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EDITORIALEDITORIALEDITORIALEDITORIALEDITORIAL

A Justiça Federal, em Minas, começa a trilharnovos caminhos. Volta seus olhos para as estradas per-corridas pelos bandeirantes, aventureiros e desbrava-dores. Procura as marcas deixadas por aqueles que,com café e com leite, com milho e fubá, com ferro ecom aço forjaram cidades, redesenharam campos emontanhas e construíram a chamada “mineiridade”- amálgama de ousadia e temperan-ça, discrição e obstinação.

Os primeiros passos já foram dados. A Vara Federal e Subseção Judiciária dePassos já começou a funcionar. Convênios foram celebrados com os municípios deVarginha, Pouso Alegre e São Sebastião do Paraíso. Vários contatos já foram feitos comautoridades e com as comunidades dos demais municípios (Montes Claros, Patos deMinas, Governador Valadares, Ipatinga, São João del Rei, Lavras, Divinópolis e SeteLagoas) que receberão as varas interiorizadas. Imóveis já foram vistoriados em muitosmunicípios.

A tarefa da interiorização é difícil. Recursos humanos e financeiros são limitados,mas contamos com o apoio entusiasmado das comunidades do interior e autoridadesmunicipais, com o trabalho árduo de juízes e servidores e com a necessária determina-ção da administração do Tribunal Regional Federal da 1ª Região e de seu Presidente emfazer cumprir a diretriz estabelecida na Lei nº 10.772/2003. Com tudo isto, não é despro-positada a perspectiva de termos em funcionamento, até o final deste ano ou, no maistardar, no início do próximo, todas as varas previstas na mencionada lei. A Justiça Fede-ral estará, então, mais próxima e acessível ao cidadão mineiro. Na capital, funcionarácertamente melhor, e com mais agilidade. E no interior, superadas as dificuldades epercalços iniciais, saberá responder satisfatoriamente à demanda de justiça, tanto temporeprimida.

O segundo número da Justiça em Revista já é motivo de celebração.

Não são poucas as iniciativas editoriais que têm morte prematura. O acolhimentoao primeiro número da nossa revista e o significativo volume de artigos que nos foramenviados, dentre os quais fomos obrigados a fazer uma seleção para publicação, reve-lam o acerto do projeto da revista. Contudo, muito há, ainda, a aperfeiçoar.

Agradecemos aos colaboradores e novamente pedimos aos leitores suas críticas esugestões, que são essenciais no amadurecimento desta publicação.

Renato Martins Prates Juiz Federal Diretor do ForoJustiça Federal em Minas Gerais

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A preparação do futuro advogado

“Se uma escola está fun-cionando, ela está auto-rizada, credenciadapela União Federal, peloMinistério da Educação.Na minha ótica, a res-ponsabilidade pela boaou má qualidade do ensino jurídico é da União Fede-ral. Então se um candidato sai de uma escola e nãoconsegue ingressar no mercado de trabalho, este can-didato, a meu juízo, teria até direito de promover açãode indenização contra a União. Porque é um cursoque lhe foi ministrado e não serve para nada.”

Raimundo Cândido

Profissão: EstudanteO sonho de estudar Direito é antigo. O idealismo indisfarçado aparece em cada palavra de Luiz Sérgio Arcanjo dos Santos: “O Direito sempre foi a minha

paixão”.Luiz Sérgio cursa a Faculdade de Direito da PUC São Gabriel. Além do estágio na 2ª Vara da Justiça Federal de Minas Gerais, ele trabalha como autônomo

para pagar o seu curso. “Eu consegui uma bolsa de 40% na PUC e trabalho como autônomo também. Eu tento pagar a minha faculdade sem ter que recorrerà minha família”.

Primeira pessoa da sua família a fazer um curso superior, após ter feito o primeiro grau numa escola pública e o segundo grau numa escola particular, Luizpretende advogar, mas o seu objetivo é exercer a magistratura. “O campo mais bonito do Direito é a magistratura. O advogado tem o compromisso com o cliente,já o juiz vai ter o compromisso com a consciência dele. Todo o seu conhecimento, a sua bagagem cultural ele vai aplicar na hora de proferir uma sentença”,concluiu Luiz Sérgio.

Embora a sua primeira opção tenha sido a Faculdade de Direito da UFMG, ele diz estar satisfeito com o seu curso. “É uma escola muito boa. Uma de suasfunções tem sido colaborar para o desenvolvimento humanístico do futuro profissional”.

Luiz acredita que passará no exame de ordem na primeira tentativa: “Eu estou me esforçando para passar. O meu caminho até agora foi de muito esforçoe eu acredito que vou conseguir aplicar tudo o que aprendi no dia da prova. Estou esperançoso de que vou conseguir passar na primeira vez”.

Quanto ao alto índice de reprovação nos exames de ordem em vários Estados, Luiz não hesita ao afirmar que o problema se deve à proliferação de escolas.Ele mencionou também a falta de fiscalização.

A história de Luiz Sérgio, certamente, é igual à de muitos outros estudantes: uma história de esperança, superação e dedicação ao sonho de se tornar

bacharel em Direito.

A informação, amplamente noticiada nos meios decomunicação, no final do ano passado, sobre a reprovaçãorecorde de 92% dos candidatos que fizeram o exame daOAB de São Paulo, nos remete a uma questão fundamentalno que tange à preparação dos futuros advogados: a disse-minação de Faculdades de Direito no Brasil, mais de 760instituições atualmente, é responsável pela baixa qualidadedo ensino jurídico? E sendo esse o problema, o que podeser feito ou o que está sendo feito para reverter este quadro?

O debate sobre a mercantilização das escolas deDireito é oportuno e necessário, porém, será que o proble-ma se resume ao ensino deficiente? Os alunos não terãotambém sua parcela de responsabilidade? A esse respeito, oadvogado, ex-professor da UnB e UDF, Luiz Otávio de O.Amaral, no artigo “Refletindo sobre o Ensino e a Formaçãodo Advogado”, publicado na revista “Âmbito Jurídico”, afir-mou “(...) por outro lado, o ensino universitário não poderámelhorar se não resolvermos o seu problema-base: o estu-dante. É ele, o acadêmico-consumidor de um serviço derelevante interesse social, quer nas universidades públicas,quer nas pagas, quem pode, deve e tem interesse direto namelhoria do serviço que lhe é prestado. Hoje a consciênciada cidadania do brasileiro já não admite a má prestação deserviço por simplórios mecânicos de carro, técnicos de TV,como aceitar-se tal por escolas superiores?”.

No ano passado, a OAB divulgou uma lista das me-lhores faculdades de Direito do Brasil. Ao todo foram avali-ados 215 cursos dos quais somente 60 receberam o selo dequalidade da Ordem. O critério adotado para a elaboraçãodessa lista foi o da avaliação da performance dos alunos noExame Nacional de Cursos, o Provão, e no Exame de Or-dem. A OAB, embora emita pareceres sobre os pedidos deabertura de cursos jurídicos protocolados no MEC, não tempoder de veto. A autorização dada pelo Ministério da Edu-cação para a abertura de 222 faculdades de Direito, entre2001 e 2003, a despeito de a OAB ter dado parecer favorá-vel a apenas 19, ilustra bem a ausência de diálogo entre asduas entidades.

Para tentar elucidar esta complexa e atual questão, a

Justiça em Revista entrevistou o Presidente da OAB – Minas Gerais,Raimundo Cândido Jr., os diretores das Faculdades de Direito daUFMG e Milton Campos, duas das mais prestigiadas escolas deensino jurídico de Minas Gerais, Aloizio Gonzaga de Andrade Ara-újo e Lúcia Massara, respectivamente.

Raimundo Cândido Júnior censurou duramente o que eleconsidera um excesso de rigor por parte daqueles que elaboram asquestões do Exame de Ordem, indo na contramão de diversossetores, inclusive alguns setores da própria OAB: “Eu acho que esteelevado número de reprovações tem sido causado por um rigorexcessivo no Exame de Ordem. Eu costumo dizer que, às vezes, osexaminadores, sequer eles, seriam aprovados nesses exames. Elespoderiam ser aprovados na prova que fizeram, mas não dariamconta de responder a prova de outra disciplina. Então, nós nãopodemos agir dessa forma. Eu acho que o Exame de Ordem está

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“A falta decomprome-timento doaluno serásempre re-sultado dafalta de com-prometimento da própria instituição. O alu-no descomprometido não irá “sobreviver”em uma instituição séria, pois será suficien-temente cobrado, avaliado e impedido deconcluir o curso e obter o grau de bacharel.Se uma escola permite que um aluno semcompromisso conclua o curso e obtenha umdiploma, ela está sendo, no mínimo, coniven-te com a má formação.”

Lúcia Massara

sendo distorcido. A finalidade dele é apenas impedir que ingresseno mercado de trabalho aquele que se revele, de fato, despreparado.Não é saber se o indivíduo já está no final da carreira ou sabe tudoque todos deveriam saber e, na verdade, não sabem”.

A esta surpreendente declaração, Raimundo Cândido acres-centou uma crítica à proibição da consulta à legislação seca du-rante o Exame de Ordem: “Vejam vocês: juízes, promotores, advo-gados, defensores, promotores, examinadores, todos consultampara exercer as suas atividades. E aquele que está começandoagora, que tem menos experiência, a ele não é dado direito deconsultar. Então, está-se exigindo dele uma decoreba que não éútil para averiguar a boa formação do profissional”.

A abertura indiscriminada de cursos de Direito nos últimosanos foi destacada por Aloísio Gonzaga: “Lamentavelmente, numfluxo de tentativa de privatização do ensino público, principal-mente no governo Fernando Henrique Cardoso, nos dois manda-tos dele, através do Ministro Paulo Renato, da Educação, abriram-se as porteiras para a criação desenfreada e desnecessária dasfaculdades de Direito. E isso está dando nesta situação de revoltados bacharéis que não conseguem um lugar ao sol. Não é apenaso exame de ordem que reprova não, são os exames da Magistratu-ra, do Ministério Público... O número de reprovados é absoluta-mente imenso”.

Os últimos resultados dos exames de ordem deram origema um debate acalorado sobre as possíveis causas do número cres-cente de reprovações e, principalmente, sobre quais seriam assoluções para esse problema. A presidente da Comissão de Examede Ordem da seccional paulista da OAB (Ordem dos Advogadosdo Brasil), Ivette Senise Ferreira, disse acreditar que a alternativa aomodelo atual é limitar o número de vezes que o candidato podefazer o exame.

“Eu discordo frontalmente e acho, com todo o respeito,que a seccional paulista da OAB está fazendo muito marketing emcima de um elevado índice de reprovação do exame de ordem.Isto está colocando a seccional de São Paulo na mídia a todomomento”, afirmou enfaticamente o Presidente da OAB em MinasGerais.

Lúcia Massara também discorda dessa limitação: “Nãocreio que isso seja uma boa idéia. Você melhoraria as estatísticas,mas não a qualidade dos candidatos. Penso que o bacharel repro-vado em um exame deve ter o direito de estudar mais e voltar afazê-lo, quantas vezes desejar. No máximo, a OAB poderia imporum intervalo entre uma tentativa e outra”.

Não há como falar em preparação do futuro advogado semfalar no estudante. É ele que, ao fazer a opção pela faculdade quedeseja cursar, está definindo o futuro da sua carreira. Mas essaopção não é fruto de uma escolha pautada apenas na análisepormenorizada do programa e do corpo docente de cada escola.O preço da mensalidade, muitas vezes, passa a ser determinantena hora de escolher o curso. “Nós temos um país de pobres. Mui-tas famílias investem o pouco que têm na formação de um de seusmembros para que este seja a redenção desta família. E depois estemembro da família é enganado por um curso que não lhe propiciacondições de ingressar no mercado de trabalho e toda aquelapoupança foi embora para as mãos de poucos donos detentoresde redes de ensino”, conclui Raimundo Cândido.

Indagados sobre as virtudes que um estudante que preten-de ser um bom advogado deve ter, nossos entrevistados enfatizaramas qualidades morais e a necessidade de se dedicar intensamenteao estudo do Direito. “Em primeiro lugar, é fundamental que ocandidato esteja convicto de que quer ser um advogado e consci-ente do que é a profissão que escolheu. A partir daí, estudo, estu-

do, estudo”, observa Lúcia Massara, cuja opinião encontraeco na resposta de Raimundo Cândido: “O necessário paraser um bom advogado é a preparação. Escolher uma boaescola de Direito, estudar muito... Estudar, estudar e estudar.Estar atualizado com a doutrina e a jurisprudência. Esta é areceita que eu daria, evidentemente, com outros atributosque vêm do berço, como, por exemplo, a honestidade e aética que o profissional deve observar no exercício da profis-são”.

O ensino jurídico no Brasil nunca foi tão criticado epor isso mesmo algumas mudanças já começam a serdelineadas. Uma das mais importantes é a aproximação en-tre o MEC e a OAB. O Ministro da Educação Tarso Genroabriu um novo canal de diálogo com a OAB ao tomar medi-das emergenciais, como, por exemplo, diminuir a homolo-gação de novos cursos, determinar o fechamento de algu-mas faculdades e, até mesmo, de cursos de mestrado e dou-torado. Outra prova do novo posicionamento do MEC foi a

criação, em outubro do ano passado, de uma comissãoparitária composta por sete integrantes - três do MEC, três daOAB e um do Ministério da Justiça -, cujo objetivo é reavaliaras normas de abertura de faculdades de Direito. Uma daspropostas da OAB é estabelecer o critério da necessidadesocial das novas escolas jurídicas, ou seja, serão avaliados opotencial regional e a população do local onde se pretendeabrir o novo curso.

A esse respeito, Aloísio Gonzaga expôs: “Não há ne-cessidade desse absurdo de faculdades que são criadas comfacilidade porque o laboratório que elas precisam é pratica-mente uma biblioteca. Exige-se muito pouco, dez mil obras,para uma faculdade ser aprovada. Há um número excessivode faculdades que ficam acenando para os estudantes comoportunidades profissionais que eles acabarão não tendo”.

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1827 – Em 11 de agosto deste ano, D. Pedro I criou as primeiras escolasjurídicas do Brasil, uma com sede no Largo de São Francisco, em São Paulo,a Academia de Direito de São Paulo; e a segunda no convento de São Bento,em Olinda.*

1831 – Formatura da primeira turma de bacharelandos, formados pela Fa-culdade de São Paulo.

1892 – Criação da Faculdade Livre de Direito em Minas Gerais, instalada naCâmara dos Deputados, em Ouro Preto. Em 1898, a faculdade foi transferidapara Belo Horizonte. Bem mais tarde, em 1927, foi integrada à Universidadede Minas Gerais.

1855 – Já se contabilizavam 584 estudantes de Direito no Brasil.

1921 – Criação da primeira universidade brasileira, a Universidade Federaldo Rio de Janeiro, que reunia o Curso de Direito, a Faculdade de Medicinae a Escola Politécnica.

1960 – Havia no Brasil cerca de 69 instituições de ensino jurídico.

2005 - Existem cerca de 760 faculdades de Direito no Brasil, 71 instituiçõessó em Minas Gerais.

* Há uma curiosidade histórica a respeito de qual teria sido a primeirafaculdade de Direito no Brasil. Criadas pela mesma Lei, as faculdades de SãoPaulo e de Olinda disputam entre si o título de primeira escola de ensino jurídicono país. A Faculdade de Olinda alega ser a mais antiga por ter recebido a visitade D. Pedro I antes de ele visitar a de São Paulo. Já a Faculdade de São Paulo dizter direito ao título de mais antiga por ter dado a primeira aula de Direito no país,em 1º de março de 1828.

Breve histórico das Faculdades de Direito no Brasil e Minas Gerais

CARLA COSTA POPPE

“ O proble-ma é que amaior partedas escolasnão preparaos alunospara nada,não tem corpo docente, não tem estruturaacadêmica. Os alunos são recrutados para terum título superior. Estes alunos não produ-zem absolutamente nada, não estudam ab-solutamente nada, acham que o curso deDireito é uma mamata, que é um curso fácilde ser feito e, ao final, têm um diploma paranão valer pra coisa nenhuma.”

