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Questões de método em Vigotski busca da verdade e caminhos da cognição Achilles Delari Junior Apresentação disponível em: http://www.vigotski.net/uem-metodo.pdf

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Questões de método em Vigotskibusca da verdade e caminhos da cognição

Achilles Delari Junior

Apresentação disponível em:http://www.vigotski.net/uem-metodo.pdf

Questões de método em Vigotskibusca da verdade e caminhos da cognição

O subtítulo desta exposição abrevia seus dois principais momentos, distintos e relacionados:

PARTE 1: Diz respeito à questão dos FINS -> “a busca da verdade”PARTE 2: Diz respeito à questão dos MEIOS -> “os caminhos da cognição”

*Considerando que: (a) “os fins não justificam os meios” - cada fim não pode se realizar por qualquer meio(b) “não há fins sem meios” - todo fim só pode se realizar por algum meio

Nas palavras de Vigotski:

http://www.vigotski.net/uem-metodo.pdf

Questões de método em Vigotskibusca da verdade e caminhos da cognição

PARTE 1: Diz respeito à questão dos FINS -> “a busca da verdade”PARTE 2: Diz respeito à questão dos MEIOS -> “os caminhos da cognição”

Nas palavras de Vigotski:

(1º) “a questão primária é a questão do método; esta é para mim a questão da verdade” (Carta a Luria, em 1926)

http://www.vigotski.net/uem-metodo.pdf

Questões de método em Vigotskibusca da verdade e caminhos da cognição

PARTE 1: Diz respeito à questão dos FINS -> “a busca da verdade”PARTE 2: Diz respeito à questão dos MEIOS -> “os caminhos da cognição”

Nas palavras de Vigotski:

(1º) “a questão primária é a questão do método; esta é para mim a questão da verdade” (Carta a Luria, em 1926)

(2º) “O método, isto é, o caminho seguido, se contempla como um meio de cognição: mas o método vem determinado em todos os pontos

pelo objetivo a que conduz. Por isso, a prática reestrutura toda a metodologia da ciência” (O sentido histórico da crise da psicologia, em 1927)

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Questões de método em VigotskiPARTE 1: “A BUSCA DA VERDADE”

PARTE 1: “A BUSCA DA VERDADE”“A questão primária é a questão do método;

esta é para mim a questão da verdade” Vigotski (1926)

1.1 CONTRAPONDO DOIS CONCEITOS SUBJETIVISTAS DE “VERDADE”○ A tirania da verdade absoluta (dogmatismo)○ A tirania da verdade relativa (relativismo)

1.2 EM BUSCA DE UM CONCEITO CRÍTICO DE VERDADE○ A objetividade como critério da crítica○ A dinâmica contraditória do real como critério da objetividade○ O caráter histórico e social da produção do conhecimento crítico

1.3 DOIS PRINCÍPIOS ARTICULADOS PARA A BUSCA DE CRITICIDADE○ O princípio dialógico○ O princípio da prática

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Questões de método em VigotskiPARTE 1: “A BUSCA DA VERDADE” – slide 1/6

1.1 CONTRAPONDO DOIS CONCEITOS SUBJETIVISTAS DE “VERDADE”

○ A tirania da verdade absoluta (dogmatismo)

○ A tirania da verdade relativa (relativismo)

Uma forma antiga de não aceitarmos mudar de posição {um velho comodismo}

Uma “nova forma” de não precisarmos mudar de posição {um “novo” comodismo}

Verdadeiro é o que manda a tradição – pertencente a mim.

Verdadeiro é qualquer pensamento (ou nenhum) – pertencente a alguém.

Ambas tem algo em comum =

Tomam por “verdadeiro” algo estritamente subjetivo

A “verdade absoluta” é algo que diz respeito à mente do iluminado ou iniciado.-Problema do “obscurantismo reverso” (despótico) = não precisas saber, eu sei por nós todos: “obedeça-me”.

A “verdade relativa” é algo que diz respeito à mente de cada um (ou de ninguém).- Problema do “obscurantismo assumido” (agnóstico) = nunca saberemos, cada um já sabe por si: “imponha-se” ou “deixe estar” (...)

