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ANQII - Numero 59
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Pl0 4 a 10 de
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2kolunaaberta
\
As Irombetas da ARENAe as pernas do MDB
A Editoria
Florinda Bulcão
Agenda
Falaram as urnas. De suas bocas saiu
(ou deve ter saído) a voz do povo. Passa-
dos 15 dias do pleito em que se
empenharam o governo e a oposição —
'\RENA e MDB - é chegado o momento
ie se analisar a vontade popular. Saber
como se exprimiu a vontade popular.
Friamente, sem as paixões dos primeiros
instantes de euforia ou tristeza. Sem o
trombeteamento de vitória cantada pelos
dirigentes arenistas. O esmagamento da
oposição de que vem falando a chamada
grande imprensa.
Dois fatos incontestáveis desmentem
tanta euforia nos arraiais governistas. Pri-
meiro que a oposição não foi esmagada,
pelo contrário cresceu. Ganhou o voto
de qualidade. Ganhou nas grandes cida-
des. Segundo, que não perdeu tanto as-
sim porque só disputou as eleições em
cerca de 25 por cento dos municípios
brasileiros. Nesta desproporção, o gover-
no, ou melhor a ARENA, saia, antes
mesmo do povo se pronunciar, com uma
vantagem de 75 por cento - três quartos- sobre a oposição o MDB.
Se quisermos fazer uma análise isenta
das eleições, sem paixão, estudando ape-
nas as cidades onde houve disputa, onde
se ofereceu uma opção ao povo, veremos
que o grande vencedor foi o MDB, ou
seja a oposição. Na maioria das 900 cida-
des onde houve disputa, ganhou o MDB,
e o mais importante, ganhou em quase
todas as grandes cidades, nas grandesconcentrações urbanas, e ganhou bem.
Querem um exemplo? Campinas, São
Paulo, os três candidatos da ARENA so-
maram 30 mil votos, os três do MDB 104
mil, sendo que o prefeito eleito, sozinho,
teve 54 mil votos.
Coagido, perseguido, lutando deses-
peradamente contra a máquina governa-mental em todos os Estados e principal-mente no Rio Grande do Sul e na Bahia,
além da traição em suas próprias hostes,
como na Paraíba, o MDB conseguiu uma
grande vitória. Ganhou bem. Ganhou nas
grandes concentrações Surpreendeu, em
alguns casos, seus próprios dirigentes,
como em Manaus, onde tinha 3 dos_11
vereadores e agora inverteu as posições,
surpreendendo governo e a si próprio.Fez um vereador com 8.500 votos, fato
nunca ocorrido na capital do Amazonas,
onde não houve eleição para prefeito.
Na Bahia, foi aquele banho. Derro-
tando a máquina em seis das sete princi-
pais cidades do Estado. Ganhou em Ita-
buna. Feira de Santana, Alagoinhas,
Jequié, Vitória da Conquista e Salvador,
perdeu apenas em Ilhéus. Onde a vitória
do governo, da ARENA? O governador
baiano atribuiu a derrota "a
minha boa
administração, não permitindo sujeitos
incapazes nos cargos importantes, trouxe
para mim uma pequena desvantagem po-
lítica, e por isso o MDB conseguiu algu-
mas poucas vitórias em meu Estado". Se
sofisma ganhasse eleição, o Sr. Antônio
Carlos Magalhães não perdia uma sequer.
No Paraná, a oposição ganhou nas
grandes cidades. Em Minas Gerais foi a
mesma coisa, para não falar de Alagoas,
Sergipe, Pernambuco, Goiás, Maranhão,
Amazonas, Pará. O MDB perdeu no Rio
Grande do Sul, mas foi uma derrota hon-
rosa. Naquele Estado travou uma luta
desleal. Sim este é o termo exato. Des-
leal, porque desigual foi em todos os
Estados. No Rio Grande teve que enfren-
tar toda a estrutura nacional: os governos
estadual e federal. O empenho do presi-
dente Mediei, de quatro ministros de es-
tado e dos chefes das Casas Civil e Mili-
tar. Mesmo assim não perdeu feio. Ga-
nhou em Porto Alegre, a capital do Esta-
do e em algumas cidades do interior.
O que não se entende é o choro dos
dirigentes nacionais do MDB. Desde o
primeiro instante sabiam que a luta era
desigual, que disputavam a vontade po-
pular em apenas 25 por cento das comu-
nidades nacionais. Mesmo assim nem to-
dos se empenharam para dar um apoio
eficaz aos poucos e aguerridos compa-
nheiros que lutavam para manter de pé a
bandeira da oposição. Afastadas as pou-
cas e honrosas exceções, como os depu-
tados Francisco Pinto e Nei Ferreira, na
Bahia; Alencar Furtado, no Paraná; João
Menezes, no Pará Tancredo Neves, em
Minas Gerais; Marcos Freire, em Pernam-
buco; Paes de Andrade, no Ceará e uns
poucos outros, a grande maioria dos diri-
gentes da oposição preferiu ficar em Bra-
sília lamentando e chorando, como ve-
lhas carpideiras, a exemplo do senador
Danton Jobim.
Quando não se acomodaram com a
desvantagem, traíram o eleitorado oposi-
cionista, a exemplo da Paraíba, onde as
velhas raposas Rui Carneiro e Argemiro
Figueiredo preferiram fazer um acordo
com a ARENA para garantir suas elei-
ções em 1974. Não apresentaram candi-
dato à prefeitura de Campina Grande,
tradicional reduto oposicionista. Deixa-
ram que o governador Ernani Sátiro e o
ex-governador João Agripino entrassem
em um acordo para entregar à cidade à
ARENA. Com gente deste tipo, realmen-
te, a oposição não tem futuro.
Que soem as trombetas dos arautos
do governo enquanto seus líderes têm
fôlego e enquanto a oposição não tem
pernas para chegar a todos os recantos
do Brasil, porque onde ela chega e tem
condições de luta, ganha. O exemplo
veio da Bahia. Que sirva de lição.
* Um fato vem despertando
a atenção dos observadores po-
Iíticos: a ascensão das mulheres
na vida política nacional. Nas
últimas eleições diversas prefei-
tas foram eleitas, destacando-se
o Ceará, onde nada menos de
nove mulheres são as dirigentes
máximas municipais, inclusive
em Uruburetana, cidade natal
de Florinda Bulcão, onde a dis-
puta foi entre duas mulheres.
Além disso várias mulheres es-
tão hoje nas Câmaras de Verea-
dores, algumas puxando vota-
ção. É a desilução dos homens
ou a ascensão das mulheres?
Que respondam os sociólogos.
* Não é nada boa a situação
do governador Chagas Freitas,
da Guanabara. Os últimos es-
cândalos políticos estão dete-
riorando sua imagem, mais ra-
pidamente do que se imagina-
va, e isto está criando uma
grande preocupação para o go-
verno federal, responsável dire-
to por todos os governadores
de Estado, apesar de no caso
carioca não ser tão grande a
participação do presidente Me-
dici na escolha de Chagas, um
homem do MDB. Semana pas-
sada, Chagas foi chamado ao
Palácio Laranjeiras, e por mais
de uma hora deu explicações
ao chefe da Casa Civil, Leitão
de Abreu, e da Casa Militar,
general João Batista de Figuei-
redo, antes de ser recebido pelo
presidente da República. A
Arena não tem dispensado
qualquer deslize do governa-
dor, e pretende levar sua oposi-
ção às últimas conseqüências,
inclusive pedindo a intervenção
federal. O presidente Mediei
tem agido com moderação,
procurando conciliar as coisas
para evitar uma medida drásti-
ca, que seria usada pelo MDB
como arma política. Sabe o
chefe do governo que o próprio
partido da oposição não man-
têm simpatias para com o Sr.
Chagas Freitas, mas que não
pensara duas vezes ate tomar
sua defesa, caso seja tentado o
seu afastamento.
* Na área legislativa carioca
também é grande a preocupa-
ção do Sr. Pascoal Citadino,
um inexperiente deputado alça-
do à presidência da Assembléia
Legislativa, e que tem servido
de massa de manobra tanto
pelo.governador como pela li-
derança do MDB. Honesto, o
Sr. Pascoal Citadino, com o seu
ar de pastor.protestante, procu-
rou imprimir um regime de aus-
teridade à Assembléia, mas sua
luta de dois anos parece queestá em franca deteriorizacão
nestes últimos meses, em de-
corrência da atuação do líder
do MDB, Levy Neves, uma ve
lha raposa oriunda do PSP e
PSD, com 25 anos de mandato,
e do próprio governador, que o
obriga a adotar as medidas mais
absurdas, contrariando, inclusi-
ve, sua formação moral. Em
decorrência disso, o Sr. Citadi-
no tem cometido até atos de
deselegância para com uma ve-
lha, experimentada e decente
deputada, Lígia Lessa Bastos,
que não resistindo às provoca-
ções do presidente lançou o
microfone de apartes contra
ele, num ato irrefletido.
Não demora muito e as
coisas vão mudar no mercado
segurador nacional. Pelo menos
assim pensa o Sr. Rafael de
Almeida Magalhães, presidente
da Federação Nacional das Em-
presas de Seguros Privados e
Capitalização, que acredita ser
esta a década do segurador bra-
sileiro. Paralelamente ao incre-
mento das atividades, medidas
governamentais darão ao segu-
ro no Brasil a mesma conststên-
cia e valor que ele desfruta nos
principais países do mundo
Ocidental.
Um Grupo Financeiro Es
tadual, composto por uma cm-
presa de turismo, uma distri-
buidora de valores, uma corre-
tora de seguros, uma adminis-
tradora de bens e, em planeja-
mento, uma empresa de comer-
cialização externa, foi a solu-
ção encontrada pelo governa-
dor Colombo Sales, de Santa
Catarina, para dotar o Estado
de uma infra-estrutura capaz de
absorver o desenvolvimento
tecnológico. Este Grupo Finan-
eeiro, controlado pelo Banco
do Estado, tem como princi-
pio, segundo seu presidente,
Lauro Linhares, conseguir a
permanente atualização admi-
nistrativa, simplificar os meto-
dos e rotinas, mecanizar os ser-
viços e aprimorar as técnicas Je
seu pessoal, de forma a concor-
rer com as grandes empresas
internacionais.
Um grupo novo de Teatro
apresentará dia 1o., às 21 ho-
ras, nt) auditório do Colégio
Sion, a peça A Morte Espreita
Ana Brasil. A peça foi escrita
pelo próprio grupo, num perío
do de busca pela liberdade <'
, morte por engano. Ou talvez
vida por engano.
Paulo
Francis
Antes de conhecer os números
finais que deram a Nixon uma
das mais cômodas vitórias em
eleições presidenciais, Paulo
Francis já o dizia um demagogo.
0 GRANDE
f oI konjuntural
*
[DEMAGOGOI K^^WI
^Bh ^k ^B ¦ ** ^«^fl W Jll¦¦ ¦- mm'\^Ê «^ yâV I
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II Al I3 ¦**¦ II i4iR3 [** I
-Vim «fHBB 'JM ^L *¦ ¦
- re/7/70 cfe t//Ver ni//r?
mundo que não fiz, queabomino pela sua absoluta¦ ««.yubui/ «bíU ifkti, o^' I*H«V1 -
os valores humanos funda-
mentais e contra o qual só
posso contrapor palavras.Eu não sou nada, forçasimensas e incontroláveis
podem fazer de mim o que
quiserem. Essa a situaçãoem que me encontro como
indivíduo. Só me resta
protestar com minha pró-pria voz.
Se uma frase pode retra-
tai* um intelectual. Paulo
Francis está de corpo intei*
ro nessas seis linhas. Ele é
exatamente isso: uma po-
derosa força mental feita
de talento e independen-
cia. Dele se pode dizer,
sem exagero, que represen-
ta o melhor de sua geração
de escritores e jornalistas
engajados nas lutas ideolo-
qicas de seu tempo. Come-
çou crítico de teatro
(Revista da Semana, Diano
Carioca e Última Hora).
Aàuòou a fundar a revista
Sr. U* *****£Wainer «¦•?«**""•J*
agressivo critico de teatro,
Colunista político que kj-
go se revelou excelente nu*
ma coluna que fez época
na Ultima Hora.
Hoje, nos Estados Uni-
dos, Paulo Francis conse-
-jue o milagre de mandar
uma coluna diária (longa e
magnífica) para a Tribuna
da Imprensa, e artigos se-
manais para 0 Pasquim, e
Visão. E, como bolsista da
Fundação Ford, faz pes-
quisas para um livro sobre
os problemas do intelec-
tual depois de 1945. Tem
dois livros d» ***£*?*.
bUcados: Opinião Pessoal
(Civilização Brasileira) e
Certezas da Dúvida (Paz e
Terra).
Esta semana, a livraria
Francisco Alves Editora
SA., agora sob a direção
do almirante José Celso de
Macedo Soares Guimarães
está inaugurando no Brasil
uma linha de lançamento
que caracteriza as grandes
editoras do mundo: o livro
em cima do fato, o livro
análise de acontecimentos
ainda quentes. As eleições
norte-americanas foram
nas. Eia estará amanhã nas
bancas o livro de Paulo
Francis — Nixon x McGo-
vem - destinado a ser o
maior sucesso editorial do
Brasil este ano.
POLITIKA, cumprindo
seu programa de divulgar
grandes estudos da política
nacionai e internacional,
em primeira mão, apresen-
ta, hoje, o primeiro e o
último capítulos do livro
de Paulo Francis, pois eles
sintetizam todo o pensa-
mento da obra. Conheci-
dos os dois, os leitores sen-
tirão que é fundamental
lar o livro por inteiro. I é
sò ir is livrarias, porque ja
amanhã estará em todas.
•
POLITIKA
konjuntura
»
O Vietnã foi a tônica da luta
eleitoral norte-americana, com
Nixon sofismando sempre, ante
a irritante apatia liberal de
McGovern, que perdeu sozinho.
O grande
demagogo
^________E___> ***«. ______________
¦ ¦" w Êk\ I EiGtorgt McGovern
Os EUAsão umacontradição
.,*¦• *¦* _„ •*.'..«?.• •*¦¦ ¦*
Este livro é uma polêmica anti-Nixon,
que ninguém tenha dúvidas. Nunca fui
repórter e nao acredito em objetividade
jornal ística. Ainda assim, acho que respei-
tei os fatos, se bem que os interpretando
a minha maneira.
Como o livro contém fortes críticas ao
estatritshment americano, convém que eu
explique minha posição exata em face dos
EUA. Gosto de viver e trabalhar nos
EUA. De formação, fui fortemente in:
fluenciado pela cultura americana. 0 paísé o mais livre do mundo. Os impedimen-
^. tos à liberdade e as recuetas em direitos
BB» civis são mínimos em comparação às queconheço em outras terras. No todo, o
caráter liberal da Revolução de 1776
permanece preservado internamente, de
maneira admirável, apesar de os EUA
serem o líder da contra-revolução mun-
dial. Quem nega a existência dessa contra-
diçSo — o que é comum em meios esquer-
distas - jamais entenderá o que se passanos EUA.
E é uma contradição atuante. A guerrano Vietnã me serve de exemplo. Esse
conflito provocou divisões no povo ameri-
cano superiores em intensidade e grávida-de à crise da Guerra da Secessão, no
Século XIX. É fácil dizer que o esta-
blishment decidiu encerrar a luta porqueo custo do intervencionismo excedeu de
muito os eventuais proventos. Afinal, o
imperialismo americano, no próprio Su-
deste da Ásia, vem sendo econômica-
mente contestado pelo Japão, que só
dispara transistores. 200 bilhões de dóia-
res postos na Indochina, a morte de 55
mil americanos, 300 mil feridos, a aliena-
ção rancorosa da juventude universitária e
da intelligent, o isolamento de Washing-
ton em meio aos aliados, a odiosidade
conquistada pelo país numa escala mun-
dial sem precedentes - chega um momen-
to em que até os banqueiros reconhecem
que a defesa da liberdade, nesses termos,
é um mau negócio.
Tudo isso é verdade, mas não é toda a
verdade. É quase certo que o movimento
antiguerra nos EUA impediu que Lyndon
Johnson e Nixon fossem às últimas conse-
qüências da intervenção, ou seja, desistin-
do de invadir o Norte e convertê-lo numa
poça de lama (na expressão de Barry
Goldwater) e de empregar armas táticas
nucleares. Certo, havia a possibilidade de
que a URSS e a China, apesar de subor-
nadas por viagens de Nixon portando
tentadoras bugigangas, reagissem mal se o
Vietnã do Norte fosse conquistado. Isso
pesou, por certo, nas considerações de
Johnson e Nixon. E é provável que nos 4
volumes de documentos do Pentágono,
que Daniel Ellsberg não deu à imprensa,
existam provas de que Washington^ e
Moscou se auto-limitaram de comum-acordo no que poderiam fazer na Indo-
china. Ainda assim, a opinião pública
americana foi, a meu ver, o fator decisivo
na contenção de Nixon e Johnson, que
resistiram à pressão do Pentágono para
que fossem à guerra de extermínio.• ...
O movimento antiguerra queria sim-
plesmente que os EUA deixassem deintervir na Indochina, no que é uma
guerra civil, permitindo que os comunis-tas chegassem ao poder. ISEo convenceu àmaioria do povo, mas fez com que este seopusesse à continuação da luta, ainda queaceitando as mistificações de Nixon sobrea necessidade de uma retirada com honra.Um meio termo de opinião, obtido emliberdade.
A barbárie americana no Vietnã é
indiscutível. Não tem paralelo na Histó-
ria, em Átila ou Hitler. A banda podre do
imperialismo em exposição pública. Ao
mesmo tempo, porém, a vitalidade das
instituições continuou inalterada, com a
melhor imprensa e a gente mais esclare-
cida do país se opondo à guerra. 0 caso
Ellsberg é típico: a Corte Suprema reco-
nheceu o direito do New York Times de
não ceder à censura, que a Primeira
Emenda da Constituição prqíbe, permi-tindo ao jornal divulgar documentos quedesmoralizavam o governo. Ellsberg, au-
tor, entre outras coisas, de um furto de
propriedade federal, vai a julgamento.Mas está livre, recebe tratamento jornalís-tico predominantemente favorável, e tem
o direito pleno à defesa. Não há outro
país no mundo onde esse tipo de dissidên-
cia e de desafio ao poder fosse tolerado.
É nos EUA, também que existe umaverdadeira revolução cultural. Tudo écontestado livremente no país. O medo da
gente convencional a esse tipo de ataque
Nixon é o
porta-vozdo passado
ao establishment e ao estabelecido redun-
dou em benefício eleitoral de Nixon, não
há dúvida. Mas isso não altera o fato de
que se pode tentar politicamente qual-
quer caminho nos EUA, desde que não
terrorista.
A liberdade de informação é tida como
uma das quimeras burguesas pelo esquer-
dista stalinóide típico. É verdade que uma
imprensa livre é, em boa parte, a li ber-
dade dos donos da imprensa que perten-
cem, direta ou indiretamente, aos núcleos
do poder econômico.
Mas há uma outra boa parte em queessa liberdade é exercida contra os que
gostariam de administrá-la exclusivamente
em benefício próprio. A rigidez das gene-ralizações se dissolve diante da realidade.
Inexiste crítica aos EUA, na imprensa
mundial, que não seja melhor feita pelaimprensa americana, inclusive com maior
conhecimento de causa.
Claro, Herbert Marcuse desenvolveu a
tese da tolerância repressiva em que a
liberdade burguesa é revelada em todas as
limitações. Concordo com quase tudo queMarcuse diz, mas qual a alternativa? A
burocracia ditatorial e decrépita da
URSS? Marcuse não propõe isso, natural-
mente, sendo um agudo crítico da URSS,
porém, a meu ver, ele não dá suficiente
ênfase à vitalidade do modelo políticoamericano.
Falha como é a liberdade burguesa,
ainda é melhor que nenhuma liberdade. A
ascensão de George McGovern — não
importa o resultado eleitoral — é prova de
que a democracia americana está longe da
caduquice. McGovern não representa e
não tem ligações com nenhum dos gruposeconômicos dominantes nos EUA. E
chegou a candidato do maior partido do
país.
Francamente, tenho dúvidas de quequalquer tipo de governo funcione, seja
qual for a pretensão em moda. Talvez a
própria idéia de governo precise ser revis-ta. O gigantismo da sociedade modernacria problemas de tal ordem que desço-nheço solução, na prática, que satisfaça à
Vários críticos notam que se a riqueza
dos EUA decaísse, os poderosos abando-nariam a pose democrática. É possível
que sim, mas como no momento não háindício disso, é melhor nos confinarmos auma análise do presente.
Os EUA entraram na década de 1970
num intenso processo de autocrítica
Nixon, apesar de porta-estandarte do
passado, teve, pelo menos, de pretenderinteresse pelas questões que agitam a
opinião inquieta e inconformista. Tema
não abordado neste livro, mas de vital
importância para uma análise dos EUA, e
a da dilapidação dos recursos naturais.
