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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO ROGÉRIO ALMEIDA ALVARENGA JORNALISMO BRASILEIRO E MEIO AMBIENTE O TRATAMENTO DAS QUESTÕES AMBIENTAIS PELAS REVISTAS “ISTOÉ” E “EPOCA” Salvador 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

ROGÉRIO ALMEIDA ALVARENGA

JORNALISMO BRASILEIRO E MEIO AMBIENTE

O TRATAMENTO DAS QUESTÕES AMBIENTAIS PELAS REVISTAS “ISTOÉ” E

“EPOCA”

Salvador

2005

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ROGERIO ALMEIDA ALVARENGA

JORNALISMO BRASILEIRO E MEIO AMBIENTE

O TRATAMENTO DAS QUESTÕES AMBIENTAIS PELAS REVISTAS “ISTOÉ” E

“EPOCA”

Monografia apresentada ao Colegiado do Curso de

Graduação em Jornalismo, da Faculdade de Comunicação,

Universidade Federal da Bahia, para conclusão do curso

de Jornalismo.

Orientadora: Simone Bortoliero

Salvador

2005

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AGRADECIMENTOS

Agradeço:

À minha mãe Dilza, por acreditar na mudança de rumo que escolhi ao começar a estudar

comunicação; por todo apoio e conversas sobre a vida.

A meu pai João, que me serve como exemplo de alguém que superou as dificuldades da vida

com dedicação ao trabalho e aos estudos.

À minha querida Analu, a quem muito devo meu interesse por estudar e saber respeitar a

natureza.

À minha orientadora Simone, que encarou este trabalho como uma verdadeira parceria, e

muito me ajudou a entende-lo melhor.

Aos professores que, mesmo sem saber, me estimularam e me incentivaram a estar aqui, hoje.

A toda minha minha família e meus amigos.

E, em especial, àqueles cuja solidariedade, senso de coletividade e lição de vida me fazem

sentir alegre e agradecido a cada manhã.

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3

“Se cada página da história nazista tivesse sido escrita no

momento em que ocorreu e oferecida para discussão ao

povo alemão, é difícil crer que o Holocausto tivesse

ocorrido”

Peter Singer, 2004.

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RESUMO

Este trabalho analisa o modo como as revistas ISTOÉ e ÉPOCA abordam as questões

ambientais e de que forma refletem a visão que a sociedade contemporânea tem de natureza.

Por sua capacidade de reunir diversos campos de conhecimento e por sua importãncia em

nosso mundo globalizado, a problemática ambiental tratada pela mídia requer uma sequência

de estudos acadêmicos para ser melhor compreendida e funcionar como instrumento de busca

de um jornalismo responsável social e ambientalmente. Pretende-se, através deste estudo,

obter um recorte do comportamento do jornalismo brasileiro atual diante de temas tão

evidentes como o aquecimento global, os maus-tratos a animais e o futuro incerto da

humanidade. A análise é feita a partir de matérias veiculadas em diversas editorias de ISTOÉ

e ÉPOCA em dois períodos distintos dos anos de 2004 e 2005. Através de categorias de

análise baseadas em critérios de noticiabilidade e elementos jornalísticos que formam a

essência dos estudos do jornalismo, torna-se possível compreender as implicações da forma

como são divididas as editorias e do modo como são abordados os temas. Sabe-se que a

cobertura ambiental na mídia encontra limitações como a falta de um jornalismo

especializado no assunto e a ausência do tema em editorias relacionadas, a exemplo de

economia, política ou local. Estas limitações são reforçadas pelos resultados obtidos neste

trabalho, tais como a verificação de uma predominância de abordagens factuais, de notícias

em forma de espetáculo e do interesse comercial frente a reportagem, a seriedade e a

importância pública da degradação do meio ambiente.

Palavras-Chave: Jornalismo – Meio Ambiente – Cultura – Sociedade – Globalização

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 6

1. CULTURA E MEIO AMBIENTE 9

1.1 SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E CAPITALISMO GLOBAL 9

1.2 CONCEPÇÕES DE NATUREZA 11

1.3 A CULTURA ECOLÓGICA 13

2. COMUNICAÇÃO E MEIO AMBIENTE 15

2.1 A COMUNICAÇÃO E O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES 15

2.2 A NATUREZA NA MÍDIA 17

3. O JORNALISMO BRASILEIRO 19

3.1 DAS ORIGENS AOS DIAS DE HOJE 19

3.2 CARACTERÍSTICAS DO JORNALISMO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO 21

3.2.1 O Espetáculo da Notícia 23

3.2.2 Jornalismo de Revista 24

4. JORNALISMO AMBIENTAL 27

4.1 A DÉCADA DE 70 E A QUESTÃO AMBIENTAL 27

4.2 A DÉCADA DE 90 E A RIO 92 29

4.3 O PANORAMA ATUAL 30

5. ANÁLISE DO TRATAMENTO DAS QUESTÕES AMBIENTAIS PELAS

REVISTAS “ISTOÉ” E “ÉPOCA” 32

5.1 AS EDITORIAS E O PROBLEMA DA DICOTOMIA HOMEM/NATUREZA 34

5.1.1 Revista “ÉPOCA” e Seção “Meio Ambiente” 34

5.1.2 Revista “ISTOÉ” e Seção “Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente” 35

5.2 ABORDAGENS FACTUAIS E REPORTAGENS 36

5.3 UM SHOW DE NATUREZA 39

5.3.1 A Natureza na UTI 40

5.3.2 Criaturas Incríveis 41

5.4 A PUBLICIDADE 44

6. CONCLUSÕES 47

REFERÊNCIAS 50

APÊNDICES 52

ANEXOS 57

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INTRODUÇÃO

O mundo contemporâneo convive com transformações cada vez mais rápidas. O

avanço tecnológico tem modificado o modo de vida e de relações sociais dos seres humanos.

A expansão da Internet possibilita a pesquisa e o debate sobre assuntos antes limitados a

meios acadêmicos. Por outro lado, o desenvolvimento da tecnologia também nos tornou

reféns do produtivismo, do consumismo, e da exploração descontrolada da natureza. A

globalização, que permitiu uma maior visibilidade dos diversos valores étnicos e culturais,

acelera, em contrapartida, a padronização e homogeneização dos produtos culturais.

Neste momento histórico de paradoxos, de transformações rápidas e incertezas

sobre o futuro, a mídia exerce um papel de extrema importância. Ao lado da escola, da

família, dos grupos sociais e de outras instituições, ela contribui para o modo como a

sociedade contemporânea concebe a natureza e os problemas ambientais.

O jornalismo brasileiro vem abordando as questões ambientais há cerca de 30

anos, mas até hoje o chamado "Jornalismo Ambiental" ainda é marginalizado nos veículos e

nas faculdades de comunicação. Os jornalistas que seguiram esta tendência se formaram

dentro das editorias de política, nacional e internacional, a partir do momento em que

temáticas ambientais ganhavam relevância. Muitos deles eram engajados em movimentos

ambientalistas, ajudaram a constituir a conturbada história do jornalismo ambiental brasileiro

e a formar o cidadão preocupado com a sociedade e a natureza com as quais se relaciona.

Poucos veículos jornalísticos contam com jornalistas especializados em meio

ambiente, área central para o entendimento de diversas problemáticas de nossos dias, tais

como a poluição do ar, da água, o aquecimento global, a produção de lixo, os maus-tratos aos

animais e o desmatamento desenfreado, dentre outras; e suas implicações sócio-econômicas,

como a injustiça social, a fome e as epidemias. Ao mesmo tempo, a questão ambiental, por

sua capacidade de agregar vários campos de conhecimentos, poderia estar representada em

editorias-chave como a economia, política ou local.

Os esforços isolados de jornalistas especializados em meio ambiente ou

conscientes de que a questão ambiental está presente em outras áreas de conhecimento não

têm sido suficientes para evitar escândalos como o esquema de exploração ilegal de madeira

no Mato Grosso, que contou com o apoio de membros do IBAMA; ou, a nível local, a

matança de cachorros como conduta básica do Centro de Zoonoses de Salvador. Neste caso

em particular, a imprensa local, através de apuração do jornal A Tarde, contribuiu para tornar

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o fato visível e acelerar a assinatura de termos de ajuste de conduta, através dos quais a

prefeitura se comprometia a seguir a metodologia recomendada pela ONU para o combate à

raiva e ao aumento de cães abandonados.

Diante da importância de entendermos o vínculo direto entre melhoria da

qualidade de vida e preservação da natureza, e de compreendermos que nossas relações com o

meio ambiente são parte fundamental para a formação do nosso futuro, resolvemos estudar a

concepção de natureza de duas revistas de largo alcance em nosso país: ISTOÉ e ÉPOCA.

Esperamos que esta escolha possa significar um bom recorte do que é, hoje, o jornalismo

brasileiro que atinge a maior parte do território.

No capítulo 1, "Cultura e Meio Ambiente", discutiremos como se formou o

capitalismo global e quais suas implicações para a concepção de natureza de nossa sociedade

e para a formação de uma cultura ecológica. Em seguida, o capítulo 2, "Comunicação e Meio

Ambiente", traz à tona o papel das instituições e da mídia para a formação de nosso conceito

de natureza.

O capítulo 3, "Jornalismo Brasileiro", mostra o histórico das práticas jornalísticas

no Brasil, até chegarmos às características atuais de uso de recursos gráficos, linguagem,

gêneros, critérios de noticiabilidade e espetacularização da notícia. A tendência às

especializações nos leva a discutir o "Jornalismo Ambiental" no capítulo 4: suas origens, seus

destaques, a Rio 92 e a situação atual.

A análise de revistas, através da escolha de 24 edições, divididas em dois

períodos, é discutida no capítulo 5, "Análise do tratamento das questões ambientais pelas

revistas ISTOÉ e ÉPOCA". A metodologia, baseada em estudos jornalísticos descritos no

capítulo 3, introduz a análise, dividida em quatro categorias: existência ou não de editorias

(Cap. 5.1); abordagens factuais e reportagens (Cap. 5.2); notícia como espetáculo (Cap. 5.3); e

presença da publicidade nos meios (Cap. 5.4).

Por fim, o capítulo 6 é dedicado às conclusões, através do qual são apresentadas a

síntese das discussões realizadas ao longo da análise e as sugestões para novas pesquisas na

área de jornalismo ambiental.

Entendendo como ocorre a cobertura da questão ambiental pelo jornalismo

nacional, poderemos compreender quais as possibilidades de ser constituído um jornalismo

responsável social e ambientalmente. Poderemos, ainda, buscar formas de torná-lo forte e

viável; de expandir a educação ambiental em nossa sociedade e em instituições como escolas,

faculdades, família e jornais. Afinal,

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[...] O profissional de imprensa do futuro não poderá ser mais um mero

transmissor de notícias, mas um ser humano que, tão sensível e vulnerável

feito uma árvore ou um passarinho, possa pensar globalmente e agir

localmente em defesa de sua sobrevivência como espécie vivente (Firmino

apud RYGAARD, 2002, p.7)

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1. CULTURA E MEIO AMBIENTE

Num primeiro momento, poderíamos imaginar que há um enorme abismo entre os

estudos sobre cultura e aqueles que tratam do meio ambiente. Para entendermos de que

maneira ocorrem os vínculos entre estes dois vastos campos de conhecimento, se faz

necessária a compreensão das diferentes visões de natureza que coexistem nos dias de hoje.

1.1 SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E CAPITALISMO GLOBAL

O tema globalização, bem como o choque entre capitalismo e ecologia, têm estado

em evidência nos últimos anos. O avanço de um sistema político-econômico que nas últimas

décadas promoveu a aceleração da desigualdade social e a deterioração do meio ambiente

começa a encontrar alguns tipos de resistência. Dentre elas, a expansão do discurso anti-

globalização e anti-capitalismo. Na América Latina, governantes da chamada “esquerda”

estão sendo eleitos pelo voto do povo – embora possamos perguntar que tipo de política

esquerdista está sendo constituída. A crítica ao capitalismo extrapola o território ocidental e

atinge grande parte de mundo. Cabe a nós responder à seguinte pergunta: que tipo de

capitalismo existe nos dias de hoje?

Fritjof Capra (2003) usa o termo capitalismo global para designar uma nova fase

do sistema capitalista que advém da globalização. Até então, grande parte das potências

desconsiderava a rede comercial global que se formava. A grave crise do petróleo nos anos 70

marcou o impasse desse tipo de economia (CAPRA, 2003, p. 147).

Ao mesmo tempo em que o capitalismo vigente pedia reforma, o comunismo

soviético conhecia a perestroyka de Gorbachev – uma gradual abertura ao mercado

internacional. A tecnologia da informação evoluía rapidamente e, somada à abertura de novos

mercados, impulsionava um modo de produção baseado no tempo real e no mundo todo. Em

outras palavras, uma negociação entre países de pólos opostos passa a ocorrer

instantaneamente, dado o desenvolvimento e a velocidade dos fluxos financeiros.

A primeira conseqüência direta deste modelo político-econômico para a

distribuição de recursos no mundo é que, quanto mais desenvolvidas sejam suas tecnologias e

quanto maior a reserva financeira, mais promissor o futuro do país. E vice-versa. Uma crise

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10

que para um país de primeiro mundo seria passageira, para um país subdesenvolvido1 traz

enormes conseqüências, como o aumento da taxa de juros e o endividamento (CAPRA, 2003,

p.151).

Assim, os países ricos serão potencialmente mais ricos num futuro próximo, e os

pobres, potencialmente mais pobres. E a situação já caminha nessa direção, pois

[...] o abismo entre os ricos e os pobres aumentou significativamente, tanto

em nível internacional quanto dentro de cada país. Segundo o Relatório de

Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, a diferença de renda per

capita entre o Norte e o Sul do globo triplicou de 5.700 dólares em 1960 para

15.000 dólares em 1993. Dentre os habitantes da Terra, os vinte por cento

mais ricos são donos de oitenta e cinco por cento da riqueza mundial, ao

passo que os vinte por cento mais pobres (que representam oitenta por cento

da população mundial) são donos de apenas 1,4 por cento [dados da UNDP –

United Nations For Development Programme, 1996]” (CAPRA, 2003, p.

155)

Estatisticamente, o agravamento da desigualdade social é um ponto de discórdia

entre autores. Lomborg (2002) acredita que o mais válido seria observar quanto realmente

vale um dólar em um país desenvolvido e em um país subdesenvolvido. Prefere utilizar o

índice que se baseia no preço do Big Mac em cada país, e desta forma, conclui que a

desigualdade não está aumentando. De qualquer forma, a existência desta desigualdade

enquanto problema grave e relacionado à ética predominante em nossa sociedade é senso

comum entre os diversos pesquisadores.

