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18-02-2017
Justiça Organizacional: Melhores métodos para melhores resultados Melhores Métodos para Melhores Resultados
Joana Ribeiro & Nuno Pereira
MÓDULO: COMUNICAÇÃO NA ORGANIZAÇÃO
Drª: Helena Martins
Pós-Graduação de Gestão de Recursos Humanos – 8ºed.
Instituto CRIAP - Porto
Justiça Organizacional: Melhores métodos para melhores resultados
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Acreditamos que a prevenção está na base do sucesso. Prevenir danos futuros, atuando
antes de males acontecerem terá menos custos, individuais e organizacionais, do que a
prevenção realizada depois de instaladas situações, muitas vezes, irreparáveis, a que
normalmente chamamos de remediação ou atenuação dos problemas.
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Índice
Índice .......................................................................................................................................... 2
Introdução ................................................................................................................................... 3
Justiça Organizacional – um conceito tridimensional ................................................................ 4
Antecedentes e Características ................................................................................................... 6
Implicações da (In)Justiça nas Organizações ............................................................................. 8
Como Prevenir? ........................................................................................................................ 11
Comunicar para prevenir ...................................................................................................... 14
Benchmarking ....................................................................................................................... 15
Discussão e Conclusão ............................................................................................................. 17
Bibliografia ............................................................................................................................... 19
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Introdução
O termo justiça tem a sua origem no termo latino iustitĭa e é um conceito cujo estudo
remonta à Grécia antiga, vindo a ser amplamente problematizado e estudado ao longo dos
tempos pela forma como influencia e é influenciado pela vida em sociedade. Este conceito é
relaciona-se com tantos outros como, por exemplo: o direito enquanto ordem normativa que
pressupõe a vida dos homens uns com os outros e visa disciplinar os interesses contrapostos,
estando por isso diretamente associado às leis e ao poder do Estado através dos tribunais, de
julgar as condutas ilícitas das pessoas, ao poder de decidir sobre a aplicação de um castigo
adequado; a razão, compreendida como a capacidade da mente humana de chegar a
conclusões a partir de suposições ou premissas; o conceito de equidade que pressupõe a
adaptação da regra existente à situação concreta, observando-se os critérios de justiça e
igualdade (tratar igualmente o que é igual na sua essência e desigualmente o que é
substancialmente dissemelhante); e, até, com o conceito de religião, como a divina disposição
com que Deus castiga ou recompensa, conforme merece cada um, tendo, assim, associado um
juízo do bem e do mal (Bronze, 2002).
Equacionam-se aqui as relações da vida social, os interesses conflituantes, a sociedade,
os valores, a cultura, o ser humano. A vida em sociedade reflete a necessidade de adotar
comportamentos justos e leva à necessidade de codificar um conjunto de normas ou regras
consideradas razoáveis dentro dos padrões de uma determinada comunidade, pelas quais
todos se devem reger num determinado tempo e num determinado espaço. Por isso, são
indissociáveis deste conceito princípios como o da igualdade, ao abrigo do qual os seres
humanos não podem ser discriminados por razões de género, idade, raça, religião, estado,
situação económica e social, ideologia, mas também ao abrigo do qual se proíbe o
agravamento de desigualdades existentes, aceitando-se a introdução de desigualdades
corretivas para mitigar desigualdades instaladas; o princípio da proporcionalidade, que supõe
que cada regra de direito escolha os meios adequados ao fim que visa; e o princípio da
imparcialidade, que impede que os titulares dos órgãos do poder político beneficiem parentes,
sócios, etc., ao definirem as regras de direito (Sousa & Galvão, 1994).
Uma definição básica de “Justiça” poderia englobar os direitos e os deveres (ou
benefícios e encargos) que devem ser distribuídos pelos membros de uma sociedade de
acordo com regras de equilíbrio, que tratem de forma igual os indivíduos considerados como
iguais, sem que haja lugar a discriminações arbitrárias, mas sem deixar de definir claramente
quais os aspetos que permitem declarar a igualdade (ou desigualdade) entre os indivíduos.
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Contudo, as diferentes visões sobre estes elementos do conceito de justiça traduzem-se em
diferentes conceções de justiça que podem ser equacionadas e estudadas sob diversos
prismas1 (Melo, 2001).
As relações de trabalho e a sua regulação social e jurídica são um exemplo desta relação
direta entre a sociedade e o direito que mutuamente se constroem e determinam. Por
conseguinte, um dos contextos em que vamos necessariamente encontrá-lo será no âmbito das
organizações e no relacionamento entre as pessoas no contexto organizacional. Entramos
assim no campo da Justiça Organizacional, um conceito que deriva da Psicologia Social e que
pretende demonstrar a importância dos valores, crenças e perceções de justiça nas ações
humanas (Assmar, et al., 2005).
Neste trabalho, no âmbito do Módulo Comunicação na Organização da Pós-Graduação
em Gestão de Recursos Humanos (8ª Ed.) do Instituto CRIAP - Porto, pretendemos então dar
a conhecer este conceito, que é relativamente recente no contexto organizacional, e
demonstrar a importância do mesmo para o sucesso das organizações. Começaremos por
definir o conceito de Justiça Organizacional e justificar como o mesmo surgiu e com base em
que correntes da justiça, seguindo-se um conjunto de implicações que este mesmo conceito
pode gerar numa organização. Posteriormente, daremos algumas sugestões de práticas que
possam garantir um ambiente justo nas organizações. Por fim, abordamos de que a forma a
comunicação pode ser importante para criar um ambiente justo nas organizações e o que
algumas empresas de topo fazem nesse sentido.
