jornal arrocha 01 - Águas

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Arrocha AGOSTO DE 2010. ANO I. NúMERO 1 DISTRIBUIçãO GRATUITA - VENDA PROIBIDA Jornal JORNAL COMUNITÁRIO DO CURSO DE COMUNICAçãO SOCIAL-JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ E AS áGUAS JOEDSON SILVA IMPERATRIZ

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Jornal Comunitário laboratorial do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz (MA).

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Page 1: Jornal Arrocha 01 - Águas

ArrochaAGOSTO de 2010. AnO I. númerO 1 dISTrIbuIçãO GrATuITA - VendA PrOIbIdA

Jorn

al

jOrnAl COmunITÁrIO dO CurSO de COmunICAçãO SOCIAl-jOrnAlISmO dA ufmA, CAmPuS de ImPerATrIz

e as águas

JOEDSON SILVA

imperatriz

Page 2: Jornal Arrocha 01 - Águas

As águas de Imperatriz são um elemento peculiar de sua cultura, des-de a imponência do rio Tocantins, que marca a sua origem até a força vital de seus córregos, que evocam relações afetivas. Não poderia haver tema mais abrangente para valorizar o primeiro número do jornal comunitário “Arro-cha”, que tem a promoção da reflexão como propósito.

Arrocha é uma expressão típica da região tocantina e também é um rit-mo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inaba-lável como o propósito ético desta pu-blicação. O jornal produzido pelo cur-so de Comunicação Social-Jornalismo, da UFMA, nasce interdisciplinar e vol-tado para a comunidade. Orientados pelos professores das disciplinas de

Laboratório de Jornalismo Impresso, Fotojornalismo e Programação Visu-al, os acadêmicos foram incentivados a se envolver em todas as etapas de produção de um periódico impresso, sempre adotando um tema central e desdobrando-o em várias abordagens.

No caso do tema águas de Im-peratriz, o leitor encontrará nesta edição reportagens a respeito do ciclo das chuvas, saneamento, a carência de tratamento de esgoto, uso doméstico e nos restaurantes, espaços culturais como a Beira-rio, a relação afetiva dos antigos e novos moradores com as águas que banham a cidade. Uma uni-versidade pública têm o dever de pro-duzir conhecimento dialogando com a comunidade. Por isso, o jornal “Ar-rocha” irá debater de forma plural as grandes questões da região tocantina.

eDitOriaL - informação com contexto

expeDiente

Ensaio Fotográfico

CHarge

MArIzé VIeIrAPrISCILA GAMA

De olho na tela, Dona Alice Pe-reira, 45, obedece à risca a ordem do líder espiritual. “Pegue seu copo de água e ponha em cima de sua TV que nós já vamos orar e todo o mal de sua vida irá sair”. enquanto ela reza, de olhos fechados e semblante cansado, observamos a sua fé naquele ritual. Ao final da oração, Alice bebe o copo

de água e explica: “agora todo o mal foi purificado”.

As igrejas protestantes do ramo neopentecostal lançaram a moda: a água pode atrair os maus fluidos e espantar os males de uma casa ou fa-mília, conforme afirma o apóstolo da Igreja Mundial do Poder de Deus, Val-demiro Santiago.

A Bíblia diz que, desde o prin-cípio do mundo, a água faz parte do universo religioso. é neste líquido que

todas as coisas encontram sua origem e a possibilidade de serem renovadas. “A Terra era sem forma e vazia e o espírito de Deus pairava sobre a face das águas”, consta no Gênesis cap. 1, vers. 2. Muito mais que um símbolo, ela toma ares de sagrada, agente de purificação.

Na igreja católica, está presente sob os mais variados significados. é o que explica Julieth Daiane Marques, membro da Comunidade Shalom. “A

água tem uma grande importância nos rituais católicos. ela faz apelo ao simbolismo da morte e da purifi-cação e também da regeneração e re-novação”. Julieth lembra dois ritos co-muns: o batismo e a água benta. “Jesus instituiu o batismo e determinou que a água seria usada como matéria desse sacramento”. Já a água benta, segundo os católicos, faz alcançar a remissão dos pecados.

O missionário elder Alves, da

Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmon), explica que a água assume o papel do vinho nas de-mais religiões cristãs. “O sacramento é o mesmo que chamam de santa ceia na igreja católica e protestante. Usamos o pão em lembrança da carne de Cris-to e água recordando o sangue porque hoje é o que mais simboliza pureza”. elder Alves pondera que o vinho não é recomendado por conter álcool e tem sido substituído pela água.

CuriOsiDaDe águas purificadoras

ALDA QUEIROZ

ANA PULGATTI

CARLOS HENRIQUE

CARLOS HENRIQUE

CARLOS HENRIQUE

2 ArrochaJorn

al

Ano I. númEro 1 ImPErATrIZ, AGoSTo dE 2010

Adjalbas de Lima Macedo, Alda Hosana Lima de Queiroz, Ana Cristina Pulgatti, Carlos Henrique Oliveira Brandão, Domingos Izaías Cezar Ribeiro Júnior, Jefferson Rodrigues Borges, Jordana Fonseca Barros, Lúcia Maria Pacheco, Luzia de Sousa, Marcela Barros de Oliveira, Maria da Paz de Sousa Chaves, Pollyanna Vieira Carneiro, Rafael Moraes da Silva, Ricardo Cavalcante Morais, Rodrigo Souza Silva, Rozany Macedo Ribeiro, Sara Cristina da Silva Ribeiro.

Adelaide Silva Rodrigues, Adjalbas de Lima Macedo, Alanna Ferreira Guimarães, Ângelo Antonio Verderosi, Anna Pulgatti, Diego Leonardo Silva Costa, Elicleia Claricia Dallo, Fernando Ralfer de Jesus, Gerusa Carla Pessoa, Gizelle de Jesus Macedo, Janaina Lopes Amorim, Jenifer Oliveira Pessoa, Joyce Theotonia Benigno, Juliana Neves Carvalho, Karine Carlos Rabelo, Larissa Fernanda Santana, Larissa Pereira

Professores: Santos, Leide Silva Oliveira, Lierbeth da Silva Sa, Luana Barros Alves, Luisa Maria Machado, Maria da Paz de Sousa, Maria José Costa Vieira, Maria Talita Nunes, Marilia Otero de Alencar, Mayane Lima Soares, Mayara Gabryelle Ferreira, Nayane Cristina Rorigues, Nicia de Oliveira Santos, Priscila Aranha Gama, Rafael Moraes da Silva, Rodrigo Nascimento Reis, Rodrigo Souza Silva, Rozany Macedo Ribeiro, Thays Silva Assunção, Victor Aurélio Batista Pires, Vinicius Mendes Lima, Wabner Gonçalves Figueiredo, William Castro Morais.

Fotografias:

Alanna Ferreira Guimarães, Ângelo Antonio Verderosi, Claudyo Jackson D. Simão, Diego Leonardo Silva Costa, Diulia

diagramação:

Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade.

