jornal contramão - edição 13

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contr mão - CYBERBULLYING - POLÍTICOS E INTERNET -MERCADO SEM ANIMAIS -SEGUNDA SEM CARNE - BRECHÓS -DOUTORES DA ALEGRIA - ALFARRÁBIOS a nº13 Ano 3-2010 Distribuição Gratuita JORNAL LABORÁTORIO DO CURSO DE JORNALISMO MULTIMÍDIA - UNA

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Page 1: Jornal Contramão - edição 13

contr mão

- CYBERBULLYING - POLÍTICOS E INTERNET -MERCADO SEM ANIMAIS

-SEGUNDA SEM CARNE- BRECHÓS

-DOUTORES DA ALEGRIA- ALFARRÁBIOS

a nº13

Ano 3-2010 Distribuição Gratuita

JORNAL LABORÁTORIO DO CURSO DE JORNALISMO

MULTIMÍDIA - UNA

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OPINIÃO

EXPEDIENTE CONTRAMÃO

Jornal laboratório do curso de Jornalismo Multimídia doInstituto de Comunicação e Artes - Centro Universitário UNA Reitor: Prof. Pe. Geraldo Magela TeixeiraVice-reitor: Átila SimõesDiretor do ICA: Prof. Silvério Otávio Marinho Bacelar DiasCoordenadora do curso de Jornalismo Multimídia: Profª Piedra Magnani da CunhaContramão - Tel: (31) 3224-2950 - contramao.una.brCoordenação: Reinaldo Maximiano (MTb 06489), Tatiana Carv-alho e Cândida Lemos Diagramação: Ana Paula P. Sandim e João Marcelo Siqueira-Estagiários: Ana Paula P. Sandim, Danielle Pinheiro , Débora Gomes, Henrique Muzzi, Iara Fonseca, João Marcelo Siqueira, Matheus de Azevedo e Marcos RamosTiragem: 2.000 exemplaresImpressão: Sempre Editora

Foto da capa

EditorialEm 2010 testemunhamos o “redesenho” de O Estado de S.

Paulo, da Folha de S. Paulo e o fim do ciclo impresso do Jornal do Brasil (JB). Três fatos reveladores da crise que os jornais diários sofrem. O Estadão justifica as mudanças alegando que o jornal diário precisa ter diversidade. Já a Folha, sob o slogan “o jornal do futuro”, pretensiosamente (ree)dita o modelo de jornalismo informativo.

O JB é o único, nesse processo, que opta pela existência apenas virtual, encerrando a produção impressa. Em 2009, tes-temunhamos o fim da Gazeta Mercantil e, outros fins se aproxi-mam, pois, de acordo Philip Meyer, autor de Os jornais podem desaparecer? o que está em crise é o modelo tradicional de jornalismo.

Segundo Meyer, a crise exige dos gestores dos jornais rapi-dez na incorporação das tecnologias digitais e no investimento em novas propostas. Mas os gestores são lentos e outros estão endividados, prenúncio do fim, esse foi o caso do JB e da Ga-zeta.

O JB está envolvido na construção de uma nova proposta de jornalismo ou nos oferece o mesmo travestido de novo? Há, na reformulação gráfica e editorial, dos diários paulistas, um projeto que redefine o seu papel ou assistimos à reprise de A roupa nova do imperador?

Edição Anterior

Foto| Divulgação Exposição de Arte de Lucas Dupin14 de Setembro a 4 de OutubroBiblioteca Pública BH - MG

No dia 1º de agosto começou a pesquisa do censo 2010. Com a finalidade de subsidiar políticas públicas, tais como: a construção de escolas, hospitais, habitação, estradas, entre outras. O Censo Demográfico também vai mapear o território brasileiro, contar a população e mostrar em que condições a população vive.

O IBGE, órgão responsável pela pesquisa, tem a missão de “retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento da sua realidade e ao exercício da cidadania.” O primeiro censo realizado, no Brasil, data de 1872, quando o país ainda era uma monarquia.

A metodologia de pesquisa de cada censo realizado no país se aperfeiçoa e aprimora para fornecer à sociedade os dados mais precisos sobre a população. A novidade do Censo 2010 é o pro-cessamento dos dados por meio do computador de mão. Mas pesquisa de alcance nacional traz inúmeras dificuldades.

Como cidadão, sei da importância e da abrangência dessa pesquisa para se construir o futuro do país. Como estudante sei que tais informações direcionam as gestões governamentais e ajudam na representação da identidade do povo brasileiro. E, por fim, como recenseador, sei dos obstáculos para a realização desse censo.

Para trabalhar como recenseador passei por um concurso público, posteriormente, por um treinamento seguido de uma avaliação. Mas minhas dificuldades nada têm haver com isso. Trabalhar como recenseador na região da Savassi, em de Belo Horizonte, tem me revelado o quanto parte de seus moradores estão pouco atenciosos ao Censo e, principalmente, aos seus re-censeadores.

Muitos moradores se recusam a responder ao questionário. Outros são imprecisos nas informações repassadas. E outros são desrespeitosos com os recenseadores. A arrogância e prepotência desses últimos evidenciam o quanto eles estão alheios à cidada-nia e civilidade.

Não parece contraditório que uma região que concentra pessoas com alto índice de escolaridade, poder aquisitivo e com acesso a diferentes meios de comunicação não saberem da impor-tância da pesquisa?

O Censo 2010 foi, amplamente, divulgado pela mídia. Os percalços enfrentados pelos recenseadores nas zonas nobres das cidades brasileiras, como mostrado nos jornais, revelam questões referentes à perda da cordialidade e a segregação das classes so-ciais, no Brasil.

O momento político do Brasil exige de nós, brasileiros, senso e participação efetiva, pois os dados da pesquisa auxiliarão as políticas dos futuros governos nos próximos 10 anos.

O conteúdo deste artigo não expressa a opinião do Contramão

SENSO É PRECISO, SEJA PARA BRASILEIROS OU SAVASSIANOS

Por Felipe Bueno Torres

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CYBERBULLYING: A HUMILHAÇÃO VIRTUAL

Foto| Google im

agem

CONTRAMÃO – Quais ferramentas são ultilizadas na pratica do cyberbullying?

