john brunner - o terror vem do espaço

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1Pareceu um milagre a Merry quando o Imortal entrou no vestbulo do grande hotel. Rapidamente sua desesperada aventura teve um pssimo desfecho. Ela havia jogado tudo: seus recursos financeiros assim como suas esperanas e apesar de todos os seus planos, as coisas tinham dado errado. Por exemplo, pensando em passar despercebida, ela havia vestido blusa e calas escuras, de corte modesto, e no colocou nenhuma bijuteria vistosa. Percebeu, no entanto, que isso foi um erro no momento em que entrou no vestbulo com uma naturalidade estudada. Entre toda aquela gente original e curiosa, que se espalhava de p ou recostada pelo enorme "hall", parada ou andando no piso volante, ela era a que chamava mais ateno. Homens, pomposos em ternos brilhantes, viravam as cabeas em sua direo; mulheres de colares de diamantes e estrategicamente bem maquiladas, olhavam-na disfaradamente enquanto lhes ocorria pensar se deviam tambm quebrar os laos da moda tradicional. Agarrando-se bolsa, alarmada ao compreender que a qualquer momento o supervisor de servio, na sua bolha flutuante, poderia enviar-lhe um rob inquisidor, Merry estava a ponto de desistir da sua investigao, quando houve uma agitao na porta principal. O sussurro passou com a brisa sobre a relva. Merry captou-o a alguns passos dela. - Um dos Imortais est aqui! Ele est entrando! Instantaneamente formou-se uma onda em direo porta. Esta mesma onda encontrou uma outra vindo em direo oposta, como uma saudao ruidosa daquele bolo humano; por fim, vinte robs de servio e uma fileira de cmeras flutuantes acompanharam o Imortal ao vestbulo. Merry pde dar uma olhada nele antes da multido fechar o cerco. Um homem de estatura mdia, usando uma antiquada roupa termosttica, uma figura esmaecida e neutra, cujo cabelo era bastante branco e os olhos desmesuradamente grandes e brilhantes naquela face muito plida. Ela, porm, teve uma oportunidade e no perdeu um momento sequer. Tentando no correr muito, pulou para o piso volante, ultrapassando o hall principal, em direo mais velha e menos importante ala do hotel. O piso volante chegou ao seu destino. Ele era ativado na superfcie: somente a primeira camada de trs ou quatro molculas de espessura corria para a frente. No fim da trilha, a camada da superfcie penetrava numa camada imvel diretamente abaixo, que levava a uma parada fronteira a um ptio de velhos elevadores - apenas cpsulas escorregando por um eixo vertical. Na nova ala principal do hotel, havia os mais modernos tubos propulsores. Firmemente, Merry dirigiu-se ao elevador que ela procurava. Ele dava acesso ao

terrao assim como aos andares intermedirios e, consequentemente, no era privilgio exclusivo dos hspedes. Com a sua aproximao, as portas se abriram e apareceu a mscara sorridente de um rob de servio, imvel, que lhe perguntou para onde ia. - Para o terrao - ela disse. Teve que mentir. Se tivesse dado o nmero de um quarto, o rob iria verificar em milsimos de segundos que ela no era a ocupante e faria uma chamada para descobrir se era convidada ou uma visita desejvel. Merry havia pensado em passar por moa contratada, mas o hotel tinha seus prprios contratos e assim ela teve que fingir simplesmente apreciar a vista. - Entre, por favor - o rob disse. - Ela entrou e as portas se fecharam. No momento em que sentiu o elevador se mover, Merry entrou freneticamente em ao. Abriu a bolsa e tirou o primeiro dos caros inventos escondidos nela - um simples interruptor de campo para por o rob fora de ao. Moveu a chave para o mximo e dirigiu o raio para a figura do rob. De acordo com seu informante, era possvel estragar os circuitos de cortesia e informao do rob, sem imobilizar o mecanismo do elevador. Mas ele poderia estar errado e o corao de Merry bateu descompassado por um minuto que pareceu eterno. Ento ela percebeu que o rosto do rob havia se tornado to frouxo como o de um homem inconsciente e sentiu a cpsula ainda subindo. Mantendo o interruptor de campo no sentido do rob, ela procurou, com um dedo da outra mo, o boto de parada na parede da cpsula. Sua informao era de que ningum poderia desconectar esses anacrnicos sistemas de circuitos. Mas isso tambm poderia ser falso. Entretanto era verdade. Merry era muito cnica para acreditar na sorte, mas, desde a feliz entrada do Imortal no vestbulo, ela estava inclinada a mudar de pensamento. Com a bolsa balanando no brao, procurou descobrir o boto seletor para o 80 andar. No havia nenhum. Por um terrvel segundo ela entrou em panico e quase deixou o raio do interruptor sair do corpo do rob. Ento percebeu. Deveria apertar o 8 e o 0 simultaneamente para ter o 80 andar. Sua mo era grande o bastante apenas para alcanar com o polegar e o outro dedo os dois botes. Se ela desejasse o 90 andar, no poderia faz-lo. Suas mos, assim como todo o resto eram bem pequenas, porm delgadas. O elevador estava quase passando o 80 andar. Ela sentiu a sua pausa e outra vez ficou aterrorizada at que o mecanismo respondeu. A velocidade da marcha foi diminuindo e o elevador parou. A porta no abriu. Estaria ela conectada com o circuito interno do rob? No. Ela viu com alvio que no manual havia um boto rotulado : Operao das portas. Ocorreu-lhe, ento, que esses elevadores deveriam ter trs ou quatro sculos de existncia; pois nunca havia visto controles manuais to elaborados. Conseguiu fazer as portas se abrirem. Cautelosamente, pronta para colocar o interruptor de campo outra vez na bolsa, no momento em que estivesse no corredor, ela tirou-o da frente do rob. A face dele voltou normalidade. Pareceu um pouco perturbado por um instante e, ento, as portas se fecharam. O que faria quando descobrisse que sua informao - passageiro da cpsula em viagem para o terrao - era falsa, Merry no tinha ideia E tambm no se importava. No havia ningum no corredor. Isso era muito estranho. A mais velha e mais barata ala do hotel era sempre usada por pessoas que vinham de Aryx com negcios

definitivos em mente. Os turistas ou pessoas em frias sempre pagavam o grande luxo da ala mais moderna. Seriam as portas numeradas? Essa era a prxima questo. Felizmente eram. Cada uma tinha um grupo de quatro nmeros em plstico luminoso. Os quartos vazios eram mostrados em nmeros escuros, os ocupados num vermelho luminoso e brilhante e os reservados tinham nmeros rosa plido-cintilante. 8010, o quarto que ela queria, estava livre. Mais sorte! Ela estava pronta para ir em frente, mesmo que ele estivesse ocupado, mas afinal, no precisaria tirar ningum de ao. Afastou a arma para o fundo da bolsa e agarrou uma chave-mestra que enfiou na porta. O vendedor havia dito que ela daria conta facilmente de qualquer fechadura com mais de dez anos. Realmente a havia testado disfaradamente, com xito. Mas sempre haveria o risco de terem colocado novas fechaduras... A porta abriu. Respirando apressadamente, Merry entrou. O quarto era pequeno, com moblia antiga. Havia uma cama termosttica, mas sem unidade geradora. Havia um aparelho comum de comando vocal para o servio dos quartos, mas nenhum dos modernos criado-bolha particular. Assim, estava tudo certo. Havia, naturalmente, um aparelho sensorial, um euforizador e os enfeites usuais. Merry lhes deu uma olhadela e esqueceu-se deles. Ela estava apressada por poder examinar o quarto mais detalhadamente, Agora, o ltimo e crucial item da sua bolsa. Tirou-o com cuidado, esperando que no estivesse danificado. Procurou um lugar para coloc-Ia. A cama iria servir. Ela o moveu com prtica e habilidade. Primeiro, o foco de longo alcance do esquadrinhador. A seguir, o foco seletor e ento o analisador. Depois criou conexes entre eles e o depsito do condutor lquido. Fora. Num quarto desocupado a fonte da fora estaria provavelmente desligada. De qualquer modo, ela no era capaz de descobrir onde o hotel colocava as chaves de sada da corrente. Ligou o gerador a pilha que havia trazido e o colocou no ponto mximo. Enfim, o dado mais importante. Procurou dentro do decote o precioso medalho. Supostamente, ele era originrio da Terra. Em todo caso, Rex havia dito quando o deu para ela: Voc tem que percorrer um longo caminho de volta para achar algum bastante sentimental para fazer coisas como essas - e sorriu. Mas Merry achou a ideia de um medalho bem encantadora, e desconfiou que ele havia feito o trabalho sozinho e que era por isso que o medalho continha um tranado dos cabelos de Rex. Com dedos trmulos, ela colocou o cabelo no campo do foco do esquadrinhador. Agora teria que esperar. Nada mais que dez minutos, disse o vendedor. E essa ia ser a maior e mais penosa espera de sua vida. Mal podia tirar os olhos do pequeno engenho maravilhoso que havia colocado sobre a cama. Ele fazia um ligeiro zumbido, estava velho, muito usado e tinha uma pequena folga no analisador. Mas as probabilidades contra uma falsa leitura eram de mil para um e Merry estava bem satisfeita com ele. Estaria tremendo a luz do piloto? Aproximou-se da mquina. Nesse momento a porta do quarto se abriu vagarosamente. Merry gritou e virou-se para encarar os intrusos. Eram ambos humanos. No reconheceu a mulher. Tinha um ar autoritrio que sugeria imagin-la uma alta funcionria do hotel. E isso conferia, pois sua inconfundvel companhia era o Imortal de face plida e cabelos brancos, visto alguns minutos atrs do hall do hotel.

2A mulher empalideceu ao ver Merry. Por um momento perdeu o autocontrole, mas logo trovejou num vozeiro: - O que voc est fazendo aqui? Qual o significado disso? Pelas estrelas, eu a conheo! Voc aquela mulher que fez falsas acusaes contra... Ela parou, voltando-se para o companheiro: - Imortal Karmesin! - exclamou num tom bem diferente, de abjeta cortesia. - Eu no sei como me desculpar por esse acontecimento extraordinrio! Chamarei um rob de servio e a polcia, e possivelmente o senhor ir reconsiderar sua deciso de ficar nesta ala do hotel em vista do impecvel servio de segurana que ns temos na... Uma chama de interesse passou pela face impassvel do Imortal Karmesin e seus olhos foram de Merry para o invento que permanecia em cima da cama. - Eu lhe disse, senhora Gamal - interrompeu. - Sou um homem de gostos antiquados. Em vista da minha idade, no entendo por qu a senhora acha isso to extraordinrio. No quero ficar num quarto moderno com um diablico comando de servios, flutuando sobre minha cabea como uma aura. Eu quero conforto, paz e quietude. Se a senhora me pressionar, mais uma vez, a fim de que me mude para a nova ala, eu me mudarei... para outro hotel. Est claro? Cabisbaixa, a mulher acenou que sim. - E quanto sua pergunta para essa moa - Karmesin continuou, movendo-se com uma expresso meditativa -, parece-me o mais ridculo de tudo o que eu j escutei da senhora. O que ela est fazendo perfeitamente claro: est operando um analisador de pistas humanas. O que eu gostaria de saber qual ser o significado da leitura positiva que ela est fazendo. Merry voltou-se. Era certo que, no minuto e pouco que se passara desde que Karmesin entrou, o analisador havia terminado seu trabalho e uma linha vermelha mostrava algo. - Ele esteve aqui! - disse firmemente. - Imortal Karmesin! - A senhora Gamal gritou alarmada. - No a escute. Ela est subjugada por alguma iluso e h meses que vem empesteando o hotel com falsas alegaes! - No verdade! - Merry gritou. - O que eu disse era certo. Acabo de prov-lo! A senhora quer chamar a polcia? Pois bem, faa-o! Eu os quero aqui o mais cedo possvel para provar minhas razes! - Chamarei um rob de servio - disse a senhora Gamal, encaminhando-se para a porta. - E um psiquiatra. Obviamente ela precisa da sua ateno, mais do que a da

