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1 JESUS É SENHOR Autor : Rev. E. Stanley Jones (2ª Edição - 1969 - Imprensa Metodista) PREFÁCIO Este opúsculo reúne uma série de palestras do grande missionário e evangelista internacional Stanley Jones, proferidas durante sua última estada em nossa Pátria, onde efetuou extraordinários movimentos de evangelização e avivamento espiritual. Em cada capítulo poderá ser facilmente notado que deixamos o estilo oratório de Stanley Jones no seu devido lugar, sem procurar transformá-lo em obra literária. Assim procederemos para que o leitor receba do seu vigor integral as palavras candentes do grande evangelista, que corria o perigo de desvincular-se do pensamento do autor se procurássemos dar mais realce às frases do que ao conteúdo.

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JESUS É SENHOR

Autor: Rev. E. Stanley Jones

(2ª Edição - 1969 - Imprensa Metodista) PREFÁCIO Este opúsculo reúne uma série de palestras do grande missionário e evangelista internacional Stanley Jones, proferidas durante sua última estada em nossa Pátria, onde efetuou extraordinários movimentos de evangelização e avivamento espiritual. Em cada capítulo poderá ser facilmente notado que deixamos o estilo oratório de Stanley Jones no seu devido lugar, sem procurar transformá-lo em obra literária. Assim procederemos para que o leitor receba do seu vigor integral as palavras candentes do grande evangelista, que corria o perigo de desvincular-se do pensamento do autor se procurássemos dar mais realce às frases do que ao conteúdo.

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Todavia, tratando-se de palestras feitas em inglês e captadas em gravador (com participação também de intérpretes), fizemos um esforço grande para harmonizá-las nesse opúsculo, estruturando-as e joeirando frases e ilustrações repetidas. A obra aqui encetada será de alto valor par ao trabalho evangelístico. É leitura para todos, recomendável pelo extraordinário poder de persuasão do evangelista que, aos 80 anos de idade, ainda percorre o mundo para transmitir suas experiências pessoais em Cristo. Rev. Duncan Alexander Reily, Ex-Secretário Geral de Missões da Igreja Metodista

CAPÍTULO PRIMEIRO

AS DISCIPLINAS DA VIDA CRISTÃ

“Através da disciplina consegue-se a liberdade”. Há duas formas de disciplinar. Uma delas é a da imposição, isto é, ditar a

ordem social e depois fazer com que seja cumprida à força. Esse é o método totalitário. Não podemos aceitá-lo porque é artificial, não brota do íntimo do ser.

O segundo método é disciplinar o interior, fazendo com que a disciplina evolua

de dentro para fora. Esse é o método que de fato nos torna livres. Não podemos ser livres fazendo o que bem entendemos, mas sim fazendo o

que devemos. Somos livres para realizar muita coisa na vida, mas estamos condicionados a

determinadas leis. É o caso do avião, que podemos manter no ar desde que obedeçamos aos princípios da aerodinâmica, do trem que deve ser mantido em cima dos trilhos para correr livre e de inúmeros outros engenhos mecânicos que obedecem a determinadas leis para funcionarem certo.

Durante uma de minhas viagens aéreas, o piloto perguntou-se se eu gostaria

de dirigir um pouco o avião. Disse-lhe que sim, que gostaria de tentar. Então ele mandou que eu sentasse em seu lugar e tomasse os controles, obedecendo rigorosamente ao que me mandaria fazer. Descobri, nessa experiência, que para manter a estabilidade do aparelho, é preciso coordenar bem os controles que obedecem matematicamente as manobras do comandante. Havia, à minha frente, no painel, um mostrador com quatro linhas paralelas, duas fixas e duas móveis, que deveriam ser mantidas uma em cima da outra, formando somente duas paralelas, para que o avião se mantivesse no seu nível.

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Durante uns 10 minutos pilotei aquela aeronave, mas atrás de mim havia dois

instrutores ensinando-me a proceder corretamente. Obedecendo-os, pude dirigir perfeitamente.

Mas, supondo que resolvesse fazer o que bem entendesse, abandonando as

leis, argumentando que desejaria liberdade de ação, fatalmente projetaria o avião ao solo e todos pereceriam.

Mas eu descobri a liberdade através das leis e se, naquele instante, as tivesse

desobedecido, teria me destruído e a todos os meus companheiros de viagem. É assim que precisamos descobrir a liberdade, tomando-a e colocando-a dentro de nós.

A Disciplina da Rendição Pessoal

Temos que ser disciplinados e a maior disciplina é a da rendição pessoal a

Jesus Cristo, colocando-o dentro de nós mesmos e seguindo pela vida, deixando que Ele norteie as nossas ações.

Certa senhora disse-me uma vez que havia descoberto esse segredo. Isso

não foi novidade para mim, pois há muitos anos atrás eu havia descoberto a mesma coisa. Naquela oportunidade, verifiquei que a base do problema da rendição pessoal está no ego. Para nos entregarmos a Cristo e deixar que Ele nos discipline, temos que curar a doença do ego afastado de Deus. Isto é fundamental.

A psiquiatria diz que a natureza humana tem três necessidades básicas: A primeira é a necessidade de pertencer. A segunda é a necessidade de ter significado. A terceira é a necessidade de ter segurança. É voz corrente que a maior necessidade do homem é a liberdade pessoal. Não

creio nisso, embora creia na liberdade com toda a força do meu coração. Tenho paixão pela liberdade, mas acho que a primeira necessidade da vida humana é a escravidão, isto é, a necessidade de render-se a alguma coisa além do ego. Em Romanos 1:6, lemos que somos chamados para pertencer a Cristo. Qual é o fim da nossa vocação? Alguns diriam que é chegar ao céu, outros que é fazer o bem e sermos bons. Creio que esses pontos de vista não estão certos, pois o primeiro chamado que recebemos é para pertencermos a alguém que introduza em nós a disciplina da liberdade, alguém que dê sentido e norteie a nossa vida.

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Quando deixamos de pertencer ao ego para pertencermos a Cristo, tornamo-nos livres, e o sermos bons e fazermos o bem serão conseqüências da nossa rendição.

A primeira necessidade, portanto, é pertencermos, rendermo-nos. Muita gente

quando ouve a palavra disciplina aperta as mãos, cerra os dentes e diz: "Bem, vou tentar com maior vontade", pensando que a disciplina significa estimular a vontade, mas isso, ao contrário, só cria dificuldades.

Fui apresentado um dia a uma senhora que era "uma cristã lutadora", quer

dizer, uma cristã que lutava para ser boa pessoa. Ela era alguém terrivelmente embaraçada na tentativa de disciplinar-se acerca do seu ego que ainda não havia se entregue a Cristo, não se rendera integralmente. Disse-lhe, então, que a primeira disciplina é a pessoal, ao redor da qual será possível disciplinar toda a vida, sem lutas, sem tensões, sem ânsias, porque já pertencemos a Cristo, e por isso essa disciplina é mais fácil.

Há anos, no Congo, em conversa com um médico, fiquei sabendo que noventa

por cento dos missionários que vão para aquele país voltam para os seus lares derrotados, não por doenças físicas ou por falta de aclimatação, mas porque sofrem emocional e espiritualmente, desenvolvem esse sofrimento e depois não têm mais condições para prosseguirem na obra, fracassando integralmente.

Entrevistei nessa mesma oportunidade uma das missionárias que lá estavam e

perguntei o que se passava com ela. Com franqueza aquela obreira me declarou: "Há em mim uma pessoa que deseja ser missionária e outra que não deseja. A primeira acha que se eu não for missionária estarei perdida". Disse-lhe, então, que a melhor maneira de proceder seria fazer com que as duas pessoas dentro de si se rendessem a Cristo, para se harmonizarem e resolverem seu problema sobre a carreira missionária.

Muitos têm medo de se renderem a Cristo e abandonarem a única coisa que

lhes pertence: o ego. Aconselhei uma senhora cheia de problemas a render-se a Cristo. Ela olhou-

me espantada e disse-me: "Mas se eu fizesse isso estaria realmente sob controle absoluto de Deus". No seu entender Deus estava à procura de uma oportunidade para fazê-la sofrer. Ela mesma estava dominada pela miséria do pecado através de sua vontade. Deus não quer para nós senão o nosso bem, de modo que quando a Ele nos rendemos entregamo-nos ao amor absoluto, que planeja o melhor e mais elevado para nossas vidas, disciplinando-nos. Não somos salvos pela disciplina, mas pela graça de Deus. Não é possível mantermos a salvação sem nos tornarmos disciplinados.

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Orientação Positiva

Muitas pessoas têm atitudes negativas e invariavelmente dizem: "não posso". Perguntaram-me, certa vez, qual era o segredo de minha vida. Respondi que

não tenho segredo, mas três coisas faço: oro constantemente, procuro encher a minha vida com trabalho construtivo e estou sempre pronto a aprender o que não sei. Isto me faz retornar, sempre, aos recursos divinos, e significa que preciso ter capacidade de buscar este recurso. Sempre uso um versículo para iniciar minhas palestras. "Não me escolhestes vós a Mim, mas Eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que produzais frutos, e o vosso fruto permaneça a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vos conceda" (João 15:16). É por isso que quando me levanto para falar, peço ao grupo para orar em silêncio, enquanto relembro ao Pai o meu versículo. Digo-lhe: "Deus, tu me escolheste, tu me puseste nesta dificuldade, agora me ajuda". Isto é positivo. Aquilo em que pões atenção é que te envolverá.

Um discípulo perguntou ao seu Mestre: "Qual o conceito da verdade?" O

Mestre respondeu: "Sim". O discípulo repetiu a pergunta; o Mestre disse "Sim". Novamente o discípulo tornou a indagar. O Mestre replicou: "Não sou surdo... Sim". Esta é a essência da verdade. Em Jesus ressoa o divino SIM. Nós temos que dizer SIM a Deus e à vida, depois podemos fazer qualquer coisa. Três Hábitos de Jesus

Jesus tinha três hábitos simples: 1 - A leitura da Palavra de Deus 2 - A oração 3 - A evangelização.

A Disciplina da Leitura Bíblica

Cada dia, antes de iniciarmos nossas atividades, devemos ouvir a Deus

através de Sua Palavra. Se sairmos de casa sem levarmos os nossos pensamentos nos pensamentos de Jesus, seremos capazes de fazer coisas erradas. Porque Jesus descobre a natureza da realidade, de modo que em cada manhã devo levar meu pensamento nessa realidade completa de Jesus. Se começarmos o dia de outra maneira, estamos começando errado.

Tenho notado em muitos pastores e leigos, durante cultos devocionais, o

hábito de mencionarem trechos do Velho Testamento.

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Sou grato ao Velho Testamento. Ele representa o grande período de preparação para o cristianismo, mas não é o cristianismo. Cristianismo é Cristo, e Cristo é a revelação final e absoluta de Deus. Ao Velho Testamento dispenso também atenção, mas o Novo Testamento é onde me fixo mais nitidamente. Não devemos nos restringir ao período de preparação do cristianismo, pois corremos o perigo de nos tornarmos cristãos do Velho Testamento. Foi isso que parece ter acontecido ao General Chiang Kay-Check. Perguntei à sua esposa se ele era um cristão verdadeiro. Respondeu-me que sim e que sua orientação vinha da leitura da Bíblia e da oração, mas lembrou que ele era somente uma criança, um nenê em Cristo. Na sua leitura diária, entretanto, fixava-se no livro de Salmos, pensando em que mataria seus inimigos e se vingaria. Ele deveria ter progredido na sua leitura e chegar ao Novo Testamento. Muitos de nós nos tornamos cristãos e não crescemos porque não buscamos a presença de Jesus. A Disciplina da Oração

Já descobri que sou melhor ou pior à medida que oro, mais ou menos. Quando

oro sou igual a uma lâmpada colocada no lugar, fico pleno de luz, pleno de poder. Mas quando não oro fico igual à mesma lâmpada, colocada fora do seu lugar, sem luz, sem poder. O tempo para orar deve ser separado para isso. Se assim não fizermos, não disciplinamos o nosso tempo, encontrando sempre dificuldades para tão vital prática cristã, pois as nossas ocupações acabarão sempre nos absorvendo. A Disciplina da Evangelização Pessoal

O terceiro hábito que Jesus cultivou foi o da evangelização. A disciplina de ganhar outros para Cristo, isto é, passar aos outros aquilo que

descobrimos para nós. É maravilhoso sermos alcançados pela arte de ganhar o próximo para Cristo.

A Disciplina do Silêncio

O silêncio é importante para nossa vida física e espiritual e, nas horas

devocionais, ele é primordial. Estranhei que num ASHRAM de que participei há tempos com vários pastores,

o grupo costumava ir de manhã para a capela mantendo animada conversação, prejudicando o silêncio. Trocavam, assim, a quietude indispensável para se ouvir a voz de Deus, pela conversa uns com os outros. Parece que todos sentiam necessidade de falar, chegando alguém a dizer que poderia passar sem comer ou beber, mas não sem falar: "Não posso passar sem uma prosa". Perde-se, assim, a oportunidade de se desfrutar do silêncio que propicia ouvir a voz de Deus. Disse um sábio: "Mantém-te em silêncio por um dia e falarás com

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sabedoria para sempre". O cristão precisa do silêncio e deve disciplinar-se na sua prática.

A Disciplina do Tempo

Já completei 84 anos de idade e em toda a minha vida tenho sido muito

parcimonioso no uso do tempo. Não mantenho conversações sem sentido, nem faço "passar o tempo". Já perguntaram como consegui escrever 23 livros quando faço de duas a cinco conferências por dia. Isto é simples de explicar: disciplinei o meu tempo.

A Disciplina da Pontualidade

Já vi muitas vezes, em paredes, a seguinte frase: "Seja pontual". Mas nunca vi

tanta falta de pontualidade. Hospedei-me, certa ocasião, em casa do presidente de um Seminário Teológico, o qual me deu um cumprimento que tenho tentado fazer por merecer. Ele me disse: "O senhor é a pessoa mais disciplinada que eu conheço; não desperdiça nenhum momento de seu tempo, também não desperdiça nenhuma palavra". Não tomei isso como um elogio, mas como ideal porque isso é o que quero fazer. Disciplinar o tempo faz parte da vida cristã.

CAPÍTULO SEGUNDO

"E O VERBO SE FEZ CARNE"

Quero vos falar hoje a respeito do que é para mim o versículo mais

importante da Bíblia. Talvez eu sinta assim porque estou escrevendo um livro sobre o assunto. Vai ser publicado nos Estados Unidos e leva o titulo "E O VERBO SE FEZ CARNE". Se eu tivesse que escolher o versículo mais importante das Escrituras, apontaria este que dá o título ao meu livro, porque é o que distingue a fé cristã das demais.

Quando fui trabalhar na Índia encontrei essa atitude por parte do povo: tudo o

que havia de bom na Bíblia se encontrava em seus livros sagrados. A Índia tem passado por três fases quanto à fé cristã. A primeira foi: "O cristianismo não é a verdade". Não puderam provar isso, então mudaram de opinião e chegaram a uma segunda fase: "O cristianismo não é uma coisa nova". A terceira fase é a atual: "O cristianismo não é vivido pelos cristãos". A maior parte de minha vida na Índia, passei-a quando vigorava a segunda fase. Tudo o que dizia para eles, encontravam um paralelo. Pegavam de seus livros sagrados e liam para mim algo semelhante.

