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INTRODUÇÃO
O uso de espécies vegetais cultivadas ou florestais com uso medicinal está no imaginário popular.
Questões de saúde são associadas tanto ao uso popular, ao uso tradicional quanto a utilização chamada
de racional, baseada no conhecimento científico. Respondendo às demandas nacionais e internacionais
pelo desenvolvimento deste setor produtivo, foi publicado o Programa Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos (PNPMF) (BRASIL, 2007). Na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, desenvolvem-se
ações locais deste programa. Elas são objeto do Projeto Modelo Socioprodutivo Agroecológico de Plantas
Medicinais, iniciativa do Instituto de Tecnologia em Fármacos, Farmanguinhos / Fiocruz em parceria com o
Instituto Três Rios da UFRRJ, através do Programa de Extensão “Ampliação e fortalecimento das
atividades agroindustriais das associações de agricultores do Maciço da Pedra Branca do Rio de Janeiro”.
Chamaremos Profito a esta parceria entre as duas inciativas (fig.1, fig.2, fig.3, fig.4). Os integrantes do
Profito são agricultores com características tradicionais. Sua atividade principal é a fruticultura
(FERNANDEZ, 2010). Aparece, no entanto, o cultivo plantas medicinais como fonte de renda
complementar e o uso popular e tradicional no território. O grupo inicialmente selecionado para esta
experiência realiza desde 2001, a Feira Orgânica de Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro. Por
toda a região, e, em várias feiras livres há oferta e procura de espécies medicinais.
Foi registrada a demanda¹ expressa pelo agricultor Claudino Avelino de Souza que parece ser
representativa do coletivo. Este agricultor afirma que “gostaria de poder ensinar as pessoas o uso das
plantas. Ter alguém que os orientasse sobre para que ‘serve’ cada tipo de planta. Se ele soubesse
para que ‘servem’ as plantas, animaria as pessoas a comprar e utilizar o produto”.
Elaboramos a hipótese de que o consumidor pode ter um acesso maior à informação tecnológica
e científica e que os jovens motivados à prática da agroecologia podem contribuir mediando o uso da
internet. Da organização de agricultores e jovens pode emergir um modelo local de comunicação e
informação capaz de usar conceitos biomédicos ao lado dos saberes tradicionais e, com isto, trazer
segurança as partes envolvidas na comercialização e fortalecimento da solidariedade entre gerações.
_________________ ¹Documento de Trabalho da extensionista Marcia Cristina de Oliveira Dias em 19/06/2012.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos sete agricultores entrevistados, três não fazem a venda. Segundo o agricultor Arnaldo Avelino há “mais de
50 anos de feira, não vendo nada em vão, coisas que conheço, tenho mais conhecimento com coisa de roça do que
plantas medicinais”. Os que costumam comercializar plantas medicinais, relatam que alguns consumidores compram
mesmo com duvidas e outros levam, porque eles explicam. Duas pessoas relatam terem identificado preconceito no
momento da venda. Uma agricultora afirma sua segurança: “sei que estou no caminho certo” e outra relata “sempre tem
um louco (sic) que diz que é mentira, só explico que é verdade”. Há uma ênfase na vontade de ensinar, de poder
transmitir seus conhecimentos. A agricultora Dalila Sylvia descreve PM como “uma coisa que faz bem ao próximo”.
Alguns veem o conhecimento científico como algo desnecessário. Outros admitem a necessidade da união entre
saberes popular e científico. Dentre estes os meios de informação mais utilizados são a televisão e o celular, seguido de
perto pelo livro (fig. 5).
LITERATURA CITADA
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Programa Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos. – Brasília: Ministério da Saúde, 2007.
2. FERNANDEZ, Annelise Caetano Fraga. Do sertão carioca ao Parque Estadual da Pedra Branca: a construção social de uma unidade de
conservação à luz das políticas ambientais fluminenses e da evolução urbana do Rio de Janeiro. Tese de Doutorado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Sociologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de
Doutor em Sociologia. Rio de Janeiro, 2010.
3. GOMEZ, Maria Nélida G de; CANONGIA, Claudia, (Org.) Contribuição para políticas de ICT. Brasília : IBICT, 2001.
4. MAGALHÃES-FRAGA, S. A. P.; Oliveira, M. F. S. Escolas Fitoparceiras: Saúde, Ambiente e Educação através das Plantas Medicinais.
Revista Fitos, Pesquisa Desenvolvimento e Inovação em Fitoterápicos, V. 5, n.1 – 2010.
