junqueira, marco antonio de carvalho. o ressurgimento da

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MARCO ANTONIO DE CARVALHO JUNQUEIRA O RESSURGIMENTO DA MARINHA MERCANTE EM FUNÇÃO DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO OFFSHORE: a importância da participação do Estado na implementação de políticas de desenvolvimento para o setor marítimo. Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Professor Ricardo de Azevedo Rio de Janeiro 2014

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Page 1: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

MARCO ANTONIO DE CARVALHO JUNQUEIRA

O RESSURGIMENTO DA MARINHA MERCANTE EM FUNÇÃO DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO OFFSHORE:

a importância da participação do Estado na implementação de políticas de desenvolvimento para o setor marítimo.

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Professor Ricardo de Azevedo

Rio de Janeiro

2014

Page 2: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

C2014 ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________

Assinatura do autor

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Junqueira, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da Marinha Mercante em função da indústria de

implementação de políticas de desenvolvimento para o setor marítimo. / Oficial Superior de Máquinas da Marinha Mercante Marco Antonio de Carvalho Junqueira. - Rio de Janeiro: ESG, 2014.

72 f.: il. Orientador: Nome (Professor Ricardo de Azevedo). Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2014.

1. Indústria naval brasileira. 2. A marinha mercante do Brasil. 3.

A retomada da indústria marítima no Brasil. 4. Tecnologia na indústria marítima. I Título.

Page 3: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

A meus pais que durante o meu período

de formação contribuíram com

ensinamentos e incentivos.

A todos os profissionais marítimos ou

não com os quais convivi ao longo de

minha carreira, e que, por meio de seus

exemplos, contribuíram com minha

formação.

A minha gratidão a toda a família, em

especial aos meus filhos João Gabriel e

Pedro Miguel, fontes de amor e energia.

E a Deus pelas bênçãos que tem me

concedido.

Page 4: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

AGRADECIMENTOS

Aos meus professores de todas as épocas por terem sido responsáveis por

parte considerável da minha formação e do meu aprendizado.

Aos estagiários da Turma do CAEPE “ESG 65 anos pensando o Brasil” pelo

convívio harmonioso de todas as horas e as amizades plantadas e geradas neste

feliz ano de 2014.

Ao Corpo Permanente da ESG e aos diversos palestrantes convidados

pelos ensinamentos e orientações que me fizeram refletir, cada vez mais, sobre a

importância de se estudar o Brasil com a responsabilidade implícita de melhorá-lo

Ao SINDMAR, pela confiança em mim depositada, dando-me a honra de ser

o primeiro Oficial Superior de Máquinas a ingressar no CAEPE da ESG.

Page 5: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quere passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. (PESSOA, Fernando. Mensagem: Mar Português. Portugal, Lisboa 1934).

Page 6: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

RESUMO

Esta monografia apresenta os fatores que levaram a Indústria Marítima brasileira ao

seu desmonte, e a quase total falência nas décadas de 1980 e 1990. Encontrando

sua recuperação com base nas políticas públicas e nas demandas da Petrobras em

virtude da exploração e produção de óleo e gás no offshore, a partir de 2000. O

objetivo deste estudo é investigar em que medida se deu esta retomada, assim

como em que dimensão esta retomada irrigou o desenvolvimento de nossa Indústria

Marítima – Construção Naval, Marinha Mercante e navipeças. Enfatizando os

aspectos do desenvolvimento estruturado sobre os avanços tecnológicos, e as

oportunidades advindas deste processo desenvolvimentista para assegurar a

posição futura do Brasil, neste segmento industrial. A metodologia adotada

comportou uma pesquisa bibliográfica e documental em diversos suportes, a fim de

estudar referenciais teóricos dentro e fora das instituições do Governo. A delimitação

do estudo são as políticas e os principais atores da Indústria Marítima, no período

2000 – 2014. Os principais tópicos abordados para discorrer sobre o tema são: a

crise dos anos 1990, o processo de retomada e os principais fatores que

contribuíram para tal, a política de conteúdo local no Brasil, e a comparação das

experiências brasileiras com a de outros países. E finalmente a conclusão com

análise de nossa estratégia e políticas.

Palavras Chaves: Indústria naval brasileira. A Marinha Mercante do Brasil. A

retomada da Indústria Marítima no Brasil. Tecnologia na Indústria Marítima.

Page 7: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

ABSTRACT

This monograph presents the factors that led the Brazilian maritime industry to its

dismantling and the almost total failure in the decades of 1980 and 1990. Finding his

recovery based on public policies and the demands of Petrobras under the

exploration and production of oil and gas offshore, from the year 2000. The aim of

this study is to investigate the extent of this recovery, and in which dimension this

resumption irrigated the development of our maritime industry - shipbuilding, shipping

and marine parts. Emphasizing aspects of development structured on technological

advancements, and the opportunities arising from this development process to

ensure Brazil's future position in this industry segment. The methodology involved a

bibliographical and documentary research in various media, to study theoretical

frameworks within and outside of government institutions. The delimitation of the

study are the policies and the main actors of the maritime industry in the period 2000

- 2014. The main topics to discuss this subject are: the crisis of the 1990s, the

process of recovery and the main factors that contributed to this, the local content

policy in Brazil, and the comparison of Brazilian experiences with other countries.

And finally the completion with the analysis of our strategy and policies.

Key words: Brazilian naval industry. The Merchant Navy of Brazil. The resumption of

the maritime industry in Brazil. Technology in the maritime industry

Page 8: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABDI Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial

ABEAM Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo

ABIMAQ Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos

AHTS Anchor Handling Tug Supply Vessel (Navio de Manuseio de Ancoras Reboque e Suprimentos)

AIE Agência Internacional de Energia

ANP Agência Nacional de Petróleo Gás e Biocombustíveis

ANTAQ Agência Nacional de Transportes Aquaviários

API American Petroleum Institute (Instituto Americano de

Petróleo)

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CDFMM Conselho Diretor do Fundo de Marinha Mercante

CENPES Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello / Centro de Pesquisas Petrobras

CGU Controladoria Geral da União

CL Conteúdo Local

CMN Conselho Monetário Nacional

CN Construção Naval

CNAE Classificação Nacional por Atividade Econômica

CNI Confederação Nacional da Indústria

DMM Departamento de Marinha Mercante

DSV Diving Support Vessel (Barco de apoio a mergulho)

E & P Exploração e Produção de Petróleo

EBN Empresa Brasileira de Navegação

FGCN Fundo Garantidor da Construção Naval

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

FMM Fundo de Marinha Mercante

FPSO Floating Production, Storage and Offloading (Unidade Flutuante de Produção, Armazenamento e Transferência)

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis

IBP Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis

Page 9: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

MME Ministério de Minas e Energia

NSRP – ASE National Shipbuilding Research Program - Advanced Shipbuilding Enterprise (Programa Nacional de Pesquisa de Construção Naval – Empreendimento de Construção Naval Avançada)

OMC Organização Mundial do Comércio

ONIP Organização Nacional da Indústria do Petróleo

OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo

P & D Pesquisa e Desenvolvimento

PAC Plano de Aceleração do Crescimento

PCL Política de Conteúdo Local

PETROBRAS Petróleo Brasileiro S.A

PLSV Pipe Laying Support Vessel (Barco para Lançamento de Linhas Flexíveis)

PROMEF Programa de Renovação e Expansão da Frota da Petrobras Transporte S.A

PROMINP Programas de nacionalização industrial da indústria de petróleo e gás

PROREFAM Programa de Renovação da Frota de Apoio Marítimo

PSV Plataform Supply Vessel (Navios de Suprimento de Plataformas)

REB Registro Especial Brasileiro

SAP Sistema de Acompanhamento da Produção

SINAVAL Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore

SOBENA Sociedade Brasileira de Engenharia Naval

SUNAMAM Superintendência Nacional de Marinha Mercante

T & D Tecnologia e Desenvolvimento

TCU Tribunal de Contas da União

TRANSPETRO Petrobras Transporte S.A.

Page 10: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 10

2 ANTECEDENTE HISTÓRICO ........................................................................ 12

2.1 A CRISE DOS ANOS 90................................................................................. .12

2.2 A RETOMADA ................................................................................................ 15

2.3 POLÍTICAS E PROJETOS DE INCENTIVO ................................................... 16

2.4 A RESPOSTA DA INDÚSTRIA MARÍTIMA .................................................... 21

3 PROGRAMAS DE CONSTRUÇÃO NAVAL: UNIÃO EUROPÉIA, ESTADOS

UNIDOS, E BRASIL. .................................................................................... 25

3.1 A UNIÃO EUROPEIA...................................................................................... 25

3.2 OS ESTADOS UNIDOS .................................................................................. 26

3.3 O BRASIL ....................................................................................................... 27

4 OS DESAFIOS DA INDÚSTRIA MARÍTIMA NACIONAL .............................. 30

4.1 A POLÍTICA DE CONTEÚDO LOCAL: CONCEITUAÇÃO ............................. 32

4.2 A POLÍTICA DE CONTEÚDO LOCAL NO BRASIL......................................... 33

4.3 A POLÍTICA DE CONTEÚDO LOCAL NA NORUEGA: UM PARADIGMA ..... 36

4.4 DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO LOCAL NO BRASIL ....................... 41

4.5 ORGANIZAÇÕES E PROGRAMAS DO CONTEÚDO LOCAL NO BRASIL ... 41

4.5.1 Organização Nacional da indústria do petróleo - ONIP ............................. 41

4.5.2 Programas de nacionalização industrial da indústria de petróleo e gás -

PROMINP ....................................................................................................... 44

4.5.3 Análises do conteúdo local ......................................................................... 47

4.6 AS IMPLICAÇÕES DO CONTEÚDO LOCAL NA MARINHA MERCANTE.....50

5 CONCLUSÃO ................................................................................................. 54

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 60

ANEXO A – GRÁFICOS, TABELAS E ILUSTRAÇÕES. ............................... 66

ANEXO B – RELAÇÃO DE EMBARCAÇÕES CONSIDERADAS PARA

CONTEÚDO LOCAL ...................................................................................... 72

Page 11: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

10

1 INTRODUÇÃO

A Marinha Mercante no Brasil durante o século XX apresentou momentos de

intenso crescimento e de retração. Seus ciclos de crescimento foram sempre

fomentados por iniciativas políticas do Estado Brasileiro, tomando em conta a sua

importância comercial e econômica. Um dos atributos básicos destas políticas

públicas de fomentação do setor marítimo, ao longo do tempo, tem sido a

indissociabilidade entre a Construção Naval (CN) e a Marinha Mercante, como

veremos no decorrer deste trabalho.

Circunstâncias da economia brasileira durante os anos 1980 e 1990,

fragilizaram a nossa estrutura produtiva e logística, incluindo aí a Indústria Marítima1

que, sem condições de competitividade a nível internacional, ruiu e nos fez ver o

sucateamento dos estaleiros e a diminuição drástica de nossa frota mercante.

Entretanto, nos últimos quatorze anos, este segmento voltou a viver uma fase de

recuperação, alavancado pelos desafios da Indústria Offshore de Exploração e

Produção (E&P) de petróleo e gás - cujo ator mais influente deste cenário tem sido a

Petróleo Brasileiro S.A (Petrobras) – e estruturado em políticas públicas.

A participação do Estado na implementação de políticas de desenvolvimento

para o setor marítimo continua sendo de extrema importância para um país com

dimensões navais como o Brasil. A nossa extensa costa (7.367 km), a nossa

participação no comércio global, por linhas de comunicações marítimas, superior a

95% do volume do nosso comércio exterior, e os recursos minerais exploráveis em

nossa plataforma continental2 corroboram este argumento. Diante deste panorama,

______________ 1 Indústria marítima nacional compreende os seguintes segmentos: o transporte marítimo de cargas,

pessoas e serviços, incluídos aí os segmentos de atividades marítimas de apoio portuário e no offshore; construção naval; construção náutica; reparo naval; plataformas petrolíferas; e estaleiros e bases de operações offshore. Disponível em: <www.teses.usp.br/teses/.../3/.../Tese_Versao_Final_Naval_Delmo.pdf>. Acesso em: 15 maio 2014.

2 Segundo a convenção internacional de direito marítimo celebrada em Montego Bay, Jamaica, em 1982: "A plataforma continental de um Estado costeiro compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural do seu território terrestre, até ao bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de 200 milhas marítimas das linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja essa distância." Disponível em: <http://www.infoescola.com/oceanografia/plataforma-continental/>. Acesso em 26 de agosto de 2014.

Page 12: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

11

políticas públicas que fomentem a produtividade e a competitividade da Indústria

Marítima nacional são essenciais.

Ao longo do texto serão expostos argumentos sobre fatores de influência no

desenvolvimento da Indústria Marítima, com foco predominante sobre a importância

estratégica da tecnologia como a base de sustentação deste processo. E, por meio

deste teor, será analisada a retomada da Indústria Marítima brasileira nos últimos

quatorze anos, avaliando em que medida se dá o desenvolvimento de seus

segmentos e o grau de avanço tecnológico induzido por este processo.

Por meio de estudos de diversas produções literárias a respeito da Marinha

Mercante, da Indústria Naval e da Indústria Offshore3, será feita uma análise densa a

respeito do problema em questão. O marco teórico para as investigações e

pesquisas que vão responder às questões são as diversas produções literárias de

especialistas ou estudiosos da comunidade marítima: técnica e acadêmica,

representantes dos trabalhadores, do governo, das empresas da área de petróleo e

gás offshore, da indústria de equipamentos, Construção Naval e transporte marítimo.

______________ 3 A indústria offshore representa as estruturas offshore, que são estruturas marítimas utilizadas para

exploração, extração e perfuração de petróleo e gás natural. Disponível em: <http://direitomaritimoeportuario.wordpress.com/2013/10/08/a-natureza-juridica-das-estruturas-offshore/>. Acesso em: 15 maio 2014.

Page 13: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

12

2 ANTECEDENTE HISTÓRICO

O pano de fundo desta seção é o processo de reforma da Constituição de

1988. Em 1995 o artigo 178 da Constituição Federal foi alterado por meio da

emenda número sete (BRASIL, 1995). A partir daí a regulamentação do mercado de

navegação coube à legislação ordinária. Diante disto, em 8 de janeiro de 1997, foi

editada a Lei 9.432 (BRASIL, 1997), que reordenava o setor de transporte marítimo,

colocando em prática uma política de maior competição e abertura ao mercado

externo, impactando especialmente a navegação de longo curso. Os principais

pontos da citada lei foram: abertura do capital das Empresas Brasileiras de

Navegação (EBN) ao capital estrangeiro, sem qualquer restrição; a criação do

Registro Especial Brasileiro (REB4); e afretamento de embarcações estrangeiras

liberado para a navegação internacional. (NÓBREGA, 2008). Esta medida por si só

nos aponta o rumo político assumido naquela ocasião e que foi determinante por

culminar em uma das maiores crises de nossa Indústria Marítima.

2.1 A CRISE DOS ANOS 90

Nos anos 1990 o cenário brasileiro era de um Estado que buscava soluções

para superar as crises fiscal e financeira. O neoliberalismo era o contexto político

econômico mundial, suas principais características eram a internacionalização

comercial e financeira. E se nas décadas passadas o Estado era o principal agente

de industrialização do País gerando políticas para tal, agora diante da nova cena,

era necessário um ajuste, que significava se concentrar em suas atribuições

fundamentais. E foi sob este teto que a Marinha Mercante viu sua situação, que já

______________ 4 O Registro Especial Brasileiro foi criado como um segundo registro doméstico/local a fim de

propiciar aos armadores brasileiros determinados benefícios comerciais, fiscais e de trabalho aos quais fariam jus sob as bandeiras de conveniência. Foi concebido como uma alternativa ao antigo sistema de subsidiária de empresas estrangeiras, e foi preferido pela maioria dos armadores brasileiros e permitiu o registro de suas embarcações em países tais como o Panamá e a Libéria, liberando-os de pesadas obrigações fiscais e trabalhistas. Disponível em: <http://www.kincaid.com.br/b_noticias.php?id_noticia=31>. Acesso em: 15 maio 2014.

Page 14: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

13

vinha ruim desde o escândalo da Superintendência Nacional da Marinha Mercante

(SUNAMAM)5 e da recessão dos anos 1980, se agravar. (GOULARTI FILHO, 2010).

