janeiro/fevereiro de 2012 assurancejournalfile/... · ipos no front da crise apesar do otimismo...

20
Janeiro/Fevereiro de 2012 Nº 16 IPOs no front da crise Apesar do otimismo sobre o mercado acionário brasileiro, o número de processos de abertura de capital deve ser impactado pela maior aversão por riscos dos investidores estrangeiros. Página 12 NORMAS SUSTENTABILIDADE TENDÊNCIAS MERCADO Novidades no IASB Hans Hoogervorst, novo presidente do órgão que emite as normas IFRS, fala sobre os desafios para o IASB e o mercado em 2012 Página 3 Sustentabilidade integra relatórios Principal objetivo é reforçar junto ao mercado os contextos social, ambiental e econômico em que a empresa está inserida Página 15 Assurance Journal Rodízio de auditores CVM amplia prazo para troca de empresa de auditoria, mas exige comitê estatutário Página 6

Upload: doanlien

Post on 11-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

J a n e i ro/ Fev e re i ro d e 2 0 1 2 • N º 1 6

IPOs no front da crise Apesar do otimismo sobre o mercado acionário brasileiro, o número de processos de abertura de capital deve ser impactado pela maior aversão por riscos dos investidores estrangeiros. Página 12

N O R M A S • S U S T E N TA B I L I D A D E • T E N D Ê N C I A S • M E R C A D O

N ov i d a d es n o I A S B Hans Hoogervorst, novo presidente do órgão que emite as normas

IFRS, fala sobre os desafios para o IASB e o mercado em 2012

Página 3

Su ste nta b i l i d a d e i n te g ra re l a tó r i osPrincipal objetivo é reforçar junto ao mercado os contextos social,

ambiental e econômico em que a empresa está inserida

Página 15

AssuranceJournal

Ro d í z i o d e a u d i to res CVM amplia prazo para troca de empresa de auditoria, mas exige comitê estatutário

Página 6

2

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

E d i t o r i a l

Expectativas em alta

Assurance Journal é uma publicação do Departamento de Comunicação e Gestão de Marca destinada a profissionais ligados à administração de empresas e colaboradores da Ernst & Young Terco que aborda questões relevantes na migração para os padrões internacionais de contabilidade IFRS. As opiniões aqui expressas não devem ser utilizadas de maneira isolada para a tomada de decisão por parte das empresas. Isso porque existem particularidades pertinentes a cada empresa que podem, eventualmente, alterar o enfoque transmitido. Recomendamos que, antes de a decisão ser tomada, as empresas discutam esses pontos de vista com seus consultores. Estamos à disposição para discutir nossas opiniões e sua aplicação em cada caso.

Mais informações com:

Paul Sutcliffe [email protected]

Julio Braga Pinto [email protected]

Fernando Próspero [email protected] ou pelo e-mail [email protected]

Revisão técnica: Idésio Coelho [email protected]

Diretora EditorialMitizy Olive Kupermann

Jornalista responsável: Clarissa Wahl (MTb 39.927/SP)

Reportagem: Clarissa Wahl e Felipe Datt

Revisão: Osmar Maduro e João Hélio de Moraes

Projeto gráfico e edição visual: Alex Rossetto e Alexandre Rugério

Janeiro/Fevereiro de 2012 • Nº 16

Chegamos a 2012. Depois de um ano repleto de novidades e desafios como foi 2011, o que esperar dos próximos meses? Para nos ajudar a responder a essa questão, o Assurance Journal foi conversar com o novo presidente do International Accounting Standards Board (IASB), Hans Hoogervorst, que assumiu o órgão máximo responsável pela emissão das normas IFRS em todo o mundo e, por isso, é um dos maiores conhecedores das demandas e expectativas das áreas contábil e financeira.

O resultado dessa conversa não poderia ser mais esclarecedor em relação aos temas que serão destaque neste novo ano. Para Hoogervorst, a convergência do US GAAP com as normas IFRS, a adoção do padrão internacional de contabilidade por parte das pequenas e médias empresas e a cada vez maior influência das economias emergentes na agenda contábil internacional serão o fio condutor dos debates entre órgãos reguladores e profissionais de mercado.

Além de traçar uma possível agenda de temas para 2012, esta edição especial do Assurance Journal traz, como reportagem de capa, as perspectivas para aberturas de capital (ou IPOs) após um período de turbulências no cenário externo. Mas, se no mercado internacional a maré de retração parece ter chegado com força, no Brasil ainda não mostra sua pior face. É o que revela nosso sócio de Auditoria e líder para a área de IPOs, Paulo Sérgio Dortas, ao afirmar que, se em 2011 foram registrados 11 IPOs no País, em 2012 os ânimos do mercado tendem a permanecer em alta – principalmente por conta das perspectivas do aquecimento econômico gerado a partir de megaeventos como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.

Outros temas que ganham destaque neste número são aqueles relacionados à auditoria em sustentabilidade, fraudes, auditoria externa e governança corporativa, com foco nas melhores práticas que começam a ser adotadas pelas companhias, além de riscos, tendências e movimentos de mercado esperados em 2012.

Encerra esta edição um artigo do professor da FEA-USP e ex-diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Eliseu Martins sobre os desafios à espreita dos profissionais de contabilidade e auditoria em 2012. Enfim, convidamos você a ler atentamente esta publicação, que traz ainda outras novidades e informações úteis para que sua empresa dê início a mais um ano repleto de sucesso e das melhores realizações.

Boa leitura!

Sérgio Romani I Sócio-líder de Auditoria • [email protected]

Assurance Journal

3

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

P o n t o d e V i s t a

Novo nome, novos desafiosEm julho de 2011, o International Accounting Standards Board (IASB), o órgão máximo que emite as normas IFRS em todo o mundo, ganhou um novo presidente. Hans Hoogervorst, holandês de 55 anos, assumiu o cargo com um currículo que marca passagens pelos Ministérios das Finanças e da Saúde, Bem-Estar Social e Esportes do governo holandês, além da presidência do Netherlands Authority for the Financial Markets (AFM) – encarregado de garantir a transparência do mercado financeiro local.

Em entrevista exclusiva concedida ao Assurance Journal, Hans – cujo mandato se encerra em junho de 2016 – trata dos principais temas que serão destaque na pauta do IASB em 2012, como a questão da convergência com o US GAAP, IFRS para pequenas e médias empresas e a cada vez maior influência das economias emergentes nos rumos da agenda contábil internacional.

Nesse último quesito, faz uma reprimenda ao afirmar que países emergentes, que são destaques no cenário econômico global, precisam se mostrar mais ativos nas discussões lideradas pelo órgão. “Países como o Brasil e a China precisam se manifestar mais com relação a relatórios financeiros – durante o desenvolvimento de novas normas, bem como sobre questões de política relacionadas às operações e medidas de governança da organização”, diz.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

3

4

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

P o n t o d e V i s t a

Estamos ansiosos em ajudar as grandes economias que ainda não aderiram totalmente ao padrão IFRS a fazê-lo. Há um apoio enorme, a começar dos líderes do G20, para que se tenha um único conjunto de normas globais para relatórios financeiros.

Assurance Journal • O FASB e o IASB estão, nitidamente, em um esforço de convergência de suas normas, de forma que se tenha uma base normativa contábil ainda mais uniforme e transparente para todos os participantes do mercado. Como está o andamento desse processo?

Hans Hoogervorst • A conclusão do programa de convergência com o FASB (conhecido como Memorando de Entendimento) é uma de nossas prioridades. A maior parte do programa já foi finalizada, mas ainda temos três projetos a serem concluídos – sobre instrumentos financeiros, leasing e reconhecimento de receita –, bem como um quarto projeto não relacionado aos memorandos, sobre o mercado de seguros. Esperamos concluir a maior parte – ou todo o trabalho – durante o ano de 2012.

