jornalismo - publicidade e política - espetáculo midiático

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Londrina – PR - 26 a 28 de maio de 2011 1 Jornalismo, Publicidade e Política:espetáculo midiático 1 Felipe SOARES 2 Margareth de Oliveira MICHEL 3 Universidade Católica de Pelotas - RS Resumo: este trabalho tem objetivo de refletir sobre a relação entre comunicação e política, pois os meios de comunicação de massa tem transformado a política em um espetáculo de sedução, no jornalismo e na publicidade (FERRÉS, 1998). Meios de comunicação e política estão diretamente envolvidos e mobilizam o público, encantam e despertam paixão. Os grandes conglomerados em que se tornaram as empresas de comunicação e a acirrada concorrência entre elas, contribuíram para a diluição das fronteiras entre jornalismo e publicidade. Marshall (2003) afirma que o processo de comunicação, no mundo pós-moderno, trata cada vez mais a informação como mercadoria. Como estudante de Jornalismo, interessado nas práticas profissionais e sua relação com a sociedade estou desenvolvendo um projeto inicial de pesquisa nesta área e esta é a reflexão exploratória que analisa o tema “Mídia e Política”. Palavras-Chave: Jornalismo, Publicidade, Política, Espetáculo Midiático. Introdução Mídia e Política estão intimamente ligados na atualidade: há os eventos próprios da política em que a mídia se faz presente, e ocorre também a presença da política nas questões relativas à mídia. Mídia e política também estão intimamente ligadas em períodos eleitorais, quando os candidatos a cargos políticos utilizam os meios de comunicação de massa na divulgação de suas plataformas políticas. Gomes (2004) estuda a relação entre as categorias „comunicação e política‟, constatando que, como processo, a comunicação envolve a atividade da política, e que muitos aspectos da vida política se constituem em tipos de comunicação. O autor, por intermédio de seus estudos, ressalta que nas quatro últimas décadas salta aos olhos a velocidade com que “um modelo de interface entre as esferas da comunicação de massa e da política se estabeleceu e se espalhou pelo mundo” (2004, p.23). O autor destaca 1 Trabalho apresentado no Intercom Júnior - Jornada de Iniciação Científica em Comunicação- IJ 08 - Estudos Interdisciplinares da Comunicação do XII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul e realizado de 26 a 28 de maio de 2011. 2 Estudante de Graduação 3º. semestre do Curso de Jornalismo daUCPEL, email: [email protected] 3 Mestre em Desenvolvimento Social e Mestre em Lingüística Aplicada UCPEL, docente do Centro de Educação e Comunicação da UCPEL/RS, orientadora do trabalho, email: [email protected]

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Este trabalho tem objetivo de refletir sobre a relação entre comunicação e política, pois os meios de comunicação de massa tem transformado a política em um espetáculo de sedução, no jornalismo e na publicidade (FERRÉS, 1998). Meios de comunicação e política estão diretamente envolvidos e mobilizam o público, encantam e despertam paixão. Os grandes conglomerados em que se tornaram as empresas de comunicação e a acirrada concorrência entre elas, contribuíram para a diluição das fronteiras entre jornalismo e publicidade. Marshall (2003) afirma que o processo de comunicação, no mundo pós-moderno, trata cada vez mais a informação como mercadoria. Como estudante de Jornalismo, interessado nas práticas profissionais e sua relação com a sociedade estou desenvolvendo um projeto inicial de pesquisa nesta área e esta é a reflexão exploratória que analisa o tema “Mídia e Política”.