Falta de financiamentos e investimentos – graças a um maior interesse em

especulação de capital - produziram efeitos negativos em nossa economia, e

consequentemente na Marinha Mercante e Construção Naval. (GOULARTI FILHO,

2010).

As políticas de privatização e desnacionalização agravavam ainda mais a

crise. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que

antes era o principal ator de financiamento da industrialização, passou a coordenar o

Programa Nacional de Desestatização. (GOULARTI FILHO, 2010).

Em tese, a política neoliberal em voga apostava que o próprio mercado

fosse se auto ajustar, e as Empresas de Transporte Marítimo e Construção Naval

encontrariam uma saída para manter suas atividades. Ocorreu justamente o

contrário, houve um desmonte do setor naval. Algumas empresas faliram, como a

Netumar, Paulista e Mercantil, outras sofreram o processo de desnacionalização,

como a Aliança, Flumar e Transroll. O Loyd e a Docenave sofreram processo de

desestatização. O mesmo era observado no setor de Construção Naval, com

falências ou incorporação de estaleiros por empresas não nacionais. (GOULARTI

FILHO, 2010).

Em números o desmonte significou a queda do Brasil da segunda maior

indústria de Construção Naval do mundo para a décima quinta posição, onde antes

tínhamos mais de trinta e três mil (33000) trabalhadores, agora menos de dois mil

(2000) postos de trabalho eram ocupados no setor. (GOULARTI FILHO, 2010).

O contraditório é que ao longo deste período a comercialização de cargas

através dos portos brasileiros aumentava exponencialmente. Um ponto forte que

podia ter alavancado ou, pelo menos, sustentado a posição de nossa Indústria

Marítima, se bem aproveitado. (GOULARTI FILHO, 2010). Eram os efeitos da

______________ 5 O 2º Programa de Construção Naval brasileiro, aprovado em 1974, previa a destinação de US$ 3,3

bilhões para construir dezenas de navios, mas desaguou no chamado "escândalo Sunamam", órgão financiador das vendas dos navios a empresas nacionais. No final do governo Figueiredo, foram descobertos indícios de irregularidades nos repasses de recursos da Sunamam para os estaleiros. Afogada em dívidas por conta do gigantismo das operações e de uma gestão financeira ineficiente, a antiga autarquia passou a dar aval para que os estaleiros descontassem duplicatas na rede bancária e continuassem construindo os navios encomendados. Em 1984, o governo decidiu não reconhecer o aval da Sunamam e foi iniciada uma apuração das irregularidades durante a qual surgiu uma expressão que ficou célebre: "navios de papel". Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi0910200014.htm>. Acesso em: 31 de agosto de 2014.

Page 15: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

14

internacionalização comercial e financeira, enfraquecendo a economia nacional,

muito dependente de capitais externos.

Na tentativa de preservar os armadores6 e construtores nacionais dos

impactos financeiros econômicos da política em prática, as quais se mostraram

insuficientes diante da capacidade ociosa existente, houve algumas contrapartidas

do Estado.

A Lei 9.432 de 8 de janeiro de 1997 (BRASIL,1997), criou o Registro

Especial Brasileiro (REB) no qual podiam-se registrar embarcações brasileiras,

operadas por empresas nacionais, onde, por exemplo flexibilizam-se condições de

contratos de trabalho. (GOULARTI FILHO, 2010).

Em dezembro de 2000, no segundo mandato do Governo Fernando

Henrique Cardoso, foi lançado o Plano Navega Brasil, como uma tentativa de

reerguer o setor naval. O programa incluía a construção de três navios para a

Petrobras, com o custo de 160 milhões de reais, distribuídos por três estaleiros

Cariocas. O efeito desta iniciativa governamental diante da situação instalada foi

muito reduzido, ainda mais que não havia especificação para um nível de

nacionalização das obras, deixando assim de fora nossa indústria de peças navais.

(GOULARTI FILHO, 2010).

Por outro lado, a Petrobras permanecia encomendando a construção de

plataformas no exterior, onde perdíamos a oportunidade de alavancar a indústria

atendendo ao mercado Offshore. (GOULARTI FILHO, 2010).

Assim, nossa indústria naval encerrava os anos 1990 sofrendo os efeitos

negativos da política de internacionalização comercial e de capital, que nos

infringiram anos economicamente recessivos, que somados a diversos outros

fatores que se acumularam desde a crise econômica dos anos 1980 desenharam

este cenário de queda significativa, com o desmonte de nossa capacidade de

trabalho, e desnacionalização de nossa Marinha Mercante. E, até aqui, as tímidas

tentativas de reverter este quadro, se mostravam insuficientes.

______________ 6 O armador de um navio, por definição, é a pessoa física ou jurídica que, em seu nome e sob sua

responsabilidade, apresta a embarcação com fins comerciais, pondo-a ou não a navegar por sua conta. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9537.htm>. Acesso em: 15 maio 2014.

Page 16: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

15

2.2 A RETOMADA

A partir do último ano da década de 1990, e logo a partir de 2000, nossa

Indústria Marítima deu seus primeiros passos no processo de revitalização. O setor

era alavancado principalmente pela demanda criada pela exploração e produção de

petróleo, tendo como seu principal ator a PETROBRAS.

A elevação dos preços do petróleo no último decênio incentivou a

exploração de petróleo em águas profundas e ultra profundas. Com isso as

demandas da PETROBRAS – a maior operadora de petróleo do país - por explorar

estas novas áreas, desencadeou a necessidade por navios de apoio e plataformas

com tecnologias mais avançadas. Demandas incrementadas após a descoberta das

reservas do pré-sal7. Além disso a nossa frota de petroleiros tinha idade média

avançada, acima de 20 anos, e precisava ser renovada. (DORES; SALOMÃO;

PROCESSI, 2012).

A situação exigia disponibilidade de meios que o Brasil não dispunha no

momento em consequência da crise estabelecida anteriormente. Contudo a quebra

do monopólio de exploração, produção e desenvolvimento de petróleo e gás em

1997, permitiu que tais atividades pudessem ser realizadas por meio de contratos de

concessão, os quais eram precedidos por licitação da Agência Nacional de Petróleo

Gás e Biocombustíveis (ANP). Na primeira rodada de concessão de blocos,

realizada em 1999 a ANP considerava os índices de conteúdo local (CL)8 como

critério para estabelecer o vencedor da licitação, mas a partir da sétima rodada de

2005, os índices de conteúdo local passaram a ser obrigatórios nas etapas de ______________

7 O termo pré-sal refere-se a um conjunto de rochas localizadas nas porções marinhas de grande parte do litoral brasileiro, com potencial para a geração e acúmulo de petróleo. Convencionou-se chamar de pré-sal porque forma um intervalo de rochas que se estende por baixo de uma extensa camada de sal, que em certas áreas da costa atinge espessuras de até 2.000m. O termo pré é utilizado porque, ao longo do tempo, essas rochas foram sendo depositadas antes da camada de sal. A profundidade total dessas rochas, que é a distância entre a superfície do mar e os reservatórios de petróleo abaixo da camada de sal, pode chegar a mais de 7 mil metros. Disponível em: <http://sites.petrobras.com.br/minisite/presal/perguntas-respostas/index.asp>. Acesso em: 15 maio 2014.

8 Os Contratos de Concessão para Exploração, Desenvolvimento e Produção de Petróleo e Gás Natural, firmados pela ANP com as empresas vencedoras nas Rodadas de Licitações, incluem a Cláusula de Conteúdo Local. O dispositivo contratual tem o objetivo de incrementar a participação da indústria nacional de bens e serviços, em bases competitivas, nos projetos de exploração e desenvolvimento da produção de petróleo e gás natural. O resultado esperado da aplicação da cláusula é o impulso ao desenvolvimento tecnológico, a capacitação de recursos humanos e a geração de emprego e renda neste segmento. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/?pg=67686&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&cachebust=1409011253975>. Acesso em 25/08/2014.

Page 17: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

16

exploração, desenvolvimento e produção. Importante ressaltar que as embarcações

utilizadas nos blocos concedidos também contabilizam para o índice de conteúdo

local. (DORES; SALOMÃO; PROCESSI, 2012).

O projeto nacional agora era de aproveitar a demanda por investimentos na

expansão da produção de petróleo e gás para fortalecer nossa Indústria Marítima –

Construção Naval e navios – de maneira que esta fosse capaz de gerar empregos,

distribuir renda e formar mão de obra qualificada. Os estaleiros internacionais não

tinham a capacidade para atender a todas as encomendas na época, então foi

preciso investir em nossa Indústria de Construção Naval. E dada a desmobilização

do setor a retomada foi iniciada por meio de encomendas de embarcações para o

apoio marítimo offshore, por se tratar de embarcações mais simples em comparação

a navios sonda e plataformas, e por gerarem escala devido a quantidade, o que

cooperava com a revitalização dos estaleiros e da frota mercante nacionais.

(DORES; SALOMÃO; PROCESSI, 2012).

2.3 POLÍTICAS E PROJETOS DE INCENTIVO

A decisão política do governo brasileiro de que as novas descobertas de

petróleo deveriam ser revertidas em benefícios para a sociedade brasileira,

contribuíram para a revitalização da Indústria Marítima nacional, tome-se em conta

que esta decisão do governo foi em grande parte atendendo a reivindicações de

representantes dos empresários e dos trabalhadores do setor naval e marítimo.

Os desafios eram grandes, ainda mais que nossos estaleiros passaram por

um período de dez anos com grande capacidade ociosa e defasagem tecnológica,

este momento exigia aumento de produtividade, competitividade e formação de

pessoal qualificado que pudesse lhe dar com o desenvolvimento tecnológico.

Em 1999 a PETROBRAS lançou o primeiro Programa de Renovação da

Frota de Apoio Marítimo (PROREFAM I). Este programa é destinado a renovação e

à modernização da frota de apoio marítimo às operações offshore. O diferencial

deste programa, em relação às contratações usuais em outras partes do Mundo de

embarcações para atividades offshore, é a existência de contratos de longo prazo,

que garantem aos armadores um rendimento estável e de longo prazo. Esta

característica contratual, somada a situação operacional dos estaleiros ainda

Page 18: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

17

desvantajosa, levou os armadores a investir suas demandas em estaleiros de médio

porte, especializados em embarcações de apoio o que os alavancou graças a

produção em escala.

Desta maneira, pode-se afirmar que o PROREFAM foi bem sucedido na

reativação de nossa Indústria Marítima, aumentando significativamente a demanda

de embarcações de operação no setor offshore, favorecendo o aumento de nossa

frota mercante e a revitalização dos estaleiros de médio porte. Novas rodadas do

programa vieram mais tarde, em 2003 e depois em 2008, esta última já com

previsão de contratação de embarcações para operar no pré-sal, ressaltando-se que

na rodada de 2008 já com exigência de conteúdo nacional mínimo para as

embarcações. Recentemente em 2013, a PETROBRAS lançou a sexta rodada do

PROREFAM, mantendo as atividades aquecidas e com vistas a atender as

demandas dos campos do pré-sal. Quanto ao financiamento deste programa, seus

recursos são procedentes do Fundo de Marinha Mercante (FMM) e

predominantemente repassados pelo BNDES. (DORES; SALOMÃO; PROCESSI,

2012).

Entre 2000 e abril de 2012 o BNDES repassou cerca de 5,5 bilhões de reais

a armadores e ou estaleiros contratados. Neste período, houve também uma certa

concentração de construção de embarcações entre os estaleiros: Wilson Sons, STX-

Niterói e NAVSHIP, assim como uma relevante predominância de construção de

embarcações mais simples como PSVs (Plataform Supply Vessels / Navios

Supridores de Plataforma). (DORES; SALOMÃO; PROCESSI, 2012).

Iniciativas também foram tomadas com a meta de renovar a frota de

transporte de carga das operações offshore – petroleiros, gaseiros e demais

produtos - que estava com idade média avançada. Para tal, a Petrobras Transporte

S.A (TRANSPETRO)9, empresa subsidiária da PETROBRAS lançou, em 2004 seu

programa de modernização de frota, conhecido como Programa de Renovação e

Expansão da Frota da Petrobras Transporte S.A (PROMEF), considerado por vários

autores especializados no setor naval como um dos principais vetores de

revitalização de nossa Construção Naval e Marinha Mercante. Este programa

encomendou, em suas duas etapas (2005 e 2008) a estaleiros nacionais quarenta e

______________ 9 A Petrobras Transporte S.A. – Transpetro é a maior processadora brasileira de gás natural e tem

grande relevância no mercado de logística de combustível no Brasil, assim como na importação e exportação de petróleo, derivados, gás e etanol. (PETROBRAS TRANSPORTE S.A, 2014a).

Page 19: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

18

nove embarcações, cujo índice de nacionalização mínimo deveria ser de 65%. Um

investimento de cerca de 10,8 bilhões de reais até 2016. Os estaleiros contemplados

com contratação para atender ao PROMEF I e II foram: Atlântico Sul, EISA, Mauá,

Superpesa e STX-Suape. (DORES; SALOMÃO; PROCESSI, 2012).

Ainda no âmbito do transporte de carga, mas agora voltado para a

navegação de cabotagem, devemos ressaltar os investimentos da PETROBRAS,

por meio do programa Empresa Brasileira de Navegação (EBN), com a meta de

incentivar os armadores privados nacionais. O programa lançado em 2010, teve

duas etapas EBN1 e EBN2, no qual foram contratadas a construção de 39 navios de

carga com especificações similares às embarcações do PROMEF, com contratos de

afretamento10 de quinze anos. (DORES; SALOMÃO; PROCESSI, 2012).

Os programas citados produziram efeito motivador nos armadores privados -

graças a corrente recuperação do setor - que passaram a fazer encomendas de

embarcações para o apoio marítimo ou para o transporte de carga na cabotagem a

estaleiros nacionais. (DORES; SALOMÃO; PROCESSI, 2012).

Com todas estas etapas sendo tocadas a PETROBRAS voltou-se ao

incentivo para a construção de quarenta plataformas (total ou parcial) e trinta e três

sondas de perfuração no Brasil, favorecendo fortemente a retomada da Indústria

Marítima no Brasil, em seus vários setores diretos ou indiretos. (DORES;

SALOMÃO; PROCESSI, 2012).

A figura 1 do anexo A é uma tabela que mostra a evolução das embarcações

contratadas e a contratar desde 1999, conforme a especificidade de cada programa.

E nos apresenta a medida dos incentivos realizados ao longo deste período, que

tanto contribuíram com o retomada da nossa Indústria Naval. (DORES; SALOMÃO;

PROCESSI, 2012).

As iniciativas da PETROBRAS e da TRANSPETRO garantiam a demanda

de construção de embarcações, mas foram também acompanhadas por outros

incentivos da União, formando assim um conjunto de medidas em prol da meta

______________ 10Afretamento é a contratação de navio realizada diretamente com um armador, normalmente para

transporte de carga exclusiva, que não encontra em navios de linha regular o espaço suficiente, ou frete desejado, portos de embarque ou desembarque pretendidos; isto é, torna-se necessário buscar no mercado as condições não oferecidas para determinada carga em navios de carreira, aqueles anunciados, e para pequenas, médias e grandes cargas, mas não totais. Disponível em: <https://portogente.com.br/portopedia/afretamento-de-navios-conceitos-basicos-e-documentos-utilizados-73136>. Acesso em 26 de agosto de 2014.

Page 20: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

19

traçada de reativar nossa Indústria Naval, gerar empregos e distribuir renda pela

cadeia de fornecedores nacionais.

Dentre estas iniciativas destacam-se entre as mais relevantes: a exigência

de conteúdo local para as atividades de exploração e produção de petróleo por meio

das resoluções 36 e 39 da ANP em 2007, cuja a meta é incrementar os setores

fornecedores da Indústria Naval, os irrigando indiretamente com os benefícios

concedidos aos estaleiros e armadores, bem como garantir a demanda por

embarcações construídas no Brasil. Medida esta que, mais tarde, foi amparada pela

resolução 3.828/2009 do Conselho Monetário Nacional (CMN) do Banco Central do

Brasil, com vantagens financeiras como: taxas de juros menores para os contratos

que garantissem conteúdo nacional superiores a 60% ou 65%. (DORES; SALOMÃO;

PROCESSI, 2012).

