jornal retrato - a história da Área continental de são vicente

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Suplemento Especial sobre a Área Continental de São Vicente novembro/2009 Área Continental O Futuro de São Vicente está aqui! Com mais de 80 anos e muitas áreas para abrigar grandes empreendimentos, a Área Continental é a “menina dos olhos” de políticos e empresários. Confira nesta edição a rica história da região e de seus moradores

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- Este jornal é fruto do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Jornalismo de Douglas Luan da Silva. Elaborado em 2009, é um jornal tabloide de 20 páginas, que conta a história de crescimento e desenvolvimento da Área Continental de São Vicente, uma das mais importantes regiões da Baixada Santista.

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Page 1: Jornal Retrato - a História da Área Continental de São Vicente

Jornal retrato

Suplemento Especialsobre a

Área Continental de São Vicentenovembro/2009

Área Continental

O Futuro deSão Vicente está aqui!

Com mais de 80 anos e muitas áreas paraabrigar grandesempreendimentos, a Área Continental é a “menina dos olhos” de políticos e empresários. Confira nesta edição a rica história da região e de seus moradores

Page 2: Jornal Retrato - a História da Área Continental de São Vicente

Jornal retrato

Por que retrato?Nome, formato, pautas... Todo o jornal foi idealizado após

entrevista com 395 moradores da Área Continental

Contar histórias e fazer um verdadeiro retrato da Área Continental de São Vicente. Esta é a proposta deste Tra-

balho de Conclusão de Curso (TCC), em formato impresso. Mais do que reportagens, o intuito deste jornal é ser fonte oficial e referência para pesquisas, tornando-se um registro verdadeiro da história do continen-te. E para que isso acontecesse, a população da região participou efe-tivamente, expondo suas opiniões e dando sugestões para a montagem do jornal.

Entre 18 de junho e 13 de agosto, 395 moradores da Área Continen-tal participaram de uma pesquisa de opinião com 12 perguntas sobre o lugar onde moram. O número de moradores foi extraído com base nos dados da Justiça Eleitoral, atu-alizados em abril de 2009, pois os índices do Censo 2000 já estavam defasados. Assim, as entrevistas fo-ram feitas somente com pessoas que têm domicílio eleitoral na Área Con-tinental, divididas pelos nove bair-ros, seguindo critérios de número de moradores, faixa etária e sexo.

Com o resultado deste questioná-rio, foi traçado um perfil refletindo o que pensam os moradores sobre a re-gião, seus principais problemas e me-lhores serviços; como veem a região ser retratada na imprensa e se conhe-cem a história de desenvolvimento dos núcleos onde vivem. A partir daí, foram traçadas as pautas (assuntos) que serão retratados neste jornal.

Os moradores apontaram, tam-bém, se conheciam uma publicação sobre o continente, o melhor forma-to, assuntos que seriam destaque, o nome do jornal (entre quatro opções), e a melhor tipografia para o título das matérias e para o texto. Desta forma, é possível afirmar que todo este produto foi produzido, pensado e montado se-guindo a opinião dos moradores, sen-do assim, o retrato desta região. Retra-to, aliás, que foi o nome escolhido por mais de 30% dos entrevistados.

A margem de erro desta pesquisa é de 5% para mais ou para menos e, o nível de confiança, 95%. Os locais para coleta dos dados foram escolhidos ale-atoriamente, assim como os entrevista-dos, baseando-se nos critérios pré-esta-belecidos para a execução da pesquisa.

Editorial

Expediente

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Feliz quem tem uma história para contarA declaração acima foi dada

pelo sr. Domingos Barreiros, um dos primeiros moradores da Gle-ba II do Parque das Bandeiras. E ela é uma das sínteses deste Trabalho de Conclusão de Curso. Você verá, leitor, nestas próxi-mas páginas, os registros de uma das regiões mais importantes da Baixada Santista, registros que mostram o quão rica é a história da Área Continental vicentina.

O desenvolvimento desta região explodiu na década de 80. Após o fracasso do “Milagre Econômico”, e dos consequentes problemas financeiros da época, muitas pessoas trocaram o alu-guel pela aposta de viver em uma região pouco conhecida e pouco explorada. Tanto que em 1979, segundo reportagens de A Tri-buna, viviam aproximadamente 20 mil pessoas no continente. Com a implantação dos conjun-tos habitacionais e a construção da Ponte dos Barreiros estma-se que este número chegue a 100

mil atualmente.Para buscar a maior fidelida-

de possível, uma pesquisa inédi-ta, realizada com 395 moradores dos nove bairros da região, apon-tou o que eles pensam sobre a parte continental vicentina. tudo isso para realizar o melhor perfil possível. E isto você, leitor, verá nas próximas páginas deste jor-nal. Além disso, são histórias de superação, força e garra de uma das áreas mais promissoras da Primeira Cidade do Brasil.

As áreas a serem exploradas no Continente são as esperanças para São Vicente. Os projetos animam até os mais desacredita-dos. A Área tem sua importância, tanto que, em abril de 1999 foi reconhecida oficialmente como Distrito Municipal. E o Jornal Re-trato, desenvolvido para os mo-radores da região, não podia dei-xar de registrar estas histórias. As ricas histórias de uma Área que tem muito ainda o que con-tar e mostrar.

Conheça a Área Continental:1 - Humaitá e Vila Nova Mariana* : 16.227 habitantes Área: 5,38 km²

2 - Parque Continental12.557 habitantesÁrea: 4,22 km²

3 - Jardim Rio Branco12.411 habitantesÁrea: 4,88 km²

4 - Jardim Irmã Dolores16.741 habitantes

Área: 16,44 km²

5 - Samaritá1.472 habitantes

Área: 2,81 km²

6 - Parque das Bandeiras 11.522 habitantes Área: 3,33 km²

7 - Vila Emma2.772 habitantesÁrea: 1,62 km²

8 - Vila Nova São Vicente3.966 habitantesÁrea: 0,39 km²

Fonte: IBGE - Censo 2000* À época, a Vila Nova Mariana ainda não era considerada bairro, por isso não há números oficiais.

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Jornal Retrato – Suplemento Especial da Área Continental de São Vicente – É um trabalho de Conclusão de Curso de Comunicação Social (Habilitação – Jornalismo) da Faculdade de Artes e Comunicação da UNISANTA. Diretor da FaAC: Prof. Humberto Iafullo Challoub (Mtb 17.645) – Coordenador de Jornalismo: Prof. Dr. Robson Bastos (Mtb 15.390) - Editor Responsável: Douglas Luan – Orientação: Prof. Dr. Fernando De Maria (Mtb 21.123) – Design Gráfico: Douglas Luan e Bruno Santana – Textos: Douglas Luan – Fotos: Douglas Luan, Márcio Pinheiro (Mtb 33.590) e Reprodução.

Page 3: Jornal Retrato - a História da Área Continental de São Vicente

Jornal retrato

Um lugar bom para viverMais de 50% dos moradores da Área Continental acham que, mesmo com a distância dos

grandes centros, a região é boa para morar

Área Continental. Para muitos, um lugar dis-tante, de difícil acesso, periférico, praticamente

um pedaço do interior no Litoral. Mas, ao traduzir a região em nú-meros, pode-se constatar que a realidade é muito diferente e vem mudando com o passar dos anos. Ao considerar o número de habi-tantes, a extensão de toda a re-gião, os equipamentos públicos e o comércio que vagarosamente se expande, percebe-se que a Área Continental é uma cidade dentro de São Vicente.

Com mais de 100 mil habitan-tes divididos em nove bairros e crescendo cada vez mais, a par-te continental de São Vicente já tem sua importância dentro do cenário regional. Tanto que, de-mograficamente, é maior que 89% dos municípios paulistas. E os seus moradores se orgulham disso. Isso foi verificado por meio de pesquisa realizada com 395 pessoas que residem no nú-cleo. Para 51% dos moradores, o local, de uma maneira geral, é um lugar ótimo ou bom para morar, somando-se os que responderam ótimo e bom. E quando a per-gunta foi especificamente sobre o bairro o número não foi muito

diferente: 49% gostam do lugar onde moram.

MotivosAs razões para tamanha apro-

vação são várias. Márcia Teixeira dos Santos, auxiliar de limpeza, de 43 anos, reside no Humaitá há exatos 27 anos. “Eu me mudei de Santos para lá assim que o con-junto foi fundado. Era uma ótima oportunidade de ter a casa pró-pria, por isso não podia deixar passar”, lembrou.

Ela recorda que nos primeiros anos existiam poucos serviços no bairro, o que foi mudando com o tempo. “Era difícil fazer qualquer coisa morando no Humaitá, além do transporte ser distante, entre o final da década de 80 e o come-ço dos anos 90, ele era precário, sem falar nas escolas e unidades de saúde. Mas, com o passar dos tempos, isso aqui cresceu bastan-te”, recordou.

Para Márcia Teixeira, o Humai-tá lembra uma cidade do interior. “Gosto porque é sossegado, tem tudo que a gente quer e bem per-to. Faltam algumas coisas, como o asfalto, ou uma solução para um ponto ou outro que enche quando chove forte mas, mesmo assim, aconselharia quem quises-

se vir morar aqui”, disse.Everton Luiz, autônomo de

22 anos e que também mora no Humaitá, concorda com Márcia. “Tenho uma ótima convivência com meus vizinhos, são todos meus amigos”.

Até quem mora há menos tem-po na Área Continental aprendeu a gostar do local. Luiza Maria de Barros tem 33 anos e mora há apenas dois meses no Jardim Rio Branco. Ela veio do Nor-deste para São Paulo com o marido e duas filhas, por causa do trabalho do es-poso. Mesmo com o pouco tempo na nova residên-cia, ela já começa a mostrar apreço pelo novo bairro. “Acho tudo muito bom”, afirma, com um largo sorriso no rosto.

Suas filhas estão na escola, “que é mais perto de casa do que no outro lugar onde eu morava e é bem mais estruturada”, lembra. De acordo com Luiza, tudo é mais perto e a tranquilidade do bair-ro agrada. “Com certeza existem coisas que podem melhorar, mas nem mesmo a distância do Centro da Cidade me desanima, acho que aqui é o meu lugar”.

Já Luciana de Oliveira, dona de casa de 30 anos, trocou o Morro da Nova Cintra, em Santos, pelo Jardim Rio Branco há 10 anos. E não se ar-repende. “A calmaria daqui lembra muito o interior de São Paulo. Não gosto de agitação, correria e o bairro não tem nada disso”, completou.

Para o apo-sentado José Manuel de Oli-veira, que mora no Parque das Bandeiras e tem 49 anos, seu bairro também é um lugar muito bom. “Já enfren-tei bem mais di-

ficuldades aqui. O começo foi muito difícil, não tinha nada, as ruas eram só barro, era difícil sair de casa para comprar alguma coisa”. Mas as lem-branças recentes alegram e enchem de esperança o aposentado.

“Tudo melhorou bastante, me animo ao ver a Área Continental crescer. As coisas, de pouquinho em pouquinho, vão ficando cada vez melhores. Espero que este crescimento não faça a tranquili-dade que reina no meu bairro de-saparecer, mas acredito que isto não vá acontecer”, aposta Oliveira.

“As lembranças nos alegram e

enchem de esperança”

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Vista do Parque Continental: tranquilidade é destacada por moradores

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Passado vive nos trilhosPrimeiro núcleo a ser habitado no continente, Samaritá reserva ar interiorano

Andar pela Rua Sergipe, no Samaritá, é como fazer uma viagem no tempo. Na via de 300 metros está a

estação de trem, os postos da polícia e de saúde, o comércio, a escola e a igreja. Tudo em um lugar tranquilo, cercado pela vegetação nativa, inco-mum de se pensar hoje em dia. Este é o cenário atual do primeiro bairro da Área Continental de São Vicente.

Mesmo sen-do o pioneiro da região, o Samari-tá não seguiu o mesmo ritmo de desenvolvimen-to dos outros bairros. Por isso, ainda guarda res-quícios de uma rica história, liga-da diretamente às linhas de trem e à estação, ins-taladas naquele local e que hoje não funcionam mais.

O ano era 1927. O go-vernador do Estado, Júlio Prestes, deter-minou a construção de um entron-camento entre as Southern Railway, via que ligava o Interior e o Planalto à Sorocabana, estrada de ferro que já existia até Santos. Com isso, foi criada a “linha Juquiá”, que uniria a Capital e o Litoral ao Vale do Ribei-ra. O marco para a construção desta grande obra foi, justamente, pela localização, o desconhecido distrito do Samaritá.

