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Informativo do Conselho Regional de Medicina do Estado de Roraima EDIÇÃO: 40ª | Março 2014 ENTREVISTA PÁG. 8 PÁG. 12 CRM-RR emite alerta sobre o perigo de cirurgias plásticas realizadas na Venezuela Conheça um pouco mais da obstetra Alda Regina Gonçalez Mendes Mais uma vitória da categoria médica Pág. 8

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Page 1: Jornal crmrr ed40 1

Informativo do Conselho Regional de Medicina do Estado de Roraima

EDIÇÃO: 40ª | Março 2014

ENTREVISTA

PÁG. 8 PÁG. 12

CRM-RR emite alerta sobre o perigo de cirurgias plásticas

realizadas na Venezuela Conheça um pouco mais da obstetra

Alda Regina Gonçalez Mendes

Mais uma vitóriada categoria médicaPág. 8

Page 2: Jornal crmrr ed40 1

2Março - 2014

O Governo Federal, por meio do Ministério da Saúde, con-tinua não querendo assumir o seu papel de gestor maior

dos Serviços Públicos de Saúde oferecidos à população brasileira.Em 12 de novembro de 2013,o MS editou a Portaria n 1.253

que reduz o acesso às mulheres de se prevenirem com relação ao câncer de mama. Essa medida configura um retrocesso ao direi-to constitucional, pois, a Lei 11.664/2008 assegura o acesso ao exame de mamografia pelo Sistema Único de Saúde às mulheres a partir dos 40 anos de idade. Porém, na contramão dos avanços na assistência à saúde da mulher, a Portaria editada em novembro de 2013 dificulta o acesso ao exame para mulheres com menos de 50 anos de idade, colocando em risco a saúde desse seguimento. Tal fato fere constitucionalmente o que os juristas chamam de Proibição do Retrocesso Social, ou seja, o direito adquirido pela Lei 11.664/2008 deve prevalecer para garantir as conquistas sociais existentes e manter o Estado Democrático e Social de Direito.

Vejam o que diz o Art. 2º da referida Portaria, e o seu parágrafo único:

Fica incluída na Ta-bela de Procedimentos do SUS a REGRA CON-DICIONADA (código 005) que condiciona ex-cepcionalmente o tipo de financiamento do proce-dimento 02.04.03.018-8 - mamografia bilateral para rastreamento, pelo Fundo de Ações Estratégicas e Compensação (FAEC).

Parágrafo único – Esta regra será aplicada

quando o procedimento de que trata o caput deste artigo for realizado em pessoa com a idade recomendada pelo Ministério da Saúde compreendida entre 50 a 69 anos.

O Ministério da Saúde faz uma recomendação, a qual não pode se sobrepor ao direito adquirido na Lei n 11.664/2008, em vigor desde 29 de abril de 2009, onde estabelece que toda mulher tem direito a mamografia a partir dos 40 anos.

Com esta decisão, o Ministério da Saúde restringe o re-passe de verbas da União para os municípios para realização de mamografia de rastreamento apenas nas mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos, deixando por conta dos municípios o cumprimento da lei para realizar mamografia de rastreamento em mulheres na faixa etária de 40 a 49 anos. E ainda, a Portaria faz alusão para a possibilidade da mamografia unilateral, o que é um absurdo, já que a mamografia diagnóstica exige comparação nas duas mamas.

Há de se convir que a grande maioria dos municípios brasileiros, com suas economias sofríveis, não pode arcar com tamanha responsa-bilidade social. A diminuição progressiva na participação da união no financiamento da saúde joga nas costas dos municípios uma assistência que eles não têm capacidade financeira para assumir.

Como o responsável pela saúde da população é o Estado Brasileiro, o Governo Federal deveria atender aos apelos das Entidades Médicas, que junto com outros seguimentos da sociedade, lutam pela aprovação de um projeto de lei por mais recursos para a saúde.

O Conselho Federal de Medicina (CFM), Colégio Brasilei-ro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Fe-brasgo) e Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) repudiam em nota a referida Portaria, e podem contestá-la judicialmente.

De acordo com parecer da Comissão Nacional de Mamogra-fia – formada pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia e Sociedade Brasileira de Mastologia, estudo interna-cional aponta redução de 26% a 29% na mortalidade em mulheres entre 40 e 49 anos comparadas a pacientes não submetidas ao rastreamento (mamografia preventiva). A Comissão também cita estudo brasileiro mostrando que 42% dos casos de câncer de mama registrados em Goiânia (GO) ocorreram em pacientes abaixo dos 49 anos. O levantamento de um grande hospital on-cológico de Curitiba (PR) aponta que, de 2005 a 2009, 39,8% das pacientes operadas com diagnóstico de câncer de mama tinham até 49 anos. O índice passou a 37,1% de 2010 a 2011.

Os médicos brasileiros não podem admitir que, mais uma vez, em nome da falta de recursos ou contenção destes, o sacri-fício seja à custa dos usuários do SUS. Neste caso específico, à custa do sofrimento das mulheres brasileiras.

EDITORIAL

“Os médicos brasileiros não podem admitir que, mais uma vez, em nome da falta de recursos ou contenção destes, o sacrifício seja à custa dos usuários do SUS. Neste caso específico, à custa do sofrimento das mulheres brasileiras”

Wirlande da luzeditor-chefe

O Ministério da Saúde na contra mão dos direitos adquiridos

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3Março - 2014

PALAVRA DO PRESIDENTE

Alexandre de Magalhães Marques

Informativo do Conselho Regional de Medicina do Estado de RoraimaExpEdiEntE

Dando continuidade ao nosso compromis-so de gestão, neste primeiro trimestre de

2014, o CRM-RR demonstrou o firme propósito de defender o bom exercício da medicina e uma assistência médica com qualidade e segura para a população.

Em atuação conjunta com o Sindicato dos Médicos conseguimos reverter, após reu-nião com o vice-governador Chico Rodrigues e posteriormente com o governador José de Anchieta e seus assessores, a inclusão dos mé-dicos no Plano de Cargos e Salários. Por nossa solicitação os médicos foram retirados do plano que abrangia todas as categorias da saúde, e que era prejudicial para a nossa categoria. Estamos trabalhando um Plano de Cargos e Salários específico para os médicos e que atenda de fato as nossas necessidades. Uma vez pronto, apresentaremos a minuta ao governo do esta-do e, a partir daí, uma nova e longa etapa de negociações se iniciará até sua aprovação na Assembléia Legislativa e sanção do executivo.

Nossa atuação através da Comissão de Fis-

calização foi decisiva para sanar irregularidades graves na Clínica Mãe de Deus. Estivemos pre-sente naquele local por duas vezes, uma delas em atuação conjunta com a Vigilância Sanitária Estadual e Ministério Público, e constatamos várias irregularidades, sendo necessária uma ação dura, inclusive com interdição parcial daquele local.

Após recebermos denúncia de demissões no município de Rorainópolis de médicos legal-mente inscritos em nosso CRM-RR, para serem substituídos por médicos formados no exterior sem revalidação de diplomas através do Progra-ma Mais Médico do Governo Federal, estivemos naquele município em apoio aos colegas demi-tidos. Conversamos com o secretário municipal de saúde a quem pedimos esclarecimentos sobre o ocorrido. Visitamos a Unidade de Saúde Mista que se encontra em situação precária em todos os aspectos, mais notadamente no que se refere às instalações físicas.