Já em dezembro de 2000, o Plano Navega Brasil, anteriormente citado,

aumentava prazos de financiamento de quinze para vinte anos a estaleiros e

armadores, assim como estabelecia o aumento da participação do FMM de 85%

para 90% nas operações de crédito para o setor, e muito embora o Navega Brasil

fosse tímido diante do estado geral da indústria naval à época, deve ser

contabilizado aqui (DORES; SALOMÃO; PROCESSI, 2012).

Outras medidas de cunho financeiro, foram: a inserção da União no Fundo

Garantidor da Construção Naval (FGCN)11 em 2008, o que foi possível por meio da

Lei 11.786/2008 (BRASIL, 2008a). A lei limita a participação do Estado em até 5

bilhões de reais neste fundo que tem por finalidade dar garantia às operações de

crédito para financiamento da Construção Naval. (DORES; SALOMÃO; PROCESSI,

2012). Com esta medida a União eleva o nível de confiabilidade nos investimentos

no setor de Construção Naval, ação que sinaliza fortemente o grau de relevância

que o setor tem para o país. E o Decreto 6.704/2008 (BRASIL, 2008b), que isentava

______________

11 A Lei n.º 11.786/2008 (BRASIL, 2008a), autorizou a União a participar na formação de patrimônio em Fundo de Garantia para a Construção Naval – FGCN, com recursos de até R$ 5,0 bilhões. O FGCN tem por finalidade garantir o risco de crédito das operações de financiamento à construção ou à produção de embarcações e o risco decorrente de performance de estaleiro brasileiro. Disponível em: <http://downloads.caixa.gov.br/_arquivos/caixa/processos_contas_anuais/FGCN_2010_CGU_RA201109436.pdf>. Acesso em 25 agosto 2014.

Page 21: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

20

do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)12 os estaleiros brasileiros que

adquirissem componentes ou equipamentos destinados à construção, reparo ou

modernização de embarcações registradas ou pré-registradas no REB. (DORES;

SALOMÃO; PROCESSI, 2012). O que caracterizava mais uma medida de apoio

tanto aos estaleiros como à indústria nacional de navipeças.

Sobre a base legal criada pela Lei 9.432/1997 (BRASIL, 1997) do Registro

Especial Brasileiro (REB) foram tomadas medidas incentivadoras adicionais, como a

da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) que em 2005 promoveu a

resolução 495/2005 que dava preferência às embarcações de bandeira brasileira

nas contratações de serviços e fretes nas operações de apoio marítimo ou portuário,

assim como na navegação de interior e de cabotagem. (DORES; SALOMÃO;

PROCESSI, 2012).

Uma medida se diferencia das demais por ter como meta atuar na

infraestrutura do setor naval. Em 2003, sob a coordenação do ministério de Minas e

Energia (MME) e da PETROBRAS, o governo federal, por meio do Decreto 4.925 de

17 de dezembro (BRASIL, 2003), criou o Programa de Mobilização Nacional da

Indústria de Petróleo e Gás (PROMINP), que trata-se na verdade de um fórum, com

a participação de diversos atores envolvidos no setor de petróleo e gás, que tem

como objetivo desenvolver ações com foco nas áreas de infraestrutura, tecnologia e

qualificação de mão de obra que garantam o desenvolvimento desta indústria e de

todos os setores com ela envolvidos, incluindo aí o de transporte de cargas, apoio

marítimo, estaleiros e fornecedores de navipeças, entre outros. (DORES;

SALOMÃO; PROCESSI, 2012).

Finalmente, o Inova Petro, que se trata de um programa que reuni o Banco

Nacional de Desenvolvimento (BNDES), a Financiadora de Estudos e Projetos

(FINEP), com apoio técnico da PETROBRAS, que contribuí com a seleção dos

temas com maior desafio tecnológico e, com maiores possibilidades de

desenvolvimento pela indústria nacional. O principal objetivo do programa é o

incentivo a projetos de desenvolvimento ou absorção de tecnologias que

contemplem a engenharia, a produção e a comercialização de produtos ou serviços

______________ 12 Imposto que incide sobre os produtos industrializados nacionais e estrangeiros no momento do

desembaraço aduaneiro de produto de procedência estrangeira, ou a saída do produto do estabelecimento industrial ou equiparado a industrial. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/aliquotas/impsobprodindustr.htm>. Acesso em 25 de agosto de 2014.

Page 22: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

21

inovadores, que agreguem competitividade aos fornecedores parapetroliferos

brasileiros, e portanto contribuam com a capacidade de aumento na participação do

conteúdo local. O primeiro edital foi lançado em 2012, e o segundo em janeiro de

2014, e o programa tem vigência até 2017. (BANCO NACIONAL DE

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2014).

2.4 A RESPOSTA DA INDÚSTRIA MARÍTIMA

A Indústria marítima estava correspondendo aos incentivos. Os estaleiros se

empenhavam para atender à demanda de construção, recuperando o tempo ocioso

perdido, tomando de volta a mão de obra que tinha se afastado do mercado e

incentivando a qualificação dos novos empregados, bem como tentando adequar-se

às novas tecnologias aplicadas no mercado.

As embarcações de apoio marítimo de bandeira brasileira começavam a

ganhar espaço no teatro de operações offshore, área predominante, ainda hoje, de

embarcações com bandeira estrangeira. Marítimos brasileiros, que antes

encontravam postos de trabalho somente em navios estrangeiros, agora, colocavam

sua experiência em navios sob a nossa bandeira. O setor de offshore que antes era

uma opção quase aventureira aos marítimos, passava a se tornar atrativa e também

se fazia um abrigo para aqueles que já não encontravam oportunidades na

cabotagem ou no longo curso.

Finalmente, depois de décadas sofrendo com políticas malfadadas o Brasil,

ao que tudo indicava, estava considerando a Marinha Mercante e a Indústria do

setor naval como mereciam.

É consenso entre as elites dirigentes que a Indústria Marítima se trata de um

setor estratégico à economia da nação. Que, se bem estruturado, tem a capacidade

de impulsionar o desenvolvimento, com a vantagem de precisar ser fundamentado

em avanços tecnológicos e mão de obra qualificada, ou seja, desenvolve agregando

valor à sociedade. Hoje, sabemos que um dos principais óbices estruturais ao

crescimento da Indústria Naval e Marítima são os recursos humanos - em outras

palavras a mão de obra qualificada - e a base tecnológica pouco desenvolvida.

Sabemos também que somente com investimentos em conhecimento de maneira

Page 23: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

22

constante e a longo prazo se desenvolve, não só a Indústria Marítima, mas qualquer

outra Indústria e o país como um todo.

A questão é, se estamos realmente desenvolvendo uma base tecnológica

aplicada às nossas necessidades, se estamos qualificando nossos recursos

humanos, se estamos desenvolvendo capacidade de inovação e se estamos mesmo

dentro de um projeto de País, que faz parte de uma estratégia para ter uma Indústria

Marítima forte e capaz de explorar todas as vertentes comerciais que nossa costa,

rios, portos e plataforma continental nos permitem, tudo isso com competitividade

global. Isso sem falar da relevância na estratégia nacional de defesa, em ter navios

com bandeira brasileira predominando nas atividades que nos são essenciais, como

a exploração dos recursos do mar o são. Ou, se estamos mais uma vez, sendo

levados pelo impulso da onda, desta vez criada pelas demandas do mercado de

petróleo e gás, com o risco de continuarmos altamente dependentes de recursos

externos, recaindo no mesmo erro do passado, guardadas as devidas proporções

históricas.

É fato que, nos países em que as Indústrias Marítima e Naval se

desenvolveram consideravelmente, houve forte participação do Estado como

incentivador da Construção Naval, da inovação tecnológica e da formação de mão

de obra qualificada. Exemplo de destaque é a Coréia do Sul, que superou, por meio

de fortes investimentos, seus competidores europeus.

A figura 2 do anexo A trata-se de um gráfico que apresenta a evolução no

setor de Construção Naval ao longo do tempo, em relação aos postos de emprego.

Os índices são animadores realmente, pois vê-se um avanço consideravelmente

forte no período analisado. O ano de 2011 apresenta um nível de emprego maior do

que o auge de nossa Indústria Naval, entre os anos de 1975 – 1980. Em valores

mais atualizados, segundo informativo do Sindicato Nacional da Indústria da

Construção e Reparação Naval e Offshore (SINAVAL) em 2013 o Brasil já contava

com 78.136 trabalhadores no setor de Construção Naval. (SINDICATO NACIONAL

DA INDUSTRIA DA CONSTRUÇÃO E REPARAÇÃO NAVAL OFFSHORE, 2013).

Um sinal concreto dos benefícios a sociedade, mas precisamos ir além.

Os índices da Construção Naval brasileira porém, ainda são modestos em

relação aos índices mundiais. “Estão em construção no Brasil cerca de 6 milhões de

toneladas de porte bruto. No mundo, estão em construção mais de 140 milhões de

Page 24: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

23

toneladas de porte bruto.” (ROCHA, 2012, p.2). Ou seja uma relação de pouco mais

de 4% de participação global.

Na figura 3 do anexo A podemos observar a evolução entre 2010 e 2013 da

frota de navios com bandeira brasileira. Analisando o mesmo podemos verificar uma

certa estagnação no período das embarcações de cabotagem e longo curso, com

crescimento mais significativo entre 2012 e 2013 na relação de 13,54%, e no

período abordado em um total de 15,78%, enquanto a frota de apoio marítimo

cresceu no mesmo período 37%. O que prova que a locomotiva de nossa Indústria

Marítima tem sido a demanda da área de petróleo e gás. (AGÊNCIA NACIONAL DE

TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS, 2014).

O setor naval como um todo, cresceu no período abordado por este estudo,

entre 2000 e 2013, cerca de 19,5%, conforme dados do Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (IPEA) e ainda tende a um maior crescimento relativo para os

próximos anos em virtude da necessidade de exploração do pré-sal. Segundo a

PETROBRAS o ano de 2014 será de recorde na entrega de embarcações, e

alcançaremos o posto de a quarta maior Indústria Naval do Mundo para navios em

geral e a terceira maior em petroleiros. (ROSA, 2014).

Conforme estudo da Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo

(ABEAM) a evolução da nossa frota marítima desde 1975, e já com perspectiva

lançada até 2020, se dá conforme gráfico figura 4 do anexo A, que tem um corte no

tempo representando a Lei 9.432/97 (BRASIL, 1997), que implantou o registro

especial brasileiro (REB). Analisando o gráfico, confirma-se a existência de uma

linha ascendente constante a partir de 2002 das embarcações brasileiras, mas ainda

abaixo do número de embarcações de bandeira estrangeira. Os dados confirmam o

alavancamento do setor em face às demandas da exploração e produção de

petróleo. E apontam um grande salto desde o período de desmonte, ou de

sucateamento, como se referem alguns autores. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS

EMPRESAS DE APOIO MARÍTIMO , 2013).

Page 25: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

24

Apesar destes índices apresentados, é preciso destacar os custos com

afretamentos13 de embarcações pelas Empresas Brasileiras de Navegação (EBN).

Estes custos apontam para uma considerável perda de divisas, e nos mostra que

ainda temos longo caminho a percorrer.

Entre 2008 e 2012, os gastos das EBN do segmento de apoio marítimo com

afretamentos quadruplicou, chegando a US$ 3 bilhões em 2012. Comparando o

período 2011 x 2012, houve um aumento de 62% em gastos com afretamentos

registrados, ou seja de embarcações que pertencem à frota brasileira. (AGÊNCIA

NACIONAL DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS, 2012). Observe o gráfico (figura 5)

no anexo A.

“Os afretamentos de supridores de plataformas, tais como AHTS, PSV, DSV

e PLSV, totalizaram US$ 2,9 bilhões, sendo que 76% destes afretamentos foram de

embarcações estrangeiras.” (AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES

AQUAVIÁRIOS, 2012, p.27). A Petrobras é a empresa com maiores gastos em

afretamentos de embarcações para as atividades offshore, e permanece

aumentando suas despesas com estas contratações a cada ano, sendo que 72%

destes gastos foram pagos a empresas estrangeiras. (AGÊNCIA NACIONAL DE

TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS, 2012).

Todo grande salto corresponde também a um grande desafio.

Neste estudo queremos avaliar o quanto seremos capazes de manter a

estrutura da Indústria de Construção Naval e navipeças para após o pico de

demanda. Quanto o Brasil e suas empresas terão avançado em pesquisa, inovação,

base tecnológica, qualificação de mão de obra e competitividade perante o mundo?

Qual a importância dos investimentos do Estado, principalmente em

desenvolvimento tecnológico, para se alcançar o sucesso e quais as estratégias

bem implementadas em outras partes do mundo?

______________ 13Afretamento é a contratação de navio realizada diretamente com um armador, normalmente para

transporte de carga exclusiva, que não encontra em navios de linha regular o espaço suficiente, ou frete desejado, portos de embarque ou desembarque pretendidos; isto é, torna-se necessário buscar no mercado as condições não oferecidas para determinada carga em navios de carreira, aqueles anunciados, e para pequenas, médias e grandes cargas, mas não totais. Disponível em: https://portogente.com.br/portopedia/afretamento-de-navios-conceitos-basicos-e-documentos-utilizados-73136. Acesso em 26 de agosto de 2014.

Page 26: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

25

3 PROGRAMAS DE CONSTRUÇÃO NAVAL: UNIÃO EUROPÉIA, ESTADOS

UNIDOS, E BRASIL

A comparação entre estratégias de desenvolvimento industrial não deve

implicar na aplicação das mesmas políticas. Deve nos servir apenas para repensar

os nossos meios, ou reavaliar nossos conceitos e competências, com base em

projetos que bem alcançaram seus objetivos.

O objetivo central deste capítulo é comparar as nossas políticas com a

experiência internacional, apontando questões que, aparentemente, ainda não foram

adotadas na estratégia nacional de desenvolvimento da Indústria Marítima, como:

desenvolvimento da capacidade de engenharia das empresas, a coparticipação de

projetistas e especialistas em tecnologia marítima, e um eficiente incentivo ao

desenvolvimento dos fornecedores locais de máquinas e equipamentos marítimos.

(WEISS, 2012).

3.1 A UNIÃO EUROPEIA

Até os anos 1960, os países da Europa Ocidental lideravam a construção

naval no mundo, quando se depararam com a concorrência acirrada dos japoneses

que, tinham atravessado um duro processo de reconstrução de sua economia, e se

tornaram o principal ator deste segmento. Com as duas ondas da crise do petróleo

nos anos 1970, a indústria naval na Europa Ocidental entrou em declínio. A

estratégia tomada pelos Estados foi investir e proteger estaleiros que construíam

embarcações de alto valor tecnológico agregado, inclusive os que construíam

embarcações militares. O resultado foi que, durante os anos 1980 após as ondas de

crise, a indústria naval nos países europeus manteve um volume de produção

estável. (WEISS, 2012).

Hoje a União Europeia disputa a liderança do mercado mundial com a

Coréia do Sul, em termos de faturamento. Lá estão sediadas a maior parcela das

empresas de navegação do mundo, além de possuírem uma densa rede de

estaleiros civis e militares, portos, operadores marítimos, fabricantes de máquinas e

equipamentos marítimos, universidades e centros de pesquisa e desenvolvimento

em engenharia naval, gerando cerca de 120.000 empregos diretos. (WEISS, 2012).

Page 27: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

26

O destaque da estrutura desenvolvida na Europa, por meio da pesquisa e

desenvolvimento de tecnologias, é a robustez de sua indústria de equipamentos e

máquinas marítimos de alto valor agregado.

A União Europeia (UE) é líder mundial no segmento de fornecedores de

máquinas e equipamentos marítimos sofisticados como sistemas eletrônicos,

sistemas de automação, sistemas de propulsão, sistemas de posicionamento

dinâmico, motores diesel de alta potência, entre outros. (WEISS, 2012).

A UE reconhece que este mercado é altamente dinâmico e cíclico, e

muitíssimo estratégico e, devido a isto, desenvolve políticas e articulações que

visam a sustentação de sua participação no mercado por meio da permanente

competitividade de sua Indústria Marítima. (WEISS, 2012).

A comunidade naval europeia reconhece que “as atividades de Pesquisa,

Desenvolvimento e Inovação em equipamentos marítimos serão essenciais para a

manutenção da competitividade da indústria de Construção Naval europeia”. (apud

WEISS, 2012, p.5).