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  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sul Londrina PR - 26 a 28 de maio de 2011

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    Jornalismo, Publicidade e Poltica:espetculo miditico 1

    Felipe SOARES

    2

    Margareth de Oliveira MICHEL3

    Universidade Catlica de Pelotas - RS

    Resumo: este trabalho tem objetivo de refletir sobre a relao entre comunicao e

    poltica, pois os meios de comunicao de massa tem transformado a poltica em um

    espetculo de seduo, no jornalismo e na publicidade (FERRS, 1998). Meios de

    comunicao e poltica esto diretamente envolvidos e mobilizam o pblico, encantam e

    despertam paixo. Os grandes conglomerados em que se tornaram as empresas de

    comunicao e a acirrada concorrncia entre elas, contriburam para a diluio das

    fronteiras entre jornalismo e publicidade. Marshall (2003) afirma que o processo de

    comunicao, no mundo ps-moderno, trata cada vez mais a informao como

    mercadoria. Como estudante de Jornalismo, interessado nas prticas profissionais e sua

    relao com a sociedade estou desenvolvendo um projeto inicial de pesquisa nesta rea

    e esta a reflexo exploratria que analisa o tema Mdia e Poltica.

    Palavras-Chave: Jornalismo, Publicidade, Poltica, Espetculo Miditico.

    Introduo

    Mdia e Poltica esto intimamente ligados na atualidade: h os eventos

    prprios da poltica em que a mdia se faz presente, e ocorre tambm a presena da

    poltica nas questes relativas mdia. Mdia e poltica tambm esto intimamente

    ligadas em perodos eleitorais, quando os candidatos a cargos polticos utilizam os

    meios de comunicao de massa na divulgao de suas plataformas polticas.

    Gomes (2004) estuda a relao entre as categorias comunicao e poltica,

    constatando que, como processo, a comunicao envolve a atividade da poltica, e que

    muitos aspectos da vida poltica se constituem em tipos de comunicao. O autor, por

    intermdio de seus estudos, ressalta que nas quatro ltimas dcadas salta aos olhos a

    velocidade com que um modelo de interface entre as esferas da comunicao de massa

    e da poltica se estabeleceu e se espalhou pelo mundo (2004, p.23). O autor destaca

    1 Trabalho apresentado no Intercom Jnior - Jornada de Iniciao Cientfica em Comunicao- IJ 08 - Estudos

    Interdisciplinares da Comunicao do XII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sul e realizado de 26 a

    28 de maio de 2011. 2 Estudante de Graduao 3. semestre do Curso de Jornalismo daUCPEL, email:

    [email protected] 3 Mestre em Desenvolvimento Social e Mestre em Lingstica Aplicada UCPEL, docente do Centro de

    Educao e Comunicao da UCPEL/RS, orientadora do trabalho, email: [email protected]

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    tambm vrios aspectos desta relao: para ele fica claro que a poltica contempornea

    se estabelece numa estreita relao com a comunicao de massa e que os agentes

    polticos

    tendem a atuar para a esfera de visibilidade pblica controlada pela

    comunicao, que grande parte (seno tudo) da poltica se encerra nos

    meios, linguagens, processos e instituies da comunicao de massa,

    que a presena da televiso alterou a atividade poltica e exigiu a

    formao de novas competncias e habilidades no campo poltico que

    lhe transformaram significativamente a configurao interna.

    (GOMES, 2004, p.23-24)

    O fator emocional e as informaes que fogem do consciente humano esto

    cada vez mais presentes na sociedade e, principalmente, no cenrio poltico. As

    campanhas tornaram-se verdadeiros espetculos, idias no so mais importantes

    segundo Ferres (1998). Juventude, capacidade de apresentar-se na televiso,

    composio fsica, gestos, so fatores cada vez mais relevantes para as campanhas

    polticas. Nesses pequenos detalhes so definidos cargos como prefeitos, governadores e

    presidentes. A utilizao de informaes mascaradas e implcitas, influencia de maneira

    grandiosa na disputa eleitoral. Propagandas possuem cada vez menos discurso poltico e

    ideolgico e mais apelo emocional. A sociedade atacada diariamente por diversas

    informaes que fogem do seu racional em propagandas polticas e, at mesmo, em

    outras reas, como cinema.

    A disputa poltica toma rumos que ignoram a prpria posio poltica. Percebe-

    se cada vez mais eleitores volveis com relao sua deciso poltica, o que mostra que

    no existe mais uma fidelidade partidria na sociedade. Nesse contexto segundo

    Marshall (2003), o novo paradigma do jornalismo ps-moderno incorporou

    novas premissas e passou a relativizar os conceitos de verdade, de

    realidade, de conhecimento, de informao, de saber etc. Os discursos

    da publicidade e da esttica, e junto com eles do sensacionalismo, da

    espetacularizao, da carnavalizao, da mais-valia, dos fait divers,

    inoculam o ethos do jornalismo.

