jc ibase 141 01c · em breve serei professor habilitado nessa área. portanto, preciso me manter...
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02 JORNAL DA CIDADANIA | Nº 141 | MARÇO ’08
O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econô-
micas (Ibase), criado em 1981 pelo sociólogo Be-
tinho, é uma organização não-governamental, sem
fins lucrativos, sem vinculação religiosa e a partido
político. Sua missão é a construção da democracia,
combatendo desigualdades e estimulando a partici-
pação cidadã. Um de nossos objetivos é contribuir
para uma cultura democrática de direitos. Defender,
valorizar e fortalecer a participação social e política
como direito e responsabilidade cidadã de todos e to-
das, sem desigualdades ou discriminações, sem racis-
mo ou machismo.
CONSELHO EDITORIAL
André Guimarães (Educafro)Elaine Ramos (jornalista)Eliane Ribeiro (Uerj)Marina Maria (jornalista)Mario Osava (IPS) Mônica Francisco Santos (Agenda Social Rio) Paulo Carrano (Observatório Jovem/UFF)Professoras Sonia Américo de Mello (Coordenadoria Metro-politana/RJ) e Inalva Mendes (E. M. Finlândia)Pelo Ibase: Marina Ribeiro (coord. do Pré-vestibular Popular CJ/Campo) e Luciano Cerqueira (cientista social)
Diretora responsável: Dulce Pandolfi Edição: Jamile Chequer Subedição: Flávia Mattar Revisão: AnaCris BittencourtEstagiários: Carlos Daniel da Costa e David da SilvaProdução: Geni MacedoDistribuição: Elaine Amaral de MelloAssessoria de imprensa: Rogério JordãoProjeto gráfico e diagramação: DotzdesignIlustrações: Guto MirandaDivulgação: Diego HerediaTiragem: 58.000 exemplaresISSN 1679-1762
Uma publicação do Ibase – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e EconômicasAv. Rio Branco, 124 / 8º - Centro - 20040-916 Rio de Janeiro/RJ - Tel.: (21) 2178 9400Fax: (21) 2178 9401
[email protected] www.ibase.br
As matérias assinadas não traduzem, necessariamente, a posição do Ibase.
Dê a sua opinião sobre o novo
Jornal da Cidadania.
Quero saber sobre o mo-
tivo da suspensão do envio
deste importante e imprescindível
meio de comunicação que dissemina in-
formação e conhecimento. Sou líder co-
munitário e faço curso de licenciatura em
História pela Universidade Estadual Vale
do Acaraú. Em breve serei professor habilitado
nessa área. Portanto, preciso me manter ciente e
atualizado sobre os acontecimentos nacionais e inter-
nacionais. Na maior parte das vezes, minha fonte é esta fonte de
saber jornalística, singular na minha concepção. Como sou com-
prometido com a formação da cidadania e da democracia, solicito
o retorno deste apreciado informativo.
José Aldaíde Amorim Gomes, leitor - Madalena, CE
RESPOSTA DA REDAÇÃO
Caro José, pedimos desculpas pelo transtorno e agradecemos a carta tão carinhosa. Tivemos problemas no envio de exemplares para algumas localidades, mas isso já foi resolvido. Esperamos contribuir com seu ativismo. Abraços.
04 JORNAL DA CIDADANIA | Nº 141 | MARÇO ’08
A diversidade cultural é um dos principais atrativos
da “Cidade Maravilhosa”. Da Baixada ao Centro do
Rio, ONGs, empresas e movimentos sociais vêm
trabalhando para manter espaços de lazer, de estu-
do, de resgate cultural ou histórico, onde é possível
enriquecer potencialidades. Para ficar ainda me-
lhor, alguns são gratuitos ou com preços populares.
Temos exemplos como o Centro Cultural Ban-
co do Brasil (CCBB) que, periodicamente, renova
atrações artísticas, sem citar o belíssimo acervo
literário que é uma importante fonte de consulta
nas áreas de Artes, Ciências Sociais e Literatura,
com 120 mil títulos informatizados, atualizados e
tratados por uma equipe de bibliotecários(as).
E que tal assistir uma peça teatral ou um musi-
cal de qualidade pagando apenas R$ 1? É verdade,
a prefeitura do Rio mantém um projeto chamado
“Domingo é dia de teatro”. Realizado sempre no úl-
timo domingo do mês, o projeto já levou mais de 20
mil espectadores(as) às principais salas da rede de
teatro do Rio de Janeiro. O próximo pode ser você.
Um casarão com dois andares chama a aten-
ção daqueles(as) que passam pela Rua Getúlio
Vargas, em Nova Iguaçu. É um lugar culturalmen-
te privilegiado no centro do município. Inaugura-
do em 2004, o Espaço Cultural Sylvio Monteiro
reúne, em seus dois andares, galerias de arte e
uma sala para oficinas educativas. E, num prédio
anexo, um teatro e uma biblioteca.
Artistas locais estão sendo cadastrados(as) e
convidados(as) a participar das atividades. São
artesãos e artesãs, artistas plásticos(as), atores
e atrizes, dançarinos(as), fotógrafos(as) etc. Tra-
zendo diariamente para o espaço atrações dife-
rentes. Para a rapper Re.Fem, é importante en-
volver as comunidades do entorno, pois acaba se
tornando “mais uma opção de atividades de troca
cultural e de informação”.
O mesmo faz a equipe da Casa da Cultura Me-
riti, que promove oficinas, eventos ou exposições
artísticas, possibilitando às comunidades vizinhas
a integração social por meio de ações culturais
gratuitas. Re.Fem, que também é moradora da
Baixada, fala do prazer de já ter participado de
uma das oficinas da Casa: “Eu já fiz oficina de
circo. Gente, zoei muito (risos)”, conclui.
INSTITUIÇÕES MOBILIZADASInstituições como o Observatório de Favelas e Raí-
zes em Movimento, que atuam nos conjuntos de
favelas da Maré e do Alemão, desenvolvem pro-
jetos itinerantes dentro ou fora das respectivas
comunidades. O Observatório, com o Cine Clube
Sem Tela, e o Raízes, com o evento Circulando,
levam para as áreas mais populares lazer e infor-
mação por meio de projeção cinematográfica e
de comunicação, arte e diálogo.
São idéias que põem o público em contato di-
reto com os(as) organizadores(as) e, conseqüen-
temente, com a produção, como afirma o coorde-
nador do Raízes em Movimento, Alan Brum: “Nos
últimos anos, produzimos trabalhos em diferentes
linguagens da comunicação, como jornalismo, gra-
fite, música, ilustração, fotografia. A última parte,
agora, é mostrar o resultado num evento, abrindo
espaço para que a comunidade participe e se sin-
ta estimulada também a produzir”.
Da mesma forma, vem trabalhando o pessoal
do Centro Interativo de Circo (CIC), que ocupa
um espaço na Fundição Progresso – Lapa. Suas
atividades são marcantes pela coletividade que
se estabeleceu nas ações: “Se a pessoa tiver o
mínimo de força de vontade, vai lá e aprende um
monte de coisas, desde malabarismo até música,
passando pela arte de rua”, afirma o colaborador,
Wagner Santana (Wag).
Toda quinta-feira, por exemplo, tem um
evento que já é ponto de encontro dos(as) “hip-
hopeiros(as)” de carteirinha. Estamos falando da
“Batalha do Conhecimento”, um momento de di-
versão conduzido pelas rimas improvisadas dos
MC’s de plantão. Wag, que também é um dos or-
ganizadores do evento semanal, diz que o ganho
está na oportunidade do desenvolvimento indivi-
dual dos(as) participantes e do público: “Estamos
tentando desenvolver mais o conhecimento do MC
e fazendo o público reconhecer isso. Na primeira
edição, não tinha nem 20 pessoas, hoje o espaço
lota....só com o marketing ‘boca a boca’. O impor-
tante é passar e receber conhecimento”, acentua.