3.2 OS ESTADOS UNIDOS

Os EUA lideram dois segmentos importantes da indústria de Construção

Naval: embarcações de apoio marítimo offshore e militares. A construção naval de

embarcações militares – correspondendo a estratégia de hegemonia militar. E o

segmento de embarcações de apoio a Exploração e Produção (E&P) de petróleo e

gás em virtude das intensas atividades deste setor no Golfo do México, “associada à

reserva do mercado da navegação de cabotagem em favor de empresas de

navegação norte-americanas.” (WEISS, 2012, p.5).

O arcabouço legal da proteção ao mercado de navegação de cabotagem

nos EUA tem sua origem em 1920, por meio do Jones Act. Conforme esta

legislação, o transporte entre portos americanos deve ser feito apenas por

embarcações construídas e documentadas nos Estado Unidos. E a estrutura

societária das empresas e as tripulações dos navios deve se compor de no mínimo

75% de cidadãos daquele país. (WEISS, 2012).

Da mesma maneira que este protecionismo com investimentos estatais os

garantiu predominância mercadológica, criou um viés negativo inerente às políticas

Page 28: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

27

protecionistas: baixa competitividade e altos custos (principalmente na área de

construção naval militar).

Esta característica negativa foi reconhecida pelo Governo que contra atacou

implantando projetos para estimular e subsidiar a inovação tecnológica do setor

naval. Destaque para o projeto National Shipbuilding Research Program - Advanced

Shipbuilding Enterprise / Programa Nacional de Pesquisa de Construção Naval –

Empreendimento de Construção naval Avançada (NSRP-ASE), implantado em 1998,

que aplicou seus recursos, principalmente, em pesquisa e desenvolvimento de

tecnologias e processos para a redução dos custos de produção, inovação de

materiais e componentes navais, tecnologias de sistemas marítimos, formação de

recursos humanos e desenvolvimento de meios de apoio a negócios privados.

(WEISS, 2012).

“O intenso esforço conjunto que governo, indústria e instituições de pesquisa

norte americanas realizaram é um indicador da importância da articulação setorial na

busca de soluções para o aumento da competitividade da indústria de Construção

Naval.” (WEISS, 2012, p.6).

3.3 O BRASIL

“No Brasil, a Petrobras atua como a principal indutora da inovação

tecnológica dos sistemas de produção offshore de petróleo e gás.” (WEISS, 2012,

p.6).

Desenvolvida desde 1976, com foco primário para a área industrial, desde

1983, a empresa direcionou suas pesquisas para atender o segmento de E&P de

óleo e gás. (apud WEISS, 2012, p.6).

Já em 1986, por meio do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo

Américo Miguez de Mello (CENPES), a Petrobras intensificou as pesquisas para o

desenvolvimento do conceito de produção flutuante em águas profundas, aplicado

na Bacia de Campos. Em apenas três anos, este investimento já rendia frutos e a

empresa já perfurava poços a 1200 metros de lâmina d’água. O valor aplicado neste

projeto de produção de petróleo no mar, corresponde entre 0,5% e 1% do total dos

investimentos do empreendimento. E todos os estudos têm sido realizados pelo

CENPES, gerando retenção de divisas e autonomia nos processos decisórios. O

Page 29: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

28

resultado de todo este processo, durante cerca de 25 anos, é que a Petrobras

tornou-se a pioneira no uso de sistemas de produção flutuante, quebrando vários

recordes de produção no mar. (WEISS, 2012).

A fim de sustentar sua posição e conquistar novos desafios, a empresa

procura antecipar soluções tecnológicas para a exploração de poços em águas

profundas e ultra profundas. A próxima fronteira são os blocos do pré-sal, que

possuí lâminas d’água que variam entre 1900 e 2400 metros. Em dois anos, e com

investimentos de cerca de 1 bilhão de dólares americanos, a Petrobras perfurou 15

poços em blocos do pré-sal, e em 8 deles a produção detectou óleo do tipo 28º API

(American Petroleoum Institute)14, que representa um óleo leve, de alto valor

comercial, e também uma grande quantidade de gás natural associado. (WEISS,

2012).

Camadas do pré-sal, entre 5 mil e 7 mil metros de profundidade foram

atingidas graças ao desenvolvimento de novos projetos tecnológicos capazes de

atravessar mais de 2 mil metros de camada de sal. Para se ter uma ideia da

compensação em investimentos tecnológicos, a perfuração do primeiro poço na área

do pré-sal teve um custo total de 240 milhões de dólares americanos, e toda a

atividade levou mais de um ano. Atualmente, o mesmo processo sai ao custo de 60

milhões de dólares e leva cerca de sessenta dias de trabalho. (apud WEISS, 2012,

p.7).

“No Brasil, a difusão de técnicas modernas de produção, poupadoras de

recursos físicos e ambientais, se verifica de maneira lenta e desigual, cerceada por

inúmeros obstáculos econômicos e institucionais.” (WEISS, 2012, p.7).

Segundo Weiss (2012, p.9), “No Brasil, a Construção Naval se concentra

essencialmente nos segmentos de baixa tecnologia: corte e conformação de aço,

soldagem e edificação de estruturas.”

______________ 14 O Grau API (em inglês, API Gravity) é uma escala arbitrária que mede a densidade dos líquidos

derivados do petróleo. Foi criada pelo American Petroleum Institute – API, juntamente com a National Bureau of Standards e utilizada para medir a densidade relativa de líquidos. Quanto mais densidade o óleo tiver, menor será seu grau API. Forma de expressar a densidade relativa de um óleo ou derivado. A escala API, medida em graus, varia inversamente à densidade relativa, isto é, quanto maior a densidade relativa, menor o grau API. O grau API é maior quando o petróleo é mais leve. Petróleos com grau API maior que 30 são considerados leves; entre 22 e 30 graus API, são médios; abaixo de 22 graus API, são pesados; com grau API igual ou inferior a 10, são petróleos extrapesados. Quanto maior o grau API, maior o valor do petróleo no mercado. Disponível em Associação Brasileira de Química: <http://abqrs.com.br/reservas-pre-sal/>. Acesso em 20 agosto 2014.

Page 30: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

29

Em nossa Construção Naval, com raras exceções, os projetos são

integralmente importados. E o fato é que os projetos definem as tecnologias mais

sofisticadas que serão incorporadas - como as máquinas, equipamentos e

acessórios - em cada navio. Em outras palavras, quando abrimos mão de

desenvolvermos os projetos, nos posicionamos à margem dos setores de alto

conteúdo tecnológico da engenharia naval, como a produção de motores de alta

potência, sistemas de posicionamento dinâmico, e sistemas eletrônicos de

automação, entre outros. (WEISS, 2012).

Por meio dos argumentos expostos conclui-se que somente com robustos e

permanentes investimentos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, a

exemplo dos EUA e da UE, e até da própria Petrobras, seremos capazes de superar

nossa posição e desenvolver a competitividade de nossa Construção Naval,

ampliando nossa atuação a segmentos mais sofisticados da engenharia naval.

A figura 6 do anexo A é uma tabela que resume a comparação entre o União

Europeia, EUA e Brasil levando em conta o desenvolvimento tecnológico. Evidencia,

portanto, que a indústria naval brasileira, por meio de sua estratégia atual, não tem o

domínio de tecnologias mais avançadas, que são as que definem a competitividade

do setor naval no longo prazo. (WEISS, 2012).

Page 31: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

30

4 OS DESAFIOS DA INDÚSTRIA MARÍTIMA NACIONAL

Até aqui verificamos nossa Indústria Marítima em nosso ambiente interno – o

Brasil – destacando seu momento de crise e desmonte, e na sequência, com a

aplicação de políticas de incentivo, a sua recuperação.

Nesta seção será avaliado o enraizamento estrutural do processo de

recuperação da indústria naval estendendo-se ao setor de navipeças e da

navegação de apoio marítimo. Serão levantados pontos fortes e fracos das políticas

vigentes a fim de se argumentar a respeito da eficiência estratégica de

desenvolvimento.

A indústria de Construção Naval, mesmo com fortes conexões aos governos

locais, tem por característica ser internacionalizada, com os grandes estaleiros

competindo entre si num mercado de preços global. Outra característica marcante

deste setor são as bolhas de procura e oferta, uma vez que construções requeridas

em certo momento podem levar de três a cinco anos para ficarem prontas, e isso

acaba influenciando diretamente sobre os custos de construção. Neste mercado a

previsibilidade de demanda está sujeita aos fluxos comerciais globais que incidem

diretamente na demanda por navios mercantes, aos investimentos da indústria do

Petróleo em prospecção e exploração, à idade média da frota em uso, às novas

regulamentações locais ou internacionais que exijam novos modelos de sistemas ou

navios, e finalmente às políticas governamentais. E é dentro deste contexto que a

Construção Naval deve ser altamente competitiva. (WEISS, 2012).

Em países com a Indústria Naval e ou a Marinha Mercante fortes

identificamos a participação dos Estados nacionais como principal impulsionador

destes setores. Políticas de incentivo mais comuns são: subsídios, financiamentos a

juros vantajosos, reserva de mercado, regulamentações protetoras, incentivos a

melhoria em gestão e desenvolvimento de processos de engenharia; apoio à

inovação tecnológica e qualificação da mão de obra. A forte participação do Estado

no setor naval se deve tanto às características cíclicas de mercado, a que estes

Estados buscam compensar como principal articulador, quanto a potencialidade de

desenvolvimento da indústria local com alto valor agregado e alta capacidade de

geração de renda e empregos. (WEISS, 2012).

A projeção dos interesses estratégicos nacionais no mar – por meio da

Marinha Mercante e da Marinha de Guerra – e a defesa da própria soberania,

Page 32: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

31

minimizando a dependência de transporte marítimo estrangeiro, são também fatores

motivadores para os Estados investirem na Construção Naval e na Marinha

Mercante.

Destarte, podemos afirmar que os ciclos econômicos e as estratégias

protecionistas dos Estados têm forte influência no mercado de Construção Naval e

na oferta de navios mercantes no mundo. (WEISS, 2012).

O setor naval brasileiro tinha um grande desafio pela frente para atender às

novas demandas advindas da Petrobras e da Transpetro. Após mais de uma década

ocioso e com um gap tecnológico de vinte anos era preciso um grande esforço para

alcançar as metas de construção. A capacidade produtiva precisava ser reativada

rapidamente para atender às demandas do mercado offshore, que caracteriza-se por

padrões de exigência tecnológica e de segurança bastante relevantes. Para atender

este mercado, estaleiros nacionais fizeram parcerias com estaleiros estrangeiros que

possuíam a tecnologia e o conhecimento prévio dos projetos, processos de

engenharia e gestão. Este caminho agilizou a entrada no mercado dos nossos

estaleiros e os permitiu acesso à tecnologia já amadurecida, poupando-os dos

obstáculos inerentes às inovações.

Como visto até aqui, a estratégia brasileira de fomento de sua indústria naval

está preponderantemente concentrada em atender ao mercado de petróleo offshore,

e a partir daí irrigar a cadeia de fornecedores de bens e serviços gerando mais

empregos e renda. As demandas da Indústria de exploração de petróleo em alto mar

garantiram aos estaleiros produção em escala nos últimos 10 – 14 anos, e com as

descobertas do pré-sal há de se garantir a continuidade destas demandas para as

próximas décadas. Sem dúvida alguma, esta é uma grande oportunidade para o

Brasil desenvolver sua indústria naval, incluindo aí seus setores fornecedores, e

alavancar a participação da frota nacional de offshore nas atividades em nossa

costa. Para tal a política de conteúdo local é um dos mais importantes instrumentos

para se alcançar os avanços que o País requer.

Page 33: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

32

4.1 A POLÍTICA DE CONTEÚDO LOCAL: CONCEITUAÇÃO

Há várias conceituações para conteúdo local na literatura acadêmica, assim

como diferentes maneiras de implementação deste tipo de política entre os diversos

países que a aplicam, adiante citam-se algumas.

Política de conteúdo local é uma das práticas aplicadas na Indústria Naval

de Offshore pelo Brasil, assim como em outros países, como forma de proteger sua

indústria, assegurando renda, desenvolvimento econômico, tecnológico e social.

Segundo Bordmann (apud BORGES, 2014, p.4) “o conteúdo local incluí o

recrutamento e a formação de mão de obra local, a contratação de serviços locais e

a compra de materiais nacionais.”

Em termos conceituais “local” pode ser entendido como as empresas

fornecedoras de bens materiais e serviços localizados dentro do país pertencendo a

proprietários nacionais, a proprietários estrangeiros (total ou parcialmente), ou ainda

pertencente a proprietários nacionais localizados no exterior. (PRIETO, 2014).

As políticas de conteúdo local (PCL) tem dois aspectos principais. O primeiro

quando um governo a estabelece por meio de metas, as quais seus fornecedores

locais, dentro de suas capacidades, possam adquirir contratos de vendas de bens

ou serviços, contra a concorrência externa. Ou ainda os governos podem avaliar que

seus fornecedores locais não possuem condições de competir com os fornecedores

externos de igual para igual. Neste último caso as PCL assumem um papel de

política pública com o propósito de proteger a indústria nacional, assegurar

empregos locais e, no longo prazo, desenvolver capacidade tecnológica em sua

indústria local. (apud BORGES, 2014, p.39).

Entre as diversas motivações para o aumento dos níveis de conteúdo local

podemos citar: compensar falhas de mercado e objetivos sociais. (apud BORGES,

2014, p.39).

A proteção à indústria local que ainda não detém as capacidades

necessárias para atender ao mercado é aceitável, até que elas consigam adquirir

nível de competitividade. (apud BORGES, 2014, p.40). Entretanto é preciso que os

Estados proporcionem um cenário favorável a esta evolução, com incentivos fiscais

e por meio da pesquisa e do desenvolvimento de conhecimento.

Sob o aspecto social as PCL podem proporcionar principalmente a

empregabilidade e compensações, pelos impactos socioeconômicos causados pela

Page 34: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

33

atividade exploratória de petróleo e gás, em determinadas regiões, como projetos de

melhorias na infraestrutura. (BORGES, 2014).

A política de conteúdo local, em tese, é aplicada com a meta de cumprir uma

estratégia de desenvolvimento industrial. Um desenvolvimento que compreenda

inserir capacidade tecnológica na indústria com aumento de produtividade e

competitividade a nível internacional; que agregue conhecimento capaz de gerar

inovação de tecnologia aplicada e de incrementar os níveis de projetos de

engenharia nacionais; que gere melhor qualificação da mão de obra e que

incremente o nível de bens materiais produzidos para produtos com maior valor

agregado; que capacite as empresas a melhorar seus processos de gestão; enfim,

que fortaleça de fato toda a estrutura industrial e de serviços envolvida de maneira

que os benefícios sejam perenes. Nesta perspectiva a distribuição de renda e o

aumento de números de emprego, que trata-se do aspecto social desta política

seriam afirmados e mantidos (ainda que em parte) mesmo quando a indústria do

petróleo – locomotiva de nossa indústria naval nos dias atuais - atravessar ciclos de

retração.

4.2 A POLÍTICA DE CONTEÚDO LOCAL NO BRASIL

A Política de Conteúdo Local (PCL) no Brasil começou a ser aplicada em

1999 na primeira rodada de licitação de áreas de exploração de petróleo e gás

realizada pela ANP. A época a Agência não implantou valores mínimos ou máximos

para o CL. As empresas faziam ofertas que consistiam em valor de bônus da

assinatura e percentuais ofertados de bens e serviços de fornecedores locais,

durante a exploração e desenvolvimento da produção. (BORGES, 2014). A ANP

aplicava o critério de atribuir notas aos valores apresentados e a maior nota

determinava os vencedores da licitação. A partir daí o conteúdo local ofertado

tornava-se obrigação contratual, passível de penalidade se não cumprido. No

decorrer dos anos as regras de conteúdo local foram tornando-se cada vez mais

rígidas e onerosas às empresas operadoras. A partir da 5ª rodada de licitação

passou a ser determinado nível de CL por fase do projeto e por tipo de bloco, e a

partir da 7ª rodada implementou-se níveis mínimos e máximos de CL de acordo com

a fase do projeto e tipo de bloco, mas foi apenas a partir da nona rodada em 2007

que a ANP instituiu regulamentação exigindo a certificação de conteúdo local.

Page 35: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

34

(BORGES, 2014). Desta forma os operadores concessionários deveriam adquirir

produtos ou serviços de fornecedores com a devida certificação. Esta certificação

por sua vez é concedida por instituições qualificadas e credenciadas pela ANP, que

implementam um sistema de certificação de conteúdo local e realizam auditorias

periódicas nas entidades credenciadas. (BRASIL, 2007). A resolução da ANP

19/2013 determina o uso da cartilha de conteúdo local como documento oficial que

define a metodologia de medição para emissão dos certificados de conteúdo local.