Ao longo deste trabalho iremos perceber que a comunicação, quer vertical como
horizontal, assume extrema importância nas perceções de justiça dos trabalhadores, daí a
nossa escolha por este tema. Com um bom processo de comunicação, a situação mais
desagradável pode ter os seus maus resultados atenuados. Torna-se assim importante que tal
seja implementado nas organizações, que se adotem novos métodos para se obterem melhores
resultados.
Justiça Organizacional – um conceito tridimensional
Tal como no contexto da sociedade, também no contexto organizacional a justiça
assume um papel fundamental. O termo Justiça Organizacional surge então naturalmente por
Jerald Greenberg, no ano de 1987, que pretendia perceber as perceções e reações à (in)justiça
1 Várias foram as teorias que foram surgindo ao longo dos tempos e que se têm vindo a ocupar das suas
vicissitudes, entre as quais encontramos, por exemplo, as Teorias de Justiça de Rawls, Hayek e Nozick,
Dworkin, Richard Posner, Amartya Sem, entre outras.
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por parte dos colaboradores em relação às organizações onde trabalhavam (Assmar et al.,
2005). De uma forma geral, a justiça organizacional é a psicologia da justiça aplicada aos
contextos organizacionais, focando-se nas perceções de justiça presentes nas relações entre
trabalhadores e organização. É a forma como os trabalhadores percecionam os procedimentos,
interações e os resultados no seu local de trabalho (Baldwin, 2006; Byrne & Cropanzano,
2001).
Vemos então que existe uma ligação clara entre a justiça organizacional e as perceções
de justiça. Entramos aqui no campo da justiça subjetiva, uma vez que a perceção de uma
medida organizacional como justa ou injusta será sempre algo cuja interpretação poderá
diferir de pessoa para pessoa. Por outro lado, falamos de justiça objetiva quando uma decisão
organizacional adere ou não a um determinado critério normativo de justiça (Cunha et al.,
2007). Estas perceções podem acabar por influenciar o comportamento dos trabalhadores, a
sua performance no local de trabalho e, consequentemente, os resultados da organização onde
estão inseridos (Baldwin, 2006).
Greenberg (1990, cit. in Assmar et al., 2005) afirma que a justiça organizacional é o
elemento chave para o bom funcionamento das organizações e para que os trabalhadores se
sintam realizados. O seu estudo é de importância fulcral, uma vez que a justiça é um
fenómeno psicossocial integrado na vida social e organizacional. A força do trabalho e o
modo com que ela é tratada acaba por afetar as atitudes e comportamentos subsequentes (ex:
comprometimento, confiança, desempenho, rotatividade, agressão). Acresce que a procura de
trabalhadores mais habilitados e qualificados pressupõe a exigência, por parte destes, de um
tratamento digno e com respeito dentro das organizações (Beugré, 1998, cit. in Assmar et al.,
2005). Para que isto aconteça é fundamental que as organizações possuam líderes de
excelência. É extremamente importante que eles se consigam colocar no lugar dos
trabalhadores para assim perceberem as suas perspetivas. Neste sentido, um bom líder é
aquele que consegue identificar previamente quais as situações potenciais de gerarem
sentimentos de injustiça e agir em conformidade com as mesmas (Cropanzano, et al., 2007).
A justiça organizacional desdobra-se, de acordo com a maioria da literatura, em, pelo
menos, três dimensões, que podem ser estudadas de forma independente ou articulada,
designadamente a justiça distributiva, a justiça procedimental e a justiça interacional, referidas
mais pormenorizadamente no ponto seguinte. Beugré (1998, cit. in Assmar et al., 2005)
baseia-se nessas dimensões para afirmar que a justiça organizacional se refere “à justiça
percebida nas trocas que ocorrem dentro da organização, sejam elas económicas ou sociais,
e que envolvem o indivíduo nas suas relações com os seus superiores, subordinados, pares e
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a organização como um todo”. Da mesma forma, Bies & Tripp (1995, cit. in Assmar et al.,
2005) falam da justiça organizacional como “as regras e normas sociais que governam, nas
organizações, o modo pelo qual são distribuídos os resultados, os procedimentos que devem
ser usados para tomar as decisões e o modo pelo qual as pessoas devem ser tratadas”.
Antecedentes e Características
Os líderes das empresas acham frequentemente que justiça, para os seus funcionários,
passa apenas por obterem bons resultados, quando na verdade a justiça organizacional vai
muito para além disto (Cropanzano et al., 2007). Apesar de este ainda ser um tema recente no
contexto organizacional, já são vários os estudos feitos em relação à justiça no contexto do
trabalho, bem como as teorias aplicadas. A maioria dos autores sugere que temos três
correntes da justiça que têm sido aplicadas ao contexto organizacional: a justiça distributiva, a
justiça procedimental e a justiça interacional (Byrne & Cropanzano, 2001; Cunha et al.,
2007)2.
Podemos dizer que a justiça distributiva foi a que surgiu primeiro, com o filósofo grego
Aristóteles, que dizia que qualquer bem pode ser dividido entre os membros de uma
comunidade que partilhe um sistema político. Segundo Homans (1961, cit. in Cropanzano &
Greenberg, 1997), é expectável que numa interação social haja uma recompensa proporcional
ao esforço de cada um. Podemos então dizer que segundo a justiça distributiva é expectável
que os resultados sejam distribuidos de forma equitativa pelos respetivos inputs (Adams,
1965; Baldwin, 2006). No contexto organizacional saltam à vista duas teorias: a teoria da
privação relativa (Stoufer et al., 1949, cit. in Cunha et al., 2007) e a teoria da equidade
(Adams, 1965). A primeira diz-nos que as pessoas são capazes de preferir trabalhar num sítio
onde praticamente não há promoções, uma vez que, pelo menos assim, é igual para todos,
comparativamente a um local onde as promoções até vão ocorrendo mas lentamente, o que
lhes dá a perceção de que estão a ser injustamente tratadas (Stoufer et al., 1949, cit. in Cunha
et al., 2007). Por sua vez, Adams (1965) vem dizer que o fundamental é a forma como as
pessoas percecionam os resultados obtidos tendo em conta o seu contributo, esforço ou
competências (inputs). Ora, quando o rácio entre os resultados e os inputs dessas pessoas é
comparado com os dos seus colegas de trabalho, se estes forem desiguais, pode surgir então o
sentimento de injustiça (iniquidade). A forma como as pessoas combatem esta iniquidade vai
2 Arménio Rego divide as perceções de justiça em cinco categorias (distributiva de recompensas, distributiva das
tarefas, procedimental, interpessoal/social, e informacional), o que sugere a constituição de categorias diferentes
de acordo com a especificidade das organizações e/ou atividades organizacionais (Cunha et. al., 2007).