lei. - A senhora no far nada disso - Karmesin disse numa voz to autoritria que era impossvel desobedec-Io. - Feche a porta e espere aqui dentro. A senhora Gamal engoliu ar como um peixe fora d'gua e tentou fazer uma objeo. Mas desde que a ateno de Karmesin no mais estava nela, teve que fazer o que havia sido mandado. Agora, criana... - falou Karmesin, dando um sorriso espectral a Merry. Imediatamente consertou: - Perdoe-me. Eu tenho a tendncia de chamar todo mundo de criana por causa de uma vantagem de milhares de anos. Sente-se, componha-se e me diga o que voc pensa que descobriu. Quase desmaiando, no somente pelo duplo choque de ser apanhada ali e descobrir que suas suspeitas eram verdadeiras, mas tambm pela referncia casual que Karmesin fez aos seus milhares de anos de vida, Merry sentou-se e cruzou as mos no colo para impedi-Ias de tremer. - H um pouco de cabelo sob o foco da mquina respondeu. - Ele pertence a um homem chamado Rex Quant, de Gyges. um historiador psicossocial. Eu o conheci h uns dois anos, quando esteve aqui com um contrato. Ns... bem, ns nos apaixonamos. Karmesin levantou uma sobrancelha. - Um atavismo interessante - comentou sem malcia. - Ele estava muito integrado no seu trabalho? - Sim, ele est - Merry afirmou, frisando o tempo presente. - Bem, quando seu contrato terminou, ele regressou, mas prometeu voltar para me ver, e tentar me conseguir um posto com ele, para que ns pudssemos passar pelo menos alguns anos juntos. E ele voltou. Eu acabei de provar que ele voltou. - Imortal Karmesin! - exclamou a senhora Gamal recobrando por completo a sua pose. - Essa histria foi... - Cale-se! - replicou Karmesin, dirigindo-se depois para Merry num tom encorajador: - Continue, filha... - Recebi uma mensagem dele h uns dois meses atrs. Creio que ela chegou no terceiro dia de Mdia-primavera. Dizia que ele conseguiu um contrato muito maior do que havia sonhado e que no s era capaz de me levar para Gyges, como tambm poderia vir e me levar pessoalmente em uma semana. Dizia ainda que ficaria no hotel Mira, esse aqui. Houve uma poro de brincadeiras entre ns, o senhor sabe. Ns gastvamos o que nos parecia uma fortuna, na poca, indo jantar nos jardins do terrao, e imaginvamos se seramos atualmente ricos o bastante para passar a noite aqui. Isso, naturalmente, na poca em que ele estava aqui. Ento, eu vim perguntar por ele e me disseram que no estava nem nunca estivera no hotel e que no sabiam onde poderia estar. Rex tinha me dado o nmero do quarto que lhe foi reservado pela companhia espacial em que iria viajar. E eu passei um mau pedao at que me mostraram esse quarto e me permitiram manipular as chaves do registro de memria... - Sua voz tremia: - Nada! No havia nada! Mas eu estava certa de que ele manteria sua palavra. Estava certa de que me diria se alguma coisa sasse errada. Eu conferi no espaoporto e ficou certo que ele chegou no mesmo dia, mais cedo. A ltima vez que o viram foi quando tomou o caminho tubular para o hotel Mira. - Por qu voc no foi encontr-lo no espaoporto? - Gostaria de ter ido - desabafou Merry, - Mas eu moro longe, em Stonewall. - Onde isso? - Desculpe. mais ou menos quatrocentas milhas distantes de Aryx, uma ilha no Mar de Sambhal. E o espaoporto dista de Aryx mais de cem milhas. - Na direo oposta?

- Exatamente. - Ele a chamou do porto, ao chegar? - Karmesin quis saber. Merry sacudiu a cabea. - Eu j estava viajando para Aryx. No queria perder nem uma hora antes de v-lo outra vez. E no h servio de chamada pessoal nas balsas entre Stonewall e o continente. - Compreendo - disse Karmesin. Inesperadamente, ele suspirou e Merry olhou-o admirada. Com um pequeno sorriso, ele explicou: - uma velha histria, minha filha. Eu esperei... Eu sempre espero!... por algo novo. Mas esse caso de desaparecimento um lugar-comum. - No para mim! - Merry exclamou. - No, no, eu sei. E estou interessado - Karmesin apontou para o analisador de pistas humanas na cama. - Aparentemente voc provou que Rex Quant esteve h pouco tempo nesse quarto e por muitas horas, pois deixou um rastro perceptvel por um lapso de dois meses. Isso nos leva a uma das duas possibilidades: ou ele residiu nesse quarto por alguns dias, ou sofreu aqui uma violenta experincia emocional. Voc entende o princpio desses analisadores? - Acho que no - Merry concluiu tristemente. S ouvi falar deles ao comprar o meu e aprender como funciona. - Bem, o que eles fazem esquadrinhar o local, procura da ressonncia tpica dos fragmentos moleculares que todo ser humano deixa atrs de si por todo lugar onde vai: cheiro pessoal, gordura das mos, traos de transpirao, e at pedacinhos de pele sem vida, muito pequenos para serem vistos a olho nu. Voc refora esses traos, naturalmente, voltando muitas vezes ao mesmo lugar e mesmo o mais moderno equipamento de limpeza no pode acabar de todo com eles. possvel que voc possa detectar traos individuais por um ms ou mais. Com base no que voc me disse, parece que o seu rapaz ficou aqui bastante tempo para reforar os seus traos at um nvel que duraria meses, no plural. Mas uma emoo violenta pode intensificar as secrees - suor, cheiro - at esse ponto. Hummm... - Karmesin coou o queixo. - Como que ele costuma se vestir? - No estilo de Gyges - respondeu Merry. - Uh! Um pouco brilhante. - Sim, eu j estive em Gyges. Gyges foi um rei que exibiu sua mulher nua para um outro homem. Voc sabia? - Karmesin aparteou. - Isso outro assunto. As roupas no deixam muito rastro. Saiba que h um risco de erro com uma mquina to mal manipulada como a sua. - O homem que a vendeu disse que havia contra erro uma possibilidade de mil para um! - retrucou Merry, - Sim, mas mil para um muito pouco quando h mais ou menos quatrocentos bilhes de seres humanos vivos - Karmesin lamentou-se. - Eles eram at capazes de usar impresses digitais como prova de nica identidade, quando eu era jovem. As probabilidades eram de cinco bilhes pata um contra duas iguais. Mas mesmo ento havia mais de dez bilhes de pessoas s no sistema solar. Eu estava mais ou menos com cento e vinte, penso, quando introduziram esse analisador de ressonncias. O que faro quando ele estiver obsoleto, no tenho ideia Ele se animou. - Assim, vamos comear eliminando essa margem de erro, est bem? - Virou-se para a senhora Gamal que estava de p na porta, extremamente plida: - Chame a polcia. - Ele a instruiu: - Diga-lhes para trazerem um analisador bem moderno de pistas humanas. E diga que ns temos um pouco de cabelo para ser examinado. Se puderem arranjar um com discriminao de passado, tanto melhor. - Imortal Karmesin! - A senhora Gamal disse baixinho. - Com o melhor sentimento da galxia, eu no posso permitir...

Karmesin cresceu nos seus ps e subitamente era a figura dominante do quarto, do edifcio, da cidade de Aryx. Disse: - Senhora Gamal! Ser um Imortal causa muitos problemas. Eu estou entediado, estou cansado! Eu estou me dirigindo ao fim! Mas tambm tem suas vantagens. E uma delas o poder. A senhora compreende que eu s tenho que ir at essa coisa aqui - ele apontava para o comunicador pblico do quarto - e dizer: Desejo que o hotel Mira cesse de funcionar! e isso seria feito? A senhora compreende isso? Merry prendeu a respirao. Quando a senhora Gamal escapuliu do quarto, Karmesin deu outra vez seu sorriso espectral para Merry. - Ento? - disse. - Estou fazendo o que posso para ajud-ia, no ? Quando ns tivermos estabelecido como certo que o seu homem esteve nesse quarto, iremos descobrir o que aconteceu a ele ao sair daqui. Vamos inspecionar os monitores do edifcio. Vamos conferir com as linhas espaciais que saem daqui, para nos assegurarmos de que ele ainda est nesse planeta, e ento levaremos a polcia a fazer uma busca apropriada. Entraremos em contato com a Embaixada de Gyges e daremos uma busca por toda a parte. Ns devemos... Por qu, filha, voc est chorando? - Sinto muito. - A moa lutava por prender as lgrimas. - que logo depois de todos esses meses de luta para trazer luz a verdade, tudo aconteceu to depressa que eu no posso me acostumar realidade. Ela enxugava as lgrimas com a manga do vestido. - Ser que eu posso. .. Posso lhe fazer uma pergunta, Imortal? - arriscou ela, depois de uma pausa. - Qualquer uma. - Karmesin virou-se na cadeira. - Por qu o senhor est fazendo isso? Por qu o senhor est pronto a me ajudar, quando deve haver milhares de pessoas que dariam seu brao direito para apenas falar com o senhor? - Eu estou aborrecido - Karmesin disse. - J falei isso. E no mentira. Depois de milhares de anos, j perdi a esperana de ter uma experincia nova. Eu me distraio usando minha mente tanto quanto possvel, mas quando divertido cortar papel com uma navalha? - Como ? Sinto muito. - Claro. Obsoletas, no esto, as navalhas? - Novamente Karmesin esfregou o queixo. - No importa. Devesse voltar atrs para se entender. Digamos ento que voc apelou para mim. Estou contente de ver algum apaixonado por um outro algum, verdadeiramente, em vez de ser apenas uma atrao passageira. Estou contente de ver ingenuidade, persistncia, laos de sangue... - Ele riu. - No, isso tambm alguma coisa que voc no pode entender. Algo obsoleto. Qual o seu nome? - Merry Duner. - Merry? Parece que ns estamos num jogo de palavras obsoletas. Ns temos tido virtualmente a felicidade universal por tanto tempo, que termos como Merry, que significam alegria, tornaram-se esquecidos, no ? Aposto que voc nunca ouviu essa palavra, exceto como nome de pessoa, aqui em Aryx. - Oh! Mas o senhor est enganado - Merry falou com um sorrisinho triste. - Rex me falava desses velhos significados. Ele sempre fazia piada comigo sobre "fazer alegria". Desculpe. - Ela se ruborizou um pouco. - Um historiador psicossocial, voc disse - comentou o Imortal. - Bem, isso no uma piada ruim, suponho.

3Depois disso, houve um longo perodo de silncio na sala. Karmesin sentou-se na sua cadeira to relaxado e imvel como uma boneca, s permitindo aos msculos de sua face voltarem posio normal, que sugeria o intolervel cansao e aborrecimento de que ele havia falado. Tentando no encar-lo muito obviamente, Merry olhou-o e ficou imaginando o que seria durar por mil anos. Mil! Subitamente isso fez sentido para ela, em termos emocionais. Porque... quando esse homem era uma criana, ainda se lutava e morria nos planetas da segunda gerao, como Avalon e Chichimeca. Ele ouviu as notcias do primeiro encontro com no-terrestres quando elas eram notcias e no Histria! Ele no era o mais velho dos Imortais e sim uma mulher, Rebeca Lail, como toda criana aprendia na escola, mas ele deveria estar entre os doze primeiros. Ela nunca esperara falar, face a face, com uma dessas legendas vivas, ser ajudada de repente, pelo capricho de um deles. Em parte porque pareceu irrelevante saber tanto sobre uma pessoa com quem no tinha nenhum contato, em parte por causa desse cime irracional que a maioria das pessoas comuns sentem, apesar do seu saber consciente sobre esse fardo imposto, que uma vida sem fim, ela nunca o ligou aos conhecimentos bsicos dados na escola. Imortal: um nome errado. A vida provvel era de quatro a dez mil anos, conseguida pela manipulao tecto-gentica numa elaborada cirurgia pr e ps-natal; e pela adaptao qumica do metabolismo para eliminar toda espcie de mudana senil. A circulao de Karmesin continha pelo menos dez enzimas de origem artificial e uma excepcionalmente alta proporo das outras enzimas naturais. Some-se uma memria fabulosa, super-rpidos mecanismos de reparos do corpo, uma limitada regenerao dos tecidos nervosos - efetivamente, a chave de todo o resto - e um QI pairando pelos limites do mensurvel. isso o que se chama Imortal. Utilidade: prover, por sucessivas geraes da humanidade em expanso, uma reserva de experincia de vida de meios desaparecidos: fsico e especialmente, cultural. Pelo sculo vinte e trs ETC (Era Terrestre Comum), estava se tornando muito difcil, para uma pessoa na meia-idade, com uns noventa anos bem vividos, lembrar-se e reconstruir o que havia sentido e reagido nas diferentes circunstncias da sua mocidade e, assim, a sociedade estava correndo o risco de se fragmentar. Um mtodo, de restaurar a estabilidade, seria impor, deliberadamente, um perodo de parada na raa, para que, num meio imutvel, se pudesse fazer uma anlise total do passado recente. Isso era concebvel, mas impraticvel. O trabalho deveria ser feito pouco a pouco, em vrios sculos, se fosse feito, afinal.

