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SOBRAL
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POLITIKA
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il PW^ife^^i A Editoria
Satélite dos EUAVasculhará a Amazônia
Podro Pedrosúnn
No momento em que são examina-dos os primeiros dados do levanta-mento aerofotogramétrico que estásendo executado pelo Projeto Radam— na Amazônia — cujo objetivo é de-terminar com precisão as reservas mi-nerais, geológicas, florestais e hidráu-licas, em uma área de 1 milhão 870 milkm2, a
"Nasa", dos Estados Unidos,
prepara-se para lançar um satélite deobservação — "Erts-A" —
que lhe per-mitirá, inclusive, controlar a coloniza-ção na região. O satélite, que revelaráminuciosamente os recursos florestaisda Amazônia, captará imagens atravésde três câmaras fotográficas infraver-melhas e faíscas magnéticas. Cada fo-tografia cobrirá 34 mil km2.
Isto possibilitará à "Nasa"
obterdados sobre modificações na vegeta-ção, erosão das praias, descoberta deminerais, contaminação das águas edestruição das matas. Seu Centro deOperações, em Goddard, tem um poderde recepção de 1.300 imagens diárias.Enquanto c Projeto brasileiro — utili-zando-se de um avião equipado comuma câmara de tevê, sistema de fotosradar — tem um custo previsto de 35milhões de cruzeiros, o custo total doprograma norte-americano de preten-sões bem mais audaciosas, eleva-se a174 milhões de dólares, ou seja, 1 bl-Ihão e 44 milhões de cruzeiros.
O satélite de observação norte-americano, a ser lançado nos próxl-mos dias, permitirá pela primeira vezconhecer minuciosamente os recursosflorestais da Amazônia e poderá con-trolar sua colonização. O satélite (sa-télite tecnológico de recursos terres-tres), através de seus sofisticados sis-temas de fotografia, filmagem e televl-são, determinará a produtividade dasdiversas espécies em todas as áreasflorestais do mundo.
A informação, fornecida pela Ad-ministração Nacional de Aeronáutica eEspaço (Nasa), acrescenta que a pro-dutividade de florestas tropicais, comoa da Amazônia, é totalmente desconhe-cida porque o homem ainda não expio-rou muito seu território, e que o saté-lite fornecerá o primeiro relatório qlo-bal detalhado.
Robert Colwell, professor de Re-florestamento da Universidade da Cali-fórnia, assinalou que as imagens do sa-télite mostrarão as zonas naturais vir-gens que estão sendo desenvolvidascom fins de colonização ou agrícul-tura.
"Isto nos permitirá examinar se
um colono que tentou estabelecer plan-tações em uma zona anteriormente vir-gem teve êxito, ou foi obrigado a parare ir embora", assinalou Colwell.
"Se os recursos naturais renova-
veis como plantações, madeiras e pe-cuária forem manejados inteligentemen-te poderão fornecer alimentos e fibraspara a humanidade, durante muitas ge-rações. Mas se esses recursos não fo-rem utilizados com sabedoria, a própriasobrevivência do homem estará breve-mente ameaçada", advertiu Colwell.
O satélite dará uma volta à Terraem cada 103 minutos ou 14 vezes pordia, e captará imagens da Amazôniaatravés de três câmaras fotográficas in-fravermelhas e faixas magnéticas. Cadafotografia cobrirá 34 mil quilômetrosquadrados. \
Os dados sobre modificações navegetação, erosão de praias, descober-ta de minerais, contaminação daságuas, destruição de matas e outrasinformações serão processados noCentro de Operações da "Nasa",
emGoddard. O Centro Nacional*de Ad-ministração Oceânica e Atmosférica,em Suitland, Estado de Maryland, po-dera fornecer informações do
"Erts-A"
ao público.— Através da observação e do
acúmulo de nuvens sobre uma deter-minada zona, o homem poderá deter-minar a quantidade anual de luz solarque chegará à Terra amazônica, o quepermitirá saber o melhor tipo de culti-vo para cada uma das áreas, explicouColwell.
O "Erts-A"
identificará, também,as- zonas florestais que estão sendoatacadas por insetos e descobrirá in-cêndios florestais, que freqüentemen-te ocorrem na Região Amazônica. OSatélite possibilitará a medição de con-taminação de águas de rios e lagos,principalmente os afetados ne!os dec-
pejos dás minas de carvão, ferro eTas
jazidas de cassiterita que são explora-das na superfície.
O Satélite, que se assemelha a umagigantesca borboleta devido às suasantenas, girará em uma órbita de 920quilômetros, próximo dos pólos, serálançado da base de Lompoc, Califór-nia, por intermédio de um fogueteDelta.
(Transcrito do Diretor Econômicodo
"Correio da Manhã", do dia 1 o dê
agosto de 1972).
Agi* ii ila• O deputado Argilano Darlo.
presidente do Diretório doMDB no Espírito Santo, andoupelos municípios de seu Estadoacompanhando os dirigentes dadelegacia do Instituto Brasileirodo Café - IBC — e seu* colegasda ARENA. Não ia na qualidadede integrante da caravana, masapenas como observador e foto-grado Ê que o parlamentar foiinformado de que o IBC avisavaaos integrantes da ARENA capl-xaba onde fariam a distribuiçãode mudas de cafeeiros para qu©eles pudessem acompanhá-los efaturar eleitoralmente o favorque estava sendo distribuído Oparlamentar da oposição soubedisso e passou a campanar a ca-ravana viu tudo. fotografou,Identificou os funcionários doIBC e os políticos da ARENA eagora está elaborando relatórioque entregará ao presidente doMDB, Ulisses Guimarães, paraque ele encaminhe as providèn-cias cabíveis junto às autorlda-des federais.
• O Primeiro Enoontro doFRODOESTE, realizado em
Campo Grande. Mato Grosso, d*17 a 23 de julho passado, foi pre-sidido pelo governador José Pra»gelü e coordenado pelo secretáriode Agricultura. Paulo CoelhoMachado, um dos maiores cria*dores de gado nelore do Brasil.A reunifio deveria ter sido rea*llzada em maio, mas foi trans-ferida para que coincidisse coma VIII Semana Nacional do O»-valo, da qual participariam 11generais, inclusive quatro de qu»-tro estrelas, além do presidenteMediei Apesar de tudo isso, epresidente não foi, nem deu so*tiaf ações. Dizem que o senado»Fillnto Muller é que teria acon-telhado o general Mediei a ntelr a Campo Grande, pois a festatinha por finalidade, prestigiar ocandidatura Paulo Coelho Um*dhado à sucessão do sr. Jos6Pragelli. em 1974. Em tempo • osecretário de Agricultura é daUDN e Fillnto Muller velha, ra-posa do PSD, E ambos são daARENA.
• E por falar de Mato Grosso •Fillnto Muller, ele já tem o
seu candidato à sucessão de JosôFragelli. Trata-se de um seu so-brinho, professor de HistóriaDizem que é multo Inteligente ecuito. mas que de administraçãonão entende nada. Mas a disputaao governo de Mato Grosso 6uma das mais renhidas do Bra-mt. A par dessas duas cândida-turas, o ex-governador Pedro Pe»drossian, que representa o PTBna Arena estadual, e que agoraé um respeitável criador de gad*nelore nas proximidades deCampo Grande, já comunicou aoeamigos que está disposto a faze»o governador em 1974, para issoestá trabalhando a bancada are-nista na Assembléia Legislativapera conseguir liderar a maioria
• O deputado Antônio Florên-cio Queirós, da Arena do Rio
Grande do Norte, é o ponto de
convergência dos pequenos e mé-dios salineiros em Areia Brancae Macau. Depois de ter sido feitopresidente da cooperativa criadacom a finalidade de salvar da fa-lencia milhares — 4 a 5 mü — depequenos salineiros ameaçados
pelos cinco grandes produtores
todos sob controle estrangeiro'Antônio Florêncio está agora en-caminhando suas reivindicaçõesjunto às autoridades federais ena própria Câmara dos Depu-tados.
• O que todo mundo sabe; ~ OBanco Mercantil de Minas
Gerais (comandado por VicenteAraújo, um mineiro de pouca ida-de e muito talento comercial)comprou o Banco Campina Gran-de.
• O que quase ninguém sabe: Opreço total foi 210 milhões
(bilhões antigos). No negócio,entraram o Banco Comercial, oBanco de Investimento, a Segu-radora e a Financeira. De fora,ficaram apenas a Corretora e aDistribuidora, que os irmãos Ri-que vão continuar a comandar.Na última hora, quase há umimpasse. Newotn Rique tinha ne-gpciado com Vicente Araújo a fu-são dos dois bancos. O Mercan-til teria a cabeça do controle eos Rique continuavam na dire-çao. Mas João Rique Filho, o ou-tro irmão, não concordou Que-na a venda ou nada. Newton ce-deu e o negócio foi fechado
• A Mitsubishi entregou a umfamoso corretor, negociador de
bancos e empresas do mercadode capitais, uma carta autorizan-do-o a comprar um Banco de In-vestimento. Aliás, os Japonesesestão entrando cada vez mais naeconomia brasileira. Eles têmuma reserva internacional de 18bilhões de dólares e não empres-tam. O negócio deles é comprarempresas já montadas. Há pou-co. o ministro Delfim Netto foia Tóquio vender letras braallei-ras e não conseguiu. O japonêsdecidiu estender sua rede inter-nacional através de duas fórmu-Ias: compra pura e simples deempresas ou participação em em-presas, desde que com mais de40% (porque o resto eles contro-Iam através de acordos de assis-têncla. tecnologia, know-how.etc.). Por exemplo: Só neeóciosdos dois últimos meses:
a) O grupo C. Itoh comprou40% da Kelson's que, apesar donome. era empresa nacional.
b) O mesmo grupo C. Itoh estámontando em Londrina, com Ho-ráclo Coimbra, uma fábrica de
c) A Marubene acaba de com-prar a fábrica de café solúvelIguaçu.
d) A Mitsui & Co. Ltd. vaiconstruir um hotel internacionalde 4.600 m2 de área na AvenidaConsolação, em São Paulo. A no-tícia foi dada a Laudo Natel, porShuzo Acki. o próprio presidenteda Mtsui no Japão. Quem o le-vou ao governador foi o deputadojaponês Diogo Namura. Que fun-ciona no Congresso, em Brasília,e não em Tóauio.
POLITIKA
SebastiãoNery
Em cinco meses, um conhecido
empresário ganhou pouco mais
de US$ 17 milhões, partindo
dos US$2 milhões que pedira
para jogar na Bolsa em alta.
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análise
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as razoesda queda
IBV
- Primeiro financia-mento, com recursos do PIS, aempresas que têm ações nego-ciadas na Bolsa.
- Resolução rt? 185 doConselho Monetário Nacional.
- Declaração oficial de
que o PIS vai operar preferen-cialmente com as empresas decapital aberto.
- Anúncio de que o PISampliaria, no segundo semes-tre, o volume de financia-mentos.
- Informação de que oPIS disporia mensalmente, a
partir de julho, de recursosaplicáveis da ordem de Cr$500 milhões.
Como se observa, as intensi-ficações das altas e os momen-tos de recuperação ocorreramsempre que medidas de esti-mulos foram anunciadas,numa demonstração de que assubidas não refletem, comoacontece em todas as Bolsasdo mundo, a melhoria real dasituação das empresas.
5000
3000= T?© v rví"
2000 ^> \ \ | |
1 . , , , i i i i i i i i 1 i I M 1 i i i i i I i I I i iA S O N D
.1970- 1971. -1972-
? Aa At* ^«mhm no auente verão de 1970, conhecido empresário da praça do Rio procurou um gerente de
Numa
tar*md«/Derz0^ produtos químicos a um grupo estrangeiro do ramo. Queria um
\xS*\~zli~l^"&
íi^^^lS!^ íS^^Sa, vigente o eximia até do imposto de renda - de 17.7 m„hoes de
dólares (Cr$ 106,2 milhões).
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análise
Na Bolsa, nova forma de fazer
milionários, era a razão das
conversas: ninguém queria já
falar de futebol. Importante
era saber a cotação de ações.
BOLSA
as razoes
ao queda
Inúmeros casos passaram
s. Em todos havia uma co
s bolsas fabricavam milic
0 caso é típico da época —
um
período em que a Bolsa era mais
assunto e mais esperança do que a
Loteria Esportiva. 0 mercado de
capitais, ganhando cada vez mais
espaço nos jornais e invadindo o
rádio e a televisão, deixara de ser
um mecanismo hermético. As cota-
ções da Bolsa substituíam o futebol
como tema das conversas nos escri-
tórios, praias, esquinas e botequins.
Fortunas feitas da noite para o dia
exacerbavam a imaginação popular
e contava-se a história do lavador de
carros que já tinha parado de traba-
lhar, para gerir seus negócios de
ações, ou a da viúva, com três fi-
lhos, que, aplicando os 20 mil cru-
zeiros deixados de herança pelo ma-
rido, comprara apartamento de
frente para o mar, em Ipanema, e já
percorrera duas vezes a Europa, em
férias permanentes.
0 IBV —
sigla mágica que dá o
valor teórico das ações mais nego-
ciadas diariamente — alcançava em
14 de junho de 1971 o seu ponto
máximo: 5.280. Era o auge da fe-
bre. A sorte estava à espera de
todos na Praça XV.
Um ano —
pouco mais ou menos
— depois, uma ilustre personalidade
nacional entra na luxuosa sede de um
Fundo de Investimentos e pede pa-
ra verificar o resultado da aplicação
das economias que reunira em toda
uma carrèira de sobriedade. Os Fun-
dos de Investimentos são reuniões
de grupos de pessoas que juntam o
seu dinheiro para investir em ações.
Só podem ser administrados por
instituições financeiras autorizadas
pelo Governo. 0 valor de cada fun-
do sobe e desce segundo as oscila-
ções dos preços das ações que pos-
sui. A personalidade entregará ao
fundo em questão um pecúlio
de
Cr$ 20 mil. Queria saber quanto já
estava lucrando e não entendeu —
por mais que se esforçasse em expli-
cações o diretor da instituição —
porque suas reservas estavam redu-
zidas a Cr$ 9 mil.
De junho de 1971 a julho de
1972, o IBV caiu de 5.280 para
1.689 —
média registrada na última
quarta-feira, dia 25.
OS OVOS DE OURO
A explosão do mercado de ações
no Brasil data de 1967, quando o
Governo decidiu que uma parte do
Imposto de Renda devido pelas em-
presas e particulares
fosse aplicada
na compra de papéis na Bolsa (De-
creto-Lei no. 157, de 10 de feverei-
ro). Era uma espécie de Nova Políti-
ca Econômica à brasileira, destinada
a estimular as empresas a trabalha-
rem com seu próprio capital, lan-
çando ações, em lugar de recorre-
rem a empréstimos. O volume de
dinheiro novo —
e compulsório -
que passou a entrar na Bolsa forçou
a subida das cotações dos títulos.
Os Fundos de Investimentos —
criados por uma legislação imagina-
da por Roberto Campos, que, sinto-
maticamente, ao deixar o Governo,
foi dirigir uma dessas instituições —
começaram a desenvolver intensa
propaganda, baseada em slogans do
tipo "nos
dê o seu dinheiro que o
multiplicaremos através de ações".
Incentivos fiscais de várias modali-
dades, concedidos a empresas e
acionistas, foram tornando cada dia
mais atraente a abertura do capital.
0 balão da Bolsa inflamava a cada
minuto e ninguém parecia preocu-
pado com a possibilidade de vir a
estourar. As declarações de minis-
tros e outras altas autoridades da
área econômica espalhavam um oti-
-mismo incontestável, apoiado pelas
análises dos especialistas que tratam
do assunto na imprensa —
todos,
com as execeções de praxe, seduzi-
dos pelo seu progresso como invés-
tidores e muitos transformados em
propagandistas oficiais do negócio,
como pode ser comprovado pela
leitura do expediente de publica-
ções da Bolsa, onde os nomes geral-
mente coincidem com os de que
assinam as colunas econômicas dos
jornais.
UMA VERDADE ESQUECIDA
Aparentemente esquecida a ver-
dade econômica respeitada em to-
dos os mercados de Bolsa do mun-
do, segundo a qual o valor de um
título depende, antes de tudo, do
patrimônio líquido da empresa e
dos lucros que ela possa realizar, os
estímulos artificiais à Bolsa conti-
nuaram a ser desenvolvidos e aper-
feiçoados. Em maio de 1971, coin-
cidindo com a intensificação do
boom, a resolução no. 185, do Con-
selho Monetário Nacional, autoriza
a aplicação de até 30% dos recursos
arrecadados pelo sistema do Deere-
to-Lei 157 em operações da Bolsa
ou de sustentação das quotas dos
Fundos de Investimentos. Em abril,
as empresas de capital aberto ha-
viam começado a receber financia-
mentos dos recursos arrecadados
pelo Programa de Integração Social.
A primeira a se beneficiar da medi-
da foi a Aço Vilares. Em junho, o
presidente da Caixa Econômica de-
clara que o PIS vai operar preferen-
cialmente com tais empresas e que
destinará 31,3% do total de seust'
fundos para aplicação em papeis
negociados no mercado de capitais.
$
POLITIKA
BOLSAas razões
da queda
Quando o mercado disparou.o
correspondente do"Financial
Times"escreveu que índices
tais não seriam conseguidos
em nenhuma Bolsa do mundo.Panálise
A questão
de alto
e baixo
Sob o efeito dessas injeções, o
mercado disparou. As ações da Aee-
sita - disputadíssimas - alcança-
ram um índice de desdobramento
próximo de 100. As do Banco do
Brasil, um índice de 85; as da Vale
do Rio Doce, por volta de 91 -
"marcas com que ninguém sonharia
em Londres", escreveu o correspon-
dente do Financial Times na Améri-
ca Latina, Hugh 0'Shaughnessy. A
euforia produzia estranhas avalia-
ções: o Banco do Brasil apresentava
uma capitalização de mercado algu-
mas vezes superor à que os investi-
dores norte-americanos costumam
atribuir ao Chase Manhattan Bank,
cujos depósitos são três vezes maio-
res do que os do banco brasileiro.
QUESTÃO DE ALTO E BAIXO
As comparações com a Inglaterra
teriam deixado Hugh 0'Shaughnes-
sy ainda mais intrigado, se o jorna-
lista britânico as tivesse estendido
ao PL (Preço/Lucro - índice^obti-
do pela divisão de preço da ação pe-
lo lucro por ação, e que representa
o número de anos necessários a rc
cuperação do capital investido, no
caso da totalidade do lucro ser dis-
tribuida. Um PL muito baixo signi-
fica que a ação oferece grande ren-
da em relação ao preço. O PL alto
significa baixa renda).