Jornal Arrocha. Ano I. número 1. Agosto de 2010

reitor - Prof. dr. natalino Salgado filho | diretor do Campus de Imperatriz - Prof. dr. jefferson moreno | Coordenadora do Curso de Jornalismo - Prof. mSc. roseane Arcanjo Pinheiro.

reportagens:

mSc. Alexandre maciel (jornalismo Impresso), mSc. marco Antônio Gehlen (fotojornalismo e Programação Visual), mSc. marcus Túlio lavarda (fotojornalismo). revisão: mSc. marcos fábio b. matos e mSc. letícia Cardoso.

www.imperatriznoticias.com.br | Fone: (99) 3221-7627 Email: [email protected]

Contatos:

Sousa Silva, Elicléia Clarícia Dallo, Fernando Ralfer de Jesus Oliveira, Gizelle de Jesus Macedo, Janaína Lopes de Amorim, Jenifer Oliveira Pessoa, Joyce Theotônia B. Magalhães, Juliana Neves Carvalho Costa, Karine Carlos R. Duarte, Larissa Fernanda S. Rolim, Larissa Pereira Santos, Leide Silva Oliveira, Luana Barros A. dos Santos, Luisa Maria Machado Cirqueira, Maria Jose Costa Vieira, Maria Talita Nunes Bessa Câmara, Marilia Otero de Alencar, Narcísio Ferreira Cruz, Nayane Cristina Rodrigues de Brito, Nícia de Oliveira Santos Nazário, Pricila Aranha Gama, Rapahel Brito Giannotti, Rodrigo Nascimento Reis, Thays Silva Assunção, Victor Aurélio B. P. de Sousa, Wabner Gonçalves Figueiredo.

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CLima aLteraDOmetereologia confirma que, desde junho de 2009, a cidade está sob influência do fenômeno el niño, deixando as chuvas abaixo da média histórica

rAFAeL MOrAeS

WILLIAM CASTrO

ruas alagadas, lixos nos córregos e riachos de Imperatriz, casas invadidas pelas águas. esta é a realidade que muitas famílias enfrentam quando inicia o perío-do de chuvas na cidade. Para esco-ar a água e evitar esses transtor-nos, a Secretaria de Infraestrutura do Município (Sinfra) realiza a manutenção da rede de drenagem, além de construir novos trechos, para tentar amenizar um proble-ma antigo no município. À medida que caem as chu-vas, os canais ficam cheios, e nas ruas onde não há esse serviço de drenagem, o risco de alagamento é muito grande. existem dois ti-pos de drenagem: a superficial e a profunda. A primeira é aquela que leva a água das ruas para a rede subterrânea, através de meio fios e sarjetas. A profunda é a rede sub-terrânea construída com tubos de concreto e serve para levar a água das chuvas para o rio Tocantins. A prefeitura é responsável pela rede de drenagem. Segundo o encarregado de obras da Sinfra, Joselito Gomes, esse fator é uma das pedras fundamentais de pa-vimentação das ruas. ele afirma que, além de ter um custo alto, a

drenagem profunda é um conjun-to de obras que não é visto, o que desmotiva políticos a se empenhar em realizar esse tipo de serviço.

“Os políticos não fazem drena-gem porque ninguém vê e porque é caro. Se você fizer 50 metros de asfalto todo mundo vai ver, mas

se fizer 50 metros de drenagem, daqui a um mês ninguém lembra ou sabe quem fez”, avalia o gestor. Devido ao crescimento da cidade,

e por ser antiga a rede de drena-gem, os canais subterrâneos não estão mais suportando o volume de água, principalmente das chu-vas. O resultado são os inevitáveis alagamentos nos bairros. Proble-ma comum é o entupimento do sistema. A manutenção da rede é feita por uma equipe específica, que retira os entulhos das tubu-lações. Plástico, papel, pedras, ca-deiras, troncos de madeira e ven-tiladores já foram encontrados na rede de drenagem. O engenheiro civil Fernando Falquetto, também da Sinfra, lembra que os morado-res não armazenam o lixo adequa-damente e o resultado é inevitá-vel: a chuva carrega todo o lixo para a rede, causando problemas ao sistema. Os moradores, como re-gina Célia, da rua Santa Tereza, Nova Imperatriz, garantem que a drenagem é um serviço de muita importância para evitar os trans-tornos causados pelo período de chuvas. “esse trabalho é muito bom, porque a água da chuva não vai alagar as ruas e a gente vai ter uma segurança maior quando chover”. A prefeitura dispõe de uma ouvidoria para reclamações ou sugestões e a população tam-bém pode solicitar a limpeza da rede de drenagem.

Ciclo de chuvas caracteriza imperatriz

ALANNA GUIMArÃeSFerNANDO rALFerKArINe DUArTe

Francisca Lima, uma senho-ra de 52 anos, arrumou seu colchão e o de seus netos em um piso sujo e velho com água por todo lado. ela fazia parte das 60 famílias aloja-das no Parque de exposição da ci-dade de Imperatriz depois de uma enchente no ano de 2009 e lutava para não perder todos os seus bens. Por mais que ela estivesse prepara-da, não sabia ao certo se a sua casa alagaria novamente. A única coisa que poderia afirmar é que a cidade constantemente vira um caos devi-

do ao ciclo de chuvas, o que gera temor nos ribeirinhos e agriculto-res. em Imperatriz, há duas es-tações definidas: com mais ou me-nos chuvas, que se repetem todos os anos. A meteorologista Aylci Naza-ré Barros, responsável pelo 2º Dis-trito de Meteorologia que abrange o Pará, Amapá e Maranhão, explica que o período chuvoso da cidade começa a se manifestar a partir de novembro e vai até abril. em mar-ço, a duração de uma chuva pode chegar a 10 horas. De maio a outu-bro é o período que menos chove. A temperatura média no

município oscila entre 20° e 38º, com picos de mais de 40° em dias mais quentes, segundo a meteo-rologista. As sensações térmicas chegam a 36º no verão e 47º no inverno, embora popularmente os nomes sejam invertidos. A mé-dia pluviométrica do município é de 1,4 mil milímetros anuais. “No ano passado choveu acima da mé-dia porque Imperatriz estava sob a influência do fenômeno de grande escala La Niña, que, ao contrário do el Niño, provoca chuvas inten-sas para a região norte e seca para a sul”, explica Aylci Barros. ela acrescenta que desde de junho de

2009 a cidade está sob a influência do el Niño e, por esse motivo, as chuvas em Imperatriz estão abaixo da medida climatológica. Ou seja, em novembro, dezembro e janeiro choveu abaixo do previsto. “Não há previsão de enchente para Im-peratriz no ano de 2010”. A preparação para o mane-jo do gado inicia no mês de maio, quando as chuvas dão trégua. O pe-cuarista Pedro Ferreira Filho disse que é nesse período que se põe o pasto para descansar, assim guar-dando o capim para a época de seca. “O motivo dessa preocupação antecipada se dá pelo fato do ciclo

ser certo, apenas mudando a quan-tidade de chuvas. Um ano chove mais, outro menos. Quando come-ça o mês de novembro, eu compro gado, pois sei que o pasto aguenta. e quando começa maio, eu vendo”. José Barros perdeu toda a plantação de arroz no ano de 2009 e ainda ficou com dívida no ban-co por causa do grande volume de chuvas. Agora está animado para a colheita deste ano. “está choven-do o necessário, sem alagamentos, nem desperdícios para a minha plantação. espero que continue as-sim, quero ter um retorno positivo

para a minha safra”.

Sem drenagem adequada, as vias públicas se tornam ameaça para os moradores e, principalmente, para seus veículos

MARCO A. GEHLEN

por que a drenagem de ruas é tão importante para a cidade?

