o ressurgimento do regionalismo na política mundial (hurrell)

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  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    1/37

    Andrew

    l-lurrell

    década

    que

    passou assistiu

    ao

    ressurgimento

    do

    regionalismo

    na

    _politica

    mundial.

    Reviveram

    antigas

    organizações

    regionalistas

    e

    formaram-se novas,

    e

    o

    reqionalismo

    e

    o

    apelo

    ao

    fortalecimento

    dos

    “L

    mecanismos

    regionalistas

    estiveram no

    centro

    de

    inúmeros debates

    sobre

    a natureza

    da

    ordem internacional

    no

    pós-Guerra

    FriaJ

    O

    número,

    a

    abrangência

    e a diversidade

    dos

    esquemas

    regionalistas

    cresceram

    Escrevendo no

    final dessa

    primeira

    onda

    regionalista,

    Joseph

    Nye apontava

    para

    duas categorias

    de

    regionalismo:

    (1 )

    organizações

    microeconômicas

    que

    '

    titucionais

    formais;

    e

    (2)

    organizações

    políticas

    macrorregionais interessadas

    no

    controle de conflitos?

    Na

    atualidade,

    velhas

    instituições

    regionais

    no

    campo

    político,

    como aOrganização

    da

    Unidade Africana

    (OUA)

    e

    a

    Organização

    dos

    Estados Americanos

    (OEA),

    reemergiram.

    A elas

    juntaram-se

    numerosos

    or-

    ganismos microrregionais

    com certas

    pretensões

    _ c o m o

    o Pacto de

    Visegrad

    e o

    Pentagonal

    na

    Europa

    Central;

    a

    Unidade

    Árabe do Magreb

    (UAM)

    ou

    o

    Econômica dos Estados

    da África

    Ocidental

    [ECOWAS]

    e

    possivelmente

    um a

    South

    African

    Development

    Community

    (SADC)

    revivida

    pela

    Africa

    do

    Sul

    pós-apartheid

    na

    África

     

    e

    agrupamentos

    de

    segurança

    mesorregionais

    frouxame

    nte

    institucionalizados,

    como

    a

    Conferência

    para

    a

    Segurança

    e

    Cooperação na

    Europa

    (CSCE,

    hoje

    OSCE)

    ou mais

    recentemente

    o

    Fórum

    Regional da

    Associação

    das

    Nações

    do

    Sudeste Asiático

    [ASEAN]

    (FRA).

    Este tra

    balho

    se baseia,

    com

    a

    devida

    autorização,

    em Louise Fawcett

    e Andrew

    Hurrell,

    eds.,

    Regionalism

    in

    World

    Politics, Oxford,

    Oxford

    University Press,

    no

    prelo.

    U

    autor.

    agradece

    a

    Louise l-awcett,

    Ngaire 'vVoods,

     i/ l ii ii iam allaceíün drev rfwya ü m

    Walter,

    Robert

    O'Brien e

    aos referees

    da revista por

    seus

    comentários

    oportunos.

    [Tradução de

    Francisco

    de

    Castro

    Azevedo.]

    CONTEXTO

    INTERNACIONAL,

    R io de

    Janeiro,

    vol.

    17,

    ng

    1,

    Jan/Jun 95,

    pp. 23-59.

    23

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    2/37

    No campo econômico,

    esquemas

    microrregionais

    para

    a

    cooperação

    ou

    integração

    econômica 

    como

    o

    Mercado

    Comum do Sul

    (Mercosul),

    o

    Pacto

    Andino,

    o

    Mercado

    Comum Centro-Americano

    (MCCA)

    e a

    Comunidade

    e

    Mercado

    Comum

    do Caribe

    (Caricom),

    nas

    Américas;

    as tentativas

    de

    expandir

    a

    integração

    econômica

    dentro

    da

    ASEAN

    e

    a

    proliferação

    de

    Áreas

    de Livre

    Comércio

    (ALC)

    no

    mundo

    em desenvolvimento

    _

    coexistem ao lado

    de

    esquemas

    macrorregionais

    ou   regionalismo

    de

    bloco ,

    construído em

    torno

    da

    tríade

    formada

    por

    um a União

    Européia

    (UE)

    expandida,

    pelo Acordo Norte-

    Americano

    de

    Livre Comércio

    [NAFTA]

    e

    por

    um

    avanço

    maior

    do

    regionalismo

    no

    Pacífico

    Asiático. As

    relações

    entre

    esses esquemas

    regionais

    e entre

    iniciativas

    regionais

    e

    globais

    mais

    amplas

    são fundamentais

    para

    a

    política

    do

    regionalismo

    contemporâneo.

    Além

    dessa

    diversidade,

    o  novo regionalismo

    tem

    quatro características

    importantesz4

    (1)

    a

    emergência

    do  regionalismo Norte-Sul ,

    ilustrado

    poderosamente pelo

    NAFTA,

    e

    também

    relevante

    para

    o

    que

    acontece

    na

    Europa

    e

    na

    Ásia;

    (2 )

    a

    grande variação

    no nível

    de

    institucionalização,

    com

    muitos agrupamentos

    regionais

    evitando

    conscientemente

    as

    estruturas

    ins-

    titucionais

    e

    burocráticas

    das

    organizações

    internacionais

    tradicionais

    e o

    modelo

    regionalista

    apresentado

    pela

    UE;

    (3)

    seu

    caráter

    multidimensional,

    pelo qual

    se torna

    cada vez

    mais

    difícil

    traçar

    a l inha divisória

    entre regionalismo

    econômico

    e

    politico,

    um a

    vez

    que

    o

    regionalismo

    é

    alimentado

    tanto pelo fim

    da Guerra

    Fria e

    descentralização

    ou

    regionalização

    da segurança

    quanto pela

    evolução

    da

    economia global;

    e

    (4 )

    o aumento

    acentuado

    da

    consciência

    regional

    em

    numerosas

    áreas

    do

    mundo,

    parte integrante

    de

    um

    conjunto

    mais

    amplo

    de

    questões ressuscitadas

    sobre

    a

    identidade

    e

    o

      sentimento de

    pertencer”,

    embora

    essa

    consciência

    nem sempre

    se traduza

    de

    maneira fácil

    e

    sem

    problemas

    em instrumentos

    concretos

    de

    cooperação

    regional.

    Este trabalho

    aborda

    duas questões

    básicas:

    (1 )

    o

    que

    queremos

    dizer

    quando

    falamos

    de

    regionalismo

    e

    quais

    as principais

    variedades

    de regiona-

    lismo;

    e

    (2 )

    quais

    as principais

    abordagens

    teóricas

    que

    podem

    ser arroladas

    para

    explicar

    a

    dinâmica

    do

    regionalismo.

    Teoria,

    naturalmente,

    não

    é

    tudo,

    mas

    é fundamental

    para

    a

    criação

    de

    definições,

    conceitos

    e

    categorias,

    em

    torno dos quais se

    conduz

    necessariamente

    a

    análise

    do regionalismo.

    Ateoria

    coloca

    em

    evidência

    pressupostos

    que

    permanecem

    implícitos

    e

    inques-

    tionados

    em trabalhos

    puramente

    descritivos ou

    históricos sobre

    o

    regionalis-

    mo,

    aprofunda

    nosso entendimento

    das

    principais

    variáveis explicativas

    e dos

    mecanismos causais

    e oferece

    uma

    estrutura

    coerente que permite

    a com-

    paração

    sistemática

    de

    diferentes

    formas

    de

    regionalismo

    em

    diferentes

    partes

    do

    mundo.

    O objetivo

    deste

    artigo

    é abrir

    o

    leque

    de

    abordagens

    ou pers-

    pectivas

    teóricas sobre

    o estudo

    do regionalismo contemporâneo,

    destacando

    as

    estreitas

    relações

    existentes

    entre

    a

    análise

    do

    regionalismo

    contemporâneo

    e

    os

    principais

    debates

    teóricos

    no estudo acadêmico

    das

    relações

    in-

    ternacionai.s.

    24

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    3/37

    A

    lite

    ratura

    teórica

    sobre o

    regionalismo

    é

    vasta,

    mas

    também

    desigual

    e

    fragmentada.

    Além

    disso,

    deixando-se

    de

    lado

    os

    freqüentes

    debates

    teóricos

    sobre

    a UE,

    a

    quantidade

    de

    obras

    de cunho

    estritamente

    teórico

    ou conceitual

    sobre o

    ressurgimento

    do

    regionalismo

    desde

    o

    final

    da

    década

    de

    '80

    é

    bastante

    modesta?

    Toda

    a

    atenção que

    neoliberais institucionalistas

    e

    neo-

    realistas

    dispensaram

    à

    questão genérica

    da

    cooperação

    contrasta

    vivamente

    com a

    aparente

    falta

    de

    interesse

    existente

    fora

    da

    Europa pelas

    explicações

    da

    cooperação

    regional.

    Este texto

    reúne

    alguns dos

    principais

    elementos

    presentes

    na

    literatura

    teórica.

    Não se propõe

    apresentar

    uma

    nova síntese

    nem

    ressaltar

    os

    pontos

    fortes

    de

    qualquer

    escola

    de

    pensamento

    _embora

    sugira

    que

    o neo-realismo

    não

    está em

    absoluto

    desacreditado

    e

    que

    o

    vínculo

    entre

    regionalismo

    e

    hegemonia

    merece

    um

    aprofundamento

    maior.

    Ele

    visa

    apenas

    dar

    uma

    idéia

    do

    panorama

    teórico

    e

    fornecer

    um

    modelo

    para a

    Compreensão

    e

    avaliação

    da

    proliferação

    dos

    esquemas

    regionalistas

    na

    política

    mundial

    contemporânea.

