20070324 01c 08 fo

1
FORTALEZA-CE, SÁBADO, 24 de março de 2007 FORTALEZA 8 O delegado regional de Iguatu, Marcos André Rodrigues, confirmou que o capitão PM Daniel Gomes Bezerra deverá ser indiciado por homicídio qualificado. “São várias coisas que temos ainda de confrontar, verificar, analisar e encaminhar à Justiça. O mais importante de tudo é que o fato está devidamente esclarecido”, disse ele, na saída do depoimento da mulher do capitão, Weruska Gomes, na manhã de ontem. O inquérito que apura a morte dos médicos Leonardo, 24, e Marcelo Moreno Teixeira, 26, assassinados com um tiro no abdome no último sábado, deverá ser concluído na próxima terça- feira, dia 27. Até o momento, 13 pessoas já foram ouvidas pela Polícia. Na próxima segunda, mais três pessoas deverão prestar depoimento, no município de Iguatu. “Somente para cumprir todas as formalidades do procedimento”, ressalta. Para Marcos André, a posse da arma é um dos pontos de contradição entre a declaração das testemunhas e a da mulher. “As declarações dela estão muito de acordo com as declarações do esposo, o que já era de se esperar. Entretanto, o confronto não está com as declarações do esposo, mas sim, com as declarações das testemunhas. As contradições que existem são justamente acerca da arma. Ela, logicamente, alegou que não viu nada. Entretanto, estava bem próxima ao fato e presenciou a confusão”, analisa. Segundo o delegado, depois de ouvir as testemunhas e a mulher do capitão, duas coisas ficaram bem claras: o revólver .38 usada no crime não pertencia às vítimas, e sim, ao capitão; e que ele, depois de cometer o delito, saiu do local com a arma. O paradeiro do 38, contudo, é desconhecido, pois o militar afirma que perdeu o revólver pouco tempo depois do ocorrido.(Ricardo Moura) LEIA MAIS NA 9 Capitão deve ser indiciado por homicídio Casa fechada desde o assassinato Clara e Clarissa. Jovens que compartilham a dor de uma história de amor interrompida violentamente. Clara, 19, namorava Marcelo e Clarissa, 23, já estava de casamento marcado com Leonardo para o fim do próximo ano. As duas, juntas, não podiam calar o pranto e nem a vontade de falar dos dois irmãos assassinados. “Ficamos três anos juntos e ele já tinha até escolhido a música que iria cantar pra mim na cerimônia do nosso casamento. Estava esperando a minha formatura em dezembro de 2008”, diz Clarissa Cavalcante Batista que, desde a morte de Leonardo, na madrugada do último sábado, não desgruda da camisa que ele usou pela última vez. “Ainda tem o cheirinho dele”. O pranto, às vezes é incontrolável para a jovem alagoana que recorda: “Estudamos juntos. Há um semestre estávamos distantes, mas nos falávamos todos os dias. Não dormíamos sem nos dar boa noite, nem acordávamos sem nos dar um bom dia”. Clara Jucá cumprimenta os amigos do namorado e chora baixinho. Estudante de Ciências Contábeis, ela mora em Fortaleza, mas a família é de Mombaça. “Marcelo estava trabalhando muito, mas sempre estávamos unidos”. As duas se abraçam e, não contêm novamente o choro. “Vivemos um tempo na Bolívia e por isso, a música de nosso casamento é em castelhano: “Para tu, amor, lo tengo todo/Desde mi sangre hasta la esencia de mi ser/Y para tu, amor, que es mi tesouro/Tengo mi vida toda entera a tus pies/Y tengo también um corazón que se muere por dar amor/ Y que no conoce el fin.....Era essa a música”, diz Clarissa. “Tecnicamente é prudente. Para a família sei que é muito doloroso, mas se a exumação dos corpos para novo exame for importante para o processo, acho que deve ser feito”. JOAB SOARES, diretor do Hospital Regional de Iguatu “Esse rapaz (Delano Cruz) é muito despreparado. Não respeita a dor da família das vítimas. Acho que devia ser punido pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil - Ceará). É sem sentido ele pedir isso (exumação dos corpos)”. DOUTOR NELSON BENEVIDES TEIXEIRA - pai de Marcelo e Leonardo Moreno Teixeira “Imagino que a defesa deva estar arranjando motivos para proteger o acusado. Mas espero que, dentro da legislação e com celeridade, ele (o capitão Daniel) possa ser punido para que sirva de exemplo para outros militares. A gente lamenta muito a perda da família que é imensurável”. MARCOS CALS, secretário estadual de Justiça OPINIÃO Acha que deve ser feita e exumação dos corpos para um novo exame no IML de Fortaleza como sugeriu o advogado do acusado, Delano Cruz? Rua Humberto G. Soares, 178, Cohab, na periferia de Iguatu. A casa de muro alto com portões largos está fechada desde domingo passado, segundo os vizinhos. É ali a residência do capitão Daniel Gomes Bezerra que comandava o destacamento da Polícia Militar em Mombaça. Ontem, ninguém quis dar informações ao O POVO sobre familiares do capitão. Quem se arriscou a falar pediu para não ser identificado temendo represálias. “Ele é um homem fechado, que não cumprimenta as pessoas da rua e só falta espancar as crianças que gostam de tocar a campainha de sua casa. Até batia na mulher. Eu mesma vi isso no meio da rua”, disse uma vizinha. Segundo informou, um dia após o assassinato de Marcelo e Leonardo Moreno Teixeira, “veio um caminhão para levar móveis e objetos da casa. Os vizinhos quase agrediram as pessoas que estavam levando as coisas”. Ela disse que depois vieram buscar duas malas, mas nem a mulher do capitão Daniel, Veruska, com quem disse que ele se casou em dezembro do ano passado, apareceu na casa. “Quando eu cheguei aqui, há quatro anos, ele já morava nesse local e já tinha fama de valente. Todo mundo ficou revoltado porque o doutor Nelson não merecia passar por isso e nem os meninos (Marcelo e Leonardo) que eram pessoas boas como o pai”, diz a dona de casa. Outro morador do Conjunto Habitacional (Cohab) se disse também revoltado com a atitude do capitão. “Ele é um homem da lei e não se justifica o que fez. Em vez de defender as pessoas, fez foi tirar a vida de dois jovens. Ele nem é besta de dar bobeira na rua porque o pessoal daqui rasga ele”, disse o senhor que mora no bairro desde 1958. O POVO tentou falar com a tia do capitão Daniel, conhecida como Marli e a irmã dele Elizabete, conhecida como Betinha. Mas, não foram encontradas nos endereços informados pelos vizinhos. A residência de dona Marli, na rua Sete de Setembro, 345, ontem estava fechada. “Domingo passado, pessoas revoltadas vieram aqui tentando invadir a casa e ameaçando dona Marli que foi quem criou o capitão Daniel. Ele é órfão de pai e mãe”, informou a vizinha que também preferiu não se identificar. Segundo ela, foi preciso chamar policiais para ficar de plantão e garantir a segurança de dona Marli. Ela não soube informar onde se encontravam a tia e a irmão do capitão Daniel. Nem as demais pessoas da rua Sete de Setembro, também na periferia de Iguatu. “Cada um dos rapazes levou um tiro milimetricamente perfeito. Foi dado por uma pessoa que sabia o que estava fazendo. Atingiu um ponto vital que é cinco centímetros a partir da cicatriz umbilical. A pessoa planejou e atirou exatamente nesse ponto que é mortal.. Não foi um tiro ocasional”. A declaração é do médico-cirurgião e cancerologista Airton Araújo Júnior que atendeu Marcelo e Leonardo Moreno Teixeira, quando foram levados ao Hospital Regional de Iguatu, baleados pelo capitão da Polícia Militar Daniel Gomes Bezerra, comandante do destacamento do município de Mombaça, a 310 quilômetros de Fortaleza. Airton Júnior faz parte da equipe de 86 médicos que atende no Hospital Regional de Iguatu onde também trabalhava o pai de Marcelo e Leonardo, Nelson Benevides Teixeira. O cancerologista Airton Junior reforça que os dois rapazes acompanhavam as cirurgias e também o irmão