos captaram os estudantes

dentro da escola, “posta em seu devido caminho”, e não tratava mais do estudante

agitado nas ruas. É importante apontar que essa percepção dada pelas fontes coincide

com o período mais violento de perseguição aos movimentos sociais após a implantação

do Ato Institucional nº 5 (AI-5) em 1968.

Uma parcela dos estudantes estava usando tóxicos. Outra parte deles perdia a

capacidade de falar e de se comunicar, e quando o faziam, pronunciavam-se por uma

“língua bunda” repleta de gírias, palavreado “do povo” etc. Da mesma forma, ao

adquirir drogas nas “portas das escolas”, os jovens estariam entrando em contato com

“marginais”, novos algozes da juventude. Por fim, tratou a Revista, por meio da

idealização de militares, estimular o tratamento psicológico preventivo às crianças de

8 Para a autora, tanto o movimento estudantil, quanto o movimento de juventude eram contestatórios e

como tal foram lançados para o palco da “contracultura”, ou seja, uma “representação intelectual

incipiente, sem estrutura definida, sem ideologia clara, a não ser a contida na afirmação de antiideologia”

(FORACCHI, 1972, p. 13).

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forma que fosse “evitado”, mais tarde, um comportamento juvenil passível de

tratamento psicológico na prisão.

O hábito de usar drogas, a mudança na forma de falar e assunção da Psicologia

como forma de tratamento, também foram apontadas por Martins (2004) como as três

formas reativas da sociedade diante da ditadura militar. De acordo com o autor, o

“culto à droga”, a “desarticulação do discurso”, e o modismo psicanalítico (MARTINS,

2004, p. 40, 59, 74) foram sintomas de uma “síndrome alienante” pela qual passavam os

sujeitos, alguns mais, outros menos, diante do poder do AI-5. Para o autor, por causa da

ditadura, alguns grupos “localizados” passaram a usufruir do sistema de gratificação

imediata diante das seguintes privações: falta de direitos e falta do conhecimento da

lógica dessa falta (MARTINS, 2004, p. 30).

Para Risério (2005), esses mesmos acontecimentos não necessariamente

surgiram “por causa” da ditadura, mas apesar dela. Segundo o autor, teria havido um

“encontro” entre os jovens “economicamente privilegiados” das grandes cidades do país

e os meios “marginais”, que foi manifestado por meio do consumo de maconha e de

uma “comunicação direta e simétrica” pelo uso do “léxico candomblezeiro”, em forma

de gíria, vindo dos aglomerados periféricos (RISÉRIO, 2005, p. 28).

De acordo com o autor, nos anos 1970, os jovens identificados no Brasil como

“desbundados” estiveram mais “próximos das clínicas psiquiátricas do que da câmara

de tortura” e que os “desvios de norma” tinham a ver com uma posição “alternativa”,

“marginal”, “fora do sistema”, “puro”. Segundo o pesquisador havia uma “novíssima

fantasia utópica da juventude mundial” da qual não resistiu o jovem brasileiro abastado

(RISÉRIO, 2005, p. 27).

No caso da modificação na forma de falar, partes das queixas delimitavam a

responsabilidade por uma possível dissolução da língua a uma também possível má

comunicação empreendida dentro da sala de aula. Essa má comunicação aconteceria na

ordem da transmissão dos conhecimentos - professores falavam ou ensinavam mal - ou

na ordem de uma nova dinâmica na forma de falar, da qual a escola não escapou, já que,

como evento linguístico, foi relacionado aos discursos que circulavam na comunicação

em massa.

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Em 1979, no final da década, houve um empenho da Revista em fazer uma

associação mais direta dos jovens com a “vida alternativa” por meio do comentário do

intelectual norte-americano Clifton Fadiman. De acordo com o autor, os jovens nos

EUA ainda "obedeciam às autoridades de ensino", mas sem que houvesse o

comprometimento com eles (EBSA, 1979, p. 35).9 Isso porque, segundo o autor, os

jovens se envolviam com a "vida alternativa", uma vida que visava a "gratificação e o

consumo instantâneos", "não era hobby", "não era divertimento", era um "estilo". Esse

dado, segundo o autor, causava uma "transformação profunda na psique nacional". Era

uma alternativa "profundamente oposta à educação tradicional" e tinham uma

mensagem que contradizia a "mensagem da sala de aula" (EBSA, 1979, p. 34).

