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IX ENCONTRO DA ABCP ÁREA TEMÁTICA: Pensamento Político Brasileiro MAURÍCIO TRAGTENBERG COMO INTERPRETE DA HISTÓRIA POLÍTICA BRASILEIRA (1964-1990) Paulo Douglas Barsotti – FGV-SP Brasília, DF 04 a 07 de agosto de 2014

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IX ENCONTRO DA ABCP

ÁREA TEMÁTICA: Pensamento Político Brasileiro

MAURÍCIO TRAGTENBERG COMO INTERPRETE DA HISTÓRIA POLÍTICA

BRASILEIRA (1964-1990)

Paulo Douglas Barsotti – FGV-SP

Brasília, DF 04 a 07 de agosto de 2014

2

MAURÍCIO TRAGNTENBERG COMO INTÉRPRETE DA HISTÓRIA POLÍTICA

BRASILEIRA (1964-1990)

Paulo Douglas Barsotti

Fundação Getúlio Vargas - SP

Resumo:

O artigo trata de M. Tragtenberg (1929-1998), especialmente como intérprete da história

política brasileira no período 1964-90. A faceta de MT como historiador e cronista da

vida política brasileira ainda está por merecer sua devida importância. Ela foi eclipsada

pelo crítico das burocracias, pelo pedagogo libertário e historiador do socialismo (objeto

de ensaios e teses). A lacuna pode ser explicada por suas reflexões concentrarem-se

na atividade extra-acadêmica (jornalista, ensaísta). Poucos foram os episódios da

história política republicana do país não abordados por MT. O trabalho de ensaísta e

cronista político se inicia no final da década de 1970 e vai até metade da década de

1990, período que compreende o fim do regime militar, “abertura política” e Nova

República. Nas questões imediatas do cenário político brasileiro, recorre a uma

perspectiva histórica nacional e internacional: tratando da legislação trabalhista da

ditadura (1964), reporta-se à criação da CLT; tratando da redemocratização dos anos

1980 e do pacto social, reporta-se ao ocorrido na década de 1940 no Brasil e à

Espanha do Pacto de Moncloa. Os traços fundamentais da interpretação de MT, em

especial o período final da ditadura (1964-84), é nosso objetivo.

Palavras-chave: Maurício Tragtenberg; Golpe Militar de 1964; Pensamento Político

Brasileiro;

3

“O enigma decifrado brasileiro é que aqui tudo se reforma e nada muda”.

(Tragtenberg, 2009, p. 397)

I

Pode-se dizer que a face de Maurício Tragtenberg (1929-1998)1 como historiador e

cronista do Brasil ainda está por merecer sua devida importância. Na verdade, ela foi eclipsada

pelas faces de crítico das burocracias, de pedagogo libertário e historiador do socialismo, que

foram objetos de ensaios e teses acadêmicas. Esta lacuna explica-se pelo fato de que as

reflexões de MT sobre o Brasil concentraram-se mais em sua atividade extra-acadêmica –

como jornalista e ensaísta – e foram distribuídas, ao longo do tempo, em várias revistas e

jornais. Essa dispersão do material dificultou a sua divulgação, bem como as pesquisas sobre o

tema.

Claro que quando MT examina outros temas – burocracia, educação, socialismo etc. –

pontilham nestes trabalhos referências significativas sobre a história brasileira, seus

acontecimentos e suas personagens. Só recentemente, este conjunto de ensaios, artigos

jornalísticos e entrevistas foram agrupados e republicados em volumes da Coleção Maurício

Tragtenberg (2009), organizada por Evaldo A. Vieira, pela editora da UNESP, que está à

disposição para reflexões e pesquisas.

II

Intelectual múltiplo e único no Brasil, MT não pertenceu a nenhuma escola teórico-

política e nem pretendeu criar qualquer coisa parecida. Autor de várias referências teóricas, MT

teve, no entanto, um foco bem definido: a individualidade humana não poderia se realizar sem a

eliminação da intermediação de toda e qualquer burocracia econômica e política, preocupação

presente em toda sua produção intelectual, tanto como militante político ou como acadêmico.

A sua opção ética – e aposta social – está na ação autônoma dos trabalhadores, na

afirmação de sua independência ideológica, no poder criativo de sua auto-organização e auto-

educação e na autogestão social, como condição sine qua non para a realização da

emancipação humana.

Assim, constrói um amálgama teórico fortemente ancorado na crítica de Karl Marx à

economia política, apropria-se dos recursos analíticos de Max Weber para a reflexão dos

fenômenos superestruturais, e lança mão tanto do pensamento anarquista revolucionário, como

1 Na seqüência de nosso artigo, as referências ao nome do autor Maurício Tragtenberg aparecerão com a sigla MT.

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do marxismo herético e heterodoxo. Com isto se arma teoricamente para a crítica do

capitalismo, das sociedades pós-capitalistas, dos estalinismos e de toda e qualquer forma de

estado e aparatos burocráticos de poder e exploração. Não por acaso, MT por uns é

considerado anarquista, por outros marxista heterodoxo, socialista libertário, weberiano e, até

mesmo, liberal.

Sobre a imputação de ter sido anarquista, lembrou-nos José Carlos Orsi Morel2 (2001),

que MT, apesar de nunca ter assumido publicamente a posição de anarquista, manteve

“vínculos pessoais com os anarquistas paulistanos, que perduraram por toda vida, e pela

atuação nos últimos 25 anos, ele foi um dos homens que mais contribuíram para a reconstrução

desse movimento” (MOREL, 2001, p.286). Vale lembrar também que no artigo de MT, “Marx e

Bakunin”, quem aparece como autoritário – para surpresa de muitos – não é o alemão, mas sim

o russo, destacando o “constraste entre o seu discurso pregando a auto-organização” dos

trabalhadores a partir de suas bases e o “seu apego” em criar “seitas e sociedades secretas.”

(TRAGTENBERG, 1987, p.206).

A respeito da acusação de ser eclético e pluralista – na maior parte das vezes feitas por

estalinistas e trotskistas – MT as rejeitava com veemência: “O pluralismo é o refúgio preferido

do conservador” (TRAGTENBERG apud PASSETTI, 2011, p.173).

De si, MT deixou em certa passagem a seguinte sugestão:

Definimos marxismo heterodoxo uma leitura de Marx não regida pelos moldes “ortodoxos” definidos pelo chamado “marxismo-leninismo-stalinismo”, que fundamentavam as análises dos PCs vinculados ao modelo da URSS e fundamentavam até a pouco as análises dos integrantes da IV Internacional antes de sua divisão em três correntes e posterior subdivisão em duas tendências. (TRAGTENBERG, 1981b, p.7)

O autor entendia que esta posição é aquela que discute questões como a ditadura do

proletariado, partido único e outras, aceitas como dogmas pelos estalinismos. Para MT “o

socialismo implicava em auto-organização, associação e auto gestão operária”

(TRAGTENBERG, 2006, p. 13) e mais:

é uma realidade comunitária baseada na responsabilidade solidária, e isso implica a negação de todas as hierarquias, autoritarismo, centralizações (...). Tudo aquilo que tira poder das bases (...). Socialismo significa autogestão econômica das empresas pelos produtores, no plano político, o poder exercido pelos Conselhos. (TRAGTENBERG, 2009, p.184)

Mas é o próprio MT que dá a pista para o entendimento desta construção teórica

desprovida de preconceitos e tecida durante a sua existência. Para falar de sua formação e

desenvolvimento intelectual e político, valorizava suas experiências de vida com partidos

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políticos, grupos e pessoas, utilizando a expressão, à la Gorki, “minhas universidades” ou

“escola da vida”.

