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Revista de Estudos Tributários ANO XX – Nº 119 – JAN-FEV 2018 REPOSITÓRIO AUTORIZADO DE JURISPRUDÊNCIA Supremo Tribunal Federal – Nº 29/2000 Superior Tribunal de Justiça – Nº 42/1999 Tribunal Regional Federal da 1ª Região – Nº 21/2001 Tribunal Regional Federal da 2ª Região – Nº 1999.02.01.057040-0 Tribunal Regional Federal da 3ª Região – Nº 22/2010 Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Nº 07/0042596-9 Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Nº 10/2007 EDITORIAL SÍNTESE DIRETOR EXECUTIVO: Elton José Donato GERENTE EDITORIAL: Milena Sanches Tayano dos Santos COORDENADOR EDITORIAL: Cristiano Basaglia EDITOR: Cristiano Basaglia EDITORIAL IET – INSTITUTO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS DIRETORES Milton Terra Machado Hebe Bonazzola Ribeiro Geraldo Bemfica Teixeira CONSELHO EDITORIAL Heleno Taveira Tôrres, Hugo de Brito Machado, Humberto Bergmann Ávila, Ives Gandra da Silva Martins, José Mörschbächer, Kiyoshi Harada, Leandro Paulsen, Misabel Derzi, Paulo de Barros Carvalho, Paulo de Melo Aleixo, Renato Lopes Becho, Roberto Ferraz, Roque Carrazza, Walmir Luiz Becker COMITÊ TÉCNICO Adler Baum, Adolpho Bergamini, Carlos Mário da Silva Velloso, Carlos Roberto Lofego Caníbal, Fernando Dantas Casillo Gonçalves, Henrique Tróccoli Júnior, Marcel Gulin Melhem, Paulo de Mello Aleixo, Paulo de Vasconcellos Chaves, Vilson Darós COLABORADORES DESTA EDIÇÃO Antonio Baptista Gonçalves, Isabel Delfino Silva Massaia, Kiyoshi Harada, Marcelo Pires Hartwig, Octávio Giacobbo da Rosa, Osvaldo Rodrigues da Cruz da Cruz ISSN 1519-1850

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Revista de Estudos TributáriosAno XX – nº 119 – JAn-Fev 2018

RepositóRio AutoRizAdo de JuRispRudênciA

Supremo Tribunal Federal – Nº 29/2000Superior Tribunal de Justiça – Nº 42/1999

Tribunal Regional Federal da 1ª Região – Nº 21/2001Tribunal Regional Federal da 2ª Região – Nº 1999.02.01.057040-0

Tribunal Regional Federal da 3ª Região – Nº 22/2010Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Nº 07/0042596-9

Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Nº 10/2007

editoRiAl sÍntese

diRetoR eXecutivo: Elton José Donato

GeRente editoRiAl: Milena Sanches Tayano dos Santos

cooRdenAdoR editoRiAl: Cristiano Basaglia

editoR: Cristiano Basaglia

editoRiAl iet – instituto de estudos tRibutáRios

diRetoRes

Milton Terra MachadoHebe Bonazzola Ribeiro

Geraldo Bemfica Teixeira

conselho editoRiAlHeleno Taveira Tôrres, Hugo de Brito Machado, Humberto Bergmann Ávila, Ives Gandra da Silva Martins,

José Mörschbächer, Kiyoshi Harada, Leandro Paulsen, Misabel Derzi, Paulo de Barros Carvalho, Paulo de Melo Aleixo, Renato Lopes Becho, Roberto Ferraz, Roque Carrazza, Walmir Luiz Becker

comitê técnico

Adler Baum, Adolpho Bergamini, Carlos Mário da Silva Velloso, Carlos Roberto Lofego Caníbal, Fernando Dantas Casillo Gonçalves, Henrique Tróccoli Júnior,

Marcel Gulin Melhem, Paulo de Mello Aleixo, Paulo de Vasconcellos Chaves, Vilson Darós

colAboRAdoRes destA edição

Antonio Baptista Gonçalves, Isabel Delfino Silva Massaia, Kiyoshi Harada, Marcelo Pires Hartwig, Octávio Giacobbo da Rosa, Osvaldo Rodrigues da Cruz da Cruz

ISSN 1519-1850

1998 © SÍNTESE

Uma publicação da SÍNTESE, uma linha de produtos jurídicos do Grupo SAGE e do IET – Instituto de Estudos Tributários.

Publicação bimestral de doutrina, jurisprudência e outros assuntos tributários.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução parcial ou total, sem consentimento expresso dos editores.

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de total responsabilidade de seus autores.

Os acórdãos selecionados para esta Revista correspondem, na íntegra, às cópias obtidas nas secretarias dos respec-tivos tribunais.

A solicitação de cópias de acórdãos na íntegra, cujas ementas estejam aqui transcritas, e de textos legais pode ser feita pelo e-mail: [email protected] (serviço gratuito até o limite de 50 páginas mensais).

Distribuída em todo o território nacional.

Tiragem: 5.000 exemplares

Revisão e Diagramação: Dois Pontos Editoração

Capa: Tusset Monteiro Comunicação

Artigos para possível publicação poderão ser enviados para o endereço [email protected]

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

REVISTA DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS – Porto Alegre: v. 1, n. 1, maio/jun. 1998

Publicação periódica Bimestral

v. 20, n. 119, jan./fev. 2018

ISSN 1519-1850

1. Direito tributário – Brasil 2. Jurisprudência – periódico

CDU: 349.9(05) CDD: 340

(Bibliotecária responsável: Helena Maria Maciel CRB 10/851)

IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda.R. Antonio Nagib Ibrahim, 350 – Água Branca 05036‑060 – São Paulo – SPwww.sage.com

Telefones para ContatosCobrança: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900

SAC e Suporte Técnico: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900E-mail: [email protected]

Renovação: Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7283888

Carta do Editor

Caro leitor,

Para esta Edição de nº 119 trazemos no Assunto Especial um tema al-tamente debatido nos últimos meses do ano que se passou, qual seja: “Refis ou Pert – Questões Atuais“, de muito interesse para todos os profissionais do Direito que atuam nesta área. Para tanto, trazemos dois artigos tratando com bastante habilidade do tema escolhido. O primeiro, intitulado “A Quem Interessa o Refis?”, de autoria do Ilustre Dr. Antonio Baptista Gonçalves; e, o segundo, de autoria do Dr. Osvaldo Rodrigues da Cruz da Cruz, intitulado “Pert – O Novo Refis: da MP para Lei – Mudanças (Pert – Programa Especial de Regularização Tributária – Lei nº 13.496/2017)”.

No que tange à Parte Geral da Revista de Estudos Tributários, selecio-namos para você Acórdãos na Íntegra dos principais Tribunais pátrios, além de três artigos de interessantes temas atrelados à área tributária.

Chamamos a sua atenção para a Seção Especial “Direito Tributário em Discussão”, que traz, em primeira mão, as “Conclusões do 42º Simpósio Nacional de Direito Tributário do Centro de Extensão Universitária – CEU e IICS – Instituto Internacional de Ciências Sociais”, com a participação de nomes como os dos Drs. Ives Gandra da Silva Martins, Humberto Ávila, Everardo Maciel, Hugo de Brito Machado, José Eduardo Soares de Melo, Kiyoshi Harada, entre outros.

Ainda, na Seção Especial “Estudos Jurídicos”, trazemos um artigo muito importante produzido pela Dra. Isabel Delfino Silva Massaia, deno-minado “Dinâmica da Tributação e a Urgência da Implementação de Novos Padrões de Política Fiscal ao Atual Cenário Brasileiro”.

A IOB, juntamente com o IET, deseja a todos uma ótima leitura!