deles, Régis Moreno Teixeira, 25, que vai se formar em Medicina daqui a um ano. “Doutor Nelson já foi diretor desse hospital”, completa. O diretor Joab Soares diz que a equipe e, principalmente os pacientes, sentem a falta deles. “Estamos à procura de um cirurgião que substitua o doutor Nelson, um profissional que atendia nas cirurgias de emergência. No momento, ele não tem condições de retornar ao trabalho. Está muito abalado, assim como todos que conheciam Marcelo e Leonardo. O pai os estavam profissionalizando e eles seguiam todos os ensinamentos de doutor Nelson”. O Hospital Regional de Iguatu atende uma média de 500 pacientes por dia de mais de 20 municípios cearenses. É um hospital de referência e a demanda é muito grande. "Um tiro perfeito" Rita Célia Faheina enviada a Iguatu e Mombaça O toque de Cristo nas mãos de dou- tor Leonardo e doutor Marcelo trouxeram a muitos enfermos a vitalidade e a cura”. A faixa, com essa frase, levada por funcioná- rios do Hospital de Mombaça, ia à frente da caminhada de crianças, jovens e adultos, rumo à Paróquia de Nossa Senhora da Glória, onde ontem à noite, houve a concele- bração eucarística lembrando o sétimo dia da morte dos médicos residentes Marcelo e Leonardo Moreno Teixeira. Os dois assas- sinados pelo capitão da Polícia Militar Daniel Gomes Bezerra, na madrugada do último sábado, 17. A multidão encheu o pátio da igreja matriz cercada de faixas e cartazes. Antes do início da missa, o grito da população por justiça. “Eles (Marcelo e Leonardo) eram jovens, sonhavam e já estavam bri- lhando em suas carreiras. Por isso nós, também jovens, nos unimos pedindo justiça e paz”, disse o co- ordenador paroquial da Pastoral da Juventude e do Meio Popular, Messias Pinheiro. As crianças da Escola de Ensi- no Fundamental José Jaime levan- tavam a bandeira: Punição para que o mal seja cortado. E o vigá- rio-geral da Diocese de Iguatu, pa- dre Afonso Queiroga, não mediu o desabafo, no sermão: A morte que aconteceu de uma maneira tão trágica tem como acusado uma pessoa que traz no corpo uma tatuagem da besta fera. Mas não estamos aqui para julgar ninguém, precisamos olhar além da morte, em nome de nossa fé. O padre Queiroga, que é o pá- roco da cidade de Catarina, disse estar sendo muito difícil celebrar a missa de sétimo dia do falecimen- to de dois jovens. “A dor é muito grande e é de todos nós, de toda essa multidão, de todo o Ceará”. Ele disse já ter chorado algumas vezes durante a semana por causa da trágica morte dos irmãos. O senador Tasso Jereissati (PSDB) também se emocionou ao abraçar os pais de Marcelo e Le- onardo, o médico Nelson Benevi- des Teixeira e a mulher Célia Mo- ema Limaverde Moreno Teixeira. “Deus te ajude a superar isso tudo. Levanta a cabeça por eles”, disse o senador ao doutor Nelson. Jereis- sati disse que a violência no País já passou de todos limites. Ele pediu que a sociedade se levante contra os casos de violência e que o acu- sado seja punido exemplarmente. O governador Cid Gomes também esteve na concelebração eucarística ficando ao lado dos familiares de Marcelo e Leonar- do. Prefeitos de várias regiões do Ceará também foram prestar solidariedade aos familiares dos formandos em Medicina baleados pelo capitão Daniel Bezerra numa churrascaria da cidade de Iguatu, a 92 quilômetros de Mombaça ASSASSINATO EM IGUATU ] Feriado municipal em Mombaça. A população, na maioria, compareceu à concelebração eucarística que lembrou o sétimo dia do assassinato de Marcelo e Leonardo Moreno Teixeira Multidão lota pátio da igreja matriz CONCELEBRAÇÃO eucarística lembrando o sétimo dia da morte de Leonardo e Marcelo reuniu familiares, amigos, pacientes e vários políticos CAMINHADA mobilizou a população rumo à Paroquia de Nossa Senhora da Glória Dor compartilhada entre Clara e Clarissa FOTOS TALITA ROCHA