Os problemas ambientais derivados do modo de vida desta mesma sociedade

também são objeto de discórdia. Embora a influência antrópica para o processo de

aquecimento global seja um ponto de convergência de diversos trabalhos científicos, o nível

de perigo que isso representa ainda é incerto. Certeza mesmo é que, por trás deste processo de

degradação ambiental existem vários fatores em jogo. Singer (2004), com uma linguagem

simples e direta, ilustra bem como o capitalismo global pode reunir desigualdade social,

prejuízos ambientais e questões éticas num mesmo contexto:

[...] em nossos dias, os problemas do buraco da camada de ozônio e das

mudanças climáticas trouxeram à tona uma nova e estranha espécie de

assassinato. O nova-iorquino que põe desodorante nas axilas usando um

aerossol que contém CFC’s ajuda a matar, por câncer de pele, muitos anos

mais tarde, pessoas que vivem em Punta Arenas, no Chile. Quando dirige seu

1 Utiliza-se muito o termo “países em desenvolvimento” como referência a nações como o Brasil. Entretanto, em

nosso trabalho, optamos por chamá-los de “países subdesenvolvidos”, por não termos a certeza de que estamos,

mesmo, “em desenvolvimento”.

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11

carro, você pode estar liberando o dióxido de carbono que faz parte de uma

fatídica cadeia causal que leva às inundações em Bangladesh (SINGER,

2004, p. 26)

O discurso da sustentabilidade do desenvolvimento surge justamente da crise

desta civilização contemporânea. A globalização colocou em choque a homogeneidade gerada

pelos processos industriais de formação de cultura com a diversidade de valores regionais e

étnicos; a expansão do produtivismo e desenvolvimentismo com o equilíbrio da natureza.

Respeitar os valores regionais e introduzir a natureza na esfera da produção, para Leff (2001),

são os processos que podem resultar na sustentabilidade global. Mas esta concepção de

natureza não parece ser aquela que predomina nos nossos dias.

1.2 CONCEPÇÕES DE NATUREZA

O ser humano, resultado de uma complexa evolução das espécies2, constrói a sua

linguagem através de símbolos para os quais são atribuídos valores e significados. Assim,

registra seu passado, vive o presente e planeja o futuro, construindo a sua realidade, a sua

concepção de mundo (DUARTE JÚNIOR, 1994). Da mesma forma, constrói a sua concepção

de natureza, formula valores, se relaciona e se comunica com ela.

A capacidade humana de se envolver socialmente tem origem do desenvolvimento

de sua autoconsciência, ou seja, a consciência de si mesmo. É a partir dela que

compreendemos a capacidade de pensar e de refletir, o que, por muito tempo, foi considerada

uma característica própria do homem (CAPRA, 2003).

Lima ressalta que "nós somos animais" e que "os chimpanzés têm uma estrutura

social complexa". A condição de animal que o homem ocupa é tão evidente para a teoria

evolucionista que somos classificados na mesma ordem dos macacos - a ordem dos primatas

(LIMA, 1994, p.13-16). Mais que isso,

[...] Se classificarmos os chimpanzés como grandes macacos, temos de nos

classificar como grandes macacos, também. Com efeito, a categoria de

"grande macaco" simplesmente não tem sentido quando não inclui também

os seres humanos (CAPRA, 2003, p.69)

A necessidade e a capacidade de comunicação e socialização de um chimpanzé

podem ser bem entendidas através do experimento abaixo descrito:

2 Segundo a teoria evolucionista formulada por Charles Darwin e aceita pela maioria dos cientistas que se

dedicam a estudar a origem do homem, nossa espécie é resultado de uma longa e complexa evolução.

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[...] Nos estudos de "adoção" de chimpanzés, os macaquinhos não eram

tratados como passivas cobaias de laboratório, mas como primatas dotados

de uma forte necessidade de aprender a comunicar-se. Esperava-se que eles

não só adquirissem um conhecimento rudimentar do vocabulário da

gramática da ASL [linguagem de sinais] mais também a utilizassem para

fazer perguntas, comentar as suas próprias experiências e estimular

conversas. Em outras palavras, os cientistas tinham o objetivo de conseguir

entabular uma verdadeira comunicação recíproca com os macacos - e foi

isso, de fato, que aconteceu (CAPRA, 2003, p.71)

Entretanto, ainda que sejamos animais e parte da cadeia evolutiva, nossa

capacidade de comunicar, nossa linguagem falada, os símbolos criados, ou seja, nossa

condição de "produtor e produto da cultura" (LIMA, 1994) nos permite que, hoje, convivamos

com uma infinidade de culturas, de modos de vida, de relações sociais, de ideologias.

Dada a importância da socialização na vida humana para a interpretação de

realidade, do mundo e dos signos em sua volta, cada sociedade entende "natureza" de uma

forma diferente. Bakthin (apud GOMES, 2000) dá especial atenção ao fato de o signo ser

polissêmico, ou seja, permitir vários sentidos, respeitadas as condições particulares e sociais

do indivíduo. Uma árvore pode significar ar puro, vida harmônica, mas também madeira,

venda de móveis e fabricação de papel.

A sociedade capitalista globalizada, aquela cuja ideologia predomina no mundo

atual, enxerga a natureza por fora, como se os seres humanos dela não fizessem parte. O

próprio discurso de preservação da natureza é carregado de antropocentrismo, baseado em

preservá-la apenas por ser útil ao homem. É possível entender esta visão a partir de heranças

seculares. Através de Renée Descartes3, "o homem passa a ser visto como o centro do mundo;

o sujeito em oposição ao objeto, à natureza. O homem, instrumentalizado pelo método

científico, pode penetrar os mistérios da natureza e, assim, torna-se senhor e possuidor da

natureza" (GONÇALVES, 2004, p.33).

Por outro lado, o próprio legado judaico-cristão nos afirmava que o homem havia

sido criado "à imagem e semelhança de Deus", e que os animais e as plantas estariam aqui

para nos servir4. Não era à toa que, na época da Inquisição,

[...] os animais das fazendas eram tratados brutalmente, mas continuavam

sendo uma importante fonte de alimento. Obrigavam-se os animais de carga a

3 Embora muito antes de Descartes já existam evidentes visões antropocêntricas do mundo, certamente o

cartesianismo é uma referência muito forte para o mundo contemporâneo. 4 Apesar de colocar o homem em um patamar superior ao dos outros animais, o cristianismo também prega

valores como a generosidade e o amor ao próximo, o que pode se estender aos animais. Existem, certamente,

milhares de exemplos de cristãos que protegem e defendem os bichos. Nossa intenção ao abordar este assunto é

apenas situar as origens e o desenvolvimento da dicotomia entre homem e natureza.

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trabalharem até cair. Muitos animais selvagens eram torturados por diversão,

como acontecia com touros e outras espécies domésticas. Acossar touros era

defendido como um esporte que testava a coragem e elevava a mente (...) a

Igreja apoiava e encorajava esse tipo de comportamento, porque ele ajudava a

manter a espécie humana no pináculo da criação, superior a todas as outras

formas de vida (MORRIS, 1994, p. 38).

Em nosso mundo atual, continuamos convivendo com os maus tratos aos animais,

seja para a produção da indústria alimentar, ou apenas por entretenimento, sob a forma de

"tradições" como as touradas. Para Morris, “o legado cristão permanece vivo. Ainda nos

consideramos seres superiores com licença para usar o resto do mundo como bem quisermos”

(1994, p. 39).

Hoje, a ciência encontra-se rigorosamente fragmentada em ciências naturais

(aquelas que cuidam da natureza) e ciências humanas (aquelas que cuidam do homem). Em

sentido oposto, cresce dentro da área científica a compreensão de que o estudo do Meio

Ambiente não pode ser desvinculado de diversas áreas disciplinares (LEFF, 2001). A

interdisciplinaridade apresenta-se como uma complexa relação entre campos de conhecimento

como a biologia, a economia, a sociologia e tantos outros.

A economia nos esclarece sobre as vantagens da tecnologia limpa; as ciências de

saúde, sobre doenças originadas pela concentração de lixo nas ruas; a geografia, sobre o uso

adequado de recursos como a água; a sociologia, sobre as relações de exploração do homem

sobre o homem.

1.3 A CULTURA ECOLÓGICA

A defesa e o respeito ao meio ambiente possibilitam o surgimento de uma nova

cultura, que podemos denominar de "cultura ecológica"5. Para Gonçalves, "ao propugnar uma

outra relação dos homens (sociedade) com a natureza, aqueles que constituem o movimento

ecológico estão, na verdade, propondo um outro modo de vida, uma outra cultura" (2004, p.

21).

De fato, não apenas o modo de vestir, de comer, de consumir, mas as relações

sociais concebidas em um determinado contexto definem a cultura (Williams apud GOMES,

2000). E, uma vez que o ambientalismo se interessa tanto pelas relações entre os homens,

5 Ao definirmos a existência de uma “cultura ecológica”, não podemos desprezar as diferenças entre os

movimentos em defesa do meio ambiente e entre as diferentes “correntes ecológicas”. A ecologia profunda, ou

deep echology, é a que mais se aproxima do que chamamos, neste trabalho, de “cultura ecológica”, por

considerar o ser humano parte da natureza - e a natureza, portanto, parte dos sistemas de produção do homem.

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como também por novas relações homem-natureza, sua essência forma uma cultura ecológica,

base dos movimentos ecológicos.

Esta cultura apresenta algumas características que diferem-na de outras

manifestações. Invade diversas áreas de preocupação humana e não se restringe a uma classe

específica de trabalhadores, uma etnia, uma raça, um gênero ou uma espécie. Quando defende

o fechamento de uma indústria poluidora, por exemplo, o ecologista entra em choque com

interesses do patrão e dos funcionários; quando defende a melhor distribuição de renda como

forma de desenvolvimento sustentável, passa a lutar por uma mesma causa que aqueles

funcionários.

Entretanto, "esse caráter difuso não desqualifica o movimento ecológico. Ao

contrário, é a fonte da sua riqueza e dos seus problemas enquanto movimento político e

cultural" (GONÇALVES, 2004, p.21). Esta riqueza faz o movimento adquirir várias formas e

seguir diferentes tendências.

Layrargues mostra-se particularmente preocupado com o "discurso ecológico

oficial, enunciado pelo ambientalismo governamental, representante da ideologia hegemônica

e encarregado de manter os valores culturais instituídos na sociedade" (2002, p.182). Este

discurso se confunde com o discurso do ambientalismo empresarial brasileiro

(LAYRARGUES, 2003).

Por outro lado, existe um

[...] discurso ecológico alternativo, preferido pelo ambientalismo original

strictu sensu, corporificado pelo movimento social organizado, representante

da ideologia contra-hegemônica e encarregado de disseminar valores

subversivos à ordem social e econômica instituída (LAYRARGUES, 2002,

p.183)

O fortalecimento do movimento ecológico no Brasil se deve, em grande parte, ao

processo de abertura democrática do final da década de 70. A anistia a exilados permitiu uma

maior entrada de ideais de defesa da natureza. A intensa industrialização descompromissada

com o meio ambiente, bem como a injustiça social que crescia junto com o "bolo" econômico,

formaram o espaço adequado para a propagação das idéias ecológicas, inclusive nos meios de

comunicação de massa.

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2. COMUNICAÇÃO E MEIO AMBIENTE

Os meios de comunicação, especialmente os de massa, têm relevante importância

no processo de formação de valores de uma sociedade sobre o meio ambiente. Esta relevância

pode ser melhor compreendida ao estudarmos algumas teorias da comunicação.

2.1 A COMUNICAÇÃO E O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES

Até meados dos anos 40, durante o primeiro ciclo dos estudos dos efeitos

comunicacionais, o processo de comunicação era explicado pelo Modelo Matemático, que o

definia como um ato unidirecional: o emissor transmite a mensagem, através de um meio,

para o receptor. A expansão da televisão e dos meios de comunicação de massa levou a um

aprofundamento nos estudos dos efeitos nos receptores – até então tidos como passivos, não

dotados de capacidade seletiva, de escolha ou recusa (GOMES, 2000).

Com o avanço dos estudos da comunicação, a mediação6 do fenômeno passou a

ganhar importância. Líderes de comunidades, de movimentos, de famílias, instituições

consolidadas na sociedade passam a ser, reconhecidamente, fundamentais dentro de um

mundo que vive um intenso fluxo de informações. Hoje, podemos entender o fenômeno da

comunicação através do conceito de "interação". Tanto emissor quanto receptor são

responsáveis pela produção de mensagens; a noção de comunicação unidirecional não mais se

sustenta.

A influência de líderes de movimentos ecológicos nas relações sociais, bem como

a incipiente cobertura ambiental nos meios de comunicação7 a partir dos anos 70, constituíram

a base da expansão do ambientalismo na sociedade brasileira, ainda que em choque com os

paradigmas do capitalismo global. Instituições como o lar e a escola, grandes responsáveis

pela socialização primária do ser humano8, reproduzem o cartesianismo e o antropocentrismo,

dando continuidade ao processo de separação entre o homem e a natureza.

6 Gomes (2000) explica que os estudos dos efeitos dos meios de comunicação, entre a Segunda Guerra Mundial e

os anos 50, reconhecem a existência de uma mediação entre as mensagens midiáticas e os receptores. Tal

mediação ocorre não somente por conta das características individuais, mas também pelas redes de relações

interpessoais estabelecidas. 7 Deste assunto trataremos melhor no capítulo 5 deste trabalho.

8 Duarte Júnior (1994) esclarece que a socialização primária de um indivíduo, como o próprio nome sugere,

ocorre durante a infância, e envolve a família, a escola e outras instituições que desta fase da vida façam parte de

alguma forma. Contestar valores formados durante a infância, portanto, esbarra em fatores emocionais, tornando-

se uma tarefa de difícil êxito.

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Singer (2004) preocupa-se especialmente com o papel da família. Para ele, em

uma sociedade de consumo, como a dos Estados Unidos, maior potência mundial,

(...) deveríamos criar nossos filhos para que soubessem que outras pessoas

têm necessidades muito maiores e para ter consciência da possibilidade de

ajudar essas pessoas, desde que se reduzam as despesas desnecessárias.

Nossos filhos deveriam também aprender a pensar criticamente acerca das

forças que geram o consumismo e estar atentos aos custos ambientais desse

modo de viver (SINGER, 2004, p. 21).

Ao invés disso, aprendemos em casa que os problemas ambientais são resultantes

da poluição das indústrias, e não do consumo de seus produtos; da poluição dos automóveis, e

não de nossa dependência deles; da falta de uma reciclagem dos resíduos, e não da quantidade

de lixo que produzimos. Na escola, entendemos que natureza é estudada pela biologia, sendo

um assunto das ciências naturais. O problema é que

[...] se definirmos a questão ambiental como um problema técnico que pode

ser resolvido tecnologicamente ou como um problema natural que não diz

respeito à sociedade, mas somente à biologia ou à ecologia stricto sensu,

esvaziamos a representação de suas dimensões política, social, cultural e ética (LIMA, 2002, p.28).

A simplificação da problemática ambiental leva os indivíduos a uma situação de

conformismo, favorecendo o fortalecimento das chamadas empresas verdes que, por sua vez,

reforçam o sentimento de impotência e comodismo diante da degradação ambiental

(GONÇALVES, 2004). Estas empresas utilizam ao máximo os recursos da comunicação para

explorar sua imagem de amiga da natureza, de quem desenvolveu uma tecnologia adequada às

aspirações do consumidor. Reforçam o próprio sistema capitalista vigente, já que “o

verdadeiro motivo da adesão ao mercado verde se deve ao fato de que ‘ser amigo do verde’

garante excelentes oportunidades de negócios” (LAYRARGUES apud BRUGGER, 2002, p.