Elton José Donato Pedro AdamyDiretor Editorial da IOB Presidente do IET

ErrataNo sumário da edição de nº 118 Nov-Dez/2017, o item “Normas Editoriais para Envio de Artigos” foi publicado com a indicação do número de página incorreto.

Onde se lê:

Normas Editoriais para Envio de Artigos ....................................... 11

Leia-se:

Normas Editoriais para Envio de Artigos ......................................... 7

Sumário

Normas Editoriais para Envio de Artigos ....................................................................7

Assunto Especial

Refis ou PeRt – Questões AtuAis

DoutRinAs

1. A Quem Interessa o Refis?Antonio Baptista Gonçalves .......................................................................9

2. Pert – O Novo Refis: da MP para Lei – Mudanças (Pert – Programa Especial de Regularização Tributária – Lei nº 13.496/2017)Osvaldo Rodrigues da Cruz da Cruz ........................................................22

Parte Geral

DoutRinAs

1. Dedução da CSLL da Base de Cálculo do Imposto de RendaKiyoshi Harada .........................................................................................29

2. Pagamento pela Distribuição de Softwares na Nuvem Não É Fato Gerador de CideOctávio Giacobbo da Rosa ......................................................................33

3. Responsabilidade Civil, Tributária e Penal do Profissional da ContabilidadeMarcelo Pires Hartwig ..............................................................................41

JuRisPRuDênciA

Acórdãos nA ÍntegrA

1. Supremo Tribunal Federal ........................................................................612. Superior Tribunal de Justiça......................................................................663. Superior Tribunal de Justiça......................................................................754. Superior Tribunal de Justiça......................................................................855. Tribunal Regional Federal da 1ª Região ....................................................956. Tribunal Regional Federal da 2ª Região ..................................................1027. Tribunal Regional Federal da 3ª Região ..................................................1098. Tribunal Regional Federal da 4ª Região ..................................................1189. Tribunal Regional Federal da 5ª Região ..................................................132

ementário de JurisprudênciA

1. Ementário de Jurisprudência ...................................................................136

2. Ementário de Jurisprudência Administrativa ...........................................178

Seção EspecialDiReito tRibutáRio em Discussão

1. Conclusões do 42º Simpósio Nacional de Direito Tributário do Centro de Extensão Universitária – CEU e IICS – Instituto Internacional de Ciências Sociais ...........................................................183

estuDos JuRíDicos

1. Dinâmica da Tributação e a Urgência da Implementação de Novos Padrões de Política Fiscal ao Atual Cenário BrasileiroIsabel Delfino Silva Massaia ...................................................................192

Clipping Jurídico ..............................................................................................199

Resenha Legislativa ..........................................................................................212

Índice Alfabético e Remissivo .............................................................................213

Normas Editoriais para Envio de Artigos1. Os artigos para publicação nas Revistas SÍNTESE deverão ser técnico-científicos e fo-

cados em sua área temática.2. Será dada preferência para artigos inéditos, os quais serão submetidos à apreciação do

Conselho Editorial responsável pela Revista, que recomendará ou não as suas publica-ções.

3. A priorização da publicação dos artigos enviados decorrerá de juízo de oportunidade da Revista, sendo reservado a ela o direito de aceitar ou vetar qualquer trabalho recebido e, também, o de propor eventuais alterações, desde que aprovadas pelo autor.

4. O autor, ao submeter o seu artigo, concorda, desde já, com a sua publicação na Re-vista para a qual foi enviado ou em outros produtos editoriais da SÍNTESE, desde que com o devido crédito de autoria, fazendo jus o autor a um exemplar da edição da Revista em que o artigo foi publicado, a título de direitos autorais patrimoniais, sem outra remuneração ou contraprestação em dinheiro ou produtos.

5. As opiniões emitidas pelo autor em seu artigo são de sua exclusiva responsabilidade.6. À Editora reserva-se o direito de publicar os artigos enviados em outros produtos jurí-

dicos da Síntese.7. À Editora reserva-se o direito de proceder às revisões gramaticais e à adequação dos

artigos às normas disciplinadas pela ABNT, caso seja necessário.8. O artigo deverá conter além de TÍTULO, NOME DO AUTOR e TITULAÇÃO DO AU-

TOR, um “RESUMO” informativo de até 250 palavras, que apresente concisamente os pontos relevantes do texto, as finalidades, os aspectos abordados e as conclusões.

9. Após o “RESUMO”, deverá constar uma relação de “PALAVRAS-CHAVE” (palavras ou expressões que retratem as idéias centrais do texto), que facilitem a posterior pesquisa ao conteúdo. As palavras-chave são separadas entre si por ponto e vírgula, e finaliza-das por ponto.

10. Terão preferência de publicação os artigos acrescidos de “ABSTRACT” e “KEYWORDS”.11. Todos os artigos deverão ser enviados com “SUMÁRIO” numerado no formato “arábi-

co”. A Editora reserva-se ao direito de inserir SUMÁRIO nos artigos enviados sem este item.

12. Os artigos encaminhados à Revista deverão ser produzidos na versão do aplicativo Word, utilizando-se a fonte Arial, corpo 12, com títulos e subtítulos em caixa alta e alinhados à esquerda, em negrito. Os artigos deverão ter entre 7 e 20 laudas. A pri-meira lauda deve conter o título do artigo, o nome completo do autor e os respectivos créditos.

13. As citações bibliográficas deverão ser indicadas com a numeração ao final de cada citação, em ordem de notas de rodapé. Essas citações bibliográficas deverão seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

14. As referências bibliográficas deverão ser apresentadas no final do texto, organizadas em ordem alfabética e alinhadas à esquerda, obedecendo às normas da ABNT.

15. Observadas as regras anteriores, havendo interesse no envio de textos com comentá-rios à jurisprudência, o número de páginas será no máximo de 8 (oito).

16. Os trabalhos devem ser encaminhados preferencialmente para os endereços eletrôni-cos [email protected]. Juntamente com o artigo, o autor deverá preen-cher os formulários constantes dos seguintes endereços: www.sintese.com/cadastro-deautores e www.sintese.com/cadastrodeautores/autorizacao.

17. Quaisquer dúvidas a respeito das normas para publicação deverão ser dirimidas pelos e-mails [email protected] e [email protected].

Assunto Especial – Doutrina

Refis ou Pert – Questões Atuais

A Quem Interessa o Refis?

ANTONIO BAPTISTA GONÇALVESAdvogado, Membro da Associação Brasileira dos Constitucionalistas, Pós-Doutor em Ciência da Religião pela PUC/SP, Pós-Doutor em Ciências Jurídicas pela Universidade de La Matanza, Doutor e Mestre em Filosofia do Direito pela PUCSP, Especialista em Direitos Fundamentais pela Universidade de Coimbra, Especialista em International Criminal Law: Terrorism’s New Wars and ICL’s Responses pelo Istituto Superiore Internazionale di Scienze Criminali, Especia-lista em Direito Penal Econômico Europeu pela Universidade de Coimbra, Pós-Graduado em Direito Penal – Teoria dos Delitos pela Universidade de Salamanca, Pós-Graduado em Direito Penal Econômico pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, Bacharel em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e em Filosofia pela PUCSP.

RESUMO: O contribuinte devedor sempre nutre a esperança de que sua situação fiscal poderá se norma-lizar, pois, a qualquer momento, o Governo Federal irá promover um novo Refis (programa de recuperação fiscal) e, por conseguinte, as dívidas, a multa e os juros poderão ser reduzidos, e o montante devido não apenas irá diminuir como ainda haverá planos especiais de parcelamento. Assim, para os contribuintes que pagam seus impostos e evitam fazer dívidas tributárias para com o governo, fica a sensação cada dia mais frequente de que é mais “vantajoso” ser devedor, pois se poderá trabalhar por mais tempo com o dinheiro e não gastá-lo com as dívidas normais do dia a dia. Então analisaremos o que é o Refis e, se, de fato, ser um devedor é vantajoso, ou se a propaganda propalada pelo governo nem sempre condiz com a realidade que as vantagens, em verdade, não são realmente “boas”.