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Na América do Norte fui entrevistado em um programa de televisão por uma senhora israelita. Ela me perguntou: "Por que o Senhor anda percorrendo o mundo para pregar? O que o senhor tem que os outros não têm?" Respondi-lhe com uma única palavra: "Cristo. Eu tenho Cristo". Esta é a única coisa diferente que temos dos demais. Sadhu Sundar Singh foi um grande místico da Índia. Entrevistado por um europeu que se havia convertido ao Hinduísmo, este lhe perguntou: "O que você encontrou na sua nova fé que não havia encontrado na velha?" O Sadhu respondeu: "Cristo". "Sim", disse o europeu, "mas eu quero saber o que encontrou que nunca viu antes". A resposta veio rápida: "Esta coisa especifica é Cristo". Ele estava absolutamente certo. Mas o que é esta coisa única nesta pessoa única? É "O VERBO SE FEZ CARNE". Todas as demais religiões eram a palavra tornando-se palavra, uma filosofia, um moralismo. Quando cheguei à Índia há 56 anos atrás encontrei esta situação de norte a sul.

Encontrava-me na cabine de um trem, na Índia, com um cavalheiro

maometano. Pensei comigo mesmo: "sou um missionário e devo começar a trabalhar". Li, então, para ele o Sermão do Monte. Quando terminei a leitura ele me disse: "É muito lindo, mas temos isto nos nossos livros sagrados". E quando apontei o versículo que diz: "quando te baterem na face direita, oferece também a outra", simplesmente respondeu: "temos isto também nos nossos livros sagrados" e citou uma afirmação tirada de seus livros: "Sê como o sândalo que perfuma o machado que o fere". "Então isto não é amar os inimigos?" "Sim", confessei". Então falei de Cristo oferecendo-se em sacrifício por nós. "Temos a mesma coisa", disse, "os Vedas dizem que Projapti, o Senhor das criaturas, deu-se a si mesmo em sacrifício. Não é Deus oferecendo-se por nós?" Tive de confessar que era. Então falei sobre Deus levando sobre si nossos pecados . Ele respondeu : "Temos isto também. Shiva do Pescoço Azul é assim chamada porque bebeu veneno para fazer sacrifício pelos nossos pecados, para que nós provássemos a ambrosia. O veneno parou em seu pescoço, tornando-o azul. Não é Deus tomando sobre si os nossos pecados?". "Sim", tive que responder. E assim por diante, tudo que eu falava, ele encontrava um paralelo. Então o que era novo?

Permaneci contra a parede durante vários anos até que percebi num relance

o que era novo. E quando tive esta nova concepção, vi um mundo novo. Quando eles me falavam de todas essas passagens paralelas, via que se tratava de palavras transformadas em palavras. Mas quando Jesus, na cruz, disse: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem", isto não era palavra tornando-se palavra, mas palavra tornando-se carne. Quando eles diziam que seu Deus se deu por eles, era mera lenda, sem qualquer referência histórica. E quando falavam de Shiva, que tomou veneno, era outra lenda, não era um fato. Não havia nenhuma prova de que ele tivesse algum dia bebido aquele veneno. Mas quando Cristo se deu na cruz, era um fato histórico, era a palavra do sacrifício, fazendo-se carne. Ele bebeu o veneno dos nossos pecados para que tivéssemos a ambrosia da vida eterna. Então eu vi a diferença entre o cristianismo e as demais religiões. Todas as outras eram meras palavras que se faziam palavras. Mas Cristo é o Verbo que se fez carne. Esta é a diferença essencial, fundamental.

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Todas as grandes filosofias do mundo estavam completas antes da vinda de

Cristo ao mundo. As grandes nações filosóficas do mundo, Grécia, China e Índia, já haviam completado suas filosofias. Além destas filosofias assentadas o mundo não vai mais adiante. Religião é a busca do homem a Deus, por isso há muitas religiões. Mas o Evangelho é Deus buscando o homem, por isto mesmo há somente um Evangelho.

Ouvi o Dr. Hocking falando na Conferência de Jerusalém. Ele disse que o

homem se conduz tão longe quanto possível pelos seus próprios esforços. Aí descobre a insuficiência de seus recursos para alcançar a perfeição e algo de fora terá que completá-lo. Neste instante eu segurei a minha respiração, esperando que ele dissesse a palavra que completaria o pensamento. Mas o orador não a disse. Perguntei-lhe, depois, porque não a completou. Respondeu-me: "Eu não posso dizer isto porque sou um filósofo, mas o senhor que é religioso, pode". Então lhe disse que não poderia consentir em ver que ele sabia, mas deixava de dizer. Gostaria que a filosofia e a religião se unissem para proclamar a verdade. Mais tarde, falei sobre isto ao seu filho, professor e filósofo também, na Universidade de Emory. Ele disse-me: "Vou contar-lhe outra história interessante sobre meu pai. Alguém lhe perguntou qual o versículo mais precioso das Escrituras. Certamente o senhor pensará que, como filósofo, ele respondeu: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". Mas não deu esta resposta. Ele citou o versículo : "Eis que estou à porta e bato, se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e permanecerei com ele". Aqui estava a pessoa falando, não o filósofo. Nesta situação era a pessoa que desejava o contato com Deus.

Disse um filósofo chinês que a palavra que pode ser proferida não é divina.

Isto é verdade. Mas a palavra divina pode ser mostrada. Cristo é a palavra divina apresentada em nós. É muito importante saber como Deus é porque o que Ele é em caráter, é o que devemos ser. Pergunto: Como posso ser como Deus se sou limitado por minha carne e ele é um espírito infinito? Deus na natureza se manifesta como lei, mas isto não me satisfaz, porque a natureza não pode mostrar que Deus me ama, e eu não sou um súdito buscando a lei, sou um filho buscando o Pai. Quero saber se Ele me ama.

Deus se revela pelos profetas e nos seus ensinamentos. Mas isto também

não me satisfaz plenamente, porque o profeta é imperfeito, e o que vem por meio do imperfeito fica imperfeito. Se Deus mandasse um livro escrito, dos céus, nós o leríamos com nossas limitações e imperfeições, dando de nossas mais altas experiências, que não são as mais altas. Deus é pessoal. Uma personalidade tem inteligência, vontade, sentimento, consciência de si mesmo.

Como o Deus pessoal e infinito pode se revelar a nós? A vida divina tem de

vir até nós. Conteúdo divino de uma ilustração divina. Isto aconteceu com Jesus. Palavra Amor tornando-se carne; palavra Pureza, tornando-se carne; palavra Luz, tornando-se carne. Nós compreendemos agora, pela iluminação desta vida que

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se expressa plenamente. Os discípulos pediram: "Mostra-nos o Pai". E Jesus responde mansamente: "Quem me vê a Mim vê ao Pai". E meu coração quase para de bater quando penso: "Será Deus igual a Jesus? É Deus simplificado? Um Deus de quem podemos nos aproximar? Quando penso em Deus vejo Jesus - sim, de todo o meu coração. Eu creio que Deus é um Deus como Cristo. E, quando eu me aposso de Cristo, me aposso de Deus em pessoa. Ele é um mediador no sentido de que me dá a Deus. Ele é Deus compreensível. Uma professora da Escola Dominical perguntou aos meninos quem era Jesus. Um deles respondeu: Jesus é o melhor retrato de Deus. Em Hebreus encontramos: ”Ele é a expressão da imagem de Deus" .

Não creio que a Bíblia seja a revelação de Deus. Se fosse, seria a Palavra

transformada em tinta de tipografia. Mas creio na Bíblia como registro inspirado da revelação. A revelação somente se vê na face de Jesus Cristo. "O verbo se fez carne".

Dos Evangelhos surge o Evangelho. Jesus, Ele mesmo, é o Evangelho. Ele

não veio trazer as boas novas. Ele é as boas novas. O Evangelho está na sua pessoa. Todas as idéias da fé cristã são garantidas pelo fato Jesus. Incorporaram-se na pessoa de Cristo, construindo o mais belo caráter que já houve sobre a face do nosso planeta. Idéias segundo Jorge Elliott, são fantasmas, enquanto não se encarnam em pessoas. Quando elas se encarnam, então, olham com olhar terno e nos sacodem como uma paixão. Na Índia a idéia de liberdade era um fantasma até que surgiu um homenzinho, Gandhi, que a encarnou. Encarnada em Gandhi, a palavra liberdade tomou sentido e constituiu-se no maior valor do povo hindu. A palavra democracia era um fantasma na América, até que surgiu Lincoln e sacudiu o povo com sua paixão, dando conteúdo à palavra democracia.

O que tem isto com nossa pregação? Isto muda completamente a nossa

atitude. Temos pensado que pregar é transformar em palavras. Mas agora percebemos que a palavra tem que primeiramente se tornar carne no pregador, precisa ser experiência dele. Temos de, não somente proclamá-la, mas encarná-la. As Escrituras são consideradas promessas, mas não são promessas, porque todas as suas promessas foram cumpridas em Jesus.

Quando Ele anuncia uma promessa esta já é um fato consumado. Ele disse:

"No mundo tereis tribulações... mas eu venci o mundo". Isto significa que Ele já venceu o mundo e não temos que pensar mais sobre a possibilidade de Jesus vencer o mundo. Ele já o venceu. Se nos identificarmos com Ele, somos também vencedores. E quando o pecado vem a nós, mandamo-lo baixar a cabeça para ver o que tem atrás; então vemos na sua nuca a marca de Cristo que o dominou.

Ele conquistou todos os pecados e não temos que conquistá-los. Já os

conquistamos nas suas conquistas. Tudo o que temos de fazer é identificarmo-nos com Ele. Temos de fazer uma só coisa, identificarmo-nos com Cristo. E

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quando estamos identificados com Cristo, nEle temos a vitória. Então proclamamos um fato e não uma profecia, então somos testemunhas e não pregadores.

Aprendi isso no início de meu ministério. Era estudante de direito e resolvi

atender ao chamado de Deus. Fui ao meu pastor e disse que seria um pregador. Ele, então, marcou o domingo para eu pregar. Seria meu primeiro sermão. Preparei-me muito para fazê-lo bem. Como estudante de direito pensava que deveria reunir todos os argumentos para a defesa de Cristo. Seria um advogado de defesa no púlpito. No domingo a Igreja estava repleta, porque a família Jones é grande, e todos os Jones estavam lá para ouvir-me. Ao subir para o púlpito todos os argumentos que preparara desapareceram de minha mente e fiquei vazio. Então só pude dizer: Esqueci o sermão. E desci do púlpito. Ao chegar ao banco senti na minha humilhação que Deus me dizia: “Tens uma experiência, por que não dá testemunho dela?” Levantei-me e então falei, não como advogado de Cristo, mas como testemunha de Cristo, testemunhando o que Ele era para mim. Foi nessa ocasião que um jovem levantou-se e me disse: "Suas palavras são um chamado para mim. Também serei pastor". E ele tornou-se pastor, e uma sua filha foi missionária na África. Não sei o que este moço viu em minhas palavras, mas compreendi que não fui chamado para ser advogado de Deus.

Isto seria palavra transformada em palavra; fui chamado para ser testemunha

em minha vida. Desde então tenho testemunhado diante de grandes e pequenos, transformando a minha experiência em carne. Se o que apresentamos é o verbo feito carne, temos que apresentar o verbo feito carne em nós. Temos que pregar o que tem operado em nós. Precisamos nos tornar palavra feita carne. Não procurar a resposta, mas ser a resposta.

CAPÍTULO TERCEIRO

CUIDADO COM AS REAÇÕES

"Se teu irmão pecar contra ti... perdoa-lhe" (Lucas 17:3). Jesus disse isto num instante muito particular: "Se teu irmão pecar contra ti", porque a reação que tiveres neste instante pode permanecer para toda a vida. Estava Jesus chamando a atenção para a necessidade de reações corretas. Muitos são convertidos em suas ações, mas não são convertidos nas suas reações. Muitos têm reações corretas: não mentem, não roubam, não cometem adultério. Por todos os códigos são morais. Mas reagem mal diante do que lhes acontece... As reações os levam para a amargura e o ódio. E sempre temos boas explicações para nossas reações: "Vejam o que me fizeram", "vejam o que a vida me fez".

O irmão mais moço da parábola do Filho Pródigo pecou por suas ações. O

pecado foi tão fraco que ele caiu em si e retornou à casa do pai, foi perdoado e

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todos se regozijaram. O irmão mais velho voltou do campo e chamou um servo perguntando o que havia em casa, pois se preparava uma festa. A resposta foi: "o teu irmão voltou". Foi então que ele se zangou. O pai repreende-o. Sua reação foi: "Todos estes anos te servi..." Reagiu em direção da justificação de si mesmo, autocomiseração. Usou a expressão: "este teu filho" (não "meu irmão"), demonstrando ressentimento e inveja. O irmão mais moço pecou nas ações, este nas reações. E quando a cortina desce sobre este drama, nós encontramos o filho mais moço dentro da casa do pai e o mais velho, fora. As reações erradas nos deixam fora da casa do Pai. Assim elas nos devastam.

Algum tempo atrás falei com uma senhora em um sanatório. Pessoa culta

formada em biblioteconomia, que reagira erradamente a respeito do casamento de sua irmã. Antes de sua irmã se casar as duas viviam juntas. Ela me disse: "Como é que minha irmã teve coragem de se casar e me deixar sozinha?" E, assim, se encontrava no sanatório por causa do casamento da irmã. Se tivesse reagido normalmente, aceitando o casamento da irmã, seria uma mulher feliz, mas a reação errada com respeito a um fato simples, devastou a sua vida. Dez anos mais tarde encontrei-a. Continuava derrotada. Perguntou-me: "Como posso reconquistar o amor de minha irmã?" Respondi-lhe: "Não pode reconquistar aqui num canto, chorando. Deveria reagir casando-se também. Se tivesse aceitado naturalmente o casamento de sua irmã, acompanhando-a, teria compartilhado de sua felicidade”.

Há alguns anos atrás assisti ao julgamento de um professor, num seminário na

África do Sul. Ele foi condenado e eliminado do seminário, acusado de heresia. Morreu um ano depois, com o coração quebrantado. O homem que provocou este julgamento, anos mais tarde, confessou: "Provoquei o processo de heresia contra o professor, porque ele me reprovou num exame". Assim quebrou o coração de um homem e o matou. Mas também destruiu sua própria vida. Se reagisse normalmente diria: fui reprovado, voltarei a estudar e tentarei novo exame. Porque não reagiu bem, sua vida foi dirigida por esta força má.

É preciso cuidado quando um irmão peca contra nós. Que devemos fazer?

Jesus nos ensinou: "Se teu irmão pecar contra ti sete vezes durante o dia, perdoa-o". A resposta será o perdão ilimitado. "Mas, todo o mundo não se aproveitará de nós? Não seremos vítimas?" Isto não é fracasso, mas poder. Um hindu me perguntou porque Jesus ao ser batido, não revidou imediatamente. Jesus não tinha direito legal de assim proceder? Sim, mas se o fizesse não falaria a respeito dele, porque seria igual a mim, e eu não poderia olhar para Ele. Nós estamos aos pés daquele homem que poderia devolver o golpe, mas não o fez.

A virtude central do cristianismo é o poder do perdão. Há três níveis na vida. O nível mais baixo é o nível demoníaco, onde

devolvemos o bem com o mal e o amor com o ódio. Acima deste temos o nível legal: nele devolvemos o bem com o bem, o mal com o mal. Além deste está o

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nível cristão, onde devolvemos o mal com o bem, o ódio com o amor. Quais destes níveis é o de poder? Tenho certeza que os dois primeiros são de fraqueza, mas o nível mais alto é o cristão.

Há um homem nas Escrituras com quem eu gostaria de me encontrar nos

céus. Fez uma única coisa e desapareceu do cenário. Mas, fora daquilo que Jesus fez, seu ato foi a coisa mais importante. Quando Paulo chegou a Damasco, cego, Jesus disse a Ananias: "Vai à rua direita..." Ananias empalideceu dizendo: "Não posso fazer isto, Saulo quer nos matar". Ananias tremeu, mas tremeu corajosamente e fez o maravilhoso: pôs as mãos na cabeça de Saulo e disse: "Irmão Paulo". Paulo tremeu: "Vim para matar e eles me amam? Que tipo de gente é esta?” Lembremos da expressão de Estevão: "Perdoa-lhes..."