Assurance Journal • Além do projeto de convergência, em quais outros projetos e países o IASB concentrará sua atenção?

Hans Hoogervorst • Continuamos a desenvolver relações com economias desenvolvidas e emergentes paralelamente com a conclusão de nosso trabalho com o FASB. É importante que todas as jurisdições que usam nossos padrões comprem e se sintam “donas” do IFRS.

Por muitos anos, trabalhamos em conjunto com as autoridades chinesas

e japonesas, prestando assistência na transição desses países ao padrão IFRS. Em 2010, o IASB assinou um memorando de entendimento com o Conselho Federal de Contabilidade e o Comitê de Pronunciamentos Contábeis do Brasil. Mais recentemente, o IASB estabeleceu um Grupo de Economias Emergentes, do qual o Brasil é um membro importante.

Assurance Journal • Algumas normas do IFRS, como a referente ao Reconhecimento de Receitas no Setor Imobiliário (IFRIC 15), são bastante polêmicas, levantando intensos debates nos países em que são adotadas. Como o IASB gerencia as posições divergentes de forma que todas as partes se sintam incluídas no processo de emissão dos pronunciamentos contábeis?

Hans Hoogervorst • Trabalhamos duro para lidar com isso. Nos últimos anos, vimos um aumento significativo na quantidade de trabalho de abrangência que a equipe técnica realiza durante o desenvolvimento de uma nova norma. As equipes viajam ao redor do mundo para se certificar de que levamos em consideração como o padrão funcionará na prática.

Contamos também com a colaboração das autoridades nacionais responsáveis pelos padrões contábeis, bem como com grupos regionais emergentes, como o Grupo Latino-Americano de Normatizadores Contábeis (GLASS), para nos ajudar a entender as questões locais.

Dois anos após a efetivação do padrão, o IASB realiza uma revisão pós-implementação para descobrir como as normas estão funcionando na prática e se são necessárias alterações.

Por fim, pedimos recentemente a Wayne Upton que assumisse a presidência do Comitê de Interpretações do IFRS, além de continuar em seu atual cargo de diretor de Atividades Internacionais. Isso irá facilitar o alinhamento das interpretações e funções de apoio

Assurance Journal • As questões mais críticas referentes à adoção do padrão IFRS no Brasil, Austrália e Europa estão, aos poucos, sendo resolvidas. Já para 2012, quais serão os principais desafios do IASB?

Hans Hoogervorst • Bem, o primeiro desafio é concluir em conjunto com o FASB os projetos de convergência remanescentes, a partir das informações que recebemos de toda a comunidade global que emite relatórios financeiros. O Brasil, por exemplo, é uma jurisdição importante do IFRS; suas informações são, portanto, valiosas para que possamos concluir com sucesso esses projetos.

O segundo desafio é considerar o cronograma pós-convergência do IASB. Recentemente, publicamos um documento de consulta que estabelecia algumas ideias e, mais importante ainda, pedia a opinião de outros países sobre quais deveriam ser as nossas prioridades. Estamos interessados em saber o que precisa ser consertado com urgência e como devemos usar os recursos, limitados, que temos à nossa disposição.

Em terceiro lugar, estamos ansiosos em poder ajudar as grandes economias que ainda não aderiram totalmente ao padrão IFRS a fazê-lo. Há um apoio enorme, a começar dos líderes do G20, para que se tenha um único conjunto de normas globais para relatórios financeiros. Precisamos aproveitar todo esse apoio e boa vontade incríveis para conseguir atingir o nosso objetivo, que é ter um grupo único de normas da mais alta qualidade.

Por fim, nas jurisdições que se comprometeram com o IFRS, continuaremos a fortalecer as relações institucionais do IASB, de forma a melhorar a independência do processo de instituição de normas. Isso quer dizer aprofundar nosso relacionamento com os que são afetados por nosso trabalho em todo mundo e garantir que eles se sintam donos e respeitem o produto que estamos desenvolvendo globalmente para os investidores.

5

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

internacional, ajudando a tratar os pontos que você destacou.

Assurance Journal • O tema sustentabilidade ganha cada vez mais importância na agenda corporativa. Nessa linha, fala-se de um novo relatório, o IIRC (sigla para International Integrated Reporting Committee), que integraria informações financeiras da companhia com seu desempenho não financeiro. Como o IASB avalia e atua em projetos como esses?

Hans Hoogervorst • Sou membro do IIRC e apoio totalmente o conceito de relatório integrado. A pergunta é: como fazer isso na prática? O IIRC está tentando resolver essa equação.

O IASB já entrou nessa área ao publicar uma declaração sobre a adoção das normas IFRS na prática. A decisão do IASB é definida por margens estreitas, mas estamos à disposição para discutir como podemos cooperar para atingir as metas do IIRC.

Assurance Journal • No último ano, o Brasil adotou o padrão IFRS também para pequenas e médias empresas. No País, os profissionais da área contábil ainda estão absorvendo os conceitos do IFRS para PMEs. Como está esse processo no restante do mundo? E, principalmente, o que os reguladores poderiam fazer para estimular e alavancar o desenvolvimento dos profissionais da área contábil?

Hans Hoogervorst • Desde sua emissão, em 2009, mais de 70 países adotaram – ou se comprometeram a adotar – as normas IFRS para PMEs. A maior parte deles se concentra na América Latina, Caribe e África Central e do Sul, além de nações asiáticas. Honestamente, posso afirmar que não esperávamos uma adesão nessa escala em tão pouco tempo.

O IFRS para PMEs traz uma nova gama de usuários para o IASB. Nesse sentido, o Conselho e a Fundação IFRS

têm trabalhado intensamente para apoiar a implementação tranquila em empresas com esse perfil. Por exemplo, as normas já foram traduzidas para 16 idiomas, e continuam sendo traduzidas para outras línguas. Em março de 2010, começamos a publicar uma newsletter mensal sobre IFRS para PMEs, que já conta com 13 mil assinantes. Além disso, a Iniciativa Educacional da Fundação IFRS desenvolveu materiais para treinamento em casa, com centenas de exemplos para orientação, disponíveis para download gratuito em diversos idiomas. Ainda em 2010, demos início a uma série de workshops, organizados em conjunto com o Banco Mundial e os bancos de desenvolvimento regional, com foco em IFRS para PMEs.

A Fundação IFRS nomeou um Grupo de Implementação para PMEs (SMEIG, na sigla em inglês), para desenvolver e publicar perguntas e respostas no formato de um guia para a implementação do IFRS para PMEs. O SMEIG fará ainda recomendações para o IASB sobre possíveis alterações nos pronunciamentos voltados às PMEs.

Assurance Journal • O processo de adoção do IPSAS para as entidades governamentais está em andamento no Brasil. Assim como no meio privado, a transparência do setor público é cada vez mais cobrada pela sociedade. Como o IASB interage com o International Public Sector Accounting Standards Board?

Hans Hoogervorst • Em novembro de 2011, o IASB e o IPSASB concordaram em fortalecer a cooperação no desenvolvimento de normas contábeis para os setores público e privado. O entendimento reconhece que o IPSAS, normas contábeis para entidades governamentais, baseiam-se no IFRS, de forma que faz sentido uma cooperação mais próxima. Além disso,

essa maior proximidade serve como base para uma relação mais formal entre os dois comitês no futuro.