    Segundo Marshall, o jornalismo transforma-se em um jornalismo cor-de-rosa,

    termo criado por Howard Kurtz, que utiliza essa expresso para denominar esse tipo de

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    jornalismo estrategicamente preparado para no desagradar ningum, seja leitor,

    usurio, consumidor, cliente, dono ou anunciante. Aqui temas como o sensacional e o

    popular, a padronizao dos produtos e as manifestaes da indstria cultural e seu impacto no

    conjunto da sociedade se mesclam e aproximam o jornalismo da publicidade, onde aparecem as

    facetas do sensacionalismo e chamam a ateno para as relaes sociais em que as emoes

    imperam. J na rea da Publicidade acontece a primazia da mercadoria na cultura do espetculo

    em que a mdia aparece com funo de incrementar o consumo na sociedade, onde a linguagem

    hegemnica da publicidade coisifica as pessoas e humaniza as coisas.

    Ocorre ento uma relao direta e aproximativa entre os sistemas e os meios de

    comunicao de massa, os novos recursos tecnolgicos audiovisuais, a poltica e a

    sociabilidade contempornea, que no se configura como a sociabilidade voltada para o

    grupo, para a comunidade, mas que altera o modo de estar no mundo, senti-lo, pens-lo

    e perceb-lo. Ao se caracterizar como campo social e se apoderar do ato de tornar as

    coisas pblicas, a mdia aprisiona e controla a visibilidade social, fazendo dela o uso

    mais conveniente, realizando o agendamento dos temas relevantes do momento poltico.

    Esse agendamento tanto ocorre no jornalismo quanto na publicidae.

    O Imprio das Emoes

    A partir da leitura de Ferres (1998) quando se refere mdia como O imprio

    das emoes , possvel perceber, principalmente, que o indivduo deixa a razo de

    lado quando se fala em propaganda poltica. As decises so tomadas se baseando na

    imagem que determinado candidato forma. Cada vez mais a opinio pblica se forma

    por instinto. As propagandas so de grande importncia no cenrio poltico. Elas

    massacram os indivduos de tal forma que estes no so capazes de se defender da

    informao apresentada e o seu inconsciente acaba dominando o seu consciente. Esse

    o mtodo mais utilizado para se eleger determinado candidato.

    As idias so totalmente secundrias na publicidade poltica. O importante a

    imagem, os sentimentos e o imaginrio gerado. As decises so puramente irracionais.

    Existem diversos mtodos para manipular o inconsciente humano, desde determinada

    posio das cmeras, para causar uma imagem de soberania do candidato, a repetio de

    informaes, que mesmo quando no so totalmente verdadeiras, acabam influenciando

    o indivduo, entre outros (Ferres (1998).

    Cada vez mais as eleies so decididas no carter publicitrio e na seduo do

    relato jornlstico. As ideologias so deixadas de lado e as pessoas votam em quem

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    consideram que passa uma imagem melhor. A consistncia poltica no mais

    importante, mas sim o personagem criado pelos publicitrios polticos.

    As Campanhas Eleitorais Como Encenao

    O principal motivo do apelo emocional poltico a televiso. Depois da criao

    desta, os apelos ao inconsciente humano cada vez maior. As propagandas e o

    marketing poltico passam a fazer parte constante das campanhas. Os ideais partidrios

    cada vez possuem menor importncia dentro do cenrio poltico. Algumas

    caractersticas foram incorporadas em campanhas para influenciar cada vez mais o

    eleitor. Os anncios polticos, cada vez de menor tempo, no so mais para expor idias

    ou projetos, mas cada vez se assemelham mais com propagandas de produtos comercias,

    criando uma falsa realidade que transmite conforto e segurana ao pblico.