154).

Em outro pólo, encontram-se as organizações não-governamentais, ou

simplesmente "ONG's", que são formas de organização da sociedade civil – muitas delas em

defesa do meio ambiente. Através de suas ações coordenadas e voltadas para o

desenvolvimento sustentável, possibilitam uma expansão do saber ambiental, das idéias de

defesa do meio ambiente, da noção de natureza enquanto problema social. O conhecimento

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ambiental, antes limitado à teoria ou a esforços esporádicos e isolados, ganha um aliado para

existir na prática9.

Os meios de comunicação têm um papel notável para as ações de uma ONG, sendo

fortalecidos pelo acelerado desenvolvimento tecnológico que caracteriza o capitalismo global.

O mesmo sistema que direciona a sociedade à unidimensionalidade, a uma cultura

homogeneizada, também promove a expansão da Internet e o incremento do fluxo de

informações (LOMBORG, 2002). E estas são as melhores armas que a sociedade civil tem

para lutar em defesa do meio ambiente e da justiça social. A crise da civilização produtivista e

o avanço tecnológico dos meios de comunicação nos dias de hoje formam um novo cenário,

onde a sociedade civil se torna uma das maiores forças de transformação do país (NOVAES,

2004).

2.2 A NATUREZA NA MÍDIA

A natureza tem seu lugar cativo nos diversos tipos de veículos midiáticos. De

propagandas de TV até as mais diversas seções de revistas, todas sabem que ocupar espaços

com árvores e cães faz parte de uma estratégia bastante segura para conseguir audiência. A

natureza, em seus aspectos de curiosidade, de espetáculo, de medo, faz parte do imaginário

das pessoas e, assim, é uma boa arma para a publicidade e propaganda (BRUGGER, 2002).

Os comerciais podem refletir uma visão de natureza como algo antiquado,

inconveniente, em atrito com a modernidade de nossos dias. A propaganda de Sukita,

altamente veiculada em televisão, passa uma mensagem de que

[a bebida de laranja] é superior à laranja de verdade, pode ser tomada em

qualquer lugar e vem numa garrafa, uma embalagem muito prática. Já o

invólucro da laranja real é inconveniente (ela tem de ser descascada) e, no

anúncio, seu meio de transporte é uma grande “mala sem alça” (BRUGGER, 2002, p. 165-6).

A concepção que nossa sociedade tem de natureza não se resume à influência

midiática, mas o crescimento da comunicação de massa tem papel decisivo nesta questão. A

9 Uma organização não-governamental destinada à educação ambiental obtém sucesso se consegue transmitir a

seu público-alvo os conhecimentos ecológicos que seus membros e colaboradores julguem importante. Assim,

eles agem como o intelectual orgânico, conceito formulado por Gramsci para aquele que sabe (vida teórica) e

transmite o saber (vida prática). Gramsci (apud GOMES, 2000) afirma que, em um determinado momento

histórico, existe uma tensão entre diferentes ideologias, dentre as quais apenas uma alcança a hegemonia. Neste

"jogo", o intelectual orgânico tem papel fundamental. Trata-se de um "game" do qual participam, ao mesmo

tempo, a essência política, a ideológica e a econômica, concebendo a sociedade como uma totalidade complexa.

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força da publicidade, diante disso, chega a um ponto em que “todos [anúncios comerciais], ou

quase todos, moldam em maior ou menor grau nossas relações com a natureza” (BRUGGER,

2002, p. 172). Seria o caso dos comerciais de produtos alimentícios à base de carne, nos quais

[...] enfeitando os “presuntos” (palavra que, na gíria, tem o significado de

cadáver), aparecem imagens de frangos velozes e felizes, porquinhos

sorridentes e vacas orgulhosas de venderem seus próprios cadáveres (BRUGGER, 2002, p. 171).

Em contraste à condição de cadáver que constitui o produto anunciado, a alegria e

felicidade dos animais ajudam a formar uma imagem de mercadoria isenta dos valores de

superioridade do homem sobre a natureza.

A publicidade, dentro de seus limites de ação, interfere em outras questões

delicadas sobre meio ambiente, dignas de debate e discussão. É o caso dos anúncios de

automóvel (um dos grandes responsáveis pela poluição), de telefone celular (cujo descarte

adequado da bateria ainda é desconhecido por parte dos usuários) e até mesmo de alimentos

transgênicos.

Por sua vez, o jornalismo, diante da evidência da discussão ambiental e de seu

papel de captar as tendências presentes e futuras da sociedade, não poderia deixar de lado

notícias sobre meio ambiente. Para entendermos a maneira como o jornalismo brasileiro

contemporâneo aborda as questões ambientais, é preciso resgatar a sua história. Entretanto, é

importante observar que as notícias, sejam em meios impressos, televisivos ou radiofônicos,

dividem espaço com os anúncios publicitários. Assim, a importância das matérias não pode

ser desvinculada da força da publicidade.

Nos dias de hoje, a ideologia do capitalismo global é dominante, e líderes da sociedade civil podem exercer o

papel de intelectual orgânico em busca de um novo modelo.

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3. O JORNALISMO BRASILEIRO

No Brasil, a história do jornalismo demora para se constituir. Como o

desenvolvimento do jornalismo está intimamente ligado à prática capitalista, o tardio

nascimento da classe burguesa em território nacional atrasou o surgimento da imprensa

brasileira (SODRÉ, 1999). Entretanto, o estágio que a globalização atual atingiu tratou de

reduzir as diferenças entre a prática contemporânea aqui e no exterior.

3.1 DAS ORIGENS AOS DIAS DE HOJE

O início da saga do jornalismo impresso em nossas terras está diretamente ligado

à manutenção do poder político. Servia como discurso de governo para justificar ações e

tentar criar uma opinião pública favorável desde o início do séc. XIX, principalmente com a

chegada da Corte Portuguesa. Como conseqüência, surgiu também o jornalismo de oposição,

que por sua vez ganhou força com a abertura dos portos10

– o que permitiu a entrada de

impressos clandestinos, muitos dos quais trazendo novos ideais e modelos de vida (SODRÉ,

1999).

Embora pareçam distante desta época, a publicidade e o aspecto comercial da

prática jornalística11

não são características restritas aos nossos dias. Em meados do séc. XIX

já se falava em “empresas jornalísticas” – ou seja, o jornalismo com estrutura empresarial

visando o lucro. A modernização do equipamento e a produção em larga escala fizeram os

jornais necessitarem de apoio financeiro (RIBEIRO, 2000).

Sodré (1999) considera que a segunda metade do séc. XIX marca a crise da

imprensa artesanal, aquela que não era vinculada a tecnologias avançadas, a larga produção e

à divisão de trabalho. Era o ponto de partida para o surgimento da imprensa de massa, voltada

ao grande público, saindo dos limites de um jornalismo panfletário e reduzido a grupos de

pessoas que se movem em torno de um mesmo ideal.

10

Este momento histórico nos permite fazer uma analogia à gradual abertura democrática da década de 70. Na

ocasião, os exilados políticos retornavam ao Brasil trazendo na bagagem ideais de preservação do meio

ambiente, pacifismo e luta por justiça social. No início do séc. XIX, a abertura dos portos, ordenada pela própria

Corte de Portugal que aqui se instalara para fugir das turbulências européias, permitira a entrada de impressos

que fugiam do conservadorismo oficial. Pelo contrário, trouxeram ao país idéias que fortaleceriam a luta pela

independência anos depois. 11

Iremos usar o termo “jornalismo comercial” para fazer referência a qualquer veículo jornalístico que dependa

de práticas comerciais para sobrevivência – vendas, anúncios publicitários e patrocínios de empresas, dentre

outras. Este termo, por enquanto, não fará qualquer referência ao conteúdo e matérias divulgados pelos mesmos.

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[...] o desenvolvimento do país marcado, exteriormente, pelo avanço da vida

urbana, o crescimento da classe média e o esboço de burguesia que começava

a se fazer sentir, permite a ampliação das atividades culturais ligadas à

imprensa: o livro e o jornal. (SODRÉ, 1999, p. 206)

A posição que os veículos jornalísticos passam a ocupar torna-se cada vez mais

conflitante, pois, como empresa eles buscam o lucro, mas como veículo de comunicação

social sua função é o serviço público, não comercializável (RIBEIRO, 2000). O mito da

imparcialidade12

retrata bem a problemática do jornalismo comercial. Como deve se

posicionar um veículo que dependa de vendas e anúncios publicitários diante de temas como

o aumento da venda de automóveis, que traz consigo o agravamento da poluição e do efeito

estufa pela queima do combustível? Fábricas de automóveis podem ser bons anunciantes, e

indivíduos que compram e dirigem carros podem formar o corpo de leitores. Por outro lado, a

função pública de um meio de comunicação pede uma atenção especial à saúde da atmosfera,

do planeta e conseqüentemente, do leitor.

Para Marcondes Filho (2002), o resultado da formação de um jornalismo

comercial é a tendência “de fazer do jornal progressivamente um amontoado de comunicações

publicitárias permeado de notícias”. Estaria, portanto, vulnerável a uma seleção de notícias

submetida ao perfil dos anunciantes. Este desenvolvimento do jornalismo se confunde com o

próprio modo de vida do ser humano. Segundo Marcondes Filho,

[...] o jornalismo reflete muito bem a aventura da modernidade. Ele é a

melhor síntese do espírito moderno. Por esse mesmo motivo, o processo de

desintegração da atividade, seu enfraquecimento, sua substituição por

processos menos engajados (que já não buscam a “verdade”, que já não

questionam a política ou os políticos, que já não apostam numa evolução

para uma sociedade “mais humana”) é um sintoma de mudanças dos tempos

e dos espíritos... uma “época fraca”, decadente, niilista. (2002, p. 15)

O destino dessa nova imprensa com a qual convivemos, explica Ribeiro (2000),

não está necessariamente fadado à robotização das notícias, selecionadas por um editor e

construídas à imagem e semelhança da linha editorial proposta. Se, por um lado, “repórteres e

redatores procuram direcionar seus textos de acordo com o enfoque dos editores”, também é

12

A questão da imparcialidade no jornalismo é polêmica. Os estudos contemporâneos na área jornalística tendem

a desconsiderar a possibilidade de se ter um jornalismo imparcial, ou no mínimo questionar o que é

imparcialidade. Afinal, ao se publicar uma matéria, não se passam apenas dados, mas informações, conteúdo e,

muitas vezes, interpretações e opiniões. Mesmo dentro do gênero informativo, é necessário escolher um título,

compor um lide e dar um direcionamento à matéria conforme as experiências e a concepção de vida que marcam

o jornalista e o padrão editorial do veículo.

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verdade que as barreiras não são completamente intransponíveis (RIBEIRO, 2000, p.151).

Conotação, metáfora, ironia, vários recursos de linguagem permitem aos membros de uma

redação um desvio da função burocrática à qual são associados. Ademais, a robotização do

tratamento do conteúdo poderia resultar em queda de vendas, o que atingiria o interesse

econômico das empresas de comunicação (NOBLAT, 2003).

3.2 CARACTERÍSTICAS DO JORNALISMO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO

Para entender os fundamentos do jornalismo, é necessário que não o

desvinculemos dos fundamentos da comunicação. Atividade jornalística também pressupõe

emissor, meio e receptor, e está sujeita à resposta da audiência. Assim, fica mais fácil

compreendermos a busca pela clareza, simplicidade e concisão dentro da linguagem

jornalística. Em outras palavras, dizer em poucas palavras o que possa ser captado pelo maior

número de pessoas possível e sem deixar dúvidas. “Escrevam uma notícia ou uma reportagem

como se contassem uma história a um amigo. Toda história tem começo, meio e fim. Notícia e

reportagem, também” (NOBLAT, 2003, p. 82).

A dúvida e a interrogação, tradicionalmente, não são bem-vindas no jornalismo.

Afinal, se existe uma eterna busca por clareza, simplicidade e concisão, por uma história

completa, um simples ponto de interrogação poderia botar tudo por água abaixo. Ou,

conforme Noblat, “matéria que interroga não esclarece. Frustra” (2003, p.119).

A história pode ser contada através do jornalismo informativo ou opinativo

(MELO, 1994). No caso do gênero informativo, se a história é curta, pode constituir uma

nota; se é aprofundada, baseada em pesquisas e incentivando o leitor a interpretá-la e tirar

suas conclusões, constitui uma reportagem; ou pode simplesmente ser uma notícia, contada de

forma mais detalhada que a nota, mas sem aprofundar tanto quanto a reportagem (MELO,

1994, p.64-5)

Beltrão (apud MELO, 1994, p.59-60) considera ainda o jornalismo interpretativo

como gênero independente. Assim, divide "reportagem" em "pequena reportagem", que faria

parte do gênero informativo, e "reportagem em profundidade", do gênero interpretativo. Lage

(2001, p.136-140) recorda que "as categorias 'jornalismo interpretativo' e 'jornalismo

investigado' são sempre mencionadas na literatura teórica recente sobre o assunto".

Contar história não significa, entretanto, reduzir a notícia a letras. O uso de

imagens em meios impressos – jornais e revistas - é um recurso em expansão, e muitas vezes

uma história é mais bem contada através de figuras que de frases. Uma única fotografia pode

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ser suficiente (NOBLAT, 2003, p. 37). Tabelas, quadros, gráficos, textos, fotografia, título,

subtítulo, lead, tudo pode coexistir harmoniosamente objetivando a maior precisão de uma

matéria.

A estrutura gráfica dos meios impressos no Brasil atingiu, no início do séc. XX,

um estágio no qual já se usavam desenhos e fotografias. Com isso, houve um impulso ao

surgimento das revistas ilustradas. O mais importante deste momento histórico é que

[...] as revistas ilustradas, aparecendo na fase em que a imprensa e a

literatura se confundiam e como que separando, ou esboçando a separação

entre as duas atividades, submeteram-se, inicialmente, ao domínio da

alienação cultural então vigente [o simbolismo], buscando emancipar-se

depois, ao se tornarem principalmente mundanas, e até femininas umas, e

principalmente críticas outras (SODRÉ, 1999, p. 302-3).

Ou seja, a temática tratada pelo jornalismo impresso ganhaou amplitude com o

advento de recursos gráficos. Mas a fuga de um impresso predominantemente político

esbarrava, e ainda esbarra, no fato de que

[...] a liberdade de imprensa, na sociedade capitalista, é condicionada pelo

capital, depende do vulto dos recursos de que a empresa dispõe, do grau de

sua dependência em relação às agências de publicidade” (SODRÉ, 1999, p.

408)

Todos estes elementos (recursos de linguagem e uso de imagens) estão vinculados

ao conceito de interação que está por trás da comunicação. É importante que a matéria chegue

ao público de maneira compreensível e pronta para ser, se o veículo tiver estrutura para isso e

permiti-lo, questionada. Ainda que não haja um canal direto com a audiência, como um

espaço para o leitor ou o endereço de e-mail do repórter, a empresa jornalística fica refém da

apreciação do público.