PALAVRAS-CHAVE: Refis; dívida tributária; direitos fundamentais do contribuinte.

ABSTRACT: The debtor taxpayer always hopes that his tax situation can normalize, because at any moment the Federal Government will promote a new Refis (fiscal recovery program) and, therefore, debts, fines and interest may be forgiven and the amount due will not only decrease as there will still be special installment plans. Thus, for taxpayers who pay their taxes and avoid making tax debts to the government, the feeling is more and more frequent that it is more “advantageous” to be a debtor because they can work for longer with the money and not spend it with the normal day to day debts. Then we will analyze what is Refis and, if, in fact, being a debtor is advantageous, or if the propaganda proclaimed by the government does not always match the reality that the advantages, in fact are not really “good”.

KEYWORDS: Refis; tax debt; fundamental rights of the taxpayer.

SUMÁRIO: Introdução; 1 O Refis no direito tributário; 2 O Refis da crise; Conclusão; Referências.

INTRODUÇÃO

O Refis – Programa de Recuperação Fiscal foi instituído pela Lei nº 9.964, de 10 de abril de 2000. E como estabelece seu art. 1º:

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É destinado a promover a regularização de créditos da União, decor-rentes de débitos de pessoas jurídicas, relativos a tributos e contribuições, administrados pela Secretaria da Receita Federal e pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.

Então, de início, uma coisa é clara: o programa de recuperação fiscal foi desenvolvido e pensado para aqueles que devem ao Fisco ou à União. Sendo assim, não há um incentivo ou um “prêmio” concedido pelo Gover-no Federal, mas sim uma forma alternativa de receber os tributos devidos que, em condições normais, não seriam recebidos.

O legislador não colocaria em sua justificativa o óbvio; contudo, o objetivo principal desse programa foi tentar arrecadar as dívidas que sabi-damente não seriam pagas pelos contribuintes. Assim, criou-se um pacote de incentivos a fim de garantir o recebimento ainda que em monta menor do que a devida originalmente.

Uma saída criada pelo legislador para incentivar o pagamento e a regularização das dívidas. E, entre as exceções admitidas pela lei, temos também o que o Refis não abrangeria, a saber, os seguintes débitos:

1) de órgãos da Administração Pública direta, das fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público e das Autarquias;

2) relativos ao Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR;

3) relativos às pessoas jurídicas cindidas a partir de 01.10.1999, exceto quan-do atenderem as condições expressas na Lei nº 10.189/2001, art. 4º;

4) relativo a impostos de competência estadual ou municipal incluídos, me-diante convênio, no Simples;

5) de pessoas jurídicas referidas nos incisos II e VI do art. 14 da Lei nº 9.718/1998, a saber:

“II – cujas atividades sejam de bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, fi-nanciamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras de títulos, valores mobiliários e câmbio, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de créditos, empresas de seguros privados e de capitalização e entidades de previdência privada aberta; e

VI – que explorem as atividades de prestação cumulativa e contínua de ser-viços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de contas a pagar e a receber, compras de direitos cre-ditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços (factoring).”

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E, após a adoção e instituição desse primeiro Refis, o Governo Federal implementou outros ao longo da década que se seguiu e no transcurso da seguinte. Os números impressionam; afinal, se levarmos em conta que nos últimos dezessete anos foram criados nada menos do que mais de trinta programas especiais de pagamento de débitos, não é nada absurdo deduzir que o contribuinte não apenas se acostumou a prolatar as dívidas como o mesmo processo já se tornou uma prática corriqueira, dados os benefícios e incentivos para a regularização comumente trazidos e ofertados pelo Go-verno Federal.

Todavia, engana-se aquele que acha que o Refis é a solução de todos os problemas, visto que as multas pelo não recolhimento dos tributos são elevadas. Se houver o que se chama de denunciação espontânea, isto é, o próprio contribuinte informa que deseja regularizar o débito, então será aplicada a multa no importe de 20%.

No entanto, se for apurada a dívida ou o não pagamento por meio de uma fiscalização, a multa devida já passa para o importe de 75%. E, em casos de sonegação, ela pode dobrar para 150%. Portanto, dever para o Go-verno não pode ser encarado como um bom negócio, mas sim como uma necessidade quando efetivamente não há o dinheiro para pagar o devido.

Na prática, os dados nos mostram que a frequência cada vez maior do Refis, ainda que incerta, fez com que o contribuinte devedor pudesse planejar melhor o escalonamento da própria dívida – claro que o paga-mento dela é condicionada à existência de recursos para tal, mas, com as benesses do Governo sendo frequentes, o número de aderentes variou cada vez mais para menos.

Afinal, quando do primeiro Refis as exclusões atingiram quase que 90% daqueles que aderiram ao programa, um número bem diverso dos atuais 33% do último Refis, o que mostra que o contribuinte acostumou-se a prolatar suas dívidas e não cumpre mais suas obrigações fiscais no mesmo tempo e presteza em que elas são exigidas, pela certeza de se beneficiar de um incentivo futuro.

Uma das explicações plausíveis para a queda de aderência parece--nos relativa à própria frequência dos programas, isto é, o Refis, que deveria ser uma medida excepcional e esporádica, tornou-se algo banal e cotidiano, quase que incorporado à realidade do contribuinte. Portanto, não há um real incentivo para sua adesão, pois logo surgirá o próximo e tudo poderá ser equacionado. E assim se postergam os pagamentos, e a arrecadação do Governo Federal diminui na mesma proporção.

Todavia, com a adoção do mais novo Refis por parte do Governo, popularmente recebeu a alcunha na doutrina de “Refis da crise”, visto que

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privilegia muito mais o devedor do que o Governo Federal. E, deste, falamos do mais recente do final de 2017, pois ele já foi lançado e implementado em algumas partes.

O projeto em vigor teve finalizada a sua aderência em final de no-vembro de 2017 e gerou reclamações por parte do Governo, em especial do Ministro da Fazenda, por entender ser um benefício ao devedores e um incentivo para não pagar.

Aprovado na forma do substitutivo do Deputado Otavio Leite (PSDB-RJ), o texto garante o parcelamento de débitos com o regime especial de tributação vencidos até a competência de novembro de 2017, aplicando--se, inclusive, para aqueles parcelados inicialmente pela Lei Complementar nº 123/2006 e pela Lei Complementar nº 155/2016, que reformulou regras do regime e permitiu parcelamento em 120 meses.

Por meio do Programa Especial de Regularização Tributária das Mi-croempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pert-SN), as empresas devedoras terão de pagar 5% do valor da dívida consolidada, sem reduções, em até cinco parcelas mensais e sucessivas. O restante poderá ser parcelado com descontos de 100% dos encargos legais e honorários advocatícios da se-guinte forma: integralmente, com redução de 90% dos juros de mora e de 70% das multas; parcelado em 145 meses, com redução de 80% dos juros de mora e de 50% das multas; ou parcelado em 175 meses, com redução de 50% dos juros de mora e de 25% das multas1.

Note que, mesmo com as reduções, ainda existem multas, juros e demais encargos a serem pagos, portanto não se pode falar em vantagem ao inadimplente, mas sim em uma minoração do prejuízo, isto é, o impacto do Erário a ser despendido será menor; contudo, seguramente ainda é maior do que se os pagamentos fossem feitos nas datas de vencimento.