Upload: o-povo-online

Post on 08-Jul-2015

193 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: 20070324 01c 08 fo

FORTALEZA-CE, SÁBADO, 24 de março de 2007

FORTALEZA8

O delegado regional de Iguatu, Marcos André Rodrigues, confirmou que o capitão PM Daniel Gomes Bezerra deverá ser indiciado por homicídio qualificado. “São várias coisas que temos ainda de confrontar, verificar, analisar e encaminhar à Justiça. O mais importante de tudo é que o fato está devidamente esclarecido”, disse ele, na saída do depoimento da mulher do capitão, Weruska Gomes, na manhã de ontem.

O inquérito que apura a morte dos médicos Leonardo, 24, e Marcelo Moreno Teixeira, 26, assassinados com um tiro no abdome no último sábado, deverá ser concluído na próxima terça-feira, dia 27. Até o momento, 13 pessoas já foram ouvidas pela Polícia. Na próxima segunda, mais três pessoas deverão prestar depoimento, no município de Iguatu. “Somente para cumprir todas as formalidades do procedimento”, ressalta.

Para Marcos André, a posse da arma é um dos

pontos de contradição entre a declaração das testemunhas e a da mulher. “As declarações dela estão muito de acordo com as declarações do esposo, o que já era de se esperar. Entretanto, o confronto não está com as declarações do esposo, mas sim, com as declarações das testemunhas. As contradições que existem são justamente acerca da arma. Ela, logicamente, alegou que não viu nada. Entretanto, estava bem próxima ao fato e presenciou a confusão”, analisa.

Segundo o delegado, depois de ouvir as testemunhas e a mulher do capitão, duas coisas ficaram bem claras: o revólver .38 usada no crime não pertencia às vítimas, e sim, ao capitão; e que ele, depois de cometer o delito, saiu do local com a arma. O paradeiro do 38, contudo, é desconhecido, pois o militar afirma que perdeu o revólver pouco tempo depois do ocorrido.(Ricardo Moura)

LEIA MAIS NA 9

Capitão deve ser indiciado por homicídio

Casa fechada desde o assassinato

Clara e Clarissa. Jovens que compartilham a dor de uma história de amor interrompida violentamente. Clara, 19, namorava Marcelo e Clarissa, 23, já estava de casamento marcado com Leonardo para o fim do próximo ano. As duas, juntas, não podiam calar o pranto e nem a vontade de falar dos dois irmãos assassinados.

“Ficamos três anos juntos e ele já tinha até escolhido a música que iria cantar pra mim na cerimônia do nosso casamento. Estava esperando a minha formatura em dezembro de 2008”, diz Clarissa Cavalcante Batista que, desde a morte de Leonardo, na madrugada do último sábado, não desgruda da camisa que ele usou pela última vez. “Ainda tem o cheirinho dele”. O pranto, às vezes é incontrolável para a jovem alagoana que recorda: “Estudamos juntos. Há um

semestre estávamos distantes, mas nos falávamos todos os dias. Não dormíamos sem nos dar boa noite, nem acordávamos sem nos dar um bom dia”.

Clara Jucá cumprimenta os amigos do namorado e chora baixinho. Estudante de Ciências Contábeis, ela mora em Fortaleza, mas a família é de Mombaça. “Marcelo estava trabalhando muito, mas sempre estávamos unidos”. As duas se abraçam e, não contêm novamente o choro. “Vivemos um tempo na Bolívia e por isso, a música de nosso casamento é em castelhano: “Para tu, amor, lo tengo todo/Desde mi sangre hasta la esencia de mi ser/Y para tu, amor, que es mi tesouro/Tengo mi vida toda entera a tus pies/Y tengo también um corazón que se muere por dar amor/ Y que no conoce el fin.....Era essa a música”, diz Clarissa.

“Tecnicamente é prudente. Para a família sei que é muito doloroso, mas se a exumação dos corpos para novo

exame for importante para o processo, acho que deve ser feito”.

JOAB SOARES, diretor do Hospital Regional

de Iguatu

“Esse rapaz (Delano Cruz) é muito despreparado. Não respeita a dor da família das vítimas. Acho que devia ser punido pela

OAB (Ordem dos Advogados do Brasil - Ceará). É sem sentido ele pedir isso (exumação dos corpos)”.

DOUTOR NELSON BENEVIDES TEIxEIRA - pai de Marcelo e Leonardo

Moreno Teixeira

“Imagino que a defesa deva estar arranjando motivos para proteger o acusado. Mas espero que, dentro da

legislação e com celeridade, ele (o capitão Daniel) possa ser punido para que sirva de exemplo para outros militares. A gente lamenta muito a perda da família que é imensurável”.