O PL médio em Londres - como
se pode verificar pela leitura de um
número qualquer deste mês do Fi-
nancial Times - é de 18, Na Bolsa'do
Rio ele está fixado atualmente
em 12. O artificiaüsmo dessa cota-
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Ninguém
entendia
mais nada
ção é de uma evidência gritante. O
IBV em Londres inclui cerca de 50O
empresas; no Rio comporta por voi-
ta de 60. O mais baixo PL na Ingla-
terra está na marca de 6; o mais alto
na de 42. No Rio jegistra-se este
disparate: menor PL (F. Guima-
rães), 2,16; maior PL (Pafisa), 217
No mercado de renda fixa,ou seja,*
fora da Bolsa, os investimentos cgs-
tumam oferecer, na Inglaterra, lu-
cros da ordem de 7%, margem bas-
tante aproximada dos 5,5% propi-
ciados por um PL de 18. No Rio, o
PL de 12 dá lucros de pouco mais
de 8%, cifra bem distante dos 25%
que podem ser obtidos no mercado
brasileiro de renda fixa.
Em depoimento recente à revista
Veja, Wanderley Simões, diretor da
Banrisul Corretora de Valores, de
Porto Alegre, afirma: "Nossas
Boi-
sas têm comportamento único em
todo o mundo: uma ação sobe 10%
em um dia, no outro pregão cai
10% e assim sucessivamente. O que
isso significa? Que nessas altas e
quedas não houve nenhum fator in-
trínseco ao próprio papel, com as
oscilações bruscas sendo ditadas por
fatoíes incompreensíveis."
Esses fatores incompreensíveis
são um eufemismo que encobre ma-
nobras como a aplicação, pelos
Fundos de Investimentos e correto-
ras, do dinheiro do PIS para o le-
vantamento de ações em que estão
interessados. Uu as operações, peios
mesmos Fundos e corretoras, com
ações que não possuem. Ou ainda a
concessão, pelos bancos, de emprés-
timos pessoais destinados à especu-
lacão.
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BOLSA
as razoes
da quedaanálise
/
A tendência à baixa
se acentuou• Saiu cfa intermitência
para ser constante.
0 ^comportamento "único
em toj
do o mundo", de que fala o corre-
tor gaúcho, provocando a alta artifi-
ciai e a subseqüente queda das
ações, só poderia resultar na inquie-
tação que começa a envolver o mer-
cado de papéis. A tendência à baixa
se acentua a cada dia, perdendo o
caráter de intermitência para fixar-
se como uma constante. 0 sonho de
enriquecer jogando na Bolsa só se
materializou para o gru, > inicial de
especuladores, que vend u tudo no
vérticç da alta. 0 exército de moto-
ristas e costureiras que se desfize-
ram de seus carros e máquinas de
coser, para investir em ações que
lhes garantiriam o futuro, tudo o
que conseguiu foi apenas financiar
o lucro dos figurantes da primeira
fase da corrida, hábeis acertadores
de "tacadas".
Medidas semelhantes às que con-
duziram à euforia de maio-junho do
ano passado, vêm sendo desespera-
doramente tentadas como solução
para a crise, mas já agora sem resul-
tados estimulantes. Em janeiro, a
Caixa Econômica informou que o
PIS ampliaria, no segundo semestre,
o volume de financiamentos às em-
presas industriais, comerciais e de
serviços de capital aberto. Em 23 de
março, uma resolução do Conselho
Monetário Nacional elevou, de 30
para 80%, o percentual dos recursos
arrecadados segundo o Decreto 157
a ser aplicado nas operações das
Bolsas ou de sustentação das quotas
dos Fundos de Investimentos. Em
abril, anunciou-se que o PIS teria, a
Para o presidente do Banco Cen-
trai, Ernane Galvêas, "a
Bolsa pos-
sui todas as condições para recupe-
ração imediata. Neste momento" —
suas declarações são do dia 16 de
maio —
"os índices técnicos da Boi-
sa indicam situação excepcional de
liquidez, rentabilidade e segurança,
que se comparam favoravelmente
com as maiores e mais sólidas Boi-
sas dos grandes centros financeiros
internacionais".
Acena-se agora com soluções de
caráter "técnico",
como a criação
de um Conselho Diretor único para
as Bolsas do Rio e São Paulo, o em-
prego de computadores e terminais
de controle do pregão, e a institui-
ção da figura do especialista, um
operador que atuaria comprando
determinados papéis quando não
houvesse procura deles, encarregan-
*do-se de realizar vendas vultosas
dessas mesmas ações quando a sua
procura estivesse em crescimento.
Tenta-se,
agora, uma
spluçãç.
partir de julho, recursos aplicáveis
da ordem de Cr$ 500 milhões por
mês, com o que o Programa se iria
paulatinamente transformando num
grande investidor institucional, ca-
paz de estabilizar as cotações atra-
vés de um mecanismo indireto.
A nada disso o mercado reagiu
favoravelmente e em maio —
um
ano depois do dei írio —
chegou-se a
falar "no
grande fracasso do Fundo.
157, que não conseguiu contribuir
para a formação do hábito de invés-
tir e nem provocou a participação
do cotista".
Após o pronunciamento do presi-
dente do Banco Central, a Bolsa
continuou em baixa. Sem se impres-
sionar com a situação excepcional
de liquidez e segurança, o ministro
Delfim Netto, da Fazenda, vai à te-
levisão —
programa de Amaral Ne-
to, há duas semanas —
e sentencia:
"a regra básica do investidor é a de
continuar comprando na baixa, pa-
ra que sua média seja permanente-
mente ajustada à média do merca-
do. Quem permanece no mercado e
tem sua regra para investir, certa-
mente fará bons lucros".
Para outro ministro, o do Plane-
jamento —
discurso no I Encontro
do Prodoeste, dia 21 de julho em
Brasília —
a crise é apenas aparente:
"as Bolsas de Valores pensam
estar
doentes, mas na verdade estão é
com hipocondria, depois de uma fa-
se em que sofreram de complexo de
superioridade" —
disse o Sr. João
Paulo dos Reis Veloso.
BOLSA
as razees
da quecia
POLITIKA
à
mm
Ruy
Sampaio
Há pouco menos de um ano escrevi umas no-
ias na Tribuna da Imprensa sobre Os Deuses Mal-
ditos, de Visconti, em cujas palavras finais tem-
brava que aquele não era um filme sobre o nazis-
mo fundado por um grupo de marginais em Mu-
nique e encerrado com a rendição alemã, em 45.
Realmente a alegórica família Eisenbach que ser-
ve de pivot ao diretor italiano não cabe na mol-
dura de um simples movimento, que, daqui a mil
anos, por mais importantes que tenham sido suas
conseqüências, será um em tantos na História.
Até mesmo os que viram na pele dos Eisenbach
os Kupp, fabricantes de armamentos e grandes
beneficiários da loucura do nazismo, com essa
interpretação demasiado particularizadora, estão
minimizando aquela qualidade maior da tragédia
- sua universalidade. 0 que
Visconti procura es-^
tudar naquela fita é a doença da burguesia alemã
de então. Uma doença que se repetiria, em ou-
tras latitudes, guardando sempre a característica .
sociológica de um sintoma: uma casta apavorada
por sua alienação em termos históricos e até
mesmo em termos ônticos, que entrega sua cabe•
ça à primeira impostura messiânica que se apre-
senta propondo-lhe â salvação da pele.
Visconti, entretanto, mesmo a contragosto, é
um herdeiro do barroco italiano. Seu filme, se
bem que esteticamente maravilhoso, enrolou-se
em metáfora plástica, carregou-se inutilmente de
sombreados wagnerianos e, mesmo cumprindo
sua proposta de denúncia e alerta, não escapou
de um. certo bombástico de ópera, voulu ou nao,
tanto faz.
A grande obra a tomar o nazismo como pano
de fundo, seria um oratório de Peter Weiss, on-
de, partindo da proposta viscontiana, seria esta-
belecida toda uma gama do psiquismo
humano
submetido à violência e, o que é mais importan-
te, à convicção de que nenhum indivíduo, isola-
damente, poderá fazer o mínimo que seja para
depor a violência. Trata-se, possivelmente, da
primeira obra que despassionaliza o nazismo em
termos de história e o dá a ver em dimensão de
sociologia e psicologia. 0 cinema japonês
e os
mais sofisticados westerns nos deram uma estéti•
ca da violência. Peter Weiss, nesse oratório em
onze cantos —
O Interrogatório — nos dá uma
ética da violência, isto é, um estudo do> ser sub-
metido às leis da delação, da conivência, da
crueldade, a tudo cedendo e em tudo consentin-
do em nome do seu direito de sobreviver.
Os carrascos nazistas não são vilões nem os
judeus e antinazistas mortos no campo de Aus-
chwitz são heróis. Ambos os grupos são pessoas
humanas, peças de uma engrenagem e todos
igualmente culpados pelo grau irreversível a que
a tolerância de uns e a cumplicidade de outros
permitiram que as coisas chegassem.
A parte formal do espetáculo em que esse tex-
to foi transformado é um dos belos momentos
desta temporada. Cenário despojado e ilumina-
ção sem rebuscamento, o Campo de Auschwitz
aparece ao espectador mais nítido como clima
do que o seria numa reconstituição verista. Mes-
mo porque o que o texto pede não é uma re-
constituição do arquitetônico, do visual, mas da
atmosfera inumana que as testemunhas e os réus
vão fazendo reviver a cada palavra. 0 que há de
visual na peça, tal como está sendo dada no Rio
pelo elenco de Fernando Torres, em termos de
guarda-roupa, cenário e luz, não ultrapassa as di-
mensões de simples suporte para o texto, cuja
importância, ainda mais uma vez, o diretor acer-
tou em ressaltar pela imposição ao elenco de
uma linha contida, onde não se procura fazer o
horror mais horrível.
Essa ausência de virtuosismo é o maior tributo
que se presta, na encenação atual de 0 Interroga-
tório, não apenas ao talento de Weiss, nem mes-
mo aos mortos que o nazismo fez, mas à coisa
que me parece mais importante nesse fato tea-
trai: o sentido analógico, intemporal e inespacial
da violência como establishment e a contamina-
ção moral que ela traz, inevitavelmente, a todos
os homens de uma sociedade. A violência con-
temporânea, quando o nazismo parece
ser ape-
nas um pesadelo distante, é evocada na abertura
do espetáculo por slides onde as biafras e os
vietnãs parecem perguntar-nos se o nazismo mor-
reu ou apenas assumiu novas faces e está sendo
chamado por outros nomes.
Em nenhum momento, no texto, se fala^da
Alemanha, mas da Pátria:; a palavra judeu nao e
mencionada, mas há os motivos raciais; nao se
fala de socialistas, de democratas, nem de libe-
rais, mas de motivos ideológicos. Em suma, a
abangência metafórica é completa e isso consti-
tui a grandeza do texto /espetáculo que, encabe-
çado por Fernanda Montenegro, está sendo dado
no Gláucio Gil. •
No após-guerra o cinema nos deu muito sobre
o nazismo; desde os mais sérios documentários
até os mais prevenidos e panfletários
filmes, não
raras vezes com pretensões a obra-prima. Munk,
que morreu sem concluir o seu A Passageira pa-
rece ter sido o primeiro a tentar um filme em
que o fenômeno nazista fosse examinado de den-
tro para fora das pessoas,
isto é psicologicamente
e não apenas em termos de história ou sociolo-
gia.
Le Changrin et La Pitié (vê-lo-emos algum
dia?), de Mareei Ophuls, enverada, segundo a
crítica mais esclarecida, pelos caminhos do sub-
jetivismo de cada um dos atores da tragédia da
ocupação, tomados por amostragem, dando um
quadro da atmosfera psicológica que aquela si-
tuação criou. As limitações (ou a diferença de
endereços) do cinema-verdade em relação ao tea-
tro, não permitem comparações. 0 Interrogató-
rio, que, no momento, está sendo encenado em
vários países, move-se num espaço literário e his-
tórico onde está só, no duplo sentido de obra
genial e de exclusividade de perspectiva.
Não m-
teressaram ao autor antecedentes do nazismo en-
quanto fatos nem a crueldade enquanto horror,
Fernanda juomenegru
mas preocupou-o a disponibilidade psicológica
de membros de uma comunidade para aceitar
pequenas mistificações, que foram crescendo até
asfixiar a capacidade de análise de todo um gru-
po humano. Preocupou-o a crueldade como tu-
ga, como procura do absoluto, como alienação,
em suma, como choque de uma lucidez pessoal
com os mitos ferozes de um estabelecimento de
cuja implantação ninguém se sentia culpado,
quando todos, carrascos e vítimas, eram seus au-
tores, com diferenças unicamente de grau. Quan-
do outra qualidade não tivesse, essa peça, que
nenhuma pessoa inteligente poderá deixar de
ver, teria a força penetrante das analogias, na-
que Ia direção que nos aponta o velho e quase
sempre tão mal interpretado Ortega y Gasset: as
elites não morrem de morte natural, mas suici-
dam-se.
0 SUICÍDIO DAS ELITES
Uma nova visão do nazismo, as
suas pressões psicológicas
e
as implicações sociológicas:
eis o oratório de Weiss, como
a obra de despassionalização.
u
CIDI
a
POLITIKA
8konjuntura
Kennedy queria saber como se
comportaria o mundo ao sair
do estado de guerra e entrar
na paz. 15 sábios deram uma
resposta que causou pânico
¦r********¦***¦¦f***************«^¦¦"¦—™~**»¦**rr*fflM—_a
Genival
Rabelo
Tio Sam,
o Marte c/o
Secuf o XX
WtM^^MwÈ^ÈE9*B^*^v?~ 'ír*ty*. u__^.^^BBB
• Indagação de John
Kennedy resultou em relatório
macabro entregue a Johnson
três anos e meio depois. Mas a
opinião pública norte-america-
na só tomou conhecimento de
suas afirmações e recomenda-
ções quando Leonar C. Lewin,
editor de Esquire, decidiu
publicá-lo, na íntegra (28 mil
palavras), em dezembro de
1967.• Na opinião dos sábios
norte-americanos, mesmo no
caso de a paz poder efetivar-se,
não seria do interesse de uma
sociedade estável efetivá-la.
Dentro da mesma ordem de
idéias, afirmam eles que, "sem
a possibilidade de guerra,nenhum governo pode perma-
necer no poder".O estímulo que impul-
siona o progresso se baseia na
idéia do inimigo e o ponto
crítico é que este deve parecer
não apenas real, mas formida-
vel. Sua credibilidade exige
uma aptidão para resposta pro-
porcional à ameaça.Examinada a eventuali-
dade de um programa de con-
versão de despesas militares
em bem-estar social, chegou-se
à conclusão de sua inviabilida-
dc, pele fato de suas desp^-s*?*
serem absorvidas pela socieda-
de, deixando, em conseqüên-
cia, de atuar como elemento
estabilizador dos avanços
econômicos.Qs discos voadores servi-
riam para manter a humanida-
de unida contra um hipotético
inimigo de outro planeta.Explicação da multipli-
cidade de experimentos béli
cos no Vietnã.
Após a dramática crise
internacional, que redun-
dou no recuo .soviético
com a retirada dos mísseis
postados em Cuba, as dis-
cussões «políticas evoluí-
ram da chamada guerrafria «para o que se conven-
cionou chamar de coexis-
tência pacífica, bandeira
que Kruschev desfraldou
com entusiasmo, talvez co-
mo tentativat de salvar a
face. Ocorreu, então, a
«John Kennedy levantar a
seguinte, embaraçosa mas
pertinente, indagação:
— Considerando que o
mundo sempre viveu num
sistema de guerra, como se
comportará com um siste-
ma de paz?
Com a responsabilidade
de quem comandava os
acontecimentos pratica-
mente em área correspon-
dente a dois terços do
mundo e dispunha do
maior arsenal bélico jamais
sequer imaginado, procu-rou explicar seu pensamen-to, dando-lhe um conteú-
do prático, com a objetivi-
dade desta outra pergunta:
— Que medidas deverão
r tomadas para que a hu-
manidade continue a pro-
gredir, sem os estímulos
provocados pela ameaça
do inimigo?
Passando da idéia à
ação, deu instruções para
que se contratassem quin-
ze sábios, nos setores bási-
cos de atividade, para um
estudo em profundidadesobre o assunto. Etsa or-
dem foi dada em julho de
1962. Feita a escolha den-
tro do rigor exigido pelaimportância da tarefa, os
sábios foram levados a um
«prédio, espécie de casa-
mata subterrânea, à provade bomba (onde eventual-
mente se refugiarão os sá-
bios, ou um possível nú-
mero deles, com vistas à
hipótese de um conflito
nuclear, preservação das
mais avançadas conquistas
da civilização) para receber
instruções. Nada menos de
seis meses foram consumi-
dos no trabalho de estabe-
lecer uma linguagem co-
mum e definir objetivos,
determinando o material a
ser escolhido, as informa-
ções necessárias nos dife-
rentes setores de atividade
a pesquisar, com interesse
para unidade de conclu-
soes e conseqüente enca-
minhamento de recomen-
dações.
A tarefa foi concluída
em fins de 1965. O relato-
rio se constituiu de 28 mil
palavras, reunindo pontos-de-vista comuns, e foi portodos assinado. Ao ser en-
tregue ao presidenteJohnson, imediatamente o
senador Symington advo-
gou, no Congresso, a tese
de que o mesmo permane-
cesse em absoluto sigilo, a
fim de não ser objeto de
exploração — assina/ou —
por parte dos comunistas
para reavivar a teoria mar-,
xista de que a produção de
guerra é a própria razão de
ser do progresso do capita-
lismo. Por outro lado, a
natureza de algumas afir-
mações e mesmo recomen-
dações contidas no relato-
rio era de tal gravidade,com implicações tão sérias
na condução da coisa pú-
blica e nos próprios desti-
nos da humanidade, que
poderia levar o grupo so-
ciai a agir por conta pró-
pria na punição e talvez
até eliminação dos sábios.
O sigilo, pois, se impunha
como medida de preserva-ção de suas próprias vidas.
Entretanto, um delesnão resistiu à tentação desubmetê-lo à apreciação do
editor de Esquire - Leo-
nar C. Lewin, por achar
que o assunto pertencia à
coletividade e não podiaser discutido sem seu co-
nhecimento e participação.
Assim, aquela revista nor-
te-americana, em sua edi-
ção de dezembro de 1967,
omitindo o nome dos sá-
bios, para não os expor à
sanção da sociedade, publi-cou o referido relatório,
que, como se podia prever,explodiu como uma bom-
ba na opinião pública nor-
te-americana. O trabalho é
tão depressivo que a maio-
ria dos leitores muito pro-va vel mente não chegou ao
final. Dou um resumo no
meu livro Cartilha do Dó-
lar (Edições Gernasa,
1968). Aqui, destaco ai-
guns trechos, que, mesmo
apenas em flashes, dão o
que pensar.
Conquanto a paz não se-
ja teoricamente impossível- dizem os sábios - é na
prática inatingível; mesmono caso de ela poder efeti-var-se, seguramente não se-ria do interesse de umesociedade estável efetive-la.
z± .
Tio Sam,
o Marte do
Século XX
Os americanos sustentam que,
por razões de soberania, não
podem eliminar a guerra. Ela
lhes permite a continuação e
o direito adquirido ao poder.
POLITIKA
9konjuntura
Já que paz é um sinônimo de
desarmamento e guerra de nacionalidade, tudo
gira em torno da soberania.