Após constatarmos que várias pacientes estavam se submetendo a cirurgia plástica na

EDITOR-CHEFEWirlande Santos da Luz

JORNALISTA RESPONSÁVELMarta Gardênia Barros

REVISÃO TEXTUALRita de Cássia Costa

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃODavid Eugene

FOTOSGuilherme Moraes

IMPRESSÃOGráfica Ióris

TIRAGEM 800 exemplares

DIRETORIAPresidente: Alexandre de Magalhães Marques1º Vice-Presidente: Rosa de Fátima Leal de Souza2º Vice-Presidente: Francinéa Rodrigues de Moura1ª Secretária: Anete Maria Barroso de Vasconcelos 2ª Secretária: Maria Hormecinda Almeida de Souza CruzTesoureira: Nite Lago ModernellCorregedora: Blenda Avelino GarciaSub-Corregedor: Marcelo Henrique de Sá Arruda

COMISSÃO DE ESPECIALIDADEPresidente: Bruno Figueiredo dos SantosMembro: Marcos Antônio Chaves Cavalcanti de AlbuquerqueMembro: Paulo Roberto de Lima

COMISSÃO DE FISCALIZAÇÃOCoordenador: José Antônio do Nascimento Filho Membro: Niete Lago ModernellMembro: Alberto Ignácio Olivares OlivaresMembro: Domingos Sávio Matos DantasMembro: Francinéa Rodrigues de MouraMembro: Bruno Figueiredo dos SantosMembro: Alexandre de Magalhães Marques

COMISSÃO DE ASSUNTOS POLÍTICOS – CAPMembro: Laerth Macellaro ThoméMembro: Raimundo Júnior Prado OliveiraMembro: Elana Faustino Almeida

COMISSÃO DE EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA Coordenador: Vitor Manuel Montenegro da CostaMembro: Samanta Hosokawa Dias de Nóvoa RochaMembro: Cleyton Sampaio BarbosaMembro: Ricardo Augusto Iosimuta Loureiro Membro: Denise Matias dos Santos

CÂMARA TÉCNICA DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIAMembro: Anete Maria Barroso de VasconcelosMembro: Niete Lago ModernellMembro: Ricardo Augusto Iosimuta LoureiroMembro: Rosa de Fátima Leal de Souza

COMISSÃO DE TOMADA DE CONTASMembro: Elana Faustino Almeida Membro: Aurino José da Silva Membro: Álvaro Túlio Fortes

COMISSÃO DE LICITAÇÃOPresidene: Ricardo Augusto Iosimuta LoureiroMembro: Domingos Sávio Matos DantaMembro: Marcelo Cabral Barbosa

CONSELHEIROS FEDERAIS - RORAIMAEfetivo: Paulo Ernesto Coelho De OliveiraSuplente: Mauro Shosuka Asato

REPRESENTANTE DO CONSELHO ESTADUAL DE SAÚDETitular: Mareny Damasceno de SouzaSuplente: Débora Maia da Silva

REPRESENTANTE DO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDEAlexandre Magalhães MarquesAurino José da Silva

CONSELHO EDITORIAL:Membro: Wirlande Santos da LuzMembro: Alexandre de Magalhães MarquesMembro: Laerth Macellaro Thomé

ASSESSORIA CONTÁBILEudes Martins Filho

ASSESSORIA JURÍDICAKardec e Advogados Associados

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO Marta Gardênia Barros

ASSESSOR ESPECIAL DA PRESIDÊNCIAWirlande Santos da Luz

Av. Ville Roy, 4123, Canarinho, Boa Vista, RoraimaTel.: (95) 3623-1542Fax: (95) 3623-1554

E-mail: [email protected]: www.crmrr.cfm.org.br

Venezuela, e que retornavam para Boa Vista com complicações graves, tomamos a decisão de alertar a população quanto ao perigo a que os pacientes estavam expostos. Fizemos um alerta através da imprensa com o apoio dos médicos especialistas em cirurgia plástica que atuam em nosso estado.

Em 07 de março, em uma ação conjunta com o Ministério Público Estadual – Promo-toria da Saúde, Polícia Federal e Policia Civil fizemos um flagrante em uma residência no bairro Tancredo Neves onde uma médica vene-zuelana estava atendendo pacientes em consul-tório improvisado, alguns em pós-operatório, outros sendo avaliados para possível cirurgia na Venezuela. A médica de nome Ysaura foi levada pela Polícia Federal onde foi autuada por exercício ilegal da medicina.

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4Março - 2014

ARTIGO

AS RAÍZES DA

VIOLÊNCIAO avanço da violência urbana em todo o país e,

em especial no Estado de Roraima, passou de sua fase

endêmica para a fase epidêmica. E como qualquer

enfermidade urbana apresenta índices de morbidade

e mortalidade. A violência urbana vai desde pequenas

infrações às regras básicas de civilidade e procedimento

moral até a violência física, violência no trânsito, vio-

lência psicológica e abuso sexual praticado contra as

pessoas, principalmente as mais vulneráveis como as

crianças, mulheres e idosos. Suas causas não são apenas

a falta de planejamento familiar, educação, impunida-

de, segurança pública, desenvolvimento econômico e

distribuição de renda. É necessário buscar as raízes da

violência na formação do individuo.

Antônio Marcio Lisbôa, emérito professor de

pediatria e neonatologia da

Universidade de Brasília, em

sua obra intitulada As Raízes

da Violência, que deu título a

este artigo, nos mostra clara-

mente onde devemos buscar

as raízes da violência – diz o

autor: “Apesar da diminuição

da pobreza, declínio das de-

sigualdades, desarmamento

da população, construção de

presídios, aumento consi-

derável do efetivo policial e

das despesas com segurança

pública e, ainda, a condenação cada vez maior de crimi-

nosos pela justiça, a violência vem aumentando. Porque

sua causa determinante é endógena, interna, depende

do comportamento do ser humano”.

Diversos estudos nos mostram que o individuo

forma sua personalidade desde seu nascimento até

seis anos de idade. A criança que não tem uma família

estruturada que molde sua personalidade nesta fase da

vida, provavelmente será o transgressor de amanhã.

Diante de tal fato, as medidas de combate à violência a

serem tomadas não podem ser só punitivas e repressivas,

mas sim preventivas. Dessa forma, atuando-se na sua

causa determinante.

Por isso, não basta às autoridades tomarem me-

didas repressivas e corretivas após a prática de atos

violentos pelo cidadão, talvez tais medidas não sejam

tão eficazes. É necessário que os pais, familiares, educa-

dores do ensino fundamental, a igreja e os governantes

através de seus mecanismos sociais, se façam realmente

presentes na formação de nossas crianças, em particular

na primeira infância (até seis anos de idade), ensinando-

-lhes o caminho da urbanidade e respeito ao próximo.

A violência urbana, além de deixar sequelas irre-

versíveis na sociedade, é a principal causa de colapso

no sistema hospitalar, principalmente nos setores de

urgência e emergência, Outrossim, causa danos ao já

precário sistema de financiamento do SUS e à Previ-

dência Social.

A violência urbana gera desestruturação da família,

que por sua vez, gera mais violência.

Dr. Wirlande Santos da Luz

Médico Pediatra

Doutorando em Bioética pela FMUP-Portugal

Diversos estudos nos mostram que o individuo forma sua personalidade desde seu nascimento até seis anos de idade. A criança que não tem uma família estruturada que molde sua personalidade nesta fase da vida, provavelmente será o transgressor de amanhã

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5Março - 2014

Pequena palavra. Grande sofrimento.