Além de custarem muito, obras de drenagem são menos visíveis e por isso pouco priorizadas pelas administrações públicas em geral

RAFAEL MORAES

Apesar das mudanças climáticas, ruas do Bacuri e outros bairros ficaram alagadas após chuvas do início de 2010

MARCO A. GEHLEN

3ArrochaJorn

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Ano I. númEro 1 ImPErATrIZ, AGoSTo dE 2010

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DesCasOApenas 30% dos imóveis de Imperatriz possuem rede de esgoto, sendo que o restante das casas tem dejetos lançados nos riachos e no rio Tocantins

esgoto é jogado em rio e córregos sem tratamento

luzIA SOuzA

Contaminação das águas pelo esgoto afeta diretamente a biodiversidade e os moradores

JANAíNA AMOrIM

WABNer FIGUeIreDO

“O esgoto não chega à esta-ção de tratamento. A gente paga, mas ele é jogado in natura no rio”. O desabafo é do biólogo e diretor de centro da Universidade estadu-al do Maranhão (UeMA) em Impe-ratriz, expedito Barroso. Apenas 30% dos imóveis da cidade pos-suem rede de esgoto, segundo o professor. O restante dos imóveis lançam na drenagem pluvial - as chamadas “bocas de lobo” - ou diretamente nos riachos. “é um processo de contaminação a céu aberto”.

Barroso acredita que a con-taminação do rio pelo esgoto afe-ta diretamente a biodiversidade. “A água fica eutrofizada (rica em nutrientes) e favorece a prolifera-ção de organismos que consomem muito oxigênio”. Com o aumento do número de seres vivos no rio, a quantidade de oxigênio se torna insuficiente para mantê-los. em consequência, sobrevivem somen-te os mais resistentes que, em ge-ral, são organismos causadores de doenças.

Para a médica Ana Lígia Bar-ros, a falta de esgoto tratado faci-lita a transmissão de doenças, que provocam cerca de 30 mil mortes diariamente no mundo. A maio-ria delas acontece entre crianças,

principalmente as mais carentes. “O acesso à água limpa e ao esgoto tratado reduziria em pelo menos um quinto a mortalidade infan-til. A situação é muito grave”. O contato com a água contaminada pode causar diarréia infecciosa, cólera, leptospirose, hepatite A e esquistossomose, conhecida como doença do caramujo.

Crianças brincam às mar-gens do riacho poluído, cercadas de mau cheiro e pela falta de sa-neamento básico. é assim que vi-vem os moradores do bairro Beira rio. O filho de 11 meses da mora-dora Leidiane Alves já sofre com doenças de pele. “Aqui é ruim para

gente viver. Vive mesmo porque não tem para onde ir, é triste”.

O sistema de tratamento de esgoto de Imperatriz foi inaugu-rado em 1999. é composto por cinco estações elevatórias que bombeiam os dejetos para as três lagoas de estabilização: uma anae-róbia e duas facultativas. O chefe da Divisão de Operação da Com-panhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) de Impera-triz, Waltercílio Goiabeira Júnior, confirma que, em media, 30% dos imóveis da cidade possuem rede de esgoto e, antes de ser lançado no rio, passa por um tratamento natural. Desta forma, não oferece

danos ao meio ambiente.Goiabeira esclarece que as

obras de construção de redes de esgoto têm um custo muito alto. “é aí que está o grande ponto de interrogação. São obras caríssi-mas, geralmente feitas pelo Go-verno Federal em parceria com o

estadual”. ele destaca que a apro-vação de projetos nas instituições públicas é “muito burocrática” e citou a existência, desde 2004, de um planejamento que contempla toda a cidade com saneamento bá-sico. Porém, faltam recursos para a concretização.

Sanitário a céu aberto indica flagrante de dejetos sendo despejados em córrego da cidade

CézAr júnIOr

ADJALBAS MACeDOrODrIGO SOUzA

estudos efetivados sobre os riachos que drenam a cidade como o Capivara, Santa Teresa, Do Meio, Ca-cau e Bacuri demonstram a presença de substâncias químicas com teores elevados, em relação aos padrões normais. São sólidos orgânicos e ele-mentos fosforados e clorados prove-nientes de agrotóxicos utilizados no cultivo de hortaliças e frutas, o que pode causar câncer após a ingestão humana.

Por outro lado, constata-se a baixa capacidade de oxigenação nas águas e a proliferação de fungos, bac-térias e vírus nocivos à saúde humana. Outro fator marcante é a descarac-terização das margens dos riachos, pela supressão de matas ciliares, para construção de residências. A subsecre-tária de Planejamento Urbano e Meio Ambiente de Imperatriz (Sepluma), ru-biny Brigido, alerta que a poluição des-tes recursos hídricos é preocupante, levando-se em conta as suas relações com a comunidade. Principalmente quanto ao riacho Cacau, utilizado pela população como espaço de lazer, nos finais de semana.

rubiny diz, no entanto, que a população tem o hábito de jogar todo tipo de lixo nos rios e riachos, desde colchões até animais mortos. “A secre-taria é ciente da poluição destas águas. Já executamos junto à comunidade, com a participação de organizações

empresariais locais, ações de cons-cientização quanto aos problemas ambientais, como a despoluição das águas, replantio de árvores e aqueci-mento global”.

No rio Tocantins, devido ao grande volume da água e sua veloci-dade de escoamento, pouco se percebe visualmente em termos de poluição, mesmo recebendo águas servidas de di-versas cidades ao longo de seu percur-so. Mas estudos realizados constatam elevados teores de sólidos orgânicos, em determinados trechos, e a presença de resíduos químicos da agricultura.

A prefeitura, segundo a subse-cretária rubiny Brigido, tem buscado na atual gestão sensibilizar a popu-lação para os problemas ambientais que afligem a comunidade. “exceção ao rio Tocantins, a poluição de nossas águas é fato. Não nos permite mais aprecia-las e muito menos banhos, como era comum há 20 ou 30 anos”. ela alerta que tanto a população quanto o poder público devem cuidar para não deixar o riacho do Cacau se tornar um Santa Teresa, Capivara ou Bacuri, “hoje canais de esgoto a céu aberto”.

JeNIFer PeSSOA

VICTOr AUréLIO

O consumo per capita no Bra-sil dobrou nos últimos 20 anos, en-quanto a disponibilidade de água ficou três vezes menor, segundo dados da revista “DBO Leilões”. No âmbito doméstico, a economia depende de uma mudança de cos-tumes em relação a todos os tra-balhos cotidianos e diários. Para a dona de casa raimunda edileusa Conceição dos Santos, 37 anos, a água é vida, e sem ela não somos nada. ela já fez uso da técnica de reaproveitamento. Colocou uma bacia no quintal, armazenou água da chuva e usou-a em diversas ta-refas diárias, como lavar louça e regar plantas.

raimunda lamenta que a consciência da maioria das pesso-as só venha por meio da pressão, como, por exemplo, o raciona-mento realizado pela Companhia de Saneamento Ambiental do Ma-ranhão (Caema). “Se as pessoas não se conscientizarem, a água no futuro será racionada, inclusive pelos poderes públicos. Vai faltar em casa, teremos até mesmo que comprar para beber”.

Quanto ao armazenamento é importante que se tenha cuida-

do no que diz respeito a um local apropriado, atentar para higiene do recipiente e mantê-lo sempre limpo. Para recolher a água é pre-ferível derramá-la sobre o reci-piente de coleta .

O biólogo Marcos Lopes Car-los lembra que as ações do próprio ser humano têm sido responsáveis pela situação catastrófica atual da natureza e clima. “Precisamos agir e o quanto antes”. em casa, por exemplo, o especialista recomen-da não utilizar a água potável para lavar calçadas. “Uma alternativa poderia ser o reaproveitamento da água utilizada em outras ativida-des como o banho, que deve demo-rar apenas o tempo suficiente”.