(BRASIL, 2013).

O Estado brasileiro, além de regular o conteúdo local por meio da ANP, criou

meios de incentivo à indústria de navipeças, como o PROMINP e o INOVA PETRO,

já citados anteriormente neste estudo. (PRIETO, 2014).

Contudo há de se considerar que, mesmo diante de todos os benefícios que

possam se planejar alcançar por meio da política de conteúdo local, há riscos

envolvidos.

Estes riscos são institucionais ou competitivos como o pagamento de multas

por descumprimentos contratuais por parte das operadoras, o sobre custo dos

projetos devido a não competitividade de preços da indústria local, e o atraso de

projetos devido às deficiências tecnológicas ou de processos de fornecedores locais.

(PRIETO, 2014). E podem ser potencializados pela “incerteza no conhecimento do

mercado de equipamentos e serviços locais e, portanto, o volume dos investimentos,

e o tipo exato de bens e serviços a ser requeridos no bloco”. (apud PRIETO, 2014,

p. 78).

Portanto é preciso fazer agora uma análise crítica dos resultados alcançados

até o momento.

A política brasileira de conteúdo local exige que os operadores -

consorciado que realiza todas as atividades operacionais, em nome do consórcio -

devem adquirir do mercado doméstico parcela de bens e serviços necessários aos

processos de exploração e desenvolvimento da produção, provenientes de seus

investimentos, definidos nos processos de licitação de concessão ou de partilha da

produção – esta última no caso do pré-sal – de determinado bloco. (apud BORGES,

2014, p.85). Esta exigência tem seus pontos fortes se bem aplicada, mas há pontos

fracos que precisam ser tratados para ajustes necessários em benefício da Indústria

Marítima.

Page 36: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

35

A ANP tem revisto os índices de conteúdo local a cada rodada de licitação, e

os tem gradativamente aumentado. Este fator tem gerado preocupações e críticas.

O índice de conteúdo local atingiu 80% na fase de exploração e 85% na fase de

desenvolvimento de produção a partir da quinta rodada. (GOMES, 2009). Níveis que

podem prejudicar os investimentos das empresas no setor, se os fornecedores

brasileiros não tiverem a qualidade, preço ou tempo de entrega competitivos. Um

ponto fraco apontado por especialistas do setor é o fato de que a política de

conteúdo local no Brasil, pela maneira como foi articulada, faz com que as empresas

operadoras subsidiem a indústria de fornecimento de bens e serviços nacionais,

submetendo metas de cumprimento aos operadores, que se não as cumprirem são

penalizados com multas contratuais. (BORGES, 2014). Em outras palavras, na

política de conteúdo local no Brasil as operadoras se comprometem com um nível de

conteúdo local que elas não tem como garantir o cumprimento, ficando assim

sujeitas às penalidades contratuais financeiras a médio prazo. Este fator somado a

outros como o alto preço de produtos e serviços locais – comparando-se com o

mercado internacional – o baixo desenvolvimento tecnológico, a pouca quantidade

de fornecedores locais capazes de competir em prazo e qualidade com empresas

estrangeiras, contribuí com o descumprimento, o encarecimento e atrasos na

exploração e produção de óleo e gás. (PRIETO, 2014).

É preciso lembrar que aspectos como a alta carga tributária e a falta de

escala na produção impactam na capacidade de concorrência dos fornecedores de

bens e serviços nacionais. (PRIETO, 2014). E desta maneira cria-se um ciclo vicioso

no mercado que diminuí a confiança dos investidores, apesar da atratividade do

negócio.

Operadores criticam o modelo de CL brasileiro por terem que se

comprometer com a quantidade a contratar de bens e serviços locais no momento

da licitação dos contratos de concessão. Ou seja, até sete anos antes da fase de

desenvolvimento de produção, quando ainda não há conhecimento sobre as

características da reserva e portanto sobre que modelo de tecnologia deverá ser

aplicado. (apud BORGES, 2014, p.86).

Os instrumentos aplicados até o momento não propiciaram o

desenvolvimento da Indústria de forma competitiva, alinhada com a realidade

tecnológica internacional. Políticas de conteúdo local adequadas resultariam, no

decorrer do tempo, em reduções dos índices de conteúdo local, uma vez que a

Page 37: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

36

estrutura industrial tenha atingido níveis satisfatórios de competitividade. (apud

BORGES, 2014, p.86).

O Brasil se contrapõe ao argumento anterior. Às operadoras têm sido

impostos níveis de conteúdo local cada vez maior e mais onerosos, como

apresentado no gráfico da figura 4 do anexo A.

“Observa-se que as operadoras adquiriram compromissos muito altos a

partir das rodadas 5 e 6 (2003 - 2004), e desta forma, assumiram um alto risco de

descumprimento do CL oferecido”. (apud PRIETO, 2014, p.79).

Em outros termos, toda vez que o mercado de fornecedores locais apresenta

preços superiores aos praticados no mercado internacional põe em risco o

cumprimento do conteúdo local. À operadora cabe optar entre adquirir o bem ou

serviço no mercado externo e ser penalizado pelo descumprimento contratual de CL,

ou pagar o sobre preço do fornecimento local, e ainda estar sujeito aos atrasos na

entrega. Tome-se em conta ainda que, segundo levantamento da Organização

Nacional da Indústria do Petróleo (ONIP) em 2011, no Brasil, serviços e produtos

para o setor de petróleo custam, em média, 55% a mais que seus equivalentes

estrangeiros, além de as empresas locais não ofertarem a maior parte de

equipamentos mais sofisticados. (PRIETO, 2014).

Entre os fatores que contribuem com os altos preços e a baixa

competitividade podemos citar: poucas empresas aptas a fornecer determinados

sistemas ou equipamentos, principalmente os com mais tecnologia envolvida, falta

de produção em escala devido demandas esporádicas, alta carga tributária, atrasos

tecnológicos que afetam a produtividade e alto custo dos insumos. (PRIETO, 2014).

4.3 A POLÍTICA DE CONTEÚDO LOCAL NA NORUEGA: UM PARADIGMA

Esta seção estuda as razões que propiciaram a Noruega fortalecer sua

indústria naval e seus respectivos fornecedores por meio das demandas da indústria

do petróleo, desenvolvendo-se tecnologicamente e com competitividade. O que, pelo

todo exposto até aqui, são fatores preponderantes para o alcance e a manutenção

do desenvolvimento destes setores, beneficiando a sociedade ao longo do tempo.

Não pretende-se aqui estabelecer como inteiramente aplicáveis as experiências de

Page 38: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

37

políticas estrangeiras ao Brasil, mas tão somente tomar exemplos que nos permitam

avaliar criticamente os caminhos que estamos seguindo.

A opção pelo exemplo da Noruega é pelo fato de os autores pesquisados

considerarem este país como um caso exemplar de aplicação da política de

conteúdo local para o desenvolvimento de suas indústrias naval, petrolífera e das

suas respectivas cadeias de fornecedores, com agregado valor tecnológico.

Entre as razões que podemos citar para tomar a Noruega como paradigma

de sucesso de política de conteúdo local, seguem alguns dados: “Em 2011 foram

três os países onde as empresas fornecedoras norueguesas tiveram vendas acima

de US$ 3,3 bilhões: Coreia do Sul, Brasil e o Reino Unido”. (apud PRIETO, 2014,

p.56). Em 2009, cerca de setenta empresas fornecedoras norueguesas estavam

sendo representadas no Brasil, que é o maior demandante de serviços e bens para

perfuração, instalações para navios de diversos tipos e equipamentos subaquáticos.

A indústria fornecedora da Noruega participa com grande relevância nas atividades

que envolvem a indústria petrolífera offshore ao redor do mundo, além da sua forte

participação na plataforma continental norueguesa. (PRIETO, 2014).

O contexto histórico da política de conteúdo local norueguesa remete aos

anos 1960, as empresas fornecedoras com capacidade para suprir a indústria

petrolífera estavam mais voltadas aos setores de hidroeletricidade e de Construção

Naval, não havendo portanto no país empresas operadoras ou fornecedoras locais

capazes de tocar a exploração e produção de óleo e gás. Neste contexto

inicialmente, o governo adotou a política de conceder às empresas estrangeiras o

fornecimento de bens e serviços às operadoras estrangeiras. (PRIETO, 2014).

“Desde 1972 foi adotado o conceito de CL como a preferência por

equipamentos e serviços locais e, a partir de 1979, como a transferência de

conhecimento para melhorar as atividades de pesquisa e desenvolvimento”. (apud

PRIETO, 2014, p.44). A transferência de conhecimento se dava a partir da

cooperação entre as operadoras internacionais e institutos de pesquisa noruegueses

por meio de financiamentos, mão de obra e competência, a fim de desenvolver

tecnologias aplicadas que preenchessem as lacunas das empresas fornecedoras

nacionais. (PRIETO, 2014).

Além da cooperação para o desenvolvimento tecnológico, a política de

conteúdo local do Estado norueguês se caracteriza por se negociar previamente

com as operadoras, permitindo-as ter maior controle sobre o que deverão assumir.

Page 39: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

38

Na verdade, desde a primeira lei do petróleo, em 1965, estabelecia que o Governo

deveria optar pelas operadoras que maximizassem o aproveitamento com valor

agregado das fornecedoras nacionais. As operadoras por sua vez, após um estudo

do modelo técnico do bloco, apresentavam suas propostas apontando um plano de

exploração adaptável às características de negócio das fornecedoras locais, sempre

que fosse tecnologicamente factível e financeiramente justificável. Diante disso as

operadoras repassavam ao Ministério de Petróleo e Energia (MPE) um plano de

suas atividades e uma lista com as empresas fornecedoras que poderiam fornecer

os bens e serviços escolhidos com competitividade de preço, prazo e qualidade,

incluindo as que tivessem a possibilidade de fazer aumentar a participação de

conteúdo local de forma competitiva. (PRIETO, 2014). Este tipo de estratégia evitava

os riscos de descumprimento na produção e de sobre preço dos bens e serviços,

bem como alimentava a qualificação dos fornecedores nacionais.

Com base nas informações de qualificação das empresas locais o MPE

atuava de maneira bastante transparente e previsível, garantindo a estas a inclusão

nas listas no momento de avaliação das propostas. E a transferência de tecnologia

se construía por meio de acordos com as operadoras estrangeiras que realizavam

pesquisa e desenvolvimento na Noruega em cooperação com Universidades e

Institutos de Pesquisa. (apud PRIETO, 2014, p.45).

É importante frisar que em 1965, quando foram outorgadas as primeiras

licenças, a Noruega não tinha muito poder de negociação com as operadoras

estrangeiras, mas nos anos 1970 com a perda de muitas áreas de exploração em

outras partes do mundo e a valorização do preço do petróleo, a Noruega se tornou

um ambiente bastante promissor às operadoras privadas internacionais. Isso fez

com que o Governo ficasse em posição melhor para negociar com as operadoras,

assegurando o desenvolvimento de suas empresas fornecedoras e o aumento de

participação de conteúdo local sem riscos de descumprimento e sobre preço durante

os anos 1970 e 1980. (apud PRIETO, 2014, p.45, 46).

Com base nestas políticas públicas e significante apoio às empresas

nacionais especializadas em outros setores da economia, as capacidades para

atender à indústria de E&P de petróleo foram rapidamente desenvolvidas, tais como:

sismologia, perfuração, construção de embarcações, plataformas de perfuração e

produção, e o desenvolvimento de pesquisa e treinamento. (apud PRIETO, 2014,

p.46).

Page 40: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

39

Outra forte característica da política de conteúdo local da Noruega, que a

diferencia da política aplicada no Brasil, são seus aspectos fiscais, seja na estratégia

de arrecadação, seja na flexibilidade conforme o contexto de oportunidades. A lógica

do sistema fiscal está baseada em assegurar a maior participação possível de sua

indústria naval e de seus fornecedores locais, e garantir uma arrecadação

governamental que não impacte negativamente nos negócios das operadoras.

A Noruega não recorre a leilões por bônus ou a royalties15, e reduz a base

de imposto sobre extração de petróleo e gás, criando assim uma compensação aos

investimentos em fornecimento local. Ou seja, historicamente o sistema fiscal da

Noruega procura captar renda e manter o incentivo às empresas petrolíferas. (apud,

PRIETO, 2014, p.46).

Além disso o país é bastante flexível no que se refere a sua política fiscal.

Em alguns momentos de crise econômica internacional reduziu alíquotas, e em

outros momentos internacionalmente e nacionalmente favoráveis - como a

descoberta de potenciais geológicos exploráveis – o país instituiu ou aumentou

tributos e participações governamentais. (PRIETO, 2014).

Ponto alto é destacar que a ambição dos noruegueses sempre foi

desenvolver as competências da indústria nacional de maneira a proporcionar

benefícios à sociedade, que permanecessem mesmo quando a indústria de

exploração e produção de petróleo e gás não mais induzisse o crescimento

econômico. (apud, PRIETO, 2014, p.49).

Entre os diversos dados que indicam a bem sucedida estratégia de conteúdo

local para os setores envolvidos com a indústria do petróleo norueguesa, destaco a

resistência aos ciclos econômicos internacionais. Na medida em que resistir às

intempéries causadas pelas crises financeiras mundiais representa poder de

competitividade e, portanto, desenvolvimento tecnológico e domínio do

conhecimento pelos setores da indústria.

______________ 15Royalties - Royalty é uma palavra de origem inglesa que se refere a uma importância cobrada pelo

proprietário de uma patente de produto, processo de produção, marca, entre outros, ou pelo autor de uma obra, para permitir seu uso ou comercialização. No caso do petróleo, os royalties são cobrados das concessionárias que exploram a matéria-prima, de acordo com sua quantidade. O valor arrecadado fica com o poder público. Segundo a atual legislação brasileira, estados e municípios produtores – além da União – têm direito à maioria absoluta dos royalties do petróleo. A divisão atual é de 40% para a União, 22,5% para estados e 30% para os municípios produtores. Os 7,5% restantes são distribuídos para todos os municípios e estados da federação. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/noticias/agencia/infos/inforoyalties_.htm>. Acesso em 26 de agosto de 2014.

Page 41: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

40

Entre 2009 e 2010 a queda de renda internacional foi de 8,6% no mundo e

de 5,4% na Noruega; na fase de recuperação em 2010 e 2011 o crescimento no

mundo foi de 11,5%, enquanto na Noruega o nível de recuperação foi de 19,4%.

Isso denota a força das empresas fornecedoras norueguesas – na plataforma

continental norueguesa e no mundo - resistindo mais nos períodos de recessão e,

na recuperação dos mercados, retomando os ganhos com maior rapidez, se

comparados aos índices do mercado global de E&P de petróleo e gás. (PRIETO,

2014).

Pode-se concluir diante dos argumentos expostos que a estratégia de

fomentação da indústria em torno da indústria do petróleo – Construção Naval e

navipeças – na Noruega baseou-se nas seguintes políticas: negociação

governamental com as operadoras estrangeiras, na outorga de concessões, sob a

meta de ter o máximo aproveitamento possível de conteúdo local, evitando o

descumprimento do CL, o sobre preço ou o atraso na produção, mantendo a

atratividade do negócio aos investimentos estrangeiros; transparência no processo

de qualificação das empresas locais incluídas nas listas do MPE; política fiscal, cuja

base de taxação compensava os investimentos na indústria local, e ajustável aos

contextos do mercado financeiro internacional e, finalmente o investimento em

pesquisa e desenvolvimento em parceria com Universidades e Institutos de

pesquisa.

Por meio da aplicação destas políticas públicas a indústria fornecedora local

se desenvolveu rapidamente e se inseriu no mercado de E&P internacional de forma

competitiva, e mesmo durante os anos 1990, com a redução de apoio

governamental em virtude de acordos com a Organização Mundial do Comércio

(OMC), e mais adiante com a crise financeira da primeira década dos anos 2000, as

empresas resistiram e mantiveram seus ganhos. (PRIETO, 2014). “É importante

dizer que a internacionalização das empresas fornecedoras é fundamental para sua

própria sobrevivência porque no futuro os investimentos das operadoras podem

reduzir quando acabar o recurso.” (PRIETO, 2014, p.60).