De tal sorte que com o Refis pode-se ter a falsa sensação de que ser um inadimplente pode ser vantajoso, mas não é. As multas ainda são one-rosas, os juros existem e a dívida somente se avoluma, portanto, não paga quem não tem condições para tanto. E o raciocínio do Governo é simples: é melhor criar incentivos para que os que devem paguem, ainda que em valor total menor do que o devido, do que simplesmente não receber.

A prática do Refis não é exclusiva do Brasil e é comumente aplicada por diversos países como forma de incremento da arrecadação, visto que uma das vantagens do programa é o aumento da arrecadação pelo volume a

1 Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2017-dez-07/camara-permite-micro-pequenas-empresas-parce-lem-dividas>. Acesso em: 11 dez. 2017.

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ser recolhido, o que pode incrementar o orçamento do Governo Federal – e esse é o principal objetivo do Governo ao instituí-lo.

E, para melhor compreender o que vem a ser a figura do Refis, de início traremos o seu conceito dentro do direito tributário e se há alguma justificativa para sua banalização, para, por fim, analisarmos o Refis da cri-se, a última implementação feita pelo atual governo.

1 O REFIS NO DIREITO TRIBUTÁRIO

O Programa de Refinanciamento Fiscal está previsto no Código Tribu-tário Nacional por meio do art. 151:

Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:

I – moratória;

II – o depósito do seu montante integral;

III – as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do proces-so tributário administrativo;

IV – a concessão de medida liminar em mandado de segurança;

V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espé-cies de ação judicial;

VI – o parcelamento.

Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o cumprimento das obrigações assessórios dependentes da obrigação principal cujo crédito seja suspenso, ou dela consequentes.

Assim, claro está, pelo inciso VI, a possibilidade de suspensão da exigibilidade tributária por meio da concessão de parcelamento, o denomi-nado Refis. Sobre o tema Kiyoshi Harada:

Trata-se da última espécie de causa de suspensão da exigibilidade do cré-dito tributário elencada no art. 151 do CTN, também, acrescentada pela LC 104/2001. Caminha no mesmo sentido da moratória por se tratar de uma espécie (parcelamento) do gênero (moratória). O parcelamento de créditos tributários é uma espécie de moratória consistente na consolidação da dívida tributária, abarcando o principal, juros, multas e outros acréscimos, seguida de divisão do montante encontrado em várias parcelas a serem pagas de maneira periódica, em geral mensalmente.2

2 HARADA, Kiyoshi; HARADA, Marcelo Kiyoshi. Código Tributário Nacional comentado. São Paulo: Rideel, 2012. p. 323.

14 ������������������������������������������������������������������������������������������������������� RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

Importante destacar que a questão do parcelamento em si foi saneada pelos arts. 10 e seguintes da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002:

Art. 10. Os débitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional po-derão ser parcelados em até sessenta parcelas mensais, a exclusivo critério da autoridade fazendária, na forma e condições previstas nesta lei.

De tal sorte que desde 2002, mais especificamente pela Lei nº 10.637, que conferiu a redação vigente do art. 10 da Lei nº 10.522, o parcelamento de débitos é autorizado a qualquer tempo, desde que respeitado o limite de sessenta meses. E sua concessão depende de o tributo devido não estar previsto nas excepcionalidades do art. 14 da mesma lei:

Art. 14. É vedada a concessão de parcelamento de débitos relativos a:

I – tributos passíveis de retenção na fonte, de desconto de terceiros ou de sub-rogação;

I – Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro e sobre Operações relativas a Títulos e Valores Mobiliários – IOF, retido e não recolhido ao Te-souro Nacional;

III – valores recebidos pelos agentes arrecadadores não recolhidos aos cofres públicos;

IV – tributos devidos no registro da Declaração de Importação;

V – incentivos fiscais devidos ao Fundo de Investimento do Nordeste – Finor, Fundo de Investimento da Amazônia – Finam e Fundo de Recuperação do Estado do Espírito Santo – Funres;

VI – pagamento mensal por estimativa do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, na forma do art. 2º da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996;

VII – recolhimento mensal obrigatório da pessoa física relativo a rendimentos de que trata o art. 8º da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988;

VIII – tributo ou outra exação qualquer, enquanto não integralmente pago parcelamento anterior relativo ao mesmo tributo ou exação, salvo nas hipó-teses previstas no art. 14-A desta lei;

IX – tributos devidos por pessoa jurídica com falência decretada ou por pes-soa física com insolvência civil decretada; e

X – créditos tributários devidos na forma do art. 4º da Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, pela incorporadora optante do Regime Especial Tributário do Patrimônio de Afetação.

Essa modalidade de parcelamento é o que a doutrina reconhece como convencional. E não deve ser confundida com o Refis, visto que este é uma modalidade especial de parcelamento com diferentes tipos de incentivos.

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������15

A principal característica do Refis é que sua destinação é específica às pessoas jurídicas – sendo que o valor da parcela a ser paga é calculada pela aplicação de um percentual da receita bruta mensal que varia entre 0,3% a 1,5, com prazo ilimitado para pagamento e, ainda, com possibilida-de de amortização de juros e até multas com prejuízos fiscais, expliquemos melhor.

O pagamento é feito a partir do mês da opção (inclusive), em parcelas mensais e sucessivas, vencíveis no último dia útil de cada mês, mediante DARF com o código de receita 9100 e valor não inferior a:

– 0,3% no caso de pessoa jurídica optante pelo Simples e de enti-dade imune ou isenta pela finalidade ou objeto;

– 0,6% no caso de pessoa jurídica submetida ao regime de tribu-tação com base no lucro presumido;

– 1,2% no caso de pessoa jurídica submetida ao regime de tributa-ção com base no lucro real, relativamente às receitas decorren-tes das atividades comerciais, industriais, médico-hospitalares, de transporte, de ensino e de construção civil;

– 1,5% nos demais casos.

O principal objetivo do Refis – Programa de Recuperação Fiscal – foi promover a regularização de créditos da União, decorrentes de débitos de pessoas jurídicas, relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil e pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, constituídos ou não, inscritos ou não em dívida ativa, ajuiza-dos ou não, com exigibilidade suspensa ou não, inclusive os retidos e não recolhidos, com vencimento até 29 de fevereiro de 2000.

O ingresso no Refis consolida-se por opção da pessoa jurídica, que fará jus a regime especial de consolidação e parcelamento dos débitos fiscais.

O débito consolidado será pago em parcelas mensais e sucessivas, que tem por vencimento o último dia útil de cada mês, sendo o valor de cada parcela determinado em função de percentual da receita bruta do mês imediatamente anterior, apurada na forma do art. 31 e parágrafo único da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995.

E, como dissemos, há a possibilidade, alternativamente ao ingresso no Refis, de a pessoa jurídica optar pelo parcelamento convencional, em até sessenta parcelas mensais, iguais e sucessivas, dos débitos referidos no art. 1º, observadas todas as demais regras aplicáveis àquele Programa.

Por fim, se por qualquer motivo a pessoa jurídica não cumprir os regramentos previstos no Refis ou deixar de pagá-lo, perderá as benesses

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trazidas por aquela excepcionalidade e terá de aguardar alguma nova pos-sibilidade a ser concedida pelo Governo Federal.

Assim, importante destacar que, mesmo tendo ocorrido mais de trin-ta Refis desde a sua primeira implementação em 2000, a medida ainda é excepcional e não é prevista no ordenamento jurídico, portanto, depende da previsão do Governo Federal com regras específicas que podem variar de um para outro, cujos objetivos dependem sempre do que estabelece o Governo.