Ângela Almeida: Geral-mente são criados perfis em sites de relacionamento com o objetivo de humilhar ou ridi-cularizar uma pessoa com fo-tos montadas em Photoshop; publicações de fotos e vídeos particulares, cartas e outras situações pessoais visando à agressão.

CONTRAMÃO – Como essa prática vem sendo com-batida?

Ângela Almeida: Na re-alidade, poucas pessoas têm conhecimento desse assunto, pois só recentemente vem se divulgando este assunto. É importante que as pessoas se conscientizem que devem lu-tar pelos seus direitos. No caso do cyberbullying, a vítima pode salvar a página que cons-ta sua agressão e enviá-la para uma Delegacia Especializada em Crimes Cibernéticos (DER-CIFE). Cada Estado conta com uma delegacia desta natureza.

CONTRAMÃO – Quais os alvos preferenciais dos “va-lentões”?

Ângela Almeida: Geral-mente as vítimas são crianças e adolescentes, não há distinção de sexo ou classe social. Con-tudo, pessoas com perfil físico

Cyberbullying é uma derivação do bullying uma modalidade criminal praticada com o objetivo de humilhar e cons-tranger as pessoas. O termo bullying vem do inglês bully (“valentão”) e era uma ação restrita ao ambiente escolar de crianças e adolescentes. Hoje, com proliferação das redes sociais na internet, esse crime se projeta para o ambiente virtu-al ultrapassando as fronteiras de idade e das identidades uma vez que, na internet o anonimato encobre os seus autores.

A pedagoga e inspetora escolar Ângela Adriana de Almeida, acredita que a prática do bullying e do cyberbullying só diminuirá quando um processo de conscientização escolar e familiar for promovido pelos órgãos competentes. Mas há maneiras de se resguardar.

FIQUE ATENTO!

# Nas redes sociais, reduza as informações pessoais e deixo o álbum de fotos com acesso restrito.#Cadastre senhas menos óbvias para evitar invasões.# Conteúdos gravados e armazenados em celulares e pendrives, como vídeos e fotos, devem ser descarregados para que, em eventual perda ou roubo, não sejam divulgados de forma ilícita.# Esteja atento para o conteúdo que você posta na internet, pois opiniões ofensivas podemser usadas contra você em processo judicial.

e psicológico diferenciado das demais ou homossexuais são alvos fáceis para qualquer prá-tica do bullying.

CONTRAMÃO – Quais consequências dessa humilha-ção para as vítimas?

Ângela Almeida: Em um contexto geral as vítimas apre-sentam baixa auto-estima, qua-dros depressivos, insegurança, episódios de gagueira, descon-trole emocional, síndrome do pânico e podem também se tornar agressivas, como forma de liberar a contrariedade re-primida pelas agressões sofri-das.

CONTRAMÃO – O que leva uma pessoa a cometer crueldades e torturas física e psicologica contra outras pes-soas?

Ângela Almeida: Acre-dito que ninguém, em perfei-ta saúde física ou mental seja agressor por vontade própria. Vários fatores podem con-tribuir para que isso ocor-ra: desestruturação familiar, agressividade em casa, abuso sexual, insegurança, violência em família, carência afetiva, problemas de saúde física ou psicológica, baixa auto-estima, vingança, vícios, ausência de formação de limites, incapaci-dade de reconhecer seus pró-prios erros e necessidade de auto-afirmação.

Por Felipe Torres Bueno e Débora Gomes

“Os casos de bullying na internet não são freqüentes em nossa unidade, mas a delegacia tem a atribuição de apurar esse tipo de delito desde dezembro de 2009, com uma nova resolução da Polí-cia Civil que permite combater os crimes perpetrados por crianças e adolescentes. Antes esses casos eram apurados pela Divisão de Proteção e Orientação a Cri-anças e Adolescentes.”

# Nos EUA, o calouro da Universidade Rutgers, Tyler Clementi, 18 anos, pulou da ponte George Washington, em Nova York, depois da publicação, na internet, de um vídeo contendo imagens de um encontro íntimo entre ele e outro homem. O vídeo teria sido gravado e postado por dois colegas de quarto que podem ser condenados a 5 anos de prisão. (G1 – setembro de 2010)# Foi criada no Facebook uma página chamada In Honor of Tyler Clementi, em que quase 130 mil usuários “curtiram” a iniciativa de homenagear o estudante e protestar contra o cyberbullying. Um dos comentários é Live and let live! (“viva e deixe viver!”). # Em BH, o juiz da 27ª Vara Cível condenou um estudante da 7ª série a indenizar uma colega de classe em R$ 8 mil pela prática de bullying. De acordo com Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a defesa do estudante ainda pode recorrer. (Estado de Minas - maio de 2010) # Pesquisa realizada com 5.168 alunos de 5.ª a 8.ª séries de escolas públicas e particulares de todas as regiões do Brasil, mostrou que 21% dos casos ocorrem nas salas de aula, com a presença dos professores. (estadao.com- 15/abril/10)

INTERNET

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As estratégias para seduzirem os eleitores virtuais

Políticos e internet No youtube estão espa-

lhados vários vídeos do candi-dato, dentro deste mesmo con-texto, como o caso da mulher que está insegura para praticar a sua primeira relação sexual. No vídeo, um loiro de cabelo curto, liso e corpo atlético, na conversa com a mesma loira da outra cena “É sua primeira vez. Você esta pronta?”. Ela

olha para ele e diz: “Sim, estou. Porque eu confio no Je-ferson Camillo”.

A jornalista, consultora de mídias sociais e mestranda em Estudos de Linguagens do CEFET/MG, Raquel Camar-gos, 23, analisa o marketing do candidato: “Depende do critério que estamos conside-rando. A campanha ajudou a divulgar o nome dele, sem dú-

Confira outras estratégias usadas pelos candidatos para atrair os eleitores virtuais

1 – O candidato à deputado estadual, Lindolfo Pires, aposta na parodia do astro da música Pop MICHAEL JACKSON (THRILLER ). “Lindolfo Pires, Pires, eu voto em Lindolfo píeres”, diz a letra da música. O vídeo pode ser encontrado no youtube.