De acordo com o sub-geren-te da Caema de João Lisboa, An-tonio da Silva Carneiro, todos os moradores devem zelar pelo uso sustentável da água. Por mais que muitos não reflitam, essa atitude inicia desde a água utilizada no simples ato de lavar as mãos até o carro. “estes prejuízos podem não surgir nos próximos dias. Porém, com o passar do tempo, ficarão bem nítidas todas as consequên-cias obtidas pela atual falta de consideração em relação ao uso demasiado e inapropriado de água nos dias de hoje”.

uso doméstico da água exige mudança de hábitos

riachos são depósito de poluição e lixo

Pesquisas indicam baixa capacidade de oxigenação das águas e proliferação de fungos e vírus

rOdrIGO SOuzA SIlVA

4 ArrochaJorn

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Ano I. númEro 1 ImPErATrIZ, AGoSTo dE 2010

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entreVistaPrOfeSSOr jOrGe dInIz de OlIVeIrA

riachos de imperatriz podem desaparecer

JOyCe MAGALhÃeSLeIDe OLIVeIrANAyANe BrITO

Imperatriz está muito quente, o que está causando isso?O desmatamento é o principal motivo, porque quando você desmata tira a proteção da terra. Geralmente os raios solares incidem diretamente na terra e, ao bater, uma parte é absorvida e a outra refletida. Sem as copas das ár-vores a insolação vem direto ao solo e ele fica mais quente. Nós também te-mos assoreado muito os nossos rios, as margens são desmatadas e, conse-quentemente, toda areia vai para o fundo, principalmente nos afluentes que cortam a cidade, como o Bacuri, o Capivara e o Cacau. Diminui a quanti-dade de água que evapora e a umidade não é a mesma.

Com relação ao nível das águas, o que mu-dou desde a enchente que houve na década de 1980?eu vou falar a visão que eu tenho. O ín-dice pluviométrico diminuiu e a quan-tidade de água que cai em Imperatriz, com certeza, não é mais a mesma. e nós estamos vendo períodos chuvosos atípicos com uma quantidade menor. Outra, o rio pode estar tendo uma va-zão maior, devido ao assoreamento, e tem a questão das barragens que de-vem ter diminuído um pouco esse flu-xo e fazem esse controle das enchen-tes. então são fatores antropogênicos [derivados das atividades humanas] e naturais, que podem estar levando a isso. Mas, de um modo geral, a interfe-rência do homem está sendo maior.

A água que chega às residências dos impe-ratrizenses é de boa qualidade?Nós temos feito trabalhos, eu, o pro-fessor Marcelo Francisco e o professor Fábio França, acompanhando a água que a Caema fornece à população. Até agora, temos registrado que são águas de boa qualidade, próprias para inges-tão. Ou seja, dentro dos parâmetros do Ministério de Saúde e da Vigilância Sanitária.

Como é feita a medição da qualidade da água?é feita uma medida na entrada da Cae-ma quando a água é tratada e outra na água que sai para a comunidade. Nós estamos escolhendo bairros aleatórios e fazendo a coleta. Ou seja, temos uma visão da água do rio, que chega à Ca-ema, após o seu tratamento e quando chega às comunidades.

Ao longo do trajeto, a água pode ser con-taminada? De um modo geral as pessoas, quando fazem os seus encanamentos em suas casas, colocam o cano da água junto com o de esgoto. Se o cano que usa água furar e o cano de esgoto também, com certeza, você vai ter uma conta-minação. Mas é pertinente, realmente temos que saber o percurso. Se a água que você consome está ao lado de um cano de esgoto e tendo um vazamento em ambos, com certeza você vai inge-rir uma água com um número maior de bactérias ou outra interferência.

Se a água é tratada, por que fica aquele pó na vela dos filtros comuns?Isso quer dizer que o filtro de onde a água está vindo não está conseguindo reter as menores partículas. Porque de um modo geral os filtros são feitos para reter granulações de partículas. Quando elas são menores, passam. Pode ser também da sua caixa, que você não limpou. Se você perguntar para as pessoas quantas vezes elas limpam as caixas delas, se deixam bem tampadas, você encontra pessoas que deixam uma abertura e o material par-ticular que está em suspensão no ar vai cair dentro. é sempre bom usar o filtro, embora a Caema te ofereça uma água de boa qualidade.

Em Imperatriz existe tratamento de esgoto?efluentes líquidos e efluentes sólidos são termos que ultimamente vem se usando, mas se você quiser usar o ter-mo esgoto não tem problema. Pelo que eu sei não existe nenhum tratamento. Se investiu uma gama de dinheiro para fazer uma estação que hoje não funciona, um desperdício do dinheiro público. O esgoto vai para os riachos Cacau, Capivara, Bacuri e tudo isso vai para o Tocantins. e claro, todos eles recebem de um modo geral todos os efluentes domésticos e hospitalares. Como fazer essa estação funcionar? Não sei até que ponto seria interessan-te recuperar todo aquele material ou partir para uma nova estação. Se fizer uma pesquisa vai ver que era o que ti-nha de mais moderno na época em que foi construída e está em desuso. eu não estou falando só como químico ambientalista, mas como contribuinte.

O que pode ser feito para evitar que o esgo-to não seja despejado no rio?Uma ampla campanha de pressão em cima da Caema e dos governantes, tanto estaduais como municipais para que se tenha uma estação de tratamen-to de esgoto. Se a gente não conseguir numa primeira etapa 100% de trata-mento, pelo menos a gente consegue 50%, o que já ameniza. Como cida-dãos, nós não podemos intervir, mas nós podemos gritar, ir para as ruas e fazer campanhas. Tem tantos políti-cos que dizem que amam Imperatriz, mas não amam na realidade. Porque se amassem iam querer manter uma Imperatriz saneada. Saneamento está na coleta do lixo, dos resíduos sólidos e líquidos, que são esses esgotos. Para a saúde bastam pequenos gestos: tra-tamento de água e de esgoto, coleta seletiva.

Os riachos podem desaparecer?Com a velocidade da degradação sim, infelizmente é isso. Imperatriz cresce na direção das nascentes dos riachos. Os condomínios são criados sem ne-nhum estudo de impacto. Perto do parque das Palmeiras está se criando um condomínio que está aterrando algumas lagoas. O poder público só chega depois que a coisa já desenro-lou. Quando compramos uma casa em determinado bairro ou condomínio, esquecemos de perguntar para onde vai o esgoto.

Você consegue imaginar Imperatriz sem os riachos?eu não consigo imaginar, eu tenho esperança de que todos eles sejam recuperados! São eles que alimentam o Tocantins. Imagine, daqui há 20 anos Imperatriz com todos os trata-mentos de esgoto possíveis e o riacho Capivara e o Bacuri se revitalizando. Mesmo que não voltem a ser aque-les riachos, mas que pelo menos as águas não sejam contaminadas nem poluídas. Pelo menos dar prazer de colocarmos um banquinho, sentar e ficar olhando. Se der de pescar um peixe melhor ainda! (risos)

Se esses riachos desaparecerem, o que vai acontecer?Cidade mais quente, inundações, ala-gamentos. há uma população que mora às margens dos riachos que mui-tas vezes sobrevive deles. A cidade per-de o charme. Vejo outra questão: até hoje se utiliza esses riachos como des-pejo e os nossos esgotos vão pra onde? Temos que ter essa preocupação, mas não vamos perder a esperança.

O que você acha das campanhas feitas em prol das águas? A gente só lembra da natureza na Se-mana das Águas, na Semana das Árvo-res e essas campanhas eram para ser feitas sistematicamente. Não existe mudança de cultura sem ação conti-nuada. Ou seja, não adianta fazer só um dia. Porque nós vamos continuar jogando o papelzinho da bala de bom-bom pela janela do carro.