Creio que Paulo se converteu não na Estrada de Damasco. Ali ficou cego, mas

não convertido. Converteu-se quando viu o perdão divino através do perdão humano. Este perdão exercido por Ananias abre a porta para o maior homem que o Cristianismo teve. Isto é fraqueza ou poder? É somente poder.

Devemos dar amor e somente amor, porque somos levados pelas qualidades

que damos aos outros. Quando damos amor, somos mais amorosos; quando damos ódio e crítica, teremos mais ódio e mais crítica. Mas alguém dirá: "Suponhamos que não aceitem amor. Que fazer?" Dê mais, despeje amor.

Conheci um pastor, que derramava amor ao seu derredor. Um dia foi preso por

estar infringindo a lei da pregação ao ar livre, e um guarda o levava para a delegacia de polícia. Então ele pôs o seu braço no braço do guarda e disse-lhe: "Se tu me amas como eu te amo, nós teremos um tempinho feliz juntos". O guarda o abandonou após meio quarteirão. Ele o prendeu pela audácia de seu amor. Um Bispo do Sul dos Estados Unidos disse-me: “Uma das palavras de teu livro me livrou de uma suave blasfêmia episcopal que costumava ter quando saia à noite, de carro. Quando vinha um auto em direção contrária com as luzes fortemente acesas, eu abaixava as luzes do meu carro, esperando que o outro o fizesse também, mas se não baixava, então levantava a luz para que ele visse o que acontece quando não se baixa a luz. Mas li em um dos seus artigos que não devemos permitir que outro homem determine a nossa conduta. Assim não teríamos caráter. Devemos sempre agir pelos nossos princípios. Agora quando me aproximo de outro carro eu sempre baixo as luzes”.

Mas direis: Não sei perdoar. Então ore: “Perdoa-me como perdôo". Mas se

perdoar e não esquecer, ore novamente. Se dizeis: "Perdôo mas não quero mais nada com ele”, ore novamente. Deus não perdoa desta maneira.

Um banqueiro contou-nos esta história: "Ouvi uma conversa entre o Caixa de

um Banco e um cliente que revelava que havia algo errado entre ele e sua esposa. Então chamei o cliente e disse-lhe: Ouvi que há algo errado entre sua esposa e o senhor. Aconselho-o a orar com sua esposa o Pai Nosso,

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enfatizando: "perdoa-nos assim como perdoamos". O homem respondeu-me : "O senhor acha que minha mulher vai orar o Pai Nosso? Ela praguejará". No dia seguinte a esposa deste senhor apareceu no Banco. Chamei-a ao meu escritório e disse-lhe que sabia que havia algo errado entre ela e seu esposo e aconselhei-a a orar o Pai Nosso junto com o seu marido, enfatizando a expressão: "Perdoa-nos como perdoamos". Ela me respondeu : "O meu marido orando o Pai Nosso? Ele dirá uma praga". Por 6 meses não voltaram ao Banco. Um dia ela veio e me procurou para dizer: "Eu deveria ter voltado aqui, mas quero lhe contar o que nos aconteceu. Nós realmente oramos juntos o Pai Nosso e quando pedimos perdão a Deus também pedimos perdão um ao outro. Assim, perdoamos e fomos perdoados. Ele faleceu recentemente, após seis meses de paz, alegria e felicidade entre nós. Vim para lhe agradecer o que o senhor fez por nós".

Uma senhora apareceu no nosso Ashram. Ela e o marido estavam brigados

porque ela queria que o marido preparasse o café da manhã, enquanto ela permanecia na cama. Ela insistia nesse direito, ou melhor, ela estava deitada sobre ele. No Ashram ela foi convertida. Perguntou-nos: "O que devo fazer ao chegar em casa?" Volte e diga ao seu marido que a senhora foi a causa de tudo. "Mas não posso fazer isto". Mas é justamente aí é que está a solução. Vamos orar. Ela foi para casa e no primeiro dia levantou-se cedo e preparou o café para seu marido. Ele se admirou, mas fez uma observação irônica: "Senhora nobre e altiva, que aprendeu no Ashram?" Ela respondeu: "Aprendi que eu fui a causa de todas as nossas dificuldades". Então ela se ajoelhou e pediu-lhe perdão. Ele ajoelhou-se também ao seu lado e disse: "Não és tu a causa de tudo isto, mas sim eu". Eles se reconciliaram entre si e com Deus. Hoje andam juntos, ganhando outros para Cristo.

Uma senhora recebeu um telegrama do México no qual seu marido dizia:

"Divorciado no México e casado no México". Foi um golpe terrível. O telegrama dizia, ainda, que ele se casara com uma mulher japonesa. Um dia ela recebeu uma carta de Okinawa, ilha japonesa, escrita por seu marido, que dizia estar ele tuberculoso e que tinha duas filhas desta outra mulher. A senhora respondeu: "Fiquemos amigos, mande as crianças para eu educar com seus filhos". Assim, as duas meninas vieram para os Estados Unidos. Mais tarde recebeu notícia do falecimento de seu marido. Telegrafou, então, à mulher japonesa dizendo: "Venha à minha casa e eduque as suas filhas comigo". Quando foi ao aeroporto recebê-la ela orava: "Senhor, ajuda-me a amar esta mulher assim como daria as boas vindas ao meu marido Carlos. Hoje vivem juntas como uma família. Ela escreve: "Sou a mulher mais feliz neste quarteirão". E realmente é. Isto é perdão cristão.

Quando estive na Coréia ouvi esta história: Dois filhos de um pastor coreano

foram levados perante o tribunal comunista acusados de pregar o Evangelho. O irmão mais velho pregou veementemente à corte. Eles, zangados, o fuzilaram. Mas antes de morrer, orou "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem". O irmão mais moço depois se colocou diante da corte e disse: "Eu acredito

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integralmente naquilo que meu irmão acreditava", e lhes pregou o Evangelho. Eles disseram: "Você é pior que seu irmão". Vedaram os seus olhos e o puseram contra a mesma parede em que morrera seu irmão. Ele orou a mesma oração. Foi executado. Quando o pai soube, caminhou 45 milhas para chegar àquela cidade. Mas nesse tempo o governo mudou e ele compareceu noutro tribunal. Disse ao juiz. "Não processe o líder que executou meus filhos, eu me responsabilizo pela sua conduta e caráter". O juiz surpreendeu-se. E o pai tomou em sua casa o líder comunista para abrigá-lo. Muitos se converteram à Fé Cristã por jamais terem visto coisa igual. Mais tarde, os comunistas invadiram a região em que o pastor morava. Ele foi preso, mas na prisão cantava e pregava . Mandaram-no calar-se, ao que respondeu: "Meu coração está feliz e não pode calar" · O guarda bateu-lhe com a coronha do fuzil e machucou seu lábio. Ele escreveu num papel: "Não posso comer, minha comida fica para vocês, assim podem melhor servir à Coréia". Mas ele melhorou e recomeçou a cantar e a pregar através das grades. Uma noite os guardas vieram buscá-lo para ser executado. No caminho para a morte, este pastor confortava a todos os outros que também seriam fuzilados e dizia-lhes: "Vamos mostrar como sabemos morrer”. E havia cântico em seus lábios e cantavam quando chegaram ao monte da execução. Lá no cume foram todos mortos.

Dirão: ganhou a força, eles foram emudecidos pela morte. Mas suas almas

continuam marchando e em qualquer parte em que a fé e o heroísmo são respeitados, esta história será contada. A sua voz foi silenciada na morte e eu procurei ser a voz deles, por isto tenho contato essa história em toda a parte do mundo. Algumas pessoas nos Estados Unidos ouviram esta história e fizeram um drama teatral. Muitos estão se convertendo ao presenciarem esta peça. Assim, devemos ser muito cuidadosos pelas nossas ações. Precisamos ser convertidos em nossas ações e em nossas reações.

CAPÍTULO QUARTO

A ENTREGA DO "EU" A CRISTO

O "eu" é a única coisa que realmente possuímos; a única coisa que realmente levaremos conosco quando deixarmos este mundo. Não levaremos propriedades ou contas dos bancos, somente o nosso "eu ".

O que acontece com o nosso "eu" na fé cristã? Em um dos nossos Ashrans,

alguém testemunhou na "Hora dos Corações Abertos": "Pensava que o meu ´eu´ era coisa que deveria conservar, mas acabei convencido de que ele é um câncer e deve ser extirpado". Assim, estava ele, antes do Ashram diante de um dilema: seu "eu" era algo para ser cultivado ou um câncer para ser eliminado? Sua

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dúvida, que foi dissipada, tem sido também a de muitos e muitos homens e mulheres.

Antes de vermos a resposta cristã, vejamos o que pensam outras religiões. As religiões que nasceram na Índia são as que estão cansadas do mundo e da

personalidade. Dizem que o mundo em torno de nós é uma ilusão da qual devemos nos livrar, e sentem que a personalidade é um fardo. Então esforçam-se por alcançar o limite da personalidade e atingirem o impessoal. Por isso, para elas, a mais alta concepção de Deus é Brama, que é um ser impessoal. Então os hindus sentam-se e se entregam à meditação procurando alcançar o Brama, e se perdem nessa imensa impessoalidade.

Assim como a gota d´água se perde no oceano, a pessoa se perde nessa

imensidade que é o impessoal, e isto a livra do peso da personalidade. Buda sentou-se por largo tempo para meditar a respeito do sofrimento e da dor

e chegou à conclusão de que existência e sofrimento são a mesma coisa. Enquanto estamos existindo estamos sofrendo, por isso a única maneira de sair do sofrimento é desertar da vida, e a maneira de se livrar da existência é deixar de agir, porque a ação é que faz a roda da vida continuar a girar. A única maneira de deixar de agir é não ter sentimentos. Cortemos as raízes dos desejos, mesmo para a vida e ela torna-se estática. Assim, os seguidores das religiões hindus preparam-se para a completa inatividade: o Nirvana.

Perguntei a um budista, no Ceilão, se no Nirvana havia alguma vida. Ele me

respondeu: "Como pode haver se não há sofrimento?". Buda quis resolver os problemas da vida abandonando a vida. É o mesmo que

nos mandar ficar livres da dor de cabeça cortando a cabeça. É preço muito alto para se pagar.

Existe também outro grupo de indianos que dá a sua devoção a um deus

pessoal. Um dos devotos dessa seita veio a um dos nossos Ashrans. Ele havia se dedicado a Rama, um dos seus deuses. Perguntei-lhe: De onde o senhor vem? Respondeu-me: "De Ram-Ram". Para onde vai? "Para Ram-Ram". Qual o seu desejo? "Ram-Ram". Ele havia se entregue para não dizer nada senão o nome do seu deus. A sua personalidade desaparecera e ele desaparecera submerso na vida desse deus.

Quando deixamos de considerar as filosofias da Índia e nos voltamos para a

psicologia moderna, encontramos o reverso das atitudes acima descritas. A psicologia moderna tem 3 afirmações a respeito da verdade :

1 - Conhece-te a ti mesmo 2 - Aceita-te a ti mesmo

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3 - Expressa-te a ti mesmo.

Pelas mesmas razões porque respeito as filosofias hindu e budista sobre a personalidade, também tenho que respeitar a teoria da moderna psicologia. Todavia, desejo considerar os erros das 3 afirmações da psicologia. 1 - Conhece-te a ti mesmo.

Não podemos conhecer-nos estudando nossa personalidade separada de Deus. Temos que saber qual é a nossa relação com Deus. Neste caso, poderíamos conhecer-nos sabendo de nossas relações para com Deus, que somos filhos de Deus, que tentos um destino: sermos transformados à medida da estatura do Filho de Deus. Não podemos nos conhecer separados desse destino. Portanto, analisar-nos separados dessa relação é infrutífero. A psicanálise tem sido, comparativamente, muito infrutífera. Tem sido muito boa na análise e muito pobre na síntese. Ela pode separar-nos em pedacinhos, mas não sabe juntar-nos de novo. ] 2 - Aceita-te a ti mesmo.

Mas como podemos aceitar um ser inaceitável, cheio de problemas, misérias e

preocupações? Pedir a alguém que se aceite a si mesmo é pedir que aceite o que é inaceitável. 3 - Expressa-te a ti mesmo.

Mas se tomarmos uma dúzia de pessoas querendo expressar-se a si mesmas, o que teremos? Numa cidade dos Estados Unidos fiz esta pergunta durante uma reunião pensando que responderiam: estaremos preparando ambiente para conflitos e pânico. Tomemos qualquer grupo de pessoas com a finalidade de se expressar e teremos um ambiente de conflitos e problemas.

Então, o que está errado com essas três afirmações? É que há uma

necessidade fundamental. Isto é exatamente o que a fé cristã haveria de colocar no lugar destas afirmativas: "Submete-te a ti mesmo". A fé cristã demanda de nós a única coisa que possuímos. Jesus disse: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo", e também: "Se alguém quer ganhar a sua vida, perdê-la-á". Ele pede a única coisa que possuímos. Isto quer dizer então que o nosso "eu" desaparece? Algumas pessoas dizem que sim, e há mesmo um hino na Inglaterra que diz :

Tudo do eu e nada de ti - na l.a estrofe Algo do eu e algo de ti - na 2.a estrofe Nada do eu e tudo de ti - na 3.a estrofe.

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É uma poesia linda, mas nunca podemos chegar à posição em que não exista o eu. O eu é parte integrante de nossa personalidade e não pode de maneira alguma ser eliminado. Se o lançarmos porta a fora, voltará pela janela, talvez com vestes religiosas, mas será o mesmo eu. Não podemos nos livrar dele. Que podemos fazer? A resposta é : entregá-lo a Jesus, que nos limpa desse egoísmo natural e devolve o nosso eu, e quando somos mais de Cristo, somos mais de nós mesmos.

Entrega-te a Cristo e então não te entregarás a nenhuma outra coisa.

Obedece a Cristo e então terás um mundo livre. Nunca somos nós mesmos tanto quanto somos de Cristo.

Conhecemo-nos a nós mesmos sob um destino maravilhoso. O que se

encontra na passagem bíblica: "Mas todos nós com uma fé revelada, com cara descoberta, refletindo a glória de Deus, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor (2 Coríntios 3:18). Isto significa que somos transformados à imagem do que há de mais precioso e maravilhoso neste mundo. Este é o destino que nos faz erguer os ombros, que faz com que o nosso sangue corra com mais intensidade.

Não posso deter-me diante do meu eu. Tudo o que há em mim de ódio e

egoísmo desaparece. E não odiamos o nosso eu porque o nosso eu nos ama, e o que ele aceita podemos também aceitar. Agora podemos nos aceitar porque somos transformados em algo aceitável.

Estamos sob redenção, saímos do homem velho para o homem novo.

Portanto, podemos aceitar esse eu que está sob a redenção e ainda amá-lo. O cristianismo ensina o amor ao "eu": "Amarás ao teu próximo como a ti

mesmo". É tão mau odiarmos a nós mesmos como odiarmos os outros. Podemos nos amar porque nos amamos em Deus.

Desejo contar-lhes sobre um amigo meu que considero um santo e possui

aquilo que podemos chamar de humor divino. Diz ele: "Gosto de falar comigo mesmo, porque gosto de ouvir uma pessoa inteligente”. Se todos nós tivéssemos um "eu" como o dele, diríamos a mesma coisa. Não condeno as pessoas que não gostam de falar consigo mesmas, porque talvez o seu "eu" não esteja em condições de conversar, mas se pertencermos a Cristo, podemos gostar de nós mesmos.