⇒ São duas formas de “subjetivismo”:○ Nos dois casos o discurso dito “verdeiro” não necessita prestar contas ao real.○ Nos dois casos o critério da objetividade é afastado.○ Nos dois casos o critério do poder prevalece = se duas posições forem radicalmente opostas, só a força fará uma delas predominar.

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Questões de método em VigotskiPARTE 1: “A BUSCA DA VERDADE” – slide 2/6

1.2 EM BUSCA DE UM CONCEITO CRÍTICO DE VERDADE

○ A objetividade como critério da crítica- O que constitui o pensamento crítico é apresentar as coisas “tais como são e podem ser”, não só como “imaginamos que sejam” ou “desejaríamos que fossem”.- O critério da crítica é a objetividade (Saviani), não a contestação/negação pura e simples

○ A dinâmica contraditória do real como critério da objetividade- O conhecimento mais verdadeiro é aquele retrata com maior fidelidade as contradições do real, em sua estrutura, dinâmica e gênese – ser e devir.- A relação do ser humano com o real está contida no critério da objetividade. O homem é real e faz parte da realidade que busca compreender – logo, o

“momento subjetivo” se inclui nesta busca: na dialética “subjetivo-objetivo” e não como princípio regente de toda a lógica do entendimento humano.

○ O caráter histórico e social da produção do conhecimento crítico- O problema de obter-se um conhecimento mais crítico, mais próximo do entendimento de como as coisas realmente são, não é um problema de construção individual, mas de produção coletiva.- O problema da obtenção coletiva de um conhecimento mais crítico, é o de uma trajetória histórico-social, na qual nossa coletividade não parte “do zero”, mas conta com o acúmulo de incontáveis gerações.

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Questões de método em VigotskiPARTE 1: “A BUSCA DA VERDADE” – slide 3/6

1.3 DOIS PRINCÍPIOS ARTICULADOS PARA A BUSCA DE CRITICIDADE

-Se o mais verdadeiro é o mais próximo da realidade, como fazer tal aproximação?

-Como saber se não estamos avaliando o mundo, os outros e a nós mesmos, apenas com base em: ○ “idiossincrasias”;

○ “crenças”; ○ “preconceitos”; ○ “verdades relativas”; ou ○ “dogmas”?

-Dois modos de responder podemos citar aqui. O segundo é superior ao primeiro, mas o primeiro é fundamental para realização do segundo.

(a) O princípio dialógico [recorreremos a Bakhtin]

(b) O princípio da prática [recorreremos a Marx]

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Questões de método em VigotskiPARTE 1: “A BUSCA DA VERDADE” – slide 4/6

1.3 DOIS PRINCÍPIOS ARTICULADOS PARA A BUSCA DE CRITICIDADE

(a)O princípio dialógico [recorreremos a Bakhtin]

“Devemos dizer que o relativismo e o dogmatismo excluem igualmente qualquer discussão, todo diálogo autêntico, tornando-o desnecessário (o relativismo) ou impossível (o dogmatismo)”

Mikhail Bakhtin – “Problemas da poética de Dostoiévski” em 1963

○ Para produzir-se um melhor entendimento sobre as coisas é necessário: - Confronto entre pontos de vista distintos; divergência; debate; isto é: diálogo.

○ O dogmatismo não proporciona tais condições [confronto, divergência...]: . Se “só eu sei”, logo não há debate. O que poderá haver?

- Aceitação incondicional, por “devoção”- Aceitação resignada, por “medo”- Enfim: obediência à autoridade de quem diz “saber”

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Questões de método em VigotskiPARTE 1: “A BUSCA DA VERDADE” – slide 5/6

1.3 DOIS PRINCÍPIOS ARTICULADOS PARA A BUSCA DE CRITICIDADE

(a)O princípio dialógico [recorreremos a Bakhtin]

○ O relativismo não proporciona tais condições [confronto, divergência...]: . Se “só cada um sabe” ou “ninguém sabe”, logo não há debate. O que poderá haver? - “Monólogo coletivo”: cada qual diz o que pensa sem necessidade de ouvir o outro

- “Anulação mútua”: o que o outro diz não me fará rever-me, pois é só “a verdade dele” - Entre outras possibilidades também comuns ao dogmatismo: o “jogo de sedução”, a “artimanha retórica”, a “coisificação do outro”, etc.