A água na cidade é usada de forma ade-quada?A gente tem mania de varrer nossas calçadas e nossas casas com água ao invés de varrer e depois lavar. Passa-

mos horas no chuveiro, escovamos os dentes e deixamos a torneira aberta. então isso é um uso indiscriminado de água. Outra coisa interessante: a água que nós tomamos banho é a mes-ma que nós usamos para beber. Nos damos esse luxo, que é caro.

Quais são as doenças que a água traz? São chamadas de doenças de vincula-ção hídrica. São elas: disenteria, ame-bíase, esquistossomose, febre amarela,

peste do mogno, cólera, leishmanio-se e varíola. A primeira chuva arras-ta todos esses tipos de doenças, que você adquire pela ingestão da água ou através do contato.

Durante suas pesquisas, ao fazer a co-leta das águas, você consegue perceber qual é a relação dos moradores com o riacho, com o rio?Quanto mais distante do centro da cidade, maior a relação de carinho que eles têm. Quase não se vê o pes-soal jogando resíduos ao longo do Capivara, Bacuri. Quanto mais pró-ximo do centro, mais deseducados nós somos com o ambiente.

Existe algo que os moradores possam fazer para minimizar a poluição dos ria-chos? Sim. Se você não pode recompor uma mata ciliar, pode plantar algu-ma coisa que ajude a manter a terra fixa, para que ela não seja arrastada para o leito do rio. Você pode colo-car os resíduos num saquinho e se o carro do lixo não passar, coloca lá na rua que passa. Se cada um de nós fizer uma parte, obriga o poder pú-blico a fazer a parte dele, que é tirar os esgotos.

O que o governo pode fazer? em termos de Imperatriz, um amplo saneamento desses resíduos líqui-dos, criar uma estação de tratamen-to compatível. Ou então tentar fazer com que pelo menos 80% ou 70% do esgoto da cidade seja tratado. Se a gente apenas tirar esses esgotos, o metabolismo do rio vai ficar o mes-mo, a quantidade de dejetos já não seria a mesma, consequentemente ele iria se regenerar.

Quais os impactos da hidrelétrica de Es-treito no rio Tocantins?em primeiro lugar vai diminuir o fluxo de água do Tocantins. Os lagos que vão se formar com essa hidre-létrica estão dentro do leito do rio. ela é diferente das outras, que for-mam seus lagos fora do leito. A pri-meira coisa que as pessoas pensam é que vai deixar de ter enchente. Uma chuva maior, eles vão ter que abrir as comportas. Qualquer empreen-dimento que está ligado à natureza, sempre tem um impacto. Agora o que cabe a nós é a amenização desse impacto. As águas do rio Tocantins são barrentas devido aos sedimen-tos. então imagine quando uma des-sas turbinas estiver funcionando.

Progresso e água combinam?Claro que combinam. Não existe nada no mundo que ocorra sem a água. é importante para tudo, higie-ne pessoal e motivo de recreação. Quem não gosta de tomar banho numa piscina, num rio? eu tenho que adequar o progresso à qualidade de vida que quero, ou seja, proteção dos mananciais e dos rios. Crie suas fontes, seus condomínios, usem seus carros, mas respeitando sempre a natureza. Isso é que é importante.

há oito anos o professor Jorge Diniz de Oliveira desenvolve pesqui-sas voltadas à química ambiental. Já analisou parâmetros físico-químicos das nascentes do riacho Cacau e de-senvolveu trabalhos nos riachos Capi-

vara e Bacuri. Atualmente, acompan-ha o processo de tratamento da água que a Caema fornece para a cidade de Imperatriz.

Formado em química industrial pela Universidade Federal do Mara-

nhão (UFMA), licenciou-se na mesma área pela Universidade estadual do Maranhão (UeMA). O mestrado foi em química inorgânica pela Universi-dade Federal do Ceará (UFC) e o dou-torado em química pela Universidade

estadual Paulista (Unesp), Instituto de Química de Araraquara. Jorge Diniz também foi assessor de projetos na Secretaria de Meio Ambiente durante a gestão do ex-prefeito Jomar Fer-nandes (2000-2004). em entrevista

concedida no laboratório de química do Centro de estudos Superiores de Imperatriz (Cesi/ UeMA), o pesqui-sador aborda, entre outros temas, o tratamento de esgoto em Imperatriz e a poluição de suas águas.

Às margens do riacho Bacuri, professor Jorge Diniz de Oliveira avalia os impactos causados pela ação humana e aponta soluções

CézAr júnIOr

“Se investiu uma gama de dinheiro para fazer uma estação que hoje não fun-ciona, um desperdício do

dinheiro público”.

“Quanto mais distante do centro da cidade, maior a relação de carinho das pessoas com os riachos”.

5ArrochaJorn

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zOna ruraLAgricultura é a atividade que mais consome água, segundo especialista, ocupando cerca de 70% da bacia hidrográfica brasileira

má irrigação no campo afeta a produtividaderODrIGO reIS ThAyS ASSUNçÃO

Cinco horas da manhã. Impe-ratriz ainda dorme. Mas na zona ru-ral da cidade, localizada ao redor do aeroporto, o senhor Antonio Fran-cisco já está preparado para mais um dia de trabalho. Com um chapéu de palha na cabeça, e abaixado junto aos canteiros, seu Francisco planta, aduba e molha as hortaliças do seu lote. ele e outras famílias moram na área do Centro de Difusão Tecnoló-gica (CDT), onde desenvolvem horti-cultura e preservam o local.

Sem saber a quantidade que a planta realmente precisa para pro-duzir, os pequenos agricultores ou jogam água em excesso ou em escas-sez. Na maioria dos casos, ocorre o desperdício durante o processo de irrigação. O desconhecimento sobre o uso da quantidade correta de água, principalmente no período chuvoso, traz perdas na produção para os mo-

radores do CDT. O horticultor Cled-son Ferreira Silva afirma que nessa época a produtividade é prejudica-da. “hortaliça não gosta de chuva”.

Para resolver o problema, pes-quisadores da Universidade estadual do Maranhão (UeMA) estão medin-do a quantidade de água que cada cultura precisa para produzir bem. “No meio rural, a agricultura é a que mais consome água, 70% da bacia hidrográfica brasileira. Precisamos trabalhar com tecnologia para mini-mizar isso”, diz o professor doutor em solos, Wilson Araújo, idealiza-dor do projeto “Manejo racional da Água”, desenvolvido no CDT.

A comunidade já está sendo beneficiada com as ações, conforme explica o bolsista Leonardo Barros. “Já ministramos palestras às famílias sobre a utilização de água, e nesta segunda fase vamos mostrar as me-didas exatas em litros que eles de-vem irrigar as plantas”. A alface é a primeira cultura a ser pesquisada,

devido a sua popularidade na região. “Outras serão pesquisadas futura-mente”, complementa outro bolsista da pesquisa, roberto ramalho Mo-rais.

Na área do CDT a produção obtida é totalmente natural e ven-dida individualmente pelas famílias. Algumas comercializam para escolas e supermercados da cidade, outras vendem em feiras da cidade. A horti-

cultora Marinete de Jesus do Nasci-mento diz que o Mercadinho é o seu principal local de vendas: “quando eu planto verdura, eu vendo mais no Mercadinho, e por lá tiro o meu sa-lário. Dá de viver”.