Paulo disse: "Para mim o viver é Cristo". Ele sabia que quando estava se

expressando estava expressando Cristo. Nós também podemos expressar a nós mesmos quando expressamos a Cristo. A grande passagem das Escrituras, que diz tudo o que estou procurando dizer, é esta: "Seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro, tudo é vosso, e vós de Cristo e Cristo pertence a Deus" (1 Coríntios 2:22-23). É

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uma afirmação maravilhosa. Ele disse que se pertencemos a Cristo, tudo nos pertence. Todos os grandes mestres pertencem a nós, mas não pertencemos a eles, e sim a Cristo. Todo o mundo, a vida e a morte (todos os grandes acontecimentos), nos pertencem, porque pertencemos a Cristo. E Paulo acrescenta todo o tempo - o presente e o futuro - tudo nos pertence desde que pertençamos a Cristo.

Quando comecei a envelhecer, percebi que levantava mais cedo pela manhã.

A principio não gostei e perguntei a mim mesmo o que faria com aquelas horas vagas. Então resolvi ouvir a voz de Deus. “Nada pedirei, disse, mas o que Ele quer que eu faça, isso quero ouvir". Às vezes Ele me dizia coisas diferentes, mas certa manhã Ele me disse algo que eu nunca tinha ouvido: "Tu és meu e a vida é tua". Eu pedi que Ele repetisse. Ele repetiu: "Tu és meu e a vida é tua". Então eu disse: "Senhor, Tu disseste tudo. Eu pertenço a ti e a vida me pertence, se a vida me pertence, eu posso dominá-la. Eu não pertenço à vida, ela é que me pertence”. Se não pertencemos a Cristo, a vida não nos pertence, e nenhum dos nossos pensamentos nos conduzirá à sensatez, ao contrário, todos nos levarão à insensatez.

A vida cristã pode ser resumida numa sentença: pertença a Cristo e a vida

pertencerá a você. Costumo ter, em todos os dias primeiro do ano, um retiro com os funcionários do governo em Washington. Reunimo-nos de 10 da manhã às 5 da tarde. Há dois anos atrás, esteve conosco o Secretário da Defesa, Mr. Wilson. Depois da reunião pediram-lhe que dissesse algo, ao que falou: "Eu gostei de tudo o que o Sr. Jones disse, exceto uma coisa: ele falou sobre entrega. Eu receio que não possa fazê-lo na posição que ocupo. Seria uma palavra muito impopular ali". Disse-lhe, então: "Se o senhor se entrega a Deus, não se entrega a nenhuma outra coisa". Então ele respondeu: "Certo, assim está bem".

Quando nos submetemos a Deus, não estamos submissos a mais nada. Tudo

é nosso, porque pertencemos a Cristo. O centro de todos os pecados é o "eu" não submisso, pois ele está se

colocando no lugar de Deus e procurando organizar a vida como se fora Deus. Este é o pecado central e todos os outros são frutos dessa raiz. Assim como os meus dedos estão ligados à palma da mão, os pecados exteriores estão ligados ao centro que é o "eu".

Por que temos maus humores e rivalidades? Porque alguém feriu o nosso

"eu". Por que mentimos? Porque com isso podemos defender o nosso “eu". Por que somos desonestos? Porque achamos que isso trará vantagens ao nosso "eu". Por que somos impuros? Porque pensamos que assim daremos prazer ao nosso "eu". Por que temos inveja? Porque pensamos que alguém está se sobrepondo ao nosso "eu".

Todos esses pecados são frutos do "eu" insubmisso.

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Chegamos agora ao clímax da questão: Temos entregue o nosso "eu" a Jesus

Cristo ou não? Um homem chegou-se a mim e disse-me: "O senhor não me conhece?"

Sempre tive dificuldades em reconhecer alguém, porque vejo, muitas pessoas em muitos lugares diferentes. Todavia, havia alguma coisa que me fazia lembrar daquele homem. Todavia, ele me adiantou: "Sou o homem que o procurou num hotel em Oklahoma". Então me lembrei de quando ele entrou em meu quarto e disse: "Estou procurando a vida cristã, mas é um inferno. Vinte vezes por dia o meu "eu" diz que desista de tudo". Repliquei-lhe, então: "É por esta razão que o senhor enfrenta o inferno. Precisa tirar esse "eu" de suas próprias mãos e colocar nas mãos de Cristo. Oramos juntos e então ele se entregou a Cristo e disse : "Recebe-me e transforma-me", e levantou-se radiante.

Quando eu o vi pela segunda vez a sua esposa veio ter a mim dizendo:

"Obrigado por me ter devolvido o esposo ". Mas não lhe devolvi o esposo; ele é que se entregou a Cristo, que o devolveu a si mesmo, à senhora e a todos”.

Um pastor nos Estados Unidos disse que estava muito zangado porque o seu

Bispo não o colocava em igrejas suficientemente grandes para ele. "O bispo e o gabinete estão me sacrificando. Estou pendurado na cruz". Um seu paroquiano ao ouvi-lo disse então: "O senhor está pendurado na cruz, mas ainda não morreu, pois está lutando contra ressentimentos". Naquele momento, porém, aquele pastor ajoelhou-se e orou. Contou ele depois que ao levantar-se era outro homem, sem receio algum. Naquele mesmo ano, 285 pessoas se converteram em sua igreja, que pensava antes não ser suficientemente grande para ele. Não havia um domingo sem que alguém deixasse de se apresentar.

Na verdade, quando aquele pastor dizia que era injustiçado porque estava

numa igreja pequena, ele é que era pequeno para ela. O nosso próprio "eu" a nosso serviço é motivo de sofrimento e dor. Mas o nosso "eu" nas mãos de Deus é uma possibilidade e um poder.

O filho de Candler, herdeiro dos milhões de seu pai, tornou-se alcoólatra. Ele

lutava contra o álcool e perdia sempre. Um dia quando entrava em sua casa, ouviu uma voz que dizia: "Entrega-te", e isto o chocou. "Mas que coisa diferente! Eu tenho tentado entregar o álcool e esta voz diz: Entrega-te!”. Ao deparar com a esposa disse-lhe o que acontecera. Ajoelharam-se e então entregou não o álcool, mas a si mesmo. Ao narrar isto, disse: "Minha esposa orou como nunca havia feito, e quando nos levantamos, eu sabia que o álcool jamais seria problema para mim”.

Enquanto aquele homem estava tentando desistir do álcool nada conseguia,

mas no instante em que entregou o seu "eu" a Cristo, tudo conseguiu. O "eu" insubmisso era o seu problema. Nós encontramos a liberdade através da

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submissão. Todo o problema não está em torno do que somos, mas de quem somos. Se Cristo nos conquista, nós conquistamos o mundo.

CAPÍTULO QUINTO

PENTECOSTES: DOM DO ESPÍRITO SANTO

O Espírito Santo é a ponte entre Jesus Cristo, a palavra tornada carne, e os

discípulos, a palavra tornada carne. Então é muito importante que nos apeguemos bem ao Espírito e ele nos possua. Mas muitas pessoas não conhecem por experiência coisa alguma a respeito do Espírito Santo. Certa senhora cristã proeminente, de grande cultura e inteligência, disse num círculo de outros cristãos: "Quando eles falam a respeito do Espírito Santo, eu não tenho a menor idéia do que falam". Ela era muito piedosa, sincera, e estava se desgastando completamente em face dos problemas múltiplos que apareciam na Igreja. Mas estava realizando aquela obra com um poder errado. Ela ainda não conhecia o poder do Espírito Santo.

PENTECOSTE E OS DISCÍPULOS

Até o dia de Pentecoste, os apóstolos foram obreiros ineficientes. Lemos que mesmo depois que Jesus Cristo ressuscitara, eles estavam atrás de portas fechadas, com medo. O maior evento que já se deu na história do mundo, a ressurreição de Cristo, tinha ocorrido e eles o tinham visto. Mas por medo tinham se escondido. As suas mentes estavam convencidas de que ele estava vivo, mas o subconsciente estava sob a garra do medo. Então, no cenáculo, por dez dias, eles esperaram. Foram os dez dias que transformaram o mundo. Saíram daquele cenáculo diferentes. Entraram no cenáculo como crentes tímidos, mas saíram como apóstolos irresistíveis. E nos próximos trinta anos eles iriam transformar toda a estrutura da sociedade.

Eles reverteram todos os valores da Antigüidade. Eles colocaram o rio da

história humana em novos leitos. Viraram o mundo de cabeça para baixo. Fizeram isso sem um desgaste, sem

um esforço. Não eram eles que estavam fazendo: alguém (e não os apóstolos!) estava realizando aquela obra. Eles mesmos estavam surpresos tanto quanto os outros.

Nós temos que redescobrir este poder, porque Pedro nos diz que o dom do

Espírito Santo é para todos que seguem, para seus filhos, para todos que crêem no futuro. E nós cremos e nós estamos na linhagem desta sucessão para receber este poder.

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Um pastor, homem muito eloqüente na costa oeste dos Estados Unidos, me

disse o seguinte: "Quando o senhor fala do Espírito Santo, um frio me desce pela minha espinha". E eu perguntei:

- Por que? - Porque eu tenho medo dele. - De que o senhor tem medo? - perguntei - Eu estou com medo de um emocionalismo incontrolável. - Qual é o padrão? O padrão é Jesus. O relato nos diz que o Espírito Santo não poderia ser dado enquanto Jesus

não tivesse sido glorificado. Porque o Espírito Santo não poderia ser dado enquanto Jesus Cristo não fosse ressuscitado. Porque o padrão de poder espiritual tinha de ser estabelecido em Cristo. Jesus tinha que viver, morrer, ressuscitar e ascender à destra do Pai, antes que o Espírito Santo pudesse ser dado. Porque as pessoas tinham idéias fantasiosas a respeito do que constituía poder espiritual.

Diz o Velho Testamento que o Espírito do Senhor veio sobre Sansão, ele foi e

matou mil homens. Suponde que colocássemos isso em Atos dos Apóstolos e que lêssemos dessa maneira:

"O Espírito Santo veio sobre os 120 no cenáculo e eles saíram do cenáculo e mataram mil pessoas que haviam matado a Cristo". Estremecerias e dirias:

- "Deve haver alguma coisa errada!" - Por quê? Porque já viste o tipo de poder espiritual em Cristo. Então disse àquele pastor batista : - Há alguma coisa assim incontrolável em termos de emocionalismo em Jesus

Cristo? - Jesus foi pessoa de emoção controlada, dirigida. Ele não teve visões,

sonhos, transes. Ele foi dirigido em orações, quando no uso completo de suas faculdades. Toda virtude é contrabalanceada pelo seu oposto. E todas elas unidas numa parte viva. Ele foi o caráter mais equilibrado que jamais andou pelas páginas da história. Se EIe era a infinita santidade, era também a infinita sanidade. E se vos entregardes ao Espírito Santo ele vos fará como a Jesus. Tendes medo de serdes feitos como Ele?

- "Mas isso muda completamente o quadro", disse o pastor. Então ele me puxou para sentar debaixo de uma árvore, para falar mais a

respeito disso. E eu citei para ele aquela passagem, quando Jesus Cristo disse: "Se vós sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais

dará o vosso Pai Celestial, o Espírito Santo, àqueles que o pedirem".

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- Eu disse: "Vamos pedir". Curvamos as nossas cabeças em oração, e comecei a orar: Eu apenas pronunciei duas sentenças, quando ele agarrou meu braço e disse:

- "O senhor não precisa mais orar, Ele já veio!" Da resistência à receptividade em apenas três minutos, quando o padrão foi

apresentado. O padrão é Jesus. E se vos entregardes ao Espírito, Ele vos fará como Jesus. Tendes medo de serdes feito à semelhança dEle? Pois se não sou igual a Ele, não sou bom.

Pentecostes - Cristianismo Normal

Quando veio aquela quebra do contato entre o homem e Deus, Deus então, o

amor divino, quis vir para restabelecer este contato perdido. E à primeira aproximação de Deus com o homem, Ele o fez de uma montanha fumegante, e dali deu as leis ao homem.

Então Ele se aproximou mais, através de um tabernáculo portável. Depois

mais próximo no templo fixo onde com eles habitavam em glória. Então veio mais perto ainda, na encarnação: Emanuel, Deus conosco. Mas era com, e com não é suficientemente perto para amor. Então Jesus disse:

"O espírito da verdade tem estado conosco, mas estará em vós. Então a partir

do dia de Pentecostes, Ele se mudou para dentro e tomou os "ninguéns" e os fez "alguém". Ele tomou pescadores e revolucionou o mundo, começando a maior obra redentora que jamais se apossou do nosso planeta.

Podemos então redescobrir aquilo que está em Pentecostes? Porque há muitos que estão com medo de Pentecostes, mas creio que

Pentecostes significa cristianismo normal. Mas a maior parte de nós é subnormal. Quando estamos fisicamente subnormais, os germes das doenças vêm e se apossam de nós. Quando estamos normais, expulsamos os germes da doença, mas quando estamos subnormais os germes da doença vêm e nos invadem. Mas algumas pessoas em nome do Pentecostes têm ido acima do normal, no estado de febre. E quando se está com febre, dizemos coisas irracionais. Porque alguns têm ido neste estado de febre, acima do normal, eles vos têm amedrontado e tendes ficado no estado subnormal, anêmico. Mas porque alguns foram além do normal, até à febre, eu não quero ficar aquém do normal. Eu quero ser normal, e Jesus é a norma, o padrão.

Agora vejamos o que acontece em Pentecostes. Devemos notar que o Espírito

Santo não foi dado no templo. Suponde que ele tivesse sido dado no templo. Diríamos. "Ah! Sim, Ele é dado a pessoas especiais, para serviços especiais. Mas não é para nós nessa vida comum, diária". Mas o Espírito Santo foi dado num lar,

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num cenáculo onde eles habitavam. O que é que significa? Significa que o Espírito Santo estava entrando naquilo que é comum para transformá-lo em extraordinário. Que Ele estava à disposição para todos os setores da vida. O Seu poder transformaria a dona de casa numa melhor dona de casa, o fazendeiro em melhor fazendeiro, o administrador em melhor administrador, e a pessoa numa melhor pessoa.

Elementos Transitórios do Primeiro Pentecostes

Havia algumas coisas temporárias em Pentecostes e outras de caráter

permanente. Podemos nós distinguir entre o temporário e o permanente? Em primeiro lugar havia o som de um vento impetuoso. Por que é que isso ocorreu? Eles estavam atravessando um território nunca dantes percorrido e

precisavam de todos esses auxílios externos para ajudá-los na sua fé. Quando veio o dia de Pentecostes, ouviram o som do vento impetuoso. O

vento está vindo! Mas em hebraico, a palavra "espírito" e "vento" é a mesma: "Ruah". Eles disseram: "Ah! O vento está vindo". Não, não, o Espírito está vindo! Então isso elevou a sua fé ao ponto receptivo. E eles o receberam pela fé.

É estabelecido que nós recebemos o Espírito pela fé. Então não precisamos

do som de um vento tempestuoso. Isso foi demolido, retirado. Depois as línguas de fogo vieram, repousando na cabeça de cada um deles. - Por que vieram? Há aquelas pessoas que dizem que o Espírito Santo só pode ser dado a um

grupo. Citam passagens do Novo Testamento para provar que era uma experiência

de grupo. E há uma parte de verdade naquilo que dizem. Porque eu creio que o grupo pode tornar-se do Espírito Santo. Mas o indivíduo pode também receber o Espírito Santo.

E as línguas de fogo descendo sobre a cabeça de cada um deles enfatizavam

o fato dos indivíduos estarem recebendo individualmente o Espírito. "Olhe sobre a cabeça dele, do outro, daquele!" disseram os apóstolos atônitos.