III

Sua vida teve a marca da perseguição, delação e repressão, mas também nesta

trajetória, encontrou amizade e solidariedade de muitos. Viveu num momento atribulado da

história brasileira em que se alternaram ditaduras e processos de redemocratização.

MT irá torna-se um historiador da Revolução Russa, chamando a atenção para suas

vicissitudes, como a revolução camponesa na Ucrânia (1919), liderada por Nestor Makhno e a

revolta dos marinheiros de Kronstadt (1921), ambas aplastadas pelo bolchevismo.

Não por acaso, sua estréia como escritor se deu aos 25 anos, publicando dois ensaios

na Folha Socialista mantida pelo PSB – Partido Socialista Brasileiro – de 05/04/1954 e

01/06/1954: “Rússia atual: produto da herança bizantina e do espírito técnico norte-americano”,

resultado de suas leituras e experiências políticas. Nestes ensaios, apresenta uma “crítica

antecipada, original e corajosa aos soviéticos e à União Soviética, que se diziam vanguarda do

socialismo, pervertendo-o em sua gênese e aproximando-o do capitalismo” (VIEIRA, 2009,

p.11).

Um fato marca a consciência do menino judeu. Em plena ditadura do Estado Novo,

assiste uma manifestação da AIB – Ação Integralista Brasileira, ainda no momento em que este

movimento apóia Vargas. Tal situação, produziu uma “politização precoce” no menino judeu.

(Cf. TRAGTENBERG, 2003)

Anos mais tarde, na década de 1970, trata do fenômeno na orelha-resenha que escreve

na publicação da tese de doutoramento de J. Chasin, O Integralismo de Plínio Salgado – forma

de regressividade no capitalismo hiper-tardio (1978), de quem foi orientador na Escola de

Sociologia e Política de São Paulo, ou, no mínimo, estimulador e interlocutor privilegiado. Em

1981, publica o artigo “Educação e política: a proposta integralista”, na Revista Educação &

Sociedade – da qual foi um dos fundadores – onde é apresentada sua visão do integralismo.

Para MT, este “grande movimento de mobilização cultural” tem como finalidade “realizar uma

revolução conservadora”, limitada apenas a “mudanças de superestrutura”. O integralismo

pretende ser uma “revolução cultural pelo avesso”, isto é, “introjetando nos explorados

(economicamente) e nos dominados (política – e socialmente) a ideologia dominante”.

(TRAGTENBERG, 1981a, p.98)

2 Secretário do Centro de Cultura Social de São Paulo.

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Para MT, a Revolução de 1930, como “todas as revoluções brasileiras”, significou uma

“revolução por cima”, foi um realinhamento das classes dominantes dos “segmentos industrial,

bancário e latifundiário”, num momento em que o tenentismo oriundo da pequena burguesia,

colocava em “xeque o antigo bloco histórico” e também o movimento operário questionava “a

legitimação burguesa” (TRAGTENBERG, 1981a, p.99). Neste contexto de crise, frações da

burguesia e pequena burguesia “procuram novas formas de legitimidade de poder, daí a

contestação de direita à democracia liberal, socialismo e comunismo”.

De Porto Alegre muda-se para São Paulo, sua cidade definitiva. Inicialmente, sua família

dirige-se para bairros de forte presença da comunidade judaica (Bom Retiro, Belém), e aí, MT

retoma os estudos formais numa escola ortodoxa judaica, encerrando sua formação

“convencional”. Neste período, passa pela crise religiosa típica da adolescência e o desfecho

não poderia ser mais contundente: “nem judeu e nem cristão. Optei... pelo ateísmo”.

(TRAGTENBERG, 1999, p.21)

Nova mudança, mais uma vez por razões econômicas. Seu novo lar é o Brás, bairro

industrial onde os aluguéis são baratos e a vizinhança mais rica composta de trabalhadores

italianos, espanhóis e portugueses. É neste bairro de forte presença operária que o jovem

Maurício inicia a jornada fértil de suas “universidades”.

No plano internacional, o momento é do pós-segunda guerra mundial, e seu impacto no

Brasil provoca o fim da ditadura de Getúlio Vargas, a redemocratização da vida política e a volta

dos partidos à legalidade.

Era preciso tomar partido, e perto de sua casa, na Rua Belém, havia uma sede do

Partido Comunista Brasileiro (PCB), que recém-saído da ilegalidade, inicia um processo de

agitação e propaganda da URSS e do socialismo. Neste clima de euforia, o jovem judeu recém-

convertido em ateu – levado pela mão de um operário espanhol – ingressa no PCB.

Com a morte do pai, o jovem Maurício trabalha de office-boy num laboratório e inicia sua

militância política, passando a ser conhecido pela esquerda, por sua magreza, como Gandhi.

Ainda que curta, sua passagem pelo PCB será a sua maior experiência de militância

partidária. É no auge da maior estalinização da agremiação, que MT se depara com a

burocracia política e inicia o seu questionamento.

Inquieto e ávido pelo conhecimento, sua vida militante não se restringe ao PCB. Convive

cotidianamente com trabalhadores operários, sapateiros, motorneiros, vidraceiros. Freqüenta

um bar da Rua Ribeiro de Lima – “de comida barata e mesa sem toalha” – onde, com

imigrantes que participaram da Revolução Russa e da Guerra Civil Espanhola, toma contato do

papel do estalinismo nestes eventos. (Cf. TRAGTENBERG, 2003)

7

Na Galeria Prestes Maia reúne-se com várias tendências de esquerda – anarquistas,

trotskistas, comunistas, socialistas – e também integralistas. Ali conhece Hermínio Sacchetta, a

quem considerou seu “pai social”. Todo este debate é fértil e, mais uma vez, toma ciência dos

“descaminhos do bolchevismo”, da oposição operária de Kollontai, de Rosa Luxemburgo,

Makno e de Kronstadt. Como diz em seu Memorial, leva ingenuamente suas dúvidas para o

PCB e a resposta que recebe é fantástica: é proibido de freqüentar as “conversinhas da Praça

do Patriarca”, “impedido de ler Marx e Lênin” e limitar-se a ler os órgãos oficiais: Hoje e

Imprensa Popular. (Cf. TRAGTENBERG, 2003)

MT também discordava da linha teórica do PCB de considerar a existência de restos

feudais no Brasil e de que “o desenvolvimento capitalista era um longo processo e as lutas de

classe abriam um período de desenvolvimento pacífico no mundo.” A orientação política do

partido neste momento era “imobilista” e de “união nacional”. Criara-se o conceito de “burguesia

progressista” e o resultado prático foi o apoio da agremiação a Adhemar de Barros para

governador do Estado de São Paulo. (TRAGTENBERG, 1999, p.82)

Como as dúvidas persistiam, o jovem de 17 anos é expulso pelo artigo 13 do estatuto do

PCB de 1945, onde reza: “É proibido ao militante do Partido qualquer contato direto ou indireto

com trotskistas ou outros inimigos da classe operária”. (Cf. TRAGTENBERG, 2003)

Após sua expulsão do PCB (1947/1948), freqüenta os cursos de fim de semana do PSB,

apesar de considerar o programa deste partido “eleitoralista”, onde “o voto era tudo”.