    A motivao outro ponto importante. Para conquistar votos, um candidato

    precisa conquistar a confiana do eleitorado e, para isso, os eleitores devem estar

    motivados e satisfeitos com o que apresenta o poltico. So usadas tcnicas de pesquisas

    motivacionais em discursos, para, desta forma, conquistar de vez a confiana dos

    eleitores.

    A campanha eleitoral passa a ser, cada vez mais, um espetculo. Este conta

    muito mais do que as ideologias do candidato ou do partido. A aparncia frente s

    cmeras mais importante do que o contedo e a bagagem poltica. At mesmo tcnicas

    teatrais so utilizadas para maior eficcia da campanha. Tcnicas de humor tambm so

    muito utilizadas, so capazes de cativar o eleitorado.

    A capacidade de comunicao, ento, passa a sobrepor-se capacidade de gestor

    estadista. No mais importante a capacidade que o candidato possui de governar

    dentro de seu cargo, o importante saber se expressar frente s cmeras, saber cativar o

    povo. Os motivos afetivos acabam sendo mais levados em conta do que os racionais.

    (FERRS, 1998)

    A Primazia da Seduo

    Com toda a capacidade de propaganda dentro de campanhas, os candidatos

    passam a contratar assessores de imagem e publicitrios para melhorar a sua imagem.

    Grandes jogadas de marketing e boas propagandas so mais importantes do que um bom

    projeto de governo ou alguma grande inovao na arte de governar.

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    O discurso poltico perde o foco nas idias. Ele passa a assemelhar-se cada vez

    mais com discursos publicitrios. Passa a ter um carter de seduo e no mais de

    convencimento racional. essencial criar uma imagem boa do candidato, este passa a

    ser um produto. E, como em propagandas comuns, esse produto vendido muito mais

    por sensaes de bem estar e de prazer do que por suas utilidades. Outros fatores

    passam a tornar-se importantes. A fotogenia, a juventude, a confiana apresentada, alm

    de alguns outros pontos so muito levados em conta. Um candidato que se apresenta

    melhor frente s cmeras ter maior probabilidade de ganhar a eleio, o candidato mais

    jovem tambm possui certa vantagem, a juventude inspira renovao, atitude, mudana.

    Na televiso a imagem apresentada e o estilo sobrepem o contedo. O

    candidato, que agora um produto, cria em sua volta uma imagem gratificante. A

    aparncia essencial.

    As pesquisas polticas tambm so fatores de grande influncia. Por dois lados,

    sempre voltados aos indecisos. Existem pessoas que quando no sabem em quem votar,

    vo com a maioria, para ter o sentimento de vitria, de gratificao. Em contraponto,

    indivduos votam em quem dever perder, como forma de solidariedade com o

    candidato. A semelhana entre esses dois tipos de eleitores justamente o critrio

    utilizado, a ideologia no mais influi, mas o importante justamente a emoo para se

    tomar a deciso.

    Devido a todos esses fatores de grande influncia, explica-se o motivo de

    polticos procurarem tanto a utilizao da televiso. justamente um cenrio ideal para

    o espetculo, para as emoes.

    Alguns polticos ainda possuem comando sobre determinados meios de

    comunicao, como jornais, rdios e a prpria televiso. Esse controle importante para

    a formao da imagem. Notcias so filtradas antes de publicadas. A construo da

    imagem do candidato possui um elo muito ligado a esses meios. Assim jornalismo e

    publicidade se fundem a servio do espetculo poltico na mdia.

    A Trivializao da Seduo

    Estudos comprovam que um discurso explcito, de pura ideologia, ativa os

    mecanismos de defesa do consciente do receptor. Por outro lado, a seduo capaz de

    burlar essa defesa, penetrando diretamente no inconsciente. Sendo assim, as

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    informaes que vo direto ao inconsciente possuem um poder muito maior na mente

    do indivduo.