Merry contemplou os cabelos brancos na cabea de Karmesin. Abaixo deles, naquela fantstica reserva cerebral, havia memrias, acessveis a tcnicas de simples regresso hipntica, to vvidas como as notcias sensoriais e igualmente frescas! Dessa vez ela se deixou levar muito longe. Karmesin percebeu e se mexeu. Com o seu sorriso cerebral, disse: - Voc est pensando se deve ser ou no invejosa, no ? - , sim - admitiu. - Quantos anos voc tem? - Vinte e quatro. Anos locais, ou seja, mais ou menos vinte anos terrestres. Karmesin reclinou a cabea. Sua poltrona modulada e adaptada tinha uma parte para a nuca e o pescoo. - Se ns pudssemos tornar a juventude imortal, Merry, seria maravilhoso. Mas isso est acima de nossas foras. E sempre estar. Voc ama a vida. Isso excita voc, porque ela nova e fresca. Mas no importa quo cuidadosamente voc racione seu grau de experincia. Chega o tempo - em que dois ou dez sculos - em que voc comea a se repetir, e tudo cai numa rotina universal. Um amor no pode mais ser separado, exceto por exerccio deliberado da vontade, de amores anteriores. Um gosto, um cheiro, o mais evocativo estmulo, no mais aparecem por si mesmos, mas pelas lembranas que trazem da primeira, da ltima, ou de outra vez qualquer em que forem experimentados. Eu no continuo a viver porque goste da vida, Merry, - Ento, ento... por qu? - ela aventurou. - Dever - explicou. - Outra palavra fora de moda. Eu no pedi a responsabilidade com a qual nasci, mas eu a tenho e agora ela deve durar. Seu namorado era um historiador psicossocial. Ele a levou a investigar a literatura terrestre pr-galctica, especial em ingls antigo? - No. Sua especialidade Histria Galctica. Antiga, Mdia e Moderna. - A minha tambm... Houve um escritor chamado Swift que previu a mim e aos da minha espcie. Ele nos chamou Struldbrugs, miserveis homens e mulheres visitados pela sorte, com a incapacidade de morrer, condenados a ficar velhos e mais velhos e cada vez mais velhos, indefinidamente, at se tornarem pobres diabos desdentados e ranzinzas, rejeitados pelos prprios tetranetos e forados a procurarem a companhia dos seus iguais ou ficarem sozinhos, esmolando nas ruas ou morrendo de fome. Deram-nos poder, claro - mas tinham que dar. Necessitavam demais de nossas memrias, para recus-lo. - O... o Conselho dos Imortais? - Merry perguntou, pensando o quanto soava arcaico-romntica essa frase. - Sim, o Conselho existe. - Karmesin parecia ter perdido o interesse no que estava dizendo, o que no era de admirar em vista das milhares de vezes que ele repetiu isso e fez silncio. O rosto de Merry tornou-se solene. Ela sabia que h algum tempo houve um clamor para admisso nas fileiras dos Imortais. Os homens haviam discutido, lutado para dar milhares de anos de vida a si mesmos e enquanto isso nenhuma converso de adultos foi tentada. Apenas dois ou trs por ano eram aceitos, depois de exaustivos testes psicolgicos e fsicos. Mas o processo de adaptao funcionava muito mal nos adultos. E, passados cinco sculos, j no havia nenhum dos adultos convertidos. Tinham morrido em acidentes ou por suas prprias mos. Algumas centenas de anos atrs, a admisso foi somente pr-natal e as crianas foram cuidadosamente preparadas em sua educao, para melhorar a raa. A humanidade cresceu acostumada a conviver com esses irmos e irms mais velhos, em planetas cuja Histria fazia a Terra parecer um sonho passageiro. O mesmo

foi acontecendo com os Imortais artificiais e embora a sua raridade os tornasse uma sensao onde quer que eles quisessem aparecer em pblico, sua longevidade no mais parecia ser o to desejvel dom que era antes. A porta do quarto se abriu sem nenhum aviso e Merry virou a cabea. Atravs da porta passou um homem bem proporcionado, na primeira meia-idade (mais ou menos oitenta anos, Merry pensou), de forte compleio e grandes mos peludas fora dos bolsos de seu uniforme governamental. Vinha seguido de dois guardas que seguravam um modelo profissional de analisador de pistas humanas, enorme e suficiente para tornar o quarto bem frio com o ar que ele produzia. E tambm pela senhora Gamal e outro funcionrio do hotel, um homem de expresso to perturbada quanto a dela. O homem importante fez sinal aos seus companheiros para parar e andou em direo da cadeira onde Karmesin estava reclinado, de olhos fechados. Abriu a boca para dizer algo mas Karmesin tomou a frente. - Voc engordou nos ltimos sessenta anos, Dombeno. O homem poderoso espantou-se, mas se recuperou e bateu na testa com as costas da mo. - Eu quase no acredito nisto, Karmesin! - disse num tom de espanto. - Poderia jurar que voc no abriu os olhos. - Eu no preciso disso - retrucou Karmesin, passando a olh-lo. - Voc est mais gordo e um pouco desengonado, embora pise do mesmo modo e respire igual. Como vai e o que est fazendo aqui? - estendeu a mo para cumprimentar Dombeno. - Vim pela razo bvia - disse o outro, apertando os plidos dedos do Imortal e sentando na beirada da cama, por falta de outra cadeira. - Oh! Voc pode no saber. Eu sou o Secretrio-Chefe para Assuntos Planetrios deste baile de mscaras de hoje em dia. - Foi um longo caminho nesses poucos sessenta anos - Karmesin teve um sorriso seco. - Eu ainda estou onde estava na ltima vez que nos vimos. Qual essa razo bvia que voc mencionou? - Fama, que que voc pensa? Se chega algum aqui que em teoria tem poder bastante para ordenar a todos os habitantes que se atirem no Oceano Sambhal, o governo local quer se certificar de que ele no tem essa ideia em vista! Eu acabei de ouvir no espaoporto que voc estava aqui e estava me encaminhando para v-lo, quando ns tivemos essa chamada do hotel pedindo representantes da Lei. Assim, viemos juntos. E qual a 'histria, se tenho que perguntar. - Descubra se o dono desse pedao de cabelo debaixo do foco do analisador ali da cama, alguma vez j ocupou esse quarto - Karmesin fez um gesto displicente. - J imaginava isso. Voc deve ser Merry Duner murmurou Dombeno, olhando a moa, que tinha uma expresso desafiante. Depois de uma pausa, ele se dirigiu aos homens encarregados do analisador de pistas. - O que vocs esto esperando? No ouviram o que o Imortal Karmesin disse? Os homens da lei trocaram olhares. Um deles arreganhou os dentes e sacudiu os ombros, mas logo obedeceram... Durante alguns minutos no se ouviu nada no quarto, a no ser a respirao das pessoas e o zumbido da mquina em uso. Um dos homens da mquina deu um suspiro espantado e se virou, muito branco, para fitar Dombeno. - A leitura positiva - disse. E Merry deu um grito aflito. Ele a olhou desnorteado e continuou: - Mas isso absurdo, Secretrio! Se essa moa Merry Duner, o homem que ela procura esse tal de Rex Quant, de Gyges. E ns estivemos nesse caso h dois meses atrs e estabelecemos que ele nunca esteve no hotel.

- Nessa ocasio vocs usaram um analisador de pistas humanas? - Karmesin se intrometeu. - No, no... Imortal - o homem disse a contragosto. - Mas ns conferimos a memria registradora e fizemos exaustivos inquritos. No houve nenhum registro de sua presena aqui no Mira. - Bem, agora h um novo registro - concluiu Karmesin. Por uma quase visvel extenso de seus feixes de nervos, ele ficou de p e fitou o desconcertado Dombeno. - O que que voc vai fazer sobre isso, Secretrio-chefe? Antes que Dombeno pudesse responder, a senhora Gamal, que estava tendo uma furiosa conversa com seu companheiro na soleira da porta, deu um passo frente: - Secretrio, eu juro que isso uma bobagem! Esse homem, Quant, nunca esteve aqui! Estou pronta a deixar provar minha memria, se o senhor insiste, mas eu lhe digo que o senhor ter a mesma resposta da minha personalidade de tempo regredido! - Veremos - antecipou Karmesin num tom to neutro, que a senhora Gamal foi capaz de ler um milho de ameaas. - Eu fiz uma pergunta a Dombeno e estou esperando sua resposta. Vamos! Dombeno mordeu os lbios. - Bem, teremos de repetir nossas investigaes, ento. Conferiremos a memria registradora outra vez e a memria dos monitores dos quartos, para essa ala antiga, e veremos se houve gasto de fora no registrada... Ele parou. - Imortal, poderamos ter uma conversa em particular? - Se voc quiser. - Karmesin olhou em volta. - H uma clula particular neste canto, eu acho. Venha ento e no se demore muito.

4No instante em que a clula foi fechada, Dombeno Virou-se para Karmesin: - Ns, do Governo, queremos saber por que voc est aqui e se no a propsito de pesquisas locais, queremos pedir-lhe que torne sua estada to curta quanto possvel. - Pesquisas locais? - Aparteou Karmesin. - Por mim ou pelos seus historiadores? - Pelos nossos historiadores. - Dombeno passou um dedo por dentro do colarinho. - No, nenhum grupo de pesquisas histricas pediu minha visita. Vim por minha prpria vontade - falou Karmesin. O som era seco, como se duas folhas mortas tivessem sido friccionadas. - Voc est se tornando arrogante na velhice, Dombeno! O poltico enrubesceu mais do que nunca. E disse: - Voc no costumava caoar conosco! - Essa uma frase que se usava quando eu era moo. Num tempo em que o mximo de vida era de cento e dez a cento e vinte anos. Ns dizamos velhice quando a pessoa chegava aos noventa. Voc agora est na meia-idade e pode esperar chegar aos cento e sessenta ou mais. Ns esperamos aumentar uns cinco anos por sculo no tempo mdio de vida, em mundos adiantados como o seu. O que voc est procurando? O que voc est procurando? O ponto de encontro entre o meu inefvel tdio e o seu medo da perda de memria? - Dane-se, Karmesin! - Como que voc faz para sua voz soar sempre como um orculo super-humano? - Eu sou a voz da Histria - foi a resposta, sem nenhum trao de vaidade. - Eu sou a memria viva de que a raa humana falvel, imperfeita e transitria. Ns somos uma espcie sbia, mas no a maior. Voc j disse tudo que tinha para dizer? - No. - Dombeno respirou fundo e procurou voltar sua sequncia de pensamento: - Eu o estava informando que ns, do governo, ficaramos agradecidos se voc se demorasse o menor tempo possvel. - Do que vocs tm medo, afinal? De que um Fnix me mate com uma bomba? Pela expresso da vermelha face do poltico, Karmesin viu que a sua adivinhao tinha atingido o alvo. E continuou sem esperar resposta: - Obviamente tm. Nesse caso, serei to duro quanto voc: o desenvolvimento do mistrio da Fnix a principal razo da minha vinda aqui. O de vocs o mais avanado planeta onde a crena tem seguidores. Naturalmente est faltando um foco. Eu sou o foco. um antema para a Fnix que um homem possa viver mil anos, no ? - Voc quer dizer que veio aqui para servir de alvo? - Dombeno tornou-se plido. V para o diabo, Karmesin! Ns j temos bastante trabalho com suas bombas e sabotagens; Voc soube que em Stonewall houve uma imolao pblica h um ms