○ O confronto dialógico é necessário para haver objetividade . Como indivíduos isolados, só podemos ver a realidade de modo parcial - Mas para o dogmatismo: um sozinho já pode ver o todo

X - Mas para o relativismo: basta que cada um sozinho veja só uma parte

- Já para o dialogismo: a parcialidade do conhecimento individual se apresentará como desafio à produção coletiva e histórica

de um melhor entendimento possível sobre a totalidade

○ Porém, o confronto dialógico não é suficiente para haver objetividade . Cabe também o confronto com a realidade mediante a prática

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Questões de método em VigotskiPARTE 1: “A BUSCA DA VERDADE” – slide 6/6

1.3 DOIS PRINCÍPIOS ARTICULADOS PARA A BUSCA DE CRITICIDADE

(b) O princípio da prática [recorreremos a Marx]

“A questão se cabe ao pensamento humano uma verdade objetiva não é teórica, mas prática. É na práxis que o homem deve demonstrar a verdade, a saber, a efetividade e o poder, a citerioridade do pensamento. A disputa sobre a efetividade ou não-efetividade do pensamento isolado da práxis – é uma questão meramente escolástica”

Karl Marx – “2a tese contra Feuerbach” (em 1845).

○ O diálogo/debate potencializa uma aproximação crítica à realidade? - Sim, se permite articular pontos de vista parciais numa visão objetiva de conjunto. - Mas não basta uma maioria (ou todos) chegar(em) a um acordo pelo diálogo, para que o entendimento comum seja crítico, objetivo e/ou verdadeiro.

○ Para haver conhecimento crítico é necessário o critério da prática. - A prática transformadora é fonte e destino do conhecimento crítico - Mas sobre isso apenas mais dois pontos:

(a) Não estamos falando de práticas apenas individuais, mas de práticas coletivas(b) Dentre as práticas coletivas, não estamos falando apenas de “costumes”, “convenções”, modos de agir repetidos apenas pela “força do hábito”, graças à comodidade que isso gera, mas sim de práticas de transformação da realidade.

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Questões de método em VigotskiPARTE 2: “OS CAMINHOS DA COGNIÇÃO”

PARTE 2: “OS CAMINHOS DA COGNIÇÃO”“O método, isto é, o caminho seguido,

se contempla como um meio de cognição” Vigotski (1927)

2.1 PARTINDO DO GERAL ○ O sentido de “metodologia” para a psicologia russa/soviética ○ Quatro categorias metodológicas gerais em Vigotski2.2 EM DIREÇÃO AO PARTICULAR1916-1927 [Rumo à teoria histórico-cultural] ○ 1916 – “Crítica de leitor” como aporte metodológico ○ 1925 – “Método objetivo-analítico” como aporte metodológico ○ 1927 – “O sentido [smisl] histórico da crise da psicologia”: 3 questões de método1928-1931 [Teoria histórico-cultural] ○ 1928 – Introdução ao “método instrumental” e “método da dupla estimulação” ○ 1929 – “Método construtivo” e a “futura psicologia” ○ 1930 – “Método instrumental” como tal ○ 1931 – Sistematização dos requisitos para o “método genético” como tal1932-1934 [Desde a teoria histórico-cultural]

○ 1933-1934 – “O problema da consciência” e a “análise sêmica [semitcheskii]” (...) ○ 1933-1934 – “Análise por unidades” (...)

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2.1 PARTINDO DO GERAL

○ O sentido da metodologia para a psicologia russa/soviética

- “(...) a aplicação dos termos ‘metodologia’ e ‘metodólogo’ não é restrita aos problemas de delinear e conduzir pesquisas empíricas. Ao invés disso, estes termos são usados referindo- se ao estudo de questões teóricas e metateóricas gerais que subjazem a uma investigação dos fenômenos psicológicos” (Wertsch em 1985)

- Assim: questão do método tem duplo aspecto na psicologia de Vigotski e seus colaboradores:

(a) Por um lado: a metodologia [problematização sobre o método] e o método [caminho de cognição] situam-se no mais alto grau de abstração

Porque a ‘metodologia’ trata das próprias condições de possibilidade para que o conhecimento teórico se dê. Já que ‘método’, como caminho e meio de cognição, significa ‘método’ como modo de organizar e efetivar as possibilidades sociais para se conhecer arealidade e teorizar sobre ela.