2 – O candidato à Deputado Estadual do Maranhão, Marco Aurélio do Teorema,publicou no Youtube, uma história em animação, contando a sua vida.O ponto alto do desenho, é quando os monstros chamados de Saúde ruim, desemprego, violência, entre outros, atacam o candidato.De repente, a população aparece e junto com Teorema e formam uma mão que consegue matar todos os seres do mau. Até o fechamento desta edição o vídeo continha 1002 exibições.

3 – Inconformado por não ter sido chamado para o debate da UOL/Folha, o candidato à presidência Plínio de Arruda resolveu inovar. Através da Twitcam, forma mais fácil de partilhar a sua webcam com os seus colegas, o paulista, respondeu as perguntas dos internautas, ao vivo, concorrendo com o debate dos presidenciáveis.

Gustavo Carneiro – Coordenador de WEB. “Odeio essa época de eleição. Já basta os abusos na rua, né? Na internet, pelo menos a gente pode bloquear ou ignorar.

Gisele Jota, 29.Jornalista. Desconhecimento das redes sociais, em especial do Twitter. Não é possível que não haja alguém para expli-car a um candidato que Twitter exige interação, conteúdo e frequên-cia. Tem também os spams.De onde tiraram que vou gostar de um candidato que contrata pessoas para me infernizarem em um espaço onde isso não combina?

Por Matheus de Azevedo

vida nenhuma. Talvez tenha o atrapalhado a conquistar um potencial de eleitores, que é mais conservador. Entretanto, talvez tenha alcançado um pú-blico diferente assim.”,conta.

A editora do blog “Pro-paganda Política na Internet”, Ana Amelia, 25, alerta os can-didatos que pretendem abrir uma conta nas redes sociais “O candidato deve privilegiar suas competências pessoais. Se tem pegada nas redes sociais, conseguirá interagir com elei-tor mais jovem e os conecta-dos.

Se possui o dom da pa-lavra, seu melhor canal será o vídeo. Apenas marcar uma presença online pode não sig-nificar e não render nada”, re-vela.

Eleitores virtuais, não estão satisfeitos com a propaganda política na WEB

Foto| João Marcelo Siqueira

POLÍTICA

Os candidatos às elei-ções 2010 aproveitam o perí-odo de propaganda eleitoral para atrair os eleitores virtuais com as mais diferentes estra-tégias, visando reconhecimen-to do público. O candidato a deputado Federal, Jeferson Camilo, resolveu usar este ar-tifício e apostou em vídeos eróticos para fazer sucesso na WEB.

Em uma de suas propa-gandas, uma loira, de cabelos longos e corpo atlético, toma banho em um motel, apenas de biquíni, quando de repente o telefone toca. A loira atende o aparelho e diz “Oi querido. Não, eu não estou sozinha...”. Com um olhar seguro para a câmera ela completa: “Estou com Jeferson Camillo”.

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Não é novidade que o universo do futebol, antes de tudo, é o motivo para fazer tre-mer as arquibancadas, pintar rostos, vibrar e despertar qual-quer outra forma de expressar emoções. Na verdade, a magia do futebol vai além das dispu-tas nos estádios. O esporte inti-tulado de paixão nacional é tão forte que contagia as ruas.

É fácil identificar dia de jogo. Em terra, os torcedores vestem camisas que estampam cores e brasões orgulhosa-mente. No ar, as bandeiras são hasteadas e penduradas nas janelas dos edifícios. Em locais onde há grande concentra-ção de prédios é possível ou-vir diálogos entre torcedores. Alguns comemoram e apro-veitam para provocar o ad-versário. Nesse trocadilho de palavras surgem gritos de um lado e xingos de outro. E, para completar, sempre aparece al-guém expressando irritação por terem lhe tirado o sossego.

O trânsito da capital, caó-tico como de costume, se torna mais barulhento. As buzinas dos veículos dominam os as-faltos. Alguns experimentam colocar os braços para fora dos automóveis acompanhados das bandeiras a caminho do Mineirão. No trabalho, os que não podem vestir as camisas, carregam-nas dentro de saco-las ou de mochilas para usar após o expediente.

No bar, em casa, no cam-po, na calçada. Sim, existem os que assistem aos jogos em pé nas calçadas. Tudo porque os bares ficam lotados. Não raro,

os porteiros de alguns condo-mínios fazem parte do públi-co que acompanha o rolar de bolas no passeio. Para eles a adrenalina vai a mil quando sai o gol ou quando o síndico aparece repentinamente pe-gando em flagra. No azar de trabalhar em um local onde não há bares por perto, o jeito é se arranjar com um radinho de pilhas.

Pelo futebol as pessoas se socializam. Para fazer parte de uma torcida basta ter simpatia pelo time. O futebol cria esse laço, une as pessoas em um mesmo local para ver o jogo ou para discutir a respeito. No trabalho, ele garante a fes-ta independente de vitória ou fracasso. No estádio, as pesso-as se abraçam pulam e gritam juntas para motivar os jogado-res.

Vale xingar a mãe do juiz e tantos outros motivos que impedem que o time jogue com toda a categoria que ele está acostumado. A etiqueta do futebol permite expressões mais indelicadas. De acordo com o jornalista e escritor Xico Sá o palavrão em alguns ca-sos como futebol é bem vindo. “Ele [o palavrão] é uma benção no futebol, na literatura, na to-pada, no desafogo, no pânico, no trânsito de SP. E na cama...”

O esporte não escapou e se tornou produto do comércio. O uso dos símbolos e das cores dos times não se limita apenas as lojas especializadas, onde são vendidos camisas, bandei-ras, calçados e outros objetos relacionados ao esporte. As

massas de tomates foram pio-neiras em ilustrar com os escu-dos dos times seus copos. Idéia que a indústria leiteira copiou e logo vestiu as caixinhas de leite com uniforme para agra-dar os mais fanáticos.

