jurisprudência fiscal arbitral 3º.t 2015 · entender estar em causa um pedido de regularização...

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i www.rffadvogados.pt Praça Marquês de Pombal, 16 – 5º (Recepção)/6º 1250-163 Lisboa • Portugal T: +351 215 915 220 • F: +351 215 915 244 [email protected] TAX & BUSINESS A presente Informação destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo desta Informação não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte [email protected]. *** Esta Informação é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor envie um email com “Remover” para o endereço email [email protected]. 01 JURISPRUDÊNCIA FISCAL ARBITRAL (3.º TRIMESTRE de 2015) Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014 Legal 500 – Band 1 Tax “Portuguese Law Firm” 2013 International Tax Review –"Best European Newcomer" (shortlisted) 2013 Chambers & Partners – Band 1 “RFF Leading Individual “ 2013 Who´s Who Legal – “RFF Corporate Tax Adviser of the Year” 2013 IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique Pretende-se, com a presente Informação, apresentar uma síntese trimestral das principais decisões proferidas pelos tribunais arbitrais em matéria tributária, à semelhança do que fazemos, também, no que respeita às decisões do Tribunal de Justiça da União Europeia e do Tribunal de Contas. A presente Informação é a relativa ao terceiro trimestre de 2015.

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A presente Informação destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo desta Informação não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte [email protected].

***

Esta Informação é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor

envie um email com “Remover” para o endereço email [email protected].

01

J U R I S P R U D Ê N C I A F I S C A L A R B I T R A L ( 3 . º T R I M E S T R E d e 2 0 1 5 )

Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014 Legal 500 – Band 1 Tax “Portuguese Law Firm” 2013 International Tax Review –"Best European Newcomer" (shortlisted) 2013 Chambers & Partners – Band 1 “RFF Leading Individual “ 2013 Who´s Who Legal – “RFF Corporate Tax Adviser of the Year” 2013

IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique

Pretende-se, com a presente Informação, apresentar uma síntese trimestral das principais decisões proferidas pelos tribunais arbitrais em matéria tributária, à semelhança do que fazemos, também, no que respeita às decisões do Tribunal de Justiça da União Europeia e do Tribunal de Contas. A presente Informação é a relativa ao terceiro trimestre de 2015.

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NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: 664/2014664/2014664/2014664/2014----TTTT DATA: DATA: DATA: DATA: 1 de Julho de 20151 de Julho de 20151 de Julho de 20151 de Julho de 2015 ASSUNTO: ASSUNTO: ASSUNTO: ASSUNTO: IVA IVA IVA IVA –––– Erro na auErro na auErro na auErro na autoliquidação e descontostoliquidação e descontostoliquidação e descontostoliquidação e descontos Factos:Factos:Factos:Factos: A Requerente – sociedade por quotas – solicitou a constituição de Tribunal arbitral peticionando a declaração de ilegalidade das autoliquidações de IVA, referentes ao período entre Setembro de 2008 e Julho de 2010, no montante global de € 162.258,38. A Requerente é uma sociedade por quotas cuja actividade se centra no sector da comercialização de produtos de higiene oral, pessoal e limpeza caseira, estando sujeita ao regime normal de IVA. Sucede que, no âmbito de procedimentos internos, a Requerente verificou ter autoliquidado e pago IVA em montante superior ao devido, atento o desenvolvimento de operações mediante vales de desconto, de descontos de quantidades atribuídos em espécie e de vendas de multipacks. Ora, segundo a Requerente os vales de desconto conferem ao consumidor final um desconto na aquisição de produtos pelo montante equivalente ao valor do vale, sendo que o valor da operação não é alterado. A Requerente ao vender os seus produtos a retalhistas, e bem assim, atenta a utilização dos vales, recorre a uma entidade externa para aferir dos vales de desconto apresentados pelos consumidores e, também, para saber o montante total que terá de reembolsar aos retalhistas, emitindo uma nota de débito. Sucede que, a Requerente aquando do apuramento do montante de IVA devido, não procedeu à consideração do IVA correspondente aos descontos por si concedidos através dos vales de desconto. Por sua vez, relativamente aos descontos atribuídos em espécie, a Requerente entregava aos consumidores uma determinada quantidade adicional de bens, iguais aos bens cuja venda originou. Todavia, relativamente aos produtos oferecidos como descontos de quantidade, a Requerente autoliquidou e pagou IVA. Por fim, relativamente à operação de venda de multipacks, está em causa um pacote com dois produtos diferentes e cujo preço é inferior à soma do PVP dos dois produtos, sendo, em regra, igual ao produto de maior valor. Nestas operações a Requerente considerou que os multipacks eram um produto indivisível e liquidou IVA à taxa normal. Todavia, a Administração tributária apresentou Resposta nos termos da qual se defendeu por excepção e impugnação. A Administração tributária alegou a incompetência do tribunal arbitral por entender estar em causa um pedido de regularização de imposto a favor de sujeito passivo e, nesse