Com quase um ano de pesqui-sa, as famílias ainda têm receio da aplicação dos resultados. “esses pro-jetos são muito bons, mas não dão certo porque o governo não investe

no pequeno agricultor”, desabafa Cledson Ferreira da Silva. De acordo com o bolsista Leonardo Barros, essa visão dos horticultores prejudica a pesquisa. “Pela falta de investimento do governo, os pequenos agriculto-res, como estes, ficam desacredita-dos em qualquer tipo de projeto que possa favorecê-los”.

eLICLéIA DALLO

JULIANA CArVALhO

“Dona Cícera, me vê um copo d’água?” São dez horas da manhã, a temperatura é de cerca de 30 graus. O forte calor e o prato de panelada recém engolido pelo consumidor levam a um copo d’água gelada ce-dido pela paneleira da avenida Ber-nardo Sayão. Mas, quando se come fora de casa, qual a garantia da qualidade da água e dos alimentos ingeridos?

Na barraca da panelada, a água oferecida aos clientes é ar-mazenada em uma garrafa térmica que comporta 12 litros. Dona Cíce-ra fabrica o gelo em casa utilizan-do água filtrada e completa o reci-piente com a água da torneira da

pia, instalada por exigência da Se-cretaria Municipal de Planejamen-to Urbano e Meio Ambiente. Já do outro lado da rua, a estrutura não é a mesma, não há pias. Para lavar as louças são utilizados baldes.

No restaurante Popular de Imperatriz, os legumes e as ver-duras são deixados 15 minutos na água com cloro para higieniza-ção. Além de suco, a clientela tem à disposição um bebedouro. Os alimentos são cozidos com água fornecida pela Companhia de Sa-neamento Ambiental do Maranhão (Caema). Porém, a chefe de cozinha do local, Sônia Mota, não confia no tratamento de água da companhia. “Tem dia que ela chega na minha casa com um cheiro de Kiboa mui-to forte. eu não confio, mas como

eu não posso comprar mineral...”.Já no restaurante japonês,

um fato curioso é o consumo do peixe, que pode se contaminar por meio da água e transmitir doenças. A nutricionista explica que o sal-mão é importado, portanto vem com o certificado de qualidade; en-quanto a pescada amarela é prove-niente do Pará, de um fornecedor

confiável.O estudante de Direito raffael

Milhomem fala da água servida nos três lugares. “Na panelada creio que seja torneiral e nos outros dois am-bientes, filtrada. Não pago pra ter água mineral, esse é um luxo não necessário”. O importante, consumi-dor, é ficar de olho no que se come e bebe, dentro e fora de casa.

restaurantes se preocupam com limpeza de alimentos

“Quatro Bocas” adequou sua estrutura com pias e torneiras para lavar louças usadas pelos clientes

rOzANy rIBeIrOLIerBeTh SÁMAyArA FerreIrA

enquanto no “Camelódromo” se mata a sede com um belo copo de água gelada, chamada “torneiral”, sem gastar um centavo a mais, qua-tro quarteirões depois, no entorno da praça da Cultura, uma garrafinha de água mineral chega a custar r$ 2,50.

Deusa Oliveira hamada, pro-prietária de um movimentado restau-rante do centro velho diz que chega a vender, em média, 30 garrafas por noite. A água da torneira, ela garan-te, só é usada para lavar a louça e na limpeza geral. Já no preparo dos su-

cos se usa água filtrada, a mesma que também é utilizada na fabricação do gelo que acompanha os drinks. Todo este consumo não sai por menos de 3 mil reais na conta de água, mas a empresária assegura que o gasto não interfere no valor do prato.

Para justificar a venda da água mineral, Dalva diz que nem chega a oferecê-la no copo para o cliente, pois já sabe que ele pode desconfiar da procedência. No “Camelódromo”, para quem vende comida, o líquido sai de graça. Isso porque o prefeito da administração anterior os isen-tou da taxa de água e esgoto. Dona de uma banca de comida no mesmo

local, Vanda Melo já tentou vender água mineral, mas não teve lucro. De lá pra cá, para acompanhar o prato feito, popular “PF”, ela só vende refri-gerantes. “O povo não tem dinheiro para comprar água”.

Quem lucra? - Os exemplos citados justificam o crescimento do lucro de outros segmentos do comércio em Imperatriz. Uma das maiores empre-sas engarrafadoras da região se negou a revelar o quanto fatura. A julgar pela presença da marca na maioria dos ba-res e restaurantes, deduz-se que não é pouco. As lojas de purificador de água também bebem dessa fonte. é só

percorrer a avenida Dorgival Pinheiro para perceber. O mais caro pode cus-tar até 1,4 mil reais. Mas um filtro de barro pode ser encontrado no Merca-dinho por 20 reais.

A desconfiança para com a água “torneiral” acaba ajudando os distri-buidores de água mineral em galão. O primeiro galão de 20 litros comprado custa cerca de 20 reais. Depois o clien-te pode até optar por receber em casa um fornecedor que troca o “vasilha-me” vazio por outro cheio pelo preço de r$ 7. A busca por uma boa saúde ou por um imagem saudável é o mo-tivo mais explorados por quem quer lucrar neste setor.

Da torneira ao filtro, gastos podem chegar a r$ 1,4 mil

LArISSA SANTANAMArIA ChAVeS

De onde vem a água servida em lanchonetes e como certificar a sua qualidade? em Imperatriz, na praça de Fátima, um X-tudo sem-pre vem acompanhado de suco ou refrigerante. “Nosso suco é natu-ral, espremido e batido na hora. A água é o gelo que misturamos à fruta e esse gelo vem do Pivas. A água mineral que vendemos é Indaiá, o refrigerante é da Coca e river”, confirma Ozélias Júnior, funcionário de uma lanchonete.

Segundo Juliana Bonfante, proprietária do Pivas, a água vem da Caema. “Temos uma cisterna. A bomba leva até uma caixa, e des-ta passa por um filtro, depois por uma máquina, aí vira gelo, e a Vi-gilância Sanitária fiscaliza. e assim nós distribuímos gelo pra toda a cidade”.Dois poços de 60 metros são as fontes da Indaiá. Desses poços, a água vai para um reser-vatório, em seguida para a área de produção e envasamento. A quí-mica Nildete Lima disse que a em-presa distribui água para o Sul do Maranhão, o Tocantins e Pará. O Departamento Nacional de Produ-ção Mineral (DNPM) e a Vigilância Sanitária fiscalizam anualmente a qualidade do produto.

A água do river é de poço, os testes de qualidade são feitos por uma química e fiscalizados pela Subcoordenadoria de Vigilân-cia Sanitária (Suvisa). Ana Paula, assessora jurídica do órgão, afirma que as equipes são divididas para fiscalizar os empreendimentos da cidade, para saber se a qualidade da água consumida por eles é de baixo, médio ou alto risco.

empresas do ramoconfirmam pureza

AdjAlbAS mACedO

Famílias que vivem da agricultura em Imperatriz têm recebido orientações a respeito das medidas exatas em litros para irrigar as plantações

mArCuS TúlIO

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ÂNGeLO VerDerOSI

DIêGO LeONArDO

recepcionados ao som do bem-te-vi, em um primeiro momento a mu-lher e sua família nos recebem com uma expressão de espanto e descon-fiança. Mas em pouco tempo a cordia-lidade toma conta do lugar. Cecília de Sousa rodrigues, 43 anos, é uma ca-bocla de cabelos lisos com leves fios brancos que, na verdade, parecem tei-mar em estar ali. é exatamente a per-sonagem que procurávamos.

No seu rosto vemos as marcas deixadas pelo sol, devido a anos de exposição sem nenhuma proteção. Pedro, seu marido, com um cigarrinho de palha na boca, parece não acreditar que estamos ali querendo saber sobre a história de vida de sua esposa.