    Para amenizar a rejeio do eleitorado, necessrio evitar a apresentao das

    consequncias poltico ideolgicas. Assim o indivduo, sem suas defesas racionais

    ativadas, vai sendo seduzido pelo discurso do candidato. Fatos de pouca importncia

    poltica so utilizados para transformar a imagem de candidatos. Justamente pelo poder

    de seduo e no da racionalidade que o eleitorado se rende to facilmente aos dados

    apresentados. A montagem de cena ou de um cenrio adequado de grande importncia

    em campanhas. Os gestos ou modo de se portar do candidato tambm possui influncia

    direta no eleitor. Todos esses pequenos detalhes so capazes de mudar o rumo de uma

    eleio.

    J nas propagandas, algumas caractersticas tambm so importantes. Quanto

    menor o tempo de exibio, maior a ateno depositada na mesma. A publicidade se

    torna cada vez mais um flash em meio s programaes de televiso. Uma linguagem

    simples e acessvel, sem a utilizao de muitos termos tcnicos, alm de aumentar a

    publicidade, aproximam o candidato do eleitor. Discursos muito longos ou complicados

    podem causar certa rejeio por parte do eleitorado. Falas ou propagandas que exigem

    um raciocnio muito extenso tambm, visto que grande parte da sociedade no gosta de

    ficar pensando enquanto assiste uma propaganda ou discurso eleitoral, alm de ter

    facilidade para esquecer informaes apresentadas. Os slogans passam a ter um papel

    importante nas campanhas. Quanto mais repetida a informao, mais real ela se torna.

    Restringir pontos negativos do candidato tambm importante.

    A Rejeio das Ideologias

    A imagem ganha cada vez mais espao que antes era da ideologia poltica. Os

    valores funcionais e racionais no so mais importantes. As emoes e a irracionalidade

    possuem grande peso em relao ao eleitorado. A utilizao de relatos de pessoas

    muito utilizada em propagandas ou programas polticos. Esses no ativam os

    mecanismos de defesa do crebro humano, ento vo direto ao inconsciente, tornando-

    se uma verdade absoluta.

    A fidelidade ideolgica cada vez menos comum no cenrio poltico. O eleitor

    torna-se uma pea extremamente volvel em relao ao seu voto. As ideologias

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    partidrias no tm mais importncia. Frases de impacto so muito utilizadas. Curtas e

    com grande referncia emocional, passam a ser uma importante arma na corrida

    poltica. Frases que no dizem nada, mas causam impactos, so mais importantes do que

    informaes importantes, relativas a projetos ou modo de governo.

    A Poltica e a mdia na histria: Goebbels , a Poltica Ianque e Mitterrand

    Goebbels sempre foi contra a propaganda explcita, preferia a apresentao de

    ideologias por meio do entretenimento. Ele foi um fator essencial para a consolidao

    do nazismo e conforme seu conceito a propaganda deve influenciar e modificar o

    indivduo sem que este perceba. O indivduo torna-se quase uma marionete de quem

    responsvel por propagandas que apelam s emoes.(FERRS, 1998)

    O nazismo teve grande crescimento devido justamente a este cunho emocional

    de suas propagandas e de sua publicidade. O nazismo se limitava a tratar do

    inconsciente. Goebbels afirmava que para um maior xito da propaganda necessrio

    afirmar, repetir e dar exemplos.

    As propagandas implcitas chamam a ateno do pblico, ao contrrio das

    explcitas. O cinema um meio utilizado como entretenimento ideologizado. As

    pessoas recebem estmulos e informaes sem que percebam, modificando o seu modo

    de pensar e agir. Desta forma, na liturgia nazista, uma imagem gerada em um filme ou

    propaganda pode se tornar uma realidade fictcia para o espectador. Sem que este

    perceba, as informaes jogadas ao seu inconsciente se tornam uma falsa realidade. Isso

    era muito utilizado pelos nazistas.

    A representao visual carter de grande influncia para a eficcia ou no no

    poder. Dependendo da forma como se porta frente aos meios de comunicao, em

    especial a televiso, um governante pode possuir cada vez mais confiana e apoio.

    A apresentao frente s cmaras e em discursos passa a ser ainda mais

    importante em pocas de crise. Nesta situao, o povo busca cada vez mais por pessoas

    de grande carisma.