    1

     

    Variedades

    do

    Regionalismo

     Região

    e  regionalismo

    são termos

    ambiguos

    e

    o

    debate

    sobre

    suas

    definições

    produziu

    consenso

    limitado.

    Embora

    pouco

    nos

    digam

    sobre

    a

    definição

    de

    região

    ou

    a

    dinâmica

    do

    regionalismo,

    a

    proximidade

    e a

    con-

    tigüidade

    geográficas

    .servem

    para

    distinguir

    o regionalismo

    de

    outras

    formas

    de organização

    “menos

    que

    global .

    Sem certos

    limites

    geográficos,

    o

    termo

    “regionalismd”

    torna-se

    difuso

    e incontrolável.

    O

    problema

    da

    definição

    de

    região e

    regionalismo

    atraiu

    boa

    parte

    da

    atenção

    do

    mundo

    acadêmico

    no

    final

    da

    década

    de

    60

    e

    início

    da

    de

    70,

    mas

    poucas

    foram

    as

    conclusões

    aceitáveis.

    O

    regionalismo

    foi muitas

    vezes

    analisado

    em termos

    da intensidade

    da

    coesão

    social

    (etnia,

    raça,

    idiomajreligião,

    cultura,

    história,

    consciência

    e

    herança

    comum),

    da

    coesão

    econômica

    (padrões

    de

    comércio,

    complementaridade

    econômica),

    da

    coesão

    politica

    (tipo de

    regime,

    ideologia)

    e

    da

    coesão

    organi-

    zacional

    (existência

    de instituições

    regionais

    formais).5

    Atribuiu-se

    atenção

    especial

    à

    idéia

    da

    interdependência

    regional .7

    Não

    obstante,

    as

    tentativas

    de

    definir e

    delinear

      cientificamente

    as

    regiões

    pouca

    coisa

    produziram?

    Os

    fatores implicados

    no

    crescimento

    do regionalismo

    são

    numerosos,

    incluindo

    dimensões

    econômicas,

    sociais,

    políticas,

    culturais

    ou

    históricas.

    Os

    debates

    contemporâneos

    lembram-nos

    que

    não

    existem

    regiões

    “naturais”

    e

    que

    as

    definições

    de

      região e

    os

    indicadores

    da

     qualidade

    de

    ser

    região

    variam

    de

    acordo

    com

    o

    problema

    particular

    ou a questão

    que

    se

    está

    pesquisando.9

    Além disso,

    a

    maneira

    como

    os

    atores

    politicos

    percebem

    e

    interpretam

    a

    idéia

    de

    região

    é

    central:

    todas

    as

    regiões

    são socialmente

    construídas

    e,

    portanto,

    politicamente

    passíveis

    de serem

    contestadas.

    Daí,

    a

    importância

    especial

    de se

    distinguir

    entre

    regionalismo

    como

    descrição

    e

    regionalismo

    como prescrição

     

    regionalismo

    como

    posição

    moral

    ou

    como

    doutrina

    de

    25

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    4/37

    acordo

    com

    a qual

    as

    relações

    internacionais

    deveriam

    se

    organizar.

    Como

    acontece

    com

    a

    idéia mais

    geral

    de interdependência,

    impõe-se

    com

    freqüência

    a

    forte

    sensação

    de

    que

    os

    Estados

    de

    determinada

    região

    estão

    todos

    no

    mesmo

    “barco

    regional ,

    ecológica,

    estratégica

    e

    economicamente,

    e

    de

    que

    não

    remam

    na

    mesma direção,

    mas

    que,

    quer

    se

    afirme explicitamente

    ou se

    aceite

    implicitamente,

    o

    que

    deveria

    ser

    feito

    era

    colocar

    de lado

    egoismos

    nacionais

    e

    planejar

    novas formas

    de

    cooperação.

    Em

    boa parte

    do

    debate

    politico

    e

    acadêmico

    está,

    portanto,

    implícito

    que

    o regionalismo

    é

    uma

    coisa

    naturalmente

    boa.

    Uma

    rápida

    análise

    dos

    debates

    recentes

    sugere

    que

    o

    termo

    amplo

     regionalismo

    é

    usado

    para

    designar

    vários

    fenômenos

    distintos.

    Na verdade,

    em vez

    de

    tentar

    trabalhar

    com

    um conceito

    único

    e

    de espectro

    muito

    amplo,

    é

    mais

    útil

    decompor

    a

    noção

    de

     regionalismo

    em

    cinco

    categorias

    diferentes,

    analiticamente

    diversas,

    embora

    as

    relações

    entre

    elas

    sejam

    fundamentais

    para

    a

    teoria

    e a

    prática

    do

    regionalismo

    contemporâneo.

    1.1

     

    Regionalização

    Regionalização

    diz

    respeito

    ao

    crescimento

    da

    integração

    da

    sociedade

    em

    uma região

    e aos processos

    muitas

    vezes

    não

    dirigidos

    de

    interação

    social

    e

    econômica. A isto,

    os

    primeiros

    estudiosos

    do

    regionalismo

    descreviam

    como

    integração

    informal

    e

    alguns

    analistas

    contemporâneos

    se referem

    como

      regionalismo

    suave

    (soft

    regionalism).

    O

    termo

    atribui

    um

    peso

    especial

    a

    processos

    econômicos

    autônomos

    que

    conduzem

    a

    níveis

    mais

    elevados

    de

    interdependência

    econômica

    em

    determinadas

    áreas

    geográficas

    do

    que

    entre

    essas

    áreas

    e

    o

    resto

    do

    mundo.

    Ainda que

    muitas

    vezes

    não sejam

    afetadas

    pelas

    políticas

    estatais,

    as

    forças

    propulsoras

    mais

    importantes

    da

    regionaliza-

    ção

    econômica

    provêm

    dos

    mercados,

    do

    comércio

    privado

    e

    dos

    fluxos

    de

    investimento

    e

    das

    politicas

    e

    decisões

    empresariais.

    São

    de

    particular

    im-

    portância

    o aumento

    do comércio

    entre

    empresas,

    o

    número

    crescente

    de

    incorporações

    e

    aquisições

    internacionais

    e a emergência

    de redes

    cada

    vez

    mais densas

    de alianças

    estratégicas

    entre

    empresas.

    Para

    muitos

    analistas,

     esses

    fluxos

    estão

    criando

    um

    impulso

    inexorável

    em

    direção

    a

    uma

    integração

    maior

    das

    economias

    nas

    regiões

    e

    dentro

    delas?”

    Regionalização

    também envolve

    a

    circulação crescente

    de

    pessoas,

    o

    desenvolvimento

    de múltiplos

    canais

    e

    complexas

    redes

    sociais,

    por

    meio

    dos

    quais

    idéias,

    atitudes.

    políticas

    e maneiras

    de

    pensar

    se

    espalham ,de

    uma

    área

    para

    outra,

    criando

    sociedades

    civis

    regionais

    transnacionais.

    Conseqüen-

    temente,

    a

    regionalização

    é

    com

    freqüência

    conceituada

    em termos

    de

    “com-

    plexos”,   fluxos ,

     redes

    ou

    “mosaicos”.

    Três

    pontos

    devem

    ser

    destacados:

    (1)

    os

    processos

    envolvidos

    na

    regionalização

    são,

    pelo

    menos

    em

    princípio,

    mensuráveis

     

    embora,

    como

    a obra

    de

    Deutsch

    sugere,

    o

    que

    se

    mede

    e

    o

    que

    se

    infere

    dos

    dados

    coletados

    permaneçam

    questões

    profundamente

    26

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    5/37

    problemáticas;

    (2 )

    a

    regionalização

    não

    se

    baseia em politicas

    concretas

    de

    Estados

    ou

    de

    grupos

    de

    Estados

    nem

    pressupõe

    qualquer

    impacto

    particular

    nas

    relações

    entre

    os

    Estados

    da

    regiãoü

    e

    (3)

    os padrões

    de

    regionalização

    não

    coincidem

    necessariamente

    com as

    fronteiras

    dos

    Estados.

    Migração,

    mercados

    e

    redes

    sociais podem

    levar

    ao

    aumento

    da

    interação

    e

    in-

    terconectividade

    que

    vinculam

    alguns

    dos Estados

    existentes

    e

    criam

    novas

    regiões

    entre

    fronteiras.

    A

    essência

    desse

    “regionalismo

    transnacional

    pode

    ser

    econômica,

    como

    nos

    pólos

    de

    desenvolvimento

    transfronteiriço,

    de

    cori

    redores industriais

    ou

    de

    redes

    cada

    vez

    mais densas

    unindo

    os

    principais

    centros

    industriais,

    ou

    pode

    ser construída

    com

    base

    em

    elevados

    niveis de

    interpenetração

    humana,

    como

    acontece

    atualmente

    entre

    a

    Califórnia e

    o

    México.”

    1.2

     

    Consciência

    e

    Identidade

    Regionais

    As

    noções

    de

      consciência

    regional”

    e   identidade

    regional”

    são

    por

    natureza

    imprecisas

    e

    vagas.

    Não obstante,

    é impossivel ignora-las,

    e,

    para

    muitos

    analistas,

    elas são

    cada

    vez

    mais

    fundamentais

    para

    a

    compreensão

    do regional

    ismo

    contemporâneo.