atrs? Sessenta pessoas, algumas com uns bons vinte anos de vida pela frente, suicidaram-se numa pira de fogo. . - No como alvo. Como um foco. - Karmesin no explicou que distino fazia entre as duas. - Devo inform-lo sobre isso assim que a notcia da minha chegada tenha se espalhado por a. Agora, se voc no se importa, eu gostaria de voltar ao assunto do desaparecimento de Rex Quant. - No vejo por qu voc... - Dombeno parou. Oh! talvez eu veja. - Subitamente, ele comeou a suar. - Um historiador psicossocial... e voc veio para c diretamente de Gyges... Suponho que ele estava estudando o mistrio da Fnix, o mesmo que voc? - No o mesmo. Eles estudam. Eu absorvo, para que em outros mil anos um homem possa vasculhar minha memria e redescobrir esse ano de graa. Os cus o ajudem. Desculpe minha antiquada fraseologia. Sou um homem velho e gostaria de que em algumas vezes as pessoas se lembrassem disso. - Voc ainda no explicou... Os olhos de Karmesin brilharam enquanto descerrava a clula particular e voltava ao quarto principal. - Eu lhe direi o que quero que voc saiba quando eu estiver pronto. Esperando apreensivamente que Karmesin aparecesse, Merry tentou escapar dos olhos hostis da senhora Gamal e do seu colega. A senhora Gamal, naturalmente, no ousou atacar Merry diretamente. O fato de um Imortal ter falado por ela era um freio poderoso. Mas o que podia fazer e o fez, foi buscar o apoio dos homens da lei, que estavam to zangados quanto ela por esse arbitrrio impedimento de sua competncia profissional. Numa das pausas de sua discusso em voz baixa, ouviu-se a chamada do comunicador. A no ser por um olhar em sua direo, todos ignoraram o sinal. Mas ele foi repetido e depois modificado para um irritante e ininterrupto zumbido. Finalmente, tornouse insuportvel e a senhora Gamal foi atend-lo. A tela mostrou a face de uma linda garota com um fantstico chapu. Eles a reconheceram mesmo antes dela abrir a boca, como uma das mais famosas comentaristas de notcias sensoriais do planeta. - Bom dia! - ela exclamou brilhantemente: - Estou informada de que o Imortal Karmesin est hospedado aqui, no momento. Gostaria de falar com ele. Cem milhes de tele-senso-espectadores que souberam de sua chegada, por nossa transmisso, esto esperando ansiosos por maiores informaes sobre seus planos durante a visita. - O Imortal Karmesin no est aqui - replicou a senhora Gamal e, se estivesse, provavelmente no quereria falar com voc. - Ouviu-se atrs dela um som como se a clula particular tivesse sido aberta e, involuntariamente, ela se voltou para olhar. - Desligue logo essa droga! -- gritou seu colega, atirando-se para o comunicador. Mas era muito tarde. Assim que surgiram no quarto principal, ambos, Karmesin e Dombeno, pararam em cheio no campo de viso do comunicador. Antes da conexo ser desfeita, foi possvel ver sorriso de satisfao da moa da tela. - Mas que!... - Dombeno girou nos calcanhares. Quem lhe disse que a senhora poderia deixar uma reprter intrometida botar o nariz nesta sala? - Ele apontava acusadoramente para a senhora Gamal: - Por acaso no ordenou isolamento para ns? - No, no o fiz - respondeu a senhora Gamal com algum esprito. - O senhor no deu nenhuma ordem nesse sentido no foi, Imortal Karmesin? - Esse o padro de servio que vocs oferecem aos hspedes? Estaro eles acessveis a qualquer mexeriqueiro l de fora que deseje se imiscuir nos seus negcios? A

voz de Dombeno crescia. - O Mira o melhor hotel de Aryx, mas eu conheo espeluncas l embaixo que guardam a intimidade dos seus hspedes melhor do que isso. - Eu no estou interessado em isolamento. No tenho tido nenhum por muitos sculos. Vamos, desamos ao seu escritrio, senhora Gamal. Quero acompanhar a inspeo da memria registradora. Tambm poderei aceitar a sua oferta de ter a memria pessoal posta prova. Ah! Vocs dois. Os guardas se aprontaram para obedecer. - Um de vocs v inspecionar o monitor de consumo de fora e descubra se foi gasta alguma fora neste quarto, 8010, no dia... Quando houve o desaparecimento, Merry? Merry engoliu em seco... - Dia dez de Mdia-primavera - ela respondeu. - Entenderam? timo. No me importo com qual dos dois v, mas que faa um bom trabalho. O outro venha conosco. Dando de ombros, os guardas reativaram a unidade geradora do analisador e outra vez o ar deslocado esfriou o quarto. Dez minutos depois, no bonito e espaoso escritrio da senhora Gamal, no subsolo do hotel, eles pararam defronte tela principal da memria registradora. Num canto da sala havia um coletor de notcias zumbindo. Ele estava programado para filtrar do canal de assuntos pblicos da radiodifuso, qualquer coisa concernente aos hspedes do Mira, e grav-la para que, se a pessoa desejasse, fosse transmitida na grande tela do vestbulo. Ele tinha acabado de transmitir uma referncia estrela Lubra Gore e sua envolvente e sedutora imagem estava se apagando na tela. - Esse o modelo mais moderno? - Karmesin perguntou. - O mais moderno e mais eficiente do planeta - retrucou a senhora Gamal. - Como que funciona? - Bem, eu no posso lhe mostrar pedindo Rex Quant. Pedirei o senhor e ver. - A senhora Gamal moveu as mos rapidamente sobre vrias chaves com as letras do alfabeto, abaixo da tela, e terminou colocando a chave-data, para HOJE. Imediatamente, uma gravao de quinze segundos de Karmesin, veio da mesa registradora do vestbulo, para a tela. Em toda a volta, havia luzes coloridas que a senhora Gamal ia apontando: - Alfa ritmo, teta ritmo, quatro tipos de ressonncia gentica, frequncia respiratria, batimentos cardacos, e esses dois so a anlise harmnica do seu modo de andar. - E o nome? Ela tocou noutra chave e imediatamente o nome apareceu em letras vermelhas, junto com a sua cidadania planetria - Terrestre -, seu domiclio, o ltimo endereo e a data da chegada. - Muito bem. Agora pea Rex Quant, no dia dez de Mdia-primavera. - Eu j lhe expliquei! - A senhora Gamal reclamou mas obedeceu. A tela tornou-se clara. S apareceu um zumbido de cor irregular. - Quais so as caractersticas desse gravador? - interessou-se Karmesin. - um quadrado de material magntico. Eu no conheo precisamente a sua composio. Tem mais ou menos uma polegada de lado e dez de espessura. No podem ser usados duas vezes. Cinco anos aps o registro, a informao automaticamente transferida para um armazm em algum lugar do Oceano Sambhal e o original destrudo. - Compreendo - murmurou Karmesin. Dombeno, que estivera inquieto l atrs, veio para a frente. - Karmesin, por qu voc no est satisfeito com isso? As pistas do quarto 8010 devem ter uma falsa pro-

cedncia. Esse mecanismo aqui prova de erro. - Nenhum mecanismo prova de erro - Karmesin contradisse firmemente, e teria continuado se o coletor de notcias no tivesse comeado a funcionar em todo o volume e foco normal. Eles se viraram para olh-la. - Ateno! Ateno! Ateno, amigos! Como vocs souberam na nossa transmisso do meio-dia, nosso planeta est, no presente momento, gozando a presena do Imortal Karmesin, terrestre milenrio. Essa uma palavra, amigos, que mostra o caso raro de algum que j celebrou seu milsimo aniversrio. Depois de se registrar no hotel Mira, a primeira entrevista do Imortal foi com o Secretrio-Chefe de Assuntos Planetrios, o respeitado e conhecido Secretrio Dombeno, cuja relao de amizade com o Imortal Karmesin nos sugere um encontro meramente pessoal. Mas encontros pessoais no envolvem o uso de uma clula particular nem a presena dos homens da Lei. Ns confidencialmente lhes diremos... - Desliguem isso! - gritou Dombeno e virou-se para Karmesin: - Agora vai haver o diabo! Por qu voc no desiste dessas bobas representaes e no fica numa sute apropriada, com bons mecanismos de isolamento?

5Houve um soluo audvel, que veio de Merry. At o dia anterior, ela acreditaria ser to desagradvel falar face a face com um Secretrio-Chefe quanto com um Imortal. Mas ningum precisaria de maior conhecimento para compreender que, dos dois, o Secretrio-Chefe era peixe pequeno. Ele no podia perder a tmpera com um Imortal. Karmesin, porm, estava imperturbvel: - Estou bastante satisfeito. No apresentei nenhuma queixa por achar essa moa, Merry Duner, no meu quarto, no ? Houve um longo momento de glido silncio, at que Dombeno falou: - Karmesin, diga-me uma coisa: voc pediu o quarto 8010? - No diretamente. Devo admitir que depois de estudar a planta do hotel, pedi um quarto vago no 80 andar, na ala antiga. Merry escutava espantadssima e sua surpresa redobrou quando Dombeno explodiu outra vez: - Voc quer dizer que veio aqui procurando por Quant? - Ah! Suponho que sim, realmente. - Karmesin se permitiu um outro sorriso espectral, mas muito breve. - Desse modo, podemos continuar com o nosso assunto? Oh! - Ele pareceu se recordar da presena de Merry e virou-se para ela: - Devo me desculpar por deix-Ia de lado, filha. Nem todo mundo pensa que o que eu chamo de bvio bvio. Apenas pergunte a si mesma que espcie de contrato um historiador psicossocial pode ter, que lhe pague o bastante para ficar neste hotel. Vejo que o seu primeiro pensamento ser o de um projeto envolvendo um Imortal ou vrios. O que atualmente o caso. Eu acabo de chegar de Gyges para descobrir por que Rex Quant nunca voltou para concluir sua parte do trabalho. Merry fechou os olhos e se apoiou contra a parede, para ficar firme. - Senhora Gamal! - recomeou Karmesin. Eu quero a lista dos hspedes que deixaram o hotel no dia dez de Mdia-primavera, por favor. Silenciosamente, a senhora Gamal apertou as chaves necessrias. Apareceu na tela uma srie das habituais imagens visuais. Havia mais ou menos quarenta delas. Quando terminaram, Karmesin disse simplesmente: - Agora, os outros hspedes. - Eu tenho que pedir as novas chegadas do dia e os registros anteriormente em separado - disse a senhora Gamal. Ela hesitou. - Nossa capacidade de cinco milhes, o senhor sabe. Quer ver todos? - No necessariamente - Karmesin rugiu. - Apenas coloque separadas do bolo principal. - Mas isso vai esvaziar o grupo principal. Karmesin mandou que ela continuasse e parasse com as objees e ela obedeceu.