Da redaçãoColaborou: David Silva
CcCANAL CULTURAL
ALGUNS ENDEREÇOSCASA DA CULTURA DE MERITIRua Machado de Assis, Lt 12 – Qd 84Vilar dos Teles – São João de Meriti – RJ
CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL RIO DE JANEIRORua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro RJ - CEP 20010-000De terça a domingo, das 10h às 21h(21) 3808-2020
CENTRO INTERATIVO DE CIRCORua da Lapa, 24 Lapa – Rio de Janeiro – RJDe segunda a sexta, das 14h às 22h(21) 2210-3324
“DOMINGO É DIA DE TEATRO”Prefeitura do Rio (Secretaria Municipal das Culturas)Rua Afonso Cavalcanti, 455 / sl 248 – Cidade Nova(21) 2503-2550 / 2503-2553 / 2503-9597 / 2503-9542 / <http://www.rio.rj.gov.br/culturas/>
ESPAÇO CULTURAL SYLVIO MONTEIRORua Getúlio Vargas 51 – Centro – Nova Iguaçu – RJ
GALERIAS DE ARTE E SALA DE PRODUÇÃO EDUCATIVA De terça a domingo, das 10h às 17h Biblioteca: de segunda a sexta, das 9h às 19h (21) 2667-2157 e 2667-2631
05JORNAL DA CIDADANIA | Nº 141 | MARÇO ‘08
A CONFERÊNCIA VEM AÍ!
Uma outra maneira para conhecer demandas e bandeiras dos(as) jovens é nas conferências, um importante mecanismo de consulta do governo à população e instrumento de participação social. De 27 a 30 de abril, será realizada em Brasília a 1ª Conferência Nacional de Políticas Públicas de Juventude. Ela deve ser mais do que um evento em que jovens de todo o país se encontrarão para debater quais devem ser as prioridades das políticas públicas para a juventu-de. Por isso, iniciou-se no fim de 2007 um processo de pré-conferências, conferências livres, municipais e estaduais que devem envolver o maior número de jovens possível, organizados em movimento ou não, para darem sua opinião sobre o assunto. Afinal, são quem sabem melhor do que ninguém o que pode melhorar em suas vidas! No fim de março, de 28 a 30, vai ocorrer a Conferência Estadual de Políticas Públicas de Juventude, no Rio de Janeiro. Se você quer ficar por dentro desse assunto, é só dar uma olhada nas páginas eletrônicas <www.conferenciadeju-ventude.wordpress.com> e <www.juventude.gov.br>. Nelas você encontrará informações sobre o que está sendo discutido, quando e onde os encontros vão se realizar e como participar. Certamente, você também tem demandas e bandeiras para compartilhar!
Patrícia LânesSocióloga, pesquisadora do Ibase.
Como os(as) jovens sul-americanos(as) estão se
organizando hoje? Quais são suas principais rei-
vindicações? Elas estão sendo atendidas pela
sociedade? Em 2007, Ibase e Instituto Pólis rea-
lizaram uma grande pesquisa na América do Sul
buscando pistas que ajudassem a responder tais
questões. Ao todo – e com a ajuda de uma rede
de instituições no Brasil e nos outros cinco países
pesquisados (Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e
Uruguai) –, foram estudadas 19 situações juvenis
e ouvidas 960 pessoas, entre jovens e adultos.
Com isso, foi possível conhecer diversos grupos
juvenis que expressam demandas relacionadas,
sobretudo, à educação, trabalho, circulação/trans-
porte, cultura, segurança e meio-ambiente. Esses
grupos vão desde sindicatos, partidos políticos e
movimentos ambientais até organizações comuni-
tárias e grupos culturais, como o hip hop e jovens
participantes de projetos sociais.
O estudo revelou, também, as maneiras pe-
las quais essas demandas e reivindicações estão
se tornando visíveis na sociedade. Os(as) jovens
organizados(as) estão indo para as ruas se mani-
festar, participando de reuniões e assembléias e
organizado atividades comunitárias. Tem muito(a)
jovem sul-americano(a) usando rádios, jornais,
panfletos e a Internet (por meio de blogs, listas de
discussão etc.) para darem o seu recado e se mos-
trarem para o mundo. E isso é muito importante.
Além de demandas concretas, como educação
pública e de qualidade, trabalho decente, direito
de circular pelas cidades e pelo campo, acesso
à cultura e à segurança e preservação ambien-
tal, os(as) jovens também querem ser reconhe-
cidos e valorizados. Estão cansados(as) de serem
vistos por estereótipos e sabem que muitos destes
(de jovem alienado(a), violento(a)/ perigoso(a),
despreparado(a) etc.) fazem com que políticas
públicas e ações criadas para a juventude não
consigam responder aos problemas que enfren-
tam no seu dia-a-dia.
Nesse sentido, os(as) jovens organizados(as)
que fizeram parte do estudo esperam que muitas
de suas demandas sejam respondidas pelo po-
der público. Ao falarem de direitos, esperam que
estes sejam garantidos pela sociedade, mas, so-
bretudo, pelos governos. E, também, reivindicam
espaços de participação, seja dentro dos grupos,
entidades e movimentos dos quais participam,
seja nos espaços de formulação, execução e ava-
liação das políticas públicas.
Infelizmente, na avaliação dos(as) pesquisado-
res(as) que participaram desse projeto, as políti-
cas pensadas para os(as) jovens ainda dispõem
de orçamentos limitados; têm problemas de de-
senho e de gestão; não garantem uma aborda-
gem integral dos problemas que atingem os(as)
jovens; quase nunca são articuladas entre si e
faltam nelas espaços de participação para os(as)
próprios(as) jovens.
Longe de ser uma avaliação pessimista do
que há de políticas públicas para os(as) jovens
na América do Sul hoje, esse quadro nos mostra
que ainda há muito por que lutar. E há muitos
jovens fazendo isso. Passar a encarar a questão
da juventude de forma regional, ou seja, numa
articulação entre povos, movimentos e nações do
continente sul-americano, pode ser um caminho
para contribuir para que nossas sociedades mu-
dem esse cenário.
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06 JORNAL DA CIDADANIA | Nº 141 | MARÇO ’08
Da redaçãoColaborou: Carlos Daniel da Costa
Thais Silva (18), moradora do bairro Jardim Amé-
rica, na cidade do Rio de Janeiro, está tirando seu
título este ano por causa da idade. Ela é obrigada
a votar, mas está animada por poder fazer a sua
escolha. “Meu voto vai fazer a diferença, vou es-
colher meus candidatos tendo consciência de em
quem vou votar. Acredito que pode aparecer uma
pessoa que possa fazer coisas boas”, afirma.
Como ela, mais de 2 milhões de jovens de 16 e
17 anos acreditam no poder do voto para a trans-
formação do país. Segundo dados do Tribunal Su-
perior Eleitoral (TSE), a emissão de títulos elei-
torais para jovens dessa faixa etária cresceu em
2007. Mas o voto de Thais faz a diferença?
Na opinião do sociólogo Cândido Grzybowski,
diretor do Ibase, sim. “Entramos em ano eleitoral e
a crise política nos leva a rever nosso papel como
cidadãos. Como estamos exercendo o direito de
votar e definir quem governa? Mesmo reconhe-
cendo que as eleições não são a panacéia geral,
votar é preciso”, defende.
O cientista político Paulo d´Ávila, professor da
PUC/RJ, concorda. “Acredito que o voto seja fun-
damental para a democracia, por várias razões. O
sistema de legitimação do exercício do poder po-
lítico que adotamos como ‘menos pior’ é o da de-
mocracia representativa. Reforçar as instituições
democráticas, mesmo que tenhamos motivos de
sobra para críticas, ajuda a garantir a manutenção
de um modelo de organização do poder que permi-
te a convivência de formas de pensar absolutamen-
te discrepantes, incluindo a sua”, esclarece.