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depender da personalidade de cada um, podendo estas reações serem positivas ou negativas
(iniquidade favorável / iniquidade desfavorável) (Cunha et al., 2007).
A justiça procedimental surgiu com os trabalhos de Thibaut et al. (1974, cit. in Cunha
et al., 2007) e Walker et al. (1974, cit. in Cunha et al., 2007). Esta vertente da justiça
organizacional, tal como o próprio nome indica, chama a atenção para a importância dos
procedimentos usados na tomada de decisão. É preciso ter atenção aos “meios” que são
usados para atingir um determinado “fim”. Isto significa que a forma como as decisões são
tomadas acaba por ser extremamente importante para o sentimento de justiça ou injustiça das
pessoas, mesmo que a finalidade seja a mesma. Por exemplo, um estudo de Thibaut & Walker
(1975, cit. in Cropanzano & Greenberg, 1997) demonstra que os procedimentos vistos como
justos pelos funcionários são aqueles em que estes têm uma voz ativa no processo. Para os
funcionários é importante que eles achem que os procedimentos adotados pelos seus
superiores são justos e vários estudos demonstram que esta perceção de justiça acaba por
influenciar atitudes e comportamentos, tais como a cidadania organizacional, o empenho, a
confiança, a harmonia social, a avaliação do superior, a intenção de permanecer na
organização, o desempenho do grupo e individual, os comportamentos retaliatórios, os furtos
e o stress (Cunha et al., 2007). Assim, pode-se dizer, segundo Greenberg (1993, cit. in
Cropanzano & Greenberg, 1997), que um procedimento é considerado justo quando é assente
em politicas organizacionais formais e explícitas que as pessoas esperam que conduzam a
distribuições justas.
Mais recentemente começou-se também a falar em justiça interacional, um tema
introduzido por Bies & Moag (1986, cit. in Colquitt et al., 2001), que dizem que é importante
ter em atenção a qualidade das relações interpessoais no momento em que os procedimentos
são implementados. Estes autores dizem que podemos dividir a justiça interacional em duas
categorias, a justiça interpessoal e a justiça informacional. A primeira reflete o grau de
cortesia, dignidade e respeito com que as pessoas são tratadas pelas autoridades ou terceiros
envolvidos na execução de procedimentos ou na determinação de resultados. A segunda
centra-se nas explicações fornecidas às pessoas sobre o porquê de ter sido adotado um
determinado procedimento ou o porquê dos resultados terem sido distribuídos de uma certa
forma (Colquitt et al., 2001). Em 1991, Cropanzano & Folger vieram dizer que os
procedimentos e os resultados não podiam ser vistos em separado, uma vez que existe uma
interação entre ambos e é a conjugação destes dois fatores que cria a sensação de justiça ou
injustiça nos trabalhadores (Cropanzano & Greenberg, 1997). Segundo a justiça interacional,
a justiça procedimental acaba por ser mais importante quando o resultado é injusto ou
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desfavorável para o trabalhador, ao invés da justiça distributiva que é mais importante quando
os procedimentos são injustos. Óbvio que o ideal é conjugar bons procedimentos com bons
resultados. No entanto, bons procedimentos podem acabar por atenuar um resultado
desfavorável para o trabalhador. Ao invés, se associarmos maus resultados (como o
despedimento) a maus procedimentos (como a ausência de explicações) o resultado pode ser
catastrófico. Daí ser extremamente importante uma boa interação entre gestores e
funcionários, bem como a formação dos primeiros em justiça interacional (Cunha et al.,
2007).
Implicações da (In)Justiça nas Organizações
Fisher & Lewis (2002) referem que “as atitudes são preditores razoáveis do
comportamento”, pois permitem prever de que forma uma pessoa tenciona atuar. Neste
sentido, a insatisfação dos trabalhadores relativamente ao seu trabalho tem como
consequência a falta de envolvimento e empenho no mesmo, sucedendo uma série de
consequências com impacto na organização.
Para Rego (Cunha et al., 2007), as atitudes e comportamentos dos membros de uma
organização são consequências das perceções de justiça que as pessoas constroem, baseadas
nas três formas de justiça já mencionadas - distributiva, procedimental e interacional. Mais
do que o cumprimento das normas legais, a que o autor chama “justiça objetiva”, são essas
perceções de justiça – “justiça subjetiva” – que determinam a atitude dos trabalhadores
perante o seu trabalho e a organização. Neste sentido, a importância da justiça subjetiva
remete para a necessidade de ter em conta a perspetiva do trabalhador, uma vez que existe
uma multiplicidade de fatores que influenciam as suas perceções, desde logo de natureza
pessoal (Cunha et al., 2007). Contudo, muito recentemente, Rego (2002) e outros autores (por
ex.: Li, et al., 2015) têm alertado para a necessidade de se estudar também os efeitos dos
climas de justiça3 que se vivem nas organizações de forma distinta e que as caracterizam, uma
vez que as pessoas também reagem a esses climas, independentemente das suas perceções
individuais. A justiça pode ser encarada numa perspetiva coletiva, dando o exemplo dos
comportamentos de cidadania organizacional, que são consequência das perceções individuais
de justiça, mas também do clima em que se inserem. Percebe-se, então, que cada indivíduo
reage também, ao modo pelo qual os outros membros da organização são tratados. Estas
3 O conceito “clima de justiça” pode ser definido como as perceções partilhadas do modo como um conjunto de
trabalhadores de uma empresa é tratado, normalmente por uma figura de autoridade (Li, et al., 2015).