Assurance Journal • A crise de crédito de 2008 fez com que os agentes de mercado levassem ao IASB uma série de demandas, como alterações nas normas de instrumentos financeiros, consolidação, joint ventures e valor justo. Dentro do processo de consulta à sociedade sobre a agenda futura do IASB, quais são as principais sugestões recebidas pelo board até agora?

Hans Hoogervorst • Isso se refere à consulta sobre projetos futuros do IASB. A solicitação mais frequente é de um período de calmaria, após vários anos de atividades intensas de instituição de normas. No entanto, essa solicitação é normalmente seguida por um “exceto esta questão urgente que deve ser tratada agora”. Ou seja, as pessoas têm diversas questões urgentes a ser tratadas; portanto, se quisermos proporcionar um período de estabilidade com relação às normas contábeis, precisamos tomar algumas decisões.

Assurance Journal • Tem se notado um interesse cada vez maior do IASB pelos países emergentes, como Brasil e China. Chegou a hora de eles influírem na agenda contábil mundial?

Hans Hoogervorst • Sim, acredito que sim. A Fundação IFRS e o IASB têm se dedicado a encorajar uma participação maior das economias emergentes. Aliás, realizamos conferências sobre IFRS nesses dois países nos últimos dois anos.

No entanto, acredito que países como o Brasil e a China precisam se manifestar mais com relação a relatórios financeiros – durante o desenvolvimento de novas normas, bem como sobre questões de política relacionadas às operações e medidas de governança da organização. n

6

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

G o v e r n a n ç a C o r p o r a t i v a

CVM amplia prazo de rodízio de auditores, mas exige comitê

Uma nova instrução editada em meados de novembro pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estabelece que as companhias de capital aberto que instalarem e mantiverem um comitê de auditoria estatutário poderão contratar firma de auditoria independente para a prestação de serviços por até dez anos consecutivos. Desse modo, a Instrução CVM n° 509 dobra o prazo atual de rodízio de auditores independentes, atualmente em cinco anos, para esse grupo específico de empresas.

Depois de meses de discussão que culminaram com uma audiência pública sobre o tema, o órgão regulador do mercado de capitais brasileiro decidiu que a instalação do comitê é facultativa e que as empresas que não constituírem esse órgão manterão o atual sistema de rotação do auditor independente a

cada cinco anos. A prerrogativa de realização do rodízio a cada dez anos será permitida às companhias que, até 31 de dezembro de 2011, tenham instalado comitê de auditoria e que este já esteja em funcionamento permanente.

“Também propomos às empresas a possibilidade de alteração do estatuto social para prever a existência do comitê em até 120 dias contados a partir de 1º de janeiro de 2012”, explica o diretor da CVM, Alexandre Broedel Lopes. Conforme o diretor da autarquia, a ampliação do prazo de rodízio atende a uma demanda das próprias empresas e representa um incentivo àquelas que já tenham instalado um comitê de auditoria, em um sinal de avanço na sofisticação da governança corporativa das empresas brasileiras.

Entre os objetivos do comitê estão o de opinar sobre a contratação ou destituição do auditor independente para a elaboração de auditoria externa

Companhias de capital aberto que tiverem um comitê de auditoria estatutário poderão contratar firma de auditoria independente por até dez anos consecutivos

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

6

independente; supervisionar e avaliar as atividades dos auditores independentes; monitorar a qualidade e integridade dos mecanismos de controles internos e das demonstrações financeiras; e avaliar e monitorar as exposições de risco da companhia.

A norma determina também que, para as empresas com comitês instituídos, “o auditor independente deve proceder à rotação do responsável técnico, diretor, gerente e de qualquer outro integrante da equipe de auditoria com função de gerência, em período não superior a cinco anos consecutivos, com intervalo mínimo de três anos para seu retorno”. “Já existe um número significativo de companhias brasileiras com comitês de auditoria instalados, ainda que não seja uma exigência, como nos Estados Unidos”, revela Lopes.

Nos EUA, a obrigatoriedade e as determinações relacionadas aos comitês de auditoria estão previstas na Lei Sarbanes-Oxley, de 2002, e atingem até mesmo as empresas brasileiras com registro no mercado de capitais norte-americano. Esses órgãos vinculados ao conselho de administração surgiram em resposta aos escândalos contábeis que levaram à quebra de empresas como Enron e WorldCom, no início da última década. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) editou um guia com as melhores práticas dos comitês de auditoria. “Ainda não há qualquer previsão de obrigatoriedade do comitê de auditoria no Brasil”, relata o diretor da CVM.

A instrução também estabelece regras de divulgação do regimento interno, do relatório anual resumido e do currículo dos membros do comitê. Entre as determinações, está que o comitê deve ser um órgão de assessoramento vinculado diretamente ao conselho de administração e previsto no estatuto, com reuniões obrigatórias pelo menos a cada dois meses, e possuir um canal de denúncias de práticas irregulares internas. O comitê deve ser formado por, no mínimo, três membros, eleitos pelo conselho de administração, que exercerão seus cargos por, no máximo, dez anos.

Prazo para empresas listadas

A instrução é editada alguns meses depois de a BM&FBovespa estabelecer que as empresas listadas no Novo Mercado e nos Níveis 1 e 2 têm pouco mais de dois anos para se adaptar às novas regras, que também prometem sofisticar a governança corporativa. A reforma nas diretrizes de listagem prevê, entre outros pontos, que os cargos de presidente do conselho de administração e do presidente ou principal executivo da companhia não poderão ser acumulados pela mesma pessoa.

Entre as atribuições do conselho de administração que constam das novas regras, está a de elaborar e

tornar público parecer prévio fundamentado sobre: toda

e qualquer oferta pública de aquisição que tenha por objeto as ações de

emissão da companhia; a conveniência e oportunidade da oferta quanto ao interesse do conjunto dos acionistas e em relação à liquidez dos valores mobiliários de sua titularidade; as repercussões da oferta nos interesses da companhia; entre outros pontos que considerar pertinentes.

A nova medida representa um passo adiante em direção ao que o mercado compreende como as melhores práticas de governança. Conforme o diretor de Consultoria da Ernst & Young Terco, Antonio Cocurullo, a nova medida chega para eliminar conflitos de interesse básicos, garantindo ao conselho maior independência na avaliação de projetos estratégicos da administração, maior equidade na gestão e no reporte de informações relevantes, reduzindo privilégios e garantindo maior transparência ao mercado – alguns dos pilares básicos de governança.

As novas diretrizes da BM&FBovespa não alteram as regras para composição do conselho. Tanto para o nível mais sofisticado de governança, o Novo Mercado, quanto para o Nível 2, a legislação prevê um conselho de administração formado por, no mínimo, cinco membros, dos quais 20% têm de ser independentes e com mandato unificado de até dois anos. Para o Nível 1, a exigência legal prevê uma composição por três membros. n

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

7

8

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

F r a u d e s

Brasil impõe penalidade para empresas em casos de subornoProjeto de lei em discussão na Câmara dos Deputados busca aperfeiçoar a legislação para punir as empresas em casos de suborno de autoridades ou ilegalidades em processos de licitação

Por Felipe Datt

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

8

9

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

O governo pretende fechar o cerco às empresas que cometam práticas ilícitas contra a administração pública nacional ou estrangeira. O Projeto de Lei 6.826/10, atualmente em discussão em uma comissão especial da Câmara dos Deputados com a participação de autoridades, juristas e organizações civis de apoio à prevenção da corrupção, busca aperfeiçoar a legislação brasileira para punir as empresas em casos de suborno de autoridades ou ilegalidades em processos licitatórios envolvendo seus funcionários.