Você conhece alguém que apresenta alguma das caracte-rísticas abaixo:

• Preocupações excessivas com sujeira? • lava repetidamente as mãos?• Volta reiteradamente para conferir portas, janelas,

bico de gás, etc., mesmo tendo certeza que estão fechados?

• Tenha preocupação excessiva que os objetos este-jam sempre bem arrumados, alinhados ou simetri-camente dispostos em seus lugares?

• Que demore exageradamente para realizar tarefas diá-rias, devido à indecisão, medo de errar ou causar danos?

• reza, recita, fala ou pensa em frases, palavras ou músicas de modo repetido?

A questão a ser respondida é a seguinte: DE quE SE TRaTa?a RESPoSTa é: Conhecida popularmente como

“manias” pelo público leigo, recebe na clínica psiquiátrica o nome de Transtorno Obsessivo-Compulsivo - TOC. O diagnóstico é clínico, não existindo exame laboratorial ou de imagem patognomônico do transtorno. a etiologia não está esclarecida. alterações nas ligações sinápticas mediadas pela serotonina, fatores genéticos, fatores psicológicos e fatores histórico familiar têm sido responsabilizados. Certamente trata-se de um problema multifatorial.

Segundo a WHO a OCd é o 4º transtorno mais fre-quente após a depressão, fobia social e abuso de substância.

o xIS Da quESTão: no tOC estão envolvidas obsessões e compulsões.

obSESSõES - “Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são experimentados em algum momento durante o transtorno como intrusivos, indesejável e que causam acentuada ansiedade ou desconforto na maioria dos indivíduos.”

• Obsessões de agressão (medo de furtar e de preju-dicar os outros);

• Obsessões de contaminação (preocupação de não encostar as mãos ou as vestes em nada que possa “sujá-las”);

• escrúpulos (preocupação excessiva em nunca se enganar para não prejudicar alguém e não guardar nada que pertença aos outros);

• dúvidas patológicas (tem que perguntar a alguém repetidamente se de fato fez o que devia fazer).

ComPulSõES - “Comportamentos repetitivos de organizar ou atos mentais que o indivíduo se sente compe-lido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser aplicadas rigidamente, visando prevenir ou reduzir ansiedade ou prevenir desconforto ou prevenir algum evento ou situação temida.”

• Compulsões de limpeza e lavagem (principalmente das mãos), rituais para o ato de banhar-se, sacudir as vestes para se limpar da “sujeira”, rezar, contar, repetir palavras. Shakespeare (William) por volta de 1606 descreveu na tragédia “Macbeth”, os rituais de lavagem de lady Macbeth, como método para esconjurar a culpa: “desaparece, maldita nódoa, desaparece, vá! [...] nem todos os perfumes da Arábiaserãocapazesdepurificarestapequenamão!Oh! Oh! Oh! [...]” (ato V, Cena i, 40-60). lady Macbeth busca, pela lavagem das mãos, reaver a pureza perdida. repete inutilmente a lavagem das mãos, porque tanto a sujeira quanto a limpeza têm para o individuo são, limites, mas para o obsessivo, cujo inconsciente lhe atribui conotações, não.

• Rituaisdeverificação(averiguarepetidamenteseasvestes estão realmente limpas, se as portas estão fe-chadas, se o botijão de gás não está vazando, etc.,).

• Compulsões de contar (conta, em voz alta, o número de vezes em que repete certos gestos, até que se convençaqueatingiuo“suficiente”);

• Compulsões de ordenação e simetria (antes de escrever alinha os lápis, ordena os cadernos e a escrivaninha).

Sempre os mesmos rituais de repetição das tarefas (limpeza,verificações,arranjossimétricos),pelasquaissebuscam a perfeição e a exatidão (“Just right” - “estar legal”).

Muitas vezes são manifestações leves e quase imper-ceptíveis, mas não raro, assumem grande gravidade a ponto de se tornar incapacitante. Cursa associado á ansiedade, medo e sentimentos de culpa. Toma muito tempo da pessoa, interfere nas rotinas pessoais, na vida social e familiaralémdecausarsignificativoprejuízo e muito sofrimento.

depressão, comportamentos evitativos, indecisão, psicomotri-cidade diminuída, pensamentos in-vasivos,negativosoucatastróficos,apreensão e hipervigilância também se incluem na sintomatologia. É al-tamente prevalente na população em geral - 3,3% segundo Vivan (Souza), tese de doutorado da uFrS (2013), acomete os indivíduos muito cedo esenãotratadotendeacronificar.em artigo de revisão sobre aspec-tos transculturais, Staley, Wand e Shady estudando a síndrome de Tourette (Georges Gilles de la), condição associada ao “espectro” obsessivo-compulsivo, concluíram que a doença “é universal, tem características clínicas semelhantes independentes de diferenças geográficas,históricas, étnicas, culturais e econômicas e muito pro-vavelmente o mesmo substrato biológico”.

O conhecimento sobre o TOC nem sempre foi esse. na idade Média encontramos apenas registros em obras literárias - referindo-se a sintomas - dos termos obsessio, compulsio, impulsio e scrupule (origem da palavra escrúpulo (característica de ser extremamente minucioso e cuidadoso no cumprimento de uma tarefa).

Burton (robert) (cca 1621) fez em “anatomia da Melancolia” umestudofilosófico,médico e histórico damelancolia. em uma passagem do livro escreveu: [...] “escrevo sobre a melancolia por estar ocupado a evitar a melancolia”.EstariaBurtonafirmandoqueumadasfontesdo estado depressivo encontrado como comorbidade no TOC seria a ociosidade?

relatos médicos do TOC só começam a surgir a partir do século XiX primeiro com esquirol (Jean-Étienne dominique), discípulo de Philippe Pinel, que no ano de 1838 em “des maladies mentales consederées sous les rapports médical, hygiéniques et médico-legal” descreveu o primeiro caso de TOC na literatura psiquiátrica: - o de Mme. F., com o nome de monomanie raisonnant (monomania instintiva).

nesse primeiro caso, esquirol já descreve duas ca-racterísticas marcantes da doença - embora nem sempre presentes em todos os casos - a crítica e a resistência: “elle ne deraisonne jamais” (“ela não perde nunca a razão”; [...], busca os meios mais desagradáveis que ela crê poder ajudá-la a triunfar sobre suas apreensões e precauções”.