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sentido não se inserir nas suas competências matérias. Mais, alega, também, por excepção, a incompetência do Tribunal Arbitral em apreciar decisões de indeferimento de pedidos de revisão oficiosa. Por outro lado, a Administração tributária impugnou o pedido de pronúncia arbitral por entender que a correcção das declarações periódicas deveria ter ocorrido mediante a apresentação de declarações de substituição, estando, por isso, sujeitas ao prazo de dois anos e não de quatro anos. Análise do tribunal:Análise do tribunal:Análise do tribunal:Análise do tribunal: O Tribunal arbitral identificou as seguintes questões a apreciar e decidir: i) competência do tribunal arbitral para apreciar pedidos de regularização; ii) competência do tribunal arbitral para apreciar decisões de indeferimento de pedidos de revisão oficiosa; iii) intempestividade; iv) meio adequando para a regularização do IVA e, v) reembolso do imposto. No que diz respeito à primeira questão, a Administração tributária alegou, por excepção, a incompetência do tribunal arbitral para apreciar o pedido de restituição de IVA à Requerente do IVA liquidado no montante de € 162.258,38. Ora, o Tribunal Arbitral considerou que esta matéria se insere na sua competência material, pelo que a excepção em causa foi julgada improcedente. Relativamente à segunda questão a apreciar, referente, também, à competência material do Tribunal Arbitral, a Administração tributária alegou que na sequência do indeferimento do pedido de revisão oficiosa, deveria ter apresentado reclamação graciosa, pelo que, não se tendo verificado, não podia o Tribunal Arbitral pronunciar-se sobre o pedido de pronúncia arbitral apresentado. Mais, a Administração tributária considerou, também, que no pedido de revisão oficiosa e no recurso hierárquico não foi apreciada a ilegalidade dos actos de liquidação, motivo pelo qual, o Tribunal Arbitral era incompetente, em razão da matéria. Ora, o Tribunal Arbitral considerou que, apenas está afastado do âmbito da jurisdição arbitral o conhecimento de pretensões relativas à declaração de ilegalidade de actos de autoliquidação, de retenção na fonte e de pagamento por conta que não tenham sido precedidos de recurso à via administrativa. Neste sentido, concluiu por julgar improcedente a excepção invocada. Por fim, no que toca às excepções invocadas pela Administração tributária, o pedido de pronúncia arbitral era intempestivo, por ter sido ultrapassado o prazo de 90 dias, contados do termo do prazo legal para pagamento voluntário. Sucede que o Tribunal arbitral entendeu que atendo o pedido de revisão oficiosa e o subsequente recurso hierárquico, onde foi proferida decisão de indeferimento, o pedido de pronúncia arbitral tinha sido apresentado dentro do prazo previsto.

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Relativamente à questão de fundo – meio adequado para a regularização de IVA, apresentação de pedido de revisão oficiosa ou apresentação de declaração de substituição – ocorrendo um erro material ou de cálculo, em prejuízo do sujeito passivo, o mesmo pode ser corrigido mediante apresentação de declaração de substituição, de acordo com o artigo 78.º, n.º 6, do Código do IVA. Todavia, o Tribunal Arbitral considerou não existir qualquer relação entre a apresentação de declaração de substituição e o pedido de revisão oficiosa, pelo que, nesse sentido, entendeu que o pedido de revisão oficiosa não deve atender ao prazo de dois anos fixado na norma referida. Ora, o Tribunal Arbitral referiu, ainda, que no caso em apreço se verificou que a Requerente aquando da autoliquidação não atendeu a determinados factos (como o reembolso dos vales) e atendeu, erradamente, a outros factos (oferta de produtos), pelo que esteve em erro na determinação dos factos jurídicos. Com efeito, concluiu o Tribunal arbitral que não estava em causa um erro de cálculo ou material, pelo que não era corrigível nos termos do artigo 78.º, n.º 6, do Código do IVA, mas sim, mediante pedido de revisão oficiosa, tal como foi realizado pela Requerente, pelo que, o pedido de revisão oficiosa e o subsequente recurso hierárquico foram apresentados dentro do prazo legal. Por fim, a última questão que cumpre apreciar, atende ao reembolso do montante indevidamente pago, relativamente ao qual o Tribunal considerou que não foi provado o concreto montante a reembolsar. Neste sentido, o Tribunal determinou a devolução do processo à Administração tributária para se pronunciar sobre a regularização. Em face do exposto, o Tribunal arbitral julgou o pedido de pronúncia arbitral parcialmente procedente, tendo condenando em custas, na proporção do decaimento.

