jornal falatório #1

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Jornal Experimental da Faculdade América Latina CAXIAS DO SUL.JUNHO.2014 GERAL ECONOMIA ESPORTE GERAL GERAL Os motivos que levam milhares a Caravaggio Juventude quer reviver glórias da Enxuta no futsal Haitianos ainda enfrentam preconceito na região Imigrantes começaram a desembarcar em cidades como Bento Gonçalves, onde já são 1.100, após o terremoto de 2010. Conseguiram trabalho e acolhida de instituições, mas ainda há quem considere que “eles vêm para passar fome e causar mais pobreza aqui” Plebiscito deverá decidir se Juá e Cazuza Ferreira, de São Francisco de Paula, passarão a Caxias do Sul Em novas análises, um manifestante, uma jornalista e um pesquisador ajudam a compreender o contexto e as causas que levaram milhares de pessoas a expor sua revolta em Caxias do Sul e no país Feminismo volta às ruas com novo fôlego Anexação de distritos é polêmica Um ano depois, sociedade reavalia significado e legado dos protestos de junho Página 10 Página 5 Página 14 Página 12 Página 6 Página 7 Página 11 Página 4 Fazer vídeos para o Youtube já é profissão Elaine Campos, Divulgação Bruna Salvador, Divulgação Guilherme Oss Bruna Bello Dois anos atrás, Manasse Marotiere chegou em Bento sob “olhares tortos”. Hoje, percebe avanços na aceitação dos refugiados

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Jornal experimental dos cursos de Jornalismo e Relações Públicas da Faculdade América Latina - Caxias do Sul (RS). 1º semestre de 2014

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Page 1: Jornal Falatório #1

Jornal Experimental da Faculdade América LatinaCAXIAS DO SUL.JUNHO.2014

GERAL

ECONOMIA

ESPORTE

GERAL

GERAL

Os motivos que levam milhares a Caravaggio

Juventude quer reviver glórias da Enxuta no futsal

Haitianos ainda enfrentampreconceito na regiãoImigrantes começaram a desembarcar em cidades como Bento Gonçalves, onde já são 1.100, após o terremoto de 2010. Conseguiram trabalho e acolhida de instituições, mas ainda há quem considere que “eles vêm para passar fome e causar mais pobreza aqui”

Plebiscito deverá decidir se Juá e Cazuza Ferreira, de São Francisco de Paula, passarão a Caxias do Sul

Em novas análises, um manifestante, uma jornalista e um pesquisador ajudam a compreender o contexto e as causas que levaram milhares de pessoas a expor sua revolta em Caxias do Sul e no país

Feminismo volta às ruas com novo fôlego

Anexação de distritos é polêmica

Um ano depois, sociedadereavalia signifi cado e legado dos protestos de junho

Página 10

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Fazer vídeos para o Youtube já é profi ssão

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Dois anos atrás, Manasse Marotiere chegou em Bento sob “olhares tortos”. Hoje, percebe avanços na aceitação dos refugiados

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EDITORIAL2FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014

Falatório: vozes simultâneas de muitas pessoas falando; burburi-nho; conversas. Da interlocução entre repórter, fonte e leitor é que nasce o jornal Falatório, uma pu-blicação que surge com a mesma urgência com que o encarcerado anseia pela luz. Queremos que essa liberdade possa dar chance de todas essas vozes gritarem e serem ouvidas, de maneira públi-ca e gratuita. As histórias surgem, e nosso trabalho é pôr no papel o que ouvimos e achamos que deve ser informado.

O Falatório nasce como um instrumento para a reformulação de ideias, conceitos e pensamen-

tos. Em nossas páginas não estão apenas notícias, estão pedaços da História, pautadas em um mundo dominado por grandes corpora-ções midiáticas que consolidam o tendencioso e propiciam a desin-formação alheia. Nosso negócio é informar, proporcionando uma boa leitura aliada à verdade dos fatos.

Aqui se encontram noites em claro, conversas intermináveis, sonhos e desejos de 18 alunos que buscam, acima de tudo, informar sem centralizar a opinião do leitor. Com uma gama de assuntos deli-neados por diferentes cabeças pen-santes com os mais diversificados posicionamentos, propomos uma polivalência midiática livre. Jorna-lismo sem medo. Se pudéssemos rotular este jornal, “anticensura” seria o rótulo. Não nos calaremos enquanto houver histórias e fatos a serem contados e transmitidos via papel, doa a quem doer. A felicida-de em ver cada letra, cada vírgula, cada pensamento publicados no jornal é indescritível, sendo menor apenas do que o sentimento de sa-bermos que estamos fazendo hoje o jornalismo que tanto queremos para o futuro.

Obrigado e boa leitura.

Equipe Falatório

Faculdade América LatinaRua Marechal Floriano, 889Caxias do Sul - RS

Diretora: Ana Paula BosaCoordenador do curso de Jornalismo: Felipe Gue MartiniCoordenadora do curso de Relações Públicas: Adriana Miorelli Carniel

Falatório é um jornal experimental produzido por alunos das disciplinas de Redação Jorna-lística I e Redação para Relações Públicas da Faculdade América Latina no 1º semestre de 2014.

Professor: Felipe BoffProjeto gráfico e diagramação: Marcelo Aramis

Propomos uma polivalência midiática livre. Jornalismosem medo

Como são “imigrantes econômicos”, eles buscam regiões onde haja trabalho

O jornalismo que queremos

Jaqueline Rodrigues e Lara Sosa | Alunas de Relações Internacionais da Faculdade América Latina

Henrique Kanitz | Aluno de Jornalismo da Faculdade América Latina

ARTIGO

ARTIGO

Os primeiros registros da pre-sença dos imigrantes senegaleses em Caxias do Sul datam do ano de 2009. Em 2013, o fluxo imigrató-rio aumentou consideravelmente. Esses imigrantes estão presentes em todo o território brasileiro. Chegam ao país em busca de uma vida melhor economicamente. Buscam neste solo farto de rique-zas o amparo para si e para suas famílias no Senegal.

Como são “imigrantes econô-micos”, buscam morar em regi-ões onde haja trabalho, por isso optam por cidades com facilidade de inserção no mercado. Ao che-gar a Caxias do Sul, dirigem-se ao Centro de Atendimento ao Mi-grante (CAM), no bairro Desvio Rizzo, onde são acolhidos e rece-bem orientações sobre o processo de legalização da residência no Brasil, além de auxílio no tocante ao idioma.

Entre 2012 e 2013, o CAM atendeu a 470 senegaleses. A Po-lícia Federal registrou, em 2012, 127 pedidos de refúgio de sene-galeses na cidade. Em 2013, fo-ram 200 pedidos de refúgio. Cabe aqui considerar que a solicitação de refúgio é avaliada pelo Comitê Nacional para Refugiados (Cona-re), em Brasília. No entanto, gran-de parte dos pedidos de refúgio é negada pelo Conare. A Lei 4.474 - Lei dos Refugiados prevê con-cessão de visto de refúgio a per-seguidos políticos e/ou religiosos em seu país de origem, situação que não se enquadra à emigração senegalesa.

Durante a tramitação, são con-cedidas permissões de trabalho por seis meses, legalizando os imigrantes no país. Uma resolu-ção do Conselho Nacional de Imi-gração (CNIg) e do Ministério do Trabalho, de dezembro de 2013,

concedeu “Visto de Permanência” a todos os senegaleses cujos pro-tocolos de solicitação de refúgio haviam sido encaminhados até julho daquele ano. Essa decisão

beneficiou a comunidade africana em Caxias do Sul em larga esca-la, visto que lhes permite exercer seu trabalho de forma legal e lhes concede direitos básicos como o acesso à saúde.

Toda Caxias ganha com tal de-terminação.

O brasileiro tem dificuldade de lidar com o espaço público e o es-paço privado, segundo a pesqui-sadora Marilena Chauí. O mesmo problema acontece quando se tra-ta do corpo da mulher.

Pesquisas recentes do blog thinkolga.com denunciam os abu-sos cometidos em espaços públi-cos por homens com intenções dúbias. Mantido por quatro mu-lheres defensoras da causa femi-nista, o blog encontra fôlego nas palavras de uma jornalista, uma publicitária, uma socióloga e uma advogada.

As garotas mostram que 98% das meninas já receberam cantada na rua e, em contrapartida, 83% delas não acharam isso legal. E

90% chegaram a trocar de roupa para não sofrer os habituais “fiu--fiu”. O problema é exatamente esse: eles se tornaram habituais.

Quando o espaço privado é invadido deliberadamente – sua casa, por exemplo –, o proprietá-rio se sente lesado. E com razão, uma vez que temos o direito à propriedade privada. E o corpo é privado, sem dúvida alguma. Ora, então por que essas atitudes ma-chistas continuam ocorrendo?

Pelo simples fato de que a so-ciedade patriarcal nos foi herda-da de tempos remotos, quando se falava coisas como “lugar de mulher é na cozinha”. O homem ainda acha que tem direitos sobre a mulher e não percebe que não

a possui. É claro que o direito à liberdade de expressão está as-segurado desde 1988 pela Cons-tituição nacional, e não pretendo defender qualquer tipo de censura prévia. O que tem de haver são limites.

O ideal seria que os limites não fossem impostos por lei, mas o brasileiro, que não sabe nem lidar com o espaço que lhe é disponi-bilizado nos parques, não conhece outra forma de restrição. É claro que há mulheres que gostam de receber uma cantada e a encaram como elogio ou brincadeira. Mas sair atacando o corpo alheio com palavras como “Gostosa” (83% das entrevistadas) ou “Delícia” (78%) é, no mínimo, errôneo.

A situação dos imigrantes senegaleses em Caxias

O espaço público e o corpo feminino

Textos de Jornalismo: Alexandre Severo, Bruna Bello, Cristiano Lemos, Cristina Camassola, Douglas Mondadori, Éverton Mendes, Fabian da Costa, Gregory Debaco, Guilherme Oss, Henrique Kanitz, Joaldo Nery, Manoela Prusch, Marilene dos Passos, Matheus de Oliveira, Miriam Wartha, Rafael Tomé, Sheila De Bastiani e Thiago da Luz Machado.

Textos de RP: Bruna Benito, Marcelo De Gregori, Liika Lima, Tharissa Lorenzoni e Vanessa Sousa.

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POLÍTICAFALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014 3

FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014

Joaldo Nery

GOLPE MILITAR

Os primeiros raios de sol ilumi-navam Caxias do Sul. A rotina da cidade era como a de outro ama-nhecer qualquer. Operários indo para o trabalho, estudantes chegan-do às escolas, movimento de veí-culos e pedestres. Mas logo essa normalidade acabaria, e a vida des-sas pessoas mudaria para sempre.

Era 1º de abril de 1964. Às 18h, um jovem médico conversava com os colegas no Hospital Fátima so-bre o que ouvira no rádio pela ma-nhã. Pouco antes, ao meio-dia, um motorista de caminhão da empresa Marabá, a três quadras dali, almo-çava com a família, preocupado com os últimos acontecimentos. A democracia brasileira havia sido atacada. O general Costa e Silva, com apoio das Forças Armadas e de setores políticos conservadores, nacionais e internacionais, destitu-íra o presidente João Goulart e ins-tituíra uma ditadura cruel no país.

Ivan Bento Arpini, hoje com 81 anos, clinicava no Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos, era chefe de Medicina Social do extin-to Instituto Nacional de Assistên-cia Médica e Previdência Social (Inamps) e liderava as manifes-tações para que a saúde pública fosse de qualidade e com atendi-mento universal – o que viria a ser o Sistema Único de Saúde (SUS). Relacionava-se com outras lide-ranças políticas de esquerda em Caxias, como o médico Henrique Ordovás, o advogado Percy Var-gas e o comunitarista Luiz Pizzet-ti. Isso lhe rendeu uma intimação, sob escolta, até as dependências do atual 3º Grupo de Artilharia Antiaérea (GAAAe), para ser en-trevistado pelos militares, pois seu nome havia sido relacionado pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops).

Mesmo tendo passado parte de um dia e uma noite inteira sem dormir ou se alimentar, nas depen-dências do Exército, Arpini não delatou sobre as atividades das pessoas citadas pelos militares que o inquiriam. Depois de muito tem-po, foi liberado para retornar para casa. Isso não significou, porém, que a vigilância sobre ele e sua fa-mília tivesse acabado.

Hoje, Arpini ri ao relatar os mo-mentos em que os militares eram ludibriados pelos militantes de es-querda. Certa noite, o dr. Ordovás, após ter a informação de que seria preso, chegou em sua casa pedindo guarida. Ao abrir a porta, Arpini notou uma Kombi com os para--choques pretos, o que denunciava as viaturas do Dops. Percebeu que a invasão da casa seria uma ques-

tão de tempo. Solicitou, então, que o amigo pediatra emitisse uma re-ceita para uma de suas filhas para criar um motivo para aquela visi-ta. Enquanto saía para comprar o medicamento em uma farmácia, orientou que Ordovás saísse pe-los fundos e o aguardasse em uma borracharia próxima. Ao retornar, foi avisado de que ele estaria na BR-116, esperando-o. Foi de car-ro até a estrada, colocou o amigo no porta-malas e dirigiu até Porto Alegre. Parou em um local desig-nado previamente, onde Ordovás entrou em outro veículo e, por dois ou três meses, desapareceu de Ca-xias, sem sequer a família saber seu paradeiro.

As lembranças que Luiz Pizzet-ti, 90 anos, tem dos militares não são tão agradáveis. No dia 1º de abril de 1964, ao meio-dia, quando se preparava para comemorar seu aniversário e o da esposa – ambos nasceram no mesmo dia –, a porta da sua casa foi aberta com chutes por militares. Após vasculharem a residência à procura de armas, sem êxito, levaram Pizzetti para a pri-são. A mulher dele, Hyeda, deses-perada, permaneceu em casa com os filhos enquanto ele era levado

para o quartel local e, dali, para o Serviço de Segurança Militar (Ses-mi), em Porto Alegre.