Nem a nossa linguagem fica de fora. A comunicação também foi influenciada pelas expressões que não constam no dicionário que, de pouco a pouco, cairam na boca do povo. De acordo com Ermínio Rodrigues, do Departamento de Teoria Lingüística e Lite-ratura do Instituto de Biociên-cias, Letras e Ciências Exatas da UNESP (Universidade Es-tadual de São Paulo), nenhum outro grupo de linguagem conseguiu influenciar tanto a cultura brasileira quanto o fu-tebol.

O “futebolês” está presen-te no cinema, no teatro, nas danças, na literatura e, até, na poesia. Ao se referir ao es-porte como paixão nacional resgata-se uma idéia de ero-tismo. “Pela simbologia, se o gol é o orgasmo do futebol, a bola, com certeza, é a mulher desejada pelo jogador. Aliás, o jogador que apresenta bom de-sempenho em campo é aque-le que tem intimidade com a bola, que sabe tocá-la até o gol. Não é à toa que a rede ganhou o apelido carinhoso de véu de noiva”, conta Rodrigues.

Termos como “táticas de jogo”, “estratégias de defe-sa”, “adversário”, “barreira” e “mandar o torpedo”, remetem à guerra, mas apesar do espor-te ser mais ameno e saudável

não deixa de ser uma disputa. Outro ponto que se destaca é a criatividade das pessoas que extrapolam a imaginação. Que tal “frangueiro” para mostrar que o goleiro não atua muito bem? E vale provocar o adver-sário como quando a torcida grita “olé” para destacar os dribles.

O termo “deu zebra” ape-sar de não parecer, saiu do meio futebolístico e, hoje, é amplamente empregado. Seu criador foi o técnico carioca Gentil Cardoso que o utiliza-va para expressar que algo não saía da forma como esta-va previsto. “Provavelmente, o técnico foi buscar inspiração no jogo do bicho que utiliza quase todos os animais, menos a zebra", comenta o professor Rodrigues.

Leonardo Affonso de Mi-randa Pereira, historiador e professor do Departamento de Teoria Literária da Uni-camp (Universidade Estadual de Campinas), explica na sua tese defendida em 1998, a ra-zão pela qual o futebol mobi-liza tantas pessoas, principal-mente os brasileiros. Segundo Pereira, o que move essa pai-xão é que a mistura elementos como: popularidade, diversão e representação nacional, no caso do Brasil. E bota emoção nessa historia. Não é toa que o campeonato brasileiro garante futebol no campo, na televisão e na rádio o ano inteiro!

Futebol dentro e fora de campoO futebol é emoção de torcedor, ilustração de brasileiro e arte que vai além das muralhas dos estádios

Foto| Gustavo Esposito

Por Hélio Monteiro

ESPORTE

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A campanha “Segunda sem carne” chega ao Brasil com a proposta de diminuir impactos ambientais e proporcionar novos sabores

“”Gabriela Veiga, artista Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas

Foto | Danielle Pinheiro

Em tempos de assuntos obrigatórios como sustentabi-lidade, meio ambiente, aque-cimento global e até em fim do mundo, idéias que possam despertar atitudes mais cons-cientes para um planeta mais limpo, sustentável e saudável são sempre bem vindas.

Uma das mais recentes é a campanha lançada em agos-to pelo ex-Beatle Paul McCar-tney, que já encontra adeptos por aqui. McCartney entrou em contato com estudos que apontam a indústria de carne como responsável por 18% da produção de gases de efeito estufa – número maior que o setor de transporte. Preocu-pado com os efeitos disso no aquecimento global, o músico lançou a campanha Meat Free Monday, que ficou conhecida no Brasil como Segunda Sem Carne.

Com a frase tema Descu-bra novos sabores, a campanha propõe que, às segundas-fei-ras, as pessoas experimentem novas receitas e novas formas de alimentação saudável, que não agridam a saúde nem o meio ambiente. Com o apoio da Sociedade Vegetariana Bra-sileira (SBV), espalhada em 27 cidades de 10 estados, cerca de 29 grupos já divulgam a idéia da campanha pelo país. Al-guns famosos brasileiros tam-bém deram apoio, como Gil-berto Gil e Marisa Monte.

Engajamento na arte

A artista Gabriela Veiga, que também é bióloga, traba-lhou no Instituto de Botânica de São Paulo por dois anos, desenvolvendo pesquisas liga-das a plantas bioindicadoras de poluição. Recentemente, ela se juntou à a trupe do Te-atro Mágico, uma banda que faz uso de diversas formas artísticas como música, poe-sia, representação e circo para apresentar críticas sociais.

Nos shows, Gabriela divulga a campanha, com o apoio de toda a trupe, a fim de reunir mais adeptos à campanha Se-gunda sem Carne.

“Sou uma potencializado-ra desse projeto. Acredito na campanha, pois a vejo como uma atitude civilizatória”, define Gabriela. Para a artis-ta, a campanha “incentiva as pessoas a quererem fazer sua parte. E o melhor de tudo é que não precisam se sacrifi-car para isso: é apenas um dia da semana no qual você deixa de consumir um produto que, culturalmente está enraizado na nossa alimentação.”

A campanha também está na internet. O site Hábitos e Habitat [http://www.habito-sehabitat.org] foi criado, ini-calmente, para esclarecer as dúvidas sobre vegetarianis-mo que a artista recebia de fãs por email. Hoje, traz notícias e divulga eventos, além de pu-blicar receitas e dicas de sus-tentabilidade. “Percebi a res-ponsabilidade social que um artista tem, por ser um forma-dor de opinião. Decidi fazer com que essas opiniões tives-

sem embasamento teórico e fiz um pequeno documentário que dialoga com esse público, que busca respostas sobre a in-dústria da carne e seus impac-tos no meio ambiente”, explica

Os diversos sites como o Veg Vida [http://www.vegvida.com.br/], Comida Ecológica [http://www.comi-daecologica.com.br/] e Sítio Vegatáriano [http://www.ve-getarianismo.com.br/] estão em parceria com a campanha fornecendo receitas que subs-tituem a carne e também uma lista de restaurantes parceiros da idéia que na segunda-feira, alteram seus cardápios para

atender os consumidores que já aderiram a Segunda Sem Carne.