(b) Por outro lado: método está intimamente próximo da prática socialSe método é caminho para o conhecimento (meio de cognição), o melhor modo de conhecer a realidade é em seu processo de transformação, e o melhor modo de saber sobre um processo de transformação é produzi-lo coletivamente.

- Pode-se também dizer:(*) “Método é mediação entre teoria e prática” - ‘Mediação’ aqui entendida como “princípio de articulação e organização das relações entre os termos”

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2.1 PARTINDO DO GERAL

○ Quatro categorias metodológicas gerais em Vigotski - Ao longo de vários anos de sua produção, encontramos, pelo menos, quatro questões metodológicas (“metateóricas”), em Vigotski, necessárias para a teorização em psicologia: (a) qual o objeto de análise?; (b) qual o “princípio explicativo”?; (c) qual a “unidade de análise”? (a-b-c) qual o “modo de proceder a análise”?

(a) Qual o “objeto de análise” da psicologia? ○ A “consciência” [soznanie]... ○ As “funções psíquicas superiores”... ○ A “personalidade” [litchnost’] “síntese superior de funções psíquicas superiores”... ○ O “homem” [pessoa – tchelovek] como ser social... ○ O “novo homem” [novi tchelovek] (?)

(b) Qual o “princípio explicativo” para tal objeto de análise? ○ As relações sociais - Não são um “habitat” nem “meio externo” - Não são um “contexto” nem “pano de fundo” - Não são uma “influência” nem um “fator” de desenvolvimento (e.g. Piaget) - São a fonte do desenvolvimento: sua força motriz e seu princípio explicativo.

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2.1 PARTINDO DO GERAL

○ Quatro categorias metodológicas gerais em Vigotski

(c) Qual a “unidade de análise” que permitiria compreender as relações entre “a” e “b”? ○ O significado (generalização) = unidade pensamento⇔“linguagem” [retch] ○ A vivência [perejivanie] = unidade personalidade⇔meio

(a-b-c) Qual o “modo de proceder” a análise que permeia os três primeiros? ○ O “método genético” ou “genético-causal” ou “histórico”. - Não exclui a análise funcional, nem a estrutural ou “estrutural-dinâmica”, mas as incorpora e norteia - Envolve vários domínios relacionados: filogênese, sociogênese, ontogênese e “microgênese”...

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2.2 EM DIREÇÃO AO PARTICULAR

1916-1927 [Rumo à teoria histórico-cultural]

○ 1916 – “Crítica de leitor” como aporte metodológico-Para analisar Hamlet, distingue “crítico-criador” e “crítico-leitor”. Este não supera a inefabilidade da obra, mas pode “arrancar” suas “entonações internas”, apresentando-as ao leitor em geral, como mediação para o encontro com o que ela tem de mais profundo e transcentdente. Demonstra que é algo objetivamente presente na obra que se deve buscar, embora a “sensação comovida” que ela nos causa seja inefável.

○ 1925 – “Método objetivo-analítico” como aporte metodológico -Na “Psicologia da arte”, abordam-se três gêneros literários : (a) a fábula – 11 títulos de Krilov; (b) o conto – “Hálito leve” de Bunin; e (3) a tragédia – Hamlet de Shakespeare. A análise é mais próxima à objetividade da linguagem artística. O método centra-se nas relações contraditórias “conteúdo e forma” na obra, as quais levam a determinadas “reações estéticas” e/ou “processos catárticos” e a não outros. Está sob influência da reflexologia, mas a arte é vista como “técnica social” dos sentimentos e assim também definida como “o social em nós” (termo retomado em 1931 para a “personalidade”).

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2.2 EM DIREÇÃO AO PARTICULAR

1916-1927 [Rumo à teoria histórico-cultural]

○ 1927 – “O sentido [smisl] histórico da crise da psicologia”: 3 questões de método-Desse trabalho decisivo de Vigotski rumo à formulação de sua teoria histórico-cultural, podemos destacar três pontos essenciais:

(a) A relação da ciência com a mediação da linguagem pela qual ela realiza suas abstrações e orienta seu olhar: “A palavra é o gérmen da ciência, e neste sentido cabe dizer que no começo da ciência estava a palavra” (Vigotski)