Com isso, iniciou-se a constru-ção da linha. Os pais de Maria Apa-recida Paulino Ribeiro, de 77 anos, participaram deste processo como operários. A partir daí, começou uma trajetória muito próxima entre ela e o núcleo. “Não tínhamos resi-dência fixa, morávamos um pouco em cada lugar. Conforme os ope-rários avançavam, íamos mudando nossos acampamentos”.

Até o dia em que a obra chegou ao local, seus pais continuavam o trabalho intenso na abertura das ferrovias na região. “Mas meu pai tinha medo que eu e minha irmã

fôssemos analfabetas, por isso, nos matriculou na escola”. Ela passou a estudar, em 1940, na recém-criada Escola Mista de Samaritá, atual-mente Escola Municipal Armindo Ramos. “Não chegavam a ter 30 alu-nos na sala e o primeiro, segundo e terceiro anos eram juntos”. Todos os alunos da unidade eram filhos de funcionários da via que se insta-laram em pequenos chalés ofereci-

dos pela empresa. Algumas destas casas de madeira permanecem até hoje no bairro, intactas, mantendo viva a memória daquela época.

Quando completou oito anos, sua família saiu de lá, mas logo ela retor-nou ao bairro. “Fui morar em Santos, mas todo dia vinha para o Samaritá. Tinha algo que me fazia vir para pes-quisar a história, até hoje não sei o que é”, diz, aos risos.

A partir destas pesquisas his-tóricas, surge a controvérsia com o nome do bairro. Alguns historiadores afirmam que é a junção de três ex-pressões hebraicas: Sama (desolação, abandono), Rit (espetáculo, imagem) e Áh (determinativo), que juntos for-mam Samaritáh, traduzindo, aquele lugar que é a imagem da desolação, ou o retrato da aridez, do abandono. “Segundo minhas pesquisas, um gru-po de monges atuava por esta região antigamente e um deles era conhecido por ser bondoso, daí recebeu o apelido de bom samaritano. Seus outros com-panheiros apelidaram o lugar onde

ficavam de Samaritá por causa dele”, explica.

Maria também participou da pri-meira missa celebrada na Área Conti-nental, há 61 anos. De acordo com ela, o local escolhido foi um grande terre-no, próximo da estação. “A celebração foi campal e presidida por dom Idílio José Soares. Ele veio de trem junto com um padre, e um outro trem espe-cial, oferecido pela Fepasa (empresa de

estrada de ferro pertencente ao Estado de São Paulo), trazia os ferroviários e seus familiares de graça”, lem-bra.

Ela passou a residir fixa-mente no nú-cleo em 1965 e criou seus cinco filhos no Samaritá. No único comércio do bairro e um dos poucos da Área Continen-tal, comprava as “coisas de casa”. “Os trens geravam muito

movimento no comércio, mas tam-bém era só isso. Não tinha moradores suficientes para consumir”.

Maria acompanhou o tímido cres-cimento do bairro com o passar dos tempos. Aos poucos, as pessoas foram chegando para formar residência fixa, na fuga do aluguel. As casas foram edi-ficadas no mesmo ritmo de crescimen-to do bairro. Os pequenos caminhos de terra foram ampliados, se tornaram ruas, mas a maioria continua do mes-mo jeito, sem pavimentação.

Com o fim dos trens de passa-geiros, em 1999, a estação do Sa-maritá ficou abandonada. A área se tornou um cemitério de vagões enferrujados. A badalação existen-te no velho Samaritá sumiu.

Aos poucos, funcionários da América Latina Logística (ALL) reto-mam as atividades no local, mas não para implantar o trem de passagei-ros. Mas, mesmo depois de dez anos sem atividades, é impossível andar pela Rua Sergipe e não sentir o clima das áureas épocas dos trens.

“Eu me casei na Igrejinha

do Samaritá”Iracema Siqueira, de 51 anos, é

moradora do Samaritá há 48. Nas-ceu em Itariri e, com 3 anos, veio morar em São Vicente. Após uma rápida passagem pelo Parque Bi-taru, fixou residência no Distrito, onde vive até hoje.

Foi lá onde cresceu, estudou e conheceu o esposo. “Fomos criados juntos, desde pequenos. Quando já era mais adolescente comecei a ‘mexer’ com ele e daí iniciamos um namoro. Dois anos depois resolve-mos nos casar”.

Ela lembra até hoje da cerimônia do casamento, na simpática Igreja de Santa Teresinha (foto), a primei-ra da Área Continental. Edificada em 1972, o templo veio substituir uma pequena edificação destinada à santa, padroeira das missões. A principal incentivadora da constru-ção foi a irmã Maria Alberta, que lutou para angariar fundos para erguer o espaço. A rua ao lado da igreja ganhou o nome da religiosa, após o falecimento dela.

Iracema até hoje é colaboradora da comunidade. Cumpre com sua “missão evangelizadora”, auxilian-do na catequese e em outras ativi-dades. E a igrejinha do Samaritá é mais especial ainda na vida dela. “Foi na Igreja de Santa Teresinha que também celebrei as minhas bo-das de prata, em 2003. Tive a honra e o privilégio de me casar duas ve-zes na mesma igreja”. Amém.

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Estação do Samaritá guarda lembranças. No destaque dona Cida

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Jornal retrato

Um bairro cortado ao meioParque das Bandeiras é o único núcleo dividido pela Rodovia Padre Manoel da Nóbrega

O Parque das Bandeiras é um bairro dividido. Mas sua divisão não é causada por moti-

vos ideológicos, religiosos ou de gangues. O que faz com que o núcleo, o único da Área Con-tinental, seja repartido em dois é a Rodovia Padre Manoel da Nó-brega (antiga Rodovia Pedro Ta-ques). Mesmo com essa divisão física, o bairro consegue crescer e se destacar como um dos mais estruturados da região.

Em 1969, Eduardo Celso San-tos, proprietário de diversos ter-renos na Área Continental, en-trou com o processo n° 599 na Prefeitura de São Vicente solici-tando autorização para realizar um loteamento nas imediações da Rodovia. O processo de ter-raplanagem do local e as vendas dos lotes tiveram início no ano seguinte.

Para identificar o conjunto

às margens da rodovia, foram colocadas bandeiras coloridas. Na praça central também exis-tiam diversas bandeiras. Por isso, os responsáveis pelo lo-teamento batizaram o local de Parque das Bandeiras.

José Abelardo Sobrera de Carvalho, de 51 anos, lembra muito bem deste início. Com apenas 16 anos, mudou-se do Jardim Guassu para o Parque das Bandeiras, junto, com os pais. “Jogava bola desde mole-que, e aqui tinha muito espaço para brincar”. O morador lem-bra que quando chegou ao bair-ro, o número de casas era baixo. “Da pista (no início do conjunto) dava para ver todo o terrão e a estação de trem”, recorda.

O loteamento foi liberado sem ligações de água, esgoto e iluminação pública, o que difi-cultava a vida dos moradores. “Tínhamos que buscar água em

um chafariz, uma ligação de água potável que ficava na pra-ça (atualmente a Praça Brasília). Era só uma torneira para todo o bairro”, lembra Carvalho.

Era na praça que ficava o único ponto de iluminação pública do bairro. Foi durante o mandato de Koyu Iha – prefeito de São Vicente de 1977 a 1981 – que o Parque das Bandeiras ganhou a iluminação pública e a água encanada.

Ainda de acordo com Carva-lho, como meio de incentivar a vinda de novos moradores para o núcleo recém-formado, os res-ponsáveis pelo loteamento doa-ram aos 100 primeiros compra-dores um milheiro de blocos e um caminhão de areia.

Carvalho fez sua vida no Par-que das Bandeiras. Começou a trabalhar em uma loja de mate-riais de construção e, não muito tempo depois, criou o próprio comércio, uma serralheria. Ca-sou, criou três filhos e não pen-sa em sair do núcleo. “Aqui é um lugar bom demais. Não pen-so em me mudar”.

Histórico de lutasQuem vive no bairro tam-

bém lembra das lutas por me-

lhores condições de vida. Luiz Silva, ou o Luiz da Padaria, de 63 anos, participou de muitas lutas. Entre os protestos que participou desde 1973, está o de interdição da Rodovia Pedro Taques.

Quando chegava a tempora-da de verão, a pista, que até en-tão tinha duas faixas, uma sen-tido Praia Grande e a outra em direção a Cubatão, ficava ape-nas com o sentido único para o Litoral Sul. Assim, a locomoção para outras regiões, que já era difícil, ficava ainda pior.

“Certo dia, o pessoal se revol-tou e fomos fazer um protesto pedindo a duplicação. Fechamos a pista, queimamos pneus, eram mais de 500 pessoas. O batalhão do choque da Polícia Militar veio de São Paulo para acabar com a manifestação, e a situação, que até então estava tranquila, aca-bou se tornando uma guerra. Para fugir da ira da polícia, o povo entrou na igreja. Teve de tudo neste dia”. Mas, mesmo com esta grande batalha, o saldo foi positivo. “Geramos um grande congestionamento, que foi até Peruíbe. Mas a pista foi duplicada posteriormente”, salientou.

No outro lado, a Gleba IIUm sucesso de vendas. Foi so-

mente por este motivo que a Gleba II do Parque das Bandeiras foi lo-teada. Como todos os terrenos do primeiro trecho foram vendidos ra-pidamente, Eduardo Celso Santos, responsável pelos loteamentos, re-solveu investir no local. E deu cer-to. A palavra Gleba quer dizer uma grande porção de terra não urbani-zada. Por isso, o local que muitos consideram como um bairro inde-pendente é, na realidade, uma ou-tra parte do Parque das Bandeiras, separado da Gleba I pela Rodovia Padre Manoel da Nóbrega.

Wânia Ruiz Barreiros, 46 anos, é responsável pela primeira e única imobiliária na Gleba II do Parque das Bandeiras, criada há 27 anos. Não é à toa que ela foi uma das primeiras a adquirir um lote no local. “Morei na juventu-de na Cidade Náutica e, depois de me casar, passei a morar em São Paulo. Certo dia, vinha para Praia Grande e vi este novo loteamen-to. Paramos e, como as condições de pagamento eram flexíveis (até 72 meses para pagar), compra-mos um lote”.

Segundo Wânia, o loteamento chamava atenção pela beleza. “Já tinha calçamento e guias. Após construir a casa, eu e meu mari-do fomos convidados para traba-lhar como corretores deste lotea-mento”. A partir daí, começaram a edificar também a vida neste novo local. “Nossa filha foi a pri-meira a nascer na Gleba II. Passa-mos por muitas dificuldades, en-tre elas a falta de infraestrutura, de escolas e creches”, lembra.

Ela pensou em se mudar, mas a vontade de viver em um lugar tranquilo falou mais forte. “Se-guramos as broncas e hoje esta-mos bem sucedidos. Minha filha se formou em Direito e montou o escritório no bairro, o primei-ro da Gleba II. Depois de ter so-frido tanto, não penso em sair daqui”, afirmou.

Para Wânia, “a única coisa que nos divide é a Rodovia, mas ago-ra com o viaduto (inaugurado em 2008 pelo Governo do Estado) fica tudo bem mais fácil”. Ela acredita que o Parque das Bandeiras é um só. Um bairro que tem muita his-tória para contar.

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José (esq.) e Wânia: Eles gostam do lugar onde vivem

Page 6: Jornal Retrato - a História da Área Continental de São Vicente

Jornal retrato

De onde vem esta Emma (ou Ema)?Segundo núcleo a ser loteado na Área Continental, o bairro guarda importantes tradições

A Vila Emma é um lugar tranquilo, ruas quase sempre vazias e casas simples. Este foi o segun-

do núcleo loteado na Área Conti-nental, no final da década de 50. Muito tempo passou e as tradi-ções são mantidas no cotidiano de quem vive no bairro. Mas a pergun-ta que mais intriga os moradores é: de onde vem esta Ema que bati-za o lugar?

A primeira impressão é a de que o nome é referência à ave de origem na América do Sul e que só se distingue de um avestruz por ter três dedos nos pés. Segundo Wilson Roberto de Lima, aposen-tado, de 63 anos, o que dizem nas ruas do núcleo é que os índios que viviam antigamente nas localida-des cuidavam destes bichos e, por isso, o nome do bairro faz referên-cia a eles.