Foi, entretanto Falret (Jean-Pierre) o primeiro a fazer uso médico da palavra obsessão. desse período (cca1866) são os trabalhos do psiquiatra franco - austríaco Morell (Bénédict augustin) e do alemão Westphal (alexander Carl Otto (cca1907). O primeiro entendia o TOC como expressão do humor e o segundo como transtorno do intelecto.

embora tenha seu nome ligado ao estudo do compor-tamento sexual - Psychopathia Sexualis - (cca1886) - onde introduziu os termos sadismo, masoquismo e fetichismo, foi o professor de psiquiatria austro-germânico da universi-dade de estrasburgo, Krafft-ebing (richard Freiherr von), que cunhou (cca1879) o termo “zwangsvorstellung” que significa“representaçãoforçada”.Traduzidopelosnorte--americanos como “obsessão” e por “compulsão” pelos britânicos o termo composto que encontramos atualmente -TOC- talvez decorra de uma tentativa de conciliar as duas diferentes traduções.

e Freud? ele denominou o TOC de “neurose obsessiva”. no caso clínico conhecido como “O Homem dos

ratos”, Freud -1909 -faz algumas considerações teóricas sobre a neurose obsessiva retomando algumas idéias

que já vinha construindo desde 1896 quando publica os primeiros estudos sobre o tema. Segundo ele, seu surgi-mentodevia-seaumafixaçãoouregressãoáfaseanaldodesenvolvimentodecorrentedeconflitosintrapsíquicosdenatureza edípica ou da internalização de frustrações com posterior tentativa de proteção através da utilização de

mecanismos de defesa - isolamento, anulação e formação reativa.

após a década de 1850, a monomania desaparece como critério diagnóstico em psiquiatria e já não aparece no Manual diagnóstico e estatístico de Transtornos Mentais - (diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders - dSM). a visão atual do TOC só começa com a publi-cação da terceira edição do Manual - dSM iii. Posteriormente os crité-rios diagnósticos foram revistos no dSM-iii-r e dSM-iV onde o TOC é incluído como um dos transtornos de ansiedade diferentemente do Cid-10 onde está dentro da categoria “Trans-tornos neuróticos, transtornos rela-cionados com o estresse e transtornos somatoformes (F40-F48) e dentro de umacategoriaespecífica(F42).

em maio de 2013 foi lançada a 5ª revisão do dSM - dSM-V que com alterações na re-daçãodoscritériosdiagnósticosealgumasmodificações,retirou o TOC dos transtornos de ansiedade e o incluiu na nova categoria de “Transtornos relacionados ao TOC” (Obsessive-Compulsive related disorders). nele o cole-cionismo patológico (Hoarding disorder) foi separado do TOC e incluído no OCd como transtorno independente. (Highligts of changes from dSM-iV-Tr to dSM-V - www.psych.edu/ docccasist/changes-from-dsmiV-tr-dsm-51.pdf).

Tomando por base o dalYs (disability-adjusted live Years), o TOC associado a transtornos mentais, neuro-lógicos e por uso de substância obteve o 10º lugar no ranking da carga global (Global Burden). Parece pouco, mas não é. nos eua onde as estatísticas são levadas á sério - national Center for Health Statistics (nCHS) - o GB associado ao TOC na década de 90 somou aproximadamente, entre custos diretos e indiretos, u$8bilhões. e no Brasil? estatísticas inexistentesoumuitopoucoconfiáveis.

CoNCluINDo: pensamentos intrusivos (obsessões) e comportamentos compulsivos (compulsão) fazem parte do quadro clínico de diversos transtornos psiquiátricos e neurológicos (por exemplo - lesão seletiva em uma ou mais partes do circuito córtico-estriado-talâmico-cortical).

lEmbRaNDo: Obsessões e compulsões estão pre-sentes também nos chamados transtornos do controle de impulsos (comprar compulsivo, jogo patológico), nos transtornos alimentares (Compulsive eating), na hipocon-dria(Hypochondriasis),notranstornodismórficocorporal(Body dysmorphic disorder), nos transtornos do “espectro” do autismo, nas chamadas Grooming Disorders (Hair--Pulling disorders - tricotilomania - Skin Picking disorder - beliscar-se - nail Biting - roer unhas e comportamentos auto-mutilante para citar alguns dos mais comuns.

Não ESquECER: transtornos comórbidos associados

ao TOC é regra e não exceção. além dos sintomas típicos do TOC estão quase sempre presentes uma ou mais comorbi-dades com prevalência de depressão maior seguido da fobia simples,hipocondria,transtornodismórfico,tricotilomania,fobia social, abuso ou dependência de álcool, transtorno do pânico, transtornos alimentares, transtorno afetivo bipolar e síndrome de Tourette. Cabe ao médico durante a exploração semiológica fazer o diagnóstico diferencial.

muITa aTENção: o risco de suicídio está subestimado nos portadores de TOC, merecendo mais atenção durante as rotinas de atendimento.

E o TRaTamENTo? Bem, isso é outra história, doutor (a).

dr. LAErth thOmé,MédiCo PsiquiATRA

ARTIGO

Page 6: Jornal crmrr ed40 1

6Março - 2014

Médico realizou pesquisa sobre predisposiçãogenética para trombofilia

O ginecologista e obstetra José Antônio

do Nascimento Filho apresentou no trabalho

de conclusão de pós-graduação em Terapia

Intensiva, pela Universidade Gama Filho, a

pesquisa “Trombofilia em Gestantes com quadro

de pré-eclampsia grave: predisposição genética –

trabalho de pesquisa”.

O objetivo do estudo era investigar a

frequência dos fatores trombofílicos genéticos

em mulheres grávidas portadoras de Hipertensão

Arterial Grave, e que seja específica da gravidez,

ou superajuntada com Hipertensas crônicas, na

cidade de Boa Vista.

Para isso, foi feita uma análise do perfil

genético com as pacientes internadas com

hipertensão arterial grave, se possuíam risco

aumentado para trombofilia. O trabalho foi

realizado no período de abril a agosto de

2010, no Hospital Materno Infantil Nossa

Senhora de Nazaré. Foram genotipadas 37

gestantes, por meio da análise sanguinea,

para ver se havia risco de desenvolvimento

de trombose venosa.

O método selecionado na pesquisa foi

direcionado para detectar se havia mutação

no Gene G20210-A da Protrombina e Fator V

Leiden, no grupo de gestantes com DHEG grave.

O estudo confirma que na pré-eclampsia grave,

pode ter relação genética com quadro de risco

aumentado para trombolofilia.

Os fatores de risco para trombose arterial incluem, principalmente, a hipertensão arterial, o tabagismo, dislipidemias, diabetes mellitus, etc. Para as tromboses venosas, entre muitas causas, podemos citar a idade, uso de contraceptivos, terapia de reposição hormonal, cirúrgicas de grande porte, gravidez e puerpério, imobilização de

membros ou parte do corpo, trauma local, câncer, etc.

A proposta do estudo foi avaliar o perfil epidemiológico de uma população com uma doença composta de muitos fatores, que geneticamente podem predispor ao tromboembolismo venoso que é a hipertensão grave no período gestacional.

O risco relativo de TEV durante a gravidez aumenta 10 vezes, e ainda é 10 a 15 vezes maior no período puerperal (TREFFERS et al – 1983; RAY e CHAN, 1999). Os achados dos estudos mostram que o TEV espontâneo não é apanágio de condição trombofílica. A trombose ocorre quando há um número suficiente de fatores de risco simultâneos.

De acordo com José Antônio, a trombose

é uma doença de caráter multifatorial, com

tantos fatores de risco genéticos quanto

adquiridos, podendo estar presentes um

mesmo individuo, sendo o desenvolvimento

do tromboembolismo, resultante da interação

sinérgica ou não entre esses fatores. Pacientes

com t romb of i l i as hereditár ias ex igem

uma predisposição aumentada à trombose

recorrente, e o evento trombótico ocorre em

geral, antes dos 45 anos de idade.

As trombofilias hereditárias são, em

geral, decorrentes de mutações nos genes

que codificam fatores da coagulação, como

a mutação G191A no Gene do Fator V , e a

mutação G20210A no gene da protrobmina, a

de alterações ligadas aos inibidores fisiológicos

da coagulação (antitrombinase, proteína C e

proteína S).

Mulheres com fator V Leiden têm rico

substancialmente aumentado de coagulação

durante a gravidez (estrógeno, pí lu las

anticoncepcionais e reposição hormonal),

sob a forma de trombose venosa profunda e

embolia pulmonar.