Quando suas mos pararam de mexer nas chaves, o Imortal limpou a garganta: - E agora mantenha a data e aperte no resduo. O qu? - Ela o olhou espantada. - Mas no h nenhum resduo! - Eu disse: aperte no resduo! - repetiu. - A senhora pode fazer isso, no ? Algo como a instruo "todos os itens fora das categorias anteriores"? - Sim, sim! Mas... - Ento, faa-o! - Pela primeira vez desde a sua chegada, havia um toque de exasperao, talvez de excitamento, no tom de voz de Karmesin. Fracamente, a senhora Gama! ordenou a memria, de modo a dar o dado desejado. E a tela se acendeu. - ele! - manifestou Merry, depois de uma pausa. - Oh! Rex! - Ela tentou correr para a tela e beijar a imagem, mas Karmesin colocou a mo no seu ombro, tranquilizando-a. Nem to difcil de achar, no ? No passado, a est. Mas, mas eu no entendo! - Dombeno exclamou. - Voc est tentando me dizer que o registro dele foi negligenciado durante nossas exaustivas buscas? - O esquecimento compreensvel - anuiu Karmesin. - Mas a dissimulao... um pouco mais difcil. Voc a! - Apontou para o policial que os acompanhava: V dizer ao seu colega que ns no precisamos mais dos dados do monitor de consumo de fora. Ns j sabemos que Rex Quant esteve aqui. Leve-o com voc para o depsito das memrias fsicas e remova dos canais os itens que no foram classificados. Imagino que haja um sistema de comando local para identific-los. O policial olhava de boca aberta para a tela. Ele se sacudiu e balanou a cabea antes de obedecer. Merry comeou a chorar de novo e soluava e fungava num grande leno branco. Karmesin mandou-a sentar-se e dirigiu-se a Dombeno: - Se voc for paciente, acho que poderei lhe dar uma resposta. Senhora Gamal, as partidas do dia, outra vez por favor. Oh, e coloque um sinal de parada para o registro de Quant para que ele no volte ao lugar regular antes deles terem restabelecido o registro. A senhora tem alguma ideia de como ele foi excludo da categoria principal? - No, no - sussurrou a senhora Gamal, que agora parecia amedrontada. - H alguma maneira de se colocar um dado adicional num dos depsitos magnticos? - Sim, tem que haver, para que possamos incluir a data da partida dos hspedes, quando chega a hora. - Ah! Tem que ser isso! - Karmesin disse com satisfao. - Tudo o que se precisa de uma data errnea de partida, provavelmente uma anterior da chegada e... - Mas um erro como esse logo assinalado! - A senhora Gamal objetou . - Isso importaria, se a pessoa a lidar com os dados no desse ateno? Esse seria o caso, se ela o fizesse deliberadamente! - Karmesin levantou a sobrancelha. No importa. Ns podemos consultar um perito e conferir isso depois. Agora, essa partidas, por favor. Eles acompanharam outra viso na tela. - O mesmo, de novo. - E acrescentou: - D agora apenas um hunates. HUNATES - humanos-no-terrestres. A frase era convencional. Ela no se referia aos de ancestrais terrestres, nascidos sob outros sois, mas aos membros de raas que apareceram independentemente, em qualquer lugar da galxia. Algumas centenas eram conhecidas a maioria primitiva ou degenerada. Somente os filhos da Terra pareciam ter se esforado na conquista do espao, ao ponto de alcanar sucesso significante.

O resultado das ltimas instrues reduziram a sequncia visual para dois. Merry secou os olhos e olhou para eles. Os outros fizeram o mesmo, com igual falta de compreenso. - Eles so de Zep, no so? - Karmesin fez-se ouvir. - So sim - disse a senhora Gamal. - J vi uma quantidade deles. Devemos ter aqui mais visitantes de Zep do que de qualquer outro planeta hunate. Karmesin olhou com desdm. Os indivduos na tela, vindo em turnos, desde a mesa de registro do vestbulo, no eram sem atrativos. Altos, bem parecidos, com a pele da cor do ouro velho, esmaecido, e olhos da linda cor castanha do cedro. Suas cabeas eram completamente cobertas com pequenos capuzes de veludo, bordados com fio metlico-brilhante e sua roupa inclua capas largas, decoradas com modelos semelhantes, uma espcie de tnica curta, batendo no meio da coxa, e meias compridas com ligas. Atrs de cada um podia-se ver um carrinho autopropulsor, carregado de bagagem. - Zep - murmurou Karmesin. - Se eu penso certo, isso um nome forjado, no nativo. - isso mesmo - disse Merry sem pensar. - Significa... - De repente, ela parou, lembrando com atraso que quando um Imortal diz "se eu penso certo..." apenas uma figura de sintaxe. Karmesin olhou para ela. - Sim, como voc ia dizer, um nome forjado de uma das peculiaridades do planeta - zero elementos com peso. Que mais voc sabe sobre Zep, criana? Nervosamente, Merry prosseguiu: - Bem, vamos ver, eu conheo vrios deles, no propriamente esses dois, outros, onde eu moro, em Stonewall. Eles no so tambm historiadores psicossociais, como Rex? - So, realmente, e muito conceituados. - Karmesin esfregou o queixo: - Dombeno, voc tem muitos deles aqui? - Alguns- respondeu Dombeno. - Eles nunca nos deram trabalho. Por qu voc os selecionou da sua memria? - A jovem Merry acaba de nos dar uma excelente razo, voc no ouviu? - Karmesin foi ironicamente polido. - Se o homem desaparecido manteve alguma relao durante a sua obviamente curta estada aqui, ela deve ter sido com pessoas da mesma linha de interesses. Vejo que vocs no pediram uma lista do destino de cada pessoa depois da partida. Assim, no aqui que vou ach-la. - Ns poderemos conseguir a informao, se voc quiser - disse o interlocutor sem entusiasmo. - Mas Zep um caminho muito longo para se procurar uma informao com to poucas chances, como voc sugeriu. - Se eles foram para casa, eles foram para casa. Karmesin olhou rapidamente para Merry: - O que eu desejo lhe perguntar, filha, se voc me desculpa por us-Ia como uma espcie de amostra, bem mo, do seu planeta. O que que voc sabe sobre o mistrio da Fnix? - No muito. Onde eu moro h vrias pessoas que acreditam nisso e eu j tentei falar com algumas delas, mas a nica coisa que eu consegui entender que eles pensam que ns estamos estagnados, no progredimos de maneira que devamos progredir. E o remdio deles diminuir o tempo mdio de vida e destruir tudo o que... j tiver durado muito. - Ela hesitou. - Eles no gostam de Imortais, se o senhor me desculpa por diz-lo assim. - Rex foi sua casa quando ele esteve aqui antes? - Oh! Sim. - Ela sorriu. - Ns passamos dois meses inteiros l. - Ele deu alguma indicao de estar interessado no mistrio da Fnix?

- No especialmente, no. Ele estava, bem, ele est interessado em praticamente tudo. Realmente ele conversou com alguns dos seguidores da ideia, mas estou certa de que bastante sensvel para concordar com eles. Hum... Karmesin ia dizer mais alguma coisa, quando a porta se abriu e os triunfantes policiais entraram com seu achado, carregado cuidadosamente numa caixa no magntica. - Achamos isso sem dificuldade, Imortal Karmesin disse o primeiro deles e conferiu por um momento. Depois continuou: - No sei como foi perdido quando ns investigamos em Mdia-primavera! Devo dizer que fizemos um trabalho perfeito. - Vocs nunca escutaram a fbula da carta roubada - disse secamente o Imortal. Talvez muito de ns devamos aprender, da maneira mais dura, que h muito poucas idias originais por a. - Voc fala como um Fnix - aparteou Dombeno. - Dificilmente - foi a resposta branda do primeiro. - Tudo o que os Fnix conseguiriam mudando a ordem das coisas seria fazer com que as pessoas no pudessem mais se lembrar que idias eram originais e quais as que no o eram. Ns cairamos num crculo vicioso da Histria, como essas figuras que esto circulando na tela aqui. - Ele apontou para as imagens dos zepeanos que continuavam a aparecer na tela. Ns temos evidncias suficientes nos mundos hunates civilizados, para estarmos certos disso. Ps-se a olhar o enigmtico quadrado preto na caixa no-magntica, depois fez um sinal e olhou para Dombeno. - O resto do que eu tenho a dizer melhor que seja confidencial. Entretanto, deve ser dito no somente em sua presena, mas tambm na do seu Secretrio para Assuntos Estrelares, o Embaixador de Gyges, e talvez um dos representantes da Delegao Galtica. Vocs tm um secretrio separado para Assuntos Hunates? Dombeno balanou a cabea. - Bem, arrume um encontro como eu indiquei. No meio tempo, voc tem algo para meditar na sua procura de Rex Quant, no tem? Primeiro institua uma discreta mas efetiva busca, concentrada principalmente no hotel e nos seus servidores humanos, mas no negligencie as memrias menores: robs dos elevadores, por exemplo, os monitores de consumo de fora, etc... Consigo quanta informao puder sobre Rex Quant e sua estada aqui e procure descobrir em que ponto ela foi cortada. Ah! E eu quero os dados sobre as partidas dos voos espaciais dos dias dez, onze e doze de Mdia-primavera, junto com detalhes ele todas as conexes feitas para lugares mais distantes, at, digamos, a terceira parada. Merry se mexeu e ele parou, para olhar consoladoramente para ela: - Sim, criana, voc ser informada. Voc procurar mant-la informada, no , Dombeno? E, antes que Dombeno pudesse responder, houve um terrvel barulho acima. O teto tremeu e caiu poeira em suas cabeas e todas as luzes se apagaram. Por um momento, Merry pensou que estivesse gritando, mas era a senhora Gamal.

6- Uma bomba qumica, maior do que qualquer uma j escondida antes, e, digamos, outro caso interestelar. Provavelmente composta de devastador e mecanismo de tempo, detonada na ala velha do hotel, talvez num poo de elevador. - As palavras vieram atravs da escurido total, na voz neutra de Karmesin, e, imediatamente, seus ouvintes se sentiram tranquilizados. Era psicologicamente bom saber que algum estava trabalhando para calcular os fatores envolvidos no acontecimento. - Fnix? - perguntou Dombeno. - Muito provvel. Senhora Gamal! A mulher havia parado de gritar, mas estava se lamentando. Agora que seus olhos se haviam adaptado ao brilho da tela do registro de memrias e do coletor de notcias, Merry pde ver a mulher mais velha tentando compor a fisionomia. - Sim, sim, Imortal Karmesin? - Uma informao, por favor. Como que, se as luzes esto apagadas, as duas telas ainda esto funcionando? A senhora Gamal deu um soluo audvel. Carrancuda, ela disse: - O senhor provavelmente est certo sobre a bomba explodindo na ala antiga. Nosso suprimento de energia vem dessa parte do edifcio, mas os servios de informao e comunicao, especialmente as mais importantes memrias, que podem ser avariadas por uma interrupo do suprimento de energia, tm circuitos separados, alimentados pilha, no sub-solo. - Bom. Ento ns podemos nos comunicar com o exterior. - Sim, ns podemos! - Respirando com dificuldade, a senhora Gamal correu para o comunicador do escritrio e em poucos momentos entrou em contacto com o supervisor de servio em sua bolha flutuante, no hall principal do hotel. - O que aconteceu? - ela perguntou, fitando, no a ele, mas a multido se comprimindo no hall. - Uma exploso na ala antiga! Estamos evacuando o hotel! - No, voc no deve fazer isso! Chame a polcia e um esquadro de salvamento e... - O que voc pensa que eu estive fazendo? - Bom, bom! Alguma outra parte do hotel foi afetada? - Exceto pela perda da energia, no. Ns temos as luzes de emergncia trabalhando, mas os pisos volantes e os elevadores esto parados. Vamos evacuar os andares de cima com os flutuadores autopropulsores. - Portas. Elas esto trabalhando? Karmesin j havia pensado nisso. Ele havia testado as portas do escritrio e as en-