O projeto, cujo objetivo central é elevar o nível de integridade nas relações público-privadas, ratifica os acordos assinados pelo Brasil na Convenção da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE) contra o Suborno de Funcionários Públicos em Transações Internacionais e na Convenção Interamericana de Combate à Corrupção da Organização dos Estados Americanos (OEA). O intuito é que as empresas encontrem um ambiente mais favorável à ética nos negócios.

“O projeto é um avanço institucional importante e a resposta brasileira a uma tendência mundial de concentrar em uma mesma legislação regras e punições às empresas que pagarem propinas ou construírem relação imprópria com agentes do governo”, revela o sócio da área de Fraud Investigation e Dispute Services da Ernst & Young Terco, José Francisco Compagno. Segundo o especialista, o projeto de lei põe o Brasil em linha com países como Alemanha, Colômbia, Estados Unidos e Reino Unido, que aprovaram legislações prevendo punições severas a casos de corrupção.

O projeto brasileiro estabelece responsabilidade para as empresas ainda que os agentes (profissionais ou colaboradores) tenham agido sem poderes de representação ou sem autorização superior, mesmo que a ação praticada não proporcione às companhias vantagem efetiva

ou que a eventual vantagem não as beneficie direta ou exclusivamente.

O PL 6.826/10 também prevê punições apenas em casos de irregularidades envolvendo o setor público e privado. Nessa linha, a UK Bribery Act, no Reino Unido, é uma legislação mais avançada por determinar que a administração é responsável legal por qualquer ato de funcionário ou representante que prometa ou garanta vantagens a terceiros (seja o governo ou outras empresas) e que produza benefícios à companhia. A lei é válida até mesmo para empresas brasileiras com negócios na região ou companhias britânicas com subsidiárias no Brasil.

Segundo o projeto de lei brasileiro, a empresa não poderá mais responsabilizar apenas o funcionário pelas eventuais práticas de corrupção. Entre as punições previstas para a administração, estão a proibição de participar de futuras licitações, multas que variam de 1% a 30% sobre o faturamento bruto anual, reparação do dano causado à administração pública e proibição de repasses ou empréstimos públicos por um período que varia de dois a dez anos. Caso não seja possível calcular o faturamento bruto da empresa, a multa pode chegar a R$ 6 milhões. “A lógica das altas multas pecuniárias é fazer com que o risco de punições seja maior do que os ganhos obtidos com a propina ou a corrupção”, conta Compagno.

A pressão pela aprovação da lei é grande. Atualmente, mais de 250 empresas brasileiras são signatárias do Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção, e assumem como compromissos divulgar e orientar seu público interno quanto à legislação vigente, divulgar e orientar a todos os seus públicos sobre princípios legais aplicáveis às suas atividades, vedar o suborno e contribuir de forma transparente e lícita para campanhas eleitorais caso sejam financiadoras. Essas empresas lançaram, em agosto, um manifesto público pela aprovação da lei.

Corrupção e fraudes internas

A tendência mundial de implantar leis anticorrupção envolvendo negócios público-privados toma forma alguns anos depois que os principais órgãos reguladores da Europa e dos Estados Unidos definiram regras para diminuir as práticas de fraudes internas nas corporações e garantir maior segurança aos investidores e ao mercado de capitais. A possibilidade de a administração ser punida por conta de atos de seus funcionários realimenta a necessidade de se instalarem mecanismos de controles internos, como comitês de auditoria, a fim de se detectarem futuros casos.

Nos Estados Unidos, a criação da Lei Sarbanes-Oxley, em 2002, foi uma consequência das fraudes e escândalos contábeis que, na época, atingiram grandes corporações como Enron, WorldCom e Xerox.

Nos últimos anos, foram reportadas no Brasil fraudes financeiras realizadas por executivos ou profissionais ligadas às respectivas administrações.

Dados do levantamento de 2010 da Association of Certified Fraud Examiners, uma das maiores organizações contra as fraudes do mundo, com um universo de milhares de associados espalhados por 106 países do globo, mostram que as fraudes contábeis representaram perdas que totalizaram 5% da receita das companhias. O rombo médio causado aos cofres totalizou US$ 160 mil, ao passo que um quarto dos problemas detectados envolveu perdas superiores a US$ 1 milhão. O mais grave: as fraudes começaram a ser praticadas em um período médio de 18 meses antes de serem detectadas. “O conselho mais importante do ponto de vista preventivo para as organizações é ter uma estrutura de processos e governança adequada. E a questão fraude deve ser um dos focos de atenção dessa estrutura de governança”, finaliza Compagno. n

10

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

IFRS para membros de conselhoA Ernst & Young Terco prepara o início de 2012 um treinamento sobre IFRS voltado para presidentes e membros dos conselhos de administração e fiscal, além de comitês de auditoria de companhias abertas. O IFRS BoardClass, que será realizado em São Paulo e no Rio de Janeiro, discutirá os temas de maior relevância no processo de adoção do padrão internacional de contabilidade, como questões de sustentabilidade, governança e instrumentos financeiros. Em breve, informações sobre agenda e investimento estarão no site www.ey.com.br n

Ataques cibernéticos na mira da SEC

N o t a s

IPSAS: custo ainda é principal obstáculo para adoçãoApesar de o Brasil estar se preparando para a adoção do IPSAS (International Public Sector Accounting Standards), conhecido como Normas Internacionais da Contabilidade para o Setor Público, os custos da reforma são tidos como o principal entrave rumo à adoção de um regime de competência. O dado consta do estudo No Caminho para a Transparência, elaborado pela Ernst & Young global e lançado ainda em dezembro, em Brasília. Resultado de uma pesquisa com autoridades financeiras de 33 países – entre eles, Brasil, França, Alemanha, Índia, China, Japão, Reino Unido e EUA –, o estudo tem como objetivo identificar as tendências e os desenvolvimentos na contabilidade do setor público.

Como resposta a uma maior frequência e gravidade dos ataques cibernéticos, a Securities and Exchange Commission (SEC) produziu um documento guia para auxiliar as companhias listadas a avaliar os melhores controles e tipos de relatórios de disclosure sobre riscos, incidentes e contramedidas envolvendo sua segurança digital. Segundo o sócio de

Consultoria da Ernst & Young Terco Alberto Fávero, a recomendação da SEC vai impactar todas as companhias brasileiras listadas em bolsas americanas. “Nos últimos meses tem crescido muito o número de ataques de hackers e de perdas associadas a fraudes realizadas a partir da internet. Segundo a guia de recomendação da SEC, os auditores e as companhias listadas devem revelar aos acionistas os incidentes relevantes e materiais, bem como os programas de proteção para uma resposta efetiva e rápida aos ataques de hackers. O potencial prejuízo

financeiro e de imagem de um cyber-attack tende a afetar o valor bursátil das companhias”, conclui Fávero. n

O prazo de convergência do Brasil para o IPSAS foi fixado inicialmente para 2012 (para a União e estados) e 2013 (para municípios). Atualmente, o País utiliza um sistema contábil que é uma versão modificada do regime de caixa, mas move-se gradualmente para a aplicação do regime de competência baseado no IPSAS. Segundo a pesquisa, o governo brasileiro é um dos 11 países que têm planos concretos de melhorar o sistema contábil nacional.