Mas a versão oficial quem dá é Claudinei Alves Emernegildo, de 46 anos, mais de 30 no bairro. Em 1952, Vitório Viquetti, um paulis-ta que era dono de alguns alquei-res de terra na área organizou um loteamento. Fez as divisões dos terrenos e das ruas e, em homena-gem a sua mulher, que se chama-va Emma Viquetti, batizou o lugar como “Vila Emma”. Nos registros

da Prefeitura, o nome é grafado com duas letras eme.

Controvérsias à parte, muito tem a se contar sobre as histórias deste pequeno bairro, de 2.772 ha-bitantes, segundo o Censo do IBGE de 2000. Os dois moradores sem-pre se reúnem com vários amigos às terças-feiras, num ato que já é tradição. No bar de Emernegildo, cozinham moídos de boi em um forno à lenha. Tradição que pas-sa as gerações e, em meio a este almoço, contaram as histórias do lugar que escolheram para viver.

De acordo com Wilson Rober-to de Lima, quando ele chegou ao bairro, em 1978, o local tinha pou-cas casas. “Já morava em uma área próxima ao Samaritá desde a dé-cada de 50 e só tinha condição de comprar um terreno aqui na Vila Emma”.

Além das poucas residências, segundo o morador, havia muito mato no local e as ruas, pequenos caminhos de terra, eram de pura lama. “Para a ambulância chegar até aqui era muito complicado, principalmente em épocas de chu-va. Teve um dia que uma entrou aqui e atolou. O trator veio para retirá-la e também ficou atolado. Era uma situação muito complica-da”, relembra.

E as dificuldades não paravam por aí. A iluminação só chegou no início da década de 80. A água era re-tirada de um poço artesiano. Foi no mesmo período que a água encana-da chegou ao local. “Os primeiros 50 moradores foram premiados e não pagaram a instalação da água. Para ele, acompanhar o desenvolvimento do núcleo, que hoje conta com ruas asfaltadas, é muito satisfatório. “Fico feliz em ver a Vila Emma do jeito que está hoje. Não me mudaria daqui por nada neste mundo”.

As lembranças dos tempos passados são boas. “Lembro mui-to dos bate-papos à noite, quando, sentados em frente as nossas ca-sas conversávamos por muito tem-po. Eram várias pessoas, era muito bom”, afirma.

IolandaNo início da década de 50, ou-

tros loteamentos foram criados na Área Continental, entre eles a Vila Iolanda. Este lote surgiu com o desenvolvimento do Samaritá. Graças ao crescimento do nú-cleo, que era impulsionado pelo movimento na estrada de ferro, muitas pessoas começaram a se interessar pelas áreas próximas da estação.

Pouco se sabe sobre a Vila Io-landa, mas segundo alguns mo-radores, este espaço pertencia a uma família com o sobrenome Iolanda. Como este loteamento nunca foi apresentado oficial-mente à Prefeitura de São Vicen-te, não chegou a ser aprovado, mas foi habitado.

O pequeno núcleo, que tinha cinco ruas, foi oficialmente su-primido pela Lei Complementar 216/98, de abairramento muni-cipal. Esta lei reorganizou a área urbana de São Vicente e determi-nou que o município passaria a ter 28 bairros. Com isso, as seis ruas do núcleo foram incluídas na Vila Emma.

O tradicional time da VilaA Vila Emma também tem ou-

tras marcas tradicionais. Uma delas é o Vila Ema Futebol Clube, fundado em 1975 pelo pai de Clau-dinei Alves Emernegildo. A casa do time era o campo do Baixadão, um grande terreno localizado na margem direi-ta da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega.

O Baixadão não era so-mente a casa do time da Vila Emma. Equipes do Parque das Ban-deiras, do Jardim Rio Branco e do Humaitá utilizavam o espaço para mandar seus jogos, mas quem mandava mesmo nas partidas no

local era a equipe montada pelos moradores da Vila.

Emernegildo lembra das parti-das que movimentavam o campo do Baixadão. Além dos “clássicos” locais, com as equipes da própria

Área Continental, até equi-pes do Interior e de outros estados do País protagoni-zaram duelos eletrizantes no campo.

“Uma partida que até hoje está na memória de quem participou foi Vila Emma contra Caquendi, de São João Del Rei, de Minas

Gerais. Como meu pai era mineiro e conhecia muita gente de lá, ele marcava estes jogos.

Ainda de acordo com ele, di-versos jogadores que passaram

pelo Baixadão fizeram sucesso nos campos de futebol profis-sional no País inteiro. “Atletas como Café e Bizu jogaram em times do Nordeste e o Juninho hoje é atleta do CSA, das Alago-as”, relata Bicudo.

Mesmo com toda esta história e tradição, o futuro do Vila Ema está ameaçado. Os responsáveis pela equipe perderam os docu-mentos que, segundo eles, davam posse do terreno do Baixadão para os moradores do bairro. Sem a comprovação, uma empresa pode tomar posse da área. “Seria uma pena, mas procuraríamos ou-tro lugar”, diz Bicudo. E a história do tradicional time, do tradicional bairro, teria que ser escrita em ou-tros gramados.

“Jogadores doBaixadãoviraram

profissionais”

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Ruas da Vila Emma, de tão vazias, lembram o interior

Page 7: Jornal Retrato - a História da Área Continental de São Vicente

Jornal retrato

Integração que causa polêmicaEm 1998, a Vila Matias passou a integrar a Vila Nova São Vicente.

Foi o bastante para começar a discussão

Os moradores da Vila Nova São Vicente vi-vem um dilema. Depois da Lei Nº 227 de 1998,

o pequeno núcleo chamado Vila Matias passou a integrar o bair-ro. No papel é assim, mas a prática é dife-rente. Quem mora no lugar não assume esta identida-de.

O impas-se é causado porque a Vila Nova São Vi-cente, que é, segundo regis-tros, um lote-amento mais novo que o da outra vila, foi apresen-tado pela Sa-maritá Empre-e n d i m e n t o s Imobiliários e aprovado na Prefeitura de São Vicente em 1984. Já o outro lado, ocupado poucos anos antes, per-tence a outros donos, e foi inva-dido por centenas de pessoas. Por isso, não é reconhecido pelo Poder Público Municipal.

Outros motivos também cau-sam indignação por parte dos moradores. Enquanto um lado é asfaltado e arrumado, o outro ainda precisa de muita coisa. E é seguindo neste dilema que a história dos bairros foi sendo escrita: inicialmente separados e agora juntos para sempre.

Início da Vila NovaO nome escolhido para o lo-

teamento Nova São Vicente faz referência ao momento espera-do para região: os investimentos e promessas de melhorias, além das especulações alimentavam isso.

Cícero Honorato dos Santos, aposentado, de 49 anos, chegou a Área Continental há 30 anos, vindo de Alagoas para conseguir

emprego na Baixada Santista. Por dez anos morou no Parque das Bandeiras e quando ficou saben-do que a imobiliária loteava uma nova área, logo se interessou.

“Morava de aluguel e assim

Aqui é a Vila Matias!Alheios à lei que acaba com

a Vila Matias, os moradores afir-mam que o núcleo não morreu. Basta estar no local e perguntar: onde você mora? A resposta é imediata: na Vila Matias. É muito difícil encontrar, na área de 15 ruas que compreende o lugar, al-guém que afirme morar na Nova São Vicente.

Martinho Santana dos Santos (foto), aposentado, de 55 anos, foi um dos primeiros morado-res do núcleo. Em 1982, saiu de Cubatão, onde pagava aluguel, para se aventurar, sozinho, em uma área promissora próxima da Rodovia Padre Manoel da Nó-brega. “Quando cheguei aqui só existia um pequeno barraco pró-ximo da linha do trem”.

As condições de vida no lo-cal eram precárias. Não havia ruas e avenidas, apenas peque-nos caminhos de terra no meio do mato. No barraco que ergueu

não existia ligação elétrica e a água para as necessidades bási-cas era buscada no Parque das Bandeiras, mais de um quilô-metro de sua casa. “Pegava com baldes no chafariz da Praça Bra-sília”, recorda.

Heleno Be-zerra da Silva, pedreiro, de 49 anos, chegou ao local em 1983, depois de ter tra-balhado na cons-trução do Con-junto Humaitá. De acordo com ele, nem a polícia, nem a Prefei-tura, muito menos os proprie-tários das terras, uma família tradicional que tinha Matias no sobrenome, se importaram com a invasão. “Depois que começou, veio um senhor representando a família e vendeu os terrenos des-ta região. Ele media e negociava

a metragem na hora”.Mesmo com esta negociação,

a Prefeitura de São Vicente nun-ca aprovou qualquer loteamen-to naquele local, por isso a ven-da foi irregular.

Os dois moradores afirmam que a Vila Matias é um lugar e a Vila Nova São Vicente é outro. “Ela nem existia quando isto aqui começou a crescer”, salien-ta Bezerra. Ainda assim, depois de terem invadido a

área, hoje são donos legítimos de onde vivem, por causa do usocapião (quando, após um pe-ríodo de uso, sem a reclamação do proprietário, o não proprie-tário ganha o direito de posse sobre a terra ou casa). E conti-nuam a vida, seja na Vila Matias ou na Vila Nova São Vicente

“Ele media e negociava a

metragem na hora”

que surgiu a oportunidade com-prei um lote no bairro”. Quando chegou, existiam apenas dez ca-sas, “além de lama e mato”. As ligações básicas de água e luz também já estavam instaladas

nas poucas residências do núcleo.

Segundo o morador, o boom de crescimento da Vila Nova São Vicente aconteceu entre 1993 e 1994. Uma das maiores dificuldades enfrenta-das na época era o sis-tema de transporte que, de acordo com Honora-to, era deficitário. “Tí-nhamos que ir até a Vila Emma ou ao Parque das Bandeiras para tomar um ônibus ou o trem”, recorda. Hoje, de acordo com ele, o sistema é bem melhor. “O que precisa é concluir a pavimenta-ção do bairro”, diz.

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Fim do asfalto marca divisão entre núcleos

Page 8: Jornal Retrato - a História da Área Continental de São Vicente

Jornal retrato

Aposta que deu certoUm grande terreno no meio do nada. Quem foi para o Humaitá logo no início enfrentou muitas dificuldades

Sair de um lugar com uma infraestrutura básica, com equipa-mentos

perto de casa para morar em um local novo, afastado dos grandes cen-tros e de difí-cil acesso. Esta troca, impossí-vel de se pen-sar nos dias de hoje, aconteceu com mais de 3 mil famílias em novembro de 1983. Foi nesta data que o Con-junto Humaitá foi entregue oficialmente. Na época, um grande desafio. Atua lmente , uma realidade, um dos mais importantes e mais es-truturados bairros de São Vicente.

O conjunto foi idealizado pela Companhia de Habitação da Baixa-da Santista (Cohab-BS). A constru-ção das casas aconteceu entre 1978 e 1983, por meio de financiamento do extinto Banco Nacional da Habi-tação (BNH). Eram residências po-pulares, construídas em um estilo idêntico, e voltadas para pessoas com uma renda mais baixa, que queriam realizar o sonho da casa própria em um período economica-mente difícil.

E era neste contexto que se en-caixava Eliseu Bispo dos Santos, hoje aposentado, de 55 anos. Ele mora-va em Santos e ficou sabendo que a Cohab-BS realizava a inscrição para aquisição de lotes em dois novos em-preendimentos, os conjuntos Humai-tá, em São Vicente e o Sambambaia, em Praia Grande.

“Não conhecia nenhum dos dois lugares. Fui me inscrever na própria sede da Cohab. Não conseguia mais pagar aluguel, a situação estava fi-cando complicado”, lembra Bispo. Logo após, foi conhecer o local e ficou surpreso. “Era um areião, com os terrenos demarcados com esta-cas de madeira. Não tinha nada per-

to, era um espaço no meio do nada”. Mesmo com o susto, não desistiu.

O sorteio foi feito em 1983, no pátio do Colégio Santista. “Tinha muita gente naquele dia. Fui sor-teado e saí de lá com a chave nas mãos”, diz. Foram distribuídas três tipos de residência: uma casa-em-brião, uma espécie de sala-living nos dias de hoje, além de residên-cias com um e dois quartos. Eliseu Bispo ganhou a casa-embrião.