Para Gabriela, a falta de informação é uma das dificul-dades encontradas pelo movi-mento. “Existe também a pre-guiça. Preguiça de questionar, de se mover, de ter ideais. A revolução principia nas pes-soas, mas obviamente precisa-mos de mais apoio de artistas e de órgãos governamentais”, completa.

Mineiros carnívoros?

Apesar de a campanha ter chegado ao Brasil, ela ainda não ganhou todos os estados, entre eles Minas Gerais. Dados mostram que Belo Horizonte é uma das cidades com o maior índice de consumo de carne. A campanha tenta captar res-taurantes que se prontifiquem em mudar seu cardápio, pelo menos um dia da semana, com isso inovando e mostrando no-vos sabores para seus clientes. Com isso Adriana Cristina, uma das responsáveis pela a implementação da campanha em Belo Horizonte, enfrenta

Na segunda

Sou uma potencializadora deste projeto. Acredito nesta campanha, pois a

vejo como uma atitude civilizatória

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A campanha “Segunda sem carne” chega ao Brasil com a proposta de diminuir impactos ambientais e proporcionar novos sabores

eu começo...

Por João Marcelo Siqueira

grandes dificuldades. Ela diz que é complicado conseguir parcerias entre os restaurante da cidade, pois nenhum deseja abrir mão de vender carne às segundas. Ela ainda conta que a mídia mineira não contribui com a divulgação um projeto como esse.

O contramão foi a alguns restaurantes da região centro-sul da capital para saber qual a opinião dos proprietários em relação a campanha. Emerson Morais, gerente do restauran-te Máximo Sabor é totalmente contra a campanha: “eu não aderiria, em respeito aos meus clientes, pois quem não deseja comer carne tem que procurar um estabelecimento que ofe-

Foto | Danielle Pinheiro

reça comidas vegetarianas.” “Para o comercio essa cam-panha é uma aberração e não deve ganhar força em Belo Horizonte, pois hoje quem procura um restaurante deseja comer carne e de preferência carne vermelha”, afirma.

A proprietária do restau-rante Picles, Katia Portilho, diz que já recebe quem não come carne e aderiria à campanha sem problema algum, mas que não faria isso se outros esta-belecimentos não fizessem o mesmo, por causa da concor-rência. “Aqui sempre damos variedades de saladas e de três pratos quentes que não levam carne, mas não deixamos de oferecer carne no nosso cardá-

pio diário”, conta. O restaurante Sabor e Saú-

de funciona há 30 anos e 80% do cardápio são formados por comida naturalista e vegeta-riana . O gerente José Geraldo Vieira explica que já tentou permanecer com um cardápio 100% vegetariano, mas... “Em quatro meses quase fui à falên-cia por não ter carne no meu restaurante”, conta.

O gerente diz que o públi-co vegetariano não é tão gran-de assim e que na sua maioria é muito exigente. “É muito caro fazer comida vegetaria-na, os produtos são mais caros e o retorno nem sempre é tão bom. O quilo hoje no estabele-cimento é R$16,90, se fosse só

de comida vegetariana, teria que ser R$22,00”, analisa. Ele acredita que a campanha tal-vez ganhe força com os jovens que são mais cabeça aberta.

Clara Vargas, 20, estudan-te, diz que aderiu mais do que a campanha pede, “estou há dois meses sem comer carne” diz. A estudante reconhece que ficar sem comer carne pelo menos um dia da semana faz toda a diferença para o pla-neta: “um dia não atrapalha a vida de ninguém que não te-nha vontade ou condições de aderir a hábitos vegetarianos”.

MEIO AMBIENTE

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Até quem caminha dis-traído pelo quarteirão da Rua Tomé de Souza, entre a Ave-nida Cristovão Colombo e a Getulio Vargas, percebe que é uma das principais ruas da re-gião da Savassi. Além de bares e restaurantes badalados e lo-jas de roupas conhecidas, tam-bém abriga três brechós bem peculiares.

O primeiro deles, se avis-tara de longe: uma tenda char-mosinha e duas colunas bico-lores vistosas, além de ter no nome um grande chamativo. Estamos falando da Lispector. A loja/brechó existe há sete anos e é comandada por Vic-tor Charlier, 38. Ele, além de proprietário da loja, atenden-te e comprador, é responsável também pelo designer das pe-ças exclusivas da marca pró-pria “Lispector”.

O nome da loja está além da referência literária, Clari-ce Lispector. Charlier explica que o nome da loja em Latim, significa flor de Liz, represen-tada intencionalmente no lo-gotipo da marca, retirada de um velho livro de símbolos do avó de Charlier. A loja é divi-dida em dois ambientes. No primeiro, podemos encontrar moda masculina e feminina, bijuterias, botons, broches, brincos que podem ser vistos também no mundo virtual no blog da loja.

No segundo espaço, en-contramos a área que corres-ponde ao brechó, com peças de diferentes preços e estilos. Camisas xadrez, estampas di-ferenciadas, modelos dos anos 60, 70,80 e 90.

Na Lispector, podem-se encontrar peças exclusivas, de fabricação própria. O acervo conta com peças inspiradas na moda vintage, desenha-das pelo próprio proprietário. “Faço pesquisa para compor as peças da loja, vou pegando diversas referências e ainda possuo um acervo de roupas masculinas enorme” revela.

Charlier prefere não ro-tular a loja em vintage ou re-trô, prefere defini-la como de moda contemporânea. Ainda segundo Charlier, o publico da loja é diversificado, apesar do grande numero de jovens que lá freqüentam. “Senhoras de mais 60 anos freqüentam a Lispector e também gostam das peças de brechó”, conta Charlier. O proprietário da Lispector diz que o publico do estabelecimento é fiel, princi-palmente o masculino. “A loja tem um grande acervo de rou-pas masculinas, existem pou-cos brechós com essa particu-laridade”, afirma.