O estudante de Jornalismo Diego Santos Fran-
cisco (20) tirou seu título aos 16, embora naquele
ano não fossem ocorrer eleições. Ele esperou um
ano para exercer esse direito, mas não se arrepen-
de: “Quando tinha 17, tiveram eleições munici-
pais. Escolhi meu candidato pelas idéias, nem foi
a pessoa que ganhou, mas era o meu candidato,
aquele em quem eu acreditava”, empolga-se. A
clareza sobre a importância do voto como forma
de exercer a cidadania também é um norte na vida
de Carla Beatriz Duarte de Souza (23), técnica em
Administração. Apesar de não ter tirado o título
aos 16 anos, Carla, desde cedo, importa-se com a
situação do país.
“Fui acostumada a participar de conversas que
envolviam política e acompanhar os acontecimen-
tos político-sociais do Brasil e do mundo. Tirei
meu título de eleitora aos 18 anos. Aos 16 anos,
me sentia pronta, mas eram eleições municipais,
não queria votar nos possíveis candidatos e sou
contra o voto branco ou nulo. Votei pela primeira
vez em 2002, nas eleições presidenciais”, conta.
Danilo Cavalcante (18) vai votar pela primeira
vez este ano, mas não tem a mesma animação de
Carla e Diego. A questão do voto ser obrigatório
pode pesar na hora de decidir o momento de tirar
o título.“Voto obrigatório é um saco! Deveria votar
quem quisesse!”, revolta-se.
Jéssica Honorato dos Santos (18) concorda: “O
voto não deveria ser obrigatório. Não sentia von-
tade de votar antes. Você tem que ter certeza em
quem vai votar, alguém que vai fazer algo pelo
povo. Deveria ser semelhante a outros países onde
o voto é uma opção”, diz.
O pesquisador do Laboratório de Pesquisas em
Comunicação Política e Opinião Pública (Iuperj),
Jairo Nicolau, explica esse desinteresse. “A juven-
tude de hoje não tem mais as mesmas crenças
e ideologias do passado. O mundo mudou, seus
valores e a forma de fazer política também. O que
acontece é que essa juventude tem algo de dife-
rencial que não existia há 10 anos. Acho que tem
a ver com a ineficiência da política tradicional, que
não agrada a juventude. Eles olham esses políticos
e acham isso muito estranho. Realmente é, parla-
mentares usando terno e gravata e falando de coi-
sas técnicas. Assim, não conseguem conquistar
os jovens eleitores”, conclui.
COMO ESCOLHER?Polêmicas à parte, uma pergunta que fica no ar
para quem vai votar pela primeira vez é saber como
decidir. “O que é importante é a confiabilidade das
informações consumidas no processo de decisão,
independente dos critérios adotados por cada um
na dura tarefa de realizar uma escolha. Portanto,
a primeira escolha é o tipo de informação ou meio
de obtenção de informação que se vai privilegiar”,
explica Paulo d´Ávila.
Quando se trata dessa escolha, Carla Beatriz
Duarte é enfática: “Pense bem em quem votará,
procure conhecer o passado do seu candidato,
como chegou ao partido ao qual pertence e quais
suas propostas. Não vote por protesto, pois as-
sim ganham pessoas que não têm o mínimo de
conhecimento político. O voto bem feito e com os
eleitores cobrando dos políticos suas obrigações
pode fazer a diferença no Brasil. Temos muito
que avançar e a postura dos eleitores é a grande
arma que temos”, conclui. Agora, é com você.
VOTE!
tire seu tÍtuloQuem quiser votar nas eleições de 2008, pre-
cisa tirar o título de eleitor, no máximo, até o
dia 7 de maio. Para isso, compareça à zona
eleitoral referente à rua onde você mora com
os seguintes documentos:
– documento de identificação pessoal (RG;
certidão de nascimento);
– comprovante de residência.
Mais informações em: <www.tse.gov.br/>
07JORNAL DA CIDADANIA | Nº 141 | MARÇO ‘08
Andaram dizendo por aí que o Fórum Social Mun-
dial (FSM) perdeu sua força. É, parece que o fato
de, em janeiro de 2008, 72 países terem promo-
vido eventos e manifestações – 19 cidades só no
Brasil – pela busca de um outro mundo possível
não comove certos segmentos da sociedade.
Essa “descentralização” do FSM foi uma forma
de mostrar e valorizar a diversidade da sociedade
no mundo. Dar mais visibilidade às questões lo-
cais e mostrar que, ainda assim, ainda que as di-
ferenças de tradições e culturas existam, que as
sociedades funcionem cada uma a seu modo, al-
guns elementos em comum permeiam esses gru-
pos. Um deles é exatamente aquele que fermenta
o Fórum: a contraposição ao neoliberalismo.
O FSM é um espaço para unir forças de trans-
formação da sociedade. Hoje, vivemos em um
mundo no qual o que importa é “meu pirão pri-
meiro”. Um mundo capitalista tão complicado que
não respeita o que é ser humano. Tudo se trans-
forma em “coisa vendável”, o trabalho, os bens
materiais e imateriais etc. E o objetivo do Fórum é
transformar a sociedade dando mais sentido para
as relações humanas. Construir uma sociedade
planetária com cidadania de fato, o que signifi-
ca a existência de igualdade nas oportunidades,
respeito à diversidade e pluralidade de idéias, às
questões de gênero e opção sexual, diferenças
de cor, raça, credo e de localização geográfica.
Você pode estar pensando que, olhando daqui,
isso tudo parece muito distante de ocorrer. Mas pode
não ser bem assim. O Fórum Social Mundial teve
seu primeiro encontro em 2001, em Porto Alegre,
e reuniu 20 mil pessoas. Nos sete encontros mun-
diais, foram mais de 650 mil pessoas. Além desses,
centenas de encontros locais e regionais ocorreram
pelo mundo. Deve haver algo acontecendo, um de-
sejo, uma sinalização para reunir tanta gente, não?
Nos encontros deste ano no Brasil, várias de-
mandas, discussões e articulações importan-
tes foram sinalizadas. Em Maricá, no estado do
Rio, houve debate sobre a disputa por terras na
região. Em Nova Friburgo, no mesmo estado, a
discussão foi sobre a importância da água como
fonte de vida. Em Fortaleza, Ceará, um cortejo
organizado por mais de 40 organizações também
saiu em defesa da água e da terra como direito
humano de todos e todas.
Outras cidades brasileiras realizaram manifes-
tações por um outro mundo possível. Juiz de Fora,
em Minas Gerais, discutiu questões como o des-
matamento na Amazônia, cenários do Brasil e da
América Latina. Foi redigida a Carta de Juiz de
Fora, entregue ao Comitê Internacional do FSM.
Em São Paulo, foi a vez do “Sábado-feira”, que
reuniu mais de uma centena de instituições sociais
e grupos culturais para compartilhar experiências.
Reforma política, violência contra a mulher, músi-
ca e teatro marcaram o evento cultural e político.
No Rio, o evento político também uniu-se ao
cultural. Com o slogan “Cultura, arte e política por
um outro mundo possível”, o encontro Rio Com
Vida reuniu cerca de 10 mil pessoas em torno de
shows, passeatas e economia solidária. Em Be-
lém, no Pará, sede do próximo encontro mundial
em janeiro de 2009, além de debates, um cortejo
político-cultural animou mais de 6 mil pessoas
manifestantes contra o colonialismo, patriarcado,
neoliberalismo, racismo, trabalho escravo e diver-
sas outras formas de exploração.
AINDA É POUCO?Mas ainda assim, você me pergunta: “Onde estão
os resultados?”. O Fórum Mundial de Educação
(FME), que será realizado na Baixada Fluminense,
em março (ver página 16) é um deles. O tema deste
ano é “Educação cidadã”, na busca para garantir
os direitos sociais a todas as pessoas. No FME,
uma Plataforma Mundial de Educação vem sendo
elaborada a cada edição. É a defesa da educação
como um direito humano fundamental e ferramen-
ta para eliminar a pobreza e as desigualdades.
Também a economia solidária ganha força
com o FSM. Hoje, o país tem uma Secretaria Na-
cional de Economia Solidária a partir da pressão
de grupos que outrem se encontraram no Fórum,
se articularam e estão se fortalecendo.
A juventude também encontrou seu caminho.