Começa a se debater a sério no país se
uma sociedade industrial e tecnológica é
um ideal desejável ou se levará, pela dinâ-
mica que lhe é característica, a uma
devastação irrecuperável da natureza. Nas
nações atrasadas, que sonham em erguer
se da miséria pela industrialização, essa
conversa soa monstruosa, sugerindo mais
uma diabólica manobra do imperialismo
para mantê-las na rabeira. Sem dúvida, o
governo americano propõe controles da
poluição etc, na ONU, que confirmam a
impressão dos críticos de que se trata de
uma jogada de Washington. Da mesma
forma, Nixon criou uma agência de defesa
do ambiente que ninguém leva a sério,
pois são as grandes indústrias, que finan-
ciam Nixon, que deveriam ser reguladas -
e obviamente não serão. Mas isso é apenas
um aspecto do problema. Quando um Paul
Erlich ou Robert L. Heilbroner sugerem
crescimento zero nos EUA, não estão a
serviço dos poluidores & Nixon. Prevêem,
com estatísticas persuasivas, o fim da
civilização no atual ritmo de morte dos
recursos naturais do mundo, superpopula-
ção etc.
Seja qual for o resultado desse debate,
a mim me parece claro que os EUA são
um país aberto a qualquer tipo de experi-
mento social, econômico e político.
Não devemos, evidentemente, confun-
dir a visão da intelligenttia com ado povo.
Em vários capítulos deste livro procuradodemonstrar que o próprio George
McGovern, supostamente um radical, ain-
da tem ilusões sobre o papel dos EUA no
mundo que os intelectuais que respeito há
muito abandonaram. E nisso McGovern
tipifica a maioria do povo. Um verdadeiro
movimento reformista nos EUA deveria
começar pela aceitação do fato de que o
país é a potência mais predatória que a
História já produziu.
• -
POLITIKA
O grande
demagogo
Nixon é um oportunista. E um
aventureiro. Não é nada. Não
lidera. Explora os liderados.
Mas McGovern não passou
de uma
patética figura de candidato.
Nixon não lidera
o povo
americano. Usa-o
e mantém o poder
Ao mesmo tempo, me pergunto se
outro povo, dispondo do poder ameri-
cano, seria tão sensível à crítica e à
autocrítica, tímida como a última ainda
é E Nixon, nesse particular, destoa bru-
talmente de presidentes anteriores, de
Franklin Roosevelt em diante. Roosevelt,
Truman, Eisenhower, Kennedy e
Johnson, todos gerentes do imperialismo,
tinham um senso de medida que Nixon
não exibiu até hoje. Nixon é um dos
maiores demagogos do Século XX. Assu-
me posições reacionárias ou meramente
oportunistas, sempre pretendendo que
está do lado da razão e do progresso. E é
um inimigo decidido das liberdades públi-
cas.
Nixon talvez represente a contradição
do que afirmei acima, da capacidade de
auto-regeneração do império americano.
Espero que não, mas seria absurdo pre-
tender certeza de que o país se recuperará
do baixo nível de consciência política em
que Nixon conseguiu anestesiá-lo.
De qualquer forma, a campanha de
1972 foi um exercício em liberdade, sem
paralelo no mundo. Tudo veio à tona,
inclusive o tipo de crítica ao imperialismo
que a maioria do povo ainda recusa.
Quando se contempla o mundo em volta,
ditaduras espoucando em toda parte (e
apoiadas pelo imperialismo), a mediocri-
dade apática da Europa Ocidental, ocon-
servadorismo esclerótico do stalinismo e
as trevas que se adensam na América
Latina, é possível que o modelo político
americano, com a capacidade que tem de
irradiar-se pelo mundo (no que tem de
bom e ruim), ainda seja um motivo de
esperança.
E Richard Nixon, fingindo que os pro-
blemas americanos não existem, confor-
tando os confortáveis e ignorando os des-
tituídos, poderá vir a ser um dos impul-
sionadores da reforma que os EUA ne-
cessitam, pois agravou de tal forma a crise
social no país que explosões de violência
me parecem certas, num futuro próximo,
obrigando o povo a repensar as premissas
falsas em que o presidente se baseia para
governar. Detalho o assunto neste livro.
Nixon não é, por outro lado, o que
também tentei provar, o ogre da mitolo-
gia esquerdista. Minha tese é que ele não é
nada. É um aventureiro, é um oportu-
nista. Não lidera. Explora os liderados.
Um homem perigoso.
George McGovern emerge da minha
narrativa uma figura algo patética, sempre
salva do ridículo por uma decência
pessoal inegável. Elizabeth Hardwick, es-
crevendo no New York Review, comen-
tou a vulnerabilidade de McGovern, acres-
centando que os verdadeiros líderes não
sofrem disso (que pode ser uma qualidade
pessoal).
0 aspecto cultural das eleições, que
menciono bastante no livro, merece uma
análise em maior profundidade, que espe-
ro um dia cometer. Aqui não caberia, pois
é um assunto tão complexo que deixaria
pouco espaço para outras questões funda-
mentais à compreensão da realidade ame-
ricana.
A reação cultural foi, porém, um fator
de fortalecimento de Nixon. As gerações
além dos 40 anos apoiaram o presidente
porque este é um inimigo declarado da
chamada contra-cultura, têrmo que abran-
ge os çostumes libertários da intelligentzia
do Leste dos EUA e os hábitos de parte
da juventude, que o público ingênuo cha-
ma de hippie. McGovern, apesar de tão
careta quanto Nixon (e mais em verdade,
porque McGovern é o representante da
classe média liberal, enquanto Nixon, a
despeito da fachada, foi o candidato da
alta burguesia plutocrática), ficou indis-
soluvelmente ligado aos exóticos.
A classe média tem uma poderosa ima-
ginação, ainda que nitidamente paranói-
de. Associa drogas a comunismo (o que
causaria pasmo em Moscou), a nudismo
(idem), ao simples dever da imprensa, de
apresentar os fatos, por mais desagradá-
veis que sejam aos defensores do bom
gosto.
A chave de Nixon é goebbeliana. Men-
tir em escala gigante. Apesar da evidência
oficial dos documentos do Pentágono
(sem falar dos estudos dos experts in-
dependentes), Nixon insistiu o tempo
todo em que a presença dos EUA na
Indochina se devia a motivos altruístas.
Para um povo que sente culpado por um
massacre, esse é o tipo de conversa que
acalma pavores noturnos. A posição anti-
busing (explicada em diversos capítulos) e
também um tônico para a maioria racista
que, desde Franklin Roosevelt, e repreen-
dida por todos os presidentes.
E por aí vai. Nixon afirmou sem parar
aos americanos que eles são ótimos, que
não fazem nada de errado, que o pais esta
sempre do lado do bem. O americano,
habituado ao mundo dos comerciais de
televisão, onde tudo se resolve, do amor a
velhice, se o produto certo for comprado,
não teve dificuldade de se identificar com
a linguagem do presidente, extremamente
lisongeira.
Henry Trumtn
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Já as tímidas crfticas de McGovern
pareciam sempre ecoar o protesto agressi-
vo dos dissidentes que, ainda por cima,
são, na maioria intelectuais, a camada
mais temida e detestada pela população.
McGovern ofendeu o senso de confor-
mismo do americano. Quis levá-lo a en-
xergar-se a si próprio, um pouco, ao
menos, esquecido de que essa é a mais
dolorosa das experiências humanas, como
bem sabiam os dramaturgos gregos.
Este livro não pretende ser uma análise
definitiva, ainda que polêmica, da eleição
de 1972. Procurei me subordinar aos
temas como eram levantados pelos candi-
datos, exceto no capítulo sobre a Guerra
Fria assunto que Nixon e McGovern evita-
ram por completo, perdendo uma ótima
oportunidade de educarem o povo.
Baseei-me exclusivamente nas minhas
opiniões, algumas preconcebidas, no que
observei, li e ouvi. Sei que isso não é
praxe, hoje, que a maioria dos analistas só
se sente segura se atrelar o texto a notas
ao pé de página, com chações etc. Prefiro
errar por conta própria.
Algumas repetições são inevitáveis,
porque os temas iam e vinham durante a
campanha. Procurei limitá-las ao máximo.
O melhor trabalho da gente é sempre
aquele que faremos um dia, mas eu menti-
ria se dissesse que não estou satisfeito de
I ter produzido este livro, escrevendo em
I cima da campanha, numa média de 8 mil
palavras semanais, arrancadas entre outros
pesados compromissos jornalísticos.
Por fim, espero que o leitor se divirta.
A política democrática tem sempre uma
componente de circo. Mas é melhor que j
nada.
Foi uma
vitória
insofismável
Foi uma vitória insofismável, mas o
que significa é outra conversa. Richard
Nixon celebrará o 200o. aniversário da in-
dependência americana na Casa Branca.
De George Washington a Richard Nixon.
As ironias se formam automaticamente na
nossa cabeça.
Algumas explicações: a vantagem em
votos populares seria bem menor se Geor-
ge Wallace houvesse concorrido. Wallace
teve 13,8% do voto, em 1968. Certamen-
te os manteria, talvez até os expandisse,
em 1972, dado o aumento do racismo os-
tensivo nos EUA. Subtraindo, digamos,
14% (uma estimativa conservadora) dos
60,8% de Nixon, teríamos 47% contra os
38% de George McGovern. Uma diferença
respeitável, sem dúvida, porém, não uma
avalancha.
Já a vitória política, em termos de Es-
tados e, portanto do Colégio Eleitoral, foi
devastadora. Nixon carregou 48 dos 50
Estados. Em outras palavras, o appeal do
presidente atingiu todos os grupos sociais
americanos, sem distinção de classe (so-
mente os negros compareceram em massa
pró-McGovern). Nixon é o dono dos
EUA.
Do ponto de vista partidário, o quadro
se complica. Os Democratas aumentaram
a maioria de que dispunham no Senado,
sustentaram (com a perda de 12 cadeiras)
a da Camara e dominam 31 governanças
estaduais.
Não toi dado, portanto, um cheque em
branco a Richard Nixon, pois o presidente
depende do congresso em legislação inter-
na (ao menos). Ou seria melhor dizer, o
povo continua desconfiante do Partido
Republicano. Nixon também? Ele não
mencionou praticamente o Partido duran-
te a campanha. Só nos últimos dias fez
alguns discursos em favor de alguns candi-
datos, coisa de última hora e sem convic-
ção aparente. Uma avalancha presidencial
pode produzir uma maioria parlamentar
(Lyndon Johnson, em 1964). Nixon não
pareceu interessado.
OI
konjuntural
Na América Latina, para total
desespero de Nixon, todas as
revoluções serão contrárias
à permanência norte-americana
e seus interesses econômicos.
O grande
demagogo
terão mais
quatro anos
de guerrasConcentrou-se na formação de uma
nova maioria, como disse. Os anúncios
mais escandalosos do presidente eram
oficialmente pagos por uma organização
chamada Democratas pró-Nixon espúria,
por certo, mas dando o tom apartidário
da campanha de Nixon. Em parte, essa
tática é compreensível. Contra a imagem
de radicalismo indeciso de George Mc-
Govern, Nixon se propôs a si próprio, o
homem do centro, capaz de conversar
com Mao e Brezhnev sem vender a honra
dos EUA, o estadista da responsabilidade
e da paz, o grande unificador. Apesar
disso, Nixon precisa do Congresso «tpara
governar. Cínicos acham que ele prefere
uma maioria Democrata no Senado e
Câmara, pois assim poderá renegar pro-
messas domésticas, que nunca pretendeu
cumprir, pondo a culpa nos adversários.
Outros sugerem que Nixon quis dar uma
lição à Direita Republicana, demonstran-
do que ele, e não o Partido, é quem pesa
eleitoralmente. Toda conjectura vale, até
prova em contrário. O fato é que o povo
americano confinou a nova maioria à
presidência. É um obstáculo sério a uma
ditadura (ainda que eleita) Republicana.
Na outra grande democracia ocidental, o
premier domina executivo e parlamento.
Falo da Inglaterra. Nos EUA foi mantida
popularmente a separação entre os pode-
res.
Convém não exagerar. Nixon demons-
trou, nos primeiros quatro anos, que é
capaz de dobrar o congresso, quando
realmente se empenha (Vietnã, orçamen-
to do Pentágono). Sofreu algumas derro-
tas na legislação doméstica, mas, nesta,
ninguém pode predizer o que o Presidente
quer, tais os recuos, vacilações e a mistifi-
cação do estilo de Nixon. E é importante
notar que, em última análise, o que conta
no Congresso são as coalizões ideoló-
gicas. Democratas Sulistas e Republicanos
reacionários, por exemplo, sustentam fi-
nanceiramenle o militarismo do Penta
gono contra Democratas e Republicanos
liberais. E se opõem às iniciativas em
direitos civis de reforma fiscal e do
Welfare. Nixon jogará com esses fatores,
apostando quando e no que desejar. Uma
maioria Republicana formal, nesse senti-
do, talvez o obrigasse a tentar resolver os
verdadeiros problemas dos EUA. o que
não está, que se saiba, nos planos do
Presidente.
Mais quatro anos, gritava o eleitorado de
Nixon, e agora os tem. Poderá curti-los na
plenitude, pois o presidente, não podendo
reeleger-se em 1976, está livre e desem-
baraçado. A cara de Nixon, no dia da
vitória ao contrário do que muitos espera-
vam, era sóbria, traía mesmo vagas angus-
tias e dúvidas. Acabou a deliciosa empu-
lhação política, em que ele é mestre
inconteste. A realidade chegou.
No Vietnã, o presidente continuará à
procura de uma paz honrosa. 0 termo
pode ser entendido de duas maneiras, que
nada tem a ver com honra, sendo ambas
filhas da realpolitik. A primeira é conse-
guir manter no Sul um governo com-
preensivo, a exemplo do existente na
Coréia (Seul) em que o imperialismo
conserve uma cunha firme no país.
Não há indício de que Hanói e VC
aceitem essa solução. Acredita-se, inclusi-
ve, que Nixon comprou o silêncio da
URSS e da China sobre o assunto, com-
prometendo-se a permitir que o Vietnã
seja reunificado, ainda que no prazo
determinado por Washington, que assim
salvaria a face, internamente e em outras
províncias externas, onde existem vietna
em potencial,
Entramos aqui na estratégia do interva-
lo decente, de autoria de Henry Kissinger
e, presumivelmente, endossada por Ni-
xon. Há tempos, Kissinger disse a colegas
de Harvard que preferia um mao ismo
duro no Vietnã, dentro de dois anos, do
que um titoísmo mole, no momento. Em
outras palavras, Washington, dois anos
depois de ter saído do país, emitiria notas
furiosas de protesto contra um golpe ou
revolução comunista lá, aceitando, po-
rém, a situação, confiante em que o povo
americano já teria esquecido os 200 bi-
Ihões de dólares despendidos, a morte de
55 mil jovens, os 300 mil feridos e os
crimes de guerra contra os vietnamitas.
Um titoísmo mole (um regime brando),
no presente, criaria uma tal crise interna
nos EUA que Nixon não poderia conti-
nuar a execução do rapprochemente com
a China e URSS, pois os americanos se
entregariam, na frustração, a um neoma-
cartismo Esse argumento pesou muito
junto a Chu (Mao) e Brezhnev, ou pelo
menos, é o que Kissinger e assessores
informam aos jornalistas em entrevistas
off the record.
T..rJ<-> r>'>r<_^t- miiito lr»nii-r> am tortriai UUU (-•"« <->_c lliuiiu .^y.v-w, _... .c_iia,
e há a evidência de que os norte-vietnami-
tas e vietcongs aceitaram esse raciocínio
(baseados relutantemente, em virtude de
traições passadasr no endosso soviético e
chinês, sem falar de uma promessa de
créditos americanos, no montante de 7,5
bilhões de dólares, para reconstrução do
país).
É o que se sabe, de concreto, no
momento em que este capítulo foi escri-
to. O povo americano (52% acreditou queNixon estivesse terminando a guerra, des-
prezando as críticas de McGovern. O
eleitorado, porém, desconhece as sutilezas
que descrevi acima. Aceita a tese da paz
Nixon nâo
vive sem
Kissingerhonrosa, que soa bem. Mas não quer que
a guerra continue mais quatro anos. Se
Nixon persistir em manter o conflito é
quase certo que nas próximas eleições
parlamentares, em 1974, o espírito de
McGovern (baixado em outros cândida-
tos) venha a se manifestar nas urnas.
Idem, na eleição presidencial de 1976.
É difícil saber o que Nixon pretende.
Depois de aceitar um acordo, escandalosa-
mente anunciado por Kissinger 13 dias
antes da eleição, Nixon recusou-se a
assiná-lo em Paris, o que provocou reação
violenta de Hanói & VC e até de Chu
Eri-lai que, desde a visita, jamais criticara
o presidente nominalmente.
Já expliquei, em capítulos anteriores,
que a guerra do Vietnã tornou-se excessi-
vãmente onerosa para a classe dirigente
dos EUA em termos de investimento, do
desperdício que só facilitou a expansão
econômica japonesa e da Comunidade
Econômica Européia e, last but not least,
de dissidência social interna.
Nixon sabe muito bem disso, mas insis-
te na honra por motivos que vale recap-
tular. Um titoísmo mole seria o estopim
de revoltas em outras nações do III Mun-
do. Hoje sob tutela dos EUA, que sesentiriam encorajadas pelo sucesso deHanói & VC.
É um dilema. O intervalo decente do
Dr. Kissinger oferece uma solução (tem-
porária). Mas Thieu, o ditador do Sul, não
está disposto a dobrar-se por completo a
Washington, principalmente se isso impli-
ca na queda dele. Prudentemente, matou
ou pôs na cadeia todos os membros de
peso da oposição anticomunista no Sul.Ou seja, é impossível substituí-lo a exem-nln rjp n|pm( riijp OS 2rT.SrÍC3n0_ demiti
ram, em 1963, quando se tornou incon-veniente. Thieu sabe que se embarcar no
primeiro avião para a Suíça, o governo deSaigon desmoronaria - é apenas um exér-cito e uma política particulares de Thieu- levando ao poder o titoísmo mole queNixon e Kissinger tanto temem;
Daí a resistência audaciosa e debocha-da do ditador do Sul. Ele sabe queWashington não pode afirmar de públicoque o governo de Saigon é somente um
títere militar americano, pois isso désmo-ralizaria o esforço americano de 10 anos,
a fim de manterá democracia no paísconfirmando os críticos da guerra e o
derrotado George McGovern.
Nixon, até o momento, tem engolido a
chantagem do cliente. Procurará arrancar
novas concessões dos norte-vietnamitas e
VC. Mas quais poderiam ser? Os comu-
nistas jamais aceitarão qualquer esquema
que impeça uma solução nacionalista e
unificadora no Sul, o que significa a saída
dos EUA e o fim do reinado policial de
Thieu (ainda que este permanecesse diri-
gindo uma facção. Thieu recusa isso, na-
turalmente, porque sabe que duraria
pouco, se lhe tirassem o controle da
polícia, do exército e o apoio aeronaval
dos EUA).
Errarei se disser que Nixon está tonto?
O futuro responderá. Mas de uma coisa
estou certo: internamente, o plano Kissin-
ger funcionaria. A memória do público é
curta e, em dois, até por mecanismo de
defesa, os americanos não se lembrariam
do que cometeram no Vietnã.
Resta saber, porém, se não continuarão
aparecendo vietnãs em outras partes do
mundo. Kissinger, o mentor de Nixon,
pensa contê-los de duas formas: manten-
do soviéticos e chineses a distância dos
movimentos insurretos, subornando
Moscou e Pequim com comércio e esferas
de influência; e dando o máximo apoio a
ditaduras como a grega, a filipina, etc.
Tudo isso me sugere esparadrapo sobre
uma hemorragia interna. Os soviéticos e
chineses devem rir de Kissinger, pois
sabem muito bem que tem interferência
mínima (se alguma) nas revoluções em
outras partes do mundo. Só um diplo-
mata arcaico, à Ia Metternich, como
Kissinger acredita nessas coisas. As revolu-
ções continuam a ser ditadas pela miséria
dos povos. E sempre surpreendem. Quem
imaginaria um Fidel Castro, em 1956, ou
a resistência sobre-humana dos vietna-
mitas na década seguinte? Ou caindo à
direita, a tenacidade expansionista de
Israel? As médias e pequenas nações
começam, enfim a ter personalidade pró-
pria. É um processo irreversível, o que
demonstra o exemplo do Chile e Peru na
América Latina, o quintal dos EUA. E as
revoluções, nà maior parte, serão sempre
contra interesses americanos. Nixon e
Kissinger não conseguirão deter a Histó-
ria, ainda que criem intervalos consola-
dores, uma geração de paz como dizem.
Durará pouco.