O preconceito foi uma das coi-sas que mais marcou a trajetória do novo morador. “Por causa da distân-cia, diziam que morávamos em terra de índio. A Rodovia Padre Manuel da Nóbrega era pista simples. Por isto, para ir ao trabalho, tinha que ir até a Praia Grande para pegar um ônibus e ir em direção a Santos”, diz.

Além disso, a falta de iluminação pública logo no início geravam situ-ações engraçadas. “As casas eram todas bem parecidas e também não tinham muros. Era uma coisa só. Às vezes, quando chegávamos à noite, ainda sem costume, era comum con-fundir a casa e bater em uma outra residência”, lembra.

Por causa destas dificuldades, muita gente deixou o local. “As pessoas trocavam casas por cai-xas de cerveja, porque não acredi-tavam que o Humaitá daria certo.

Quem apostou e continuou, se deu bem”. Com o passar dos anos, a

situação melhorou e hoje ele não se arre-pende. “Agora temos mercado, farmácia e outras coisas, tudo perto de casa; a pis-ta foi duplicada e o número de ônibus aumentou considera-velmente”, conta.

ComércioUm dos pontos

fortes do bairro é o comércio. A Rua José Singer, por exemplo, é considerada um dos principais pon-tos do bairro, onde se localizam diversos serviços. Mas, assim como os moradores, os comerciantes tam-bém tiveram dificul-dades no início.

José Gomes de Moura Irmão, 48 anos, conhecido como Castelinho, foi um dos pioneiros do núcleo.

Ele morava no Jardim Rio Branco quando o Humaitá foi entregue e, no dia da inauguração, já pensou em marcar o seu ponto. “Peguei meu carro, coloquei um som em cima e fui vender refrigerante para os moradores”. Nos dias seguintes, o mesmo carro levava ao bairro, que ainda não tinha qualquer co-mércio, pão e leite.

Com o aumento da procura, Moura resolveu se instalar definiti-vamente no bairro. Junto com mais algumas pessoas pegou algumas lonas e, na praça atrás do Colégio Kelma Maria, formou uma espécie de conjunto comercial. “Chegou a existir quatro barracas na praça”.

O apelido de José Gomes de Moura veio junto com o seu pri-meiro comércio fixo, um mini-mer-cado nas proximidades da praça do ponto final do Humaitá, cha-mado Castelinho. O comerciante pretende dar um novo impulso na carreira: vai abrir um restaurante self-service com churrascaria no bairro, o primeiro do lugar. Mais um desafio para alguém que apos-tou no Humaitá.

A favela que se tornou bairroNos fundos do Humaitá, em uma

área próxima ao leito do Rio Maria-na, começava a surgir, em 1992, pe-quenos focos de uma iminente inva-são. Luiz Carlos de Jesus, ajudante, de 44 anos, foi um dos primeiros a montar um barraco no local, formando a Favela do Mariana. “Foram feitas duas invasões: na primei-ra veio a polícia e a Prefeitura quando retiraram o pessoal. Na segunda veio só a polícia, mas era muita gente, e em um certo momento ficou difícil de segurar”.

Segundo Luiz Carlos, o local era re-servado pela Cohab para abrigar uma espécie de zoológico, “pois ali tinha mato e mangue”. O tio dele tinha uma residência no Humaitá, e ao saber que havia um pequeno foco de invasão, Luiz foi tentar conquistar seu pedaço de terra. “Era difícil pagar aluguel”.

As primeiras casas erguidas eram de madeira. Os terrenos foram separados e aterrados em medidas parecidas, para evitar confusões. “Também criamos cinco vielas”, explica o ajudan-

te. Com o passar do tempo o local foi crescendo e as casas de madeira foram substituídas por outras de alve-naria. Também che-gou a luz e a água encanada.

Em 2004, uma legislação mu-nicipal tornou o pequeno núcleo, hoje com aproximadamente 5 mil moradores, em um bairro, a Vila Nova Mariana. “O nosso bairro já está deixando o estigma de fa-vela. Hoje, ele está urbanizado, não tem enchentes e nunca teve incêndio. A própria comunidade está se organizando”, finaliza Luiz Carlos.

“Vila NovaMariana

surgiu em 92”

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Eliseu na praça H: ponto de encontro dos moradores do bairro

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Jornal retrato

“Capital” da Área ContinentalUm dos principais bairros da região, o Jardim Rio Branco ainda tem muito a ser feito

O Jardim Rio Branco tem uma semelhança com a Capital Federal, Brasília. Por estar no centro da

Área Continental e servir de passa-gem entre outros bairros e a ilha, o Rio Branco concentra, na avenida principal, a Ulysses Guimarães, de-zenas de comércios e serviços, além da delegacia e a subprefeitura. Mas ao sair da avenida parece que se está em outro bairro, assim como em Brasília que, planejada e imponente, mas as cidades satélites próximas passam por dificuldades.

Poucas vias são pavimentadas e o que se vê é mato e lama. O bairro cresce por sua posição estratégica, mas andar pelas ruas é uma tarefa difícil, principalmente em dias de chuva. Muitos alegam que o bairro foi um dos primeiros do continente e que merecia mais atenção.

InícioO loteamento do Jardim Rio

Branco teve início em 1957. A área pertencia à família de Leão Jafet, que entrou com um processo na Prefei-tura solicitando a autorização para a venda de lotes. O nome é uma re-ferência ao rio de água salgada que passa próximo do bairro, o Branco.

Mesmo com início no final da

década de 50, poucas casas foram erguidas no bairro na época. O re-ceio de que um loteamento naquela região não daria certo era grande. Jocilene Santana Menezes, de 37 anos, proprietária de uma casa de lanches, vive no Jardim Rio Branco há 28 anos. Ela veio de Cubatão com o pai, a mãe e seis irmãos.

“Existiam poucas casas aqui e o que se via era uma área de mangue e outra área bem fina, parecida com a da praia”. O pai de Jocilene ergueu um barraco de madeira em uma área aterrada de mangue. “Eram três cô-modos para oito pessoas”. Segundo ela, no projeto inicial do bairro, a avenida principal seria uma via que hoje é chamada de Rua 13. “Simples-mente mudou e eles usaram a Ulys-ses Guimarães”, afirma.

Durante os primeiros meses, não havia ligação elétrica e a família fica-va à base do lampião. A água vinha de um poço artesiano. “Muitas pes-soas que vinham de Cubatão para nos visitar nos taxavam de loucos por escolher morar aqui”, diz. Mas a aposta deu certo.

De acordo com a moradora, os terrenos do bairro se valorizaram com o tempo e com o crescimento do núcleo. O Rio Branco se desen-volveu e hoje mostra grande poten-

cial. “As pessoas tem que valorizar o lugar onde vivem, só assim poderá crescer ainda mais”, diz ela.

Tem de tudoHoje ela tira o sustento da fa-

mília da casa de lanches que mon-tou na Avenida Ulysses Guimarães. “Comecei com uma pequena lan-chonete que tinha apenas uma má-quina de sorvete. Fomos crescendo devagar e hoje o nosso comércio é referência”, relata.

Eles pescam nas águas do rio Branco

E na via, que tem pouco mais de dois quilômetros de extensão, é possível verificar a intensa ativida-de comercial. Somente neste trecho existem 159 estabelecimentos de todo tipo, desde consultórios den-tários e escritórios de advogados a bares, padarias e igrejas. “A locali-zação central da Avenida Ulysses Guimarães e o fato de ela ser larga (10 metros) colaboram para isso”, explica o subprefeito da Área Con-tinental, Ulisses Garavatti.

O rio que batizou o Jardim Rio Branco não passa próximo dele. O acesso mais fácil para ele é o Portinho, que fica na Gleba II, do Parque das Bandeiras. Ele atrai a atenção não só pe-las belas áreas de mangue próximas ao leito, mas tam-bém pela pescaria, atividade executada por moradores da Área Continental. E tudo isso, aparente-mente, imune à poluição.

Cláudio Valença de Souza, de-sempregado de 45 anos, vai ao rio há mais de 20 anos. “Desde criança gosto de pescar”. Sempre que pode, sai sozinho do Humaitá para realizar as pescarias. “Pego tainha, parati, robalo e bagres”, afirma. Enquanto dava a entrevis-ta, Valença pescou um bagre de aproximadamente 20 centímetros. “Mas vem muito peixe grande”.

Gonçalo Lopes, técnico em química, de 37 anos, vai ao rio frequentemente. Ele alerta que o número de peixes tem diminuído consideravelmente nos últimos

anos. “E isso não é causado pela poluição, mas por pessoas que vêm com redes e tarra-fas”, diz ele. Isto acon-tece também na época do defeso.

Mesmo com a di-minuição, Lopes leva

o filho de 13 anos para pescar. “É uma distração boa para ele”, ressalta o pai, dizendo que o mais importante é o menino ter contato com a natureza. “Nós podemos ter uma diversão di-ferente do que as outras pes-soas poderiam ter”. E o menino já conta histórias de pescador: disse que o maior peixe que pe-gou foi uma tainha de 1 quilo e 300 gramas.

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“Pesco tainha, parati, robalo

e bagres”

Avenida Ulysses Guimarães: principal corredor do continente

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“Toda perspectiva de crescimento de São Vicente está na Área Continental”O prefeito de São Vicente, Tercio Garcia, fala como superar os problemas do continente, da importância estratégica da região para o Município e o que a população pode esperar para o segundo mandato

A Área Continental vi-centina é o futuro do Município na visão do prefeito Tercio Garcia.

“Toda perspectiva de cresci-mento de São Vicente está na região”, explica o governante, também engenheiro agrônomo. À frente da Administração da Primeira Cidade do Brasil há cinco anos, após ter sido reelei-to em 2008 com a maioria abso-luta de votos, o prefeito vicen-tino deposita as esperanças de crescimento e desenvolvimento de São Vicente na Área Conti-nental.

A Cidade sempre passou por sérios problemas econô-micos e isso reflete na infraestrutura do Município. Este é um dos motivos da cobrança de um IPTU tão caro, se for comparado com outros muni-cípios da Baixada. Por não contar com um polo industrial, uma área portuá-ria ou um turismo sustentável, São Vi-cente se tornou um lugar de parado-xos interessante: é a segunda maior cidade da Região Metropolitana em população (fican-do atrás apenas de Santos) e a quin-ta em orçamento (sendo superada por Santos, Cubatão, Guarujá e Praia Grande).

É por este motivo que Tercio Garcia aposta tanto no desen-volvimento do continente, para “correr atrás” deste prejuízo histórico. Nesta entrevista, ele fala sobre a importância es-tratégica da região para o mu-nicípio, como superar os pro-blemas de infraestrutura que ainda atingem a região e o que os moradores do núcleo podem esperar para o futuro.

RetRato - Qual a importância da Área Continental para São Vi-cente?

Tercio Garcia - Atualmente, um terço da população da Cida-de mora lá, portanto, a região tem um peso muito grande para a Cidade. De tudo que o Muni-cípio tem, 1/3 tem que estar voltado para a Área Continental neste momento. A gente efetiva-mente faz muito mais porque, por muito tempo, a região ficou afastada da Área Insular, por não ter uma ligação física. Por isso, agora temos que recuperar

o tempo perdido. E para o futuro, a parte continental terá um peso ain-da maior, porque toda a perspec-tiva de cresci-mento da Cida-de está na Área Continental, nas áreas ainda li-vres da região onde se pode produzir todo o serviço retropor-tuário que a Bai-xada vai precisar no futuro. Então, lá na frente, nós esperamos que a importância dela seja bem maior que hoje.

R - Então o sr. considera que a Área Continen-tal pode ser a “salvação” por

ter áreas disponíveis para a implantação de empreendi-mentos que podem impulsionar a Cidade?

Tercio - Eu não diria salva-ção, mas como ferramenta de planejamento é para lá que a Cidade tem que crescer. Portan-to, será possível criar condições para que o Município possua uma importante fonte de renda e que dê uma dignidade maior para o seu povo, mais do que consegue dar hoje.

R - Em efeitos comparativos, por ser um distrito oficial vicen-tino, a Área Continental pode ser para o município o que Vicente de Carvalho é para o Guarujá hoje?