Aloísio Gonzaga

prédio original da Faculdade deDireito do Largo São Francisco

prédio na década de 40

prédio na década de 50

prédio atual

O diploma de bacharel em Direito já não confere ao seudono respeitabilidade imediata e, muito menos, um lugar ao solneste tão difícil mercado de trabalho. O excesso de cursos jurídi-cos tornou fácil a entrada na universidade num país em que aqualidade do ensino público e privado vem sendo questionada,ao mesmo tempo em que o número de vagas tem se mostradoinsuficiente para atender à demanda crescente. As discussõessobre a reforma universitária criaram um cenário efervescente. Odebate é amplo e, aparadas as arestas, o ensino, não só o jurídi-co, terá que se adequar a padrões de qualidade e modernidade.

Vale lembrar que um bom ensino de base é fundamental:“O estudante, hoje, é um estudante mal formado, porque o ensi-no de base, o primeiro e o segundo graus são altamente deficitá-rios. Então, este aluno que chega a uma universidade - estoudizendo isso, inclusive, como professor há 28 anos -, chega muitodespreparado. Despreparado não só culturalmente, mas tambémcomo homem, como ser humano, como cidadão”, ressaltaRaimundo Cândido.

Tudo indica que dias melhores virão ou, como asseverouLúcia Massara: “Precisamos não nos deixar contaminar pela idéiade que toda a formação dos bacharéis em Direito no Brasil estádeficiente. As boas escolas continuam existindo e há também,certamente, bons cursos entre os que foram criados mais recen-temente. A sociedade hoje está muito aberta e existem mecanis-mos suficientes para que todos se informem onde estão as boasescolas”.

Font

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O mais recente cen-so do IBGE (Instituto Brasi-leiro de Geografia e Esta-tística) informa que91.851.656 milhões de bra-sileiros vivem com até doissalários-mínimos por mês.Para defender os direitosdessas pessoas, definidaspor lei como hipossuficien-tes ou, simplesmente, po-bres, o Estado conta com 94defensores públicos daUnião em todo o territórionacional. Em tese, cada umdesses defensores teriacomo clientes 977.145 milcidadãos – os quais, ao con-seguirem postular seus di-reitos, movimentariam umenorme contencioso federal.

Na outra ponta da linha, um time reforçadode oito mil servidores espalhados pelo Brasil (1.600advogados da União e 6.400 procuradores deautarquias e órgãos públicos) defende os interessesdo Estado - muitas vezes, como antagonista princi-pal dos hipossuficientes, em todas as instâncias fe-derais.

Dos 94 defensores públicos da União, 12 sãode categoria especial e atuam junto às cortes supe-riores; 11 de primeira categoria trabalham nos tri-

Defesa dos hipossuficientes. O antigo postulado já teve registro há dois mil anos na denúncia do poeta Ovídio:“os tribunais estão fechados para os pobres”. Hoje pertence ao rol dos direitos humanos universais. É letra viva nasconstituições e leis ordinárias modernas. No entanto, divide juristas em duas facções. De um lado, estão os queacreditam na regulação autônoma da sociedade civil, com a lógica de mercado acomodando as boas intenções deadvogados e estudantes dispostos a ocupar o espaço deixado pelo Poder Público, por meio da instituição dos núcleosde prática jurídica das escolas de Direito, das organizações não-governamentais de advocacia “pro bono” e da figurado advogado dativo. Do outro lado, estão aqueles que sustentam a visão institucional da defesa dos pobres, referen-dada por um fortalecimento das defensorias públicas. Nessa visão, a defesa dos carentes seria uma função públicaessencial, um compromisso de servidores de carreira, com toda a responsabilização civil e criminal inerentes àprestação de serviços governamentais. Leia-se: compromisso dos Defensores Públicos – que, no âmbito da União,não passam de 94 em todo o Brasil.

A estrutura da Defensoria Pública da União já nasceu tímida frente ao gigantismo das procuradorias dos órgãospúblicos. Hoje se encontra estrangulada pela crescente dívida social do Estado. Em Minas Gerais, existem seis cargosde defensor público da União: dois em Juiz de Fora e quatro em Belo Horizonte – dos quais apenas três estão providos.A reportagem da “Justiça em Revista” visitou o escritório do Núcleo da Defensoria Pública da União em Belo Horizontee conversou, em meio a 1.700 processos contabilizados nas primeiras semanas de março, com dois defensoresdisponíveis no Estado naquele momento – Sander Gomes Pereira Jr. e Daniel Castelo Branco Ramos.

bunais regionais federaise 71 pertencem à 2ª ca-tegoria, defendendo oshipossuficientes na pri-meira instância da justi-ça federal e na primeirae segunda instâncias dosJuizados Especiais Fede-rais. “São pouquíssimoscargos, principalmentese considerarmos a di-mensão dos outros ór-gãos envolvidos numadisputa judicial. Todosos órgãos federais eautarquias como a Cai-xa Econômica Federaldispõem de procuradori-as com um número sufi-ciente de profissionais,

com uma qualificação técnica das melhores e umsuporte administrativo bem razoável. O próprio Po-der Judiciário, a Justiça Federal, por exemplo, temuma estrutura forte” – avalia o defensor públicoSander, acrescentando com ironia que “aDefensoria da União é um chiuaua numa briga depitbulls”.

A situação da Defensoria Pública no Brasilchocou o Relator Especial da Comissão de Direi-tos Humanos das Nações Unidas (ONU) para aIndependência dos Juízes e Advogados, Leandro

Sander Gomes Pereira Jr.: “ A Defensoria daUnião é um chiuaua numa briga de pitbulls”

Quem defende a

DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO?

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Despouy. Durante doze dias no mês de outubro doano passado ele viajou pelo país, analisando o nos-so sistema judicial. O relatório final foi apresenta-do em Genebra, na Suíça, no início de abril desteano. Para o relator, a carência de juízes e a ausên-cia de defensorias públicas organizadas na Uniãoe nos estados são as duas maiores ameaças à cida-dania em nossa nação – uma afronta aos direitoshumanos. Três estados não tem defensorias públi-cas estaduais: Goiás, Santa Catarina e, surpreen-dentemente, São Paulo, onde está situado o centroeconômico e financeiro do país. Em Minas Gerais,a atenção dada à Defensoria Pública do Estado temavançado: foram nomeados no dia 31 de março160 novos defensores estaduais; embora o orça-mento destinado à unidade (35 milhões de reaispara 2005) seja conside-rado insuficiente.

Longos dezesseteanos se passaram desdeque se ousou definir a as-sistência jurídica comodireito inalienável econstitucional da parcelapobre da população. ADefensoria Pública daUnião foi criada pelaConstituição Federal de1988 - a Constituição Ci-dadã. Somente seis anosdepois ganhou organiza-ção formal pela Lei Com-plementar nº 80, de 12 dejaneiro de 1994. Foi im-plantada em caráteremergencial e provisórioatravés da Lei nº 9.020,de 30 de março de 1995.

Imaginou-se queela teria um perfil seme-lhante ao da Advocacia-Geral da União e ao doMinistério Público Federal. Ela deveria estardesvinculada dos três poderes da República - prer-rogativa dada pelo artigo 8º, inciso XIII, da citadaLei Complementar. Nascida para se constituir fun-ção essencial à justiça, subsiste hoje, no entanto,como mera instituição vinculada ao Ministério daJustiça. Seu órgão de cúpula, a Defensoria PúblicaGeral da União, está instalado no segundo andardo anexo ao prédio do MJ, sem orçamento próprioe sem gestão administrativa, financeira e de pes-soal.

Quem expõe o paradoxo é o Defensor Públi-co da União Daniel Castelo Branco Ramos: “A leigarante a autonomia e a independência no exercí-cio das funções de defensor público. Mas comogarantir isso, se nós litigamos contra o órgão quenos paga diretamente? Como a União irá proporci-

onar uma estrutura melhor ao órgão que irá litigarcontra ela?”.

A Emenda Constitucional nº 45/04, que tra-tou da reforma do Poder Judiciário e dareestruturação de funções essenciais à Justiça,avançou no tema quando dispôs, no parágrafo 2ºdo artigo 134, que “às defensorias públicas estadu-ais são asseguradas autonomia funcional e admi-nistrativa e a iniciativa de sua proposta orçamen-tária dentro dos limites estabelecidos na lei de di-retrizes orçamentárias e subordinação ao dispostono art. 99, § 2º”. Mas o legislador pecou pelo es-quecimento de conferir a mesma autonomia àDefensoria Pública da União.

Para sanar esse e outros problemas, os de-fensores do Núcleo deBelo Horizonte apostamna posse iminente deEduardo Flores Vieira,colega de sua geração,para o cargo de Defen-sor Público Geral daUnião (veja quadro“Dom Quixote à Brasilei-ra). A bandeira dadefensoria pública daUnião já é conhecida:“autonomia administrati-va e orçamentária e cri-ação de mais cargos” –fazem coro Daniel eSander. A União tem per-dido pessoas qualifica-das. Assiste-se à evasãoprogressiva do capital in-telectual. Em geral, os de-fensores da União procu-ram migrar para a magis-tratura. A carência de de-fensores é grande. Sandercalcula que seriam ne-cessários, somente em

Minas Gerais, de 30 a 40 defensores da União, paraque se desenvolvesse toda a potencialidade do ór-gão e se pudesse contribuir para melhorar a condi-ção de vida dos cidadãos mineiros hipossuficientes.

A Convenção Americana de Direitos Huma-nos (Pacto de San José da Costa Rica), que foi assi-nada em 1969 e entrou em vigor em 1978, refor-çando muitos enunciados da Declaração Ameri-cana de Direitos e Deveres do Homem, ratificou,em seu artigo 8º (das Garantias Judiciais), o “direi-to irrenunciável de ser assistido por um defensorproporcionado pelo Estado, remunerado ou não, se-gundo a legislação interna, se o acusado não sedefender ele próprio, nem nomear defensor dentrodo prazo estabelecido pela lei”. O Brasil, signatá-rio da Convenção, parece desconhecer esse com-promisso.

Daniel Castelo Branco Ramos: enfraquecimento dasdefensorias públicas significa uma violação aos direitosdo cidadão

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Os muitos ofícios de um defensor

Sander Gomes Pereira Jr. e Daniel Castelo BrancoRamos tem 31 e 30 anos, respectivamente. Ambos nasceramno mesmo dia: 11 de março. E as coincidências não param poraí: os dois foram servidores da Justiça Federal de PrimeiraInstância em Minas Gerais, fizeram o mesmo concurso públicopara o cargo de Defensor Público da União e foram nomeadosao mesmo tempo. Tomaram posse numa sessão solene noSuperior Tribunal de Justiça em 2001, cercados pelo vice-presidente da República e todos os ministros de Estado. Foram,no entanto, para regiões diferentes. Sander teria aresponsabilidade de aparelhar o Núcleo de Vitória e Daniel, oNúcleo de Curitiba. Passaram por um concurso difícil paraconquistar a vaga de Defensor Publico da União – onze milcandidatos para 84 vagas. Foram muitas horas de estudo pordia e noites insones, embaladas pelo entusiasmo em participarda organização de um órgão nascido sob a bandeira dacidadania. Logo perceberam que sua formação acadêmicaseria tão importante para a nova função quanto a suacapacidade de adaptação e de aprendizado de ofíciosartesanais. Para instalar os núcleos da Defensoria em Vitória eCuritiba, após a pompa e circunstância da posse no STJ, elestiveram que fazer de tudo: correr atrás de imóveis (as Defensoriasnão tinham sedes); foram ajudantes de pedreiro, marceneiro ecarpinteiro, lixaram paredes e montaram móveis. Sander hojeé o responsável administrativo pelo Núcleo de Minas Gerais.Seu colega Daniel Castelo Branco Ramos, após estruturar oNúcleo de Curitiba, agora se encontra na etapa de exame oraldo Concurso para Juiz Federal Substituto da Primeira Região,embora seja um dos mais entusiastas membros da DefensoriaPública da União.

“A violação dos direitos do cidadão estáacontecendo diariamente” – denuncia o defensorDaniel, tentando achar as bases filosóficas que ex-pliquem essa violação. “O direito é técnica, deci-são e dominação. A ordem jurídica, a Polis, é paraos abastados. O cidadão que não tem acesso à lin-guagem jurídica está à margem dessa ordem. Tor-na-se uma pessoa surda, cega e muda. É uma me-táfora de quem está fora desse universo, desse mun-do das idéias. Fora dessa Polis. Efetivamente não éuma pessoa, pois não exerce seu direito. Os ex-cluídos formam um mundo paralelo, como aconte-ce nas favelas. Por isso, a Defensoria Pública estáligada à prevenção da violência”. Daniel estra-nha a opção de se estruturar somente o aparelhorepressor do Estado, como as polícias – em espe-cial, a Polícia Federal - e não se investir minima-mente em instituições como a defensoria, cuja pro-posta é atuar na base da prevenção da violência.

Daniel também ressalta que o cidadão temdireito a cobrar do Poder Público a efetivação danorma de garantia do acesso à Justiça, com quali-dade. Acesso, aliás, que o defensor Daniel classi-fica como formal. Em sua opinião, o acesso à justi-ça, efetivo ou material, estaria ainda longe de acon-tecer em sua plenitude. Os defensores públicos daUnião em BH discutem as formas de assistênciagratuita não-oficiais e vêem com reservas a figura

do advogado dativo. Apesar de reconhecer queexistem bons advogados dativos, Sander vê a natu-reza da relação entre este e a parte como privado-contratual, ao passo que a relação entre ohipossuficiente e o defensor público é de naturezapúblico-funcional. Já Daniel aponta que a grandediferença estaria no comprometimento, na consti-tuição de um quadro por meio de concurso públi-co. “A Justiça é um tripé – acusação (MP), juiz edefesa. Esse tripé está manco. Vamos formar umacarreira, uma inteligência institucional” – conclama.“São direitos muito sérios que estão em jogo: direi-to à alimentação, à vida, à saúde, à liberdade. En-tão, tem que haver um órgão com responsabilida-de institucional. Por que eu tenho o Ministério Pú-blico para me acusar? Qualquer um de nós podevir a ser processado pela União. E eu não terei en-tão um órgão do Estado para me defender? Isso éum contra-senso”, reage Daniel.

Além de atuar em prol das pessoas carentes,a defensoria teria também a função de prestarcuradoria especial e defender revéis citados poredital. Na área criminal e nas curadorias, age deofício. A quantidade e a complexidade do trabalhorealizado na defensoria são enormes, mas a estru-tura do Núcleo em Belo Horizonte é mínima. Osdefensores contam com o auxílio de seis estagiári-os, pois não há um quadro próprio de servidores.No entender de Sander Gomes Pereira Jr., respon-sável administrativo pelo Núcleo de Belo Horizon-te, a carência principal hoje é de pessoal. Ele re-clama um aumento urgente do número de defenso-res e a criação de um quadro administrativo, inclu-indo um grupo de apoio técnico especializado. “Seeu demando contra a CEF pelos meus assistidos,recebo então uma planilha de evolução de saldodevedor de um financiamento. Para mim, é grego;eu tenho formação jurídica, e não formaçãocontábil. Não há como conferir esses cálculos. Equando a demanda é contra o INSS, este indica umassistente técnico, o juiz nomeia um perito - e eunão tenho como indicar assistente para perícia.Confiamos cegamente no Juízo, pois não temoscomo avaliar.”

Na fila dos Juizados Especiais FederaisUm problema importante levantado pelos

defensores: há uma enorme demanda reprimida naprimeira instância dos Juizados Especiais Federais,na contramão das previsões otimistas de que a po-pulação poderia ingressar nos JEF’s sem um advo-gado constituído. Os defensores denunciam errosnas atermações, casos em que as pessoas conse-guiriam o direito postulado, se no momento daatermação elas tivessem uma orientação melhor outivessem juntado as provas corretamente. “Falta odesenvolvimento de um raciocínio jurídico naatermação”, avalia Sander. A afirmação é corro-borada pela Coordenadora dos Juizados Especiais

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Dom Quixote à brasileira

No dia 9 de março, Eduardo Flores Vieira teve aprovada suaindicação para o cargo de Defensor Público Geral da União, coma unanimidade de votos dos 21 integrantes da Comissão deConstituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal. Durante aargüição pública, ganhou do senador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) otítulo de “Dom Quixote do Governo Federal”, por ter inúmeraspropostas para a Defensoria Pública da União e menos de 100defensores.

Os senadores foram sensíveis às bandeiras levantadas pelo futuroDefensor Público Geral da União – a autonomia orçamentária eadministrativa e a criação de mais cargos de defensor público daUnião. Sérgio Cabral e Romeu Tuma (PFL-SP) querem a formaçãode uma frente nacional em favor da defensoria da União. Já osenador José Jorge (PFL-PE) acredita que a Câmara deverá estendera autonomia da defensoria estadual à União e ao DF – esquecidosna EC 45/04.