A tortura psicológica sofrida junto aos companheiros comunis-

tas Bruno Segalla, Henrique Ordo-vás e Percy Vargas, aliada à fome a que eram submetidos e aos peque-nos momentos de sono deitados no piso, não fez com que ele de-sistisse da luta ou contasse alguma coisa aos algozes. O silêncio dos militantes era, além de ideológi-co, preparado com antecedência. Nas reuniões clandestinas, só che-gavam ao local estabelecido com

vendas nos olhos. O cuidado se dava para que, ao serem expostos à crueldade dos torturadores, não pudessem, mesmo se quisessem, apontar os lugares onde guarda-vam impressos considerados sub-versivos ou escondiam alguém que precisasse permanecer anônimo.

Apesar disso, Pizzetti lembra que tiveram a comiseração de al-guns carcereiros. Policiais brizo-listas, avessos à ditadura e admi-radores dos esquerdistas corajosos, os tratavam com brandura e aten-ção. Algumas vezes esses agentes mandavam trocar as refeições in-digestas que lhes serviam por um cardápio melhor.

Após 36 dias de prisão e sofri-mento, quase sem conseguir parar em pé pelo estado de inanição, Pi-zzetti foi liberado. Mas a vigilân-cia sobre ele continuou. Foi coa-gido a pedir demissão da empresa onde trabalhava, mesmo sendo um dos sócios. Mas resistiu, voltou ao trabalho e até continuou usando o caminhão com o qual trabalhava para distribuir jornais de oposição e transportar companheiros perse-guidos.

Pizzetti fica emocionado quan-do fala que sua família sofreu

muito por sua militância. O olhar sempre vivo se torna triste momen-taneamente. Ele olha para a esposa, acometida pelo Mal de Alzheimer, e diz: “Foi ela quem manteve a fa-mília unida durante aquele tempo. Isso é consequência do que ela so-freu. Ter todo o cuidado com ela é a forma que eu tenho de retribuir tudo que ela fez por mim”.

Retomando a energia que lhe é característica, relata a perseguição contra o Movimento Comunitário, os documentos confiscados, as reu-niões encerradas pelos militares e o mandato de vereador suplente pela Aliança Republicana Socialis-ta (ARS) que lhe foi cassado: “Não quero morrer com o título que nos deram, pois quando tiraram o nos-so mandato disseram que estáva-mos sendo cassados por sermos bandidos, inimigos da nação”.

A luta de Arpini e Pizzetti aju-da a compreender o que Francisco Pinto Fontoura escreveu no Hino Rio-grandense: “Povo que não tem virtude; Acaba por ser escravo”. Ou, ainda melhor, a estrofe que a ditadura suprimiu: “Entre nós revi-va Atenas, para assombro dos tira-nos. Sejamos gregos na glória e, na virtude, romanos”.

Cinco décadas não apagam a memóriaMilitantes de esquerda na época da ditadura relatam a perseguição sofrida em Caxias do Sul após o fatídico 1º de abril de 1964

Ivan Bento Arpini, 81 anos, ajudou o amigo e também médico Henrique Ordovás, na iminência de ser detido, a fugir dos militares

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Preso por 36 dias, Luiz Pizzetti enfrentou a fome, os longos interrogatórios e a privação de sono, mas não delatou os companheiros

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POLÍTICA4FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014

Alexandre Severo

Thiago da Luz Machado

LEGISLATIVO SÃO FRANCISCO DE PAULA

O Brasil lembra, em 2014, os 50 anos do Golpe Militar. Por todo o país, Comissões da Verdade fo-ram instauradas a fim de recuperar a verdadeira história da ditadura e restabelecer violações à demo-cracia, devolvendo mandatos cas-sados de deputados federais, esta-duais e, em algumas cidades, de vereadores.

Em Caxias do Sul, foram cassa-dos em 1964 um vereador titular, Percy Vargas de Abreu e Lima, e 17 suplentes, todos da Aliança Re-publicana Socialista (ARS). Na data da cassação, todos estavam detidos em Porto Alegre, confor-me Luiz Pizzetti, um dos suplentes cassados. “Foram 36 dias de deten-ção. Quando saímos, ficamos sa-bendo do ocorrido”, conta, com os olhos cheios de lágrimas. Pizzetti lembra ainda que durante 20 anos teve que assinar um ponto no quar-tel em Caxias do Sul e, por vezes, em Porto Alegre.

A sessão que cassou o manda-to dos vereadores caxienses acon-teceu no dia 20 de abril de 1964, menos de um mês após o golpe, e foi repleta de argumentos fortes em defesa da aprovação do reque-rimento. Em falas retiradas das atas, o vereador Frederico Segalla argumenta: “O Sr. Percy de Abreu e Lima é o maior criminoso de Ca-xias do Sul, é comunista”. Ainda em 1964, porém, os vereadores chegaram a voltar à ativa na Câ-

mara. Isso foi possível porque os cassados acionaram a Justiça, que, em novembro daquele ano, orde-nou que os mesmos assumissem novamente as cadeiras da ARS. Entretanto, o requerimento que cassou o mandato de Percy e seus suplentes continua em vigor. Sen-do assim, legalmente, eles perma-necem como cassados.

Em 2013, foi apresentado em Caxias o Projeto de Resolução

11/2013, que visa anular o reque-rimento de cassação e recuperar, oficialmente, os mandatos do ve-reador e dos suplentes. Segundo a assessoria legislativa da Câmara de Vereadores, o projeto está com a Comissão de Constituição, Justiça e Legislação. Conforme o presi-dente da comissão, Flávio Cassina (PTB), o parecer sobre o projeto

deve ser emitido em breve. Sem adiantar o conteúdo do parecer, o parlamentar pondera que poderá haver, por parte dos cassados ou de seus familiares, um pedido de reembolso dos valores perdidos. O vereador proponente, Henrique Silva (PC do B), garante que esse pedido já foi feito anteriormente pelos próprios vereadores cassa-dos, logo que voltaram à Câmara, conforme consta nas atas daquele tempo. Recorda ainda que o pedi-do foi aceito pelos parlamentares, e os vereadores cassados já foram reembolsados. Henrique lembra também que o artigo 2 do projeto prevê que a resolução não poderá ter fins financeiros.

Para evitar esse possível des-conforto ao Legislativo, Cassina propôs que a Mesa Diretora apre-sente uma resolução, devolvendo simbolicamente os mandatos a es-ses ex-parlamentares. Porém, o ve-reador Henrique Silva adianta que não aceitará a proposta e aguarda-rá que o projeto seja discutido em plenário.

O projeto continua tramitando na Casa e não tem prazo determi-nado para ir a plenário. O único requisito para entrar na pauta é que tenha o parecer da CCJL. A partir daí, o vereador proponente pode invocar, através de requerimento, o artigo 78 do Regimento Interno da Câmara, que obriga a Mesa Dire-tora a pôr o projeto em discussão.

Os moradores de Cazuza Fer-reira e Juá, distritos de São Fran-cisco de Paula com territórios de 598,41 km² e 360,40 km², res-pectivamente, vivem um dilema. Alguns são a favor da anexação a Caxias do Sul, outros são con-tra. A expectativa dos favoráveis é que a decisão seja tomada em plebiscito ainda este ano, envol-vendo as populações de Caxias e São Francisco.

O presidente do Conselho Deliberativo da Comissão de Anexação de Cazuza Ferreira e Juá, Vitor Hugo Gomes, diz que esses movimentos tiveram seus primeiros passos na década de 1970, motivados por alguns moradores descontentes e por políticos de Caxias. A luta pela anexação foi retomada em 2002, também por questões de proxi-midade. Cazuza está a 103 qui-lômetros da sede de São Fran-cisco de Paula e a 75 da sede de Caxias, enquanto Juá está distante 120 quilômetros de São Francisco e só 43 de Caxias.

Vitor diz que, com a anexa-ção, “o município caxiense irá ganhar muito, principalmente em água, porque todas as bacias de captação de Caxias provêm dessa região”. Para os morado-res dos distritos, “vão melhorar, e muito, as condições de saúde, educação, emprego e renda, por-que eles terão estradas em boas condições de trafegabilidade, essencial para essas pessoas se

deslocarem e escoarem sua pro-dução”, afirma Vitor, ex-verea-dor em Caxias.

Do outro lado, o técnico da Secretaria de Planejamento e presidente da Comissão Técni-ca Permanente do Plano Diretor de São Francisco de Paula, Jú-lio Jomertz, afirma que não é a prefeitura de Caxias do Sul que quer a anexação, e sim alguns políticos caxienses com interes-ses, que estão fazendo pressão para que ela ocorra. Jomertz considera a anexação um crime de lesa-patrimônio, calculando que São Francisco teria redução de 14% da receita municipal com a perda das hidrelétricas, que são uma de suas principais fontes.

Jomertz faz uma comparação para explicar sua contrariedade. São Francisco seria o vizinho pobre, que tem um terreno de grande valia, mas, por proble-mas diversos, não dá conta de fazer sua manutenção. Caxias seria o vizinho rico, que olha para o lado e vê uma maneira de se fortalecer mais, quando, no entanto, poderia ajudar o vizi-nho a prosperar, e não cobiçar o que não lhe pertence.

Jomertz classifica a disputa como uma briga entre Davi e o gigante Golias. Entretanto, as-segura, sem revelar estratégias, que São Francisco de Paula irá lutar até o último momento para manter os seus territórios.

Cassados em 64 querem recuperar mandatos

Anexação de Juá e Cazuza é debatida

Projeto que prevê devolução simbólica tramita na Câmara de Caxias do Sul

Localidades podem passar a pertencer a Caxias

Atual legislatura deverá avaliar cassação de um vereador titular e 17 suplentes da extinta ARS

Prefeito de Caxias em audiência pública sobre a anexação

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Políticos atingidos por requerimento aprovado dias após a derrubada de João Goulart só souberam da perda ao deixar a cadeia, na capital

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ECONOMIAFALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014 5

FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014

Guilherme Oss

Guilherme Oss

INTERNET TECNOLOGIASÃO FRANCISCO DE PAULA

Na simplicidade da própria casa ou em um complexo estúdio de gravação, uma nova profissão está surgindo. É a do youtuber, o pro-fissional que trabalha com a produ-ção de conteúdo audiovisual para a internet, mais especificamente para o popular site de vídeos You-tube. Sua missão: esforçar-se todos os dias para trazer informação, en-tretenimento e cultura para pessoas de todas as partes do mundo.

Jonas Fontana, 18 anos, caxien-se, é dono do canal TG10, especia-lizado em vídeos do jogo de fute-bol FIFA. Segundo Jonas, o canal é o elo de entre o youtuber e seus espectadores, comumente chama-dos de inscritos. Ao se inscrever, o internauta recebe avisos de que novos vídeos daquele canal foram enviados através da página inicial do Youtube. “É um privilégio tra-balhar com isso. É arriscado e mui-to dependente de terceiros, porém, quando você firma um bom públi-co, o seu trabalho e os seus ganhos só tendem a crescer”, afirma Jonas.

O youtuber precisa assinar con-trato com uma network (termo em inglês que significa rede) para re-ceber remuneração. A network é uma empresa que agencia a veicu-lação de anúncios publicitários pa-

gos, que são exibidos em diferen-tes formatos nos vídeos postados no canal do profissional. O dado utilizado pela rede para calcular o valor pago ao profissional se baseia no seu número de visuali-

zações; quanto mais pessoas assis-tem ao conteúdo de um canal, mais o criador ganha.

Os Estados Unidos lideram o setor empresarial das networks, contando com os maiores nomes do mercado mundial, como Ma-chinima, MakerStudios e Full- Screen. No Brasil, o carioca Felipe Neto é proprietário das redes Para-maker e TGSBrasil, as duas únicas

companhias brasileiras do setor. O surgimento dessas empresas evidencia o amadurecimento do mercado youtuber nacional. “Os youtubers brasileiros têm crescido muito em qualidade e criatividade nos últimos anos. É um mercado em expansão, no qual é preciso se profissionalizar”, afirma o carioca Guilherme Damiani, diretor criati-vo da TGSBrasil.

Existem inúmeros tipos de con-teúdos que podem ser explorados pelos youtubers: vídeos de games, programas de notícias, curtas-metragens, entrevistas, debates, esquetes de comédia, conteúdos musicais. Apesar da liberdade cria-tiva e do alto potencial de rendi-mento, o profissional da área não tem direito a férias, 13º salário ou seguro-desemprego, já que sua ati-vidade se enquadra como “autôno-ma”. Sua remuneração mensal não é fixa, e o mercado consumidor de conteúdo do Youtube é extrema-mente flutuante e volátil. “Existem muitos riscos nessa profissão, mas sou muito feliz com o meu traba-lho. Afinal, todos adoram trabalhar com aquilo que amam”, afirma Heitor Silva, youtuber catarinen-se dono dos canais VcseLembra e HeitorGames.

O mercado brasileiro de ga-mes cresceu 37% em faturamen-to somente em 2013. Foi mais de R$ 1 bilhão em vendas de jogos para consoles como Xbox360, Playstation 3 e Nintendo Wii. O ano anterior teve crescimento um pouco menor, de 25%, somando R$ 786 milhões. Mas a verda-deira ascensão vertiginosa foi em 2011, quando o incremento registrado no setor foi de 134%, graças ao início da prensagem e da produção dos games em ter-ritório nacional. Os dados são da GFK, quarta maior empresa de pesquisa de mercado do mundo.

O mercado de games brasilei-ro tem, de maneira animadora, apresentado movimento contrá-rio ao do cenário mundial, que registra quedas preocupantes ano após ano. Em 2012, a venda de jogos para consoles teve que-da de 27% no Reino Unido. No mesmo período, o segmento en-colheu 23% nos Estados Unidos.