A venda de exemplares pode ser o melhor termômetro indicativo da alternância

dos papéis de emissor e receptor de mensagens, no caso das empresas jornalísticas. O público,

se não fica satisfeito com o produto e não tem possibilidade de responder ao veículo de

maneira direta, emite uma mensagem como: Não compro! Assim, atividade jornalística não

existe sem seu público. E a empresa jornalística, por sua vez, sobrevive através de anúncios e

vendas – ou seja, através da audiência.

A definição dos critérios de noticiabilidade de um veículo passam por esta relação

com o seu público e com a sociedade na qual está inserido. Em qualquer situação, os critérios

devem estar vinculados uns aos outros, não podendo ser pensados isoladamente. Estão

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presentes tanto na fase de seleção de notícias quanto na de produção. “Na seleção dos

acontecimentos a transformar em notícias, os critérios de relevância funcionam

conjuntamente, em pacotes” (WOLF, 1992, p. 173). Alguns deles são o grau de

reconhecimento do(s) personagem(s), bem como a quantidade de indivíduos envolvidos; a

continuidade do acontecimento – possibilidades futuras de sequência de matérias; a influência

sobre a região – cidade, estado, país; a capacidade de entretenimente – o chamado “interesse

humano” (WOLF, 1992).

Durante a produção de notícia, levam-se em conta as possibilidades de cada tipo

de veículo; a brevidade – em outras palavras, um reforço à objetividade; a atualidade, em

relação à periodicidade do veículo; e a ideologia da notícia. Este último critério, explica Wolf,

diz respeito “aos acontecimentos que constituem e representam uma infração, um desvio, uma

ruptura do uso normal das coisas. Constitui notícia aquilo que altera a rotina, as aparências

normais” (1992, p. 183). Catastrofismos, tragédias e situações inusitadas, por exemplo.

3.2.1 O Espetáculo da Notícia

A preocupação com a audiência tem estimulado a chamada “espetacularização” da

notícia. “Sobretudo na TV, notícia e espetáculo se confundem. Empregam-se técnicas de

show para construir a realidade. E a fantasia que daí emerge garante audiência” (NOBLAT,

2003, p. 23).

Um recurso muito usado, e geralmente atrelado ao espetáculo, é o

“catastrofismo”, ou seja, a tendência de explorar ao máximo o caráter de tragédia de um fato,

de noticiar preferencialmente uma catástrofe. Entretanto, ao discutir globalização, Singer

(2004) mostra que um fato cotidiano, assimilado pela sociedade como parte de suas

necessidades, pode ser mais influente para a vida global do que uma tragédia veiculada no

mundo inteiro:

[...] consideremos dois aspectos da globalização: em primeiro lugar, aviões

explodindo ao entrar no World Trade Center e, em segundo, a emissão de

dióxido de carbono dos escapamentos dos utilitários esportivos “bebedores”

de gasolina. Um trouxe a morte instantânea e deixou imagens inesquecíveis

vistas nas telas de televisão do mundo inteiro; o outro dá uma contribuição à

mudança climática que só pode ser detectada por instrumentos científicos.

Mas os dois são indicações de que somos agora um só mundo, e as mudanças

mais sutis para os quais os proprietários desses veículos contribuem

involuntariamente vão por certo matar bem mais pessoas do que o fenômeno

altamente visível. (SINGER, 2004, p. 1)

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Tragédias chamam mais a atenção que divertimento ou esclarecimentos

científicos, pois o segredo está

[...] no que estimula conflitos, não no que inspira normalidade: no que é

capaz de abalar pessoas, estruturas, situações, não no que apascenta ou

conforma; no drama e na tragédia e não na comédia ou no divertimento.

Aprendemos que é assim porque é com essa receita que os jornais vêm

mantendo as vendas até hoje. E a televisão e o rádio, garantindo altos índices

de audiência (NOBLAT, 2003, p. 31).

No caso de revistas, a situação não parece ser muito diferente. Elas formam um

vínculo ainda mais direto com seu público - a revista pode ser levada para qualquer lugar - e

podem fazer uso de imagens sem as mesmas limitações que o jornal impresso. "Fotos

provocam reações emocionais, convidam a mergulhar num assunto, a entrar numa matéria"

(SCALZO, 2004, p.69).

3.2.2 Jornalismo de Revista

Entre os diversos tipos de veículos jornalísticos – rádio, TV, impresso ou digital –

há diferenças significativas quanto ao processo de seleção e produção de notícias e aos

possíveis efeitos sobre a audiência. Embora a televisão possua encantos significativos, como a

possibilidade de unir o áudio ao visual, de cobrir um acontecimento em tempo real e a grande

penetração nas camadas populares,

[...] as notícias televisivas são demasiados breves, rápidas, heterogêneas e

acumuladas numa direção temporal limitada, isto é, são demasiado

fragmentárias para terem um efeito de agenda significativo. As

características produtivas dos noticiários televisivos não permitem, portanto,

uma eficácia cognitiva duradoura (WOLF, 1992, p. 131)

A importância da informação escrita é, portanto, fortalecida pelo fato de fornecer

aos leitores notícias de maneira “sólida, constante e visível, enquanto que a informação

televisiva tende, normalmente, a reduzir a importância e o significado do que é transmitido”

(WOLF, 1992, p. 131). Não é à toa que "quem quer informações com profundidade deve,

obrigatoriamente, buscá-las em letras de forma" (SCALZO, 2004, p.13).

A história do jornalismo impresso no Brasil coloca os jornais e as revistas em

posições muito próximas - o surgimento das revistas se confunde com o próprio

desenvolvimento dos jornais impressos (SODRÉ, 1999). O avanço da tecnologia gráfica do

começo do séc. XX impulsionou o surgimento das revistas ilustradas e do espaço temático

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abordado pelas mesmas. No final da década de 60, surgia a revista semanal informativa

“Veja”, que ainda hoje é a maior em vendas no país, atingindo cerca de 1,2 milhões de

exemplares vendidos por edição. Na década seguinte, surgia ISTOÉ, que ocupa a terceira

posição de vendas atualmente – cerca de 400 mil por edição. Somente nos anos 90 surge

ÉPOCA, a segunda fatia do mercado atual – mais de 500 mil (NASCIMENTO apud GOMES,

2003).

Entre os jornais impressos e as revistas há algumas diferenças estruturais

importantes. A primeira delas diz respeito à periodicidade. Enquanto a maioria dos jornais

impressos circula diariamente, propiciando um clima de enorme desafio entre velocidade e

qualidade da notícia, as revistam costumam ser semanais, quinzenais ou até mensais. Por isso,

há outras obrigações implícitas na elaboração de matérias para revistas: “elas cobrem funções

culturais mais complexas que a simples transmissão de notícias. Entretêm, trazem análise,

reflexão, concentração e experiência de leitura” (SCALZO, 2004, p.13).

De forma geral, espera-se de uma revista matérias com tratamento diferente

daquele dado pelos jornais diários. Afinal, a própria função de uma revista não é conseguir o

furo, o acontecimento “do dia” – para isto existem os jornais de circulação diária e, mais

recentemente, o jornalismo online. Seu diferencial é o enfoque dado ao acontecimento; o

aprofundamento da pesquisa; a capacidade e possibilidade de informar mais e melhor ao

leitor. Assim as revistas oferecem um bom recorte do momento histórico-cultural de um país.

"Ali estão os hábitos, as modas, os personagens de cada período, os assuntos que mobilizaram

grupos de pessoas" (SCALZO, 2004, p.16).

Outra diferença diz respeito ao uso de recursos gráficos. Nas revistas estão as

maiores possibilidades de utilização de imagens – fotos, ilustrações, variedade de layouts. Nas

palavras de Scalzo,

[...] o fato é que a fotografia e a revista parecem ter nascido uma para a

outra. Desde que foi lançada a primeira revista ilustrada , elas nunca mais se

separaram. Tanto pela qualidade do papel quanto da impressão, as revistas

sempre puderam, e souberam, valorizar a fotografia (2004, p. 71)

Não apenas a existência de fotos é importante, mas a maneira como são usadas

também. A posição e o tamanho que ocupam, suas legendas, o contexto na qual estão

situadas e as funções exercidas não podem ser desprezadas. Geralmente, considera-se o

espaço nobre de uma revista o topo à direita de uma página ímpar, mas tem sido comum o uso

de figuras ao fundo dos textos, ocupando a página inteira. A foto pode funcionar como mera

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ilustração ou compor uma “reportagem visual”, contando uma boa parte da história da matéria

(SCALZO, 2004).

O uso de imagens em revistas não fica restrito às fotografias. As infografias são,

muitas vezes, a exemplo das fotos e títulos das matérias, “as portas de entrada para os textos”

(SCALZO, 2004, p. 74). Trata-se de um conjunto de elementos, tais como gráficos, tabelas,

desenhos, fotos, legendas e ilustrações. Embora usuais em jornais diários, a infografia ganha

dsetaque especial em revistas, pela possibilidade maior de tempo para elaboração e

tecnologias adequadas que permitam o melhor uso de cores e traços.

Um terceiro diferencial entre revistas e outros meios jornalísticos é o vínculo

criado entre ela e o leitor. Seus formatos, em geral, permitem que sejam carregadas pelo dono

de uma forma muito mais natural que os imensos jornais de papel. Scalzo cita um exemplo

das amplas possibilidades de formato: “Revistas femininas européias, por exemplo, estão

reduzindo seu formato, aproximando-se do tamanho tradicional do livro para caber na bolsa

das mulheres” (2004, p. 40). A qualidade de impressão, por sua vez, não suja as mãos, tem

maior durabilidade e, visualmente, cria um ambiente propício para se deleitar sobre diversos

temas. Assim, as revistas acompanham o indivíduo em diversos lugares para onde vá,

propiciando uma relação muito forte entre o meio e a audiência.

O vínculo é reforçado pela existência de canais de comunicação entre os veículos

e o público. A pesquisa quantitativa e qualitativa sobre a audiência vem sendo usada

frequentemente; espaço aberto para sugestões de pautas e críticas diversas estão sendo

criados. Para uma publicação que depende essencialmente da “sintonia fina” com seu público,

este contato é essencial (SCALZO, 2004, p. 37).

Por fim, revistas tendem a seguir determinadas tendências, segmentar assuntos,

reforçar especializações. Afinal, pelo vínculo existente entre elas e seus leitores, precisam

saber conquistar seu espaço, garantindo suas fatias de mercado. Daí vem mais uma

contribuição jornalística reforçada por este tipo de veículo: captar as tendências presentes e

futuras da sociedade – o “jornalismo de antecipação” ao qual se refere Noblat (2003).

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4. JORNALISMO AMBIENTAL

As especializações dentro do jornalismo encontram, em alguns casos, limites

muito tênues. Definir o que é ambiental ou não tem sido um problema de difícil solução, dada

a abertura que o tema tem a diversas disciplinas, conforme nos propõe Leff13

. Entretanto,

convenciona-se chamar “Jornalismo Ambiental” a prática jornalística que explora,

essencialmente, questões ambientais como a poluição do ar e da água, o aquecimento global,

os maus tratos a animais não-humanos e suas implicações para a sociedade, entre outros

temas.

4.1 A DÉCADA DE 70 E A QUESTÃO AMBIENTAL

O jornalismo está cada vez mais vinculado à interação e à troca de informações e,

desta forma, funciona como um verdadeiro termômetro social; retrata a história, um momento

histórico; capta o presente. Trata-se de uma renovação jornalística que percebe, em sua

audiência, um senso crítico capaz de clamar por modificações, fazer novas exigências

(NOBLAT, 2003).

Mas o grande mérito desta arte, para Noblat (2003), é a capacidade de antecipar

tendências. Em outras palavras, o jornalismo, por sua essência, é “um jornalismo de

antecipação”.

[...] jornalismo de antecipação não é exercício de adivinhação. Nada tem a

ver com uma aposta cega que se ganha ou se perde. Nem depende de sorte

para dar certo. Ele exige uma equipe qualificada e experiente de jornalistas,

boas fontes de informação, capacidade de análise e certa dose de ousadia (NOBLAT, 2003, p. 114).

No momento em que, com o desenvolvimento dos recursos gráficos do início do

séc. XX, falou-se em temas “mundanos” e “femininos”, abria-se um leque para novos espaços

jornalísticos. O avanço do jornalismo no Brasil retrata a própria história do país (SODRÉ,

1999), e foi em plena ditadura militar que os movimentos ecológicos começaram a se

manifestar, a se preocupar com a urbanização desenfreada e o agravamento da injustiça social.

13

Não é objetivo de nosso trabalho encerrar esta problemática dos limites de campos de conhecimento.

Queremos entender, primordialmente, como o jornalismo brasileiro contemporâneo aborda as questões

ambientais, e para isso não precisamos solucionar “o que é saber ambiental”.

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28

Começava a surgir o que chamamos de “Jornalismo Ambiental”, conceito que

encontra certa resistência até mesmo entre jornalistas que cobrem meio ambiente. Washington

Novaes define bem esta situação através de sua experiência pessoal:

[...] com freqüência, não consigo disfarçar a irritação quando sou apontado

como “ambientalista” ou “jornalista especializado em meio ambiente”, ou as

duas coisas. Não sou nenhuma delas. Sou apenas jornalista, há 45 anos

(2002, p. 15)

E completa:

[...] não é possível separar o econômico do chamado ambiental, como não é

possível separar do social, do político e do cultural. Se se pretende enxergar

todo o problema e tentar vislumbrar soluções, é preciso ver tudo

simultaneamente nessa teia de relações (NOVAES, 2002, p. 17)

Algumas problemáticas que aparentemente ocupam campos de conhecimento

como a sociologia ou a economia podem ser enquadradas dentro de reportagens vinculadas a

um jornalismo ambiental. Belmonte (2004) considera o especial sobre cidades, veiculado na

revista “Realidade” em 1972, um dos pontos de partida para o jornalismo ambiental brasileiro.

Tratava da urbanização e de suas conseqüências como o agravamento da injustiça social, a

poluição do ar e da água e o desmatamento, dentre outras. Naquele momento, não se

constituiu uma cobertura isolada de questões ambientais, já que “um ano após a publicação da

reportagem especial da revista Realidade sobre as cidades brasileiras, o país acompanhou

pelos jornais o fechamento da fábrica de celulose Borregard, na cidade de Guaíba (RS)”

(BELMONTE, 2004, p. 22).

A fábrica exalava mau cheiro, problema solucionado com a utilização de filtros

modernos. Sabe-se que seu processo industrial gera dioxinas, produto cancerígeno, formado

pelo branqueamento da celulose. Hoje a fábrica existe com outro nome, mas já não freqüenta

as páginas de jornais. A catástrofe da Cataguases Celulose, quando diversas cidades ficaram

sem abastecimento de água por causa de um vazamento tóxico de uma indústria do mesmo

gênero há poucos anos, esta sim ganhou espaço.