POLITIKA
0 gr and
o
demagogo
Embora o povo
americano seja
racista, não o é totalmente.
Necessita ser educado, porém
isto não interessa a Nixon, já
que ele é sua arma eleitoral.
^conjwtura^
Grande parte
do voto popular
fíxon deveu-se ao racismo
e policialism*
armas que
ele usa como ninguém
Grande parte do voto popular
de Ni-
xon se deve a racismo e policialismo. O
presidente fala, sem parar, que a América
dá oportunidade a todos. 0 exemplo do
busing, analisado em outros capítulos,
prova o oposto. Os negros e outras mino-
riais raciais continuam marginalizados.
Não param de reproduzir-se e de produzir
criminosos (uma saída dos miseráveis sem
esperança). Os brancos de classe média fo-
qem das cidades. Já expliquei, racismo a
parte, por que a sociedade tecnologica
dos EUA tende a provocar um desempre-
ao crescente da mão-de-obra não especia-
lizada, cuja maioria - em virtude do racis-
mo, que, inclusive, impede que recebam
uma educação aaceitável - é composta de
minoriais raciais.
0 busing é só um sintoma. Somente a
dessegregação racial pode propiciar a inte-
gração econômica de negros e similares.
Nixon, baseando-se nos temores da pe-
quena classe média branca, vetou o
busing. Obteve votos. Agravou o proble-
ma. E fez o que nenhum presidente ousou
desde (exclusive) Franklin Delano Roose-
velt, em 1932: escondeu o racismo enn ex-
pressões como qualidade de educação e
defesa da escola do bairro.
A revolta dos negros e de outras mino-
rias não desaparecerá, exceto se lhe or
imposta uma solução final. A dessegrega
ção exige reformas sociais profundas, que
se estendem além do busing, indo, demo
gogia à parte, à verdadeira igualdade e
oportunidade que começa, porém,^ pe a
educação. As escolas dos guetos são iguais
aos guetos. 0 busing visava, ao menos, a
tirar as crianças de cor do gueto, dando
lhes um futuro. Até isso Nixon impediu.
Claro, ninguém discute o direito do cida-
dão comum de exigir defesa contra o cri-
me nas ruas. Mas inexiste defesa eficiente
se as causas do crime não forem atacadas.
E aí voltamos ao tema da miséria, da fo-
'me da falta de empregos, que atinge a
cerca de 30 milhões de americanos.
O crime sério, sob Nixon, continuou
crescendo, apesar das fanfarronadas poli-
cialescas do presidente. Teve um aumento
de 411 mil unidades só em 1971. As esta-
tísticas gerais desceram porque
Nixon
mandou retirar delas as contravenções.
Mais mistificação.
É fácil culpar a pequena classe média
branca, que sofre nas costas paliativos co-
mo o busing. O que fazer? O povo^ameri-
cano é inapelavelmente racista? Não, ne-
nhum povo é, acredito. Mas precisa ser
educado. Nixon contenta-se em explorá-
Io eleitoralmente. A longo prazo, a expio-
são ou, na frase de James Baldwy, da pró-
xima vez, o fogo. Desta vez diria eu.
Idem, o crime. Nixon mistifica que bai-
xou o número de crimes no país. Propoe
liberdade para a polícia perseguir
os cri
minosos, sem friolagens jurídicas. E outro
apelo ao medo e ao ódio da pequena cias
se média branca, que surtiu efeito eleito-
ral. Jimmy Breslin, um liberal realista, co
mentou no dia da eleição: Os liberais pre
cisam desistir de dizer ao povo que uma
paulada na cabeça é uma questão social.
Uma paulada na cabeça dói, e é só. Nao e.
Não é fácil, por certo, convencer àdo-
na de casa, trêmula de medo nas ruas, que
o crime é uma questão social. Ela quer ver
o criminoso preso, e pronto.
Mas isso nao
acontecerá sem reformas, que resolvam os
problemas dos já citados 30 milhões de
americanos. Nixon, porém, queria votos
pelos atalhos fantasiosos da imagmaçao
popular, saturada de heróis de TV. Conse-
guiu os votos. O crime, porém,
continuará
no poder também.
E é impossível não perceber no policia-
lismo do presidente o objetivo de cercear
as liberdades públicas no pais,
a
j^
de
impedir que os dissidentes levem ao povo
uma versão diferente da realidade que a
Tseriado de TV. O principal pengopara
a democracia americana no«gundomar.
dato de Richard Nixon e que e e_podenS
nomear dois novos juízos da Corte_SuP
ma pois os liberais Douglas e Burke Mar-
shall dificilmente resistirão a mais quatro
anos doentes que estão. Surgiria, c0
seqüência disso, uma Corte dominada pe-
Ia reação fechando essa tradicional valvu-
la de escape das aspirações dos destitui-
dos. Se Nixon tiver a chance, é o que ta .
mo. Não exagero. Hitler usava os judeus
como bodes expiatórios da insatisfação
social e econômica da classe média alemã,
impedindo, assim, que ela visse o verda-
deiro inimigo, a estrutura de poder capita-
lista.
É um alvo fácil de visualizar. A dona de
casa da pequena classe média branca, fa-
zendo economias desesperadas no super-
mercado, não tem dificuldade de odiar o
negro bêbado que vê nas ruas e que ela
sustenta, pagando impostos convertidos
em Welfare. Não sabe, por certo, que dá
um cent. de cada dólar em imposto ao
negro, enquanto entrega 61% ao Pentágo-
no para que este tenha a capacidade de
destruir a terra 20 vezes, de produzir
aviões a 1 bilhão a unidade e que nunca
saem das provas, etc.
Essas foram as bases da vitória de
Richard Nixon, em 1972, contra o radical
George McGovern, que propunha algumas
modestas reformas das desumanidades da
estrutura de poder nos EUA. Não vejo
nada que dure no programa do presidente
sem um aprofundamento das tensões in-
ternas da sociedade que ele dirige pela
demagogia e desconversa.
Talvez o mais cínico e bem sucedido
dos aambitos eleitorais
de B^hard
^xon
mmm
quanto isso, o Esttdo, pe^
^
obrigado a SUP ng
esmagadora maio-
de americanos, o| níveis de
ria, não conseguemtrat>a no. Q
a
VJelfare5Su0maa'vida Suportável.
mas a Oi-
ninguém uma vioa sup entan.
Me pergunto, inclusive, se os espetacu-
lares de Nixon em Pequim e Moscou, a
parte os objetivos já analisados em outros
capítulos, não visavam também a distrair
a atenção do povo americano da crise
interna. Afinal, um mundo de paz, além
de ser uma coisa desejável, é um excelente
consolador para um povo que durante 2b
anos foi assustado com fantasias de holo-
causto nuclear. Esse é um dos recursos
mais antigos em política, transferir para
fora de casa o que não se pode (ou nao se
quer) resolver em casa. Henry V e Bis-
marck, estadistas bem superiores a Ri-
chard Nixon, certamente o utilizaram
com raro brilho.
Nixon, porém, é imprevisível e moldá-
vel por circustâncias. Desejo, sinceramen-
te, que as minhas previsões neste capítulo
se provem erradas. O sistema político
americano tem muito a recomendá-lo no
mundo de ditaduras em que vivemos. Eu
gostaria de vê-lo preservado.
Mas pauso e penso
na droga. Nixon,
eleito, lançou outro ataque aos trafican-
tes. Certo, são abomináveis, tão abominá-
veis como os fornecedores, entre os quais
o general Thieu do Vietnã do Sul, que
Nixon apoia. E, no entanto, pelo que vejo
aqui na classe média que decidiu a elei-
cão, os traficantes têm trânsito livre.
Oferecem a essa gente infeliz uma fuga da
realidade americana, que Nixon afirma ser
maravilhosa. Há uma profunda contradi-
ção aqui que paliativo algum resolve
-
químico ou político.
Uma palavra final sobre Georges
McGovern: ele perdeu fragorosamente a
eleição e inexiste desculpa para uma
derrota nessas proporções. Mas represen-
ta apesar das deficiências que apontei, a
outra América do título deste livro, que
tem ideais bem melhores que os das
velhotas árvore de Natal do Texas, que
reelegeram o presidente. E essa enorme
minoria jamais aceitará o Nix que
descrevi.
O que acontecerá a essa gente? h uma
elite, indiscutivelmente. E já se desti-,¦
'a
do processo democrático nos EUA Je
que os caciques Democratas vetaram as
candidaturas de Bobby Kennedy e fcuge-
ne McCarthy, em 1968 McGovern esten-
deu-lhes um pouco de esperança Agora,
voltara à orfandade política.
Eu não me surpreenderia se a e da
se voltasse para o terrorismo, o já
começou a fazer, pós-1968, até o surgi-
mento da candidatura McGovern. Mais
quatro anos do que vimos nes1 livro
certamente acionarão a esquerda desespe-
rada.
Restam, sem dúvida, as reformas que
McGovern (e James 0'Hara) fez no Parti-
do Democrata, que permitem a seleção de
candidatos do povo e não dos caciques, os
quais, naturalmente, sabotar; i ao máxi-
mo a campanha de McGovern.
E há, a figura de EdwarJ Kennedy
que, em 1976, poderá empunhar com
mais vigor a bandeira que McGovern
levantou, em 1972. Kennedy tem trânsito
junto aostncgovemistas e aos regulares do
Partido. Se não o matarem até lá, talvez
ainda haja um desfecho pacifico para o
drama americano dc que, gostemos nu
não, somos todos figurantes
Una vitória dri McGov i reabriria
possibilidades libe ais em todos os países
na órbita dos EUA, o que inclui, evidente-
mente, a América Latina e o Brasil.
Donde se deduz que não só McGovern foi
derrotado por Richard Nixon. Há uma
grande maioria silenciosa que não chegou
a votar e que um dia talvez se canse do
papel de bagai histórico a que foi
reduzida. Amém.
¦¦
POLITIKA
vl "^^1
¦h^H^^^kei^H. PMpgfPPP*"?vW?Wm * fPfs'S^^^HHHral
Dizer que
o Legislativo está
vazio não é tudo.O principal
x
é procurar
as razões.E ir a
fonte de seu descrédito e não
permitir que ele desapareça.
Antonieta
Santos
LEGISLATIVO
análise
Embora não se possa
assegurar que o Congres-
so brasileiro tenha se tor
nado, a partir da procla-
mação da República, o
ponto de reunião de re-
presentantes de todas as
camadas sociais, também
não se pode negar sua
importância como ponto
de encontro das correntes
de opinião que se forma-
vam no país. Porr lá tran-
sitaram alguns dos maio-
res políticos, dos mais
brilhantes oradores, dos
piores politiqueiros, além
dos muitos que simples-
mente passaram, sem
qualquer brilho. Mas, se o
Congresso discutiu bana-
lidades, impediu algumas
decisões importantes para
o desenvolvimento, votou
matérias eleitoreiras, reu-
niu-se extraordinariamen-
te quando não foi preci-
so, participou, também, e
de maneira brilhante, de
importantes e históricas
decisões.
E, se arriscarmos uma
análise sociológica de seu
papel, veremos que o
Congresso brasileiro, sem-
pre que lhe foi permitido,
cumpriu seu papel, mos-
trando ser necessário ao
equilíbrio do nosso siste-
ma político.
A pesquisa Poder Le-
gislativo: uma análise fun-
cionalista? , que o cientis-
ta político Reinaldo de
Barros, da Escola Intera-
mericana de Administra-
ção Pública, está con-
cluindo para a Fundação
Getúlio Vargas, parece in-
dicar o caráter gesticulan-
te do nosso Congresso —
gesticulação da qual não
escapariam nenhum dos
partidos políticos, nem
mesmo aqueles que pre-
tendem imprimir um ca-
ráter ideológico à sua
ação.
O mundo moderno vê o enfraquecimento, em todos os quadrantes,
do poderio dos Legisladores. Nunca os Executivos tiveram tanta força e
tanto poder. Muitas são as explicações: incapacidade, falta de maturidade e
situações políticas excepcionais. Em países reconhecidamente democráticos como
os EUA, o presidente da República detem em suas mãos um poder de decisão já
extra-constitucional. Embora na teoria esta força pertença ao Legislativo, a prática
mostra que o .Executivo é quem manda. Claro que isto é apenas um exemplo.
O deputado que apresente 99 projetos para dotar municípios de implementos
agrícolas também está esvaziando o Poder Legislativo. Assim como os
regimes de exceção são os causadores, quase sempre, de sua morte.
Antonieta Santos é a
mais nova aquisição de
POLITIKA. Repórter
experiente, com passagens
nas redações dos priríciqais
jornais e revistas do
Rio e São Paulo, ela veio
para ficar e este é o seu
primeiro trabalho
aqui na casa. De agora em
diante nossos leitores
terão um encontro
marcado periodicamente
com a experiência de
Antonieta, que tem algo a
transmitir de seus
conhecimentos adquiridos
no Curso de Ciências
Sociais da antiga
Faculdade Nacional de
Filosofia e no Curso de
Pesquisa Sociológica
da UFRJ e na Última Hora
de São Paulo, Diário
Carioca, Folha de São Paulo,
Editora Abril, Diário de
São Paulo e Jornal da Tarde.
(A Editoria)
?
?
?
Antonieta
Santos
?•••••¦§••«••••»••*
Legislativo,
um poder
mmm força
Na análise da debilitação do
Poder Legislativo no Brasil,
deve-se partir da dicotomia:
a crise atual é do Poder ou
_ dos homens que o representam?
I análise I
^^L v^^k ^JB mmmY "'" a^^ammm*
Wv v ^i - r 3
¦¦B Afonso
Essa pesquisa é a abordagem da
atuação política do Congresso, no
período de 1959 a 1965-um ano
depois do movimento político que
determinou significativa reforma na
super-estrutura brasileira, que atm-
giu principalmente, a forma de par-
ticipacão do Poder «Legislativo, com
a instituição de um novo Estado
brasileiro.
Diante dessa reforma, qual seria
o papel do legislativo na ordem
institucional do novo Estado?
Nossa situação seria igual à do
México, onde o cientista Pablo Ca-
sanòva observou que em resumo,
nota-se que o sistema de equilíbrio
de poderes não funciona. Há um
desequilíbrio marcado, favorecendo
o Executivo. É então que se perguo-
ta qual seria a função do Legisla-
tivo?
Decidir não
écomo
CongressoAs funções do Estado e seu papel
institucional tem mudado substan-
'Ciàlmente nas últimas décadas, em
'Wão da necessidade de comandar
•racionalmente o processo de mu-''dança
social. A evolução induzida,
Faz cotn que o Estado brasileiro
'passe de produtor de serviços a
produtor d.reto de bens de COnSU-
•mo Dessa forma, deixa de lado o
;08pel de ator secundário para assu-
•m,r diretamente, o de protagonista
'principal na esfera do desenvolvi-
j mento econômico.
lf Diante desse contexto, qual seria
o comportamento do Poder Legisla-
'tivo? 0 cientista político Remaldo
de Barros explica:
ção do Legislativo. Mas, em vez
disso observa Remaldo, o que se
constata, é que, o Poder Legislativo,
talvez por incapacidade e, quem
sabe, pela velocidade exigida nas
decisões, tem permanecido indife-
rente ou não tem sido consultado
ou chamado a participar das deci-
soes mais importantes.
Talvez a resposta esteja com Van
der Meersch, no trabalho Reflexões
sobre o tegime parlamentar Belga
quando diz existe, cada vez mais
evidente, a impressão de que o Par-
lamento não é mais o lugar adequa-
do para se tomar decisões. Nao so a
impressão: há certeza. Mas, talvez, o
papel do Parlamento, seja daqui por
diante, o de caixa de ressonância,
nada mais.
Na análise da debilitação do Po-
der Legislativo no Brasil, o pro tes-
sor Reinaldo de Barros pretende
testar esta dicotomia: a crise atual e
do Poder Legislativo ou dos homens
que o representam?
Evidentemente este novo papel
I exige do Estado, principalmente do
| ?&, Executivo urncornporta-
mento e exercício dc axnri™tas
daquelas exercidas quando o
seu papel era de mero Poder ae
Polícia Como afirma Afonso An-
no de Melo Franco, em A evolução
^ Crise Brasileira, anteriormente
"a estabilidade social se traduz.a em
estabilidade legislativa: as leis eam
poucas e raras, a evolução dodirei
io se processava vagarosamente e de
orma sistemática, por me,o da ela-
toracão amadurecida dos código*.
Esse novo papel, que exLge do
Estado presença e participação
nos
^s vanados setores, requer como
conseqüência, uma constante cria
- Alguns exemplos poderiam es-
clarecer melhor nossa colocação: a
necessidade de adequar o aparelho
burocrático às novas exigências da
sociedade, inclusive aquelas criadas
pelo processo de desenvolvimento,
há muito vinham se fazendo sentir
pelos administradores. A Reforma
Administrativa, foi o que poderia-
mos chamar de uma exigência na
cional Daí por que o presidente
Vargas, logo após a sua posse, no
seu último governo, cuidou de pre-
parar um documento que fosse a
Reforma Administrativa do Gover-
no Federal Preocupado, porém, em
incorporar todas as correntes do
pensamento brasileiro, enviou-o,
para mero estudo, ao Congresso,
onde foi estabelecido que, cada um
dos partidos políticos, ali represen-
tados, elaborasse «im parecer distin-
to. O próprio Congresso, dada a
importância da proposição, decidiu
criar uma Comissão Interpartidana
de Reforma da Administração Fe-
deral, da qual foi relator, Gustavo
Capanema.
- Foi esta comissão que elabo-
rou o relatório e sugestões sobre o
caráter que deveria ter a reforma. O
presidente da República incorporou
algumas sugestões e, a 31 de agosto
de 1953, enviava, agora, em proje-
to, a mensagem presidencial de Re-
forma Administrativa.
Deve-se
fazer mais
política- Presumia-se, então, que o Con-
gresso estivesse devidamente habili-
tado a questioná-la, modificá-la e
aprová-la. Razões por todos desço-
nhecidas, fazem com que, em 19b4
a mensagem deixe de ser discutida
para finalmente, em 1956, ser ar-
quivada por falta de oradores, con
forme determinava o Regimento In-
terno da casa.- Outro exemplo da ação, ou
melhor, da inação do Poder Legisla-
tivo, para assuntos tão relevantes
para o desenvolvimento fizeram com
que o projeto de criação do Banco
Central, enviado pelo presidente
Eurico Gaspar Dutra, permar.ecesse,
em tramitação, até ser promulgado
pelo presidente Castelo Branco.
- Enquanto isso, o Congresso,
autofagicamente se dedicava a
assuntos de pouca relevância para o
desenvolvimento nacional, que pro-
vavelmente só teriam relevância
transcendental no nível da política
eleitoreira.Esses fatos, que indicam a possi-
vel necessidade de se reformular o
Congresso brasileiro, a fim de que
ele possa melhor adaptar-se as novas
exigências do desenvolvimento, sao
analisados por Afonso Annos de
Melo Franco, no trabalho citado em
seu capítulo A Crise do Poder Le-
gislativo.
- É mais do que sabido que os
parlamentos e Congressos democra-
ticos, em todo o Mundo se tornam
cada vez menos órgãos legislativos e
cada vez mais órgãos políticos, con-
correm para a diminuição da facul-
dade legislativa do Poder Legisla-
tivo, de um lado, a hipertrofia e a
complexidade de dados que só o
Executivo dispõe, de outro, o en-
quadramento partidário, que faz a
ação do legislador, presa a uma série
de condições que prescindam os
partidos, desde fora dos Parlamen-
tos.
No terreno político, a fragilidade
do Legislativo brasileiro provém,
principalmente, do sistema de re-
presentação proporcional.
Outra razão que contribui bas-
tante para a deficiência do trabalho
Legislativo, é a de assessoria técnica
parlamentar. ^
t
POLITIKA
IO. análise *
Em apenas seis anos,algumas
. alterações políticas foram a
razão fundamental da perda de
força do Legislativo.Não há
Congresso que resista a isso.
Legislai ivo.
um poder
«em força
O fato é que existe nova
sociedade política brasileira. O legislativo
foi afastado de sua criaçãoA pesquisa do cientista político
Reynaldo Barros observou que o
comportamento do Legislativo indi-
ca um caráter visivelmente alienado
do processo de desenvolvimento da
sociedade brasileira. Esse dado leva
a pensar na necessidade de uma
reformulação que o adapte à nova
Ordem Institucional Brasileira.- Durante esse período
(1959-1965), extremamente rico a
nível político brasileiro, conhece-
ram-se presidentes da República das
mais variadas tendências e origens
mais diversas. O Congresso, não
fora a avaliação numérica na apre-
sentação dos projetos, mantém um
comportamento constante, revelan-
do uma extrema preocupação nas
soluções de clientelismo e na inca-
pacidade de participação nos gran-des debates. À incapacidade de se
impor à gesticulação não escaparam
nenhum dos nossos partidos pol iti-
cos, nem mesmo aqueles que pre-tendem revelar um caráter ideoló-
gico em sua ação.