Tercio - Eu acho que pode sim, sem dúvida, mas não é este o caminho que pretendemos dar. O caminho que queremos seguir é mais ecológico e, a rigor, essa decisão acaba sendo do povo. Houve um momento em que as pessoas que residem na parte con-tinental lideravam um movimento muito for-te de transformar este distrito da Área Conti-nental em uma cidade. Hoje, isso já é bem me-nor do que no passado, pois, na medida em que a pessoa vai se sentin-do integrada a São Vi-cente, este sentimento vai diminuindo.

R – O Jornal Retrato realizou pesquisa com 395 moradores da re-gião e um dos resulta-dos mais expressivos é o que apontou que mais da metade dos mora-dores gostam do lugar onde vivem. Como ava-liar este resultado?

Tercio - É, de fato, o reconhecimento do momento atual. A Área Continental, em todos os índices do Municí-pio, como o de violên-cia, por exemplo, é melhor do que a ilha. As pessoas conse-guem enxergar isso, o que é po-sitivo. O que falta é justamente a infraestrutura que a ilha tem por ter quase 500 anos de his-tória, e a parte continental tem muito menos do que isso. Hoje, a Área Continental é o núcleo de São Vicente que mais cres-ce, e a conexão efetiva do con-tinente com a Administração Municipal se deu a partir de 1998, quando foi finalizada a ligação via Ponte dos Barreiros.

Foi ali que começou o boom de crescimento e o respeito efeti-vo à Região. Atualmente, o que a Área Continental precisa é de infraestrutura. Quando nós conseguirmos completar todas as ações básicas, a região será ótima para morar. Eu tenho certeza disso.

R - Sobre os serviços públicos oferecidos à população, a coleta de lixo e os transportes foram apontados como os melhores pe-los moradores...

Tercio - São serviços que, efe-tivamente, competem à Prefeitu-ra, juntamente com saúde e edu-cação. É claro que a gente busca aplicá-los com bastante critério, pois é uma área que, em espe-cial, não conta com a infraes-trutura que precisaria contar ou que contará daqui a alguns anos. Por isso, você precisa ter uma

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“Hoje, este é o núcleo que mais

cresce emSão Vicente” Tercio visita obras de urbanização no Jardim Irmã Dolores: prefeito aposta na Área Continental

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“Toda perspectiva de crescimento de São Vicente está na Área Continental”O prefeito de São Vicente, Tercio Garcia, fala como superar os problemas do continente, da importância estratégica da região para o Município e o que a população pode esperar para o segundo mandato

coleta de lixo capacitada, por já não contar com a rede de esgoto completa, com asfalto na rua. É preciso que estes e outros servi-ços compensem. Há uma atenção especial para estas áreas e eu fico feliz em saber que a popula-ção consegue enxergar isso.

R - Entre os serviços que mais preocupam a população estão a saúde e a segurança. Quais são os projetos da Prefeitura?

Tercio – Como segurança é algo exclusivo do Estado, nós contribuímos com o que é possí-vel. Quanto à saúde, nos últimos anos, a pasta, principalmente na Área Continental, foi uma das que mais investiu e criou novos postos, a ponto de ter serviços no continente que não existem ainda na Ilha, como o Centro Es-pecializado Odontológico (CEO).

Há necessidade de reforma nos prontos-socorros e sabemos dis-so. Na Cidade, nós temos quatro destes equipamentos, dois na Área Insular e dois na Área Conti-nental. Então, há um atendimento de saú-

de que cor-r e s p o n d e com o ofe-recido na ilha. O que acontece é que, pontu-almente, no país inteiro, a saúde é en xe rgada com maus olhos pela população. É uma pas-ta desgas-tada. Mas, as ações da saúde no M u n i c í p i o de São Vi-cente têm sido muito concentradas na Área Continental.

R - Outro ponto bas-tante criticado pela popu-lação foi a pavimentação. Recentemente, foi anun-ciado um investimento de R$ 700 mil para asfaltar o Humaitá. Mas quais são os projetos da Prefeitura para contemplar os outros

bairros?Tercio - Toda a pavimentação

na Cidade se dá por meio do Pla-no de Contribuição de Melhorias (PCM). Portanto, é com o pagamen-to da população que essa melhoria é feita. A nossa preocupação é a se-guinte: quanto mais você se afasta do grande centro, mais as pessoas têm dificuldades em pagar esta contribuição por melhoria. Então, nosso caminho tem sido buscar recursos junto aos governos do Es-tado e Federal. Recursos estes que nem sempre são fáceis de captar

para diminuir esta prestação das pessoas. Efetivamente, pagar todas

vão pagar, mas se nós pudermos di-minuir a presta-ção das pessoas, é melhor que seja assim. Então, o que aconteceu no Jardim Rio Bran-co e no Humaitá é exatamente isso: conseguimos re-cursos de emen-da ou de projetos para diminuir o peso da contribui-ção das pessoas. Na medida em que nós formos obtendo recursos, toda a Área Con-tinental será con-templada.

R - O que o sr. enxerga como maior desafio quando se fala de Área Continental?

Tercio - Acho que o maior de

todos os desafios é fazer com que a população desta região se sinta parte integrante de São Vicente. Ainda hoje as pessoas falam ‘eu sou da Área Continental’ ou quan-

Raio Xda Área Continental

do se deslocam de lá dizem ‘eu vou para São Vicente’. E eu sei que isto acontece por todo um históri-co de afastamento que houve. Isso se conquista com melhoria, com qualidade de vida. As dificuldades hoje em dia são menores que anti-gamente, mas ainda há um senti-mento muito grande de que a Área Continental é um lugar e de que São Vicente é outro. O nosso tra-balho tem sido muito concentrado em fazer com que a Área Conti-nental se sinta integrada, absolu-tamente, à cidade de São Vicente. Seja Ilha ou Área Continental, não importa, a Cidade é uma só, e eu acho que o grande desafio é este, pois você mexe com a autoestima, com o sentimento das pessoas. E estes sempre são os desafios mais complicados, de longo prazo.

R - O que o morador da Área Continental pode esperar deste seu segundo mandato?

Tercio - A Área Continental vem crescendo e eu não tenho dúvidas de que em breve será um grande celeiro de empregos e de qualidade de vida. O futuro da re-gião depende do que planejamos hoje e como o planejamento está sendo feito com carinho. Eu tenho certeza de que este pedaço de São Vicente tem um futuro maravilho-so e brilhante pela frente.

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Residências - 19.866População - 87.573 Escolas - 21Equipamentos de Saúde - 15Bolsa Família/ Famílias Beneficiadas – 3.152

IPTU 2008Lançado – R$ 9,47 milhõesArrecadado – R$ 5,80 milhõesFonte: IBGE e Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão Orçamentária

“As dificuldades de hoje são

menores que antigamente”

Tercio visita obras de urbanização no Jardim Irmã Dolores: prefeito aposta na Área Continental

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Na planície, surge o Parque Continental

Um dos maiores bairros da regiãose desenvolve rapidamente

Último loteamento particu-lar autorizado pela Prefei-tura na região, em 1986,

o Parque Continental registrou no início dos anos 90 uma gran-de expansão. Mas quem chegou no começo enfrentou problemas que hoje se tornaram lembranças deste que é um dos maiores bair-ros do continente - com mais de 15 mil habitantes.

A empresa responsável por or-ganizar o loteamento foi a extinta Samaritá Empreendimentos Imobi-liários, um braço da Cidade Náu-tica Imóveis, de propriedade de Eduardo Celso Santos. O nome do bairro se refere à grande área de planície que faz do lugar um bair-ro completamente nivelado, com ruas largas e espaçosas.

O chefe de departamento, José Batista da Cruz, de 49 anos, foi um dos primeiros a comprar um des-tes lotes. Na década de 80, ele tra-balhava como motorista e trazia, da Cosipa, os moradores da Área Continental para suas residências. “Morava no Jardim Castelo, em Santos, e pagava aluguel. Um dia, ao deixar um funcionário no Hu-maitá ele comentou comigo que estavam vendendo terrenos em um novo loteamento. Interessei-me e fui saber detalhes”, conta.

Na mesma semana que foi se informar sobre o terreno, ga-nhou uma “quantia razoável de dinheiro” na loto. “Daí não du-videi. Paguei Cr$ 47.000 por um terreno”. Para efeitos de compa-ração, Batista gastava, por mês, Cr$ 17.000 com o aluguel de sua residência em Santos. Segundo o morador, o loteamento foi vendi-do com a promessa de que ganha-riam água encanada, luz, esgoto, guias e sarjetas. “Mas isso foi acontecer bem depois”, afirma. Quando começou a erguer sua re-sidência, existiam dez casas em todo o conjunto.

Mesmo com todos os proble-mas do início, Batista não pensou em desistir. “Existia uma areia bem

fina no Parque Continental, o bair-ro era praticamente todo assim. Quando ventava aquela areia su-bia e entrava na casa da gente. O vento também levou muitas telhas das casas que estavam sendo cons-truídas”. O morador usou um poço artesiano em sua casa por cinco anos e a água potável era buscada na casa de um amigo, no Humaitá. Mas Batista ressalta: não tem só lembranças de dificuldades.

“Até hoje, é muito fácil fa-zer amizade no bairro. Naquela época, juntávamos os amigos e íamos a um córrego que ficava próximo de casa para pescar ca-razinho. Depois nos reuníamos e era aquela festa. Também era muito bom poder participar das construções das casas dos ami-gos que chegavam aqui. Era sem-pre muito agitado, sempre tinha casa sendo erguida”.

LutasMarciano Romeu de Souza, de

63 anos, também foi um dos pri-meiros a morar no Parque Conti-nental. Ele chegou em 1987, vindo do Parque das Bandeiras. “Junto com moradores do bairro organizei uma caravana para ir até São Pau-lo, na Eletropaulo, e pleitear estas melhorias essenciais. A nossa luta não foi em vão, agimos e tivemos êxito”, afirma.

Com o passar dos anos, o Parque Continental se desenvolveu de ma-neira intensa. As poucas residências que existiam no final da década de 80 se multiplicaram e hoje existem no lugar mais de 3 mil casas. A pa-vimentação ainda não alcançou o bairro por completo, mas 70% das vias já têm asfalto. Com tanto de-senvolvimento, José Batista da Cruz e Marciano Romeu de Souza são contundentes quando a questão é se eles pretendem sair um dia do Parque Continental. “Eu quero criar meus netos e bisnetos aqui”, diz Marciano. “Só saio daqui se for para o cemitério”, afirma Batista. E que assim seja.

Tá doente? Chama o OscarO Parque Continental sempre

teve uma história muito parecida com o Humaitá. Os dois núcleos estão localizados um ao lado do outro, separados da outra mancha populacional formada pelos de-mais bairros. Assim, nos primei-ros anos, quando alguém ficava doente era preciso agir rápido. Aí apareceu um personagem que até hoje faz história.

O farmacêutico Oscar dos San-tos, de 58 anos, foi um dos pri-meiros moradores do Humaitá. Enfrentou todas as dificuldades de locomoção e adaptação, mas já no começo do conjunto instalou, no quintal de casa, pequena far-mácia. “Sou o pioneiro do Humai-tá e do (Parque) Continental. Na época, muita gente já me conhecia por ter trabalhado em farmácias de Santos”, recorda.

E como os acessos eram difí-ceis e sair do bairro para ir ao mé-dico era uma dificuldade, os mo-radores procuravam o Oscar. “Não sou benzedor. Dentro das minhas normas fazia sempre o possível. Atendia dentro daquilo que me compete como farmacêutico e procurava ajudar”. Ele atendeu desde crianças com pneumonias até pessoas picadas por cobras e com problemas de pele sem co-

brar nada. “E 99% dos casos que atendia chegavam à cura”, afirma com orgulho.

Não havia horário para que o farmacêutico usasse de sua expe-riência, já que hoje tem mais de 40 anos de profissão para aten-der quem precisava. “Atendia bem mais gente durante a noite. As pessoas iam à minha casa e eu tinha que atender, não podia me negar”. E mesmo com o pas-sar dos tempos, a população ain-da não perdeu o costume. “Quem não faleceu me procura até hoje. Eles (moradores) não dizem que vão à farmácia e sim, que vão ao Oscar”, salienta.