No seu mais desenvolvido capítulo, in-
titulado Guerra e Paz como Sistemas So-
ciais, o relatório assinala que as despesas
militares, longe de constituírem desperdí-
cio econômico, têm uma grande utilidade
social.
Explica:
Isso decorre do fato de que a atividade
produtora para a guerra se exerce comple-
tamente independente da economia de
oferta e procura. Conseqüentemente, é o
único setor fundamental da economia que
é sujeito ao completo controle estatal. Se
as economias modernas se definem como
sendo as que podem produzir mais do que
é reclamado pelo co..sumo, as despesas
militares funcionam como estabilizadores
de seu avanço. Não foi por outra razão
que o padrão de vida das populações civis
subiu consideravelmente durante a Segun-
da Grande Guerra. As despesas para a
Guerra, consideradas com objetividade,
têm sido um fator positivo do aumento
do produto nacional bruto e da produtivi-
dade individual.
Mais adiante os sábios norte-america-
nos observam:
Se paz é sinônimo de desarmamento,
guerra é sinônimo de nacionalidade. A
eliminação da guerra implica na inevitável
eliminação da soberania nacional e da tra-
dicional nação-estado. A guerra não ape-
nas é fundamental à existência de nações
como independentes entidades políticas,
mas tem sido igualmente indispensável à
estabilidade de sua interna estabilidade
política. Sem isso, nenhum governo até
hoje pôde legitimar-se, ou ter o direito de
implantar leis na sociedade. Sem a possi-
bilidade de guerra, nenhum governo pode
permanecer no poder.
Definindo a subfunção da guerra,dizem os sábios norte-americanos:
Nas evoluídas sociedades democráticas
modernas, o sistema de guerra é o nosso
diiieparo contra a eiiminação uas neuessá-
rias classes sociais. Obviamente, se o siste-
ma de guerra atual pudesse ser evitado,
uma nova máquina política seria necessá-
ria imediatamente para exercer essa sub-
função. Até que isso possa ser desenvol-
vido, a continuidade do sistema de guerradeve permanecer para, entre outras ra-
zões, manter a estabilidade da organiza-
ção interna de poder.
Em torno da necessidade humana de
agir em função de um estímulo, ou causa
que, por sua vez, requer um inimigo, afir-
mam os sábios norte-americanos:
O ponto crítico é que o inimigo quedefine a causa deve parecer não apenas
real, mas formidável. Segundo os padrões
do comportamento humano, a credibili-
dade do inimigo social exige uma aptidão
para resposta proporcional à ameaça.
Assim, o olho por olho ainda caracteriza a
única atitude aceitável diante da possibili-
dade da agressão, apesar dos preceitos
religiosos e morais que inspiram s condu-
ta pessoal. A distância que separa a deci-
são pessoal da conseqüência social na
sociedade moderna possibilita aos seus
membros manter essa atitude, sem se
sentirem pela mesma responsáveis. Um
exemplo atual é a guerra do Vietnã; ou-
tro, já um pouco distanciado no tempo, é
a bomba de Hiroshima. Em ambos os
casos, muitos cidadãos norte-americanos
aceitaram a gratuidade do fato, desde que
admitida a proposição de que as vítimas
eram o inimigo. Um exemplo convencio-
nal desse maquinismo é a impossibilidade
para muita gente de relacionar a miséria
de milhões de pessoas na índia com a sua
última própria decisão política. Segue-se a
contradição de restringir-se a produção de
cereais nos Estados Unidos enquanto a
fome domina na Ásia.
No capítulo intitulado Substitutivos
para funções da Guerra, os sábios norte-
americanos examinam a eventualidade de
um programa de conversão de despesas
militares em bem-estar social. 0 programa
incluiria: saúde (construção de hospitais,
remédios para todos, assistência médica
geral a cargo do governo em nível compa-
tível com o atual desenvolvimento tecno-
lógico), educação (construção de mais
escolas e bibliotecas públicas, propiciando
a elevação do grau geral de conhecimen-
tos das massas ao que é hoje considerado
o ensino profissional), habitação (limpa,
confortável, gratuita para todos, num
nível somente ao alcance hoje de cerca de
15 por cento da população dos Estados
Unidos), transporte (permitindo viajar
por prazer e não por necessidade^ meio
físico (desenvolvimento e proteção das
fontes de águas, das florestas, parques e
outros recursos naturais, bem como eli-
minação de impurezas do ar, da água e do
solo) e finalmente a integral eliminação
da pobreza, através da elevação da produ-
tividade econômica e de uma perfeita
distribuição da riqueza.
O curioso não é que os sábios norte-
americanos encarem esse programa como
coisa inviável, mas o reconhecimento de
que o mesmo não resolveria como substi-
tutivo do sistema de guerra. Afirmam:
Tempos atrás, tais conquistas sociais
pareceriam excessivamente dispendiosas
para sequer se pensar a sério em pô-las em
prática; hoje, o problema é reverso: elas
não são capazes de substituir as despesas
de guerra como elemento estabilizador da
economia de uma sociedade dinâmica co-
mo a dos Estados Unidos, porque são
excessivamente baratas. A curto prazo,
ainda podiam ser admitidas, mas, em me-
nos de dez anos, seriam absorvidas pela
sociedade e já não atuariam como elemen-
to estabilizador dos avanços econômicos
na medida em que o fazem atualmente as
despesas militares.
Dentro desse contexto, as conquistas
espaciais têm mais possibilidade, não ape-
nas pelo vulto das mesmas, como pela não
imediata conversão prática de suas desço-
bertas, de se constituir em substitutivo
eficiente das despesas de guerra. No parti-
cular, admitem os sábios norte-america-
nos a idéia de que os discos-voadores
seriam uma forma válida de manter a
humanidade unida contra um hipotético
inimigo de outro planeta. Afirmam que,
sem se conseguir um inimigo com credi-
bilidade suficiente, a passagem do sistema
de guerra para o sistema de paz resultará
n ^"sintegração social. Em face dessa
ficção, desaconselham o governo nor-
te-americano a se lançar numa prematura
discussão do assunto, antes de ser encon-
trada uma definição concreta do que será
o mundo, se realmente pudesse prevalecer
a paz. Concluem que nenhum programa
ou combinação de programas foi até hoje
considerado como substitutivo capaz do
sistema de guerra vigente. Que o pacifis-
mo não passa de um estado de emoção,
dentro da esfera do desejo. Que o sistema
de guerra, apesar de sua subjetiva repug-
nância para importantes setores da opi-
nião pública, demonstrou sua eficiência
desde o começo da história da humanida-
de; consolidou as bases do desenvolvimen-
to'de inúmeras civilizações através dos
tempos, inclusive os de hoje. É no todo
uma quantidade conhecida. Algo que se
sabe o que é. Com o que o homem
sempre conviveu.
Um sistema de paz - afirmam peremp-
toriamente os sábios norte-americanos -
como o que se vislumbra neste relatório
representa um passo no escuro, com os
inevitáveis riscos de insucesso.
Depois disso, de afirmação desse con-
teúdo, feita por sábios escolhidos a dedo
dentro da sociedade norte-americana para
assessoramento da conduta do governo
dos Estados Unidos, pode-se estranhar a
sucessiva repetição de crimes que a avia-
ção e a marinha norte-americanas vêm
praticando no Vietnã do Norte, bombar-
deando escolas, hospitais, fábricas, usinas
hidrelétricas e até os milenares diques e
represas, com a ameaça de matar, por
afogamento, não milhares, mas milhões
de seres humanos? Não deixa de ter
sentido a perplexidade do famoso cirur-
gião Ton That Tung, ex-combatente em
Dien Bien Phu e membro da Academia
Francesa de Medicina, diante da multipli-
cidade de armas mortíferas usadas pelo
agressor estrangeiro contra o povo vietna-
mita?
Não compreendo — comentou aquele
cirurgião — como cérebros forjados nas
melhores universidades possam elaborar
instrumentos tão diabólicos.
São instrumentos que estão sendo utili-
zados atualmente contra populações civis
no Vietnã e muitos dos quais Hanói con-
seguiu reunir num museu para testemu-
nhar a brutalidade dos crimes ali cometi-
dos pelos norte-americanos. A descrição
de tais armas excede a tudo o que a
imaginação do cidadão comum poderia
conceber.
"A pinha tropical - explica o corres-
pondente da France-Press, Jean Thora-
vai - é um dos maiores prodígios em
matéria de monstruosidade humana: a
bomba deve girar 650 vezes sobre si mes-
ma antes de explodir a uma altura que foi
calculada em função da estatura dos viet-
namitas. Outra maravilha da técnica é a
bomba-aranha. Possui oito tentáculos
que, cravados em terra, esperam apenas
um pé humano para provocar a explosão.
Um avião pode lançar esse tipo de bomba
em quantidades enormes — sete mil e elas
não são localizadas pelos detectores tradi-
cionais, posto que são feitas de plástico e
não mais de aço"..
O Vietnã é, pois, campo de experimen-
tos bélicos. Seu povo deve representar
para a opinião pública norte-americana
aauele inimiqo verdadeiramente formidá-
vel de que falam os sábios reunidos por
John Kennedy para estudar a diferença de
comportamento do mundo na eventuali-
dade da passagem do sistema de guerra
vigente para um sistema de paz. Há que
destruí-lo, impiedosamente. Em função
da prosperidade ou da estabilidade da
organização interna de poder existente
nos Estados Unidos. Eis, sem dúvida, a
triste verdade que aquele macabro relato-
rio revela e que, em função disso, o
senador Symington recomendava fosse
mantido em absoluto sigilo.
POUTIKA
|
produgao
A agricultura é deficiente
e
pelo menos 37% das safras se
perdem por falta de silos.
A distribuição também não é
boa nos centros consumidores
* *
W ilson
Correa
A*
P E R E
*- % > ;
í i
A contínua elevação do custo
de vida em noseo Paia e os pro-
blemaa de abastecimento estão
Intimamente ligados e decorrem
da estrutura econômica inade»
quada, na agricultura, às necét*
•idades do desenvolvimento na-
cional, distorcido e sufocado,
por um processo de empobreoi*
mento peculiar a todoe os paí«
aes subdèsenvolvidoe, o chamar
do "Terceiro
Mundo".
Somos um País onde a pro*
duçfto agrícola se faz por mé-
todos empíricos e superados, à
exceção de algumas regiões.
Em razão de uma Insuficiente
rede de armazéns e transporte
perdemos, em cada .safra,
37%
da produçfio. Exemplo frisante
deste atraso ó o que ocorre
com a pecuária. Possuindo o
terceiro rebanho bovino de
mundo, o Brasil não tem, ain»
da, condições de explorar as
Imensas riquezas do boi. En-
quanto nos Estados Unidoe •
na Europa dele só se perde »
cerro, aqui nós só aproveita,
mos 33%. Resultado: carne
cara.
Tendo uma faixa litoral ot
mais de 8 mil quilômetros além
de milhares de quilômetros de
rios, a nossa pesca se dhcon*
tra em situaç&o lastimável. Des»
de os peecadorss, que arrie*
cam diariamente a vida para
pescar em Jangadas, canoas ou
pequenos barcos a vela, até oe
mais equipados armadorss de
pesca nfio têm garantia de prt*
«o e mercado.
Falta uma política nacional
para a pesca. Barcos moder-
nos, frigoríficos, transportes,
distribuição e uma estrutura Itt
dustrial, capaz de aproveitar e
excedente do consumo. Sabe*
se, incluaive, que a produção
de farinha de peixe poderia for»
necer-noe recursos para pagar
as importações de petróleo.
Ar
Quanto ao 'ft?go, alimento
melai do povo, a nossa po*
tftica é suicida. País que pode
produzir trigo desde o Rio
Grande do Sul até as margens
do Rio São Francisco, na Ba*
hla, economizando recursos
preciosos que podiam ser o»
nalizados para o noseo desen-
volvimento, submetendo-nos aoe
nefastos "Acordos
do Trigo"
para dar escoamento aos exce*.
dentes norte-americanos e lk
quidar a nossa triticuitura, darv
do pão caro e ruim ao nosso
povo, parte do qual, Inclusive,
não pode comé-io.
O escoamento da produção,
falho e irregular, comprometen-
do o abastecimento, deve-se a
que a estrutura de transportes
no País está dirigida para a
exportação e não temos recur-
sos para modrficá-la, porque a
pauperização do Brasil é cons-
tante e crescent.e apoiada nos
seguintes fatores:
1 — a desnacionalização da
indústria, com a conseqüente ,e
vultosa remessa de lucros, pa-
gàmentõ de "royalties"
e assis-
tência técnica, drenando para o
exterior os frutos do trabalho do
nosso povo.
2 — A contínua queda dos
preços de matérias-primas de
exportação, quando não são
contrabandeadas de nosso pró-
prio território, como é o caso do
ouro e dos diamantes do Norte,
e o aumento crescente dos pre-
ços das máquinas e equipamen-
tos necessários ao desenvolvi-
mento industrial. _
3—0 monopólio da terra,
impedindo o seu fácil acesso a
milhões de homens, cuja con-
seqüência direta é a baixa pro-
dutlvidade da agricultura, ba-
seadà na sua quase totalidade
no trabalho braçal.
Oiante destas causas estru-
turais, acreditamos que somen-
te medidas de elevado alcance
na estrutura econômica do País
poderão encaminhar definitiva-
mente a solução do angustiante
problema do custo de vida e
do abastecimento, que são fun-
damentalmente:
— Reforma da atual lei de
remessas de lucros, no sentido
de realmente controlar as en-
tradas e saídas do capital es-
trangeiro, principalmente o en-
vlo para o exterior dos lucros
e pagamento de
"royalties ,
evitando assim a evasão de re-
cursos indispensáveis ao nosso
desenvolvimento.
— Controle rígido das Im-
portações, para evitar gastos
Inúteis com produtos fabricados
no País, e outras medidas vl-
sando proteger e defender a In-
dústria nacional.
— Defesa da indústria do
café solúvel nacional, assim
como Incremento à Industrial!-
zaçftade outros produtos prima-
rios, como fator de desenvolvi-
mentor defesa e estímulo à trt-
ticuitura nacional, a fim de oll-
minar a importação do trigo,
anulando-se o acordo Interna-
cional Brasil-Estados Unidos.
— Defesa intransigente dos
preços dos nossos produtos de
exportação e incremento do co-
mérclo com todos os países do
mundo, em especial com os
que fazem na base de trocas
por máquinas e equipamentos.
— Reforma agrária, que
realmente facilite o acesso à
terra e à produção de todos os
homens do campo, sllminando a
grande propriedade improdutiva
e impedindo o minifúndio anti-
econômico, com medidas com-
plementares e indispensáveis de
ajuda técnica, financeira, for-
mação de cooperativas, preços
mínimos, mecanização, trans-
portes e armazenagens, capazes
de modernizar e dinamizar a
agricultura brasileira, criando,
assim, um poderoso mercado
Interno. Tal reforma agrária de-
verá atingir as terras próximas
aos nrielos de transportes e aos
grandes núcleos urÇanos, desa-
propriando-se as terras inapro-
veitadas, num ralo de 10 quIJO*
metros às margens de rodovias
estaduais e federais. Criando*
se novas faixas, por partq do
governo, fazendas experimen-
tais, servindo para pesquisas
tecnológicas e agrícolas. Tam-
bém deverão ser desapropria-
das as grandes áreas adquiri-
das por estrangeiros não resi-
dentes no País.
6 — Aumento geral e i media-
to dos salários e vencimentos,
para incremento da atividade in-
dustrial, ora com capacidaae
ociosa e o cumprimento do e
tatuto do Trabalhador Rural .
para melhoria do nível de
nas fazendas e usinas.
*
?
?
* *
W ilson
Correa
POLITIKA
PORQUE
A PRODUÇÃO
AGRÍCOLA
SE PERDE
Uma série de medidas precisa
ser tomada, a fim de trazer
às cidades a produção
agrícola,
perdida pela falta de
transportes,
de armazenamento e de mercado.
produgao^
é mais
Não se
deficiente
do que
pode
negar que
nada
que os meios
de escoamento
se produz
no campo
Não demora muito o Grande Rio de-
verá alcançar 8 milhões de habitante»,
determinando graves problem^ de aba-s-
? ,imont/í nora 06 QVI&ÍS ÍÜS âUtOriOâutS
devem planificar as soluções desde Ju.
Fsta Dlanificação se torna, importante
em virtude do disposto no Decreto-lei n.
3M de 30.4.1938, » 1.», artigo 6.», esta-
belécendo uma ração minima mensal de
um adulto, que lhe assegure pelo menos
1.350 calorias, diariamente.
Pelo custo de vida de abrii de 1-67,
um trabalhador adulto no Rio gastar ia
CrS 42 43 Se considerarmos uma família
com casal e dois filhos menores, a des-
pesa mensal com alimentaçao minima
Kna de Cr$ 127.89. Somando-se às de-
mais necessidades, se elevaria a CrS ..
o salário mínimo vlgeotelcomo
aumento de 22 por cento) e de Cr$ 270.00
com os descontos legais da ^evidencia
Social de 8 por cento, reduz-se a Ci5
247 60 Como pode o trabalhador vuel
Do que se deduz, mesmo havendo uma
produção relativamente satisfatória, o
trabalhador com esse salário nao tem as
mínimas condições de °
sário para viver, mesmo aqueles que ga
nham salário médio.
Segundo dados estatísticos, o custo
de vida da família trabalhadora no Rio,
no período de 1." de janeiro a 31 de _
zembro de 1967, aumentou em 28 por
É necessário considerar que o ahas
tecimento do Rio se encontra agravado
por vários problemas, como os seguintes.
— Consumo de alimentos ger&l~
mente em más condições higiênicas, co •
taminados deteriorados. fraud^°* JJf
insuficiente fiscalização nos estabeleci-
mentos industriais e comerciais
— Subconsumo de alimentos pro-
téicos, destacando-se a redução
siva do leite e da carne bovina, sem subs
tituiçáo por outras fontes protéicas.^,^^
— Deficiência da produção, comer
cialização e consumo d« aves-
pequenos animais, pescados e de protei-
nas vegetais .
— Abastecimento irregular, em de
corréncia da condição de centro redistri-
buldor, „
_ Desperdício de alimentos por
falta de armazenagem frigorífica eae
aproveitamento industrial, Incompatíveis
com o volume de mercadorias.
— Existência de grupos monopon-
zantes, decorrentes da insuficiência ae
entrepostos, frigoríficos, matadouros e
demais serviços incentivadores da produ-
ção. indústria e comércio.
— Preços altos, resultantes de um
sistema anacrônico de comercialização.
— Falta de conhecimento da po-
pulação sobre o valor nutritivo dos gene*
ros alimentícios.
Analisando o abastecimento nos pon-
tos fundamentais, verificamos ainda qoe
a fiscalização sanitária de alimentos e
caótica por falta de uma atuação mais
firme; a produção: os matadouros r.ao
antigos e insuficientes. Não há mata-
douros avícolas; o transporte: fiscaliza-
ção precária dos veículos destinados ao
transporte e venda de carnes, vísceras e
pescados.