O Brasil já é o quarto maior mercado do mundo em jogos digitais. Porém, fatores como pirataria, impostos e vendedores ilegais ainda são obstáculos para o crescimento do setor. “Na ver-dade, o jogo está sendo taxado de forma equivocada, e o gover-no tem dificuldade em enxergar isso”, afirma Rogério Werlang, proprietário da OR Games, uma das maiores redes de varejo do ramo no Rio Grande do Sul.

Atualmente, os jogos eletrô-nicos estão enquadrados pela Receita Federal na mesma cate-goria das máquinas caça-níqueis, os chamados jogos de azar, com cargas tributárias que são apli-cadas em forma de cascata. Um produto do setor de games, de-

pendendo das circunstâncias de produção e importação, pode sofrer a incidência de impostos de até 124%, fazendo com que o consumidor pague preços exor-bitantes por jogos e consoles.

A produção de consoles e jo-gos em território nacional tem contribuído para reduzir o preço final repassado ao consumidor. Empresas como Sony e Micro-soft já fabricam consoles no Bra-sil, na Zona Franca de Manaus. O preço do Xbox360, por exemplo, passou de R$ 1.299 para R$ 799 devido à eliminação da necessi-dade de importação do produto e aos incentivos fiscais oferecidos pelo governo federal para produ-ção na Zona Franca.

Iniciativas privadas como o projeto Jogo Justo, que tem como objetivo reduzir a carga tributária aplicada aos games no Brasil, e entidades como a ACI Games, a Associação Comercial, Industrial e Cultural de Games, que foi criada para regulamen-tar e incentivar culturalmente o setor de jogos, também têm aju-dado no crescimento do mercado brasileiro. Além disso, empresas como Ubisoft e Blizzard têm tra-zido ao país seus jogos totalmen-te traduzidos para português bra-sileiro, com direito a legendas e dublagem de altíssima qualidade.

Outro exemplo é o da AMD, que desenvolveu uma linha de processadores totalmente volta-da para o Brasil. “O Brasil é hoje o mercado mais importante da América Latina para a AMD. O país possui um potencial enorme para o setor de games e infor-mática”, afirma o diretor técnico da divisão da América Latina da AMD, Roberto Brandão.

Jovens descobrem nova profissão: “Youtuber”

Mercado de games está em alta no país

Fazer vídeos para um dos sites mais populares do mundo virou trabalho fixo

Na contramão do cenário mundial, Brasil tem aumento das vendas de jogos para consoles

O caxiense Jonas Fontana, 18 anos, mantém um canal especializado no jogo de futebol FIFA

Comércio de games registrou faturamento 37% maior em 2013

“É um privilégio trabalhar com isso. É arriscado, mas quando você firma um público, seus ganhos só tendem a crescer”, diz Jonas

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FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014 GERAL6FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014

Manoela Prusch

Douglas Mondadori

Matheus de Oliveira

CIDADANIA INFÂNCIA E JUVENTUDE

SAÚDE

Direito ao voto. Inserção no mercado de trabalho. Lei Maria da Penha. Divórcio. As conquistas do movimento feminista através dos séculos trouxeram grandes avan-ços para a sociedade como um todo e beneficiaram milhões de mulheres. Mas a luta não acabou.

“Mulher tem que se dar valor”, “Lugar de mulher é na cozinha”, “Usando minissaia? Está pedindo pra ser estuprada”. Entre bordões machistas que reduzem a mulher a um estereótipo e reforçam a discri-minação e a violência, surgem re-sultados reais de pesquisas, como a do Instituto de Pesquisa Econô-mica Aplicada (Ipea) que, em abril deste ano, apontou que 26% dos brasileiros concordam com a afir-mação de que mulheres que usam roupas que mostram o corpo mere-cem ser atacadas.

A luta pelo direito de andar na rua vestindo o que bem entender, o fim da imposição de padrões de comportamento, a desconstrução do patriarcado e o combate a qual-quer tipo de preconceito ou violên-cia contra a mulher são algumas das pautas do movimento feminis-ta atualmente.

Militante da Marcha Mundial das Mulheres de Caxias do Sul, Camila Tomazzoni nunca concor-dou com todas as contradições e desigualdades que presenciava, principalmente no meio familiar. Ao entrar em contato pela primeira vez com o movimento, pôde jun-tar sua indignação com a de outras mulheres que compartilhavam opi-niões e vivenciavam situações se-melhantes. “Se antes eu sofria no cotidiano, passei a entender as ori-

gens, os objetivos, o que estava por trás da desigualdade”, conta.

Embora opinião pública e mídia por vezes se manifestem equivoca-damente em relação ao feminismo, Camila esclarece: “O feminismo apresenta a questão do avanço da igualdade de direitos entre homens e mulheres. Quando falamos de feminismo, falamos de novas re-lações entre as pessoas na socie-dade, de solidariedade, de justiça, de uma sociedade que combata todas as formas de discriminação e violência. Um mundo melhor é um mundo onde homens e mulhe-res tenham as mesmas condições, o mesmo tratamento e a mesma li-berdade de agir e pensar”.

Apesar dos grandes avanços nas relações sociais e nos direitos das mulheres, Camila reconhece que ainda há muito caminho pela frente. “Atualmente são apenas 9% de mulheres na Câmara dos Depu-tados. Hoje a mulher está no mer-cado de trabalho, mas ganhando, ainda, cerca de 30% a menos que o homem, realizando as mesmas tarefas. Por mais que tenhamos avanços importantes em algumas áreas de direito, eles não repre-sentam uma mudança na estrutura do funcionamento da sociedade e de seus valores. Não representam uma realidade de mulheres livres de violência e livres para escolhas. O machismo faz vítimas todos os dias, em diferentes culturas.” Para que o feminismo cresça e se forta-leça, diz Camila, é necessária uma maior adesão das mulheres.

A estudante Luisa Biondo faz parte da geração que pretende en-grossar as fileiras do movimento

feminista no futuro. Luisa conta que sempre ouviu falar sobre o fe-minismo, mas até pouco tempo não entendia, realmente, o que signifi-cava o termo. “Eu achava que era como eu ouvia falar: mulheres que não se depilavam e lutavam para ser superiores aos homens. Tive contato com o movimento quando entrei na universidade e conheci muitas pessoas que participam. O que me chamou a atenção é que ele não busca, como todos acham, a superioridade do sexo feminino, e também não busca que a mulher seja igual ao homem. O que eu en-tendo do movimento é a igualdade de direitos”, completa.

O sociólogo Paulo Zugno reco-nhece as conquistas da causa femi-nista, mas também os problemas enfrentados pelas mulheres atual-mente. “A sociedade ainda man-tém um caráter muito paternalista. Você vê o caso da remuneração da mulher: ainda é menor que a do ho-mem.” Ele acrescenta que essa não é uma realidade apenas brasileira, e sim mundial, e que a desigual-dade salarial entre mulheres e ho-mens chega a ser maior em outros países. “Nas regiões muçulmanas, no mundo árabe em geral, a situa-ção da mulher é muito pior do que no Ocidente. Proíbem a mulher de dirigir um automóvel”, aponta. “É uma questão cultural.”

Zugno acredita que a evolução cultural vai dizer se o movimento obterá mais vitórias e aceitação. “A única solução possível para quem lidera o movimento feminista é continuar lutando pela ampliação de direitos e pela participação da mulher na vida política”, conclui.

Apesar de ter capacidade para 20 crianças, de zero a 18 anos, a Casa de Acolhimento Institucio-nal Sol Nascente abriga hoje 23. São sete meninos e 16 meninas. Desse total, 14 não possuem mais que um ano de vida. O principal fator para essas crianças estarem ali é o vício das mães em crack, o que, inclusive, acaba causando muitas complicações na saúde dos filhos. Um exemplo é um ga-roto de 17 anos, portador do vírus HIV, com dificuldades motoras e mentais, que está no abrigo desde os cinco.

A coordenadora da Sol Nas-cente, Leslie Gil Lorandi, diz que a casa tem uma equipe técnica com assistentes sociais, psicólo-ga e educadores. A tarefa deles não é simples. “Elas brigam to-dos dias, como qualquer criança. Não são brigas graves, mas bri-gam como se fossem irmãos em uma casa normal. Aqui é a casa delas”, relata Leslie.

Apesar das histórias difíceis, nem tudo é tristeza. As crianças, além de todo acompanhamento que têm da instituição, vão para

a escola e, através de parceiros, podem praticar outras atividades, como natação e futsal.

Uma situação um pouco dife-rente ocorre na Casa de Acolhi-mento Institucional Estrela Guia, que abriga 23 adolescentes de 12 a 18 anos. Por serem mais velhos, alguns têm contato com drogas, há meninas que fogem para se prostituir e as brigas são mais frequentes. “Temos que ficar o tempo todo ligados. Um descui-do, eles pulam o portão e somem. Preferem a vida na rua do que aqui dentro, pois aqui existem regras que eles têm que cumprir, e na rua, não”, relata a coordena-dora da casa, Márcia Scalabrin. Durante a entrevista, numa tarde de maio, Márcia é chamada a re-solver uma confusão e traz uma menina de 14 anos à sala. A ga-rota relata ter sido abandonada pela mãe e questiona o repórter: “Tio, o senhor é casado?”. Diante da resposta afirmativa, comple-ta, chorando: “Me adota, tio? Eu prometo que me comporto, que não tento fugir. Vou ser uma filha bem boa pra vocês”.

O Rio Grande do Sul caiu quatro posições no ranking de doações de órgãos, de acordo com dados da Associação Brasi-leira de Transplantes de Órgãos. Em Caxias do Sul, os principais hospitais da região fazem trans-plantes de órgãos. Um dos mais importantes, o Hospital Pompéia conta também com o Banco de Olhos, que é responsável por ar-mazenar e transplantar córneas.

O enfermeiro gestor do Banco de Olhos do Pompéia, Hugo de Castilhos, explica que pacientes com diagnóstico de morte en-cefálica são possíveis doadores, desde que haja autorização da família. Hugo acredita que in-formação e esclarecimento são importantes para desmitificação do tema. Segundo o coordenador, em 2014, até o dia 12 de maio, o hospital diagnosticou 15 mor-

tes encefálicas, sendo que seis tiveram doações liberadas pelas famílias.

O apego ao ente recém-fale-cido é considerado o principal empecilho à doação dos órgãos. “As pessoas se apoiam em algu-mas crenças, e com isso criam a ideia de que um corpo sem alguns órgãos descaracteriza o corpo do parente que morreu”, diz a psicó-loga Natália Pirocca, da Associa-ção dos Renais Crônicos de Ca-xias do Sul, a RimViver.

Carolina Maciel Santos, assis-tente social da mesma instituição, complementa: “Alguns familia-res não fazem a doação por não acreditar na morte do parente”. Para mais informações sobre o Banco de Olhos, entre em con-tato pelo telefone 3220-8023 ou 9988-9550 (plantão 24 horas). O fone da RimViver é o 3214-1707.

Remuneração igual e maior representação política são reivindicações de hoje

Vício das mães em crack é uma das principais razões que colocam 46 menores em instituições

Falta de informação dificulta autorização da família nos casos de morte encefálica

Marcha Mundial das Mulheres promove atos para conscientizar a população e cobrar direitos

Movimento feminista atualiza suas lutas

Abrigos recebem casos de abandono

Doação de órgãos enfrenta obstáculos

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FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014 FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014

INFÂNCIA E JUVENTUDE

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IMIGRAÇÃO

O Haiti é considerado o país mais pobre do continente america-no. Após o terremoto que atingiu o país em 2010, deixando 316 mil mortos e mais de 1,5 milhões de desabrigados, a situação se agra-vou. Muitos haitianos e haitianas têm procurado o Brasil para reco-meçar suas vidas. Um dos fatores que contribuem para isso é o fato de que o país permite a entrada de imigrantes, oferecendo auxílio, como alimentação, moradia e vis-tos provisórios de trabalho a pesso-as vindas não só do Haiti, mas tam-bém do Senegal e de outros países que enfrentaram grandes desastres naturais ou problemas econômi-cos. Mas o aumento do número de imigrantes tem causado impasses e dividido opiniões. A entrada deles é feita pelo Acre. Muitos decidem ficar no Norte; outros se aventu-ram a desbravar todo o território brasileiro. No Rio Grande do Sul, principalmente na Serra Gaúcha, esses imigrantes têm chegado cada dia mais.

Bento Gonçalves, cidade co-nhecida internacionalmente por seu polo moveleiro e sua grande produção de vinhos, abriga, des-de 2011, cerca de 1.100 haitianos. Quando chegam ao município, eles são encaminhados para a Paróquia Santo Antônio, onde, em 2013, foi instaurada a Pastoral do Migrante. De acordo com o coordenador da pastoral, João Aristides, os haitia-nos ajudam muito na igreja. Al-guns até tocam instrumentos musi-

cais durante as missas da paróquia. Além de auxiliar com alimentação, busca de empregos e arrecadação de móveis, a pastoral dispõe de duas aulas por semana de Língua Portuguesa. “Nossas aulas são nas terças e quintas-feiras, das 19h às 21h. Nas duas turmas, somamos 120 alunos, que estão aprendendo a falar, ler e escrever o português”, conta Aristides. Ele acrescenta que os haitianos são um povo muito inteligente. “Eles aprendem muito rápido. E a maioria fala fluente-mente diversas línguas.”