Os estudos do professor Reynal-
do Barros mostram que, no perío-do, foi o ano de 1963 que apresen-
tou o maior número de projetos.Mas, contraditoriamente, foi tam-
bém quando se aprovou o menor
número deles. E ainda neste ano
que o deputado Zacarias Seleme, da
UDN do Paraná, apresentou 99
projetos autorizando a abertura de
créditos especiais para a aquisição
de um trator de esteira e umamotoniveladora para 49 municípios
paranaenses. Esse fato, embora pi-toresco, ajuda a evidenciar o caráterautofágico do nosso Legislativo.Ou, conforme observa O autor He
pesquisa, trata-se de um caso típicode geografia eleitoral, por certoextremamente esclarecedor, desa-fiando um estudioso capaz de exa-miná-lo.
0 crédito especial, que represen-ta um aumento de despesa, na
medida em que se pretende canal i-
zar recursos para setores não con-
templados no Orçamento, deveria
ser usado apenas em momentos de
urgência, no caso de calamidade
pública, quando não houvesse
meios de recorrer aos créditos exis-»tentes. Num orçamento tradicional-
mente deficitário, só deveria ser
usado, portanto, em casos extre-
mos. No Parlamento inglês por
exemplo, somente é utilizado quan-
do se definem as fontes de onde
buscar os recursos para a despesa.
No entanto é o crédito especial a
grande preocupação do legislador, e
representou o maior número dos
projetos apresentados no períodode 1959 a 1965. Dos 1955, apresen-
tados no ano de 1960, 381 se
referiam a crédito especial. No ano
de 1963, de 1663, 462 a eles se
referiam. Ou em 1964, embora járestringido em seus poderes, o Le-
gislativo ainda apresentou 868 pro-
jetos, dos quais 105 ainda se refe-
riam a créditos especiais. Não have-
ria contradição entre um orçamento
equilibrado e uma enxurrada de
créditos especiais?
A reclamação de alguns políticossaudosistas, de que o prazo paraaprovação de projetos enviados peloExecutivo representa um cercea-
mento de sua liberdade e uma
debilitação de seus poderes, é vista
como irrelevante pelo professorReynaldo Barros, que interroga: Po-
der ia o Executivo, face a suas novastarefas, ficar aguardando o lento
processo do legislativo?
— A pesquisa, ao comparar proje-tos apresentados e aprovados, revê-lou a extrema debilidade em que seencontraria o Executivo se não ti-vesse condições de determinar pra-zos para ver aprovadas suas solicita-
ções. Um exemplo disso é um pro-cesso de 1962, em que o Executivosolicitou a abertura de crédito espe-ciai de 2 bilhões de cruzeiros, parafazer face ao aumento salarial naRede Ferroviária Federal. Esse pro-jeto só conseguiu ser aprovado em1967. Como o foi em seu valororiginal, deduz-se que ou os f uncio-nários da Rede não receberam oaumento ou o Poder Executivo,dentro de uma estratégia escapista,encontrou as condições para cum-
prir as exigências salarias.
O ato de aprovação do projetonâo foi senão um ato gesticulante,consagrador de um fato já realiza-
do. Os funcionários da Rede, com
ou sem a aprovação legislativa, jáhaviam recebido sua revisão salarial.
A tarefa de fiscalizar e Executi-
vo, um dos papéis mais importantes
reservados ao legislador, parece que
também não foi seguida convenien-
temente. O Requerimento de Infor-
mação, um instrumento extrema-
mente hábil, ficou tão desgastado
nesse período que chegou mesmo a
preocupar as lideranças políticas da
época, com o que denominaram de
demagogia do requerimento.
- Estaremos, pois, a um passo do
que Cassamatis denomina de cre-
púsculo de Parlamento? Seria ine-
xorável, também, que este crepús-
culo nos envolvesse num afastamen-
to e não na aproximação do que se
denominaria de "padrões
da demo-
cracia?" Todavia, a crise do Parla-
mento estaria menos ligada ao fenô-
meno do novo papel institucionaldo Estado do que à crise da Repre-
sentação, juntamente com o co-
lapso do populismo no Brasil?
0 comportamento dos congres-
sistas abrindo créditos especiais,
prestando homenagens, — como o
dia do padeiro, da avó, costureira,
nordestino, da telefonista - dandonovas denominações a ruas e aero-
portos, instituindo prêmios, enfra-
quece o seu poder e representa umamanifestação política que caracteri-
zou este período.
— Com o início da industriali-zação, desaparece, a nível político,o apelo à consangüinidade, ao pa-rentesco, em suas várias formas, àobediência residual à lealdade. Ape-Ia-se para uma vaga solidariedadesocial. O chefe político passa a serum delegado de interesses e, umavez no Poder, seus adeptos esperamvantagens para suas categorias so-ciais, seja sob a forma de empregosseja sob a de facilidades asseguradasmediante a manipulação de órgãosdo Estado, é o apogeu do popu lis-mo.
A crise da representação se tornamais aguda, quando lembramos deuma das regras básicas da modernaadministração de recursos humanos
é a exata noção do nível, atividade
que cada um poderá exercer.
— A atividade legislativa, em to-dos os níveis de Governo, é umexemplo mais que evidente da nossaafirmação: nas últimas eleições mu-nicipais, em Petrópolis, o jornalPetropolitano publicava a seguintenota:
"Pedro Rivete - O sr. Pedro Ri
vete é o responsável pela cozinha do
petropolitano, hoje uma das princi
pais da cidade. Vale a pena pegar a
família no domingo e ii ao PFC
para almoçar. O sucesso é tanto,
que muitos amigos estão pensandoem lançar o sr. Pedro Rivete para a
vereança".
Ser bom cozinheiro seria boa
condição para ser um legislador?
Ou ser bom jogador de futebol ou
médico de clientela variada? Não
defendemos a exigência de.que o
pol ítico se forme em escola especia-
lizada ou em atuação específica.
Mas acreditamos que a complexi-
dade do caráter da ação legislativa
exigirá, por certo, do representante
do povo ou as condições para exer-
eer ou o seu alheamento, que se
transforma no débilitamento do Po-
der Legislativo. A crise, portanto,
principal, está em termos de repre-
sentação. Solucioná-la é o grande
desafio para os politicólogos. Acres-
cente-se, ainda, como elemento nes-
ta constelação de problemas a crise
de populismo, tão bem esjudada
pelos cientistas sociais de São Pau-
lo.
Esses fatores concorrem, por per-
to, para que o Congresso Brasileiro,
pelo menos no período estudado,
tivesse um comportamento que po-
deríamos intitular, um pouco jorna-listicamente, de gesticulante e auto
fágico. Porém, como acreditamos
que os grandes debates da nação
brasileira deverão ser feitos numa
entidade como o Congresso, estu-
dá-lo e, inclusive, revelar suas debili-
dades só poderá contribuir para que
encontremos as soluções que corres-
pondam à sua adequação ao novo
papel institucional do Estado"
POUTIKA
legislativo,
um poder
sem força
Fundamental ao Congresso é a
garantia de sua existência.O
fato de decidir ou não é uma
questão de função. Ele deve,
sempre que puder,protestar.
A debilidade
não é só
brasileira
an&lise
-• 1 -*• T
O Congresso tem
Iue
existir para,
a
menos, protestar
No documento Legislativo e De-
senvolvimento Político, o cientista
político Robert Packenham estu-
dou as funções do Congresso Brasi-
leiro e comparou-as com as de ou-
tros países como o Japão, Egito e
alguns novos Estados africanos.
Seu estudo concluiu que a prin-
cipal função dos Parlamentos desses
países não é a de decisão. No caso
específico do Brasil, encontrou qua-
tro grupos básicos de funções. No
primeiro, está a função de legitima-
ção, distribuída em legitimação la-
tente e legitimação manifesta. Por
legitimação latente compreende-se
que a população ou pelo menos sua
elite, pelo fato do Parlamento se
reunir, pela possibilidade
da Oposi-
ção de manifestar e até mesmo por
sua simples presença, acredita estar,
de uma maneira ou de outra, parti-
cipando do Poder. Dessa forma, o
Parlamento legitima o Poder. Por
legitimação manifesta, entende-se
aquela atividade clara, consciente e
compreendida de legitimação. Pode
ser o ato de carimbar aprovando as
solicitações do Executivo, que em si
já expressaria uma função legitima-
dora.
No segundo grupo, Packenham
encontrou o que denominou função
válvula de segurança. 0 fato do Par-
lamento estar funcionando já é sufi-
ciente para liberar tensões entre le-
gisladores que debatem, reúnem,
questionam, discursam e garantir à
população um clima de segurança.
A terceira função, segundo o
cientista, seria a de recrutamento,
socialização e treinamento. No Par-
lamento se aprende as normas das
elitese as habilidades políticas.
No quarto grupo, Packenham
encontrou a função de decisão e
influência. Esta função foi subdivi-
d ida em: fazer leis, encontrar
saídas, articular interesses, harmoni-
zar conflito-e-resolução e, finalmen
te, exercer a fiscalização adminis-
trátiva ou proteção.
A função de fazer leis, segundo
Packenham, está cada vez mais
minimizada A de encontrar saídas
é exercida quando surgem impasses
políticos
- por
exemplo: a votado
do Parlamentarismo, em lybi,
quando o impasse criado pela
re-
núncia do presidente Jânio Quadros
e pelo veto de alguns setores minta-
res à posse do vice-presidente
João
Goulart, levaram o Legislativo a de-
cidir pela implantação do regime
Parlamentar no Brasil.
Articulação de interesses é a
função que hoje está limitada, ape-
ar de sua importância, e, se ocorre
com freqüência, já nao se realiza no
nível desejado. A de <»nf,rt0;fr®*°:
a pvercida renularmente, pois
se^credita sèr o Parlamento
o lugar
ideal para se apresentar,
negociar e
resolver conflitos. No entanto 0b-
serva Packenham, essa função se
exerce muito menos do que sena_de
desejar. Ainda no grupo das funções
de decisão e influência mereceu des-
taque especial, como recurso e afir-
mação do Parlamento, ai unçade
fiscalização e proteção.
Ela se rea '
za através da convocaçao de minis
tros ao plenário, para prestar infor-
mações; pelo envio e re^|"J0"'°s
de informações e aprovaçao
de con
tas do Exocutivo.> >
0 débilitamento do Poder^Legis-
lativo não parece ser um fenômeno
brasileiro. 0 número de janeiro de
1969 da Revista Brasileira de Estu-
dos Políticos publicou Organização
dos Parlamentos Modernos, de au-
toria do então senador Milton Cam-
pos e do deputado Nélson Carneiro,
onde eles reuniram observações so-
bre os parlamentos da Inglaterra,
França, República Federal Alemã,
Itália, EUA, México e Peru.
No estudo comparado que fize-
ram, foi dado destaque ao problema
da inciativa das leis e a influência
do Poder Executivo sobre o Poder
Legislativo.
A iniciativa das Leis, antes apaná-
gio do Poder Legislativo, transferiu-
se, em boa parte, para o Poder
Executivo, especialmente da refe-
rência àquelas proposições que vi-
sem a aumentar as despesas ou a
diminuir a receita do Estado.
Como exemplo, citam os Estados
Unidos, onde só formalmente esta
assegurada a privatividade do con-
qressista em dar o primeiro
impulso
à elaboração legislativa. Se a norma
continua escrita, na prática, tem
sido o presidente da Republica
quem encaminha ao Congresso o
texto integral.
vam. Os membros da Assembléia
Nacional da França não têm a possi-
bilidade de sugerir proposições que
aumentem as despesas, e emendas a
projetos governamentais, com aque-
le objetivo ou conseqüência, são
recusados, automaticamente pela
mesa.
A influência do Poder Executivo
na ação do Poder Legislativo projeta-
se ainda através da elaboração da
Ordem-do-Dia, que acaba por
asse-
gurar preferência ao exame das pro-
posições oriundas do Governo. Des-
de 1958, o Governo praticamente
seleciona a Ordem-do-Dia, na
Assembléia Nacional da França.
Na República Federal Alemã, o
Governo está à frente do Parlamen-
to na iniciativa das Leis. Desde a
instituição da República Federal
Alemã, foram aprovados cerca de
2000 projetos, sendo que
deles nao
mais de 60 sugeridos por membros
daquele órgão.
O exame da ação parlamentar
levou Samuel Huntingthon (The
Congress and America's Future) a
apresentar, como principal razao do
debilitamento do Legislativo, sua
tendência em apoiar as solicitações
presidenciais (do Executivo), crian-
do, dessa forma, um dilema bastan-
te difícil para sua sobrevivência. Se
o Congresso legisla, quase automati-
camente se subordina ao Presidente.
Se recusa a legislar, corre o risco de
alienar-se da opinião pública. O
congresso pode afirmar seu poder
ou aprovar leis. Dificilmente poderá
fazer as duas coisas.
Na Inglaterra, origem do Poder
Parlamentar, na Câmara dos Co-
mr cnmontP rtptprminado número
de" deputados, sorteados no princf-
pio de cada sessão legislativa tem
oportunidade de oferecer e de ver
discutidos e votados os seus proje-
tos. É certo que, além disso, a
qualquer momento, os parlamenta-
res podem apresentar projetos que
figurem na Ordem-do-Dia, pratica-
mente para simples divulgação, eis
que, colocados no fim da lista, rara-
mente chegam a ser votados.
O direito de Emendas também
sofre - resV'QÕes» cooío^me jObser-^
A comprovação do evidente debi-
litamento do Poder legislativo, le-
vou Campos e Carneiro a recorrer a
Gregoire Cassamatis que, tentando
deter o que denomina o crepúsculo
do Parlamento, sugere:
— A revalorização da função do
Parlamento, a revalorização da Pala-
vra, com a limitação ua duração dos
discursos e o direito de réplica, o
reconhecimento do manuscrito co-
mo forma de discurso mais adequa-
da; a interdição tota! e rigorosa de
toda interrupção; a revalorização da
pessoa do parlamentar
e sua quali-
dade dentro do Estado; a organiza-
ção do poder de controle que
cons
titui a função principal do parla-
mento nos nossos dias.
> i v
.i
1^*
bacia
das almas
Gaininliii de volla
Há uma semana que o ex-ministro Gama e Silva,
embaixador do Brasil em Portugal, não dorme. Um
grande amigo seu chegou a Lisboa com a notícia
quentíssima de que o acadêmico, grande romancista
e maior ainda figura humana de Viana Moog será
nosso homem em Lisboa.
Bom para Portugual, ótimo para o Brasil e péssi-
mo para São Paulo.
Editorial -
I
"Não há dúvida de que
os custos excessivos da
mão-de-obra contribuem
para a inflação. Mas se qui-
sermos situar as coisas fun-
damentais em primeiro lu-
gar, temos de examinar o
papel dos lucros". (James
Tobin, economista da Uni-
versidade de Yale).
Editorial - 2
"Por certo não se pode
alegar que o que está acon-
tecendo com a renda sala-
rial seja responsável pela
inflação. As forças fiscais e
monetárias provocaram a
inflação ..." fGeorge
Schults, secretário do Tra-
balho dos Estados Uni-
dosj.
Editorial - «I
"A inflação lenta é a malária da
moderna economia mista. Como a
malária, é descofortável viver-se
com ela e esta simplesmente não se
vai. Mas ao contrário do caso da
malária, simplesmente não parece
haver nenhuma cura conhecida para
a inflação lenta que seja melhor do
Samuelson, do Newsweek, mostran-
do que sabe o que representa uma
que a doença". (Professor Paul A.
política econômica mal dirigida.)
I TJENWO ASSISTlDO AO SElH #
tMSfEXCELCNClA (0
Hntiofl
âihpa m'ibope..
/ANTIGAMENTE, ELES ADOMVAM
4MIM.A60RA,AJ>0MM o IBOPÇ...
AINDA BEM Qoe ONIXON FOI
neeiÂiTo!,,
RÁPIDO!
NOSSOS COMEU-
014IS NAQOVMÇ,,
POR- FAVOR-!
^—X\ I NO^Oi COM5 (L-m!
014IS NA(A0»M<,, a >JW J)
'
PS! 1wu FEE- FAVOfc? JwHM j
C
Decoro e
decoração
Dona Lígia Lessa Bas-
tos, deputada da Arena, e
senhora muito bem com-
portada, deu uma micro fo-
nada no monte facial de
Paschoal Citadino, pre-
dente da Assembléia Legis-
Iativa da Guanabara e ra-
paz muito bem comporta-
do.
0 Jornal do Brasil disse
que foi um fato inédito
naquela casa. 0 que prova
que não é só o povo que
tem má memória. A aristo-
cracia também.
No mais, não vejo por
que falar-se em quebra de
decoro. Microfone não é
decoro. Ê decoração.
A mentira
de Menahim
Em carta a POLITIKA, no
no. 56, o vice-governador da
Bahia, Menandro Minahim, ten-
tava contestar uma história pu-
bliçada no Folklore Político
por Sebastião Nery, atribuindo
a informação ao prefeito de
Jaguaquara, René Dubois:
— "Só me apresso em fazer a
total retificação do que foi pu-
bl içado porquê estou convenci-
do de que V.Sa. foi iludido na
sua boa fé pelo prefeito René
Dubois, meu adversário no mu-
nicípio de Jaguaquara. Devo sa-
lientar que o desespero da der-
rota é que tem levado o atual
prefeito de Jaguaquara a esse
tipo de intriga, mentindo, in-
clusive, para o semanário POLI-
TIKA".
Agora, chegaram os resulta-
dos da eleição. 0 vice-governa-
dor da Bahia, Menandro
Minahim (ARENA) foi fragoro-
samente derrotado pelo prefei-
to de Jayudquara, René Dubois
(MDB), cujo candidrto se ele-
geu. Dai, nós de POLITIKA
ficamos com o direito de tirar
duas conclusões:
a) 0 desespero da derrota
não era do prefeito, mas do
vice-governador.
b) Logo, esse tipo de intriga,
mentindo, não era do prefeito,
mas do vice-governador.
Como POLITIKA sabia, e
publicou, a histórra do folklore
era absolutamente verdadeira.
Não lhe parece, doutor Menan-
dro Minahim?
Viana Moog
Editorial - I
"A explicação para as mortes
prematuras está justamente no am-
biente desfavorável, tanto físico
quanto sócio-cultural e econômico,
que prevalece nos países pobres!como Bolívia e Paquistão, em con-
traste com o ambiente favorável,
resultante do elevado grau de rique-
za que caracteriza os países desen-
volvidos, como Estados Unidos,
Suécia e Holanda, nos quais a gran-de maioria das pessoas morre com
50 anos de idade ou mais.
"No Paquistão e na Bolívia, por
exemplo, de cada 100 pessoas que
morrem, apenas 30 têm 50 anos ou
mais; isto quer dizer que 70 em
cada 100 morrem antes de 50 anos,
constituindo o que se poderia cha-
mar de mortes prematuras. Nos Es-
tados Unidos, Suécia e Inglaterra,
de cada 100 pessoas que morrem 80
têm 50 anos ou mais.
"Há uma evidente associação en-
tre o indicador de mortalidade pro-
porcional (fixado em 50 anos portécnicos da Organização Mundial de
Saúde) e o Produto Nacional Bruto
per capita.
"Partindo-se da premissa, com-
provada, de que quanto menor é o
índice de PNB maior é o índice de
mortalidade prematura, pode-se
mesmo formular a hipótese de que
dificilmente haverá redução apreciá-
vel das mortes prematuras no Brasil
antes do país atingir uma renda de
US$ 600 a US$ 700 per capita.
"A mesma situação precária de
saúde no Brasil pode ser observada
pela comparação entre os índices de
mortalidade infantil de vários países
dos mais aos menos desenvolvidos,
a começar pela Suécia, onde mor-
rem antes de um ano de vida apenas
12,9 crianças em cada grupo de mil
nascidas vivas, passando pela Holan-
da (13,4 em mil), Japão (15,0 em
mil), Dinamarca (15,8 em mil),
Suíça (17,5 em mil) e terminando,
depois de passar por outros países,
na Argentina (58,3 em mil), Portu-
gal (59,2 em mil) e Brasil (105 em
mil)."Na
taxa brasileira de mortali-
dade infantil mostra-se, assim, oito
vezes maior que a da Suécia, por
exemplo, o que era de se esperar,
tendo em vista que as condições do
ambiente físico, biológico, sócio-
cultural e econômico no nosso país
são muito desfavoráveis à criança de
baixa idade, em grande parte do
território nacional."Dentro
do próprio território na-
cional, de dimensões continentais,
as diferenças regionais são muito
expressivas. Assim, no Nordeste,
onde a renda per capita é a mais
baixa do país (Cr$ 420,00), mor-
rem 180 crianças com menos de um
ano em mil nascidas vivas, enquanto
na região Sudeste, onde a renda per
capita é a mais elevada (CrS
1.300,00), morrem apenas 76 em
mil. O mesmo ocorre nas capitais
situadas em diferentes regiões: en-
quanto em Porto Alegre morrem
apenas 46,7 em mil, e no Rio de
Janeiro 47,3, em São Luís e Ma
ceió, respectivamente, 182,9 e
213,6."