Page 42: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

41

4.4 DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO LOCAL NO BRASIL

O Estado brasileiro tomou algumas medidas a fim de incentivar o setor de

Construção Naval, de transporte marítimo, e de navipeças, que tiveram efeito efetivo

na retomada destes setores, principalmente na última década. A questão é em que

nível esta retomada impactou em inovação tecnológica, em domínio de

conhecimento, e em condições de competitividade internacional, atributos que,

segundo os argumentos até aqui expostos, podem contribuir com um real

desenvolvimento de nossa Indústria Marítima, em razão das demandas criadas pela

exploração e produção de petróleo e gás.

Para ter esta medida, iremos avaliar em especial o setor de navipeças. Pois

o desenvolvimento deste setor industrial, em especial, representa o quanto a

tecnologia da indústria parapetrolífera brasileira está evoluindo diante deste

processo de retomada da nossa indústria naval. É este setor que fabrica os

equipamentos, as máquinas e os materiais que compõe os sistemas das

embarcações, das plataformas, das sondas, etc.

4.5 ORGANIZAÇÕES E PROGRAMAS DO CONTEÚDO LOCAL NO BRASIL

4.5.1 Organização Nacional da indústria do petróleo - ONIP

“Criada em 31 de maio de 1999, a Organização Nacional da Indústria do

Petróleo (ONIP) é uma organização não-governamental, de direito privado e sem

fins lucrativos, que reúne todos os segmentos que atuam no setor de óleo e gás.”

(ORGANIZAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO, 2014).

A ONIP é um fórum de articulação e cooperação, organizada para que haja

a participação de forma colegiada de seus participantes, sua estrutura é composta

por um conselho deliberativo – composto pelos associados que a financiam, mais a

ANP sem direito a voto - que define as políticas da organização e constrói os

planejamentos. Há também um conselho consultivo, composto por cinco dos

membros do conselho deliberativo mais a ANP, cuja a função é agilizar o processo

decisório da ONIP em conjunto com a Diretoria Executiva. (ORGANIZAÇÃO

NACIONAL DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO, 2014).

Page 43: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

42

Companhias dos setores da indústria do petróleo, empresas fornecedoras de

bens e serviços do setor petrolífero, organismos governamentais e agências de

fomento compõe o conjunto de participantes da ONIP, com a meta de planejar meios

que proporcionem o aumento de competitividade da indústria nacional, e assegurem

a maior participação de conteúdo local no setor de petróleo e gás. Remover fatores

impeditivos e criar incentivos a competitividade da indústria, propor ações que

desenvolvam e disseminem conhecimento setorial e que capacitem a

internacionalização do fornecedor nacional, são exemplos dos objetivos estratégicos

da ONIP. (ORGANIZAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO, 2014).

Entre os seus associados destacam-se: Associação Brasileira das Empresas

de Apoio Marítimo (ABEAM), Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e

Equipamentos (ABIMAQ), Confederação Nacional da Indústria (CNI), Sindicato

Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (SINAVAL),

Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (SOBENA), Petróleo Brasileiro S.A.

(PETROBRAS), Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP),

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Financiadora

de Estudos e Projetos (FINEP), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES), Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a já

citada ANP. (ORGANIZAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO, 2014).

A ONIP toca diversos projetos com a finalidade de cumprir seus objetivos

estratégicos. Dentre os quais serão destacados três: O Catálogo Navipeças que se

trata de “um portal que promove informação sobre produtos e serviços brasileiros

para a indústria naval.” (ORGANIZAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO

PETRÓLEO, 2014). O Programa de Desenvolvimento de Fornecedores

(MULTIFOR), que se trata de um programa para fomentar a cadeia de fornecedores

de navipeças, integrando diversas ações da organização, com o objetivo de

“multiplicar fornecedores de bens e serviços para a indústria do petróleo e gás no

Brasil.” (ORGANIZAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO, 2014). E

finalmente o Programa Plataformas Tecnológicas (PLATEC), que é um programa

destinado a incentivar o atendimento às demandas por inovação tecnológica das

indústrias naval e de petróleo e gás. “O programa busca identificar fornecedores

nacionais com potencial para a nacionalização de bens e serviços atualmente

importados.” (ORGANIZAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO, 2014).

Todos, como se pode notar, com o propósito de garantir e aumentar a participação

Page 44: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

43

de fornecedores locais, com inovação tecnológica, competitividade e produtividade

em atendimento às demandas das indústrias petrolífera e naval.

A ONIP compartilha dos argumentos dos autores pesquisados neste estudo

quanto à relevância da política de conteúdo local. Segundo seu site na internet a

PCL “é vista como um instrumento fundamental de política industrial, podendo ser

uma ferramenta para fortalecer a competitividade e a sustentabilidade da indústria

nacional em toda a cadeia fornecedora do setor de óleo e gás natural.”

(ORGANIZAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO, 2014).

Em que medida, contudo, as ações da ONIP, por meio de seus programas

têm efetivamente contribuído com o fortalecimento dos fornecedores locais?

Segundo artigo publicado no site da ONIP, a política de conteúdo local tem

se distanciado de uma visão estratégica, sendo tratado predominantemente sob um

olhar operacional e ações paliativas ou dispersas. Este fato se dá pela ausência de

uma política industrial de Estado, que contemple objetivos para o País num

horizonte de 15 ou 20 anos. (MAGALHÃES; GUEDES; VASCONCELLOS, 2012).

As exigências contratuais de conteúdo local são uma forma significativa de

aplicação de política industrial, no entanto, da forma como vem sido aplicada até o

momento não tem sido eficiente na indução de um desenvolvimento tecnológico e da

competitividade a nível internacional da indústria parapetrolífera. E não fosse a

inciativa da Petrobras de, em seus contratos de construção de empreendimentos,

até no segmento downstream16, cobrar CL, mesmo não havendo exigências legais

nesse sentido, menos ainda se teria alcançado em termos de CL. (MAGALHÃES;

GUEDES; VASCONCELLOS, 2012).

Em outras palavras Magalhães, Guedes e Vasconcelos apontam para a

fragilidade da política brasileira para o CL em detrimento de sua importância para a

indústria nacional. Argumentos que reafirmam a necessidade de se rever o rumo até

aqui adotado. Esta equação indica que, apesar das ações e projetos da ONIP, a

indústria de fornecedores locais para o setor de petróleo e naval não estão

alcançando os níveis de desenvolvimento esperado, apesar da retomada significante

de nossa indústria naval, assim como do transporte marítimo offshore, em virtude da

E&P de petróleo e gás.

______________ 16Expressões utilizada no setor petrolífero que significa parte da cadeia produtiva antes do refino,

como exploração, desenvolvimento, produção e transporte. (MAGALHÃES; GUEDES; VASCONCELLOS, 2012).

Page 45: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

44

4.5.2 Programas de nacionalização industrial da indústria de petróleo e gás -

PROMINP

O PROMINP foi instituído pelo governo federal, em dezembro de 2003, por

meio do Decreto 4.925 (BRASIL, 2003). O programa foi criado como fruto da

coordenação conjunta entre o Ministério das Minas e Energia e a Petrobras, com o

objetivo de proporcionar a todos os setores envolvidos com a exploração e produção

de petróleo e gás um fórum capaz de desenvolver e implementar ações que

aumentem a participação da indústria nacional de bens e serviços para aquelas

indústrias, de forma competitiva e sustentável. (BRASIL, 2014).

Segundo informações do seu site oficial (BRASIL, 2014) o programa

contabilizou 10 anos, apresentando aumentos sucessivos de investimentos no setor,

principalmente, após as descobertas do pré-sal em 2007. O fórum do programa,

coordenado pelo governo e composto por importantes atores dos setores envolvidos

com a indústria do petróleo e gás, alcançou resultados significativos durante este

período de dez anos. Revertendo em encomendas a fornecedores locais, uma parte

cada vez maior desta carteira de investimentos. (BRASIL, 2014).

A retomada da indústria naval nesta década, estimulada

preponderantemente pela Petrobras - que se destacou no cenário mundial como

grande demandante da Construção Naval offshore - implicou não só em recuperar

este setor, como provocou a modernização e a expansão de unidades instaladas,

assim como a construção de novos estaleiros. Como consequência aumentou

significativamente os níveis de emprego, e gerou perspectivas positivas para toda a

sua cadeia fornecedora de bens e serviços, demandando, diante disso, inovações

tecnológicas. Tendo estes fatores como pano de fundo, o PROMINP desenvolveu

iniciativas que capacitaram empresas fornecedoras locais, atraíram empresas

fornecedoras estrangeiras e incentivaram a associação de empresas nacionais e

estrangeiras, contribuindo desta maneira com o aumento da competitividade da

indústria brasileira, e com uma maior participação de conteúdo local, em detrimento

aos produtos e serviços importados. (BRASIL, 2014).

A expectativa é que com a evolução das atividades nos campos do pré-sal

os investimentos até o final da década sejam ainda maiores, submetendo o país a

grandes desafios “relacionados à capacidade de inovação e de atendimento às

Page 46: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

45

demandas por bens de capital, aço, navios, sondas exploratórias e tudo mais que

estiver associado aos investimentos da indústria petrolífera.” (BRASIL, 2014). Sob

este contexto a atuação do PROMINP terá influência altamente significativa em

fortalecer a competitividade e produtividade das empresas fornecedoras nacionais,

na inovação tecnológica, na qualificação profissional e criação de postos de

empregos, e na revisão e proposição de novas políticas industriais. (BRASIL, 2014).

O PROMINP desenvolve suas ações e projetos a partir de um diagnóstico

prévio dos recursos críticos associados às competências da indústria nacional,

necessários ao longo do tempo, para tocar as atividades relacionadas aos

investimentos da indústria de petróleo e gás no país. Estes recursos podem ser

atributos da infraestrutura industrial, bens como insumos, máquinas e equipamentos,

sistemas e seus componentes, capacitação profissional e outros fatores que possam

impactar negativamente a indústria nacional como financiamento e tecnologia. Os

projetos são setorizados por comitês como se segue: “Exploração e Produção

(E&P), Abastecimento (Abast), Gás, Energia e Transporte Dutoviário (GE&TD),

Transporte Marítimo (TM) e para os projetos comuns a todos os setores, a Indústria

de Petróleo e Gás Natural (IND P&G). (BRASIL, 2014).

Entre os diversos projetos desenvolvidos pelo PROMINP destaca-se o Plano

de Desenvolvimento Tecnológico Industrial - PROMINP Tecnológico - cujo objetivo é

abrir caminhos para o desenvolvimento da competitividade dos fornecedores de

bens e serviços, por meio de avanços tecnológicos da indústria parapetrolífera

nacional, incentivando e fortalecendo a integração entre indústria e universidade.

Com a análise e detecção dos principais gargalos produtivos destes setores da

indústria nacional, foi construída uma agenda tecnológica. (BRASIL, 2014).

Para o cumprimento desta agenda foram articulados entre o PROMINP, o

Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a FINEP o lançamento de

dois editais, que caracterizavam-se por não haver contrapartida financeira e

incentivar propostas de projetos procedentes dos fornecedores, e apoiados por

universidades, responsáveis por conduzi-los.

O primeiro edital, de julho de 2010, “disponibilizou R$ 30 milhões para apoiar

a criação, adequação e capacitação de laboratórios de Instituições de Ciência e

Page 47: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

46

Tecnologia, de forma a atender as demandas dos fornecedores da cadeia de

P&G17.” (BRASIL, 2014).

O segundo edital, também de julho de 2010, disponibilizou R$ 100 milhões

para atender ao aumento de CL e aos desafios tecnológicos em função das

descobertas dos blocos do pré-sal. Priorizou segmentos previamente identificados

pelos estudos do PROMINP, como de média competitividade: válvulas, flanges e

conexões, caldeiraria, construção naval, instrumentação e automação; e um

segmento de alta competitividade - umbilicais submarinos18 - devido sua

significância para a exploração do óleo no pré-sal. Tendo sido contemplado um total

de 58 projetos.

Entre março de 2006 e junho de 2007, o PROMINP desenvolveu o estudo de

competitividade da indústria brasileira de bens e serviços do setor de petróleo e gás,

que foi realizado sob a coordenação da Petrobras e executado pelo Instituto de

Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE-UFRJ). Este estudo

avaliou dezoito segmentos da indústria parapetrolífera no Brasil. Para definir os

níveis de competitividade o projeto catalisou informações, adquiridas por meio de

entrevistas com fornecedores, entidades de classe e especialistas da Petrobras,

considerando ao seu final como de alta competitividade: siderurgia, tubulações,

bombas de pequeno porte, turbinas a vapor, equipamentos submarinos, geradores e

motores elétricos; e de média competitividade: caldeiraria, flanges e conexões,

válvulas, compressores alternativos, serviços de engenharia, construção e

montagem. O estudo identificou também segmentos em que não há produção

nacional, como exemplo: motores a gás e a diesel de grande porte, turbinas a gás,

equipamentos e sistemas de automação sofisticados. A partir deste estudo foram

propostas algumas ações estratégicas para fomentar a indústria nacional, como:

ampliar a capacidade produtiva dos segmentos de alta competitividade, desenvolver

a produtividade dos setores de média competitividade, incentivar a entrada de novas

empresas nacionais no mercado, promover a associação entre empresas nacionais

______________ 17 Petróleo e Gás.

18 Umbilicais submarinos são estruturas essenciais para o funcionamento dos sistemas de produção marinho, eles são projetados para diversas funções como transmitir energia para o funcionamento dos equipamentos submarinos, transportar cimento e fluidos de manutenção ou químicos. Dentre tantas funções uma das mais importantes é o acionamento da árvore de natal molhada, para tanto os umbilicais devem ser dimensionados para suportar as diversas ações externas do ambiente a que estão submetidos. Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAgZBMAI/umbilicais-submarinos>. Acesso em 26 de agosto de 2014.

Page 48: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

47

e estrangeiras, e estimular a instalação no Brasil de empresas estrangeiras.

(BRASIL, 2014).

Em 2010 o Estudo de competitividade foi revisto, e desta vez sua

abrangência foi aumentada para vinte e cinco segmentos industriais. Este último

correlacionou a capacidade produtiva instalada e utilizada, e também levantou o

percentual de conteúdo local atingido pelos fornecedores entrevistados, o que pôde

fornecer uma boa referência para medir o desenvolvimento do setor. Tais

informações foram utilizadas pela Petrobras para planejar o conteúdo local que

poderia ser atingido em seus empreendimentos. (BRASIL, 2014).

4.5.3 Análises do conteúdo local

“A ANP é responsável por fiscalizar o cumprimento dos percentuais mínimos

de CL definidos nos Editais de cada licitação, bem como nos Contratos de

Concessão”. (AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO GÁS E BIOCOMBUSTÍVEIS,

2014).

Com base nos resultados das fiscalizações executadas pela ANP

anualmente, no período de 2008 a 2014, compreendendo aí as rodadas de licitação

da primeira à sexta, a figura 8 do ANEXO A aponta a média de CL atendido por

rodada. Conforme o método aplicado pela agência, se dá como CL cumprido se a

operadora atingir o valor mínimo exigido em cada rodada. Lembrando que os

parâmetros de exigência de CL variavam para cada rodada. (AGÊNCIA NACIONAL

DE PETRÓLEO GÁS E BIOCOMBUSTÍVEIS, 2014).

Na 1ª rodada o percentual de CL a ser cumprido era informado pela

operadora, e no processo de licitação atribuía-se nota em função do CL informado,

que se não cumprido durante o contrato era passível de penalidade. A 2ª rodada

teve um texto similar à 1ª rodada neste quesito, com a diferença que a ANP

apontava um valor mínimo para a licitação, com pesos diferentes para as fases de

exploração e desenvolvimento de produção. A 3ª rodada continuou a exigir parcelas

mínimas de investimentos em CL, e os pesos diferenciados para as fases de

exploração e desenvolvimento de produção estavam inalterada, a ANP só modificou

os métodos de cálculo das penalidades por descumprimento dos níveis de CL. A 4ª

rodada foi idêntica à 3ª nestes quesitos. Já a 5ª rodada apresentou mudanças mais

substanciais, onde o percentual de CL para as etapas de exploração e produção,

Page 49: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

48

variava conforme a qualificação do operador, exclusivamente para as atividades

E&P no mar. Os níveis mínimos de exigência para as etapas de exploração e

desenvolvimento não sofreu alterações para a 6ª rodada. (BORGES, 2014).