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reações resultam de comparações realizadas entre o que o indivíduo sente que lhe acontece e o
que vê acontecer aos colegas, favorável ou desfavoravelmente.
A partir da segunda metade dos anos 80, diversos estudos realizados têm-se mostrado
consistentes no que concerne às reações dos trabalhadores com impacto organizacional,
nomeadamente no que concerne à confiança nos gestores, à aceitação das decisões, às reações
aos despedimentos, no empenho na organização, furtos, turnover, comportamentos
retaliatórios, reações às tentativas de influência, harmonia social, autoestima, avaliação do
superior, desempenho e comportamentos de cidadania organizacional (Assmar et al., 2005;
Cropanzano et al., 2007; Cunha et al., 2007). De acordo com Greenberg (2001, cit. in
Assmar et al., 2005), os juízos de valor relativamente ao que é (in)justo são mais facilmente
visíveis em determinadas situações, nomeadamente quando as pessoas recebem resultados
negativos, quando os recursos são escassos, quando existem mudanças organizacionais a
decorrer, ou quando são visíveis as diferenças de poder resultantes da diferenciação de papéis
dentro das organizações.
De uma forma geral, a literatura tem revelado que a insatisfação como consequência da
perceção individual de injustiça leva a comportamentos e atitudes organizacionalmente mais
relevantes (Colquitt et al., 2001; Forster, 2001, McFarlin & Sweeney, 1992, Lowe &
Vodanovich, 1995, cit. in Cunha et al., 2007), como um pior desempenho individual e/ou
organizacional (Assmar et al., 2005; Colquitt et al., 2001; Pfeffer & Langton, 1993, Bloom,
1999, cit. in Cunha et al., 2007), um menor comprometimento organizacional (Assmar et al.,
2005); a distorção cognitiva dos contributos e/ou recompensas; o furto de objetos da
organização (Assmar et al., 2005; Colquitt et al., 2001; Greenberg 1996, Greenberg & Scott,
1996, cit. in Cunha et al., 2007); o chamado “turnover” e o absentismo, a saída da
organização ou mudança de cargo (Assmar et al., 2005; Colquitt et al., 2001; Cunha et al.,
2007; Dittrich & Carrell, 1979, Hulin, 1991, cit. in Cunha et al., 2007; Fisher & Lewis, 2002;
Forster, 2001), elevados níveis de conflito (Cropanzano & Baron, 1991, cit. in Cunha et al.,
2007), menores índices de cidadania organizacional (Assmar et al., 2005; Schall et al., 1997,
McNeely & Meglino, 1994, cit. in Cunha et al., 2007; Colquitt et al., 2001), a tentativa de
influência sobre outros elementos da organização; e a mudança de padrão de referência
(Cunha et al., 2007).
Importaria, aqui, perceber, de que forma as dimensões de justiça atuam separada ou
conjuntamente, uma vez que existem diferentes atitudes e comportamentos organizacionais
resultantes dessa atuação. O modelo de efeitos diferenciais pressupõe que as três dimensões
da justiça têm um impacto diferente nas atitudes e comportamentos dos indivíduos. Enquanto
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a perceção de justiça distributiva estaria mais relacionada com os resultados individuais,
específicos e imediatos, a perceção de justiça processual estaria mais associada a atitudes e
comportamentos relevantes para a organização, e a justiça interacional estaria mais vinculada
às avaliações diretas do supervisor ou fonte da injustiça (Cohen-Charash & Spector, 2001, cit.
in Assmar et al., 2005). Por outro lado, o modelo de interação pressupõe que as consequências
das perceções de justiça resultam da atuação conjunta das três dimensões. Cropanzano &
Greenberg (1997) defendem que a justiça procedimental se encontra mais fortemente
relacionada com as atitudes no trabalho quando os resultados são mais baixos do que altos, ao
contrário da justiça distributiva, que se encontra mais fortemente associada às atitudes quando
os procedimentos são mais justos do quando não o são. Não obstante, é importante uma
análise cuidada antes de concluir que qualquer reação se deve a determinado padrão (Rego,
2000, cit. in Assmar et al., 2005), até porque diferentes estudos apontam para diferentes
ligações causais.