***

NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: 810/2014810/2014810/2014810/2014----TTTT DATA: 7 de Julho de 2015DATA: 7 de Julho de 2015DATA: 7 de Julho de 2015DATA: 7 de Julho de 2015 ASSUNTO: IRS ASSUNTO: IRS ASSUNTO: IRS ASSUNTO: IRS –––– união de facto e a revisão do acto tributáriounião de facto e a revisão do acto tributáriounião de facto e a revisão do acto tributáriounião de facto e a revisão do acto tributário Factos:Factos:Factos:Factos: Os Requerentes solicitaram a constituição de Tribunal arbitral peticionando a declaração parcial de ilegalidade das liquidações de IRS referentes aos exercícios de 2009, 2010 e 2011, no montante total

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de € 33.046,46 e, bem assim, a anulação do despacho de indeferimento do pedido de revisão oficiosa. Os Requerentes tinham uma situação pessoal correspondente ao instituto jurídico da união de facto, pelo que, à luz da legislação, podem optar pelo regime de tributação dos sujeitos passivos casados e não separados judicialmente. Todavia, os Requerentes por desconhecerem esta opção, entre 2009 e 2011, entregaram declarações de IRS em separado, razão pela qual pretendem a anulação parcial, por não terem beneficiado do coeficiente conjugal. Por já ter decorrido o prazo para a entrega de declaração de substituição, os Requerentes solicitaram a Revisão oficiosa das liquidações de IRS referentes aos exercícios de 2009, 2010 e 2011, pois, verificou-se um apuramento de imposto em montante superior ao devido. Contudo, a Administração tributária determinou o indeferimento do pedido de revisão oficiosa, por considerar que a lei não permite aos unidos de facto a alteração da declaração inicial de IRS, passando do regime de tributação separada para o regime da tributação como casados. No caso em apreço, a Administração tributária não apresentou Resposta, tendo, apenas, procedido à junção do processo administrativo. Análise do tribunal:Análise do tribunal:Análise do tribunal:Análise do tribunal: O Tribunal arbitral identificou as seguintes questões a apreciar e decidir: i) apresentação de pedido de revisão oficiosa; e, ii) aplicação do regime de tributação dos sujeitos passivos casados e não separados judicialmente de pessoas e bens. No que diz respeito à primeira questão, o Tribunal arbitral procedeu à análise de jurisprudência do Supremo Tribunal Administrativo, relativamente ao dever da administração tributária quanto à revisão oficiosa do acto de liquidação, no prazo de quatro anos, quando se mostre que este está inquinado por erro. Neste sentido, concluiu que ainda que as liquidações de IRS tenham sido efectuadas com base na informação constante das declarações entregues pelos Requerentes, é possível efectuar-se a revisão, uma vez que se “ficciona” que o erro é imputável aos serviços. Assim, o pedido de revisão oficiosa apresentado foi tempestivo. Relativamente à segunda questão – aplicação do regime de tributação dos sujeitos passivos casados e não separados judicialmente de pessoas e bens – o Tribunal arbitral teve em consideração o Ofício-Circulado n.º 2785, da Direcção de Serviços do IRS, no qual a Administração

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tributária entendia ser irreversível a opção pelo regime de tributação dos sujeitos passivos casados e não separados judicialmente de pessoas e bens, sendo a situação inversa admissível, ou seja, a Administração admitia que verificadas as condições para a tributação ao abrigo do regime de tributação dos sujeitos passivos casados, os contribuintes podiam, subsequentemente, alterar o regime e beneficiar deste regime opcional. Todavia, a Admiinistração tributária alterou o seu entendimento, em 2012, no Ofício-circulado n.º 20162, admitindo a alteração do regime de tributação opcional para o regime regra. O Tribunal arbitral considerou que do Código do IRS não se depreende que a opção pelo regime geral ou pelo regime opcional de tributação seja de aplicação inderrogável, sem possibilidade de revisão das liquidações, pelo que, se se encontrarem verificados os pressupostos é admissível que os sujeitos passivos possam beneficiar do regime opcional de tributação dos sujeitos passivos casados e não separados judicialmente de pessoas e bens, e vice-versa. Em face do exposto, o Tribunal concluiu pela ilegalidade da decisão de indeferimento do pedido de revisão oficiosa em apreço e, consequentemente, declarou parcialmente ilegais as liquidações de IRS, sendo a Administração tributária condenada ao reembolso de € 33.046,46, acrescido de juros indemnizatórios.