Um deles, que fala cinco idio-mas (francês, português, inglês, espanhol e crioulo haitiano), é Ma-nasse Marotiere, 28 anos. Nascido em Gonaives, a cerca de uma hora da capital Porto Príncipe, ele é for-mado em Informática pela Univer-sidade do Estado do Haiti e foi um dos primeiros haitianos a desem-barcar em solo brasileiro. Após o terremoto, Marotiere chegou à di-fícil decisão de sair do país em bus-ca de uma vida mais digna. “Sem-pre foi muito difícil viver no Haiti. Existe muita pobreza e desigualda-de. Mas, de repente, tudo piorou”, conta. Foram dias sem sono pen-sando para onde ir. Em 2012, dei-xando a família no Haiti, ele partiu para o Equador. Naquele país, en-controu um amigo que lhe indicou o Brasil como um bom lugar para se viver. Quando Marotiere chegou ao Acre, foi encaminhado para a Polícia Federal, onde providenciou a documentação legal para ficar no

país. Em pouco menos de um mês, tudo estava pronto. Nesse período, uma empresa bento-gonçalvense de concretagem entrou em contato com os haitianos, oferecendo em-pregos e alojamento no município. Marotiere lembra que ao todo eram dez homens.

Uma das cenas que mais ator-mentam o haitiano foi quando che-gou à Capital do Vinho. “Desci do ônibus, olhei ao redor, todos esta-vam me fitando. Fui caminhando até a Igreja Santo Antônio, onde percebi que umas cinco pessoas, que vinham na minha direção, atravessaram a rua para não passar perto de mim.” Marotiere descre-ve que se sentiu como um animal. “Demorou muito para conseguir ti-rar aquela cena da cabeça. Não es-perava isso.” Dois anos depois, ele relata que já não percebe tanto o preconceito ou os “olhares tortos”. “Ou eu me acostumei com eles, ou eles se acostumaram comigo.”

Há um ano, o haitiano descobriu um câncer na mandíbula. Com a ajuda de colegas de trabalho, ele procurou apoio em uma entidade do município. “Agora, com a che-gada da minha mãe e esposa, tudo tem melhorado. O apoio delas e da comunidade foi muito importan-te”, destaca. Após tratar da doença, Marotiere já tem planos: “Gostaria muito de exercer minha profissão aqui. Entrar em uma faculdade e estudar Informática. Minha esposa quer continuar o curso de Arquite-tura e seguir nossa vida aqui”.

Julga-se pela cor, pela língua ou até por falta de conhecimen-to. Preconceito ainda existe em todas as vertentes da sociedade. Para a cozinheira Carmen Lopes, 45 anos, os imigrantes haitianos não deveriam sair de seu país. “A prefeitura não consegue nem aten-der a população que nasceu aqui, imagina eles”, questiona. Carmen afirma que ela e toda a família sempre tiveram opinião formada a respeito dos haitianos. “Além de trazer doenças, eles tiram empre-gos das pessoas que vivem aqui há mais tempo.”

A cozinheira considera que não pode mais passear no shopping com tranquilidade. “Não consi-go levar minhas filhas no Cen-tro. Onde a gente chega tem um punhado deles por toda a parte!”, reclama. Questionada sobre acei-tar as diferenças e conviver com os haitianos, Carmen é incisiva: “Não mudo minha opinião. Se eles vêm para passar fome e cau-sar mais pobreza aqui, que voltem para onde vieram”.

“O Brasil é um país racista”, diz a doutoranda em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Cristine Tedesco. Ela acrescenta que não são ape-nas descendentes de italianos que possuem comportamentos racis-tas. “O preconceito não é apenas

com haitianos ou senegaleses, mas também com pobres, negros, índios, mulheres e com as mino-rias de uma forma geral”, destaca. Para entender essa prática é preci-so olhar para o passado, marcado pela escravização de indígenas e africanos. “O tardio fim da escra-vização de pessoas no Brasil não pôs fim ao racismo e à discrimina-ção, e ainda não o superamos. Em meados do século XIX, grandes levas de imigrantes europeus che-garam ao Brasil. Eles saíram de sua terra natal com a convicção de que encontrariam possibilidades de construir suas vidas no Novo Mundo. Em sua maioria, eram po-bres, mas esses aspectos tendem a ser negligenciados pelo senso co-mum”, observa.

Para ela, a luta não só contra o racismo, mas contra todas as for-mas de preconceito, é um com-promisso de toda a sociedade. “A educação pode ser decisiva no combate ao preconceito, seja ra-cial ou não. O trabalho em sala de aula, e aqui me refiro também ao espaço universitário, pode des-construir opiniões racistas e pre-conceituosas em geral tendo como argumento o conhecimento.”

Cristine aponta que políticas de valorização das diferentes culturas da sociedade podem ser determi-nantes no combate ao preconceito.

Na Paróquia Santo Antônio funciona a Pastoral do Migrante, um dos pontos de assistência a novos moradores da Serra Gaúcha, como Manasse Marotiere, 28 anos

Bruna Bello

Haitianos entre a acolhida e o preconceito Refugiados que escolheram Bento Gonçalves têm amparo e emprego. Entretanto, ainda sofrem resistência de parte da população

“Que voltem para onde vieram”, critica moradora

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FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014 GERAL8FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014

Miriam Wartha

Alexandre Severo

INFRAESTRUTURA

ASSISTÊNCIA MÉDICA

A pista de ciclovia e caminhada na Rodovia dos Romeiros para Ca-ravaggio será uma obra para aten-der não apenas farroupilhenses, mas também fiéis e turistas que vêm à região para visitar o santu-ário. Para os adeptos do ciclismo, a falta de uma faixa específica gera grandes transtornos e perigos, mui-tas vezes causando vítimas fatais por atropelamentos.

A obra, que será dividida em três etapas, tinha, até metade de junho, previsão de ser iniciada até o fim deste mês. A primeira eta-pa começa no trecho próximo ao Ginásio do Saturno, trajeto que já está municipalizado. “Estamos aguardando a liberação do Daer (Departamento Autônomo de Es-tradas de Rodagem, órgão esta-dual) para municipalizar o restante do trecho”, acrescenta o secretário de Planejamento de Farroupilha, Deivid Argenta.

Segundo o secretário, o projeto

foi feito com base na topografia local, onde há alguns problemas com rochas e aterros, o que elevou o custo total da obra. Além da ci-clovia, haverá uma pista de cami-nhada e 50 centímetros de cantei-ro, onde serão colocados postes de luz, paradas de ônibus, lixeiras e bancos. A via de acostamento que já existe não será invadida. Con-forme Argenta, uma parte da vege-tação será suprimida, mas dentro das normas ambientais, e todas as licenças serão fornecidas pela Se-cretaria de Meio Ambiente.

“A conclusão, na verdade, é um tanto difícil de prever, pois a obra está sendo feita através de verbas de emendas parlamentares, mas será realizada no decorrer do mandato do atual prefeito, Claiton Gonçalves. Hoje nós já temos R$ 1,5 milhão para a obra, o que per-mite fazer cerca de 3 quilômetros”, afirma o secretário. O custo da ciclovia, de acordo com Argenta,

O Serviço de Atendimento Mó-vel de Urgência (Samu) começou a funcionar em Caxias do Sul há 10 anos, quando o município ti-nha 117 mil veículos nas ruas. Em 2012, segundo o IBGE, a frota su-biu para 180 mil. Com o aumen-to do volume de carros, acompa-nhado pelo número de habitantes, trafegar rapidamente pela cidade é um trabalho árduo.

O Samu de Caxias tem cinco ambulâncias, sendo quatro de su-porte básico e uma para atendi-mentos avançados. Levando-se em conta que a população esti-mada é de 465.304 pessoas e que as ambulâncias são adquiridas na proporção de um veículo de su-porte básico para cada grupo de 100.000 a 150.000 habitantes e de um de suporte avançado para cada 400.000 a 450.000, a estrutura do serviço estaria adequada ao porte da cidade. Apesar dos números se enquadrarem às normas, a técnica em enfermagem Patricia Maria da Silva, 44 anos, que atua no Samu desde o início, diz que o número de ambulâncias é insuficiente. “Acho pouco para uma cidade do tama-nho de Caxias, que cresce cada dia mais”, observa. Um empecilho, diz Patricia, é o trânsito de Caxias do Sul e a cultura dos motoris-

tas. Ela relata que os condutores não têm o costume de abrir espa-ço para as ambulâncias e, muitas vezes, quando tentam fazer isso, atrapalham-se e acabam fechando o caminho. “Se atendermos uma ocorrência na Avenida São Leo-poldo com a Rótula da Perimetral Bruno Segalla em horário de pico, levamos 20 minutos para chegar. No trânsito tranquilo, como à noi-te, demoramos em média sete mi-nutos”, exemplifica. Patricia consi-dera que em outras cidades a figura da ambulância é mais respeitada, facilitando-se sua locomoção.

Como solução a esse proble-ma, Patricia cita o município de Canoas, que conta com o serviço de motolância. A motocicleta se desloca rapidamente pelo trânsito, e o técnico de enfermagem que a pilota pode dar uma resposta mais rápida à central, confirmando se há necessidade de envio de uma am-bulância e informando o estado de saúde do paciente.

Outra dificuldade apontada pelo diretor técnico do Samu, Marcos Antônio Corá, são os frequentes trotes para o fone 192, geralmente nos horários de entrada, recreio e saída das escolas. “Quando des-confiamos de trote, encaminhamos para a Brigada Militar”, diz Corá.

Caravaggio aguarda construção de ciclovia

Trânsito crescente desafia Samu em Caxias

Projeto na Rodovia dos Romeiros, ainda sem data para conclusão, contempla também uma pista de caminhada até o santuário

Segundo as normas, o número de ambulâncias está de acordo com a população da cidade, mas dificuldades são sentidas nas ruas

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Hoje, ciclistas e pedestres correm risco de atropelamento na via

Há 10 anos no município, Samu tem quatro veículos de suporte avançado e um de suporte básico

gira em torno de R$ 450 mil por quilômetro.

Sobre os perigos de não existir uma ciclovia, Luciano Pacheco, participante do movimento Massa Crítica de Caxias do Sul, afirma que “a maior dificuldade deste per-curso é a mesma de qualquer outra rua, a falta de respeito, tendo em vista a fragilidade do ciclista frente a um veículo em movimento que se aproxima normalmente por trás, não dando chance de defesa ao ci-clista”.

O grupo Massa Crítica de Ca-xias, que iniciou apenas com 10 ciclistas, conta hoje com aproxi-madamente 130 ciclistas por ati-vidade organizada. Além dos pas-seios mensais, o grupo participa também de outros eventos, como o Dia Mundial Sem Carro, a Bicicle-tada Nacional e passeios extras no período do horário de verão, ocor-rendo sempre no perímetro urbano. Luciano conta que conhece muitas

pessoas que pedalam até Carava-ggio e defende que “a implanta-ção de ciclovias ou faixas para ciclistas é o maior incentivo ao uso da bicicleta, seja como meio de transporte, esportivo ou de la-zer”. “É obrigação dos estados e municípios prover melhorias de

infraestrutura para assegurar ao ciclista seu direito de uso da via”, completa.

A importância da ciclovia se acentua no dia 26 de maio de cada ano, quando ocorre a Romaria a Nossa Senhora de Caravaggio, que atrai milhares de fiéis.

O Samu atende pelo número 192 e presta socorro a situações de urgência e emergência. Para que o atendimento seja feito cor-retamente, há um processo a ser seguido. Primeiro, a ligação cai na sala de regulação, onde o telefo-nista auxiliar de regulação médica solicita as informações básicas, como a identificação, o endereço e a queixa. Após, um médico re-

gulador tenta orientar o solicitante a conferir os sinais vitais, como pulso, respiração, consciência e possíveis lesões.

Com esses dados é gerada a “gravidade presumida”, um con-trole do estado de saúde do pa-ciente, e a partir daí a solicitação é encaminhada para o atendimen-to das ambulâncias. Dois tipos de viaturas estão disponíveis em

Caxias: a de suporte básico e a de suporte avançado. A equipe básica conta com motorista e um técni-co ou auxiliar de enfermagem. A avançada é composta por condu-tor, um enfermeiro e um médico. Depois do atendimento no local, gera-se a “gravidade comprova-da”, e então o paciente é levado ao hospital, ao Pronto Atendimento ou até mesmo liberado.

Como funciona o serviço de atendimento

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FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014 FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014

Cristiano Lemos

Éverton Mendes de Souza

COMPORTAMENTO

SAÚDE

Eles se reúnem todo final de se-mana, em torno de 30 carros esta-cionados em linha na rua Tiraden-tes, nas proximidades da prefeitura de Farroupilha. Seus sons potentes mostram o porquê de terem vindo. Alguns ficam parados, outros fi-cam passando para mostrar quão rebaixados seus carros estão. Nos últimos cinco anos, os domingos têm sido assim: um culto à estética automotiva.

O que começou no Brasil dos anos 1980, com a primeira gera-ção do Gol, ganhou força com o avanço tecnológico e o custo mais baixo para “tunar” os automóveis. Rodas, películas e, principalmente, o som automotivo têm feito a ca-beça dos jovens na Serra Gaúcha. Com encontros quinzenais em di-versas cidades da região, eles com-petem entre si para saber quem tem o mais potente, mais forte, mais alto volume.

“Isso sempre existiu, mas com a entrada de produtos importados e o crescimento do mercado nacio-nal a demanda aumentou conside-ravelmente”, atesta Fabio Fiorese, 29 anos, que há dois anos e meio abriu a UpGrade Tecnologia Au-tomotiva, depois de ter trabalhado como eletricista de carros. Fabio diz que, hoje, para se ter um som de médio porte, é necessário gas-tar entre R$ 3.000 e R$ 5.000. “Um bom som hoje deve contar com dois alto-falantes de 12 pole-gadas para os sons graves, quatro cornetas e um twitter para os sons agudos, além de um amplificador e

uma bateria suplementar”, enume-ra o empresário, que tem também uma equipe de competição. Para ele, os encontros servem para tra-zer mais adeptos a essa paixão.