controu fechadas. Cantinhos e esconderijos tinham sido eliminados nessa parte do hotel que os hspedes nunca vem, e os arquitetos, acostumados energia inesgotvel, omitiram a previso para antigos painis de controle. Ele mencionou isso para a senhora Gamal, que levou as mos boca, com horror. - Pelo menos pergunte-lhe se pode nos mandar alguma energia para iluminao! Karmesin irritou-se. Ela transmitiu o recado. Quando terminou de falar houve uma comoo no hall, policiais e robs juntos, com um grande esquadro de salvamento de emergncia, vieram de flutuador, da rua em frente. O supervisar de servio se desculpou e prometeu que iria enviar membros do esquadro para tir-los de l, logo que possvel. - Hum! - murmurou Karmesin, - Eu estava desejando uma experincia nova e devo dizer que nunca fui apanhado numa armadilha por um sabotador, num quarto subterrneo. Merry tentou rir mas o som era fraco e traa o seu terror represado, O milenrio colocou a mo protetora no seu ombro. - Devemos ficar confortveis na medida do possvel - disse ele. - Sinto que a bomba foi colocada especialmente para nos molestar, mesmo que eu no estivesse no quarto 8010, que era, provavelmente, o alvo desejado. - Voc disse que veio aqui como um foco! - Dombeno retrucou. . - Sim, verdade. Mas eu no posso adivinhar quando eles me escolheriam para alvo, no ? - Karmesin falou distrado, escolhendo para ele um banquinho de uma pilha. O comunicador soou. A senhora Gamal atendeu imediatamente. - Sinto ter... ms notcias - o supervisor de servio falou, preocupado. - A bomba destruiu todos os poos de elevadores e o acesso aos andares subterrneos est bloqueado pelos destroos. Deve levar uma hora at que possamos alcan-Ias. Ouviu-se a profunda respirao de Dombeno. - Bem, seremos to rpidos quanto pudermos - o homem prometeu e cortou a conexo, ao se virar para falar a um supervisor de salvamento que estava um pouco atrs dele, no campo visual. - Bem - adiantou Karmesin, tendo deixado passar alguns segundos da hora estimada. - Vocs tm um bem sabido grupo da Fnix nesse seu planeta, Dombeno! Por falar nisso, o que que eles tm estudado aqui? - Voc deveria saber - Dombeno grunhiu. - Voc devia saber tudo, no ? H vrios mundos onde os zepeanos foram convidados a conduzir a anlise social do seu prprio ponto de vista hunate. Eu tive a impresso de que o trabalho era coordenado com o estudo regular do Imortal. - Ele parou, olhando Karmesin especulativamente. Por qu voc est to interessado em zepeanos, afinal? Alguma coisa a ver com o mistrio da Fnix? Karmesin olhou para os seus tristes companheiros antes de responder: - Suponho que uma maneira de passar o tempo. No vejo nenhuma razo para no discuti-lo em pblico: Por qu eu estou interessado nos zepeanos? No o estamos todos ns? Isso no uma curiosidade de toda a galxia? Voc a, garota - ele apontou um dedo magro para Merry - seu rapaz provavelmente falou a voc sobre Zep,: no foi? - Sim. - Merry colocou as mos juntas para impedi-las de tremer. - No falamos muito porque sua especialidade nossa prpria histria social, mas claro que ele os mencionou. o brao de uma cultura muito antiga, no ? - Antiga, quando ns estvamos construindo pirmides. Antiga, quando ainda se estava descobrindo a Trindade Indu do Criador, Preservador e Destruidor, no Mohenjo

- Daro, a muralha da Morte. Antiga, quando o homem pintava mgicas figuras de animais nas paredes das cavernas. Antes de ns termos linguagem, eles tiveram poesia. Antes de ns termos ferramentas, eles tiveram mquinas. Antes de ns termos metal, eles deveriam ter tido energia nuclear. A voz de Karmesin, que havia alcanado o ponto da declamao, enquanto ele falava dos nativos de Zep, caiu na ltima frase para o nvel da conversao normal. Virando-se para fitar Merry, apontou seu brao seco na direo dela: Por qu eles no a tiveram? - Eu... Oh! Por que eles no tm elementos pesados? - Pre-ci-sa-men-te - disse Karmesin, dando uma entonao de mestre-escola, encantado com uma aluna brilhante. - Das sete conhecidas espcies hunates que encontraram a energia nuclear, e ns tambm, todas chegaram fuso, pela fisso dos elementos pesados. Pequenas excees existem, mas nunca se teriam desenvolvido sem a informao obtida pela fisso tpica do urnio ou, em caso excepcional, do trio. Outras formas de vida, alm do tipo terrestre, CHON-tipo, Carbono-Hidrognio. Oxignio, Nitrognio, realmente existem. - Ele estalou os dedos. Outras formas de vida podem ter encontrado suas prprias espcies de inteligncia... Quem sabe? Haver um outro milnio antes de ns conseguirmos analisar seus conceitos e nos adaptarmos a eles. Ao passo que da fora da lei natural que a espcie dominante, num planeta terrestre, seja um smio vertical, bpede, bi-braquial, binocular. Se isso devido a sua afinidade por rvores, o que ilusrio e improvvel, ou sua postura ereta, tambm ilusrio e improvvel, ou seu desenvolvimento num perodo de cultura em que est subordinado ao conhecimento da sequncia de estaes e aprende a design-las pelos fenmenos celestes, nosso inteligente macaco, quer terrestre ou hunate, um sonhador, um astrnomo e um viajante do espao, se conseguir ir to longe. Ele parou e sua extrema tenso desapareceu. Num segundo estava lnguido e desajeitado. Merry se inclinou para a frente. - As pessoas de Zep inventaram viagens espaciais para si mesmos? - Sim, sim. Mas para se viajar no espao preciso energia. Em particular, o mergulho no hiper-espao, o nico que proporciona um movimento interestelar conveniente, digo conveniente e no concebvel, requer energia numa escala inimaginvel. Voc sabe, criana, que alguma coisa como o total rendimento da estrela Sirius, em 12 segundos foi gasta para trazer o seu Rex, de Gyges at aqui? Merry, tocada em um ponto sensvel, ficou plida e .no disse nada. Instantaneamente, Karmesin tornou-se contrito. Dobrou um joelho diante dela, segurou sua delicada mozinha, pediu desculpas, ps-se de p e resumiu seu discurso num tom de leitor universitrio. Olhando-o, Merry comeou a pensar que a coisa que mais o aborrecia era ele mesmo e que essas ridculas mudanas de maneira eram parte da tcnica que ele usava para tentar afastar o aborrecimento. - Sim. .. Bem, como eu estava dizendo, aqui estavam esses Zepeanos, capazes de andar pelo seu sistema local em jatos qumicos, vidos para alcanar as estrelas, mas incapazes de faz-lo. Assim, eles desistiram. - Esfregou as mos. - Eles se modificaram de uma forma curiosa. Lanaram mo de um estratagema que foi previamente elaborado e tentado em outros mundos, assim como em Zep. Realmente elaboraram um sistema envolvendo disciplina, ascetismo, exerccios mentais, etc... etc... Voc pode chamar essa sociedade de uma teocracia, embora ela no tenha deus. Em nossa prpria histria pr-galtica, temos talvez um paralelo na ndia, terra de faquires e gurus, e de um povo descrito mais de uma vez como embebidos pela ideia de deus. Por qu? Por qu isso, envolvendo rituais e cerimnias, abnegao e uso de objetos sagrados? Quem pode dizer? Uma vez pensamos que poderia ser parte da

procura dos poderes psquicos. Vocs j ouviram isso? Acho que no. H j noventa anos que os investigadores levaram a srio a questo. Foi-se, foi-se como o vento. Ah, desculpem-me. Eu estava divagando. Minha cabea est estufada como uma torta de frutas e no poucas vezes, o suco pinga atravs da massa. Onde eu estava? Claro! Os poderes psquicos: transferncia de pensamento, o poder de ver o futuro, o poder de cobrir distncias com um ato da vontade. Esses so hipotticos pontos a favor dos zepeanos. Os zepeanos provavelmente riram-se de nosso conhecimento e continuaram a fazer exatamente o que faziam antes. Ns ainda no sabemos o que isso possa ser. Nossas maiores previses tm sido absurdas. O ltimo passo foi o que nos determinou a no lutar muito duramente para descobrir os seus motivos. Isso foi quando eles provaram, para nossa completa satisfao, que haviam elaborado uma tcnica de anlise psicossocial que fazia a nossa parecer exatamente o que : a noo do ltimo minuto de um bando de loucos macacos estelares, Eu pareo cnico sobre a minha espcie e sou. Tenho visto muitos deles, por tempo demais. Infalivelmente polido, bastante bonito, o povo de Zep tornou-se, h uns dois ou trs sculos, passageiro familiar em nossas espaonaves, Eles falam a lngua galtica com excelente vocabulrio e perfeita acentuao, enquanto que entre eles se comunicam numa linguagem refinada por cinco mil anos de direo consciente, que, tanto quanto eu saiba, nenhum membro de qualquer outra espcie, aprendeu propriamente. Temos computadores para traduzir para ns. E... Ah... Isso tudo o que eu sei sobre os zepeanos, realmente. Ele tinha estado gesticulando. Agora, juntou as mos e deu aos seus - ouvintes um meio sorriso. - O qu, por favor, significa essa lio? - perguntou Dombeno. - O qu? - Karmesin estava deliberada e obviamente esquecendo o significado de Dombeno. - Por qu? Vocs me perguntaram sobre zepeanos, no foi? E... - Ele levantou a cabea. - E eu queria distrair vocs at ouvir o som que eu ouvi agora, que o barulho do pessoal de salvamento do lado de fora desta porta. Estaremos fora daqui em dois ou trs minutos.

7O comunicador de notcias no canto, voltou a funcionar em volume total e uma voz masculina disse: - Ateno, ateno, ateno! Notcias de um atentado bomba no clebre hotel Mira, o maior da cidade de Aryx e do nosso planeta, onde acaba de se hospedar um visitante importante, o Imortal Karmesin da Terra, de mil anos ou mais. As coisas ainda esto confusas, mas h uma pequena desconfiana de que isso seja um ato de terrorismo dos seguidores do chamado mistrio da Fnix, que expressam sua prpria insatisfao com o estado dos negcios galticos, tentando contra a vida dos outros e daqueles para quem o estudo do Imortal um estmulo. Ns lhes mostraremos agora... - Moral: a concepo das sadas de emergncias no to obsoleta como algumas pessoas pensam - Karmesin opinou brilhantemente. Ele cheirou a jarra de eufrico, balanou a cabea num sinal de aprovao para o seu delicado buqu, tomou um gole e colocou a jarra de lado. Haviam mandado que o luxuoso bar Fogo Estelar, bem abaixo do hall, servisse como posto de salvamento e as mesas estavam com tudo que fosse necessrio s vtimas inconscientes da exploso. Um doutor de pele escura, com nada menos que sete criados-bolha rodeando sua cabea, para transmitir aos robs mdicos as suas ordens, conferia ansiosamente as condies dos pacientes. Ningum, felizmente, havia morrido. Poderia levar tempo, mas os feridos voltariam todos ao seu estado normal de sade. Do vestbulo vinha um constante barulho de queixumes, histeria e ordens de remoo para outro hotel imediatamente. A senhora Gamal e seus funcionrios estavam cuidando do problema. Karmesin ria por entre os dentes. - No sei por qu voc est to contente! - Dombeno grunhiu. - O que o fez tomar um eufrico, afinal? - Ele mostrava um segundo gole em sua jarra. - Eu lhe disse. Tive uma nova experincia em um sculo ou mais. - Karmesin deixou-se cair desajeitadamente numa cadeira. - O qu, aconteceu com a mocinha, afinal? - Desmaiou com o choque. O doutor lhe deu um restaurador de alguma espcie. Dombeno olhou para a longa sala de socorro mdico. - Isso importa particularmente a voc? - Por ela, sim. Bem, e sobre o terrorista? Quais so as chances de peg-lo? - Danao! - Dombeno engoliu sua bebida e enxugou os lbios nas costas da mo. - Como que eu posso saber? Parece que ns temos a fora policial de Aryx nesse caso, mas para tudo existe um limite.