E a hipótese de inadimplemento não pode ser considerada apenas e tão somente por ausência de recursos, porque ainda existe a possibilida-de da busca no Judiciário pelo esclarecimento de cobranças indevidas, de mudanças de alíquotas de forma duvidosa por parte do legislador, o que remonta ao ingresso de recursos administrativos no Carf – Conselho Ad-ministrativo de Recursos Fiscais (foi criado pela Medida Provisória nº 449, de 2008, convertida na Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009, e instalado pelo Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado da Fazenda em 15.02.2009, mediante Portaria MF nº 41, de 2009. A Portaria MF nº 256, de 22 de junho de 2009, aprovou o Regimento Interno do CARF).

Os números que envolvem o Carf impressionam: o Conselho Admi-nistrativo de Recursos Fiscais, do Ministério da Fazenda, proferiu mais de 10 mil acórdãos em 2016 em processos que envolveram R$ 244 bilhões. Segundo a pasta, do total de decisões, 6,9 mil entendimentos foram firma-dos nas câmaras ordinárias e outros 3,1 mil partiram da Câmara Superior do órgão3.

E o contribuinte tem conseguido obter êxito perante o órgão, visto que 52% dos 7,8 mil recursos julgados em 2016 foram vitoriosos pelos de-mandantes e teve o Fisco ou o Governo como seu perdedor, o que tam-bém mostra o elevado número de problemas, mandos e desmandos a serem combatidos4.

O Carf divulgou estudo relativamente recente em que revela ter, com dados até 2016, 744 processos com valores entre R$ 100 milhões e R$ 1 bilhão e 90 processos com valores que superam R$ 1 bilhão5.

3 Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2017-fev-04/processos-fiscais-movimentaram-244-bilhoes- -carf-2016>. Acesso em: 12 dez. 2017.

4 Disponível em: <https://www.jota.info/tributario/no-carf-empresas-perderam-na-camara-superior-em-2016- -12072017>. Acesso em: 11 dez. 2017.

5 Disponível em: <http://idg.carf.fazenda.gov.br/dados-abertos/relatorios-gerenciais/comportamento-e-estoque--carf-201608.pdf>. Acesso em: 9 dez. 2017.

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Assim, se o Governo Federal tem qualquer expectativa de entrar em qualquer tipo de acordo com os contribuintes devedores, pode proceder com dois caminhos: o Programa de Recuperação Fiscal, o Refis, ou com uma anistia, na qual perdoa parte da dívida para obter o recebimento do restante. Como vimos, o primeiro é frequente e mais comum. Já a anistia é medida pouco usual. Em São Paulo, recentemente, foi instituído o PRD (Programa de Regularização de Débitos), por meio da Lei nº 16.240, de 22 de julho de 2015, relacionado ao ISS, cuja anistia alcançou as empresas que deviam até o importe de um milhão de reais.

2 O REFIS DA CRISE

Em 27 de maio de 2009, o Governo Federal editou a lei que criou o que se popularizou como o Refis da crise6. E este teve variações e a mais re-cente por meio da Lei nº 13.496, de 24 de outubro de 2017, teve a inserção do Refis para aderência até novembro de 2017.

Entre as vantagens, destacamos o art. 2º:

Art. 2º No âmbito da Secretaria da Receita Federal do Brasil, o sujeito passivo que aderir ao Pert poderá liquidar os débitos de que trata o art. 1º desta lei mediante a opção por uma das seguintes modalidades:

I – pagamento em espécie de, no mínimo, 20% (vinte por cento) do valor da dívida consolidada, sem reduções, em até cinco parcelas mensais e sucessi-vas, vencíveis de agosto a dezembro de 2017, e a liquidação do restante com a utilização de créditos de prejuízo fiscal e de base de cálculo negativa da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) ou de outros créditos pró-prios relativos aos tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, com a possibilidade de pagamento em espécie de eventual saldo remanescente em até sessenta prestações adicionais, vencíveis a partir do mês seguinte ao do pagamento à vista;

II – pagamento da dívida consolidada em até cento e vinte prestações men-sais e sucessivas, calculadas de modo a observar os seguintes percentuais mínimos, aplicados sobre o valor da dívida consolidada:

a) da primeira à décima segunda prestação – 0,4% (quatro décimos por cento);

b) da décima terceira à vigésima quarta prestação – 0,5% (cinco décimos por cento);

6 Estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) mostra que a adesão ao novo parcelamento de débitos federais – previsto na Lei nº 11.941, de 2009 – é vantajosa em 80% dos casos, podendo resultar em uma redução de até 75% no total da dívida. O chamado “Refis da Crise” oferece desconto de 100% nas multas de mora e de ofício e prazo de pagamento de até 180 meses (15 anos), com correção pela Selic. Disponível em: <https://direito-publico.jusbrasil.com.br/noticias/1999052/adesao-ao-refis-da-crise-e- -vantajosa-em-80-dos-casos>. Acesso em: 11 dez. 2017.

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c) da vigésima quinta à trigésima sexta prestação – 0,6% (seis décimos por cento); e

d) da trigésima sétima prestação em diante – percentual correspondente ao saldo remanescente, em até oitenta e quatro prestações mensais e sucessivas;

III – pagamento em espécie de, no mínimo, 20% (vinte por cento) do valor da dívida consolidada, sem reduções, em até cinco parcelas mensais e sucessi-vas, vencíveis de agosto a dezembro de 2017, e o restante:

a) liquidado integralmente em janeiro de 2018, em parcela única, com redu-ção de 90% (noventa por cento) dos juros de mora e 70% (setenta por cento) das multas de mora, de ofício ou isoladas;

b) parcelado em até cento e quarenta e cinco parcelas mensais e sucessivas, vencíveis a partir de janeiro de 2018, com redução de 80% (oitenta por cen-to) dos juros de mora e 50% (cinquenta por cento) das multas de mora, de ofício ou isoladas; ou

c) parcelado em até cento e setenta e cinco parcelas mensais e sucessivas, vencíveis a partir de janeiro de 2018, com redução de 50% (cinquenta por cento) dos juros de mora e 25% (vinte e cinco por cento) das multas de mora, de ofício ou isoladas, e cada parcela será calculada com base no va-lor correspondente a 1% (um por cento) da receita bruta da pessoa jurídica, referente ao mês imediatamente anterior ao do pagamento, e não poderá ser inferior a um cento e setenta e cinco avos do total da dívida consolidada; ou

IV – pagamento em espécie de, no mínimo, 24% (vinte e quatro por cento) da dívida consolidada em vinte e quatro prestações mensais e sucessivas e liquidação do restante com a utilização de créditos de prejuízo fiscal e de base de cálculo negativa da CSLL ou de outros créditos próprios relativos aos tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil.

§ 1º Na hipótese de adesão a uma das modalidades previstas no inciso III do caput deste artigo, ficam assegurados aos devedores com dívida total, sem reduções, igual ou inferior a R$ 15.000.000,00 (quinze milhões de reais):

I – a redução do pagamento à vista e em espécie para, no mínimo, 5% (cin-co por cento) do valor da dívida consolidada, sem reduções, em até cinco parcelas mensais e sucessivas, vencíveis de agosto a dezembro de 2017; e

II – após a aplicação das reduções de multas e juros, a possibilidade de uti-lização de créditos de prejuízo fiscal e de base de cálculo negativa da CSLL e de outros créditos próprios relativos aos tributos administrados pela Secre-taria da Receita Federal do Brasil, com a liquidação do saldo remanescente, em espécie, pelo número de parcelas previstas para a modalidade. (grifos nossos)

O atual programa gerou críticas severas, inclusive do Ministro da Fa-zenda Henrique Meirelles, que afirmou “ser vantajoso” deixar de pagar: “É importante que o projeto não seja tão generoso que incentive empresas a

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não pagar imposto. Porque passa a ser mais negócio não pagar, premiando, portanto, o mau pagador. Esse projeto como está pode não atender às ne-cessidades do País”7.