    Todas

    as

    regiões

    são,

    até

    certo

    ponto,

    defini-

    das

    subjetivamente,

    podendo

    ser

    entendidas

    em termos

    do

    que

    Emanuel

    Adler

    chamou de

      regiões

    cognitivas .l3

    Da

    mesma forma

    que

    as

    nações,

    as

    regiões

    também

    podem

    ser

    vistas

    como

    comunidades

    imaginadas

    que

    se apóiam

    em

    mapas mentais,

    cujas

    linhas destacam

    certas

    caracteristicas

    e

    ignoram

    outras.

    O

    debate

    acadêmico

    sobre

    consciência

    regional

    grande

    ênfase

    à

    linguagem

    e à

    retórica,

    ao discurso

    do

    regionalismo

    e dos processos

    politicos

    pelos

    quais

    as

    noções

    de

    regionalismo

    e

    identidade

    regional

    são

    constantemente

    definidas

    e redefinid

    as,

    à

    compreensão

    compartilhada

    e ao

    significado

    dado

    à

    atividade

    politica

    pelos

    atores

    envolvidos.

    Como

    o caso

    europeu

    deixa

    claro,

    o

    res-

    -surgimento

    da

    questão

    da identidade

    regional

    é

    um

    fenômeno

    ao

    mesmo

    tempo

    subestatal

    e

    supra-estatal'.

    A

    consciência

    regional

    e

    a

    percepção

    compartilhada

    de

    pertencer

    a

    uma

    determinada

    comunidade

    podem

    apoiar-se

    em fatores

    internos,

    muitas

    vezes

    definidos

    em

    termos

    de cultura,

    história

    e

    tradições

    religiosas

    comuns.

    Podem

    também

    ser definidas

    em contraposição

    a

    um “outro

    externo,

    que

    pode

    ser

    entendido

    primariamente

    como

    ameaça

    politica

    (a

    auto-imagem

    da

    Europa

    definida

    contra

    a

    URSS

    ou

    o

    nacionalismo latino-americano

    definido

    contra

    a

    ameaça

    da

    hegemonia

    norte-americana),

    ou um

    desafio

    cultural

    externo

    (a

    longa tradição

    segundo

    a

    qual

    se

    definia  Europa

    por

    oposição

    ao

    mundo

    não-europeu,

    sobretudo

    àquele

    islâmico,

    ou,

    mais

    recentemente,

    o despertar

    de

    uma

    identidade

    asiática

    em

    contraposição

    à

    “ocidental ).14

    Embora

    seja

    característica

    marcante

    do

     novo

    regionalismo,

    a preocupação

    com

    a

      idéia

    de

    Europa,

    Américas

    e

    Asia

    apresenta-se

    emoldurada

    por

    argumentos

    de

    profundas

    raizes

    históricas

    em

    torno

    da

    definição

    de região

    e

    dos

    valores

    e

    propostas

    que representa

    não

    obstante

    uma boa

    dosagem

    de

    redescoberta

    27

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    6/37

    histórica,

    criação

    de

    mitos

    e

    invenção

    de

    tradições,

    como acontece, uma

    vez

    mais,

    com

    o

    nacionalismo.

    1.3

     

    Cooperação Regional

    entre

    Estados

    Boa

    parte

    da

    atividade

    regionalista

    envolve

    negociação

    e

    construção

    de

    acordos ou

    regimes

    interestatais

    ou

    intergovernamentais.'Essa

    cooperação

    pode

    se r

    formal ou'

    informal,

    e

    níveis

    elevados

    de

    institucionalização

    não são

    garantia

    de eficácia ou

    importância

    politica. Como Oran

    Young observa cor-

    retamente,

     embora todos

    os regimes,

    até

    mesmo os

    mecanismos

    altamente

    descentralizados

    das

    empresas

    privadas,

    sejam

    instituições

    sociais, eles

    não

    precisam

    ser acompanhados

    de

    estruturas

    com

    pessoal próprio,

    orçamentos,

    instalações

    fisicas etc. l5 Essa

    consciência levou

    os interessados

    na

    coopera~

    ção

    internacional

    a

    se

    afastarem

    do

    estudo

    das

    organizações

    formais

    e

    a

    se

    concentrarem no conceito

    mais

    amplo

    de

      regime :   princípios,

    normas,

    regras

    e processos

    decisórios, implicitos

    ou

    explícitos,

    para

    os

    quais

    convergem as

    expectativas

    dos

    atores

    de

    determinada

    área das

    relações

    internacionaisfJõ

    A

    cooperação

    regional

    pode

    envolver

    a

    criação

    de

    instituições

    formais,

    mas pode,

    com

    freqüência,

    basear-se

    em

    estruturas bem mais

    frouxas,

    englobando

    padrões

    de

    reuniões regulares

    que obedecem

    a

    algumas

    regras, juntamente

    com

    mecanismos

    de

    preparação

    e

    acompanhamento.

    No

    entanto,

    o

    argumento

    sobre o

    grau

    exato de

    institucionalização

    necessária

    para

    a

    cooperação

    ser

    eficaz

    e

    sustentada continua

    fundamental para

    muitos

    esquemas regionalistas

    atuais,

    sendo a

    Conferência

    de

    Cooperação

    Econômica

    do

    Pacífico

    Asiático

    [APEC]

    um

    bom

    exemplo.

     

    Esses

    instrumentos

    de

    cooperação

    se prestam a

    um a

    ampla

    variedade

    de

    propósitos.

    De um

    lado,

    podem

    ser a

    resposta

    a

    desafios

    externos

    e à

    necessidade

    de

    coordenação

    das

    posições-

    regionais

    nas

    instituições

    in-

    ternacionais

    ou

    nos

    fóruns

    de

    negociação.

    De

    outro,

    podem

    ser

    estabelecidos

    para

    assegurar ganhos

    de

    bem-estar,

    promover valores comuns ou

    resolver

    problemas

    comuns,

    especialmente

    aqueles que

    surgem

    com o

    crescimento

    dos

    niveis

    de

    interdependência

    regional.

    No

    campo

    da

    segurança,

    por

    exemplo,

    essa

    cooperação

    pode

    se

    estender

    desde

    a

    estabilização

    de um

    equilibrio

    regional

    de

    poder

    ate

    a

    institucionalização

    de

    medidas

    de

    construção

    de

    confiança

    ou

    a

    negociação

    de

    um regime

    de segurança

    para

    a

    região

    como

    um

    todo.

    Diferentemente

    de

    alguns

    tipos

    de

    integração

    regional,

    esses instrumen-

    tos

    de

    cooperação

    são

    claramente

    estatistas,

    formulados

    para

    proteger

    e

    ampliar

    a

    atuação

    do

    Estado

    e

    o poder

    do

    governo.

    Envolvem a

    reafirmação

    e

    extensão

    da

    autoridade

    estatal

    como

    parte

    de

    um

    processo

    pelo

    qual

    os

    Estados

    estão,

    cada

    vez mais,

    dispostos

    a trocar

    determinado

    grau

    de liber-

    dade

    legal

    de

    ação

    por

    uma inf luência

    prática

    maior sobre

    as

    politicas

    de

    outros

    Estados

    e

    sobre a

    gestão

    de

    problemas

    comuns.”

    28

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    7/37

    *L4

    -==-

    integração

    Econômica

    Regional

    promovida

    pelo

    Estado

    Urna

    importante

    subcategoria

    da

    cooperação

    regional

    diz

    respeito

    à

    integração

    econômica

    regional.

    A

    integração

    regional

    envolve

    decisões es-

    pecificas

    de

    politicas

    por

    parte

    dos

    governos,

    destinadas

    a

    reduzir ou

    remover

    barreiras

    ao

    intercâmbio

    mútuo

    de

    bens,

    serviços,

    capital

    e

    pessoas. Essas

    politicas

    geraram

    volumosa

    literatura

    sobre

    os processos

    de

    integração,

    sobre

    os

    vários

    modelos

    e os

    objetivos

    que poderiam

    ser

    atingidos.”

    Como

    Peter

    Smith

    observou,

    pode-se

    comparar

    a

    integração

    econômica

    regional

    em

    várias

    dimensões:

    abrangência

    (a

    gama

    de questões

    incluídas);

    profundidade

    (a

    extensão

    da harmonização

    de

    políticas);

    institucionalização

    (a

    extensão

    da

    construção

    da

    institucionalização

    formal);

    e

    centralização

    (o

    grau

    em

    que

    a

    autoridade

    efetiva

    está

    centralizado).l9

    Os primeiros

    estágios

    da integração

    tendem

    a

    concentrar-se

    na

    eliminação

    de

    barreiras

    comerciais

    e

    na

    formação

    de

    uniões

    alfandegárias

    de

    bens.

    À

    medida

    que

    a

    integração

    avança,

    a

    agenda

    se

    expande

    para

    cobrir barreiras não-tarifárias,

    a

    regulação

    de

    mercados

    e

    o

    desenvolvimento

    de

    políticas

    comuns

    nos

    planos

    micro

    e macro.

    Dominado

    pelo

    “modeld”

    europeu,

    o

    regionalismo

    é

    com muita

    freqüência

    simplesmente

    igualado

    à

    integração

    econômica

    regional,

    embora

    seja

    apenas

    um

    aspecto

    de

    um

    fenômeno

    mais

    geral.

    'l

    .5

     

    Coesão

    Regional

    Coesão

    regional

    refere-se

    à possibilidade

    de

    que,

    em algum

    momento,

    a

    combinação

    dos

    primeiros

    quatro

    processos

    descritos

    desemboque

    no

    surgimento

    de

    uma

    unidade

    regional

    coesa

    e consolidada.

    É

    esta

    coesão

    que

    torna o regionalismo

    de especial

    interesse

    para

    o

    estudo

    das

    relações

    in-

    ternacionais.