De tal maneira que cada um estava cheio do Espírito Santo.

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O relato nos diz que todos foram cheios do Espírito, mas cada um foi cheio do Espírito. Então o individualismo e coletivismo foram unidos numa única apresentação. O Espírito Santo está à disposição do individuo, como de um grupo.

Agora isto já está fixo, estabelecido, de modo que não precisamos mais da

língua de fogo. Isso era o andaime e foi retirado. Agora há um outro assunto que comporta mais debates. - O que significa o fato de cada pessoa ter ouvido em sua própria língua as

maravilhas de Deus? O que significa este dom de línguas? Havia ali reunidas, pessoas de todas as partes do mundo antigo. Da África, da

Ásia e da Europa. E quando começaram ouvir, disseram: - "Mas ele está falando na minha língua!" - disse um. - “Não, é na minha língua!” - disse um outro. Cada um ouviu na sua própria língua as obras maravilhosas de Deus. - Agora, por que é que isso aconteceu? Creio que foi um milagre especial para

propósito especial. Naqueles dias havia esta pergunta: Era necessário ser judeu para abraçar o cristianismo? Precisava-se adotar a sua língua, a sua cultura, para então se tornar cristão?

Essa pergunta era muito importante na Igreja primitiva. Mas no Pentecoste,

Deus desfez este padrão. Cada homem ouviu na sua própria língua as obras maravilhosas de Deus. Deus ia usar todas as línguas e todas as culturas. Então aquilo esfacelou o padrão judaico e universalizou o Evangelho. Eu creio que foi um milagre especial com aquele propósito específico.

Agora um novo tipo de língua apareceu em Corinto. Em Pentecoste ele falava

diretamente na língua das pessoas que ouviam, sem haver necessidade de intérprete. Porém em Corinto era mister que houvesse um intérprete. Era uma língua desconhecida. Desconhecida para quem falava e desconhecida para quem ouvia, a não ser que alguém se levantasse para interpretá-la. E Paulo disse:

- Se não houver intérprete, esteja calado na Igreja. (1 Coríntios 14:28). Algumas pessoas vão a Índia pensando em repetir o milagre do Pentecoste. E

pensam que vão poder falar diretamente nas línguas das pessoas a quem se dirigem sem precisar de um intérprete, sem aprender a língua. Os destroços das suas esperanças se encontram espalhados em todas as partes da Índia. Se alguém fala aos hindus, terá que aprender a língua ou então usar um intérprete.

Em nossos dias um novo tipo de língua está aparecendo. Mas não é o tipo de Pentecoste. É o tipo de Corinto. E é um dos dons do Espírito. Paulo disse estas palavras:

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"São todos apóstolos, todos profetas, todos mestres, fazem todos milagres,

têm todos dons de cura, falam todas as línguas, interpretam todos?" A resposta é não. O Espírito Santo divide e distribui esses dons da maneira

que lhe apraz. Nós não podemos confundir os dons do Espírito, com o dom do Espírito. O dom do Espírito é para todos, mas os dons do Espírito, ele divide entre as pessoas, a cada um, conforme lhe apraz. Mas há aqueles então que apanham o dom de línguas e dizem: "Se você não tem este dom, então não tem o Espírito".

A resposta é muito simples. Será que Jesus tinha o Espírito Santo? - Sim! - Falou Ele línguas? - Não! E eu devo ser como Ele. Então posso ter o Espírito Santo sem ter o

dom de línguas. Paulo fala sobre esses dons de línguas em um só lugar em todos os seus

escritos: nos capítulos 12, 13 e 14 de 1 Coríntios. Ele mencionou isso para corrigir um uso abusivo, pois estava produzindo perturbações. Então Paulo apresentou isso para que fosse esclarecido o assunto. E no meio ele diz:

“Procurai melhores dons”, mencionando dois como sendo os melhores. Fazei

do amor o vosso alvo, e que também profetizar, que não é predição de eventos humanos, mas apresentação das verdades espirituais.

Paulo disse, com efeito: “- Amai e dai a vossa fé aos outros, de maneira

decente". Mas direis: “- Jesus Cristo falou sobre o dom de línguas no último capítulo de Marcos”.

Eu gostaria que olhásseis para aquela passagem por um momento. É onde

diz: “esses sinais seguirão aqueles que crêem em meu nome: expulsarão

demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se beberem alguma coisa mortífera não lhes fará mal, e se puserem as mãos sobre os enfermos eles ficarão curados”.

Notai estas 5 coisas que são apresentadas como sinais daqueles que crêem.

Nenhuma delas é qualidade moral. Cada uma era um poder semi-mágico: expulsariam demônios, falariam novas línguas, apanhariam serpentes, beberiam qualquer coisa mortífera que não lhes faria mal, colocariam as mãos sobre os enfermos e eles se restabeleceriam.

O que teria acontecido ao cristianismo? Teria morrido como um culto das

maravilhas. Não teria sido uma obra redentora. A fé cristã era uma coisa para

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redimir o caráter, transformar homens maus em bons, fracos em fortes, e para transformar a natureza e a sociedade humana.

- Alguém poderá dizer: - "Mas Paulo foi picado por uma serpente". - Sim. Mas em que circunstâncias? No caminho do dever. Ele estava

ajuntando alguns gravetos de lenha para acender o fogo. Então a serpente veio, mordeu a sua mão. Ele a lançou no fogo e nada lhe aconteceu. Isso foi legítimo e certo.

Mas suponde que Paulo tivesse dito: "- Olhai, eu vou mostrar que sou um

crente. Eu vou mostrar a minha fé; eu vou deixar esta serpente me morder". Então a serpente o morderia, e Paulo diria: "- Nada aconteceu!". Paulo teria

morrido. E ele deveria ter morrido. Porque se ele não morresse, a religião teria morrido com ele.

Suponde que eu dissesse: “- Bem, eu posso beber qualquer coisa mortífera e

não vai me fazer mal". Sabe o que aconteceria? Eu morreria, eu deveria morrer. Eu seria um homem que estaria fazendo demonstração como se fosse um show de religião.

Será que Jesus fez uma coisa assim? Será que Jesus apanhou serpentes?

Será que Jesus bebeu alguma coisa mortífera? E depois Ele disse: “ - Não vai fazer mal!"?. Não, jamais! Jesus recusou qualquer coisa desta natureza.

Então o que há com essa passagem, que não se parece com Jesus? Se nós olharmos em todas as versões modernas, veremos que o final a partir

do versículo 8, foi perdido. E este texto que estamos tratando aqui foi uma tentativa do 2° ou 3.° século para preencher aquela parte que tinha sido perdida. E esta é exatamente a lista que os homens iriam produzir sem inspiração. Apresentariam exatamente esses milagres de prestidigitação.

Vamos voltar para um outro relato em Gálatas para ver o que é apresentado

lá, no capítulo 5° versículo 22: "mas o fruto do espírito é amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e domínio próprio". Começando com o amor e terminando com o domínio próprio. E cada um deles é qualidade moral.

Qual pensais vós seja inspirado? Eu prefiro arriscar a minha vida na lista de

Gálatas. Isto parece para mim movimento redentor. Agora vamos supor que apanhemos um daqueles sinais espetaculares e digamos: "Este é o sinal do cristão!". Então levantaríamos a nossa bandeira dizendo que uma coisa não inteligível (que nunca foi prática ou padrão na vida de Jesus) seria o sinal do Espírito da verdade, que veio para nos guiar em toda verdade. Há alguma coisa

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errada, não é? Isso seria uma grande contradição. Não, esse não é um sinal do cristão.

O verdadeiro sinal é ser como Jesus Cristo em caráter, em vida. E esta lista

em Gálatas nos faria como Ele. Há ainda alguma coisa que gostaria de dizer sobre as línguas da Igreja de

Corinto antes de continuarmos neste ponto. Este dom de línguas necessitava de um intérprete para que pudesse ser utilizado. E isso introduz entre o homem e Deus, outro mediador. Então aquele intérprete se torna um mediador entre nós e Deus. Mas eu pensava que tivéssemos um único mediador entre os homens e Deus, Jesus Cristo. Ele é mediador entre os homens e Deus. Mas a necessidade de um intérprete para as línguas da Igreja de Corinto coloca um intérprete entre mim e Deus. Eu não posso entender o que é que Deus está me dizendo, a não ser que este homem o diga. Mas isto me coloca então dependente, à mercê deste intérprete para comigo. Estou à mercê deste intérprete. Como é que eu sei que ele está interpretando uma coisa de Deus para mim ou do seu subconsciente para mim?

Alguns estudantes de uma universidade foram a uma dessas reuniões onde

falam línguas. Alguém recitou o Salmo 23 em hebraico. Então um intérprete se levantou para interpretar. Mas o que ele falou não tinha nada a ver com o Salmo 23. Como é que eu posso confiar em um intérprete quando eu só posso confiar no único Mediador, em Jesus?

Onde quer que isso ocorra há divisões no meio das pessoas. Eu não digo que

as pessoas não falem línguas estranhas. Mas digo que não falam a não ser que sejam ensinadas. Somente onde é ensinado, é que aparecem. Mas onde não é ensinado, não aparecem. Então podeis chegar às nossas conclusões.

Elementos Permanentes do Pentecoste

Então o que é de caráter permanente no Pentecoste? Pedro referindo-se ao que tinha acontecido em Cesárea, o Pentecoste

gentílico, disse o seguinte: - Deus que conhece os corações, apresentou testemunhas a favor deles,

dando-lhes o Espírito Santo, como também a nós. E não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé. (Atos 15:8)

No pentecoste judeu e no pentecoste gentílico havia uma coisa em comum:

cada um recebeu o Espírito Santo, e cada um deles teve o seu coração purificado pela fé. Sem dúvida era um elemento permanente, a purificação, do coração.

É isto uma coisa que todos nós precisamos? Olhai para o vosso próprio

coração e vede esta necessidade. Quão profundo atinge esta pureza? Vai até a

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mente consciente. Mas e a respeito da mente subconsciente? Pode a mente subconsciente ser redimida? Freud disse que somos governados pela mente subconsciente onde forças poderosas estão em operação.

Então somos determinados, condicionados por aquelas forças do

subconsciente. Mas pode este subconsciente ser redimido? Eu creio que o trabalho do Espírito Santo é principalmente, se não unicamente no subconsciente. Que se entregarmos tudo quanto conhecemos, isto é, a parte consciente da mente, e o que não conhecemos, que é a parte subconsciente, então o Espírito Santo operará.

Então Ele tomará essas energias propulsoras, o sexo, o eu, e o instinto social.

E irá purificar estas energias propulsoras dentro de nós, coordená-las e consagrá-las. Então a mente sabre o seu aspecto consciente, no seu aspecto subconsciente, estarão sob o mesmo poder controlador, o controle do Espírito Santo. Precisamos nós disto? Todos precisam, é uma necessidade universal.

E aqui está a outra coisa permanente. Jesus disse: “- Recebereis poder

quando o Espírito Santo vier sobre vós. E ser-me-eis testemunhas em Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins da terra". (Atos 1:8)

Não diz aqui "recebereis poder" e ponto final. Mas diz: “- Recebereis poder e

ser-me-eis testemunhas". Era um poder para que os discípulos testemunhassem de maneira eficiente a respeito de Cristo.

Enquanto testemunhardes de Cristo, haverá poder. Mas se tiverdes

testemunhando a respeito de vós mesmos então serão só palavras. E se apenas testificardes da vossa Igreja, então será a mesma coisa. Mas se testificardes de Jesus, então o poder divino estará presente e livre.

Precisamos nós desse poder para testificar eficientemente de Jesus? Todos

nós precisamos. Então há duas coisas aqui que são permanentes: uma é a pureza para mim mesmo, e a outra é o poder para compartilhar isto com os outros. Precisamos de mais alguma coisa? Isto encerra em si todas as minhas reais necessidades. O Espírito Santo me dá exatamente aquilo de que preciso, e também poder para ir ao encontro da necessidade dos outros.

COMO RECEBER O ESPÍRITO

Terminando, desejo perguntar: - Como recebemos o Espírito? Enquanto eu esboçar os passos, vós podeis dá-los. 1º) Em primeiro lugar é devemos saber que é vontade, intenção e o propósito

de Deus que recebamos o Espírito: "Falou-lhes a respeito do Espírito que aqueles que nele criam iriam receber". Notai esta frase: "iriam receber". Era intenção de

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Deus dar-lhes o Espírito Santo. E quem eram eles? Aqueles que nele cressem. É um dom para crentes. E se você crê, então é um candidato a esta herança.

2º) O segundo passo é este: faça disto o seu propósito. Não somente o seu

desejo vago, mas o seu propósito. Se é o propósito de Deus me dar, será o meu propósito receber.

3º) Uma entrega completa do "eu". Deus não pode dar o Espírito Santo a um

ego insubmisso. Porque iríamos usá-lo nos propósitos da carne, do "eu". Então eu me entrego a mim mesmo para que Ele possa entregar-se a mim. É o meu "tudo" pelo "tudo" dEle.

4º) Em 4° lugar nós recebemos o dom do Espírito Santo pela fé. Mas vós

direis: "- Eu não sou digno". Não precisais ser dignos. Deveis estar dispostos e prontos a aceitar. Um homem que estava desempregado encontrou-se com um homem de negócios um dia. Então a sua roupa estava desgastada, seu chapéu, bem como seus sapatos estavam gastos. Ele chegou a este negociante, e o negociante sentiu compaixão por ele e lhe disse:

“- Vou dar-lhe este cheque para que você possa comprar novo terno, novo

chapéu, novos sapatos, possa barbear-se e arranjar um emprego”. Então o homem ficou agradecido, além do que as palavras possam expressar: “- Senhor, como posso eu agradecer-lhe”? Colocou então o cheque no bolso e foi até o banco para descontá-lo. Mas

quando chegou ao Banco viu aquele prédio tão bonito, com móveis tão bonitos, pessoas tão distintas lá dentro, tão bem arranjadas, olhou para si e disse: “- Eles nunca vão me dar este dinheiro”.

E muito tristemente, ele colocou o cheque no bolso. Andando pelas ruas,

passados alguns dias, encontrou-se novamente com aquele negociante. - Você não é o homem a que dei um cheque outro dia? - Sim, senhor, eu sou. - Mas você é um miserável! Você bebeu todo o cheque? - Não, eu não fiz isso, eu conservo o cheque no meu bolso. - Mas por que é que você não o descontou? - Eu fui ao banco e vi como aquele lugar era bonito. As pessoas bem trajadas,

distintas. Então olhei para mim: em hipótese alguma eles iriam me pagar o valor do cheque. Tive medo e não entrei. Por isso ainda tenho o cheque em meu bolso.

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O negociante generoso então o censurou: - Não é a sua aparência que importa. O que importa é minha assinatura no cheque.

É isso! Não é necessário ser digno. É a “assinatura” (a graça) de Jesus com

seu próprio sangue escrita sobre as promessas de Deus que importa. E Ele é a nossa dignidade. Não olheis para vós mesmos. TESTEMUNHO PESSOAL DO IRMÃO STANLEY

Agora permiti que eu termine com um testemunho pessoal. Depois de eu ter

sido salvo, corri durante algum tempo sob um céu sem nuvens. Senti que havia entrado num estado de felicidade celestial e que permaneceria nele para sempre. Mas depois comecei a descobrir coisas aparecendo de dentro da minha vida. Pensamentos e atitudes ruins. E fiquei perplexo diante daquilo que acontecia. Então disse:

- Há alguma coisa aqui dentro que ainda não foi redimida. Parece que isso

ainda não passou pelo processo da conversão. E descobri que eu era um campo de batalha, uma casa dividida contra si

mesma. Naquela ocasião fui a uma biblioteca da Escola Dominical e apanhei lá um livro. Quando meus dedos se apossaram daquele livro; eu senti o meu destino. Posso ver agora que havia esse destino em apanhar aquele livro. Ele mudou minha vida. Chamava-se "O Segredo Cristão de uma Vida Feliz", escrito pela Quaker Ana Smith. Comecei a lê-lo e ele inflamou meu coração.