E a distribuição: ausência de uma,
rede de entrepostos de gêneros perec
vr s, indispensáveis a uma adequada ais
tribniçâo dos mesmos à populaçao au-
sència de frota frigorífica móvel, espe-
cialmente para carnes, víscerr: e pe> •
dos. Etabora considerado anacrônico e
com grandes inconvenientes, o s:stema
•'"Ira livre permanece.
O excesso a
Intermediários no setor de comercializa-
ção onera, consideravelmente, os produ-
tos até o momento de sua aquisição pe*
tos (consumidores
Estudados estes problemas e basean*
do-se nas teses e sugestões que já en-
caminhadas ás autoridades federais es-
taduais. temos as seguintes conclusões:
11 Reforma imediata da COBAL, pa*
ra funcionar como órgão de aquisição,
transporte e abastecimento de coopera-
Uvas de consumo. do« postos de abaste-
cimento do SESI, SESC. IN PS etc. e doa
seus próprios, que deverão ser instala-
dos. de preferência, nos bairros opera*
rios.
2» Estímulo à criação de cooperati-
vas populares de consumo, nas Socieda-
des Amigos de Bairros e Sindicatos ope-
rarios, devidamente amparadas e finan
ciadas pelo Banco de Cooperativismo e
outros bancos oficiais, como rede auxl-
liar de venda de gêneros de primeiro ne-
cessidade. a preços mais baixos.
3» Isenção de impostos para os gê-
neros de primeiro necessidade.
4) Ampliação da rede de armazéns
e silos, com garantia de preços mínimos
na fonte de produção
5» Imediata modernização da frota
pesqueira do País, e industrialização do
pescado mediante a formação de empre-
sas de economia mista, controladas pelo
Governo Distribuição do pescado elimi-
nando-se os intermediários, que forçam
a alta dos preços, ampliação da rede de
distribuição do pesaado através do fí-
n andamento aos açougues para aquisl-
ção de frigoríficos adequados.
6) Reaparelhamento das redes fer-
roviarias para o transporte preferencial
dos gêneres alimentícios, com fretes mais
-j) Rigorosa fiscalização do governo
no setor atacadista de gêneros alímen-
tícios, como exerce na industria, contro-
^^8» °Meíhor
articulação das Adminis-
trações Regionais do Grande Rio com os
serviços federais e estaduais de abaste-
cim^to'controle sanitário mais eletivo
de gêneros alimentícios nas áreasde
consumo, competência privativa dos Mu-
niclpios.
j.
* fc|
|
•
%
k. -I -4. \
w.SLi'!!' Ml fx ji ."frk.
101 Incentivo ao consumo de protei-*
nas dê
através de programa de
^JSSJ^SSJÍ d.
bairro, sifcdleatos, TV w.
11) incentivo de amazro8««n in
gorífica e da industrialização «c "rJJSJ
tos. nacionalização dos grandes írigorlfl
008 da rede de mtrepos-
tos frigoríficos, matadouros e mercados
distritais nos Municípios do Grande Rio.
13' Racionalização da comercializa-
ção eliminando-se os atraves^dorese
neutralizando-se a atomizaçao do comer
Cl0
W) Exercício de eficiente policia-
mento dos preços, através dos
Am1^ criação de cooperati-
petenteí pian--fjcaçpQ imediata, pelos
4r
m<5delo. visando o seu desenvolvimento.
£ preciso
planificar
a produção
17) Reforma da lei sobre coopera-
tivas, para se adaptar ao ve5dadef™
pirito coopera ti vista, impedindo a
cão de verdadeiros trustes de alimenta
çí£ e favorecendo a criação de desenvd-
vimento do maior numero de coopera-
tivas de produção e de consumo.
18) Campanhas instrutivas sobro o
incremento da horticultura particular
para o aproveitamento das sobras de ter-
renos. facilitando os poderes públicos a
aquisição de adubos <? fertilizantes a bai-
xo custo. A Secretaria de Saü* deve-
rá exercer ftocaHwçflo no sen^d° de< *
tar o emprego de meios prejudiciais à
saúde. Nos bairros onde haja pouca so-
bra de terreno domiciliar que sejam in-
centivados os proprietários de
baldias a cederem os mesmos aos mora
dores vizinhas para este fim, com o be-
nefíclo da isenção de pagamento de ím-
posto territorial urbano.
19) Incrementar o consumo, peia
população, dos produtos do milho, como
as farinhas de milho, p&o. etc
curando, assim, diminuir as ftnportaçoes
No tocante ãs medidas relativas ao
custo de vida, apresentam-se as seguintes
8U^^epropõe-se ao Governo do Estado
criar em todos os estabelecimentos de en-
Fino, do curso primário ao curso mec
^
ijma secçáo de vendas de material e li-
vros escolares a preços de custo, para
evitar a exploração já existente.
2) Padronização dos livros didáticos• /»pnA.'. íl
4> Manutenção de ensino oficia'
gratuito em todos os níveis.
5> Nacionalização dos principais la-
boratórios farmacêuticos, como elimina
ção do fator principal de aumento dos
preços das remédios
6» Organização imediata da f1^lda_
câo para o Remédio Popular e posta r.
funcionar em benefício do PO.vo
7) Funcionamento cfos laboratórios
do INPS e distribuição de remédios a
preços baixos nos Institutos
8> Distribuição gratuita de remédios
nos postos de saúde.
9) Financiamento do BNH c Caixa.
Econômicas estadual e federal de mate,-
riais de construção aos trabalhadores,
seja qual for o seu salário para a corif"
trução de casa própria. Tal financ,amen*
to deverá ser feito ae formi independen.
do« atíuais planas de financiamento
poupança, inclusive sem correção mone-
tária. As entidades devem apenas veril -
cai o crédito comercial do interessado
estabelecer uma tabela de limites de en.
préstlmos.
10 > Que o governo determine á^ fábri-
nas de calçados a fabricaçao de 10 por
cento de sua produção_ ^.nc^wd°f 'ipf
tipo popular com isenção do ICM e lri,
plano este extensivo à industria têxtil.
11) Congelamento de aluguéis e tam-
bem dos impostos municipais estaduais
e federais sobre o imóvel alugado.
12) Extensão da rede de restaurantes
populares do antigo SAPS nos centros
estudantis, industriais e .co®®rclal^0,í®
Grande Rio, fornecendo refeições a baixo
custo.
13) Criação pelo governo estadual e
federal, nos estabelecimentos de credito
oficiais de uma carteira dc financiamento
destinada a amparar os arrendatários,
posseiros e pequenos sitiantes.
14) Prorrogação dos contratos de ar*
rendamento pelo menos até o termino das
colheitas.
15) Garantias legais aos meeiros para
oue possam vender o seu produto a quem
melhor preço lhe ofereça e de preferen-
ça aos órgãub do governo, mesme r .an. o
em débito para com o fazendeiro.
16) Criação de fazendas-modelo pela
Secretaria da Agricultura, no J**
propiciar a educação dos moradores das
regiões rurais, melhorando as suas condi-
ç6es de vida e de conhecimentos especia-
lizados.
17) Sugestão ao governo estadual para
Ruxiliar os municípios na manutenção
condições carroçáveis das estradas variar:-
Us r^micipais que se ligam á rodovia
principal.
s
í
para uso por mais tempo nas esco»;^
3) Congelamento das taxas e anui-
dades escolares.
o
a
a
POLITIKA
bacia
das almas
Edltorial-3 —
a) "Nos últimos cinco anos, baixou da 8% a participação na renda nacional de 95% da população do País. Verificou-se, assim, um decréscimo
médio anual de 1,6%. No mesmo espaço de tempo, o PNB — Produto Nacional Bruto - cresceu de 40%, ou seja, um crescimento também em média
de 8% ao ano". . . . . r„ . , ,b) "Hoje. 89 milhões de brasileiros tém proporcionalmente uma renda menor do que hé 5 anos passados. Enquanto os \*h da população, que
ontem detinham 37% da renda nacional, hoje controlam 47%, amanhã mais, depois de amanhã muito mais, è custa do empobrecimento nacional,
na esteira da política nacional. E assim menos de 5 milhões de brasileiros se encontram com 47% dos resultados da atividade de todo o povo".
c) "Em 1967, as despesas de Governo eram de 37 milhões de dólares. Em 1971, subiram vertiginosamente para 100 milhões de dólares. 0 déficit
de viagens de turismo, que em 1965 foi de apenas um milhão de dólares, em 1971 alcançou 90 milhões de dólares
d) "Remetemos lucros para o exterior de 120 milhões de dólares, além de royalties e assistência técnica que absorveram mais de 100 milhões de
dólares em 1971, confirmando a denúncia do senador norte-americano de que recebemos no Brasil um dólar e devolvemos trés. O pagamento de
juros sobre empréstimos na rede bancária privada foi da ordem de 230 milhões de dólares. As emissões de 1971 foram da casa de um bilhão e 700
milhões de cruzeiros, totalizando as emissões já 6 bilhões".
(Deputado Alencar Furtado, transcrito do Diário do Congresso).
Editorial-4-
A seção da Guanabara da Ordem dos
Advogados do Brasil tem um Órgão de
Divulgação, dirigido pelos juristas J. Ri-
beiro de Castro Filho e Serrano Neves,
que mantém cada dia mais vivo e atuante
o compromisso dos advogados brasileiros
de defenderem a lei, a democracia e a
liberdade. Por isso é importante que os
leitores tomem conhecimento de seu edi-
torial da edição desta quinzena de julho:
"Não se exigirão fianças exageradas,
não se imporão multas excessivas, nem se
.infligirão penas cruéis e desusadas —
proclama a Emenda Oitava à Constitui-
ção dos Estados Unidçs da América do
Norte.
Partindo do conteúdo desse texto, a
Suprema Corte americana, a 29 de ju-
nho, praticamente prescreveu, no país, a
pena capital. Praticamente — repetimos
— porque o decisório enfrentou a ques-
tão sem a profundidade desejada. Acen-
deu, pois, uma vela a Deus e outra ao
demônio. Atendeu aos juristas, mas, por
outro lado, deixou margem aos políticos
para uma volta estratégica ou demagógi-
ca ao velho problema.
Votaram pela supressão da pena de
morte, em alguns casos, os juizes William
O. Douglas, William J. Brennan Jh, Thur-
good Marshall, Potter Stewart e Byron
R. White, ressuscitando, assim, 600 con-
denados americanos. Mas conservaram-se
irredutíveis os juizes Warren E. Burger,
Harry Andrew Biackmun, Lewis E.
Pewell e William Rehnquist. E, como a
Corte não declarou, abertamente, incons-
titucional a pena, um político, ou seja,
Ronald Reagan, governador da Califór-
nia, já veio a público para observar que a
deliberação não elimina a câmara de gás
de sua famosa prisão de San Quentin,
passando a sugerir uma medida, já para
novembro, que tenha a virtude de resta-
belecer, na sua plenitude, a pena de
morte em seu Estado.
Infelizmente, como ficou dito, houve,
apenas prescrição parcial da pena de
morte.
A Suprema Corte americana —
que é
tribunal também político, pela matéria
de sua competência — ficou desatenta ao
disposto no Artigo V da Declaração Uni-
versaI dos Direitos do Homem, que esta-
tui: "Ninguém
será submetido a tortura,
nem a tratamento ou castigo cruel, desu-
mano ou degradante."
Que a pena de morte seja castigo
desumano, ninguém o contesta. Trata-se
de sinistra e impedosa herança do direito
medieval. E bárbara em relação ao que a
ela é levado, ê mortal, outrossim, em
relação aos que a executam friamente,
em câmaras de gás, em forcas, em guilho-
tinas ou em paredões.
0 objetivo do Direito Penal de hoje —
sabe-se —
é a recuperação do criminoso.
Mas o certo é que a pena capital neutrali-
za a salutar destinação do direito repres-
sivo. Demais disso, institui, barbara-
mente, a irreparabilidade do erro judiciá-
rio, tão freqüente no mundo inteiro.
Não se pune um crime com outro, não
raro, até mais bárbaro.
O homicídio oficial é, em boa análise,
uma obra de mau gosto, em que o
modelo, não raro, é menos horripilante
do que a cópia.
Na sua maciça maioria universal, os
juristas são contra a pena de môrte. E
com os juristas está, sabidamente, a
maioria dos sociólogos, pensadores, reli-
giosos, educadores, militares, filósofos e
até poetas. E é com uma composição
desse gênero, concebida pela inspiração
feliz de Guerra Junqueiro, que pingamos
ponto final neste suplicante editorial:
"E vós dizeis: salvemos a moral do
templo / pois todo grande crime exige
um grande exemplo. / Mas, se o vosso
exemplo é assassinar, / nesse caso, o
exemplo que ides dar, / já ele o deu
primeiro —
o criminoso. Então, / ele é o
original, e vós a imitação. / Porém, há
entre os dois enormes diferenças: / Ele é
uma paixão e vós uma sentença. /Assas-
sinais com calma, inexoravelmente: / vós
tendes consciência inteira do assassínio. /
Ele é o desespero: e vós um raciocínio. /
Ante a pena de morte, o bandoleiro
atroz / é menos responsável, ainda que
feroz. / Se o crime é hediondo, a lei
produz horror. / Ela é como o juiz
mudado em salteador: pois é concentra-
ção diabólica do mal, /apenas transfor-
mada em Código Penal! / Enfim: assassi-
nar um homem que assassina / é atirar o
Direito ao pé da guilhotina".
Uma cruzada
muito doida
Jornalista carioca passou por
Cambuquira, tranqüila cidade
no Sul de Minas Gerais, e en-
controu a população apavora-
da, às 6 da tarde do dia 19
passado. Os mineiros, pouco
apressados normalmente, cor-
riam para suas casas, assusta-
dos, gritando: Parece coisa do
diabo! Olha os estandartes ver-
melhos com dragões dourados.
E todos se enfurnavam em
suas casas, deixando um olho
do lado de fora. No meio da
rua — uma rua alta, com o Sol
poente brilhando nos estandar-
tes vermelhos — estavam, um
pouco decepcionados, os belos
mancebos da Tradição, Família
e Propriedade, a conhecida e
manjadíssima TFP. Os bens tra-
tados rapazes do professor
Plínio Correia comentavam en-
tre si que a população matuta
não estava recompensando os
esforços de uma organização
eminentemente antidiabólica,,
ao confundi-la com enviados
do diabo.
Os turistas cariocas, que co-
nhecem perfeitamente os pro-
pósitos da TFP, riram-se a valer
da decepção dos tefepistas, di-
ziam uma piada toda vez que
um dos pregadores, de terninho
preto e gravata idem, entravam
com sua dialética para conven-1
cer os que tinham ido a Cam-
buquira em busca de descanso.
No dia seguinte, com a po-
pulação mais habituada à pre-
sença da TFP e vendo que os
rapazes eram mansos, pelo me-
nos não mordiam nas aborda-
gens, começou a ouvi-los:
— Meu caro — dizia um tefe-
pista —
procure entender a nos-
sa pregação, que é contra a
invasão vermelha. Nós fomos
os primeiros a denunciar a exis-
tência de Frei, o Kerensky chi-
leno.
Certo - respondeu o ma-
tuto -, mas para mim todas as
religiões são boas. Gosto da sua
e da minha.
Mas não estou falando de
religião — reagiu o tefepista já
meio nervoso -
quero dizer
que já temos um Chile verme-
lho perto de nós.
Eu vou à Igreja todo do-
mingo, moço — respondeu o
matuto, saindo de fininho.
A TFP abriu uma dissidência
entre os turistas. Uns achavam
que os mineiros estavam se fa-
zendo de desentendidos, en-
quanto a outra ala era de opi-
nião que eles estavam falando
sério.
Noutra rua, ladeira acima,
um tefepista aguardava os pas-
santes atrás de uma esquina e
como um felino, cheio de ira,
saltava em frente a eles, impe-
dindo que continuassem:
Não tenho dinheiro - dis-
se o mineirão assustado.
Não queremos dinheiro
-
reagiu o tefepista.
Quem é que paga seu tem-
po e sua vestimenta, então?
respondeu o matuto em sua
sabedoria.
Ante a vacilação do belo es-
pécime-da TFP, o mineiro saiu
de mansinho comentando com
o amigo, ao lado: Uai, se ele
não sabe explicar de onde vem
o dinheiro, então o negócio é
meio estranho. Vam'bora,
sô...
E como os matutos descon-
fiados, os belos mancebos do
professor Plínio Correia pega-
ram seus ricos estandartes e
foram assustar as populações
de Lambari, Baependi e outras
cidades do Sul de Minas Gerais.
Eles estão trabalhando. E, co-
mo disse o mineirão de Cambu-
quira, haja dinheiro para pagar
as despesas de viagem, estadia,
alimentação et cetera.
-ORA.5ADAT .COM O TEU
PETRÓLEO E O MEU'CHARMEDOMINAREMOS
O TERCEIRO MÜNDO!
cfíLiojr-n
POLITIKA
a£°
Kditorial-I
As cebolas estão so-
brando. Mas há escassez de
carne. No abacaxi, super-
produção. Mas o feijão
caiu de ritmo. Não faz
muito tempo e a palavrade ordem na cafeicultura
era erradicar. Agora é pre-ciso plantar café com ur-
gência.
Esse é o quadro na agro-
pecuária e tanto acontece
aqui como em qualquer
parte do mundo, mesmo
nos países que socializam
suas terras. O produtor faz
o que pode, mas há entres-
safras, geadas, enchentes,
secas, epidemias, um vasto
repertório de pragas e
doenças, além das intri
cadas injunções internas e
externas de mercado.
A crise da cebola nos
ensina que não basta pro-duzir, nem distribuir ter-ras, como querem os sim-
plistas. Há que enfrentar a
participação negativa danatureza de um lado, e dooutro, cuidar da mecaniza-
çao, dos fertilizantes, docombate às doenças, daestocagem, da comercia-lização.
Entre as crises de far-tura e de escassez, um pon-to de equilíbrio só seráencontrado com muita ra-cionalidade e muito invés-timento. Enquanto isso,Na teorias e haja cebolas.
JO Globo, página 3,28/07/72).
Planto e.
Dos jornais: No Recife, o deputado arenista Vital Novaisdeclarou que a maior parte da produção de cebola do São Francisco é
atirada no rio, por falta de preço justo. Na Guanabara, o produtocaiu de Cr$ 2,30 para Cr$ 0,60.
13baciadas almas
E o relatório
Albuquerque?
Tz$
Ralph Nader, o advoga-
do americano que se fez
famoso pela campanha
contra a insegurança indus-
tr i al-automobil ística dos
Estados Unidos e passou a
lutar indistintamente pelas
grandes causas humanas —
da poluição, à guerra do
Vietnã — acusou esta se-
mana os governos da Amé-
rica Latina de estarem re-
petindo os erros dos gover-nos norte-americanos, con-
sentindo que os índios se-
jam aos poucos liquidados
pelos grupos interessados
nas terras por eles ocupa-
das.