O defensor público de 36 anos, que foi indicado pelo PresidenteLula e ganhou rasgados elogios dos senadores é um legítimorepresentante da nova geração de defensores – jovens que seencontram no auge do seu preparo técnico e ainda têm umarelação quase passional com a função que abraçaram. “O defensorpúblico é a voz do necessitado, mas o seu número é aindainsignificante diante da demanda que, segundo o IBGE, éatualmente de cerca de 92 milhões de carentes” – lembrou o novodirigente da instituição.

CHRISTIANNE CALLADO DE SOUZA

Federais em exercício, a juíza federal Rogéria Ma-ria Castro Debelli: “os atermadores, muitas vezes,não sabem adequar a demanda aos dispositivoslegais. A presença efetiva de um Defensor Públicoda União nos JEF’s contribuiria muito para que asatermações fossem mais bem fundamentadas.”

Sander informa que hoje o volume de açõesnos JEF’s acompanhadas pelos defensores não devechegar a um por cento. “Como somos apenas trêse fazemos de tudo, torna-se impossível elaborar-mos as petições iniciais para substituir asatermações do Juizado” – lamenta, destacando quea grande incidência de ações nos juizados refere-se a demandas de fundo de garantia por tempo deserviço e benefícios previdenciários diversos, tiposde demanda que geralmente provêm das pessoasmais pobres, justamente aquelas que deveriam re-ceber a assistência jurídica gratuita. Por isso, a pre-sença dos defensores nos Juizados deverá ser cadavez mais solicitada.

Casos memoráveisApesar das dificuldades, percebe-se nos de-

fensores a satisfação com o próprio trabalho. “Serdefensor público envolve uma grande dose de ide-alismo e responsabilidade, além de ser uma opçãopolítica. É gratificante a proximidade com as pes-soas defendidas. Aqui, consigo ver o fruto do meutrabalho. Eu não conheço, na área da advocaciapública, nenhum outro profissional que trabalhetanto e tenha causas tão complexas e diversas comoo defensor público, principalmente na União, emque somos poucos” – conclui Sander.

O defensor também tem que ousar e, comodiz Daniel, “usar de esperteza, para conseguir che-gar aos tribunais em condições de igualdade emrelação a outros órgãos”. Ousadia foi o instrumen-to do defensor Sander, ao conseguir uma antecipa-ção de tutela para prorrogar o visto do companhei-ro estrangeiro de um brasileiro homossexual po-bre. Sander comemora o desfecho favorável docaso, acontecido em fevereiro deste ano: “O Mi-nistério das Relações Exteriores prevê a possibili-dade de prorrogação do visto para a reunião fami-liar. Como eram dois homens, esse direito não es-tava sendo reconhecido; havia discriminação pelosexo. Mas conseguimos”.

Daniel também coleciona casos de audácia,nos quais foi preciso superar os limites impostos pelalei para fazer valer o direito de um hipossuficiente.Um dos casos deu origem à Súmula nº 5 da TurmaNacional de Uniformização dos JEF’s. Foi um dosprimeiros incidentes de uniformização: “A inten-

ção era garantir a contagem do tempo de serviçode um menor de 14 anos. Existe uma proibição le-gal para a contagem desse tempo. Mas a normaconstitucional que limita a idade para o trabalhoinfantil é feita com caráter protetivo; não pode serinterpretada em desfavor do menor. Então, entreicom incidente para a Turma Nacional de Unifor-mização e eles sumularam. É um dos casos dosquais me orgulho”, conta Daniel, abrindo um sorri-so que denuncia sua juventude. Logo volta à serie-dade e à preocupação para avisar: “há muito ain-da o que fazer, inclusive na área criminal. Vemoscasos de pessoas condenadas injustamente, defe-sas que poderiam ter sido bem feitas. Réus pobres,que poderiam ter tido o mesmo acesso a habeascorpus que os réus abastados”.

O que Sander Gomes Pereira Jr. e DanielCastelo Branco Ramos defendem neste momento éa abertura da discussão sobre a reestruturação daDefensoria Pública da União à sociedade – umaimportante discussão política a ser feita no âmbitodemocrático.

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Soldado e Cidadão

Juízes federais, como Reginaldo Márcio Pereira , ensinam no-ções de cidadania aos recrutas do Projeto Soldado Cidadão

Eles têm dezoito anos, variados sonhos e umaangústia: não sabem o que os espera quando o serviçomilitar obrigatório chegar ao fim. Durante doze meses,eles receberão um soldo de 153 reais por mês, alimenta-ção, uniforme e auxílio-transporte. Serão tratados com origor característico da caserna - amenizado, porém, poruma camaradagem familiar. Muitos desses jovens - re-crutas do Exército, Marinha e Aeronáutica brasileiros -vivem neste momento uma preocupante contradição:encontram-se incluídos numa organização social impor-tante, ao mesmo tempo em que engrossam as tristes es-tatísticas da pobreza e da marginalização de brasilei-ros. Segundo o último censo brasileiro (IBGE/2000), exis-tem 33 milhões de jovens entre 15 e 24 anos no Brasil.Trinta e dois por cento desse total vivem abaixo da linhade pobreza. São nove milhões de jovens vivendo comuma renda per capita inferior a 61 reais. Metade dessesjovens brasileiros encontra-se desempregada. Os que têmentre 18 e 21 anos - e conseguem trabalho - vivem outraespécie de aflição: não conseguem dar continuidade aum processo tardio de escolarização e irão contribuir,cedo ou tarde, para as estatísticas de desqualificação nomundo do emprego. Alguns desses jovens, ao se alista-rem nas fileiras das Forças Armadas, terão uma pausa deum ano na luta pelo primeiro emprego. Aproveitar esseintervalo para oferecer uma alternativa de inclusão so-cial aos recrutas das camadas mais pobres da populaçãoé o objetivo do Projeto Soldado Cidadão.

A Funceb – Fundação Cultural Exército Brasileiro– informa que o Projeto Soldado Cidadão teve início em2002, num desdobramento do antigo “Programa de Qua-lificação de Mão-de-Obra”. Em 2003, o governo brasi-leiro, através do Ministério do Trabalho e do Emprego edo Ministério da Defesa, com a colaboração das entida-des do Sistema “S” (SESC, SENAC, SENAI, SESI, SEBRAEe outras), assumiu a idéia. O Projeto foi associado aoPrograma Primeiro Emprego, do Governo Federal, ad-quirindo substancial verba e direcionamento como polí-tica social inclusiva de destaque. Atendeu, naquele ano,a 4.950 soldados no país.

Fruto de um esforço conjunto, em que não faltamum ressurgente apelo patriótico e a necessidade de serestaurar a esperança no futuro dos jovens brasileiros,ele ganhou a simpatia dos recrutas e de suas famílias etem ampla torcida entre autoridades e políticos. Os re-crutas – escolhidos entre os mais pobres e os mais próxi-mos do licenciamento do Exército - têm a chance de setornarem eletricistas, lanterneiros, garçons, cozinheiros,técnicos em informática e até, quem sabe,

microempresários. Ou seja, têm a oportunidade de con-quistar uma profissão e o senso de cidadania.

Em 2004, passaram pelo projeto 27 mil e 648 sol-dados. São oferecidos anualmente 102 cursos em todo opaís, nas áreas de comércio, indústria e turismo, alémdas aulas de formação de cidadania, aos jovens entre 18e 25 anos. A carga horária de cada turma é de 160 horase os cursos duram, em média, 20 dias.

No dia cinco de julho de 2004, a assinatura de umconvênio entre o Conselho da Justiça Federal e o Superi-or Tribunal de Justiça permitiu aos juízes federais de todoo Brasil a participação nesse mutirão. Foi introduzida noProjeto a unidade de ensino “Justiça: um passo para aCidadania”, cujo conteúdo básico contempla os princí-pios, a organização do Estado e os direitos e deveres es-tabelecidos na Constituição Federal. Uma equipe do CJFpreparou um material didático composto por apostila eplano de aula em slides, usados com suporte multimídia.Cento e cinqüenta e seis juízes federais voluntários parti-ciparam do Projeto nas cinco regiões da Justiça Federal,em cerca de 105 municípios, e receberam certificaçãoexpedida pelo Conselho da Justiça Federal.

Em 2004, 2.068 recrutas nas cidades mineiras deBelo Horizonte, Sete Lagoas, Juiz de Fora, Santos Dumont,São João del Rei, Araguari, Itajubá, Pouso Alegre eUberlândia aprenderam as noções de cidadania, atravésdas aulas ministradas pelos juízes da Justiça Federal noEstado.

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Quem são os juízes da Justiça Federal em MinasGerais participantes do Projeto Soldado Cidadão:

Alexandre Jorge Fontes LaranjeiraAndré Prado de VasconcelosCarlos Geraldo TeixeiraCarmen Elizângela Dias Moreira de ResendeCláudio José Coelho CostaDimis da Costa BragaGuilherme Fabiano J. de RezendeGuilherme Mendonça DoehlerMário Lúcio PereiraOsmar Vaz de Mello JúniorReginaldo Márcio PereiraSérgio Santos MeloSílvia Elena Petry Wieser

* em ordem alfabética

Juízes acreditam no Projeto

Juiz Federal Substituto Dimis da Costa Braga

“Atuar no Projeto Soldado Cidadão foi uma experiência muito interessante, por-que me permitiu participar mais ativamente da sociedade em que nós vivemos, aindaque o projeto atenda um grupo restrito. Foi importante saber que estou contribuindo paraa compreensão dos direitos que a Constituição nos assegura e do acesso à garantiadesses direitos - que é, exatamente, o Poder Judiciário.”

Juiz Federal Substituto Reginaldo Márcio Pereira“Participar do Projeto foi uma honra. Significa um estreitamento do Judi-

ciário com a sociedade. Na verdade, devemos muito a esses soldados, quedestinam um ano ou mais de suas vidas para o serviço militar obrigatório. Se oEstado tem essa força em determinada fase da vida dos jovens, o Estado e asociedade devem retribuir qualificando-os profissionalmente para o retorno àvida civil. Normalmente, eles ingressam sem uma base profissional e, ao ter-minarem o serviço militar obrigatório, só têm a formação de soldado. Isso vemsendo corrigido há alguns anos com esse projeto de grande alcance social.Com o Projeto Soldado Cidadão, esses jovens retornarão ao seio social comtodas as virtudes e atributos típicos da vida militar, com uma certa qualifica-ção profissional e até com uma imagem mais positiva, de uma aproximaçãomaior do Judiciário com as questões sociais”.

CHRISTIANNE CALLADO DE SOUZA

A equipe responsável pelo Projeto Soldado Cida-dão no Conselho da Justiça Federal está trabalhando, nestemomento, na avaliação detalhada dos primeiros resulta-dos da participação dos Tribunais Regionais Federais naparceria, mas já aponta efeitos positivos da empreitada.Na Justiça Federal de Minas Gerais, o juiz federal Dire-tor do Foro, Renato Martins Prates, lembra a importânciado trabalho dos juízes: “O Projeto Soldado Cidadão mar-ca a participação inteiramente voluntária dos juízes daJustiça Federal numa iniciativa de cunho social impor-tante. A adesão da Justiça Federal a esse projeto revelaa preocupação da instituição em estar mais próxima docidadão; em contribuir para a formação do soldado comopartícipe das instituições políticas do Brasil”.

Metas para este anoPara 2005, a previsão do Governo Federal é a de

oferecer treinamento a 50 mil soldados. Para isso, háreserva de recursos na ordem de 13,3 milhões de reais.Segundo a assessoria do Ministério do Trabalho e Empre-go, a expectativa é de que, até 2006, 100 mil recrutastenham passado pelos cursos profissionalizantes que in-tegram o projeto. Também serão atendidos cerca de 9mil soldados incorporados ao Exército no ano passado,que se inscreveram no Projeto, mas não puderam partici-par em razão do excesso de demanda. Juízes federaisestarão ministrando as aulas de cidadania para esse con-tingente no período de 23 a 31 de maio. A temporada de2005 terá início a partir do segundo semestre e atenderá

aos convocados incorporados neste ano e militares tem-porários previstos para desmobilização este ano.

Entretanto, para atingir a meta de treinamento emnoções de cidadania, o “Soldado Cidadão” precisa daadesão dos magistrados. As informações sobre a partici-pação dos juízes e sobre o material de apoio podem serobtidas na página eletrônica do Conselho da Justiça Fe-deral – www.cjf.gov.br - e na Diretoria do Foro da JustiçaFederal em Minas Gerais, pelos telefones (031) 2129-6440/6340.

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A desumanidade em debate no Seminário de Direitos Humanos

Aconteceu em Belo Horizonte, nos dias 18 e 19 de abril, oSeminário de Direitos Humanos. Coube à Justiça Federal e àAssociação dos Juízes Federais de Minas Gerais – Ajufemg – afeliz iniciativa de trazer ao debate público temas viscerais queabalam as estruturas legais dos direitos humanos. A presençade palestrantes, verdadeiras autoridades nos assuntos de cu-nho social, abrilhantou o evento, embora as cores do painel darealidade brasileira sejam sombrias e tristes. O ministro-chefeda Secretaria Especial dos Direitos Humanos Nilmário Mirandaabriu os trabalhos do seminário que foi dirigido principalmenteaos operadores de direito, formadores de opinião, jovens, estu-dantes, juízes e procuradores. A luta pelos direitos da criança edos adolescentes, o combate à tortura defendido pelo deputa-do Durval Ângelo, o trabalho de entidades como a Acat - Asso-ciação Cristã de Combate à Tortura, o comovente relato da ongMédicos Sem Fronteiras, a revolta contra o trabalho escravo etodas as discussões sobre os graves problemas sociais servirampara ilustrar um Brasil de dor e sofrimento, mas também de lutae de boa vontade.

O que restou nos presentes foi a incômoda e pertinentesensação de que não é possível cruzar os braços diante dotrabalho de construir um mundo melhor. A conclusão maisinevitável e talvez óbvia é a de que a sociedade e o Estadobrasileiro ainda patinam na democracia. Existe no Brasil umadistância abismal entre o direito proclamado e o direito realiza-do, como afirmou o Desembargador Federal Carlos FernandoMathias. A pergunta crucial que ficou de “dever de casa” paraos presentes foi a que ele mesmo fez ao fim do seminário: “Eagora, o que fazer?” Como a sociedade e os representantes dospoderes públicos podem contribuir para colorir o cenário soci-al com tintas mais vibrantes? Os trabalhos e projetos de juízes edesembargadores federais como os de Gláucia Falsarelli, SeleneMaria de Almeida e de Wladimir Passos de Freitas, apresenta-dos durante o seminário, são exemplos de respostas a essasquestões.

A exibição do filme Juizado Itinerante no Tocantis

revelou uma preocupação revolucionária. O filme mostrou aface de uma Justiça que não se contenta mais com os limites deseus gabinetes. Vemos uma Justiça dinâmica que literalmentecaminha em direção aos excluídos. O caminho da luta pelacidadania e o acesso à justiça é difícil, repleto de obstáculos,mas a nova paisagem que se configura com a inclusão social,surpreende e conforta a consciência dos que se aventuram poressas trilhas. O Juiz Federal Diretor do Foro da Seção Judiciáriade Minas Gerais, Renato Martins Prates, acredita que o Seminá-rio cumpriu seu objetivo - que foi o de sensibilizar os operado-res do direito para temas cotidianos e aflitivos que ferem demorte os direitos humanos. “O debate emocionou e contribuiupara desenvolver mais ainda nossa preocupação em torno dosexcluídos” - comentou o diretor do foro. Todos saíram com acerteza de que o principal desafio do homem é o de construiruma sociedade que não se envergonhe de sua história. Umasociedade ética onde a inteligência prevaleça sobre a força.

AGENITA AMENO

Ministro Nilmário Miranda, o diretor do foro Renato Martins Prates eo presidente da AJUFEMG José Carlos Machado Jr. enfatizaram aimportância dos movimentos sociais em defesa dos direitos humanos

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A REFORMA DO JUDICIÁRIO E A QUARENTENA DOS JUÍZES

As gerações mais novas não acompanha-ram, de perto, a epopéia da conquista da Lua edos heróicos e pioneiros astronautas que puseramos pés no satélite, filho único, ou, se preferirmos,filha única do planeta Terra. Mesmo os mais jo-vens têm, contudo, conhecimento, ainda que nãocontemporâneo, daqueles históricos feitos quereeditaram, em tempos modernos, a saga das gran-des navegações.