Quem compra uma peça da Lispector sai de lá com a garantia de ter nas mãos, uma peça única. “Fabricamos pou-

ca peças, pois as clientes pre-ferem roupas exclusivas”, afir-ma Charlier.

Andando a poucos me-tros depois, esbarramos com a exuberância da “Brilhantina”, mais um dos brechós locali-zados na rua Tomé de Souza. De cores fortes e com o nome da loja num letreiro em neon, a Brilhantina nos leva a outro tempo, num ambiente que re-mete a varias épocas, numa miscelânea de estilos e tendên-cias.

Segundo a proprietária Raquel Fernandes, 35, cerca de 80% das peças são femininas. “Roupas masculinas, são sem-pre mais difíceis de achar”, diz. A loja mantém essa aura de nostalgia no ar. Alem das roupas, acessórios e principal-mente chapéus, ela ainda con-ta com uma decoração perdida no tempo. “Sempre gostei da moda de todas as épocas, do charme dos anos 20 ao mo-dernismo dos anos 90”, conta Raquel Fernandes. “Cada bre-chó é também a cara do dono”, completa.

Continuando nossa cami-nhada, encontramos na “Petit Luxe”, um brechó infantil, um dos poucos em Belo Horizon-te. Logo na entrada, vemos carrinhos de bebe, brinquedos diferentes e roupinhas para a meninada. Marina Leite, 28, é proprietária do brechó infantil

que está aberto há 10 meses. Segundo ela, as peças que lá chegam quase sempre estão novas ou pouco usadas.

No Petit Luxe, encontram-se peças infantis, para meninos e meninas de 0 a 16 anos. Coin-cidentemente, Marina Leite está grávida de oito meses e meio, do seu primeiro filho e já separa parte das roupas que chegam à loja para Nóa. “As peças que eu pego, são sempre peças que eu gosto, de um es-tilo diferente. A peças de ves-tuário variam de 20 reais até 99 reais, mas a loja também vende carrinhos para bebe, ca-deiras infantis para carro, que tem um preço mais em conta do que numa loja comum”, comenta Leite. Ainda no bre-chó infantil, você pode encon-trar acessórios como presilhas, grampos, tiaras e brincos. A loja também tem em sua de-coração um gostinho de infân-cia, com brinquedos antigos e peças que têm forte ligação com a infância da proprietária. “Aquela boneca ali, era minha quando tinha oito anos”, con-fidencia a lojista.

Atualmente, os brechós têm se valorizado a cada dia mais no mundo da moda. Es-tão presentes em grandes ca-pitais, não só para quem quer seguir tendência, mas também para quem quer economizar um pouco mais.

lispector.com.br

brechobrilhantina.com.br

petitluxebrecho.blogspot.comW W

W

A MODA QUE NUNCA SAI DE MODA...Os brechós trazem a marca do passado aos dias atuais e conquistando espaço no guarda- roupa de vários clientes

Por Marcos Oliveira

Fotos | Débora G

omes

MODA

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Por Henrique Muzzi

Após um filme lançado em 1996, chamado Patch Ada-ms - O amor é contagioso, es-trelado pelo ator Robin Willia-ms, pessoas de todo o mundo tomaram conhecimento sobre o trabalho feito por homens e mulheres conhecidos como doutores, médicos ou palhaços da alegria.

Em Belo Horizonte, o gru-po conhecido como Doutores da Alegria atua na Santa Casa de Misericórdia e no Hospi-tal das Clínicas desde abril de 2007. O trabalho é desenvolvi-do por artistas cênicos que se autodenominam “besteirolo-gistas”. De leito em leito, aten-dem cada criança, buscando interagi-las com jogos de ra-ciocínio lógico e brincadeiras desenvolvidas no local.

De acordo com o palha-ço Cícero Silva, 63, conhecido como Titetê, os doutores tam-bém orientam os familiares das crianças. “Os familiares participam do dia a dia de for-ma interativa com jogos lúdi-cos entre as crianças,ajudamos a transformar o ambiente hospitalar em uma área de interação”,explica.

Antes de ser um doutor da Alegria, candidatos passam por um rígido processo seleti-vo, organizado em quatro fa-ses. É aberto um edital público, onde os interessados escrevem uma carta com o currículo ar-tístico. A partir daí os currícu-los são analisados e os apro-vados são convidados a irem para uma oficina, onde os pa-lhaços se conhecem. Após essa fase, passam por um estágio

Espalhando o Vírus do bem

Ilustração|Débora G

omes

Besteriologistas levam alegria às crianças doentes em hospitais

com os formadores em hos-pitais e no final passam pelo teste “ conversa mole”, onde o palhaço já formado vai expli-car o dia a dia de um trabalho no hospital. Também pergunta se o artista está realmente dis-posto a ser um “doutor”.

O trabalho não é voluntá-rio, a organização se mantém através de doações de empre-sas e pessoas. Silva afirma que o trabalho é assalariado, pois os palhaços têm o compromis-so de estarem com hora marca-da em hospitais durante duas vezes por semana no mínimo. Além do trabalho contínuo em hospitais, os “doutores” pas-sam por cursos teatrais perio-dicamente.

Falta patrocínio Titetê reclama sobre a fal-

ta de patrocinadores em Belo Horizonte: “Todos os recursos para o pagamento de palhaço, de espaços, de auxiliar admi-nistrativo são oriundo de São Paulo e estamos lutando ferre-nhamente para conseguir um patrocinador ”, explica.

Palhaço há 14 anos e atu-ando como ‘doutor” há mais de três anos, Silva não esconde o prazer que tem em trabalhar na área que a cada dia lhe traz novos ensinamentos, “Traba-lhando como besteirologista percebi que os meus proble-mas são insignificantes peran-te o sofrimento das crianças doentes nos hospitais que visi-tamos.”

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Ativistas de todo o mundo pedalam em silêncio para home-nagear os ciclistas vítimas de acidentes no trânsito. O protesto faz parte do movimento Ride of Silence ou Pedal do Silêncio. O objetivo é chamar a atenção da sociedade em geral e lembrar que os ciclistas também têm direito a utilizar as ruas com segurança.