O Globo fez um edito-
rial indignado, dizendo
que Ralph Nader não en-
tende nada de índio e que,
ao menos no que se refere
ao Brasil, sua denúncia é
fantasiosa. Seria muito
mais inteligente e jornal ís-
tico que o doutor Roberto
Marinho, em vez de escra-
vejar contra Ralph Nader
em editorial que ele não
vai ler, publicasse em O
Globo e depois mandasse
para ele a íntegra do famo-~u. *_____*_**_»*/.*< rir, rtonaral'O
tciattjii*- *-*¦ w*»** *******
Afonso Albuquerque Li-
ma, quando ministro do
Interior, sobre o tratamen-
to dado pelo Brasil aos
nossos índios, nos últimos
50 anos.
A Bíblia ensina que, pa-
ra contestar a mentira, não
há coisa melhor que a ver-
dade. Por que O Globo
não publica o relatório ver-
dade iro de Albuquerque
Lima?
Uma questão
de templo.
coisa, a diferença é enorme. Mesmo
porque, segundo toda a legislação
vigente no País, pelo menos até on-
tem, todos são iguais perante a lei.
Então, por que a discriminação?
Por que permitir-se que sejam grava-das as cantorias espiritas, quandoconstitui-se uma agressão qualqueralusão aos símbolos católicos? As-
sim não dá.
Editorial-2
"
Vocês já imaginaram se amanhã aElis Regina ou o Roberto Carlos re-
solvessem gravar uma Ave Maria ou
um Padre Nosso em ritmo de samba
ou de iê-iê-iê? Ia ser uma parada.
Os mais ortodoxos, no mínimo, pe-diriam as cabeças dos arranjadores,
dos maestros e dos cantores. É ou
não é? Muito bem. Mas isto está
acontecendo, guardadas as devidas
proporções, com outras religiões,
que não a católica. Semana passadamesmo, a gente ligou o rádio e lá
estava o Ronnie Von cantando um
ponto de macumba, no qual louva-
va Sao Jorge, o Oxóssi da religião
espírita.
Ora, POLITIKA já firmou sua
posição. Não é a favor nem contra,
antes pelo contrário. Em termos de
religião, é claro. Mas daí a se admi-
tir dois tratamentos para * mesma
<.-> *° -•«
É possível que a
COHAB tenha cometido
apenas um erro de semân-
tica no seu programa de
habitações populares. Em
vez de casas para favela-
dos, construiu casas favela-
das, isto é, seguindo o mo-
delo de precariedade dos
barracos, com a mesma in-
segurança e o mesmo desti-
no efêmero.
O fato é que há edifica-
ções da COHAB ameaçan-
do desabar, mesmo sem a
calamidade das chuvas ou
qualquer outro fator estra-
nho aos aspectos técnicos
do problema. Moradores
de conjuntos habitacio-
nais recém-construídos
passam agora por novo
drama, como se estivessem
condenados a uma vida in-
teira sem teto digno.
Os recursos para esses
programas são fornecidos
pelo BNH, que os não re-
gateia. O Estado tem os
seus técnicos e os seus fis-
cais para o controle dos
empreiteiros. Qual o ele-
mento que está faltando,
portanto, em tão perfeitaequação?
Insistimos no erro de se-
mântica. Talvez tenha ha-
vido confusão entre duas
outras palavras: responsa-
bilidade e irresponsabilida-
de. O Globo, página 5 —
24/07/72.
é
... DEPOIS DA p*\r
FlKMADA MEU AtDVOOADO TRATARA P«"OSS05 ,MTfcR|.->sP5.
POLITIKA
ekonomia
São Paulo comanda a economia
nacional com quase
a metade
de tudo o que
se produz,
e
este crescimento desmesurado
se constitui em preocupação
|
.
Helio
Duque
¦^^KajVHH» _ pi ?55y*iliBB^^WBBWi^"'i>^g5fe *MLar *JBT ^JB
fB . 1 *^tàjS"
. -jfe
liiiJkr-tjSS
|^ I ^:- - •'' '-V
> <nl^§f
fcs»' **£? .. •
São Paulo,
os males ao
aiganQscGQ
0 gigantismo crescente
de São Paulo na economia
brasileira é impressionante.
Os estabelecimentos indus-
triais localizados em São
Paulo significam 49,6 por
cento do total nacional. Os
estabelecimentos comer-
ciais, representam 44,7 por
cento do total nacional e o
pessoal ocupado de uma
maneira geral, atinge 47,1
por cento do nacional, tra-
balhando na indústria e no
setor terciário. Trabalhan-
do somente na indústria,
as pessoas ocupadas repre-
sentam 51,5' por ccnto do
total nacional e 41,9 por
cento no comércio e nos
serviços.
Estes dados fazem parte
de uma recente publicação
do Departamento Nacional
de Mão-de-Obra, sob o
título Composição e Dis-
tribuição de Mão-de-Obra,
referindo-se ao ano de
1970, contudo, grande
parte das informações ali
contidas foram levantadas
recentemente, através de
pesquisas junto às próprias
empreses e seus emprega-
dos.
Somente na cidade de
São Paulo, a capital, tem
22,5 por cento do total de
estabelecimentos do setor
secundário e terciário (cer-
ca de 164.450 num total
de 729.772); 29,5 por cen-
to do total do pessoal
ocupado no País nesses
dois setores (cerca de
1.955.186 pessoas em
6.614.330) e uma remune-
ração média de mão-de-
obra (Cr$ 450,60 mensais)
22,5 por cento acima da
média nacional (Cr$
360,01).
A evidência dos núme-
ros atesta a fantástica lide-
rança econômica que o Es-
tado de São Paulo desem-
penha dentro do contexto
da realiadade nacional. E
na medida em que come-
çamos a ver a ascensão gra-
dativa desse crescimento
desmesurado, a todos bra-
siíeiros, isto significa uma
fonte de permanente in-
quietação.
A lista ficará mais com •
pieta se apresentarmos
uma visão nacional do se-
tor indústria, onde o nú-
mero de estabelecimentos
existentes no Estado ban-
deirante atinge a 94.553
indústrias, vindo em 2o.
lugar a Guanabara com
23.720 indústrias,ou 12
por cento do total nacio-
nal. O 3o. lugar fica com o
Rio Grande do Sul, com
16.779 estabelecimentos.
Em seguida vem o Esta-
do de Minas Gerais, que se
coloca em 4o. lugar, com
13.947 indústrias. Cumpre
ressaltar que são esses os
únicos Estados brasileiros
com mais de 10 mil estabe-
lecimentos industriais. Se-
guindo-se a seguinte cias-
sificação, quanto ao núme-
ro de indústrias: Paraná,
com 8.655; Rio de Janei-
ro, com 8.341, ocupando
o 6o. lugar; Santa Catari-
na, com 7.756, 7o. lugar;
Pernambuco, fica em 8o.
lugar, com 2.449; e a
Bahia fica em 9o. lugar,
com 1.873 indústrias. Se-
guem-se Espírito Santo,
com 1.629; Pará, com
1.097; Ceará, com 861;
Mato Grosso, com 845;
Distrito Federal, ccm 833;
Paraíba, com 789; Sergipe,
com 682; Alagoas, com
511; Rio Grande do Norte,
com 401; e o Amazonas,
com 383. Os Estados do
Maranhão e Piauí, dis-
putam o último lugar, que
fica mesmo com o último,
com apenas 309 estabele-
cimentos industriais, en-
auanto o Maranhão tem
um pouco mais: 313.
Se essa é a visão do gi-
gantismo da paulicéia no
campo da atividade indus-
triais no setor de comércio
e serviços o quadro em
quase nada se modifica,
servindo para patentear a
tese de que o Brasil cresce
de um lado só, e portanto,
o seu desenvolvimento
econômico interno poderá
criar um verdadeiro mons-
tro, diante da constatação
que estamos fazendo do
predomínio absoluto de
São Paulo na economia
brasileira, pelos seus pólos
mais dinâmicos.
No comércio e nos ser-
viços o panorama pouco se
modifica, onde cerca de
241 766 unidades dão ao
Estado de São Paulo o 1o.
lugar, disparado. Ficando a
Guanabara em 2o., com
cerca de um quarto desse
total, ou 64.394 estabele-
cimentos do setor terciá-
rio. E o 3o. lugar, fica com
Minas Gerais, com 47.572
unidades e o Rio Grande
do Sul, em 4o., com
45.362 unidades e o Esta-
do do Rio ficando em 5o.,
com um total de 33.750.
Os demais Estados brasilei-
ros obedecem, nesse setor,
à seguinte ordem: Paraná,
31.349; Santa Catarina,
13.903; Goiás, 9.672; Per-
nambuco, 8.544; Bahia,
8.234; Espírito Sarúu,
com 5.258; Mato Grosso,
com 5.100; Distrito Fede-
ral, com 3.213; Pará, com
3.199; Ceará, com 3.061;
Para íba, com 2.768;
Alagoas, com 2.761; Ser-
gipe, com 2.605; Amazo-
nas, com 2.319; Piauí,
com 2.067; Rio Grande do
Norte, com 1.813; e Ma-
ranhão, com 1.498.
ei
POLITIKA
São Paulo,
ce males ao.gigantemo
lB_mfim!k*>t iií^^Wcl mmiírm *^í • Zy^m ítt j
>3& .** pw5S^Smm5ç^^^^SB
15ekonomia
Sâo Paulo desenvolve-se romoum todo, tendo outros 70 munkíp x com mais
industrias que alguns estados
-tf!
Delineia-se nesses ÊÊÊe* estatísticos de
um órgão oficial a flagrante concentração
econômica, nas regiões do Centro-Sul
destacada e disparadamente para o Estado
de São Paulo. A região Centro-Sul, com-
preendendo Minas Gerais, Espírito Santo,
Es*» i do Rio, Guanabara, São Paulo,
Pao.uá, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul, detém:
a) 92,2 por cento do total de estabele-
cimentos industriais do País. Cerca de
175.380 no total nacional de 188.942;
b) 89,3 por cento do total dos estabele-
cimentos comerciais e de serviços. Atin-
gindo 483.354 no total de 540.830;
c) 88,2 por cento do pessoal ocupado
na indústria e no setor terciário. Precisa-
mente 5.840.136 pessoas no total de
6.614.330 ocupadas nacionalmente;
d) 89,9 por cento das pessoas ocupadas
na indústria. Ou seja 3.224.264 no total
de 3.588.000;
e) 79,9 por cento das pessoas ocupadas
em comércio e serviços. Isto é, 2.615.872
do total brasileiro de 3.026.330:
f) o Estado de São Paulo sozinho tem
49,6 por cento dos estabelecimentos in-
dustriais, 44,7 por cento dos estabeleci-
mentos comerciais e de serviços, 47,1 por
cento do pessoal ocupado em geral, 51,5
por cento do pessoal ocupado nas indús-
trias, 41,9 por cento do pessoal ocupado
em comércio e serviços e uma remunera-
ção média de mão-de-obra (Cr$407,25
por mês) superior à média nacional
lCr$360.01);
g) Brasília, por ser capital administrati-
va, contando cõm uma população predo-
minante de funcionários públicos, a mé-
dia mensal de remuneração atinge Cr$
450,60, ocupando o Io. lugar no País,
diante desses fatores enumerados.*_*}. •
¦**' '
Paia que fique mais nítida a remunera-
ção média em São Paulo, basta que se
apresente, excetuando Brasília. 1o. lugar,
a base de remuneração média nos demais
Estados da Federação: São Paulo, 2o.
lugar, com Cr$ 407,25; Guanabara, 3o.
lugar, com Cr$376,48 mensais; Pernam-
buco, em 4o. lugar, com Cr$337,43; Rio
Grande do Norte, em 5o. lugar, com Cr$
326.98; Ceará, em 6o. lugar, com Cr$
326,87; Bahia, em 7o.. com Cr$ 322,34;
Pará, em 8o., com uma média de Cr$
321,31; Maranhão. 9o.. com Cr$ 317.05;
Rio Grande do Sul. em 10o. lugar, com
Cr$ 307,43; Paraná, 11o. lugar, com Cr$
300.97; Piauí, em 12o.. com Cr$ 300,45;
Minas Gerais, em 13o., com Cr$ 287,93;
Mato Grosso, em 14o., com Cr$ 286,62;
Alagoas, em 15o., com Cr$ 286,26; Sergi
pe, em 16o., com Cr$ 285,99; Paraíba,
em 17o., com Cr$ 284.32; Espírito San-
to, em 18o., com Cr$ 279,94; Amazonas,em 19o., com Cr$ 279,86; Goiás, 20o.
com Cr$ 265.63: Santa Catarina, em
21o.. com Cr$ 249,76; e, em 22o., o
Estado do Rio, com Cr$ 246,30.
Este quadro; por outro lado, reflete
toda a pobreza e miséria existente entre
!c classes assalariadas brasileiras. Por esses
dados vemos, por exemplo, que o Paraná,
um dos Estados onde a riqueza aflora
com maior constância como produto de
uma agricultura diversificada, no que diz
respeito à mão-de-obra, rivaliza com o
pobre, paupérrimo e miserável Piauí. 0
Paraná com a média de pagamento mensal
de Cr$ 300,97, enquanto que o Piauí tem
a média de pagamento mensal de Cr$
300,45. São distorções que precisam ser
estudadas para que se encontre uma solu-
ção harmoniosa para a verdadeira inttgra-
ção nacional.
Não será aumentando de ano para ano
esse separatismo econômico existente en-
tre o Centro-Sul e o resto do País que
teremos o Brasil forte, desenvolvido e que
corresponda a um amanhã risonho de
felicidade e de tranqüilidade para os seus
filhos. A persistir nessa década o ritmo de
crescimento brasileiro centrado na região
Centro-Sul, estará, ao inciar-se a década
de 80, decretada a indiscutível falência,
principalmente da região nordestina. E
não venham apresentar, como únicas solu-
ções, iniciativas como a da Cidade Indus-
trial de Aratu, na Bahia, ou mesmo a
Cidade Industrial do Cabo, em Pernambu-
co. Trata-se, em termos de integração
econômica brasileira, muito mais de uma
verdadeira miragem criada pela técnica
moderna de comunicação de massas.
Mas sobre isso, escre-
veremos em outra oportunidade. O objeti-
vo desse trabalho, baseado em dados ofi-
ciais, do Departamento Nacional de Mão-
de-Obra, órgão subordinado ao Ministério
do Trabalho, é mostrar que o Brasil cresce
de um lado só. ^ •«* :
E o crescimento ecoiilÔmico de São
Paulo não se verifica sorfrente na capital,
ao contrário. Ele é diversificado, existin-
do cerca de trinta e três municípios, fora
o da capital, que tem mais de 1.000
estabelecimentos, incluindo industriais,
comerciais e de serviços. Municípios co-
mo Campinas, Santos, Guarulhos, Jun-
diaí, Osasco, Ribeirão Preto, Santo An-
dré, São Bernardo, Sorocaba, São Caeta-
no do Sul têm mais estabelecimentos que
algumas unidades da Federação, assim
como mais pessoal ocupado que alguns
desses Estados, sobretudo nordestinos.
Além de uma remuneração da mão-de-
obra também superior.
Segundo o levantamento do Departa-
mento Nacional de Mão-de-Obra, são os
seguintes os núcleos municipais com mais
de mil estabelecimentos, relacionando-se
ainda o pessoal ocupado em cada um
deles e a respectiva remuneração média:
Municípios Estabelecimentos
Americana 2.172
Araçatuba 1.880
Araraquara 1.490
Bauru 2.114
Bragança Paulista 1.314
Campinas 7.687
Catanduva 1.346Franca 1.915
Guarujá 1.328
Guarulhos 3.240
Itu 1.105
Jacaré 1.156
Jundiaí 3.231
Limeira 2.402Marília 1.823
Mogi das Cruzes 1.937
Osasco 3.635
Ourinhos 1.405
Piracicaba 2.209
Presidente Prudente 2.265
Ribeirão Preto 4.259
Rio Claro 2.011
Santo André 5.444
Santos 10.158
S. Bernardo do Campo 3.140
S. Caetano do Sul 3.180
São Carlos 1.509
São João da Boa Vista 1.117
São José do Rio Preto 2.917
São José dos Campos 1.906
São Paulo 164.450
São Vicente 1.995
Sorocaba 5.113Taubaté 1.680
Obedecendo à critério adotado pelo
DNMO de relacionar acima apenas os
municípios com mais de 1.000 estabeleci-
mentos, ficam de fora do quadro outros
que mesmo empregando mais de 5.000
pessoas, o número de estabelecimentos
está abaixo de 1.000. São eles: Araras
(887 estabelecimentos, 7.388 pessoas
ocupadas); Barretos (935 estabeleci men-
tos - 5.780 pessoas ocupadas); Botucatu
(887 estabelecimentos - 5.350 pessoas
ocupadas); Cubatão (621 estabelecimen-
tos - 1 Í.201 pessoas ocupadas); Diadema
(865 estabelecimentos - T0.484 pessoas
ocupadas); Õuaratinguetá (815 estabeleci-
mentos - 6.424 pessoas ocupadas); Jaú
(912 estabelecimentos - 7.657 pessoas
ocupadas); Mauá (909 estabelecimentos -
9.297 pessoas ocupadas); Mogi Guaçu
(518 estabelecimentos _c*>i pessoas
ocupadas); Ribeirão Bonito (933 estabele-
cimentos - 5.365 pessoas ocupadas); Sal-
to (552 estabelecimentos - 6.500 pessoas
ocupadas); Santa Barbara do Oeste (673
estabelecimentos - 6.372 pessoas ocupa-
das); Valinhos (477 estabelecimentos -
7.502 pessoas ocupadas); e Votorantim
(474 estabelecimentos - 9.296 pessoas
ocupadas).
Outra parte muito importante do estu-
do do DNMO é a que mostra que dos
2.679.495 empregados ocupados pela in-
dustria e pelo setor terciário no Estado de
São Paulo, apenas 97.772 (3,2 por cento
do total) são estrangeiros. Isso serve para
patentear que, basicamente, a presença
Pessoal ocupado
16.403
9.056
10.500
13.358
5.096
76.932
4.270
14.532
6.219
23.498
5.923
9.628
30.417
14.733
10.076
14.450
18.239
5.489
15.455
11.032
25.020
9.305
67.053
72.403
81.658
44.874
14.998
4.177
11.558
21.482
1.955.1867.515 -
29.69612.146
Remuneração
308,53
262,01
256,66
338,60
241.25
370.27207,73
219,91
258.71
399.30
201.45
291.52
322.01295,75
257,27
381,27471,76
241.86
303.29
254,17
279,27
301.51
501.63
437,35
661.22
562,96
354.71223.69
238,96
364.09
450,60
265,62
321.24
362,90
ativa em mais dé 96 por cento da mão-de-
obra utilizada para consolidar o gigantis-
mo paulista é de brasileiros de todos os
quadrantes, inclusive do próprio Estado
de São Paulo. Serve, igualmente, para
demonstrar que o desenvolvimento no seu
alicerce básico, que é a mão-de-obra (6
outro é o capital), projetado em São Pau -
Io, maciçamente, é feito por brasileiros.