A reclamação por conta do Ministro não se refere a um incentivo ao mau pagador, mas claro está que a sua perda de arrecadação, pois a lei prevê a redução sensível dos juros a serem pagos pelo contribuinte, o que impacta no valor final a ser devido, notadamente menor do que o original.

A afirmação do ministro merece uma ponderação, afinal, claro está que o Refis não é a solução dos problemas fiscais para nenhum dos lados, seja para o contribuinte que ainda pagará suas dívidas, mesmo que em valor mais reduzido do que o originário, contudo ainda bem acima dos valores devidos se houvera pago no prazo. E, de outro lado, temos o Governo, que lança esses programas com fins apenas e tão somente objetivando incre-mentar sua arrecadação e, por conseguinte, ter mais dinheiro disponível.

O ministro, com esse tipo de declaração, claramente demonstra que a realidade é uma arrecadação menor do que a inicialmente prevista, sem, contudo, deixar de mencionar que ainda entrará aos cofres públicos um erá-rio em monta muito superior ao que normalmente entraria com a ausência do Refis.

De tal sorte que, no Brasil, não é vantagem dever para o Governo, pois as multas são elevadas, os juros corroem a dívida e, em muitos casos, o montante supera o valor do principal, praticamente inviabilizando o paga-mento dela; assim, não é vantajoso deixar de pagar, pois os custos são altos.

O contribuinte que deixa de fazê-lo não o faz em busca de uma anis-tia ou de melhores condições, mas sim o faz em busca de reequilibrar suas finanças e buscar recursos alternativos para colocar a vida fiscal da empresa em ordem novamente.

CONCLUSÃO

De início, devemos responder à pergunta deste artigo: a quem inte-ressa o Refis? A resposta, a essa altura, parece evidente: a ninguém. Afinal, o contribuinte continuará a ter de pagar suas dívidas em valor maior do que se o fizera nos prazos de vencimentos. E ao Governo Federal tampouco interessa porque irá arrecadar um valor menor do que o que seria devido se recebesse do contribuinte.

7 Disponível em: <https://dcomercio.com.br/categoria/leis-e-tributos/meirelles-critica-novo-refis-passa-a-ser- -mais-negocio-nao-pagar>. Acesso em: 12 dez. 2017.

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Todavia, ao mesmo tempo, o Refis também interessa a ambos; de acordo com as circunstâncias, é melhor um acordo ruim do que nenhum. Ao contribuinte melhor aderir ao programa e conseguir reduzir os encargos a serem pagos, as multas e os juros que, por muitas vezes, inviabilizam o pagamento das dívidas. Já para o Governo, representa a oportunidade de arrecadar um volume de dinheiro que não seria recebido normalmente, o que impacta no aumento de sua arrecadação, ainda que com perdas, já que há o perdão de parte da multa e dos juros.

Em suma, ambos ganham e ambos perdem. A conclusão que fica é que não é vantagem dever para o Fisco ou para a União, porém, se tal fato ocorrer, o próprio governo incentiva a pagar a dívida em melhores condi-ções do que as originárias, pois o parcelamento do Refis, ainda que, origi-nalmente, seja uma medida especial, tem se tornado um ato corriqueiro e constante na realidade tributária nacional.

REFERÊNCIASBRASIL. Lei nº 9.964, de 10 de abril de 2000. Institui o Programa de Recuperação Fis-cal – Refis e dá outras providências, e altera as Leis nºs 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8,844, de 20 de janeiro de 1994.

______. Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002. Dispõe sobre o Cadastro Informativo dos créditos não quitados de órgãos e entidades federais e dá outras providências.

______. Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002. Dispõe sobre a não cumulativi-dade na cobrança da contribuição para os Programas de Integração Social (PIS) e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep), nos casos que especifica; sobre o pagamento e o parcelamento de débitos tributários federais, a compensação de créditos fiscais, a declaração de inaptidão de inscrição de pessoas jurídicas, a legislação adua-neira, e dá outras providências.

______. Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009. Altera a legislação tributária federal re-lativa ao parcelamento ordinário de débitos tributários; concede remissão nos casos em que especifica; institui regime tributário de transição, alterando o Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972, as Leis nºs 8.212, de 24 de julho de 1991, 8.213, de 24 de julho de 1991, 8.218, de 29 de agosto de 1991, 9.249, de 26 de dezembro de 1995, 9.430, de 27 de dezembro de 1996, 9.469, de 10 de julho de 1997, 9.532, de 10 de dezembro de 1997, 10.426, de 24 de abril de 2002, 10.480, de 2 de julho de 2002, 10.522, de 19 de julho de 2002, 10.887, de 18 de junho de 2004, e 6.404, de 15 de dezembro de 1976, o Decreto-Lei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977, e as Leis nºs 8.981, de 20 de janeiro de 1995, 10.925, de 23 de julho de 2004, 10.637, de 30 de dezembro de 2002, 10.833, de 29 de dezembro de 2003, 11.116, de 18 de maio de 2005, 11.732, de 30 de junho de 2008, 10.260, de 12 de julho de 2001, 9.873, de 23 de novembro de 1999, 11.171, de 2 de setembro de 2005, 11.345, de 14 de setem-bro de 2006; prorroga a vigência da Lei nº 8.989, de 24 de fevereiro de 1995; revoga dispositivos das Leis nºs 8.383, de 30 de dezembro de 1991, e 8.620, de 5 de janeiro de 1993, do Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, das Leis nºs 10.190, de

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14 de fevereiro de 2001, 9.718, de 27 de novembro de 1998, e 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.964, de 10 de abril de 2000, e, a partir da instalação do Conselho Adminis-trativo de Recursos Fiscais, os Decretos nºs 83.304, de 28 de março de 1979, e 89.892, de 2 de julho de 1984, e o art. 112 da Lei nº 11.196, de 21 de novembro de 2005; e dá outras providências.

______. Lei nº 13.496, de 24 de outubro de 2017. Institui o Programa Especial de Regu-larização Tributária (Pert) na Secretaria da Receita Federal do Brasil e na Procuradoria--Geral da Fazenda Nacional; e altera a Lei nº 12.249, de 11 de junho de 2010, e o Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972.

Assunto Especial – Doutrina

Refis ou Pert – Questões Atuais

Pert – O Novo Refis: da MP para Lei – Mudanças (Pert – Programa Especial de Regularização Tributária – Lei nº 13�496/2017)

OSVALDO RODRIGuES DA CRuz DA CRuzConsultor Tributário – Sócio de Cruz & Fonteles Consultoria Tributária Ltda., Auditor-fiscal da Receita Federal – Especialista em Imposto de Renda de grandes e de médias empresas, Membro do ICET – Instituto Cearense de Estudos Tributários, Conselheiro do Conselho Federal de Contabilidade até 31.12.2017, Graduado em Direito, Economia, Ciências Contábeis (Gra-duando) e Técnico em Contabilidade, Professor de Contabilidade de Custos, Auditoria Fiscal e Direito Tributário.

Neste pequeno trabalho, não trataremos de itens específicos da novel lei por ser assunto bastante debatido, depois de tantas prorrogações (a últi-ma, agora, em 31.10.2017, MP 807/2017) e de idas e vindas na aprovação da MP, por parte do Congresso Nacional. Enfocaremos as principais mudan-ças trazidas pelo Pert em relação ao PRT, bem como os vetos do Presidente da República ao Projeto de Lei de Conversão nº 23, de 2017 (MP 783/2017).