Ao longo de seu processo de consolidação, o jornalismo ambiental esteve refém

de destaques individuais. Na década de 70,

[...] a questão ecológica já era pauta para alguns veículos de comunicação. O

primeiro a se destacar no cenário urbano foi Randau Marques, do Jornal da

Tarde. Polêmico e talentoso, ele nunca escondeu a proximidade com o

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29

movimento ecológico (...) [Ele foi] um dos pioneiros do jornalismo

ambiental (BELMONTE, 2004, p. 21).

Dos anos 90 para cá, tem se destacado Washington Novaes, cujo material

jornalístico nos dá um excelente panorama do ambiente criado em torno da Rio 92 (antes,

durante e depois). Este evento, também conhecido como “ECO 92”, consistiu na Conferência

das Nações sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento e aconteceu na cidade do Rio de

Janeiro, reunindo mais de 100 presidentes e primeiros ministros, além de vinte mil

representantes da sociedade civil (SCHARF, 2004).

4.2 A DÉCADA DE 90 E A RIO 92

Os trabalhos científicos sobre jornalismo ambiental no Brasil costumam

reconhecer que nunca se falou tanto em meio ambiente no país quanto em 1992. As ressalvas

ficam por conta da qualidade da cobertura e da “normalidade” estabelecida ao término da

conferência. Sobre a qualidade, nos alerta Scharf que

[...] o grosso da cobertura concentrou-se no pitoresco, na coincidência de

cores das roupas dos garis cariocas e do monges tibetanos, no militante que

emitiu passaportes como forma de protesto contra a existência de fronteiras,

nas conferências das atrizes hollywoodianas Shirley Mc Laine e Jane Fonda.

Pois sobre os documentos gerados pela conferência, como a Agenda 21 e a

Convenção da Biodiversidade, pouco se escreveu” (2004, p. 55).

Rygaard (2002) alerta que, após a Rio 92 a rotina das empresas de comunicação

voltou ao “normal”, ou seja, a diminuição das matérias sobre meio ambiente foi drástica. A

abordagem factual, movida muito mais pelo fato (desde que atendendo aos critérios de

noticiabilidade) que pela apuração e pesquisa, aparece como problema:

[...] o espaço encolheu, as abordagens tornaram-se esporádicas e somente

diante de problemas de grande impacto. A inclusão da problemática verde,

quando trabalhadas [sic] pela grande mídia, não tem o tratamento adequado,

o que provoca um desvio da informação correta, responsável e respaldada

sobre o que ocorre com o meio ambiente (RYGAARD, 2002, p. 25).

Um exemplo da falta de atenção é mencionado pelo jornalista ambiental Vilmar

Berna (2003), que vem lutando nos últimos anos pela democratização da informação

ambiental. Em artigo disponível na Internet, ele menciona: “No dia seguinte ao encontro dos

ambientalistas com Fernando Henrique... um grande jornal carioca publicou matéria de meia

página sobre dinossauros na seção dedicada a meio ambiente”.

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30

4.3 O PANORAMA ATUAL

Cerca de trinta anos após os marcos iniciais de um jornalismo ambiental no Brasil,

vinte anos após os movimentos das “Diretas Já!” (símbolo da luta democrática nacional), mais

de dez anos da Rio 92, há uma certa evidência do tema “ecologia” em nossa sociedade. A

reciclagem de lixo, por exemplo, está tão presente em nossos dias que o Brasil é campeão no

quesito “reciclagem de latinhas de alumínio”. Reciclamos cerca de 90% delas14

. Entretanto, a

pedagogia dos “3R”, essência da educação ambiental, coloca em ordem de importância a

redução de consumo, a reutilização do produto e, por fim, a reciclagem do produto que não

possa mais ser utilizado – o “lixo”. Há indícios, portanto, de uma inversão dos valores

ecológicos15

.

O desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação atingiu um estágio

nunca visto antes. Revistas, jornais e sinal de televisão chegam mais longe, graças à

urbanização, ao avanço das estradas, dos aeroportos, das tecnologias de transmissão. A

Internet requer equipamentos e conhecimentos ainda limitados aos sonhos de muitos

indivíduos, mas avança no sentido da democratização da informação. Há diversos sites

dedicados à cobertura das questões ambientais, a exemplo do “Jornal do Meio Ambiente”16

A redução do nível de analfabetismo, que ainda é digno de vergonha e repulsa

nacional, possibilita que mais pessoas tenham acesso a leitura. O aumento de poder aquisitivo

da população é acompanhado do aumento no número de lares que possuem televisão. As

revistas também atingem uma camada social antes excluída – o que justifica o aparecimento

de “revistas populares”, de preço acessível e abordando temas como novelas e celebridades

(SCALZO, 2004).

Por outro lado, a preocupação científica avança dentro dos meios jornalísticos. O

panorama atual é formado por várias revistas especializadas. Podemos citar, dentre elas, a

Superinteressante, a Galileu, a Ciência Hoje e a Scientific American – tradução de uma das

mais importantes revistas científicas do mundo. A preocupação com a ciência traz consigo

temáticas de cunho ambiental, como o debate em torno dos transgênicos, do aquecimento

global e da evolução do homem – o que o coloca como parente dos demais animais.

Este avanço encontra limitações na própria formação do jornalista. De forma

geral, a prática jornalística aparece isolada de campos de conhecimento como a ecologia, a

biologia ou a geografia. Pouco é estudado sobre “Jornalismo Ambiental” nos cursos de

14

Segundo os dados mais recentes da Abal (Associação Brasileira do Alumínio) 15

Para maior compreensão do tema, ver LAYRARGUES (2002). 16

<http://www.jornaldomeioambiente.com.br>.

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31

graduação, e a situação é mais crítica quando trazemos este problema a nível local – Nordeste.

O jornalista que trabalha a questão ambiental, de modo geral, se forma dentro da própria

redação, a partir de editorias à parte – internacional, nacional, política, etc.

É importante, ainda, perceber o quadro atual com relação às revistas não-

especializadas. Dentre as revistas não especializadas, de temas diversos, semanais e de largo

alcance nacional, as maiores do mercado atual são Veja, ÉPOCA e ISTOÉ. Conhecer um

pouco desta situação torna-se fundamental, afinal,

[...] não se pode perder de vista a divulgação deste tipo de conhecimento [científico] em

veículos não-especializados.Cada vez mais, notícias sobre ciência e tecnologia

extrapolam as editorias ou revistas especializadas e passam a compor o noticiário geral.

(GOMES, 2003, p. 9-10)

Estas são algumas das características do espaço que o jornalismo brasileiro

contemporâneo ocupa. A nós cabe entender como este jornalismo se comporta, interage com a

sociedade e ajuda a modificar – ou a manter inalterada - nossa concepção de meio ambiente.

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32

5. ANÁLISE DO TRATAMENTO DAS QUESTÕES AMBIENTAIS

PELAS REVISTAS “ISTOÉ” E “ÉPOCA”

“ISTOÉ” e “ÉPOCA” representam, na atualidade, duas das mais conhecidas

revistas comerciais destinadas a um público-alvo mais amplo que o de revistas especializadas,

dada a variedade de temas tratados e o alcance em território nacional. O fato de não serem

revistas especializadas em meio ambiente nos permite avaliar o modo como refletem a cultura

da sociedade contemporânea e qual o nível de preocupação ambiental. A larga penetração

destes veículos no país nos dá uma compreensão geral de como o jornalismo comercial

brasileiro tem concebido o meio ambiente. Ainda que seja reconhecida a importância das

problemáticas regionais, julgamos fundamental entender a questão ambiental de modo amplo

para, então, estudá-la localmente.

ISTOÉ arrebata a terceira maior fatia do mercado das revistas semanais

informativas mas, em termos de matérias destinadas ao campo da ciência, é aquela que mais

se destaca entre as três mais vendidas, segundo pesquisa de Gomes (2003). ÉPOCA, por sua

vez, é a vice-campeã em vendas e aparece na segunda colocação em abordagens científicas na

mesma pesquisa citada acima. Esta possível aproximação com a divulgação científica

permitiria uma maior possibilidade de análise de matérias.

Por sua vez, a escolha de revista, e não de jornal diário, deve-se à sua maior

capacidade gráfica, haja vista o avanço tecnológico das mesmas, bem como à periodicidade

semanal. O uso de recursos gráficos amplia nosso leque de aspectos analisados,

principalmente quando abordamos a espetacularização da natureza. A veiculação semanal visa

reduzir o potencial de um dos argumentos mais usados para justificar parte da pobreza

analítica do jornalismo: a falta de tempo versus a quantidade de notícias.

Uma vez definidas as revistas, escolhemos dois períodos distintos de análise, com

intervalo de aproximadamente um ano entre a primeira e a última edição selecionadas. O

intervalo foi escolhido por permitir uma idéia melhor sobre a produção jornalística atual, uma

vez que abrange o início dos anos de 2004 e de 2005. A escolha do segundo período,

especificamente, coincide com os preparativos e as semanas seguintes ao “V Fórum Social

Mundial”, realizado em Porto Alegre, entre os dias 26 e 31 de janeiro de 2005. Esperava-se

um agendamento maior de questões sócio-ambientais e até mesmo uma cobertura relevante do

evento.

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As edições selecionadas foram: Istoé, do número 1792 ao 1797, no primeiro

período (início em 11 de fevereiro de 2004 e término no dia 17 do mês seguinte), e do número

1838 ao 1843, no segundo período (de 29 de dezembro de 2004 a 9 de fevereiro de 2005);

Época, do número 299 ao 304 (período entre 9 de fevereiro e 15 de março de 2004), e do

número 346 ao 351 (de 3 de janeiro a 7 de fevereiro).

Dividimos a análise em quatro categorias: a divisão de editorias; o conflito entre

abordagem factual e reportagem aprofundada; a notícia como espetáculo; e a presença da

publicidade nos meios. Estas categorias foram determinadas em função dos estudos da prática

jornalística na área de critérios de noticiabilidade (WOLF, 1992), de produção de textos

(NOBLAT, 2003), dos gêneros jornalísticos (MELO, 2000), da pesquisa dentro do jornalismo

(LAGE, 2000), da história do jornalismo brasileiro (SODRÉ, 1999) e do jornalismo de revista

(SCALZO, 2004).

Ao observar a existência ou não de editorias especializadas no tema (ver capítulo

5.1), e de que forma elas existem, podemos discutir a ruptura homem/natureza que existe na

visão da sociedade contemporânea brasileira. Para que isto fosse possível, buscamos

responder às seguintes questões: existe uma seção específica para meio ambiente? Ou a

temática divide espaço com outros assuntos? A editoria, caso exista, aparece em todas as

edições? Quais matérias estão presentes nela? As matérias dizem respeito a questões

ambientais importantes? Há matérias espalhadas ao longo da revista que poderiam ser

situadas na seção específica?

A comparação entre abordagens factuais e reportagens aprofundadas (cap. 5.2),

por sua vez, nos abre um leque de discussões sobre significações e critérios jornalísticos.

Neste capítulo buscamos, através das matérias selecionadas ao analisar a divisão de editorias,

entender como se posicionam estes veículos diante do paradoxo que se forma entre as notícias

meramente informativas - ou simplesmente “notícia”, segundo a classificação proposta por

Melo (1994) - e as reportagens baseadas em pesquisas jornalísticas. É importante observar

que as matérias analisadas encontram-se em diversas editorias, evitando que o trabalho recaia

sobre uma visão reducionista das questões ambientais.

A espetacularização (cap. 5.3) das notícias selecionadas é analisada sob a forma

das catástrofes ambientais (cap. 5.3.1) e do atributo de criaturas incríveis que a natureza

recebe (cap. 5.3.2). Afinal, se o jornalismo comercial trata notícia como show, tentando atrair

maior audiência, pode haver diferença quanto ao tratamento das questões ambientais?

Por fim, o aspecto publicitário, seu modo de representar o meio ambiente e a

forma como é utilizada a publicidade nos veículos fecham nossa proposta de análise (cap.

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5.4). Para esta categoria, selecionamos anúncios que abordem, de alguma forma, a natureza,

independente da conotação ser positiva, neutra ou negativa; que tratem de temáticas

vinculadas às notícias analisadas nas categorias anteriores.

Desta forma, a análise busca compreender qual a concepção de natureza destas

revistas, de que maneira ela se forma e quais as implicações dela para o jornalismo brasileiro

e a sociedade.

Não é nosso objetivo tentar quantificar a presença de notícias ambientais nas

revistas, nem o número de centímetros que ocupam ou o número de páginas nas quais

aparecem. Entendemos que a avaliação do espaço ocupado por notícias ambientais em uma

revista, quando consideramos a hipótese de natureza e homem serem tratados em uma mesma

matéria – ou quando consideramos que o homem faz parte dela -, torna-se envolvida por

dúvidas.

Em outras palavras, “é difícil dizer quanto por cento do total de um jornal [ou

revista] é devotado ao meio ambiente” (Chapman apud BRUGGER, 2002, p. 158). E, se

quisermos tentar decifrar este enigma, poderemos cair em uma visão reducionista, limitada à

concepção de natureza da sociedade globalizada, que separa homem de natureza. Esta parece

ser uma limitação de alguns trabalhos acadêmicos na área de jornalismo ambiental.

5.1 AS EDITORIAS E O PROBLEMA DA DICOTOMIA HOMEM/NATUREZA

Nesta categoria de análise, observamos separadamente as revistas ÉPOCA e

ISTOÉ, para facilitar a discussão dos dados.

5.1.1 Revista ÉPOCA e Seção “Meio Ambiente”

Observamos que a revista ÉPOCA preza pela variedade das seções a cada edição,

inclusive no título que é dado a elas. Poucas são as editorias fixas e que aparecem sempre. As

notícias são reunidas, de forma geral, em “Brasil”, “Economia e Negócios”, “Sociedade”,

“Mundo” e “Cultura”. Dentro destas, é possível o aparecimento de seções esporádicas e

nomeadas a título de diversificação estrutural, a exemplo de “Idéias” (ed. 300) ou “Vinho”

(ed. 302).

As questões ambientais têm um espaço específico denominado “Meio Ambiente”.

Nas primeiras seis edições, contabilizamos três notícias relativas a esta seção, distribuídas em

dois números (ed. 299 e 300). Nas seis edições de ÉPOCA de 2005, duas notícias veiculadas

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em dois números (ed. 347 e 349). Não houve mudanças significativas entre o início de 2004 e

o início de 2005.

Algumas matérias veiculadas fora da seção destinada ao meio ambiente poderiam

nela se encontrar, se ganhassem um novo enfoque e refletissem um maior cuidado com a

causa ambiental. A edição número 299 trouxe uma seção denominada “Ciência”, através da

qual faz uma defesa explícita dos transgênicos. Sob o título “Pesquisas Emperradas” (ver

ANEXO A), e subtítulo “Entraves legais ameaçam estudos promissores desenvolvidos por

laboratórios nacionais com plantas transgênicas”, ocupa duas páginas que poderiam

aprofundar a posição dos movimentos ambientais e seus argumentos sobre o assunto, o que

permitiria situar a matéria na seção “Meio Ambiente”. Entretanto, a notícia se resume a dizer

que

[...] organizações ambientalistas defendem maior rigidez em relação a esses

produtos ou até seu banimento, alegando que poderiam prejudicar os

consumidores e afetar o meio ambiente. No entanto, estudos realizados em

todo o mundo há quase uma década não confirmam o perigo. (ÉPOCA, ed.

