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ISBN- 978-972-772-797-1 itinerários romanos do alentejo itinerários romanos do alentejo André Carneiro As Grandes Vias da Lusitânia – O Itinerário de Antonino Pio, cujo primeiro volume foi publicado em 1956, constitui uma das obras mais controversas da bibliografia portuguesa de temática arqueológica. Ao longo de seis volumes o seu autor, Mário Saa, apresenta os itinerários romanos da Lusitânia, misturados com interpretações fantasiosas, contradições, opiniões polémicas ou constantes re- -escritas dos trajectos apresentados que em muito confundem o leitor e obrigam a reformular os seus conhecimentos. A sua obra é paradoxal, um objecto raro em tempo de formalismos cinzen- tos. Mas por esse motivo o seu contributo nunca foi devidamente avaliado. Cin- quenta anos depois, é tempo de procurar, no terreno, o que viu Saa, olhando para os testemunhos e procurando enquadrá-los no quadro de conhecimento sobre os itinerários romanos no território alentejano. E é tempo também de perceber tudo aquilo que já não se vê porque foi destruído pelo passado recente, aquele que já nos distancia tanto de Saa que já não nos permite reconhecer o que o autor viu. E assim compreendemos a dimensão da perda, o modo como a paisagem drama- ticamente se alterou neste curto espaço de tempo, e o modo como o que havia ficado do passado já não se consegue encontrar. Ou já é tão diferente. É este o valor, hoje, de As Grandes Vias: o testemunho de um mundo milenar em acentuada perda, narrada com o estilo inconfundível e a erudição acumulada de Mário Saa. André Carneiro nasceu em 1973 em Lisboa. Licenciado em História, variante Arqueologia pela Faculdade de Letras de Lisboa, docente do Departamento de História da Universidade de Évora desde 2006, desenvolveu projectos de inves- tigação sobre o povoamento antigo, quer no âmbito autárquico (Carta Arqueoló- gica do Concelho de Fronteira), quer na análise da ocupação do território em época romana (Povoamento romano no actual concelho de Fronteira). Respon- sável presentemente por três projectos de investigação, escolheu o Alto Alentejo e as vias romanas como pontos centrais de análise, sempre com componentes territoriais e de trabalho de campo com vista à identificação das materialidades muitas vezes esquecidas no terreno. Patrocínios Capa Itinerários Romanos_AM Final.p65 30-10-2008, 13:26 1

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As Grandes Vias da Lusitânia – O Itinerário de Antonino Pio, cujo primeirovolume foi publicado em 1956, constitui uma das obras mais controversas dabibliografia portuguesa de temática arqueológica. Ao longo de seis volumes o seuautor, Mário Saa, apresenta os itinerários romanos da Lusitânia, misturados cominterpretações fantasiosas, contradições, opiniões polémicas ou constantes re--escritas dos trajectos apresentados que em muito confundem o leitor e obrigam areformular os seus conhecimentos.

A sua obra é paradoxal, um objecto raro em tempo de formalismos cinzen-tos. Mas por esse motivo o seu contributo nunca foi devidamente avaliado. Cin-quenta anos depois, é tempo de procurar, no terreno, o que viu Saa, olhando paraos testemunhos e procurando enquadrá-los no quadro de conhecimento sobre ositinerários romanos no território alentejano. E é tempo também de perceber tudoaquilo que já não se vê porque foi destruído pelo passado recente, aquele que jános distancia tanto de Saa que já não nos permite reconhecer o que o autor viu.E assim compreendemos a dimensão da perda, o modo como a paisagem drama-ticamente se alterou neste curto espaço de tempo, e o modo como o que haviaficado do passado já não se consegue encontrar. Ou já é tão diferente.

É este o valor, hoje, de As Grandes Vias: o testemunho de um mundo milenarem acentuada perda, narrada com o estilo inconfundível e a erudição acumuladade Mário Saa.

André Carneiro nasceu em 1973 em Lisboa. Licenciado em História, varianteArqueologia pela Faculdade de Letras de Lisboa, docente do Departamento deHistória da Universidade de Évora desde 2006, desenvolveu projectos de inves-tigação sobre o povoamento antigo, quer no âmbito autárquico (Carta Arqueoló-gica do Concelho de Fronteira), quer na análise da ocupação do território emépoca romana (Povoamento romano no actual concelho de Fronteira). Respon-sável presentemente por três projectos de investigação, escolheu o Alto Alentejoe as vias romanas como pontos centrais de análise, sempre com componentesterritoriais e de trabalho de campo com vista à identificação das materialidadesmuitas vezes esquecidas no terreno.

Patrocínios

Capa Itinerários Romanos_AM Final.p65 30-10-2008, 13:261