MARCOS CALS, secretário

estadual de Justiça

OPINIÃOAcha que deve ser feita e exumação dos corpos para um novo exame no IML de

Fortaleza como sugeriu o advogado do acusado, Delano Cruz?

Rua Humberto G. Soares, 178, Cohab, na periferia de Iguatu. A casa de muro alto com portões largos está fechada desde domingo passado, segundo os vizinhos. É ali a residência do capitão Daniel Gomes Bezerra que comandava o destacamento da Polícia Militar em Mombaça. Ontem, ninguém quis dar informações ao O POVO sobre familiares do capitão. Quem se arriscou a falar pediu para não ser identificado temendo represálias.

“Ele é um homem fechado, que não cumprimenta as pessoas da rua e só falta espancar as crianças que gostam de tocar a campainha de sua casa. Até batia na mulher. Eu mesma vi isso no meio da rua”, disse uma vizinha. Segundo informou, um dia após o assassinato de Marcelo e Leonardo Moreno Teixeira, “veio um caminhão para levar móveis e objetos da casa. Os vizinhos quase agrediram as pessoas que estavam levando as coisas”.

Ela disse que depois vieram buscar duas malas, mas nem a mulher do capitão Daniel, Veruska, com quem disse que ele se casou em dezembro do ano passado, apareceu na casa. “Quando eu cheguei aqui, há quatro anos, ele já morava nesse local e já tinha fama de valente. Todo mundo ficou revoltado porque o doutor Nelson não merecia passar

por isso e nem os meninos (Marcelo e Leonardo) que eram pessoas boas como o pai”, diz a dona de casa.

Outro morador do Conjunto Habitacional (Cohab) se disse também revoltado com a atitude do capitão. “Ele é um homem da lei e não se justifica o que fez. Em vez de defender as pessoas, fez foi tirar a vida de dois jovens. Ele nem é besta de dar bobeira na rua porque o pessoal daqui rasga ele”, disse o senhor que mora no bairro desde 1958.

O POVO tentou falar com a tia do capitão Daniel, conhecida como Marli e a irmã dele Elizabete, conhecida como Betinha. Mas, não foram encontradas nos endereços informados pelos vizinhos. A residência de dona Marli, na rua Sete de Setembro, 345, ontem estava fechada. “Domingo passado, pessoas revoltadas vieram aqui tentando invadir a casa e ameaçando dona Marli que foi quem criou o capitão Daniel. Ele é órfão de pai e mãe”, informou a vizinha que também preferiu não se identificar. Segundo ela, foi preciso chamar policiais para ficar de plantão e garantir a segurança de dona Marli. Ela não soube informar onde se encontravam a tia e a irmão do capitão Daniel. Nem as demais pessoas da rua Sete de Setembro, também na periferia de Iguatu.

“Cada um dos rapazes levou um tiro milimetricamente perfeito. Foi dado por uma pessoa que sabia o que estava fazendo. Atingiu um ponto vital que é cinco centímetros a partir da cicatriz umbilical. A pessoa planejou e atirou exatamente nesse ponto que é mortal.. Não foi um tiro ocasional”. A declaração é do médico-cirurgião e cancerologista Airton Araújo Júnior que atendeu Marcelo e Leonardo Moreno Teixeira, quando foram levados ao Hospital Regional de Iguatu, baleados pelo capitão da Polícia Militar Daniel Gomes Bezerra, comandante do

destacamento do município de Mombaça, a 310 quilômetros de Fortaleza.

Airton Júnior faz parte da equipe de 86 médicos que atende no Hospital Regional de Iguatu onde também trabalhava o pai de Marcelo e Leonardo, Nelson Benevides Teixeira. O cancerologista Airton Junior reforça que os dois rapazes acompanhavam as cirurgias e também o irmão deles, Régis Moreno Teixeira, 25, que vai se formar em Medicina daqui a um ano. “Doutor Nelson já foi diretor desse hospital”, completa.