A doença pré-eclampsia é um problema

mundial que acomete 5% a 8% das gestantes,

não possuindo ainda, causa bem estabelecida. A

única certeza até o momento é que a placenta é

fundamental para sua ocorrência.

Conclusão

Resultados• Mutação G20210A – em uma paciente

foi detectada em Heterozigoze para mutação no gene da protrombina, possuindo a mutação em um dos cromossomos, estando associado com aumento dos níveis de protrombina, e risco aumentado para trombose venosa.

OBS: Em pacientes com eventos tromboembólicos, a prevalência do alelo mutante da protrombina varia de 4% a 7%, enquanto que em indivíduos normais, a freqüência está estimada em cerca de 2,3%. No presente trabalho, a prevalência ficou em torno de 2,7%.

• Em 75,7% das gestantes pertenciam ao tipo sanguíneo “O” Rh positivo, 18,9 tipo “A” positivo; e 5,4% tipo “B” positivo.

• Quanto à incidência de pré-eclampsia: - em 45,9% eram primigestas; em 15,5% secundigestas; e 40,6% multíparas.

• Quanto ao grupo de multíparas que desenvolveram pré-eclampsia grave, (18,9%), o que chama a atenção é que todas estavam com novo parceiro e nenhuma delas teve hipertensão em gestações anteriores. Deve ser levada em consideração no desencadeamento da doença, a interação materna com antígeno de origem paterna.

• Idade gestacional quando foram internadas por conta da doença hipertensiva: 31 a 35 semanas (29,7%), e 36 a 40 semanas (40,5%).

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7Março - 2014

Em abril acontecerá o I Simpósio de Pediatria de Roraima

A Sociedade Roraimense de Pediatria (SRP) promoverá o I Simpósio de Pediatria de Roraima em parceria com o projeto de Educação Médica Continu-ada do Conselho Regional de Roraima (CRM – RR).

O evento acontecerá no dia 5 de abril, no auditório do CRM – RR. As inscrições podem ser realizadas na sede da Sociedade de Pediatria, localizada ao lado do CRM - RR, na avenida Ville Roy e poderá ser feita no dia do evento.

O público alvo são pediatras, médicos residen-tes, médicos em geral e acadêmicos de Medicina.

Para a presidente interina da SRP – RR, Blenda Avelino Garcia, o objetivo é promover a educação médica continuada, otimizar o atendi-mento para a população que precisa dos serviços pediátricos no estado.

O Simpósio contará com oito palestras e terá a participação de profi ssionais dos estados do Paraná, Ceará e Pernambuco.

A primeira palestra será com o médico Al-tamiro Vianna com o tema “Como reconhecer uma criança vitimizada e qual conduta tomar?”; em seguida a neuropediatra Charlote Buffi apre-sentará o tema “Neuropediatria: o que é, quando encaminhar ao especialista”.

A terceira palestra terá o tema “Autismo: será que sei suspeitar”, o assunto será apresentado pelo neuropediatra do Paraná, Antônio Carlos de Farias; o quarto tema “Sinais de alerta para suspeitar de CA infantil”, será explanado pela médica Cibelo Navarro.

A palestra “Diagnóstico diferencial de Hepa-toesplenomegalia febril” contará com a participação do médico Robério Dias Leite, do Ceará – CE. O penúltimo tema “Dor abdominal recorrente” será abordado pela médica de Pernambuco – PE, Mara Alves e o encerramento será feito pela médica Stella Maris com o tema “Sinais de alerta para sepse”.

ATUALIZAÇAO EM GINECOLOGIADIA: 22/03/2014 LOCAL: CRM-RR

1. MIOMECTOMIA

2. HISTEROSCOPIA – DIAGNÓSTICO

3. HISTEROSCOPIA – AMBULATORIAL

4. POLIMIOMECTOMIA

5. SANGRAMENTO UTERINO – TRATAMENTO AMBULATORIAL

6. SANGRAMENTO UTERINO – TRATAMENTO EMERGENCIAL

7. ABLAÇÕES

8. VÍDEOS COMENTADOS (SÉPTOS, SINÉQUIAS)

9. DISCUSSÃO CASOS

10. ENCERRAMENTO

insCriçõEs On-LinE

As inscrições para os eventos do programa Educação Médica Continuada podem ser realizadas pelo site: www.crmrr.cfm.org. br

27,28 e 29 de Março de 2014

PROGRAMAÇÃOCOFFE BREAK

20:10 Dilema do cirurgião: Colecistectomia por videolaparoscopia ou aberta? Palestrante: Dra. Rochelle

20:50 Abordagem da Colelitíase na vigência da colangioressonância, CPRE e videolaparoscopia Palestrante: Dr. Luciano

21:30 Discussão

29/03 SÁBADO

MESA REDONDA – PRESIDENTE: Dr. Pedro Maciel

8:00 Evolução histórica na abordagem das hérnias Palestrante: Dr. Luciano

8:40 Hernioplastia com tela ou planos anatômicos Palestrante: Dr. Sidney

COFFE BREAK

9:50 Hernioplastia por vídeolaparoscopia. O que é feito atualmente? Palestrante: Dr. Sidney

10:30 Projeto Acerto – Dr. Levindo

11:10 Discussão

27/03 QUINTA-FEIRA

MESA REDONDA – PRESIDENTE: Dr. Levindo

18:30 Evolução histórica da cirurgia Palestrante: Dr. José Maria

19:00 Benefícios da anestesia para cirurgia Palestrante: Dr. Marco Aurélio

19:30 O pré operatório do ponto de vista do cirurgião Palestrante: Dr. José Maria

COFFE BREAK

20:30 O pré operatório do ponto de vista do anestesista Palestrante: Dr. Raimundo

21:00 Analgesia no pós operatórioPalestrante: Dr. Eudes

21:30 Discussão

28/03 SEXTA-FEIRA

MESA REDONDA – PRESIDENTE: Dr. Altamir

18:30 Benefícios da videolaparoscopia para a cirurgia geral Palestrante: Dr. Sidney Chalub

19:10 Benefícios da videolaparoscopia na urgência e no trauma Palestrante: Dr. Luciano

PROGRAMAÇÃO

Realização:

INVESTIMENTO: R$10,00 - ACADÊMICO | R$20,00 - RESIDENTE | R$30,00 - MÉDICO

ATUALIZAÇAO EM GINECOLOGIA

DIA: 22/03/2014 LOCAL: CRM-RR

1. MIOMECTOMIA

2. HISTEROSCOPIA – DIAGNÓSTICO

3. HISTEROSCOPIA – AMBULATORIAL

4. POLIMIOMECTOMIA

5. SANGRAMENTO UTERINO – TRATAMENTO

AMBULATORIAL

6. SANGRAMENTO UTERINO – TRATAMENTO

EMERGENCIAL

7. ABLAÇÕES

8. VÍDEOS COMENTADOS (SÉPTOS, SINÉQUIAS)

9. DISCUSSÃO CASOS

10. ENCERRAMENTO

Como estamos longe dos grandes centros, quase não temos eventos. Por isso, a importância dos médicos em geral estarem participando. Nosso objetivo é oferecer mais capacitação e estar trocando conhecimento e experiências”Blenda Avelino Garcia - Presidente interina da sRP-RR

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8Março - 2014

CRM-RR e sindicato dos Médicos conseguem que médicos tenham um PCCS exclusivo para a categoria

No dia 22 de dezembro de 2013, a convite do presidente do Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM – RR) Alexandre Marques e do ex-presidente do CRM -RR Wirlande da Luz, esteve na sede do Conselho o vice-governador Chico Rodrigues para discutir sobre o Plano de Cargos, Carreira e Salários (PCCS) dos profissionais de saúde no Estado.