O farmacêutico ainda afirma que o mais importante é que as gerações que crescem na região ainda o têm como referência. “Hoje eu curo a orelha de uma criança, filha de uma menina que cuidei há um tempo atrás”, diz. Depois de quase duas décadas no Humaitá, a farmácia de Oscar passou há oito anos para o Par-que Continental. E quem precisar pode procurar os serviços dele. “Nasci para ser farmacêutico, essa é a vocação de quem traba-lha na saúde: poder ajudar aos outros sem cobrar nada”. Os mo-radores agradecem.

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Com quase 2km, Avenida Central é a principal do bairro

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Contraste doantigo e do novo

Último grande foco de invasão do continente,fusão de bairros muda o nome e dá nova esperança

Um novo-velho bairro. As-sim pode ser considerado o Jardim Irmã Dolores, fruto da junção, em 2008,

do Quarentenário com a Vila Ponte Nova. A criação deste núcleo acon-teceu graças à última grande inva-são da Área Continental, no início da década de 90. Durante todo este tempo, o bairro passou e passa por mudanças que mudam a identidade de núcleo.

Durante décadas, a área do Qua-rentenário, que pertencia ao Minis-tério da Agricultura, foi lugar para recepção e manutenção do gado que vinha do interior paulista de trem. Os bois e as vacas ficavam no local por 40 dias, período necessário para verificar se havia alguma doença nos animais e para a engorda. Após o prazo, o gado que estava saudá-vel era encaminhado ao Matadou-ro Santista, na antiga linha 1, atual Avenida Nossa Senhora de Fátima, na Zona Noroeste, em Santos, para ser abatido.

Com o final das atividades do Matadouro, aquela área parou de receber o gado. Passaram os anos e a expansão demográfica aconteceu.

O Distrito do Samaritá começa a ser habitado, seja de maneira ordenada, com conjuntos previamente criados ou por invasões. Seguindo a segun-da opção, surgiu no início da década de 90 os primeiros moradores desta região.

Como era o local da quarente-na dos bois, o nome escolhido para região foi Quarentenário. E disso, o aposentado Ademar Augusto Go-mes, popularmente conhecido como Timóteo (por sua aparência com o cantor Agnaldo Timóteo), lembra muito bem.

Ele está no núcleo há 19 anos. “Foi uma moleza, ganhei o terreno de um amigo meu”, diz. “Morava no Marapé, em Santos e pagava aluguel. Quando surgiu esta oportunidade não pensei. Vim para cá”, afirma.

A metragem dos terrenos era de-limitada pelos próprios moradores. Timóteo diz que não teve medo de arriscar. “Ganhava pouco, estava di-fícil para me sustentar. Vim com a minha patroa e graças a Deus não me arrependi”. Hoje, o aposentado está feliz no lugar onde vive. “Acom-panhei de perto todo o crescimento deste bairro. Antigamente, o pessoal

tinha medo da violência, mas hoje é diferente, melhorou demais. Espero não sair daqui nunca”.

Outro morador que acompa-nhou o crescimento do lugar foi o aposentado Cícero dos Passos, que conhecia o local há anos. “Quando era criança vinha para cá para ficar vendo os bois. Achava aquilo mara-vilhoso”, diz.

Ele também morava de aluguel na Cidade Naútica e, quando soube que estavam invadindo uma nova área não teve dúvidas. “Vim correndo e marquei meu lugar. É lá onde vivo até hoje, quase 20 anos depois”.

Nem a falta de acesso, já que a Ponte dos Barreiros foi inaugurada somente em 1994, atrapalhou os moradores na construção de suas casas. “Os materiais vinham por Cubatão ou por Praia Grande e nin-guém tinha medo de entrar aqui, mesmo com os caminhos esburaca-dos e cheios de lama. O pessoal che-gava aqui para construir a pé, vindo pela linha do trem”, relata.

Desta maneira, cresceu o Qua-rentenário de um lado e a Vila Ponte Nova do outro. A Vila foi mais recente. Suas primeiras edi-ficações, segundo a Prefeitura de

São Vicente, forma erguidas em 1995, um ano após a entrega da Ponte dos Barreiros. Daí o nome de Ponte Nova.

Papel PassadoAmbas as áreas, por serem de

invasão, não são legalizadas junto à Administração. Segundo a Secre-taria Municipal de Habitação,o lo-cal já foi cadastrado no programa Papel Passado, do Governo Fede-ral. “Foi realizada a topografia e o cadastro de todas as residências do bairro. Após isso, a Prefeitura solicitou à Secretaria de Patrimô-nio da União (SPU), responsável legal por aquelas áreas, a doação do núcleo ao Município para dar o título de posse às famílias”, ex-plica o responsável pela pasta, Alfredo Martins.

Ainda não há data prevista para isto acontecer, mas quando o pro-jeto se concretizar será uma festa no bairro. “Sabemos que a Prefei-tura busca a legalização e estamos ansiosos”, afirma Cícero Lopes, que há quase 20 anos mora em uma rua que resume toda esta história, desde a invasão ao sonho da casa própria: Vitória.

Irmã Dolores:justa homenagem

A religiosa Maria Dolores Muñiz Junqueira, popularmente conhecida como irmã Dolores, dedicou grande parte de sua vida aos mais necessitados. E algumas de suas ações estão no Quarente-nário e na Vila Ponte Nova, bairros que, juntos, receberam, em 2008, o seu nome.

Ela chegou à Área Continental em 1987, para ajudar na construção de uma igreja no Humaitá. Cleuza Maria Coelho da Silva acompanhou os passos da irmã a partir desta época. Ela conta como prosseguiu a caminhada de Dolores pelo con-tinente. “Alguns anos depois ela se mudou para o Samaritá e, em 1990, quando começou a ocupação do Quarentenário, ela foi auxiliar na ordenação”, lembra.

Cleuza conta que para chegar ao foco da invasão, Irmã Dolores caminhava pelos trilhos do trem. “Os moradores, aos poucos, co-meçavam a chegar, vinham com

lonas e madeiras, demarcavam as áreas e ficavam”. Com a ajuda dos invasores, a Irmã demarcou tam-bém território para edificar uma igreja (a Nossa Senhora da Espe-rança) e escola.

“Ela também comandou os pe-didos de implantação de caixas d’ água potável e a instalação da rede elétrica”, lembra. Ela também chefiou a luta para construção de postos de saúde, escolas, uma casa de parto e a implantação do único restaurante popular Bom Prato.

Para Cleuza, a vontade de es-tar com os mais pobres era o que motivava a religiosa a realizar tantas ações. “Ela queria viver perto dos mais necessitados, sua vocação era esta. Desde quando veio da Espanha até os últimos dias de sua vida terrena”, afir-ma. Irmã Dolores faleceu no dia 30 de agosto de 2008, devido a complicações causadas por uma broncopneumonia.

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Timóteo é uma das figuras mais conhecidas do bairro

Page 14: Jornal Retrato - a História da Área Continental de São Vicente

Jornal retrato

Saúde e segurança: dor de cabeça

Estes são os dois piores serviços oferecidos na Área Continental, segundo os moradores

Os principais problemas da maioria dos brasileiros também são preocupa-ções dos moradores da

Área Continental. Segundo a pes-quisa realizada pelo Jornal Retrato, a saúde e a segurança pública são os dois piores serviços oferecidos no núcleo. Dos 395 entrevistados, 24% responderam que a saúde não está a contento; já 12% dos moradores não estão satisfeitos com a segurança.

Josefa de Almeida Santana, dona de casa de 39 anos, e que vive no Parque das Bandeiras, já viveu problemas com o atendimento na área da saúde. No bairro existe um Pronto-Socorro que funciona 24 ho-ras com plantonistas para casos de urgência. “Mas quem necessitar está perdido”.

Ela já passou horas com a filha de quatro anos doente, esperando atendimento. “Ouvia que o médico estava atrasado e que talvez nem viesse para o plantão”, relata. “Es-perei horas até alguém fazer algo pela minha menina”. O médico che-gou, segundo ela, muito atrasado no plantão. “Nem vi o tempo, só queria que alguém a atendesse. O sofri-mento é grande”, desabafa.

Marcar consultas em alguma Unidade Básica de Saúde (UBS) tam-bém não é tarefa fácil. Armando Aparecido Soares, ajudante de 39

anos, teve que madrugar na fila da UBS do Humaitá para marcar um exame. “Cheguei antes das cinco da manhã. Se não fizer isso, a gente está na roça”, diz o morador.

ProjetosSegundo o secretário de Saúde

de São Vicente, Cláudio França, o problema da falta de médicos está sendo solucionado. “Os médicos admitidos em concurso público fo-ram direcionados, prioritariamen-te, para o Parque das Bandeiras. Já nas UBSs, a Secretaria não tem poupado esforços no sentido de completar o quadro”, garante.

O responsável pela pasta lem-bra os investimentos feitos na Área Continental. “Instalados em 2008 o Centro de Especialidades Odon-tológicas (CEO) e o Reabilitar II. O Caps do Jardim Rio Branco foi re-formado e os prontos-socorros do Parque das Bandeiras e do Humai-tá passaram por melhoras. Alias, há projetos em desenvolvimento para tornar a unidade do Humai-tá em um hospital com 70 leitos”, salientou França, lembrando que a região também ganhou uma base do SAMU. “E também foi instalada a Unidade de Saúde da Mulher, em substituição à Casa de Parto, para atender gestantes adolescentes”, conclui.

“Sinto-me presa dentro de casa” Começo de setembro, noite no

Parque Continental. José (nome fictício) chega em casa do traba-lho, estaciona o carro na garagem e, ao fechar o portão, é surpreen-dido por dois assaltantes. Maria (nome fictício), sua esposa, que chegou pouco tempo depois, tam-bém foi abordada.

“Meu marido já estava amarra-do no quarto e eles me amarraram no corredor”, recorda. Os bandidos queriam dinheiro. “Batiam no meu mari-do, chegaram a cortá-lo com uma faca. Não tínhamos nada e isso os deixava irritados”, afirma. Os assaltantes ficaram quatro horas na casa deles. “Eles se drogaram, beberam e ainda levaram nossos pertences”. Depois desta experiên-cia traumática, Maria pensa em dei-xar o Parque Continental.

Ações e númerosSegundo a Polícia Militar, só

no mês de setembro de 2009 fo-ram registradas 65 ocorrências na Área Continental, sendo 30% rou-bos. Os bairros mais visados são o Parque Continental e o Jardim Rio Branco; a maioria dos crimes acontece à noite e os dias preferi-

dos pelos bandidos são as terças, quartas e sábados.

Ainda segundo a PM, neste mesmo mês foram feitos na região dois flagrantes de porte de entor-pecentes, 16 de tráfico, 13 veícu-los roubados foram localizados, três condenados foram recaptu-rados e mais de 5 mil abordagens foram feitas.

O coronel Marcelo Prado, co-mandante do 39º BPM/I – São Vi-

cente, responsável pelo policiamento na Cidade destaca que a Área Continental é mais “tranquila” em termos de ocor-rências que a Ilha. “Trabalhamos com o apoio de uma base de dados, dos Con-selhos de Segurança,

disque-denúncia, entre outros”.Prado reconhece que um dos

pontos que o deixa mais preocu-pado são as escoltas das peniten-ciárias e dos CDPs. “São 240 por mês. É um grande efetivo disponi-bilizado”. Ainda segundo ele, 127 homens trabalham na segurança dos moradores da região. “A se-gurança é dever do Estado e res-ponsabilidade de todos, por isso a colaboração dos moradores é fun-damental”, completa.

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Penitenciária existe desde a década de 70

Todo o domingo, Joelma (nome fictício) sai de sua casa em um bairro de São Vicente, pega duas conduções, e vai até o a Penitenci-ária 1 visitar o esposo, preso por homicídio, desde 2001. “As con-dições lá dentro são difíceis. Tem muita gente dentro de um espaço muito pequeno. Eles erraram, mas merecem melhores condições”.

Esta é a realidade vivida no complexo presidiário do Samaritá, construído na margem direita da Rodovia Padre Manuel da Nóbre-ga. A Penitenciária Dr. Geraldo de Andrade Vieira (conhecida como 1) foi inaugurada em 22 de outu-bro de 1976. Após ela, foi erguida uma outra penitenciária, em 27 de novembro de 1990. O Centro de

Detenção Provisória e a unidade da Fundação Casa (antiga Febem) foram edificados em meados dos anos 2000.