Vejamos, então, que consequências positivas e negativas estas situações de iniquidade
podem proporcionar. Quando existe uma alteração dos contributos, por um lado, o indivíduo
que a perceciona a seu favor, reage aumentando a produtividade, esforçando-se, cooperando e
adotando comportamentos de cidadania, como o auxílio de colegas, a realização de sugestões
construtivas ou a defesa da reputação da organização. Por outro lado, quando a mudança é
considerada desfavorável, a reação traduz-se no comportamento oposto, isto é, na diminuição
da produtividade, na adoção de comportamentos retaliatórios. São exemplo disso os rumores
lançados sobre colegas, a ocultação de informação aos colegas e a despensa de tempo em
assuntos pessoais durante o horário de trabalho (Assmar et al., 2005; Cunha et al., 2007). Os
comportamentos de cidadania organizacional encontram-se também associados com o
tratamento recebido por um superior, na medida em que quando esse é percebido como
respeitoso e digno, os indivíduos reagem com mais comportamentos extra-papel (isto é, além
da sua função), ocorrendo o oposto quando se sentem tratados de forma desrespeitosa e
desconsiderada, limitando o seu trabalho exclusivamente às obrigações contratuais (Rego,
2000, cit. in Assmar et al., 2005; Cronpranzo et al., 2007). Aquando a alteração de
recompensas, a resposta positiva traduz-se na aceitação do aumento do salário em menor grau
relativamente aos colegas, enquanto a resposta negativa pode traduzir-se no furto de objetos
da organização.4 Alguns indivíduos apresentam distorções cognitivas dos contributos ou
4 Rego (2000, cit. in Assmar et al., 2005) aponta que os efeitos negativos de elevados desníveis salariais tendem
a produzir desempenhos de menor qualidade, com impacto negativo na motivação e satisfação no trabalho, nos
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recompensas oferecidas. Quando estes são superiores aos dos colegas, a pessoa acredita que
merece essa vantagem, pensando que as suas competências são mais relevantes. Acontecendo
o oposto, o indivíduo crê que usufrui de condições de trabalho superiores às dos colegas e
que, portanto, estes merecem ser recompensados. Outra reação que, por vezes, ocorre é a
mudança de cargo, a pedido do próprio, para uma função mais exigente ou, no extremo e
negativamente, o absentismo, autodespedimento ou transferência para outro cargo. Existem
ainda pessoas que, quando se sentem injustiçadas, tentam agir sobre os outros, ora tentando
influenciar o colega que se empenha mais a baixar o seu desempenho e, por isso, recebe mais,
ora tentando persuadir o seu superior a aumentar o seu salário, ou os seus colegas a
esforçarem-se mais. Há também trabalhadores que, obtendo informação que desconheciam
alteram o seu padrão de referência, isto é, passam a comparar-se a outros indivíduos que,
perante as mesmas funções e competências, recebem um ordenado maior, ou, equiparam-se a
trabalhadores que recebem um salário menor do que o seu (Cunha et al., 2007).
Existem outros comportamentos construtivos a que alguns autores (ex: Forster, 2001;
Cunha et al., 2007) designam de “voz” e lealdade que permitem aos indivíduos tolerar
situações desagradáveis ou a ter condições de trabalho satisfatórias. A primeira consiste numa
tentativa ativa de melhorar as suas condições de trabalho, através da discussão de problemas
com superiores e sugestão de melhorias, enquanto a segunda traduz-se passivamente na
espera de melhores condições, que inclui falar com a organização e acreditar que farão o mais
correto.
Como Prevenir?
Considera-se, como foi referido anteriormente, que as perceções de justiça são
influenciadas pelos resultados recebidos por parte da organização (justiça distributiva), pelas
práticas organizacionais (isto é, pelos procedimentos e qualidade das interações), e pelas
características dos indivíduos5 que constroem esses juízos de valor (Cunha et al., 2007;
Colquitt et al., 2001; Cropanzano et al., 2007; Byrne & Cropanzano, 2001). Assim, a partir da
níveis de absentismo e nos comportamentos de cidadania organizacional, com consequências crescentes no clima
da organização. 5 As variáveis individuais envolvem fatores demográficos (género, nível de escolaridade, estatuto do cargo e
estabilidade na organização), fatores de personalidade e fatores cognitivos. Contudo, ainda não existem dados
suficientes que comprovem aa relação entre as características individuais e as perceções de justiça. Um estudo de
Charash & Spector (2001) afirma que, com exceção da idade, do género, da afinidade populacional e educação,
que apresentaram uma relação ténue, os autores não encontraram uma relação significativa das variáveis
demográficas com os juízos de valor realizados. Do mesmo modo, os estudos sobre a personalidade têm sido
escassos, sendo difícil afirmar qualquer tipo de relação.
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compreensão das causas e dos efeitos da justiça organizacional, gestores e colaboradores
podem trabalhar no sentido de promover a criação de um ambiente de trabalho justo,
fundamental para o alcance tanto das metas individuais quanto organizacionais (Beugré 1998,
cit. in Assmar et al., 2005).
Tornou-se claro que as pessoas não reagem apenas aos resultados obtidos (de acordo
com medidas baseadas na igualdade, necessidade e equidade), mas também aos
procedimentos (elementos estruturais) e à qualidade das interações (elementos sociais),
nomeadamente o tratamento digno e respeitador que recebem, o fornecimento de explicações
às suas necessidades pessoais, a consistência das decisões e a sua explicação adequada, o
fornecimento de feedback adequado e atempado, avaliações baseadas em informação exata ou
a imparcialidade das decisões. Por isso, consideram-se algumas regras que podem estar na
base um leque de atitudes e comportamentos organizacionalmente relevantes já mencionadas.
Alguns indicadores que poderão potenciar a confança nos superiores e, consequentemente,
conduzir a perceções de justiça são o caráter e integridade, a lealdade, a competência, a
reputação, a boa fé nas ações, a benevolência, a comunicação franca e aberta, o cumprimento
das promessas, a transmissão de expectativas claras e a discrição relativamente aos assuntos
confidenciais (Podsakoff et al., 1990, 1996, 1996, Costa et al., 2001, Rego & Cunha, 2003,
cit. in Cunha et al., 2007).