A figura 5 do anexo A é um gráfico que indica as dificuldades para se

alcançar em 100% as metas exigidas de conteúdo local a partir das rodadas 5 e 6,

que conforme colocado, foi o período em que os níveis de exigência do CL tomaram

tendência de aumento. Já a tabela – representada na figura 6 do mesmo anexo –

resume dados de todas as rodadas de licitação até a 11ª, onde pode-se observar os

valores médios de conteúdo local de cada rodada.

Os dados acima expostos reforçam os argumentos do aumento gradativo

das exigências de conteúdo local, caminho seguido pela ANP para defender os

interesses da indústria fornecedora local. Contudo, percebe-se uma tendência ao

aumento do descumprimento a partir das rodadas quinta e sexta fator que, em parte,

comprova que sem outras medidas de cunho estruturais, como investimentos

robustos em T&D por meio de parcerias e ajustes fiscais, só para citar dois, não há

como assegurar a efetividade do desenvolvimento da indústria parapetrolífera.

Pontos fracos como o atraso na entrega de equipamentos, que podem afetar

a produção, e assim diretamente o desenvolvimento da Petrobras, causando efeitos

nocivos à toda cadeia de negócios, são alertados por importantes atores da

comunidade da indústria do petróleo e gás, como Lucas Aristizabal - diretor

responsável por petróleo e gás para a América Latina da Fitch Ratings (agência de

rating global dedicada ao fornecimento de valor para além da classificação por meio

de dados opiniões objetivas e equilibradas de crédito, pesquisa e dados). (LEI,

2014).

A Agência Internacional de Energia (AIE) também levanta argumentos de

alerta em relação a política de conteúdo local no Brasil. Segundo a AIE, em seu

relatório de perspectivas a médio prazo, o Brasil será a segunda maior fonte em de

produção de petróleo nos próximos cinco anos, ficando atrás apenas da América do

Norte, para produtores fora da Organização dos Países Exportadores de Petróleo

(OPEP), ainda assim empresas estrangeiras estão menos dispostas a investir no

país. Isso, conforme análise da agência, se deve, principalmente ao atraso em

projetos e à previsão de aumento nos índices de declínio nos campos de produção

atuais. As atividades nos campos do pré-sal estão dentro dos níveis estimados, e é

considerado um sucesso, mas desde 2010 a produção nos demais campos caiu

Page 50: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

49

20%, e a tendência é de mais queda na produção. A AIE destaca que o Estado

permanece investindo fortemente no setor, mas as rígidas exigências de conteúdo

local têm provocado atrasos nos fechamentos de orçamentos e projetos. (MOREIRA,

2014).

A AIE vê a indústria brasileira, em comparação a de outros países

produtores de petróleo, mais diversificada e robusta e, portanto, mais capaz de

atender às necessidades das atividades de E&P de óleo e gás. Ainda assim alerta

para as exigências onerosas e complexas de conteúdo local. O conteúdo local é

uma política que representa justos interesses na solução de problemas do país, mas

que, se inflexível e demasiadamente onerosa aos investidores, pode “resultar em

fiasco e desacelerar o ritmo de projetos do setor privado e estrangeiro” (MOREIRA,

2014, p.2).

Há também pontos fortes a elencar: “Apontada como um dos grandes

impulsionadores do novo momento da indústria naval no país, a nacionalização de

conteúdo para suprir a demanda dos estaleiros já reflete positivamente em indústrias

de médio porte.” (MARINTEC, 2014, p.1). Como exemplo destes efeitos positivos

temos a BALG, fornecedora carioca de juntas de expansão e uma das líderes deste

segmento no Brasil. (MARINTEC, 2014).

A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos

(ABIMAQ), representa parcela significativa da base da indústria de navipeças, setor

fundamental ao desenvolvimento da indústria de Construção Naval, e ao

desenvolvimento tecnológico da Indústria Marítima e do país. Em 6 de julho de 2011

a ABIMAQ realizou seminário com os principais atores do setor para debater sobre o

conteúdo local.

Segundo Alberto Machado, diretor de Petróleo, Gás, Bioenergia e

Petroquímica da ABIMAQ, há ainda dificuldades e são necessários

aperfeiçoamentos à política de conteúdo local, mas insiste que se trata de uma

política importante para o desenvolvimento da indústria parapetrolífera nacional.

Contudo ressalta que, apara se atingir os objetivos, é necessário implantar

programas que desenvolvam a competitividade da indústria, segundo Machado, o

país tem potencial para atender cerca de 65% a 70% da demanda de máquinas e

equipamentos do segmento da Construção Naval. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA

INDUSTRIA DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS, 2011).

Page 51: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

50

Neste mesmo seminário, o Chefe da Coordenadoria de Conteúdo Local da

ANP, Marcelo Macedo, citou que desafios já foram perdidos, mas há muitos desafios

a serem vencidos, e para tal ratifica que é necessário haver um salto tecnológico no

parque industrial brasileiro, e alega que uma agenda de competitividade é um fator

que fará diferença. Macedo sugere que ações conjuntas entre os atores que podem

influenciar neste desenvolvimento devem ser tomadas. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA

DA INDUSTRIA DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS, 2011).

A alternativa seria apoiar o desenvolvimento do setor de navipeças,

contribuindo com seu desenvolvimento tecnológico e com o aumento de sua

capacidade produtiva, e ao mesmo tempo estimular investidores a superar metas

indicativas e reais alcançando níveis mais altos de conteúdo local. (apud BORGES,

2014, p.86).

4.6 AS IMPLICAÇÕES DO CONTEÚDO LOCAL NA MARINHA MERCANTE

No espectro deste estudo, que tem como um dos objetivos principais provar,

por meio dos argumentos dos autores pesquisados, que só estaremos diante de um

crescimento robusto e duradouro da nossa Indústria Marítima, quando além dos

relevantes índices de retomada de ocupação da Construção Naval, e do significativo

aumento de nossa frota mercante no apoio marítimo, atingirmos também

considerável grau de competitividade de nossa indústria de navipeças, e

desenvolvermos nossa capacidade de inovação e domínio de conhecimento em

segmentos de tecnologia de maior valor agregado nesta indústria. E como

consequência disso, poderemos constatar a aplicação de nossa tecnologia marítima

nacional – com alto valor agregado - predominando a bordo de nossos navios e

unidades marítimas. Neste estágio desejável, poderemos assegurar não só que

recuperamos nossa Indústria Marítima, como também estaríamos aptos a maiores

desafios.

O PROREFAM e o PROMEF, já citados anteriormente vêm cumprindo

sistematicamente seus objetivos de renovar e incrementar as frotas de navios de

apoio marítimo e da Transpetro, e em consequência disso reativaram e têm

incrementado nossa indústria de Construção Naval, assim como têm trazido efeitos

positivos ao segmento de navipeças.

Page 52: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

51

Em 17 de março de 2014, a Petrobras lançou a sétima rodada de licitação

do Programa de Renovação da Frota de Apoio Marítimo (PROREFAM), na mesma

ocasião a empresa fez um balanço do programa e assinou contratos da quinta

rodada. A presidente da Petrobras Graça Foster, em seu pronunciamento, destacou

a importância de programa para a Indústria Marítima e para a Petrobras, em função

do momento atual das demandas de exploração e produção (E&P) de óleo e gás.

Contudo observou que as ofertas de contratação devem estar alinhadas aos preços

do mercado internacional, e que nada justificaria atrasos na curva de aumento de

produção prevista pela empresa no seu plano de gestão de negócios 2014-2018:

“Não é prioridade para nós nenhuma contratação que coloque isso em risco".

(PETROBRAS, 2014).

O Prorefam tem a previsão de contratar até cento e quarenta e seis

embarcações, em sete rodadas entre 2008 e 2014, e o CL mínimo destas

construções gira entre 50% e 60%, de acordo com o tipo de navio, atingindo até

70% na fase de operação offshore. Destas cento e quarenta e seis embarcações

previstas, a Petrobras já contratou oitenta e sete, sendo que vinte e seis destas já

estão em operação e as outras sessenta e um, em construção. A Petrobras ressalta,

também para este segmento, o fator de importância do cumprimento de prazos, e

trabalha junto as empresas para que, eventuais atrasos, sejam recuperados e

soluções sejam dadas. (PETROBRAS, 2014).

O programa de modernização e expansão da frota da Transpetro (PROMEF)

é um dos programas do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). O Promef foi

criado em 2004, sob três premissas: construir navios no Brasil, com conteúdo

nacional superior a 65% e com competitividade em nível internacional. O programa

foi dividido em duas etapas, o PROMEF I, que encomendou vinte e seis navios e o

PROMEF II, com vinte e três navios, em um investimento estimado em 10,8 bilhões

de reais. A Transpetro criou o Sistema de Acompanhamento da Produção (SAP),

cuja a meta é avaliar a eficiência dos estaleiros e incentivar o aumento na

produtividade. O Promef, conforme já visto foi um fator significante na guinada da

Indústria Marítima nacional. “A terceira premissa do programa, a busca por

competitividade internacional, é o atual foco”. (PETROBRAS TRANSPORTE S.A,

2014b).

Acrescente-se aos dados já expostos o fato de que, as embarcações de

apoio ou pesquisa, fabricadas no Brasil, são consideradas para efeito de cálculo de

Page 53: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

52

conteúdo local como sistemas. No anexo B estão relacionados os tipos de

embarcações válidas para certificação de conteúdo local segundo a cartilha de

conteúdo local - Anexo II da resolução 19/2013. (BRASIL, 2013).

Medidas como as citadas acima, de certo, surtiram efeitos relevantes na

participação de navios de bandeira brasileira em operação no apoio marítimo.

Segundo levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo

(ABEAM), em agosto de 2013, a composição da frota de apoio às atividades de

exploração e produção de petróleo tinha a seguinte relação: 53% de embarcações

com bandeira estrangeira e 47% sob a bandeira brasileira, com 21.545 marítimos

empregados, sendo cerca de 12.500 brasileiros e os demais estrangeiros.

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE APOIO MARÍTIMO , 2013).

Apenas em 2012, a frota de bandeira brasileira, segundo levantamento da

ANTAQ, para operações na navegação marítima e de apoio registrou um incremento

de 252 unidades, resultando um total de 1711 embarcações. Neste cenário, a

agência observou que há um aumento ligeiro na média de idade da frota, impactada,

principalmente, pela frota de apoio portuário. Já a frota de apoio marítimo destacou-

se pela diminuição da média de idade, saindo de 13,1 anos para 11,4 anos na

média. (AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS, 2012).

“Um navio é a reunião de diversas tecnologias, nas mais diversas áreas de

conhecimento, sempre no seu estado mais avançado. [...]. A engenharia naval, do

projeto básico ao detalhamento, é a primeira tecnologia incorporada.” (ROCHA,

2013).

Dentre estas tecnologias a bordo dos navios, aquelas em que há a

predominância de fornecedores nacionais são, por exemplo, tubulações, cabos

elétricos, alguns painéis de controle e de distribuição de energia, motores auxiliares

e geradores, e outros materiais de acabamento como divisórias, incluindo as a prova

de fogo. Já máquinas e sistemas mais sofisticados como sistemas de propulsão,

sistemas de navegação e controle, automação, radares, sistemas de

posicionamento dinâmico, sistemas de governo (lemes) e sistemas de comunicação

via satélite, são predominantemente de procedência externa. (ROCHA, 2013).

O SINAVAL desenvolveu uma base de dados – figura 7 do anexo A -

estruturada em construções de três tipos de embarcação: OSVs ou PSVs (Offshore

Supply Vessels ou Plataform Supply Vessels), navios petroleiros e FPSOs (floating

production, storage and offloading). Os dados são repassados aos segmentos dos

Page 54: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

53

fornecedores locais de materiais, equipamentos e sistemas, com o propósito de

fomentar a indústria de navipeças local. (SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA

DA CONSTRUÇÃO E REPARAÇÃO NAVAL OFFSHORE, 2012).

Os itens que compõe o material fornecido pelos fornecedores locais são: aço

estrutural, chapa grossa, perfis de aço e perfil bulbo; máquinas, motores,

compressores e bombas; válvulas e tubulação; cabos elétricos, painéis de controle e

sistemas elétricos; acessórios de casco; materiais de acabamentos; e tinta naval e

proteção contra corrosão. Dentre estes, a pesquisa destaca que painéis e cabos

elétricos já atingem cerca de 60% de CL. O mesmo estudo aponta criticidade de

fornecimento para motores acima de 650HP, bombas de carga e lastro e

equipamentos de segurança e navegação. (SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA

DA CONSTRUÇÃO E REPARAÇÃO NAVAL OFFSHORE, 2012).

Quanto ao segmento de plataformas e navios sondas, sem detalhar os

grupos de equipamentos, a pesquisa do SINAVAL aponta que este segmento é

usualmente suprido com um total de 534 itens da indústria de fornecedores locais.

(SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO E REPARAÇÃO

NAVAL OFFSHORE, 2012).

O SINAVAL estima que até 2020 a demanda será de 500 embarcações para

operação na atividade de apoio marítimo, além de cinquenta plataformas, cinquenta

sondas e centro e trinta navios petroleiros. (SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA

DA CONSTRUÇÃO E REPARAÇÃO NAVAL OFFSHORE, 2012). Observe os dados

da tabela da figura 8 do anexo A referente ao cenário dos estaleiros – carteira atual

e novos pedidos.

Page 55: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

54

5 CONCLUSÃO

É determinante para o desenvolvimento de setores industriais estratégicos a

indução de inovações tecnológicas que promovam o aumento de produtividade, o

desenvolvimento de novos produtos, processos e ramos de atividade. Além destes

fatores podemos ainda citar como essenciais o ambiente de mercado favorável,

instituições acadêmicas suscetíveis ao acúmulo de conhecimento, estruturas

organizacionais propícias a efetiva aprendizagem dos seus membros e políticas

governamentais de incentivos. (FAVARIN; OLIVEIRA; GATTAZ, 2010).

Os países líderes da Indústria Marítima no mundo investiram fortemente em

conhecimento, pesquisa e desenvolvimento (P&D), laboratórios especializados em

desenvolver novas tecnologias de processos e produtos. Esta estratégia de

desenvolvimento de inovação e competência tecnológica na produção internacional

foi observada tanto no setor de estaleiros como no de navipeças. (NEGRI; KUBOTA;

TURCHI, 2009).

É preciso, a fim de destacar a importância dos avanços tecnológicos,

enfatizar que atualmente até 80% dos custos de construção de uma embarcação

são atribuídos às máquinas, equipamentos e sistemas instalados a bordo. Há

décadas atrás os maiores custos estavam no aço que compõe as instalações. Esta

nova característica determina um papel estratégico ao setor de navipeças na

capacidade e competitividade do mercado de Construção Naval. (PAULA, 2014).

“A retomada da indústria naval no Brasil não tem sido acompanhada pela

melhoria dos indicadores de esforço tecnológico das firmas”. (NEGRI; KUBOTA;

TURCHI, 2009, p.3). Argumento que faz crer que as políticas públicas estabelecidas,

não têm sido adequadas.

É com base nestes argumentos expostos por diversos estudiosos, que pode-

se concluir que, afora os bons índices de recuperação de nossa indústria naval, e

até do incremento de participação das nossas embarcações no apoio marítimo

offshore, temos ainda diversos pontos sobre os quais avançar. Os meios e recursos

para um desenvolvimento robusto, competitivo e perene da indústria naval, dos

fornecedores locais de bens e produtos, e portanto de nossa Indústria Marítima, são

ainda muito tímidos e escassos. É preciso romper esta etapa e definir uma

estratégia que nos permita ir além, na capacidade de investimento, na pesquisa e

Page 56: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

55

desenvolvimento de tecnologia, nas políticas tributárias, na qualificação das

organizações e da mão de obra, e na gestão política desempenhada pelo Estado.

Em uma análise mais profunda da estratégia que vem sendo aplicada,

encontramos pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades. Que vamos

examinar a fim de uma contextualização mais apurada, visando melhores

resultados.

A Engenharia Naval brasileira se destaca pelos desafios vencidos na

exploração e produção de petróleo em campos de águas profundas e ultra

profundas, tendo o Centro de Pesquisas da Petrobras (CENPES) como centro de

excelência de desenvolvimento tecnológico no setor offshore no mundo.