(Professor Nélson Morais, conselhei-
ro da Funabem).
*
m fpip
BjH^I 'M
. d^^Hjf '
!¦
1 jff_ |»^W
U^ía^Ao ilos juros
Numa época em que as novidades são, de modo geral, escassas, nada como se satisfazer com o
recozinhamento de notícias. Vejam um exemplo clássico:o presidente do Banco do Brasil, Nestor Jost,
esteve em São Paulo fazendo declarações. E afirmou que a taxa de juros vai baixar. Foi o bastante para
que surgisse uma onda de aplausos e abraços mil.
Mas o pessoal esqueceu de uma coisa importante: o próprio Nestor Jost, em fevereiro deste ano,
conversando com alguns jornalistas disse a mesma coisa, que foi alvo de manchetes em todas as páginas
econômicas de todos os jornais do Brasil.
Agora, quando nada de novo há nos domínios do doutor Delfim Neto, vem o doutor Nestor Jost e
recozinha uma notícia que tem apenas nove meses. Período completo de gestação.
I bacia
[das almas
Nestor Jost
O pislAo
<l«' Milton
A Secretaria de Turismo é o
pão-de-ló do governo da Guanabara:
gostosa e não dá trabalho para
engolir. Vai daí que todo mundo
vive cfe olho nela. Ainda bem o
novo (e terceiro) secretário, Fernan-
do Barata, não esquentou lugar e já
há gente, outra vez, cercando o
governador para comer o pão-de-ló.
Esta semana, num jantar com
amigos, o doutor Chagas Freitas
pegou um pelo braço, levou à janela
e cochichou:
Você conhece esse tal de Mil-
ton Carvalho?
0 presidente do Sindicato de
Hotéis da Guanabara? Conheço,
mas de longe.
Desde que assumi, este moço
quer ser, a qualquer preço, o secre-
tário de Turismo. Chegou até a ser
candidato à presidência da entidade
nacional dos hoteleiros para usar o
trunfo aqui no Estado. Levou, coi-
tado, uma surra terrível. E desistiu.
Agora, lá vem ele de novo, trazido
pela mão de amigos meus.
E não seria a solução?
Como é que eu posso saber?
Mandei investigar e apurei que a
única coisa que ele fazia bem era
tocar pistão numa tal de Orquestra
do Delê, em Belo Horizonte. Se a
Embratur já se queixa de que há
pouco turismo na Guanabara, ima-
gine só os turistas recebidos na base
do pistão.
E Chagas debruçou na janela,
numa gargalhadazinha maldosa.
0 ISTADO DK *. MULO
Chagas, o
"beatnlk"
Cansado de não fazer
nada e disposto a mostrar
que sua inércia, tão longa-
mente apregoada, é uma
questão de fluídos, Chagas
Freitas resolveu tomar
uma decisão transcedental:
no próximo dia 5 receberá,
em audiência especial,
Mahrishi Mahesh Yogi, o
famoso guru dos Beatles,
que deixará o Himalaia pa-
ra este encontro exclusivo.
Esperemos que o guru, que
tanto sucesso proporcio-
nou ao conjunto inglês, se-
ja capaz de mais um mila-
gre: fazer Chagas Freitas
trabalhar.
Ora, viva
Jaguaquara
Como o Piauí, Jaguaquara existe.
É uma pequena e alta (800 metros)
cidade do interior da Bahia, onde
nasceu o Sebastião Nery. Entre
outras razões de amor, múltiplas e
profundíssimas, Jaguaquara dá ao
Nery a alegria da vitória da oposi-
ção em todas as eleições depois de
1964- XX.M
E a coisa lá não e fácil para o
MDB. O líder municipal da Arena é
o vice-governador da Bahia, Menan-
dro Minahim, que sempre foi
deputado muito bem votado da ci-
dade. Pois o vice quebrou, masi
uma vez, a fronte. Nery anda bran-
dindo, com orgulho de filho amado,
esse telegrama:
- SEBASTIÃO NERY - Rio -
Comunico mestre amigo MDB ven-
ceu eleições municipais 70 votos
frente, elegendo Paulo Ovidio, ape-
sar intensa pressão sofrida governo
estadual pt Denunciei Presidente
República perseguições, coação po-
licial e econômica e atos corrupção,
como atuação COELBA (Compa-
nhia Energia Elétrica da Bahia) e
DER BA (Departamento de Estradas
de Rodagem da Bahia) pt Grande
abraço, René Dubois, prefeito".
O astral
do Oliveira
Oliveira Bastos, dia desses,
telefona para o presidente de
uma grande empresa na Guana-
bara. A telefonista, sempre so-
lícita, quer saber quem vai fa-
lar. É dito. Outra pergunta:
De onde?
Do astral - responde o
Oliveira mal humorado.
Da astral? Um momento.
0 doutor vai falar.
E o Oliveira falou. Do astral.
5o Mo s
T0J>0S
Amigos
do Rêi
Os filhos
do salário
mínimo
Os mesmos menores abandona-
dos, que o Jornal do Brasil e O
Globo chamam de pivetes, em Cuia
bá são tratados como criminosos. O
próprio jornal do doutor Nasci-
mento Brito foi o responsável por
sabermos disto, ao publicar uma
longa matéria de seu correspon-
dente em Mato Grosso. Lá, além
dos menores abandonados serem
presos em celas infectas, cheias de
marginais e onde fazem vestibular
para o crime, as meninas de quator-
ze e quinze anos são prostituídas
livremente, sem que nenhuma medi-
da seja tomada.
Depois de ler o telegrama, lem-
bramos da matéria que o Sebastião
Nery escreveu na Tribuna da Im-
prensa, quando mostrav? que estes
pivetes, filhos sem pais ou descen-
dentes de salários-mínimos, são
crianças idênticas aos nossos filhos,
alunos de uma escola dura, suja e
cheia de perversão. Não são respon-
sáveis por coisa alguma, são as
vítimas de um regime, de uma
situação que permite que uma me-
nina seja prostituída aos quatorze
anos, "porque
não existe nenhum
instrumento legal para se combater
tal procedimento".
Não são pivetes, doutores Nasci-
mento Brito e Roberto Marinho.
Eles são em verdade, a triste
imagem da pobreza e da miséria em
nosso grande e desenvolvido país.
Phu Uih'.
o Kissinger
de Vau Thi«>u
O doutor Henry Kissin*
ger, de tanto aparecer cer-
cado pelas coelhinhas do
Play-boy e badalar em to-
dos os salões do society in-
ternacional, acabou por fa-
zer escola. Se bem que no
Vietnã do Sul, o que não
chega a ser mérito para
ninguém. Caminhando no
rasto de seu patrão,
Nguyen Van Thieu, dita-
dor e títere norte-
americano em Saigon, fez
com Uquyen Phu Duc o
mesmo que Nixon com
Kissinger: assessor especial.
E o detalhe é que Phu
Duc chegou a Paris, sema-
na passada, para assistir às
negociações de paz, acom-
panhado de uma comitiva
de quinze pessoas, das
quais cinco mulheres, que
segundo os jornais são
"be-
Ias e muito bem vestidas,
contrastando com as repre-
sen tantes norte-vietnami-
tas."
¦
§0-
^
A surra
no censor
Este artigo, publicado no número de
primeiro aniversário do jornal
"Politika",
relembra a atuação de nosso companheiro
Roberto Marinho num episódio pouco co-
nhecido de anos amargos vividos pela im-
prensa brasileira. Seu autor, Edmar Morei,
trabalhou em O GLOBO e vários outros jor-
nais brasileiros, em décadas de atividade
voltada para o jornalismo.
Em seu artigo,
da série "Reportagem
Proibida", ele conta
um pouco da história real do nascimento de
O GLOBO, detêm-se na figura de seu íun-
dador, Irineu Marinho, e fixa com exatidão
instantes da luta heróica qiíe o iria trans-
formar no grande jornal de hoje.
Nélson Wemeck Sodré, em
A História da Imprensa no
Brasil, aponta Irineu Mari-
nho como esguio e afanoso
repórter de A Noticia, sem-
pre apressado, mal se deten-
do à beira de uma roda pa-
ra sorver, de corrida, um ca-
fé, entre duas observações
de. Não usava bigode, como
seu chefe nacional, o não
menos engraçado Plínio Sal-
gado. Tinha, sim, um gro-
tesco cavanhaque.
O GLOBO concorria com A
Noite, A Vanguarda, Diário
da Noite, A Noticia, A Tarde,
Correio da Noite e outros
¦
POLITIKA
REPORTAGEM ft <' ¦
'" ' -J^k
I proibida / :
l^
Edmar
Morei
r«
/Va Argentina o repórter,
sentado à máquina,
anota as declarações
de Antônio Jesús Brandi,
sentado ao lado do então
jornalista Elói Dutra.
»
sobrevive
com um cadaver
Nosso objetivo — meu e de Elói Dutra — não
I» era fazer reportagens sobre a queda de Perón. A
derrubada de ditadores na América Latina ê um
acontecimento corriqueiro. Menos um, mais um,
o fato já não . merece, manchetes dos jornais,
sobretudo na Argentina, Boi ívia, Paraguai, etc. e
tal.
Chegamos ao aeroporto de Buenos Aires pela
madrugada e só atingimos o Hotel Richmond
pouco depois das 8 horas. 0 espetáculo, ao
longo do trajeto de 30 quilômetros, dava a
impressão de que a Argentina estava em guerra.
Todo aquele aparato militar era para que o
general Juan Perón, que caíra, na véspera, como
geríipapo maduro, não fugisse para o exterior.
O golpe contra Perón entrou em nossa missão
jornalística como um acidente. O intuito era
entrevistar o deputado Antonio Jesus Brandi, em
Corrientes, apontado como o autor da famosa
• carta que enviara a João Goulart, comunicando
negópios excusos, inclusive a compra de armas
num estabelecimento militar de Cordoba. O
documento, apresentado por Carlos Lacerda, na
Guanabra, numa cadeia de televisão, a 18 de
setembro de 1955, com Getúlio já morto e
estando na Presidência da República o fantoche
da UDN,Café Filho. A carta era de 5 de agosto
de 1d53, na época em que Jango era ministro do
Trabalho.
Chegamos à sede da representação diplomá-
tica brasileira antes do almoço. O embaixador
Orlando Leite Ribeiro estava a nossa espera,
através de um telegrama enviado por Última
Hora. Recebemos uma carta de apresentação
para o Comando do Primeiro Exército, dizendo
da nossa função de repórteres.
A única linha aérea Buenos Aires-Corrientes
fora suspensa, já que alguns aeroportos não
ofereciam segurança de vôos, com grupos espar-
sos trocando tiros com a polícia. A solução foi
fazer a viagem em automóyel. , , , ,
Passamos o dia em Buenos Aires e o homem
forte era o general Lunarde. Os jornais, em
edições extras, anunciavam que o então Todo-
Poderoso Juan Perón, antes do término do
ultimato enviado pelas Forças Armadas, procura-
ra assilo na Embaixada do Paraguai e o próprio
embaixador Juan Chavez conduziu-o para a
obsoleta canhoneira Paraguai, fundeada no meio
das águas barrentas do estuário do Prata. Antes
redigira um documento dizendo que tomava o
caminho do exílio para evitar o massacre do seu
povo.
Não vimos a mais remota manifestação pero-
nista. A Crítica divulgou que Perón levara apenas
uma pequena maleta com 2 milhões de pesos e
70.000 dólares, provenientes de aluguéis de
imóveis de sua propriedade, dinheiro guardado
pelo mordomo.
eu wl
O repórter foi à Argentina
para entrevistar o suposto
autor da Carta Brandi e foi
surpreendido pela
revolução
que derrubou o regime de Perón
?
m
POLITIKA
Perón sobrevive
com um cadáver
wt
|
eu vi
J
Brandi pediu
200 pesos pelas
declarações que
faria e mais
50 para posar para
fotografias.
Negou que
conhecesse Jango e
escrevesse com tantos erros.
Perón refugiou-se na
canhoneira
"Paraguai",
enquanto se
providenciava
Juan Peron
Deixamos Buenos Aires em cal-
ma e partimos para Corrientes, dis-
tante 1.600 quilômetros. Fácil é
avaliar uma viagem através de uma
região com piquetes armados e, ain-
da mais, levando um velho grava-
dor, do tamanho de um bonde, tro-
ço inútil e que só serviu para criar
embaraços.
Alguns focos de resistência foram
facilmente dominados em Rosário,
o que não aconteceu em Santa Fé e
Goya, onde fomos detidos por algu-
mas horas, já que a carta de apre-
sentação do embaixador Orlando
Leite Ribeiro perdeu sua validade.
As duas localidades já eram circuns-
crição de outro Exército. Mas tudo
acabou no cassino dos oficiais, com
bom churrasco, regado com exce-
lente vinho.
Souberam do levante? Foi su-
focado pèla Guarda Noturna.
Referiam-se a um princípio de
motim peronista, em Santa Fé, sem
maiores conseqüências.
Depois de 48 horas atingimos
Corrientes, cidade eminentemente
turística e tida como o excelente
quartel-general dos contrabandistas
argentinos e brasileiros, unidos nu-
ma aliança quase secular.
Só num ano
— disse-nos o còn-
sul Demétrio Ribeiro — fui chama-
do para intervir em 152 processos
de contrabandos.
Nesta cidade, próxima à frontei-
ra, Antônio Jesus Brandi foi eleito
deputado estadual pelo peronismo.
Estávamos, enfim, no covil dos pos-
síveis falsificadores da já chamada
Carta Brandi.
Manhã cedo deixamos o hotel em
busca do famoso personagem. Não
foi difícil encontrá-lo. Ei-lo, em
nossa frente: velhote, careca, cala-
dão, a despeito de ter sido presiden-
te da Câmara de Corrientes.
Alugamos um gravador e quando
iniciamos a entrevista, Brandi mur-
murou no ouvido do Elói Dutra:
0 jornal de vocês vai vender
muito. É justo que eu ganhe algum
dinheiro.
Quanto você quer?
200 pesos.
Toma lá!
Brandi falou mais de uma hora e
rar como autor da carta não poderia
ser melhor que Antônio Brandi, au-
têntico peronista e despido de
maiores escrúpulos.
O peronismo, por sua vez, como
acentuavam os observadores políti-
cos, estava em decomposição. Na
fronteira do Brasil com Uruguai
Argentina, Paraguai e Bolívia, o ne
gócio honesto é ilegal. OJegal é
Brandi falou mais de uma hora e gócio honesto é ilegal OJegal é o
fez questão de frisar que jamais fa-- contrabando. A competição poh.i
Tez qucbidu ut; ii ^ J
... A rocnk/iHa na hasfi da comDensa-
ria uma carta tão primária, cheia de
erros, inclusive faltando a acentua-
ção na letra i, coisa que ele sempre
caprichou na sua assinatura. Mos-
trou, ainda, que na máquina argen
tina não existe a tecla do tiI.
Enquanto isto, no Brasil, aproxi
mava-se a eleição presidencial de 3
de outubro, com quatro candidatos:
Juscelino, Adhemar, Juarez e Plínio
Salgado. Saímos a passear pelas ruas
e solicitamos a presença de um fo-
tógrafo. Brandi voltou a pedir 50
pesos para posar. 0 Elói deu 100 e
não quis o troco.
A impressão deixada por Brandi,
que sequer conhecia Jango, é que
ele não escreveria uma carta rnep
cionando armas, negócio que não
era sua especialidade. Brandi sem-
pre fez pequenos
contrabandos de
café e pneu. Um homem de peque-
nos vôos.
Até que ponto influiu o peronis
mo na famosa Carta Brandi para im-
pedir a eleição de Jango como vice
de Juscelino?
O peronismo, desde que
estourou
movimento de 18 de junho
de
1955 e que custou mais de 1.50U
vidas, bestialmente sacrificadas na
Praça de Mayo, metralhadas pela
aviação rebelde, entrou paradoxal
como pareça, em decomposivdu.
Embora tenha esmagado a revolta, a
onda de descontentamento nas For-
ças Armadas crescia dia a dia e Me-
rón, percebendo o fim, começou a
fazer concessões, inclusive na área
do petróleo.
Existe, no peronismo, como em
todos os movimentos P°Püla/e1s.'r^l,r[1
submundo de mercenários. A UUN,
useira e vezeira em golpes, achou
que o momento era oportuno para
tirar partido contra Juscelino, atra-
vés de Jango, com o objetivo de ta-
vorecer a candidatura de Juarez I a-
vora. O homem escolhido para figu-
ca é resolvida na base da compensa
ção. Um partido fica com o contra
bando do pneu e o outro encarre
ga-se do gado ou café.
Brandi jamais vira Jango. Só um
imbecil poderia acreditar que um
ministro de Estado, como Jango, fi-
gura das mais conhecidas no Brasil,
iria comprar armas a um estranho,
podendo fazê-lo, se fosse o caso,
por intermédio de um membro de
destaque do governo de Perón, to-
talmente corrompido. 0 peronismo
em agonia, influiu na Carta Brandi,
é certo, pelo seu processo de dete-
rioração, aproveitado de maneira
torpe pela UDN.
Regressamos a Buenos Aires, por
via aérea, e Perón continuava na ca-
nhoneira, agora com asdemarches
encaminhadas pelo chanceler para-
guaio Sanchez Quell, nome muito
ligado às nossas atividades jornalís-
ticas, no tempo dos Diários Associa-
dos. Era sócio da Livraria América,
em Assunção, paja a qual consegui
a representação da revista C
Cruzeiro. Isto da nossa viagem ao
Paraguai, em 1945, em busca dos
campos de concentração de Morini-
go.
O hidroavião, com dois andares,
trazendo 130 passageiros, sobre-
voou o canhoneira, uma triste e des-
figurada belonave. Do alto, até pa-
recia o Mocanguê. Estava sob as vis-
tas de dois destroyers argentinos.
Difícil foi chegar ao hotel. O cais
apinhado de gente e um engarrafa-
mento total imobilizava as ruas ad-
jacentes. A multidão aguardava o
desembarque de 300 exilados e 173
jovens do Liceu Naval Almirante
Brown, levados para Montevidéu
por medida de segurança. Soube-
mos, então, da presença de Carlos
Lacerda e outros repórteres, como
Doutel de Andrade e Batista de
Paula.
Elói Dutra foi visitar amigos e eu
fiquei no centro, ouvindo o povo e
acompanhando as edições extras.
Parei diante de um arcabouço de
ed:f ício, na esquina de San Martin e
Corrientes. Fora a sede da Aliai >3
Nacional Libertadora, destruída a
tiros de canhão.
Que barbaridade! — disse um
cavalheiro bem trajado Logo o La
Helvetica, freqüentado por Saenz
Pena, Júlio Roca, Irigoyen.
A morte de 40 peronistas não era
lamentada. Chorava-se, sim, o café
que funcionava no térreo do prédio.
Anotei no diário, algumas noti-
cias dos jornais:
Perón, na fuga, deixou 20 mi-
Ihões de dólares e 36 bilhões de pe-
sos, uma caixa com barras de °ufO<
tudo escondido na mansão de Oli-
vios. ,
O ditador tinha 15 automó-
veis, 400 ternos e 200 pares de sa-
patos!
Perón foi despojado do titulo
de general, concedido pelo
Congres-
so Nacional, quando era coronel e
presidente da República.
Foi mostrado aos jornalistas
um apartamento de luxo, num sub-
terrâneo, onde Perón fazia bacanáis
com alunas da União das Estudan-
tes Secundárias, destacando-se a ga-
rota Neley Rivas, de 15 anos, filha
de um guarda-noturno. Todas, na
farra, vestiam as roupas de Evita, fa-
lecida em 1952.
Exibidas cartas amorosas de
Peron para Neley.
Perón vendeu 10 mil passapor-
tes e 10.000 carteiras de identida-
des, para o III Reich, tudo sem fo-
tografias e impressões digitais.
Recebeu, em troca. 50 caixotes
de dólares, libras, francos e 100 qui-
los de platina, 2.000 quilos de ouro
e 4.000 pedras preciosas.
Quebrados dezenas de bustos
de Perón e Evita.
Desapareceu o corpo de Evita,
guardado, como relíquia, na sede da
Confederação Geral dos Trabalha-
dores.
A C.G.T., com o rabo entre as
pernas, não dava um pio.