Só os Acampamentos Internacionais da Juven-
tude de todas as edições do FSM reuniram mais
de 80 mil pessoas. Em 2005, por exemplo, de-
mocracia direta, gestão ambiental sustentável e
novas formas de fazer política foram praticadas
pelas 35 mil pessoas que lá estavam.
O FSM é um processo, o que significa que ele
ocorre o tempo todo e depende de cada um(a) de
nós. Você pode fazer parte dele, a partir de agora.
Não precisa, necessariamente, estar em todos
os eventos. Pode começar desejando um mundo
mais justo, mais igualitário, onde o “outro” seja
respeitado. Pode encontrar seus amigos e amigas
e pensar propostas para sua escola, formar um
grupo de articulação com outras escolas e propor
mudanças na educação. Basta começar a cons-
truir esse outro mundo possível.
E aí, o FSM perdeu a força? Nos encontramos
em Belém.
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FÓRUM À TODA FORÇA
08 JORNAL DA CIDADANIA | Nº 141 | MARÇO ’08
Dados do Ministério das Comunicações mostram
que existem no país 279 TVs comerciais e 177
TVs educativas. Seguindo o que estabelece a
Constituição, no artigo 221, essas emissoras de-
vem disponibilizar uma programação que atenda
aos seguintes princípios: finalidades educativas,
artísticas, culturais e informativas; promoção da
cultura nacional e regional e estímulo à produção
independente; regionalização da produção cultu-
ral, artística e jornalística; e respeito aos valores
éticos e sociais da pessoa e da família.
Na prática, eles não estão plenamente pre-
sentes, sobretudo nas emissoras privadas. Para
reverter isso e regulamentar o artigo 221, uma
série de projetos de lei (PL) está em tramitação
no Senado Federal, como o de nº 256 (1991),
da então deputada federal Jandira Feghali. Esse
PL reforça a regionalização da programação das
emissoras de TV, estabelecendo percentuais mí-
nimos de veiculação da produção local e preven-
do instrumentos legais de fiscalização.
Enquanto os PLs não são aprovados, a medi-
da provisória nº 398 criou, em 2007, a Empresa
Brasil de Comunicação (EBC), pensada para ge-
rir o sistema público de radiodifusão, incluindo a
TV Brasil. À frente da EBC está a jornalista Tereza
Cruvinel, que chama a atenção para o papel da
TV pública (também chamada de educativa). “A
TV Brasil deve ser vista como uma conquista de
cidadania. É o Estado devolvendo ao cidadão par-
te de sua contribuição em impostos, oferecendo
um serviço qualificado”, destaca.
Ao contrário das TVs comerciais, pautadas
pelo lucro e aferição de audiência , Cruvinel expli-
ca que “a grande qualidade da TV pública é que
ela garante ao cidadão o direito à informação e o
acesso a uma programação diversificada sobre a
qual ele tem influência efetiva”. A proposta é que
a TV Brasil não se paute pela lógica econômico-
financeira e não se subordine ao poder político,
sendo um serviço público que conte com a parti-
cipação direta de cidadãos(as), acompanhando e
fiscalizando a qualidade da programação.
Preocupada com a garantia dessa participa-
ção, a sociedade civil organizada tem se mobi-
lizado para cobrar espaço na nova TV pública.
O Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação
Social, que defende a comunicação como direi-
to humano, apresentou, em janeiro, ao Conselho
Curador da EBC, um documento com propostas
que visam fortalecer o envolvimento cidadão na
gestão, produção e avaliação da TV Brasil. Para
o Intervozes, o Conselho tem a função de contri-
buir para a transparência da empresa e para uma
cultura de participação.
“Os movimentos sociais e ONGs que lutam
pela democratização dos meios de comunicação,
apesar de intensa reivindicação, foram excluídos
do processo de concepção da TV Brasil”, lembra
Bia Barbosa, jornalista e integrante do Intervo-
zes. Com o envio desse documento, ela espera
que o processo seja mais participativo, de for-
ma que consultas e audiências públicas sejam
instrumentos para um diálogo constante com o
Conselho Curador.
A SERVIÇO DA CIDADANIAPensar como a televisão e outras linguagens de
comunicação podem estar a serviço da cidadania
é papel das TVs educativas e tem sido o desa-
fio de alguns órgãos, como a Empresa Municipal
da então deputada federal Jandira Feghali. Esse
PL reforça a regionalização da programação das
emissoras de TV, estabelecendo percentuais mí-
nimos de veiculação da produção local e preven-
do instrumentos legais de fiscalização.
da provisória nº 398 criou, em 2007, a Empresa
Brasil de Comunicação (EBC), pensada para ge-
rir o sistema público de radiodifusão, incluindo a
TV Brasil. À frente da EBC está a jornalista Tereza
Cruvinel, que chama a atenção para o papel da
TV pública (também chamada de educativa). “A
TV Brasil deve ser vista como uma conquista de
cidadania. É o Estado devolvendo ao cidadão par-
te de sua contribuição em impostos, oferecendo
um serviço qualificado”, destaca.
pelo lucro e aferição de audiência , Cruvinel expli-
ca que “a grande qualidade da TV pública é que ca que “a grande qualidade da TV pública é que
A recente criação pelo governo federal da TV Brasil, que resulta da fusão
da programação de TVs educativas, tem gerado debates sobre o papel da
TV pública na sociedade brasileira. Mas, afinal, o que é TV pública? Você
costuma assistir a emissoras educativas e culturais? Está satisfeito(a) com
o conteúdo veiculado na televisão em geral?
TV Pública de qualidade: temos direito
Marina MariaJornalista, conselheira do Jornal da Cidadania.
JORNAL DA CIDADANIA | Nº 141 | MARÇO ’0808
QfQUAL FOI?
09JORNAL DA CIDADANIA | Nº 141 | MARÇO ‘08
de Multimeios da Prefeitura do Rio de Janeiro
(Multirio). Embora seja uma produtora, a Multi-
rio apresenta uma forma inovadora de apoiar a
formação de alunos(as) da rede de ensino da
cidade. A partir das linguagens impressa, audio-
visual e digital, desenvolve um trabalho que alia
mídia e educação nas práticas pedagógicas(as)
e, por conseguinte, no aprendizado de crianças
e jovens.
A revista Nós da Escola e o Portal Multirio são
exemplos de instrumentos criados com finalida-
des pedagógicas, culturais, sociais, visando ao
direito de cidadania da comunidade escolar. No
caso da TV, a empresa pública produz progra-
mas veiculados na Band Rio e no canal a cabo
14 da NET, incluindo documentários, programas
culturais e informativos interativos, produções
para crianças e campanhas de interesse público.
O diferencial é que boa parte dessa produção é
criada com alunos(as) e educadores(s) das cerca
de 40 mil escolas municipais da cidade.
Presidenta da produtora, a pedagoga Regina
de Assis afirma que a associação entre mídia e
educação tem papel importante no processo de
inclusão da população, na garantia de acesso ao
conhecimento e à discussão em torno de valores e
no reconhecimento das diferenças. Cabe aos(às)
profissionais de comunicação e educadores(as)
identificarem os recursos mais eficazes e como
podem ser inseridos no processo de formação
dos(as) alunos(as).
Entre esses recursos, a animação tem se fir-
mado como um instrumento educativo e de pro-
moção da cidadania. Porém, apesar da expressiva
visibilidade na televisão, o investimento nesse se-
tor ainda é baixo para que uma indústria nacional
de desenho animado seja consolidada.
Além disso, a produção veiculada nas emis-
soras privadas brasileiras é basicamente estran-
geira, de maneira que desenhos animados nacio-
nais têm espaço apenas em TVs educativas, como
a antiga TVE/RJ, agora TV Brasil. O animador An-
drés Lieban, da 2dLab – um estúdio de animação,
fundado em 1998, com produções premiadas na-
cional e internacionalmente –, avalia que o cenário
internacional é bem diferente do brasileiro.