(TRAGTENBERG, 1999, p.31). Seguem-se as conferências do Centro de Cultura Social, ao

mesmo tempo em que lê os clássicos marxistas proibidos pelo PCB. Fica fascinado pela leitura

de Trotsky sobre a questão da burocracia, seu tema para toda a vida. No entanto, sua

aproximação com o trotskismo é mais curta do que com o PCB. Sobre esta corrente política

disse “é um estalinismo mais intelectualizado; quero dizer, uma espécie de dogmatismo mais

elaborado” (TRAGTENBERG, 1999, p.19).

O office-boy presta concurso para escriturário no Departamento de Águas e Energia

Elétrica de São Paulo e entra em contato com os ritos e a mitologia da burocracia pública. Esta

nova condição de trabalho de seis horas permite que freqüente a Biblioteca Municipal Mário de

Andrade, onde vive “o melhor período de sua vida”, o que faz com que leia e estude

desenfreadamente e inicie uma nova interlocução com o chamado “grupo da Biblioteca”. Assim,

Antonio Candido, Florestan Fernandes, Aziz Simão, entre outros, indicavam leituras para MT. O

próprio autor reconheceu a importância dessas indicações que impediram que seu

autodidatismo não caísse em “diletantismo” (TRAGTENBERG, 1999, p.56)

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Nestas andanças pela Praça Dom José Gaspar, reencontra Antonio Candido, que

conhecia do PSB e que já era assistente de Sociologia na Faculdade de Filosofia Ciências e

Letras da Universidade de São Paulo. Neste encontro, Candido fala a MT de uma lei que

permitia o acesso à faculdade a quem não tivesse o secundário completo. O candidato deveria

apresentar uma monografia e, se aprovada, poderia prestar o vestibular. Assim, estimulado por

Antonio Candido, redige a monografia, Apontamentos sobre algumas constantes histórico-

sociais tendentes à planificação, aprovada pelo Professor João da Cruz Costa, publicada

posteriormente como Planificação: desafio para o século XX, pela Editora Senzala, em 1967.

Presta vestibular e ingressa no Curso de Ciências Sociais – que logo abandona – e presta novo

vestibular para o Curso de História da Civilização, que conclui em 1959.

Com o diploma na mão, dá início à sua carreira de professor no Magistério oficial do

Estado, aprovado em concurso. Sua primeira estada é em Iguape-SP, onde sofre – por ser ateu

– novas perseguições, que o levam a transferir-se para Taubaté, Mogi das Cruzes e, finalmente,

retorna e se fixa na cidade de São Paulo.

Em 1963, a convite do Professor Wilson Cantoni, torna-se docente da Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Preto. Junto com Norman Porter e Michael

Löwy inicia uma experiência de autogestão pedagógica. MT conhecia Löwy desde 1956, onde

participaram juntos com Sacchetta, Luis Alberto Moniz Bandeira, Alberto Luis da Rocha Barros,

Paul Singer, Emir e Eder Sader – entre outros – da criação da Liga Socialista Independente

(LSI), de inspiração luxemburguista, revolucionária e anti-estalinista.

Chega 1964, o pior ano de sua vida, novos progrons e delações se anunciam. É

demitido do magistério estadual pelo parágrafo 1º do Ato Institucional nº 1, que determinava a

demissão de funcionários públicos envolvidos em atividades subversivas. Um ano antes,

mesmo afastado de suas funções, MT se envolve na greve do professorado estadual. Mais

tarde, tendo acesso ao processo, descobre que fora delatado por ex-aluno e ex-professor da

USP. Não tarda nova demissão com outros colegas, agora na FFCL de São José do Rio Preto,

onde são obrigados a prestar declarações sobre os cursos que ministravam. A este episódio,

MT se referia como curso de “Extensão Universitária”.

Mesmo com toda a ironia e sarcasmo, MT não agüentou a pressão e, em outubro de

1964, ele se interna com esgotamento nervoso no Instituto Aché, por 90 dias. Malgrado a

experiência, depara-se com o poder médico de um instituto psiquiátrico e com a burocracia

médica. Neste retiro forçado, sistematiza e intensifica suas leituras de Weber e sai com o

primeiro capítulo de sua futura tese de doutoramento, “quase pronto”.

9

A hora é de recomeçar a vida e para isso conta com a solidariedade dos amigos e

companheiros. Pelas mãos de Cláudio Abramo, trabalha na Folha de São Paulo (FSP), dirigindo

por cerca de três anos o setor internacional (1965/66). Presta vários concursos – em alguns,

mesmo aprovado, é barrado – e, finalmente, em 1966, o ateu comunista ingressa como docente

nas áreas de História e Ciências Sociais, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em

1968 ingressa na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo para ministrar Sociologia Aplicada à

Administração, onde lança mão de sua experiência da burocracia pública, da burocracia

hospitalar e da burocracia como poder político.

Quando as coisas pareciam engrenar, a promulgação do Ato Complementar 75 pela

Junta Militar de 1968, determinava que quem tivesse sido punido pelo Ato Institucional nº 1, não

poderia trabalhar em Fundação que recebesse verbas oficiais. Tanto a PUC-SP, quanto a FGV-

SP eram fundações que recebiam verbas públicas. A primeira mantém MT no emprego e a

segunda o afasta, para depois reintegrá-lo, quando ele obtém vitória jurídica, em primeira

instância.

Finalmente, conclui em 1973 sua tese de doutorado Burocracia e Ideologia,3 que

defende no Departamento de Ciências Sociais da USP, sob a orientação de Francisco Weffort,

o que não deixaria de ironizar, mais tarde, quanto este tornou-se ministro de Fernando Henrique

Cardoso.

O trabalho crítico e inovador de MT em relação à burocracia privada e sua administração

– de tomá-las como teorias das harmonias administrativas afirmativas das relações de trabalho

capitalistas – provocou uma inovação no ensino da administração durante os anos 1980,

quebrando os paradigmas até então utilizados na FGV-SP e na FEA-USP. Também aqui faz a

crítica ao socialismo burocrático, como reprodutor e criador de novas formas de dominação e

alienação do proletariado.