Eu disse: “- Ah! Isso é do que eu preciso”. Vitória completa. E quando eu cheguei à página 42, Deus me disse: "Agora é a

hora para encontrares". - Mas Senhor, eu não sei o que quero. Deixa-me acabar o livro, então irei

buscar inteligentemente. - "Agora é a hora para encontrares" (A voz era imperiosa). Eu procurei ler, mas as palavras estavam nubladas. Percebi que eu estava em

controvérsia com Deus. Então fechei o livro e me ajoelhei. - Senhor o que devo fazer? - Queres tu entregar teu "tudo" para mim? - Sim Senhor, entrego. - Toma meu "tudo" e toma o Espírito Santo.

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- Eu farei. Levantei-me sem sentir emoção alguma. E comecei a andar pela sala. E eu

empurrava com as mãos para afastar as dúvidas de que queriam se apossar de mim. Não sei por quanto tempo fiz isso. Por alguns minutos, quando subitamente, fiquei cheio do Espírito Santo. Ondas de fogo pareciam estar passando por todas as partes do meu ser, limpando, purificando, tornando-me novo. Eu só podia andar pela sala, com lágrimas de alegria, correndo pela minha face.

Eu sabia que isso não era apenas uma visita do Espírito Santo, mas que Ele

tinha vindo para ficar para sempre. O relato diz que "ele habitará convosco para sempre". Eu sabia que Ele tinha vindo para tomar posse, e a minha vida passara permanentemente para um alto nível. Eu não estava mais numa situação difícil, procurando segurar para baixo o subconsciente. Eu sabia que o Espírito Santo tinha controle do consciente e do subconsciente. E isso tem permanecido através dos anos. CONCLUSÃO

Será o Espírito Santo alguém à disposição de todos nós? Sim, é. Ele esta à

disposição de todos. Um professor de teologia do Seminário Teológico Drew nos Estados Unidos,

filho de pais missionários, foi à Índia. Ele foi à Índia e sabia a língua nativa. Ele me escreveu:

“ - Posso passar o meu ano sabático com o senhor, no seu trabalho de

evangelização? “ - Venha”. Ainda não havia duas semanas que ele estava comigo na Índia quando disse: - “Stanley, eu não posso continuar desse jeito. Isto está exigindo de mim uma

experiência espiritual que não tenho. Eu preciso obter alguma coisa ou deixar você e voltar para a América”.

Nós estávamos juntos às margens de certo rio na Índia participando de uma

conferência com estudantes. Ele me disse: - “Não me espere hoje para o café da manhã. Eu vou às margens do rio para acertar contas com Deus e não voltarei enquanto alguma coisa não tiver acontecido.

Ele retornou depois de 2 ou 3 horas. E eu podia ver que ele era um homem

diferente. E ele me disse: - “Fui lá para encher meu tanque de gasolina. Mas voltei com um novo motor”. E ele não voltou mais para a América. Foi para a

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alma da Índia. Quando ele voltou da margem do rio ele tinha alguma coisa: o Espírito Santo o tinha. Então ele podia trabalhar para o Senhor sem cansar-se. Isto pode acontecer a todo aquele que crê em CRISTO JESUS.

CAPÍTULO SEXTO O MINISTÉRIO LEIGO

Creio que o próximo reavivamento virá por intermédio dos leigos. Não creio que pastores, missionários e evangelistas possam salvar o mundo. Em primeiro lugar, somos muito poucos, e se pudéssemos salvar o mundo, creio que não seria bom, porque tiraríamos dos leigos o privilégio de serem parte do desenvolvimento resultante da participação conjunta da mesma fé.

A vida cristã não pode ser desenvolvida sem a participação conjunta e

estamos descobrindo agora que ela é um movimento leigo. Em primeiro lugar, Jesus era leigo. Quando lhe pediram credenciais, Ele não as tinha, a não ser as pessoas que transformara.

Os dozes apóstolos também eram leigos. Não há nenhum fato histórico

provando que foram impostas mãos sobre suas cabeças para que saíssem a pregar. "Vós não me escolhestes a mim, Eu vos escolhi e vos ordenei..." Eles foram ordenados pela escolha divina que os separou para esse serviço. Se houve sucessão apostólica, nela não encontramos os apóstolos.

Mas os Apóstolos foram os que começaram a agir como se o movimento fosse

deles. Começaram a discutir sobre quem seria o primeiro. Proibiram a uma pessoa de expulsar demônios porque esta não queria segui-los; e, até mesmo, queriam pedir fogo celestial sobre uma aldeia que não os quis receber. Foi depois desta experiência que Jesus chamou mais 70 e os enviou. Ele tinha que repousar o caráter leigo do seu movimento sobre os setenta. Então os mandou, dois a dois, dando-lhes a mesma missão que havia dado aos Apóstolos: "Aquele que vos receber, a mim me recebe". E quando estes setenta regressaram, Jesus se regozijou em Espírito: "Pai, graças te dou porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos simples." E quem eram estes simples? Eram os setenta que haviam regressado e haviam expulsado demônios.

Devemos lembrar que o Espírito Santo não desceu somente sobre os doze,

mas sobre cento e vinte pessoas. O maior dom divino não estava aberto somente para uns poucos. Ao pé da cruz, o solo estava aplainado e todas as pessoas eram iguais perante Deus.

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No tempo da Igreja primitiva surgiu um caso sobre a distribuição do pão, e os

doze chamaram o principal grupo de crentes e disseram: "Não convém que deixemos os trabalhos da pregação da pregação da Palavra para servir as mesas. Escolhamos sete homens dedicados para este serviço". E escolheram os sete.

Os apóstolos se dedicaram ao ministério da oração e da pregação. Por muito

tempo pensei que essa foi uma sábia medida, mas hoje creio que foi um erro. Eles puseram uma cunha entre o material e o espiritual e dividiram o que Deus na encarnação havia juntado.

Na encarnação, a palavra se tornou carne. Espiritual e material se tornaram

um só, mas os discípulos fizeram a separação, que existe até hoje. A fé cristã acredita no material e é a única que toma o material seriamente.

Deus criou todas as coisas e achou que eram boas. Portanto, o material é aprovado e criado por Deus, e o centro da fé cristã é "E o verbo se fez carne". Espiritual e material eram duas partes de uma só realidade. A espiritualidade deve funcionar em relações materiais. Não há outra maneira de funcionar. Tem de ser: verbo que se torna carne, ou não será verbo.

O que aconteceu à Igreja primitiva com essa divisão? Os sete, que foram

escolhidos para cuidar do material, tornaram-se centro espiritual do movimento. Foi Estevão, um dos sete, que provocou o reavivamento em Jerusalém, do

qual resultou seu martírio. Filipe, outro dos sete, foi quem pregou o evangelho além de Jerusalém, e toda a Samaria aceitou a Palavra de Deus. Então os apóstolos enviaram Pedro e João para regularizarem aquilo que eles não puderam produzir.

Filipe foi quem primeiro pregou o Evangelho a um etíope, e a Igreja da Etiópia

existe até os nossos dias. Ele teve também quatro filhas que pregavam o Evangelho. Foi Filipe quem começou um trabalho entre mulheres solteironas, as quais deram boa contribuição à Igreja primitiva.

Filipe é o primeiro homem chamado "evangelista" nas Escrituras, o que é

interessante, porque ele deveria apenas servir as mesas. Lembremos que o grupo perseguido no tempo de Estevão foi para a Antioquia,

e lá pregou o Evangelho a judeus e gregos, e a mão do Senhor estava sobre eles. Assim, a Igreja de Antioquia foi fundada por leigos dispersos pela perseguição. Quando Barnabé chegou e conheceu aquele grupo de Antioquia, disse: "Este é o tipo de cristianismo que eu gostaria de expor à alma de um jovem que conheço". Então foi à cidade de Tarso, procurou Paulo, e o levou para lá. Foi

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de Antioquia que Paulo e Barnabé saíram para a primeira viagem missionária. Antioquia tornou-se o centro de contágio para o evangelismo e as missões.

Lembremos de Lídia, a vendedora de púrpura, primeira convertida na Europa.

A Escritura diz que o seu coração foi aberto pelo Senhor. Não podemos relatar o que acontece quando Deus abre o coração de uma mulher. Mas abrir o coração de Lídia significou um continente inteiro para o evangelho. Agora Paulo lidera um movimento cristão em grande escala, e ele é leigo, não houve imposição de mãos sobre sua cabeça.

Todos os movimentos cristãos primitivos foram iniciados informalmente. E

assim foi até o Concílio de Nicéia, quando o clero penetrou no centro da Igreja. Muito especialmente os Bispos e os leigos foram empurrados para as margens. Isto tem continuado até hoje. Agora estamos descobrindo o caráter leigo da fé cristã. A palavra de onde procede o termo "leigo" significa: o povo escolhido por Deus. No princípio as palavras "laos" e "cleros" eram usadas no mesmo sentido. Assim os leigos são tão escolhidos por Deus como os clérigos.

Nos Estados Unidos, o evangelismo está voltando ao lugar que lhe cabe. Há

trinta anos estava à margem com os pequenos grupos. A Igreja culta e intelectual olhava com desprezo os pequenos grupos evangelizantes. Agora isto mudou, passando das margens para o centro. Se a Igreja perde o seu poder de evangelizar, ela perde o direito de se chamar cristã, porque cristianismo não é só um conceito, é um contágio. E se perde o seu contágio, perde o seu conceito. Se não for evangelística em pouco tempo não será mais evangélica. Eu creio que o evangelismo está retornando à Igreja de maneira muito boa. Está retornando como um movimento leigo.

Conheceis o método de evangelização de dois a dois. O Pastor deve treinar os

leigos para este trabalho. É muito importante irem dois a dois, pois se forem sozinhos perdem a coragem e começam a falar sobre o tempo. Quando dois, sentem-se obrigados a cumprirem com o propósito que os levou a visitar. E também é muito importante ser visitado por dois: o visitado se sentirá importante, pois duas pessoas o visitaram, e dois leigos. Eles são enviados dois a dois para conseguir uma decisão dupla: para Cristo e para a Igreja. Não só para Cristo, nem só para a Igreja. Mas para Cristo e para a Igreja. E verificamos que enviando os leigos dois a dois, cinqüenta por cento de suas visitas rendem frutos.

Vejamos o que significa "cada segunda pessoa ganha para Cristo e sua

Igreja". Esse trabalho estimula a vida espiritual da Igreja muito mais que cem sermões. Em dez anos, na América do Norte, os róis de nossas igrejas foram aumentados de 50% para 62%, em virtude da maior participação dos leigos.

A visitação dois a dois é um processo que evangeliza o próprio visitante. Vou

lhes contar a história de dois homens que saíram com medo para a primeira visita, porque a pessoa que iriam ver era um advogado. Ao chegarem, disseram:

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- "Nós viemos visitá-lo para que se una à Igreja". - "Então é tudo o que desejam? Se é isto não estou interessado, pois muitas

pessoas já me fizeram idêntico convite. Então os visitantes disseram: - "Nós temos um outro assunto que é a entrega a Cristo, mas não estamos

muito versados nisto, por isso falamos daquilo que conhecemos: ser membro da Igreja".

"Bem, - disse o advogado - neste assunto estou interessado. Os senhores não

têm um cartão de decisão, no bolso?". Então ele assinou o cartão e ao devolver disse :

- "Há muito tempo estou querendo fazer isso, mas ninguém me pediu". E

entrou também para o grupo de visitadores. Mas dirão: isto não significa invadir a personalidade de uma pessoa? É

realmente isto. Mas é invadir com alguma coisa. Se alguém tem uma queixa e a apresenta aos outros, estará invadindo os outros com a sua queixa.

Um Pastor tinha uma hora diária de rádio intitulada: "Qual o seu problema?" - e

ele mesmo era o problema. Ele estava cheio de problemas: tinha um "eu" não entregue. Era um problema tratando de problemas. Realmente todos invadem os demais com alguma coisa. E se eu tenho de invadir os outros então eu os invado com Cristo. Não tenho nada melhor para oferecer.

Em determinado lugar um senhor leu sobre visitação evangelizante nos jornais

e disse: Certamente serei visitado, não sou cristão, nem membro de qualquer Igreja. Segunda-feira ele fez a barba e se preparou para recepcionar os visitadores. E não chegaram. Terça-feira ele fez a barba e se preparou para recepcionar os visitadores. Mas, não vieram. Então ele disse: Dar-lhes-ei mais uma oportunidade. O que estava acontecendo era que o cartão com o nome deste homem, que era o primeiro do grupo a ser visitado, ao ser tomado pelos visitadores, estes o puseram por último achando que era um homem muito difícil para ser visitado. Terça-feira à noite este cartão estava novamente bem em cima e outra vez o puseram bem em baixo. E na quarta-feira como o cartão estava novamente em primeiro lugar, disseram: é preciso fazer alguma coisa, e então foram visitá-lo.

Tocaram a campainha e o homem, alto e forte os olhou dizendo: - Finalmente

chegaram. Eu li a respeito do movimento que estão fazendo e tinha certeza que viriam me visitar e assim na segunda-feira eu fiz a barba e fiquei esperando e os senhores não vieram; terça-feira a mesma coisa e não vieram; então eu disse:

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dou-lhes mais uma noite, se não vierem quarta-feira eu tomo uma bebedeira e vou para o inferno.

Qualquer um pode fazer esse trabalho, desde o mais velho ao mais moço. Nos

Estados Unidos, o campo mais fértil ao evangelismo são os jovens de dez a vinte anos. Temos de conseguir adolescentes para ganhar os adolescentes. Nunca tomamos suficientemente a sério os nossos adolescentes. Os comunistas venceram na China conquistando os adolescentes. Nós pensamos que nossos jovens não precisam de outra coisa a não ser divertimento, mas eles são evangelistas maravilhosos.

Estive numa cidade onde os adolescentes, todos os domingos à tarde,

estavam visitando outros adolescentes, cinqüenta e cinco estavam visitando outros cento dez adolescentes, e ganharam a metade dos que visitaram. Algumas de suas experiências são muito interessantes. Duas meninas foram visitar a uma outra em um bar onde ela trabalhava e disseram: desejamos duas cocas-colas e sua decisão para Cristo - e receberam as três coisas. É um método muito informal, mas eficiente.

Dizem que o ambiente na América Latina é diferente. Mas tanto na América do

Norte como na América do Sul encontramos a mesma situação: a alma do homem moderno está vazia. Assim, não vamos atacar a Igreja Católica, mas esse vazio. Não vamos ser “igrejocêntricos” mas cristocêntricos. Vamos apresentar Cristo ao vazio das pessoas. E apelamos a este vazio porque estamos certos que estão famintos de alguma coisa. E eu creio que temos a maior oportunidade para um movimento espiritual como nunca tivemos.

É preciso treinar os leigos para entrarem neste movimento. Temos que levá-

los para fora, da arquibancada para o campo. Os leigos têm estado nas arquibancadas e quando o Pastor faz um “gol” todos aplaudem. Mas isto tem de mudar. E os leigos têm de “entrar em campo”.