Os médicos presentes na reunião se manifestaram contrários a permanência da categoria no Plano, que estava prestes a ser votado pela Assembléia Legislativa Estadual, e demonstraram o desejo de ter um PCCS exclusivo para a categoria.

Eles não concordavam com a inclusão da categoria no Plano elaborado pelo governo, por considerarem que o texto seria prejudicial ao profissional médico. Já que a formação médica é distinta das outras categorias da saúde, com vieses diferentes, inclusive dentro da própria categoria.

O vice-governador Chico Rodrigues entendeu ser pertinente o pleito, fez gestão junto ao governador José de Anchieta que prontamente recebeu os representantes do CRM- RR e Sindicato e, em reunião com as lideranças dos demais profissionais da saúde ficou decidido que os médicos teriam um Plano PCCS exclusivo e que seria elaborado com a presença de seus representantes.

Participaram da reunião com o governador José de Anchieta e vice-governador Chico Rodrigues, o secretário de saúde Alexandre Salomão e assessores do executivo, o presidente Alexandre Marques, a secretária do CRM-RR e Sindicato dos Médicos Anete Vasconcelos e Wirlande da Luz.

Para Wirlande da Luz esta foi uma vitória dos médicos roraimenses. Ele acredita que agora os profissionais terão tranquilidade e tempo para trabalhar um Plano de Cargos e Salários que atenda, de fato, aos interesses da categoria.

CRM-RR alertou a população do perigo de cirurgias plásticas realizadas na Venezuela

Em fevereiro deste ano, o CRM – RR se sentiu na obrigação de alertar a população para que não realizem cirurgias plásticas em outro país, por não terem garantia quanto à qualidade, procedência e controle das próteses e outros materiais usados.

A busca por um corpo perfeito tem levado inúmeras mulheres a procurarem as cirurgias plásticas estéticas. Muitas vezes acabam por colocar a vida em risco, em Ro-raima, por exemplo, muitas têm ido para Ve-nezuela, atraídas pelas ofertas de baixo custo para procedimentos como abdominoplastia, mamoplastia, lipoaspiração e lipoescultura.

Mas, o barato tem saído caro. Segundo o presidente do Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM – RR), Alexandre Marques, há várias mulheres retornando com seqüelas irreversíveis, infecção grave, abertura nos pontos, necroses e rejeição das próteses.

Além disso, é necessário que o paciente que vai se submeter a qualquer procedimento

realização de cirurgia em outro país, pois o pa-ciente quando retorna ao Brasil, se tiver sofrido dano físico ou emocional, em consequência de um erro médico, ou uso de material inadequado, não terá nenhum respaldo jurídico, tão pouco, dos Conselhos de Medicina.

Ainda segundo ele, é inaceitável reali-zar uma cirurgia plástica três dias após da chegada a um país e retornar 15 dias depois. Já, que é necessário um acompanhamento pós-cirúrgico, que é tão importante quanto o procedimento.

“As pessoas que estão viajando para ou-tros países, em particular os roraimenses que se dirigem à Venezuela, têm que estar ciente que não podemos contar no país vizinho com as regras de segurança da ANVISA. Os três hospitais da cidade receberam pacientes com sérias complicações. Entre eles, um caso de uma mulher que voltou sem o umbigo, o médico que operou nem se preocupou em resolver o problema”, comentou Antero.

No dia 7 de março, em uma ação con-junta com o Ministério Público Estadual – Promotoria da Saúde, Polícia Federal e Policia Civil, o CRM – RR fez um flagrante em uma residência no bairro Tancredo Ne-ves, onde uma médica venezuelana estava

atendendo pacientes em consultório improvisado, alguns em pós-operatório, outros sendo avaliados para possível ci-rurgia na Venezuela. A médica foi levada pela Polícia Federal onde foi autuada por exercício ilegal da medicina.

médico conheça a qualificação do profissional responsável, o que é quase impossível, em se tratando de profissionais de outros países. Res-saltamos ainda, que os Conselhos de Medicina do Brasil não têm nenhum poder para punir ad-ministrativamente profissionais que não tenham registro no país.

“Nosso objetivo era alertar os pacientes, em particular as mulheres, que tenham muito cuidado ao irem para Venezuela, ou qualquer outro país, a fim de realizarem cirurgias plásticas. O indicado é que realizem aqui mesmo no Brasil, que procurem um médico especialista e de qua-lificação reconhecida. Pois, se houver qualquer intercorrência o próprio médico que realizou o procedimento poderá corrigir em tempo hábil, evitando assim, sequelas irreversíveis. Saúde não tem preço. O barato pode custar caro”, disse Alexandre Marques.

Para o cirurgião plástico e membro da Socieda-de Brasileira de Cirurgia Plástica, Antero de Almeida Frisina, não é aconselhável em nenhuma hipótese a

“Ainda teremos uma longa caminhada pela frente. Após a elaboração do novo Plano, teremos ajustes e conversações políticas para que seja aprovado pela Assembléia Legislativa e sancionado pelo executivo. Vontade política não nos falta”, disse Wirlande da Luz, ex-presidente do CRM-RR e membro da Comissão de Assuntos Políticos do CFM.

Para o presidente Alexandre Marques, esta vitória foi fruto do diálogo das lideranças médicas com o executivo estadual e seus assessores.

“Vamos sempre manter o diálogo, independente de partidos políticos ou de quem quer que esteja no poder. O que nos interessa é a valorização do médico e da medicina roraimense”, disse o presidente.

CRM – RR e Sindicato dos Médicos atuaram em defesa de PCCS exclusivo para os médicos

FisCALizAçãO E FLAgrAntE

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9Março - 2014

Presidente do CRM-RR participa de aula inaugural do Curso de Medicina da uFRR

Na noite do dia 17, o presidente do Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM – RR) Alexandre Marques participou da aula inaugural da turma de 2014, do curso de Medicina da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Participaram do evento professores, acadêmicos e o Conselheiro Federal do CRM – RR, Mauro Asato.

O evento marcou o ingresso de 80 novos alunos no curso de Medicina da UFRR e o acolhimento aos futuros médicos.

O presidente do CRM – RR, Alexandre Marques, falou aos calouros sobre o papel do Conselho e a importância da entidade para os profissionais. No seu discurso, lembrou da trajetória da criação do curso e o reconhecimento junto ao Ministério de Educação e Cultura (MEC). O que só foi possível pelo empenho dos professores e da categoria médica.

“Eu tenho muito orgulho de ter me formado na terceira turma de Medicina da UFRR. O nosso curso é por si só, de excelência. Pois, conta com um corpo docente de excelentes profissionais. Esse primeiro contato com os futuros profissionais é de suma importância. E, principalmente, por tomarem conhecimento do papel fundamental exercido pelo Conselho de Medicina em Roraima, o nosso CRM,

que com seu desempenho ético, técnico, político e social assegura a estabilidade profissional, o conhecimento cientifico e o reconhecimento social pelo trabalho que desenvolve para a sociedade como um todo”, disse Alexandre.

Cada acadêmico recebeu um exemplar do

Código de Ética Médica, oferecido pelo CRM-RR. “Todo profissional deve se nortear pelo nosso Código de Ética Médica. Pois, com certeza assim será um profissional reconhecido pela atuação médica impecável e de conduta ética irrepreensível”, comentou Alexandre.