Adquirindo novo status profissional e respeitado como intelectual acadêmico, é aprovado

em três concursos na recém-criada UNESP, mas sob a lacônica alegação de que não havia

“interesse administrativo” em absorvê-lo, jamais foi autorizado a assumir seu cargo naquela

universidade. (TRAGTENBERG, 1999, p.75) Talvez a UNESP tenha se redimido do fato ao

publicar, após a sua morte, a Coleção Mauricio Tragtenberg.

De qualquer forma, além da PUC-SP e FGV-SP, passa a trabalhar na Faculdade de

Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Também trabalhou na Escola de

Sociologia e Política de São Paulo, fato freqüentemente ignorado.

10

IV

No final dos anos 1970, após a necessária adequação de sua vida pessoal, é que MT

inicia sua trilha mais fecunda de historiador e cronista do Brasil. Muito mais pela letra do

ensaísta e jornalista do que pelo exercício de professor universitário. O que não significa que

esta atividade extra-acadêmica e a de docente não estejam ligadas. Seu trabalho é de um

intelectual público e uno que tem consciência e respeito a quem se dirige, como também dos

fins que persegue e da forma adequada de comunicação. Esta produção se estende dos anos

finais de 1970, aos anos 1980 – onde ela é mais extensa – e aos 1990, onde reduz

consideravelmente esta atividade de jornalista e ensaísta para se dedicar à produção de livros

paradidáticos.

O período que envolve a face de historiador, compreende o fim do regime militar, da

“abertura política” e da Nova República. Neste novo processo de redemocratização do país –

controlada pela manu militari dos golpistas de 1964 – surgem diversos movimentos sociais:

movimento contra a carestia, movimento pela anistia etc. E, em especial, acontece o

ressurgimento do movimento operário-sindical.

Como jornalista, escreve em vários órgãos da imprensa alternativa nacional e na grande

imprensa paulista. Sua maior contribuição é na Folha de São Paulo (FSP) e no Notícias

Populares (NP) – jornal de grande circulação no meio operário – mas, colabora em menor

escala para o Jornal da Tarde, em seu Cadernos de Leitura. Como ensaísta escreve para várias

revistas – acadêmicas e não acadêmicas – tais como: Revista Estudos CEBRAP,4 Revista

Educação & Sociedade (de quem foi um dos fundadores), da Revista Nova Escrita Ensaio e

Revista Ensaio, onde compõe seu Conselho Consultivo. Na FSP seus artigos aparecem na

seção Tendências e debates e no caderno especial Folhetim. No NP manteve uma coluna

sindical, No Batente (1981-1987).

A coluna No Batente era a “menina dos olhos” de MT, que cultivava com grande

dedicação, escrevendo de forma simples e direta pelo menos duas vezes por semana.

Considerava esta atividade – como o contato direto com os trabalhadores – um momento

privilegiado para ele, um “militante sem partido”. (TRAGTENBERG, 1999, p.99) O objetivo da

coluna era “traduzir” o que se passava “no interior das empresas, na política sindical e na

política no geral”. (Cf. TRAGTENBERG, 2003) Era um “espaço de discussão para o

trabalhador”, onde sua voz e as denúncias de suas condições de vida e de trabalho pudessem

ser ouvidas, sem a mediação da imprensa oficial ou sindical.

3 Publicado em 1980. 4 Nesta revista MT escreve um único artigo “Max Weber e a Revolução Russa” (1976).

11

A coluna era aberta para todas as categorias de trabalhadores assalariados –

sindicalizados ou não, as minorias raciais, as donas de casa e os estudantes. No Batente,

definia seu campo: vedava a participação ao velho peleguismo e “ao de novo tipo, aqueles que

vivem do sindicato”. Ao mesmo tempo se comprometia a “não ser canal de transmissão de

palavras de ordem de partidos políticos, por melhores que se apresentem e pretendam

representar o trabalhador, procurando submeter o peão à política parlamentar”

(TRAGTENBERG, 1982 apud RESENDE, 2001, p.139)

As denúncias dos problemas de categorias de trabalhadores menores, menos

organizados ou submetidos a direções pelegas – que não encontram eco na grande imprensa –

estão presentes No Batente. Assim, a coluna cobra solidariedade objetiva do movimento

sindical nacional, como nos casos do Sindicato dos Motoristas de Ônibus do ABC – arruinado

por suas diretorias pelegas – e da greve dos trabalhadores da Coferraz de Santo André.

MT está atento às novas formas de controle do trabalho que são implantadas nas

empresas nos anos 1980 e, de maneira pioneira, executa sua crítica ferrenha. Estes

mecanismos apresentados como elementos de maior participação e integração do trabalhador –

como os Círculos de Controle de Qualidade (CCQ) – são desmistificados como instrumentos de

manipulação e exploração dos trabalhadores, tanto No Batente como em artigos na FSP.

MT aponta para o crescimento do setor de Recursos Humanos e Treinamento que, com

seu batalhão de sociólogos, psicólogos e pedagogos, torna-se o coração deste processo

manipulatório empresarial revestido de participacionismo. A verdade de toda operação é

simples, trata-se de “empulhar a mão de obra, criando o escravo contente e auto-assumido”.

Não há outro modo de entender os CCQs: ou pela ótica “do patrão ou do empregado”. Da ótica

patronal, “predomina a ideologia de harmonia social e colaboração de classes, não aceitando a

noção da existência e legitimidade de conflito social, isto é, de interesses diferenciados.” O

empresariado, por meio dos departamentos de recursos humanos, visa “impor um dos mais

arrojados tipos de escravidão”. O que está em pauta não é a exploração do “corpo produtivo” do

trabalhador, mas sim sua “mente produtiva”, utilizando-se da “teoria da motivação”. Os

trabalhadores são divididos e submetidos a um processo de infantilização, onde formam-se

trabalhadores especiais, cuja função é a de controlar seus pares e tudo se realiza a “baixíssimo

custo” (TRAGTENBERG apud RESENDE, 2001, p.143):

No Batente não deixa de tratar da mulher trabalhadora e dar atenção à trabalhadora

negra submetida a maior discriminação e exclusão profissional. Num artigo se lê: “Quando se

fala em boa aparência, leia-se negro não serve.” Noutro, em apoio à proposta de se transformar

o dia 13 de Maio no dia nacional da denúncia do racismo, se lê:

12

O movimento negro precisa de negros com consciência social e política e não de jabuticabas, negro que reproduz relações sociais de exploração e dominação, tem a alma branca ou vota no PDS. Negro jabuticaba é aquele negro por fora, branco por dentro, com caroço duro de engolir. (TRAGTENBERG apud RESENDE, p.143)

Uma coluna sindical desta natureza não poderia deixar de sofrer pressões e, por

interferências “de grupos de pressão empresariais e políticos, ela deixou de ser publicada”, em

1987. (Cf. TRAGTENBERG, 2003)

MT não olha para o movimento dos trabalhadores de forma ingênua. A história vivida e

refletida, pelo menos de 1930 a 1964, recomenda evitar precipitações, ter prudência e atenção.