Paixão esta compartilhada pelo universitário Juliano Knorst, 27 anos. Para ele, personalizar um carro é algo que o acompanha des-de os 16 anos, quando comprou um Fusca ano 83, rebaixou-o, reti-rou os bancos traseiros e gastou em torno de R$ 6.000 em som. De lá para cá ele teve mais alguns carros, sempre rebaixando e personalizan-do. Em um Corsa, decidiu mexer na motorização, colocando turbo – o que acabou resultando em oito quebras de motor.

Hoje, Juliano é proprietário de um Focus Sedan 2006 que con-ta com central multimídia, sensor de estacionamento, câmera de ré, suspensão a ar, rodas aro 17 e um som avaliado em R$ 4.000. “Sem-pre queremos mais, sempre tem alguém com um som mais forte, e isso me faz querer potencializar o meu. Essa paixão que nos move é difícil de explicar. Customizo meu carro porque acho bonito, para me agradar. Quem não quer andar por aí com um carro bonito?”, justifica.

Apesar de já ter sido guincha-do uma vez e da contrariedade da mãe, Juliano diz que não vai parar. Participante assíduo de encontros, já esteve em Garibaldi, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Porto Ale-gre, Vale Real e Farroupilha. Ele alega que simplesmente não se vê andando em um carro original.

A lei que libera a modificação da suspensão em automóveis, sen-do ela fixa ou regulável, foi apro-vada em 26 de março deste ano pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). O Denatran estabeleceu uma altura mínima do carro em relação ao solo, de 10 centímetros. Ela é medida conside-rando a parte mais baixa do veícu-lo. Além disso, o conjunto de rodas e pneus não pode tocar em parte al-guma do veículo no momento em que o carro estiver baixo.

Assim como ocorre com qual-quer alteração feita no veículo, a mudança na suspensão deve ser informada ao órgão estadual (De-tran), que terá de autorizá-la. O automóvel precisa passar por uma

vistoria feita por uma empresa cre-denciada ao Detran, e a alteração ficará registrada no documento do veículo, no qual constará inclusive a altura em relação ao solo.

Segundo o capitão Luiz Fernan-do Becker, do 35º Batalhão de Po-lícia Militar de Farroupilha, qual-quer motorista que estiver dentro das leis não tem que se preocupar. “O condutor tem que estar ciente de que a Brigada Militar está fa-zendo o seu trabalho, vistoriando. Caso haja irregularidades, o auto-móvel ficará retido até que as pro-vidências sejam tomadas”, explica. Becker argumenta que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) deve ser cumprindo à risca e que qualquer automóvel que estiver fora dos pa-

drões pode gerar um risco tanto ao seu dono quanto aos outros moto-ristas.

Com relação ao som automo-tivo, o capitão informa que em Farroupilha existe um termo de ajustamento formalizado junto ao Ministério Público que especifica a ação da BM. “Normalmente, quan-do recebemos reclamações da co-munidade de perturbação do sos-sego, deslocamos uma guarnição até o local e, caso fique explícito que o som está acima de um volu-me tolerável, o condutor tem duas alternativas: retirar o equipamento, que será recolhido, ou optar pela retenção do automóvel. O mesmo se aplica às películas, que devem seguir o padrão do CTB.”

Segundo a Organização Mun-dial da Saúde (OMS), a depressão é considerada uma doença grave, que afeta no Brasil mais de 36 mi-lhões de pessoas, e em 2020 será uma doença tão comum como a dor nas costas. Esse distúrbio psi-cológico muitas vezes não é inter-pretado de modo correto, pois as pessoas não conseguem distinguir seus sintomas e acabam não pro-curando um médico especialista, muitas vezes por medo e até mes-mo por preconceito. É o caso da empregada doméstica Arlete de Brito, 54 anos. “Eu vivia dentro do meu quarto, não tinha ânimo para nada, apenas levantava da cama para cozinhar para o meu marido,

que trabalhava fora. Eu não gos-tava de receber visitas na minha casa, não dava importância para meu filho, já casado. Quando ele vinha em minha casa, não fazia nem questão de recebê-lo”, relata Arlete.

De modo geral, pode-se dizer que a depressão é a tristeza que não passa, o desânimo que não vai embora e a insônia que não desis-te. Esses são alguns dos principais sintomas da doença, que incluem também melancolia, distúrbios ali-mentares e pensamentos de morte. Todos esses sinais se apresentam nas pessoas de forma diferente, de-vido ao estado emocional caracte-rístico de cada um.

A dona de casa Maria (o nome é fictício, pois ela prefere não ser identificada), 33 anos, destaca que o período em que sofria com a depressão registrou os piores mo-mentos de sua vida, levando-a ao ponto de rejeitar a filha. “No últi-mo grau da depressão eu cheguei a odiar minha própria filha quan-do ela nasceu. Comecei a fazer o tratamento quando estava grávida de cinco meses, e muitas vezes eu dava socos em minha barriga. Meu marido trabalhava o dia todo fora, então eu ficava sozinha. Escutava pessoas me chamando, conversava com pessoas que eu imaginava que estavam ali comigo e também cho-rava muito. Graças a Deus, tive o

apoio do meu marido durante esse tempo em que sofri de depressão”, diz Maria.

Para a psiquiatra Luciane Su-sin de Oliveira, todos os sintomas das duas mulheres são de quem atingiu o último grau da doença. “Hoje as pessoas têm mais acesso às informações sobre a depressão e outros transtornos da mente que, em geral, temos dificuldade de identificar nos primeiros sinais ou sintomas. A depressão pode atingir qualquer faixa etária e principal-mente as mulheres, pois elas têm riscos duas vezes maiores do que os homens de desenvolver a doen-ça. Vale lembrar que o auxílio da família é muito importante para o

tratamento. O melhor a ser feito é participar junto ao paciente das consultas, e que não haja nenhum tipo de preconceito ou desprezo contra essas pessoas”, enfatiza Lu-ciane.

Segundo a psiquiatra, o trata-mento contra a depressão deve ser baseado em sessões com es-pecialistas e na recomendação de medicamentos de uso controlado. Alguns pacientes necessitam de tratamentos que podem levar anos, e outros, até mesmo a vida intei-ra, pois não se adaptam ao tipo de medicação receitada. Além disso, o diagnóstico e o tratamento da de-pressão exigem tempo, não ocor-rem de uma hora para outra.

Tuning ganha força em Farroupilha

Depressão exige atenção aos sintomas

Motorista deve observar as restrições da lei

Paixão por personalizar veículos, incluindo altos investimentos em equipamentos de som, vem crescendo nos últimos anos

O empresário Fabio Fiorese, 29 anos, comemora: “a demanda aumentou consideravelmente”

Doença, que atinge mais de 36 milhões de brasileiros, pode ter primeiros sinais mal-interpretados, dificultando o diagnósticoC

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FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014 GERAL10FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014

Cristiano Lemos

RELIGIÃO COMUNICAÇÃO

IMIGRAÇÃO

A Romaria a Nossa Senhora de Caravaggio, que em 2014 chegou à sua 135ª edição, reunindo um total estimado de 235 mil pessoas, sen-do 100 mil apenas nas pré-roma-rias, é muito mais do que uma das maiores festas religiosas do Rio Grande do Sul. Ela traz consigo pequenas histórias, testemunhos de fé que vêm sendo dados por seus peregrinos ao longo dos anos.

Cada romeiro leva em seus pas-sos pedidos, promessas e agradeci-mentos à santa. Desde os mais no-vos aos mais idosos, cada um tem a sua crença renovada ao longo dos 20 quilômetros que separam Caxias do Sul do santuário em Far-roupilha.

É o caso da empresária Giseli Vieira, 21 anos, que fez os últimos cinco quilômetros de pés descalços para pagar uma promessa feita em 2012. “Minha filha esteve à beira da morte por conta de um proble-ma de respiração. Pedi e rezei com muita fé para Nossa Senhora e ela ajudou minha pequena a se curar”, acredita. Giseli dizia não se impor-tar com os 10ºC e a garoa fina que caía no dia 26 de maio. “Pela Mãe de Caravaggio vale o esforço. Eu nem sentia o frio e a dor. A fé e a emoção que me trazem ao santuá-

rio passam por cima desse tipo de coisa”, relata a romeira, que no fim de sua caminhada encontrou o ma-rido e a filha aos prantos na frente da esplanada.

Para o casal Valdenor e Lidía Perini, a data é motivo para se sen-tir mais próximo de Deus. “Não venho agradecer nem pedir nada para a santa, venho para renovar meus votos de um mundo melhor

para meus filhos e para meus ne-tos”, diz o engenheiro químico de 56 anos. “Nós viemos para o san-tuário há 15 anos, sempre no dia em homenagem à santa. Não im-porta se tem sol, chuva, frio. O que

importa mesmo é estarmos aqui e sentirmos a paz que esse lugar transmite”, conta a dona de casa, completando, com bom humor: “Mas o friozinho de hoje está pe-dindo uma tacinha de vinho, que não faz mal para ninguém e tam-bém é uma forma de homenageá--la”.

Para o padre Gilnei Fronza, rei-tor do Santuário de Nossa Senho-ra de Caravaggio, a romaria não deve ser medida na quantidade de romeiros, e sim na aproximação dos devotos com a santa. “É um número expressivo, sim, mas para nós o importante mesmo é que os devotos e romeiros se sintam em casa, acolhidos pela Mãe, e voltem aos seus lares com o coração mais leve, mais alegre e cheio de espe-ranças de uma vida renovada.”

Ao todo, são 245 mil histórias, cada qual com suas peculiarida-des, que transformam o santuário durante a romaria. Seja para agra-decer uma graça alcançada, pedir que a santa interceda em sua vida ou apenas orar, todos têm algum motivo para ir até a igreja. Inclu-sive a pequena Gabriela Almeida, quatro anos, que tirou o bico para responder por que estava lá: “Vim rezar pelo papai e pela mamãe”.

As histórias de fé que conduzem a CaravaggioRomeiros explicam por que vão, todo ano, ao santuário de Farroupilha

Com bordões como “A Rita enlouqueceu”, loja de tecidos se diferencia para atrair clientes

Casal de Taiwan veio em busca de oportunidades e, desde 2011, serve culinária natural na cidade

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“O importante é que os devotos se sintam em casa, acolhidos pela Mãe, e voltem com o coração mais alegre”, diz o padre Gilnei

Giseli caminhou os cinco últimos quilômetros da romaria a pé para agradecer pela saúde da filha

Gregory Debaco

Fabian da Costa

Se você tem o hábito de escu-tar alguma das rádios noticiosas de Caxias do Sul, já deve ter ou-vido entre os programas frases como “A Rita ficou louca”, ou o slogan “É na Manenti, é na BR”. Veiculada desde 2008 em diver-sas rádios de Caxias e Farrou-pilha, a propaganda da Manenti Comercial Têxtil alia humor às ofertas. Localizada na BR- 116, próxima ao Hospital Geral, a empresa acabou ficando mais co-nhecida pelos caxienses por sua vinheta publicitária, acima de qualquer outro motivo. “Eu acho que a maioria das pessoas vem aqui por ter ouvido a propagan-da no rádio”, conta a vendedora Vanusa, 35 anos, que há 6 meses atua na loja. Quem deu início à história da empresa foi a matriar-ca da família Manenti, Hermínia Libera Marcarini Manenti. Co-meçou trabalhando como saco-leira na década de 1980, sempre em busca de tecidos mais bara-tos. Hermínia morreu em abril de 2014, deixando o legado nas mãos dos três filhos, Mauro, Bre-no e Rita Manenti, já que o mari-do e também proprietário da loja, Arquimedes Roberto Manenti, também havia falecido.

E foi da cabeça de um dos

filhos que veio a ideia da pu-blicidade simples e inovadora. Em meio a tantas propagandas produzidas por empresas espe-cializadas, o bordão foi criado por Mauro, 54 anos, a partir da ideia de “não levar a vida tão a sério”. “Acho que dá pra fazer negócios sem estar de mau hu-mor, dá sim para sair do sério e trabalhar”, argumenta. Sobre os produtos anunciados, Mauro ex-plica: “Tem muita coisa que sai bastante, então acaba indo para o anúncio de acordo com o que os clientes mais procuram. Eu mes-mo redijo e gravo os textos. Vou três vezes por semana na Rádio São Francisco para gravar. No resto, tudo é feito em casa.” Ou-tro fator que diferencia a propa-ganda é o tom dos textos criados por Mauro. “Noventa por cento das chamadas são escrachadas, onde entram as falas da Rita ter ficado louca e algumas outras.” A irmã, Rita, 50 anos, cuida da loja e acaba entrando nos bor-dões da empresa semanalmente. Rita confirma o sucesso da pro-paganda, principalmente quando há relação com ela e a “loucura”. “Acho que o resultado é bom, os clientes gostam muito. Eu não fa-ria diferente”, garante ela.

O Natureba Restaurante Ve-getariano Oriental, administrado pelo casal Lucia Tseng e Olívio Lin, abriu suas portas no dia 11 de novembro de 2011 em Ca-xias do Sul. Lucia conta que há 14 anos eles partiram de Taiwan rumo ao Brasil. Moraram por algum tempo em Foz do Iguaçu (PR) e seguiram até a cidade de Pará de Minas (MG). Ela lembra, entre risos, que por seis meses es-tudou Língua Portuguesa: “Meus colegas da tarde eram crianças da 4ª série, mas depois, com os estu-dos mais avançados, no turno da manhã, já eram do 2º grau”.

Olívio diz que a escolha por Caxias, onde residem desde 2006, foi indicação de amigos,

que deram ótimas referências da cidade, como grandes chances de trabalho e boas escolas para seus filhos. Antes, o casal trabalhava com produção e entrega de sushis para restaurantes, e daí surgiu a ideia de abrir o seu próprio local. Com a filosofia de não utilizar produtos de origem animal, o restaurante oferece variedade de legumes, hortaliças e frutas.