*
ei
as
SeI eu vi
Perónse
confessava
um pobreRetornamos ao Rio, com a grava-
ção de Brandi. Nenhuma estação
ligada ao governo teve interesse
pelo material. Todavia, num inter-
valo do comício de encerramento
da campanha pró-Juscelino-Jango,
na Praça do Congresso, no noite de
2£ de setembro, a fita foi irradiada
pela Continental. A opinião publi-
ca, entretanto, já tinha ciência de
que a Carta Brandi era falsa e fora
fabricada nos porões da UDN, em
Uruguaiana, no Rio Grande do Sul,
não muito longe de Corrientes.
Chegou o dia das eleições. Infrin-
gindo a Lei Eleitoral, o Repórter
Esso das 12,55 horas de 3 de outu-
bro de 1955, quando a votação
estava no auge, irradiou esta nota,
precedida do clássico: Atenção!
O Gabinete do Exmo. Sr. Maré-
chal Henrique Teixeira Lott, minis-
tro da Guerra, acaba de receber
comunicação do sr. general Emílio
Maurell Filho que está na Argen-
tina, como presidente da Comissão
de Inquérito Militar para. apurar o
chamado caso da Carta Brandi que
parte da imprensa de Buenos Aires
acredita na autenticidade da carta
enviada ao sr. João Goulart.
Dias depois, o mesmo general
Maurell Filho prendia.-o escroque
Fernando Malfussi, em Uruguaiana,
trozendo-o algemado para o Rio.
Era o falsário. Seus cúmplices fo-
ram Mutti Benitez e Alberto Mestre
Cordero, dois refinados esteüo-
natários. Desbaratada a quadrilha
a serviço da U.D.N., o partido da
eterna vigilância, o general Emílio
Maurell, no dia l£ de outubro de
19^5, reuniu a imprensa e revelou
toda a chantagem, que teve o ps!ro-
cínio da União Democrática Nacio-
ne!. Us escroques foram condena-
dos e cumpriram pena na Guanaba-
ra. Um morreu na prisão.
Perón já estava no Paraguai, de-
clarando à Associeted Press:— Ficarei no Paraguai por dois
motivos: não tenho um centavo e
não tenho espírito de turista.
Ditador, com capa de protetor
dos humildes, os descamisados, dei-
xou o palácio de outro ditador, gal.
Alfredo Stroessner, e procurou re-
fúgio na Nicarágua, passando pêlo
Rio, sendo hóspede de outro
ditador, Anastácio Somoza. Seouiu
para oi Estados Unidos, de onde foi
expulso pelo governo norte-anen-
Cansado das Américas.Perón
rumou para a Espanha,indo
residir numa luxuosa mansão
de Puerto de Hierro.a zona
mais aristocrática de Madri
_________¥& ' *^_____l ______________H
______r ^^___^_____f^__l__l__________________lr^/
Hoje é um
homemmuito ricocano. Na sua curta permanência na
América do Norte fez vida noturna
luxuosa, conhecendo, numa boate,
a bailarina Isabelita, que participava
de um conjunto de danças argenti-
nas. É a sua terceira esposa. D.
Isabel Martinez Perón, substituiu
Evita, também artista de segunda
classe, por sua vez sucessora da
professora Maria Tizon, sua primei-
ra mulher, falecida em 1925. Só em
1962 Perón contraiu matrimônio
secretamente, com Isabelita. Prote-
gido pelos ditadores das republique-
tas da América Central, Perón, an-
tes de viver como um nababo na
República Dominicana, feudo do
não menos celebérrimo general Ra-
fael Trujillo, foi hóspede oficial do
sanguinário ditador venezuelano Pe-
rez Jimenes.
Cansado das Américas, rumou
para a Espanha, indo residir numa
luxuosa mansão, de Puerto de
Hierro, na zona mais arisluctáuca
de Madri, com 18 quartos, salas de
conferências e música, piscinas, etc,
comprada por 170 mil dólares. Seus
vizinhos, mais tarde, seriam o pró-
prio Perez Jimenes e Fulgêncio Ba-
tista, que não conseguiu roubar
todo tesouro de Cuba unicamente
porque as jóias e o dinheiro não
couberam nas 32 malas que condu-
ziu para Espanha, de Franco, um
ditador que dispensa apresentação.
O septuagenário, beirandcos 80
anos, com catarata, cabelos pinta-
dos, com o rosto cheio de rugas,
esperava que dois milhões de argen-
.inos estivessem nas ruas para acla-
João Goulart
má-lo. Viajou com passaporte para-
auaio e trouxe uma comitiva de 130
pessoas, inclusive jogadores de fute-
boi, cantoras de tango, etc.
O supremo chefe dos descamisa-
dos cancelou a entrevista à impren-
sa, declarando que o fazia em revide
porque foi impedido de entrar em
contato com seu povo.
Que povo?
Em 1955, quando foi deposto,
não houve nenhum movimento po-
pular de vulto contra o golpe que o
alijou da Casa Rosada. Recordemos
seu último ato:
- Se meu espírito de lutador me
impulsiona ao combate, meu pátrio-tismo e amor ao povo me condu-
zem à renúncia pessoal. Ante a
ameaça aos bens da Nação e à sua
população inocente, creio que nin-
guém pode se deixar levar por ou-
tros interesses e paixões. Creio fir-
memente que esta deve ser minha
conduta e não hesito em seguir este
caminho. A história dirá se tive ou
não razão em proceder assim. Bue-
nos Aires, 19 de setembro de 1955.
Juan Perón.
Percorremos todo o norte argen-
Lino e nau vimos nada de irriportan-
te do povo em favor de Perón.
Apenas escaramuças, prontamente
dominadas pela Guarda Noturna.
Agora, quando os líderes Justicialis-
tas pediram para o povo compare-
cer armado às ruas, mais de um
milhão de pessoas deixou Buenos
Aires para aproveitar o fim-de-
semana, no campo e nas praias. O
dia da chegada de Perón foi declara-
do feriado. Houve, sim, um motim
de 42 fuzileiros, entre 30 mil milita-
res de prontidão. Como o levante
de Santa Fé, em 1955, foi domina-
do, desta vez, por um só homem.
Um segundo-tenente.
Perón sobrevive
com um cadáver
Com uma riqueza acumulada na
Europa, Perón já foi apontado
como dono da quarta maior fortuna
do mundo perdendo, apenas, para o
Xeque do Kuwait, Niarcos e Onas-
sis.
Participa de transações imobiliá-
rias, petróleo e turismo na Espanha,
onde é o maior acionista do túnel
*de Guadarrama, cuja obra custou
mais de 40 milhões de dólares. Man-
tém, à custa de bilhões de pesos, a
imagem popular do peronismo para
servir de fachada aos seus grandes
negócios. Tudo isto, todavia, não
impede de ser um virtual prisioneiro
da Junta Militar que governa a Ar-
gentina. Alojado numa mansão de
luxo deslumbrante, no bairro de
Vicente Lopes, o velho inimigo da
democracia descansa e saúda um
grupo de jovens, de robe-chambre e
boné de jóquei. Está encerrado o
primeiro capítulo de uma movimen-
tada novela.
O antigo proprietário da casa dei-
xou o brasão na porta de frente.
Dois cisnes brancos, com a inseri-
ção:
Nae Temere. Nec Timide. -
(Nem temível. Nem temeroso h
Para quem fez de uma Nação sua
própria fazenda, governando-a a fer-
ro e a fogo, a legenda eqüivale:- Aqui mora o leão da Metro
Goldwyn Meyer.
Resta, agora, a cena patética. A
volta dos despojos de Evita à Pátria.
Os defuntos sempre estiveram pre-
sentes na ilusória retomada do po-
der pelos serviçais de governos des-
tronados. Os fascistas ainda hoje
exploram, em vão, o corpo mutila-
do de Benito Mussolini. Os quere-
mistas nada conseguiram com o sa-
crifício de Getúlio, cujo busto, na
Cinelandia, outrora romaria perma-
nente de fiéis amigos do ditador,
hoje vive no mais triste abandono.
Nem uma tlor murcha.
Chegou a hora do cadáver embai-
samado de Maria Eva Duarte, guar-
dado num convento qualquer de
Madri, para voltar à Argentina,
como trunfo do peronismo, leve
enterro de rainha e depois, como
manda a boa técnica da novela, o
corpo foi seqüestrado elevado para
o outro lado do Atlântico, sendo
entregue a Perón, a 3 de setembro
de 1971. . „Há um cadáver na rota dos desça-
misados.
Sebastiao
Nery
POLITIKA
ffolklore
poli ti k o
Juscelino
JK E OS MINEIROS
Juscelino Kubitschek tinha acabado de tomar posse
na presidência da República, foi convidado para
presidir a aula inaugural da Universidade do Brasil.
Chamou Álvaro Lins, chefe da Casa Civil:
Professor, como é o protocolo? Vou ter que
falar?
Não, presidente. O senhor apenas abrirá a sessão,
dará a palavra a quem for proferir a aula e, no fim,
encerra. '
Na reitoria, foi recebido com a maior frieza pelos
professores. Todos de pé, solenes, mas nenhuma
palma. Juscelino não entendeu. Mas o reitor Pedro
Calmon, que não perde chance, entendeu bem que
aquela era a sua hora. Quando o professor terminou a
aula inaugural, Calmon levantou-se, quebrou o proto-
colo e fez um discurso excitadíssimo de saudação ao
presidente da República. Juscelino tinha que respon-
der. Pegou a tese da aula inaugural, fez uns floreios,
enfeitou a noiva e acabou debaixo de palmas cal oro-
sas, os professores todos de pé aplaudindo o compe-
tente orador mineiro.
Na saída, entrando no carro, Pedro Calmon pegou
o presidente pelo braçu, d^olhe os parabéns pelo
magnífico improviso" e disse-lhe ao ouvido, sussur-
rando mavioso:
Precisamos vê-lo na Academia de Letras, presi-
dente.
Quando o carro arrancou, Juscelino olhou para
Álvaro Lins:
Este Calmon é um puxador incorrigível. Imagine
que disparate! Eu, um médico, nunca escrevi coisa
alguma, só porque sou o presidente da República ele
já quer me levar para a Academia. Jamais mesubme-
teria a um ridículo desse.
Seis meses depois, Juscelino foi a uma solenidade.
Pedro Calmon estava lá. Na saída, o mesmo sussurro
mavioso:
Presidente, precisamos
vê-lo na Academia. Esta-
mos esperando o senhor lá.
Álvaro Lins ficou sorrindo:
O senhor tem razão, presidente.
Esse Pedro
Calmon é mesmo um puxador incorrigível. Vem de
novo com essa conversa de Academia.
Juscelino ficou parado, calado, pensando longe. E
suspirou, picado pela mosca-azul:
E por que não, professor?
Afinal de contas, nao
seria a primeira vez que alguém entraria na Acaderma
por ser presidente da República. O Getúlio não
entrou?
2
Jantar no Palácio Laranjeiras, Juscelino
Kubitschek, presidente, recebe um grupo
de amigos.
Tancredo Neves, Rol and Corbisier, Vinícius Vaiada-
res, João Luís Soares, Fausto Fonseca e coronel
Afonso. Chega um oficial de gabinete:
- Presidente, fíadional chamando de Washington,
urgente.
Juscelino saiu apressado. Os convivas ficaram mas
tigando suspense. Quinze minutos depois, volta ¦ usce
hno. Cabeça baixa, mãos crispadas, visivelmente cmo
cionado:
"Era o Walter, de Washington. (Walter Moreira
Sales, então embaixador do Brasil nos Estados Unidos
- SN). Eles estão querendo demais. Querern o petró-
leo e a reforma cambial. Mas a nossa paciência tem
limites. Haja o que houver, não entregaremos o
petróleo nem faremos a reforma cambial".
Não entregou nem fêz.
3
Juscelino rompeu com o FMI (Fundo Monetário
Internacional). Exatamente por não querer fazer a
reforma cambial. Choviam telegramas no Palácio do
Catete. A "Voz
do Brasil" transmitia pronuncia-
mentos de solidariedade.
Os estudantes anunciaram uma manifestação de
apoio a JK, em frente ao Catete. Ele não queria, a
UNE insistiu. Ele concordou, "contanto
que fosse
apenas uma manifestação de estudantes, sem qualquer
marca política, pois que o problema do FMI era um
problema nacional".
À tarde, a praça em frente ao Catete estava superlo-
tada: estudantes, trabalhadores, o povo na rua para
ajudar o presidente a sustentar a briga contra o FMI.
Juscelino apareceu, falou, foi embora. No jantar, um
assessor foi contar, preocupado:
O CONHAQUE DE BRANDT
VENCE A BÍLIS DE BARZEL
O
Q
G qO
o
oQ±c o Ç) ®
Sabe quem estava lá na praça, presidente? Luiz
Carlos Prestes. No meio da multidão.
Juscelino deu uma gargalhada. O assessor não
entendeu:
Isto vai lhe causar problemas, presidente. A UDN
vai explorar. Por que o senhor está rindo?
Só quero ver o editorial de
"O Globo", amanhã.
E viu.
4
História de pessedista mineiro: — No alto do morro
estavam dois touros. O touro velho e o touro novo.
Viram lá embaixo o pasto cheio de vacas. O touro
novo ficou aflito:
Vamos descer depressa e pegar umas 10.
O touro velho balançou a cabeça:
Nada disso. Vamos descer devagar e pegar todas.
5
Desconfiado, chegou ao guichê do Instituto Félix
Pacheco. Era mineiro.
Queria tirar uma folha-corrida.
Já tem o formulário?
Que formulário?
0 formulário apropriado. Tem que trazer preen-
chido. É só comprar um em qualquer livraria.
Meia hora depois, voltou. O funcionário foi olhan-
do, recusou:
Falta o número do título de eleitor. Qual é?
Perdi o título. O senhor sabe como é, não tem
mais eleição, a gente acaba relaxando. Tirar outro vai
ser fogo, tenho que ir lá em Minas.
Bem, o problema não é meu. Sem o título, nada
feito. E agora preciso ver o título. Não basta só
colocar o número.
E para que eu ia guardar o título, se o próprio
governo não o considera mais como documento?
0 funcionário se queimou:
Olha, rapaz, papo encerrado. Não quero mais
conversa. Se quiser a folha-corrida, tem que trazer o
título. Você tem até jeito de comunista. Vai ver que
anda falsificando documentos.
O mineiro ficou assustado, calou a boca. Ia saindo,
voltou de voz mansa:
O senhor me interpretou mal. Não me entendeu.
Acho até que esse governo ai nao e tao ruim. Masé
que outro dia, no aeroporto, um policial recusou o
título de eleitor de um passageiro que ia embarcar,
alegando que título não vale mais como documento.
Daí a minha confusão. O senhor percebeu?
Percebi, sim. Ainda bem. Já vi que você é um
bom rapaz. Olhe todos nós, velhos e jovens, precisa-
mos dar um voto de confiança à Revolução
O mineiro olhou bem a cara do funcionário e
encerrou a conversa:
Uai, esse voto até que eu dou sempre. Só que
para voto de confiança não é preciso título de eleitor.
¦
i
KgHH
¦
IOIo
ekonomia
A utilização cada vez maior
de máquinas em vez do pleno
emprego de mão-de-obra não é
a solução para
o problema
do
Brasil,que é criar empregos
Hélio
Duque
I mi imm. A v
O descompasso existen-
te entre o processo de de-
senvolvimento industrial
brasileiro e o nível de em-
pregos gerados pelo setor é
bastante alarmante. De
modo geral, poderíamos
afirmar que ao longo da
história econômica moder-
na, os sucessivos planeja-
dores governamentais bra-
sileiros preocuparam-se
mais com o fator capital
do que na realidade com
esse outro importante fa-
tor: o trabalho.
Isto quer dizer que as
sucessivas políticas de de-
senvolvimento não tem se
preocupado fundamental-
mente com o aspecto so-
ciai da questão. Nossa po-
lítica de desenvolvimento
econômico sempre foi vol-
tada deliberadamente me-
nos para o trabalho e mui-
to mais para o capital. E a
razão desse fato está nas
importações de tecnolo-
gias, cujos modelos são sa-
tisfatórios para as socieda-
des onde se verifica o fato
det|ue o capital existe em
grande abundância, en-
quanto a mão-de-obra de
uma maneira geral é escas-
sa. É o caso dos EUA e da
Europa Ocidental.
Incorporamos no pro-
cesso desenvolvimentista
nacional procedimento
típicos dessas áreas, des-
conhecendo as pleculiarida-
des da economia brasileira,
onde se verific exatamente
o contrário: mão-de-obra
em excesso e carência de
capital.
Praticamos um modelo
de desenvolvimento inade-
quado às necessidades na-
cionais no setor de mão-
de-obra. O que se verifi-
cou, nessas últimas déca-
das, foi a utilização cada
vez maior de máquinas em
vez do pleno emprego à
mão-de-obra. E não ve-
nham dizer queé impossí-
vel fugir desse quase dile-
ma. O Japão soube muito
bem adaptar uma socieda-
de altamente sofisticada
em termos de desenvolvi-
mento econômico com
pleno emprego para a
mão-de-obra. E registra,
hoje, mesmo entre as na-
ções importantes do mun-
do capitalista, o mais bai-
xo índice de desemprego.
Com efeito, esse proble-
ma começa a inquietar to-
dos os brasileiros que se in-
teressam pelos destinos de
seu país. Os estudos sobre
o problema começam a
aparecer. Agora mesmo a
Revista Brasileira de Eco-
nomia, da Fundação Getú-
lio Vargas, vem de publicar
um trabalho do economis-
ta Edmar L. Bacha, de seu
Instituto de Planejamento
Econômico e Social, onde
é analisado o problema do
subemprego, o custo social
da mão-de-obra e o que se-
ria a estratégia brasileira
para o desenvolvimento.
Nesse trabalho há afir-
mativas como essa: A cres-
cente marginalização da
mão-de-obra do processo
de desenvolvimento pode
ser considerada como a
mais grave distorsão da tra-
jetória de crescimento da
economia brasileira no
após-guerra. A consciência,
ao nível da política, deste
fato nos dias atuais tem le-
vado, entretanto, a posi-
ções que arriscam agravar
antes que a solucionar o
problema básico. O fato de
uma parcela substancial da
população estar hoje mar-
ginalizada do processo de
modernização significa que
há um imenso potencial
produtivo inexplorado na
economia, o qual, mobili-
zado, poderia contribuir
significativamente para o
desenvolvimento econômi-
co da próxima década.
Num momento em que
tanto se acentua as vanta-
gens do desenvolvimento
com a concentração de
rendas para (dizem os
adeptos dessa teoria) numa
etapa posterior tentar a re-
distribuição dessa riqueza
gerada, cumpre ressaltar a
importância da pesquisa. E
o economista Edmar L.
Bacha, ao longo do seu tra-
balho, demonstra que vive-
mos numa fase de cresci-
mento econômico, sim-
plesmente. E não de desen-
volvimento econômico.
À alternativa que se ofe-
rece de desenvolvimento
com concentração de capi-
tal, dele descrê o pesquisa-
dor.
Sobre o desemprego, diz
o estudo da FGV: E hoje
um fenômeno generalizado
na economia brasileira, da-
da a incapacidade demons-
trada pela industrialização
substitutiva de importa-
ções, executada em grande
parte por filiais de empre-
sas multinacionais, de
absorver direta ou indireta-
mente a mão-de-obra não e
semiqualifiçada, que hoje
sobra nos campos e nas ci-
da des, particularmente na
região nordestina e no no-
vo-nordeste mineiro e capi-
xaba. Em síntese, trata-se
de, mais uma vez, chamar
a atenção para o fato de
que o pauperismo salarial
brasileiro, atrofiador de
nosso mercado de consu-
mo, aliado ao subemprego
ou desemprego, não serve
aos propósitos de um pro-
cesso de desenvolvimento
que se deseja estável.
*
I
e
Helio
Duque
A indústria
que fabrira
subrmpregos
A média de empregos gerados
pela indústria nos
países
desenvolvidos é de 0,82 por
cento,enquanto que para o
Brasil é de 0,28 por
cento.
POLITIKA
ekonomia
quadro do subemprego e do
rego rural é dos mais aterradores.
r% nrhano não é nada a/enfador
Quanto ao desemprego, efetivamente
existente, ou ao desemprego, disfarçado
dentro da realidade brasileira, é um fato
de certa maneira inquietante para todos.
Governados e governantes. Aliando-se a
isso uma baixa faixa salarial responsável
pela inelasticidade de um pujante merca-
do consumidor interno. Dados do IBGE,
examinando o chamado Grande Nordeste,
inclui além dos estados conhecidos da
região, partes dos estados de Minas Gerais
e Espírito Santo, revelam que 53 por
cento dos trabalhadores agrícolas do
Grande Nordeste têm uma renda monetá-
ria inferior a Cr$ 60 por mês (valores no
terceiro trimestre de 1969). Somente 5
por cento dos lavradores nordestinos, re-
cebem remuneração monetária superior
à média dos salários mínimos da região.