Para desenvolver um trabalho de qualidade em
animação, a pesquisa estética é uma importante
etapa que envolve tempo, recurso e investimento,
aspectos que, segundo Lieban, não atraem as TVs
privadas, pela incerteza da eficácia dessas produ-
ções. Assim, optam por continuar a importar séries
que reproduzem outras culturas. Nesse aspecto,
as TVs públicas, por meio de editais de incentivo
à produção independente, com financiamento do
Ministério da Cultura, colaboram para a dissemi-
nação da produção nacional, em programas como
o Curta Criança, já na terceira edição.
A parceria com outros países acaba sendo
uma alternativa diante do insuficiente incentivo
interno, com a possibilidade de exportação e in-
tercâmbio no desenvolvimento de trabalhos. A
2dLab, por exemplo, já criou animações para a
série Um Menino muito Maluquinho, da TV Bra-
sil, fez clipes musicais premiados, entre os quais
para Aquarela, de Toquinho, participa de festi-
vais internacionais, como o Animamundi, e busca
agora o mercado internacional, a partir de dois
projetos em co-produção com Canadá.
Um deles é a série animada, em fase de desen-
volvimento, Meu amigãozão, que conta a história
de três crianças que têm a ajuda de amigos(as)
imaginários(as) – um elefante azul, uma girafa
e um canguru – para resolver problemas do
dia-a-dia. “Precisamos reforçar uma parceria
entre governo, televisão e produtores(as) para
que consigamos criar um espaço de desenvolvi-
mento da animação no país. Estamos tentando
usar nosso currículo para conseguir implantar
uma produção de série que passe em TV, que
atinja o público brasileiro, mas que também
passe para o público de fora, senão a produção
não se paga”, observa Lieban.
Já a Multirio destina parte de seu orçamento
para o desenvolvimento de animação e tem se
destacado no cenário brasileiro por suas produ-
ções, como a série Juro que Vi, criada a partir
da interação entre alunos(as), desenhistas e
educadores(as) que revisitaram o folclore brasi-
leiro numa espécie de resgate da identidade cul-
tural e regional.
Regina de Assis explica que o objetivo foi tra-
balhar conflitos e questões reais da vida, como o
medo e a coragem, a beleza e a feiúra, de forma
leve e lúdica, a partir das lendas brasileiras, es-
colhidas com alunos(as) de uma escola da rede
municipal. “Pegamos a versão que o autor Luís
de Câmara Cascudo produziu dos mitos brasi-
leiros e escolhemos uma escola para trabalhar.
Com alunos de 6 a 12 anos, relemos as lendas
e escolhemos quais transformaríamos em anima-
ções”, conta Regina.
Juro que Vi foi premiada em festivais nacio-
nais e internacionais, como o Animamundi.
Para a pedagoga, manter aspectos da cultura
brasileira é essencial para comunicar também
a outros países. “A linguagem universal é a da
imagem em movimento. O êxito da animação é
dar um caráter muito regional, brasileiro, na es-
tética do traço, nas cores, até nas expressões,
que são diferentes do que os estúdios Disney ou
os mangás japoneses fazem. Conseguimos fa-
zer com que a questão local fale com o mundo
inteiro”, finaliza.
O BOTO, JURO QUE VI / MULTIRIOMEU AMIGÃOZÃO / 2DLAB
AQUARELA / 2DLAB
JORNAL DA CIDADANIA | Nº 141 | MARÇO ’0810
Para nós mulheres jovens, o mês de março é um
dos mais importantes do ano já que no dia 8 ce-
lebramos o Dia Internacional da Mulher.
E você sabe como surgiu esta data? Ainda hoje,
existem várias versões. Porém, a mais conhecida
é a história das operárias de uma fábrica têxtil de
Nova Iorque, que pegou fogo em 8 de março de
1857, durante uma greve das trabalhadoras que
lutavam por melhores condições de trabalho.
Embora esse lamentável episódio tenha acon-
tecido, pesquisas históricas mais aprofundadas
põem em dúvida a ocorrência nesse dia e demons-
tram que várias outras heróicas lutas das mulheres
concorreram para a fi xação do 8 de março como
Dia Internacional da Mulher. Dentre elas, a mobili-
zação das mulheres em muitos países pelo direito
ao voto e a ação política das operárias russas que
desencadeou a revolução em 1917, saindo às ruas
contra a fome, a guerra e a tirania.
E POR QUE É IMPORTANTE CONHECERMOS ESSA HISTÓRIA? É importante para sabermos que esse dia é um
símbolo da luta, de nós mulheres, por direitos,
igualdade e autonomia! E ainda hoje, apesar de
todos os avanços que já tivemos – como a con-
quista do direito ao voto, estudo, trabalho, divór-
cio e tantas outras, como já falamos na edição
passada –, ainda temos muito que caminhar para
conquistarmos a igualdade de fato.
E para nós jovens, que já nascemos com mui-
tos desses direitos conquistados, essa é a hora de
dizermos o que ainda nos incomoda, onde e como
ainda somos discriminadas e colocar a boca no
trombone com nossas reivindicações!
Ainda passamos por uma série de preconcei-
tos e constrangimentos, quando, por exemplo, ao
passarmos nas ruas, somos obrigadas a fi car ou-
vindo “gracinhas” machistas; dentro de casa, sem-
pre sobra para nós a obrigação de fazer a maioria
das tarefas e de cuidar das(os) irmãs(aos) mais
novas(os); quando os(as) namorados(as) querem
controlar com que roupa e com quem andamos,
com quem falamos; a família querendo controlar
nossa vida sexual e, quando engravidamos, a culpa
e a responsabilidade de uma gravidez não planejada
sempre recai sobre nós. Embora sejamos a maioria
da população, ainda somos a minoria nos espaços
de representação política; sem falar na difi culdade
que enfrentamos para arrumar emprego...
Ufaaaa, já deu pra ver que ainda temos muito
pelo que lutar, hein??? E você, como está se orga-
nizando para mudar esta realidade? Nós mulhe-
res jovens já contribuímos e podemos contribuir
ainda mais para dar continuidade à luta feminista
pela igualdade de oportunidades entre os sexos.
Muitas de nós já estamos organizadas de diver-
sas formas nas escolas, comunidades, em grupos
culturais, instituições de mulheres, entre outros.
Núcleo de Mulheres Jovens da Casa da Mulher Trabalhadora (Camtra)Contatos: (21) 2544 0808 [email protected]<www.camtra.org.br>
AeAGORA É QUE SÃO ELAS
Um bom exemplo de que as mulheres jovens
estão se organizando é a realização do I Encontro
Nacional de Jovens Feministas, que será realizado
de 13 a 16 de março, em Fortaleza/CE, e reunirá jo-
vens mulheres de todo o Brasil para discutir temas
ligados à nossa situação no país. Esse encontro
faz parte de um processo ainda mais amplo, que
culminará na I Conferência Nacional de Juventude
ainda este semestre, em Brasília. Nós mulheres jo-
vens temos que nos organizar para levantar nossas
reivindicações. Aqui no Rio de Janeiro, o Núcleo
de Mulheres Jovens da Camtra constrói, em con-
junto com outros grupos de jovens, a Conferência
Juventudes do Rio de Janeiro Levantem suas Ban-
deiras – Conferência Livre.
Essas são só algumas demonstrações de como,
podemos nos organizar para transformar a história
das mulheres no Brasil. Como podemos ver, ainda
teremos muitos 8 de março pela frente para exigir
nossos direitos e celebrar nossas conquistas!
SÍMBOLO DE LUTAFOTOS <WWW.SXC.HU>
JORNAL DA CIDADANIA | Nº 141 | MARÇO ‘08 11
CONSIDERA-SE UMA ARTISTA OU UMA ATIVISTA?Hip hop é o ativismo artístico, as duas partes não se
separam. Procuro sempre incluir isso no meu dia-a-
dia. O hip hop ajudou muito na minha identifi cação
como negra e como feminista, de buscar conheci-
mento para levar às pessoas. Passei a estudar e a
ler mais. O hip hop me deu uma profi ssão, foi por
causa disso que consegui meu primeiro emprego.