O início deu-se com a edição da MP 766, de 4 de janeiro de 2017, que instituiu o PRT – Programa de Regularização Tributária, que vigorou até 01.06.2017, quando perdeu a validade por não ter sido votada em tem-po hábil. Não obstante, foi baixada a IN 1.687/2017, que a regulamentou durante sua vigência. Aqui, o benefício maior era a permissão para utilizar prejuízo fiscal e base negativa no pagamento da dívida; não era prevista redução de multas e juros.

Em seguida, em 31.05.2017, um dia antes de a MP 766 caducar, foi editada a MP 783/2017, que, por sua vez, instituiu o Pert – Programa Espe-cial de Regularização Tributária, com alterações significativas, mas de larga divulgação. Destarte, os contribuintes que já tinham aderido ao programa anterior (PRT), poderiam permanecer ou migrar para o novo (Pert). Este, sim, apresentava uma série de vantagens, em destaque a redução de juros de mora e de multas, que não eram contempladas no PRT.

Para regulamentar o Pert – Programa Especial de Regularização Tri-butária –, foi baixada a IN 1711, de 16 de junho de 2017, que, por sua vez, já foi alterada quatro vezes pelas INs 1.733, de 31.08.2017, IN 1.748,

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de 29.09.2017, IN 1.752, de 25 de outubro de 2017, e pela IN 1.754, de 31.10.2017. Esta última em função da MP 807, da mesma data.

A MP 783/2017, que instituiu o Pert, regulamentada pela IN 1.711/2017, como dito no parágrafo anterior, foi convertida na Lei nº 13.496/2017, sancionada com três vetos pelo Sr. Presidente da Repúbli-ca, adiante comentados.

A Lei nº 13.426/2017, conversão da MP 783, veio com ampliação do benefício da redução das multas. No pagamento à vista, em janeiro de 2018, a redução passou de 50% para 70% e, no parcelamento em até 145 prestações, a redução das multas passou de 40% para 50%.

A MP 807/2017, de 31.10.2017, última alteração/prorrogação, trouxe como benefício apenas a alteração da data de adesão, que passou para 14 de novembro corrente. Vale salientar que, em função dessas prorrogações, vários contribuintes têm datas distintas de adesão, não obstante todos os be-nefícios que foram inseridos ao longo das alterações foram estendidos àque-les que já tinham aderido, inclusive para os que o fizeram em 31.08.2017, ainda na vigência do PRT.

Como assinalado anteriormente, não serão abordadas as alterações especificamente. Serão feitas observações extraídas da MP 807/2017 e da IN 1.711, com suas alterações posteriores, para um melhor aproveitamento dos benefícios:

1 – Adesão – com a prorrogação estabelecida pela MP 807/2017, o último dia para adesão passa a ser 14.11.2017;

2 – Efeito – o requerimento de adesão só produzirá efeitos depois de confirmado o pagamento da parcela à vista ou da 1ª (primeira) prestação até o dia 14 de novembro de 2017, apurada em conformidade com a modali-dade escolhida pelo contribuinte;

3 – Requerimento – deverá ser feito um requerimento de adesão para cada tipo de débito, sejam previdenciários ou demais débitos administrados pela RFB. Débitos previdenciários recolhidos por meio de Darf serão pagos ou parcelados na modalidade demais débitos – exemplo: CPRB;

4 – Nova opção – na opção até 14 de novembro de 2017, deverá ser recolhido: a) valor equivalente a 12% (doze por cento) da dívida consoli-dada sem reduções, referente às parcelas de agosto, setembro e outubro de 2017; b) até o último dia útil de novembro de 2017, o valor equivalente a 4% (quatro por cento) da dívida consolidada sem reduções, referente à parcela de novembro de 2017; e c) até o até o último dia útil de dezembro de 2017, o valor equivalente a 4% (quatro por cento) da dívida consolidada sem reduções, referente à parcela de dezembro de 2017;

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5 – Opção anterior – para quem fez opção anteriormente, por exem-plo, no mês de setembro/2017, com pagamento de 3% (1,5% nos meses de agosto e setembro), ele pode deixar de pagar a parcela de outubro e pagar 1% nos meses de novembro e de dezembro, complementando os 5% do pedágio, para débitos consolidados de até R$ 15.000.000,00;

6 – Prestação selicada – o valor de cada prestação mensal, por ocasião do pagamento, será acrescido pela taxa de juros Selic, calculada a partir do mês subsequente ao da consolidação até o mês anterior ao do pagamento, e de 1% relativamente ao mês em que o pagamento for efetuado;

7 – Prestação mínima – o valor mínimo de cada prestação mensal dos parcelamentos a serem concedidos será de R$ 200,00 para pessoas físicas e de R$ 1.000,00, quando o devedor for pessoa jurídica;

8 – Código da Receita – códigos de recolhimento de Contribuições Sociais pagas em GPS: 4141 – Pessoa Jurídica; e 4142 – Pessoa Física. De-mais Débitos: Darf com o código 5190. Nos casos de parcelamentos dos Demais Débitos, o código 5190 será disponibilizado no momento do pre-enchimento do Darf;

9 – Forma de parcelamento – o contribuinte poderá, no momento da consolidação do débito, alterar a forma de parcelamento como de presta-ções para pagamento à vista ou vice-versa, ou seja, escolher a que melhor se adéque financeiramente àquele momento;

10 – Prazo de consolidação – ficar atento ao comunicado da RFB sobre os procedimentos e prazo para consolidação;

11 – Recolhimento insuficiente – na consolidação será observada a quitação do valor à vista ou pagamento das parcelas devidas no período de agosto a dezembro de 2017. Eventual diferença verificada poderá ser quita-da excepcionalmente no momento da consolidação;

12 – Cancelamento da adesão – na hipótese de o contribuinte não fizer a consolidação com as informações necessárias, no prazo a ser esti-pulado, terá o pedido de adesão cancelado, sem o restabelecimento dos parcelamentos rescindidos no momento do requerimento;

13 – Refis anterior – parcelamentos ativos, à opção do contribuin-te, podem ser rescindidos e incluídos os débitos remanescentes neste Pert, inclusive para quem optou pelo PRT, na forma da MP 766, de 2017. Os pagamentos efetuados na forma do PRT serão automaticamente abatidos do valor do pedágio, ou seja, da parcela à vista;

14 – Ações judiciais e administrativas em curso – a inclusão no Pert de débitos que se encontrem em discussão administrativa ou judicial deve-

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rá ser precedida da desistência das impugnações ou dos recursos adminis-trativos e das ações judiciais que tenham por objeto os débitos que serão liquidados, e da renúncia a quaisquer alegações de direito sobre as quais se fundem as referidas impugnações e recursos ou ações judiciais e, no caso de ações judiciais, deverá ser protocolado requerimento de extinção do processo com resolução do mérito, nos termos da alínea c do inciso III do art. 487 do CPC;

15 – Desistência parcial – será considerada a desistência parcial de impugnação e de recurso administrativos interpostos ou de ação judicial proposta somente se o débito objeto de desistência for passível de distin-ção dos demais débitos discutidos no processo administrativo ou na ação judicial;

16 – Comprovante de desistência – a comprovação da desistência das impugnações ou dos recursos administrativos e das ações judiciais e da renúncia às alegações de direito deverá ser apresentada à unidade da RFB do domicílio fiscal do sujeito passivo até 14 de novembro de 2017;

17 – Forma e prazo de desistência de impugnação/recurso – a desis-tência de impugnação ou de recursos administrativos deverá ser efetuada na forma do Anexo Único constante da IN-RFB 1752, de 25.10.2017, a ser apresentado à RFB até o último dia útil do mês de novembro de 2017, em formato digital, devendo ser observado, no que couber, o disposto na Instru-ção Normativa RFB nº 1.412, de 22 de novembro de 2013;