Ele sabe das pressões que a organização dos trabalhadores está sujeita, tanto por parte dos

empresários quanto do aparato estatal e de seus descaminhos: a cooptação e burocratização.

Vê com desconfiança o crescimento dos aparelhos sindicais, mesmo dos sindicatos

“combativos”, em detrimento do descolamento da organização de base. Posição que jamais

significou dúvidas em prestar sua efetiva solidariedade quando estes sindicatos e suas

lideranças – na “abertura política” – foram cassados e a classe trabalhadora reprimida. Porém,

o que valoriza são as experiências de auto-organização do chão de fábrica e execra toda forma

de tutela que infantiliza e limita a ação independente e criativa dos trabalhadores, seja por parte

do capital, seja dos partidos políticos ou dos sindicatos. Coloca na mesa a relação entre os

movimentos sociais, sindicatos e os partidos políticos. A subordinação do movimento social dos

trabalhadores a sindicatos burocratizados e partidos políticos eleitoreiros limitaria sua iniciativa

política e a reduziria a meras “correias de transmissão”, aspectos vistos e vividos por MT no

passado.

Assim, sua atenção está focada nas experiências de auto-organização da classe

trabalhadora, tais como as comissões de fábrica que se apresentam em todo país na década de

1980. No Folhetim analisa dois casos distintos de experiências desta natureza em São Paulo.

A primeira é a da Comissão de Fábrica da FORD de São Bernardo do Campo (SP), da

base do sindicato “combativo” dos metalúrgicos da mesma cidade. MT nota que, ainda que sua

formação fosse resultado da auto-organização dos trabalhadores, pelos seus estatutos a

comissão estaria completamente atada e subordinada à estrutura sindical. O dirigente sindical

que trabalhasse na fábrica seria considerado seu membro nato e o sindicato teria o direito de

avocar a representação dos empregados, colocando-se acima da decisão dos trabalhadores.

MT considera como a “falha central dos Estatutos da Ford” o fato de não existir a figura

da assembléia dos trabalhadores. Além de vulnerável à repressão, ela perde sua autonomia,

pois sua fonte de referência não é a assembléia dos trabalhadores, mas a “diretoria sindical”.

(TRAGTENBERG, 2009, p.45)

13

O segundo caso, totalmente diverso, é o da Comissão de Fábrica da ASAMA,

pertencente à base do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Os trabalhadores – mais

precavidos com a direção sindical representante do velho peleguismo – nos estatutos da

comissão, definem o papel do sindicato como mero órgão consultivo, garantindo sua autonomia

e independência. E mais, nestes estatutos, o trabalhador possui poderes “para eleger e revogar

o mandato de seus membros em Assembléia-Geral, convocada para esse fim”

(TRAGTENBERG, 2009, p.46)

São experiências como esta – e outras – que MT valoriza como “formas embrionárias de

um novo modo de produção”. Ressalta a importância que “heréticos”, como Antonio Gramsci

(1981-1937), atribuía às comissões de fábricas em considerá-las “como fato permanente e não

apenas na luta pelo salário” e, por Anton Pannekoek (1873-1960), “como a fonte de democracia

operária, prática da autonomia e representação direta” (TRAGTENBERG, 2009, p.47).

Outras experiências extra-sindicais de organizações populares serão também

destacadas por MT, como das Prefeituras de Lages, em Santa Catarina, de Boa Esperança, no

Espírito Santo e de Piracicaba, em São Paulo. Destaca a positividade destas municipalidades

como forma de administração comunitária, de participação popular nos assuntos de interesse

geral, procedimento tão distante do voluntarismo pequeno-burguês de certas organizações

políticas. Porém, reconhece e sabe

que tais práticas não se constituem em alternativa global ao sistema, não realizam mudanças estruturais, porém, mostram a capacidade do povo em fazer criar; dentro das condições mais adversas possíveis organizações populares contra o eleitoralismo e burocratização sindical. (TRAGTENBERG, 2009, p.20, grifo meu)

Apenas indico, mas creio, que os artigos escritos na FSP e no NP – e em outros jornais

e publicações – credenciam MT como um historiador do movimento operário-sindical brasileiro,

especialmente da década de 1970 e 1980, o que é pouco considerado.

Mas o alcance deste material não fica por aí. Nestes artigos, e em outros do mesmo

período, MT acaba por construir uma linha interpretativa da história política e social do Brasil.

Em 1977, no andamento da “política de distensão lenta, gradual e segura” do general

Ernesto Geisel, MT escreve o artigo Burocracia, Estado e sociedade civil (FSP-28/10/1977),

onde traça seu entendimento da “objetivação do capitalismo brasileiro”. O caso brasileiro é

tratado como a realização tardia da revolução burguesa, que se opera via uma “revolução

passiva”, uma “revolução pelo alto”, que jamais teria sido precedida de “realizações da

cidadania e da comunidade democrática”. Este processo seria resultado da conciliação e união

de interesses da burguesia industrial com as antigas classes dominantes, o que explicaria “o

fato da Revolução Democrático-Burguesa no país ser uma flor exótica, e a via colonial de

14

desenvolvimento capitalista ter permeado nossa formação econômico-social”.

(TRAGTENBERG, 2009, p.185, grifos meus) As condições de realização deste

desenvolvimento capitalista, dependeriam da “alavanca do Estado intervencionista, de um

Estado social fundado no esquema keynesiano” que, no entanto, não era o que alguns à época

sugeriam, “um Estado socializante”, e “nem representa uma solução além do modo de produção

capitalista.” (TRAGTENBERG, 2009, p.185).

Neste “capitalismo super-retardatário”, de ausência de tradição democrática, a frágil

sociedade civil brasileira se torna “objeto da manipulação burocrático-estatal, na qual a

participação do cidadão em processos decisórios se transforma em figura de retórica”

(TRAGTENBERG, 2009, p.188).

Dois anos depois, portanto no início de 1979 – já na presidência do general João Batista

Figueiredo e sua “política de abertura”, com a revogação do Ato Institucional n.5, da anistia

política, do ressurgimento do movimento sindical brasileiro desde 1978 – MT escreve para a

Revista Educação & Sociedade o ensaio “Violência e trabalho através da imprensa sindical”

(1979). Aqui analisa as condições de vida e de organização do trabalho, que a classe

trabalhadora viveu e herda do “milagre brasileiro”.

Para MT, a base do “milagre brasileiro” foi a super-exploração do trabalho, o arrocho

salarial, que teve “como ponto de partida a desorganização da mão de obra através da

repressão a seus organismos representativos, intervenções em sindicatos, cassações políticas”.