    Pode-se

    entender

    coesão

    em

    dois

    sentidos:

    (1 )

    quando

    a

    região

    exerce

    um papel

    definidor

    nas

    relações

    entre

    os

    Estados

    (e

    outros

    atores.

    importante

    s)

    daquela

    região

    e o resto

    do mundo;

    e

    (2 )

    quando

    a

    região

    forma

    a

    base

    organizadora

    de políticas

    na

    região

    para

    inúmeras

    questões.

    Como

    vimos,

    o

    regionalismo

    é

    muitas

    vezes

    definido

    em

    termos

    de

    padrões

    ou redes

    de

    interdependência.

    No

    entanto,

    sua importância

    política

    não

    deriva

    de

    qualquer

    medida

    absoluta

    de

    interdependência,

    mas

    do grau

    em

    que

    esta

    (e

    a

    possibilidade

    de

    sua ruptura)

    impõe

    custos

    significativos,

    poten-

    ciais

    ou

    reais,

    a atores

    principais.

    Para os

    que

    estão

    fora

    da

    região,

    o

    regionalismo

    é

    politicamente

    importante

    na

    medida

    em

    que

    pode

    impor

    a

    eles

    custos,

    seja pelo

    impacto

    prejudicial

    de

    acordos

    econômicos

    preferenciais

    (o

    chamado

    regionalismo

    maligno,

    que

    desvia

    comércio

    e

    investimentos),

    seja

    pela mudança

    na

    distribuição

    do poder

    político.

    E também

    politicamente

    significativo

    quando

    os

    que

    estão

    fora

    (uma

    vez

    mais,

    Estados

    e

    atores

    não-estatais)

    são

    forçados

    a definir

    suas políticas

    relativas

    aos

    Estados

    regio-

    nais

    individualmente

    em

    termos

    regionalistas.

    Para

    os

    que

    são

    da

    região,

    o

    29

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    8/37

    regionalismo

    interessa quando

    os

    acordos

    regionais

    impõem

    custos

    significa-

    tivos,

    eco

    nômicos

    e

    políticos

    (como

    perda

    de

    autonomia

    ou

    redução

    nas

    opções

    de

    politica

    externa)

    e

    quando

    a

    região

    se

    torna

    a base

    organizadora

    de

    politicas

    na

    região

    para

    inúmeras

    questões

    relevantes.

    Um indicador

    importante

    da

    coesão

    regional

    é

    o grau em

    que,

    como

    acontece

    cadavez

    mais

    na

    Europa

    Ocidental,

    acontecimentos

    regionais

    e

    politica

    regional

    moldam

    e

    definem

    o

    panorama

    politico

    interno.

    É extremamente

    importante

    reconhecer

    que

    existem diferentes

    caminhos

    para

    a coesão

    regional.

    Os primeiros

    teóricos

    da

    integração

    européia

    eram

    obcecados

    por uma

    meta

    final

    particular

    (a

    criação

    de uma nova forma de

    comunidade

    política)

    e

    por

    uma

    rota particular

    para

    alcançar

    essa meta

    (am-

    pliação

    da integração

    econômica).

    Eles

    viviam

    a

    preocupação

    de

    que

    a

    possível

    transformação

    do papel

    dos

    Estados~nação,

    via

    concentração

    da

    soberania,

    conduzisse

    à

    emergência

    de

    alguma

    forma

    nova de

    comunidade

    política.

    Não

    obstante,

    a

    coesão

    regional pode

    basear-se

    em

    diversos

    modelos.

    Um

    deles-poderia

    ser

    a

    criação

    gradual

    de uma

    organização

    regional

    suprana-

    cional

    no contexto

    do aprofundamento

    da

    integração

    econômica.

    Outro

    modelo

    poderia

    envolver

    a

    criação

    de

    uma

    série de

    mecanismos ou

    regimes

    interes-

    tatais sobrepostos

    e

    institucionalmente

    fortes.

    Um

    terceiro

    (talvez

    visível nas

    condições

    atuais

    da

    UE)

    poderia

    derivar

    de um a

    mistura

    complexa

    e

    dinâmica

    de

    intergovernamentalismo

    tradicional

    e

    supranacionalismo

    emergente.

    Um

    quarto

    poderia

    envolver

    o

    desenvolvimento

    de mecanismos

    constitucionais

      consociacionalistas

    do

    tipo discutido

    por Paul

    Taylor.” Em

    quinto

    lugar,

    a

    coesão

    regional poderia

    ser

    concebida

    como

    um a

    ordem

     neomedieval ,

    na

    qual

    os

    princípios

    da territorialidade

    e da soberania

    seriam substituídos por

    um

    padrão

    de

    identidade

    e

    autoridade

    em

    sobreposição

     

    embora

    se

    possa

    duvidar

    de sua

    eficácia

    na

    criação

    de coesão.”

    Finalmente,

    a coesão

    poderia

    basear-se

    em uma

    forte

    hegemonia

    regional

    que,

    com ou

    sem

    instituições

    regionais

    sólidas,

    fiscalizasse

    as políticas

    externas

    dos

    Estados

    dentro

    de sua

    esfera

    de influência

    e

    estabelecesse

    limites

    para

    as

    opções

    de

    políticas

    internas.

    2

     

    A

    Explicação

    do

    Regionalismo

    na

    Política

    Mundial

    A

    análise

    convencional

    do

    regionalismo

    começa

    com

    as teorias

    desen-

    volvidas explicitamente

    para

    explicar

    a

    criação

    e a

    evolução

    inicial

    da

    Comuni-

    dade

    Européia

    (CE).

    Esta literatura

    foi

    dominada

    pelos teóricos

    liberais,

    que

    se

    concentraram

    na

    mudança

    das

    características

    das

    relações

    intra-regionais,

    nas

    condições

    que

    poderiam

    promover

    ou

    impedir

    o

    avanço

    rumo

    à

    integração

    econômica

    regional

    e

    nas

    relações

    entre

    o

    aprofundamento

    da

    integração

    econômica,

    de

    um lado,

    e as

    perspectivas

    de uma

    comunidade

    politica, do

    outro.

    Todavia,

    o

    caráter

    fortemente

    eurocêntrico

    desses

    trabalhos

    e

    sua

    preocupação

    dominante

    com

    processos

    de

    integração

    econômica

    sugerem

    a

    30

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    9/37

    necessidade

    de um

    enioque

    alternativo.

    Para

      fugir

    da

    sombra

    teórica

    da

    CE,

    esta

    seção

    começará

    tratando

    da relevância

    das

    teorias

    sistêmicas para

    a

    análise

    do regionalismo

    contemporâneo,

    voltando-se,

    em

    seguida,

    para

    as

    abordagens

    que enfocam

    o

    impacto

    da interdependência

    regional e,

    pos-

    teriormente,

    para

    as

    abordagens que

    destacam

    a

    importância

    dos

    fatores

    internos.

    2.1

     

    Teorias

    Sistêmicas

    No

    mundo

    moderno

    talvez

    não

    existam

    regiões

    inteiramente

    auto-

    suficientes,

    imunes

    a pressões

    externas.

    As

    teorias

    sistêmicas sublinham

    a

    importância

    de

    estruturas

    politicas

    e

    econômicas

    mais amplas,

    nas

    quais

    os

    esquemas regionalistas

    estão

    embutidos,

    e o

    impacto

    das pressões externas

    sobre

    a

    região??

    Dois conjuntos

    de

    teorias s is têmicas

    ou

    estruturais

    são

    especialmente significativos: (1)

    a

    teoria

    neo-realista,

    que

    sublinha

    a

    importân-

    cia

    do

    sistema

    anárquico

    internacional

    e da

    competição

    politica

    pelo

    poder; e

    (2)

    as

    teorias

    da

    interdependência

    estrutural

    e da

    globalização,

    que enfatizam

    o

    caráter

    mutante

    do

    sistema

    internacional

    e

    o

    impacto

    das

    mudanças

    econô-

    mica

    e

    tecnológica.

    2.1.1

    --

    Neo-Realismo

    Em

    um

    certo nivel,

    a

    cooperação

    regional

    pareceu

    muitas vezes

    impor

    desafios diretos

    ao

    realismo.

    O

    aparecimento

    de   ilhas

    de paz

    e

    cooperação

    em

    um mundo

    considerado

    conflituoso

    por

    natureza, dominado

    pela

    luta

    pelo

    poder, foi

    visto,

    na

    década

    de

    50,

    como

    uma

    anomalia que

    o

    realismo

    era

    incapaz

    de

    explicar.

    Na verdade,

    boa

    parte

    dos primeiros

    trabalhos sobre

    regionalismo

    e

    integração

    regional

    podem

    ser considerados

    como tentativas

    de

    esclarecer

    essa

    aparente

    anomalia.

    No

    entanto,

    o

    neo-realismo

    pode

    nos

    dizer

    muitas

    coisas

    importantes

    sobre

    o

    regionalismo.

    Regionalismo,

    Política

    de Poder

    e

    Mercantilismo.

    Tanto o

    realismo

    clássico quanto

    suas

    variantes

    neo-realistas

    mais

    recentes

    destacam

    a

    im-

    portância

    das

    configurações

    externas

    de

    poder,

    a

    dinâmica

    da competição

    política

    pelo

    poder

    e

    o papel

    restritivo

    do sistema

    politico internacional

    con-

    sidered

    o

    como

    um

    todo.23

    Para

    os

    neo-realistas,

    a

    politica

    do

    regionalismo

    e

    a

    emergência

    dos

    alinhamentos

    regionalistas

    têm

    muito em

    comum

    com

    a

    politica

    de

    formação

    de

    alianças#

    Para entender

    o

    regionalismo

    é

    preciso

    o›há-lo de

    fora

    para

    dentro

    e

    analisar

    o

    lugar

    que

    a

    região

    ocupa

    no

    sistema

    internacional

    mais

    amplo.