No sábado (8), o presidente do Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM – RR), Alexandre Marques, participou da abertura oficial da Campanha de Vacinação de Combate ao HPV. O evento foi realizado no Portal do Milênio, Praça das Águas.

Estavam presentes o Governador do Estado, José de Anchieta, o vice Prefeito, Marcelo Moreira, o Secretário Municipal de Saúde, Marcelo Lopes e o Secretário de Saúde do Estado, Alexandre Salomão.

De acordo com Alexandre Marques, a Campanha é de grande importância, já que a vacina previne contra os quatro tipos mais recorrentes de HPV (Vírus do Papiloma Humano).

Na segunda-feira (10), inicia a primeira etapa da Campanha e encerra dia 10 de abril. A prioridade é a aplicação da vacina em adolescentes na faixa etária de 11 a 13 anos, estudantes da rede pública e privada de ensino da capital. A meta da Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV) é vacinar 7.636 meninas.

A PMBV disponibilizará as vacinas nas escolas das redes pública e privada de ensino e em todas as Unidades Básicas de Saúde. A segunda etapa da campanha acontece em setembro e a terceira será agendada para 60 meses após a aplicação da primeira dose.

O presidente do CRM – RR, Alexandre Marques juntamente com o secretário estadual de saúde Alexandre Salomão e a presidente da Liga Rorai-mense de Câncer, Magnólia Rocha participaram do lançamento da Campanha

Fotos: Guilherme Moraes

CRM-RR participou do lançamento da Campanha de Vacinação contra HPV

A melhor estratégia de promoção da saúde é a prevenção. é sabido que a vacina contra HPV tem eficácia comprovada para proteger mulheres que ainda não iniciaram a vida sexual. Tanto, que é uma estratégia de saúde pública utilizada em vários países”Alexandre Marques - Presidente do CRM-RR

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10Março - 2014

NACIONAL

PLANOS DE SAÚDEEntidades médicas anunciam dia Nacional de Advertência e Protesto

No próximo dia 7 de abril (Dia Mundial da Saúde), entidades médicas de todo o país organizam o Dia Nacional de Advertência e Protesto aos Planos de Saúde. A data será marcada por atos públicos contra os problemas que afetam o setor suplementar de saúde e deverá ainda convergir com o início das mobilizações da categoria no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), também previsto para abril. Além de reivindicarem a recomposição de honorários, as entidades médicas defendem o fim da intervenção antiética das operadoras na autonomia profissional e a readequação da rede credenciada, para que seja garantido o acesso pleno e digno dos pacientes à assistência contratada.

A deliberação foi promovida durante encontro da Comissão Nacional de Saúde Suplementar (Comsu), realizada na última sexta-feira (14) na sede da Associação Paulista de Medicina (APM). Em ato simbólico, as operadoras de planos de saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), reguladora do setor, receberam cartão amarelo por ainda não atenderem plenamente o pleito dos médicos. Segundo o coordenador do grupo e 2º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina

(CFM), Aloísio Tibiriçá, a saúde suplementar cresce cerca 4% ao ano em quantidade de beneficiários e, por isso, é preciso ter sua rede credenciada ampliada e seus prestadores de serviço valorizados.

EiVindiCAçõEs Será o quarto ano consecutivo em que os

médicos se mobilizam em prol de melhorias no setor. Desta vez, a categoria definiu quatro itens de reivindicação que exprimem o histórico de lutas das entidades médicas. Além do reajuste adequado dos valores das consultas e procedimentos – tendo como referência a Classificação Brasileira de Honorários e Procedimentos Médicos (CBHPM) em vigor –, a classe cobra da ANS uma nova contratualização e hierarquização dos procedimentos médicos baseadas nas propostas das entidades médicas nacionais apresentadas desde abril de 2012. O fim da intervenção antiética dos planos de saúde na autonomia da relação médico-paciente e a readequação da rede credenciada também serão bandeiras da mobilização.

Para o dia 7 de abril, está prevista a realização de atos públicos como assembleias, caminhadas, concentrações, dentre outras formas de manifestação. O formato será definido pelas Comissões Estaduais de Honorários Médicos, compostas pelas Associações Médicas, Conselhos Regionais de Medicina, Sindicatos Médicos e Sociedades Estaduais de Especialidades. Em caso de suspensão temporária de atendimentos eletivos, os pacientes serão atendidos em nova data, que será informada.

Durante o encontro em São Paulo, também foi divulgada uma carta aberta à ANS, aos médicos e à sociedade, assinada pelas três entidades nacionais – Associação Médica Brasileira (AMB), CFM e Federação Nacional dos Médicos (Fenam). No documento, os médicos criticam a proposta de resolução normativa da Agência, que pretende induzir “boas práticas entre operadoras e prestadores”, e que, no entanto, não contempla ou reproduz as discussões e demandas sobre a contratualização. Se editada na forma original, afirmam os médicos, a norma poderá agravar ainda mais os conflitos no setor.

Confira a íntegra da Carta Aberta e leia mais sobre o assunto em http://bit.ly/1ipTGdB:

CArtA ABErtA À Ans, AOs médiCOs E À sOCiEdAdE

Os médicos, por meio de suas entidades representativas nacionais, tornam pública sua posição contrária ao conteúdo da Resolução Normativa expressa na Consulta Pública 54/2013, proposta pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

A formatação final desta Consulta Pública não contemplou ou reproduziu a s d i s c u ss õ e s e d e m and a s s obre contratualização, levadas à ANS pelos médicos desde abril de 2012, quando se iniciaram as discussões.

A temática proposta não atende ao previsto na Agenda Regulatória da própria ANS para 2013/2014, no que diz respeito aos médicos, e não resolve os conflitos entre operadoras e prestadores médicos na Saúde Suplementar. Pelo contrário, nomeada de “boas práticas”, cria uma maior interface de problemas.

A ANS foge de seu dever legal de mediar a relação entre os agentes do setor, não produzindo a necessária segurança jurídica que se daria através de uma real contratualização. A ANS propõe soluções chamadas de “boas práticas”, que beneficiarão os planos de saúde, e tenta, nesta proposta de Resolução, impedir o recurso dos médicos à Justiça, direito fundamental na democracia.

Assim, face ao item três da Agenda Regulatória da ANS – “relacionamento entre operadoras e prestadores” –, constatamos a exclusão dos itens dos prestadores médicos na solução proposta. Portanto, sem sua incorporação na discussão, veremos editada pela Agência uma norma que, de forma unilateral, não atende aos médicos e não oferece a necessária segurança ao atendimento final dos nossos pacientes.

São Paulo, 14 de fevereiro de 2014.

Temos um compromisso com a sociedade e nosso papel é alertar e denunciar a insatisfação dos médicos e dos pacientes com esse setor que hoje é um dos líderes em reclamações nos órgãos de defesa do consumidor. Às vezes, pedimos um exame que demora meses para ser feito, o que pode comprometer o nosso atendimento. Queremos mobilizar todo o Brasil neste dia de protesto”

Aloísio Tibiriçá - Coordenador do grupo e 2º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM)

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11Março - 2014

CULTURA

Jorge Macêdo, um fotógrafo apaixonado por orquídeas

Há 30 anos em Boa Vista, o cearense Jorge Macêdo veio para o Estado a trabalho. Na época, Roraima ainda era Território Nacional. Formado em Geografia, desde cedo se mostrou apaixonado por fotografia, uma paixão herdada do pai.