Das aventuras lunares, pretendo aqui ape-nas relembrar o momento em que os navegadoressiderais, retornando a este planeta, cobertos deglória, sujeitavam-se a compulsório período de iso-lamento e reclusão: a quarentena.

Certamente a quarentena dos astronautasnão foi a primeira da história. Muitas foram as ve-zes em que antes se tomou a providência de se-gregar, por algum tempo, viajantes a terras distan-tes, evitando-se a propagação de doenças conta-giosas.

Justificável e razoável a providência, em fa-vor da saúde pública, de se isolar pessoas e evitaro contágio e a propagação de microorganismos,terrestres ou extraterrestres.

Quarentena, em princípio - é fácil de se per-ceber - seria um período de quarenta dias. Mas como uso da palavra ela se desgarrou deste marco tem-poral, de sua origem etimológica e passou a evocartoda segregação, separação ou isolamento, “adcautelam”, por período maior ou menor do que osquarenta dias.

Neste sentido, o termo foi incorporado pelalinguagem jurídica, para designar, por exemplo, olapso temporal em que os diretores do Banco Cen-tral devem se afastar da atuação no mercado finan-ceiro, após o exercício do cargo. Ou, agora, paranomear o período, de três anos, em que os magis-trados ficam proibidos de exercer, no juízo ou tri-bunal do qual se afastaram, por aposentadoria ouexoneração, a advocacia (artigo 95, V, da Consti-tuição Federal, com a redação da Emenda Consti-tucional nº45 /2004).

A inovação, inserida no bojo da Reforma doJudiciário, evidentemente não se inclui entre seuspontos centrais. Mas bem ilustra um conjunto demedidas que, introduzidas na Constituição em nomeda agilidade e da moralidade, revelam-se, no míni-mo, inócuas, quando não, como é o caso,discriminatórias e retrógradas.

123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456Ar t igoAr t igoAr t igoAr t igoAr t igo

* Renato Martins Prates

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Qual o sentido da nova restrição aos magis-trados?

Não possuem os juízes, ao lidar com proces-sos que, com raras exceções, são públicos, infor-mações privilegiadas, como aquelas possuídas pordirigentes do Banco Central. Aliás, o princípio dapublicidade encontra-se agora proclamado comtodas as letras na nova redação da Constituição:“todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciá-rio serão públicos, e fundamentadas todas as deci-sões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar apresença, em determinados atos, às próprias par-tes e a seus advogados, ou somente a estes, emcasos nos quais a preservação do direito à intimi-dade do interessado no sigilo não prejudique o in-teresse público à informação”.

É natural que não possam os juízes advogar,enquanto no exercício da jurisdição. Mas não setrata de um princípio assim tão universal. Na In-glaterra, existem juízes de meio horário, que ad-vogam um período e julgam em outro (evidente-mente não julgam os mesmos processos em queadvogam). E nem por isto se pode dizer corrompi-da a magistratura inglesa.

Aqui mesmo, entre nós, pode-se lembrar oexemplo da Justiça Eleitoral, em que são convoca-dos para o Tribunal Superior Eleitoral e TribunaisRegionais Eleitorais juristas, que são advogados enão deixam de sê-lo, enquanto no exercício damagistratura eleitoral.

É natural que se consigne, na legislação or-dinária, o impedimento relativamente àquele queexerceu a magistratura, que advogue em proces-sos em que instruiu ou julgou como juiz, da mesmaforma que se impede ao juiz que julgue processosem que atuara como advogado (CPC, art. 134) Masisto nada tem a ver com a quarentena.

Menos mal que a restrição não seja absolutae se refira apenas aos Juízos e Tribunais em quehajam os magistrados atuado. Ainda assim, não sejustifica, no tocante aos processos em que tal atua-ção não ocorreu.

A familiaridade ou mesmo a amizade do ad-vogado que antes foi juiz com servidores ou os atu-ais magistrados não constitui motivo suficiente paraafastar o juiz da jurisdição ou o advogado de seuofício. Amizade, coleguismo ou companheirismo

podem haver, e não raro de fato existem, entrejuiz e advogado, o que não é razão para tê-los comosuspeitos ou impedidos.

Não se lembrou o constituinte derivado, apropósito, da sábia lição de CALAMANDREI:

“A amizade pessoal entre o juiz e o advoga-do não é, ao contrário do que julgam os profanos,um elemento que possa ser útil ao cliente, pois se ojuiz é escrupuloso, tem tanto medo que a amizadepossa inconscientemente levá-lo a ser parcial afavor do amigo , que é naturalmente levado, porreação, a ser injusto contra ele.

Para um juiz honesto, que tenha de decidiruma causa entre um amigo e um indiferente, é pre-ciso maior força para dar razão ao amigo do quepara lha negar; é preciso maior coragem para serjusto, arriscando-se a parecer injusto, do que paraser injusto, ainda que fiquem salvas as aparênciasda justiça”. (“Eles, os Juízes, vistos por nós, os ad-vogados”, 7ª. Ed. Lisboa, Livraria Clássica Editora,s/d, p. 159).

CALAMANDREI tomou, como padrão, o juizhonesto. Na Emenda Constitucional nº45, ao con-trário, todos os controles e impedimentos parecemindicar que os parlamentares consideraram comoparadigma o juiz, em exercício ou já aposentado,desonesto, inescrupuloso. Este, contudo, saberáusar de subterfúgios para driblar a quarentena quea Reforma do Judiciário consagrou.

* Renato Martins Prates,Juiz Federal Diretor do Foro,

e Titular da 8ª Vara da JustiçaFederal em Minas Gerais.

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em

FAST FOOD e PSICANÁLISE

tro de consciência e racionalidade. Ao pesquisar profun-damente o universo mental, construiu o que se denomi-na aparelho psíquico, formado por instâncias que repre-sentam os afetos, os impulsos, as emoções e a adequa-ção /inadequação dessas manifestações à realidade. So-mos regidos por forças que pertencem ao inconsciente,instância que nos determina, saber que não se sabe, masque produz efeitos. São marcas, restos, traços de memó-ria fragmentados que se apresentam em suas formações– sonhos, enganos, atos falhos, tropeços de linguagem.Quem nunca se enganou diante de uma fala? Quem nuncasonhou coisas estranhas, aparentemente incompreensí-veis? O inconsciente, essa instância determinante, retirado sujeito as certezas absolutas, as verdades ditadas defora. Não somos quem pensamos que somos. Há sempreum não-saber que provoca buscas e indagações.

A operação de constituição de um sujeito supõe atransformação de um bichinho de carne em homem oumulher. Essa operação não segue as leis da natureza,pois, enquanto nossos irmãos mamíferos já nascem pron-tos e assim permanecem ao longo de sua vida, o bichi-nho humano nasce desamparado, dependente, absoluta-mente entregue aos cuidados de um outro. Esse outro –mãe – terá a função de pavimentar a “estrada da vida”,por meio do seu corpo, de suas palavras, do seu afeto. Éesse outro que possibilitará os primeiros contatos e a pri-meiras trocas com o mundo. O choro do bebê, ao sertraduzido pela mãe, vai sendo decodificado e tomandosentido, permitindo assim a construção de um código geral- a linguagem. Nesse momento, já se vislumbra a pre-sença de um outro além da mãe: o pai, que tem porfunção operar a separação criança/mãe, a partir do esta-belecimento de uma lei, necessária à constituição dessesujeito que está por vir.

Esse breve relato descreve o processo de passa-gem de uma relação “natural”, marcada pela necessida-de, para uma relação intermediada pela linguagem.Estamos no terreno do simbólico, da lei, das representa-ções. Estamos no terreno do desejo. “A gente não quer sócomida”, diz o verso de Arnaldo Antunes. O desejo faz ohomem ir além da necessidade, em um movimento debusca incessante.

* Mônica de Almeida Belisário

Uma das características dos meios de comunica-ção de massa – a famosa mídia- é ditar as novidades domomento nos diversos aspectos da vida social. A cadaestação, um lançamento novo define os parâmetros debeleza (as musas da temporada), da moda (as tendênci-as, o que se deve usar) e, especialmente, os parâmetrosde comportamento. É a mídia instrumento poderoso dedeterminação do que se deve gostar, usar, como agir.Estamos tão imersos nessas determinações que raramen-te nos perguntamos a quem obedecemos, que padrãoestamos seguindo, como estamos nos posicionando dian-te de questões que nos inquietam e nos provocam dúvi-das e incertezas.

Esses parâmetros que, de tão visíveis tornam-seinvisíveis, funcionam como imperativos que nos fazemseguir sem refletir. É o excesso que transborda do pote desaberes e verdades, rapidamente absorvidos pela massa,alvo preferencial do marketing midiático. E se pensamosem marketing, estamos diante do que se pode vender.Essa a idéia disseminada: tudo pode ser vendido, logo,tudo pode ser comprado.

Enquanto lidamos com o mundo da moda e dosobjetos de consumo, essa lógica é comprovadamenteeficaz. No entanto, ao atravessarmos a massa e nos de-pararmos com o indivíduo, com o particular de cada um,entramos num terreno delicado. É aqui que o sujeito hu-mano, diferenciado, marcado pela linguagem e pelo de-sejo, encon- tra-se absolutamente único em sua consti-

tuição. Aqui, as regras que se pre-tendem universais não encon-

tram eco, pois, se cada su-jeito é um, algo de particu-lar passa por sua história ea generalização já não temlugar.

O que nos amparanessa visão é a proposta de

constituição psíquica de umsujeito, exaustivamente desen-

volvida por Freud, o fundador daPsicanálise. Freud, segundo suas

pa- lavras, deslocou do homem seu cen-

12345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456Ar t igoAr t igoAr t igoAr t igoAr t igo

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em

* Mônica de Almeida Belisário,psicóloga-perita do Pro-social da

Justiça Federal em Minas Gerais.Psicanalista membro do Aleph –

Escola de Psicanálise - BH

E a mídia?

A difusão da informação em tempo real, princi-palmente pela via da internet, nos torna absolutamenteimpotentes diante de tanto saber e de tanta ciência. Onúmero de trabalhos científicos publicados anualmente,em qualquer especialidade, ultrapassa a capacidade hu-mana de acesso a um mínimo desse material. Estamosdiante de um impossível saber, logo, estamos no lugarda insuficiência.

Lançando no mercado um novo saber a cada esta-ção, a mídia divulga a boa forma de ser, de amar, decriar os filhos, enfim, a boa forma de viver. As receitassão inúmeras e as regras nos chegam como algo absolu-tamente novo e infalível. No campo das relações huma-nas, o terreno é demasiadamente fértil, pois, ao se deter-minar a melhor forma de se viver, o que escapa dessepadrão passa a ser considerado “defeituoso”.Freqüentemente, deparamos com mães que, diante deuma pirraça infantil, procuram o psicólogo para “apren-derem” como agir. Esse fenômeno reflete a sensação deinsuficiência experimentada atualmente pelos pais di-ante da tarefa ancestral de criação dos filhos. Igualmen-te nas relações amorosas os manuais se multiplicam,como se fosse possível teorizar o mistério que ronda oobjeto do desejo...

Por outro lado, se tudo pode ser comprado, o ritmofast food parece contaminar corações e mentes. O que édesejado deve ser rápido e eficaz; se não se tem tempopara os acontecimentos da vida, há que acelerar o pro-cesso. Escutamos relatos de jovens que ilustram esseimperativo: “perdi uma tia, fiquei triste, passei a tomarantidepressivos”. Lançar mão do recurso químico paraqualquer evento que provoque tristeza, chega a ser as-sustador! O que fazer diante de uma perda, como elabo-rar esse luto, deixam de ser questões da existência hu-mana para se tornarem incômodos rapidamente corrigíveiscom os aditivos disponíveis no mercado. Note-se que nãoestamos falando de patologias mentais, para as quais autilização de psicofármacos tem sido de extrema impor-tância, e o desenvolvimento dessa tecnologia tem con-tribuído sobremaneira para a melhoria das condições devida dos chamados doentes mentais. Falamos da “estú-pida e inefável condição humana”, seus acontecimentostriviais, suas surpresas, seus desafios. A lógica fast foodpretende evitar esses acontecimentos, impedir a experi-ência e, assim, transformar o sujeito singular em efeitoquímico, ausente de seus próprios anseios, impotente di-ante de qualquer tomada de decisão. Pretende evitar avida. Com o aditivo, a dupla frase “estou deprimido/es-tou bem” passa a ser medida pelas doses adquiridas des-se ou daquele medicamento. E os sintomas alcançam tal

amplitude que torna-se quase impossível um pacientenão se enquadrar em algumas das características enu-meradas para a definição do diagnóstico. É interessantetambém ressaltar que a prescrição dos psicofármacos ul-trapassou em muito a competência dos psiquiatras, atin-gindo um grande número de profissionais médicos.

A psicanálise se propõe enfrentar essas questões:o que fazer diante do amor, do ódio, do sofrimento? Sabi-amente, Freud reverencia os poetas, que sabem expres-sar o impossível da dor, da felicidade, do sublime desdetempos imemoriais. Por acaso algum manual seria supe-rior ao que nos diz Shakespeare sobre o amor, o ódio, atraição? Ou à estratégia de Penélope, diante da esperado amado (Ulisses), que nunca chega? Trabalhar as ques-tões humanas de forma profunda e respeitosa faz do psi-canalista um operário do desejo, submetido às leis doinconsciente e, portanto, sem respostas a priori para quais-quer conflitos que lhe sejam apresentados.

Estamos vivendo um tempo de respostas. O saberconstituído se fragmenta nas normas de conduta. O queé inerente ao sujeito - conflitos, angústias, o não-sabersobre o impossível, sexo e morte – passa a ser classifica-do como transtorno e, portanto, passível de ser medica-do. À psicanálise interessa a construção de um saber queleve em conta a história particular de um sujeito, deter-minada pelo inconsciente. Na escuta de cada um, asfixações, os sintomas e as crenças (fantasias) vão-se des-fazendo, permitindo, assim, a emergência de escolhasque possibilitem a aproximação do desejo. Esse é umtrabalho do sujeito, catalisado pela presença do analis-ta, que passa a ocupar o lugar de um objeto, destinatáriodos afetos e conflitos advindos desse sujeito. Ao analistanão cabe o lugar de mestre ou de detentor do saber.

Se fosse possível a definição de um objetivo paraa psicanálise, poderíamos propor: que cada um construaseus mecanismos diante da vida, para que esta seja trans-formada em algo digno desse nome.

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em

PATOS DE MINAS

POUSO ALEGREVARGINHASÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO

PASSOS

Novas Varas FederaisInteriorização da JAVANÇA EM

Um convênio assinado no dia 17de março entre a Diretoria doForo e a Prefeitura Municipal ga-rante a estrutura necessária à im-plantação da vara federal na ci-dade. A Caixa Econômica Fede-ral apóia a instalação e pode atémesmo ceder um prédio para abri-gar a sede.