Para o sócio de Auditoria da Ernst & Young Terco Julio Pinto, a adoção do IPSAS permite a comparação das demonstrações financeiras entre países e, de quebra, representa um enorme ganho de transparência. O problema, segundo ele, é que, mesmo com o prazo para a convergência se aproximando, muitos governantes ainda não conhecem as normas internacionais de contabilidade pública em detalhes, o que pode impactar o cronograma. n

11

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

A r t i g o

O RTT e a escrituração para fins fiscaisPor Cláudio Yukio Yano Diretor de Impostos da Ernst & Young Terco

De forma a dar o correto encaminhamento no plano fiscal ao descasamento entre a escrituração mercantil e a apuração para fins tributários, o RTT – Regime Tributário de Transição – registra que as alterações introduzidas pelas Leis nº 11.638/07 e 11.941/09, que modifiquem o critério de reconhecimento de receitas, custos e despesas computadas na escrituração contábil para apuração do lucro líquido do exercício, não terão efeitos para fins de apuração do lucro real da pessoa jurídica sujeita ao RTT. Nesse caso, devem ser considerados, para fins tributários, os métodos e critérios contábeis vigentes em 31 de dezembro de 2007.

Por sua vez, ao regulamentar o RTT, a Instrução Normativa da Receita Federal nº 949/09 criou o Controle Fiscal Contábil de Transição - FCONT, definido como uma escrituração das contas patrimoniais e de resultado, em partidas dobradas, considerando os critérios contábeis aplicáveis à legislação tributária. Na prática, trata-se de obrigação acessória para que se faça o controle e a conciliação entre os lucros líquidos da escrituração mercantil e da demonstração para fins fiscais, aplicável às empresas tributadas com base no lucro real sujeitas ao RTT.

Uma das novidades na Declaração de Informações Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ) 2011 foi a criação das Fichas 36A e 37A, nas quais são reportados os saldos do Ativo e do Passivo demonstrados no FCONT, quais sejam, do balanço para fins fiscais.

Na medida em que as regras do Imposto de Renda Pessoa Jurídica pressupõem que diversos ajustes ao lucro real sejam apurados com base nos saldos das contas patrimoniais e de resultado, ao se criar uma escrituração como o FCONT, questiona-se a utilidade de um balanço fiscal na apuração dos ajustes ao lucro líquido, ponto de partida do lucro real.

Alguns exemplos de ajustes e implicações com a forma de escrituração adotada podem ser observados na questão da equivalência patrimonial, registro de ágio, eventos especiais (fusão, cisão parcial ou total e incorporação), contabilidade de custos, patrimônio líquido a ser adotado para fins de aplicação das regras de subcapitalização ou métrica dos juros sobre o capital próprio, bem como da distribuição de lucros isentos.

Parece-nos que não há, no atual arcabouço legal, dispositivo que imponha expressamente a apuração de um balanço para fins tributários, sobre o qual os ajustes na apuração do lucro real seriam calculados – a exemplo dos casos citados neste artigo.

É oportuno esclarecer que, com isso, não pretendemos afirmar a inexistência de fundamento técnico para a utilização de um balanço para fins tributários nesses casos; pelo contrário. Essa seria a forma mais adequada para se promover a neutralidade fiscal em relação aos novos métodos e critérios contábeis adotados no País, escopo do RTT.

Aliadas às muitas diferenças de interpretações sobre o alcance do RTT existentes no mercado, na maioria pendentes de definição até mesmo pelo fisco, as distorções e confusões às quais nos referimos deverão, certamente, ensejar inúmeros litígios entre as empresas e a fiscalização.

Sabemos que as autoridades fiscais estão em adiantados estudos para a viabilização de um novo modelo pós-RTT, o qual se espera seja objeto de amplo debate anteriormente à sua implementação, de forma a eliminar os pontos de discussão ora existentes, e que, principalmente, permita a simplificação dos controles entre as diferenças das escriturações societária e fiscal, em benefício tanto das empresas quanto da fiscalização. n

11

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

12

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

I P O

Apesar do otimismo sobre o mercado de ações brasileiro, o número de aberturas de capital (IPOs) deve ser impactado pelo menor apetite por riscos dos investidores estrangeiros

Por Clarissa Wahl

IPOs

13

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

As sucessivas crises na Europa e nos Estados Unidos, responsáveis por uma deterioração econômica que, segundo cálculos do JP Morgan, vai exigir que os bancos da zona do euro recebam uma injeção de capital da ordem de € 254 bilhões – bem maior do que a estimativa inicial de € 104 bilhões feita pela Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em inglês) –, colocam em dúvida um cenário global mais otimista para as aberturas de capital, ou IPOs. Relatório produzido pela Ernst & Young global, intitulado IPO Eye, relativo ao terceiro trimestre de 2011, revela que 37% dos gestores de companhias internacionais acreditam que o mercado de IPOs só irá se recuperar a partir do segundo semestre de 2012, enquanto 47% não esperam nenhum movimento de recuperação até 2013.

Enquanto a maré de retração atinge os países da Europa e os Estados Unidos com força, no entanto, parece estar longe do Brasil. Segundo a BM&FBovespa, em 2011 foram registrados 11 IPOs – o mesmo total de 2010 e bem superior aos seis emitidos em 2009. Para 2012, segundo expectativa de Paulo Sérgio Dortas, sócio de Auditoria e líder para a área de IPOs da Ernst & Young Terco, os ânimos do mercado estão em alta com as perspectivas de aquecimento da economia a partir de megaeventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada.

“Na verdade, o próprio ano de 2011 começou muito otimista. Havia consenso sobre a existência de 30 processos de abertura de capital. Com a crise, claro, essa expectativa se frustrou. Mas, para 2012, os ânimos não estão muito diferentes. Os agentes de mercado acreditam que será um ano virtuoso, por acharem que há forte demanda de financiamento”, diz Dortas. Entre as regiões e estados que devem concentrar essa demanda e atrair mais investimentos, segundo o sócio, estão Ceará, Pernambuco e cidades do Centro-Oeste classificadas como “pequenas Chinas”, por

O ano de 2011 começou muito otimista. Havia consenso sobre a existência de 30 processos de abertura de capital. Com a crise, claro, essa expectativa se frustrou. Mas, para 2012, os ânimos não estão muito diferentes.

Paulo Sérgio Dortas | Sócio de Auditoria e líder de IPOs da Ernst & Young Terco

Ernst & Young Terco e BM&FBovespa preparam guia sobre capitalização de empresas

Em 2010, as ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) de 11 empresas brasileiras levaram a uma captação de US$ 6,4 bilhões. O montante é tímido se comparado aos US$ 27,6 bilhões captados por 63 companhias em 2007, ano que representou o ápice da abertura de capital no País. A crise nos mercados centrais explica a queda vertiginosa, mas os indícios de recuperação, ainda que lenta, da economia mundial levam o mercado a apostar em uma segunda onda de companhias que desejam se tornar abertas no Brasil. A expectativa é que, até 2015, 200 empresas brasileiras abrirão seu capital.

A expansão dos negócios das empresas brasileiras com alto potencial de crescimento e a captação de recursos nunca foram tão possíveis – e vantajosas – como na última década. Em 2010, os investimentos estrangeiros diretos (IED) somente para a compra de empresas, ampliação de instalações ou construção de novas plantas no Brasil atingiram o montante recorde de US$ 48,4 bilhões, com alta de 84,6% ante os números do ano anterior, segundo o levantamento “Investimento no Mundo 2011”, divulgado pela Unctad. Os valores fizeram com que o País passasse do 19º para o quinto lugar no ranking global de atração dessas aplicações.

A abertura de capital representa uma boa possibilidade de captação de recursos para as empresas que desejam crescer. O caminho, porém, não é simples, e a preparação para a futura companhia aberta costuma demorar de 24 a 36 meses. Essas informações vão constar do novo guia de capitalização de empresas, organizado pela Ernst & Young Terco em parceria com a BM&FBovespa, com lançamento no início de 2012.