Segundo especialistas do setor, a participação de empresas nacionais em

projetos de navios, sondas, plataformas e equipamentos submarinos de forma direta

no Brasil e no Exterior ratifica este argumento. “A plataforma P-55, cujo projeto foi

realizado pelo Centro de Pesquisas da Petrobras (CENPES) com a participação de

outras empresas brasileiras, é um modelo de excelência em projetos offshore.”

(POMPERMAYER; CAMPOS NETO; MORAIS, 2014, p.8).

Entretanto deve-se observar que, em detrimento desta capacidade, a

engenharia naval brasileira tem, em sua ampla maioria, trabalhado em detalhamento

de projetos, e não em projetos básicos, que são efetivamente onde se definem os

principais sistemas e respectivas tecnologias que serão aplicadas a bordo. Em

outras palavras, o projeto básico implica diretamente na opção dos fornecedores de

material. Se a capacidade de nossas empresas de engenharia for aproveitada no

desenvolvimento de projetos básicos, pode-se então ter uma influência positiva no

desenvolvimento da cadeia de fornecedores locais de navipeças. (POMPERMAYER;

CAMPOS NETO; MORAIS, 2014).

Quanto ao segmento de fornecedores locais para a indústria de Construção

Naval observa-se um forte crescimento, embora em níveis mais baixos que os da

própria CN. Em parte, isso se deve aos altos índices de inatividade da CN antes da

retomada, o que não ocorreu com a indústria de fornecimento de peças. Uma

característica marcante dos fornecedores locais de peças é que a indústria naval é

apenas uma parte de sua carteira de clientes. Relacionadas com base nas

informações da Classificação Nacional por Atividade Econômica (CNAE) em

conjunto com as informações de outros organismos, identificou-se sobre este setor

um crescimento real da receita de aproximadamente 110% entre 2000 e 2010. E

Page 57: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

56

mais, dentro da mesma análise, para o setor de navipeças restrito - empresas cujas

atividades estão mais associadas ao setor naval - foram detectadas taxas ainda

maiores de crescimento em relação ao conjunto de empresas em que estão

inseridas. Não é possível, entretanto, associar este crescimento exclusivamente às

demandas do setor naval, mas estes resultados indicam duas medidas importantes:

a maior capacitação deste segmento da indústria e a sua expansão no mercado em

virtude de as mesmas buscarem atender o setor de Construção Naval.

(POMPERMAYER; CAMPOS NETO; MORAIS, 2014).

Porém há controvérsias, segundo Morais et al. (apud POMPERMAYER;

CAMPOS NETO; MORAIS, 2014, p.10) em entrevista realizada com empresas do

catálogo de navipeças em 2011, 68.1% das mesmas afirmaram que suas receitas

não estavam associadas ao setor naval, mas 98.6% esperavam aumentar sua

produção em decorrência das demandas do segmento de navipeças, sendo por

meio do aumento da produção de produtos atuais, ou por meio de investimentos em

novos produtos (inovação). Estas afirmações – aparentemente conflitantes -

sugerem que estas empresas ou não reconhecem o setor naval como fator

expressivo na geração de suas receitas no intervalo pesquisado, ou ainda que não

percebam sua real posição na cadeia de suprimentos. Contudo indica também que

este conjunto de empresas reconhece as perspectivas de expansão associadas ao

mercado de Construção Naval para o offshore. (POMPERMAYER; CAMPOS NETO;

MORAIS, 2014).

A interpretação situacional dos fornecedores locais de navipeças é de que

ainda têm baixa participação no setor naval, mas com capacidade de expansão, e

de competir com os preços do mercado internacional, ao menos em itens de menor

valor tecnológico. Quanto ao fornecimento de itens com maior valor tecnológico

agregado, há dificuldades de fornecimento local. Entretanto, por meio das políticas

de conteúdo local, fornecedores externos têm sido atraídos a atuar no Brasil,

possibilitando assim transbordamento tecnológico. (POMPERMAYER; CAMPOS

NETO; MORAIS, 2014). Este transbordamento depende, claro, de uma associação

de políticas aplicadas em favor deste vetor de desenvolvimento.

Um risco ao avanço do nosso setor de Construção Naval e o segmento de

fornecimento de peças, produtos e serviços é alta carga tributária brasileira,

associada ao alto custo em relação a produtividade da mão de obra. Análises

apontam que, no Brasil, a incidência de impostos sobre a construção de uma

Page 58: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

57

embarcação chega ao dobro da de outros países, e a relação custo de mão de obra

/ produção de tonelada de aço construída chega a ser quatro vezes superior.

(POMPERMAYER; CAMPOS NETO; MORAIS, 2014).

Importante fator a ser avaliado, as políticas públicas, que em detrimento

daquelas aplicadas entre os anos 1960 e 1980, e que, em parte contribuíram com o

processo que culminou no desmonte de nossa Construção Naval e Marinha

Mercante, as políticas que vem sendo aplicadas atualmente avançaram

institucionalmente. O melhor exemplo deste progresso é a forma de atuação do

Fundo de Marinha Mercante (FMM), onde destaca-se o diversificado conjunto de

atores participantes, representando, assim, uma gestão descentralizada dos

recursos do fundo. O Departamento de Marinha Mercante (DMM) faz as avaliações

técnicas para liberação dos financiamentos, mas cabe ao Conselho Diretor do FMM

(CDFMM)19 a priorização dos projetos, o acompanhamento e a aprovação das

contas, que são, de toda maneira, monitoradas pelo conjunto de participantes,

garantindo maior transparência na gestão. Finalmente, outro avanço do

encadeamento das atuais políticas é que o erário está mais protegido, uma vez que

os riscos de inadimplência estão restritos às instituições financeiras.

(POMPERMAYER, CAMPOS NETO e MORAIS, 2014).

A demanda atual e futura por petróleo e gás na plataforma continental

brasileira, representam excelentes oportunidades para a Construção Naval,

segmento de navipeças e à Marinha Mercante associada ao segmento offshore.

Análises apontam para uma demanda estimada de 544 embarcações até 2020,

entre plataformas, navios-sonda e navios de apoio marítimo, num total estimado de

R$ 227 bilhões de investimentos. Lembrando que até 2014, da área do pré-sal,

apenas o campo de Libra foi licitado, restando ainda todos os demais campos. Além

disso, têm sido descobertas reservas em águas profundas na bacia do Nordeste,

que a Petrobras não tem condição de operar no momento. Todos estes dados

apontam em favor do Brasil, com um cenário favorável para as próximas três

décadas. Diante destas oportunidades o país pode, neste segmento de mercado -

______________ 19Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante – CDFMM é um órgão colegiado integrante da

estrutura do Ministério dos Transportes. Participam de sua composição a Marinha do Brasil, a Secretaria Especial de Portos da Presidência da República e empresários e trabalhadores dos setores da Marinha Mercante e da indústria de construção e reparação naval. Disponível em: <http://www.transportes.gov.br/perguntasfrequentes/fundo+marinha+mercante>. Acesso em 07 de setembro de 2014.

Page 59: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

58

construção de embarcações de apoio, navios-sonda e plataformas de produção,

entre outros - tornar-se cada vez mais especializado e produtivo, inclusive tendo

força para avançar sobre mercado externo, em qualquer área de exploração de

águas ultra profundas no mundo, mas com mais chances sobre a área do pré-sal na

costa oeste da África. (POMPERMAYER; CAMPOS NETO; MORAIS, 2014).

É preciso, entretanto, estarmos atentos a duas ameaças, que de certa forma

associam-se. A primeira é a concorrência de atores tradicionais – Coréia, Japão,

Noruega e China – não só no que se refere à concorrência em nosso mercado

doméstico, mas também à concorrência em possíveis futuros mercados externos,

como, por exemplo, a já citada costa oeste da África. E mais, sempre existe a

possibilidade do surgimento de novos atores concorrentes no cenário mundial.

(POMPERMAYER; CAMPOS NETO; MORAIS, 2014).

A segunda fraqueza se refere à condução de nossas políticas protetivas da

indústria naval e seus segmentos, sendo a mais representativa a política de

conteúdo local. Não se pode estabelecer políticas de proteção da indústria nacional

indefinidamente, sem exigir-se contrapartidas de desenvolvimento, de

competitividade e produtividade das empresas. Isto tende a acomodar as

organizações sob o teto protetor do Estado, as tornando pouco ou nada competitivas

diante do mercado externo, uma vez que lhes é garantido o mercado interno. Da

mesma forma, a retirada repentina de todo o tipo de proteção vulnerabiliza as

empresas nacionais à competição que não podem suportar, gerando assim efeitos

danosos como falências, aquisições por empresas estrangeiras, perda de

conhecimento tecnológico, perda de postos de emprego, desestruturação da cadeia

produtiva local, entre outros. (POMPERMAYER; CAMPOS NETO; MORAIS, 2014).

Como considerações finais deve-se admitir que a Indústria Marítima

brasileira, e os segmentos que orbitam em torno dela sofreram um progresso

robusto desde 2000, confirmando por meio deste processo a retomada da Marinha

Mercante de apoio marítimo. Contudo há ainda importantes pontos sob os quais

avançar. As demandas estão e estarão presentes e nos garantirão as oportunidades

nas próximas décadas. Cabe-nos investir em políticas que convertam as

oportunidades em resultados positivos concretos.

O modelo das políticas de conteúdo local precisa ser revisto, precisa além

de garantir a proteção e o fomento de nossa indústria doméstica, não impactar

Page 60: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

59

negativamente sobre as atividades de exploração e produção de óleo e gás e

assegurar um processo firme de avanço tecnológico e capacitação.

Com base neste estudo, pode-se afirmar que somente por meio de

investimentos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia é que se pode

estruturar um progresso perene, com benefícios sociais e econômicos duradouros.

Os meios institucionais estão disponibilizados, mas as medidas tomadas ainda são

tímidas. A questão do avanço tecnológico precisa estar no centro de nossa

estratégia de desenvolvimento. E esta estratégia central precisa ser liderada e

reafirmada pelo Estado por meio dos seus braços institucionais, com uma aplicação

significativa de recursos que gerem conhecimento em tecnologia aplicada e

inovação.

Page 61: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

60

REFERÊNCIAS

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Page 62: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

61

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Page 63: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

62

______. Resolução ANP nº 19, de 14 de junho de 2013. Estabelece nesta Resolução os critérios e procedimentos para execução das atividades de Certificação de Conteúdo Local Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 jun. 2007. Disponível em: <http://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=255414>. Acesso em: 27 jun. 2014.

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Page 66: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

65

______. A Construção Naval e Offshore Brasileira - Cenário 2013 - 3º Trimestre. Rio de Janeiro: SINAVAL, 2013. 29 p. Disponivel em: <http://www.sinaval.org.br/docs/SINAVAL-Cenario2013-3tri.pdf >. Acesso em: 5 abr. 2014.

WEISS, J. M. G. Comparação dos programas nacionais de construção naval: EUA, União Européia e Brasil. In: CONGRESSO NACIONAL DO TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, CONSTRUÇÃO NAVAL E OFFSHORE, 24., 2012, Rio de Janeiro. Artigos...Rio de Janeiro, RJ: SOBENA, 2012. 11 p.

Page 67: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

66

ANEXO A – GRÁFICOS, TABELAS E ILUSTRAÇÕES.

FIGURA 1: Embarcações contratadas e a contratar no Brasil, desde 1999. Fonte: (DORES; SALOMÃO; PROCESSI, 2012)

FIGURA 2: Linha do tempo da Construção Naval brasileira Fonte: (ROCHA, 2012).

Page 68: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

67

FIGURA 3: Evolução da frota de bandeira brasileira – por tipo de navegação. Fonte: (AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS, 2014)

FIGURA 4: Evolução da frota de apoio marítimo: 1975 – 2020. Fonte: (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE APOIO MARÍTIMO , 2013)

Page 69: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

68

FIGURA 5: Gastos com afretamentos no apoio marítimo, por tipo, em US$ x 1000 Fonte: (AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS, 2012)

FIGURA 6: Análise tecnologias críticas: Brasil, EUA, União Europeia. Fonte: (WEISS, 2012).

Page 70: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

69

FIGURA 7: Conteúdo local médio no Brasil, por rodada de licitação. Fonte: (PRIETO, 2014)

FIGURA 8: Média de Conteúdo local cumprido, por rodada de licitação. Fonte: (AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO GÁS E BIOCOMBUSTÍVEIS, 2014), elaborado pelo autor.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

1º 2º 3º 4º 5º 6º

% média de CL atingido por Rodada de Licitação

Total

Page 71: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

70

Rodada de licitações Rodada 1 Rodada 2

Rodada 3

Rodada 4

Rodada 5

Rodada 6

Rodada 7 Rodada 9

Rodada 10 Rodada 11

Ano 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2007 2008 2013

Blocos oferecidos 27 23 53 54 908 913 1.134 271 130 289

Blocos contemplados 12 21 34 21 101 154 251 117 54 142

Blocos Onshore contemplados 0 9 7 10 20 89 210 65 54 87

Blocos Offshore contemplados 12 12 27 11 81 65 41 52 0 55

Área contemplada (km2) 54.660 48.074 48.629 25.289 21.951 39.657 194.651 45.614 48.030 100.372

Área Offshore contemplada (km2) 54.660 37.847 46.266 14.669 21.254 36.811 7.735 13.419 0 35.374

Bacias sedimentares 8 9 12 18 9 12 14 9 7 11

Empresas bem sucedidas 11 16 22 14 6 19 30 36 17 30

Novos operadores 6 6 8 5 1 1 6 11 2 6

Média conteúdo local: fase

de exploração (%)

25

42

28

39

79

86

74

69

79

62,25

Média conteúdo local: estágio P&D

27

48

40

54

86

89

81

77

84

75,97

Bônus de assinatura (MM US$) 181 262 241 34 9 222 485 1.141 38 2.823

Investimento mínimo durante o

primeiro período de exploração

(MM US$ 3 anos)

65

60

51

29

121

681

829

739

259

3.436

FIGURA 9: Resultados das rodadas de licitação sobre E&P de óleo e gás. Fonte: (BORGES, 2014)

Tipo Conteúdo Local Parcela Importada

Petroleiros 70,8% 29,2%

OSV 61% 39%

FPSO 64,2% 35,8%

FIGURA 10: Visão geral de conteúdo local por tipo de embarcação. Fonte: (SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO E REPARAÇÃO NAVAL OFFSHORE, 2012).

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Tipos de navios Carteira de

pedidos Novos pedidos

Navios de suporte offshore 22 89

Tanques / Produtos 55 21

FPSO / Semissubs / TLWP 16 –

Porta-contêineres 3 4

Bunkers / Graneleiros 1 2

Barcaças fluviais e Rebocadores 37 72

Navios-sonda 7 21

Químicos 4 5

Gaseiros 8 –

Rebocadores portuários 5 27

Total 158 241

FIGURA 11: Cenário dos estaleiros – Carteira atual e novos pedidos. Fonte: (SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO E REPARAÇÃO NAVAL OFFSHORE, 2012).

Page 73: JUNQUEIRA, Marco Antonio de Carvalho. O ressurgimento da

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ANEXO B – RELAÇÃO DE EMBARCAÇÕES CONSIDERADAS PARA

CONTEÚDO LOCAL

PSV (Platform Supply Vessel / Barco de Apoio à Plataforma); SV (Supply Vessel /

Barco de Apoio); AHT (Achor Handling Tug / Navio para Manuseio de Âncoras);

AHTS (Achor Handling Tug Supply / Navio Rebocador de Apoio e Manuseio de

Âncoras); LH (Line Handler / Manuseador de Espias); Mini-Supply (Barco de

Suprimentos); MPSV (Multipurpose Supply Vessel / Barco de Apoio Multitarefa);

OSRV (Oil Spill Recovery Vessel / Barco de Combate a Derramamento de Óleo);

WSV (Well Stimulation Vessel / Barco de Estimulação de Poços); PLSV (Pipe Laying

Support Vessel / Barco para Lançamento de Linhas Flexíveis); RSV (ROV Support

Vessel / Barco de Apoio a ROV); DSV (Diving Support Vessel / Barco de apoio a

mergulho); OSV (Offshore Supply Vessel); Barcos de Aquisição de Sísmica; SESV

(Subsea Equipment Support Vessel / Navio de Suporte a Equipamentos

Submarinos); UT (Utility Workboat / Barco de Utilidades); CV (Crane Vessel / Navio

Guindaste).