Como fez o seu primeiro rap?Em fevereiro de 2000, fi zeram um evento perto de
casa e resolvi cantar porque não havia mulher can-
tando. O único show com mulheres que tinha visto
foi o da Anfetaminas. Achei legal, mas não atingia
as meninas das periferias. Sempre achei que a
mulher tem que ser protagonista. Não admitia que
não houvesse mulher na cultura hip hop da Baixa-
da. Assim, fi z uma música que falava de política.
Você é uma das organizadoras do Encontro Nacional da Juventude Negra, Enjune, certo?Sim, o ponto de partida dessa iniciativa foi a Marcha
Zumbi+10, realizada em Brasília, em novembro de
2005. Os jovens que saíram dessa marcha resolve-
ram organizar o Enjune porque, muitas vezes, são
realizadas mobilizações do movimento negro e a
juventude participa de forma dispersa. Temos uma
Secretaria da Juventude no governo, mas a juven-
tude negra não está sendo contemplada por essas
ações. Ainda estamos morrendo, estamos fora das
escolas, desempregados, não temos bom acesso à
saúde. Por isso, resolvemos organizar esse encon-
tro, para conversar com jovens de todo o Brasil.
E qual foi o resultado da iniciativa?Foram feitos encontros estaduais e regionais, em
que discutimos saúde, educação, cultura, vio-
lência. Em julho de 2007, em Salvador, em um
encontro nacional com cerca de 700 jovens, de-
cidimos montar uma campanha, que esperamos
lançar este ano, contra o genocídio da população
negra. Até maio, vamos lançar o Fórum Nacional
da Juventude Negra, que vai discutir políticas pú-
blicas para essa juventude e fortalecer as ações
de empoderamento da juventude negra que são
realizadas dentro das suas comunidades. Se a
sociedade não nos protege, as políticas públicas
não nos protegem, vamos nos proteger uns aos
outros porque estamos morrendo em massa.
Você também participa de uma rede com jovens sul-americanos?Sim, essa iniciativa tem parceria com a Fase, com
apoio da União Européia e várias outras organizações
que trabalham com jovens no Mercosul e no Chile.
O projeto chama-se Juventude, Direitos e Derechos.
Nele, identifi camos que um dos direitos mais viola-
dos tem a ver com o acesso ao lazer. A partir daí, ini-
ciamos diálogos com as prefeituras, associações de
moradores e pessoas que poderiam ajudar a mudar
isso. Entramos em outras áreas também, como o
primeiro emprego, mídia, foram feitas várias ações.
Como está vendo a política, os partidos, o jogo duro do poder?A imagem que tenho da política é a de um cabo de
guerra. Em algum momento da vida, pensei: ‘Vou
me candidatar porque vou revolucionar alguma coi-
sa’. Só que não é bem assim, posso me candidatar,
ganhar, mas se quiser, por exemplo, aprovar a lei
que descriminaliza o aborto, vou precisar negociar
e, talvez, tenha que ceder naquilo que não consi-
dero certo, é faca no coração. Passei a prestar mais
atenção nisso a partir do governo Lula, um cara que
ajudei a colocar lá, em quem acredito. Vejo a gale-
ra só metendo o chicote, o cara faz uma ótima po-
lítica, só que muito do que ele não fez ou não pôde
fazer foi por causa desse jogo político. Aprendi que
não depende só dele, não depende só do vereador,
do deputado federal ou do senador que ajudei a
eleger. Depende de toda uma conjuntura política.
A juventude hoje participa mais da política?A juventude está organizada, questionando, cor-
rendo para tirar o título de eleitor. Na Baixada,
existe o Grupo Enraizados, de Nova Iguaçu. Eles
praticamente moram no prédio da prefeitura. Orga-
nizaram a Escola de Formação de Militantes, con-
seguiram câmeras e saem pelas ruas da cidade,
fi lmando, entrevistando as pessoas. Já fi zeram do-
cumentário sobre primeiro emprego, sobre espaço
público, saneamento. Outro exemplo é a galera do
Setor BR, em Mesquita, que vem desenvolvendo
um bom trabalho com a prefeitura. Em São João de
Meriti, percebo também que há um diálogo forte
da juventude com a prefeitura. Penso que, nestas
eleições municipais, a participação da juventude,
principalmente na Baixada, vai ser muito mais forte.
Trechos da entrevista publicada na revista Democracia Viva
do Ibase nº 38, março de 2008.
Revolta Feminina. “Revolta da necessidade de pre-cisar falar para as pessoas o que está acontecendo que tinha que causar revolta no povo. E Feminina porque, quando entrei, as mulheres pareciam meni-nos. Por isso, fiz questão de cantar de saia, brinco, maquiagem, igual a uma menina, feminina mesmo. E fazer os caras me respeitarem por isso.”
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JORNAL DA CIDADANIA | Nº 141 | MARÇO ’0812
m 2006, o prefeito do Rio de Janeiro César Maia assinou decreto que orienta e programa as
comemorações previstas para este ano, quando do bicentenário da chegada da Família Real
portuguesa à cidade. Dentre outras, estão previstas iniciativas como: “grandes espetáculos de teatro
de rua que irão reproduzir a chegada da Família Real, [...], transformando a Praça XV em um imenso
cenário”; a realização de exposições com obras de Nicolas Taunay e Grandjean de Montigny, artistas da
missão francesa que chegaram ao Brasil durante o governo joanino; além de um concurso entre estu-
dantes da 5ª à 7ª série das escolas da rede municipal de ensino, que irá premiar “o melhor desenho e
a melhor redação sobre a estada da Família no Rio de Janeiro”.
Ao que parece, o decreto do prefeito não virou letra morta. Nas estantes das livrarias, há inúmeros
títulos sobre o tema. E, a partir de março, o Centro do Rio de Janeiro deverá, finalmente, assistir ao “es-
petáculo do desembarque da Família Real” – a encenação está prevista para outubro.
Esse evento, para muitos estudiosos, marca o início de um novo tempo na vida da Colônia. Alguns
deles, entusiasmados, como o jornalista Laurentino Gomes – autor do best-seller 1808 – chegam mesmo
a afirmar que coube a D. João inventar o Brasil, “construir um Brasil que não existia”. Diz ele: “Não é só a
chegada da Corte que se comemora, mas os 200 anos da indústria, da imprensa, do Banco do Brasil, da
Marinha, das escolas superiores, do comércio internacional, na realidade o Brasil está fazendo 200 anos”.
Vejamos agora um outro documento oficial que, em maio de 2008, completa 200 anos. A Carta
Régia assinada pelo próprio D. João, então já devidamente instalado no Rio de Janeiro. Prestemos bem
atenção neste pequeno trecho:
A Carta Régia de D. João abriu caminho para uma luta sem par contra aqueles povos indígenas que,
no começo do século 19, espalhavam-se pelos atuais estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Es-
pírito Santo e Bahia. Quais as razões que levaram o governo joanino a adotar uma “guerra sem fim”
contra eles? Quem eram? Há remanescentes dessas tribos nos dias de hoje?
Para tratar desses e de outros temas, entrevistei o historiador Marco Morel, professor de História da
Universidade Estadual do Rio de janeiro (Uerj) e ex-pesquisador do Ibase, que, nos últimos anos, tem se
dedicado a estudar essa história. Meu objetivo, ao chamar a atenção para a guerra empreendida contra
os botocudos, foi o de jogar luz para outras faces, ainda pouco iluminadas, do governo joanino no Brasil, o
qual, como veremos a seguir, também se valeu dos tradicionais métodos de violência e de extermínio que,
desde os tempos coloniais, marcaram a história das relações do Estado com as populações indígenas.
Américo Freire*
* Historiador e professor do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOOC/FGV).
JORNAL DA CIDADANIA | Nº 141 | MARÇO ‘08 13
Como se interessou pelos botocudos? Tomei contato com a Carta Régia de D.João, de
maio de 1808, em que o príncipe-regente decla-
ra guerra a esses índios. Comecei a ficar curioso
para saber quem eram e por que eram tratados
dessa maneira. A partir daí, desenvolvi um pro-
jeto que tem como objetivo uma pesquisa histó-
rica sobre os índios, prática não muito comum
no nosso campo porque os índios costumam ser
estudados apenas pelos antropólogos.