O guia mostra um passo a passo da abertura e aponta que a simples capitalização inicial não pode ser considerada o escopo primordial da companhia que deseja se tornar pública. O processo requer profissionais preparados para lidar com questões muitas vezes desconhecidas no dia a dia da empresa de capital fechado; a adoção de políticas, procedimentos e controles internos diferenciados; maturidade em temas jurídicos, contábeis e tributários; e um profissional que será o contato com os acionistas.

O longo processo da abertura passa ainda por exigências institucionais e legais, e o contato constante com órgãos reguladores, como a CVM, além da BM&FBovespa. A transparência na divulgação de informações relevantes e de demonstrações financeiras em linha com as exigências do mercado passa a ser vital para a credibilidade e para a atração de capital a custo mais baixo para essa companhia, assim como a contratação de profissionais com profundo conhecimento de IFRS, as normas contábeis internacionais recentemente adotadas pelas empresas brasileiras.

Por Felipe Datt

14

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

I P O

concentrarem um número expressivo de negócios com potencial de crescimento mais alto do que qualquer outra região, impulsionando o PIB regional.

Segundo Dortas, no entanto, apesar de o País ter os melhores cenários, certamente será impactado pelo menor apetite por riscos dos investidores estrangeiros. Isso porque cerca de 60% a 70% da oferta efetuada de ações são compradas por esses investidores, e, nos últimos meses, por conta da crise global, a maioria deles tem preferido adotar uma postura defensiva, priorizando a liquidez de seus investimentos – para isso, muitas vezes, realizando posições nas bolsas de valores de emergentes como o Brasil.

Para o analista-chefe da Walpires Corretora, Leandro Martins, enquanto a bolsa não atuar acima dos 60 mil pontos – cerca de 5 mil pontos além do atual patamar –, é difícil que os investidores se sintam incentivados a manter suas aplicações. E isso só aconteceria, segundo ele, a partir do momento que a Europa sinalizasse um retorno ao crescimento e que a China não mostrasse tendências de que sua economia está desacelerando. Além disso, diz Martins, ainda existem os desafios institucionais do País, como a alta burocracia, a carga tributária excessiva e os gastos elevados dos governos federal e estaduais com megaeventos como a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.

O governo incentiva

Para minimizar o impacto da crise externa sobre o mercado acionário brasileiro e, consequentemente, sobre o número de ofertas iniciais

O investidor não está deixando de acessar o mercado local por conta do imposto. Ele toma essa decisão pelo cenário externo. E isso só irá mudar quando existir uma definição mais clara da estratégia de países europeus sobre como atuar em relação à crise.

Flávio Peppe | Sócio de Auditoria para Serviços Financeiros da Ernst & Young Terco

Fundos de pensão, por exemplo, têm uma exposição controlada a riscos. Por essa razão, em momentos de crise, acabam optando por fundos de renda fixa ou outros investimentos mais conservadores.

Paulo Sérgio Dortas | Sócio de Auditoria e líder de IPOs da Ernst & Young Terco

de ações, o governo anunciou em dezembro a redução da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cobrada do investidor estrangeiro na bolsa brasileira, de 2% para zero. Apesar de, em 1º de dezembro – dia em que o ministro Guido Mantega anunciou o pacote de estímulo ao crédito –, a BM&FBovespa ter encerrado o pregão com alta de 2,2%, a redução do imposto não deve ser suficiente para garantir uma volta maciça do estrangeiro à bolsa.

“As medidas, claro, descolam a bolsa brasileira das suas pares, mas, mesmo assim, pode-se dizer que esse investidor não está deixando de acessar o mercado local por conta do imposto. Ele toma essa decisão pelo cenário externo. E isso só irá mudar quando existir uma definição mais clara da estratégia de países europeus sobre como atuar em relação à crise de sua dívida soberana”, afirma Flávio Peppe, sócio de Auditoria para Serviços Financeiros da Ernst & Young Terco. Entre as ações que o mercado espera que sejam adotadas pelo Banco Central Europeu (BCE), em conjunto com os líderes dos países do bloco, está a redução da taxa de juros básicos, que poderia levar a um aquecimento da economia.

Alternativas disponíveis

Em um cenário de crise nos mercados internacionais, o financiamento corporativo via abertura de capitais perde atratividade. A cautela é válida. Com os investidores cada vez mais avessos a riscos e buscando uma maior liquidez em seus ativos, a opção de alocar recursos em ações de empresas iniciantes no mercado acionário não parece ser, por enquanto, uma boa decisão. Na contramão desse cenário de perdas, no entanto, as empresas encontram nos fundos de private equity (PE) e venture capital (VC) formas de captação alternativas.

No ano, as indústrias de PE e VC acumulam captações da ordem de US$ 4,5 bilhões entre janeiro e setembro de 2011 para investimentos no Brasil. O valor, recorde, supera os US$ 3,5 bilhões levantados durante todo o ano de 2008, o qual, até então, havia sido o mais expressivo da série histórica, de acordo com dados da Emerging Markets Private Equity Association (Empea).

Segundo Dortas, da Ernst & Young Terco, um ponto favorável a esse tipo de investimento é a flexibilidade. “Assim como a maior parte dos investidores institucionais, os fundos de pensão, por exemplo, têm uma exposição controlada a riscos. Por essa razão, em momentos de crise, acabam optando por fundos de renda fixa ou outros investimentos mais conservadores, por sofrerem menor volatilidade do que o mercado de ações”, diz. Por fim, completa Dortas, o caminho natural para as empresas que recebem aportes de fundos de private equity é abrir o capital. n

15

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

S u s t e n t a b i l i d a d e

A adoção de reportes que integrem a contabilidade e as finanças das companhias abertas ao desempenho nas áreas social, ambiental e de governança caminha para ganhar caráter oficial nos próximos anos. Foi lançado oficialmente no fim de outubro de 2011 o programa-piloto de relatórios integrados do International Integrated Reporting Committee (IIRC), organização não governamental sediada no Reino Unido que, em linha com as ações de grupos como o Global Reporting Initiative (GRI), defende o reporte de indicadores como a emissão de gases, o tratamento de resíduos e o consumo de água e energia nas empresas.

O principal objetivo dos relatórios integrados, ou relatórios de responsabilidade socioempresarial,

Principal objetivo é reforçar junto ao mercado os contextos social, ambiental e econômico em que a empresa está inserida

Por Felipe Datt

Mercado caminhapara integrar relatórios

é reforçar junto ao mercado – acionistas e stakeholders em geral – o contexto social, ambiental e econômico em que a empresa está inserida, levando a administração a tomar decisões mais sustentáveis e permitindo às partes interessadas entender profundamente onde estão alocando seu dinheiro. Essa compreensão é importante especialmente quando se leva em conta que negócios sustentáveis tendem a apresentar uma maior rentabilidade e lucratividade no futuro do que seus pares que relegam essa preocupação a segundo plano.

“A adoção de relatórios integrados representa a futura grande reforma contábil mundial”, sugere José Roberto Kassai, do Núcleo de Estudos de Contabilidade e Meio Ambiente

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

15

16

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

S u s t e n t a b i l i d a d e

da FEA – Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. A conta é simples: a população global atingiu 7 bilhões de pessoas em 2011. Em meados do século, deve bater na casa dos 9 bilhões. Os níveis de gás carbônico (CO2) despejados na atmosfera passaram de 314 partes por milhão (ppm), na década de 50, e já se aproximam dos 400 ppm, contribuindo para a oscilação da temperatura média do planeta em 2 a 4 graus. “Dessa maneira, as empresas que não aderirem à questão da sustentabilidade em sua missão têm perspectivas de não chegar a meados deste século”, interpreta Kassai.