Eis a comprovação mais objetiva desse
fato: entre os estrangeiros que trabalham
na indústria paulista, os portugueses são o
grupo mate numeroso, com 30.033 pes-
soas, seguidos de italianos, que são
17.181 e dos espanhóis, que reúnem
15.959. Por se dedicarem muito mais à
atividade agropecuária, os japoneses figu-
ram apenas em 4o. lugar, com 10.951
pessoas. 0 levantamento relaciona ainda
4./ i>4 alemães, üu3 irânC6S6S G -*^*j "1O1 «.C
americanos. Os naturais dos EUA são o
grupo menos numeroso, porém entre os
estrangeiros, os mais bem pagos: 40,5 por
cento dos norte-americanos recebem en-
tre 13 a 19. salários mínimos. Entre os
portugueses apenas 1,3 por cento rece-
bem entre 13 a 19 salários mínimos; entre
os espanhóis, 3,9 por cento; entre os
alemães, 18,3 porcento. Os setores indus-
triais que mais empregam estrangeiros são
os derivados de petróleo (3,8 por cento
dos empregados no setor), e construção e
reparação de veículos (3,4 por cento do
total). Os que menos empregam são cons-
trução civil (1,6 por cento) e indústria
extrativa vegetal (1,7 por cento).
POLI TI K A
entrevista
Ele nunca abandonou uma causa,
mesmo quando
ameaçado. Para
defender seus clientes chega
às últimas conseqüências. Não
mede o perigo.
É Sobral Pinto
Homem
Roberto
Moura
chamado
H I
\a ^1H H B
mora em
flf numa palaciana
Nove
mmhmhm|^mmmmmmmm||^^hhhmm|hhh||^h|^hhh^hhh|| I requerer
—V- I de
WMfV I o
4, Jf^E* vrar
I
^a*)e Debussy. de
l^^WPf^"*'-'.^ 'i.-gp^i,if
^-.''.y j^s-. .•{
Sobral Pinto é um ho- 1
mem de 78 anos que atra- I
vessou quase toda a repúbli-
ca brasileira como advoga-
do. O seu nome já apareceu
nos livros dos mais impor-
tantes autores brasileiros e
já esteve ligado às causas de
Luís Carlos Prestes, Henri
Berger, Graciliano Ramos,
Juscelino Kubitschek, Car-
los Lacerda, Francisco Ju-
lião, Miguel Arrais, Mauro
Borges e Hélio Fernandes.
Até hoje ele advoga e desses
clientes famosos nunca acei-
tou um tostão. Há 35 anos,
Sobral mora em Laranjeiras,
numa casa antiga, palaciana
e linda. Nove quartos, dois
gabinetes de leitura e uma
biblioteca que não dá pra
explicar. Para ele tanto faz
I requerer citando um artigo
da Declaração Universal dos
Direitos Humanos ou da Lei
de Proteção aos Animais. Só
lhe interessa levar a causa
até o fim, nem que para li-
vrar o cliente da cadeia, eie
tenha que ir para lá. Atento
I a tudo o que acontece no
I mundo moderno, Sobral
I Pinto sabe de Beethoven.
I Sabe de Debussy. Sabe de
Freud e de Jacques Mari-
tain. Sabe de Baudelaire. Sa-
I be de Nietzsche. Sobral Pin-
to sabe de tudo.
KSRIs
mm
?
POLITIKA
Um Homemchamado
Sobral Pinto
17entrevista
A vida de Sobral Pinto tem a
imagem daquele que nasceu nacerteza de ser útil a quem onecessitasse.Por isso,após
54 anos.é um homem humilde.
Quatro vezes ele foi preso e
em nenhuma delas deixou que os amigos fossem
interceder por sua liberdade>u, importância, o delegado supôs que bom esclarecer que até então minha ur
J.
Depois de tudo o que já passou,como é que você vive hoje?
De maneira simples. Vou vivendo
aqui em Laranjeiras com a mulher e
um dos cinco filhos que tenho
casados. Nada demais. Levo a vida
de um católico de comunhão diária.
Ainda está advogando?
Se eu não advogasse pelo menos
até o fim do ano passado estaria em
grandes dificuldades financeiras.
E o que houve no final do ano
passado?A coisa melhorou porque eu e o
Dario de Almeida Magalhães nos
metemos af numa causa comercial- um inventário de certo vulto.
Esse inventário terminou com um
acordo em 1969. Mas, nessa oca-
sião, nem eu nem ele recebemos os
honorários. Esses honorários só vie-
ram a ser pagos no final do ano
passado e vai me permitir uma certa
tranqüilidade financeira durante os
próximos dois anos.
Mexendo um pouco no passado,Sobral, quantas vezes você já esteve
preso?Olha, eu tenho 54 anos de advo-
cacia. Nesse mais de meio século eufui preso quatro vezes. A primeira,em 1932, na Revolução Paulista. A
segunda, em 1942, por causa de umincidente com o diretor da Casa deDetenção, quando fui visitar LuísCarlos Prestes, que era meu cliente.Em 1955, por ocasião do CongressoEucaristico Internacional, outravez. Eu vinha vindo pela Rua Setede Setembro com um colega evimos uma fila de pessoas quequeriam ver de perto a custódia queseria utilizada na procissão eucarís-tica. Nós paramos e olhamos aClIÇtÓrlia Oi.or»«4_~ í^mnp rsmttr**4tr\ tsrv,vtWWIBa w_.wuuuw lumud .niinuw, «_••••
policial nos deteve por estar paradono meio da rua. Ele não me identi-ficou e chamou uma viatura, ten-do-lhe eu assegurado que não memoveria deli. Veio a Radio Patrulhae fomos presos (eu tinha pedido aocolega
para não mencionar o meunome). Fomos para o Distrito eficamos horas à espera do delegadoque lavraria o flagrante de desacatoa autoridade. 0 delegado, que erajovem, quando chegou também nãome identificou
porque lhe disse omeu nome completo - Heráclito
^ontoura Sobral Pinto: Após umdialogo de meia hora sem a menor
importância, o delegado supôs queeu tivesse chegado de fora paraassisitr ao Congresso e tendo em
vista a minha ignorância sobre as
normas policiais baixadas nessa oca-
sião (ignorância que ele supunha),
resolveu me dar liberdade. A quarta
prisão da minha vida foi em Goiâ-
nia. Fui paraninfar a turma de 1969
da Faculdade Nacional de Direito
da Universidade Federal de Goiás,
cuja solenidade de formatura seria
no dia 14 de dezembro, portantono dia seguinte à sanção do Ato no.
5. Duas horas antes de fazer o meu
discurso, recebi no hotel uma or-
dem de prisão do delegado da Poli-
cia Federal em Goiás. Não acatei a
ordem. Então, fui agarrado por
quatro dos seis homens que acom-
panhavam o delegado e arrastado
do jeito que estava até a viatura de
Polícia, que me conduziu para o
quartel de uma unidade do Exército
na cidade. Ali fiquei três dias, tendo
me recusado a prestar qualquerdepoimento por não reconhecer a
nenhuma autoridade o direito de
me interrogar. Ao final desses três
dias fui posto em liberdade sem queminha mulher, meus filhos ou meus
amigos tivessem feito qualquer pe-dido a quem quer que fosse, no
sentido de que eu saísse da cadeia.
Eles sabiam que eu não gosto de
jogo de influências e nem as usaria
em benefício próprio. Por meio de
um advogado de Brasília, mandei
um bilhete para casa, onde expli-
quei o que estava se passando e
disse que não toleraria qualquer
atitude de meus familiares em favor
da minha libertação.
Onal foi a contigência que lhe
levou a advogar Luís Carlos Pres-
tes?
Prestes estava preso e não quis
indica advogado. Recebeu citação
para .er processado, mas não quis.
Então, o juiz que estava preparando
o processo, dr. Raul Machado, ofi-
ciou ao presidente do Conselho da
OAB do Distrito Federal, pedindo a
indicação de um advogado. Targino
Ribeiro, então presídent? da Ordem
dos Advogados não tendo conse
guido, de sete advogados aos quais
se dirigiu, obter e autorização para
a indicação, veio a mim. Queria a
tal autorização. Queria, e eu dei: E
bom esclarecer que até então minha
vida de advogado tinha transcorrido
sem nenhum caso de repercussão
nacional.N Eu nada tinha feito para
ser um advogado diferente dos ou-
tros. Aí, fui nomeado pelo Juiz,
que me mandou um ofício para queeu visitasse Prestes e me entendesse
com ele, na Polícia Especial, no
antigo Morro de Santo Antônio.
Cheguei lá e falei com o Prestes. Ele
não quis que eu o defendesse, tendo
me proibido a apresentação de qual-
quer defesa sua ao juiz Raul Macha-
do. Esta proibição foi feita durante
uma exposição dele, exaltadíssima,
que durou quase duas horas. Nessa
ocasião, entre coisas que não ti-
nham razão de ser, aludiu a fatos e
circunstâncias verdadeiros e queeram de meu conhecimento. Um
desses fatos se referia à sua incomu-
nicabilidade absoluta que já durava
quase um ano e na qual estava
entregue ao próprio pensamento,
pois não lhe ciavam jamais um
papel, um lápis ou uma caneta, não
lhe permitindo sequer ler um jornalou um livro. Também não lhe era
permitido dirigir palavra às duas
sentinelas que guardavam a sua cela.
Essa cela tinha os portais em grade
dos quais só o Comandante da
Polícia Especial tinha a chave. Na
petição ao juiz, na qual dizia acatar
a proibição de Prestes, eu relatei os
fatos e circunstâncias verdadeiros
por ele mencionados e isso repre-
sentava sério risco pra mim. Esta
petição foi levada à Paris por pessoa
que eu nunca identifiquei, pessoa
que a obteve em cartório mediante
cópia e foi entreque à mãe de
Prestes. Esta, ao ler a petição, ficou
entusiasmada e escreveu ao filho
para que confiasse em mim. Diri-
giu-me também uma carta para que
obtivesse para o filho o direito de se
corresponder com ele semanal-
mente e com a mulher dele, Oiga
Benário Prestes, que estava presa
em Berlim. Em seguida a esses
fatos, fui solicitado por Targino
Ribeiro para advogar Henri Berger.
um dever meu. Berger, já meio
perturbado da mente, também não
quis que eu o defendesse. Eu o
encontrei debaixo de um socavão
da escada que dava acesso ao sobra-
do daquele edifício, onde funcio-
nava a Polícia Especial. Fiz petiçãoinvocando o artigo XV da Lei de
Proteção aos Animais, exigindo a
remoção de Berger para outro local.
Esse detalhe é importante e eu
queria que você o ressaltasse.
Perfeito. De Prestes, Berger,
Sisson, Marighela, Barreto Leite e
Entrei dentro decada um daqueles processos de umaforma tal que nunca os deixaria poruma questão de honorários. Esses
processos duraram oito anos, mais
precisamente: de 1937 a 1945,
quando em função da Conferência
de Yalta foi concedida anistia aos
presos políticos. Contudo, me pare-ce que o que me deu mais projeçãofoi a minha luta contra o EstadoNovo. Uma luta árdua, dura e inter-
minável. Foi nesse período que eu
defendi Gracrliano Ramos, que no
quarto volume de Memórias doCárcere fala muito de mim e me
analisa, traçando uma espécie assim
de meu perfil.
E aquele caso entre você e o
Juscelino Kubitschek, em 1955?
Aproveita e conta, já que a conversa
está tomando um rumo bastante
cronológico.
Por época da candidatura de Jus-
cel ino — que foi vetada — eu briguei
muito pelo direito que tinham os
partidos de escolherem os cândida-
tos que quisessem. Bem, Juscelino
scsbou não aoenas c?ndid8to, rnac
presidente da República! Quando
foi empossado, Juscelino me escre-
veu fazendo um convite para que eu
aceitasse ser Ministro do Supremo
Tribunal Federal. Eu recusei e ex-
pliquei-lhe que defendia a sua can-
didatura não as suas idéias. Dei uma
de Voltaire: não concordo com
nenhuma das palavras que dizeis;
! mas, defenderei até à morte o vosso
direito de dizê-las. Juscelino deve
ter entendido.
A essa altura, eu já estava envolvido
demais e não tinha por que não
aceitar. Aceitei, achando que era
I
entrevista
Sobral Pinto é um patriarca.
Acha que
a grande
desordem
do mundo moderno se deveu à
saída da mulher do lar.Por
isso é contra o Womens Lib
E/e não se considera
como o único advogado envolvido
nas grandes
causas
Não parou aí o seu rosário de
clientes importantes. Cita mais.
Depois de 1960, eu tive a oportu-
nidade de advogar causas de Fran-
cisco Julião, Mauro Borges, Miguel
Arrais, Hélio Fernandes e Carlos La-
cerda. Lacerda, aliás, foi meu clien-
te durante onze anos.
O fato de toda essa gente, em
épocas diferentes, tê-lo procúrado
pode dar a impressão de que não
havia mais ninguém com coragem e
capacidade de comprar uma briga
dessas.
Você sabe que não é assim. Têm
grandes advogados por aí e até en-
volvidos em causas como essas. Tem
George Tavares, o Evaristo de Mo-
ráis Filho, o Heleno Fragoso e mais
dois irmãos pernambucanos que eu
não lembro o nome e que são sensa-
cionais.
Vamos mudar um pouco, vamos
ver o Sobral Pinto conceituando. 0
que você faria se tivesse em suas
mãos o caso de um viciado em dro-
gas?
Se eu tiver que defender um vi-
ciado farei o possível para ressaltar
as condições sociais e existenciais
que o levaram a adquirir o vício.
Mesmo que o caso seja patológico,
ainda assim e mesmo que ele não
tenha mais condição de se reinte-
grar à sociedade, eu lutarei para que
ele »aja submetido a um tratamento
específico e eficaz.
Esse "específico
e eficaz" não
é — com certeza
— o fundo de uma
cela.
Fundo de cela é uma das coisas
mais inaplicadas para curar ou punir
um viciado.
E como é que você vê as diversas
tendências do mundo moderno,
aqui e lá fora?
Aí, nós já estamos indo para a
conjectura. E, na conjectura, eu sin-
to que os movimentos de situação
no mundo moderno estão desliga-
dos da juventude. E, mais, não acre-
dito que nenhum movimento, seja
político, religioso, econômico ou
ideológico possa dispensar o apoio
da juventude. A não ser que seja um
movimento não muito sério e sem
; os olhos voltados para o futuro.
Eu sei que você lê tudo, sua bi
blioteca é sensacional, seu capricho
-v)
%
com as coisas do espírito e etcéte-
ra? Diga: basta estudar advocacia
para ser advogado?
De jeito nenhum, é indispensável
a Literatura, a História, a Filosofia^
a Sociologia e o estudo das Artes. E
absolutamènte indispensável.
Já que passamos por movimento,
juventude, arte e filosofia, e o
Women's Lib?
Ah! Ah! Ah! Aí eu escandalizo
um pouco o pessoal. Eu acho que a
emancipação da mulher deve ser fei-
to dentro de casa. Considero que a
grande desordem do mundo moder-
no se deveu à saída da mulher do
lar. A emancipação deve ser feita no
sentido de habilitá-la a ser formado-
ra da inteligência, da sensibilidade e
dos ideais dos nossos filhos. A mu-
lher colocada como uma concorren-
te do homem é, a meu ver, positiva-
mente uma catástrofe. £ claro que a
mulher não poderia ser mantida na
posição de ignorância de todos os
setores do conhecimento humano,
como acontecia até bem pouco
tempo. No sentido de receber uma
educação e formação que a integre
como esposa e mãe, aí sim as causas
da mulher merecem e mereceram
' sempre o meu decidido apoio. Co-
mo concorrente do homem, nada
feito.
Como é que você observa, princi-
palmente no campo religioso, a
grande penetração de tradições das
culturas orientais no Ocidente?
A influência da filosofia oriental
no Ocidente tecnológico é fruto da
rapidez das comunicações do nosso
mundo. Vários teóricos da comuni
cação já disseram isso e não há o
que acrescentar. Mas, nós não pode-
mos trocar nossa filosofia pela dos
orientais. Basta comparar umjado
com o outro pra se ver que não há
paralelo entre a oportunidade das
duas filosofias. Considero o budis-
mo, o sidoísmo, o confucionismo e
outras religiões de lá, inteiramente
ultrapassadas em relação ao cristia-
nismo.
Cristão convicto, religioso de prá-
tica, como é que você vê essa série
de pesquisadores que estão reviran-
do a história, buscando novas res-
postas para os mesmos velhos te-
mas? Esse é o ramo novo -
realis-
m
mo fantástico -
da história e até
que ponto essas pesquisas podem
ou não ser verdadeiras?
O realismo mágico ainda está no
domínio da especulação. Isso, na
minha opinião, começou com
Freud è ainda vem cercado de mui-
ta fantasia. Quer dizer, não come-
çou em Freud, mas foi ele quem or-
ganizou. Eu nunca acreditei em dis-
co-voador. Acho que a imaginação
não tem limites e vê o que quer ver.
Abrindo um compasso para apro-
veitar que a gente falou em filoso-
fia, orientalismo e tal, eu queria que
você falasse de música.
Eu sou um fã incondicional da
música clássica. Beethoven, Chopin
e Liszt são minha paixão. Não acho
que Bach está nesse nível, embora
goste muito do trabalho dele. Os ca-
tólicos o consideram o músico espi-
ritual por excelência, mas mesmo
assim, Wagner também.- E grandio-
so. Fruto da grandiosidade alemã.
Foi um homem imponente e gigan-
tesco.
E Villa-Lobos?
Eu não gosto. Me soa artificial.
E os impressionistas? Debussy,
Ravel, Strawinsky. . .
Esses, sabe como é que é. Eu gos-
to, mas não prefiro.
E a música popular?
Nessa o meu desconhecimento
me desautoriza a emitir opinião. A
música hoje me entristece muito
porque perdi um filho com 26 anos
que tocava gaita como ninguém e
ficava em casa tirando de ouvido vá-
rios clássicos e populares. Por isso,
ouvir música pra mim atualmente se
torna doloroso e a saudade é inevi-
tável...
(O repórter pressente lágrimas
nos olhos do velho advogado)
Deixemos a música de lado e fa-
lemos de literatura.
Entre os estrangeiros, Mauriac.
Depois, Balzac e Paul Bourget, que
é detestado pelos modernistas fran-
ceses. Eu, aliás, sou um fã da litera-
tura francesa.
E as literaturas inglesa e america-
na?
Essas, eu não freqüento. No du-
ro, no duro, só Chesterton.
E no Brasil, afinal?
Eu gosto muito de José Lins do
Um Homem
chamado
Sobral Pinto
k'
Sobral é
um homem
sensível
Rego. Não gosto do meu amigo Jor-
ge Amado. Gosto imensamente de
Octavio de Faria. Isso, fora os clás-
sicos. Na poesia, Carlos Drummond
de Andrade e o meu amigo Manuel
Bandeira.
Já que você citou a poesia nacio-
nal, cita a internacional.
Lá fora, Baudelaire, Rimbaud, os
contos de Poe. Contos de Poe, com
tradução de Baudelaire, por exem-
pio, fica uma coisa fabulosa.
Agora, põe aí, antes de sair de
literatura, que eu adoro Sherlock
Holmes e Maurice Leblanc e tenho
as coleções inteirinhas dos dois.
Então, vamos dar um pulo à filo-
sofia, e deixar um pouco a Iiteratu-
ra.