Quando se faz referência aos procedimentos entende-se que estes devem ser
consistentes ao longo do tempo e iguais para todas as pessoas por eles afetadas. Devem
suprimir-se todos os enviesamentos, de forma a que haja imparcialidade, pretendendo-se que
o decisor considere todos os pontos de vista, sem qualquer tipo de auto-interesse. Da mesma
forma, a informação fornecida deve ser exata e rigorosa, garantindo-se ainda a possibilidade
de correção das decisões, através de métodos como o recurso. Em todos os processos, devem
considerar-se todas as opiniões, valores e interesses das pessoas por eles afetadas, dando-lhes
voz. Por fim, a ética e a moralidade devem acompanhar todos as passos efetuados em cada
procedimento (Cropanzano et al., 2007; Leventhal, 1976, 1980, Lind & Tyler, 1988, cit.in
Cunha et al., 2007). Estas medidas podem atenuar as reações negativas das pessoas às
perceções de injustiça ou resultados desfavoráveis, reduzindo, por exemplo, os níveis de furto
ou fazendo descrescer o sentimento negativo relativamente à empresa que efetua um
despedimento (Cropanzano & Greenberg, 1997).
Vários investigadores têm-se debruçado designadamente em fatores macro-
organizacionais como as mudanças organizacionais, a cultura organizacional, o
comportamento dos líderes, os processos disciplinares, a avaliação de desempenho, os
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sistemas de remuneração e os processos de seleção. Estes indicadores têm sido apontados
como de elevada importância no que toca à sua influência para a perceção de justiça
organizacional por parte dos trabalhadores. Na implementação de mudanças organizacionais,
é importante que os funcionários tenham um papel ativo nas mesmas e que concordem com
elas, pois um processo que permite aos trabalhadores ter voz, será mais provavelmente
considerado justo, comparativamente a um que o proíba. Se tal não acontecer é bastante
provável que ofereçam resistência e não se empenhem para que as coisas funcionem (Beugré,
1998, cit. in Assmar et al., 2005; Charash & Spector, 2001). No que diz respeito à cultura da
organização, se as decisões que vão sendo tomadas vão contra a cultura da empresa isto pode
gerar algum mau-estar. Numa empresa onde a cultura é mais orientada para a economia os
seus funcionários tendem a preferir medidas equitativas6. Quando a empresa tem uma cultura
mais voltada para os relacionamentos preferem a igualdade. E quando principal objetivo é o
desenvolvimento pessoal a regra a aplicar é a da necessidade. Quanto ao comportamento dos
lideres, estes tendem a ser vistos como maus lideres pelos seus trabalhadores quando estes
consideram como injustos os procedimentos e recompensas obtidas (McFarlin & Sweeney,
1992, cit. in Assmar et al., 2005). O mesmo acontece quando um trabalhador considera como
injusta sanção que lhe é aplicada. Tal pode gerar raiva, ressentimento e levar à perda de
confiança no seu líder (Beugré, 1998, cit. in Assmar et al., 2005). Nestas situações, bem como
nas avaliações de desempenho, um procedimento justo pode acabar por atenuar os efeitos
negativos. Para tal é fundamental o estabelecimento de normas e critérios claros. Os sistemas
de remuneração são um tema bastante sensível e que muito facilmente pode gerar problemas.
Como já vimos anteriormente, podemos ter por um lado os defensores da justiça distributiva
que defendem que deve haver uma proporcionalidade entre o que investem no trabalho e a
remuneração que auferem (Adams, 1965). Por outro lado, se os critérios deste sistema forem
claros e transparentes pode-se aumentar as perceções, influenciando os padrões de referência
a que elas recorrem. Um exemplo disso será a disponibilização de informação pertinente
(Cunha et al., 2007; Folger & Greenberg, 1985, cit. in Assmar et al., 2005). No que diz
respeito aos processos de seleção os estudos realizados sugerem que o tratamento justo dado
aos candidatos afeta os seus julgamentos de justiça em relação à organização, a qual será
importante também no futuro, em caso de admissão. Por norma, os candidatos que se sentiram
6 Não obstante este facto, há quem aponte efeitos adversos das medidas equitativas (ex.: Deutch, 1975, cit. in
Cunha, et al., 2007), pois existem riscos de que existir disfunções económicas e sociais nos grupos, desde logo a
capacitação que os mais poderosos têm de enviesar as recompensas e o poder desproporcionais, e a promoção de
valores económicos em todos os aspetos da vida social, resultando numa perda de qualidade de vida.
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Joana Ribeiro & Nuno Pereira Página 14
bem tratados acabam por considerar estes mesmos recrutamentos como justos (Assmar, et al.,
2005).
Comunicar para prevenir
Já vimos anteriormente que os resultados não são o único aspeto relevante para que os
trabalhadores considerem uma organização como justa, sendo também extremamente
importante os processos adotados e o tipo de interações existentes (Cunha et al., 2007).
Dentro destes procedimentos, o processo comunicacional assume uma grande importância,
podendo fazer a diferença sobre a perceção de justiça de um indivíduo. Importanta então
perceber como podem os gestores usar a comunicação para melhorar a perceção de justiça
organizacional.
Adotar um estilo de comunicação assertivo é um bom ponto de partida. Este estilo de
comunicação caracteriza-se pela sua expressividade e auto-promoção e quem o pratica fá-lo
de forma direta, clara e objetiva, permitindo também ao recetor que se exprima livremente.
Temos ainda o estilo passivo que se caracteriza por um comportamento de alguma timidez e
retração, onde a pessoa acaba por ter alguma dificuldade em defender os seus interesses. O
estilo agressivo onde o interlocutor assume uma posição de poder e domínio usando ameaças
ou ataques pessoais. E, por fim, o estilo manipulador usado de forma a influenciar os outros
sem que estes se apercebam, através de histórias inventadas e chantagem moral. Apesar de
nem sempre ser possível ou mesmo desejável que se utilize um estilo de comunicação
assertivo, os estudos demonstram que este é mais eficaz que os restantes (Infante & Gorden,
1985, Roudsepp, 1992 cit. in Ribeiro, 2008).