As previsões mais pessimistas indicam, para os próximos anos, maiores inundações, secas, quebras de safra e problemas em áreas diversas como saúde, produção de alimentos e energia. É consenso que o modelo atual de produção em escala não suportará esse cenário e que as empresas, consideradas um dos principais atores nesse ambiente, terão de assumir novas responsabilidades. Sob outro ponto de vista, o reporte de seus passivos ambientais (geração de lixo, gastos com energia, entre outros) pode forçar as companhias a investir em inovação e novas tecnologias e transformar seus passivos em novas oportunidades de negócios. “Os relatórios integrados têm o intuito de aumentar o nível de transparência e trazer maior credibilidade às corporações”, defende Zunara Carvalho, sócia de Program Management & Sustainability da Ernst & Young Terco.

As discussões sobre relatórios conjuntos que integrem finanças e ações sustentáveis começaram há alguns anos, com a criação do GRI e do A4S (sigla para Accounting for Sustainability, grupo idealizado pelo príncipe de Gales), duas organizações não governamentais que passaram a disseminar a importância de transformar as ações socioambientais em números

que pudessem ser interpretados pelo mercado e os investidores. O trabalho dos grupos ganhou força com o surgimento do IIRC, em 2010, reunindo 40 representantes de peso que incluem de ex-presidentes do IASB e do FASB a representantes das principais empresas de consultoria e auditoria globais.

Os resultados já começam a sair do papel. Números do IIRC mostram que 50 grandes empresas globais, de 25 países e 30 segmentos econômicos diferentes, já estão engajadas na produção voluntária de seus relatórios sustentáveis. Entre os participantes, estão a Microsoft (EUA), o HSBC (Reino Unido), a Danone (Itália) e a brasileira Natura – esta última, aliás, já vem reportando seu desempenho socioambiental seguindo as diretrizes do GRI há pelo menos uma década.

Essas empresas integrarão, pelos próximos dois anos, o programa-piloto de relatórios sustentáveis do IIRC, que prevê que, além das demonstrações financeiras, dados relevantes como as emissões de gases poluentes, o tratamento de resíduos, o consumo de água e energia, além das ações na área social e trabalhista da companhia sejam divulgados com regularidade ao mercado. As melhores práticas obtidas nesses dois primeiros anos do texto devem formar a base de um futuro modelo de relatório integrado.

Durante reunião na primeira quinzena de novembro passado, em São Paulo, o grupo expôs a estratégia de atrair empresas de economias emergentes, como Brasil, China e Coreia do Sul, e o intuito de que essas empresas desenvolvam, testem e refinem os princípios do relatório visando a uma possível – porém incerta – integração futura desse modelo de reporte sustentável com o IFRS, o padrão internacional de contabilidade. “O próprio presidente do GRI me confidenciou que, por

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

16

17

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

Os relatórios integrados têm o intuito de aumentar o nível de transparência e trazer maior credibilidade às corporações. (...) Exigem um grau de maturidade que permita a todos os interessados, como acionistas e investidores, entender as informações.

Zunara Carvalho | Sócia de Program Management & Sustainability da Ernst & Young Terco

mais que desenvolvessem a qualidade do relatório, como são voluntários e não auditados, acabariam não tendo valor”, revelou Kassai.

Rio+20 deve dar impulso à integração

A integração de relatórios ganhará força em 2012 com a realização da Rio+20, conferência internacional sobre clima e meio ambiente comandada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo Zunara Carvalho, da Ernst & Young Terco, as discussões atuais giram em torno da criação de um modelo de relatório que permita às empresas divulgar os principais indicadores de forma objetiva e padronizada e que possam ser comparados com os de outras empresas.

seus aspectos sociais, ambientais e de governança, com indicadores claros, fará parte dos negócios das corporações em um futuro próximo, dizem os especialistas. O segredo está em descobrir como aumentar os lucros e atrair investimentos com essas ações.

O mercado já está atento. A decisão de grandes investidores internacionais em banir de seus investimentos ações de empresas da indústria de tabaco, bebidas e armas é um indicativo. A opção pelos chamados “investimentos socialmente responsáveis” considera que empresas sustentáveis geram maior valor para o acionista no longo prazo, pois estão mais preparadas para enfrentar riscos econômicos, sociais e ambientais.

A BM&FBovespa também criou, em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Índice de Carbono Eficiente (ICO2), que passou a listar as emissões das 50 ações com maior liquidez na Bolsa. O índice apresenta o coeficiente das emissões de gás carbônico das empresas em razão da receita individual. “Os investidores estão na dianteira do processo e passaram a exigir informações embasadas, não apenas a retórica ambientalista. Afinal, estão lidando com riscos futuros”, finaliza Kassai.

Se os investidores estão atentos, as empresas começam a se mobilizar em torno de temas sustentáveis e em relação ao futuro impacto das mudanças climáticas em seus negócios. Pesquisa da Ernst & Young com 300 empresas globais, conduzida entre agosto e setembro de 2011, mostrou que 36% dos negócios classificavam como improvável um avanço nas discussões sobre o aquecimento global e a redução da emissão de gases de efeito estufa durante o encontro de líderes mundiais na cidade sul-africana de Durban. Como resultado, avanços foram alcançados. Mas, segundo analistas, o “Pacote de Durban” ainda é considerado insuficiente para conter o aumento da temperatura do planeta.

Apesar do ceticismo com os governos, o levantamento mostra que 44% das corporações entrevistadas reportaram aumento nos investimentos em ações sustentáveis em 2010, ao passo que outras 44% disseram que os gastos se mantiveram no mesmo patamar. Outro dado interessante é que 55% dos entrevistados enxergam o aquecimento global mais como uma oportunidade nos negócios do que como uma ameaça – e 68% estão se agarrando às oportunidades que a adoção de políticas “verdes” oferece para aumentar seus negócios. n

As discussões envolvem, também, a criação de diretrizes para as empresas majorarem e darem valor a passivos e ativos, e a elaboração de premissas que permitam o trabalho adequado dos auditores. “Já existem, por exemplo, modelos para os inventários de emissões de gases. Os relatórios integrados exigem um grau de maturidade que permita a todos os interessados, como acionistas e investidores, entender as informações”, revela Zunara.

Mercado atento

Reportar o desempenho da empresa não apenas nas suas dimensões econômicas, mas incluindo todos os

No Brasil, os fundos de ações com foco em sustentabilidade contavam com patrimônio líquido de R$ 1,3 bilhão em meados de novembro, segundo a Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima).

O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBovespa também demonstra a preocupação crescente dos investidores por práticas sustentáveis, como a utilização de energias renováveis, tecnologias limpas ou relatórios com a quantificação e controles sobre a emissão de gases. A carteira do ISE conta com 51 ações de 38 companhias. 17

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

18

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

Desafios à espreita em 2012Por Eliseu Martins Professor emérito da FEA-USP e ex-diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

Que teremos desafios durante 2012 tanto na contabilidade quanto na auditoria, não há a menor dúvida. Será que menores que os de 2010, quando da implantação das novas normas de contabilidade? Ou serão apenas de natureza diferente?

Não deixa de ser muito interessante que estejamos encontrando, em 2011, comentários, mais do que talvez esperássemos, do tipo: “agora caiu a ficha”. Ou seja, a rapidez com que implantamos as novas normas fez com que, como era mesmo de se esperar, muitos de nós tenhamos deixado de ler com mais atenção este ou aquele trecho de uma ou várias das normas, tenhamos deixado de meditar sobre a real profundidade de alguns parágrafos, tenhamos deixado de avaliar com cuidado o verdadeiro significado de um ou outro contrato ou documento etc. Com isso, fica visível que muitos ajustes foram executados durante 2011. Será que tudo estará normalizado para 2012?

