monsaraz alentejo

33
Monsaraz no Alentejo

Upload: biaesteves

Post on 10-Jul-2015

223 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Monsaraz Alentejo

Monsarazno Alentejo

Page 2: Monsaraz Alentejo
Page 3: Monsaraz Alentejo

AldeiaAldeia

Nove casas Nove casas

duas ruasduas ruas

um largo um largo

ao meio do largo ao meio do largo

um po o de çum po o de ç áágua fria.gua fria.

Tudo isto to parado ãTudo isto to parado ãe o c u to baixo é ãe o c u to baixo é ãque quando algu m grita para longe éque quando algu m grita para longe éum nome familiarum nome familiar

se assustam pombros bravos se assustam pombros bravos

e acordam ecos no descampadoe acordam ecos no descampado

Manuel da FonsecaManuel da Fonseca

Page 4: Monsaraz Alentejo
Page 5: Monsaraz Alentejo
Page 6: Monsaraz Alentejo

tenho duas casas paralelas tenho duas casas paralelas

a circular em planos paralelosa circular em planos paralelos

nunca se tocam?nunca se tocam?

por cima das nuvens por baixo da terrapor cima das nuvens por baixo da terra

as duas casas deslocam-seas duas casas deslocam-se

em cartilagens invisem cartilagens invisííveis aproximam-seveis aproximam-se

da honra paralelas aproximam-seda honra paralelas aproximam-se

do aroma paralelas aproximam-sedo aroma paralelas aproximam-se

do encontro marcado do infinitodo encontro marcado do infinito

fixo dois sfixo dois sóóis abro os dois braosçis abro os dois braosçe com uma casa em cada brao çe com uma casa em cada brao çaponto as duas casas aos dois horizontesaponto as duas casas aos dois horizontes

e tento junte tento juntáá-las-las

com o movimento magn ticoécom o movimento magn ticoéda linha escrita nas palmasda linha escrita nas palmas

Paulo CondessaPaulo Condessa

o c u dentro da bocaéo c u dentro da bocaé

Page 7: Monsaraz Alentejo
Page 8: Monsaraz Alentejo

ALENTEJOALENTEJO

A luz que te ilumina,A luz que te ilumina,

Terra da cor dos olhos de quem olha!Terra da cor dos olhos de quem olha!

A paz que se adivinhaA paz que se adivinha

Na tua solid oãNa tua solid oãQue nenhuma mesquinhaQue nenhuma mesquinha

Condi oçãCondi oçãPode compreender e povoar!Pode compreender e povoar!

O mistrio da tua imensid oé ãO mistrio da tua imensid oé ãOnde o tempo caminhaOnde o tempo caminha

Sem chegar!...Sem chegar!...

Miguel TorgaMiguel Torga

D iD iáário XIIrio XII, 20 de Outubro de 1974, 20 de Outubro de 1974

Page 9: Monsaraz Alentejo
Page 10: Monsaraz Alentejo
Page 11: Monsaraz Alentejo

Casas no sol

A casa branca, branca de cal (que de todos os brancos o é é único que branco), debruada éde azul, por ser beira-mar a cor da alegria. Branca e fechada – n o và ã á o sol que arde nos telhados penetrar insidiosamente por alguma fresta e incendiar o sil ncio melindroso da alcova. A obscuridade êquase n o consente a contempla o do rosto infantil que ali dorme at ao sol ter amansado. Sã çã é ó ento ãdesperta e se refugia nos braos que jç á o esperam.

Por este rapazito serias capaz de correr o mundo a p -coxinho, se ele to pedisse, ou de éentrar pelo buraco da fechadura só para o veres dormir.

Eug nio de Andradeé

Vertentes do O lhar

Page 12: Monsaraz Alentejo
Page 13: Monsaraz Alentejo
Page 14: Monsaraz Alentejo

Toda a aldeia era feita de um tempo muito antigo. Nas casas, nas ruas, nos usos Toda a aldeia era feita de um tempo muito antigo. Nas casas, nas ruas, nos usos

e nos costumes. Mesmo os corpos dos alde es, no jeito especial de os õe nos costumes. Mesmo os corpos dos alde es, no jeito especial de os õutilizarem, tinham tamb m um toque rude e primitivo. O modo de andar, por éutilizarem, tinham tamb m um toque rude e primitivo. O modo de andar, por éexemplo, era desengon ado e lang o, como se levassem s costas a sua carga ç ã àexemplo, era desengon ado e lang o, como se levassem s costas a sua carga ç ã àde s culos. Mas era sobretudo nas casas que o peso do tempo mais se sentia. A éde s culos. Mas era sobretudo nas casas que o peso do tempo mais se sentia. A égente olhava-as e via logo que tinham sido casas construidas no eterno.gente olhava-as e via logo que tinham sido casas construidas no eterno.

VergVergíílio Ferreiralio Ferreira

Uma Esplanada sobre o MarUma Esplanada sobre o Mar

Page 15: Monsaraz Alentejo
Page 16: Monsaraz Alentejo
Page 17: Monsaraz Alentejo

O sol s casas, como a montes,àO sol s casas, como a montes,àVagamente doura.Vagamente doura.

Na cidade sem horizontesNa cidade sem horizontes

Uma tristeza loura.Uma tristeza loura.