Nesta situação, a classe trabalhadora se viu impedida de organizar-se diante da “investida do

capital mediada pelo Estado” e perdeu “muito dos seus direitos sociais adquiridos através das

lutas que remontam a 1930.” (TRAGTENBERG, 1979, p.87)

A revolução de 1930, prossegue MT – diferentemente da ditadura de 1964 – pelo menos

reconhecia a “legitimidade da oposição de interesse entre o capital e o trabalho”. Assim, o

“milagre brasileiro”, não foi além de um

processo de superacumulação de capital paralelo à inserção da economia brasileira na chamada economia internacional, e o enquadramento da classe operária através da coerção indireta pela derrogação da estabilidade, ou direta através da repressão, nas malhas do Estado. (TRAGTENBERG, 1979, p.88)

Depois de analisar exaustivamente as condições de vida e de trabalho do operariado

industrial de São Paulo e de questionar como ela é refletida pela imprensa sindical, conclui o

artigo:

Este é um retrato sem retoques das condições de trabalho em parte do sistema industrial paulista, colhido através da leitura dos jornais das várias categorias de trabalhadores; é o ponto conclusivo proveniente da desorganização da mão de obra, da repressão à sua auto-

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organização e da hegemonia do tipo social “pelego”, num falso defensor dos que não tem voz para serem ouvidos. (TRAGTENBERG, 1979, 96, grifo meu)

Anos mais tarde, a voz sem retoques dos trabalhadores será ecoada em sua coluna No

Batente.

A questão social é a preocupação central de MT no artigo Questão social: ainda um

caso de polícia? FSP 08/11/1979 (Cf. TRAGTENBERG, 2009, p.238). Escrito após a

intervenção governamental nos sindicatos dos metalúrgicos do ABC paulista (23/03/1979) e da

morte do operário Santo Dias (30/10/1979) nos piquetes do bairro de Santo Amaro, MT reflete

sobre a participação política e social dos trabalhadores no capitalismo desenvolvido e no

“capitalismo super retardatário”. No primeiro, a classe trabalhadora – por sua “perseverança” e

“unidade de luta” – conquistou não só o direito à cidadania, o “reconhecimento da legitimidade

de suas organizações (sindicatos, partidos e escolas)”, como também o direito à “greve obteve

reconhecimento universal por meio do Tratado de Versalhes”, momento da criação da

Organização Internacional do Trabalho (OIT). No capitalismo desenvolvido, segundo MT, o

Estado, que atua como uma espécie de “mão invisível, tende a reconhecer os conflitos de

interesses entre as classes” e admite a greve como instrumento legítimo de pressão.

Situação completamente diversa ocorre no Brasil do pós-1964 e do “milagre econômico”:

o trabalhador não tem cidadania e com “raras exceções, o sindicato não é a casa do

trabalhador, é a casa do pelego”. Prevalece aqui, a ausência da autonomia e liberdade sindical.

A classe operária tem sua vida política e sindical enquadrada e regulada burocraticamente pela

CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), e seus “órgãos representativos” são submetidos

segundo “o Artigo 528 da Constituição, à intervenção administrativa do Ministério do Trabalho,

que pode destituir a diretoria do sindicato por tempo indeterminado”. O Estado desempenha

uma política corporativa que assume a tutela dos conflitos sociais e as funções de “vigiar, punir

e matar em nome da lei”. (TRAGTENBERG, 2009, p.239)

Os trabalhadores brasileiros – “após o desencanto do milagre brasileiro” – retomam suas

mobilizações, voltam à cena política e social e encontram “a questão social” tratada “sob a ótica

estritamente policial”, como se observa na “recente repressão à oposição sindical” em São

Paulo (TRAGTENBERG, 2009, p.239).

Em 1981, o que está na pauta da política brasileira é a convocação de uma Constituinte.

Sobre o assunto, MT escreve Constituinte, para que? (FSP 10/3/1981) onde estabelece, em

termos gerais, seu significado e o momento de sua convocação. Ela ocorre “quando as classes

dominantes necessitam redefinir a legitimidade do poder exercido por seus representantes no

Parlamento” e da necessidade “de uma nova ordenação jurídica que cimente o pacto entre as

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várias facções que a compõem.” (TRAGTENBERG, 2009, p.241) Assim, desenvolve uma

retrospectiva histórica das Constituintes ocorridas no país demonstrando como as classes

dominantes se armam politicamente e como as classes dominadas são tratadas.

Na Constituinte de 1890, MT analisa que a burguesia brasileira proclama a forma

republicana liberal como a ”mais apta a manter sua dominação de classe, com a exclusão dos

subalternos, na época ex-escravos destinados ao subemprego urbano e colonos destinados à

escravidão no campo”. (TRAGTENBERG, 2009, p.241) A Constituição de 1891, como reação à

centralização dominante “da burocracia mandarinal do Segundo Império” estabelece um

“federalismo estadual”, reafirmando “a primazia política da região Centro-Sul em relação à

nação” e submete o “trabalhador imigrante da zona urbana a relações de trabalho definidas no

Código Civil, como simples prestador de serviços, sem quaisquer direitos sociais”.

(TRAGTENBERG, 2009, p.241) Esta descentralização federativa – numa época em não

existem partidos nacionais concretamente e sim de grupos de interesses locais – produziu uma

perversidade política: “entregou as populações rurais de mãos atadas ao domínio total do

coronelismo” e ao “clientelismo exercido pelos latifundiários ou pelo aparelho de Estado”.

(TRAGTENBERG, 2009, p.241)

Somente com a industrialização, urbanização e “a emergência dos setores médios” é

que a “questão da representação” política e do “regime de atas falsas e dos currais eleitorais”

serão questionados. Esta pressão exercida pelos setores médios, aliada aos “pronunciamentos

militares de 1922-24”, desembocam na Revolução de 1930 que reformulou a “estrutura de

dominação com a integração dos setores médios nos quadros do Estado, em ampliação de sua

burocracia, especialmente na economia” (TRAGTENBERG, 2009, p.242) A revolução de 1930,

longe de significar ruptura, representou “solução de compromisso entre os vários setores

dominantes”. Toda a intervenção econômica estatal não se dirigiu “contra a propriedade

privada”, muito pelo contrário, o Estado se transformou em “elemento de acumulação com o fim

de expandir sua área.” (TRAGTENBERG, 2009, p.242)

Todo este processo de modernização capitalista do país implicava também no “ingresso

da classe operária na história” e a emergência do sindicalismo autônomo e independente, que

teve seu ápice em 1918 com a greve geral de São Paulo. A resposta da Revolução de 1930 é a

criação do sindicalismo de estado em 1931, onde a “questão social” deixa de ser caso de

polícia, mas passa a ser assunto do Estado. A Constituinte de 1934, não teve outra função que

a de “recompor o novo pacto social de dominação” e estabelecer novas formas de controle da

classe trabalhadora com a criação do Ministério do Trabalho e o enquadramento e controle do

movimento sindical.

17

Os acontecimentos seguem-se: o Estado Novo, o fim da Segunda Grande Guerra, a

redemocratização e a Assembléia Constituinte de 1945. Mais uma vez a recomposição do pacto

de dominação, contando “inclusive com a participação dos deputados do PCB”.

(TRAGTENBERG, 2009, p.243) Para a classe trabalhadora, observa MT, nada mudou, pelo

contrário “toda a estrutura montada pela ditadura Vargas foi mantida após 1945”. A Constituinte

de 1946, no que tange à autonomia e liberdade sindical frente ao Estado, “ficou na mesma”.