A proposta de oferecer comi-da saudável vem ao encontro da vontade de Lucia e Olívio de pro-pagar a consciência da sustenta-bilidade ecológica. Acreditam que conquistaram a apreciação dos clientes porque eles sentem os benefícios da ingestão de ali-mentos nutritivos e leves.

Propaganda com bom humor no rádio

Do Extremo Oriente para Caxias do Sul

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GERALFALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014 11

FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014 FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014

Faixa exibida nas manifestações pedia a redução da tarifa de ônibus em Caxias para R$ 2,50. A queixa sobre o transporte coletivo foi uma das pautas mais visíveis

Cristina Camassola

CIDADANIA

A passagem do aniversário de um ano das manifestações de ju-nho de 2013, que chegaram a ser chamadas de “Revolução dos Vin-te Centavos”, pede um balanço de opiniões e mudanças. Para com-preender o que foi considerado o “Despertar do Gigante”, o pesqui-sador de iniciação científica na área de Comunicação Ronaldo Bueno, a jornalista Noele Scur e um dos líderes dos protestos ocorridos em Caxias do Sul, David Neto, reme-moram os fatos e reelaboram seus pontos de vista sobre os protestos.

“As manifestações populares que presenciamos no ano passado, sobretudo após terem sacudido o Brasil no mês de junho, devem ser compreendidas como um fenôme-no social e político. Assim, deve-mos considerar, também, que elas são intrínsecas ao contexto históri-co no qual estão inseridas”, anali-sa, com um olhar mais teórico, o pesquisador Ronaldo Bueno.

A jornalista Noele Scur enfatiza que a cobertura dos protestos de junho foi a maior que ela já fez, no sentido de proporção do envol-vimento da comunidade por uma causa. Para ela, “ainda que os mo-tivos fossem vários, somente o fato de todo o Brasil estar envolvido

valia reflexões, como ainda vale”. Noele lembra que o fato de as rei-vindicações terem formado uma lista imensa e das mais variadas foi bastante criticado, bem como a fal-ta de lideranças. O episódio mais relevante dos atos, segundo ela, foi a noite de 21 de junho de 2013: “O número de participantes que foram até a Praça Dante Alighieri naquele dia pegou de surpresa não só os re-pórteres, mas os próprios ‘invento-res’ do evento no Facebook. Ver as ruas Pinheiro Machado e Sinimbu repletas da mesma esperança por uma sociedade melhor certamente emocionou.”

Um dos líderes das manifesta-ções na cidade, David Tonolli ex-pressa a importância do ocorrido: “Foi muito bom poder demonstrar nosso papel de cidadão nas ruas, não só apenas na hora do voto, mas também participando de forma di-reta, expondo nossas opiniões e nossas demandas.”

Durante a cobertura jornalística, Noele conta que era difícil utilizar crachás de identificação, já que os manifestantes também não que-riam a interpretação da mídia para os fatos. “Vimos, naquele dia, rei-vindicações de pautas nacionais na Câmara de Vereadores de Caxias

do Sul. Revoltas que diziam res-peito ao Congresso, esquecendo, e muito, dos problemas da própria cidade. Além disso, outros estilos de manifestantes se confundiram em meio aos ‘de bem’”, relata. Mas, na visão da jornalista, os pro-testos não foram em vão. Ela cita

decisões políticas que foram toma-das por consequência, durante e após os atos, como o congelamen-to do valor de tarifas do transporte público, também ocasionado pela aprovação do projeto que isenta Imposto Sobre Serviços de Qual-quer Natureza (ISSQN).

Para Tonolli, porém, a tarifa

de ônibus, que atualmente é de R$ 2,75 em Caxias, poderia ter baixado para R$ 2,50. “É um ab-surdo que nossa passagem, pela distância que se percorre, ser ape-nas cinco centavos mais barata que a de Porto Alegre”, compara. Ele questiona ainda a qualidade do serviço prestado pela empresa concessionária do transporte local: “Acredito que isso poderia ser vis-to e melhorado”. “Aqui em Caxias, infelizmente, apesar de batermos o recorde estadual de participantes nas manifestações, a maioria foi motivada pela onda, e não por lutar efetivamente. Cidades como Porto Alegre e São Paulo seguem na luta por transporte público de qualida-de e hospitais no chamado ‘Padrão FIFA’”, completa o manifestante.

Analisando o fato de as manifes-tações não terem sido dirigidas pe-las forças políticas já constituídas, o pesquisador Bueno entende que isso não diminui sua simbologia. “Toda ação é, antes de tudo, um ato político. Quando presenciamos as ruas tomadas por aquela multi-dão heterogênea, estivemos frente a uma sinalização de que o modelo econômico baseado na exploração do homem pelo homem, ou seja, o capitalismo, é insustentável em sua

práxis”, interpreta. Segundo ele, a falta de organização política defi-nida e de uma pauta específica foi justamente o diferencial. “O fato de os protestos terem sido tão plu-rais, heterogêneos e, podemos até arriscar a dizer, descentralizados, está relacionado com uma socie-dade caracteristicamente fragmen-tada. Esse contexto, que podemos chamar de pós-moderno, surge após a queda do Muro de Berlim e a dissolução da União Soviéti-ca. Com ele, vimos uma ruptura na bipolarização existente entre modelos ‘norteadores’. Além dis-so, com o avanço das ferramentas técnicas, um novo tipo de cidadão começou a ser configurado, um ci-dadão ‘perdido em uma aldeia glo-bal’ num cenário multifacetado, de complexidade”, aprofunda.

Um ano depois, o Brasil ainda convive com protestos, agora espe-cificamente contra a realização da Copa do Mundo no país. O ativista Tonolli opina: “O Brasil inteiro se mobilizou pela ideia do ‘Não vai ter Copa’. Mas isso era para se dis-cutir em 2007, quando soubemos que seríamos sede. Boa parte dos que hoje estão nas ruas reclamando sobre os gastos comemoraram esse anúncio”.

Protestos de junho motivam reflexõesUm ano depois, um manifestante, um pesquisador e uma jornalista que cobriu os atos avaliam seu significado e seu legado

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“Estivemos frente a uma sinalização de que o modelo econômico baseado na exploração do homem pelo homem é insustentável”,avalia pesquisador

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CULTURA12FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014

Henrique Kanitz

AUDIOVISUAL

Na noite de 1º de junho des-te ano, a Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, promo-via um debate com a historiadora e documentarista Iliriana Rodrigues e a atriz Ana Rodrigues, antecedi-do pelo filme Alabama Monroe. O filme, indicado ao Oscar de melhor longa estrangeiro, está anos-luz à frente dos produzidos aqui. E as duas gaúchas explicam o porquê.

Primeiro, pela falta de investi-mento. Apesar da equipe numero-sa, há pouca vontade de se investir no produto cinematográfico, muito por conta da falta de retorno finan-ceiro. Os cinemas nacionais cor-tam os filmes que não deram retor-no na primeira semana, e, se não o fazem, diminuem as exibições.

Iliriana lembra de uma pecu-liaridade exclusiva e positiva em Caxias: o Financiarte, fundo muni-cipal que contempla projetos cultu-rais da comunidade. Na visão dela, o apoio para os iniciantes é ótimo e necessário, porém, tanto Iliriana como Ana observam um vício na iniciativa: em vez de dar um pró-ximo passo, buscar outros espaços, os artistas se atrelam ao incentivo e acabam não levando adiante um projeto mais abrangente.

Outro grande problema citado pelas duas gaúchas que vivem do

meio é a própria cultura do Sul. Segundo elas, encontra-se aqui um povo fechado, fruto da formação histórica do Rio Grande do Sul. Esse é um dos principais motivos para o subsídio não ser maior. As artes, afirmam, seriam uma espécie de espelho da sociedade na qual vivemos. A falta delas, uma evi-dência do desinteresse ou até medo das mudanças de paradigmas. “O incentivo é menor que a deman-da”, explica Ana Rodrigues, que já trabalhou em três longas gaúchos. “Mesmo assim, tem muita gente boa no cenário cinematográfico gaúcho”, pontua a atriz. Ela cita exemplos, como o de Bruno Poli-doro, e frisa que as ideias para a constituição de um cinema gaúcho forte não faltam. O que falta é uma remuneração adequada para o tra-balho, que é mais visto como hob-bie do que como profissão.

Bruno Polidoro é professor de Realização Audiovisual da Unisi-nos, e percebe uma evolução sig-nificativa do cinema gaúcho des-de quando estudava, nos idos de 2003. De lá pra cá, além de dar au-las no curso que o formou, fundou uma produtora, a Besouro Filmes. Para ele, há espaço para a nova cena independente, cedido até por grandes mídias, como a RBS, ou o Festival de Cinema de Gramado.

Obviamente a falta de verba e de equipamentos não mata o cine-ma, apenas o dificulta. Enquanto não há subsídio para as filmagens, projetos novos surgem, como o fil-me de terror trash caxiense Ia di-zer que voltei, feito com R$ 200 e a colaboração dos participantes para que o filme saísse do papel.

Ana e Iliriana frisam que não há nenhum tipo de preconceito contra filmes do tipo Homem-Aranha ou qualquer outro título hollywoo-diano. “O que tem de haver é igualdade nos meios culturais”, diz Iriliana. Os cinemas tradicio-nais pouco se interessam por algo fora do padrão ditado pelo cinema norte-americano, o que deixa em grande desvantagem o que é pro-duzido pelos nossos artistas. “O ci-nema gaúcho fica restrito a lugares alternativos, como a sala Ulysses Geremia”, afirma, em tom de desa-pontamento, Ana.

A análise sobre a produção ci-nematográfica gaúcha termina, porém, com um otimista “Sim, há vida além da Globo”. Com os in-centivos certos, como os que acon-tecem no cinema pernambucano, o que é produzido no Sul do Brasil pode ganhar maiores projeções. Público, na opinião de Ana e Iliria-na, não falta. O que falta é apenas iniciativa, de ambos os lados.

Cinema vive o drama da falta de iniciativaAtriz e documentarista analisam, em Caxias, dificuldades da produção gaúcha

O DJ e baterista Caio, 22 anos, sempre teve o apoio dos pais

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Marilene Rodrigues dos Passos

ARTES CÊNICAS

Flores da Cunha nem sempre teve as portas abertas para as ar-tes cênicas, mas há dois anos um elenco de 10 atores vem buscando seu espaço na cidade. O Fulanos de Tal é um grupo independente, o único da cidade, que trabalha com o objetivo de levar a arte a todos os públicos. A ideia nasceu de um sonho comum entre algumas pes-soas que, entre um curso de teatro e outro, decidiram enfrentar as di-ficuldades e criaram o seu próprio grupo. Assim, no início de 2012, com a primeira versão da peça Todo mundo tem o chato que me-rece, o Fulanos de Tal entrava no cenário teatral de Flores da Cunha.

A montagem de estreia, que já teve sete versões diferentes, retrata

diversas situações do cotidiano em que os chatos se destacam. Outro grande sucesso do grupo foi a peça infantil A Jornada dos Sonhos.

“Para mim, teatro é uma forma de arte que nos ajuda a viver outras vidas, outras experiências. Em-prestamos nossos corpos e habili-dades para dar vida ao imaginário das pessoas. Um pequeno sorriso e um pequeno aplauso já bastam como retribuição de todo o esforço criado”, diz o autor e diretor das peças, Márcio de Oliveira.

Para Márcio, o trabalho é bem recebido pelo público, que aos poucos está criando o hábito de assistir ao teatro sem preconceitos. Mas esse reconhecimento tem um preço, pois ser um grupo indepen-

dente traz algumas dificuldades. “Infelizmente, não possuímos tan-tos espaços adaptados ao teatro em nossa região. São poucos os lugares e é difícil se apresentar em lugares grandes, por conta dos cus-tos. Algumas empresas da região não veem a arte como uma forma de investimento, e sim como gas-to.” Outro obstáculo é a divulga-ção junto ao público-alvo.

Futuramente, o grupo pretende ministrar aulas de teatro, para dar oportunidade a jovens e adultos de vivenciar essa arte. Atualmen-te, está trabalhando em uma nova peça, Isso é uma mentira!. A es-treia está prevista para 12 de julho, no Espaço Cultural São José, em Flores da Cunha.

Fulanos de Tal, que começou há dois anos, tem nova peça a partir de julho

Grupo busca abrir espaço para o teatro em Flores da Cunha

Gregory Debaco

PROFISSÃO

Quando se fala em arte, com seus múltiplos significados, ge-ralmente o sustento provido por ela é relegado ao último plano. Isso porque no senso comum de uma sociedade afundada em suas próprias rotinas econômi-cas e de trabalho crônico, arte não paga, tipo de pensamento que contribui para complicar a vida de quem quer se dedicar apenas à arte. Os Busetti, de Far-roupilha, contradizem a “regra”. Composta por um professor de violão, um DJ e uma artista plástica, a família vive, exclusi-vamente, de arte.

A inclinação da família teve sua semente plantada ainda nos anos 1950, pela mãe de Mari-nês Busetti, Dejanira, uma apai-xonada por escultura e exímia pianista. “A mãe sempre gostou muito de arte e música. Todos da minha família tiveram aulas de piano. Eu fui iniciada no instru-mento lá pelos oitos anos, mes-mo que eu nunca pensasse em ser música. Tocava por prazer, e isso acabava estimulando minha criatividade para o campo que eu realmente queria: desenhar”, revela a matriarca Marinês, 55 anos, especialista em xilogravu-ra que desde pequena adorava desenhar na escola e em casa. Quando Dejanira se aposentou, Marinês foi fazer seu primeiro curso de pintura em porcelana, escultura e desenho em Caxias do Sul. Depois, aos 17 anos, mudou-se para Novo Hambur-go, onde viria a cursar Educação Artística, área bem diferente de seu sonho na época: ser arquite-ta. “Foi muito engraçado, por-que eu fui morar com a minha irmã, que estudava Arquitetura,

curso que eu queria fazer! Mas, no final das contas, acabei me apaixonando pela arte e não teve o que me tirou de perto dela.”