Seguindo esse levantamento do IBGE, o
quadro é esse: até Cr$ 40, 26 por cento
dos trabalhadores agrícolas do Nordeste;
de Cr$ 40 a Cr$ 60,27 por cento; de CrS
60 a Cr$ 120, 42 por cento. Mais de Cr$
120 (salário mínimo da região na época)
somente 5 por cento dos trabalhadores
agrícolas nordestinos.
Para o restante do Brasil, o IBGE, no
mesmo período, constatou: que naquilo
que dizia respeito ao problema salarial, o
quadro era o seguinte: 3 por cento dos
trabalhadores rurais fora do Nordeste,
percebem menos de Cr$ 40 por mês; 11
por cento recebem de Cr$ 40 a 60; 59
por cento recebem de Cr$ 60 a 120 e
finalmente 27 por cento recebem mais de
Cr$ 120.
No seu estudo, o economista Edmar L.
Bacha diz: Ainda se adicione a esses nú-
meros uma generosa imputação pela re-
muneração em espécie, o quadro queforma é óbvio: substancial parcela da
mão-de-obra rural no Grande Nordeste
tem hoje níveis de remuneração significa-
tivamente inferiores aos padrões mínimos
definidos como aceitáveis pela sociedade
e pelo Governo brasileiro. Note-se ainda
que os dados referem-se somente a
homens; se forem incluídos dados refe-
rentes aos valores femininos os resultados
seriam ainda mais dramáticos.
Se essa é a visão do desemprego e do
subemprego rural, como se comportam os
índices de subemprego urbanos?
No fundamental, a diferença é muito
pouca. Na categoria funcional Emprega-
dores e empregados por conta própria
?m
atividades privadas e agrícolas, observa-se
que no Grande Nordeste existe cerca de
35 por cento desses trabalhadores, con*
centrados nas atividades artesanais, co-
mércio varejista e prestação de serviços,
com remuneração inferior a Cr$ 50 por
mês. Os trabalhadores autônomos é a
classe que vem a seguir constituída por 28
por cento do total, com um limite de
renda superior a CrS 150. Cerca de 14 por
cento dos trabalhadores autônomos ti-
nham uma renda entre Cr$ 50 e CrS 100.
Traduzindo mais claramente, isso quer
dizer que no Nordeste, 50 por cento dos
pequenos proprietários e trabalhadores
por conta própria não agrícolas têm ren-
dimentos inferiores aos salários mínimos
regionais.
com abundância de capital e certa defi-
ciência de mão-de-obra. O que no caso
brasileiro é exatamente ao contrário. For-
çaram a que o Brasil ao longo de suas
poucas décadas de desenvolvimento in-
dustrial adotasse um esquema desenvolvi-
mentista inadequado às necessidades na-
cionais no campo da oferta e de criação
de empregos. O estímulo sempre foi para
o capital, ficando o trabalho relegado a
uma condição secundária. E para gravar o
quadro, grande parte das empresas estran-
geiras que têm apenas filiais no nosso
país, incorporaram à economia nacional
técnica e procedimentos típicos dos EUA
1 ou mesmo da velha Europa. Daí o estu-
dioso da economia brasileira ser responsá-
vel por uma única constatação: o terrível
fracasso da industrialização brasileira no
que se refere à proporção de empregos
gerados pela indústria.
Visto o problema resta a pergunta: qual
o caminho que se descortina como possi-
bilidade duradoura para reequilibrar nossa
sociedade econômica no que se refere à
criação de novos empregos?
Quem responde é o economista e pes-
quisador Bacha: O empresário privado
não tem estímulo no Brasil, para empre-
gar mão-de-obra a taxas correspondentes
a seu baixo custo social, porque para ele,
empresário, a mão-de-obra é relativa-
mente cara. Ao contrário do que seria de
se imaginar a alternativa para o empresá-
rio é fazer um investimento intensivo em
capital. E, ao contrário da mão-de-obra
cuja utilização é punida pelos encargos
trabalhistas, o capital tem seu custo bara-
teado em inúmeras formas pelo governo:
taxas de juros baixos e mesmo negativas
em termos reais, deduções fiscais de fun-
dos 34/18 para inversões no Nordeste,
isenção de impostos para importação de
equipamentos, etc. A indução a baixa
geração de emprego proporcionada por
esses incentivos ao uso do capital e por
essas punições intersetoriais da política
de
substituição de importações. Essa politi-
ca, ao congelar a taxa de câmbio, afugen-
toú os investimentos em mão-de-obra; e,
ao erigir barreiras aduaneiras intranspo-
níveis, atraiu investimentos a setores de
indústrias substituidoras que geralmente
são intensivas em capital.
Essa política econômica é que foi res-
ponsável deliberadamente pela adoção no
nosso país de uma prática voltada para a
simples cópia do desenvolvimento indus-
trial dos países com modelos tecnológicos
já consagrados e inclusive que contam
Indústria
não cria
empregos
Para se ter uma idéia mais clara do
assunto, basta que se diga que a média da
relação empregos gerados pela indústria
nos países desenvolvidos é de 0,82 por
cento, enquanto que para o Brasil a pro-
porção é de 0,28 por cento. Ou traduzin-
do mais objetivamente; países como
EUA, Dinamarca, Noruega, México, Ho-
landa, Canadá e Itália, a média simples,
excluído o Brasil, é de 0,82 por cento, e
para o nosso País a média é de 0,28 por
cento. Significando que para 10 por cento
de industrialização temos 8,2 por cento
dc empregos industriais nos países relacio-
nados, em média. E no Brasil para os
mesmos 10 por cento, temos efeti-
vãmente criados apenas 2,8 por cento. E
um quadro terrível. Especialmente quan-
do constatamos que nas nações desenvol-
vidas para cada 10 por cento de industria-
lização são gerados 8 por cento de empre-
gos.
Nossa performance em matéria de cria-
ção de empregos industriais é das mais
desajustadas do mundo, refletindo esse
quadro de maneira imperativa sobre o
nosso povo. A utilização de indústrias
com técnicas altamente poupadoras de
mão-de-obra é uma das distorções mais
graves. Por exemplo, no Centro Industrial
de Aratú, na Bahia, existe programa-
damente em execução a implantação de
indústrias com a utilização de um mínimo
de mão-de-obra. Para não falarmos no
Centro-Sul onde o problema ainda é mais
grave.
Sofre portanto nosso processo indus-
trializativo de uma atrofia congênita: é
incapaz de criar empregos no volume que
necessita o país para a consolidação de
seu progresso.
O desemprego, dessa maneira, tende a
se consolidar na medida em que não se
altere na raiz essa gritante distorção no
nosso processo industrializativo, mais ca-
racterizadamente presente nas últimas
duas décadas.
Precisamos de uma política econômica
de desenvolvimento que incorpore faixas
maiores e sempre crescentes, inclusive pe-
los problemas demográficos gerados,
na
sociedade brasileira. Não podemos assistir
a um processo de enriquecimento nacio-
nal com a marginalização de camadas
sempre maiores do seu povo. A verdadeira
e duradoura estabilidade econômico-
social só será possível no dia em que
banirmos da nossa sociedade distorções
como as causadas pelo desemprego e pelo
subemprego.
Tem muita razão o economista João
Pinheiro Neto quando afirma: É de se
notar que desemprego em país subdesen-
volvido não tem as conotações inerentes
aos países mais adiantados em que o
seguro social supre as necessidades funda-
mentais do indivíduo. Subemprego ou
desemprego em país como o Brasil é
,marginalização no duro, sem alternativa
outra senão a da miséria e da frustração
crescente.
E tudo isso reflete negativamente nas
próprias aspirações de crescimento de um
mercado interno, objetivo de todo empre-
sário de visão. Obviamente não existindo
condições econômicas que proporcionem
uma circulação de riqueza de modo mais
democrático, passa a haver uma concen-
tração de recursos nas mãos de poucos,
atrofiando a possibilidade de apareci-
mento de um futuro mercado interno. E
ficamos então reduzidos ao subconsumo
que tende a se agravar de ano para ano. E
sem um mercado interno sólido, fluente e
consolidado será impossível construirmos
¦ o Brasil-Grande, aspiração de todos nós.
¦¦
ei
Bi
POLITIKAfc
2Glinhakruzada
^Er»<- <**m§____________________________;¦ __
99T AW
W-tl** *X*TÍÍr* «¦B ¦*-**-*'^^t\^^^^^^99su—^——^^t Barão de Itararé
MeM
Ninguém
mofo o
Arco Ins
Caetano Veloso, Chico
Buarque de Holanda, Tom
Jobim, Bibi Ferreira, Del-
fim Neto, Barão de Itararé,
Djanira e o jogador de fu-
tebol Brito são alguns dos
personagens de Ninguém
mata o Arco íris, de José
Cândido de Carvalho, cujas
entrevistas romanceadas
serão apresentadas, ainda
este mês, pelo o genial au-
tor de OCoronel e o Lobi-> somem.
Lá o diabo,
aqui Deus
Se fosse na União Sovié-
tica, em Cuba, na China,
no Chile e até mesmo no
Peru, O Globo e o Jornal
do Brasil dariam manche-
te. Como é no Rio Grande
do Sul e a responsabilidadeé da geada, mandada porDeus, ninguém deu uma
notícia sequer. A safra
gaúcha de trigo para este
ano, prevista pelo governo
para dois milhões e meio
de toneladas, não chega a
um milhão de toneladas.**v Resultado: mais de um bi-
Ihão de cruzeiros novos de
prejuízo. 0 Banco do Bra-
sil vai refinanciar as dívi-
das em quatro anos.
Caminho e
descaminhoBagé, um dos redutos
do MDB, caiu nas mãos daArena. Ao tomar conheci-mento disso, ontem, o Pre-
sidente enviou a seguinte
mensagem aos dirigentes
arenistas locais: "Tomando
conhecimento da vitória
da Arena em Bagé, queromandar meu abraço calo-roso a meus correi igioná-
rios. muito especial ao Pre-
feito Antônio Pires. Bagé,finalmente, entrou no ca-
minho certo, .apoiando o
Governo da Revolução.
Conclusão: O MDB é o
caminho errado. E quemestá no caminho errado se
prepare para um puxão de
orelha. Agora, quando to-
do mundo estiver no cami-
nho certo, o pafs estará no
caminho errado, porqueestaremos no caminho do
partido único.
O grande
consumido
O dólar, pela sétima vez
nestes onze meses, foi va-
lorizado em relação a 1 cru-
zeiro. Desta vez, 1,16%, o
que perfaz um total de
9,46% a partir de 1o. de
janeiro. Agora, ficou mais
fácil aos exportadores fa-bricarem divisas, na mesma
proporção em que ficoumais difícil para o consu-midor interno. Este, no jo-
go da política cambial, é o
grande consumido.
A Bolsa
vazia
Nem mesmo os analistas da
Associação Brasileira de Analis-
ta de Mercado de Capitais
acham-se capazes para explicar
o fenômeno que é a Bolsa de
Valores no Brasil. Muitos em-
postam a voz e começam a ga-
guejar explicações acadêmicas,
que nada mais fazem que criar
mais confusão. Outros, já cons-
cientes de que a situação é
drástica, dizem que este com-
portamento não deve durar
muito tempo. No entanto, to-
dos são concordes em admitir
que é de causar estranheza o
pequeno volume de negócios
registrados nos últimos perío-
dos. Segundo eles, as providên-
cias governamentais, todas elas
altamente estimuladoras, não
foram capazes de reverter o
comportamento, de forma que
papéis da importância do Ban
co do Brasil continuam com
suas cotações aviltadas e com
um volume de negócios tão re-
duzido que preocupa até aos
mais otimistas.
A ponte
financeira
da Ponte
0 secretário da Fazenda
de São Paulo, Antônio
Carlos Rocca, dizia esta se-
mana a um amigo do go-verno da Guanabara:
0 grande beneficiado
com o Progres — Programa
de Vias Expressas — foi a
Guanabara.
Por que?Porque o governo es-
tava sem verba para con-
cluir a Ponte Rio-Niterói.
ê bem verdade que todos
nós nos beneficiamos tam-
bém, por via indireta.
Frevo
de uma
nota só
Era Ido Gueiros, gover-nador de Pernambuco, eBarreto Guimarães, vice-
governador de Pernambu-co, entraram no famoso
restaurante Leite, do Recife. O garçon gritou:
Serviço para dois.Sairam correndo.
Os meninos
de Nixon
O republicano ouviu Ni-xon dizer que ia substituiros titulares de dois mil
postos-chaves do governo.Correu à Casa Branca:
— Quero um lugar pa-ra mim.
0 que é que você sabe
fazer?Nada.
Ótimo. Não é precisotreinar.
(Esta era a última piadana Casa Branca, esta sema-
na).
fogo
Kruzado
"Os aumentos salariais
são o resultado da infla-
ção, e não a sua causa".
{Milton Friedman, econo-
mista da Universidade de
Chicago, que sabe que não
são os trabalhadores os res-
ponsáveis pela inflação,
porque eles não passam de
sua maior e mais sofrida
vítima}.
IPECEA, UMA
VELHA AMIGA DO MAR
Considerada de interesse para o desenvolvimento do
Nõtdeste, conforme resolução 5.013 d3 Sudene, funciona
em Fortaleza a Indústria de Pesca do Ceará S/A (Ipecea),
conhecida internacionalmente e de quem se diz ser uma
velha amiga do mar.
Fundada em 1961, valeu-lhe o pioneirismo, acrescido a
decisão e coragem de investir numa área considerada pro-
blemática, o fato de ser hoje dona de um notável
know-how, utilizando o que há de mais moderno em ma-
teria de equipamento para pesca. Possuindo uma das
maiores frotas do Brasil (36 de vários tipos e tamanhos e
que será aumentada até completar 53 unidades, no fim do
ano), oferece excelente oportunidade de ganho de dinhei-
ro, através da aplicação do Imposto de Renda.
Seu presidente é Luís de Campeio Gentil que tem como
companheiros de diretoria os senhores Paul Mathieu Mat-
tei (Superintendente), José Gentil (Diretor Industrial) e
Dante Costa Lima Vieira (Diretor Comercial), homens de
largo conceito nas esferas econômicas do Estado, a empre-
sa recebe assessoria administrativa da Planasa (Planejamen-
to Assessoria e Serviços Administrativos S.C. Ltda.) e au-
ditoria da Price Waterhouse Pat Go. Sua captação de in-
centivos fiscais está a cargo da Recrutec - Recrutamento
Técnico de Capitais Ltda.
O BOI DO FUTURO
Seus diretores, técnicos e funcionários tratam com o
peixe. E aceitam quando o simples popular diz que setrata do boi do futuro. Concordam quando os cientistas
afirmam: é a carne do futuro. A famosa lagosta nordestina
que o mundo avidamente disputa e paga muito bem (em
dólar e à vista) concorre para aumentar nossas divisas e, na
batalha que os homens do governo travam para aumentar
nossa cota de exportação, a Ipecea pode dizer que aten-
deu ao chamamento, exportando, só nos últimos cinco
anos (e aqui são computados os dados em termos apenas
dos Estados Unidos) a significativa cifra de onze milhões
de dólares, constituindo-se, isoladamente, na maior expor-
tadora de lagosta do mundo. Para explicar esse fenômeno,
não há dificuldade: em pesca, uma das razões é que a
procura é muito maior que a oferta. E o Exterior reclama
mais lagosta e peixes. O Brasil, para suprir a demanda, tem
uma verdadeira mina: 7.367 quilômetros de costa, por
200 milhas de largura, o nosso mar territorial. Uma mina,
já se vé inesgotável, pois as riquezas do mar se renovam
naturalmente.
E a Ipecea sabe disso. Pois ela e ornar são velhos e bons
amigos.
¦¦K"... '*''** ***1U____WIÊ_______W^
A Ipecea - Indústria de Pesca do Ceará SA. - possui umaJrea construída
de 5.570 metros quadrados e está procedendo sua ampliação em mais
metros quadrados. Suas câmaras frigoríficas têm capacidade de estocar
toneladas e estão sendo ampliadas para 970 toneladas. Sua fabricação diaru?
gelo é de 90 toneladas. Contribuindo para minorar o problema social do
deste oferece 350 empregos diretos e 5000 indiretos E esses números sera^
consideravelmente aumentados com a conclusão dos entrepostos de
Branca (Rio Grande do Norte), Amarração (Piaui) e com o aumento des
frota pesqueira. Até o final do ano, 53 dos seus barcos estarão pescana^^
longo de nossa costa. ******
Danúbio
Rodrigues
V"feafln
I nP^^_ÉBfi_l_£ fe>raLlJUEnfr -« H^^ l dolivro J
TWMk> 'J_W_1 —— JJean-Claude Duvalier
PRÊMIO
NOBEL PARA O
BABY DOC
0 presidente Vitalício do Haiti, Jean-
Claude Duvalier, o popular Baby Doe
(leio no JB de 18/11/72), destituiu o ge-
neral Luckner Cambronne das funções
de ministro ao mesmo tempo do Interior
e da Defesa Nacional. Era de manhã cedi-
nho, quando tomei conhecimento do fa-
to, ainda havia sol brando, as empregadas
passavam lá embaixo com um pão grande
e um litro plástico de leite. Ninguém
quebrava a rotina, o povo saía apressado
como que temendo mais um dia de^preo-
cupações e responsabilidades. Então, me
lembrei de Jacques Stéphen Alexis, de
repente. Nunca o vi, sequer de retrato;
lembro apenas da notícia da sua morte,
espalhada ao mundo aí pelo início da dé-
cada de sessenta. Ele voltava do exílio
(nos Estados Unidos) quando foi preso
por ordem direta de Cambronne, o cria-
dor dos tonton-macoutes. Falam horro-
res de como o rapaz se acabou. Reza
uma versão que trouxeram a sua família
para presenciar tudo e, a punhal, arranca-
ram-lhe os olhos, devagarinho, em meio a
gargalhadas de alguns. Depois picaram-lhe o corpo, enquanto a mulher, aos ber-
ros, pedia clemência; e as crianças, sem
entenderem coisíssima alguma, choravam
histéricas. Não afianço nada, apenas pas-
so o que se ouviu nesse sentido, à época.
Luckner Cambronne - ex-caixa de
banco particular, filho de agricultores -
é ainda novo, há pouco fez quarenta e
dois anos. Tão Jovem, mas dono já de
uma fortuna estimada em dez milhões de
dólares.
-Tenho riqueza para quatro gera-
ções!
Dizem que ele gosta de repetir essa
frase. A dinheirama desse cidadão do
mundo subdesenvolvido deve-se aos ne-
gócios em que se meteu, junto com o seu
grupo de vinte e cinco altas personalida-des do país. Unidos pela pátria, empilha-
ram duzentos milhões de dólares nos ul-
timos quinze anos, exportando sangue é
cadáveres para pesquisas em hospitais
norte-americanos, por intermédio da He-
mo Caribean S/A, açulando o tráfico de
passaportes, além de transações ainda
por serem dadas a público. Até mesmo o
embaixador dos Estados Unidos no pais,
Clinton Knox (de cor negra), amigo inti-
mo de Cambronne, passou a negar-lhe
cumprimento, comenta a notícia. Depois
da gente ver tudo isso, o jeito é dar razão
mesmo ao Papa Paulo VI-o diabo real-
mente existe e circula solto por ai, encar-
nando-se nesses tais cambronnes.
- Cada bom duva/ierista deve estar
pronto para matar seus pais ou os pais
matarem seus filhos.
Eis uma lapidar conclusão! Paradigma
do equilíbrio, acentuado humanismo,
preclaras intenções de formar uma fami-
lia sadia e unida no Haiti! Que excelente
teórico da conciliação! Por que essas
idéias ainda não foram aproveitadas pe-
los organismos internacionais? Onde es-
tá a ONU que não conduz esse pacifista a
sua presidência em caráter perpetuo?
Aqui do meu canto, sugiro à Editora
Abril incorporar à sua recém-lançada co-
TJção Os Pensadores (aliás, de uma beleza
gráfica extraordinária) aobra completa
de Luckner Cambronne. E os ******
suecos, por que não dotam oHaWda um
Nobelde Literatura, imediatamente?
Ora, mas isso já são divagações de um
jornalista desempregado. O P"*idente
Jean-Claude - jovem de vinte e um anos
- tomou as providências cabíveis, des-
bancando-o com um sopro. Esse pelo
menos até agora, parece ter sido o me-
Thor trabalho de Baby Doe. O de Jacques
Stéphen Alexis foi um romance, traduzi-
do para o espanhol com o nome de En
un Abrir y Cerrar de Ojos, lançado por
Ediciones Era, do México. Nele vagam
não apenas o sangue, o suor e o lacrima-
rio haitiano, mas o próprio vwm»*
um povo de tão belas e bravas tradições.