(TRAGTENBERG, 2009, p.243) A eficiência repressiva do Ministério do Trabalho pode ser

atestada pelo fato de que a ditadura de 1964

não mexeu na estrutura sindical herdada, apenas aprimorou o ruim criando o pior, da mesma forma que substituiu a antiga Lei de Estabilidade pelo FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), e, com o AI-2, ampliou a competência da justiça militar, que há um século e meio era restrita a crimes militares. (TRAGTENBERG, 2009, p.243)

Quanto à proposta que se apresentava na década de 1980, MT se indaga:

Como é possível falar em Assembléia Constituinte popular e soberana quando líderes sindicais são enquadrados pela LSN (Lei de Segurança Nacional); quando ela age como uma espada sobre jornalistas que veiculam notícias que não interessam ao poder; em suma, quando na prática, a questão social continua ainda sendo o que era na década de 1920 – um caso de polícia. (TRAGTENBERG, 2009, p.243)

Encerra o artigo explicitando os pré-requisitos para a luta e a convocação de uma

Assembléia Nacional Constituinte: sem a desmontagem do aparelho repressivo do Estado, sem

condições da efetiva participação dos assalariados em todos os níveis decisórios, ela não será

nada mais “que um sonho de uma noite de verão, destinado a reciclar a ditadura” e “pela

ampliação dos cargos burocráticos, permitir a uma pequena burguesia, sôfrega de emprego e

poder, oprimir o povo na qualidade de seu representante”. (TRAGTENBERG, 2009, p.244)

Às vésperas das primeiras eleições – após a sanção do Congresso da reforma eleitoral

e partidária – MT, como no artigo anterior, inicia da mesma forma didática. Trata-se de

desmistificar a “grande ilusão popular” de que o “governo representativo eleito pelo sufrágio

‘universal’ – analfabetos que constituem 50% da população não votam – seja o governo do

povo ou o povo no governo”. Desenvolve uma retrospectiva histórica da evolução política da

burguesia até a consolidação na Revolução Francesa, da Assembléia Parlamentar e do

governo representativo, onde “o povo elege seus ‘defensores’”. Está aí, para MT, o início do

“maior dos preconceitos políticos”, que radica na “fé” do governo representativo, o “governo por

procuração”, onde o povo, no processo eleitoral, “abdica de sua própria iniciativa, colocando-a

nas mãos de uma assembléia de ‘eleitos’”. (TRAGTENBERG, 2009, p. 51)

O governo representativo surgido do desenvolvimento da burguesia, não é eterno, surgiu com

ela e “com ela desaparecerá”. O Parlamento nada mais é que um palco de “concessões,

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transações e conchavos” onde imperam “as considerações clientelísticas e partidárias” e onde

os eleitos pelo povo amplificam o seu poder “emancipando-se da dependência do povo” que a

“ele não mais volta”. (TRAGTENBERG, 2009, p.52)

A dúvida no processo eleitoral, que está diante dos olhos de MT, é apresentada de

forma singela: os candidatos que defendem no processo eleitoral ferrenhamente seus

programas, “Farão isso após eleitos?”. A resposta é direta: “neste processo político, a

propaganda dos princípios é substituída pela propaganda das pessoas. O único interesse dos

partidos é a vitória das candidaturas”. (TRAGTENBERG, 2009, p.52)

O que estava em jogo nas eleições de 1982, para MT, é quem seriam os

administradores da crise. Analisa os partidos e suas possibilidades, apontando seus limites

estruturais. Do PSD, partido situacionista – assim como dos que se colocam na oposição (PTB,

PMDB) – nada se pode esperar quanto a soluções estruturais que alterem as condições de vida

da maioria do povo brasileiro. Quanto ao PT, o diagnóstico é realista. O partido – no qual

inicialmente foram depositadas esperanças na “valorização da auto-organização” da classe

trabalhadora – ao optar pelo “caminho eleitoral”, tende a transformar cada ex-trabalhador, ex-

líder sindical, em candidato a vereador, deputado, senador, ou seja, num “ex-trabalhador”. Se o

PT não “se definir com clareza, seu objetivo em termos de mudança estrutural, poderá ser

cooptado pelo regime, transformando-se em ‘seu braço esquerdo’”. (TRAGTENBERG, 2009,

p.53). Demonstra como na Europa – na França de F. Mitterand e na Espanha de Felipe

Gonzalez – a solução do “capitalismo em crise” é a via “social democrática”, do “reformar para

não mudar”. Assim, “vença quem vencer as eleições, nada muda” nas “fábricas, nos campos e

nas oficinas”. Para MT, não “há vida por procuração”, muito menos “luta por procuração”. Só

“auto-organizados em seus lugares de trabalho, o trabalhador pode esperar ser ouvido e ter um

lugar ao sol”. (TRAGTENBERG, 2009, p.54)

Conclui o artigo, como crítico da política institucional: “a ilusão eleitoral faz parte da

‘ilusão do político’ na qual intelectuais e políticos tendem a crer como suas (independentes da

base econômica) as metas que se propõem a si e aos outros”. ((TRAGTENBERG, 2009, p.54)

No mesmo dia deste artigo, MT publica também No Batente, “Eleição: trabalhador não

trabalha no Parlamento”, e o alerta é dirigido para o perigo da cooptação dos candidatos

trabalhadores, via carreirismo político.

O novo processo de conciliação política e de novo Pacto Social brasileiro – a Nova

República – merece a atenção de MT. Resultado da frustração da maior manifestação de

massas da história brasileira, o movimento “diretas já” – onde milhões de pessoas tomaram as

ruas nas grandes cidades do país entre janeiro e abril de 1984 – termina com a coroação de

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Tancredo Neves na eleição indireta no Congresso Nacional. Estes eventos são tratados por MT

no artigo “Quem paga o pacto social?” (FSP 7/4/1985). A inspiração é o Pacto de Moncloa,

realizado na Espanha, após cinqüenta anos da ditadura do general Francisco Franco,

promovida pela social-democracia, comandada por Suarez, que iniciou a “era dos pactos

sociais”, em 1977. No caso brasileiro, assinala MT, “a Nova República nada inovou”. É

recorrente “que apareçam movimentos de conciliação no país após grandes mobilizações de

massas que, no limite são enquadradas no aparelho de estado”.

Neste momento o processo se repete: “após a grande mobilização pelas ‘diretas já’,

vimos a sua canalização rumo ao Colégio Eleitoral que, da noite para o dia, de órgão espúrio se

transformou na tábua de salvação nacional” (TRAGTENBERG, 2009, p.407). Sempre da

perspectiva dos trabalhadores, sua visão deste episódio, assim como do Congresso

Constituinte (1986), é marcado pelo ceticismo em razão dos acordos e conciliações

permanentes na política brasileira, ainda que não despreze a ampliação relativa de liberdades

democráticas para a auto-organização operária e popular.