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NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: 654/2014654/2014654/2014654/2014----TTTT DATA: 24 de Julho de 2015DATA: 24 de Julho de 2015DATA: 24 de Julho de 2015DATA: 24 de Julho de 2015 ASSUNTO: IVA ASSUNTO: IVA ASSUNTO: IVA ASSUNTO: IVA –––– revogação parcial da liquidação e revogação parcial da liquidação e revogação parcial da liquidação e revogação parcial da liquidação e insuficiência dinsuficiência dinsuficiência dinsuficiência deeee fundamentaçãofundamentaçãofundamentaçãofundamentação Factos:Factos:Factos:Factos: A Requerente – sociedade por quotas – solicitou a constituição de Tribunal arbitral peticionando a declaração de ilegalidade das autoliquidações de IVA, no montante total de € 10.251,57, e juros compensatórios no montante de € 1.230,65, referente aos meses de Janeiro, Março, Maio, Julho, Agosto, Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro, do ano de 2010. A Requerente tem como actividade a compra e venda de cd’s, dvd’s e outros artigos relacionados com música e audiovisual, actuando no mercado nacional e estrangeiro, e os principais clientes são armazenistas, sendo, em regra as quantidades vendidas elevadas, sendo a expedição feita em paletes ou caixas e, por vezes, por empresas de expedição ou pelos CTT. Em Janeiro de 2013, a

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Requerente foi sujeita a uma acção de inspecção pela Direcção de Finanças relativamente aos exercícios de 2010, 2011 e 2012. Ora, da acção de inspecção a Administração tributária entendeu que foi deduzido IVA indevidamente e, bem assim, que a Requerente não tinha elementos comprovativos de bens facturados a clientes comunitários, nem os documentos alfandegários apropriados, no caso das exportações. Sucede que, a Requerente alegou que o procedimento de inspecção externa se prolongou indevidamente e, por isso, padece de nulidade e, bem assim, que o relatório de inspecção foi insuficientemente fundamentado. A Administração tributária, não obstante ter apresentado resposta, revogou parcialmente os actos de liquidação contestados, passando o valor da acção a ser de € 9.310,88. Atendendo ao facto de a Administração tributária não ter procedido à junção do processo administrativo, a Requerente alegou estar em causa uma nulidade processual, por ser susceptível de influir na decisão. Posteriormente, a Administração tributária procedeu à devida junção. Análise do tribunal:Análise do tribunal:Análise do tribunal:Análise do tribunal: O Tribunal arbitral identificou as seguintes questões a apreciar e decidir: i) ilegalidade das liquidações de IVA e juros compensatórios que não foram revogadas; ii) insuficiência e inteligibilidade da fundamentação; iii) fundada dúvida quanto à quantificação dos factos tributários; iv) ilegal prorrogação do procedimento de inspecção tributária; e, v) erro nos pressupostos de facto. No que diz respeito à primeira questão decidenda, atendendo à superveniente revogação parcial dos actos de liquidação, cumpre ter presente a incompatibilidade específica, prevista no Regime Complementar do Procedimento de Inspecção Tributária, referente à realização de acções de inspecção visando a prestação de informações em matéria de facto em processos de actos que tenham tido intervenção. Ora, o Tribunal considerou que, tendo a decisão da reclamação graciosa sido proferida pelo mesmo Inspector tributário que elaborou o Relatório da Inspecção e, bem assim, que proferiu o despacho de revogação parcial dos actos de liquidação, se verifica uma situação de incompatibilidade e impedimento administrativo. Neste sentido, o Tribunal arbitral concluiu que o acto de revogação parcial das liquidações, na parte em que manteve, enferma de vicio de violação de lei, o que justifica a sua anulação.

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Assim, verificando-se o vício de incompatibilidade específica, fica prejudicado o conhecimento de outros vícios imputados ao acto impugnado. Em face do exposto, o tribunal determinou a anulação das liquidações de IVA e de juros compensatórios que não haviam sido anuladas e, bem assim, o reembolso das quantias pagas a título de IVA e juros compensatórios, acrescidas de juros indemnizatórios.

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NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: 827/2014827/2014827/2014827/2014----TTTT DATA: 24 de Agosto de 2015DATA: 24 de Agosto de 2015DATA: 24 de Agosto de 2015DATA: 24 de Agosto de 2015 ASSUNTO: IVA ASSUNTO: IVA ASSUNTO: IVA ASSUNTO: IVA –––– Direito à dedução de pessoa colectiva de direito públicoDireito à dedução de pessoa colectiva de direito públicoDireito à dedução de pessoa colectiva de direito públicoDireito à dedução de pessoa colectiva de direito público Factos:Factos:Factos:Factos: O Requerente – Município – solicitou a constituição de Tribunal arbitral peticionando a declaração de ilegalidade do indeferimento do acto de autoliquidação de IVA, referente a Dezembro de 2009, no montante de € 101.361,60. O Requerente, enquanto pessoa colectiva de direito público local, realiza operações que estão excluídas da sujeição a IVA e, por outro lado, realiza operações sujeitas a IVA nos termos gerais. No entanto, no exercício de 2009, o Requerente submeteu declarações periódicas mensais de IVA, não tendo procedido a qualquer dedução do IVA referente a bens de utilização mista. Aquando da apresentação do pedido de revisão oficiosa, a Administração tributária considerou que os prazos para o exercício do direito de dedução já se encontravam ultrapassados e, bem assim, o mesmo se considerou quanto ao prazo de dois anos para regularização a favor do sujeito passivo. No âmbito da Resposta apresentada pela Administração tributária, foi invocada a excepção de incompetência material do Tribunal arbitral, em virtude, de não ter sido deduzida, previamente, reclamação graciosa e, bem assim, por não ter sido apreciada a legalidade dos actos de autoliquidação de IVA, em sede de pedido de revisão oficiosa e recurso hierárquico. Por outro lado, no âmbito da Resposta apresentada a Administração tributária invoca, também, como excepção a intempestividade de apresentação do pedido de pronúncia arbitral, enquanto