Balcão
• Até o dia 31 de de-
zembro sairá o nome do
ganhador do Prêmio Na-
eional de Romance José
Maria Arguedas, instituído
no Peru pela Goodyear de
lá. A dotação é alta: cerca
de dez mil cruzeiros. 0
que causou grandes co-
mentários foi o fato do
homenageado ter sido sem-
pre um homem ligado às
esquerdas, conhecido por
sua defesa intransigente
dos índios e por seu sólido
antiamericanismo. Os te-
mas também não sofreram
qualquer restrição, levan-
do-se em conta apenas queos originais fossem inédi-
tos e que por seu conteú-
do, técnica e estilo signifi-
quem um aporte à renova-
ção do gênero de acordo
com as exigências literárias
do nosso tempo.
Na Biblioteca de
Ciências Sociais, a Zahar -
editora das mais importan-
tes do país - tem novida-
des. A primeira delas é Da
Substituição de Importa-
ções ao Capitalismo Finan-
eeiro, da professora Maria
da Conceição Tavares;
Uma Reavalização da Eco-
nom ia Marxista, do pro fes-
sor Murray Wolfson, da
Universidade de Oregon,
traduzido por Rui
Jungmann; e também o
Frentes de Expansão e Es-
trutura Agrária, estudo so-
bre o processo de penetra-
ção na Transamazônica, do
professor Otávio Guilher-
me Velho.
A revista tri mensal
Sin Nombre, de Porto
Rico, publica no seu nú-
mero de janeiro-março um
estudo comparativo entre
o negro na poesia de Luis
Pales Matos e na de Jorge
de Lima, do crítico Victor
J. Rojas. A assinatura da
publicação custa dez dóia-
res anuais. Endereço -
Apartado 4391, San Juan,
P.R. 00905.
Está para sair uma
nova edição da tradução
brasileira de A Peste de
Albert Camus, pela Livra-
/ia José Olympio Editora.
O seu autor chama-se Gra-
ciliano Ramos, que assi-
nou-a somente GR, e redi-
giu-a totalmente quando se
achava preso. Aliás, além
desta, o velho Graça só fez
mais uma tradução: Memó-
rias de um Negro, do ame-
ricano Washington Booker.
0 escritor Alceu
Amoroso Lima mandou te-
legrama para o editor Ênio
Silveira, solidarizando-se
com o drama que represen-
ta o pedido de concordata
de uma Casa de Livros tão
importante, num país em
desenvolvimento. A noti-
cia, aliás, causou forteum-
pacto também nos círculos
mais conservadores do
País, dando margem a in-
terpretações as mais desen-
contradas possíveis, todas
de lástima.
• Comenta-se que mais
duas editoras brasileiras -
amhas de São Paulo — es-
tariam sendo negociadas
por grupos estrangeiros -
um americano e outro ale-
mão, no maior segredo. In-
felizmente, ainda não es-
tou autorizado a revelar os
nomes; sei só que uma de-
Ias serviria para formar ex-
celentes tradutores do in-
glês, principalmente de
assuntos técnicos.
POLITIKA
[l^rtteiaJ
global
"5
De como o orgulho nacional pelo coco me faz mostrar
o mapa, com a nossa idolatrada Bahia de Todos os Santos e do
pai de santo Jubiabá - A salsicha em Moscou é maior emais bonit?'™5
é preciso saber russo para pedí-la. Por outro lado, as mulheres de
Hong Kong bebem rápido para pedir outro drinque: e os forasteiros e
aue pagam. Câmbio negro de dólar também nas barbas do Kremhm.
0 cambista era uma cara conhecida de outras andanças.
Augusto
Pereira
MEMÓRIAS
DE UM
DIPLOMATA
y^PIPLOMATAy
Esse coco maravilhoso
e seus nomes estranhos
Madama que me hospedava em uma suite reservada
não tinha aquilo que minha avó chamava de mãos a
medir para agradar o hóspede. E em cada almoço
havia sempre um pratinho ocidental ou uma sobre-
mesa diferente. Eu mesmo avisara que não comia
comida folclórica paquistanesa.
Em certo almoço, madama me apresentou a sobre-
mesa. Num prato desenhado de flores azuis, louça
from London, estavam uns pedacinhos de coco de
polpa curta, esmirrada. Ela mesma se serviu, comendo
o coco com a mão, em bruto, e me ofereceu:
Gosta? É coconut.
Olhei os míseros pedaços de coco de polpa esmirra-
da naquele prato de louça londrina e disse:
Gosto, mais ou menos...
Ela sorriu como se estivesse me mostrando algo
muito especial.
Depois, perguntou:
Conhece? É coconut!
Olhei os pedacinhos de coco esmirrados. Respondi:
Conheço com o outro nome. Sem o nut.
No Brasil tem coconut?
Me senti ofendido. Ora, meu Deus, se no Brasil tem
coco? Imediatamente saí da mesa, fui à minha suite,
apanhei um mapa do Brasil. Voltei à sala de jantar e
espalhei o mapa frente à madama. Aí apontei para a
nossa costa:
Olha, madama, coconut tem por aqui tudo. ..
Tudo isto é praia com coconut.. .
Ela arregalou os olhos, espantada. E aí eu apontei a
Bahia:
... aqui, então, maçiama, é o que mais tem...
E levantei da mesa, muito orgulhoso do meu Brasil!
COISAS »E
HONG KONG
Éramos uns cinco, vagando pelas ruas de Hong
Kong, aí pelas 11 horas da noite. Depois de um
repasto em restaurante chinês, alguém teve idéia de
percorrermos as buatinhas e inferninho®
Um chinês foi quem nos convidou a entrar. Oh! o
ambiente típico da Lapa e adjacências. No Rio, como
Ml Paris, conto em Ltatoaa a Mfln® Kong. Elas, as
a fazendo sala. Madama comfci*
| noitada.
Apontaram pra gente té em cima. Um segundo
Mais aconchegante. Uma pra cada. Madama
veio a disse:
Meninas querer drinque.
Oh, yes?
E madama cobrou de cada um, doze dólares de
Hong Kong (seis dólares de Hong Kong por um
americano). Vieram os drinques. Rápido. Amarelo,
com cara de chá. As meninas viraram o drinque.
Madama:
Outro, outro... Meninas querem mais.
Não se tinha tempo de nada. Vieram os drinques.
Paga-se adiantado. Mais doze dólares de Hong Kong.
Madama:
Meninas querem mais. . .
Em cinco minutos, as meninas viraram seis drin-
ques cada uma. Não se teve tempo nem de dançar. . .
Um do grupo levantou e gritou:
Vamos embora, pessoal! Assim a gente volta a pé
pro Brasil.
A menina que me coube tinha tomado dez drin-
ques em cinco minutos.
CAMBIO NEGRO
Em Moscou, há uma grande decepção ao forasteiro.
O dólar não vale nada. No câmbio oficial, um dólar
compra apenas 90 copégues de rublo. Não se chega a
trocar um por um. O Kremlim acha que o dinheiro
dele é mais forte. Mas em Moscou existem pequenas
lojas em hotéis onde se compra a dólar.
O motorista do táxi que me serviu de cicerone para
trocar dólar por rublo ficou extaziado com um vodca
para turista especial. E me propôs, por gestos. Depois
entendi mais ou menos isto:
O senhor compra o vodca em dólar.
Entendi, entendi...
Depois, o senhor cambia o dólar pra rublo,
desconta na corrida do táxi...
Não foi má proposta.
Mas, uma noite, subi ao sexto andar do Hotel
Continental da Aeroflot para comprar qualquer coisa
na cantina que ficava aberta a noite inteira.
Ah, sim, eu ia comprar chocolate. E no balcão, fiz
sinal a senhora, mostrando o que eu queria. Nisso me
bateram nas costas e uma voz disse em inglês:
Quer trocar dois rublos por um dólar?
Nlo virei. Falei baixo:
Isso nlo é câmbio negro?
A pessoa falou:
Não tem importância. Dou dois rublos por um
dólar.
Virei de frente. E tomei um bruto susto. Era um
rapaz de óculos fortes, cabelos meio grisalhos. E
parecidíssimo, sim, disso eu tenho certeza, pare-
cidíssimo com o Paulo Francis!
Desconfiei daquele Paulo Francisco de Moscou e
me recusei a trocar o dólar pelos dois rublos.
A SALSICHA
Dez horas de jato e diferença de horário me
fizeram dormir, a primeira noite, em Moscou, aí pelas
8 da noite. Pois às 4 da manhã estava desperto. E com
uma bruta fome. Não tinha jantado. Desci ao restau-
rante. Fechado. Perguntei a uma servente. Resposta:
No sexto andar tem uma cantina a noite inteira.
Na cantina, empregados chegando para o serviço
diário. Um balcão de vidro como os daqui. Dentro do
vidro, os pratinhos prontos: queijo, presunto, morta-
dela etc. Pequenas mesas. A pessoa pede no balcão e
senta-se à mesa, sem garção. Na cantina é assim. Pelo
vidro olhei uma linda salsicha. Gorda, rosada. Tremi
por ela. Perguntei à moça se falava inglês. Não.
Francês. Não. Espanhol. Qual. Apontei uma garrafa
de leite:
Milk, milk...
Me deu o leite. Aí apontei no vidro pro prato de
salsicha. A moça me deu presunto, queijo, mortadela,
mas a linda salsicha rosada não veio. Aceitei tudo e
comi com uma fome desesperada. Mas recalquei a
salsicha. Voltei a dormir. As 9 horas desci para o
breakfast e lembrei da salsicha. Agora, no restaurante.
Não sabia como se chamava em russo. Desenhei no
guardanapo. A garçonete me trouxe pão, ovos, o
diabo, menos a salsicha rosada de meus complexos
No dia seguinte, travei conhecimento com a chefe
do meu andar. Marinha. Passara dez anos em Paris e
falava francês. Eu arranho.
A noite lembrei da salsicha. Depois de muito
conversar com Marinha, perguntei:
Marinha, hoje quis comer uma coisa que nao
sabia o nome em russo. Fiquei com uma vontade
louca.
O que?
E eu:
Como é salsicha em russo?
Desci pro restaurante e pedi duas
t
_
politika!
A Editoria
JO SINO DE SALES (Rio de Janeiro — Guanabara) —
"Venho felicitá-los
vivamente excelente no. 55 dedicação especial aniversário que bem vem
demonstrar como se pode fazer bom sério jornalismo não apenas de informa-
çao como também precisa crítica construtiva pt aproveito ainda manifestar
meu reconhecimento este grande órgão nossa imprensa pela espontânea di-
vulgação que fez número anterior de comentários ilustríssimo Carlos Lacerda
propósito personalidade meu saudoso querido pai Ephigenio de Sales vg
antigo jornalista et político vg que foi vg faz cerca cinqüenta anos vg deputa-
do vg senador federal vg presidente Amazonas vg aquela distante época terri-
tório brasileiro tão perdido abandonado Poder Central pt Cordiais visitas pt
Abraços agradecidos
korreio
Antes de tudo, os aplausos
FRANCISCO DE OLI-
VEIRA (Curitiba — Para-
nâ) _
"Antes de mais na-
da, meus efusivos parabéns
peía extraordinária publi-
cação semanal de POLI-
TIKA, que em Curitiba,
como em outras cidades,
todas as semanas é pro-
curado avidamente em to-
das as bancas do Estado,
por ser talvez o único pe-
riódico do Brasil atual que
o povo pode ler sem sentir
pejo pela subserviência, pe-
Ia mentira encomendada e
pela hipocrisia oficial e ofi-
cializada. Nunca, em tem-
po algum, se mentiu tanto
neste Brasil. Nunca o cinis-
mo oficial chegou a tal
ponto de envergonhar as
gerações jovens e puras de
nossos filhos. Nota-se o
patriotismo, a beleza da
orientação popular e na-
cionalista de seu jornal,
desde a primeira ate a últi-
ma página, principalmente
nas análises sócio-econômi-
cas da situação, como na
apresentação correta e in-
discutível dos fatos políti-
cos e históricos, próximos
ou remotos, que se rela-
cionem com os interesses
da nossa Pátria. Deus guar-
de vocês e todos os que aí
trabalham, neste espírito
de independência e, acima
de tudo, de coragem inte-
lectual e jornalística, por-
que só assim os nossos jo-
vens filhos podem ainda
ter fé e esperança no ama-
nhã mais digno e menos
hipócrita para a nossa
terra. Meus parabéns pelos
maravilhosos comentários
e informações sobre a re-
portagem com relação à
verdade sobre a indepen-
dência, publicado no nú-
mero 47, que se esgotou
rapidamente nas bancas de
Curitiba, e que gerou uma
série de discussões, sendo
analisado por grupos uni-
versitários, com aplausos
gerais e admiração pela co-
ragem de sua divulgação".
AZEVEDO ROLIM
(Rio Bonito — Rio de Ja-
neiro) —
"Não lhes telegra-
fo cumprimentando pelo
ANOII e respectivo núme-
ro 54 de POLITIKA por-
que telegrama, hoje, no
Brasil, é privilégio dos que
podem. Escrevo-lhes como
ledor e colecionador deste
jornal sem paralelo,
cujos
números de 1 a 54 ali^se
me defrontam. Condições
me assistiram e possibi-
Iidades houveram e eu es-
taria levando POLITIKA a
cada cidadão que lê e se in-
teressa pela verdade dos fa-
tos. Não preciso ler a crô-
nica do ano passado para
dizer-lhes se foram ou não
fiéis ao compromisso ini-
ciai. Trago-lhes meu abra-
ço fraternal de velho con-
frade interiorano, sem vez
e sem voz na imprensa me-
tropolitana, e com esse
abraço, sincero como a
verdade pela qual sempre
lutei, a confirmação que
pedem e meus aplausos
pelo jornal que vocês
deram e continuam ofere-
cendo ao Brasil e aos brasi-
leiros que se orgulham des-
te pátrio adjetivo. Oxalá
forças e vida me assistam
para repetir este abraço
através dos tempos que
virão. É minha convicção
de que a Pátria brasileira,
mais e sempre mais no seu
caminhar para seu grande
destino, precisará de POLI-
TI KA no programa que se
traçou, vez que a cada ins-
tante mais se aguça o ape-
ti te desse moloch insaciá-
vel que vê no Brasil a for-
ma de um presunto, como
no-Io dissera^ o grande
Eduardo Prado".
EDMILSON SILVA
COSTA (São Luís -
Mara-
nhão) -
"Devido à hones-
tidade com que esse se-
manário sempre apresenta
os fatos, dentro da legal i-
dade vigente, me dispus a
escrever-lhe esta, na certe-
za de que será publicada.
Assim como a Espanha foi
o laboratório do nazi-fas-
cismo, o Vietnã está sendo
o laboratório do imperia-
lismo de novo tipo - arra-
sa cidades, devasta planta-
ções, mata civis com as
armas mais diabólicas pos-
síveis e, através da propa-
ganda, do poderio
econô-
mico e de giros políticos
oportunistas, tenta posar
para o mundo como cons-
trutor da paz —
que não
perdoa povo algum por ter
se libertado ou tentar li-
bertar-se. Ainda mais: bre-
ve nós veremos países dâ
América Latiná serem in-
vadidos sob o pretexto de
se estar lutando contra o
comunismo ateu. E as ar-
mas que serão usadas nessa
invasão, juntamente com a
experiência colhida na
agressão aos vietnamitas,
serão ainda mais diabóli-
cas, uma vez que já f9ram
testadas com a eficiência
que todos são conhece-
dores. Aqui cabe um velho
trecho da sabedoria popu-
lar: quando vires a barba
do teu amigo sendo quei-
mada, põe a tua de molho.
Mas o que mais me entris-
tece é saber que um presi-
dente da marca de Nixon
ainda é capaz de ganhar as
eleições num país que se
intitula porta-voz do mun-
do livre. Segue um poema
ao povo do Vietnã: quem
não sente/ uma dor amar-
ga/ quando as lâminas da
prepotência/ retalham
homens e nações/ para es-
cravizá-los? / Quem não
maldiz/ os massacres do
Vietnã?/ E quem não
exalta/ a bravura do
vietcong? / Vai pompc1
mensageira intrépida/ fen-
dendo os ares do infinito/
pousa nos rincões longín-
quos do oriente/ o Viet-
nã:/ pátria sofrida do viet-
cong!/ Põe um ramo de
oliveira/ na cova daquele
bravo/ que morreu pra li-
bertar seu povo!"
RAUL FALCÃO (Pelo-
* tas
- Rio Grande do Sul)
— "Solicito
enviar-me os
números 28, 29, 31, 33 de
POLITIKA, pois o distri-
buidor local não os rece-
beu e nem se interessou
em mandar buscá-los".
GUIMEL FONSECA PI-
NO (Niterói —
Rio de Ja-
neiro) —
"Solicito o envio
dos números 1, 2, 3, 4, 5,
e 52 de POLITIKA, assim
como a maneira pela qual
devo efetuar o pagamen-
to".
GRUPO
ê conhecida a vocação do cearense para os grandes empreendi-
mentos. E de poucos anos para cá, mais se comprova essa a irma-
tiva, mormente porque uma ânsia de crescimento a todos domi-
na. 0 esforço nacional para que afinal se obtenha o desenvo vi-
mento, para que sejam minorados os problemas de natureza so
ciai, representados especialmente pelo desemprego, tem mereci-
do daquele Estado nordestino a esperada receptividade e tan o
prova que hoje já assinala o Ceará uma taxa significativa com a
instalação de novas indústrias, sabendo desfrutar dos inúmeros
instrumentos que o governo colocou à dispôs1??»0 <"l° emores rio.
A essa política governamental (crédito mais fácil^ assistência
técnica e outras facilidades o empresário deu as mãos e soud
enfrentar o desafio. Um desses, é o industrial Moysés Santiago
Pimentel que dirige o grupo que tem o seu nome e com uma
larga tradição no Ceará e no Extremo-Norte do Pais. O
é integrado pela Moysés Pimentel S/A Comércio e Inaus ria.
Companhia Moysés Pimentel Agro-lndustrial, a Siqueira ug
S/A Comércio Indústria e o Banco da Parnaíba S.A.
AS EMPRESAS
Moysés Pimentel S/A Comércio e Indústria, cuja principal ati-
vidade é o comércio de açúcar é sucessora de .
Filhos, fundada em 1932 e que trabalhou inicialmenÇ
cool e depois com açúcar. Mantém filiais em Belém e
tem como seus diretores Tarquílio e Tarcísio Pimente
A Companhia Moysés Pimentel Agro-lndustrial, un .
1964 e que sucede a Imobiliária Moysés Santiago ^,menQfi^
_
Por objeto inicial o beneficiamento de algodao. fcrn * .
seu projeto aprovado pela SUDENE e agora, além a
PIMENTEL EM TEMPO DE BRASIL-NOVO
Alonc wpnptfli$ rn me St I-que assinalou seus primeiros dias, produz óleos vegetais, comest í-
veis gordura hidrogenada e margarina. São os produtos do marca
"Pimentel" lançados há pouco mais de um ano, e exportados
para a Alemanha, Holanda, Japão, Antuérpia e Argentina. Sua
diretoria está integrada por Tarquílio, Tarcilio e Tácito Pimentel
e pelos senhores Luiz de Melo Filho e Francisco de Sales Pimen-
tel.
A Siaueira Gurgel S/A Comércio e Indústria, uma das mais
tradicionais empresas cearenses (fundada em 1919) foi mc°rP°*
rada recentemente ao yiupo c produz jjma ,n a
Jn^rnmo o
hastante difundidos e de grande ace.taçao no mercado, como o
Óleo Pajeú Óleo Cariri, Sabão Pavão e Mulatinho, Gordura
ciriri gíicerina, torta magra de algodão, babaçu e tucum.
O CAPITAL DAS EMPRESAS
Companhia Moysés Pimentel Agro-lndustrial Capital Autoriza-
do Cr$ 22.000.000,00; Capital Integral.zado
-
CrSique?r8a99G'u0r0gel S/A. Comércio e Indústria Capital:
Cr
Essa^úhima^empresa que tem como diretor executivo o indus-
trial Moysés Pimentel, fundador do grupo elum verdadeiro <:apj-
tão de indústria, conta, ainda, em seus quadros, na qualidade de
Sente com a dra Geracy Melo uma jovem que ha pouco saiu
£ Universidade e a quem se destina um futuro brilhante na vida
empresarial mormente pelo discermimento e competencia que
vem demonstrando, aliando-se o fato de ser a pnm«r.
mulher a
dssumir tão importantes funções na área gerencial.
Aspecto da sede da Companhia Moysés Pimentel Agro-lndustrial
que integra o complexo industrial do grupo Moysés Pimentel. Lo-
caliza-se na Avenida Perimetral e produz com grande aceitação no
mercado, óleo e margarina.
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POLITIKAEDITORA TORA LTDA.
Presidente: Phifomena Gebran
Diretor: Sebastião Nery
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rartío Mello Mourão, Paschoal Carlos
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Correspondente em Brasília: Murilo Mar-
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Direção e Redação: Av. Rio Branco,
133, grupo 1601 - telefone 232-1981 -
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