Busquei fazer um trabalho de historiador em
torno das imagens que foram produzidas sobre
os botocudos, articulando a construção das ima-
gens tanto de ícones como pessoais, com a tra-
jetória histórica deles. A pesquisa, logo, enfatiza
a primeira metade do século 19.
Qual o motivo da declaração de guerra?A Carta Régia é um texto muito impressionan-
te. Começa justificando a declaração de guerra,
com base no argumento de que os índios eram
antropófagos. Ao longo da pesquisa, descobri
que esse é o relato do padre mineiro Caetano
Vasconcelos, que pintou uma aquarela mostran-
do os índios botocudos comendo carne humana,
e essa aquarela circulou e impressionou muito
a Corte de D. João. Mas acho pouco provável
que fossem, já que pertencem ao grupo etno-
lingüístico macro-jê, que não costuma ter essas
práticas. O canibalismo ritual é uma prática mais
comum entre os tupis. E nunca houve nenhuma
comprovação. Os botocudos costumavam mutilar
os cadáveres dos adversários e isso acabou sen-
do associado com o canibalismo. Mas isso, pro-
vavelmente, influenciou a decisão de D. João.
Um outro fator está relacionado à crise da
mineração, que teria levado a um movimento de
colonização para outras terras, seja para plan-
tar ou procurar áreas mineradoras. Os índios
ocupavam uma área importante desse território,
daí o interesse em expulsá-los. Além disso, os
botocudos ainda ocupavam as margens do Rio
Doce, que era uma importante via navegável
para se alcançar o Espírito Santo. Então, esse
conjunto de fatores explica a decisão do prínci-
pe-regente.
Como foi a guerra? Foi realizada a partir de três capitanias: Minas
Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro – a Bahia
ficou um pouco de fora porque lá havia uma
política de boa vizinhança com esses índios. A
guerra durou muitos anos e só foi oficialmente
revogada pelo governo regencial em 1831, mas
os combates mais violentos se deram nos anos
de 1808 a 1824. Em 1824, já no começo do Pri-
meiro Reinado, os botocudos tentam reunir for-
ças para atacar a cidade de Vitória, mas foram
rechaçados pelas forças fiéis ao governo. A partir
daí, a guerra se esvazia.
Essa guerra representa um movimento intenso
de expansão civilizatória da Corte do Rio de Janei-
ro em direção ao interior. Em geral, a historiografia
mais tradicional costuma olhar esse movimento
somente pelo lado dos benefícios – melhoramen-
tos urbanos, instituições etc. Só que, é bom lem-
brar, essa expansão civilizatória teve também seu
aspecto bélico de conquista de novos territórios e
de submissão de povos.
E depois da guerra? Os botocudos tiveram muitas perdas, incluindo
terras. O governo estimulava as pessoas a criarem
pontos de colonização, distribuindo terras para
fazendas. Houve ainda um processo de escra-
vização. Os índios foram levados para fazendas,
trabalhos públicos e capitais das províncias. Al-
guns foram alistados nas forças militares. Houve,
também, tráfico de crianças indígenas, porque,
em geral, os homens eram mortos em combate e
as crianças poupadas para serem escravizadas,
as kurucas. A palavra usada até em português,
kuruquinha, para chamar crianças, é uma pala-
vra botocuda, surgiu a partir dessa época.
A Carta Régia de D. João previa que índios
pegos em combate poderiam ser escravizados
por dez anos, prorrogados por mais dez. Isso
ocorreu até a década de 1840, quando autori-
dades locais começaram a se posicionar contra
essa escravização e forçaram os proprietários a
libertar os índios que haviam sido pegos ainda na
época de D. João.
Fale sobre o presídio indígena. Nas primeiras décadas do século 20, depois da
criação do Serviço de Proteção ao Índio, o Ma-
rechal Rondon conseguiu garantir, no governo
de Minas, uma terra – lugar onde vivem até hoje
– para esses índios que deixaram de ser chama-
dos de botocudos e passaram a ser chamados
de krenakis. É um território que fica no município
de Resplendor, em Minas, perto de Governador
Valadares.
Porém, na década de 1950, eles foram dados
como extintos. Os que restaram começaram a
ser expulsos do território, que passou a ser ocu-
pado por fazendeiros. Durante a ditadura militar,
foi construído um presídio somente para índios, o
único do gênero em todo o Brasil. Sob as ordens
do capitão Pinheiro, da Polícia Militar, o presídio
passou a receber infratores índígenas de diferen-
tes etnias. Eles ficavam ali confinados, obrigados
a fazer trabalhos forçados e, se falassem nas suas
línguas originais, eram castigados com prisão ou
espancamento.
Nesse contexto, embora os krenakis tives-
sem sido dados como extintos, havia ainda na
região 20 deles, também submetidos ao regime
do presídio. A estratégia utilizada, sobretudo pe-
las mulheres, foi a de casar com os índios das
outras etnias e criar os filhos como krenakis. O
presídio foi desativado, eu conheci a ruína do
prédio que está lá até hoje. Há uma documen-
tação grande sobre esse presídio, que chegou a
ter cerca de 200 índios presos. Há denúncias de
que eles foram torturados e assassinados duran-
te o governo Médici.
Como foi o episódio sobre o espírito das águas? Em 1979, houve uma enchente. O Rio Doce en-
cheu e destruiu o prédio do presídio. O prédio
foi demolido oficialmente em 1980. No ano se-
guinte, os índios resolveram invadir e ocupar a
região. Para eles, foi o Espírito das Águas que
terminou com tudo aquilo. Cabe lembrar que era
o momento da abertura política e não havia mais
condições para se manter o presídio. Então, o
grupo de cerca de 12 krenakis ficou com a pos-
se das terras até 1997, ano em que, por meio
de uma ação na Justiça, conseguiu expulsar os
fazendeiros e retomar, por definitivo, o controle
das suas terras.
De 1950 até 1997, eles ficaram, em grande
parte, numa situação de clandestinidade, espa-
lhados pelo país todo. E, esses 12 que ficaram lá
escondiam a sua condição indígena com medo
de serem perseguidos. Depois de 1997, quando
garantiram a posse da terra, começaram a voltar.
Reconstituir família, construir as casas de novo e
tudo isso. Hoje, estão lá cerca de 200 krenakis.
Q? QUE MUNDOÉ ESTE?
JORNAL DA CIDADANIA | Nº 141 | MARÇO ’0814
Como funciona o projeto Trançando Idéias?Neide – Utilizando uma ação pedagógica forte, o
projeto tem o objetivo de trabalhar a auto-estima,
em especial das meninas e adolescentes negras.
O projeto se vale da Lei 10.639, de ensino de his-
tória da África e do povo africano, para trabalhar
nas escolas com crianças, adolescentes e jovens.
Ao longo do ano letivo, organizamos palestras e
oficinas, com exibição de vídeos, exposições fo-
tográficas, abordando o combate ao preconceito
racial, a partir do enfraquecimento dos estereóti-
pos criados em torno da beleza negra.
O cabelo é um forte motivo de bulling* na escola, certo?Neide – Sim, a maioria das crianças negras sofre
com isso. São chamadas de ‘cabelo de bombril,
cabelo ruim’. O trabalho que fazemos mostra que
não existe cabelo ruim, o que existe são vários
tipos de cabelo e cada um tem uma espessura
própria, um jeito de ser tratado e todos podem, e
devem, ser admirados como são.
Qual a abrangência desse projeto?Neide – Realizamos visitas em escolas públicas,
estaduais e municipais, e também em particula-
res, não apenas no estado do Rio de Janeiro, já
levamos o projeto para uma universidade em Curi-
tiba. Também atuamos dentro de comunidades e
em parceria com movimentos sociais. Durante as
palestras, trazemos depoimentos de ativistas e es-
tudiosos que ajudam o público a entender melhor
o processo de formação do país e onde nós, a
população negra, está incluída.