Em dias de visita a região pró-xima à passarela, que leva ao pre-sídio, fica repleta de familiares e amigos dos presos. Lotações e ônibus os levam até lá.

Atualmente, a capacidade do complexo é para 1.947 presos, mas a população carcerária do lo-cal é de 3.165 presos, segundo da-dos da Secretaria de Estado de Ad-ministração Penitenciária (SAP). E este número pode aumentar em breve. Isto porque, está em fase de implantação uma penitenciária feminina na região, que pode ser entregue já em 2011.

“Os bandidos queriam dinheiro,

batiam no meu marido”

PS do Pq. das Bandeiras é alvo de críticas dos moradores

Page 15: Jornal Retrato - a História da Área Continental de São Vicente

Jornal retrato

Coleta de lixo e transportes. Estes são os melhores ser-viços públicos oferecidos aos moradores da Área

Continental, segundo pesquisa de opinião realizada com 395 pessoas pelo JoRnal RetRato. A coleta teve a melhor avaliação, e foi apontada como boa por 24% dos entrevistados; já o serviço de transportes ficou com a segunda co-locação, com 19%.

Durante a pes-quisa, era mostra-do um disco com 10 serviços públi-cos oferecidos aos moradores, que poderiam apontar até dois como me-lhores. Também era possível res-ponder todos (lem-brado por 1% dos entrevistados) ou nenhum (lembrado por 9% dos muní-cipes). Os outros serviços não chega-ram 10%.

Como funciona?Na região, a

coleta de lixo é de responsabilidade da Companhia de Desenvolvimento de São Vicente (Codesavi), que executa os traba-lhos por meio de empresa terceiri-zada, o Consórcio Lara/Termaq. Ela é executada em todos os bairros da área três vezes por semana (terça-feira, quinta-feira e sábado), sem-pre durante a manhã.

Em toda a região, são utilizados nove caminhões e 44 funcionários, entre motoristas e coletores. Men-salmente, a média de resíduos reco-lhidos nos nove bairros é de 726,102 toneladas.

A Codesavi também gerencia a coleta seletiva. Ela é realizada por um caminhão tipo carroceria, com motorista e dois coletores, uma vez por semana e os bairros são atendi-dos em dias alternados.

Segundo Márcio Papa, presi-dente da Codasavi, a companhia

Serviços têm, juntos, mais de 40% de aprovação dos moradores da Área Continental

Coleta e transportes agradamestá sempre trabalhando a fim de melhorar o serviço em São Vicente e, principalmente, na Área Conti-nental. “Tanto que já implantamos um posto de coleta seletiva fixa na Gleba II do Parque das Bandeiras e estamos em estudo para a abertu-ra de novos postos na região”.

Ele também ressalta que existem determinados locais em que a coleta de lixo domiciliar ainda é difícil, por causa de complicações no acesso dos caminhões. “Muitas ruas ainda não estão pavimentadas, e isso di-ficulta a entrada dos veículos, mas não impede de atendermos estes lo-cais. Esperamos que com o processo de urbanização o problema seja re-solvido”, afirma.

TransportesPara atender mais de 100 mil

moradores da Área Continental, são oferecidos serviços de trans-porte pelo município e pela Empre-sa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU). São ônibus, micro-ônibus e lotações, que fazem cen-tenas de viagens diariamente para diversos destinos.

Segundo Fábio Ferreira dos San-

tos Coelho, coordenador do departa-mento de engenharia de Campo da EMTU - Baixada Santista, 20 linhas de ônibus intermunicipais da Via-ção Piracicabana (responsável pelas linhas que atendem Santos, São Vi-cente, Praia Grande, Cubatão) aten-dem diariamente a Área Continental,

transpor-tando mais de 30 mil pessoas . Este núme-ro corres-ponde a 33 % do total de linhas da Baixada Santista. O t e rmina l do Hu-maitá é o maior da região. Lá estão con-centradas oito linhas intermuni-cipais.

O co-ordenador aponta a e l e v a d a demanda como mo-tivo para o

grande número de linhas. “A região tem mais de 100 mil habitantes e este número cresce diariamente. O desejo de deslocamento foi verifi-cado por meio da pesquisa Origem-Destino, que verificou que há muitas pessoas re-sidentes na área e que t r a b a l h a m em outras ci-dades da re-gião. Por isso, as linhas tive-ram grande expansão em 2005, incluin-do frotas e horários”.

Ele acredi-ta que o cres-

cimento desta demanda também se deve a falta de alternativas para a li-gação entre a Área Continental e ou-tras cidades por meio de transporte público. “Há 20 anos, os moradores utilizavam o Trem Intrametropolita-no, só que por falta de investimen-tos ele acabou ficando sucateado até parar de funcionar. Com isto, foi necessário ampliar bastante o aten-dimento feito pelos ônibus”, revela.

Já o transporte municipal é feito por veículos menores, conhecidos como lotações. O serviço funciona em São Vicente por meio de uma cooperativa, que tem sete associa-ções de diversas localidades com a responsabilidade de realizar o transporte. Na Área, existem duas delas, a Associação de Transportes do Parque das Bandeiras (ATAB), que atende o Parque das Bandeiras, Samaritá, Vila Emma e Vila Nova São Vicente e a Associação Metropolita-na de Auto-Lotação (Amalot), que é responsável pelo Humaitá, Parque Continental e Vila Nova Mariana.

A frota das duas associações tem, ao todo 145 carros sendo que cinco destes são adaptados para de-ficientes físicos. Em média, elas tra-balham diariamente com 100 car-ros, já que os motoristas realizam um rodízio por causa de folgas. No total, 580 pessoas estão vinculadas às duas associações.

A estimativa, segundo a Cooper-lotação, que gerencia o transporte na cidade, é de que os carros trans-portam diariamente mais de 25 mil passageiros só na Área Continental.

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Transporte foi um dos tópicos mais bem avaliados na pesquisa

Page 16: Jornal Retrato - a História da Área Continental de São Vicente

Jornal retrato

Ainda falta muito arroz com feijãoEmancipação da Área Continental: tema que desperta o interesse de muitos, mas perde a força com o tempo

Uma discussão que vai a cada dia perdendo for-ça. É assim que tem sido tratada a Emancipação

Politico-Administrativa da Área Continental de São Vicente da Área Insular. Movi-mento que teve for-ça e ganhou corpo entre as décadas de 80 e 90, agora está arrefecendo e as poucas lide-ranças que ainda o defendem estão cientes de que a liberdade políti-ca ainda é um sonho longe de se concretizar.

Esta matéria foi escolhida pe-los moradores entrevistados pelo JoRnal RetRato. Entre seis temas pré-estabelecidos, de casos de grande repercussão ou assuntos que tem referência direta com o desenvolvimento da Área Conti-nental (entre eles o Caso Rhodia e a construção da Ponte dos Bar-reiros), o tema Emancipação foi lembrado por 29% dos entrevis-tados. Muitas pessoas, durante as pesquisas, se mostravam curiosas e queriam saber se o tema ainda era lembrado.

E essa discussão vem de mui-tos anos. Desde a década de 70, quando o continente passou a re-ceber um número ainda maior de moradores, era discutida a auto-nomia política da Área Continen-tal. O fato de não haver ligação direta com a sede do Município, a Ilha, fazia com que especulações sobre a região surgissem.

Além da independência de São Vicente, a região também foi “cortejada” por Cubatão e Praia Grande. O fato motivou até a criação de uma Comissão Espe-cial de Vereadores na Câmara vicentina para defender a per-manência dos territórios da Área sobre responsabilidade de São Vicente. Com o passar dos anos, lideranças políticas apareceram, mas após a inauguração da Ponte dos Barreiros, a esperada ligação direta entre a ilha e o continente, no ano de 1994, este sentimento tem diminuído.

É viávelPara o ex-presidente da Asso-

ciação de Melhoramentos do Par-que Continental, José Carlos de Andrade, o futuro da região está ligado à Emancipação. “A Área

Continental já é uma cidade, tem mais de 100 mil habitantes”. Mas ele ressalta que ainda faltam alguns serviços para con-seguir uma boa es-trutura. “Não temos bancos, cartórios e

nem um hospital. Ainda preci-samos de muita coisa, mas se os investimentos chegarem será um caminho inevitável”, aposta.

Já Eduardo Vivian Mitchel, lí-der comunitário que mora no Hu-maitá, a emancipação é o desejo de todos os moradores da parte continental. “Mas para a área an-dar com as próprias pernas ainda é muito difícil”, lamenta. Segun-do ele, há anos se discutem ações que fomentariam o comércio e a indústria da região, mas ninguém faz nada. “Ainda sinto uma chama, mas a coisa não é fácil. Meu desejo é de que a Emancipação seja a curto prazo, mas pelo andar da carruagem vai demorar muito”, afir-ma.

O vereador Marcelo Correia é outro que acre-dita na autonomia polí-tica da região continen-tal de São Vicente. “Mas é preciso melhorar e crescer ainda mais”. Ele destaca que seria possí-vel remodelar a região e prepará-la para os novos investimentos. “Começa-ria do zero, sem dívidas. Hoje, a Área Continental pode até dar prejuízo para os cofres públicos, mas se fizéssemos do começo seria diferente”, relata.

Não é o rumoSegundo o cientista po-

lítico Alcindo Gonçalves, a

autonomia política pode represen-tar muitas perdas para a Área Con-tinental. “Há mais de 5 mil muni-cípios na Federação e muitos deles dependem dos governos do Estado e Federal para se manter. Hoje a re-gião continental não tem como se manter sozinha e isso pode acarre-tar sérios problemas”, alerta.

De acordo com Gonçalves, “se cada região do Brasil que tem uma certa distância em relação ao centro quiser ser autônoma, teríamos 60 mil cidades no País”. “Por isso é preciso ter cuidado. Não acho certo acontecer. Só o fato de ter que criar uma nova estrutura administrativa já gera implicações”, explica.

O deputado federal e ex-pre-feito, Márcio França, é outro que não aposta na emancipação da Área Continental. “A legislação brasileira é muito rígida quan-to a este assunto e o fato de São Vicente ser uma cidade histórica é outro agravante que dificulta ainda mais o processo”, afirma. Segundo França, os moradores

deveriam buscar outras alterna-tivas. “Poderia lutar por um nú-mero fixo de representantes na Câmara Municipal ou por um or-çamento exclusivo para lá”.

MoradoresA população tem opinião divi-

dida sobre o assunto. Lourdes de Camargo, da Vila Nova São Vicente defende o ato. “A nossa área iria crescer ainda mais”. Já Antônio Abreu de Souza, do Samaritá, não vê a autonomia política como solução. “Se fizer isso perderemos muito”. Ana Maria Tomé, que vive no Jardim irmã Dolores, acredita que o tema tem que ser discutido no futuro. “Agora não é hora de pensar nisso. Não tenho nem asfalto na minha rua”. André de Oliveira Albuquer-que, do Jardim Rio Branco, afirma que o desenvolvimento só chegará “quando estivermos libertados de São Vicente”. Jackson Santana, da Vila Ema, diz que é cedo para se pen-sar neste assunto. “Em relação à Ilha nossa região é nova. Existem outras prioridades além dessas”, diz.

“A Área Continental já é

uma cidade”

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Ponte dos Barreiros aumentou integração entre ilha e continente

Page 17: Jornal Retrato - a História da Área Continental de São Vicente

Jornal retrato

Prazer, sou a SubprefeituraSede administrativa do Distrito, criado oficialmente em 1999, abriga serviços públicos.

Subprefeito tem relação próxima com o continente

A Área Continental de São Vicente é um Dis-trito Municipal desde abril de 1999. Após a

aprovação da Lei Complementar n° 219, dez bairros (com a cria-ção do Jardim Irmã Dolores, em 2008, este número passou para nove) passaram a formar este novo Distrito. E lá há uma Sub-prefeitura, que presta diversos serviços para os moradores do continente. Mas, poucos sabem como é o funcionamento deste órgão ou até quem o comanda.

Com a criação do Distrito, foi instituído que seria instala-da na região uma subprefeitura. Esta legislação também criava o cargo de subprefeito e mais duas funções administrativas. A sede foi construída em um ter-reno municipal, na Avenida De-putado Ulysses Guimarães, no Jardim Rio Branco e inaugurada

em setembro de 2000, pelo vice-prefeito no exercício do cargo de prefeito, Nízio Cabral.