Por fim, foi possível apreender que no novo movimento estudantil surgido em

1977, os artigos da Revista resvalavam para a condição “alternativa” dos manifestos,

como a única forma possível e correta de movimento estudantil. Afinal, a mobilização

política de massa, intra e extra-escolar, além de proibida, foi vista como um ato

nostálgico de jovens saudosos por um tempo que não voltava mais. Simultaneamente,

vê-se uma modificação de comportamento do próprio movimento estudantil

universitário nos anos 1970.10

Não se tratava mais de uma mobilização em massa feita a partir de grandes

movimentos de rua ou atos unificados da UNE, entidade que tinha sido dissolvida em

1968. Tratava-se de um movimento ativo que agia por células, cujas manifestações se

concentravam em atos, muitas vezes com caráter cultura e artístico de contestação,

acontecidos nos seios das instituições. Portanto, não se tratava exatamente de uma

“retração” do movimento estudantil, mas da ação de uma nova coorte, atuando em

diferentes tipos de manifesto, feito dentro das possibilidades possíveis de envolvimento,

mediante o fechamento do regime, da ação da censura, da caça e desaparecimento dos

pares.

9 Transcrito do Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 29/06/1979.

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Os estudantes só retornam à condição de “cidadão” em 1979, quando se vê a

transposição da ideia de perigo social de suas mãos para os operários concentrados nas

grandes greves trabalhistas na região industrial do ABC em São Paulo.

O planejamento da crise ou um mapeamento de regras?

Para os registros publicados na Revista, os estudantes “maus” eram uma

“disfunção generalizada” e foi tornado um “inimigo interno”. Foi instituída a

“anormalidade” do estudante como um fenômeno estético em que eram destacados os

aspectos negativos. A estratégia discursiva da Revista se voltou para convencer os

leitores que os estudantes eram “monstruosos”, por meio da difusão de “senso comum”

e evidenciando os adjetivos negativos.

Tendo sido criada uma “anomia”, deve-se pensar que, como estratégia retórica

ela mostrou as seguintes demarcações: a) apresentou um campo de lutas ético-estético-

político, pois o “desvio” foi criado a partir de relações sociais; b) foi construído um

significado negativo que deveria ser compartilhado com outros; c) um desvio, no caso

da Revista, desencadeou uma resposta a ele. Portanto, ficou evidenciado tanto a reação

ao comportamento dos estudantes, quanto o estabelecimento de regras para que o

problema fosse solucionado. Em outras palavras, a “anormalidade” foi tornada pública

de forma que a imposição de regras se transformou em uma necessidade.

Os artigos passaram a julgar que os atos estudantis considerados inapropriados

eram uma perda de tempo e de dinheiro. Portanto, jogaram luz para a condição prática

da vida do estudante: transitória, voltada para a rotina de estudo, de preparação para a

vida, preferencialmente para o trabalho.

De acordo com o editorial da Revista a juventude deveria ser enaltecida, se

desprovida de todos os malefícios. Os jovens eram ao mesmo tempo um potencial

guardado e um capital: capital em que após um investimento, devesse haver o “retorno”

por meio de atividades práticas, livres da “subversão” e que ao mesmo tempo

glorificasse o passado brasileiro, preenchido por grandes líderes e com uma história

calma. (BRAGHINI, 2015, p. 264)

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A escola, no período compreendido por este trabalho, pensando na formação dos

jovens, foi tornada ambiente que fomentava crimes políticos; ativava a vontade dos

estudantes em envolvimentos extra-escolares; foi lugar de prevenção, primeiro contra os

tais crimes políticos, depois contra as drogas; local de vigilância ostensiva, local de

salvaguarda dos jovens, a partir da ampliação dos horizontes da escola para outras

instituições (clubes, associações esportivas etc.), e por fim, local de aprendizagem, mas

de passagem acelerada.