    Os

    agrupamentos

    regionais

    formam-se

    em

    resposta

    a

    desafios

    externos,

    não

    existindo,

    portanto,

    diferença

    essencial

    entre

    os

    regiona lismos

    econômico

    e

    politico.

    Os

    defensores

    desse

    ponto

    de

    vista,

    por

    exemplo,

    enfatizam

    a importân-

    cia

    fundamental

    do

    arcabouço

    geopolítico

    em

    que

    ocorreram

    os

    avanços

    em

    31

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    10/37

    direção

    à

    integração

    européia25

    O

    fim

    da Guerra

    Fria torna

    mais

    fácil

    entender

    o quanto

    a

    dramática mudança

    na Europa

    da

    década

    de

    40

    e

    início

    da

    de 50,

    que

    saiu

    da

    guerra

    e

    competição

    para

    a cooperação

    regional

    e

    depois para

    a

    promoção

    da

    integração

    regional,

    dependeu

    de

    um

    conjunto

    muito

    particular

    de

    circunstâncias

    geopoliticas:

    a erosão

    e

    depois

    o

    colapso

    dos

    impérios

    coloniais

    sobre

    os

    quais

    Grã-Bretanha

    e

    França

    tinham

    construido

    seu

    poder;

    a

    imensa

    destruição

    física

    e a

    exaustão psicológica

    causada pelas

    duas

    guerras

    mundiais;

    a

    percepção

    de

    um a

    ameaça

    crescente

    por

    parte

    da

    URSS;

    a

    transformação

    muito

    vaticinada

    na escala

    de

    poder e

    na

    emergência

    de

    uma

    nova

    classe

    de

    superpotências,

    com as

    quais

    os tradicionais

    Estados-nação

    da Europa

    Ocidental

    não

    mais

    poderiam

    competir

    individualmente;

    e

    a

    pode-

    rosa

    pressão

    por

    parte

    dos EUA

    no sentido

    de

    maior

    cooperação

    regional.

    Para

    os neo-realistas,

    a

    hegemonia

    norte-americana

    foi especialmente

    importante.

    Eles

    destacam

    até que

    ponto

    a

    integração

    européia

    foi

    estimulada

    pelo

    encorajamento

    e

    pressão

    direta

    dos

    EUA

      ~

    po r

    exemplo,

    as

    condições

    associadas

    ao

    Plano

    Marshall, que

    levaram

    à

    formação

    da

    Organização

    para

    a

    Cooperação

    Econômica

    Européia

    (OCEE)

    e

    da

    União

    Política Européia

    (UPE);

    ou

    a

    determinação

    de

    Washington

    de

    continuar pressionando

    a favor

    do

    rearmamento

    da Alemanha

    Ocidental

    após

    o

    início

    da

    Guerra

    da

    Coréia,

    forçando

    a

    Europa

    a

    encontrar

    uma

    maneira

    de

    conviver

    com a

    reabilitação

    do

    poder

    alemão.

    Eles

    chamam

    também

    a

    atenção

    para

    o

    fato

    de

    a

    integração

    européia,

    que

    era

    na

    realidade

    uma

    integração

    sub-regional,

    se

    inserir

    em

    uma

    estrutura

    d

    e

    segurança

    transatlãntica.

    isto

    significa

    que

    as

    tarefas

    imensamen-

    te difíceis

    de

    cooperação

    político-militar

    e

    de segurança

    poderiam

    ser

    deixadas

    de

    lado. A

    aceitação

    do

    fato da

    dependência

    na área

    de segurança

    foi,

    por

    conseguinte,

    um

    dos

    compromissos essenciais sobre

    os

    quais

    se

    construíram

    a cooperação

    e a

    integração

    européias

     

    o

    que

    torna

    vital

    o exame das

    relações

    entre

    as

    questões

    de economia

    e

    segurança

    em outras

    partes

    do

    mundo.

    O

    neo-realismo

    concentra

    su a

    atenção

    tanto

    nas pressões

    do

    poder

    politico

    quanto

    na

    dinâmica

    da

    concorrência

    econômica.

    Isso sugere

    aos

    neo-realistas

    que

    as

    pressões

     de fora

    para

    dentro

    continuaram

    a

    influenciar

    o

    caminho

    da

    integração

    européia,

    mas

    que

    tinham

    cada

    vez mais

    a

    ver com

    i

    a rivalidade

    econômica.

    Assim,

    ainda

    na

    década

    de

    60,

    De Gaulle

    deu

    grande

    ênfase

    à cooperação

    européia

    se

    bem

    que

    na

    forma

    de

    uma

    Europe des

    patries

     

    como

    meio

    de

    conter

    le

    défi

    américain

    e

    reduzir

    o

    que

    lhe

    parecia

    ser

    um

     privilégio

    exorbitante

    dos

    EUA.

    Da

    mesma

    forma,

    o

    relançamento

    da

    integração

    européia

    na

    década

    de

    80

    pode

    ser

    interpretado

    como

    resposta

    au

    défi

    japonais

    e à

    perda

    de

    competitividade,

    sobretudo

    em

    setores

    es-

    trategicamente

    (sic)

    importantes

    de alta

    tecnologia.

    Dessa

    perspectiva,

    os

    objetivos

    econômicos

    da

    integração

    regional

    não

    derivam

    da

    busca do

    bem-

    estar,

    mas

    da

    estreita relação

    que

    existe

    entre

    riqueza

    econômica

    e

    poder

    politico

    e

    da

    preocupação

    “inevitável”

    dos

    Estados

    com

    lucros

    e

    perdas.

    32

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    11/37

    Pode-se, portanto, ver

    o

    regionalismo

    econômico

    como

    um a

    estratégia

    no

    jogo

    da

    concorrência neomercantilista.

    Ele

    pode

    também ser

    visto como

    um

    instrumento

    de

    barganha

    nas

    negociações

    que

    determinam

    a

    natureza

    da

    ordem econômica

    internacional.

    Sob

    este

    ângulo, por

    exemplo,

    o

    interesse

    crescente

    dos

    EUA

    no

    regionalismo

    econômico em

    meados

    da

    década de

    80

    foi

    ao

    mesmo

    tempo

    uma

    resposta

    ao declínio de

    sua

    competitividade

    e

    à

    sua

    relativa

    perda

    de

    poder econômico

    vis-à-vis

    a

    Europa

    e

    o

    Japão

    e uma

    manobra

    de

    negociação

    ou

    ferramenta de

    barganha

     

    o

    NAFTA

    como

    um

    instrumento

    para

    pressionar

    o

    Japão

    a

    abrir

    seus

    mercados

    e

    a

    APEC

    como meio de

    fazer

    pressão

    sobre

    a UE

    nos

    estágios finais

    das

    negociações

    da

    Rodada

    Uruguai

    do Acordo

    Geral sobre

    Tarifas

    e

    Comércio

    [GATT].

    A

    mesma

    lógica

    neo-realista pode ainda

    se

    aplicar à

    política

    dos

    Estados

    menores

    fora da

    Europa.

    S ob este

    ponto

    de

    vista,

    muitos

    dos

    agrupamentos

    regionalistas

    constituem basicamente

    a

    resposta de

    Estados

    fracos

    enredados

    no

    mundo

    dos

    fortes.

    Por

    isso,

    boa parte das

    atividades regionalistas

    nos

    anos

    da

    Guerra Fria

    envolviam,

    na

    essência, esquemas

    de

    cooperação

    diplomática

    e

    política

    formulados

    para

    melhorar a

    posição

    de

    sua região

    no

    sistema

    internacional,

    por

    meio

    do aumento de

    seu

    poder

    de

    barganha

    ou da

    tentativa

    de isolamento

    total

    da

    região

    e

    redução

    de

    espaço

    para

    intervenções

    externas.

    lgualmente,

    o

    despertar

    do

    regionalismo,

    que ganhou

    fôlego

    em muitas

    partes

    do

    mundo

    em

    desenvolvimento

    na

    década

    de

    80,

    foi

    conseqüência

    lógica

    da

    erosão

    de

    coalizões alternativas entre

    regiões.

    A

    erosão da

    coalizão

    do

    Terceiro

    Mundo,

    em

    que

    foram

    depositadas tantas

    esperanças

    na

    década de

    70,

    combinada

    com

    o

    medo

    de

    marginalização

    e

    vulnerabilidade,

    pressionou

    os

    países

    em desenvolvimentoda

    Africa,

    América Latina e Oriente Médio rumo

    a

    “g

    rupos-solidariedade

    de

    caráter

    regional

    mais

    limitado.

    O neo-realismo

    também

    revela

    o

    quanto os acordos

    regionais

    nas áreas

    de

    economia

    e

    segurança,

    criados

    por Estados

    relativamente

    fracos, depen-

    dem

    das

    políticas

    e

    atitudes das

    potências principais.

    Assim,

    durante

    a

    Guerra

    Fria

    ambas as

    superpotências

    favoreceram

    os acordos

    regionalistas

    que

    fortaleciam

    seus

    respectivos

    sistemas

    de

    alianças

    ou

    apoiavam

    clientes

    im-

    portantes.