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impugnação directa dos actos de liquidação de IVA, por ter decorrido o prazo de 90 dias desde o termo do prazo para o pagamento voluntario. Análise do tribunal:Análise do tribunal:Análise do tribunal:Análise do tribunal: O Tribunal arbitral identificou as seguintes questões a apreciar e decidir: i) incompetência material; ii) intempestividade para impugnação directa dos actos de liquidação de IVA; iii) direito à dedução. No que diz respeito à primeira questão, o Tribunal arbitral teve em consideração as excepções invocadas pela Administração tributária. Neste sentido, o Tribunal arbitral considerou que o entendimento da Administração tributária de que proscreve o âmbito da jurisdição arbitral as pretensões relativas à declaração de ilegalidade de actos de autoliquidação, que não tenham sido precedidas de reclamação, não pode proceder, sendo, por isso, improcedente a excepção invocada. Note-se que o Tribunal arbitral entendeu que nos termos da aliena a), do artigo 2.º, da Portaria 112.ºA/2011 é possível a impugnação directa de actos de autoliquidação sem precedência de pronuncia administrativa expressa. Por outro lado, e ainda no âmbito da primeira questão, o Tribunal arbitral considerou que relativamente ao entendimento da Administração tributária de que no pedido de revisão oficiosa e, subsequente recurso hierárquico, não foi apreciada a legalidade de qualquer acto tributária, também, não pode este proceder. O Tribunal arbitral considerou estar expresso no pedido de revisão oficiosa e, bem assim, no recurso hierárquico interposto, a apreciação da Administração da legalidade do acto de liquidação de IVA do Requerente. No que diz respeito à questão da intempestividade para a impugnação directa dos actos de liquidação, o Tribunal arbitral considerou que tendo ocorrido o pedido de revisão oficiosa e, subsequentemente, o recurso hierárquico, e tendo o pedido de pronuncia arbitral sido apresentado dentro do prazo, a excepção invocada foi julgada improcedente. Por fim, no que diz respeito à questão de fundo – direito à dedução de IVA – resulta das normas do Código do IVA que ocorrendo erro material ou de cálculo, em prejuízo do sujeito passivo, pode ser corrigido no prazo de dois anos e, por outro lado, se se verificarem outros tipos de erro, estes podem ser corrigidos mediante apresentação de declaração de substituição ou, não sendo possível, mediante pedido de revisão oficiosa. Assim, o Tribunal arbitral referiu, desde logo, que o pedido de revisão oficiosa não atende ao prazo de dois anos, aplicável aos erros de cálculo ou material.

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No caso em apreço, verificou-se, não um erro de facto ou material, mas sim um erro relativamente ao direito aplicável, pelo facto de não ter procedido a qualquer dedução do montante de IVA, relativamente a bens de utilização mista. A este respeito, o Tribunal atendeu à jurisprudência arbitral (cf. decisão n.º 117/2013-T) nos termos da qual se considerou estar em causa um erro no preenchimento do montante de IVA dedutível, pelo que não pode ser aplicável o regime das regularizações que prevê o prazo de dois anos, de acordo com artigo 78.º, n.º 6, do Código do IVA. Neste sentido, entendeu o Tribunal arbitral que o meio adequado para a correcção do erro em causa seria mediante a apresentação de declaração de substituição, caso fosse possível, sob pena de poder ser, também, possível a apresentação de pedido de revisão oficiosa, no prazo de 4 anos. Assim, concluiu o Tribunal arbitral que as decisões de indeferimento do pedido de revisão oficiosa e recurso hierárquico são ilegais. Em face do exposto, tendo as decisões proferidas pela Administração tributária sido declaradas ilegais, o processo foi devolvido à Administração tributária para esta se pronunciar sobre a regularização de IVA peticionada. Assim, o Tribunal arbitral julgou improcedente o pedido de reembolso do montante indevidamente pago, sendo este decidido pela Administração tributária.