5. McLUHAN, M. 1964. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo, editora Cultrix.
6. SILVA, Inês Machline; PEIXOTO, Ariane Luna. O abajurú (Chrysobalanus icaco L. e Eugenia rotundifolia Casar.) comercializado na cidade do
Rio de Janeiro, Brasil. Rev. bras. farmacogn., João Pessoa, v. 19, n. 1b, Mar. 2009 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-695X2009000200025&lng=en&nrm=iso>. Access
on 05 Nov. 2012. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-695X2009000200025
PLANTAS MEDICINAIS: DIÁLOGO ENTRE TRADIÇÃO E CIÊNCIA MEDIADO POR TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO
Autores: Thales Félix de Souza¹, Marina Montesano², Sílvia Regina Nunes Baptista³, Annelise Caetano Fraga Fernandez4
1. Graduando de Ciências Sociais da UFRRJ, bolsista do Programa de Extensão do Ministério de Educação e Cultura (PROEXT/MEC). [email protected]
2. Graduanda de Comunicação Social da UFRRJ, bolsista do Proext / MEC. [email protected]
3. Estudante de mestrado do Programa de Pós-graduação em Informação e Comunicação e Saúde - ICICT/FIOCRUZ. [email protected]
4. Orientadora, doutora em sociologia, pesquisadora do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais - PPGCS/UFRRJ. [email protected]
Palavras-chave: Agricultura. Plantas Medicinais. Feiras Orgânicas. Informação Científica. Comunicação.
MATERIAL E MÉTODOS
Busca bibliográfica sobre a pequena produção agrícola no município do Rio de Janeiro, sobre plantas
medicinais, sobre os conceitos de informação e de comunicação. Outra frente de investigação é o
acompanhamento das reuniões dos agricultores voltadas a este tema e um diagnóstico da comunicação
neste coletivo. Por fim, foi feito também um acompanhamento de oficinas sobre horta comunitária em uma
escola de ensino médio. Em uma destas oficinas foi aplicada a técnica do grupo de discussão (WELLER,
2006). A seleção de métodos e técnicas empregados prevê também a realização de entrevistas
semiestruturadas com alguns atores estratégicos na cadeia produtiva local de PMF. Está prevista a seleção
dos discursos gravados em vídeo abordando o uso e o comércio de plantas medicinais (decoupage).
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO XXII JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFRRJ
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A investigação realizada identificou consumidores que buscam o produto já industrializado, rotulado e não a
planta in natura. Ainda assim foi registrado um movimento de busca de plantas in natura. Os consumidores confiam no
conhecimento tradicional dos agricultores. Em geral, fazem buscas em sites da internet ou em livros para ampliar as
informações recebidas. O que parece confirmar o pressuposto de que entre os consumidores o uso da informação
tecnológica e científica é maior que entre os agricultores.
Os estudantes da escola de nível médio também demonstraram um conhecimento de várias espécies
vegetais. Descrevem que este conhecimento é fruto dos diálogos, principalmente, com a mãe e a avó, seguido de tias,
vizinhos, pais. Seu vínculo com as gerações anteriores parece forte. A burocracia é apontado como um fator que
dificulta a comercialização, ao lado da falta de regulamentação e de uma política pública do setor de saúde local sobre
PM.
Tanto a feira como a escola podem ser inseridas no Modelo Socioprodutivo Agroecológico de Plantas
Medicinais projetado para a região. Através da observação participante foi identificado um ambiente mais voltado para
a troca do que para a comercialização, compreendida como um fundamento de vínculos solidários. Aparentemente a
demanda diz respeito a valorização do conhecimento tradicional frente aos saberes biomédicos. Ou seja, parece ser
uma necessidade de empoderamento como condição para o comércio.
Figura 5: Acesso a tecnologias da informação pelos agricultores da Feira Orgânica de Campo Grande (RJ / RJ)
1 2
3 4
Fo
tos d
o a
ce
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Pro
jeto
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fito
Figura 1: Carqueja (Bacharis Trimera) uma das plantas
mais procuradas, pertencente ao Bioma Mata Atlãntica.
Figura 2: Exemplo de exsicata: fundamento da
determinação botânica das espécies cultivadas na Zona
Oeste da Cidade do Rio de Janeiro.
Figura 3: Ações de ciência e tecnologia nesta região são
realizadas pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos
(Farmanguinhos – Fiocruz). Algumas ações são feitas
com a participação dos agricultores integrantes desta
investigação.
Figura 4: Uma das ações do Projeto Profito é a formação
continuada destes agricultores. Nesta foto, os
agricultores confeccionam uma exsicata.