    Mas

    quando_contrariava seus

    interesses

    geopolíticos,

    o

    regionalis-

    mo encontrava

    oposição

    firme

     

    é

    o. caso,

    por

    exemplo,

    da

    oposição

    norte-

    americana

    à

    cooperação

    sub-regional

    na

    América Latina

    no

    início

    da

    década

    de 50

    ou

    a numerosas

    propostas

    de

    “zonas

    de

    paz

    ou de zonas

    nucleares

    livres;

    ou o

    casoda

    ambivalência

    soviética

    em

    relação

    ao

    regionalismo

    euro-

    peu.

    Embora

    tenham

    ocorrido

    grandes mudanças

    com

    o fim

    da

    Guerra

    Fria,

    a

    expectativa

    dos

    neo-realistas

    é que

    esses padrões

    prossigam,

    ou seja,

    que

    o

    êxito

    da

    cooperação

    sub-regional

    continue

    dependendo

    das grandes

    potências

    agindo

    unilateralmente

    ou

    dos agrupamentos

    macrorregionais

    que

    essas

    potências

    lideram.

    Hegemonia.

    Embora

    tenha sido grande o

    esforço

    despendido

    na

    análise

    d

    as

    relações

    gerais entre

    hegemonia

    e

    cooperação,

    os

    vínculos entre hegemo-

    33

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    12/37

    nia'

    e

    regionalismo

    não

    estão

    ainda suficientemente

    teorizados.

    Não

    resta

    dúvida

    de que a existência

    de

    um

    forte

    poder

    hegemônico

    em um a

    região

    pode

    comprometer

    os

    esforços

    de

    construir

    instrumentos

    regionais

    que envolvam

    todos

    ou

    quase

    todos

    os Estados dessa

    região.

    A

    posição

    da India no

    subcon-

    tinente

    e

    a

    história

    do South

    Asian Regional

    Cooperation

    Council

    (SARC)

    é um

    exemplo

    bem

    ilustrativo.

    Mas

    o

    quadro

    é

    muito

    mais

    interessante

    e

    complexo.

    Existem,

    no

    minimo,

    quatro maneiras

    em que

    a

    hegemonia

    pode

    atuar como

    poderoso

    estímulo

    ao

    regionalismo

    e

    à

    criação

    de

    instituições

    regionalístas.

    Primeira,

    os agrupamentos

    sub-regionais muitas

    vezes

    se

    desenvolvem

    como

    resposta à existência de

    um

    poder hegemônico

    real

    ou

    potencial.

    Em

    muitas partes

    do

    mundo,

    verifica-se uma

    tendência

    à

    formação

    de

    agrupamen-

    tos

    sub-regionais

    como meio de

    melhorar

    o

    equilibrio

    de poder vis-à-vis

    um

    Estado

    localmente

    dominante

    ou

    ameaçador.

    Embora

    com

    variações

    na abran-

    gência

    e

    nas

    caracteristicas,

    a

    ASEAN

    (contra

    o

    Vietnã

    e,

    mais

    recentemente,

    contra

    a

    China),

    o

    Conselho

    de

    Cooperação

    do Golfo

    (contra

    o

    Irã),

    o SADCC

    (contra

    a

    Africa

    do

    Sul),

    o

    Grupo

    de

    Contadora,

    o

    Grupo

    do

    Rio

    e

    o

    Mercosul

    (contra

    os

    EUA)

    não

    podem

    ser entendidos

    a

    não

    ser no

    contexto do

    balanço

    do poderregional

    e

    das politicas da

    potência

    regionalmente

    dominante

    e/ou

    ameaçadora.

    Segunda,

    o regionalismo pode

    emergir

    como

    um a tentativa de

    restringir

    o

    livre

    exercicio

    do

    poder

    hegemônico

    pela

    criação

    de

    instituições regionais.

    Muitos

    vêem a

    posição

    da Alemanha

    na

    CE

    como

    a

    ilustração

    clássica dessa

     armadilha regionallsta ,

    formulada

    para

    atenuar e

    administrar o inevitável

    impacto

    da

    preponderância

    alemã.

    Se

    a

    integração

    européia

    fo i pressionada

    de

    fora

    pela

    ameaça

    da

    URSS,

    de

    um lado,

    e

    pela liderança

    hegemônica

    dos

    EUA,

    do

    outro,

    ela

    fo i

    também

    explicitamente promovida

    como

    um

    meio de

    administrar

    o

    poder

    alemão.

    Embora

    a

    divisão

    da

    Alemanha

    tenha

    aliviado

    os

    temores dos outros

    europeus, certamente

    não

    os removeu. A

    Europa

    precisava

    do

    poder

    econômico

    da

    Alemanha

    para

    alimentar a

    recuperação

    pós-guerra

    e

    do poder

    militar

    alemão

    para conter

    a

    ameaça

    soviética.

    Na

    verdade,

    o

    projeto

    específico

    de

    integração

    regional

    surgiu

    exatamente

    como

    o

    meio

    preferido

    para

    se lidar com

    esse problema:

    permitir

    o rearmamento

    e a

    reabilitação

    econômica,

    mas

    envolvendo

    a

    Alemanha

    semi-soberana

    em

    uma

    rede

    in-

    tegrada

    de

    instituições,

    tanto

    no

    campo

    econômico

    (CE)

    quanto

    no militar

    (Organização

    do

    Tratado

    do Atlântico

    Norte

    (OTAN)/Un¡ão

    da

    Europa

    Ocidental

    (UEO)).

    Do

    ponto

    de

    vista

    da

    Alemanha,

    o

    regionalismo

    propiciou

    a cobertura

    multilateral

    essencial sob a qual

    poderia,

    antes

    de

    mais

    nada,

    restabelecer

    sua

    posição

    e recuperar

    sua

    soberania e,

    mais

    recentemente,

    consolidar

    sua

    influência??

    No

    Extremo

    Oriente,

    ao

    contrário,

    o poder

    japonês

    foi

    contido

    com

    o

    solapamento

    do

    macrorregionalismo

    e a

    construção

    de

    alianças

    bilaterais

    extra-regionais com

    os

    EUA.

    Embora

    o

    fim

    da Guerra

    Fria

    tenha

    alteradouesse

    quadro,

    a

    idéia de

    usar

    o regionalismo

    institucionalizado como

    meio de

    conter

    os

    efeitos

    potencialmen-

    te diruptivos de

    potências

    desiguais

    permanece

    umfator

    importante

    na

    política

    34

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    13/37

    internacional

    tanto da

    Europa quanto

    do

    Pacífico Asiático. Além

    disso,-

    a

    relação

    entre

    tipo

    de

    instituição

    e

    poder

    relativo

    pode

    servir como um ponto

    de

    partida

    plausível

    para

    a

    teorização

    das

    variações

    nas

    características

    do

    regionalismo

    em

    diferentes

    partes

    do

    mundo.

    Considere-se, por exemplo,

    o

    contraste

    entre

    as

    estruturas

    de

    institucionalização

    relativamente

    complexas

    do NAFTA,

    de

    um

    lado,

    e o

    caráter

    frouxo

    da

    APEC,

    de

    outro.

    Em

    ambos

    os

    casos,

    os

    EUAtinham

    um

    conjunto

    claro

    de

    objetivos

    econômicos que

    não

    podiam se r

    inteiramente

    promovidos

    por

    meio do GATT

    (a

    inclusão nos

     regimes

    comerciais

    de

    regras

    sobre investimentos,

    serviços

    e

    direitos de

    propriedade

    intelectual).

    Quanto

    ao

    México

    e

    aos

    países relativamente

    fracos da

    América do

    Sul,

    a

    oposição

    aberta

    seria

    perigosa

    e cara. O

    equilíbrio

    de

    incentivos,

    portanto,

    favorece uma

    ordem

    hegemônica

    limitadora,

    na

    qual se troca

    a

    aceitação

    de

    importantes

    objetivos

    dos

    EUA

    pelo

    acesso mais

    seguro

    ao

    mercado norte-americano

    e na qual níveis

    relativamente

    altos de

    institucionalização

    restringirão

     

    espera-se

     

    sua

    vulnerabilidade

    ao exercício

    unilateral

    do poder

    pelos

    EUA. No Pacífico

    Asiáti-

    co,

    ao

    contrário,

    os

    Estados

    muito

    mais

    fortes

    da região

    resistiram

    com

    êxito

    aos

    esforços

    norte-americanos

    de promover a APEC à

    condição

    de

    veículo

    formal

    alternativo

    de pressão

    a favor de

    sua

    agenda

    econômica

    externa.

    Do

    ponto

    de

    vista da

    APEC,

    um

    frouxo instrumento regional mantém

    os

    EUA

    envolvidos

    na

    segurança

    da região, ao

    mesmo tempo

    em

    que restr inge

    sua

    capacidade

    de

    pressionar

    a

    agenda

    econômica desses

    países.

    '

    Terceira,

    esse tipo

    de

    comportamento se

    associa,

    com

    freqüência

    in-

    timamente,

    à

    tendência

    dos

    Estados

    mais

    fracos

    de

    buscar

    acomodação

    regional

    com

    o

    poder

    hegemônico

    local,

    na

    esperança

    de receber

    recompensas

    especiais

    (bandwagoning,

    no

    jargão

    realista).

    A

    teoria neo-realistaprediz

    que

    esse tipo

    de

    comportamento

    é

    mais provável

    quando

    os

    diferenciais

    de

    poder

    são muito

    grandes,

    quando

    são

    poucas

    as

    alternativas externas

    de

    acomoda-

    ção

    com o

    poder

    hegemônico

    e

    quando

    é

    grande

    a

    proximidade

    geográfica

    do

    Estado

    menor.