299, p. 52)

Não explica quais seriam estes prejuízos ao consumidor e ao meio ambiente, nem

aborda o fato de a Europa impor procedimentos severos para a entrada deste tipo de alimento

em seu território. Deixa escapar o debate sobre uma das questões ambientais mais evidentes

da atualidade: os transgênicos.

Encontramos, também, uma matéria sobre as enxurradas que aconteceram por

todo o Brasil (“Banho no Governo”, ed. 299, ver ANEXO B) mas, assim como no caso da

matéria sobre transgênicos, não aprofundou causas e consequências ambientais e não entrou

na seção “Meio Ambiente”.

Observamos que a divisão de editorias enfrenta limites tênues. No caso específico

das questões ambientais, esta dificuldade reforça a importância da interdisciplinaridade

proposta por Leff para a formação do saber ambiental. Afinal, como excluir a hipótese de uma

reportagem sobre enchentes ou epidemias fazer parte da seção destinada ao meio ambiente?

5.1.2 Revista ISTOÉ e a Seção “Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente”

A ISTOÉ mantém um padrão de divisão mais conservador. As seções são fixas e

freqüentes. A temática “Meio Ambiente” aparece dividida com Ciência e Tecnologia,

compondo o espaço “Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente”, presente em todas as doze

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edições analisadas. Esta composição parece natural a partir do momento em que percebemos,

em nossa sociedade contemporânea, a hegemonia de uma visão de mundo que separa homem

e natureza. Quase intuitivamente, as ciências são separadas em “ciências naturais”, que

cuidam da natureza, e “ciências humanas”, que cuidam dos homens. No caso da revista

ISTOÉ, a seção “Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente” reflete algo como “Ciências

Naturais, Física e Biologia”.

Esta divisão faz com que questões ambientais ocupem o mesmo espaço de

matérias sobre celulares ou games de última geração. É o caso de “A um Clique da

Eternidade: a evolução dos celulares e dos computadores de mão impulsiona a fotografia

digital” (ed. 1792, ver ANEXO C). A mais direta relação entre telefone celular e meio

ambiente – o descarte das baterias, tóxicas – passa longe desta matéria. Também não cita a

problemática em torno de possíveis danos à saúde que seu uso constante poderia causar –

embora sobre isso ainda não existam provas científicas. O tema “telefone celular” voltou a

ocupar a seção na ed. 1796, sob o título: “Câmera e Ação: os celulares que fotografam

deixaram de ser novidade. A onda agora são os que filmam” (ver ANEXO D).

Na edição 1794, “Sebo nas Canelas” (ver ANEXO E) fala sobre jogos cujos

joysticks permitem uma movimentação física, quase uma atividade esportiva. Mais

recentemente, os games também apareceram: “Diversão em Família: os jogos que agradam a

pais e filhos viram atração para quem não viajou nas férias” (ed. 1841, ver ANEXO F). Por

outro lado, assim como observamos em Época, uma matéria sobre enxurradas (“Tragédia

Anunciada”, ed. 1792, ver ANEXO G) não se aprofundou na temática ambiental e ficou

enquadrada em outra editoria.

A existência da seção “Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente” reforça a

dicotomia homem/natureza por colocar a natureza mais próxima da física e da tecnologia que

dos assuntos sociais. O grande problema desta dicotomia, quando aparece refletida em meios

jornalísticos, é o afastamento de uma possibilidade concreta de abordar uma temática mais

societária e humana às questões ambientais. Da mesma forma, uma temática mais ambiental

às questões humanas. Reduz-se o potencial de exploração da interdisciplinaridade do saber

ambiental.

5.2 ABORDAGENS FACTUAIS E REPORTAGENS

Sendo o signo polissêmico, e permitindo diversas interpretações conforme o

indivíduo e a sociedade na qual ele está inserido, então uma matéria que trate de determinada

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questão ambiental pode adquirir várias formas. Esta infinidade de possibilidades aparece bem

exposta na antítese “apresentação ou significação?” (SANTOS apud BRUGGER, 2002, p.

146). Brugger esclarece bem esta interrogação, ao afirmar que

[...] apesar dos incontáveis debates que ocorreram nas últimas duas ou três

décadas acerca do conceito de meio ambiente, e, sobretudo, da necessidade

de exaltar suas dimensões éticas, históricas, políticas, entre muitas outras, o

conceito hegemônico de meio ambiente continua reduzido às suas dimensões

naturais e técnicas (2002, p. 146)

De fato, verificamos em ambos os veículos comerciais, tanto no período relativo

ao ano de 2004 quanto de 2005, uma preocupação maior com a apresentação da notícia (o fato

em si, as dimensões naturais e técnicas envolvidas) que com o leque de significações que

poderia ser construído. Além disso, muitas matérias que poderiam desembocar em questões

ecológicas se resumem à visão de mundo do capitalismo global.

Em notícia escalada para a seção “Brasil”, da ISTOÉ número 1792, o subtítulo

expõe a visão urbana sobre as conseqüências dos problemas climáticos: “Enxurrada põe em

xeque políticas municipal, estadual e federal para amenizar a fúria das águas que matou 98 e

deixou 120 mil sem teto” (Ver ANEXO G). São duas páginas sem fazer qualquer referência

para possíveis causas ambientais da tragédia. A contextualização se resume à questão política,

e ainda assim apenas no subtítulo. Ao longo da matéria, uma “enxurrada” de números – além

dos 98 mortos e 120 mil sem teto, foram 405 cidades atingidas, em 15 Estados, gerando

prejuízo de 60 milhões de reais no Piauí e 40 milhões em Pernambuco.

Na mesma semana, ÉPOCA (ed. 299, ver ANEXO B) também publicou sua

representação sobre o assunto, e até no espaço ocupado, duas páginas, seguiu a linha da

concorrente. Divulgou alguns registros numéricos a mais, como os 122 feridos. A abordagem

ganhou mais significação, mas em geral destinada ao campo político – falta de verbas ou

verbas não utilizadas.

Uma visão ecológica sobre as enxurradas abordaria pelo menos dois outros

princípios. O primeiro diz respeito ao clima, que segundo grande parte dos estudos atuais

sobre o assunto está sendo alterado pela ação do homem17

. Esta ação antrópica passa pelo

aquecimento global provocado, principalmente, pelo crescimento da atividade industrial e do

uso de automóveis, símbolos de uma cultura baseada na industrialização, no sedentarismo e

no individualismo. Singer (2004) questiona a busca por uma produção maior com o objetivo

17

Mesmo Lomborg (2002), que se autodenomina “o ambientalista cético”, reconhece a veracidade das teorias

que relacionam a ação antrópica com o aquecimento global, embora questione previsões mais alarmistas.

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principal de gerar empregos, sem preocupações com a qualidade e importância do que é

produzido e com os danos ambientais e sociais que possa causar. O indivíduo termina

consumindo cada vez mais para se sentir dentro do mundo ao qual pertence – o mundo do

consumismo. Usa seu automóvel para pequenas distâncias e para cumprir a rotina de horário

da modernidade, mas depois precisa encontrar tempo para fazer seu cooper e eliminar as

gorduras acumuladas (BRANCO, 1999).

O segundo princípio ecológico que não foi abordado é a problemática do

desmatamento e da urbanização desenfreada na concepção das cidades brasileiras. As longas

avenidas de asfalto acumulam água e a ausência de verde dificulta a assimilação da chuva

pelo solo. Daí a necessidade dos governos em investir nos sistemas de vazão – as políticas que

foram postas em “xeque” pela reportagem de ISTOÉ. A visão de mundo representada nas

matérias de ambas revistas sobre enxurrada cobra ação das autoridades em busca da

tecnologia adequada para o escoamento da água – o que permitiria ampliar o desenvolvimento

rodoviário e o consumo e produção de automóveis.

Uma visão mais ecológica da questão pensaria, também, em criticar a falta de

investimentos que estimulem pedestres, ciclistas e transporte coletivo, já que o asfaltamento

descontrolado representa uma violência à natureza, um incentivo ao sedentarismo, ao uso de

automóveis poluidores e aos alagamentos. Pensaria em renovar um convívio harmônico com a

natureza, fazendo parte da mesma.

Uma semana após as enchentes, Época (ed. 300) divulgou larga matéria (oito

páginas) sobre a questão climática, intitulada “Tempo Louco” (ver ANEXO H). Conforme os

requisitos jornalísticos que norteiam uma reportagem, trouxe informações sobre causas,

possíveis conseqüências e soluções adotadas em alguns países, contextualizando o

desequilíbrio climático. Embora não tenha culpado nominalmente o modo de vida

contemporâneo, aproximou-se da visão ecológica ao citar as indústrias e os veículos

poluidores como principais causadores do aquecimento global, e lembrou que os Estados

Unidos, sozinhos, são responsáveis por 35% da emissão de fumaça.

O tom da matéria, do início ao fim, é de calamidade, percebido em palavras como

“destruição”, “emergência” e “ameaça”. Embora não seja um exemplo de uma abordagem

meramente factual, a reportagem cai numa armadilha diferente – a de natureza na UTI, uma

das modalidades de ecologia-espetáculo (ALPHANDERY apud BRUGGER, 2002, p. 147).

Um ano depois, a mesma armadilha captura pelo menos três matérias de ISTOÉ e ÉPOCA, o

que já pode ser percebido desde os títulos: “Fúria dos Céus” (ÉPOCA, ed. 349), “Dança

Negra” (ISTOÉ, ed. 1839) e “Quando a Torneira Secará” (ÉPOCA, ed. 347).

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“Dança Negra” (ver ANEXO I), embora situada na seção apropriada para uma

discussão sobre o problema climático, apresenta diversos números para ilustrar a passagem de

tornados no Brasil: a velocidade deles, a quantidade de casas danificadas, o número de

desabrigados, de feridos e de mortos, e até uma cifra estimada do prejuízo. Define, ainda,

como se formam os tornados. Sobre a possibilidade de o aquecimento global estar

modificando a incidência destes fenômenos, nada cita. No máximo, informa: “Ainda é cedo

para afirmar se essas ocorrências estão se tornando freqüentes” (ISTOÉ, ed. 1839, p. 78)

“Fúria dos Céus” (ver ANEXO J) trata do mesmo assunto, mas já consegue

relacionar os tornados à degradação do meio ambiente. Toma o cuidado necessário para não

afirmar uma questão que ainda está em discussão nos meios científicos:

[...] embora sejam muito estudados, ainda não se sabe ao certo se os tornados

se relacionam às mudanças climáticas causadas pela poluição e pela

destruição ambiental. Sua fúria arrasadora é um evento dos mais difíceis de

prever (ÉPOCA, ed. 349)

A dúvida, embora tradicionalmente não seja bem-vinda no jornalismo, vem sendo

levantada nas reportagens mais aprofundadas de ÉPOCA. É o caso de “Quando a Torneira

Secará” (ed. 347, ver ANEXO L). Logo no lead, o autor pergunta: “Será que vai faltar água?”.

A resposta, entretanto, já havia sido dada no subtítulo da matéria: “Em duas décadas, cerca de

2,8 bilhões de pessoas viverão em países sem água suficiente para todos”.

O texto preza por contextualizar e levantar causas e possíveis conseqüências

relacionadas ao problema. É o caso da situação do Brasil, onde a escassez está unicamente

vinculada ao desperdício e à poluição – com exceção da escassez natural do semi-árido

nordestino. Há uma crítica à poluição das águas do Tietê e do Pinheiro, ambos rios em São

Paulo. E, embora o título e o subtítulo nos induzam a pensar numa catástrofe, não faz uso do

mesmo vocabulário de “Tempo Louco” (ÉPOCA, ed. 300), sobre a qual falaremos ao analisar

a espetacularização da notícia.

5.3 UM SHOW DE NATUREZA

Vimos em capítulos anteriores que a espetacularização é um recurso bastante

comum no jornalismo comercial, seja ele representado por veículos impressos, radiofônicos,

televisivos ou até pela Internet. Mais que isso, o espetáculo da destruição é aquele que garante

mais venda.

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Não raro, a natureza aparece na mídia em forma de espetáculo, sendo exibida por

suas incríveis criaturas – às vezes dóceis, outras sanguinárias - ou sendo impiedosamente

destruída. A mídia, então, novamente reflete as tendências da sociedade, que aprecia

macaquinhos dóceis e leões ferozes em circos, sem questionar qual o crime que cometeram

para serem mantidos em jaulas durante a maior parte da vida.

5.3.1 A Natureza Na UTI

Layrargues acredita que o discurso de natureza na UTI já foi absorvido pelo

capitalismo contemporâneo, que concentra a busca por soluções ambientais dentro do próprio

mercado, através dos produtos ecologicamente corretos. Para ele, “a ideologia hegemônica

permite a crítica ao consumo insustentável porque existe hoje um consumo sustentável; no

entanto, não permite a crítica ao consumismo, pois a frugalidade representa uma subversão

perigosa demais ao sistema econômico dominante” (2002, p. 186).

Esta é a armadilha na qual cai uma reportagem como “Tempo Louco”. O título já

atribui uma imprevisibilidade perigosa ao clima – o que é um fato real, segundo as mais

recentes pesquisas científicas. O subtítulo traz uma pergunta: “Por que o clima

enlouqueceu?”. O clima ficou maluco, e a reportagem mostrará alguns motivos para isso. É

verdade que a ação do homem pode ocasionar problemas climáticos, mas Lomborg (2002)

critica o terrorismo feito em torno da situação ambiental planetária. Ele nos lembra que

tragédias naturais sempre aconteceram, e limitá-las à ação do homem seria por demais

simplista.

Após título e subtítulo anunciarem o funeral do clima terrestre, a introdução do

lead nos deixa ainda mais preocupados: “A Terra parece ter saído do eixo”. E a catástrofe

prossegue através de palavras mágicas – além de “destruição”, “emergência” e “ameaça”,

ainda nos deparamos com “apavorante”.

Por outro lado, a reportagem é rica em detalhes e contextualização. Aborda as

causas das alterações climáticas – embora critiquemos a forma como os problemas climáticos

foram apresentados – e as possíveis conseqüências das mesmas. Veículos, indústrias e

queimadas estão entre os vilões. O problema é que a matéria, assim como costuma acontecer

em outros veículos jornalísticos, não consegue associar o veículo ao motorista e comprador

dele – preocupação que dividimos com Belmonte (2004).

O catastrofismo em torno da natureza não é exclusividade da revista ÉPOCA. Na

edição 1795, ISTOÉ também publicou matéria sobre os problemas climáticos, cujo título

dizia: “Deu a Louca no Clima” (ver ANEXO M). Nada muito diferente de “Tempo Louco”,

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portanto. O subtítulo nos mostra o destino sombrio: “As chuvas avassaladoras e as oscilações

bruscas na temperatura vieram para ficar. São sintomas do aquecimento do planeta”. Também

aborda algumas causas, citando desmatamento, queimadas, incêndios acidentais e o uso de

petróleo como grandes responsáveis pelo aquecimento do planeta.