A ideia de trazer o movimento para Belo Horizonte partiu de Humberto Guerra, analista de sistemas e coordenador do Moun-tain Bike BH. “Conheci o Pedal do Silêncio pela internet e achei interessante sediar um evento similar aqui”, conta.

A concentração começa a partir das 19h, na Praça da Liber-dade, com saída às 20h. Para participar é necessário usar um tarja preta no braço, além dos equipamentos de segurança. O passeio será feito em ritmo moderado para que todos possam participar.

Pedal do Silêncio - homenageia vítimas de acidentes no trânsito

A disciplina de pedalar regularmente previne problemas de saúde, for-talece os músculos do corpo e mantêm o bem-estar e qualidade de vida. Escolher a bicicleta é também uma forma de preservar o meio ambiente, já que ela é um veículo que não polui. “Andar de bicicleta reduz o colesterol, a pressão arterial, ajuda a controlar o diabetes e di-minui o risco de doenças do coração”, afirma José Cláudio de Almeida Resende, cardiologista.

Porque pedalar faz bem?

Por Alexandre PimentaDeleoni Amorim

Hélio Monteiro

Foto| O TEM

PO

Utilizar a bicicleta como meio de transporte continua a ser um sonho distante para a população de Belo Horizonte (BH). Apesar da capital pos-suir cerca de 22 km em ciclo-vias, os trechos, distribuídos em seis regiões da cidade, precisam de novas pistas para conectar uma ciclovia à outra. No Bairro Coração Eucarístico, por exemplo, a distância das pistas exclusivas para ciclis-tas é de 750 metros, enquanto o centro da cidade permanece sem vias para as bicicletas.

Para o publicitário Rafa-el Andrade, 26, acostumado a ir regularmente de bicicle-ta ao trabalho. “A bicicleta é um transporte barato e não-poluente. O belo-horizontino não utiliza o veículo por falta de estímulo. É preciso que as autoridades invistam mais em ciclovias e condições para os ciclistas”, afirma o publicitá-rio.

Como medida para resol-ver esse problema, a BHTrans lançou em 2008 o programa Pedala BH. A proposta é que os principais ponto da cidade

estejam ligados ao Mineirão por meio de ciclovias. A pre-visão de conclusão das obras é 2014, o ano da Copa do Mun-do no Brasil. Ao final do pro-jeto, a população terá aproxi-madamente 345 km de faixas exclusivas para as bicicletas.

De acordo com uma pes-quisa realizada em 2009, pela Fundação João Pinheiro, o uso da bicicleta na cidade é muito comum. Aproximadamente 25 mil viagens são feitas diaria-mente.

Além disso, muitas pes-soas que querem se exercitar, independente de idade, en-contram na bicicleta uma al-ternativa saudável e barata para a prática de esporte e de lazer. Belo Horizonte já conta com três grandes grupos de ciclismo, como o Mountain Bike BH. A atividade desses grupos consiste basicamente em passeios noturnos pelas regiões da cidade, que duram em torno de duas horas, per-correndo aproximadamente 18 km.

Ciclovias caem em desuso por falta de infraestrutura

Trânsito para bicicletas é restrito em BH

Foto| O TEM

POFoto| O

TEMPO

CIDADE

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Por João Marcelo Siqueira

O Mercado Central de Belo Horizonte abriga, em suas dependências, um grave problema: o comércio de ani-mais vivos próximo às áreas destinadas à alimentação. No Brasil, além do Mercado Cen-tral, o Mercado Municipal de Manaus também vende ani-mais vivos. Hoje, em BH, o Movimento Mineiro Pelos Di-reitos dos Animais quer proi-bir esta prática não apenas para a preservação das espé-cies ali comercializadas, mas também, para evitar que ali-mentos sejam destinados ao consumo humano em um local próximo aos dejetos e parasi-tas provenientes dos animais acondicionados em um espaço pequeno, sem iluminação so-lar e ventilação.

No ano passado o Movi-mento Mineiro pelos direitos dos animais, começaram uma mobilização para conseguir uma lei que proibisse a comer-cialização de animais no mer-cado central. Em conversa com Adriana Cristina, 39, servidora publica e uma das represen-tantes do movimento, ela con-ta que essa luta acontece desde quando o mercado começou a comercializar animais, porém o Poder Público alegava não haver amparo legal que trata-se o problema e como nenhum poder publico ou órgãos res-ponsáveis se manifestavam, ativistas da Causa Animal sa-íram em busca de algum ve-reador que apóia-se a causa e providenciasse o necessário.

Em 2009, foi apresentado, na Câmara Municipal, o Proje-to de Lei nº 559/09, pela Vere-adora Maria Lúcia Scarpelli. A PL foi aprovada pelas comis-sões de Legislação e Justiça e da Saúde e Saneamento da Câ-mara. Porém para a surpresa dos ativistas e defensores dos direitos dos animais, o Projeto

da Lei parou quando chegou à Comissão de Meio Ambiente, devido às reiteradas perdas de prazo por parte dos Relatores responsáveis por emitir o últi-mo Parecer. O Vereador Leo-nardo Mattos (PV) foi o único que emitiu o parecer de reijei-ção ao projeto de comercializa animais no Mercado Central, no dia 30 de setembro de 2010.

O principal argumento dos ativistas dos direitos dos animais é a pretensa cruel-dade cometida contra os vá-rios animais vendidos vivos, como: galinhas, perus, gansos, patos, codornas, pombos, pa-vões, faisões, pássaros, cães, gatos, coelhos, chinchilas, porquinhos-da-índia, peixes, hamsters, entre outros. “Não acreditamos que esse comércio seja uma tradição ou cultura do mercado”, declara Adriana Cristina.