Qual é a parte do pastor? É a de ser o treinador do “time”. É melhor fazer dez

homens trabalharem do que fazer o trabalho de dez homens. A maior e melhor hora do evangelismo ainda está à nossa frente. Eu creio que o Brasil é um dos campos mais amadurecidos para o evangelismo. Quando estive no Japão, afirmei que aquele país era o campo mais maduro do mundo, mas alguém que havia estado no Brasil me afirmou que não era o Japão, mas o Brasil. E isto é verdade. Há pouco tempo atrás tivemos uma reunião com mais de 10 mil pessoas no Maracanãzinho, e quando fiz o apelo, mais de 500 foram à frente. Enquanto essas pessoas iam, algumas começaram a gritar para que desistissem, mas todas se mantiveram firmes.

Se organizarmos um trabalho evangelístico aqui no Brasil, poderemos ganhar

milhares de vidas para Cristo.

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A mesma coisa aconteceu na Igreja Central de São Paulo, quando duzentas pessoas foram ao altar. Há um tremendo vazio nas almas das pessoas. Eu conclamo a todos os leigos a buscarem treinamento e se capacitarem para realizarem o trabalho evangelístico. Mas é necessário que os leigos aprendam a trabalhar na evangelização, e isto compete aos pastores.

Um grande movimento evangelístico está à nossa frente. Vamos orar para que

ele seja uma realidade.

CAPÍTULO SÉTIMO

AS CURAS ESPIRITUAIS

Reconciliados com Deus, estamos reconciliados conosco mesmos, com a natureza, com nossos semelhantes e com a vida. Isto quer dizer que Deus É o centro de nossa reconciliação.

Reconciliados nossos corpos e nossas almas muitas enfermidades

desaparecem naturalmente. Já imaginei, diversas vezes, um congresso de corpos tendo como tema os

seres que o habitam ou os habitavam. Temos visto pessoas em conversa falarem de seus corpos. Eu gostaria de ver isso ao contrário. Penso em um corpo que se levanta e declara: "Que tristeza viver com quem me habita. Ele é tão cheio de conflitos, de medo e de dificuldades que nos amarra a ambos". Depois imagino um outro corpo que diz: "Como é maravilhoso viver como eu. Estou perfeitamente sincronizado com o ser que me habita. Eu faço tudo por ele".

Creio que não devemos ser absolutistas na questão da cura. Os absolutistas

dizem que todas as doenças são curadas em vida, e se isso não é alcançado deve-se à falta de fé ou ao pecado. Essa posição pode conduzir-nos a muitas dificuldades porque não explica os casos dos santos que não encontraram cura para os seus males físicos.

Desejo citar o caso do meu velho amigo Rufus Mosley. Ele foi um autêntico

santo, mas sofreu terrivelmente nos dois últimos anos de sua vida. Se eu fosse fazer seu ofício fúnebre chamaria a atenção para a vitória do seu espírito, porque quando sofria ele era feliz tanto quanto na época em que desfrutava saúde. Seria esse o milagre que destacaria, maior, sem dúvida, que a cura do corpo.

Creio que há doenças que têm que esperar a ressurreição para a cura final,

quando receberemos nossos corpos ressurretos.

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Nunca poderemos ser imortais num mundo mortal. Mais cedo ou mais tarde o corpo se desfaz, e Deus dá um outro corpo. A morte para o cristão significa apenas uma anestesia enquanto troca de corpo. Deus nos lança de um corpo já desgastado para um corpo imortal, de modo que o cristão não precisa temer a morte.

Podemos citar Paulo, que por três vezes pediu a Deus que lhe removesse o

“espinho na carne”. Mas Deus disse não e assegurou que a sua graça bastaria. Então Paulo disse: “Hei de gloriar-me nas minhas enfermidades, porque quando estou fraco, sou forte”. Deus disse a Paulo que não iria curá-lo da doença, mas lhe concederia poder para usar a doença até dar-lhe um corpo imortal na ressurreição.

Os absolutistas têm dificuldades em explicar esse “espinho na carne” de São

Paulo. Uma de suas autoridades dizia que se tratava da luta contra o sexo, mas não há nenhuma base na Escritura para confirmar essa opinião. A explicação mais simples que encontramos está no livro de Gálatas: “Vós sabeis que por causa de uma enfermidade na carne é que primeiro vos preguei o Evangelho, e não desprezastes a minha enfermidade, muito embora fosse uma dificuldade para vós” (Gálatas 4:13-14).

Qual era então a enfermidade de Paulo? Obviamente era da carne, alguma coisa em relação à sua vista. Talvez uma

doença que fizesse seus olhos lagrimejarem constantemente, o que representava séria dificuldade par quem flava seguidamente em público. Mas Deus disse não a Paulo para que pudesse fazer uso da sua enfermidade, de maneira que quando sua visão exterior tornava-se má, a visão interior tornava-se boa.

Acredito que Deus use nossas enfermidades para nos conceder poder, até

que nos curemos finalmente na ressurreição. Isso não deixa destroços no seu rastro, ao contrário dos absolutistas que afirmam ser o pecado e a falta de fé as causas das enfermidades não curadas.

Alguém que não encontra cura para sua doença começa a culpar a si mesmo

pela falta de fé e pelo pecado em sua vida, e acaba por entrar, então, em estado de desespero.

A doença não é, também, vontade de Deus. Em nenhum lugar do Novo

Testamento lemos que Deus mandou doenças, porque a doença é um inimigo a ser banido. O mal da mente é o erro, o mal da emoção é o sofrimento, o mal da vontade é o pecado, o mal do corpo é a doença. E Deus quer banir o mal onde quer que ele se encontre.

Época houve em que se procurava resolver os problemas da saúde dando-se

ao médico uma parte do corpo para cuidar. Ao psiquiatra, por exemplo, a mente,

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e ao pastor, a alma. A cada um pedia-se que cuidasse de uma parte. Sabemos agora que não podemos fazer isso, porque a pessoa é uma unidade e qualquer coisa que afeta uma parte atinge o todo. Às vezes o corpo contrai uma doença e esta passa para a alma e a mente. Falei sobre isso numa reunião e no encerramento um médico me disse que 75% das pessoas que iam ao seu consultório não precisavam de remédio. Passavam a doença da alma para o corpo e não se curavam se não mudassem de atitude.

Outro médico psiquiatra me informou que 99% das doenças têm raízes no

espiritual. Da mesma forma 75% das doenças gástricas, 75% das doenças do coração e 70% da asma.

Referimo-nos às vezes a determinadas pessoas como “uma dor de cabeça”.

Por que classificar alguém assim? Possivelmente porque não gostamos dessa pessoa e nela pensamos com ódio e ressentimento. Dessa forma qualquer um pode ter mesmo dor de cabeça porque nossos nervos não são feitos para funções de má vontade, mas de boa vontade.

Já inúmeras vezes fui indagado sobre o motivo da minha boa saúde. Não sei

responder ao certo, mas tenho seguido mais ou menos a seguinte receita: 1 - faço exercícios todas as noites antes de me deitar - sei que Deus não pode

fazer um milagre comigo se eu não cooperar com suas leis. Sei que Deus faz milagres, mas não os faz de sobra. Isso nos faria preguiçosos.

2 - Não tenho ódios nem ressentimentos, portanto, não tenho inimigos. O ódio

é veneno que deve ser eliminado de nossas vidas. 3 - Enfrento minhas dificuldades no momento oportuno. As dificuldades de

ontem são passadas, e as de amanhã enfrentarei amanhã. Já me perguntaram como consigo fazer de 2 a 6 conferências num só dia. A resposta é que cuido de uma vez e não do volume total. À noite não fico pensando se me sai bem ou mal. Entrego tudo a Deus, tendo a consciência de ter feito o que estava ao meu alcance.

Li, há tempos, o livro de um médico psiquiatra sobre o valor terapêutico da

rendição pessoal. Neste livro está escrito que é uma boa terapêutica nos livrarmos de nossas próprias mãos e nos entregarmos a Deus.

Disse-me um médico que se os ministros não produzissem conversões, então

os médicos terão de tomar seus lugares, porque os consultórios estão cheios de pessoas que passam as enfermidades da alma para o corpo. De maneira que o fato mais importante que possa acontecer a uma pessoa é a sua conversão. Isto muda o centro de sua vida, de si mesmo para Deus, eliminando todo o senso de culpa e preocupação.

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Há tempos veio me falar um homem que dizia não poder conciliar o sono. Ele havia consultado um médico que lhe perguntara: “- Senhor, há alguma coisa pesando em sua consciência?”. Sua resposta foi imediata: “Doutor, eu vim para que me receite um medicamento e não para lhe expor a minha vida”. E foi embora aborrecido.

Todavia, voltou no outro dia e confessou: Doutor, realmente já algo pesando

em minha consciência. Eu roubei parte da herança do meu irmão”. Então o médico mandou que ele pegasse papel e caneta e escrevesse para seu irmão confessando-lhe a culpa e se propôs a ir junto com o cliente colocar a carta no correio. Quando a carta caiu no fundo da caixa, aquele homem virou-se para o médico e lhe disse: “Doutor, estou curado!” E realmente era verdade.

A maior coisa que pode acontecer na vida de alguém é o perdão de seus

pecados. É preciso colocar as pessoas em contato com Deus para que o Senhor tire suas culpas.

Como é que Deus cura? De muitas maneiras: Através de cirurgiões, que removem as obstruções para Deus ou a natureza

possam ajudar, porque as forças curativas já estão dentro do corpo, prontas para entrarem em ação quando preciso. De modo que a cura através dos médicos é cura divina. Não podemos, pois, evitar ir ao médico.

Deus cura também através da sugestão, porque é possível criar ao nosso

redor uma atmosfera de saúde ou de doença. Aqueles que somente falam em doenças dia e noite, que não têm outra

conversa senão doenças que criam para si, geralmente morrem jovens mesmo. Se ao contrário, esquecermos das doenças e pensarmos em saúde e em coisas saudáveis, afastaremos de nós as possibilidades de criarmos para um nós um corpo e um ambiente doentios.

Visitando o Egito, conheci um pregador que vivia constantemente preocupado

com sua saúde. Ele criava dores e devotava-se quase que integralmente a elas. Quando lhe disse que pretendia visitar as pirâmides, ele me perguntou: “Será que seu coração agüenta isso?”. Respondi-lhe que não sabia e nem estava interessado em saber. Se formos pensar em nosso cansaço, acabaremos mais cansados ainda.

Na Igreja de Lonkal, na Índia, há uma placa no terreno dos fundos com os

seguintes dizeres: “Neste lugar ajoelhou-se Stanley Jones, um homem doente, e levantou-se completamente curado”. A história é a seguinte:

Depois de oito anos de trabalho na Índia fiquei com esgotamento nervoso.

Voltei para a América para recuperar as forças e depois de um ano voltei.

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Acontece que ao passar pelas Filipinas, fiz algumas reuniões evangélicas e o esgotamento voltou. Continuei minha viagem para a Índia, mas as nuvens estavam escuras ao meu redor. Fui e voltei para as montanhas diversas vezes sem resultados. Desolado, estava chegando à conclusão de que não poderia prosseguir meu trabalho missionário.

Uma tarde, já no crepúsculo, ajoelhei-me no terreno dos fundos da Igreja. Orei

pela índia, pelo seu povo necessitado do auxílio divino e por todos os outros problemas. Deus, então, perguntou-me: “Estás pronto para esse trabalho para o qual te chamei?” Disse-lhe que não e que já havia esgotado os meus recursos para recuperar a saúde. Mas Deus me falou: “Entrega tudo isso a mim e não te preocupes, eu cuido de tudo”. Levantei os olhos, certo de que estava curado. Quando fui para casa meus pés pareciam nem tocar no chão. Nos dias seguintes nada mais senti de cansaço, e estava tão alegre que nenhuma fadiga tomou conta de mim. Isso foi há 48 anos. Até hoje não tive mais doença nervosa, e neste tempo tenho trabalhado mais que nos oito primeiros anos de minha estada na índia. Somente não viajo e faço conferências por toda parte do mundo quando estou escrevendo um livro. Não conto isto para me vangloriar, mas para mostrar o que é a graça de Deus.

Vi numa rodovia dos Estados Unidos, o seguinte aviso: “Estacionamento

proibido, a não ser para conserto”. Pensei então, no cristão, que não precisa estacionar para conserto, porque ele tem uma oficina mecânica dentro de si. Diz a Escritura que o Espírito que vive em nós há de avivar os nossos corpos mortais. De modo que quando o Espírito Santo está em nós, ele nos aviva fisicamente.

Alguns querem ter saúde, querem ser curados de suas enfermidades, mas não

querem ser completos como pessoas. Jesus disse que é necessário ser completo para ter saúde. Ele quer nos tornar completos.

Nós podemos colocar as mãos sobre os que pediram a cura física e orar por

eles. Se a cura vier, será por Jesus. Podemos orar pedindo a cura espiritual para outros. Também podemos pedir a cura física para mais alguns. Não devemos ter vergonha de pedir essas curas. Deus há de nos curar de nossas doenças ou nos dar o poder para a cura final na ressurreição.

CAPÍTULO OITAVO

O SENHORIO DE JESUS CRISTO

(Mateus 12:1-8)

“Aqui está um maior do que o templo”.

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O homem moderno está vazio, está colocado entre dois mundos: um que já morreu e outro que ainda não nasceu; e o homem moderno não pode permanecer assim, num vácuo. Ele se sente frustrado diante da insignificância de sua posição. E um psicanalista moderno disse: “A neurose central da nossa era é o vazio”. Eu mostrei ao Doutor B, um médico psicanalista um caso de psicanálise expresso em um livro meu sobre conversão. Julguei que ele fosse tomar aquele livro e jogá-lo para um canto, sem ler. Mas após ler o livro, ele escreveu: “Precisamos exatamente deste tipo de livro”. E disse ainda: “Todos os psicanalistas que não são superficiais têm chegado a essa conclusão: que a vasta neurose da nossa época pode ser classificada assim: VAZIO”.

Os homens têm cortado a raiz que os liga a Deus. Então, a vida torna-se sem

sentido, vazia porque quando Deus se vai de nossa vida tudo se vai, quando se vai Deus, vai-se o sentido da vida, quando o sentido se vai, vai-se nosso valor. Assim, a vida toda se torna como morta nas nossas mãos. É por isso que o homem moderno está à busca de fé. O homem moderno está vazio tanto no oriente como no ocidente. Vazio de significado do valor da vida.

Quero ajudar-vos na busca da fé, se possível. Estou tomando um texto que

encontrei numa igreja na cidade do México, escrito sobre a porta principal: “Eis aqui um que é maior que o templo”. Acho que este versículo deveria estar em todas as igrejas do mundo. Expressa, tão exatamente, tão fielmente o sistema cristão firmado por Cristo, mas nunca o vi em lugar nenhum a não ser naquela igreja mexicana.

Há uma grande quantidade de confusões sobre o que constitui a nossa fé

cristã. O cristianismo tem suas doutrinas, seus credos, mas não é doutrina nem credo; tem os seus ritos e cerimônias, mas não é um rito ou nem uma cerimônia; tem suas instituições, mas não é simplesmente instituição.

No verdadeiro sentido, cristianismo é uma pessoa, cristianismo é Cristo.

Tendes de ser cristãos e acreditardes em Deus, no homem, na vida através de Cristo. Não podemos começar com Deus, porque se alguém assim tentar não começará com Deus, mas com suas idéias a respeito de Deus. Não podemos começar com o homem, porque se assim for feito começaremos com os problemas do homem. E se alguém começar com os problemas, geralmente ficará com eles e se tornará um problema.

Há tempos, conversando com trabalhadores da obra de assistência social dos

Estados Unidos, perguntei-lhes se não eram eles problemas tratando de problemas. Eles me responderam: “Não começamos com Deus nem com o homem, começamos com o Deus-homem e todos nós progredimos até Deus e descemos até o homem”.