Em certo momento da matéria, há um exemplo de benefícios que o aquecimento

global traz, como o aumento da área de plantio em locais hoje congelados. Entretanto, o

encerramento do texto interna novamente a natureza na UTI, ao deixar implícito que a Terra

não é mais rica nem plena de vida: “Se a humanidade se empenhasse em resolver os

problemas atuais, quem sabe os filhos dos nossos netos teriam direito a um planeta rico e

pleno de vida, como a Terra já foi um dia” (p. 74).

5.3.2 Criaturas Incríveis

A natureza enquanto dotada de criaturas incríveis também é show, e não apenas

para os ecologistas. Basta lembrar que o homem, há muito tempo, se espelha no admirável

poder de voar das aves ao desenvolver tecnologias como o avião e o helicóptero. Em outros

momentos, as criaturas incríveis são aquelas que assustam, que trazem à natureza

ocidentalizada um conceito amedrontador. É o caso do tubarão, personagem principal de um

dos filmes mais intrigantes da carreira de Steven Spielberg.

É o caso de uma das cinco matérias da seção “Meio Ambiente” da revista

ÉPOCA. O título é sugestivo: “O predador, de perto” (Ver ANEXO N). Apenas uma página,

mas o suficiente para posicionar no centro um ameaçador tubarão branco mostrando seus

dentes afiados. O recurso da imagem, nesta matéria, é utilizado de forma a explorar o tubarão

como uma espécie perigosa e sanguinária.

O texto apresenta um guia sobre os tubarões que vivem no litoral brasileiro. O

mais interessante é que este guia é escrito por um biólogo cuja intenção é desfazer o mito de

que tubarão é uma fera assassina. A mesma intenção não parece ter a repórter, que escreve:

“Certamente não é tarefa fácil”.

Também há a natureza-espetáculo sob a forma do bizarro, do inusitado, como

bacalhaus que engolem lata de Coca-Cola (ISTOÉ, ed. 1795, ver ANEXO O). Nesta nota, não

é apresentado qualquer vínculo entre a situação e os problemas de poluição e rios e de mares,

bem como a falta de educação ambiental dos indivíduos. Se o bacalhau engoliu uma lata,

então seu ambiente está sendo, em alguma escala, deteriorado. Vínculo com o modo de vida

da sociedade contemporânea, então, muito menos. A falta de preocupação é reforçada com

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uma frase irônica, vinda de um pescador: “Já vi peixe engolir até pedra, mas nunca uma lata

de refrigerante”.

Em outra edição, há uma nota para um peixe que devorou um telefone celular (ed.

1797, ver ANEXO P). Aqui, há um gancho para outra nota, de tamanho reduzido e escondida,

sobre peixes que são desprezados e mortos através da descarga do vaso sanitário – uma

notícia séria, mas que aparece como um pequeno ornamento para o peixe devorador de

telefone celular.

Também há espaço para as criaturas belas, como as aves. A edição número 1838

de ISTOÉ traz uma notinha baseada na bela imagem de um falcão, e é intitulada “Um falcão

muito chique” (ver ANEXO Q). Entretanto, ocorre uma banalização do problema da

sobrevivência das espécies, como podemos notar no trecho destacado abaixo:

[...] acabaram sendo despejados [o casal de falcões que estava morando no

topo de um edifício] devido ao seu comportamento selvagem: os moradores

eram surpreendidos com ratos e pombos destroçados em suas varandas.

Preocupados com a readaptação do casal falcão em outras paragens, os

condôminos resolveram acionar algumas organizações de proteção aos

animais. Pale Macho e Lola [os dois falcões] foram encontrados e

reconduzidos ao antigo lar. Dessa vez como convidados de honra e com

direito a ratos e pombos.

Não são apresentadas as relações entre os locais exóticos onde alguns animais

vêm construindo suas residências e a urbanização acelerada que tem marcado o país,

principalmente nas últimas décadas. Antes da existência do edifício onde o falcão construiu

seu ninho, certamente havia área verde, árvores, mato, terra e animais não-humanos.

Outro animal que está sempre presente nas páginas dos impressos, e verificamos

isso nesta análise de ISTOÉ e ÉPOCA, tanto para publicidade quanto para textos jornalísticos,

é o cão. Com a fama de melhor amigo do homem, aparece como o centro das atenções em

“Totó Country Club” (ÉPOCA, ed. 348, ver ANEXO R). Ocupando seção denominada

“Animais”, aborda apenas curiosidades como cachorro freqüentar um clube, ter carteirinha de

sócio, fazer malhação em esteira e ter aulas de natação. Nada se falou sobre a imensa

quantidade de cães abandonados nas ruas18

, nem se fez qualquer paralelo entre o número

18

Recentemente, o Centro de Zoonoses de Salvador se viu envolvido em um escândalo que, infelizmente, parece

não ser exclusividade dele. Devido à estrutura precária, à falta de investimento, à falta de uma visão integradora

de homem/natureza, e à grande quantidade de cães nas ruas, o Centro promovia regularmente uma matança

destes animais. O procedimento não evitou duas mortes por raiva humana, transmitida por cachorros

abandonados. O fato foi amplamente divulgado no jornal local “A Tarde”, e culminou na assinatura do TAC, o

Termo de Ajuste de Conduta, uma espécie de promessa de que tais fatos não seriam repetidos. De qualquer

forma, este escândalo mostra bem o problema do abandono de cães.

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destes e a valorização dos cães de raça, um paradoxo do Brasil dos dias de hoje. A matéria, ao

contrário, cita como um dos sócios mais famosos o golden retriever de Adriane Galisteu – um

cachorro de raça, com um lar e um clube à disposição.

A banalização do papel que um animal como o cachorro exerce na sociedade

continua na matéria “A Um Passo da Emoção” (ISTOÉ, ed. 1843, ver ANEXO S). Parte da

seção “Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente”, traz ao leitor novidades sobre a construção de

robôs. Em Box, mostra a nova invenção, um robô-cachorro chamado Aibo que custa em torno

de 1.500 dólares. Enquanto Istoé nos mostra Aibo, um robô valorizado, milhares de cachorros

de carne e osso e sem raça definida perambulam pelas ruas.

Outros cachorros, de carne e osso, bem como cavalos, gatos e animais, são

reconhecidos por sua importância à saúde humana. É o que mostra a matéria “Os Melhores

Amigos do Homem” (ISTOÉ, ed. 1792, ver ANEXO T). O subtítulo sintetiza o conteúdo do

texto: “Animais ajudam na recuperação de pacientes e melhoram ânimo de crianças e idosos”.

Mas a matéria que reconhece, de fato, a importância dos animais não-humanos e

rechaça seu papel de criaturas inferiores é “Eles Existem, Logo Eles Pensam” (ISTOÉ, ed.

1795, ver ANEXO U). Novamente, o subtítulo reproduz com fidelidade o que é a notícia: “Os

cientistas investigam o que os donos de animais de estimação já sabiam: os bichos são mais

espertos do que se imaginava”. Aqui, Istoé reflete o modo como a cultura ecológica, com base

nas descobertas científicas, entende a natureza. O homem, como resultado da evolução das

espécies, não pode ser compreendido fora da natureza. E, num processo evolutivo, fica difícil

acreditar que exista apenas um animal inteligente. A ciência vem mostrando que outros

animais também são inteligentes, embora em escalas diferenciadas. E a matéria bate forte

nisso:

[...] durante décadas, a ciência se recusou a aceitar que os animais são

inteligentes e têm a capacidade de nutrir sentimentos como amor, raiva e

ciúme (...) Em 1961, a cientista americana Jane Goodall se aventurou nas

selvas africanas de Gombe e observou que os chimpanzés fabricavam facas

ou martelos laminados quando precisavam cortar frutas. Esse

comportamento só poderia ser entendido se nele existisse um ingrediente

fundamental, a cognição, que é a capacidade inata de aprendizado. Com isso,

a cientista provou que os primatas tinham mente”

Esta visão dos animais dotados de inteligência os aproxima bastante do ser

humano. Certamente, matérias como esta nos permite formular uma hipótese de que, num

futuro próximo, a concepção de homem como parente dos demais animais e,

conseqüentemente, devendo a eles respeito e lealdade, poderá ganhar força nos veículos de

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comunicação. Mas, por ora, trata-se de hipótese, visto que a maior parte das matérias

observadas ainda encara o cachorro como um brinquedo, o tubarão como um monstro ou o

falcão como um ser belo e esquisito.

5.4 A PUBLICIDADE

Por seu aspecto comercial, revistas como Istoé e Época dependem da venda e dos

anúncios publicitários para sobreviver. Deste modo, é facilmente compreensível que reflitam

muito mais a visão de seus anunciantes e da média de seu público do que uma cultura ainda

em expansão, como seria a cultura ecológica.

Assim, não surpreende que, na semana seguinte à divulgação de pesquisa que

apontava as atividades pecuárias como a maior causa do desmatamento19

, a seção “Ciência,

Tecnologia e Meio Ambiente”, de ISTOÉ, nada tenha comentado a respeito. Preferiu publicar

matéria intitulada: “Sebo nas Canelas” (edição 1794). O subtítulo dizia: “Criado para dar

realismo aos videogames, o joystick agora é um estímulo aos músculos”. No jargão

jornalístico, uma notícia fria – aliás, gelada – em substituição à importante conclusão do

Banco Mundial. Aquela mesma edição trouxe duas páginas com anúncio publicitário que

contava a “história de amor” entre a indústria alimentar “Sadia” e a família brasileira (ver

ANEXO V).

O problema do desmatamento é agravado por este tipo de indústria, já que as

pastagens são os maiores responsáveis pela perda florestal20

. Afinal, temos como exemplo que

[...] um terço dos cereais mexicanos alimenta esses bois [ para hambúrguer,

nos Estados Unidos], a fim de que os americanos se empanturrem do

pavoroso Mac Donald’s. Um quarto das terras cultivadas do Brasil serve à

alimentação do boi exportado, em detrimento da alimentação de base.

(Toscani apud BRUGGER, 2002, p. 162)

Ao desprezar um assunto tão importante e delicado quanto a ligação entre a

criação de gado e o desmatamento, a revista ISTOÉ termina por reforçar seu papel de

instituição que serve-se e está a serviço do modelo de produção hegemônico dos dias de hoje.

A revista ÉPOCA também não citou o resultado da pesquisa, e não veiculou a seção “Meio

19

Pesquisa divulgada em fevereiro de 2004 pelo Banco Mundial (Bird) aponta o Brasil como campeão na

destruição de florestas, sendo as pastagens responsáveis por 75% da perda florestal. 20

Não é nossa intenção avaliar, particularmente, o impacto de uma ou duas indústrias alimentares. O conjunto

delas, entretanto, ao necessitar da criação de gado para existir, é comprovadamente nocivo ao meio ambiente.

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Ambiente” na edição 301, correspondente à semana seguinte da divulgação. A Sadia também

era anunciante naquele período estudado.

Independentemente das relações contratuais existentes entre os dois veículos e a

Sadia, os três se comportam como membros integrantes do capitalismo global, preocupado

acima de tudo com a produção. A publicidade de uma empresa como a Sadia utiliza os

recursos sobre os quais escrevemos no capítulo 3.2. Através destes, as condições ambientais

adversas e a condição do cadáver animal são engolidas pela alegria do mascote e pelo vínculo

entre a empresa e o lar, bem representada no texto do anúncio: “A gente pensa na sua cozinha

impecável, na sua comida caprichada, no amor que você tem pela sua família”. O slogan, por

sua vez, reforça o lado emotivo: “Sadia, uma história de amor”. Para completar, o mascote,

um peru, abre os braços feliz, irradiando amor – representado pelas figuras de pequenos

corações.

Em quantidade, os automóveis são os maiores anunciantes dos dois veículos. Mais

de dez empresas do ramo anunciaram nestas 24 edições (ver Apêndice B). Algumas utilizam o

selo “IBAMA” como símbolo de responsabilidade ambiental. Os automóveis são, ao lado das

indústrias (inclusive as que produzem automóveis) e das queimadas, os maiores responsáveis

pela poluição atmosférica e agravamento do Efeito Estufa.

Dentre todas as notícias analisadas em ambas as revistas, apenas uma, em

ÉPOCA, e uma, em ISTOÉ, faziam referência direta a esta relação automóvel-poluição.

Ainda assim, a de ÉPOCA em forma de box, ocupando um pequeno rodapé de página da

reportagem “Tempo Louco” – analisada, anteriormente, neste mesmo trabalho. Ou seja, um

duelo de Davi e Golias. A de ISTOÉ aparece dissolvida no meio do texto “Deu a Louca no

Clima” Podemos nos perguntar quanto valeu, do ponto de vista de formação ambiental ao

leitor, estas duas referências, e quanto valeu, do ponto de vista de atração e reforço do

comodismo e sedentarismo, as dezenas de páginas com anúncios publicitários sobre

automóveis.

Juntando diversos tipos de anunciantes, um anúncio publicitário veiculado na

edição 1797 de Istoé homenageou o Dia Mundial dos Direitos do Consumidor (Ver ANEXO

X). Dizia assim:

Se você for consciente, vai levar pra casa muito mais do que comprou. Vai

levar rios, montanhas, florestas, oxigênio, vai levar para bem longe a

extinção de animais, vai levar o sorriso de crianças carentes, vai levar

educação para muita gente, vai levar um lar para muitos idosos, vai levar

emprego para pessoas com deficiência. Vai levar a certeza de que o futuro

tem futuro. Seja você também um consumidor consciente: leve para casa

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produtos e serviços de empresas que têm compromisso social. Você vai ver

que um mundo melhor não tem preço. 15 de março, Dia Mundial dos

Direitos do Consumidor. Uma homenagem das empresas que respeitam os

consumidores, o meio ambiente e, acima de tudo, a vida.

Dentre as empresas do anúncio, indústrias como as automobilísticas Volkswagen

e Peugeot, a alimentar Perdigão e até a Mc Donald’s. É difícil pensar em respeito ao meio

ambiente num momento em que a poluição dos automóveis e as conseqüências da criação de

gado parecem tão sérias. Ou ainda convencer que um Big Mac respeita a vida. Que o diga

Morgan Spurlock, diretor e personagem principal do filme “Super Size Me”, indicado ao

Oscar de melhor documentário de 2004. O filme mostra a vida – real - de um indivíduo que se

alimenta por 30 dias na rede de lanchonetes citada. Ao final da gravação, este indivíduo, o

próprio Spurlock, apresentava-se debilitado, com função hepática deficiente e 14 quilos acima

do peso anterior. Mas as estratégias das empresas que se dizem amigas do meio ambiente

contam com a ajuda do mundo da publicidade para formar uma imagem de responsabilidade

socio-ambiental. Por exemplo: a vinculação do Big Mac com a ajuda às crianças com câncer.