“Padrinho”: Juiz FederalAndré Prado de

Vasconcelos

DIVINÓPOLIS

Área: 396 Km2

População: 119.760 hab.Nº de Empresas na região: 3.000Atividade econômica predominante:Comércio, Prestação de Serviços.Nº de Idosos: 12.164Agências Bancárias: 9Nº de processos de competência federalna comarca: 3.457

A Prefeitura Municipal está cooperan-do amplamente com a Justiça Federalnas providências de implantação davara na cidade. Já foi disponibilizadoum imóvel com área suficiente parareceber a Subseção Judiciária.Área: 544 Km2

População: 119.572 hab.Nº de Empresas na região: 4.062Atividade econômica predominante:Comércio, Agricultura, Indústrias de Trans-formação.Nº de Idosos: 9.516Agências Bancárias: 9Nº de processos de competência federal nacomarca: 3.400

A cidade terá duas varas fe-derais – que, numa segundafase, contarão com umjuizado especial federal ad-junto. O juiz federal Eduar-do José Corrêa ressalta o em-penho da Prefeitura Munici-pal para uma rápida implan-tação. Em março deste ano,o magistrado esteve no localcom o diretor do foro e umaequipe da secretaria admi-nistrativa da Seção Judiciária de Minas Geraispara avaliação de quatro imóveis. Dois deles es-tão em ótimas condições para abrigar as novasvaras.Área: 726 Km2

População: 200.636 hab.Nº de Empresas na região: 11.624Atividade econômica predominante: Comércio e Prestaçãode Serviços,Indústria de Confecção.Nº de Idosos: 15.488Agências Bancárias:10Nº de processos de competência federal na comarca: 5.656

As lideranças políticas da cidade estão cooperando para a ins-talação. O Engenheiro da Seccional de Minas Gerais, LucianoAdjafre, esteve na cidade e vistoriou o imóvel cedido pela Pre-feitura para receber a futura vara federal.Área: 3.189 Km2

População: 134.622 hab.Nº de Empresas na região: 6.073Atividade econômica predominante: Agropecuária, Prestação de Serviços.Nº de Idosos: 15.394Agências Bancárias: 11Nº de processos na comarca de competência federal: 1.921

Uma das melhores localizações para a vara fede-ral já está garantida: a Prefeitura Municipal estácolocando à disposição da Justiça um prédio novo,no centro da cidade. As equipes da engenharia einformática do TRF-1ª Região e desta Seccional jáestiveram no local e elaboraram o projeto que apon-ta as adaptações necessárias. A previsão é de queesta vara comece a funcionar ainda neste semes-tre.Área: 822 Km2

População: 63.097 hab.Nº de Empresas na região: 2.857Atividade econômica predominante: Agricultura, Comércio,ImóveisNº de Idosos: 5.086Agências Bancárias: 6Nº de processos de competência federal na comarca: 1.646

Passos foi o primeiro município a rece-ber uma das 14 Varas Federais previstaspela Lei 10.772/04 para o Estado de Mi-nas Gerais. No dia 29 de março, a VaraÚnica e a Subseção Judiciária de Passoscomeçaram seus trabalhos em torno dos1.000 processos recebidos da Subseçãode Uberaba e os 3.800 de competênciafederal, advindos da comarca estadual dacidade. No dia 15 de abril, a festa deinauguração do novo foro marcou a ar-rancada da interiorização da Justiça Fe-deral no estado – obra vultosa capitanea-da pelo presidente do Tribunal Regional Federal da PrimeiraRegião, desembargador federal Aloísio Palmeira Lima e pelo JuizFederal Diretor do Foro da Seccional mineira, Renato MartinsPrates. O juiz federal André Prado de Vasconcelos, que estáexercendo provisoriamente a titularidade da vara e a coordena-ção da Subseção Judiciária de Passos, foi um dos responsáveispelo pioneirismo do município, ao lado da prefeitura da cidade,OAB e Caixa Econômica Federal.Área: 1.339 Km2

População:103.670 hab.Nº de Empresas na região: 4.645Atividade econômica predominante: Agropecuária e Comércio.Nº de Idosos: 9.632Agências Bancárias: 8Nº de processos de competência federal na comarca: 3.800

“Padrinho”: Juiz FederalEduardo José Corrêa

No dia 23 de fevereiro deste ano, uma reunião convocadapelo presidente do TRF/1ª Reg., desembargador AloísioPalmeira Lima, congregando autoridades do Tribunal, oDiretor do Foro da JFMG, o presidente da AJUFEMG (As-sociação dos Juízes Federais em Minas Gerais) e prefei-tos das cidades mineiras resultou no compromisso daimplantação das 14 varas em Minas ainda este ano. Di-versos juízes federais se dispuseram a cooperar com aDiretoria do Foro, nos contatos com as prefeituras e prin-cipais entidades nos 12 municípios mineiros, para asse-gurar os imóveis e os recursos humanos e materiais paraa empreitada. Tornaram-se os “padrinhos” de algumasdas novas subseções judiciárias. Os grandes desafios sãode ordem técnica, vinculados aos recursos de informáticae às adaptações das edificações. Na sede da Seção Judi-ciária, servidores dobram turnos de trabalho e preparamo arcabouço administrativo para apoiar os serviços dasnovas unidades. Um verdadeiro mutirão para cumprir ameta fixada pelo presidente do TRF/1ª Região: a realiza-ção do ideal de levar cidadania ao interior de Minas Ge-rais, até o final do ano de 2005. O estado terá então 44varas e 12 Subseções Judiciárias, todas funcionando comjuizados especiais federais. Confira nesta matéria os tra-balhos em cada município.

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em

GOVERNADORVALADARES

IPATINGA

SETE LAGOASSÃO JOÃO DEL REI

LAVRAS

MONTES CLAROS

“Padrinho”: Juiz FederalItelmar Raydan

Evangelista

“Padrinho”: Juiz FederalWeliton Militão dos

Santos

Prefeitura Municipal, Universidade Estadual e di-versas associações de classe mobilizam-se para ainstalação do foro federal – que, segundo previsãoda Juíza Federal Maria Edna Fagundes Veloso, jánascerá assoberbado pelo grande volume de exe-cuções e feitos previdenciários que estão na com-petência da Justiça Estadual. A FIEMG-Norte de Mi-nas ajudou na escolha do prédio para a sede, jávistoriado pela equipe de engenharia do TRF/1ª Reg.Área: 3.582 Km2

População: 336.132 hab.Nº de Empresas na região: 11.137Atividade econômica predominante: Comércio, Indústria deTransformação, Atividades ImobiliáriasNº de Idosos: 24.526Agências Bancárias: 13Nº de processos de competência federal na comarca: 8.821

“Madrinha”: JuízaFederal Maria Edna

Fagundes Veloso

O juiz federal Itelmar RaydanEvangelista e o diretor do forobuscam junto à Prefeitura Mu-nicipal o apoio à Seccional deMinas, para viabilizar a che-gada da Justiça Federal na ci-dade. Também a Caixa Econô-mica Federal colabora na pro-cura de imóveis para a instala-ção das duas Varas Federaisprevistas para GovernadorValadares. Na opinião do JuizItelmar, a região está crescen-do e a presença da Justiça Fe-deral contribuirá paraincrementar esse crescimento.Área: 2.348 Km2

População: 255.651 hab.Nº de Empresas na região: 9.460Atividade econômica predominante:Agropecuária e Comércio de Pedras Preciosas.Nº de Idosos: 21.426Agências Bancárias: 14Nº de processos de competência federal nacomarca: 2.964

“Madrinha”: JuízaFederal Carmen

Elizângela Dias Moreira

“Madrinha”: JuízaFederal Rogéria Maria

Castro Debelli

Para a juíza federal Rogéria Maria de Castro Debelli,a vara irá nascer com o prognóstico de grande mo-

vimento por ser Ipatinga uma cidade-pólo, com amplo parque industrial ecom muitas cidades de porte econô-mico expressivo ao seu redor. A juízafederal Carmen Elizângela DiasMoreira, que também auxilia na insta-lação da vara de Ipatinga, acredita queseria interessante se o juizado especi-al federal fosse inaugurado simultane-amente com a vara.Área: 166 Km2

População: 229.133 hab.Nº de Empresas na região: 9.597Atividade econômica predominante:Siderurgia, ComércioNº de Idosos: 17.617Agências Bancárias: 16Nº de processos de competência federal nacomarca: 2.826

Segundo o juiz fede-ral Weliton Militãodos Santos, desde1988 a cidade lutapara conseguirsediar uma vara fe-deral. Estima-se quea prefeitura nãomedirá esforçospara ofertar os re-cursos materiais ehumanos necessári-os à concretizaçãodesse antigo anseio.Área: 537 Km2

População: 205.833 hab.Nº de Empresas na região: 10.078Atividade econômica predominante:Indústria têxtil,cerâmica,auto-peças ecalcinação.Nº de Idosos: 16.549Agências Bancárias: 12Nº de processos de competência federalna comarca: 6.015

“Padrinho”: Juiz FederalDimis da Costa Braga

Também nesta cidade as li-deranças municipais sinali-zaram expressivo apoio àimplantação da SubseçãoJudiciária na cidade. Na opi-nião do Juiz Federal Dimisda Costa Braga, a Vara Fe-deral já nascerá com umgrande volume de proces-sos.Área:1.464 Km2

População: 81.627 hab.População economicamenteativa: 50.192 hab.Nº de Empresas na região: 3.397Atividade econômica predominante:Indústria de Transformação, Agropecuária,ComércioNº de Idosos: 7.549Agências Bancárias: 6Nº de processos de competência federal nacomarca: 1.110

Um dos maiores obstáculos à im-plantação foi vencido: a Prefeitu-ra de Lavras cedeu o imóvel paraa futura sede da vara federal, quejá foi vistoriado pela Divisão deEngenharia do TRF/1ª Reg.Área: 565 Km2

População: 85.380 hab.Nº de Empresas na região: 2.960Atividade econômica predominante:Comércio,Turismo e Cultura.Nº de Idosos: 5.614Agências Bancárias: 7Nº de processos de competência federalna comarca: 594

da Justiça FederalEM MINAS

CHRISTIANNE CALLADO DE SOUZAMÁRCIA DIAS PEREIRA

CARLA COSTA POPPEFERNANDA CASTRO DE OLIVEIRA

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AJUFEMG LUTA PELA INTEGRAÇÃO

- Quais são os planos da nova diretoria da AJUFEMGpara 2005?

Juiz José Carlos - No plano externo, temos quatro grandes traba-lhos: em primeiro lugar, acompanhar a interiorização da justiçafederal em Minas Gerais, de forma que seja o mais rápido, o maiságil possível - sem comprometer a prestação jurisdicional e aeficiência dos trabalhos. Estamos já trabalhando nisso. Em se-gundo lugar, efetivar a implantação das turmas descentraliza-das, que é uma previsão da emenda constitucional nº 45/04.Pretendemos que em Minas sejam instaladas pelo menos duasturmas descentralizadas. Em terceiro lugar, mais turmas recursaispara o estado: há um projeto que prevê três turmas recursaispara Minas – e nós achamos que essa previsão é tímida, peque-na. Hoje aqui em Minas nós precisaríamos de pelo menos cincoturmas recursais, porque o número de processos nos juizadosespeciais federais em Minas é muito maior do que nos outrosestados. E, por fim, temos um outro projeto que precisamosretomar, com muita tranqüilidade, que é o da sede para a nossaSeccional. Algumas tentativas já foram feitas; tivemos percalçosrecentes e problemas os mais variados, mas essa é uma conver-sa que precisa ser retomada. São esses os quatro projetos urgen-tes, no plano externo. No plano interno, fazendo jus ao nome dachapa “Integração”, estamos criando mecanismos para integrare aproximar os colegas. Para isso valem todas as atividades soci-ais e culturais. Fizemos uma parceria com a Diretoria do Foropara organizar o Seminário de Direitos Humanos, realizado emabril. Em maio e junho, faremos um seminário sobre lavagem dedinheiro - sem prejuízo de outros pequenos eventos, como ummini-curso ministrado pela Bolsa de Valores sobre o mercadode ações, dentro do programa “A Bolsa vai ao Judiciário”. Estessão exemplos de iniciativas de alcance geral, com esse objetivode aproximar os colegas. E ainda na área social, tivemos osprimeiros contatos para viabilizar um Plano de Previdência. Játemos um plano com a Caixa Econômica Federal, mas a Amagis(Associação dos Magistrados Mineiros) tem um projeto de planode previdência aprovado no Banco do Brasil. Já começamos aconversar com a Amagis, para que nós possamos integrar, sequisermos, esse plano de previdência. Uma outra integraçãoque nos interessa é com as associações, para que possamos terum plano de saúde, pois não teríamos patrimônio suficientepara que um plano de saúde nosso fosse aprovado. Mas pode-mos nos associar ao plano de saúde da Amagis, ou da Associa-ção do Ministério Público Federal ou de outra associação dejuízes. São bons planos. Para que isso aconteça, é necessárioque eles nos aceitem como associados, fazendo algumas pe-quenas mudanças. Já estamos conversando com a Amagis nes-se sentido.

- Fale mais sobre o Seminário de Direitos Humanos,

como foi essa iniciativa, na esteira da federalização dos crimescontra os direitos humanos?

Juiz José Carlos Machado jr. - O Seminário foi uma idéia doDr. Renato (Martins Prates). Uma feliz idéia, uma vez que hoje,como dizem alguns professores, tem que se discutir o que nãoé “direitos humanos” - porque tudo, de algum modo, é direitohumano. Vivemos num mundo em que o alcance, a extensãoe a eficácia dos direitos humanos estão sendo cada vez maisdiscutidos. Há exemplos extraordinários de um lado e, infeliz-mente, outros péssimos exemplos de violação, de desrespeito,de ignorância sobre os direitos humanos. Logo, a idéia é muitofeliz. Neste seminário conhecemos um pouco mais desse le-que de direitos, que passa pelo direito à prestação jurisdicional,com uma prestação diferente e especial para o caso do idoso –e para isso contamos com o exemplo e a palestra do presidentedo Tribunal Regional Federal da Quarta Região, que inaugu-rou uma vara federal de idosos. Tivemos a participação donorte do nosso Tribunal, com essa experiência que é o juizadoespecial, e o juizado especial itinerante, o atendimento à po-pulação afastada, à população ribeirinha. Prestaçãojurisdicional é direito humano básico. Se eu não tenho o direi-to de reclamar, como fazer valer os meus outros direitos? Con-tamos com a participação de professores, desembargadores eautoridades como o ministro Nilmário Miranda. Houve umamostra relativa ao direito dos encarcerados, tão esquecidos,normalmente não mencionados quando se estuda o tema di-reito humano. Esperamos que este evento tenha originado umadiscussão muito ampla quanto aos vários aspectos que os di-reitos humanos alcançam, e até a produção de alguns resulta-dos. Quem sabe mesmo o fruto de uma discussão mais madu-ra a respeito, principalmente, da nossa prestação jurisdicional– ou seja, o que nós juízes podemos fazer, o que nós estamosfazendo, para alcançar a proteção de direitos humanos e aproteção de minorias.

Presidente - José Carlos Machado JúniorVice-presidente - Carlos Geraldo TeixeiraVice-presidente do interior - Lana Lígia GalatiSecretário Geral - Elísio Nascimento Batista JúniorTesoureiro - Itelmar Raydan EvangelistaDiretor de Relações Institucionais - Ivanir César Ireno JúniorDiretor de Interesses dos Inativos - João Batista de Oliveira RochaDiretor Jurídico - Jorge Gustavo Serra de Macedo CostaDiretora Cultural - Cláudia Maria Resende Neves GuimarãesDiretor de Comunicação Social - Silvio Coimbra MourthéDiretor de Esportes - Guilherme Mendonça Doehler

Quem são os juízes federais componentes da Presidência e daDiretoria da AJUFEMG

CHRISTIANNE CALLADO DE SOUZA

O juiz federal José Carlos Machado Jr. é o novo presidente da AJUFEMG – Associação dos JuízesFederais em Minas Gerais. Eleito em outubro de 2004, pela chapa Integração*, o juiz federal titular da 24ªVara, natural de Juiz de Fora, é especialista em Direito Sanitário e professor de Pós-Graduação na PUC/MG. Em sua cidade natal, foi procurador do município e professor da Universidade Federal de Juiz deFora. Também foi procurador do INSS e teve uma experiência como servidor público, quando trabalhouno Tribunal Regional do Trabalho. O novo presidente da AJUFEMG tem pressa: foi o aliado de primeirahora da Diretoria do Foro, nos preparativos da implantação das 14 novas varas federais em Minas e oestrategista entusiasmado que promoveu o Seminário Jurídico de Direitos Humanos – o primeiro grandeevento da AJUFEMG para 2005. Nesta entrevista, ele fala sobre as propostas da entidade.

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* Novély Vilanova da Silva Reis

A LERDEZA DA JUSTIÇA

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Quando se fala em lerdeza da justiça trêscausas são colocadas em evidência: a insuficiên-cia do número de juízes, a quantidade de ações eo anacronismo da legislação processual. Mas exis-tem duas outras causas sobre as quais pouco sefala, pouco se comenta: os métodos de trabalho ea cultura burocrática. Tudo proveniente das velhasordenações e das práticas viciosas.

Não há dúvida de que o aumento do númerode juízes e o aperfeiçoamento da legislação pro-cessual podem contribuir decisivamente para arapidez da prestação jurisdicional. Mas é precisoalguns Luteros para fazer a grande reforma da cul-tura e dos métodos de trabalho que ainda contami-nam a justiça brasileira. Essa reforma não se fazpor lei; seria o mesmo que pretender acabar com ainflação por decreto: nunca deu certo. Faz-se, aocontrário, pelo esforço das pessoas envolvidas nes-se processo (juízes, advogados, promotores, pro-curadores, serventuários).

O juiz brasileiro provém da advocacia, doserviço público ou do meio docente. As virtudes eas deformações que adquiriu nesses segmentos comcerteza vão se refletir no exercício da magistratu-ra. Daí a grande responsabilidade das instituiçõesde ensino e da Ordem dos Advogados do Brasil naformulação do ensino jurídico e naprofissionalização. As escolas de magistratura sãoum grande instrumento para a formação do juiz.