Ele se empertigou e levantou a cabea, olhando para a porta do vestbulo. Acompanhado de um rob carregador, estava entrando no bar um oficial de polcia mal-encarado. Ao ver Dombeno, fez, um sinal mquina atrs dele e veio depressa. - Policial Anse - apresentou-se brevemente. - Parece que encontramos o homem, Secretrio! - Onde est ele? - Dombeno ficou tenso. - Aqui. - Anse informou num tom desgostoso e fez o rob mostrar sua carga. Numa folha de mrmore artificial rachada, arrancada da parede da ala velha, havia manchas de sangue, resduos orgnicos e um monte de despojos esmigalhados, entremeados de pedaos reconhecveis de ossos humanos. Dombeno engoliu em seco e fez um sinal nervoso para que se cobrisse as horrveis relquias. Aos poucos recobrou a voz: - Exatamente o que era de se esperar! - A Fnix na sua pira? - sugeriu Karmesin. - Voc j estudou a lenda original, Dombeno? - No, no estou interessado em Histria Antiga falou o poltico. - Estou interessado em preservar a ordem agora e agora, e se isso um exemplo do que pode acontecer com uma visita sua, eu ficaria muito mais feliz se... Percebeu ento que Anse o fitava admirado e interrompeu o jato de palavras, bebendo outra vez seu aperitivo. Karmesin parecia no ter notado. Estudando o estrelado teto do bar, disse: - Sabe que esse mistrio da Fnix tem todas as caractersticas de uma doena contagiosa? Imagino que vocs nunca tiveram uma epidemia aqui, no ? Dombeno o olhava sem expresso. Depois de uma pausa, respondeu: - Ah! No, desde os dias de pioneirismo, no. - Era o que eu pensava. Imortais ainda servem para alguma coisa, Dombeno, e no somente como peas de museu. O mistrio da Fnix se espalha por todos os lados, exatamente como uma doena costumava fazer. Tambm mata pessoas, como a doena. Hummm... Dombeno, convoque a reunio que eu lhe pedi. E coloque a polcia na trilha de Rex Quant. Faa com que a moa seja rigorosamente inquirida em todos os pequenos detalhes sobre seus hbitos, seus maneirismos, interesses especiais, tudo. Do mesmo modo, pea embaixada de Gyges seus registros e antecedentes. No quero o menor esquecimento. desta vez. - O quarto foi destrudo, voc sabe. - No interessa - retrucou Karmesin, A menos que se pudesse dar uma segunda busca, de verdade. Dombeno se tornou frvolo nos ltimos sessenta anos, ia pensando Karmesin ao entrar no escritrio do Secretrio. Esfrico, de paredes transparentes, o local ficava sobre a bonita cidade Aryx, a mil ps de altura e tinha vista, no somente para as altas montanhas, azuis no horizonte, mas tambm para o manso Oceano Sambhal, calmo nessa tarde ensolarada. Os outros o estavam esperando, no em pessoa, mas em imagens slidas. Os polticos tinham uma antiquada implicncia com as conferncias, pensando que elas poderiam talvez ser muito reveladoras. Dombeno fez as apresentaes formais: Brolitch, Secretrio-Chefe para assuntos interestelares, era moreno, narigudo, e tinha uma voz spera Tenente Mahn, adido poltico e histrico da embaixada de Gyes, era alto, musculoso, bonito e elegante no seu saiote curto e enfeites dourados. Tambm havia uma mulher chamada Inonia, jovem delegada da Galxia, na Terra, atualmente em casa, de licena. Ela ouvia bastante e falava pouco. Karmesin saudou-os com um rpido sorriso enquanto se sentava e no perdeu

tempo em prembulos: - Dombeno j me disse e eu posso ler o mesmo em seu rosto, Brolitch, que para vocs seria muito melhor que eu no estivesse em Aryx. Ou, isso falhando, que eu tivesse vindo para o estudo de algum bem organizado projeto, similar quele ltimo que me trouxe aqui. Dombeno me acusa de me expor como um alvo para a Fnix. Se ele imagina que o meu aborrecimento j chegou ao ponto de me levar ao suicdio involuntrio ou outra coisa qualquer, eu no perguntei. No concordo com impertinncias. No minha culpa se o hotel Mira foi bombardeado logo depois da minha chegada. Tambm no culpa dele nem de vocs. Em nome dos cus, se vocs me perdoam essa arcaica expresso! Se vocs no podem impedir no seu planeta a diablica destruio de um bando de fanticos descontentes, tambm no podem censurar um visitante casual, Imortal ou no Imortal! Dombeno ficou vermelho e respondeu num tom defensivo: - O mistrio da Fnix tem... - Tem se espalhado por vrios mundos alm desse e ningum parece capaz de terminar completamente com ele. - completou Karmesin. - Certo. Da se segue que vocs no foram mais bem sucedidos do que todos os outros. Como esto as coisas em Gyes, tenente Mahn? - Melhor do que aqui. - O adido foi brusco. - No temos nada que se compare com isso ou com essas imolaes pblicas em lugares como Stonewall, Ns temos alguns proslitos, mas ainda no tivemos srios problemas. E tambm no estamos minimizando os riscos - Permitiu-se um olhar superior para Dombeno. - Como o senhor certamente viu, Imortal Karmesin, em sua recente visita ao meu planeta. - uma contradio - constatou Karmesin - Isso est se espalhando como uma praga. Se voc no chama de praga um aumento de seiscentos por cento em duas dcadas, eu chamo! To defensivo agora quanto Dombeno, o tenente Mahn retrucou: - Coloque em percentagens, se quiser! Eu lhe digo que isso representa apenas trs por cento da populao, no mximo. - Crescendo - abreviou Karmesin. Espalhando-se como uma praga. Porm no importa essa discusso. Deixe-me voltar ao assunto. O terceiro encontro, em seiscentos anos, do Conselho dos Imortais, foi realizado na Terra h um ano atrs. Ah! vocs parecem surpresos. Bem, no coisa conhecida que ns tenhamos nos reunido uma terceira vez. No procuramos publicidade. O primeiro encontro foi realizado para discutir como poderamos segurar o privilgio do poder, que vocs, na pessoa de seus ancestrais, nos concederam. Ele percebeu que Dombeno franziu a testa e continuou: - Sim, vocs gostariam de anular essa deciso, e o fariam alegremente, agora que adquiriram tambm um pouco de poder, no ? Deixe-me continuar. O segundo encontro foi para decidir como usar o poder, uma vez que ns o tnhamos. O terceiro foi para discutir o mistrio da Fnix. O tenente Mahn formou nos lbios um Oh! de compreenso. Karmesin dirigiu a outra observao para ele: - O senhor est informado do assunto desse projeto de pesquisa para o qual o desaparecido Rex Quant foi contratado? A imagem do Tenente Mahn se apagou por um instante, enquanto consultava um resumo preparado para ele por seus robs. Quando ficou em foco outra vez, parecia surpreso. - Sim! Era um estudo sobre o mistrio da Fnix. - Por qu est to perturbado? - caoou Karmesin. - No uma tarefa razovel para um historiador psicossocial, no um problema bastante grande para necessitar concurso de Imortais?

O tenente Mahn enrubesceu e esboou uma resposta. - Muito bem, isso no era to surpreendente - continuou Karmesin. - Detalhes, tenente Mahn! Vocs teriam detalhes, se no fossem to. convencidos em Gyges! Interrompeu-se. - Quanto tempo Rex Quant passou no quarto 8010, Dombeno? Seus policiais j estabeleceram isso? - Ainda no - murmurou o outro. A ltima notcia foi de que ele teria ficado l num mximo de trs horas e num mnimo de quarenta minutos. - Durante os quais teve um trauma emocional to violento, que deixou pistas suficientemente fortes para serem identificadas dois meses mais tarde, por um velho analisador porttil. Est morto, Dombeno? O poltico virou os olhos e no respondeu. - melhor que no esteja, Dombeno! - A voz de Karmesin ficou macia com a ameaa. - Ele muito especial para morrer jovem. No uma garota apaixonada que fala pelo seu amado, Dombeno. Quem lhe fala o Imortal Karmesin. Voc est me escutando? O rosto de Dombeno anuviou-se, como se fosse chorar feito criana frustrada. No mesmo momento veio um sinal de um comunicador-bolha acima de sua cabea e, com um mal escondido alvio, atendeu-o, depois de murmurar uma desculpa para os outros. - uma notcia do Hotel Mira - relatou. - H alguma coisa estranha crescendo na velha ala, exposta pela quebra das paredes. - Espere! - ordenou Karmesin, - No me diga o que isso. Eu lhes direi que uma malha de fibras de cor acinzentada, crescendo a intervalos irregulares, sem origem ou fim visveis. Estou certo? Atordoado, Dombeno assentiu. - Evacuar o hotel! - Disse Karmesin depois de uma pausa. - Investigue as fibras. Se necessrio, evacuar a cidade. Envie para Stonewall e tenha todos os lugares pblicos examinados. Se essa matria for encontrada, voc ter que evacuar a ilha. Dombeno estava engolindo em seco, audivelmente. Tinha a voz trmula: - Mas, mas... impossvel! - Faa isso! - Karmesin foi inexorvel. - Homem, criana, o que voc aprendeu nos ltimos sessenta anos, desde que nos vimos pela ltima vez, alm dos prazeres do poder e das delcias da luxria? Voc pensa que no h razo para me terem dado poder sem limites? Voc pensa que ele nos foi dado apenas porque ns o desejamos? Voc pensa que foi porque ns estvamos vidos insatisfeitos? Sim, voc pensa! Eu posso l-Io em sua fisionomia Voc nunca havia concebido uma outra razo at agora. Eu lhe darei uma outra razo. At hoje, eu nunca havia visto essas fibras que esto aparecendo na estrutura do hotel. No que eu saiba, nenhum dos da minha espcie j as viu... Mas eu lhe falei do que foi encontrado. Menino, criana, jovem, eu fao mais do que me lembrar, para seu governo e convenincia. Estou comeando a aprender. Pela primeira vez na vida, estou comeando a aprender. Levantou-se com um brilho nos olhos e deu por terminada a conferncia, com um aceno de mo.

8Foram mais friamente bondosos com Merry desta vez, do que no seu primeiro contacto com a burocracia da polcia de Aryx. Esperaram que o doutor a declarasse livre, do choque de estar presa no subsolo, antes de comear o interrogatrio. Trouxeramlhe uma refeio deliciosa da cozinha do hotel, como ela no havia comido desde que Rex a levou ali pela primeira vez, na noite de sua partida, para jantar no jardim do terrao e brincou que um dia seria capaz de ganhar tanto, para morar no hotel. Ento, tinha sido verdade. No era um sonho maravilhoso. Ela, Merry Duner, estava sob a proteo pessoal de um Imortal, e, porque Karmesin o ordenara, os totais recursos de um planeta estavam sua disposio na busca do seu amor perdido. Da ltima vez eles tinham se aborrecido com a sua insistncia. Agora era ela que estava disposio deles. Tudo sobre Rex Quant parecia interess-los : seu vocabulrio preferido, seus gostos, seus maneirismos, comidas e bebidas preferidas, e alm disso, coisas que ela no gostaria nunca de trazer a pblico: sua maneira predileta de fazer amor, suas carcias ntimas, e at a ordem em que ele tirava as peas de roupa antes de entrar na cama. Ela se forou a respondeu, lembrando que qualquer pista poderia levar a ele. E ento, quando as perguntas se tornaram cada vez mais ntimas, veio uma interrupo estridente O policial Anse, que estava tomando o seu depoimento, parou, desculpou-se e atendeu ao criado-bolha que o mantinha em contacto com o seu quartel. Suas faces ficaram plidas. Ele disse: - O qu? Por qu? Ser que esse local capaz de desmoronar ou algo semelhante? Olhe, a bomba no era assim to grande! Escutou outra vez. - Suspender tudo? Mas eu estou tomando o depoimento da. .. Est bem, mas espero que ele resolva logo o que quer que seja feito primeiro! - Deixou a bolha flutuar outra vez para o lugar, nos seus ombros. - Sinto muito, o Imortal Karmesin teve outra ideia Ns teremos que evacuar a rea e eu devo seguir o time dos recalcitrantes sabidos. Assim, o resto deve esperar. - Levantou-se da cadeira e a bolha se elevou umas dezoito polegadas. - Mas o que que eu devo... - Sinto muito, essas so as minhas instrues. Acho que melhor voc comear por fazer o que todo mundo vai fazer. Ir para casa, talvez. Eu moro em Stonewall! - Voc que feliz. De acordo com o que eu ouvi, esto considerando se devem evacuar a danada da cidade inteira! - O policial Anse bateu no rosto. O porqu disso somente Karmesin sabe. E, francamente, eu no estou muito certo de que ele o saiba.