Pra mim, Jacques Maritain, o ho-
mem que modernizou São Tomás
de Aquino. Tem também Leon
Bloy, um panfletário fantástico.
E Nietszche?
Esse eu acho um louco. Li tudo e
tenho tudo, mas acho.
E Schoppenhauer? E Sartre? E
Heidegger? E Kirkegaard?
T odos loucos. Heidegger não,
que eu não conheço o suficiente.
E psicologia?
Eu não gosto da psicanálise nem
da psicologia. Em todo o caso, acho
Freud mais coerente do que Jung.
Já que você falou em Jung, antes
de terminar, fala da alquimia.
É uma coisa muito séria, feita
por gente bem intencionada. Po-
diam errar, mas eram bem intencio-
nados. E muitas descobertas deles
ainda valem.
EI
POLITIKA
Antônio
Carlos
Vilaça
Fugir. Fugir sempre. Mas uma
chuva poderia
impedir que
eu
me encontrasse comigo mesmo
Lá, bem adiante, onde deixei
a minha cigarreira de prata.
V.
fikção
. >fc~.""""
if :r**
'
. c'-'\ '
J
Antônio Carlos Vilaça é
autor de O Nariz do Morto,
um dos mais belos livros pu-
blicados em língua portu-
guesa em 1969. Narrativa
autobiográfica é, ao mesmo
tempo, uma análise pene-
trante sobre acontecimentos
e pessoas que giraram em
torno da vida do autor. Mas,
antes de tudo, é uma inquie-
tante narrativa de um ser
em permanente estado de
incerteza. Agora, Vilaça
anuncia a publicação de 0
Anel. Como o livro anterior,
trata-se de novo mergulho
no mundo da memória. E,
como sempre, presente o
sentimento de fuga que nele
está ligado à idéia de busca,
de procura, de reencontro
consigo mesmo. O Vôo, que
publicamos nesta edição de
POLITIKA, é um capítulo
de 0 Anel, onde se percebe,mais uma vez, o ser inquie-
to, largado, sempre disposto
a partir ao encontro de no-
vas aventuras. (A Editorial
Entrei. 0 anel no meu
dedo. Eu tinha que fugir.
0 anel ia ser vendido em
Paris. Eu sabia disso perfei-
tamente. Sim, perfeita-
mente. 0 anel no dedo. Eu
ia fugir. 0 alfinete de péro-
Ia, na gravata. A cigarreira
de prata, no bolso. Dei-a,
em Paris, dada, puramente
dada, a um poeta do Sene-
gal —
prefiro dizer a um
poeta do Senegal; poderia
dizer poeta senegalês. Mas,
curioso, um poeta român-
tico, derramado, eloqüen-
te, não um discípulo de
Senghor. Ele me deu, de
Paul Eluard, Capitale de Ia
douleur. Fiquei tão abala-
do, olhei o livro, a capa era
branca, então fui ao meu
quarto e dei ao poeta
ver-
balista, biólogo, elegantis-
simo na sua roupa creme, a
cigarreira de prata. Nunca
mais vi a cigarreira de pra-
ta. 0 livro de Eluard, levei-
o comigo para a Itália, mas
não chegou a Roma, dei-
xei-o em Spello, não pro-
pria mente em Spello, na
aldeia de Spello, mas a uns
setecentos metros de Spel-
Io, num convento francis-
cano, em que me meti por
uns dias. Curioso, o con-
vento já não era francisca-
no, embora fosse francisca-
no: era dos petits-freres, de
Foucauld, mas do ramo
novíssimo, chamado do
Evangelho .. Tudo muito
complicadinho. Convenha-
mos. Dei o livro de Eluard
a Cario Carreto, cabelos
brancos, capenga. Me dis-
se, me perguntou: que é
isto? Eu disse: Eluard. E
fui embora para Roma.
Em Spello, não chovia,
embora a manhã fosse es-
cura. Em Roma, chovia.
Sim, eu tinha que fugir.
Eu sempre tive que fugir„
Não parar. Não ficar. Não,
não me deter em coisa al-
guma, ir além, ir, ir para
uma cidade que eu ainda
não conhecesse. Entrei no
avião. 0 avião está quieto
na pista. Chove um pouco.
Esperamos duas horas.
Agora, a chuva permite
nosso embarque. Antes,
não era possível, o homem
me explicou no balcão, di-
reitinho, em português, e
eu pensava que era a últi-
ma vez na minha vida que
eu ouvia uma explicação
assim, num balcão, em
português do Brasil. Sem-
pre fui sentimental, conce-
do. Nunca mais verei o
Brasil. Nunca mais, era um
pacto de meu ser consigo
mesmo, nunca mais volta-
rei aqui. Quero partir.
Quero ver a China. E nun-
ca mais pisarei a que foi
minha terra. 0 amigo me
trouxe ao aeroporto, ele é
um italiano, chovia. Às oi-
to horas, eu lhe disse para
voltar. E então pensei: ele
vai voltar. Eu. . .não volta-
rei nunca. Não tenho mais
casa, para voltar. Minha ca-
sa ficou para lá da chuva,
açoitada, absurda. Impôs-
sível.
Não tenho mais casa.
Começou a chover quando
eu vinha de Copacabana,
era cedo, seis horas. Saltei
de um ônibus, no Passeio.
E então começou a chover.
Vi X) velho Tibiriçá com
seu filho. Pensei: é o últi-
mo conhecido que vejo.
Tomei o ônibus para meu
apartamento. Era a última
vez na vida que me dirigia
para casa. O ônibus desa-
fiado pela enchente me
deixou na esquina. Da tin-
turaria, telefonei para a
agência do avião. Sai?
Saía. Sauna. Vontade de ir
à sauna. Hoje, não fui à
sauna. Os pingos me saú-
dam. Caminho. Sou apenas
um transeunte. Daqui a
pouco, embarco para Paris,
num avião, vnn Hirptn. nem
escala nenhuma, jato, noi-
te aérea. Amanhã, verei o
Sena. Sinto que estou lúci-
do. Fugir, fugirei. Tenho
medo que a chuva me im-
peça de ir ao encontro de
mim mesmo, adiante,
além, destino obscuro, que
eu tento decifrar em vão.
<v
Bí
POUTIKA
r
ti
fikção
Tomei o táxi. E temi. Podia ser roubado, nu-
ma esquina. A chuva não impede o exercício do
roubo. Mas, por isso, pedi a meu amigo italiano,
desinibido, vizinho, que me escoltasse. Bobo
sou, não muito. Ponderei. Sob chuva, chegamos.
0 avião sairia às dez. Às onze e meia, nos chama-
ram, chovia menos. Lá fomos, cativos do nada,
seres com relógio, passaporte, cartão de embar-
que, medo da morte, que, silente, nos empreita,
apalpante. Sim, a morte apalpa. E, nessa escolha,
o tempo flui, como se chuva ele fosse. Vamos,
agora, embarcar. 0 anel no dedo. Venderei o
anel em Paris. A pérola. Não se usa mais pérola.
Vou partir. Nel mezzo dei cammin di nostra vita
Me encontrarei no meio de uma selva selvagem,'
tão escura, tão estranha, tão vazia. Luz intelec-
tual, cheia de amor. Ainda chove, estou lúcido,
sinto que nada ficou para trás, embarco íntegro,
tenho tudo comigo, não perdi nada, e isso me
alegra, a sensação de que não perdi nenhum ob-
jeto nunca, eu os tenho todos comigo, eu os
trago todos comigo, eu estou sereno, posso mor-
rer.
E então subo a escadinha, que não é própria-
mente uma escadinha, é um pouco mais. Entro
no avião. Estou sereno. Vou fugir. Nunca mais
verei o Brasil. Voarei a jato, o avião pode expio-
dir agora mesmo, daqui a pouquíssimo, questão
de minutos. Pode explodir, ao levantar vôo, bre-
ve, explodir num segundo, quem sabe? Sento-
me. Procuro descobrir se o avião explodirá, ou
não, se morrerei. Tento perceber, no ar, no va-
zio, no silêncio, nas paredes de bordo, nos rostos
graves ou sorridentes, no fundo do poço de mim
mesmo, na intuição, no mais íntimo, a vida ou a
morte. Não sei. Partimos.
Doçura de sentir que voamos, antes mesmo de
voar, no paroxismo da corrida, velocidade. A ve-
locidade me excita, pacifica em mim as forças
contraditórias, que como feras me dilacerami ou
me arrastam ao conflito mais doloroso, indiz ível.
A velocidade me dá paz. Nela, me reencontro,
entro em mim mesmo, tenho um sentimento de
tomada de posse do meu ser, que é inseguro,
noturno, finito. Só a velocidade me permite que
me encontre comigo. Sou, agora, um peregrino.
Vôo. Não sei porque, nem para que. Vôo. Desen-
gajo-me. Sou. Euforia tranqüila, humilde. 0 anel
no meu dedo. Com a mão direita, apalpo o anel,
que, na esquerda, contém, em baixo relêvo, o
brazão de minha família.
Ê noite. Não vejo nada. A não ser a escuridão.
O mar e o céu são, apenas, e sempre, escuridão.
Nela, na escuridão, nos movemos. Há em mim
uma terrível curiosidade. Chegaremos? Chega-
rei? A sobrevivência tornar-se-á possível? Ou
simplesmente se afastará de nós como um sonho
ligeiro? Verei o outro lado do mar? 0 mar está
em baixo, não vejo. 0 céu está em cima. Tudo
está inteiramente escuro. Pairamos na longa es-
curidão. 0 abismo é escuro. Cavaleiro, cavalgo a
escuridão, qué, absorvente, nos espreita, nos en-
volve, nos situa para lá de nós, numa vida que é
pura provi seriedade: viagem. Então, olho em tor-
no.
O anel no dedo. A pérola
e a
cigarreira. Tudo isto foi do
meu bisavô. Que morreu em um
domingo. Mas vou vendê-los em
Paris. Pois livros não tenho.
Não, não desamarro o cinto. Receio. Viajarei
de cinto, menino modelo. Fui, já não sou mais.
Sou um vago peregrino, um fugitivo, um ser soli-
tário que viaja através da noite
- à procura de si
próprio. Espio. Perscruto o limitado espaço, que
nos contendo, liberta nosso precário serprovisó-
rio da morte no espaço, escuro. Viajo pela noite,
sentado, o anel no dedo. Meu terno é cinzento.
Meu sapato é preto. Minhas cuecas são brancas.
Branca é minha camisa. Olho os punhos. Vou
jantar. São quinze para
uma. 0 mar esta Ia em
baixo, como se fosse o nosso chão. Mar, mar,
pelo qual meu bisavô menino veio. E nao havia
anel, nem nada.
O vôo
Janto - e bebo. Discreto, de esguelha, espio-
no os outros passageiros, que simplesmente aspi-
ram ao sono, com pachorra. Não dormirei, qua-
se. 0 sono virá, aos fiapos, tênue —
sem excesso.
Cochilos. Mais não será. Quando viajei para Nova
Iorque, li os Poemas, de Gabriela Mistral, edição
francesa, com prefácio sutil de Valéry. Valéry
terá voado? Voltando de Nova Iorque, li The
Pearl, Steinbeck, novelinha. Agora, não terei. E
não terei por uma razão essencialmente simples,
diáfana: vendi meus livros. Não, há uma outra
pequena razão, acidental e brejeira — reservei
três ou quatro livros parà a viagem e as imedia-
ções dela, mas a viagem tardou e os livros, eu os
li (ainda em terra). Agora, não leio. Nada tenho
para ler. Súbito, chega-me um jornal. E o suple-
mento do Estadão me traz o poema de D rum-
mond a Moore. A poesia fala á escultura. Não
quero ler mais nada, nesta longa noite,faspeço-,
me com Drummond da literatura brasileira. Não
desejo fazer literatura, não desejo ter mais ne-
nhum contato com a literatura do Brasil, é meu
último encontro com letras brasileiras. Revejo o
poeta no seu recanto do ministério, entre arqui-
vos de aço, furna, gruta de eremita, refúgio de
asceta... da palavra. Me disse, um dia: temos
que nos aceitar, temos que ser homens. E eu
olhei o braço do poeta e era só tendões. Um dia,
no Palácio São Joaquim, na salinha de baixo,
olhei o braço de dom Helder, que a manga da
batina (era no tempo da batina) revelava um
pouco, e tive a mesma sensação de força. Ten-
does. Braço de homem.
Precisamos aceitar-nos. Ser homens. Começar
por ser homem. Por isso, vôo. Desejaria voar
sempre. Nunca aterrisar. Ou nunca aterrissar por
muito tempo. 0 vôo faz parte de meu ser secre-
to. Por que não ser moço de bordo? A aero-mo-
ça me oferece algo. E há gentileza no seu gesto.
Bebo, sou turista, classe econômica, forma tão
polida de dizer segunda classe, pago
minha bebi-
da. Com essa, não contava, distraído, embora
soubesse. Sabemos, sim, e, todavia, não sabemos.
Eis a vida. Não sou alegre, nem sou triste: sou
poeta Agora, quietinho,
contemplo o mar no-
turno, indevassável. f^oite puramente noite, noi-
te homogênea, noite abissal, noite absoluta. Eu,
navegante, alado ser, faço no ar minha sesta. É
madrugada.
O pênis do menino era pequeno
e ele o con-
templava. Como será Paris, vista de dentro? Co-
mo será tudo que de longe sei? Verei de perto.
A noite é apenas silêncio. O jato ruge no seio do
silêncio. Voamos a mil quilômetros a hora e a
dez mil metros de altura, pleno espaço. 0 Brasil
ficou deveras pra trás, longíquo. Que será verda-
deiramente o Brasil? 0 anel no dedo. A pérola
na gravata. A cigarreira de prata (J.V.) no bolso.
Fujo. Meu destino de fato foi sempre fugir. Fu-
gir. Tenho medo de mim mesmo. Como defron-
tar meu rosto, no espelho do tempo, cortante
nitidez?
0 anel está no dedo. Vendê-lo-ei em Paris.
Direi: é brasileiro, tem um século. E todos os
joalheiros me disseram, com solenidade e segre-
do: c' est bizarra E não o compraram. Um, que
não disse, comprou-o. Adiante, na mesma rua,
em Passy, a casa de Balzac, entre o rio Sena e a
rua de cima, escondida casa. Passei por lá a cami-
nho da rádio, maison de Ia radio, circular, imen-
sa aérea, onde andei à volta com programas, um
fiího de Jules Superville, com quem conversei
pelo telefone. Qual a sua ligação com o poeta?
A mais estreita possível. Filho. E me pus a imagi-
nar o que seria Paris para mim. Morrerei, antes?
Senti uma difusa angústia de morrer, sem vê-la, e
a caminho. Estou perto.
O sentido do inevitável. A descoberta da mor-
te. Voamos. Não tive filhos, não transmiti a ne-
nhuma criatura o legado de nossa miséria,. 0
Cruzeiro está assaz alto ... para não distinguir
entre os risos e as lágrimas dos homens. Alguma
coisa escapa ao naufrágio das ilusões. Consolava-
os a saudade de si mesmos... A noite me envol-
ve. Caminho pelo espaço. What shall do a man
but to merry... E Pessoa. Pessoa. As coisas não
têm significação: têm existência. Nada me pren-
de a nada... Fujo através da noite. Nada me
prende a nada. 0 ronco do avião não me assusta,
não incomoda. Sinto-me bem, neste ônibus aé-
reo, que atravessa o oceano —
como um cavaio a
rugir. Flutuo. Penetro em mim mesmo, divago,
sinto que sou. E assim percorro a noite. Fiapos,
nuvens de mim, recônditas lembranças, vergo-
nhas minhas, frustrações constantes, miúdas,
mínimas, anelos, acontecências. O timbre do ho-
mem, o tom. Vigílias e vales. A sombra. 0 prete-
rito. Súbito, sinto prazer em, sendo, existir. Gos-
to da vida. Agarro-a. Meu membro está quieto.
Mas o semen vive em mim, licor da vida. Trêfego
não sou, nem serei. Marinheiro, sim:marujo, me-
nino do mar. Navego, sentado com meu guarda-
chuva. 0 anel no dedo. A pérola. A cigarreira,
que é de prata.
W
*n
O vôo
POLITIKA
Nada me prende a nada. E vôo
sobre o mar. Marasmo. Só não
há luz. Tudo é escuridão. Os
sapatos são pretos e o terno
é cinza. Pascal jamais voou.
21l ffikçao
Nada me prende a nada. Sinto-me. Barulho
nenhum me perturba. Os homens podem passar
por mim, cuspir no meu rosto, vilipendiar o
menino, que fui, quebrar os ossos que - segundo
o salmo — exultarão. Et exultabunt ossa humi-
Nata. . . E exultarão os ossos humilhados. Mas
eu sou! Nada me atinge, neste minuto, que é
único. 0 avião pode cair. Um estrondo - e nada
mais. Rolaremos sobre o mar. Eu sei, o avião
pode explodir. Mas a vida minha é uma esquisita
verdade, estranha unidade que fu/gura para lá de
íudo, categorias, distinções, palavras. Para quedefinir? Precisões não quero. Apenas vôo. Ê
noite. Sou noturno e marítimo. Eu sei as ondas,
as nuvens. E agora sei a escuridão. Nasci para a
grandeza. E me mataram. Porque morri. Ó fala-
cia!. . . Procurando meu rosto, me perdi. Tiro
os óculos. As luzinhas de bordo não me aborre-
cem. A moça passa: e a aeromoça. Então, vou ao
banheiro, nos fundos, ra cauda, fazer meu pi pi,castamente, a dez mi1 etros de altitude, no frio
dos espaços, a mi/ quilômetros horários, ou
novecentos. Mijo praticamente nas nuvens, como
um centauro ino pouco, sempre fui propensoà retençãr 'iidrica. Preciso tomar diuréticos.
Agora, estou gordo, seria bom emagrecer um
bocado. Me sentaria melhor, cruzaria melhor as
minhas pernas - hc , gordas, gordas pernas, de
mobilidade precán . tímida. Sendo magro, tudo
seria talvez mais ác,'. Engordei. Por que engor-
dei? Olho meu tosto no espelho. Quero que o
espelho me grite: está moço! Exclamação. É
tudo que de fato queremos da vida. Lavo minhas
mãos na pia miúda, afago minha cabeça, como
Deus poderia afagá-la. Puxo a válvula. Puxo a
maçaneta, saio. Neste momento, reflito que a
maçaneta enguiçando impediria minha saída, eu
ficaria prisioneiro da minúscula privadinha, sem
jeito, encabulado. Um friozinho, meio chato, ali.
Uma espécie de contato ou semi con tato com o
ar gélido de fora, a atmosfera glacial dos longín-
quos espaços noturnos. Pascal jamais voou. Ser-
lhe-ia talvez útil. Caminho a bordo. 0 corredor
está escuro. Os seres dormem.
Que posso fazer? Nunca pude. Eu não posso
fazer. Homens que dormis aqui, neste corredor
longo e soturno, perdoai-me. Eu sou um mero
viajante vadio, um simples rapaz do Brasil, um
ser quimérico, um vagalume. Menina, te quero.