O diretor Joab Soares diz que a equipe e, principalmente

os pacientes, sentem a falta deles. “Estamos à procura de um cirurgião que substitua o doutor Nelson, um profissional que atendia nas cirurgias de emergência. No momento, ele não tem condições de retornar ao trabalho. Está muito abalado, assim como todos que conheciam Marcelo e Leonardo. O pai os estavam profissionalizando e eles seguiam todos os ensinamentos de doutor Nelson”. O Hospital Regional de Iguatu atende uma média de 500 pacientes por dia de mais de 20 municípios cearenses. É um hospital de referência e a demanda é muito grande.

"Um tiro perfeito"

Rita Célia Faheinaenviada a Iguatu e Mombaça

“O toque de Cristo nas mãos de dou-tor Leonardo e doutor Marcelo

trouxeram a muitos enfermos a vitalidade e a cura”. A faixa, com essa frase, levada por funcioná-rios do Hospital de Mombaça, ia à frente da caminhada de crianças, jovens e adultos, rumo à Paróquia de Nossa Senhora da Glória, onde ontem à noite, houve a concele-bração eucarística lembrando o sétimo dia da morte dos médicos residentes Marcelo e Leonardo Moreno Teixeira. Os dois assas-sinados pelo capitão da Polícia Militar Daniel Gomes Bezerra, na madrugada do último sábado, 17.

A multidão encheu o pátio da igreja matriz cercada de faixas e cartazes. Antes do início da missa, o grito da população por justiça. “Eles (Marcelo e Leonardo) eram jovens, sonhavam e já estavam bri-lhando em suas carreiras. Por isso nós, também jovens, nos unimos pedindo justiça e paz”, disse o co-ordenador paroquial da Pastoral da Juventude e do Meio Popular, Messias Pinheiro.

As crianças da Escola de Ensi-no Fundamental José Jaime levan-tavam a bandeira: Punição para que o mal seja cortado. E o vigá-rio-geral da Diocese de Iguatu, pa-dre Afonso Queiroga, não mediu o desabafo, no sermão: A morte que aconteceu de uma maneira tão trágica tem como acusado uma pessoa que traz no corpo uma tatuagem da besta fera. Mas não estamos aqui para julgar ninguém, precisamos olhar além da morte, em nome de nossa fé.

O padre Queiroga, que é o pá-roco da cidade de Catarina, disse estar sendo muito difícil celebrar a missa de sétimo dia do falecimen-to de dois jovens. “A dor é muito grande e é de todos nós, de toda essa multidão, de todo o Ceará”. Ele disse já ter chorado algumas vezes durante a semana por causa da trágica morte dos irmãos.

O senador Tasso Jereissati (PSDB) também se emocionou ao abraçar os pais de Marcelo e Le-onardo, o médico Nelson Benevi-des Teixeira e a mulher Célia Mo-ema Limaverde Moreno Teixeira. “Deus te ajude a superar isso tudo. Levanta a cabeça por eles”, disse o senador ao doutor Nelson. Jereis-sati disse que a violência no País já passou de todos limites. Ele pediu que a sociedade se levante contra os casos de violência e que o acu-sado seja punido exemplarmente.

O governador Cid Gomes também esteve na concelebração eucarística ficando ao lado dos familiares de Marcelo e Leonar-do. Prefeitos de várias regiões do Ceará também foram prestar solidariedade aos familiares dos formandos em Medicina baleados pelo capitão Daniel Bezerra numa churrascaria da cidade de Iguatu, a 92 quilômetros de Mombaça

ASSASSINATO EM IGUATU ] Feriado municipal em Mombaça. A população, na maioria, compareceu à concelebração eucarística que lembrou o sétimo dia do assassinato de Marcelo e Leonardo Moreno Teixeira

Multidão lota pátio da igreja matriz

CONCELEBRAÇÃO eucarística lembrando o sétimo dia da morte de Leonardo e Marcelo reuniu familiares, amigos, pacientes e vários políticos

CAMINHADA mobilizou a população rumo à Paroquia de Nossa Senhora da Glória

Dor compartilhadaentre Clara e Clarissa

FOTOS TALITA ROCHA

BD
Cabeçalho
#Data: 070324 #Clichê: Primeiro #Editoria: Fortaleza
BD
Marcadores
#Autor: Rita Célia Faheina #Crédito: Talita Rocha <MISSA> <MÉDICO> <ASSASSINATO> <POLICIAL> <POLÍCIA MILITAR> <IGUATU /CE/>
BD.All
Highlight