Atualmente, quem está à frente da subprefeitura do Distrito da Área Continental é Ulisses Garavat-ti. Funcionário da Prefeitura de São Vicente desde 1993, tem uma trajetória muito próxima com a região. “Quando entrei na Administração Municipal, fui trabalhar na remoção das fa-mílias que estavam no traçado da atual Avenida Angelina Pretty. Para que as obras da Ponte A Tribuna (dos Barreiros) fossem concluídas, era necessário a retirada. As pesso-as viviam em acampamentos, o Po-der Público fazia de conta que eles não existiam”, relembra.

A sua primeira missão era co-mandar a construção de 20 casas para estas famílias, em uma área do antigo Quarentenário, além

de organizar esta área, que recente-mente havia sido in-vadida por centenas de famílias. “Fazía-mos reuniões com as lideranças de lá, sempre com a aju-da da irmã Dolores. Neste caso, a Igreja chegou primeiro que

o Estado e prestava assistência”, diz. No início da invasão, segun-do Garavatti, moravam 1.800 fa-mílias. “Pouco tempo depois este número saltou para 2.700 e hoje vivem naquele núcleo mais de 17 mil pessoas”.

Ainda de acordo com ele, an-tes da criação da subprefeitura havia apenas um departamento,

chamado de regional, para aten-der toda a Área Continental. O subprefeito afirma que graças a representatividade política da região na Câmara Municipal e ao então prefeito Márcio França, a Área Continental se tornou um Distrito. “O intuito (de se criar uma subprefeitura) é destinar mais recursos, especificamen-te para esta região e melhorar a qualidade de vida de todos os moradores”, afirma Garavatti.

DesafiosAtualmente, o subprefeito da

Área Continental aponta como maior desafio realizar a drena-gem e urbanização do Jardim Rio Branco. “Já realizamos in-vestimentos importantes, como a construção de um anel viário que interliga o Rio Branco, o Sa-maritá e a Vila Nova São Vicente; o Parque Continental também recebeu obras de urbanização. Ao executar estas obras no Jar-dim Rio Branco conseguiremos avançar bastante”. Ele ainda ressalta que outras ações são desenvolvidas paralelamente. “O investimento em saneamento básico é primordial. São obras complicadas, que incomodam os moradores, mas são de extre-ma importância para aumentar a qualidade de vida”.

Garavatti também aponta como outras metas na sua gestão à frente da Subprefeitura. “Quero concluir os serviços de drenagem e pavimentação da antiga Vila Ponte Nova e executar a segunda fase do anel viário que ligará os bairros da Área Continental, com o prolongamento da Avenida do Quarentenário”, explica.

Para ele, a função da subpre-feitura é contribuir para a me-lhora da qualidade de vida dos moradores da Área Continental. “Fazemos uma espécie de serviço de zeladoria pela região, tirando os lixos e os entulhos das ruas. Desenvolvemos um trabalho in-tensificado nos bairros, corrigin-do urbanisticamente o que tem de ser corrigido”, salienta.

“Fazemos uma espécie deserviço de

zeladoria da região”

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A subprefeitura fica na Avenida Ulysses Guimarães, 211, Jardim Rio Branco

Page 18: Jornal Retrato - a História da Área Continental de São Vicente

Jornal retrato

A Baixada Santista abri-ga um dos jornais mais antigos do País. A Tri-buna, com 116 anos, já

noticiou fatos que entraram para a história da região, do Brasil e do mundo. E, há 21 anos, as pá-ginas do jornal mostravam, em uma série de matérias, a vida de centenas de pessoas que cons-truíam uma nova história, em um local pouco conhe-cido. O Desafio do Samaritá, primeira série de reporta-gens a respeito da Área Continental, marcou época. O responsável pelo trabalho, jornalista Clóvis Rodol-pho Carvalho de Vasconcellos, lembra com satisfação do pro-cesso de produção.

Os textos ocuparam uma pági-na do jornal, entre 11 e 15 de abril de 1988. “Eu já cobria São Vicente e percebi que Samaritá, com toda aquela imensidão, era uma nova fronteira, principalmente após a inauguração do Humaitá. Era o destino natural de pessoas com dificuldades e lá viviam, pionei-ros que, de forma destemida, via-bilizariam o progresso”, lembra Vasconcellos.

O jornalista se estruturou, criou temas e passou 11 dias consecutivos indo à Área Conti-nental. “Não tive folga do noti-ciário diário. Fazia este serviço paralelamente com os outros”, explica ele que, para chegar aos núcleos ia de carro com o faleci-do fotógrafo João Vieira Júnior, por Praia Grande.

Quando a Área Continental virou mancheteO jornalista Clóvis Vasconcellos fez a primeira série de matérias sobre a região para o jornal A Tribuna, em 1988

MarcasA garra dos primeiros morado-

res do antigo Distrito do Samari-tá animou Vasconcellos. “Isto me marcou demais. Os comerciantes construíam uma vida mesmo sen-do tachados de loucos, eles per-severaram”. Desta série pioneira, ele se recorda de um personagem em especial. “Havia um comer-

ciante do Samari-tá, chamado An-tônio Pedro, que contava histó-rias fantásticas. Ele dizia que em frente ao seu bar se reuniam caça-dores que anda-vam pela região.

Era maravilhoso”.Clóvis Vasconcellos ainda se

mostra preocupado em relação ao tema invasões na Área Conti-nental do Município. “Isto (ocu-pações irregulares) tem que pa-rar, senão nunca se alcançará um patamar homogêneo de desenvol-vimento”, diz.

CartasSegundo o jornalista, muitas

cartas foram enviadas à redação, elogiando o jornalista pela série de matérias. “Recebi menção na Câmara Municipal e o então de-putado federal Koyu Iha também me homenageou. As reportagens também acabaram forçando a conclusão da Ponte dos Barrei-ros”, afirma Vasconcellos. A série O Desafio do Samaritá foi lembrada pelo jornal A Tribuna em junho de 2000, como uma das principais matérias da histó-ria da publicação.

Caso Rhodia teverepercussão internacionalAlém das reportagens sobre a

Área Continental, Clovis Vascon-cellos foi o responsável por denun-ciar a empresa francesa Rhodia pelo descarte irregular de produ-tos altamente perigosos à saúde humana em terrenos do antigo Quarentenário. Eram pedras ama-relas, de cheiro fortíssimo, que fo-ram depositadas naquela área por caminhões que vinham de Cuba-tão, entre 1974 e 1976.

Ainda de acordo com o jor-nalista, o material ficou conhe-cido como Pó da China. “Quando as pessoas tinham contato com aquele material sentiam coceira, irritações na pele, vômitos e mal-estar”. Ele ficou sabendo do caso quando moradores da região leva-ram até a sucursal de A Tribuna, em São Vicente, uma sacola com

esta pedra amarela. Ao receber a denúncia, ele levou este material à Cetesb para análise e foi cons-tatado que era um produto alta-mente perigoso.

Foi por meio das matérias que o fato teve o conhecimento das autoridades. “Esta matéria chegou às mãos do então presidente fran-cês, François Mitterrand. Como a Rhodia era uma estatal francesa, ele determinou que fosse feito a descontaminação do solo daquela região”, explica o jornalista.

As matérias feitas sobre o as-sunto foram base para Clóvis Vas-concellos desenvolver sua disser-tação de mestrado, defendido na Universidade de São Paulo (USP), em 1993. Até hoje existem áreas isoladas e resíduos do material descartado pela Rhodia.

“Comerciantes eram tachadosde loucos. Eles perserveraram”

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Jornalista foi o primeiro a denunciar despejo irregular de lixo

Reprodução da série especial sobre a Área

Continental de São Vicente,

produzida pelo jornalista

Page 19: Jornal Retrato - a História da Área Continental de São Vicente

Jornal retrato

O futuro é próspero!Autoridades, jornalistas e moradores dizem o que esperam para a Área Continental

O futuro de São Vicente e da Baixada Santista está na Área Continen-tal. Este é o resumo de

tudo o que pensam especialistas, jornalistas, comerciantes, mora-dores e políticos que, ouvidos pelo Jornal Retra-to opinaram sobre as perspectivas da região continental vicentina. Agora é só aguardar o fu-turo!

A arquiteta e pós-graduada em Engenharia Urbana, Elizabeth Correia, que trabalha em São Vi-cente com projetos para a Admi-nistração Municipal há 13 anos acredita que, apesar da Área Continental ser relativamente mais nova que a Área Insular, o potencial de expansão urbana é muito grande para um futuro próximo.

“Aquela região tem os espa-ços que faltam em outras cida-des. É sensível o crescimento, a expansão e a valorização. O

importante é a Prefeitura traba-lhar no Projeto Indústria, para fomentar a instalação de empre-sas”, afirma.

O secretário de Planejamen-to de São Vicente, Emerson dos Santos, é outro que aposta na

parte continental. “É uma área estratégica para o futuro da Ci-dade, muitas ações estão voltadas para lá”. Já o corretor de imóveis, Antônio Ri-beira, destaca o cres-cimento contínuo da

Área Continental.

PolíticosO deputado estadual e ex-ve-

reador, Luciano Batista, também acredita no potencial da região. “Espero que ela seja o futuro da Baixada. Santos e as outras ci-dades não têm mais para onde crescer, por isso a Área pode ser a solução no ponto de vis-ta econômico e social”. Para o deputado federal e ex-prefeito, Márcio França, “a área pode

abrigar condomínios luxuosos, e aproveitar as belezas naturais para buscar o desenvolvimento da região.”

Koyu Iha, ex-prefeito de São Vicente, destaca outro ponto. “Nas áreas que lá existem, po-dem ser implantadas empresas retroportuárias, não esquecen-do a possibilidade da criação do aeroporto da Praia Grande, que ficará perto da divisa com São Vicente e do Polo Industrial de Cubatão. Então, as perspec-tivas são as melhores”.

JornalistasValéria Malzone, da sucursal do

Jornal A Tribuna em São Vicente, tem uma visão superpositiva da Área Continental. “Em pouco tem-po aquela região se desenvolveu brutamente. A saída é urbanizar e controlar os loteamentos irregu-lares, pois o crescimento já está batendo à porta”. Marcelo Luis, do Expresso Popular, projeta a região como bem desenvolvida e muito populosa. “Daqui a 20 anos, vis-lumbro uma série de investimentos

em habitação e indústrias”.

Já Alcione Herzog, tam-bém do Expres-so, destaca que a “tendência é a moderni-dade chegar depressa ao local, princi-palmente com a implantação do Veículo leve sobre Trilhos (VLT)”. Para a jornalista, a re-gião continen-tal é uma das partes mais importantes da Baixada Santista.

MoradoresKátia Ri-

beiro, da Vila Nova São Vi-cente, acredi-ta que a ver-

dadeira valorização da região está próxima. Já Adalberto Pe-droso, morador do Jardim Rio Branco, as empresas que podem se instalar no continente, se fo-rem ambientalmente corretas, irão impulsionar os bairros.

Ana Maria Romualdo (foto), que mora no Humaitá, diz que a Área Continental é futuro não só pra a família dela, como também para a Cidade de São Vicente

Andressa de Souza, do Par-que Continental, alerta para obras de insfraestrutura, como asfalto e saneamento, que ainda não existem em alguns bairros. Manuel de Almeida, que vive no Parque das Bandeiras, vê na re-gião a solução para os proble-mas de toda a Baixada Santista.

Os comerciantes também estão empolgados. Jonatan Ra-mos, do Jardim Irmã Dolores, aposta no potencial comercial da área. Eduardo da Silva, do Humaitá, já trabalha na amplia-ção do seu comércio graças à expansão do continente nos úl-timos anos.

“Região tem espaços que faltam nas cidades”

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Terrenos na margem direita na Rodovia: espaços para abrigar empresas

Page 20: Jornal Retrato - a História da Área Continental de São Vicente

Jornal retrato20 Jornal retrato20

RiquezaNatural

A Área Continental reserva regiões que mantém intac-tas pedaços da Mata Atlântica. Pelo núcleo passam três rios: Branco, Mariana e Piaçabuçu. Já no Acaraú-Paratinga, zona que fica no pé da Serra do Mar, três cachoeiras pouco conhecidas chamam a atenção pela beleza. Confira as belas imagens destas riquezas naturais.

Rio Mariana Cachoeira 1

Cachoeira 2Rio Piaçabuçu

Cachoeira 3Rio Branco