(b) A centralidade da prática social como movimento pelo qual se demanda a reconstrução das abstrações científicas e que produz as condições para tal (conhece-se para realizar uma prática transformadora; e só realizando uma prática transformadora é que se conhece) – “O princípio da prática e sua filosofia se impõe uma vez mais: a pedra que rejeitaram os construtores esta veio a ser a pedra angular” (Vigotski)

(c) A centralidade da dialética como categoria geral integradora do discurso científico, em psicologia geral. “Esta psicologia não será outra coisa, senão a dialética da psicologia” (Vigotski)

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2.2 EM DIREÇÃO AO PARTICULAR

1928-1931 [Teoria histórico-cultural]

○ 1928 – Introdução ao “método instrumental” e “método da dupla estimulação” - No artigo “O problema do desenvolvimento cultural da criança”, considerado “manifesto da teoria histórico-cultural” (Puzirei), temos: 1) O problema; 2) A análise; 3) A estrutura; 4) A gênese; e 5) O método.

▪ “Este método pode ser convencionalmente chamado ‘instrumental’ já que é baseado na ‘função instrumental’ dos signos culturais no comportamento e em seu desenvolvimento” (Vigotski)▪ “No plano da investigação experimental este método é baseado no ‘método funcional da dupla estimulação’” (Vigotski) Na psicologia tradicional: S ––––––––––––> R

No método da dupla estimulação: Sobjeto - - - - - - - - - - R

▪ “(...) é baseado no método dos reflexos condicionais [de Pavlov]” (Vigotski) [tb. busca objetividade], mas o supera, pois entra no âmbito da cultura (mediação do signo) e da história (o processo se desenvolve).▪ “Este método em sua verdadeira essência é um método histórico-genético” (Vigotski) – Cita Blonski “O comportamento apenas pode ser entendido como história do comportamento”

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Smeio [signo]

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2.2 EM DIREÇÃO AO PARTICULAR

1928-1931 [Teoria histórico-cultural]

○ 1929 – “Método construtivo” e a “futura psicologia” - Em anotações depois publicadas como “Psicologia concreta do homem” (só em 1986) temos:

▪ “O método construtivo tem dois sentidos: 1) estuda não as estruturas naturais, mas construções; 2) não analisa, mas constrói processos (contra método de pegar de surpresa [...]). Mas a construção cognitiva no experimento corresponde à construção real do próprio processo. Este é o princípio básico.” (Vigotski)▪ Esse tipo novo de investigação “deve, ele próprio, ser implementado dentro do quadro oganizado de alguma prática psicotécnica, servindo como um órgão necessário que torna possível a projeção, realização, reprodução e desenvolvimento dirigido dessa prática. Esse projeto permanece essencialmente irrealizado na história subsequente da psicologia” (Puzirei em 1986)

○ 1930 – Desdobramentos do “Método instrumental” - Apenas algumas considerações:

▪ (1) Mais relevante que o “instrumento cultural” (psicológico ou técnico), é o ato instrumental ▪ (2) A “função psíquica elementar” (natural) combina-se, é transformada, mas não eliminada pela “estrutura do ato instrumental” (artificial) [veja §22]

{função natural <-> função artificial (técnica/psicológica)} ▪ (3) O método trata de princípios e permite diferentes procedimentos: observação, experimentação, etc. [veja §23]

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2.2 EM DIREÇÃO AO PARTICULAR

1928-1931 [Teoria histórico-cultural]

○ 1931 – Sistematização dos requisitos para o “método genético” (histórico-genético) como tal- Duas considerações complementares: 1ª) “... la situación existente en la psicología actual nos impone la necesidad de plantear el problema del propio análisis antes de abordar el análisis de los problemas” (Tomo III, cap 3 – p. 97) 2ª) “El método, en este caso, es al mismo tiempo premisa y producto, herramienta y resultado de la

investigación” — Vigotski (Tomo III p. 47)- Como deve ser a análise?

(a) Buscar a essência - não ficar só com as aparências (cf. Marx) [o aparente está em relação com o essencial, mas não coincidem](b) Buscar explicar - [saber as causas] não apenas descrever [enumerar os efeitos] [a descrição é necessária (cf. Luria com base em Lenin) mas não suficiente](c) Priorizar processos - não objetos [como realidades estáticas]. [Vigotski retoma Aristóteles: “só em movimento um corpo mostra o que é”; tb. Blonski](d) Resgatar a vida - do que se vê “fossilizado”... [metáfora do fóssil para processos psíquicos que parecem mecânicos, automatizados, mas na origem também demandaram uma dinâmica viva para virem a existir](a-b-c-d) = Análise genético-causal.