    Ainda

    que

    inspirada em

    sua

    vulnerabilidade

    real

    ou

    potencial,

    semelhante estratégia

    oferece aos pequenos Estados

    a

    possibilidade

    de

    benefícios

    materiais. A participação

    em uma

    coalizão

    militar

    dominada por

    uma

    grande

    potência

    pode,

    por

    exemplo,

    ser o

    meio

    mais

    viável de

    adquirir

    moder-

    nos

    sistemas

    de

    armamentos.

    E

    claro

    que,

    quanto

    mais preparado estiver

    o

    poder

    dominante

    para

    aceitar

    uma ordem

    hegemônica limitada

    por regras,

    mais

    aceitável

    será

    a

    estratégia

    de

    bandwagoning

    para

    os Estados fracos.”

    Quarta,

    o

    próprio

    poder

    hegemônico

    pode

    procurar

    envolver-se

    ativamen-

    te

    na

    construção

    de

    instituições

    regionais. E

    interessante

    observar

    que,

    neste

    caso,

    a

    lógica

    diverge do

    argumento

    de

    que

    a

    emergência

    da

    cooperação

    e

    a

    criação

    de

    instituições

    internacionais

    se

    baseiam

    em

    uma

    situação

    hegemôni-

    ca.

    Olhando

    quase

    que

    exclusivamente

    para

    instituições

    não-regionais,

    os

    teóricos

    da estabilidade hegemônica

    argumentam

    que

    a

    criação

    de

    cooperação

    -xinstitucionalizada

    depende

    intensamente

    do

    poder

    desigual

    e

    da

    existência

    da

    hegemonia.

    Não

    obstante,

    se

    o poder hegemônico

    se

    encontrar

    na

    posição

    extrema

    de

    domínio,

    este

    poder

    poderá

    tornar

    o

    regionalismo

    institucionalizado

    35

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    14/37

    desnecessário

    ou,

    na

    melhor

    das

    hipóteses,

    marginal.

    O declínio

    de

    hegemo-

    nia,

    porém,

    podera pressionar

    o

    poder

    hegemônico

    a criar

    instituições

    comuns

    com

    o

    objetivo

    de

    perseguir

    seus interesses,

    compartilhar

    os ônus,

    resolver

    problemas

    comuns

    e

    gerar

    apoio

    e

    legitimidade

    internacionais

    para

    suas

    politicas. Essa

    combinação

    de

    desigualdade

    ainda

    marcante

    e

    niveis gerais

    declinantes

    de

    poder pode

    ser muito

    eficaz para

    a

    criação

    de

    instrumentos

    regionalistas.

    De

    um

    lado,

    o

    Estado

    central

    é forte

    ainda

    o

    bastante

    para

    exercer

    liderança

    efetiva

    e,

    se

    necessário, coerção;

    de

    outro,

    o

    esquema fica

    equilibra-

    do

    pela

    percepção

    de

    que

    o

    poder

    declinante

    torna

    a

    cooperação

    ainda mais

    necessária??

    O neo-realismo

    demonstra

    pouco

    interesse pela

    regionalização

    ou

    in-

    tegração

    econômica regional,

    acreditando

    que

    os

    chamados  processos

    autô-

    nomos de

    mercado” são basicamente

    determinados pelas

    estruturas

    do

    sis-

    tema

    político

    internacional

    e

    pelas

    politicas

    dos Estados principais.

    A coesão

    regional

    é

    possível,

    mas

    como resultado

    do

    poder

    do

    Estado

    hegemônico

    regional

    ou

    da

    convergência

    sustentada

    de

    interesses

    e

    incentivos

    materiais.

    E

    pequeno

    o

    peso

    atribuido

    à

    noção

    de

    consciência regional.

    Dentro de

    seus

    limites,

    ateoria

    neo-realista tem

    ainda

    muito a nos dizertanto

    sobre

    a

    relevância

    das

    pressões

     de

    fora

    para

    dentro

    quanto

    sobre

    a importância

    da

    hegemonia.

    Ela

    é

    útil para

    esclarecer

    como as

    restrições

    externas

    e a estrutura

    do

    sistema

    internacional

    moldam

    as

    opções

    regionalistas

    em

    todos

    os

    Estados,

    mas

    sobretudo

    no

    caso dos

    Estados

    relativamente

    fracos. E

    serve também

    para

    explicar

    a

    lógica

    da

    interação

    estratégica

    quando

    se

    conhecem

    e entendem

    bem a identidade

    dos

    atores e

    a

    natureza

    de

    seus interesses.

    Contudo,

    o

    neo-realismo

    diz

    pouco

    sobre

    as

    caracteristicas

    da

    coopera-

    ção

    regional

    depois

    de

    estabelecida,

    e sobre

    o

    modo como

    os hábitos

    de

    cooperação

    sustentada podem

    envolver

    estruturas

    institucionais

    muito

    diferen-

    tes

    da

    idéia

    tradicional

    de coalizão,

    aliança

    ou

    organização

    internacional.

    O

    funcionamento

    dessas

    instituições

    poderá

    conduzir a

    uma

    nova

    definição

    de

    interesses

    próprios

    e

    talvez a

    uma

    nova concepção

    de próprio .

    O

    neo-realis-

    mo também

    diz pouco

    sobre o impacto

    dos

    fatores internos.

    Fala

    muito

    de

    Estados enquanto

    atores

    com

    interesses

    próprios

    competindo

    em

    um

    mundo

    anárquico,

    mas deixa

    sem

    explicação a identidade

    dos

     próprios

    e

    a

    natureza

    dos

    interesses,

    ou

    simplesmente

    as

    pressupõe.

    Além

    disso,

    se

    existem limi-

    tações

    em

    relação

    aos

    fatores internos

    e

    ao funcionamento

    das

    instituições

    regionais, existem

    também

    dificuldades

    importantes

    no

    que diz

    respeito

    ao

    lado

    de

    fora,

    e

    é

    para

    elas

    que

    nos voltamos

    agora.

    2.1.2

     

    interdependência

    Estrutural

    e Globalização

    Uma

    das

    criticas

    mais

    sistemáticas

    e

    vigorosas

    feitas ao

    neo-realismo

    tem

    a ve r com

    sua

    descaracterização

    do

    sistema

    internacional.

    Nesta

    ótica,

    os

    fatores sistêmicos

    são extremamente

    importantes,

    mas

    o

    neo-realismo

    propicia

    36

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    15/37

    apenas

    um

    relato

    grosseiramente simplificado

    da natureza do

    sistema,

    no

    qual

    ignora

    corno

    a dinâmica

    competitiva

    do

    mesmo

    muda

    ao

    longo

    do

    tempo.

    Em

    particular,

    o

    quadro que

    traça

    do

    sistema

    internacional

    deixa

    completamente

    de fora

    a análise

    de

    comotas

    mudanças

    econômicas globais

    afetam

    a natureza

    da

    competição

    politica

    e

    econômica e

    a

    conseqüente

    definição

    de

    interesses

    estatais.

    Criticas

    desse

    tipo

    se

    originaram em

    obras

    da

    década

    de

    70

    sobre

    i nterdepen

    dência

    e

    modernização,

    associadas

    a

    estudiosos

    como

    Joseph Nye,

    Fiobert

    Keohane

    e

    Edward Morse.

    Não

    obstante,

    o

    enfoque

    estrutural ou

    sistêmico

    desses

    trabalhos

    foi-se atenuando

    (e

    com

    freqüência

    desapareceu

    inteiramente)

    à

    medida que a

    atenção

    se

    voltou

    para

    os vínculos

    entre

    ¡n

    terdependência

    e

    poder

    estatal

    e

    para

    a

    natureza

    e

    o

    papel

    dos

    regimes na

    administração

    .da

    interdependência em

    áreas

    específicas??

    e

    à medida

    que

    a

    preocupação

    inicial

    com

    o

    transnacionalismo

    e

    os atores

    não-estatais

    foi

    substituída

    por

    uma

    perspectiva

    fortemente centrada

    no

    Estado.

    Conquanto

    o

    enfoque

    nos

    regimes especificos

    seja, sem

    dúvida,

    significativo','ele

    é também

    extremamente

    importante

    por

    fazer

    reviver

    a

    idéia de interdependência

    como

    um

    fenômeno

    sistêmico

    ou

    estrutural

    e

    por examinar

    o

    regionalismo

    contem-

    porâneo

    no

    contexto

    de

    uma

    globalização

    cada

    vez

    mais

    profunda.

     

    Globalização

    tornou-se

    um

    tema

    importante

    da

    discussão

    pós-Guerra

    Fria

    sobre

    a

    natureza

    da

    ordem

    internacional.

    Se

    bem

    que

    quase

    nunca ligada

    a uma

    teoria

    claramente articulada, ela

    transformou~se

    em metáfora

    poderosa

    para

    o

    sentido

    de

    numerosos

    processos universais

    que

    estão

    em

    curso,

    gerando interconexão

    e

    interdependência crescentes

    entre

    Estados

    e

    socie-

    dades. A imagem

    cada

    vez

    mais

    comum

    é

    a

    de

    uma inundação global

    de

    dinheiro, pessoas,

    imagens,

    valores

    e

    idéias,

    transbordando

    do

    antigorsistema

    dee

    barreiras

    nacionais

    que

    visavam preservar

    a

    autonomia

    estatal.

    Como

    resultado,

    os

    limites

    territoriais

    estão

    se tornando

    cada

    vez

    menos

    importantes,

    o

    sentido

    tradicional

    de

    soberania

    está

    sendo

    solapado

    e

    »as

    regiões

    in-

    dividualmente

    passaram

    aser consideradas dentro

    de

    um contexto

    global

    mais

    amplo.