De forma simples, podemos dizer que o periódico era uma disseminadora de

ideias que selaram a sua opção teórica no caso do resguardo dos jovens “bons”, por

exemplo. Neste caso, fez circular dois pensamentos fundamentais para as políticas

públicas voltadas para a juventude: o sentido de “previsão”, caro ao ideário militar

elaborado na Escola Superior de Guerra por meio da Doutrina de Segurança Nacional; e

o princípio de solidariedade, formulado pela Ação Católica a partir da Doutrina Social

da Igreja.

A Revista demonstrou a sua teoria. Dirigiu as vistas dos leitores para a crise e

para o desvio. Ao mesmo tempo, foi organizado por meio de fragmentos dispersos e

encadeados um planejamento que nortearia todos aqueles que eram responsáveis pela

educação a partir de uma figura ideal de jovem, que seria um dos pilares de sustentação

da Pátria, a qual, naquele momento, estava em construção.

Podemos dizer que a Editora do Brasil, todo o seu aparato de publicação e os

parceiros de ocasião, podem ser localizados em uma posição intermediária se

considerarmos uma escala de poder entre um Estado autoritário-militar e a sociedade.

Ainda que não tivessem o poder de determinar as leis, estavam nos limites de seus

interesses e possibilidades, mobilizados pela “causa”. E com relação à sua área de

trabalho, puderam estabelecer uma rede de comunicação em que as suas ideias foram

distribuídas em larga escala e de forma simultânea, dois pontos importantes para quem

pretendia ver a sua vontade prevalecer.

Aos leitores, com quem, como vimos, parece ter sido selada uma dependência

recíproca, a Editora enviava artigos que seguiam as “tendências” de formação de

opinião. Dentro dos resultados do trabalho, foi percebido que nos anos 1960, os artigos

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sobre os jovens se concentravam em sua posição de estudantes dentro das

universidades. Isso pode ser um vestígio de que, naquela década, o interesse de alunos

de ensino médio estava concentrado em dar continuidade à carreira acadêmica. Já nos

anos 1970, salvo o período em que o movimento estudantil foi reativado nas ruas, os

artigos ficaram concentrados na escola média, talvez, por hipótese, dando ênfase às

determinações expedidas a partir da Lei nº 5692/1971.

No entanto, pensando especificamente no mercado de livros, percebeu-se que a

Editora do Brasil e os seus parceiros comerciais, ao difundir a anormalidade dos jovens,

abriram a possibilidade de estabelecer uma frente comercial em que eles se

posicionavam como sujeitos probos, já que, justificavam a produção e venda de livros a

partir da ideia que era necessário pensar e agir em benefício dos jovens. Essa é uma

demarcação a respeito do pensamento conservador nessa circunstância: ele se apegou à

bondade inerente, à harmonia do belo, buscou ser encantador distribuindo os bons

sentimentos, auxiliando na educação dos bons jovens. O conservadorismo, neste caso,

apelou ao bem.

Podemos indicar, entretanto, imposturas nessa prática de fazer “o bem”. A

primeira é a de que a rebeldia juvenil, ao final vendeu livros; depois que, fazendo o

bem, neste caso, foi trazida à tona os subterfúgios usados para que os outros interesses,

inclusive os financeiros, não ficassem aparentes. Por fim, para consolidar “o bem” os

artigos fizeram usos e desusos da História, de modo que, controlando-a, ela pudesse

lhes favorecer.

Por fim, é válido pensar, à custa de que foi mantida essa ética de uma “elite de

bem”? Pois é necessário avaliar os interesses de quem prega “fazer o bem”. Pois ao

final, todo esse empreendimento colaborou para transformar em fraco aquele jovem,

estudante ou não, tornado nos discursos um infrator das leis. Ao infrator, “caso de

polícia”, restou ser vigiado, detido, preso, exilado, desaparecido e morto.

Fontes

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