Vem sentar no meu colo, vem acariciar meu
cabe/o, me beijar a boca, fazer nenê comigoaqui, agora, em pleno vôo, em pleno espaço,vem, alado idílico, vem dizer que sou Deus, vemolhar o fundo de meus olhos e dar uma espéciede ímpeto juvenil ao rapaz inábil, inapto, indeci-so. Vem, estrela da manhã, stella matutina. SouRenan diante da Acrópole. Simplesmente viajo e
estou só. Minha solidão é total, definitiva. José
Bergamín vai dizer-me em Paris, no café de
Flore, boulevard Saint Germain esquina da rue
Saint Benoit, uma fria manhã cinzenta, chuvosa,
lá no fundo, sala quase vazia, nós dois sussurran-
tes, no enleio de uma primeira conversa: usted es
un solitário. . . Nem tanto. Mas, refletindo mé-
lhor, ou mais, dei razão a Bergamín, puro passa-
ro noturno, olhos de ave, magro, estranho, es-
guio, homem tão fino, voz mansa, macia. Olho
seus olhos, fmpassibilidade, fixidez. Bergamín
fala tão baixo. Perco umas palavras. Fala depres-
sa e baixinho.
Sim, é verdade, estou só.
Bergamín. Onde, nesse pássaro ferido, o pole-
mista atroz? Suas feições, imóveis. Quase não
abre a boca, ao falar. Sua voz, ao telefone, é
forte, cheia, viril. No telefone, o encontro. Aqui,
nesta manhã do Flore, não. Agora, em Lisboa,
lendo as obras completas de Garcia Lorca, vejo
uma fotografia dele com o meigo Federico.
Parece incrível. Por que me enxarquei assim de
literatura? Sinto a vida intelectualmente, litera-
riamente. Não posso fazer nada sem colocar logo
literatura dentro. Assim foi, assim há de ser, ao
que parece. No fundo, é provável que me orgu-
lhe disso, ingenuamente, como se houvesse qual
quer motivo de orgulho ou vaidade, neste mun-
do extremamente precário, inseguro.
De profundis, clamavi at Te, Domine. Domi-
ne, exaudi vocem mean.
Rezo. É-me impossível não rezar. Esquisito, a
oração como que se incorporou profundamente
h minha vida, uma respiração de certos instantes.
Se não rezo, me sinto mal. Rezar. . . Que será
rezar? Que acontece? Gosto de rezar dizendo
palavras latinas. Fragmentos de salmos. Orações
que aprendi outrora, quando eu supunha que a
minha vida seria a de um homem piedoso.
Engraçado, me lembro agora, Joubert me contra-
nou, certa mannã. Eu não devia Oizer quedesejava ser santo e sábio, eu devia dizer -
virtuoso e culto. Virtuoso e culto. Então, eu
fugi.
Queria ser um santo, um sábio. Como as
coisas de fato são engraçadas, flutuantes, como
elas vão e vêm, meio sem nexo, como um
absurdo mar, contraditório, inefável. Das pro-
fundezas, eu clamo a Vós, Senhor. A vós, a ti.
Falar com Deus: intimidade ou cerimônia. Às
vezes, é solene; às vezes, fica íntimo. Depende da
hora. A vida muda muito. Com efeito, as coisas
variam. Um sábio,, um santo. Eu tinha vinte
anos. Passou muito tempo, é claro. Joubert
dizia, era no Alto da Boa Vista, manhã de chuva,
triste. Vivi muitas horas de melancolia, em meu
destino. Corri para monsenhor Gastão, no pátio
de São Bento, era de tarde, era sábado, e lhe
mostrei o Breviário. Que é isto? Deve ter sido
em 1948.
Amanhece. Pressinto o dia, no vasto horizon-
te, que da janela vitrea se me revela, puríssima
escuridão agora a levemente desfazer-se. A noite
vai partir, fugir, mas de mansinho, escorregante.
Olho a noite que se transforma em tênue aurora. ^
Sou o único a bordo que apenas contempla a
vastidão semi-escura, sem fazer mais nada. Uns
dormem. Outros perquirem: dirigindo. Revejo. A
luz e as trevas. 0 infindo. A manhã é difícil.
Aurora lívida. Amanhece. Tenho no dedo o anel.
Meu bisavô chegou aos doze anos, eu ouvi. E
chorou, certo dia, talvez manhã, talvez tarde, no
chafariz do fim de Paula Matos, quase no come-
ço de Riachuelo. Por que chorou? Porque foi
súbito ferido em seu orgulho de homem, ainda
menino. Chorou, por causa da carroça que o
mandaram puxar. Puxar carroça. . . Então cho-
rou. Era um menino. Um imigrante português.
Meu bisavô! Vinte anos depois, comenda, palace-
te em Cosme Velho, filharada, a morte aos
quarenta e quatro. Viver é inútil. Mar, marasmo.
Agora, vejo o mar. Minha manhã será mar.
Horas, olharei pelo vidro o longo mar, distante
dez quilômetros. Só mar, imenso mar. O azul
nos cerca. Tudo é azul, nesta quieta manhã
nascente. É domingo. Meu bisavô morreu. Não
há mais um filho dele. E os netos já estão
morrendo. 0 anel no dedo. Manhã de domingo.
Deus existe; não existe. Longe, para trás, a
estrada da serra, de cujo desfiladeiro vi o choque
dos aviões, numa tarde quente. Lúcia e Otávio:
bodas de sangue. Recordo as viagens, a pressa,
porque tudo em mim é mais ou menos ansieda-
de. Quisera construir, não sou capaz. Intenso,
fujo, com medo de todos os seres e, sobretudo,
de mim próprio, veladamente. O mar, o mar
Caminhamos lado a lado, Gilberto e eu, pelacaiçaua va/iia. 0 auiomóvei com o chofer nos
segue, devagarinho. É a praia, ao cair da tarde. O
oceano está ali, junto dele falamos. Gilberto me
diz que precisa do mar, que sem mar não saberia
viver. Mar lhe é deveras essencial. A menina vem
do mar, vem correndo, galga a mureta. Gilberto
pára, saúda a menina, aplaudindo-a. A menina,
vinda do mar, prossegue indiferente.
¦ *****
POLITIKA
folklore
polítiko
-^mmr
Sebastião
Nery
C»- ¦
HISTÓRIAS SURREALISTAS
1
— Olhe, Tancredo, estou acordando você por-
que estou com um problema e não consigo dor-
mir. Talvez você tenha uma idéia mais clara.
Delfim Netto inaugurou a agência do Banco
do Brasil em Paris, pagou um avião e foi passar
o
sábado em Portugal, descansando. Hospedou-se
no Estoril e avisou na recepção que não queria
ser incomodado por ninguém.
Sábado cedo, surge um problema aqui no Rio.
£>José Flávio Pécora, ministro interino da Fazen-
da, telefona para Paris. Delfim não está. Telefo-
na para Nova Iorque. Também não está. Para
Londres, Berlim. Também não. E agora?
A muito custo localizou José Maria Villar de
Queiroz que deu a pista certa: hotel Estoril, em
Lisboa. Pécora ligou. Na recepção, um português
muito gentil começou a driblar Pécora:
O senhor ministro não está.
Não está agora ou já deixou o hotel?
O senhor ministro não está hospedado aqui.
Não está como. se eu sei que está!
_ Quer dizer, pode ser até que ele venha, mas
* não chegou ainda.
Quem está falando aqui é o ministro interi-
no da Fazenda do Brasil. Tenho um assunto ur-
gentíssimo e preciso
falar com o ministro agora.
"
Faça-me o obséquio de me por em comunicação
com ele.
Bem, doutor, o senhor ministro de fato está
hospedado aqui. Mas eu não lhe confirmei antes,
porque ele está incógnito.
0 que é?
Fui chamado hoje à tarde ao Planalto edu-
rante três horas discuti o projeto do Voto Dis-
trital com o ministro Leitão de Abreu. Ele estava
muito interessado nos meus estudos e acha que o
Distrital pode ser um bom instrumento para
aperfeiçoar a representação política no Congres-
so.
Muita gente
acha também, Capanema. Em-
bora eu seja contra, reconheço que o assunto e
importante e precisa ser discutido. Só não enten-
do é porque você não consegue dormir. O proje-
to é seu, os estudos são seus, você é a favor.
Lins, diretor do jornal
"O Imparcialdeu a no-
tícia assim:
- "Viajou
ontem para Recife o general
Der-
meval Peixoto ilustre".
Quando o governo parece querer, você fica sem
dormir?
— Pois é. Pois é, Tancredo. Não consigo dor-
mir. 0 ministro me deu pressa, muita pressa para
concluir os estudos.
Ah, deu pressa, deu? Então deve haver
mais coisa.
Você também acha, Tancredo? Ótimo que
você também ache. Agora, vou dormir.
Desligou o telefone e dormiu.
3
2
Não há nada mais surrealista do que dois pes-
sedistas mineiros falando de política ao telefone.
Uma noite dessas, três da manhã, toca o telefone
\.jem casa de Tancredo Neves. Era Gustavo Capa•
nema, de Brasília:
4
0 general Dermeval Peixoto era o homem for-
te da Bahia na ditadura de Getúlio Vargas. E
gostava de colecionar coisas raras. Um dia, cor-
reu a notícia de que o interventor do Estado
tinha dado ao general o lustre de entrada do
Palácio da Aclamação.
A cidade ficou indignada, mas a imprensa es-
tava de boca lacrada. Foi quando chegou a no-
meação do general Dermeval Peixoto para inter-
ventor de Pernambuco. No dia seguinte, Wilson
Delfim Moreira estava muito doente. Os mi-
nistros faziam tudo para minimizar os efeitos da
esquizofrenia do presidente. Quem governava
na
verdade era Afranio de Melo Franco, ministro do
Exterior, amigo e conselheiro de toda hora. Um
dia. Delfim mandou chamá-k:
Compadre Afranio, preciso demitir o Dods
worth (Henrique Dodsworth grande prefeito
do
Rio).
Demitir por quê?
Tenho horror a ele.
- O senhor não deve demitir assim. Ficaria
agressivo demais. Convoque uma reunião do mi-
nistério, como prefeito ele comparecerá tam-
bém, nós todo» pediremos demissão e o senhor
aceita a demissão dele.
Na reunião. Delfim estava indócil. Não olhava
para mais ninguém. Fixou os olhos no prefeito,
e
não bateu pestana, duro lá na cabeceira da mesa.
Os ministros foram se levantando, um a um, di-
ziam algumas palavras, pediam demissão, senta-
vam-se. Delfim não falava nada, os olhos Vlf*ra"
dos em cima do prefeito. Quando Dodsworth se
levantou e disse:
— Senhor presidente Delfim
Moreira deu
um salto na cadeira e gritou com o dedo estira-
do:
— Aceito, aceito, aceito!
*l
POLITIKA
•
A Editoria
MARIA VIEIRA (Ipiaú - Bahia) - "Sendo assídua leitora de seu jornal
e tendo a coleção de POLITIKA, falta-me o número trinta e dois, que não
cheguei a ver, sequer exposto, nas bancas de jornais de Salvador, onde
norma/mente o compro. Por isso, para que a coleção não fique desfalcada,
solicito-lhe o envio do mesmo, tendo, para tanto, anexado a esta a
importância de cinco cruzeiros para as despesas do correio".
Olha, Marta, seu pedido foi atendido. Quanto aos livros do Hélio Silva,
qualquer informação você pode obter nas livrarias aí da Bahia ou escrever
para a Civilização Brasileira, que é a editora dele. Não conseguindo, fale
com a gente, que a resposta será procurada.
23korreio
J
A imparcialidade, uma característicaRUY ANTÔNIO (Rio
—
Guanabara) — "É
impres-
sionante a continuidade
do trabalho que vocês
vêm realizando. Importam
te, cheio de certeza de um
caminho a seguir, impar-
ciai. Trabalho digno de
ser seguido pela grande
imprensa, carregada de
vontade de não dizer
nada. A verdade é que o
trabalho de vocês é o
mais importante de quan-
tos já foram feitos nos
últimos anos no Brasil.
Espero que continuem
assim".
Muito obrigado, Ruy. A
gente faz, apenas, o que
è possível. Não pretende-
mos mudar nossa orienta-
ção, mas você sabe, não
é, nem sempre tudo são
flores. Hà muitos espi-
nhos.
PAULO CÉSAR (São
Paulo — SP) — "Como
só tomei conhecimento do
POLITIKA depois do nú-
mero 32, solicito-lhes o
obséquio de me enviarem
os anteriores, isto é, do
número 1 ao 31, a fim de
que possa completar mi-
nha coleção. Aproveito
para dizer que aqui em
São Paulo o jornal de vo-
cês é encarado como a
coisa mais séria que se
faz, atualmente, em ter-
mos jornalísticos no Bra-
sil".
Está bem, Paulo César,
se o pessoal daqui fosse
vaidoso, jà tinha estoura-
do de orgulho. Afinal, re-
ceber elogios assim já é
demais. Sua coleção fica-
iá completa, porque os
números já seguiram.
CARLOS JOSÉ (Salva-dor — Bahia) — "Não
sei
por que vocês não inicia-ram o POLITIKA a maistempo. Foi uma pena quetantos anos fossem neces-sários para que na im-
prensa brasileira apare-cesse um jornal com talmarca e tal personalida-de. Houve, a partir de seulançamento, uma mutaçãoem alguns órgãos de di-vulgação, ao ponto de vo-
cês hoje serem imitados
por diversos jornais aqui
de Salvador. Afinal, isto é
muito bom, porque só se
imitam as coisas bem fei'
tas. Aproveito para pedir
que vocês me mandem o
número em que saiu a
matéria do Celso Furtado,
que é a mais importante
já publicada no Brasil nos
últimos anos. Emprestei
meu exemplar a um ami'
go, que o emprestou e,
como não poderia deixar
de ser, fiquei sem ele. E
preciso, porque a coleção
do POLITIKA é uma cons-
tante fonte de consulta, o
que é uma meia verdade,
apenas, já que o jornal
serve, também, para mos-
trar ao pessoal que muita
coisa pode ser feita pelo
País".
Carlos, realmente a ma-
teria do Celso Furtado é
uma das análises mais
bem feitas da economia
brasileira. E, evidentemen-
te, quando tivemos a ma-
teria nas mãos, não pu-
demos deixar de publica-
la imediatamente. O seu
exemplar já seguiu.
PAULO SÉRGIO (Santos
Dumont — Minas Gerais)— "Pode
ser que a im-
prensa brasileira tenha
publicado um artigo igual
ao do general Florim, me-
lhor é impossível. Aquele
foi, não tenho dúvida, a
mais importante contribui-
ção de um parlamentar à
desmistificação. É claro,
preciso, conciso, objetivo.
Como deve ser o pronun-
ciamento de um deputado
que pretenda representai
o responsável povo bra-
sileiro. Vocês estão de
parabéns pelo trabalho
que vêm realizando. E,
como não poderia deixar
de ser, peço um favor:
enviem-me cinco exempla-
res do jornal que saiu a
matéria do general, por-
que eu preciso distribuir
entre uns amigos".
Você tem razão, Paulo
Sérgio. Um deputado que
pretenda representar o
povo brasileiro tem que
ser, pelo menos, respon-
sável. Os exemplares pe-
didos já seguiram pelo
correio.
MARCO ANTÔNIO (NI-
terói — Rio de Janeiro)
— "Sei que não estou
sendo original, mas gos-
taria de ver no POLITIKA
uma seção em que o
povo, através de cartas,
tivesse oportunidade de
mostrar seus anseios,
suas aspirações e seus
problemas. Acredito que
uma série de problemas
poderia advir daí, mas
creio, também, que seria
uma boa maneira de vo-
cês penetrarem mais di-
retamente na classe tra-
balhadora brasileira. Cia-
ro que tal coluna, sob vi-
gilância constante dos
editores, não deveria pu-
blicar tudo o que rece-
besse, mas penso que,
guardadas as proporções,
seria um negócio diferen-
te e que satisfaria aos lei-
tores".
Olha, Marco Antônio,
não há, por enquanto,
qualquer possibilidade de
se fazer uma seção des-
tas. No fim das contas,
jà existe o "Korreio"
e fe-
mos dado completa co-
bertura aos leitores quenos escrevem. Claro queuma coluna como a quevocê propõe è excelente,
mas razões existem para
que não ousemos plane-
já-la, pelo menos por en-
quanto.
JOÃO CARLOS (NatalRio Grande do Norte)
"Vocês poderiam me
tirar de uma dúvida: por
que a grande imprensa
não tem abordado os
assuntos que vocês levan-
tam no POLITIKA, prinei"
palmente os atinentes à
distribuição de rendas, já
criticada até pelo presi-
dente do Banco Mundial?
Vocês não acreditam que
seja covardia? Ou falta
de idoneidade moral?
Para encerrar, um pedido— e foi só isso que fiz,
não? — gostaria de rece-
ber o exemplar em que
vocês publicaram a análi-
se do Celso Furtado da
economia nacional. Não
pude lê-lo e meus ami-
gos disseram que foi um
negócio impressionante.
Não deixem de mandar".
Está certo, João, não
deixaremos de mandar.
Quanto às suas pergun-
tas, a gente só pode di-
zer como o principe Ham-
let: há muito mais entre
o céu e a terra do que
pode perceber nossa vã
filosofia.WALTER DIAS (Achma-
tação — São Paulo) —
"Vocês deveriam dar um
puxão-de-orelhas no pes-
soai da distribuição: nós
aqui quase nunca vemos
o POLITIKA e quando
isto ocorre ele está sem-
pre atrasado. As pessoas,
como eu, que gostam de
colecionar o jornal, estão
sem saber como agir,
porque, a cada semana,
maior é a fa!t? ou os atra-
sos. Aproveito para pedir-
lhes o envio dos nume-
ros de 10 a 23 e de 26 a
38. Assim minha coleção
estará completa e a po-
derei mostrar a meus fi-
lhos, para que eles sai-
bam o que é o nosso
País".
Olha, Walter, parece
que está havendo qual-
quer problema, pois o
pessoal da distribuição
diz que está tudo em
ordem.
0 QUE t QOE VOCÊ SABE BO
DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO?Vai bem?
Vai mal?
Vai mais ou menos?
ECONOMIA E NUMERO
Você conhece os números exatos da atual etapa da economia brasileira? Você
sabe a posição exata
da dívida externa
da distribuição de renda
da origem de capitais
da tecnologia estrangeira
das empresas multinacionais
da descapitalização e desemprego no Nordeste?
Então leia (e leia logo) o último livro do economista HÉLIO DUQUE, ja em todas
as livrarias:
"AS CONTRADIÇÕES NO DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO"
Um livro didático de nível universitário e pós-universitário.
Um livro-enciclopédia em 226 páginas. Cr$ 20,00
!
0
&
IV
POUTIKA
(EDITORA TORA LTDA)
Presidente: Philomena Gebran
Diretor: Sebastião Nery
Conselho Editorial: Oliveira Bastos,
Gerardo Mello Mourão,
Paschoal Carlos Magno.
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Correspondentes: Murilo Marroquim
(Brasília), Villela Neto (Paris)
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gr. 1601 Tel. 232-1981 -Rio-GB
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