“Além disso, o constante prejuízo financeiro e emocio-nal dos clientes quando com-pram animais doentes. Como garantir a saúde dos animais

vivos comercializados para o consumo humano (como pa-tos, gansos, coelhos, galinhas e codornas)?”, problematiza o Movimento Mineiro Pelos Di-reitos dos Animais

Frequentadores

A advogada Thais Buar-que, 23, define como “anti-higiênica” a venda de animais vivos no Mercado Central, “é uma falta de respeito com a população”, acrescenta. A es-tudantes, Naiara Garcês, 20, alega ter nojo do corredor em que os animais são vendidos. “Jamais compraria um animal em um local como esse e, tam-bém, não como nenhum tipo de alimento em um mercado que tem animais vivos sendo vendidos”, enfatiza a estudan-te.

Comerciantes

No corredor onde os ani-mais são vendidos, a maioria dos comerciantes evita falar

sobre o assunto e muitos ale-gam, inclusive, desconhecer o projeto de lei. O comerciante Joaquim Rosa, 28, vende pás-saros há 11 anos, no Merca-do Central e afirma que a um enorme exagero por parte dos ativistas. O vendedor conta que chegam a vender cerca de 100 pássaros por dia. “Os tu-ristas adoram esse lugar, ficam encantado com os animais, pois no seu país não tem isso” relata Rosa.

O vendedor, Devanir An-tônio, é proprietário da Loja Aviar Devanir, há 33 anos, no Mercado Central e afirma desconhecer o PL nº 559/09. “Não sabia que isso estava acontecendo, porém acho uma falta de vergonha desse povo. Eles estão mais preocupados com os animais e esquecem a sua própria espécie [huma-na]”, desabafa. O comerciante garante que os animais não sofrem, pois a rotatividade é grande. “Não deixaríamos um animal morrer aqui, pois vi-vemos deles, cuidamos muito bem de cada um. Para manter um animal aqui gastamos cer-ca de R$ 400,00” conta Antô-nio”, enfatiza.

Porém um vendedor que não quis se identificar reve-la que, ás vezes, eles recebem reclamações dos comercian-tes dos corredores de alimen-tação, devido o mau cheiro e que por isso a administração do mercado já está providen-ciando algumas cortinas de ar e exaustores em todas as lojas que comercializam animais, para amenizar o problema.

Nota da redação: Tenta-mos contatar o sr. Luiz Car-los Braga, superintendente do Mercado Central, mas até o fechamento dessa edição, ele não foi localizado.

População luta para aprovação da lei que visa a proibição do comércio de animais no Mercado Central

Mercado sem animal

Foto | Divulgação M

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CIDADE

Foto| Marcos O

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Desenhos delicados, feitos com grafite, pólvora e pastel oleoso, nas páginas de livros antigos e desatualizados, com-põem a exposição Alfarrábios, de Lucas Dupin. As imagens se desenvolvem pelas páginas e incorporam textos, anota-ções, imagens e outras marcas de uso que um livro possa ter. Com esse trabalho, o artista mostra o incomum e desperta, ao mesmo tempo, curiosidade, encanto e admiração.

Dupin explica que, a par-tir de uma extensa pesquisa de novos suportes artísticos, seu trabalho conjuga materiais que normalmente são utiliza-dos para desenhar com outros não designados para este fim, a exemplo da pólvora: “des-locar ferramentas é algo que sempre gera resultados ines-perados, como é o caso de se utilizar ferramentas da gra-vura ou goivas [instrumentos

cortantes para o entalhe em madeira] para trabalhar dire-tamente sobre o papel.”

Efeito do tempoAlfarrábios é a produção

mais recente de Dupin, em de-senvolvimento há pouco mais de dois anos. “Um dos moti-vos para iniciar este trabalho foi meu medo da folha de pa-pel em branco. Precisava sem-pre, de alguma forma, rasurar aquela ‘brancura’ que se colo-cava como uma barreira para o início do trabalho”, diz, ressal-tando que acha mais fácil lidar com materiais marcados pela ação do tempo e do uso. “Para mim, é muito mais fácil lidar com a história que a superfície carrega do que com o branco do papel”, completa o artista.

O fato de Lucas Dupin ser encadernador também ajuda no desenvolvimento do traba-lho. Acostumado a conservar

e recuperar livros, ele resol-veu realizar o caminho inver-so, surgindo assim, a idéia da exposição. “Mas vale ressal-tar que utilizo livros ou frag-mentos destes, que já não tem nenhum préstimo.”, afirma. Será?

“Préstimo” poéticoAo falar do que serve um

livro, Dupin refere-se ao uso prático, de leitura dos livros. Mas a exposição mostra que o “préstimo” de um livro vai para além da vida útil das palavras que ele contém. “A priori, poderíamos dizer que a exposição não tem importância nenhuma, se comparada com as necessidades vitais, mas se-ríamos pessimistas a ponto de dizer que aquilo não faria falta para ninguém”, completa.

Lucas vê a exposição como uma maneira de partilhar com

os outros uma técnica diferen-ciada, fruto de uma pesquisa atual. Ele afirma que é compli-cado dizer com precisão qual a intenção desse trabalho, a não ser para um fim inteiramen-te artístico: “cada um carrega sua bagagem de referências e é com elas que dialogamos”. “Quando faço algum desenho a minha intenção é a de que ele seja aquilo que já é, o que pode vir depois é uma interpretação pessoal, duvidosa e muito par-ticular, talvez diferente da im-pressão que o trabalho repre-senta para mim”, explica.

A exposição ficou até o dia 4 de outubro na galeria Paulo Campos Guimarães da Biblio-teca Pública Estadual Luiz de Bessa, localizada na Praça da Liberdade, 21, bairro Funcio-nários.

Veja a galeria de fotos no nosso site contramão.una.br

Confira outros trabalhos em sua galeria: www.flickr.com/lucasdupin

Livros antigos viram tela para arte inovadora“O livro para mim, aparece como objeto de afeto, seja como superfície para os desenhos, como leitor ou mes-

mo encadernador.” [Lucas Dupin]

Na boa arte, não se faz ‘a’ para se chegar a ‘b’. Isso a meu ver seria utilizá-la como meio e não como a coisa em si.

Porém, essa avaliação está assentada nas minhas referências visuais, culturais, imagéticas que são muito diferentes da de

fulano ou cicrano.

Por Débora Gomes

“”

Fotos | Divulgação

CULTURA