Linguagem complicada também é causa delerdeza da justiça, pois quase sempre gera mal-entendidos e confusões. Num recurso dirigido aoSuperior Tribunal Militar um advogado escreveu oseguinte: “O alcândor Conselho Especial de Justi-ça, na sua apostura irrepreensível, foi correto eacendrado no seu decisório. É certo que o Ministé-rio Público tem o seu lambel largo no exercício dopoder de denunciar. Mas nenhum lambel o levariaa pouso cinéreo se houvesse acolitado o pronunci-amento absolutório dos nobres alvazires de primeira

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* Novély Vilanova da Silva Reis,Juiz Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal

instância” (Palavrório rebuscado de um advogadoquebra sisudez no Superior Tribunal Militar. Jornaldo Brasil de 06/11/1976).

A propósito disso, uma das conclusõesadotadas no Fórum de Debates sobre a Justiça Fe-deral e sua Importância Política, promovido peloConselho da Justiça Federal (4 e 5/3/1994), foi “re-comendar aos juízes que utilizem, nos atos judici-ais, linguagem acessível aos jurisdicionados”. Sim,porque pouca gente sabe, entre outras extravagân-cias vernaculares, o que é “parquet federal”,“pretório excelso”...

Não estou fazendo apologia da vulgaridade.Mas como disse o Ministro Carlos Mário Vellosono XI Congresso Brasileiro de Magistrados emCamboriú/SC, uma das causas de lentidão da Justi-ça “é o excesso de formalismo, o que propicia eestimula a chicana a tornar realidade a burocraciajudiciária ...”

Se o caso é simples, simples deve ser a peti-ção inicial, bastando o atendimento dos requisitosprevistos no art. 282 do Código de Processo Civil.Se o caso é complexo, exponham-se os fatos e osfundamentos jurídicos com clareza e objetividade.A remissão a precedentes jurisprudenciais é sem-pre conveniente. Mas não invente: diga que “pro-põe a ação contra” e não “em desfavor de fulanode tal”. Não enfeite: diga que impetra o mandadode segurança e não o “writ”. Não complique ascoisas fáceis. Para aqueles que têm a virtude deescrever muito e não dizer nada, recomenda-se aleitura urgente do clássico Comunicação em ProsaModerna, de Othon Moacyr Garcia, editado pelaFundação Getúlio Vargas.

Não existe coisa pior neste mundo do quejustiça tardia. Só sabe o que é isso quem é ou já foiparte. O juiz deve observar as formas e os prazosprocessuais para decidir a causa com segurança.Mas não deve tolerar que o excesso de formalismofale mais alto. O importante é que o ato alcance asua finalidade, conforme o princípio dainstrumentalidade das formas adotado pela legis-lação processual civil brasileira: “Os atos e termosprocessuais não dependem de forma determinadasenão quando a lei expressamente a exigir, repu-tando-se válidos os que, realizados de outro modo,lhe preencham a finalidade essencial” (CPC, art.154)

Com um pouco de boa vontade os juízes po-dem eliminar velhas praxes forenses que ainda pre-dominam nas secretarias ou cartórios dos órgãosjudiciários, dificultando até mesmo a compreensãoda atividade judicial. Não tem cabimento, porexemplo, um edital de citação ou de intimação coma bolorenta e incompreensível forma do “saibamtodos que no ano ... de Nosso Senhor Jesus Cristoetc”. Pequenas providências administrativas podemser adotadas para facilitar a tramitação processu-al. A leitura de um bom manual de MetodologiaCientífica ou de Organização & Métodos pode con-tribuir para quebrar a tradição.

É preciso, enfim, que os operadores da justi-ça (juízes, advogados, promotores, procuradores eserventuários) não deixem que o vagão se solte dalocomotiva. Para que não tenhamos o constrangi-mento de ler declarações como esta de SérgioLacerda, no seu artigo Justiça Tarda e Falha publi-cado na revista Veja: “Para sermos verdadeiros,boa parte da descrença dos brasileiros no sistemajudiciário corre por conta de outra endemia nacio-nal: o bacharelismo. O apelo excessivo à forma,ao minueto dos ritos e do casuísmo, às canseiras eaos custos das instâncias, é sempre mais relevantedo que a objetividade dos fatos ou a premência dadecisão.”

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CIDADANIA E ACESSO AO JUDICIÁRIO

* Edson Pereira Ramos

Afinal, o que é cidadania?

Em princípio, não há um conceito definidode cidadania. Se alinhavarmos, numa discussãohipotética, clássicos defensores da cidadania comoPéricles (líder da Atenas clássica do século V a.C.), o Barão de Montesquieu (iluminista do séculoXVIII), Thomas Jefferson (um dos líderes da inde-pendência dos EUA) e Robespierre (líder da Revo-lução Francesa), possivelmente haveria divergên-cia entre eles em pontos fundamentais. Cada épo-ca produziu práticas e reflexões sobre cidadaniamuito distintas.

Para alguns autores hodiernos, a cidadania éconsiderada como um conjunto de práticas políti-cas, econômicas, jurídicas e culturais que definemuma pessoa como membro competente da socie-dade. No entanto, a inclusão do elemento “com-petência” no conceito é passível de críticas, umavez que se podem encontrar no seio de uma socie-dade cidadãos que não se encontram em condi-ções de exercer direitos políticos, e nem por issoperdem direitos civis ou sociais, como é o caso dosportadores de deficiências mentais.

Na verdade, cidadania vem assentada maisem uma acepção histórica do que em uma defini-ção estanque. Os conceitos são modificados deacordo com a evolução sócio-cultural da socieda-

de em que são embutidos, o que nos leva a imagi-nar a existência de uma evolução histórica da ci-dadania, já que esta é um fenômeno tauxiado nasconcepções valorativas de uma sociedade. Poroutro lado, tanto as regras que definem atitularidade da cidadania (ius solis ou ius sanguinis)quanto a diversidade dos direitos e deveres do ci-dadão em cada um dos Estados contemporâneosmaterializam a distinção entre cidadania em um eoutro país.1

De qualquer forma, na sua concepção atual,cidadania não pode ser visualizada, tão-somente,por seu viés político, ou seja, não se encerra nodireito de participar do destino da sociedade, votare ser votado. Além dos direitos políticos, cidadaniaé fruir do direito à vida, à liberdade, à propriedade,à igualdade perante a lei. É, em síntese, ter direitoscivis. Mas estes direitos e os políticos não assegu-ram a democracia sem os direitos sociais, aquelesque garantem a participação do indivíduo na ri-queza coletiva: o direito à educação, ao trabalho,ao salário justo, à saúde etc. Cidadania, portanto,está assentada num Direito tripartido: civil/políti-co/social2 .

Como se vê, a concepção de ser humano jánão se encerra apenas no fato de o homem habitaruma cidade e participar ativamente de sua organi-

1 Alguns países só podem ser governados por quem pertença a determinado ramo religioso (Carlos Menem teve de se converter aocatolicismo para poder governar a Argentina), outros não concedem direito de voto aos filhos de imigrantes etc.2 Centrado na realidade britânica de 1949, em especial no conflito frontal entre capitalismo e igualdade, Thomas H. Marshallestabeleceu uma tipologia dos direitos de cidadania. Seriam os direitos civis, conquistados no século XVIII, os direitos políticos,alcançados no século XIX – ambos chamados direitos de primeira geração – e os direitos sociais, conquistados no século XX,chamados direitos de segunda geração. Marshall 1967, Vieira. 1997.

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zação. Torna-se imprescindível que ele tenha, jun-to com os deveres, direitos nessa mesma cidade.

Podemos dizer, em resumo, que na acepçãode cidadania se encontra cunhado o processo deinclusão total dos cidadãos à vida societária. Má-xime numa sociedade como a nossa, cujos traçoscaracterísticos são a exclusão e o autoritarismo,as oportunidades culturais não chegam de formaigual a todas as camadas sociais (desde a coloni-zação sofremos um processo cruel de segrega-ção social que permitiu, e ainda permite a alguns,não apenas o acesso, mas a detenção dos produ-tos culturais eruditos, e legou a outros, de manei-ra tirânica, apenas uma parte da cultura, a qualchamou pejorativamente de popular).

Isso nos leva a visualizar que, no Brasil, arelação que identifica a cidadania como direitosocial vem sendo defrontada com a constataçãode que sua ocorrência só se dá por meio das con-cessões ofertadas pelo Estado. Como quimera po-lítica, a cidadania brasileira ainda está distantede sua plena realização, e o direito ao acesso àjustiça, como condição para o exercício do pró-prio direito, encontra, ainda, vigorosos obstácu-los. Esse binômio cidadania/acesso à justiça deveexpressar o império de uma inclusão social ondeo cidadão, no mínimo, conhece os seus direitosconstitucionais básicos, como educação, saúde,trabalho, moradia, lazer, segurança, previdênciasocial, proteção à maternidade e à infância e as-sistência aos desamparados.

Das causas que representam obstáculos àidentidade de propósitos entre cidadania e aces-so à Justiça destacamos o desconhecimento doDireito como o mais voraz, já que é o conheci-mento do Direito o mais valoroso pressuposto desua aplicação.

As pessoas não poderão usufruir a garantiade fazer valer seus direitos perante os tribunais senão conhecem o limite de seus direitos. Se a apli-cação do direito é, normalmente, tarefa de espe-cialistas (juristas em sentido lato), muitas vezes,pela via do Poder Judiciário (porque a sua aplica-ção também é conflitual), não se coloca, por isso,a necessidade de um amplo ou generalizado in-teresse no conhecimento da forma (técnica) comoo direito é aplicado. Mas já em relação à suacognição a situação é outra porque, aqui, o aces-

so à percepção do direito deve ser generalizado,até como pressuposto da sua própria aplicação.Devemos visualizar esse conhecimento como umdireito, ou seja, na terminologia usada por HannahArendt, um direito aos direitos.

Nesse ponto, constatamos que, nos últimostempos, o acesso à Justiça se resumiu à abertura denovos espaços para demandas que anteriormentenão chegavam ao judiciário. Esses espaços são vis-tos na criação dos Juizados Especiais Federais e Es-taduais, que superaram, indubitavelmente, o gran-de obstáculo decorrente da pobreza. A assistênciajurídica integral e gratuita possibilitou esse acessoao necessitado. Por outro lado, foi a prova maior deque a morosidade jurisdicional era o principal obs-táculo à chegada de novas demandas ao judiciário.Isto se materializa no fato de que nos Juizados Espe-ciais, proporcionalmente, tramita um número deações maior do que nas varas comuns.

Por conseguinte, a integração cidadania/aces-so ao judiciário completa-se com a difusão do Di-reito aos cidadãos, numa maior e mais eficaz atua-ção do Poder Judiciário, dos órgãos auxiliares daJustiça (OAB, Advocacia-Geral da União, Ministé-rio Público e Defensoria Pública) e das associaçõesde classe no cumprimento do compromisso de dis-seminarem o Direito, e não apenas as formas deusufruí-lo e de defendê-lo quando vulnerado, comuma divulgação mais intensa via jornais, revistas,TV e edições de cartilhas.

É certo que o objetivo maior da garantia deacesso à Justiça, como materialização do sentidode cidadania, é, exatamente, a salvaguarda dos di-reitos do cidadão, mas o grande problema não as-senta apenas em acessar os órgãos destinados agarantir o seu exercício – tendo em vista que já sepode vê-los bem assegurados – mas, sim, como jálecionava Bobbio, o de protegê-los efetivamentecom meios processuais mais eficientes para tanto.

* Edson Pereira Ramos,Mestre em Direito Empresarial.

Ex-diretor do Núcleo Judiciário daJustiça Federal em Minas Gerais.

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* José Carlos Machado Junior

A REFORMA DO PODER JUDICIÁRIO (EC-45 / 2004) e a exigência de trêsanos de atividade jurídica para o ingresso nas carreiras da Magistratura e doMinistério Público

Após a Emenda Constitucional nº 45/2004,modificou-se a redação dos artigos 93 e 129 daConstituição Federal, no tocante aos requisitos parao ingresso nas carreiras da Magistratura e do Minis-tério Público. Além dos requisitos já existentes, con-curso público de provas e títulos e bacharelado emDireito, previu-se expressamente mais um requisi-to: três anos de atividade jurídica.

A redação anterior permitia aos tribunais eprocuradorias discricionariamente estabelecer nosconcursos que realizavam a exigência, ou não, deum requisito temporal para o acesso aos respecti-vos cargos. Deste modo, encontrávamos, observandoos editais de concursos, certames sem qualquer exi-gência temporal, outros com a previsão de pelomenos dois anos de atividade jurídica, outros comprevisão de cinco anos de atividade. Ademais, a

exigência de comprovação ora fazia referênciaa “atividade jurídica”, ora se referia a “práticaforense”.

O constituinte derivado acabou com estadiscrepância de critérios, estabelecendo comoobrigatório o requisito temporal de no mínimo trêsanos de atividade jurídica. A previsão, sem dúvi-da, se coaduna com a idéia central da reforma:um Poder Judiciário e instituições essenciais aoexercício da função jurisdicional mais eficientes;recrutamento, para os cargos iniciais, de profissi-onais já com alguma experiência. Doravante,portanto, não poderá haver concurso para estescargos sem que se observe também este requisitotemporal. Por outro lado, e a redação dos disposi-tivos neste ponto é muito clara, tal prazo de trêsanos é imposição mínima, ou seja, as instituições

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poderão, discricionariamente, estabelecer um re-quisito temporal maior.

Não se pode deixar de mencionar que a EC -45/2004, no seu artigo 7º, prevê que em 180 diasapós a sua promulgação sejam elaborados, porcomissão especial mista, projetos de lei necessári-os à sua regulamentação. Este artigo tem conduzi-do alguns comentários no sentido de que a defini-ção de “atividade jurídica” dependeria desta re-gulamentação. Não me parece exata tal observa-ção. Se promulgada tal lei, será esta a norma a serobservada na delimitação do que seja “atividadejurídica”. Contudo, não há esta obrigatoriedade:ainda que sem regulamento, será exigido este re-quisito, do mesmo modo que se exige, em outroscasos, o “notável saber jurídico”, ou a “reputaçãoilibada”, ou ainda a “idoneidade moral”, sem quese tenha definido no sistema jurídico positivado qualo exato sentido destes enunciados. Em outras pala-vras: ainda que sem regulamentação expressa, asinstituições aplicarão a regra e exigirão, por impe-rativo constitucional, a comprovação de três anosde “atividade jurídica”.

“Atividade jurídica” é conceito mais amploque “prática forense” - A prática forense pressu-põe a atividade jurídica, mas esta não se restringeàquela! Ou em outras palavras: toda prática foren-se é atividade jurídica, mas nem toda atividade ju-rídica é prática forense.

Vale lembrar que já está sedimentado na ju-risprudência do STJ que o conceito de “prática fo-rense” deve ser compreendido de modo amplo, semas limitações impostas pela administração, e nãose restringe à advocacia, mas abrange também asatividades da magistratura, do ministério público,dos serventuários e outros, desde que tenham con-tato permanente e direto com as lides forenses:”Abrangendo, nesta acepção, de forma ampla, to-das as atividades ligadas às noções experimentaisde práticas desempenhadas na vida forense, tra-zendo ao indivíduo informações que possibilitemseu desenvolvimento na área específica do Direi-to” (STJ - MS 6579). “É pacífico o entendimento nestaCorte Constitucional de Justiça de que o conceitode prática forense comporta amplitude, de modo aalbergar as atividades realizadas perante tribunais,juízos de primeira instância e estágios nas facul-dades de Direito...” (STJ - EDMS 6623).

Qualquer interpretação restritiva de “ativida-de jurídica” merecerá a pecha deinconstitucionalidade. A exceção e a restrição doacesso aos cargos públicos, através de um requisi-to temporal especial (especial porque não signifi-ca meramente o passar dos anos, mas o desempe-nho de uma determinada atividade neste interregno)não poderá ser interpretado extensivamente. Se ocargo, ou a função exercida, é privativo de bacha-rel em Direito, não há como negar que é inerenteao regular desempenho das atribuições previstas oexercício de “atividade jurídica”. Pensar o contrá-rio seria tornar sem efeito e descabida a exigênciado bacharelado em Direito para alguns cargos efunções. Por outro lado, não devemos esquecer,“atividade” é fato, é realidade. Assim, se determi-nado agente público não ocupa um cargo privati-vo de bacharel em Direito, mas desempenha, defato, função na qual emprega conhecimento jurídi-co próprio e específico do bacharelado em Direi-to, não se pode negar a ele, caso comprove a natu-reza das suas atividades, o reconhecimento destetempo de “atividade jurídica”. O elenco das atri-buições realmente exercidas pelo agente públicoé que irá demonstrar se cumprido ou não este re-quisito.