Após concluir o curso, em 1985, Marinês retornou para sua cidade natal, onde lecionou desenho para crianças, mas foi forçada a procurar espaço na vizinha Caxias devido à falta de campo para a arte em Far-roupilha naquela época. Não foi suficiente, e então ela tinha de ir também a Porto Alegre. Nesse vaivém, Marinês fundou o Transforma Centro de Ar-tes, um espaço para a produção cultural em Farroupilha, onde eram desenvolvidas atividades nos campos das artes plásticas, literatura, escultura e música. E foi justamente aí que Marinês conheceu o professor de violão Luiz Ortiz, porto-alegrense, hoje com 52 anos, violonista de uma banda existente na época, To-caia. “A música para mim é reli-gião, sustento, interesse. Música para mim é vida”, exalta Ortiz. Os dois se casaram em 1988, e um ano depois tiveram Caio. “A gente sempre o influenciou des-de cedo, com cantigas tocadas no violão ainda quando ele era um bebê”, conta a mãe.

“Acho muito bom não ter que ‘trampar’ numa firma ou escritó-rio. Posso ganhar minha grana e pagar minhas contas com o que ganho dando aulas de bateria e tocando em festas de música eletrônica”, diz Caio, 22 anos, baterista e DJ que hoje mora no Rio de Janeiro. “Fico muito gra-to por meus pais sempre terem me apoiado a fazer o que eu gos-to, neste campo maluco e incerto que é a arte.”

Entre pintura, artesanato e música, os Busetti tiram o seu sustento e ensinam o que sabem

Família transforma arte em meio de vida

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CULTURAFALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014 13

FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014

“Moda não está na moda. A arte está na moda.” Foi com essa de-claração que Oskar Metsavaht, es-tilista da grife Osklen, iniciou seu desfile da coleção verão 2015 em março deste ano, inspirada no Ins-tituto Inhotim, em Minas Gerais. A moda incorpora a arte desde os vestidos Mondrian de Yves Saint Laurent na década de 1960 à nova coleção de Christian Loubotin ins-pirada em Van Gogh e Monet. Per-formances em desfiles, instalações, videoartes e mesmo estampas e te-cidos desenhados com inspiração em movimentos artísticos – de an-tigos, como a arte bizantina, a mais recentes, como a pop art – tomam as passarelas há décadas.

Doutora em Artes Visuais e professora de História da Arte, Silvana Boone, apesar de traba-lhar diretamente com arte, também

volta sua atenção para a moda. “A moda hoje se relaciona com tudo o que a sociedade faz, produz ou se interessa, e a arte faz parte des-se contexto cultural”, afirma. Para Silvana, em muitos momentos do século XX a moda trouxe inspira-ção da arte. “Com as vanguardas artísticas, a Europa tornou-se um grande celeiro criativo. Cor e for-ma ganham destaque na moda por conta de algumas referências da arte.” Apesar do entrelaçamento, Silvana defende a individualidade de cada conceito. “Moda é moda, arte é arte. A arte é uma manifes-tação criativa do ser humano que desencadeia uma série de outros processos. O conceito de moda está associado ao design, no que diz respeito a forma e função, e a arte não tem função.”

Para a estilista caxiense Ga-

briela Basso, a influência que a arte exerce na moda é inevitável. “O criador de moda está em uma constante busca por cultura e no-vas referências que enriqueçam seu trabalho e, sendo a arte, em to-das as suas formas, a mais refinada expressão de uma cultura, é natu-ral que seja uma fonte de inspira-ção para outras áreas da criação”, explica. Gabriela, até agora, não inspirou nenhuma coleção exclu-sivamente em arte. “Normalmente, as minhas coleções têm influências tão variadas – especialmente músi-ca e livros – que são uma espécie de colagem. Entretanto, já tive pa-leta de cores de coleções inspira-das em pinturas. Para a estamparia da próxima coleção, a inspiração foram fotos de botânica antiga.”

O estudante de Artes Visuais Ja-cks Selistre entende que a relação

entre moda e arte é muito estreita. “Desde os editoriais de moda, que são muito ousados e conceituais, às coleções que se baseiam em mo-vimentos artísticos como o barro-co ou o gótico, como a da Dolce & Gabbana. Ou os desfiles performá-ticos de Alexander McQueen, irre-verentes e poéticos, como a vez em que as modelos desfilavam usando uma máscara de tecido cheia de borboletas vivas, ou aquela em que todos os vestidos eram brancos e jatos de tinta os pintavam, à ma-neira action painting, do expres-sionista abstrato Jackson Pollock”, exemplifica. Ao comprar, Jacks busca diversos estilos, preferen-cialmente em tons neutros. Ele também se interessa por coleções inspiradas na arte, mas ressalta a dificuldade em achar esse tipo de peça em Caxias do Sul.

Miriam Wartha

MÚSICA

A música eletrônica, que teve grande crescimento no país e na região, hoje é um mercado cada vez mais procurado, o que gera concorrência de DJs e boates. O DJ Mauricio Maioli, de apenas 17 anos, explica que atualmente o gênero é dividido entre o mainstre-am, que é a música pop tocada em rádio, e o underground, que é sua origem e inclui subgêneros como house, deep house e tech house. “O pop traz as pessoas que não conhecem música eletrônica para esse mundo. Conforme vão conhe-cendo, chegam no underground e começam a ouvir um som com mais musicalidade. As pessoas es-tão vendo a música eletrônica me-lhor, sem tanta associação a drogas e sim como um ritmo que tem tanta qualidade como outros gêneros”, avalia Maioli.

A união do mainstream com o underground consegue abranger o gosto musical e atrair um maior número de ouvintes e, também, de residentes (os DJs fixos da casa) às boates da região e a eventos que acontecem durante todo o ano. O DJ Cris D., residente do Muinho, em Farroupilha, comenta: “Vejo todos os núcleos se juntando para fortalecer ainda mais. Se fosse de-finir a música eletrônica em uma palavra, seria união”.

Maioli começou em 2011, quando tocava para uma média de 25 pessoas. Hoje, esse número

cresceu para 500. Cris iniciou em 2009, com um público de 16 pes-soas, em pequenos locais como o Elvis Café, em Farroupilha. No decorrer da carreira, o público e o número de festas cresceram signi-ficativamente. O DJ já participa de eventos com 3.000 pessoas.

A expansão da música eletrôni-ca está ligada à realização de mais festas e grandes festivais pela re-gião. De acordo a revista House Mag, o público da música eletrô-nica cresceu em torno de 57% em 2011, chegando a quase 20 milhões de pessoas. Isso gerou um valor es-timado de R$ 879 milhões. Os gas-tos desses fãs, que incluem bebida e hospedagem, geraram mais de R$ 1 bilhão de faturamento.

A música eletrônica, no entan-to, vem passando por transforma-ções. Além de entretenimento, é um novo mercado de trabalho. O DJ Fernando Oliveira afirma: “o boom da música eletrônica no Bra-sil se deu nos últimos anos. Hoje, ela é enxergada como um negócio de sucesso, por isso muitos empre-sários têm feito grandes investi-mentos nessa área”.

Essa explosão da música ele-trônica no Brasil se deve também às influências trazidas de outros países. A internet é uma das ferra-mentas utilizadas para essa globa-lização do mundo musical. “Hoje, a informação e o conteúdo são bem mais fáceis de adquirir. Você

consegue trazer tendências da cena eletrônica da Europa para cá ape-nas pesquisando na internet. Cada DJ tem seu diferencial, trazendo vários estilos e sempre mostrando ao público novidades”, observa Maioli.

A promoter Daiane Calabria, há quatro anos no ramo, diz que a diversidade também é maior. “Sete anos atrás, era complicado lidar com esse mercado, não tínhamos muitas opções. Hoje, podemos tra-balhar com uma determinada linha da música eletrônica. É notável o crescimento de público, devido ao trabalho que vem sendo feito em cima de cada festa ou projeto.”

A grande procura pela música eletrônica e pelas casas noturnas pode ser explicada pela batida do gênero e pelo sentimento que os jovens nutrem por essa cultura. “Música eletrônica é um estilo de vida e faz parte do meu cotidia-no”, diz o estudante Luan Reus, 21 anos. “Dá uma sensação de leveza, uma energia boa, uma vontade de pular e dançar até quebrar tudo.”

Para o DJ Fernando, a música eletrônica é “um momento de li-bertação, onde as pessoas se reú-nem apenas com o pensamento de dançar. Alguns costumam achar que é apenas barulho, mas a músi-ca eletrônica está muito acima dis-so. Temos músicas cada vez mais elaboradas, com melodias e ritmos que mexem com a pessoa”.

Cena eletrônica se expande na regiãoCom facilidade para buscar novas influências e atrair investimentos, o gênero ganha cada vez mais fãs, DJs e eventos

Mauricio Maioli (D), 17 anos, integra a nova geração de DJs

Selistre confirma influências

Manoela Prusch

MODA

A arte invade as passarelas da alta-costuraEstilistas buscam inspiração em movimentos artísticos de diversos momentos da História para montar suas coleções de roupas

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FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014 ESPORTE14FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014

Rafael Tomé

Rafael Tomé

PERFIL FUTEBOL

Em 1975, a parceria que re-sultara na Associação Caxias foi desfeita. O Juventude voltou para o Alfredo Jaconi, e o depar-tamento de futebol do Grêmio Esportivo Flamengo foi reati-vado, sob a denominação Socie-dade Esportiva e Recreativa Ca-xias do Sul. É nesse cenário que surgiu um dos principais perso-nagens da história do clube gre-ná, o médico Aloir de Oliveira.

Por ironia, a trajetória de Aloir no futebol quase iniciou justamente no Juventude. No início da década de 1970, o en-tão aspirante a jogador sofreu uma grave lesão no joelho, que o obrigou a ser paciente de uma cirurgia delicada. A retirada do menisco afastou Aloir por seis meses do gramado. Como a re-cuperação era lenta, Aloir optou por seguir estudando Medicina, e futebol passou a ser um lazer.

O então universitário foi le-vado ao novo Estádio Centená-rio pelo médico Paulo Pompeu, para estagiar no clube. Em 1978, passou a ser o médico principal do Caxias, na melhor campanha do time na Série A do Campe-onato Brasileiro “Viajamos para enfrentar o São Paulo, o Flamengo. Jogamos diante dos grandes times do Brasil e fize-mos um campeonato que entrou para a história do clube”, relem-bra Aloir.

A lesão, que interrompera a duvidosa carreira de jogador, abriu espaço para o brilhante médico, que se tornou referên-cia em ortopedia esportiva. “No final dos anos 70, apenas um médico em Porto Alegre realiza-va cirurgia de joelho. Fiz a re-sidência fora do Brasil e acabei me especializando nisso.”

Atual jogador do Caxias, o atacante Lucas Dantas sofreu

uma fratura na tíbia da perna direita em janeiro, na abertura do Gauchão. Aloir comandou a cirurgia no dia seguinte. Para o jogador, ter sido operado por um especialista é um fator a mais para acreditar na recuperação. “Ele é referência no esporte e em cirurgias. É bom poder con-tar com ele aqui no Caxias. Vem me dando bastante apoio”, afir-ma Dantas, que deveria retornar à prática do futebol dentro de quatro meses.

Aloir se tornou, também, um torcedor do Caxias. E em um local privilegiado. No banco de reservas, ao lado do treinador. Tanto que é grande amigo de técnicos que hoje são de ponta. Sempre que vêm a Caxias, Feli-pão, Mano Menezes, Celso Roth e Tite procuram Aloir. “É o meu maior legado dentro do futebol. A amizade é muito grande com eles e com outros profissionais que passaram por aqui. Na opor-tunidade em que recebi o título de Cidadão Caxiense, o Felipão veio de São Paulo para me dar um abraço. E pagou a passa-gem!”, diverte-se o médico.

Em 2007, Aloir deixou o Caxias, por opção da diretoria. “Pensei que não voltaria mais para o futebol.” Mas o destino e a competência trouxeram Aloir de volta ao clube. Desde que a nova direção, comandada por Nelson Rech Filho, assumiu, o médico voltou ao convívio do Centenário. “Ajudo o clube de todas as formas. Montei o de-partamento médico nos anos 80. Estou de volta agora. Sempre coloquei dinheiro lá no Caxias e nunca cobrei um pila de volta.”

Para o bem do futebol gaúcho e das anedotas do Gauchão, dr. Aloir de Oliveira não foi esque-cido.

Falar em futsal no Brasil é logo se lembrar da Enxuta. Até mes-mo Falcão, para muitos o maior jogador de todos os tempos, cita o antigo clube como a referência do esporte. A equipe de Caxias do Sul marcou as décadas de 1980 e 1990. Mas acabou. A falência do time, que encerrou as atividades em 1996, deixou a cidade órfã de uma equipe forte.

E é com a esperança de revi-ver grandes feitos que o futsal do Juventude surge em 2014. No co-mando está Bella, ex-jogador da Enxuta, que viveu as grandes con-quistas e chegou à Seleção Brasi-leira. É com esse espírito que ele encara o desafio de treinar o Juven-tude. “Eu sempre fui uma das pes-soas que tentaram resgatar o futsal de Caxias do Sul. Vejo que temos um celeiro de atletas de muita qua-lidade aqui e que precisamos reco-meçar o futsal da cidade. Eu, que iniciei aqui, e por ser caxiense, fico feliz e grato pela oportunidade que o Juventude me proporcionou”, afirma.