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NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: 108/2014108/2014108/2014108/2014----TTTT DATA: 16 de Setembro de 2015DATA: 16 de Setembro de 2015DATA: 16 de Setembro de 2015DATA: 16 de Setembro de 2015 ASSUNTO: IRC ASSUNTO: IRC ASSUNTO: IRC ASSUNTO: IRC –––– Caducidade do direito de acção e a retenção relativa Caducidade do direito de acção e a retenção relativa Caducidade do direito de acção e a retenção relativa Caducidade do direito de acção e a retenção relativa à à à à aquisição de direito de aquisição de direito de aquisição de direito de aquisição de direito de utilização desportiva do atleta e direitos de imagem utilização desportiva do atleta e direitos de imagem utilização desportiva do atleta e direitos de imagem utilização desportiva do atleta e direitos de imagem Factos:Factos:Factos:Factos: A Requerente – A...SAD – solicitou a constituição de Tribunal arbitral colectivo peticionando a declaração da ilegalidade da demonstração de liquidação de retenções na fonte de IRC, referente ao exercício de 2008, no montante de € 530.853,00 e, correspondentes juros compensatórios no montante de € 47.001,69. A Requerente é uma sociedade desportiva, estando sujeita ao regime jurídico especial previsto no Decreto-lei n.º 67/97. Em 2008, a Requerente efectuou diversos pagamentos, sem retenção na fonte: i) pagou à sociedade B, sediada no Brasil, o montante de € 174.125,00, a título de direitos desportivos e financeiros relativamente ao jogador C; ii) pagou à entidade D sediada na Irlanda, o montante de € 136.390,00 a título de cessão dos direitos de imagem do jogador E; iii) pagou €

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1.075.269,00 à entidade F, sediada na Holanda, a titulo de cessão dos direitos de imagem do jogador G; iv) pagou à entidade H, com sede na Holanda, o montante de € 90.000,00, devido à realização de um jogo de futebol amigável; e, v) pagou à entidade J, com sede em Itália, o pagamento de € 480.000,00, pela realização de jogo amigável. A Requerente foi sujeita a procedimento de inspecção que teve início em 28 de Janeiro de 2010 e terminou em 28 de Janeiro de 2011. Neste sentido, a Administração tributária considerou que a Requerente deveria ter efectuada a retenção na fonte sobre os montantes acima referidos, à taxa de 25%, por considerar que se trata de um rendimento obtido em Portugal por um não residente sujeito a IRC. No âmbito da Resposta apresentada, a Administração tributária alegou, por excepção, a caducidade do direito de acção, por considerar que a reclamação graciosa havia sido apresentada fora do prazo e, consequentemente, o pedido de pronuncia arbitral também enferma de intempestividade, verificando-se a caducidade do direito à acção.

Análise do tribunal:Análise do tribunal:Análise do tribunal:Análise do tribunal: O Tribunal arbitral identificou as seguintes questões a apreciar e decidir: i) caducidade do direito de acção; ii) retenção na fonte relativa à aquisição de direitos de utilização desportiva; iii) retenção na fonte relativa aos pagamentos a não residentes, dos direitos de imagem; iv) retenção na fonte relativa aos pagamentos a não residentes, pela realização de jogos de futebol amigáveis. No que diz respeito à primeira questão, referente à excepção da caducidade do direito de acção, o Tribunal arbitral considerou que estando em causa vícios imputáveis à Administração tributária e tendo a reclamação graciosa sido apresentada no prazo de quatro anos, não se verifica obstáculo à convolação em pedido de revisão oficiosa. Posto isto, concluiu o Tribunal arbitral pela improcedência da excepção invocada pela Administração tributária. Relativamente à segunda questão decidenda, o Tribunal arbitral teve em consideração a situação relativa à aquisição de direitos desportivos e financeiros do jogador C, sem ter sido efectuada a retenção na fonte, pelo que, desde logo, o artigo 4.º, nº 2, do Código do IRC determina que as entidades não residentes em Portugal estão sujeitas a IRC quanto aos rendimentos aí recebidos. Todavia, o Tribunal considerou como não provado o pagamento à sociedade B, da quantia de € 174.125,00 e, nesse sentido, determinou a anulação do acto de liquidação, por se tratar do facto tributário pressuposto da correcção efectuada pela Administração tributária.