Em síntese, a respeito de “atividade jurídi-ca”, penso o seguinte: a) se o cargo ou emprego éprivativo de bacharel em Direito, há uma presun-ção de que a atividade desenvolvida é jurídica; b)se o cargo não é privativo, mas a atividade real-mente exercida demanda conhecimento jurídicosuperior (graduação), não se pode negar que hátambém aqui “atividade jurídica”. Neste caso, ne-cessário será demonstrar qual a natureza da ativi-dade exercida.

Estágio e contagem como tempo de ativida-de jurídica - Embora a emenda seja muito recente,as discussões sobre esta particular interpretação jásão acirradas. De um lado, a visão mais amplapossível para o conceito de “atividade jurídica”,abrangendo, portanto, o estágio regular; de outrolado, a visão restritiva, fundamentada na idéia deatividade profissional após o bacharelado.

Diante da nova redação constitucional, asduas visões podem ser bem defendidas. Impossívelagora prever qual vai prevalecer. Qualquer palpi-te seria mera especulação, ainda que baseado em

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* José Carlos Machado Júnior,Juiz Titular da 24ª Vara Federal da

Justiça Federal em Minas Gerais

precedentes: a jurisprudência do STJ é pacíficaquanto ao entendimento de que estágios profissio-nais estão compreendidos na idéia de prática fo-rense. Teremos pela frente, ainda que haja regula-mentação a respeito, uma discussão jurisprudencial,a exemplo do que ocorre sempre que tema polê-mico é inserido no texto constitucional através deexpressão imprecisa.

Definição de atividade jurídica: Lei Comple-mentar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993.

Vale mencionar que a Lei Complementar nº73/93, que institui A Lei Orgânica da Advocacia-Geral da União, ao disciplinar o concurso para oingresso nas carreiras da Advocacia-Geral daUnião, no seu artigo 21, § 3º, considera título parao concurso o exercício (atividade) profissional deconsultoria, assessoria e diretoria, além de outrascujas atividades sejam eminentemente jurídicas.

Atividade jurídica e regime de atividade ex-clusiva: Que dizer dos que por imposição legal tra-balham em regime de dedicação exclusiva, e poresta razão não podem se dedicar a qualquer outraatividade? Serão prejudicados na sua pretensão dese candidatar a estes cargos?

Foram atingidos, sem dúvida. Não diretamen-te, mas indiretamente, pois não mais poderão secandidatar aos concursos que até então não exigi-am a comprovação de qualquer requisito tempo-ral, seja com a denominação de prática forense,seja com a denominação atividade jurídica. Taisconcursos deixam de existir, atingindo, desta for-ma, os interesses dos que estão nesta situação.

Que fique claro: a exigência não é a de ad-vogar por três anos, é a de desenvolver qualqueratividade jurídica por este período. Logo, quem nãopode, por vedação legal, advogar, mas exercequalquer atividade jurídica, atenderá ao requisitoconstitucional.

Vale por fim observar que mesmo a ativida-de de Técnico do Tesouro (dedicação exclusiva)já mereceu do STJ o entendimento de se amoldarao conceito de prática forense (RESP 487844 - DJ31/05/2004 p. 346).

Considerando-se que “atividade jurídica” éconceito mais amplo do que “prática forense” eque a este último conceito a jurisprudência já em-presta uma ampla interpretação, qualquer ativida-

de ou exercício que não prescinda do conhecimen-to jurídico atenderá ao mandamento constitucio-nal.

Conclusões:

a) A EC nº 45 /2004 estabeleceu um requisitoconstitucional inafastável para o acesso aos car-gos iniciais da Magistratura e Ministério Público: omínimo de três anos de atividade jurídica; b) o con-ceito de “atividade jurídica” pode até ser equipa-rado pela jurisprudência ao de “prática forense”,já que este último mereceu uma interpretação muitoampla, mas não representa a mesma realidade:“atividade jurídica” abrange a idéia de “práticaforense”; c) exceto por uma interpretação absolu-tamente restritiva, pode-se esperar que o estágiocontinue a contar como “atividade jurídica” parafins deste novo requisito constitucional.

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* Dimis da Costa Braga

1 A expressão, conquanto ignorada pelos dicionários, é de uso recorrente para traduzir a idéia de globalizar nos países subdesenvol-vidos as regras necessárias à movimentação de capital, bem como as dificuldades, exploração etc., e globalizar os ganhos delaadvindos apenas nos países de origem do capital.

Recebida com festa por alguns – as cúpulasdos três poderes, os representantes dos altos con-glomerados financeiros e membros do parlamentoligados a ambos – com luto por outros – algumasassociações de magistrados –, a Emenda Consti-tucional nº 45 (Reforma do Judiciário) infelizmen-te não promoverá a tão sonhada redenção dessePoder da República.

Perguntariam meus leitores o motivo de tan-to, digamos, realismo. A resposta não pode sersimplista, evidentemente, pois que a Reforma doJudiciário demanda ser analisada dentro de umcontexto político e econômico mais amplo, nacio-nal e internacional. Mas, como este espaço não éo mais apropriado para debates profundos, sereibreve.

Para além de classificá-lo de irracional eatrasado, cumpre lembrar que, desde 1988, emconseqüência do novo leque de direitos conferi-dos pela Constituição, o Judiciário passou a rece-ber um acervo cada vez maior e diversificado decausas, sem que houvesse uma modernização doprocesso capaz de tornar sua tramitação mais ágil,tampouco uma ampliação do número de juízescompatível com essa demanda e, finalmente, con-siderando-se o longo período em que a reformatramitou – durante o qual lançou-se enorme bom-bardeio de críticas ao Judiciário, inclusive atravésda criação de uma CPI no Congresso Nacional –,a população em geral foi contaminada por umadescrença nos órgãos jurisdicionais como um todo.

Ao longo desse período e, especialmente,

após a quedado Muro deBerlim, a expansãodo capitalismo surpreendeu os países em desenvol-vimento e impôs uma nova realidade, calcada namaior valorização do econômico em face do soci-al, do individual em relação ao coletivo, masca-rando um crescimento desenfreado dos grandes con-glomerados financeiros multinacionais – com rever-são de quase toda riqueza para seus países de ori-gem – e do seu poder político, cujo avanço no Bra-sil encontrou no Judiciário existente, embora arcai-co, a maior barreira aos seus interesses menos legí-timos.

A Reforma do Judiciário, cujos principais pon-tos analiso em seguida, não passaria ao largo dessecontexto, e a sua conclusão, de um certo modo,ainda que indiretamente, atende aos interesses des-se novo modelo glocalizante1 .

A principal inovação trazida com a reforma éa criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ),órgão de controle externo do Poder Judiciário, cujaformação – com nomeação pelo Presidente da Re-pública depois de aprovados os nomes pela maio-ria absoluta do Senado Federal –, além de novemembros do Poder Judiciário, inclui dois membrosde órgãos do Ministério Público, dois advogadosindicados pelo Conselho Federal da OAB – Ordemdos Advogados do Brasil e dois cidadãos, indicadosum e outro por cada uma das casas do CongressoNacional (art. 103-B). Esse órgão, além de forma-do, necessariamente, com a ingerência dos Pode-

Reforma do Judiciário, Modernidadee Democracia

12345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456Ar t igoAr t igoAr t igoAr t igoAr t igo

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2 O inciso III do § 4º do artigo 103-B prevê a avocatória tão temida no período ditatorial de que o Brasil saiu há pouco mais de 20 anos,inclusive com natureza administrativa e correicional.3 A preocupação de renomados juristas em relação à eliminação da independência do Juiz (com incalculáveis prejuízos para ademocracia), ou pelo temor de perseguições internas e/ou pela supressão da liberdade de julgar instaurada pela súmula vinculante,tem na verdade fundamento principiológico e até metafísico, pois repousa do Princípio da Dignidade Humana, inscrito no art. 1º, III,da CR e cuja aplicação restará olvidada e mitigada. Por outro lado, com Eduardo Ramalho Rabenhorst, o que caracteriza a democraciaé exatamente a falta de fundamentos absolutos (transcendentes e religiosos) e a diversidade de valores.Se existe algum fundamentoúltimo para a democracia, ele não pode ser outra coisa senão o próprio reconhecimento da dignidade humana (Dignidade Humanae Moralidade Democrática, Brasília, Brasília Jurídica, 2001).4 Para os grandes interesses capitalistas, o Judiciário brasileiro é incerto, imprevisível. Segundo o Financial Times de 19.11.2004, ochefe do Comitê Legal da Câmara de Comércio dos Estados Unidos em São Paulo, Agostinho Tavolaro, disse que o grande problemapara muitos investidores estrangeiros tem sido lidar com a incerteza jurídica no Brasil. Essa reforma vai trazer mais clareza.

res Executivo e Legislativo, entre outras compe-tências, terá poder regulamentar, revisor de atosadministrativos, e correicional e, portanto, emborasem prejuízo das competências dos Tribunais, jun-tamente com outras disposições, subtrai-lhes porcompleto a autonomia antes prevista na Constitui-ção.2 É, sem dúvida, a primeira ferida aberta naindependência do Judiciário.

Semelhante ao Conselho Nacional da Justi-ça, o Conselho Nacional do Ministério Público, tra-tado no novo art. 130-A da Constituição, tambémtem em sua composição participação externa àinstituição, com oito membros do Ministério Públi-co e seis externos – dois magistrados, dois advoga-dos e dois cidadãos. Outrossim, seus poderes decorreição funcional, administrativa e financeira sãosemelhantes aos do CNJ.

A outra principal inovação é a súmulavinculante (art. 103-A), através da qual o SupremoTribunal Federal poderá, na forma da lei, de ofícioou por provocação, após decisões reiteradas sobredeterminada matéria, aprovar súmula que, a partirde sua publicação na imprensa oficial, terá efeitovinculante em relação aos demais órgãos do Po-der Judiciário e da administração pública em geralde todas as esferas.

Urge esclarecer que o efeito de tal previsãoconstitucional é mais político do que jurídico, poisembora jamais tenha havido súmula vinculante noBrasil, a maioria dos juízes e tribunais raramentedestoa do que está sumulado pelo Supremo Tribu-nal Federal. Todavia, a vinculação extremaestabelecida nessa previsão constitucional instau-ra severa ruptura com o sistema concebido peloconstituinte originário, porque concentra maiorpoder no órgão de cúpula do Poder Judiciário, eli-minando quase por completo a efetividade do con-trole difuso de constitucionalidade inerente ao sis-

tema brasileiro e, de quebra, ameaça com oengessamento da jurisprudência, tão criticado porinúmeros juristas3 . Alerto, entrementes, que asúmula vinculante não reduzirá o número de re-cursos, pois a mesma não encerra a proibição derecurso do vencido – até porque no texto que vol-ta à Câmara foi incluída a súmula impeditiva derecursos no âmbito do Superior Tribunal de Justi-ça.

Com esses atributos, a súmula vinculante re-sulta em um instrumento de redução da democra-cia interna e externa do Poder Judiciário, inservívelpara o que foi idealizado, mas útil aos interessesdos conglomerados financeiros4 , que pressionamo Judiciário através de seu poder político junto aosgovernos e temem a diversidade deposicionamentos; esta, tão útil à democracia e àsolução final mais acertada.

A alteração da nomenclatura paraDesembargador Federal e Desembargador Fede-ral do Trabalho, dos cargos dos magistrados de 2ºgrau da União, incluída no Senado, não havia sidodiscutida na Câmara, por isso permanece o trata-mento dado pelo constituinte originário, até ulteri-or deliberação dessa última. Alterações que tais –manifesto meu posicionamento – contribuem paraa péssima imagem de que os juízes são todosmarajás e não são cidadãos comuns – sendoinverdade tanto uma coisa quanto outra. Há juízesque, sugestionados por esse o mito que permeia amente do homem médio, em evidente retrocessoem relação ao momento atual, cobram de pessoassimples do seu meio um respeito e tratamento di-ferenciado, contribuindo para o ranço de que oJuiz se pretende superior na sociedade. Errado. Ojuiz deve comportar-se como cidadão comum, uti-lizar tratamento respeitoso com os demais e lin-guagem acessível em sentenças e decisões, bem

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* Dimis da Costa Braga, Professor de Direito Processual Civil da Uni-

Nilton Lins (Manaus) e dos Cursos de Pós-Gradu-ação da ANAMAGES. Juiz Federal Substituto da

Justiça Federal em Minas Gerais. Especialista emDireito Processual Civil pela Universidade

Federal do Amazonas. Mestrando em DireitoAmbiental pela Universidade do Estado do Ama-

zonas. Ex-Promotor de Justiça (AM).

como fundamentação corrente na própria verdadesocial e da razão pública do povo5 – sempre quepossível.

Por outro lado, há inovações louváveis. Den-tre elas, destaca-se a possibilidade de federalizaçãodos crimes graves contra os direitos humanos, atra-vés do incidente de deslocamento de competên-cia para a Justiça Federal (§ 5º do art. 109), trazen-do um alento à luta pelo fim da impunidade quetanto envergonha o país frente à comunidade in-ternacional, ante a independência que a JustiçaFederal têm demonstrado nas causas em que en-volvidas pessoas com alto poder político ou eco-nômico. Essa importante previsão, pleito de líderese entidades que combatem a violência nas cida-des e especialmente no campo, praticadas por po-liciais ou jagunços, mas invariavelmenteacobertadas pelos donos do poder locais, autori-dades políticas ou econômicas – que exercem for-tes pressões sobre a magistratura – foi severamen-te combatida por meio de lobby das associaçõesde magistrados estaduais, mas finalmente prevale-ceu o bom senso.

Outras importantes inovações são a previsãoda instalação, pelos Tribunais, da Justiça itinerantee de câmaras descentralizadas, a autonomia dasdefensorias públicas dos Estados (lamentavelmen-te a da União vai continuar capenga) e adestinação exclusiva da arrecadação das custasjudiciais para os serviços atinentes ao Poder Judi-ciário, o que vai permitir a criação de um fundo deaparelhamento da Justiça Federal. Importante tam-bém a previsão de proporcionalidade do númerode juizes à demanda processual e à população (art.93, XIII), critério objetivo e racional que eliminaráa prática corrente de fixação de varas em razãode interesses meramente políticos e econômicos,desprezando estudos técnicos que demonstram

maior demanda em outros lugares.

Enfim, cumpre ressaltar, nessas poucas linhas,que a reforma aprovada não se apresenta hábil,por si só, a enfrentar a morosidade e tornar o pro-cesso judicial mais célere e eficaz, demandandoleis que reduzam a possibilidade de recursosinterlocutórios e a formalidade excessiva que tor-na o processo quase infindável.

As reformas aprovadas não interferem no pro-cesso judicial, , na verdade são de superestrutura,atuando no controle, redistribuição de poder e com-petências dos órgãos do Judiciário. Por outro lado,a instituição de uma hierarquização internaultraverticalizada do Poder Judiciário, como impôsa reforma ora aprovada, inviabiliza a sua tão so-nhada democratização e afasta-o dos interesses dopovo, servindo apenas aos interesses do grandecapital e de quem usa o Judiciário e o próprio pro-cesso para sua própria biografia, esquecendo queeste – o processo –, anda para frente, não para cima.E o céu é infinito...

5 Cf. John Rawls, em seu Théorie de la justice, Paris: Seuil,1987, quando fala de uma razão pública e consciente do povo,e Ronald Dworkin (Império do Direito, São Paulo: Martins Fon-tes, 1999), que trata, por sua vez, da integridade ou legitimida-de moral do direito. Exemplo dos posicionamentos dessesmestres da filosofia jurídica contemporânea foi o impasse, porimpedimentos de natureza legal (privilégio da Fazenda Públi-ca) e contra o entendimento de quase toda a população dopaís, para a liberação às vítimas do Palace II dos recursos obti-dos do leilão de um hotel de propriedade do grupo empresari-al do ex-deputado César Naya.