No começo da carreira, Jorge fotografava as belezas de Roraima, aproveitava as viagens que fazia a trabalho pela Secretaria de Planejamento para os municípios do interior e retratava a cultura dos povos nativos, imigrantes de diversos locais e paisagens dos vários ecossistemas do Estado.

Entre tantos registros de Roraima, há 15 anos Jorge Macêdo começou a fotografar orquídeas. “Comecei a fotografar simplesmente pela beleza da flor. Depois fui conhecendo a complexidade da

O interesse e estudo pelas orquídeas foi tanto que realizamos várias exposições aqui e em outros estados. Ficamos conhecidos no meio orquidófilo tanto no Brasil quanto no exterior. Um trabalho minucioso feito com vários colegas da Sociedade Orquidófila apaixonados por orquídeas”

Jorge Macêdo - fotógrafo

planta e me tornei colecionador de orquídeas”.O interesse pela flor o levou a estudar e a se

aprofundar no assunto e hoje além da fotografia, a orquídea tornou-se outra grande paixão. Tamanho entusiasmo ficou demonstrado pelo fato de ser um dos fundadores da Sociedade Orquidófila em Roraima.

De acordo com o fotógrafo e pesquisador, o estado da Amazônia é o mais rico em quantidade de orquídeas já encontradas no mundo. Existe até um levantamento que mostra a presença na floresta

amazônica de mais de 800 espécies de orquídeas catalogadas, e em Roraima podem ser encontradas mais de 400 dessas.

A dedicação pelo assunto resultou, junto a outros pesquisadores, na publicação do livro Orquídeas Nativas da Amazônia Brasileira. A primeira edição saiu em 1994. Em 2010, o Museu Paraense Emílio Goeldi, de Belém (PA), reeditou a obra de autoria de Manoela Ferreira Fernandes da Silva e João Batista Fernandes da Silva.

Fotos: Jorge Macêdo

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Como foi a sua infância em Pedro Ozório, no Rio Grande do Sul?Eu t ive uma infância pobre, mas não necessitada. Meu pai era soldado da Polícia Militar e minha mãe era professora primária. A partir da 5ª série até a faculdade eu sempre estudei em escola pública, naquela época eram bem melhor. Minha mãe morreu quando eu tinha nove anos. Foi uma infância feliz mesmo com toda dificuldade.

Quando a senhora decidiu que queria ser médica?Eu me lembro de um episodio que minha tia estava grávida do meu primo mais novo, eu tinha mais ou menos cinco ou seis anos. Quando eu via aquela barrigona, dizia que queria ser médica de tirar nenê da barriga. Já entrei na faculdade com o propósito de fazer obstetrícia. Sempre achei muito lindo!

Medicina, então, sempre foi o sonho?Isso. A minha realização era fazer medicina, claro que eu tinha uma imagem glamorosa da vida médico. Como toda pessoa leiga, que acha que medico come asa de borboleta no café da manha. Não tinha noção da vida sacrificada.

Então, a senhora é uma profissional realizada? Claro. Eu acho que Medicina é uma profissão mais linda e maravilhosa do planeta. Uma profissão nobre, que está desvalorizada, tem um trabalho de mídia denegrindo a imagem do médico, mas que vai passar, é uma questão de tempo. Sou muito feliz na minha profissão.

A senhora veio acompanhar o marido e se apaixonou pela cidade?Isso. Eu vim logo depois que ele já estava aqui, mas com o intuito de passar só três anos. Então, o casamento acabou. Mas, tanto eu quanto ele, já tínhamos fincado raízes aqui. Escolhi Boa Vista compulsoriamente para ser a minha terra, não saio mais daqui.

Como é o dia-a-dia da doutora Alda?Muito corrido. Como eu tenho 60 horas no estado, consultório e faço plantão no final de semana. Eu trabalho de domingo a domingo. Eu não almoço em casa. Plantão noturno eu não faço mais.

Nessa vida corrida, como à senhora separa o lado profissional do pessoal?É um imbróglio, é uma mistura. Já aconteceu de eu ter que levar meu filho, eu é especial, ele não anda e não fala, para a Maternidade, de ter que acordar de madrugada e levá-lo para o Hospital da Mulher, enquanto eu fazia um parto. Com bom humor, pensando que tudo tem um propósito, no final tudo dá certo. Eu tenho uma vida muito simples, não tenho luxo de nada. O meu hobby é cozinhar para os amigos.

Falando em saúde, na sua opinião qual o problema deste setor no Brasil?Má gestão, engodo, mentira.

Há 21 anos em Boa Vista,

Alda é uma apaixonada pela cidade

e pela Medicina

Alda com o filho Gabriel, motivação para vencer os obstáculos

A entrevistada desta edição é a ginecolo-gista e obstetra Alda Regina Gonçalez

Mendes, que nos atendeu num dos seus poucos minutos livres, no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazaré.

Muito bem humorada, ela nos contou um pouco sobre sua infância, vinda para Roraima, carreira e vida pessoal. Alda Regina nasceu na cidade de Pedro Ozório, no Rio Grande do Sul. Cursou medicina na Universidade Federal de Pelotas e a residência médica foi feita no Hos-pital de Clínicas de Curitiba – PR.

No sexto ano de Medicina, ela casou com um estudante de Agronomia. Durante a residência, o marido veio para Roraima, com o objetivo de assumir uma vaga de concurso pú-blico, na Embrapa. Ao término da residência, ela veio para Roraima, há exatamente 21 anos.

O casamento acabou poucos anos depois, mas as raízes na cidade já estavam profundas, por isso ela decidiu ficar. Há seis anos, adotou uma criança, que foi vitima de violência domés-tica – mas, que juntamente com a Medicina são suas grandes paixões e motivação.

Uma dica para quem está pensando em cursar Medicina?Não se iluda a vida do médico não é nada glamorosa, como aparece na televisão. É uma vida muito sacrificada, as pessoas só se achegam a você para dizerem que estão mal, sofrendo. Então, você vai absorvendo todo aquele sofrimento. Todo médico que é uma pessoa humana, no fundo é uma pessoa triste. Porque a gente tem dó das nossas próprias limitações, de não poder ajudar o paciente. Eu não faço a Medicina que eu gostaria de fazer, mas eu procuro fazer a melhor medicina que eu posso fazer. Olhar sempre o paciente de uma forma humana. Não olhar como um útero, um estômago, uma vagina, olhar de uma forma integral, que é uma pessoa que tem útero, estômago e vagina e que pode estar doendo.

Tem algum caso que marcou a senhora nessas duas décadas de atuação?Eu tenho várias Aldas e Aldos por aí. Uma menina muito jovem que tinha sido casada pela mãe com um homem 40 anos mais velho, ela engravidou quase vitima de um estupro. A hora do parto foi uma coisa horrível para ele. Mas, eu procurei dá muita atenção, conversei muito. Um dia eu cheguei em casa, eu morava perto da Maternidade, ela estava com um casal de patinhos. Ela levou o bebê para eu ver e os patinhos eram para eu criar. São muitas histórias, que não tem preço. Já cheguei em casa e encontrei uma mãe que eu tinha feito o parto há 19 anos, me esperando com um bolo de aniversario. Já recebi convite de festa de 15 anos. Enfim, são muita histórias emocionantes.

“Escolhi compulsoriamente Boa Vista para ser

a minha terra”

12Março - 2014

ENTREVISTA

Fotos: Arquivo Pessoal