O projeto Trançando Idéias foi criado pela ONG Estimativa há dois anos, voltado principalmente para adolescentes e mulheres negras. Para maio, quando se comemoram 120 anos da Abolição da Escravatura, será reali-zada uma vasta programação, “mas não se trata de comemorar”, avisa Neide Diniz, assessora de imprensa da Estimativa, “será uma oportunida-de de refletir sobre a situação da população negra no Brasil”, aposta.
O alunado tem sido receptivo? E os(as) professores(as)?Neide - No primeiro momento, há um estranha-
mento, principalmente em escolas particulares,
onde a presença de alunos negros é menor. Mas
também acontece em Cieps, onde os negros são
maioria, por ser um assunto pouco falado em sala
de aula. Outro problema é que essas crianças e
adolescentes não têm um referencial, a mídia tra-
balha com um outro modelo de beleza, não nos
reconhecemos nesse padrão. Por isso, o primeiro
momento é de espanto. Depois que o trabalho
é apresentado, elas passam a vivenciar aquele
universo, fazem as tranças no cabelo e aí passam
do espanto para a exaltação. Os olhos delas bri-
lham, a mudança é incrível. No início, vários têm
uma postura de inferioridade, mas depois que
recebem a informação adequada e, finalmente,
fazem o cabelo, principalmente as meninas, logo
querem pegar um espelho, se ver, passar batom,
se arrumar. A atitude muda totalmente. Elas pas-
sam a andar mais eretas, olham as pessoas nos
olhos, sem medo de encarar os outros, se sentin-
do belas. Para além da estética, trabalhar a auto-
estima tem um impacto psicológico forte.
Quais os outros projetos desenvolvidos pela Estimativa?Neide – Tem o Cinemativa, Nômades Culturais,
são vários, todos têm a pessoa negra como ator
principal, com enfoque nas mulheres. Nosso
objetivo é fazer a população negra conhecer a
sua própria história, respeitá-la e admirá-la. Só
cuidamos do que conhecemos. E, a partir daí,
passamos a nos gostar mais também. Apresen-
tamos essa memória, mostramos quem foram
os nossos heróis, nossos guerreiros, nossos in-
telectuais, quem são as mulheres e homens que
lutam para combater o preconceito e ajudar a po-
pulação negra a ter uma vida melhor. Como não
aparecemos na mídia, muitos acham que somos
invisíveis, mas não somos, tem uma galera muito
boa fazendo tudo acontecer.
Há alguma programação prevista para os 120 anos de Abolição da Escravatura?Neide – A idéia não é comemorar, é aproveitar
esse momento para fazer reflexões a respeito. Va-
mos realizar seminários, uma comunhão de todos
os nossos projetos, a cara da Estimativa é refle-
xão com muito alto astral, ainda estamos em fase
de preparação dos eventos que serão realizados
em torno disso, a programação estará acessível
no nosso site.
AnaCris Bittencourt
Pedidos de palestras e informações em <www.estimativa.org.br>.Tel.: (21) 2567.0011
* Termo da língua inglesa, sem correspondente
na língua portuguesa, que envolve “jogos de hu-
milhações” entre estudantes com o pretexto de
serem por “brincadeira”.
JORNAL DA CIDADANIA | Nº 141 | MARÇO ‘08 15
Admito que fiquei pensando como começaria a es-
crever este texto, se deveria começar a escrever des-
de o momento de início dos estudos ou a partir do
momento em que me vi na situação de “aguardando
vagas”. Decidi começar pelo sentimento que nos
rege num primeiro momento: o de frustração. Afinal,
pelo menos até agora, me vi fora do sonho de muitos
jovens deste país: o de estudar em uma universida-
de pública. Não poderia transferir “minha responsa-
bilidade” da não-aprovação para outros, porém não
poderia deixar de mencionar que tive oportunidades
diferentes das demais pessoas: sou moradora da
zona oeste, oriunda de escola pública e de um pré-
vestibular comunitário. Isso somado ao fato de que o
reduzido número de vagas aumenta a concorrência.
A minha frustração, na verdade, é um misto de
sensações que se tem quando não se vê o seu nome
naquela lista sentenciadora chamada “lista de clas-
sificação”. Juntam-se pensamentos como os de que
eu poderia ter me dedicado mais, uma vez que as
minhas piores notas, ironicamente, foram em Histó-
ria e Biologia, disciplinas as quais eu mais tive pra-
zer em estudar durante toda a minha vida escolar.
Pois bem, diante de toda essa situação, tive
que começar a tentar ver as coisas com um pouco
mais de lucidez. Foi o que tentei fazer. Passado
esse momento de confusão, comecei a organizar
UNIRIOO edital de isenção da taxa de inscrição do Concurso Vestibular 2009 estará disponível a partir de
maio. As inscrições estão previstas para início de setembro. <www.unirio.br/vestibular>
UERJA solicitação de isenção do pagamento da taxa de inscrição do segundo exame de qualificação deve
ser feita de 28 a 30 de maio, pelo site <www.vestibular.uerj.br> ou no Laboratório de Informática da
Uerj – Pavilhão João Lyra Filho – térreo, das 10h às 17h (dias úteis).
O último dia para postagem do requerimento de isenção e da documentação comprobatória nas
agências de Correio é 2 de junho de 2008. A divulgação do resultado do processo de isenção será no
dia 1º de julho no site e no mural do vestibular da Uerj.
Para alunos(as) de cursos pré-vestibulares comunitários, populares ou similares, o requerimento
pode ser solicitado na Uerj no DSEA/Atendimento. Pavilhão João Lyra Filho, Bloco F – 1º andar – Sala
1.141 (das 9h às 17h), de 28 a 30 de maio. A entrega dos requerimentos de isenção e da documen-
tação comprobatória será feita no dia 2 de junho no mesmo local.
Informações no Telecandidato:
(21) 2587-7737 / (21) 2587-7343 / (21) 2587-7611 / (21) 2587-7307 ou escreva para <[email protected]>
os pensamentos. Foi assim que decidi dar uma re-
viravolta nos sentimentos que tinham me tomado
no primeiro momento. Comecei a analisar se real-
mente queria fazer parte das piores estatísticas, e
decidi que não. Não abriria mão de todo um ano
de estudos conciliados com trabalho, que muitas
vezes me sacrificava, com a falta de dinheiro de
passagem para ir ao pré-vestibular.
Definitivamente, não era isso que eu queria con-
tar para os meus filhos. Foi então que resolvi voltar
ao ponto zero, começar tudo de novo. Sempre quis
ser alguém que vai além das expectativas e é esse
sentimento de querer ingressar num curso altamente
elitista, como o de Psicologia, que me motiva a vol-
tar ao curso preparatório e encarar o vestibular mais
uma vez. Vou fazer quase tudo igual. Não deixarei de
ser uma ex-estudante de escola pública, continuarei
a fazer um pré-vestibular comunitário, enfrentarei
o frio, o sol, a violência urbana, a falta de dinheiro
de passagem, só para mudar o fim desta história.
No ano que vem, vou olhar pra trás, para este
texto e dizer: eu consegui passar, eu consegui furar
o bloqueio. E a mensagem que deixo é que todos
nós, que temos esse sonho e enfrentamos tantas
dificuldades, não podemos perder o foco. Acredite
em Deus, acredite em si, não perca seus objetivos,
não saia do foco. Nunca desista dos seus sonhos.
Daniele Santos da Silva
Estudante – PVP / CAMPO – Zona Oeste/RJ
VESTIBULANDO – DE OLHO NAS DATAS
Use o espaço no JC para contar algo legal sobre seu cotidiano na escola ou fora dela, compartilhar
dúvidas e certezas. É possível também utilizar o espaço para um debate entre professor(a) e estu-
dante sobre determinado assunto. Pode ter letra de música, poesia, desenho. Participe!
Marina Ribeiro – Coordenadora e prof.ª do Pré-vestibular Popular CJ/Campo, do Ibase