Os gestores devem também garantir que utilizam quer uma comunicação verbal como
uma comunicação não verbal. Da comunicação verbal fazem parte a linguagem escrita e
falada, enquanto que a comunicação não verbal são todas as outras mensagens que são
transmitidas pela nossa expressão facial, gestos, contacto físico ou um simples movimento de
cabeça. Esta parte da comunicação é muitas vezes esquecida, apesar de representar a maior
parte das nossas interações comunicativas (Gabbott & Hogg, 2000 cit. in Ruão, 2016). É
então importante que a linguagem verbal e não verbal estejam em sintonia, para que a
mensagem que se pretende transmitir seja efetivamente passada. Isto acabará por trazer
resultados positivos quer para a empresa em si, gerando-se uma maior produtividade, como
para o relacionamento entre gestores e restantes trabalhadores (Schelles, 2008).
A escuta ativa é outro aspeto fundamental que os gestores devem ter em conta no
processo de comunicação organizacional. Segundo Rogers & Farson (1957), escuta ativa é o
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processo de ouvir ativamente o que outra pessoa diz, não é ouvir mas sim escutar,
compreender a mensagem que o outro nos transmite e demonstrar interesse na mesma. Na
prática, os gestores devem tentar perceber o verdadeiro significado do que lhe estão a
transmitir (pode haver outro significado na mensagem transmitida), ter em consideração os
sentimentos dos outros e ter em atenção todos os detalhes (já vimos que nem toda a
comunicação é verbal). A escuta ativa vai ser importante para os gestores compreenderem o
ponto de vista dos seus trabalhadores, para perceberem exactamente o que eles lhe estão a
comunicar. Para além disso os gestores devem fazer passar a ideia de que tal está mesmo a
acontecer, que estão a conseguir colocar-se no lugar do funcionário. Isto irá dar mais
credibilidade e respeito aos gestores e vai melhorar o relacionamento e produtividade da
equipa de trabalho.
Outra atitude extremamente importante que os gestores devem utilizar é o feedback. E
isto deve funcionar tanto para dar como para pedir. Ao dar feedback vai-se propiciar uma
maior comunicação entre ambas as partes, vai-se aumentar a confiança, quebrar certas
barreiras que possam existir, ajustar expectativas e necessidades, corrigir alguns mal-
entendidos que possam existir, entre muitas outras coisas. Isto pode ocorrer de várias formas
como escrita, verbal e não-verbal, sendo a forma verbal e pessoalmente a mais eficaz. Por
oposição, a não obtenção de feedback pode gerar alguns conflitos, os trabalhadores pensam
que estão a ser desprezados, que o seu trabalho não é reconhecido e acabar por levar a
sentimentos de injustiça (Ribeiro, 2008). O feedback deve ser dado tendo em conta o que era
pedido, de forma direta, descritiva e com sugestões de melhoramento se tal se justificar.
Deve-se valorizar as qualidades e comportamentos positivos, orientar para possíveis
mudanças, podendo-se mesmo elaborar um plano de ação, demonstrar ao funcionário o que se
espera dele e, ao mesmo tempo, estamos a criar um hábito de troca de informações e
comunicação (Rosa & Oliveira, 2012).
Tudo isto são formas de comunicar que podem influenciar a forma como o sentimento
de justiça é percecionado pelos trabalhadores, daí que seja importante que os gestores os
apliquem.
Benchmarking
O benchmarking é um processo que surgiu no pós II Guerra Mundial quando os
japoneses visitavam as organizações ocidentais para verem como as mesmas funcionavam e
implementarem os processos aqui utilizados no seu país. Podemos assim definir
benchmarking como a atividade que mede “produtos, serviços e práticas, comparando-as
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com as dos seus competidores ou com as das empresas reconhecidas como lideres” (Rocha,
2006 cit. in Loureiro, 2013). Por outras palavras, trata-se de perceber o que de melhor se faz
no mercado e se tal se pode aplicar à nossa empresa e melhorar o desempenho da mesma. No
que à Justiça Organizacional diz respeito, trata-se de perceber que medidas têm sido
implementadas por determinadas instituições para melhorar a perceção de justiça por parte
dos trabalhadores.
São várias as medidas que as empresas aplicam na esperança de melhorar a
comunicação, que, como vimos, irá produzir efeitos no sentimento de (in)justiça e
consequentemente na melhoria de resultados. A vencedora do prémio de 2016 para Melhor
Empresa para Trabalhar, a Hilti Portugal, aposta, por exemplo, na oferta do pequeno-almoço
aos seus colaboradores, o que contribui para um estreitar de laços fora do sistema formal e
quebrar algumas barreiras que possam existir na comunicação, como a timidez. Por outro
lado, esta empresa aposta também num “apadrinhamento”, em que o novo funcionário é
acompanhado de perto por alguém, o “padrinho”, que tem como missão integrá-lo na equipa
de trabalho. Isto acaba por ser importante para que o novo colaborador conheça a cultura da
empresa e possa ter alguém mais próximo capaz de o ouvir e dar-lhe/receber o seu feedback
(Hilti Portugal, 2016).
Na Primark, antes dos colaboradores entrarem ao serviço, há a política de fazer um
briefing onde são comunicados os resultados do dia anterior, se os objetivos de vendas estão a
ser cumpridos e o plano de ação para aquele turno. É também dada oportunidade para que os
colaboradores dêem a sua opinião sobre a melhor forma de rentabilizarem o seu trabalho.
Aqueles 10 minutos de comunicação entre gestores e trabalhadores acabam por ser
fundamentais, uma vez que é transmitido o que é esperado para aquele período de trabalho
mas também é dada oportunidade dos funcionários intervirem e demonstrarem o seu ponto de
vista. Isto permite que haja abertura de comunicação entre chefes e subordinados, que os
funcionários percebam o porquê de serem adotadas certas medidas e, consequentemente, que
se instale um clima de justiça.