    Essas

    perspectivas

    são bem expressas

    por

    frases

    de

    efeito

    como

    “mundo

    sem fronteiras ou

     fim

    da

    geografia .3°

    A

    maior

    parte

    dos

    argumentos

    contemporâneos

    em

    favor_

    daglobalização

    apóia-se

    e

    m

    uma

    das

    seguintes

    considerações: (1 )

    o mundo está

    testemunham

    cio

    um

    aumento

    dramático

    na  densidade

    e

    “profundidade”

    da

    interdependên-

    cia

    econômica;

    (2)

    a

    tecnologia

    da

    informação

    e

    a

    revolução

    da

    informação

    estão

    desempenhando

    um

    papel

    crucial na

    difusão

    de

    conhecimentos,

    tecno-

    logias

    e

    idéias; (3 )

    esses

    desenvolvimentos

    criam

    a

    infra-estrutu

    ra

    material

    para

    o

    fortalecimento

    da

    interdependência

    das

    sociedades.

    Isto,

    juntamente

    com

    a

    influência

    integradora

    e homogeneizadora das

    forças

    de

    mercado,

    facilita

    a

    crescente

    circulação

    de

    valores,

    conhecimentos

    e idéias

    e

    aumenta

    a capaci-

    dade

    de

    grupos que

    pensam da mesma

    maneira

    de

    organizar-se

    além

    das

    fronteiras

    nacionais,

    criando

    uma

    sociedade

    civil transnacional

    que

    inclui

    37

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    16/37

    comunidades

    de

    politicas

    transnacionais

    e

    movimentos

    sociais transnacionais;

    (4)

    tudo

    isso

    está

    conduzindo

    a

    uma consciência

    sem

    precedentes

    e

    cada

    vez

    mais

    forte

    dos

      problemas

    globais , como

    a

    mudança

    global

    do

    meio ambiente

    e

    de

    que

    todos

    pertencem

    a

    um a única

     comunidade

    humana .

    Mas

    o

    que essas

    idéias

    têm

    a

    ver

    com

    o

    regionalismo?

    A

    resposta

    é

    complexa

    e

    ambígua.

    De um

    lado,

    a

    globalização

    trabalha

    contra

    a

    emergência

    do

    regionalismo

    de várias maneiras.

    Primeiro,

    o aumento

    dos

    niveis de

    in-

    terdependência

    econômica,

    juntamente

    com

    o

    surgimento

    de

    novas

    questões

    globais, como

    a

    degradação

    do

    meio

    ambiente,

    refugiados,

    respostas

    aos

    desastres

    humanitários,

    criam

    poderosa

    “demanda”

    por instituições

    in-

    ternacionaisde

    base

    não-regional,

    projetadas

    para

    resolver

    problemas

    comuns

    e

    administrar

    as

    numerosas

    fontes

    de

    atrito

    a

    que

    a

    interdependência

    deu

    origem.

    De

    fato,

    a preocupação

    crescente

    com

    padrões

    de

    interdependência

    que transcenderam

    as

    regiões

    individualmente

    persuadiu

    a

    muitos dos

    en-

    volvidos

    no estudo

    da

    integração

    regional

    a

    voltarem sua

    atenção

    para

    um

    estágio

    mais

    amploêl

    Segundo,

    a

    expansão

    da

    interdependência

    econômica

    e

    o crescimento

    da

    cooperação

    nas

    áreas

    de política,

    economia

    e segurança

    no

    âmbito

    da

    Organização

    de

    Cooperação

    e Desenvolvimento

    Econômico

    (OCDE)

    criaram

    elementos poderosos

    de

    coesão

     ocidental ,

    e

    não especificamente

    regional.

    Embora

    essas

    estruturas

    institucionais

    tenham

    se difundido

    (Bretton

    Woods,

    a

    OCDE,

    o

    Grupo

    dos

    Sete

    (G-7),

    os sistemas

    de segurança

    transatlânticos

    e

    transpacíficos),

    tudo

    isso

    junto

    representou,

    e

    continua

    a representar,

    um a

    restrição

    importante

    ao

    crescimento

    de

    agrupamentos

    regionais

    coerentes.

    Terceiro,

    o

    equilibrio

    entre globalização

    e

    regionalização

    da

    atividade

    econômica

    é complexo.

    Ainda

    que

    tenha

    ocorrido

    um

    aumento

    da

    regionaliza-

     

    ção,

    existem poderosas forças

    de

    integração

    global,

    sobretudo

    com

    o

    desen-

    volvimento

    das

    finanças

    globais

    e

    das

    estruturas

    globais

    de

    produção,

    en-

    volvendo

    alianças

    Estado-empresas

    que

    ultrapassam

    os

    limites

    das

    regiões??

    Não

    obstante,

    a

    globalização

    pode

    atuar

    também

    como

    estímulo

    ao

    regionalismo.

    Primeiro,

    o

    aprofundamento

    crescente

    da integração

    acarreta

    problemas

    que

    exigem

    gestão

    coletiva

    e,

    mais

    especificamente,

    formas

    de

    gestão

    e

    regulação

    que

    mergulhem

    cada

    vez

    mais

    fundo

    nos

    negócios

    internos

    e

    nas

    prerrogativas soberanas

    dos

    Estados.

    Trata-se

    de

    um

    estímulo

    ao

    regionalismo

    na medida

    em

    que politicamente

    é

    mais viável

    construir

    essas

    instituições

    em

    nivel

    regional

    do

    que

    em nivel

    global.

    Sob

    essa

    ótica,

    a

    “comunidade”

    de

    cultura

    e

    história,

    a homogeneidade

    de

    sistemas

    sociais

    e

    valores,

    a

    convergência

    de interesses

    nas

    áreas

    de politica

    e

    de

    segurança

    e

    as

    caracteristicas

    das

    coalizões

    internas

    facilitam

    a

    aceitação

    de

    uma

    in-

    tervenção

    abrangente,

    tanto

    em

    termos

    do

    estabelecimento

    de

    padrões

    quanto

    de

    regulação,

    e mais ainda de

    colocação

    em prática

    e

    implementação

    efetiva.

    Segundo,

    a

    caracteristica

     global

    de

    muitas

    questões

    é

    com

    freqüência

    exagerada.

    Embora existam questões

    que,

    sem

    dúvida,

    são genuinamente

    38

  • 8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)

    17/37

    globais,

    como

    alteração

    do

    clima

    e perda

    da

    biodiversidade,

    e embora

    nume-

    rosas

    outras

    questões,

    como

    os

    problemas

    do

    meio ambiente

    e

    dos refugiados,

    constituam

    na

    verdade

    uma

    questão

    global quando

    agregadas,

    é

    possível

    que

    seus

    efeitos

    se

    façam

    sentir

    mais

    diretamente

    em

    determinadas

    regiões,

    sendo,

    portanto,

    mais

    no

    nível regional que

    no global

    que o

    equilibrio

    dos

    interesses

    e

    incentivos

    provavelmente

    pressionarão

    os

    Estados

    a

    procurar

    as políticas

    de

    resposta.

    Assim,

    embora,

    em sentido abstrato,

    a

    lógica

    da

    cooperação

    aponte

    para

    o

    globalismo,

    são numerosos

    os

    argumentos

    práticos

    em

    favor

    das

    contribuições

    de

    base

    regional

    à

    solução

    de

    problemas

    globais

    ou

    da

    colocação

    em

    prática

    em âmbito

    regional

    de padrões

    ou medidas

    globalmente

    acordados.

    Terceiro,

    existe

    ainda

    o

    argumento

    relacionado

    de

    que

    o regionalismo

    representa

    o

    nível

    mais

    viável

    para

    reconciliar

    o

    mercado integrador

    e

    as

    pressões

    tecnológicas

    para

    a

    globalização

    e

    integração,

    de um

    lado,

    e as

    tendências

    igualmente

    visíveis

    à fissão

    e

    fragmentação,

    do

    outro. Os

    liberais

    reconhece

    m

    as

    tensões

    envolvidas,

    mas encaram

    o

    processo

    de

    reconciliação

    como

    um

    ajuste

    necessário

    às

    novas oportunidades

    tecnológicas

    que

    no

    longo

    prazo

    ampliarão

    o

    bem-estar global.

    Os teóricos radicais,

    por

    sua

    vez,

    des-

    tacam

    até

    que

    ponto

    o

    deslocamento geral

    da

    autoridade,

    que

    sa i

    do

    Estado

    para

    o

    mercado,

    é regido

    pela

    mudança

    das estratégias

    empresariais

    do capital

    transnacional?”

    Eles

    argumentam

    que

    a

    redução

    da

    função

    reguladora

    do

    Estado

    e

    sua

    substituição

    por

    instituições

    internacionais

    politicamente

    fracas

    nos

    niveis

    regional

    e

    global

    têm

    implicações

    importantes

    para

    o

    equilibrio

    da

    riqueza

    e poder

    entre

    os grupos

    sociais

    dentro

    das

    regiões

    e entre

    elas. A

    politica

    do

    regionalismo

    concentra-se,

    portanto,

    em

    torno

    das

    questões

    da

    desigualdade

    e

    redistribuição.

    Quarto,

    e

    talvez

    o

    mais

    importante,

    a

    integração

    global

    pode

    ter

    atuado

    como

    poderoso

    estímulo

    ao

    regionalismo

    econômico,

    alterando

    e

    intensifican-

    .do padrões

    da

    concorrência

    comercial. Mudanças

    na tecnologia,

    nas

    teleco-

    municações,

    na

    operação

    dos

    mercados

    globai