O PT volta a ser examinado por MT nas eleições para as prefeituras das grandes

cidades do país, que se seguiram após a aprovação da Constituição de 1988. A vitória petista é

surpreendente em São Paulo, Porto Alegre, Vitória, e região do ABC Paulista. Diante deste fato,

MT trata a situação em artigo publicado no Jornal da Tarde: “O dilema da estrela: branca ou

vermelha” (19/12/1988). MT – que logo após a fundação do PT reconhecia e saudava a criação

da agremiação positivamente como “a primeira proposta política em nível nacional de um

partido constituído majoritariamente de trabalhadores, ultrapassando a fase dos grupúsculos

doutrinários” – agora, sete anos mais tarde, sua análise é mais realista e aponta tendências de

seu desenvolvimento que, hoje podemos dizer, confirmaram-se. (TRAGTENBERG, 2009,

p.406)

MT analisa os vários grupos políticos internos do PT e aponta para a tendência de

prevalência da linha da Articulação dos 113, grupo majoritário formado por sindicalistas

“oriundos do ABC (...) e intelectuais independentes, que detém o controle da máquina do

partido”. Analisando o manifesto de lançamento da tendência em 1983, MT destaca que, após a

“crítica do leninismo das tendências minoritárias do partido”, o documento faz uma defesa de

um “PT de massas, de luta e democracia e criticando o ‘vanguardismo’ partidário, os

‘iluminados’, realiza uma profissão de fé tipo Labour Party ou no nível dos partidos social-

democráticos” (TRAGTENBERG, 2009, p.58)

Quanto à base sindical da Articulação, o chamado sindicalismo combativo e a CUT

(Central Única dos Trabalhadores) – “alavancas do PT” – MT observa a sua tendência histórica

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“de ampliação e conseqüente burocratização” e ao “desdobrar suas funções” a tendência a

“perpetuar-se e a tornar-se seu próprio objetivo”. (TRAGTENBERG, 2009, p.60)

Além destes “perigos de burocratização”, a opção e a “ênfase na atuação eleitoral e

parlamentar” feita pela Articulação – alimentado pelas vitórias municipais e o lançamento de

Lula para a presidência da república – reforçam os “traços reformistas”, formando um quadro

nada auspicioso. Adverte MT: a “tática eleitoral e parlamentar acabou na Europa e nos Estados

Unidos com o espírito revolucionário das massas e conduziu à abdicação do socialismo”

(TRAGTENBERG, 2009, p.62) MT considera que não tem “cabimento a nenhum partido que se

diga representante dos trabalhadores opor-se às reformas sociais”, mas não se deve ficar de

“braços cruzados” esperando a vinda “de um São Sebastião socialista para salvar o povo

esquecido e humilhado” E esclarece o seu posicionamento: “Deve-se lutar por reformas, aqui e

agora, sim: a crítica que fazemos ao reformismo embutido em uma política que acentua o

parlamento e o eleitoralismo é que o reformismo torna impossíveis as reformas, inclusive”

(TRAGTENBERG, 2009, p.62).

Para concluir, MT chama atenção para a admissão de Lula – em palestra proferida

poucos dias antes da publicação deste artigo na EAESP (Escola de Administração de

Empresas da Fundação Getúlio Vargas) – de que no PT há espaço para que todas as classes

possam ser representadas. Desta forma, como outros partidos de massas europeus (PCF e

PCI) – que se tornaram interclassistas e acabam por configurar-se em partidos da “ordem” – o

PT, prevalecendo o predomínio da linha-parlamentar, não será outra coisa que um partido

“social-democrático adaptado ao Brasil”. (TRAGTENBERG, 2009, p.63)

Hoje, quando estamos no terceiro mandato presidencial do PT e observando os rumos

da CUT e da maioria do movimento sindical, MT merece a palma pelo seu diagnóstico deste

último processo de cooptação das massas trabalhadoras brasileiras, iniciado com Vargas.

Convém lembrar ainda, o que MT repetia com freqüência em relação ao processo de

burocratização dos sindicatos e partidos: “o meio fica e o fim é esquecido”.

As últimas considerações de MT sobre a realidade brasileira nos jornais não são artigos,

mas sim entrevistas concedidas no final dos anos 1980 e no início dos anos 1990. Como vimos,

neste momento, MT estava concentrando sua atividade em livros paradidáticos e em coleções

dos clássicos da política.

O destaque destas entrevistas é a que concede ao Diário do Grande ABC-SP, em

18/09/1994: “Sociólogo afirma que país não tem oposição”, realizada às vésperas das eleições

presidenciais, que terminaria com a primeira vitória de Fernando Henrique Cardoso. Aqui,

podemos ver de forma sintética sua linha interpretativa da história política e social do Brasil.

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Para MT, o que caracteriza a política brasileira é o pouco significado dos partidos

políticos para o eleitor, que prefere “votar em nomes – ‘sou Lula’, ‘sou Fernando Henrique’”. É

assim, “desde Tomé de Souza até hoje”, é “o domínio das pessoas. Trata-se de um fenômeno

de personalização do poder”. (TRAGTENBERG, 2009, p.397, grifo meu) Outro “problema sério”

de nossa realidade política é a falta de “oposição séria”, situação agravada com a “derrocada do

Leste Europeu”, que produziu “essa oposição que não se opõe”. Volta a insistir que no país

houve “poucos momentos de ruptura” e que até o presente “não realizamos uma revolução

democrática”, como os Estado Unidos e outros países europeus. (TRAGTENBERG, 2009,

p.397-398).

A debilidade histórica das oposições brasileiras caminha pari passu com os processos

de conciliação das classes dominantes e exclusão das massas populares da participação

política. MT ilustra a questão recorrendo a Justiniano José de Almeida (1812-1863), jornalista

ligado ao Partido Conservador que “referindo-se a velha Regência” caracteriza a política

brasileira em três movimentos: ação, reação e translação. Assim, “a primeira ação é popular, a

segunda é absorvida pela elite; e a terceira é a conciliação”. (TRAGTENBERG, 2009, p.398).

No Brasil, arremata MT, tudo “se resolve na conciliação”. Este é o “enigma decifrado brasileiro”

onde “tudo se reforma e nada muda”. (TRAGTENBERG, 2009, p.398)

Para finalizar Maurício Tragtenberg como escritor e cronista do Brasil, é preciso

lembrar de seu extraordinário trabalho acadêmico – sempre articulado com seu trabalho extra-

acadêmico – como orientador e estimulador de inúmeras teses e mestrados, que abriam

espaços para estudos às vezes considerados “estranhos à Universidade”. Apesar de todas as

agruras vividas – perseguições políticas e discriminações no meio acadêmico – difícil era ver

Tragtenberg sem o seu senso de humor cáustico e de fina ironia, modesto, sempre escutando

as pessoas, tolerante, sem jamais camuflar suas posições, e sempre disposto a prestar

solidariedade efetiva aos colegas e amigos que, assim como ele, sofriam discriminações

políticas e acadêmicas. Persona rara que faz muita falta no meio político e acadêmico brasileiro.

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