O time que revolucionou o fut-sal no Brasil surgiu com objetivos bem mais modestos. Num primeiro momento, era apenas uma ativida-de de recreação para os funcio-nários da Triches, que disputava campeonatos amadores. Em 1985, passou a disputar competições pro-fissionais, mesclando jogadores de maior experiência com emprega-dos. E logo nos dois anos seguintes

conquistou o bicampeonato gaú-cho.

A partir daí, a Enxuta buscou voos maiores. A primeira conquis-ta nacional foi em 1989, a Taça Brasil, vencida no Rio de Janeiro. No retorno para casa, recepção com festa digna de Caxias ou Ju-ventude, com desfile em carro de bombeiros.

Para Bella, é impossível falar do clube sem se emocionar. Re-lembrar os anos dourados das qua-dras serve de exemplo para esse novo momento na carreira, agora no banco de reservas, como trei-nador. “A Enxuta foi um ícone que sempre está sendo lembrado pelos títulos e vitórias. Era uma estrutura muito grande e com material hu-mano de primeira qualidade. Ela

me marcou pelo companheirismo e aplicação de todos em busca de objetivos e pela estrutura de base.”

É bem verdade que outros times chegaram a representar a cidade e obtiveram destaque, em compe-tições estaduais e nacionais. Os dois principais foram o Vasco da Gama e a UCS. As duas equipes não chegaram a conquistar título. No máximo, decidiram campeona-tos estaduais, mas sem ficar com a taça. Na Liga Nacional, fizeram boas campanhas, mas igualmente sem nenhuma conquista.

O Vasco da Gama rivalizou com a Enxuta em alguns momentos, mas sucumbiu, no futsal de alto nível, no final da década de 1990, pela falta de investimento. Hoje, disputa competições apenas das categorias de base. A Universidade de Caxias do Sul, em parceria com a empresa Cortiana, conquistou o vice-campeonato gaúcho de 2007. Mas a saída da patrocinadora deu fim à iniciativa.

Projetos ficaram pelo caminho. Times tentaram dar sequência à trajetória vitoriosa da Enxuta e fracassaram. Mas Bella entende que no Juventude a história pode ser outra. Ele destaca que o plane-jamento é a longo prazo. “A cida-de não pode ficar fora do cenário nacional, uma vez que conquistou um nome forte no Brasil. Espera-mos que tudo que estamos fazendo possa ajudar no futuro, e que o fut-sal aqui seja longo e permanente.”

O colecionador de amigos do Centenário

Futsal sonha em voltar a ser grande

Médico Aloir de Oliveira surgiu na história grená junto com a própria SER Caxias

Com novo comando, Juventude tenta refazer trajetória de sucesso da Enxuta

Aloir (D) mantém laços com grandes técnicos, como Tite (E)

Bella, ex-Enxuta, treina o Ju

Sheila De Bastiani

COPA DO MUNDO

A Copa do Mundo no Brasil evoca histórias de Mundiais pas-sados e opiniões sobre a realiza-ção do evento no país. O radialista Jorge Estrada, da Rádio Caxias, cobriu duas Copas: em 1978, na Argentina, e 1986, no México, am-bas vencidas pela Argentina. “A melhor que eu fiz foi a de 1978, eu fui por conta própria. Passei por muitas dificuldades, dormi em pensões, com pouco dinheiro e di-fícil locomoção.”

O radialista diz que, desde o início, era contra o evento no Bra-sil. “Falava que iríamos ficar com

uma conta enorme para pagar, su-perfaturamento de construção de estádios, por exemplo. O Mané Garrincha custou R$ 750 milhões. Também fui contra construir es-tádios em Brasília, Cuiabá e Ma-naus, que nem têm times de fute-bol na Série A.”

O narrador Mário Lima fez ape-nas uma Copa, a de 1982, quando a Itália saiu campeã. “Os atrasos na comunicação eram comuns. Até hoje, quando se realiza transmis-sões pela internet, acontecem às vezes, isso quando não são usadas linhas telefônicas”, compara.

Para o narrador, o Brasil teria todas as condições de sediar uma Copa do Mundo, desde que tivesse escolhido as sedes dos jogos cor-retamente, de uma maneira bem planejada. “O governo federal quis dar uma demonstração de força e usa a Copa como uma mídia polí-tica. Com todo o respeito ao Nor-deste e ao Centro-Oeste do país, mas a Copa deveria ser realizada em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Não sei se a organização da competição vai ser um ponto positivo para o país”, avalia Mário.

Jorge Estrada e Mário Lima, que cobriram Copas, apontam falhas no Brasil

Radialistas lembram de Mundiais passados e criticam o atual

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Page 15: Jornal Falatório #1

FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014 FALATÓRIO JORNAL EXPERIMENTAL DA FACULDADE AMÉRICA LATINA | JUNHO.2014

Informativo de RP da FAL - Junho.2014

Diferenças entre RP e Marketing Congresso internacional de RP

será em outubro no Brasil

Curso de RP atualiza currículo

Profissão comemora 100 anos no país

Como fazer o registro profissional de RP

As Relações Públicas e o Marketing se unem para desenvolver algumas ativida-des, mas cada profissão tem a sua fun-ção. As Relações Públicas se preocupam com a empresa e a sua reputação diante dos seus diferentes públicos, criam es-tratégias de relacionamento, coordenam programas de comunicação e gerenciam conflitos e crises nas organizações. O profissional de Marketing define os obje-tivos e as estratégias para alcançar o mer-cado de trabalho preocupando-se com o produto da empresa. Seu objetivo é satis-fazer seus consumidores, identificando e criando mercado para seus produtos. As duas carreiras têm áreas importantes dentro das organizações. Segundo Rodri-go Gueiral Figueiredo, graduado em RP e em Gestão Empresarial, “o profissio-nal de Marketing, assim como toda peça de um setor de comunicação, torna-se fundamental para acréscimo de funções como visão estratégica, planejamento, execução e pensamento criativo. Em rea-lidade, um departamento de RP não atua isolado e necessita de uma equipe multi-disciplinar para obter o êxito almejado”.

(Liika Lima)

Desde 1967, vigora a Lei 5.377, que regulamenta o profissional de Relações Públicas para que possa exer-cer suas funções de acordo com as normas do Con-selho Regional das Relações Públicas (Conrerp). A legislação permite que os RPs atuem com mais credi-bilidade no mercado, protegendo a sociedade de práti-cas sem qualificação. Para que isso não aconteça, exis-te um registro que deve ser realizado imediatamente após a formação acadêmica. Caso ele não se registre

junto ao Conselho, estará passível de receber multas ou até mesmo ser suspenso de suas atividades. O re-gistro definitivo tem o valor anual de R$ 350, podendo ser parcelado em até cinco vezes. Se o pagamento for à vista, em janeiro, há 10% de desconto, ficando em R$ 315. Se for quitado integralmente em fevereiro, o cus-to é de R$ 332. Quem não estiver exercendo a função pode solicitar a baixa temporária ao Conrerp.

(Bruna Benito)

A Associação Latino-americana de Relações Públicas (Alarp), em parceria com o Portal RP-Bahia e a VNI Comunicação Estratégica e Digital, promove o XIV Congresso Internacional de Relações Públicas e Comunicação, este ano, no Brasil. O congresso ocorre nos dias 22, 23 e 24 de outubro, em Salvador, em comemoração ao centenário da pro-fissão no país.

O evento pretende reunir cerca de 800 estudantes, profissionais e pesquisa-dores das áreas de Jorna-lismo, Relações Públicas, Publicidade e Propaganda e demais áreas com in-teresse em Comunicação Organizacional e Relações Públicas na América La-tina. Já são 30 conferen-cistas confirmados, sendo 15 brasileiros, incluindo Margarida Kunsch, e 15 la-tino-americanos, de Chile, Uruguai, Paraguai, Colômbia, Argentina e México.

Em 2013 o congresso foi realiza-do em Viña del Mar, no Chile. Para Marcello Chamusca, presidente da Alarp no Brasil, que mora em Salva-dor, as expectativas são as melhores possíveis. “Somos o maior país da América Latina e o país que possui mais cursos de Relações Públicas na região. Estamos num nível bas-tante avançado do ponto de vista da pesquisa e ensino. Temos 100 anos de experiência, e isso vai significar algo.”

A coordenadora do curso de Rela-ções Públicas da Faculdade Améri-ca Latina, Adriana Regina Miorelli Carniel, já confirmou a sua presen-

ça, assim como a professora Bruna Teixeira Silveira. Para Adriana, há muita expectativa dos alunos quan-to à ida ao congresso. “O interesse por participar de eventos como esse é muito importante para o estudan-te. A troca de experiências, o conhe-cimento e a vivência fora da sala de aula promovem um crescimento muito grande intelectualmente e como indivíduo”, afirma.

Bruna destaca a interação propor-cionada por esse tipo de evento com profissionais que trazem experiên-cias em fazer Re-lações Públicas em diferentes cultu-ras. Outro aspec-to ressaltado pela professora é a pos-sibilidade de tratar a comunicação de forma integrada,

já que o evento conta também com narrativas do Jornalis-mo e da Publicidade e Propaganda e traz profissionais e teóricos de Ad-ministração e do Marketing, opor-tunizando a união do conhecimento.

Por último, uma questão impor-tante levantada por Bruna é o estí-mulo dado pela Alarp ao desenvol-vimento de pesquisa científica, já que abre espaço para os acadêmicos inscreverem seus artigos. “Vemos nesse formato um equilíbrio, que mostra as várias frentes de atuação de um profissional, quer seja no mercado, em desenvolvimento de pesquisa científica ou na docência”, completa.

(Vanessa Sousa)

Publicadas em outubro de 2013 no Diário Oficial da União, as no-vas Diretrizes Curriculares Nacio-nais do curso de Relações Públicas visam à formação de um profissio-nal com uma maior amplitude de mercado. O curso, que até então era uma possível habilitação do bacharel em Comunicação Social, passa a formar bacharéis em Re-lações Públicas. As principais mu-danças aplicadas pelo Ministério da Educação (MEC) se aplicam a carga horária, inclusão de discipli-nas e reformulação dos eixos te-máticos que norteiam o curso.

A alteração ocorreu a partir de um longo estudo realizado pelo MEC junto a diversas universi-dades do país, com o auxílio da pesquisadora Margarida Kunsch, referência na área. O principal objetivo da mudança é o estreita-mento da relação entre a teoria e a prática dentro do ambiente acadê-mico. Essa aproximação de ideias ocorre através da troca de discipli-nas genéricas por mais específicas.

A coordenadora do curso de Relações Públicas da Faculdade América Latina (FAL), Adriana Regina Miorelli Carniel, destaca que as mudanças proporcionadas pela alteração da grade curricular são essenciais para possibilitar ao egresso uma formação mais ade-quada, além de definir Relações Públicas como ciência.

O MEC obriga todas as facul-dades e universidades do Brasil a adequarem seus Projetos Pedagó-gicos do Curso de Relações Públi-cas até dois anos após a publicação no Diário Oficial da União. Tendo isso em vista, a FAL pretende im-plementar a nova grade já no pri-meiro semestre de 2015.

Quando finalizada essa adequa-ção curricular, os discentes que já estão com o curso em andamento não serão prejudicados. “Os alu-nos veteranos da FAL não sairão perdendo. As disciplinas que serão retiradas não afetarão a formação final do acadêmico, pois serão fei-tas substituições de equivalência”, conclui Adriana.

(Marcelo De Gregori)

Neste ano, a profissão de Relações Públicas completa 100 anos no Brasil. O crescimento da carreira acompa-nhou, e ainda acompanha, a moderni-zação das empresas, segundo a coor-denadora do curso de RP da Faculdade América Latina, Adriana Miorelli Car-niel. “O centenário da profissão no país é um marco. Durante todo esse tempo o profissional conseguiu se manter no mercado, talvez não da forma que gostaria, mas sempre em ascendência no quesito de reconhecimento. Atual-mente, somos muito mais valorizados e necessários do que antigamente”, analisa. A profissão cresce e se destaca no mercado de trabalho, que é amplo, pois o RP pode exercer atividades em diversas áreas da comunicação.

O Conselho Regional dos Profissio-nais de Relações Públicas (Conrerp) da 4ª Região (RS e SC) promoverá, no dia 28 de novembro, um jantar co-memorativo aos 100 anos, celebrando também o Dia Nacional dos RPs com a entrega do Prêmio Destaque Roberto Simões de Relações Públicas.

(Tharissa Lorenzoni)

PERFIL

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Evento deve reunir cerca de 800 estudantes, profissionais e pesquisadores da área da Comunicação

Page 16: Jornal Falatório #1

Crescimento do gênero nos últimos anos estimula a formação de um mercado disputado, com novos eventos e espaço garantido nas casas noturnas

Uma lesão tirou Aloir de Oliveira dos gramados, mas lhe reservou um lugar especial no Centenário

Ativistas que enfrentaram o golpe militar de 1964 em Caxias do Sul relatam histórias de cassação, prisão, tortura e, também, solidariedade

Formada por um violonista, uma artista plástica e um DJ, a família Busetti, de Farroupilha, comprova que o talento pode render os frutos necessários ao sustento

Música eletrônica ganha mais pistas, DJs e fãs na região

A ditadura relembrada

Arte que paga as contas da família

POLÍTICA

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Brasil é o quarto maior mercado de jogos digitais do mundo

GERAL

CULTURA

Apaixonados por carros, jovens levam personalidade às ruas

O doutor grenáe sua legião de amigos

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Luiz Pizzetti, 90 anos, teve o mandato de suplente de vereador cassado e ficou 36 dias na cadeia

O casal Marinês e Luiz passou a vocação ao filho, CaioIndústria deu salto a partir de 2011, com o início da prensagem e produção de games no país

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Depois de faturar mais de R$ 1 bilhão no ano passado, o comércio de games para consoles mostra fôlego para continuar crescendo, apesar de obstáculos como os altos impostos

ECONOMIA