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Cidadania e Acesso à Justiça noparadigma do Estado Moderno eDemocrático de Direito Brasileiro

A sobrevivência e a prosperidade da sociedademoderna, cuja característica principal é a diferenciaçãosocial (idade, sexo, religião, estado civil, escolaridade,renda, profissão, idéias, valores, necessidades, interes-ses, desejos, aspirações e papéis diferentes dos indivídu-os no decorrer de existência), imprescindem de que osconflitos sejam mantidos dentro de limites administráveis.No paradigma moderno, à Lei foi atribuído o papel dereger o Direito e a Política na administração dos confli-tos sociais, dando origem ao que se denominou paradigmada lei.

Com relação à eficiência do paradigma da lei,pode-se dizer que foi satisfatório no nível dos órgãos ad-ministrativos e judiciários centrais e da opinião ilustra-da, mas apenas enquanto subsistiram os obstáculos estru-turais a uma utilização mais alargada da lei.

Os problemas de adequação do legalismo surgi-ram no séc. XIX, quando o crescimento dos meios mate-riais de controle da periferia permitiram ao Estado o alar-gamento do seu horizonte político, o que coincidiu comas reivindicações de participação plena no universo ofi-cial da via política e jurídica e a promessa de um pro-cesso global de modernização social. Enquanto os res-pectivos aparelhos político-administrativos não se esten-deram às misérias das periferias e a sociedade dolegalismo iluminista permaneceu dual do ponto de vistados mecanismos jurídicos (isto é, uma parte francamenteminoritária vivendo próxima do direito escrito oficial,outra parte mantendo com ele um contato apenastangencial), o dualismo jurídico correspondeu também aum dualismo no plano da participação política. E somenteno dualismo político, ou seja, na limitação do universopolítico aos estratos urbanos e alfabetizados que viviamsob a sombra da lei, e na permanência de modelos de

governo indireto afastados dos anseios da maioria da po-pulação, é que a lei realmente pôde representar a vonta-de geral.

Os problemas do paradigma legal acentuaram-seno final do séc. XX e no séc. XXI, com a incapacidade dese acompanhar a velocidade das transformações sociaise, por conseguinte, de manter os conflitos sociais emníveis aceitáveis. O legalismo, portanto, conseguiu seadequar por pouco tempo à contingência dos conflitossociais modernos.

No paradoxal cenário atual, de crise da lei e dajustiça e de busca pelo exercício efetivo da cidadania,dois dos sustentáculos da esperança no Estado democrá-tico de direito são o acesso à lei e à justiça. A acessibi-lidade à lei, no paradigma legal, parte do fato de que, noplano do impacto social, a forma legal pressupõe que amensagem legislativa seja acessível a todos e conheci-da por todos, o que envolve tanto o acesso à escrita comoa efetividade dos meios de comunicação social do Di-reito. A acessibilidade à lei e o acesso à justiça são in-trínsecos, estando este contido naquela. O acesso à jus-tiça liga-se diretamente à reivindicação de direitos, oque não pode ser feito sem o reconhecimento prévio des-ses direitos (acessibilidade à lei).

O conhecimento da lei e o reconhecimento dedireitos não têm somente finalidade reivindicatória (aces-so à justiça); servem a todo tempo à própria convivênciasocial. Se, todavia, grande parte dos destinatários neces-sários da lei não a conhecem ou não a compreendem, apremissa do acesso à lei num estado de direito fica pre-judicada. O não reconhecimento de direitos por partedos destinatários necessários da lei prejudica, obviamen-te, o acesso à justiça, com outras graves conseqüências,

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* Polyana Washington de Paiva

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* Polyana Washington de Paiva,Servidora da 7ª Vara da Justiça

Federal em Minas Gerais.

como a incapacidade do exercício da própria cidadania.Daí serem as questões do acesso à lei e, mais especifica-mente, do acesso à justiça de vital importância ao de-senvolvimento da cidadania e do próprio Estado demo-crático de direito.

Os paradigmas anteriores de Estado demonstraramque a titularidade de direitos é destituída de sentido naausência de mecanismos para seu exercício de fato. NoEstado liberal, com a limitação das formas de atuaçãoestatal e o padecimento da noção do coletivo, a predo-minância do privado, na relação público/privado, permi-tiu que a liberdade de poucos afortunados, em meio àdesigualdade sócio-econômica, fosse meio de supressãoda liberdade de muitos. No Estado social, assistiu-se àpredominância do público na relação público/privado,justificada pelo fato de que o Estado seria o responsávelpela implementação dos direitos de uma massa de des-validos que, somente após isso, poderia exercer a cida-dania de modo consciente. Percebeu-se, no entanto, quea cidadania: 1) não é um presente, mas algo que deveser construído; 2) é o que legitima, em última instância,toda a atuação estatal, com o fim de evitar que máquinaestatal satisfaça, através de sua força e poder, interessesoutros que não os verdadeiramente sociais; e 3) que aefetivação dos direitos não pode ser alcançada sem umaatuação verdadeira do povo nesse processo.

Essa tomada de consciência fez com que a ques-tão do acesso à justiça recebesse enorme importância noEstado democrático de direito. No que pertine a seu statusnormativo, nesse paradigma de Estado, o acesso à justi-ça tem sido concebido não só como direito, mas comogarantia fundamental e também princípio jurídico indis-pensável para a realização da justiça e para o exercícioda cidadania. A concepção material desse princípio-di-reito-garantia, por sua vez, baseia-se na premissa segun-do a qual a existência, o desenvolvimento e a conclusãode um litígio devem depender apenas dos méritos jurídi-cos das partes, sem relação com diferenças que sejamestranhas aos direitos e afetem a sua afirmação e reivin-dicação. E o acesso à justiça tem sido encarado comoum dos principais remédios para a crise da Justiça, justa-mente porque ataca em parte o fenômeno damacrolitigiosidade social, traz formas de tratamento maisadequadas aos conflitos trans-individuais e às pequenas

causas e busca atender ao maior desafio da justiça brasi-leira, que é, sem dúvida, tornar efetiva a sua relaçãocom os excluídos1, contribuindo com a justiça social.

Mas a efetivação do acesso, rumo à promoção dacidadania, se depara com graves entraves. Os principaisdeles são, sem dúvida, a exclusão social, a velocidadedas transformações sociais e o afastamento do Judiciárioem relação à sociedade.

Com estrutura ainda arcaica e incapaz de lidarcom o problema da exclusão, o Poder Judiciário, no con-texto atual, acaba por contribuir com o aprisionamento ea contenção da litigiosidade. Em virtude de suas própriasatribuições e função no Estado democrático de direitobrasileiro, não lhe é possível a aplicação de solução der-radeira para dois dos entraves ao acesso à justiça, quaissejam, a exclusão social e a espantosa rapidez das trans-formações sociais. No entanto, cabe-lhe, única e exclu-sivamente, a responsabilidade por sua democratização;pela criação e aperfeiçoamento de novas formas, proce-dimentos e instituições de solução de conflitos, como osJuizados Especiais Federais, na esfera federal, por exem-plo; pela administração mais eficiente e eficaz de seusrecursos; por uma comunicação efetiva com a socieda-de; por sua modernização, em todos os sentidos.

Tal responsabilidade, por certo, não se dissociados dois grandes problemas citados. Ao contrário, passa,necessariamente, pela questão da pobreza, do analfabe-tismo e da educação deficiente do povo, isto é, peladesigualdade social brasileira. E qualquer tentativa dedemocratização, de modernização, enfim, de combateaos entraves do acesso à justiça, deve considerar essecontexto, sob pena de completa inadequação e incapa-cidade de gerar mudanças efetivas. O Poder Judiciáriotem verdadeiro poder-dever de facilitar o reconhecimen-to de direitos e a operacionalização da justiça pelo povo,contribuindo, assim, com o que lhe cabe, para um Esta-do mais cidadão e mais justo.

1 FARIA, José Eduardo. Direito e Justiça no século XXI: a crise daJustiça no Brasil. In: Centro de Estudos Sociais, 2003, Coimbra.Disponível em < www.ces.uc.pt/direitoXXI/comunic/JoseEduarFaria.pdf >. Acesso em 18 ago. 2004.

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CIDADANIA E ACESSO À JUSTIÇA: OS MODERNOS INSTRUMENTOSPARA A EFETIVA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

* Lívia Lúcia Oliveira Borba

A cidadania ocupa papel de destaque na discus-são referente ao acesso à justiça e pode ser exercidaatravés dos modernos instrumentos implantados pelaEmenda Constitucional nº 45/04 e pela Lei nº 8.952/94,que visam a democratizar a função do Poder Judiciáriobrasileiro.

Mas, afinal, o que é cidadania, essa noção tãoempregada quanto incompreendida por seus sujeitos ati-vos? Ser cidadão é, efetivamente, ter direitos e deveresque permitam a realização de um projeto pessoal de au-tonomia e de bem estar dentro do Estado. Na acepção deHannah Arendt, cidadania é o direito a ter direitos, oaspecto eminentemente político da liberdade1 . Assim, ostatus de cidadão consiste no gozo de direitos políticos,entendidos como aqueles concernentes à participaçãono exercício da autoridade pública2 . Consagrada comoum dos fundamentos da República Federativa do Brasil,a cidadania está elencada no art. 1º, inciso II, da Consti-tuição Federal de 1988. Desta forma, constitui um dosprincípios fundamentais do Estado brasileiro, e, como tal,informa as normas constitucionais, irradiando seus efei-tos por todo o ordenamento jurídico.

Todavia, não atingimos o nível ideal de cidada-nia almejado por um Estado democrático de direito, sen-do que tal fato provoca reflexos no exercício do direitopelos cidadãos brasileiros. Quando o cidadão não assu-me efetivamente o papel de titular de direitos e deveres,o direito provoca-lhe estranheza, apresenta-se como sim-ples folha de papel, sem uma significação maior. Aocomentar a célebre obra de Ihering, Clóvis Bevilácquaobserva que “se hoje o direito parece ao vulgo algumacoisa que está no papel selado, para o plebeu de Roma odireito era alguma coisa com que se fazia o pão, tãonecessário quanto a farinha. (...) Compreendiam aqueles

homens o direito porque o possuíam em casa. O direitonão estava nos livros, nem nas tábuas do edito somente.Andava nas ruas, ao ar livre, movia-se e via-se ir e vir daconsulta ao foro, estava nas praças e nos comícios...” 3 .Em outras palavras, a cidadania está diretamente relaci-onada ao exercício do direito.

A conferência proferida por Ihering em 1872, maistarde publicada sob o título “A Luta pelo Direito”, inicia-se com o seguinte postulado: “O fim do direito é a paz, omeio de que se serve para consegui-lo é a luta”.4 Enten-demos que o litígio, visando à implementação de umdireito considerado por seu titular como legitimamenteseu, estimula a cidadania. Lutar pelo interesse próprioatravés das vias processuais instituídas com esteio naConstituição Federal é o verdadeiro exercício do direito,que se apresenta nesse caso sob o aspecto do direito deação. Ao receber a prestação jurisdicional eficiente etempestiva, fruto de um processo informado pelos princí-pios do contraditório e da ampla defesa, ainda que estaprestação seja contrária aos seus interesses, o cidadãoassume posição de sujeito transformador da sua realida-de fática. Acreditamos que, ao integrar o processo deforma ativa, o cidadão compreende o direito como algoinerente à sua personalidade e, portanto, algo pelo qualnão pode deixar de lutar. Concordamos com Marinoni 5 ,atestando que o exercício do poder jurisdicional somen-te é legítimo quando participam do procedimento queterminará na edição da decisão aqueles que serão porela atingidos.

Entretanto, não basta que se verifique no processoa participação em contraditório. Em razão das exigênci-as sociais por uma tutela jurisdicional adequada etempestiva, verifica-se um esforço do legislador pátrio,representado pela Emenda Constitucional nº 45/04 e pela

1 GARCIA, Maria. Desobediência Civil: direito fundamental. 2ª edição. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais 2004, p.125.2 GARCIA, Maria, Obra citada, p. 139 e 142.3 IHERING, Rudolf Von. A Luta pelo Direito. São Paulo. Editora Martin Claret. 2001. Tradução: Pietro Nassetti, p. 16 e 17.4 IHERING, Obra citada, p. 27.5 MARINONI, Luiz Guilherme, Manual de Processo de Conhecimento. 3ª edição. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo.2004, p.79

1234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456Ar t igoAr t igoAr t igoAr t igoAr t igo

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* Lívia Lúcia Oliveira Borba,Advogada, especialista em Direito Tri-

butário pelo Instituto de Educação Conti-nuada da Pontifícia Universidade Católi-

ca de Minas Gerais- IEC-PUC/MG

Lei nº 8.952/94, que tem por objetivo recompor o direitodo postulante da forma menos gravosa possível.

Ihering já dispunha que o direito, objeto do litígio,não se restringe a um valor monetário. Ou seja, “(...)odemandante que recorre ao processo para defender-secontra ultraje ao seu direito não tem em vista o objeto dolitígio, talvez insignificante, mas antes visa a um objeti-vo ideal: a afirmação da sua própria pessoa e do seusentimento de justiça. (...) É um dever do titular do direi-to para consigo mesmo, pois representa um imperativode autodefesa moral; e representa um dever para com acomunidade, pois só por meio de tal defesa o direito poderealizar-se.” 6

A redução do direito a um valor meramentepecuniário não se coaduna com a dignidade da pessoahumana, fundamento estatuído expressamente pela Cons-tituição Federal de 1988, em seu art. 1º, III. Em verdade,há uma classe de direitos que não pode ser recompostasimplesmente pelo valor material. Nesta hipótese, faz-se mais necessário evitar a lesão ao direito do que repará-la por uma quantia em dinheiro. A degradação do meioambiente, por exemplo, provoca lesões difíceis de se-rem quantificadas e a condenação pecuniária não tem ocondão de reverter o dano causado. Melhor seria se hou-vesse meios eficazes de impedir a degradação ambiental.

Esses direitos, conhecidos como direitos nãopatrimoniais, reclamavam a tutela inibitória, tambémconhecida como tutela preventiva, que foi introduzidano Código de Processo Civil através do novo art. 461 (Leinº 8.952/94). Na lição de Marinoni: “se não há tutelainibitória, todos podem violar direitos proclamadosinvioláveis, desde que se disponham a pagar por eles, oque significa que os valores constitucionais não valemnada! 7 ” O art. 461, §5º do CPC prevê a sentença execu-tiva no bojo do processo de conhecimento, conferindoao juiz o poder de determinar a medida necessária paraa realização concreta do direito. Outra inovação rele-vante introduzida pela Lei nº 8.952/94 consiste no fatode a tutela específica da obrigação passar a ser conside-rada a regra geral. A obrigação somente se converteráem perdas e danos se o autor o requerer ou se for impos-sível a tutela específica ou a obtenção do resultado prá-tico correspondente (art. 461, caput e §1º).

Por outro lado, a tempestividade da prestaçãojurisdicional faz-se cada vez mais necessária. Na maio-ria dos casos, a exigência da certeza jurídica apresenta-se incompatível com a adequada tutela dos direitos. Foinesse contexto que surgiu a tutela antecipatória, inova-ção trazida pela Reforma de 1994, por meio da novaredação do art. 273 do CPC. Com isso, surge a possibili-dade da execução antes da sentença em primeiro graude jurisdição, uma vez que a tutela antecipada consistena antecipação dos efeitos da tutela pretendida no pedi-do inicial, presentes os requisitos legais.

A premência por uma resposta do Poder Judiciárionum prazo justo mereceu tratamento constitucional coma Emenda Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de2004, ao introduzir o inciso LXXVIII, no art. 5º, conformea seguinte redação: “Art. 5º LXXVIII. A todos, no âmbitojudicial e administrativo, são assegurados a razoávelduração do processo e os meios que garantam a celeridadede sua tramitação.”

Embora a referida mudança seja recentíssima, jáse afigura árdua a tarefa a ser desenvolvida pelos intér-pretes do direito, de definir o que seria uma “razoávelduração do processo” e determinar os “meios que garan-tam a celeridade de sua tramitação”. De toda forma,verifica-se que o clamor de todos os cidadãos brasileirospor um processo célere e eficaz não passou desapercebi-do pelo constituinte derivado.

Concluímos asseverando que as modificaçõesintroduzidas pela Emenda Constitucional nº 45/04 e pelaLei nº 8.952/94 visam a democratizar e tornar a presta-ção jurisdicional a mais adequada e tempestiva possí-vel. Cabe a nós conhecer e buscar o direito, tornando-nos cada dia mais cidadãos.

6 IHERING, Obra citada, p.387 MARINONI, Obra citada, p. 86.

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