Um maior do que a Igreja está aqui. Eu amo a Igreja e através e diante dos

altares tenho achado a Cristo e Cristo me tem achado. Com todas as suas falhas,

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a Igreja de Cristo é a maior instituição de serviço que há no mundo. Tem muitos críticos, mas ninguém se revela melhor do que ela no trabalho de redenção do homem. Do norte ao sul, através dos tempos, por toda a parte, ela se empenha no trabalho de salvação e redenção das almas.

Mas aqui está um que é maior que a Igreja. Nenhum de vós se salva mediante

a Igreja. Ela é propriamente o assunto da redenção. Cristo ama a Igreja e deu-se a si mesmo para que pudesse redimi-la. Se a Igreja é objeto da redenção como poderia ela redimir? Mas se a Igreja nos tomar pela mão e nos levar aos pés de Cristo, é maravilhoso.

Uma vez os discípulos disseram a Jesus (Lc 9:49): “Vimos certo homem que,

em teu nome, expelia demônios e lho proibimos, porque não segue conosco. Então Jesus disse: Por que fizestes isto? “Não proibais; pois quem não é conta vós outros é por vós” (Lc 9:50). Por que Jesus disse isto? Certamente porque o importante não era que o homem seguisse aos discípulos, mas ao Senhor e Salvador Jesus. “Além de vós, há outros”. Jesus está afirmando: “seguir a vós não é coisa importante; seguir convosco não é coisa importante. O importante é seguir a mim, é seguir comigo.” Assim não importa se pertence a este ou aquele grupo. O importante, o centro de tudo é Cristo.

Eis aqui um que é maior que a Bíblia. Todos os dias eu leio a Bíblia e ela me

leva à Palavra além da carne. A Bíblia é o registro inspirado da revelação na pessoa de Jesus Cristo. Por isso, as palavras me tomam pela mão e me levam à Palavra que se fez carne. A Bíblia revela a pessoa de Jesus. Ela toma a cada um de nós pela mão e nos leva aos pés de Jesus.

Não somos salvos pela Bíblia. Somos salvos pelo Salvador Jesus que nos é

apresentado pela Bíblia. Eis aqui um que é maior que os milagres. Há que creia em que Cristo por

causa dos milagres. É costume realçarmos o nascimento sobrenatural de Jesus e sua ressurreição, tornando-o sobrenatural. Isso faz com que os milagres sejam colocados acima de Jesus.

Eis aqui uma mente que é maior que as vossas. Colocai essa mente acima de

vós mesmos. Será que este milagre se tornará possível à luz dessa pessoa? Sim, é claro, porque Ele é um milagre em si mesmo. Ele se eleva acima de todas as perguntas; Ele é o centro, um modelo, um milagre moral. Então, sendo Jesus um milagre não seria justo que fizesse milagre? A resposta é que sendo um milagre seria um milagre se não os praticasse. Eu não creio em Jesus por causa dos milagres; eu creio nos milagres por causa de Jesus. Eu não creio em Jesus por Ele ter nascido da Virgem Maria; eu creio no nascimento virginal por causa de Jesus. Eu não creio em Jesus por causa da ressurreição; eu creio na ressurreição por causa de Jesus.

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Eis aqui um maior que os milagres, maior que os ritos e cerimônias, que os ritos da comunhão e do batismo, maior que os homens. Tenho ministrado este louvor de várias formas e em muitas terras: o pão partido e o vinho, símbolos do corpo e do sangue de Jesus, são símbolos belos, mas eu não sou salvo por um rito; sou salvo por um Redentor. E se o rito puder vos tomar pela mão e vos levar aos pés do Redentor, é maravilhoso. Mas não somos salvos pelo rito, somos salvos pelo Redentor. Se a celebração da Ceia do Senhor puder tomar a cada um de vós pela mão, levando-vos aos pés do Redentor, é maravilhoso, mas se o rito parar em si mesmo, não é belo, é idolatria. Um maior que a Comunhão está aqui.

Eu amo o rito do batismo. É maravilhoso quando uma pessoa declara

publicamente e para dentro de si mesma: “eu pertenço a Jesus”. Mas ninguém nunca será salvo pelo batismo. É maravilhoso se o batismo vos toma pela mão e vos leva aos pés de Jesus. Mas se o batismo parar em si mesmo e se tornar centro de tudo, não é maravilhoso, é idolatria.

Tive como amigo um homem extraordinário, um homem santo. Ele era pastor

batista nos Estados Unidos. Seu gênio maravilhoso me fazia crer que possuía o que posso chamar de humor divino. Alguém lhe perguntou certa feita:

- O que o senhor pensa do batismo? Ele respondeu: - É formidável! É formidável! Mas tenhas cuidado. Não fique, porém, muito

dentro do rio. De certa feita, após realizar uma conferência numa igreja Batista do sul dos

Estados Unidos, o pastor daquela Igreja me declarou: “Irmão Stanley Jones, o senhor expressou de forma real a nossa fé que eu não hesitaria em tomá-lo para minha Igreja sem passar pelo batismo”.

Ninguém se salva por um rito ou cerimônia. Salva-se por um Salvador. Eis

aqui um maior que a cruz. Eu amo a cruz: “Foi na cruz, foi na cruz, onde um dia eu vi meu pecado

castigado em Jesus...”, mas ninguém se salva pela cruz. Salva-se por aquele que morreu na cruz e derramou seu sangue precioso.

Eu amo a ressurreição. Se Jesus não tivesse ressurgido, tudo estaria acabado

para nós. Mas ninguém se salva pela ressurreição – um acontecimento – mas salvam-se todos, os eu se salvam, pelo Cristo ressurreto, que levou consigo o acontecimento da ressurreição e muito mais.

Eis aqui um maior do todas as coisas.

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Alguém poderia dizer: “Sr. Jones, o senhor que está a dizer esta coisa mais ou menos abstrata, o que acha dos problemas que nos afligem?” Aqui está um que é maior do que os nossos problemas. Se levardes vossos problemas aos pés de Jesus Cristo, juntamente com toda a vossa fé, Ele cuidará desses problemas e dará a resposta certa e eficaz. Levai o problema com o vosso “eu” porque aquele “eu” que ainda não se rendeu é, provavelmente, o maior problema. Se alguém entregar o seu problema e a si mesmo a Jesus, recebe resposta.

Mas quem sabe alguém dirá: “O meu caso é diferente. Eu tenho temores na

minha vida. Há muita gente que tem temores: temor da doença, temor da morte, temor do futuro, temor do que as pessoas ao nosso redor pensam da sua vida, temor da falência”.

Um senhora me disse uma vez: “A base da minha vida é o medo”. Eu podia

ver que ela estava completamente tolhida de movimentos. Na costa ocidental dos Estados Unidos uma senhora veio falar comigo. Era

professora de física. Sabia tudo da vida menos como viver a vida. Ela disse: “Tenho estado lá nos porões, com ratos, cheia de medos”. Eu lhe disse: “Não é preciso viver com uma porção de ratos, cheia de temores. Você pode mover-se e estar nas alturas do céu”. Oramos e ela entregou-se, rendeu-se inteiramente com seus temores aos pés de Cristo. Recebi dela mais tarde uma carta na qual dizia: “Eu quero que o senhor saiba que já me mudei do porão para as alturas com todos os meus temores. Agora estou empregada em um serviço de relações públicas. Agora todas as minhas portas estão abertas. Antes eu vivia fechada. Eu tinha medo”.

Eis aqui um maior que os vossos temores. Desviai os vossos temores para

Jesus Cristo e Ele entrará no vosso coração e expulsará todos os temores. Mas alguém dirá: “Meu caso é diferente. Estou lutando com paixões e mais

paixões na minha vida”. Um coronel inglês uma vez me disse: “Eu estava tão obcecado pela paixão do

sexo que cheguei a pensar que nada pudesse me curar. Eu não arredei uma palha. Aconteceu, apenas um toque de Cristo e fui libertado, tornando-me tão livre como um bebezinho que está ainda sendo amamentado pela sua mãe. Estou agora livre porque Jesus me libertou”.

Alguém ainda dirá: “Meu caso é ainda um pouco diferente. Tenho outros

defeitos na minha vida”. Bem, encontrei-me na costa ocidental dos Estados Unidos com um homem

notável na sua aparência física; um verdadeiro Apolo. Ele me disse: “Eu já fui um alcoólico, o senhor acredita?”

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Olhei para ele e respondi: “Impossível”! E ele continuou: “É verdade. Comecei a beber e nunca pensei que aquilo fosse

me dominar, mas gradualmente o álcool me venceu. Lutei, lutei, mas fui vencido. Fui a um hospital para ver se podia curar-me e lá eu encontrei um homem em uma situação muito pior que a minha. Eu perguntei ao médico: ‘Aquele homem está numa situação muito ruim, doutor?’

Respondeu o médico: ‘Está, mas dentro de um ano ele estará bom. Mas você

ainda não estará bom’. O homem continuou: “A palavra daquele médico foi como se um tiro atingisse

meu peito e comecei martelar meu cérebro: nem um ano, nem em um ano ficarei curado. Naquela noite eu me pus de pé lá fora com as estrelas sobre a minha cabeça e lá me lembrei do que um leproso disse a Jesus: ‘Senhor, se queres bem podes limpar-me” (Mc 1:40). E a resposta de Jesus foi clara: ‘Eu quero! Sê limpo!” (Mc 1:41). Lembrando-me disso, levantei meus braços e orei: ‘Jesus, se tu quiseres, bem me podes limpar’ e a resposta veio decididamente ao meu coração. Naquele momento quebrou-se o poder do álcool em minha vida. Nunca mais bebi!”.

Há aqui alguém que é maior que os vossos defeitos. Mas se alguém ainda disser: “O meu caso é diferente. Eu estou vazio, não sei

como viver, perdi o sentido da vida”. Bem, há aqui um que é maior que o vosso vazio.

Uma senhora escreveu-me há tempos relatando o seu caso: “Alguém deu ao

meu marido o seu livro ´O Caminho´ quando ele terminou o curso universitário. Aquele livro ficou em nossa prateleira durante muitos anos, mas um dia tornou-se de alta valia para mim. O caso foi este:

“Após meus estudos superiores tornei-me negativa, cínica e amarga. Odiava a

muitos, inclusive a mim mesma e não suportava mais viver com o meu marido. Vi que meu lar estava para ser desfeito e iria me divorciar. Não encontrava solução para o meu problema e conclui que somente o suicídio resolveria a questão.

Comprei umas pílulas e deixei-as à mão para levar a cabo o meu intento. Na

oportunidade peguei as pílulas, atravessei a sala e me dirigia ao banheiro para buscar água, mas ao aproximar-me, tropecei e caí contra a estante de livros, fazendo tombar o livro “O Caminho”. Achei curioso, peguei-o e comecei a lê-lo ali mesmo. Aquilo que o senhor indicava em seu livro comecei a aplicar em minha vida e tudo se transformou. Creio que o senhor chama a isso de conversão. De qualquer forma eu sou uma mulher feliz, meu lar está mudado, eu e meu marido estamos novamente vivendo bem”.

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E agora direis: “Foi um milagre aquele livro cair aos pés da mulher no dia em

que ela ia se suicidar!” Não sei. Não é um livro grande, pesado. É um livro pequeno. Porque foi cair exatamente nos pés daquela mulher, não posso explicar, a não ser afirmando que o amor de Cristo nos acompanha momento após momento, desejando nossa salvação. O Senhor a alcançou exatamente naquele momento em que ela mais precisava. Este mesmo amor se encontra convosco, ele está vos pedindo que façais meia volta em vosso caminho.

Ninguém precisa dar mais um passo para longe de Deus. É necessário apenas

voltar-se e estar nos braços de Deus. Ninguém está mais distante do que uma palavra de Deus e esta palavra é “sim”. Tendes estado a dizer “não”, “não”, “não”, e tendes voltado as costas para Deus. Hoje é o momento em que podeis dar a volta e vos tornardes para Deus e dizerdes “sim”.

Aqui está um maior que o templo. Está aqui e tem estado a falar-vos através

da minha palavra a Seu respeito. Portanto, quero apresentar Jesus à vossa disposição. Ele está vivo. Ele quer fazer de cada um de vós nova criatura. Não importa o que já fizestes no passado, não importa em que situação desesperadora voz encontreis. Estou, apenas, pensando na rocha dos séculos em que deveis estar firmados. Podeis nascer de novo. O Evangelho que anuncia a Jesus Cristo vivo está ao alcance de vós - e não tendes que ser bons para que o alcanceis, tendes de desejá-lo.

Há duas formas de achar Deus: uma delas é tentar subir a escada do valor

pessoal até encontrá-lo. “Eu vou fazer isso, aquilo e aquilo outro. Vou subir a escada degrau por degrau até chegar a Deus”. Bem, todos aqueles que escolheram esta forma ainda estão no caminho, sempre estarão no caminho, nunca chegarão.

Mas a outra forma – esta a forma que creio certa – quando Deus desce a

escada até o nosso nível, encarnando-se em Jesus para chegar a nós e nos encontra no degrau mais baixo da escada como pecadores. Jesus disse: “Não vim buscar os justos, mas os pecadores” (Mc 2:17). Esta é a forma em que Deus é o centro para buscar-se a salvação.

Não tenho nada para oferecer senão minha vida e meu fracasso total. Mas

para minha grande surpresa, Ele que me tomou, me salvou e me faz andar cantando. A mesma coisa pode vos acontecer hoje. Oremos para que assim aconteça. . . . Nota: Esse capítulo 8 foi o sermão que o Rev. Stanley Jones pregou no Maracanãzinho em 3 de março de 1963, por ocasião de sua última visita ao Brasil. O texto

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abaixo, que contém o apelo que Stanley Jones fez às 10.000 pessoas que lotavam aquele ginásio, com mais de 500 decisões, não foi transcrito no livro mas vale a pena conhecê-lo: Eu poderia pedir para receberdes a bênção e orardes, mas isso não seria justo porque alguém poderá estar dizendo: “Eu quero encontrar a Cristo como meu Salvador”. Vou dar-vos uma oportunidade. Quero que permaneçais em oração. Vamos curvar as nossas frontes e orar. Vou fazer esta oração. Mas quantos de vós estarão querendo dizer: “Faça esta oração por mim. O senhor mostrou-me o caminho e eu agora quero encontrar a Jesus”. Quantos querem dizer: “Eu quero que o senhor ore por mim”. Não olheis para verificar o que os outros vão fazer, mas cada um de vós que desejar que eu ore pela sua vida, diga isto manifestando, levantando sua mão: “Eu quero aceitar Cristo como meu Salvador”. Enquanto todas as frontes estão curvadas, aquele de vós que quer manifestar-se dizendo “ore por mim”, erga a mão esquerda. Eu não teria vergonha de fazê-lo. Por favor, ergam suas mãos para que eu possa ver, mais alto, mais alto. Mais alto para que possa ver. Na galeria, quem deseja manifestar-se? Eu sou grato mas acho que quereis dizer mais do que isto. Jesus disse: “Todo aquele que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu pai que está nos céus” e vós quereis confessar diante dos homens. Aqueles de vós que desejai confessar diante dos homens, aproximai-vos pelas plataformas. Aqueles que vêm das galerias poderão se dirigir pelo corredor ao lado e vir à frente. Por favor, levantem-se e, nas galerias ao redor, eu peço as pessoas que indiquem o caminho, para que dêem a volta e venham à frente. Muitos de vós que não erguestes as vossas mãos podereis vos unir a este grupo e vir à frente. Todos os ergueram as mãos querem se levantar e vir aqui à frente? Podem vir. Podem vir. Ninguém deve ouvir a voz do seu orgulho, mas a voz de Jesus. Devem todos orar agora como nunca oraram em Cristo.

. . .