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Passando para a análise da questão referente à retenção na fonte dos pagamentos referentes aos direitos de imagem dos atletas E e G, o Tribunal arbitral referiu que a origem dos rendimentos obtidos pelas empresas D e F resultam da alienação de direitos de imagem, anteriormente adquiridos. A relação entre estas empresas e os jogadores esgota-se com a entrega desse direito e com o correspondente pagamento, tendo, o Tribunal referido que estas empresas ao cederem à Requerente o direito de explorar a imagem dos jogadores têm uma postura de investidor, por terem adquirido esse direito e, posteriormente, alienado o mesmo. A este respeito, o Tribunal distinguiu, ainda, que os rendimentos provenientes da disposição do direito de imagem não são proporcionados pelo exercício da actividade desportiva em Portugal, mas sim, pelo facto de o desportista praticar um acto autónomo em relação ao exercício daquela actividade, ou sejam praticar um acto de disposição de direitos de personalidade (direito à imagem). Neste sentido, a Convenção de Dupla Tributação entre Portugal e a Irlanda e entre Portugal e os Países Baixos, dispõe, também, que quanto aos rendimentos da actividade exercida pessoalmente pelos desportistas nessa qualidade, não permite o enquadramento dos rendimentos obtidos com a cedência de utilização dos direitos de imagem. Assim, quanto a esta questão o Tribunal arbitral concluiu que os rendimentos pagos pela Requerente às sociedades D e F devem ser considerados rendimentos empresariais destas e, por isso, tributados nos respectivos Estados, pelo que o acto de liquidação deve ser anulado. Por fim, relativamente à questão sobre a retenção na fonte relativa aos pagamentos a não residentes, em virtude da realização de jogos de futebol amigáveis, o Tribunal arbitral referiu que não estava em causa espectáculos desportivos em que os jogadores actuaram a titulo pessoal, mas sim, a actuação de entidades, cujas marcas são dominantes, que participaram em espectáculos desportivos nessa qualidade e por isso, foram remuneradas. Neste sentido, concluiu que as quantias pagas as empresas H e J, pela realização de jogos de futebol amigáveis, não se tratam de rendimentos derivados de actividades exercidas pelos desportistas, pelo que não estão sujeitos a tributação. Assim, também por este motivo, foi determinada a anulação do acto de liquidação. Em face do exposto, o Tribunal arbitral julgou procedente o pedido de pronúncia arbitral determinando a anulação do acto de liquidação de retenções na fonte de IRC e juros compensatórios, relativo ao exercício de 2008, no montante total de € 532.389,34.

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NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: 783/2014783/2014783/2014783/2014----TTTT DATA: 21 de Setembro de 2015DATA: 21 de Setembro de 2015DATA: 21 de Setembro de 2015DATA: 21 de Setembro de 2015 ASSUNTO: IRC ASSUNTO: IRC ASSUNTO: IRC ASSUNTO: IRC –––– Abates por quebrasAbates por quebrasAbates por quebrasAbates por quebras Factos:Factos:Factos:Factos: A Requerente solicitou a constituição de Tribunal arbitral peticionando a declaração de ilegalidade da liquidação de IRC e juros compensatórios, referente ao exercício de 2010, no montante de € 91.795,12. A Requerente é uma sociedade cuja actividade principal é a produção e venda de produtos de pastelaria, nomeadamente, pão e tipos de bolo, sendo a produção comercializada e, maioritariamente, embalada, para empresas de catering ou comércio de produtos alimentares. Atenta a actividade da Requerente é normal as recorrentes percas de mercadoria e, bem assim, a degradação ou decorrência dos prazos de qualidade e validade. Ora, no âmbito da acção de inspecção realizada pela Administração tributária, foi considerado que a Requerente registou perdas em inventários, relativas a abates de mercadorias no valor de € 306.910,38 e, bem assim, que os abates ocorridos não foram certificados por nenhuma pessoa independente dos órgãos de gestão da sociedade. Mais, concluiu também que a Requerente não procedeu à entrega de IVA, que deveria ter liquidado relativamente aos ajustamentos em inventários e abates, no montante de € 36.934,62. Assim, a Administração tributária considerou que não foram comprovados os abates e, bem assim, não podia ter ocorrido a efectiva destruição ou inutilização dos bens, por não terem cumprido com os requisitos de prova documental previstos na lei. Análise do tribunal:Análise do tribunal:Análise do tribunal:Análise do tribunal: O Tribunal arbitral identificou a seguinte questão a apreciar e decidir: i) aplicação do (ex) artigo 38.º do CIRC às situações de abate. Atenta a questão decidenda o Tribunal arbitral começou por analisar o anterior artigo 38.º do Código do IRC, referente às desvalorizações excepcionais, provenientes de causas anormais, tendo, para o efeito, concluído que esta disposição não se aplica à situação em apreço, pois, foi

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reconhecido que a Requerente procede regularmente a abates e, por isso, o caracter excepcional não se verifica. Neste sentido, o Tribunal concluiu que não estava em causa uma desvalorização excepcional, mas sim, a eliminação de produtos perecíveis resultantes do processo produtivo da Requerente e insusceptíveis de aproveitamento. Note-se que o Tribunal arbitral refere, ainda, que o que a Administração tributária pretendia questionar não seria a ocorrência do tipo de perdas registadas, mas sim o quantitativo das mesmas, por suspeitar de registos superiores ao que efectivamente ocorreu. No entanto, o Tribunal está obrigado a atender à fundamentação vertida nos actos de liquidação, não podendo, assim, considerar outros eventuais fundamentos Em face do exposto, o Tribunal arbitral considerou que o acto de liquidação contestado padece de falta de fundamentação, pelo que, foi julgado ilegal.

*** NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: NÚMERO DO PROCESSO: 46/201546/201546/201546/2015----TTTT DATA: 29 de Setembro de 2015DATA: 29 de Setembro de 2015DATA: 29 de Setembro de 2015DATA: 29 de Setembro de 2015 ASSUNTO: IABA ASSUNTO: IABA ASSUNTO: IABA ASSUNTO: IABA –––– Liquidação do Imposto sobre o álcool e as bebidas alcoólicasLiquidação do Imposto sobre o álcool e as bebidas alcoólicasLiquidação do Imposto sobre o álcool e as bebidas alcoólicasLiquidação do Imposto sobre o álcool e as bebidas alcoólicas Factos:Factos:Factos:Factos: A Requerente solicitou a constituição de Tribunal arbitral peticionando a declaração de ilegalidade da liquidação do Imposto sobre o Álcool e as Bebidas Alcoólicas (IABA), no montante de € 10.673,49, na sequência do Despacho proferido pelo Chefe da Delegação Aduaneira. A Requerente dedica-se à produção e distribuição de bebidas alcoólicas, no âmbito da qual vendeu 20880 garrafas de vinho do Porto a um cliente, pelo montante de € 40.716,00, que tinham como destino uma empresa, sediada em França. Assim, foi necessária a emissão do Documento Administrativo de Acompanhamento. Todavia, o Chefe da Delegação Aduaneira, no âmbito de uma acção de controlo documental e atendendo a vários documentos administrativos de acompanhamento emitidos, considerou que não foram cumpridas as formalidades inerentes à circulação intracomunitária de produtos sujeitos a Imposto Especial de Consumo, nomeadamente, pelo facto de não ter sido apresentado exemplar 3 e o Documento Administrativo de Acompanhamento não ter sido objecto de apuramento. Com efeito, a Requerente procedeu às diligências necessárias para efeitos de apuramento do documento, junto

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da Alfândega de Valenciennes e junto da empresa sediada em França, pelo que foi demonstrado o recebimento da mercadoria e, bem assim, que o respectivo pagamento foi efectuado. No âmbito da Resposta apresentada pela Administração tributária, considerou que não foram cumpridas as formalidades inerentes à circulação intracomunitária, pelo que foi iniciado um processo de cobrança a posteriori, do qual resultou imposto a pagar, no montante de € 10.673,49. Análise do tribunal:Análise do tribunal:Análise do tribunal:Análise do tribunal: O Tribunal arbitral identificou a seguinte questão a apreciar e decidir: i) legalidade do Despacho do Chefe da Delegação Aduaneira, relativamente à liquidação de IABA, no montante de € 10.673,49. Tendo em consideração a questão que cumpre decidir, o Tribunal arbitral começou por analisar se a não apresentação do 3.º exemplar do Documento Administrativo de Acompanhamento, pode possibilitar a apresentação de outros documentos probatórios para proceder ao apuramento de que a mercadoria foi efectiva e regularmente recebida. A este respeito o Tribunal considerou que a apresentação de outros documentos probatórios é permitida. No entanto, o Tribunal arbitral referiu que, no caso em apreço, a Requerente não procedeu à comunicação, junto da Delegação Aduaneira, a falta de envio do exemplar do Documento Administrativo de Acompanhamento. No entanto, este entendimento não impossibilita o apuramento do regime, caso seja ilidida a presunção e feita prova de que a mercadoria foi efectivamente recebida. O Tribunal arbitral concluiu que a norma do Código dos Impostos Especiais de Consumo deve ser interpretada de forma a admitir outros meios de prova que demonstrem a remessa das garrafas de vinho, neste caso, teve o destino que foi declarado aquando da expedição. Os documentos comprovativos, no caso em apreço, foram referentes ao transporte da mercadoria para a empresa sediada em França, estando, para o efeito, carimbados e, bem assim, o extracto contabilístico da contabilidade revelador de que a mercadoria foi recebida e registada. Assim, ficou comprovado que a mercadoria chegou, regularmente, ao seu destino e, bem assim, foi aí sujeita aos encargos fiscais, pelo que, não pode ser tributada, novamente, no país de expedição, sob pena de violação do princípio da legalidade, proporcionalidade e justiça. Em face do exposto, o Tribunal considerou os meios de prova adequados a demonstrar a realidade dos factos e, nesse sentido anulou os actos de liquidação de IABA e determinou o reembolso do montante indevidamente pago, acrescido de juros indemnizatórios.

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Lisboa, 07 de Dezembro de 2015 Rogério M. Fernandes Ferreira Sérgio Brigas Afonso Catarina Ribeiro Caldas