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6. CONCLUSÕES

A análise das revistas ISTOÉ e ÉPOCA nos períodos propostos por este trabalho

confirmou a posição de empresas jornalísticas fomentadoras do capitalismo que as mesmas

ocupam diante das questões ambientais. De forma geral, a visão de natureza que estas revistas

têm refletem a dicotomia homem/natureza presente em nossa sociedade - ou seja, costumam

colocar o homem à parte do meio ambiente, como se dele não fizesse parte. Também a

predominância das abordagens factuais em detrimento de reportagens aprofundadas e a

espetacularização da notícia reforçam que, mesmo diante da importância das questões

ambientais em nossos dias, prevalece a posição de revistas comerciais em relação à função

pública da comunicação.

A presença de uma seção destinada a "Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente" em

Istoé mostra o quanto a natureza parece distante da sociedade, da economia ou da política. Em

ambos veículos, a existência de matérias sobre animais, transgênicos e enxurradas sem

mencionar suas implicações para a nossa sustentabilidade nem denunciar nossa posição de

superioridade diante da natureza reforça a despreocupação com a evidente

multidisciplinaridade destes assuntos. No caso das enxurradas - abordadas em seu aspecto

unicamente político - e dos tornados - tratados apenas tecnicamente - prevalecem a

abordagem factual. Os dias em que as enxurradas aconteceram pelo Brasil, e o tornado passou

pelo Sul, aparecem isolados do contexto ambiental existente.

Especificamente nas seções destinadas para as questões ambientais, houve

reportagens sobre o problema climático, aproveitando como gancho justamente as chuvas que

promoveram as enchentes, bem como a incidência de tornados no sul do país. Informações

relevantes, contextualização e gancho estiveram presentes. A direção que estas reportagens

tomaram, entretanto, as colocou em uma condição de exacerbação das catástrofes naturais.

Enquanto a natureza só for investigada pelas empresas jornalísticas para ser

exposta como doente terminal, o debate em torno dos problemas implícitos a ela ganhará em

emoção e perderá em razão. Jogaremos sempre a responsabilidade pela crise ambiental às

empresas multinacionais e ao governo, mas continuaremos consumindo de modo

insustentável e nos tornando dependentes do produtivismo, diante do sentimento de

impotência que nos aflige.

Vimos que a notícia também ganha característica de show quando a natureza é

curiosa, bizarra ou assustadora. O tubarão parece ser mau porque ataca o ser humano quando

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está com fome ou quer defender seu território - como se o homem não atacasse vacas e

frangos nas geladeiras dos supermercados, para se divertir no churrasco do domingo. O peixe

engole uma lata de Coca-Cola e isto parece muito engraçado, pois a vida do animal não-

humano e a degradação do seu habitat valem pouco para nós. O falcão constrói seu lar num

prédio, e isto parece estranho, como se esquecêssemos que, antes do prédio, havia árvores e

mato no local, habitados por uma biodiversidade incomparável à da zona urbana.

Aliada a esta visão capitalista de natureza que a notícia em Istoé e Época ganha, a

publicidade nestes veículos compartilha dos mesmos sentimentos. A empresa de produtos

alimentares derivados de bovinos e suínos conta a história de amor entre ela e a nossa

cozinha, mas esquece de nos alertar que, ao consumir este tipo de mercadoria, estamos

incentivando a atividade que mais promove desmatamento no Brasil. Estamos, ainda,

brincando com vidas de animais sensíveis à dor e que fazem parte da escala evolutiva da qual

surgiu a espécie humana. As empresas automobilísticas nos deliciam com seus carros

confortáveis, espaçosos, rápidos e seguros, e até exibem o selo do IBAMA, mas não contam o

que aconteceria se todos os cidadãos do mundo pudessem ter um.

Num súbito ataque de marketing ecológico, várias empresas de diferentes ramos

resolvem homenagear o consumidor e se dizer preocupadas com os rios e o ar puro. Isto nos

faz ficar tão preocupados quanto Belmonte, quando ele afirma que os jornalistas não

conseguem relacionar o automóvel, aquele vilão que polui o ar e contribui para o aquecimento

global, com o motorista. Também, com tanta propaganda exaltando as maravilhas dos carros,

mesmo que o leitor não seja um mero receptor passivo dificilmente ele vai refletir com

seriedade sobre a real necessidade de ter um automóvel; de usá-lo individualmente; de se

tornar um cidadão sedentário e refém de quilômetros de trânsito.

Quanto à posição da publicidade nestes meios, nosso trabalho se limitou a mostrar

que, em ISTOÉ e ÉPOCA, a visão jornalística e a publicitária convergem. Por não

conhecermos a rotina destas redações nem entrevistarmos repórteres e editores, ficamos

impossibilitados de explicar o motivo desta convergência. Especular que há uma influência

vertical dos anunciantes, no sentido de moldar o enfoque das notícias, seria leviano, a menos

que levássemos esta pesquisa adiante. Fica aqui registrada nossa sugestão para futuros

trabalhos nesta área.

Nos surpreendeu negativamente que, em 24 edições - um universo relativamente

abrangente - não tenha sido abordado um dos temas ambientais mais graves: a produção de

lixo. Entendemos que as suas implicações sociais - lixo nas ruas; poluição das águas; doenças;

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degradação do solo - e a sua essência enquanto problemática do produtivismo e do

consumismo são importantes demais para se manter ausentes.

Enquanto a sociedade se modifica rapídamente, com as tecnologias sendo

superadas e novas necessidades sendo criadas diariamente, a mídia tradicional parece

hibernar, ou, no mínimo, andar num ritmo vagaroso demais para a contemporaneidade. É

preciso que os veículos jornalísticos conheçam melhor seu público, e talvez se surpreendam

com alguns novos valores que ascendem na sociedade. É preciso, também, que entendam a

responsabilidade do papel de um meio de comunicação de grande alcance perante situações

fomentadoras de nosso futuro. Se o jornalismo brasileiro continuar se modificando apenas

com base nas regras de sobrevivência de uma empresa jornalística, as modificações da

sociedade civil, por meio de sua própria força, poderão levá-lo a uma crise sem precedentes.

Ou, em outra hipótese, o jornalismo brasileiro poderá contribuir para agravar a

crise da sociedade contemporânea. E continuará noticiando o escândalo do desmatamento

ilegal com atuação de membros do IBAMA, a matança de cachorros pelos centros de

zoonoses e as implicações do aquecimento global. Noticiar é importante, mas como seria bom

se fatos como esses deixassem de ser a essência de nossa contemporaneidade.

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LAYRARGUES, P. P. & CASTRO, R. S. (orgs.). Educação Ambiental. São Paulo: Cortez,

2002.

LOMBORG, B. O ambientalista cético: revelando a real situação do mundo. Rio de Janeiro:

Campus, 2002.

LUBISCO, N. M. L.; VIEIRA, S. C. Manual de estilo acadêmico: monografias, dissertações

e teses. 2.ed. Salvador: Edufba, 2003.

MARCONDES FILHO, C. Comunicação e jornalismo: a saga dos cães perdidos. São Paulo:

Hacker, 2002.

MARQUES DE MELO, J. A opinião no jornalismo brasileiro. 2.ed. Petrópolis: Vozes,

1994.

MORRIS, D. O contrato animal. Tradução de Lúcia Simonini. Rio de Janeiro: Record, 1990.

NOBLAT, R. A arte de fazer um jornal diário. 4.ed. São Paulo: Contexto, 2003.

NOVAES, W. A década do impasse: da Rio 92 à Rio +10. São Paulo: Estação Liberdade:

Instituto Socioambiental, 2002.

ORLANDI, P. E. Análise do Discurso. Campinas: Pontes, 2002.

RAMOS, L. F. A. Meio Ambiente e Meios de Comunicação. São Paulo: Annablume, 1996.

RIBEIRO, J. C. Sempre Alerta: condições e contradições do trabalho jornalístico. São Paulo:

Brasiliense, 2000.

SCALZO, M. Jornalismo de revista. São Paulo: Contexto, 2004.

SCHARF, R. Verde como dinheiro: economia sustentável é utopia, contradição ou lucro

certo? In: VILAS BOAS, S. Formação & Informação Ambiental: jornalismo para iniciados e

leigos. São Paulo: Summus, 2004.

SINGER, P. Um só mundo: a ética da globalização. Tradução: Adail Ubirajara Sobral. São

Paulo: Martins Fontes, 2004.

SODRÉ, N. W. História da imprensa no Brasil. 4.ed. São Paulo: Contexto, 2003.

TOSCANI, O. A publicidade é um cadáver que nos sorri. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.

RYGAARD, C. Ascensão, declínio e retomada do verde na mídia. 79 fs. 2002. Monografia

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WOLF, M. Teorias da comunicação. 2.ed. Lisboa: Editorial Presença, 1992

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Apêndice A - Lista de matérias analisadas e suas características jornalísticas

1. "Pesquisas Emperradas"

Revista: Época, ed. 299

Seção: Ciência

Subtítulo: "Entraves legais ameaçam estudos promissores desenvolvidos por laboratórios

nacionais com plantas transgênicas"

Tipo: Notícia (ou "pequena reportagem")

Imagens: produtos da safra transgênica; superintendente da Embrapa; mercadorias que

destacam o rótulo "não-transgênico".

Gancho: Lei da Biossegurança

Contextualização: parcial, o transgênico como solução para seca, pragas e saúde; não-

abordagem dos aspectos contra.

2. "Banho no Governo"

Época, 299, Brasil

"Lula viaja para ver as chuvas, mas gafes e falta de verbas marcam combate às enchentes"

Notícia

Gancho: as enchentes ocorridas

Falta de contexto, não cita possível ligação com aquecimento global, com urbanização, nem

cita desigualdade social.

3. "A um Clique da Eternidade"

Istoé, 1792, Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente

"A evolução dos celulares e dos computadores de mão impulsiona a fotografia digital"

Notícia/Entretenimento

Imagens de celulares, fotógrafo e modelo, retratando quem usa.

4. "Câmera e Ação"

Istoé, 1796, Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente

"Os celulares que fotografam deixaram de ser novidade. A onda agora são os que filmam"

Entretenimento

Imagens de celulares modernos

5. "Sebo nas Canelas"

Istoé, ed. 1794, Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente

"Criado para dar realismo aos videogames, o joystick agora é um estímulo aos músculos"

Entretenimento

Imagens de joystick-esteira e joystick-volante

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6. "Diversão em Família"

Istoé, 1841, Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente

"Os jogos que agradam a pais e filhos viram atração para quem não viajou nas férias"

Entretenimento

Imagens de jogos

Gancho: férias escolares

7. "Tragédia Anunciada"

Istoé, 1792, Brasil

"Enxurrada põe em xeque políticas municipal, estadual e federal para amenizar a fúria das

águas que matou 98 e deixou 120 mil sem teto"

Notícia

Imagem: cena da inundação; ginásio para desabrigados

Gancho: enchentes

8. "Tempo Louco"

Época, 300, Meio Ambiente

"Por que o clima enlouqueceu?"

Reportagem

Imagens: diversas, retratando consequências do aquecimento global

Contexto: aborda as possíveis causas e consequências do aquecimento global

Gancho: enchentes pelo Brasil e tornados no Sul

9. "Dança Negra"

Istoé, 1839, Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente

"Tornados que atingiram Criciúma deixam centenas de desabrigados e despertam brasileiros

para as catástrofes naturais"

Notícia

Imagem ilustrada de um tornado se aproximando do sul do país.

Sem contextualização aprofundada dos problemas climáticos e da possível influência do

aquecimento global

10. "Fúria dos Céus"

Época, 349, Meio Ambiente

"Os tornados, que podem chegar a 580 Km/hora, tornam-se cada vez mais comuns na Região

Sul"

Notícia

Contextualização parcial: crescimento dos registros de tornados

Gancho: os tornados que atingiram a Região Sul uma semana antes

11. "Quando a Torneira Secará"

Época, 347, Meio Ambiente

"Será que vai faltar água?"

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Notícia ou pequena reportagem

Imagens de locais onde falta ou faltará água: Rio Nilo, Mar de Aral, Rio Amarelo, Rio

Colorado e Aquífero Ogallala

Contexto: o debate sobre a escassez da água, suas causas e possíveis consequências

12. "Deu a Louca no Clima"

Istoé, 1795, Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente

"As chuvas avassaladoras e as oscilações bruscas na temperatura vieram para ficar. São

sintomas do aquecimento do planeta"

Reportagem

Imagens de espécies afetadas pelo aquecimento global; tufão; queimadas; catástrofes diversas

Contextualiza o aquecimento global, suas causas e consequências

Gancho: chuvas fortes e temperaturas extremas no país

13. "O Predador, de Perto"

Época, 299, Meio Ambiente

"Biólogo lança o mais completo guia sobre os tubarões que espreitam no litoral brasileiro"

Entretenimento

Imagem: ao centro, tubarão manchado de sangue e com a boca aberta; acima, o livro, sem

muito destaque

Contexto: a ação dos tubarões no litoral brasileiro

Gancho: o lançamento do livro

14. "Bacalhau com Coca-Cola"

Istoé, 1795, A Semana

Nota/Entretenimento com linguagem irônica

Imagem: o bacalhau aberto, com a lata de Coca-Cola aparecendo; garoto sorridente segurando

uma lata de Coca-Cola

15. "O Peixe que Engoliu um Celular"

Istoé, 1797, A Semana

Nota/Entretenimento com linguagem irônica

Imagem: ilustração de um peixe tremendo com o toque do telefone

16. "Um Falcão Muito Chique"

Istoé, 1838, A Semana

Nota/Entretenimento com linguagem irônica

Imagem: belo falcão de asas abertas

17. "Totó Country Club"

Época, 348, Animais

"Mordomia para cachorros aumenta com a criação de espaços recreativos e de socialização"

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Notícia/Entretenimento

Imagem: a carteirinha de sócio dos cachorros; cães passeando e nadando

18. "A um Passo da Emoção"

Istoé, 1843, Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente

"Os robôs já correm, dançam e fazem caretas. O desafio é saber se o andróide perfeito será tão

humano quanto nós"

Notícia/Entretenimento

Imagem: robôs

Contexto: o assunto sobre robôs em filmes e no cotidiano

19. "Os Melhores Amigos do Homem"

Istoé, 1792, Saúde

"Animais ajudam na recuperação de pacientes e melhoram ânimo de crianças e idosos"

Notícia ou pequena reportagem

Imagem: animais belos (cães, peixes, equinos)

20. "Eles Existem, Logo Eles Pensam"

Istoé, 1795, Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente

"Os cientistas investigam o que os donos de animais de estimação já sabiam: os bichos são

mais espertos do que se imaginava"

Reportagem

Imagem: gatos, cães e pônei

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Apêndice B – Anúncios publicitários de automóveis

Marca/Revista ÉPOCA ISTOÉ

Volswagen Sim Sim

Fiat Não Sim

Renault Sim Sim

Honda Sim Sim

Peugeot Sim Sim

Ford Sim Sim

Toyota Não Sim

Mercedes Sim Não

Citroen Sim Não

Hertz Sim Não

Mitsubishi Sim Não