Dona Cecília nasceu às margens do “imperador”, o rio Tocantins, no es-tado de mesmo nome, povoado Boca da Barra, onde reside até hoje. A sua casinha de taipa, feita da aglutinação de barro em um traçado de madeira, coberta de palha, tem em sua volta mangueiras e cajueiros que, além de frutos, dão a sombra necessária. há cerca de quatro anos a energia chegou ao local e Cecília comprou seus pri-meiros eletrodomésticos: fogão, gela-deira, televisão, ventilador. A TV é o seu xodó e ela não perde uma novela.

Botos e lua - Casada, mãe de dois fi-lhos, João Pedro, 9 anos e Juliana, 2, ela é pescadora desde a infância. Cos-tumava acompanhar o pai, também pescador e aprendeu a profissão com ele. “Antigamente o rio era mais limpo. hoje meus próprios vizinhos jogam lixo, então fica difícil preservar”.

A pesca representa o sustento da família e a renda oscila entre 200 a 300 reais por mês. O boto e a rede de arrasto são os principais concorren-tes, sendo que esta última, apesar de ser proibida, é muito utilizada pelos pescadores e gera diminuição do pes-cado. Já o boto, além da lenda de virar rapaz e seduzir as mulheres na beira do rio é uma ameaça real. “ele come muito. Além disso, ainda fura toda a rede. Por isso, o peixe tá tão difícil”.

Somente no período da pira-cema, época da desova dos peixes na qual a pesca fica proibida é que a fa-mília ganha um pouco mais, pois re-cebe o seguro-desemprego, no valor de um salário mínimo. A lua na fase quarto crescente é o estágio ideal para pesca no imaginário dos pescadores. entre os peixes mais capturados estão o mampará, o voador, a branquinha e o curimatá. em relação ao futuro, Ce-cília deseja algo melhor para os seus filhos. espera que João Pedro e Juliana estudem e assim consigam vencer na vida. Uma mulher, um rio, um ofício.

ADeLAIDe rODrIGUeSLArISSA SANTOS

A proximidade dos morado-res com as águas, em Imperatriz, gera profunda relação de ódio e amor. eles sofrem anualmente com as enchentes sendo obrigados a saírem de suas casas, perden-do bens materiais. Mesmo assim, quando perguntada sobre o sen-timento pelo local onde moram, algumas respostas são positivas. “Nós somos muito felizes aqui”, declara Maria Amélia. Cícero de Souza, outro morador da Beira rio, é pescador: “o rio faz parte de mim”.

Muitos moradores residentes próximo do riacho Bacuri, o mais conhecido da cidade, relatam que hoje ele representa tristeza, peri-go, mau cheiro. Ao mesmo tempo, nutrem a esperança de um dia ele voltar a ser limpo como antes.

A situação dos riachos e do rio Tocantins é precária e alar-mante. A falta de mata ciliar nas margens de seus cursos provoca a perda dos nutrientes da água, di-minuindo sua qualidade, além de causar erosões. A grande quan-tidade de sedimentos dificulta o tratamento e o abastecimento das águas da cidade. A ausência de ve-getação nas encostas dos córregos

e do rio faz com que o solo não absorva as águas das chuvas, cau-sando enchentes.

essa realidade já vem preo-cupando o poder público. Medidas governamentais estão em anda-mento na busca de revitalizar o riacho Bacuri e contribuir na pre-servação do rio Tocantins, já que ele é o destino dos riachos.

De acordo com a assessora técnica em planejamento do Cen-tro de referência do Projeto de Aceleração do Crescimento (PAC) Andessandria elizeu, o projeto tem várias ramificações e dentre elas está a revitalização do riacho Bacuri desde a Br-010 até a sua

foz no rio Tocantins. A ação atin-girá diretamente 400 famílias com casas a 15 metros de suas margens e estas serão remanejadas para o recanto Universitário.

O espaço, localizado no bair-ro Bom Jesus, próximo ao novo campus em construção da Uni-versidade Federal do Maranhão (UFMA), está com 45% de suas obras concluídas. Os demais mora-dores que permanecerem no local serão acompanhados de maneira efetiva para não voltarem a poluir o rio e os riachos.

em 2007, ano de implan-tação do PAC, houve uma grande resistência dos moradores quanto

à localização das novas casas. O problema ainda existe, mas essa situação vem mudando. A asses-sora do PAC, Sara Leal, relata que o processo de cadastramento das famílias era marcado por rejeição. “Muitas pessoas não queriam co-nhecer o local das novas casas. As poucas que foram são as que acei-taram”.

hoje essa situação é dife-rente, pois as pessoas já buscam o Centro de referência para conhe-cer o projeto. Um dos principais incentivos é o auxilio da mídia, que tem divulgado os detalhes do empreendimento, demonstrando de forma efetiva a sua existência.

ANNA PULGATTILUISA MArIA CIrQUeIrA

MArIA TALITA BeSSA

No entorno das águas de Imperatriz centenas de pessoas construíram suas casas, histórias de vida e laços de amor. A cidade, conhecida como a “Princesa do To-cantins”, por ser proveniente do rio de mesmo nome, é rica em águas e banhada por diversos riachos e córregos que durante muitos anos foram o berço, a vida e a esperan-ça dos ribeirinhos. Como Maria do Amparo, 59 anos, que mora às mar-gens do Bacuri. “eu banhei nesse riacho, vi crianças brincando nele e muitos homens pescar. Dava gos-to em ver”.

emocionada, a moradora Odete Barbosa Lima, 79 anos, ri-

beirinha há mais de 40 anos, relata que o riacho Bacuri, na década de 1980, possuía uma largura de no máximo um metro e os moradores podiam atravessá-lo com apenas uma passada. “ele não representava perigo para a população local. Mo-rar perto do Bacuri era agradável, a gente não tinha medo dele provo-car doença, porque era limpo, até da sua água o povo bebia”.

Geógrafa e pesquisadora, Alessandra Ferreira estuda os ria-chos e córregos de Imperatriz. em suas pesquisas os ribeirinhos afir-mam que se instalaram ao longo desses riachos sem saber que com isso trariam danos futuros a essas águas.

Alessandra conta ainda, que antes do desordenado crescimento

habitacional que a cidade sofreu, a vegetação predominante era de floresta amazônica. havia muita diversidade de animais, principal-mente as capivaras e por isso o riacho recebeu o nome do animal. A geógrafa conclui que o percurso das águas era “mais uniforme e até os leitos eram mais virgens e trans-parentes”.

Mesmo diante da situação atual dos riachos e córregos de Im-peratriz, as pessoas que moram às suas margens ainda sonham com a revitalização e a volta daquelas águas que tanto proporcionaram alegria e subsistência. Dona Odete diz que não vai perder a esperança. “Não pretendo sair daqui, porque tenho fé que um dia ele ainda há de ser como era”.

reLaçãOem pesquisas, ribeirinhos dizem que se instalaram às margens dos córregos em Imperatriz sem saber que poderiam provocar eventuais danos futuros

Histórias de vidas à beira das águas

rio tocantins é fonte de trabalho e sustento para os pescadores

abandono dos córregos desperta consciência dos moradores

mArCelA bArrOS

Moradores não temiam beber da água dos córregos, onde crianças brincavam e homens pescavam

POllyAnnA CArneIrO

Pescadora Cecília Rodrigues, que aprendeu a profissão com o pai, retira do rio Tocantins, ao lado da filha, renda de até R$ 300/mês para a família

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LUANA BArrOS

NíCIA De OLIVeIrA

O quiosque que fica entre as famosas peixarias e a área de lazer da avenida Beira-rio, exatamente na entrada que dá acesso ao chamado Cais do Porto, é administrado por raimunda Santana, de 38 anos. Além de trabalhar na Beira-rio ela também mora no setor, sabe bem como é o cotidiano no ponto mais conhecido da cidade.