- Mas Rex! - Merry disse fracamente. - Talvez isso tenha alguma coisa a ver com a sua procura. Mandar embora quatro bilhes de pessoas parece uma maneira muito difcil de o fazer, mas certamente Karmesin est muito interessado no seu amiguinho de Gyges. O comunicador na bolha bateu violentamente e Anse respondeu que estava a caminho. - Agora voc vai ser uma moa muito boazinha e tomar o seu caminho para Stonewall antes que ns levantemos a cidade e a sacudamos. Onde iremos colocar quatro milhes de pessoas? E a comida? E condies sanitrias? - Ser que vocs so incapazes de manter mais de uma ideia na cabea de cada vez? - Trovejava Karmesin. - Suponho que os seus incompetentes e idiotas policiais se alegraram com a chance de esquecer suas ignorncias passadas. Mas no! Mandaram a moa de volta s ruas e no tomaram nenhuma providncia para encontrla outra vez quando quisessem. E o fizeram porque lhes foi dito que teriam uma evacuao em massa para lidar! Dombeno fechou os olhos. E disse: - Karmesin, voc intolervel. Se voc a queria trancada, por qu no disse isso especificamente? - Eu disse! Eu j havia dito isso! Por qu mais estavam-na interrogando sobre Rex Quant? Ser que eu tenho que pensar por todo o seu governo planetrio assim como por mim? - Karmesin estava fora de si, com raiva. Suponho que tenho que dizer a voc que desejo que os inquritos sobre Rex Quant continuem. - Isso vai absorver toda a nossa fora policial, ter que comandar o movimento de quatro milhes de pessoas. Eu no posso atir-los num pas aberto, sem tomar algumas providncias para... - Claro que voc no pode e eu no estou pedindo isso! Alimente-os, abrigue-os, mantenha-os felizes por um dia ou dois, de todos os modos. Mas, que inferno! Por qu eles precisam de polcia? Ser que voc no age nesse planeta com tato e inteligncia suficientes para as pessoas entenderem que quando voc lhes diz para se mudarem porque voc tem uma boa razo? Ser que voc vai ter que pux-los pelos cabelos para fora da cidade? - Eu no tenho uma boa razo - arriscou Dombeno. - Voc ainda no me deu nenhuma! - Oh! Cus, preservai minha sanidade! - Karmesin enfiava os dedos longos pelos seus cabelos brilhantes, por ambos os lados da cabea. - Eu tenho realmente que pensar pelo seu governo inteiro. Vamos pela ltima vez ver essa questo das fibras cinzentas. Ento, se se tornar necessria a evacuao, eu irei aos seus canais de informao pblica e darei ao povo a melhor razo que eles poderiam desejar. Consiga-me um grupo dos melhores biologistas que voc tiver no planeta, acesso aos computadores deles, e os envie ao hotel Mira o mais cedo possvel. As fibras eram quase imperceptveis. Em toda a sujeira deixada pela bomba, elas poderiam passar por teias de aranha, da Terra. Mas aqui no havia teias de aranha. Karmesin olhou para elas. Sem ao menos virar a cabea, dirigiu-se chefe do grupo de biologistas, uma mulher corpulenta, de nome Decie, vestida com uma roupa esterilizada.? - um organismo de tipo CHON? - Oh! Sim. tambm um elemento de cadeia muito longa. - A voz de Decie soou como se ela estivesse forando uma vivacidade, para esconder seu pavor de falar a

um Imortal. - Eu tenho que... - No importa o esquema exato. Voc j viu algo assim antes? - No, isto , pelo menos no aqui. Tenho um dos meus ajudantes conferindo os computadores com referncias de ocorrncia em outros lugares, mas de muito longe. - No nativo desse planeta? - A menos que seja uma mutao recente, a resposta negativa. Temos os elementos nativos usuais de plantas de um meio sem gua, mas conferimos a lista completa de mais de trs mil espcies principais e... - Eu quero respostas mais curtas do que essa - disse Karmesin asperamente. A mulher mordeu os lbios e assentiu. - Est vivo? - Ainda no vi. - Voc o qu? - Com um espanto genuno, Karmesin olhou para ela. - Vocs descobriram um tipo novo de planta aparentemente no nativa, no meio da maior cidade do seu mundo; e ainda no descobriram se ela est viva? O qu est acontecendo com essa minha espcie no - ltimo milnio? Muito mais disso e eu me transformarei num Fnix, eu juro! Ns iremos mesmo precisar de um novo comeo, se no pudermos andar melhor do que isso! Nervosamente, Decie prometeu ao imediata e se dirigiu atravs do soalho todo revolvido, para o que tinha sido o hall dos elevadores. Levantando a cabea, Karmesin contou os andares acima dele, achando que poderia descobrir o ponto prximo ao 80 andar, onde a bomba havia sido colocada. - Eu gostaria que voc me dissesse o que pensa que isso - falou Dombeno pela vigsima vez. Ele parecia - cansado e abatido. Via-se que no estava acostumado a estar pessoalmente presente a essas cenas de crise, por tanto tempo. Karmesin imaginou que ele as observava pelos monitores ou enviava seus subordinados. - Ainda no sei. Podem ser duas coisas. - A voz de Karmesin estava calma como no estivera por muito tempo. - J investigaram o sistema de razes, ou o que quer que exista? - Ainda no. Esto tentando arrebentar o piso volante das caladas, l na porta do hotel. Espero que voc entenda que transtorno est causando nossa cidade! - falou violentamente - Ouviu-se um grito l do fundo e Decie veio tropeando, grotesca na sua roupa inflada. - Imortal Karmesin Imortal Karmesin! Karmesin esperou. Ela parou sua frente, suando e bufando. - Ns conferimos para bio-atividade e, e ridculo! A matria no meramente viva! Ela ativa no mesmo grau que s se espera encontrar nos tecidos nervosos humanos ou hunates! - Por trs do prateado de sua roupa, seu rosto estava completamente plido e seus olhos desmesuradamente abertos. - Hummm... - Foi o nico comentrio de Karmesin por alguns segundos. Sua expresso era abstrata. Ento, ele se endireitou. - Muito bem. Seccione uma amostra disso, uma cadeia completa ou qualquer unidade vivel, e leve-a para o melhor bio-laboratrio que houver em Aryx. E descubra o que isso faz. Sim, eu disse o que ele faz! Ele faz alguma coisa alm de crescer, posso apostar! Sem esperar a reao dela, virou-se para Dombeno. - E mande evacuar a cidade. Agora! Nenhuma notcia de Stonewall? No? Bem, pea-as! Escute, menino. Eu no me importo de interromper sua cidade ou seu planeta por essa razo. Se essa matria for o que eu penso que seja, ns teremos provavelmente que esterilizar todo esse mundo e ir para outro lugar. Agora voc enten-

de como a situao sria?

9Merry reservou um leito no navio noturno para Stonewall, mas no podia se acostumar ideia de ficar deitada e acordada com suas preocupaes, no meio do escuro. Assim, ficou no convs, ouvindo o barulho do vento em suas orelhas e a msica para danar, enfraquecida pela distncia do salo de festas. - Voc est com frio? - Uma voz macia perguntou bem pertinho dela. - Se est, fique com o meu manto. Merry tomou um susto. Ela no havia reparado a figura alta e escura ao seu lado, cujos traos eram invisveis na plida luz das estrelas. O corpo ficou curiosamente sem forma por um momento e, ento, pareceu tomar a forma de um pssaro abrindo as asas, ao retirar e oferecer sua capa. Ela o impediu com um gesto. - No, no, muito bondade sua, mas eu no estou com frio, apenas esse ar diferente que me faz tremer. - Sei. - O estranho deu uma risada e se envolveu no manto outra vez. - O apelo do amor, da criatura que vocs chamam pseudobalena sambhalense microminimo, com um remarcado desprezo, tanto pelas belezas do seu vocabulrio cientfico, como pelas regras das lnguas pr-galticas das quais vocs derivam . - Oh! Voc um estrangeiro! - Sim, para ser exato, eu sou um hunate, como vocs dizem. Minha terra no mundo que vocs apelidaram Zep. Mas, na escurido, voc no percebeu. No h ofensa. - Sinto muito - exclamou Merry, olhando com novo interesse seu companheiro inesperado. - Bem, voc no quer sentar? Por coincidncia, eu estava ouvindo falar de Zep hoje mesmo, em Aryx. - Obrigado. Eu aceito o convite. Desconfio que voc no podia dormir, no ? Sinto muito. - Oh! No nada srio. Estou um pouco preocupada, s isso. Pensei em sentar aqui e me acalmar antes de ir para a cama. - Sim. - A cabea do zepeano virou-se, no escuro, para observar a noite estrelada. - Um curioso atavismo, esse senso de paz e segurana que o espetculo da rotao ordenada dos cus pode induzir na sua espcie, na minha e em todas as outras parecidas. - Eu estive ouvindo sobre isso tambm. Isso tem alguma coisa a ver com o costume de se marcar as estaes do ano, h muito tempo atrs? - Talvez, possivelmente. - O zepeano a olhou demoradamente. Ser que voc estudante de psicologia ou histria?

- No. - Merry deu um riso nervoso. - Eu comecei a me interessar por isso por causa de, digamos, um amigo. - Realmente. - O zepeano no formulou a pergunta. - Eu respondo pelo nome de Nevado, disse depois de uma pausa. - Desculpe! Eu sou Merry Duner - E depois, timidamente, mas com deciso: - Responde pelo nome de qu? - Sim, meu nome verdadeiro muito difcil de ser pronunciado por vocs e para traduzi-lo mais literalmente do que como Nevado, que d ideia aproximadamente de frio, pureza e distncia, seria inconveniente. - Houve um sorriso em sua frase e Merry pensou que podia descansar um pouco, - Eu estou muito contente de t-lo encontrado - aventurou ela. - Eu no sabia, at hoje, o quanto a sua espcie adiantada. Quer dizer, eu tenho visto vocs aqui em Aryx e l em Stonewall, mas nunca soube muito sobre o seu povo. - Ento, esteja vontade para perguntar tudo o que quiser - disse Nevado, recostando-se negligentemente e cruzando as pernas. - Sua espcie tem sido muito corts conosco. Sem o seu auxlio, ns nunca poderamos cruzar os golfos interestelares. A pequena assistncia que ns podemos dar no estudo da evoluo psicossocial um pagamento desproporcionalmente pequeno para tal presente. - Oh! Isso no verdade - negou Merry. - Todo mundo diz que o seu alcance no campo dos estudos psicossociais faz os nossos esforos parecerem... - ela se lembrou da frase de Karmesin e repetiu: - a noo de ltimo minuto de um bando de loucos macacos estelares. - De fato? - A voz de Nevado elevou-se por um segundo nas palavras seguintes, ela j havia voltado ao seu tom normal de conversao. - lisonjeiro, mas ns no desprezaramos os conhecimentos de uma raa que tornou as viagens estelares to rpidas e fceis quanto as viagens. num planeta. - No uma questo de sorte que vocs no o tenham feito antes? - O que a estava impelindo a dizer coisas to estranhas, Merry no saberia dizer. Parecia que, era a necessidade de se distrair, conversando. - De qualquer modo, se vocs tivessem quantidades de urnio e trio no seu planeta, seriam a raa que abriria as estrelas. - Voc acredita nisso? - Nevado encolheu os ombros. - Bem, essa uma questo acadmica. Ns nos voltamos e tomamos um outro caminho