    Na Romnia dos anos 70 foram apresentados alguns ensinamentos para a

    manipulao social: programas compostos por pura ideologia poltica no so bem

    aceitos pela populao, ainda mais quando so de grande durao. A opresso outro

    fator que atrapalha a imagem do governante. Forar a populao a ter apenas uma grade

    de programao, ainda mais quando so somente programas de ideologias polticas,

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    um fator negativo. O governante perde a confiana do povo e este procura por outros

    meios de se informar.

    A Propaganda Poltica Ianque

    Tony Schwartz, assessor poltico, afirma que no h uma clara manipulao da

    opinio pblica. As pessoas que participariam de sua prpria manipulao, estas tem a

    escolha de aderir ou no a manipulao publicitria. Existe um fato que Schwartz no

    considerou. O carter emocional das propagandas adormece os mecanismos de defesa e

    o discernimento consciente das pessoas. Ou seja, o indivduo no tem escolha frente aos

    mtodos de propaganda utilizados. O voto muito mais emocional do que racional. As

    campanhas polticas so como uma pea de teatro. A poltica um claro jogo de

    aparncias, quem possuir uma melhor aparncia, um melhor desempenho teatral, ter

    vantagem frente aos seus concorrentes.

    O aspecto fsico, de nenhuma relevncia poltica, fator importante para a

    definio do rumo das eleies. Candidatos muito baixos, por exemplo, possuem um

    menor desempenho frente s cmeras. Os candidatos so escolhidos devido ao seu

    desempenho nos meios de comunicao, em especial a televiso. A capacidade

    administrativa no mais importante, o importante a aparncia.

    Paradoxo de Mitterrand

    No mais necessrio convencer pessoas com dados, projetos e ideologia.

    preciso apenas seduzir o eleitor. Ganhar a confiana deste por meio do emocional. O

    afetivo o fator mais importante. O que vem das emoes e afetos supera a informao

    racional. O carter ideolgico colocado em segundo plano. O apelo ao inconsciente

    quem d rumo campanha poltica. No caso de Mitterrand, que possua grande fama de

    sempre perder, possvel ver a capacidade de mudar conceitos e influenciar opinies

    por meio da propaganda. Com o uso de uma forte campanha publicitria, Mitterrand

    extinguiu sua fama de sempre perder e ganhou as eleies, tudo devido jogada

    publicitria.

    Concluso

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    possvel perceber a grande influncia do jornalismo, da publicidade, do

    marketing e das propagandas nas campanhas eleitorais. Os indivduos so, cada vez

    mais, movidos pelo seu inconsciente e por informaes apresentadas por meio de

    emoes. O marketing poltico ignora a existncia de ideologias e projetos. Tudo passa

    apenas pela aparncia e sentimentos que passa o candidato. O importante no mais ter

    qualidade no trabalho poltico ou projetos que tenham intuito de melhorar a situao

    social, mas apenas o modo como se comporta frente s cmeras.

    O grande espetculo poltico atual muito maior que o eleitor seja capaz de

    perceber. Inmeras tcnicas so utilizadas para maior eficcia. Discursos motivacionais,

    montagem de cenas, gestos e roupa adequados, linguagem simples, tcnicas de humor e

    de teatro e muito mais influenciam em decises to importantes na sociedade.

    Alguns fatores facilitam a percepo de que realmente essa influncia existe. As

    propagandas possuem cada vez menos informaes relevantes e cada vez mais frases de

    impacto ou slogans. A eleio se torna uma corrida de quem possui melhor desempenho

    teatral ou na televiso. As melhores propostas e a ideologia partidria so fatores

    secundrios, e se pode perceber isto na prtica dos profissionais de comunicao, no

    contedo veiculado pelos meios de comunicao de massa e na prpria prtica poltica.

    REFERNCIAS

    FERRS, Joan. Televiso subliminar Socializando atravs de Comunicaes Despercebidas. Porto Alegre. Ed. ArtMed, 1998

    MARSHALL, L. O jornalismo na era da publicidade. 1.ed.So Paulo: Summus,

    2003.

    GOMES, Wilson. Transformaes da poltica na era da comunicao de massa.

    So Paulo: Paulus, 2004