Como a sombra da tarde desceComo a sombra da tarde desce

E um pouco dE um pouco dóóiiPorque quando tardeéPorque quando tardeéTudo quanto foi.Tudo quanto foi.

Nesta hora mais que em outra choroNesta hora mais que em outra choro

O que perdi.O que perdi.

Em cinza e ouro o rememoroEm cinza e ouro o rememoro

E nunca o vi.E nunca o vi.

Felicidade por nascer,Felicidade por nascer,

MMáágoa a acabar,goa a acabar,

nsia de sÂnsia de s óó aquilo ser aquilo ser

Que hQue háá de ficar – de ficar –

Sussurro sem que se ou a, palmaçSussurro sem que se ou a, palmaçDa isen o.çãDa isen o.çãÓÓ tarde, fica noite, e alma tarde, fica noite, e alma

Tenha perd o.ãTenha perd o.ãFernando Pessoa

Cancioneiro

Page 18: Monsaraz Alentejo
Page 19: Monsaraz Alentejo
Page 20: Monsaraz Alentejo

Inverno, manh cedo. A luz que banhaãInverno, manh cedo. A luz que banhaãA paisagem g lida e cinzenta;é éA paisagem g lida e cinzenta;é éA vaga pompa do cen ria ostenta,áA vaga pompa do cen ria ostenta,áAo largo, as serras h midas de Espanha.úAo largo, as serras h midas de Espanha.ú

Hortas, vinhedos e a carcaa estranhaçHortas, vinhedos e a carcaa estranhaçDe Monsaraz, numa ascens o violenta;ãDe Monsaraz, numa ascens o violenta;ãA erva tenrinha os gados apascenta,A erva tenrinha os gados apascenta,

Que em tons de bronze a terra desentranha.Que em tons de bronze a terra desentranha.

E eu olho essa paisagem dolorida,E eu olho essa paisagem dolorida,

Testemunha que foi da minha vida,Testemunha que foi da minha vida,

Povoada agora de vis es errantes....õPovoada agora de vis es errantes....õ

Eu olho-a e dentro da minha alma afago-a,Eu olho-a e dentro da minha alma afago-a,

Que os seus olhos longnquos, rasos de gua,í áQue os seus olhos longnquos, rasos de gua,í áS o hoje os mesmos que me olhavam dantes.ãS o hoje os mesmos que me olhavam dantes.ã

Antonio de Macedo Papan açAntonio de Macedo Papan aç (Conde de Monsaraz(Conde de Monsaraz))

Page 21: Monsaraz Alentejo
Page 22: Monsaraz Alentejo
Page 23: Monsaraz Alentejo
Page 24: Monsaraz Alentejo

N o basta abrir a janelaãN o basta abrir a janelaãPara ver os campos e o rio.Para ver os campos e o rio.

N o bastante n o ser cegoã é ãN o bastante n o ser cegoã é ãPara ver as Para ver as áárvores e as flores.rvores e as flores.

ÉÉ preciso tamb m n o ter filosofia nenhuma.é ã preciso tamb m n o ter filosofia nenhuma.é ãCom filosofia n o hãCom filosofia n o hã áá áárvores: hrvores: háá ideias apenas. ideias apenas.

HHáá s sóó cada um de n cada um de nóós, como uma cave.s, como uma cave.

HHáá s sóó uma janela fechada, e todo o mundo l uma janela fechada, e todo o mundo láá fora; fora;

E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,

Que nunca o que se v quando se abre a janela.é êQue nunca o que se v quando se abre a janela.é ê

Alberto CaeiroAlberto Caeiro

Page 25: Monsaraz Alentejo
Page 26: Monsaraz Alentejo
Page 27: Monsaraz Alentejo
Page 28: Monsaraz Alentejo

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver o Universo É

Por isso a minha aldeia t o grande como outra terra qualqueréãPorque eu sou do tamanho do que vejo

E n o do tamanho da minha altura Éã Alberto Caeiro

Page 29: Monsaraz Alentejo
Page 30: Monsaraz Alentejo
Page 31: Monsaraz Alentejo

MIRADOIROMIRADOIRO

N o sei se vs, como eu vejo,ã êN o sei se vs, como eu vejo,ã êPacificado,Pacificado,

Cair a tardeCair a tarde

SerenaSerena

Sobre o vale,Sobre o vale,

Sobre o rio,Sobre o rio,

Sobre os montesSobre os montes

E sobre a quieta oçãE sobre a quieta oçãEspraiada da cidade.Espraiada da cidade.

Nos teus olhos n o hãNos teus olhos n o hã áá serenidade serenidade

Que o deixe entender.Que o deixe entender.

Vibram na lassid o da claridade.ãVibram na lassid o da claridade.ãE o lE o líírico poema que me acontecerrico poema que me acontecer

VirViráá toldado de melancolia, toldado de melancolia,

Porque daqui a pouco toda a poesiaPorque daqui a pouco toda a poesia

Vai anoitecer.Vai anoitecer.

Miguel TorgaMiguel Torga

D iario XIVD iario XIV , 5 de setembro de 1986, 5 de setembro de 1986

Page 32: Monsaraz Alentejo
Page 33: Monsaraz Alentejo

Fotografias : Agnès Levécot21 de Abril de 2009