junho 2020 · 2020-07-02 · 3 custos leite | junho 2020 leite custos cepea - centro de estudos...
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CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP
A variação nos preços de insumos para alimentação animal, principalmente o concentrado, costuma ser uma preo-
cupação constante do produtor de leite. De acordo com as informações obtidas pelo proje-to Campo Futuro, a ração tem grande partici-pação nos custos de produção, representando entre 9% e 66% dos desembolsos realizados. Assim, valorizações intensas nesses insumos podem comprometer o caixa das propriedades. Nos períodos em que os valores do concentrado se elevam acentuadamente, como o atual (os preços desses insumos aumentaram 8,5% de janeiro a maio de 2020 na “média Brasil”, composta por BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP), há, em geral, uma deterioração na mar-gem da atividade leiteira. Diante da grande re-presentatividade da dieta nos desembolsos, o produtor pode se ver tentado a diminuir a su-plementação alimentar das vacas, no intuito de reduzir os custos e de restabelecer as margens. O problema, contudo, é que a produção de leite está diretamente ligada à alimentação.
Por isso, uma redução do fornecimento de con-centrado pode levar à diminuição da produção de leite, piorando ainda mais o resultado financeiro da atividade. Com menos leite fica mais difícil diluir e remunerar os custos fixos da atividade. O milho costuma ser o principal in-grediente nas dietas, apresentando, portanto, influência no custo tanto das rações formu-ladas nas propriedades quanto dos produtos comerciais. Analisando-se as cotações dos con-centrados proteicos e energéticos comerciais, observa-se correlação entre seus preços e os do milho, de forma que, a cada R$ 1,00 que se altera no valor do cereal, as rações comer-ciais tendem a ser reajustadas em R$ 0,32. Por mais que se observe uma retração nos preços do milho nos últimos dois meses, em função da alta produção na safra 2019/20, o cereal está passando, desde 2019, por um processo de valorização, atingindo, em mar-ço, a terceira maior média mensal, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de 05/2020), desde 2005 (Gráfico 1).
Forte alta no preço do concentrado exige eficaz gerenciamento da atividade leiteria
Gráfico 1 - Série histórica, em Reais por saca de 60 kg, do Indicador do milho ESALQ/BM&FBovespa, corri-gido pelo IGP-DI de maio de 2020. Elaboração: Cepea-Esalq/USP e CNA.Fonte: Cepea-Esalq/USP.
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Na comparação anual, o milho acumula alta de quase 35% (em valores corrigidos pelo IGP-DI), ao passo que o valor médio do leite no mesmo período registrou queda de 14%, também em valores corrigidos, contexto que reduziu o poder de compra do produtor leitei-ro. Enquanto em maio de 2019, eram necessá-rios cerca de 23 litros de leite para aquisição
de uma saca de milho de 60 kg, em maio de 2020, esse número saltou para mais de 36 li-tros (Gráfico 2). O mesmo se observa para as rações comerciais, com o poder de compra do produtor caindo 21% para o concentrado ener-gético e 25% para o concentrado proteico, ambos na comparação anual (Gráficos 3 e 4).
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26,9
24,423,0
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Relação de troca entre leite e milho - Litros/saca 60 kg
Gráfico 2 - Litros de leite necessários para aquisição de uma saca de milho de 60 kg. Elaboração: Cepea-Esalq/USP/CNA. Fonte: Cepea-Esalq/USP
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Relação de troca entre leite e concentrado energético - litros/kg
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Relação de troca entre leite e concentrado proteico - litros/kg
Gráfico 3 e 4 - Litros de leite necessários para adquirir um quilo de concentrado energético (à esquerda) e um quilo de concentrado proteico (à direita). Elaboração: Cepea-Esalq/USP/CNA.Fonte: Cepea-Esalq/USP.
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Já o cenário da relação de troca entre leite e milho para o segundo semestre de 2020 é mais positivo para o produtor de leite do que o atual. Os valores de ajuste diário dos preços fu-turos do milho do dia 15 de junho na B3 foram de R$ 44,50 para o contrato com vencimento em julho, de R$ 43,67 para o vencimento em setembro e de R$ 46,30 para o de novembro. Considerando-se o valor médio líquido do leite
ao produtor CEPEA/ESALQ de maio (R$ 1,3783/litro), seriam necessários 32,3 litros para a com-pra de uma saca de milho em julho, de 31,7 li-tros em setembro e de 33,6 litros em novembro. Dessa forma, o poder de compra do pro-dutor de leite no segundo semestre estaria me-lhor do que o atual, mas inferior aos observados nos mesmos meses de 2019, quando a relação de troca estava entre 26 e 33 litros/saca (Gráfico 5).
26,427,4
33,032,3 31,733,6
julho setembro novembro
Relação de troca entre leite e milho -litros/saca 60 kg
2019 2020*
*Projeção realizada com os valores de ajuste do dia 15/06/2020 na B3 para a saca de milho e do preço do leite CEPEA/ESALQ de maio de 2020 (mercado físico).
Gráfico 5 - Comparação entre a relação de troca observada em 2019 e a projetada para 2020. Elaboração: Cepea-Esalq/USP/CNA.Fonte: Cepea-Esalq/USP.
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Informativo Trimestral sobre custos de produção de leite elaborado pela equipe Cepea em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) – Projeto Campo Futuro.
COORDENADOR: Prof. Dr Sérgio De Zen
EQUIPE TÉCNICA CEPEA: Caio Monteiro, Giovanni Penazzi e Ivan Barreto
CONTATOS: (19) 3429-8870 • [email protected] INFORMAÇÃO: www.cepea.esalq.usp.br
EXPEDIENTE
Do ponto de vista dos custos de pro-dução, as variações nas despesas com a dieta dos animais são o principal risco. A fim de pre-servar suas margens, o produtor de leite deve utilizar ferramentas de gerenciamento de ris-cos para se proteger das variações do milho, principal ingrediente das dietas que apresenta correlação com os concentrados comerciais. O passo inicial consiste no planejamen-to da atividade, com a realização da projeção do consumo de alimentos pelo rebanho. Dessa forma, o produtor terá informações importan-tes que possibilitam uma melhor programação de suas compras. Isso permite que produtores
firmem, com antecedência, acordos com forne-cedores de milho, travando o preço da compra. Para as propriedades com maior matu-ridade gerencial, também é possível, com inter-médio de profissionais capacitados, fazer o uso do mercado financeiro, por meio de contratos futuros, para fixação de preços, e de opções, para se proteger das disparadas das cotações. Ao planejar a atividade e utilizar as fer-ramentas de gerenciamento de riscos, o produ-tor de leite se protege das variações de preços do mercado spot de milho. Com isso, é possível estabilizar o principal componente do custo de produção e beneficiar as margens da atividade.