Algumas pesquisas têm mostrado que na Europa, que efetuou a implantação em 2005, apenas depois de quatro a cinco anos é que o nível de ajustes retroativos parece ter voltado ao que era antes dessa implantação. Tudo bem que, por lá, os países latinos, germânicos e outros que não saxônicos tenham sofrido muito mais do que nós na implantação das IFRSs, já que nossa contabilidade – com a Lei das S/A de 1976 e as normas emitidas pela CVM e também pelo CFC desde então – estava muito mais próxima à do IASB do que a deles. Mas o período de adaptação na Europa foi longo,

na verdade ainda está em andamento.

Consequentemente, feito o primeiro rescaldo em 2011, provavelmente continuaremos a ter a continuação do processo em 2012 e nos anos subsequentes. Mas discutamos algumas questões específicas.

Um dos pontos relevantes a aprendermos será o da não possibilidade mais da utilização da “muleta” da Prudência (Conservadorismo) como conceito a sustentar determinadas práticas, dificuldade a ser sentida muito fortemente pelos contadorese, provavelmente, pelos auditores. De modo geral, certas soluções eram dadas e às vezes defendidas vigorosamente com base nessa bandeira. Agora, com a mudança na Estrutura Conceitual (feita pelo IASB ainda em 2010, mas só neste ano entre nós) e a indicação do IASB de que esse conceito é incompatível com a “representação fidedigna”, alguns de nós sofreremos mais do que o normal.

Aliás, interessante notar que o IASB agora define apenas dois conceitos como fundamentais na elaboração e na divulgação das informações contábeis: Relevância e Representação Fidedigna. Tudo o mais é para auxiliar a obter essas duas condições. E o IASB toma a representação fidedigna de maneira tão forte que eliminou a menção à Primazia da Essência sobre a Forma por considerar que é óbvio demais que, sem essa primazia, não há como se falar em representação fidedigna!

Só que essência sobre forma é algo muito bonito de se falar, mas muito

A r t i g o

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

18

19

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

que obedeça totalmente às novas regras contábeis e propicie o levantamento das demonstrações societárias oficiais da empresa.

Trabalhei, e bastante, por essa ideia no passado, enquanto a Receita mostrava resistências enormes à ampliação do Lalur – Livro de Apuração do Lucro Real. Mas, agora, depois de toda essa experiência com os novos procedimentos da RFB, compartilho das preocupações até mesmo psicológicas que muitos têm manifestado, inclusive o CFC – Conselho Federal de Contabilidade, com a possível mudança. Tanto investimento para convencer todos os profissionais de que primeiramente se deve fazer a escrituração da contabilidade societária para depois se proceder aos necessários ajustes fiscais, e agora a volta atrás parece-me uma ducha de água fria em cima de todos nós. Concordo que é, de fato, muito mais um problema de ordem emblemática (usando a palavra de um próprio representante da RFB no CPC, que muito respeito), psicológica e, também, de manutenção de um esquema que agora a profissão já aprendeu a dominar, do que de dificuldade técnica. Mas, como é importante esse princípio de primeiro escriturar-se conforme a contabilidade, e depois ajustar-se conforme a regra fiscal...

Acho que o mais relevante nesse campo é a redução das divergências que hoje levam a um número muito grande de ajustes no Lalur. Se conseguirmos reduzi-las fortemente, talvez consigamos ainda a manutenção do próprio modelo hoje em funcionamento.

De qualquer forma, 2012 vai nos trazer muitas emoções. Então, preparemo-nos para enfrentá-las! E que seja um belo ano para todos nós. n

difícil de se praticar. Exige um domínio de como se processam todas as operações na empresa, o entendimento completo de todos os documentos que provocam registros contábeis, a busca do real significado do que se pretendeu neste ou naquele contrato etc. Dá trabalho demais, exige julgamento e exige conhecimentos ligados muitas vezes a áreas conexas como economia, direito, finanças etc. E nos faz tremer ao tomar uma decisão.

Talvez seja esse o nosso maior desafio, não de 2012, mas de nosso futuro como um todo: aprender a retratar, auditar e analisar melhor conforme a essência econômica, fazer valer o papel de uma profissão liberal que se firma centrada nessa atitude que exige um fluxo de convicções e conhecimentos que estimulam a conclusão de dentro para fora de cada um de nós.

Não é de espantar que às vezes o gestor e/ou o empresário lutem freneticamente pela aplicação desse conceito, mas, no momento seguinte, em face de outra situação, fujam dele rapidamente. Não é de espantar que o profissional que prepara as demonstrações tenha todo o receio do mundo em participar de um processo de forma muito diferente da de antes, e agir de maneira mais ativa e menos passiva. Não é de espantar que o auditor independente trema muitas vezes diante de situações em que esse dilema apareça, porque, sempre treinado sob a batuta do conservadorismo e do ceticismo, e sob o jugo (no exterior, principalmente) de um ambiente litigioso preocupante, tenha dificuldade em aceitar formalmente o que talvez internamente já o tenha convencido. E não é de espantar que os usuários das informações contábeis estejam ainda meio sem saber o que

há de novo e, principalmente, sem dominar quais as consequências para eles do incremento no uso da subjetividade e das possibilidades de escolha.

Mas só um trabalho corajoso, ético e tecnicamente bem fundamentado poderá fazer com que todos nós consigamos a mudança de postura de que tanto necessitamos para lograrmos, de fato, a implantação e o benefício de um sistema de informação útil e relevante; e não só para credores e investidores, mas para a gestão das empresas também. E, para isso, não há como viver sem a essência prevalecendo.

Finalmente, gostaria de falar de outro enorme desafio que deveremos ter em 2012: o processo de substituição do RTT – Regime Tributário de Transição. A neutralidade tributária foi negociada como sendo a não validade compulsória, para fins fiscais, da introdução de qualquer nova norma contábil; e a não validade compulsória, para fins contábeis, de qualquer nova norma fiscal. Jamais significou a manutenção das regras fiscais do final de 2007. Assim, deveremos partir para a nova legislação tributária para analisar tudo o que se inovou e deliberar sobre o que deverá passar a ter consequências tributárias.

A Receita Federal Brasileira (RFB) vem dando sinais, há já pelo menos quatro anos, de uma postura que nos leva a levantar e aplaudi-la de pé: aceitando e fazendo da neutralidade tributária também uma bandeira dela. Mas todos sabemos que a legislação fiscal precisa evoluir. Apenas fico preocupado com a ressurreição da ideia do “Laluc” – Livro de Apuração do Lucro Contábil –, com a escrituração mercantil dando prioridade aos registros fiscais para, em seguida, ter-se a escrituração

19

|

As

su

ra

nc

e

Jo

ur

na

l

|

E

rn

st

& Y

ou

ng

T

er

co

M a i o d e 2 0 1 1 • T a x V i e w • 1

Trabalhar com determinação.

Nós conhecemosbem a sua história.

Empreender, crescer e ser líder demercado não é uma questão de sorte.

O ambiente de negócios, cada vezmais complexo, exige uma gestão

efetiva dos riscos e oportunidades.A constante evolução tecnológica,

mudanças nas estruturas de negóciose o dinamismo do mercado global são

fatores que evidenciam essa tendência.

Qualquer que seja sua área deatuação ou estágio de crescimento,

para que sua empresa consiga sedestacar no mercado, colocamos, lado a lado, nosso conhecimento global e a

experiência no middle market.

É por isso que somos a mais completa empresa de auditoria e

consultoria do Brasil.

Auditoria | Consultoria Tributária e Trabalhista | Consultoria de Estratégia

e Gestão | Transações Corporativas

www.ey.com.br

anuncio_george_letter_21-11-11.indd 1 21/11/2011 16:12:13