Temos ainda o exemplo das Universidades em Portugal que possuem, todas elas, um
Provedor do Estudante que mais não é do que um elo de ligação entre a instituição
(Universidade) e os seus alunos. Trata-se de um facilitador da comunicação entre ambas as
partes. O Provedor do Estudante da Universidade do Porto, Carlos Costa, considera mesmo
que o seu gabinete funciona como um “ombro amigo” para os alunos, onde se podem fazer
ouvir de melhor forma e fazer com que as suas pretensões cheguem aos dirigentes da
Universidade (Agência Lusa, 2016). Isto permite que os estudantes sintam que têm uma voz
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ativa na universidade e também compreendam as medidas que a mesma aplica, levando assim
a um sentimento de justiça.
Discussão e Conclusão
A vida em sociedade reflete a necessidade de adotar comportamentos justos. Neste
sentido, são indissociáveis do conceito de justiça princípios como o da igualdade,
proporcionalidade, e imparcialidade que formulam o “Princípio da Justiça”, de acordo com o
qual a decisão justa é aquela que é racional, adequada e proporcional, que assegura a
igualdade de tratamento, a imparcialidade e a boa-fé (Sousa & Galvão, 1994).
Mais do que um código moral ou uma realidade objetiva, a justiça é um conceito
subjetivo que se foca naquilo que os indivíduos acreditam ser correto. A justiça
organizacional especificamente é uma avaliação pessoal sobre a posição ética e moral da
conduta recebida por parte de superiores. Isto sugere que a criação de justiça numa
organização implica que se adote a perspetiva dos colaboradores, o que muitas vezes não
acontece. A justiça em si define a essência da relação entre funcionários e superiores. De
forma contrária, a sua ausência dissolve essa relação, afetando os indivíduos e as organizações
(Assmar et al., 2005; Cropanzano et al., 2007). Por esse motivo, a justiça constituí uma
dimensão fulcral para o funcionamento prático e eficaz das organizações e para os membros
que nelas trabalham. Na sua base estão as perceções de justiça, potenciadoras de um leque
muito expressivo de atitudes e comportamentos relevantes para a organização, entre eles a
satisfação, o empenho, a confiança, os comportamentos de cidadania ou comportamentos
retaliatórios, o absentismo, os furtos, a autoestima.
Nesta sequência, é importante que os decisores organizacionais tenham consciência
destes potenciais efeitos e sejam capazes de agir sobre eles tendo em consideração os
seguintes elementos: a) as pessoas não são sensíveis apenas ao que recebem, mas também aos
procedimentos e qualidade das interações; b) não é crível que os procedimentos e as
interações justas possam preencher completamente a ausência de justiça distributiva, apesar
de poder inibir reações negativas; c) as pessoas não reagem apenas à justiça que lhes cabe mas
também à que veem ser aplicada às pessoas que as rodeiam.
Algo que seria importante aprofundar e que se complementa com a prática é a
compreensão da forma como as pessoas criam as perceções de justiça, percebendo as razões
pelas quais atribuem maior ou menor importância a cada uma, e de que forma estas dimensões
se relacionam (ou não) na produção dos efeitos, uma vez que diferentes estudos apontam para
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resultados diferentes. Acresce que os estudos sobre as perceções de justiça coletiva só
começam a surgir recentemente, contudo verifica-se que são tão importantes quanto as
perceções individuais, pois também existem reações coletivas organizacionalmente relevantes
que podem ser prevenidas (Rego, 2002).
Por fim, alguns autores deixam alguns alertas acerca dos estudos sobre justiça
organizacional. Deve ter-se sempre em conta de que os seus antecedentes e consequências
dependem dos contextos e das características das organizações, o que leva a que as
preocupações com a justiça dependam dessas variáveis (Greenberg, 2001, cit. in Assmar et
al., 2005). Para além disso, os ambientes e estruturas das empresas, bem como as normas
culturais podem influenciar a forma como as pessoas avaliam a justiça das situações com que
se defrontam (Greenberg & Wiethoff, 2001, cit. in Assmar et al., 2005). Acresce que,
historicamente, a pesquisa no campo da justiça organizacional tem-se focado ao nível da
análise individual, descurando a análise coletiva das perceções de justiça. O clima de justiça
que se vive nas organizações pode traduzir-se igualmente em ações e atitudes relevantes
perante a organização e os seus superiores, sendo assim importante um aprofundamento desta
dimensão da justiça organizacional (Li, et al., 2015). Uma pesquisa rigorosa e sistemática
poderá diminuir estas limitações, promovendo o desenvolvimento da área organizacional, e
trazendo contribuições para a compreensão do comportamento humano no trabalho (Assmar
et al., 2005).
De um modo geral, este trabalho consistiu numa pequena revisão da literatura focada no
conceito de justiça organizacional, tendo em conta as justiças distributiva, procedimental e
interacional e respetivas consequências relacionadas com as perceções individuais que as
pessoas criam à sua volta dentro de uma organização. Na parte final, são referidas algumas
formas de prevenir a criação de perceções de injustiça, algo de extrema importância, dado que
as organizações são constituídas por pessoas que, por sua vez, são a alavanca do seu
funcionamento. Acreditamos que a prevenção é o fator chave do sucesso de uma empresa,
pois evita possíveis custos futuros (que poderão ser maiores de que os que se poderão aplicar
com métodos preventivos), e talvez irremediáveis. O conhecimento dos principais
antecedentes e consequências dos julgamentos de justiça sobre os retornos organizacionais, os
processos decisórios e a própria qualidade das interações pode constituir uma ferramenta que
permite a prevenção de relações de trabalho conflituosas que prejudicam o funcionamento
eficaz das organizações.
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