Muito visitado por turistas de todo o país, segundo confirma a comerciante, não há em Imperatriz melhor lugar para passar a noite. “eu amo a Beira-rio. Apesar da fal-ta de segurança e organização, eu e o povo da cidade temos uma liga-ção com esse lugar”. Atualmente o Ministério do Turismo liberou r$ 3,5 milhões para a revitalização da avenida conforme, consta na Nota de empenho encaminhada à prefei-tura.

De acordo com alguns histo-riadores e moradores, em 16 de julho de 1852 os indígenas que moravam

às margens do rio Tocantins perce-beram, assustados, a chegada de um navio. esse é o cenário da história da cidade desenvolvida à beira das águas, que emprega, diverte e guar-da a cultura local. Além de oferecer aos interessados uma inigualável imagem do pôr-do-sol ao degustar uma caldeirada de peixe na avenida projetada às suas margens.

Mudanças - Construída no segundo semestre de 1994, no período em que José de ribamar Fiquene assumiu o governo do estado, a avenida Beira-rio é palco de muita diversão, bebe-deiras, trabalho e exercícios físicos. O objetivo da construção dessa via no lugar onde se localizava apenas o Cais do rio Tocantins, peixarias e o Mercado Municipal do Peixe era transformá-lo em um espaço públi-co que valorizasse a margem do rio, palco do surgimento da cidade. A es-trutura atual foi construída no pri-meiro governo de roseana Sarney, quando seu projeto foi modificado.

Durante todos esses anos a Beira-rio já acomodou circos, trios

elétricos, shows e festivais musicais, bem como desfiles de blocos e esco-las de samba. hoje, há uma infinida-de de barracas que vendem comidas e bebidas, camelôs, bares, quiosques e as famosas peixarias.

Nas primeiras horas do dia é possível ver inúmeros trabalhadores ganhando seu sustento acordando cedo e indo às margens do rio To-cantins pescar o peixe de cada dia. e quando esses trabalhadores estão voltando para vender o que pesca-ram encontram pessoas cuidando do bem-estar físico. São os adeptos da caminhada que fazem seus exer-cícios apreciando as belezas das la-goas e do rio.

existem pessoas que recordam como era o lugar e defendem a idéia de que o ponto turístico era mais bo-nito antes de sua construção, como conta ezequiel Campelo, 46 anos e morador das imediações desde quan-do era apenas um menino de 6 anos. “Aqui era o lugar mais lindo, quando era só o Cais. era mais popular e não tinha malandragem”.

Beira-rio é palco de história e diversão

GerUSA ALVeS

MAyANe LIMA

Usufruir a água como diver-são, além de refrescante, auxilia o corpo a se exercitar com menos impacto. Por isso, não basta apenas pensar no lazer, mas também saber aproveitá-lo de forma plena, levan-do em conta os atrativos que cada ambiente oferece.

Alguns clubes em Imperatriz proporcionam serviços que vão desde esportes aquáticos, hidro-ginástica, banho em piscinas na-turais até pesca, acomodações em chalés e passeios a cavalo. As con-dições das águas utilizadas nesses lugares precisam ser garantidas por tratamento adequado e acompa-nhamento por especialistas, como bioquímicos.

Bactérias e fungos geral-mente aparecem quando falta clo-ro na água. Por isso o uso deste e outros produtos é indispensável. As doenças causadas pela água da piscina podem ser evitadas com o tratamento correto da água e com atitudes simples como: secar bem o corpo (principalmente pés e viri-lhas); manter a higiene pessoal bem feita e evitar que as infecções pio-rem e se alastrem por outras partes do corpo.

Para quem não gosta de clu-

bes, há a possibilidade de desfrutar, no período de veraneio, das praias do rio Tocantins. Nessa época elas se tornam um dos locais mais fre-quentados. A predileta dos impera-trizenses é a praia do Cacau, uma das mais antigas, por apresentar maior área, atrações musicais, tor-neios de beach soccer, barracas mais estruturadas, segurança e apoio. “A parceria entre a prefeitura de Im-peratriz, Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros só veio para garantir uma maior segurança do banhista imperatrizense”, afirma o sargento Valdernildo Soares Gomes, do 3º Grupamento de Bombeiros.

Cuidados - No início desse ano a história de ronald haddad Negrei-ro despertou a atenção de Impera-triz e teve repercussão nacional. em uma brincadeira combinada com amigos, ele desapareceu nas águas do Tocantins, após ter pulado da, “duplamente inaugurada” e por fim “batizada”, ponte Dom Afonso Feli-pe Gregory. relatos relevantes para mostrar as duas faces do lazer nas águas do rio Tocantins. Um mis-to de alegria proporcionado pelos momentos de entretenimento que não deve afastar os cuidados neces-sários para se divertir. Pois, como dizem os antigos, “água não tem cabelo”.

GIzeLLe MACeDOMAríLIA OTerO

Muitos artistas já demonstra-ram o seu amor pela cidade. e como toda Imperatriz tem seu imperador, também ele - o rio Tocantins - já inspirou lindas canções, poesias e obras emocionantes dos filhos des-sa terra.

entre eles está o escritor, po-eta e músico José Bonifácio Cézar ribeiro, o zeca Tocantins. ele nas-ceu em Xambioá (TO) em 1958, mas possui coração imperatrizense, pois reside na cidade desde 1963. “Você não nasce só uma vez, eu nasci aqui artisticamente”.

A sua relação com as águas não é recente. zeca relembra com emoção do seu pai. “ele era pescador, minha vida toda foi em uma canoinha pra cima e para baixo no Tocantins. O rio é meu terreno”.

Na última estrofe da poesia “Meu rio”, de autoria do compositor,

ele declara o seu amor e admiração: “Você conhece meu rio?/ Ah, por cer-to não conhece/ Nem sabe o que vi-bra em mim/ Ao olhar o Tocantins”. O artista tem cerca de dez músicas também relacionadas ao tema. entre elas está “Cais” na qual zeca traça

alguns lugares, cidades e serras que estão às margens do rio.

Mas para ele a canção que me-lhor define essa relação é ‘Imperador Tocantins’, de Carlinhos Veloz. A letra descreve os detalhes daquelas águas, as espécies de peixes que elas abrigam, os riachos, as canções nele inspiradas e as brincadeiras das crianças: “Do lado daquela cidade / existe um rio

de eternidade / Amores e barcaças / e barrancas e capins / Tucunaré piau e um matagal que é sem igual / riacho do cacau a desaguar no Tocantins”

O ambientalista e escritor Do-mingos Cezar, que preside a Fun-dação rio Tocantins - Memorial do Pescador idealizou a obra “Alerta rio Tocantins”. Já no início do livro, cha-ma a atenção do leitor para a histó-ria que irá contar: “espero que seja um sonho/ que não se concretizará/, mas se continuar desse jeito/ só res-ta enfim lamentar”.

Segundo Cézar, a pesca pre-datória tem sido um fator que con-tribui para destruição dos peixes que habitam o rio Tocantins. Uma pequena estrofe do seu livro resume esse pensamento: “De tanto fazer barragens / o Tocantins foi cortado / ele era bicho feroz / virou um bi-cho domado. / Nossos cardumes de peixes / penaram um bom bocado / sem forças para subir a rampa pro outro lado”.

rio tocantins nos versos de seus poetas

“Como toda imperatriz tem seu imperador, o rio

Tocantins já inspirou obras emocionantes”

águas: lazer e perigo em imperatriz

AnA PulGATTI

mArCO A. GeHlen

Clubes em Imperatriz proporcionam serviços que vão de esportes a passeios a cavalo

8 ArrochaJorn

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