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2.2 EM DIREÇÃO AO PARTICULAR1932-1934 [Desde a teoria histórico-cultural]

○ 1933-1934 – O “problema da consciência” e a “análise sêmica [semitcheskii]”

▪ Uma reformulação para o conceito de ‘signo’ (antes ‘instrumento psicológico’):“Nos primeiros trabalhos ignorávamos que o significado é próprio do signo. (...) Partíamos do princípio da constância do significado, (...) nas primeiras investigações o problema do significado estava implícito. Se antes nossa tarefa era mostrar o comum entre o “nó” e a memória lógica, agora consiste em mostrar a diferença entre eles” (Vigotski)

“De nossos trabalhos se desprende que o signo modifica as relações interfuncionais” (Vigotski)

▪ Uma proposta metodológica condizente com tal conceito reformulado:“A análise sêmica [ou ‘semântica’ - semitcheskii] é o único método adequado de estudo da construção [ou ‘estruturação’ – stroenie] sistêmica e semântica [ou ‘relativa ao sentido’ – smislovoi] da consciência” (Vigotski)

○ 1933-1934 – A “análise por unidades” (...) ▪ “Unicidade” (unidade ‘decomponível’) – o todo. ▪ “Unidade” (unidade indecomponível) – parte que mantém características essenciais do todo. ▪ “Elementos” – partes que perdem as características do todo. Exemplos: “A atenção é um elemento da consciência, mas a vivência é uma unidade”

“A palavra significativa é um microcosmo da consciência humana”.

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QUESTÕES DE MÉTODO EM VIGOTSKIbusca da verdade e caminhos da cognição

REFERÊNCIAS

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QUESTÕES DE MÉTODO EM VIGOTSKIbusca da verdade e caminhos da cognição

VYGOTSKI, L. S. (1931/2000) Historia del desarrollo de las funciones psíquicas superiores. In: ______. Obras escogidas - Tomo III. 2. ed. Madrid: Visor. p. 11-340.VYGOTSKI, L. S. (1933-34/1991) El problema de la conciencia. In: ______. Obras escogidas - Tomo I. Madrid: Visor y Ministerio de Educación y Ciencia. p. 119-132.VYGOTSKI, L. S. (1933-34/2006) La crisis de los siete años. In: ______. Obras escogidas. 2. ed. Tomo IV. Madrid: Visor y A. Machado Libros. p. 377-386.VIGOTSKI, L. S. (1934) Problema i metod issledovaniia. In: ______. Mishlenie i retch’: psikhologuitcheskie issledovaniia. Moskva, Leningrad: Gosudarstvennoe Sotsial’no-Ekonomitcheskoe Izdalel’stvo. p. 4- 15. VIGOTSKI, L. S. (1934/2001) Problema e método de investigação. In: ______. A construção do pensamento e da lingaguem. São Paulo: Martins Fontes. p. 1-18WERTSCH, J. V. (1985) Notes to DAVIDOV, V. ; RADZIKHOVSKI, L. L. Vygotsky’s theory and the activity- oriented approach in psychology. In: WERTSCH, J. Culture Communication and Cognition: Vygotskian Perspectives. New York: Cambridge University Press.

http://www.vigotski.net/uem-metodo.pdf

[referindo-se a Vigotski:]

“Espinosa, (...) foi durante toda a sua vida seu pensador preferido”

Aleksei Leontiev – Artigo de introdução sobre o trabalho criativo de L.S. Vigotski

http://www.vigotski.net/uem-metodo.pdf

“Nada estimo mais, entre todas as coisas que não estão em meu poder, do que contrair uma aliança de amizade com homens que amem sinceramente a verdade”

Baruch de Espinosa – epígrafe à Ética

QUESTÕES DE MÉTODO EM VIGOTSKIbusca da verdade e caminhos da cognição

PARA CONTINUAR O DIÁLOGO

Achilles Delari [email protected]

www.vigotski.net/casa.htm

http://www.vigotski.net/uem-metodo.pdf

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