18 – DCOMP não homologada – o disposto no item anterior aplica--se, inclusive, à inclusão no pagamento à vista ou no parcelamento, de dé-bitos informados na DCOMP não homologada, hipótese em que o sujeito passivo deverá desistir da manifestação de inconformidade ou do recurso administrativo relativo ao crédito objeto da discussão;

19 – Risco de cancelamento – após a adesão ao Pert e até a prestação das informações para fechar a consolidação (data a ser anunciada), o contri-buinte que deixar de recolher mensalmente as parcelas do parcelamento na forma escolhida (agosto a dezembro), bem como os débitos vencidos após 30 de abril de 2017, poderá, após comunicação a ser efetuada pela RFB no endereço eletrônico, ter o pedido de adesão cancelado;

20 – Formas de evitar – durante o período de consolidação, a fim de evitar o cancelamento do pedido, será concedido o prazo de 30 dias, con-tados da data da postagem da comunicação, enviada pela RFB no endereço eletrônico do sujeito passivo, conforme o caso:

a) regularizar os débitos vencidos após 30 de abril de 2017;

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b) indicar os débitos que comporão o parcelamento e regularize as parcelas não pagas, total ou parcialmente; e

c) apresentar as informações relativas aos créditos que pretenda utilizar para quitar os débitos, observadas as condições impostas pela RFB.

21 – Exclusão do Pert – implicará exclusão do devedor do Pert e a exigibilidade imediata da totalidade do débito confessado e ainda não pago, nos casos de:

a) falta de pagamento de 3 parcelas consecutivas ou 6 alternadas;

b) falta de pagamento de uma parcela, se todas as demais estiverem pagas;

c) constatação, pela RFB ou pela PGFN, de qualquer ato tendente ao esvaziamento patrimonial do sujeito passivo como forma de fraudar o cumprimento do parcelamento;

d) decretação de falência ou extinção, pela liquidação, da pessoa jurídica optante;

e) concessão de medida cautelar fiscal, em desfavor da pessoa op-tante;

f) declaração de inaptidão da inscrição no CNPJ;

g) falta de pagamento dos tributos correntes, vencidos após 30.04.2017, na RFB ou na PGFN; e descumprimento regular das obrigações com o FGTS.

Quanto aos vetos, o mais significativo foi o da exclusão das empresas do Simples Nacional na participação do Pert, que a Câmara dos Deputados havia inserido. A seguir a transcrição do dispositivo legal vetado e as razões do veto presidencial.

§ 10 do art. 2º e inciso II do art. 4º

“§ 10. São garantidos à pessoa jurídica optante do Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Simples Nacional), de que trata a Lei Comple-mentar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, os prazos de pagamento e os descontos na Secretaria da Receita Federal do Brasil e na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional aplicados às demais pessoas jurídicas.”

“II – R$ 400,00 (quatrocentos reais), quando o devedor for pessoa jurídica optante do Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contri-buições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Simples

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������27

Nacional), de que trata a Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006; [...]”

Razões dos vetos

“O Simples Nacional é regime de tributação especial instituído por lei com-plementar e, portanto, não pode ser alterado por meio de lei ordinária. Além disso, abrange débitos tributários federais, estaduais e municipais, de forma que não podem a Secretaria da Receita Federal do Brasil e a Procuradoria--Geral da Fazenda Nacional disciplinar sobre o parcelamento desses débitos, cuja competência é do Comitê Gestor do Simples Nacional, a teor do § 15 do art. 21 da Lei Complementar nº 123, de 2006.”

O segundo veto diz respeito à proibição de excluir de parcelamentos anteriores (Refis da Lei nº 9.964/2000) contribuintes que recolhiam presta-ções menores do que os juros devidos, fato que implicaria perdão disfarça-do, já que nunca a dívida seria quitada. Ver transcrição:

§ 2º do art. 11

“§ 2º Fica expressamente vedada, independentemente de entendimentos ad-ministrativos anteriores contrários, a exclusão do parcelamento definido na Lei nº 9.964, de 10 de abril de 2000, de pessoas jurídicas optantes que se en-contrem adimplentes, mas cujas parcelas mensais de pagamento não sejam suficientes para amortizar a dívida parcelada, salvo em caso de comprovada má-fé.”

Razões do veto

“O dispositivo refere-se a parcelamentos cujas parcelas, representadas por valores irrisórios, inferiores ao valor dos juros, jamais possibilitarão a quita-ção do débito, indo de encontro à lógica e ao motivo legal de se permitir par-celar. O Código Tributário Nacional determina que o parcelamento deve ser concedido com prazo de duração para a quitação da dívida. A não exclusão do contribuinte desses parcelamentos equivaleria à concessão de remissão da dívida, motivos pelos quais o dispositivo não merece prosperar.”

O terceiro veto é bem interessante. Trata-se de uma renúncia fiscal concedida pelos Srs. Deputados ao reduzir a zero as alíquotas do IRPJ, CSLL, PIS e Cofins sobre a receita oriunda da transferência de créditos de prejuízos fiscais e base negativa entre coligadas, controladas e controladoras. Verbis:

Art. 12

“Art. 12. Para fins do disposto nos §§ 1º e 2º do art. 2º e no parágrafo único do art. 3º desta lei, ficam reduzidas a zero as alíquotas do imposto de renda, da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), da Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), incidentes sobre a receita auferida pelo cedente com a cessão de créditos de prejuízo fiscal e de base de cálculo negativa da Contribuição

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Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para pessoas jurídicas controladas, con-troladoras ou coligadas.

§ 1º Nos termos do caput deste artigo, ficam também reduzidas a zero as alíquotas do imposto de renda, da CSLL, da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, incidentes sobre a receita auferida pela cessionária na hipótese dos créditos cedidos com deságio.

§ 2º Não será computada na apuração da base de cálculo do imposto de renda, da CSLL, da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins a parcela equi-valente à redução do valor das multas, juros e encargo legal.

§ 3º A variação patrimonial positiva decorrente da aplicação do disposto neste artigo será creditada à Reserva de Capital, na forma da alínea a do § 2º do art. 38 do Decreto-Lei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977.”

Razão do veto

“O dispositivo, ao prever significativa renúncia de receita sem a estimativa do seu impacto orçamentário-financeiro, incorre em violação ao art. 113 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) e ao art. 14 da Lei Complementar nº 101, de 2000 (LRF).”

Esse tema desperta interesse porque admite controvérsia. Recente-mente a RFB teve um revés na justiça por entender que a permuta de imó-veis entre empresas tributadas pelo lucro presumido, sem torna, gerava re-ceita tributável. A justiça, em uma decisão unânime, asseverou que tal fato não se enquadra no conceito de receita.

E, no nosso sentir, ainda teremos um novo questionamento, qual seja, “tratamento tributário da redução de juros e multas para a pessoa jurídica que aderir ao parcelamento”. Esse ganho será receita tributável ou não tri-butável? Mas esses são assuntos para um outro comentário oportunamente.

Parte Geral – Doutrina

Dedução da CSLL da Base de Cálculo do Imposto de Renda

KIYOSHI HARADAJurista, com 32 obras publicadas, Acadêmico, Titular da Cadeira nº 20 (Ruy Barbosa Noguei-ra) da Academia Paulista de Letras Jurídicas, Acadêmico, Titular da Cadeira nº 7 (Bernardo Ribeiro de Moraes) da Academia Brasileira de Direito Tributário, Acadêmico, Titular da Cadeira nº 59 (Antonio de Sampaio Dória) da Academia Paulista de Direito, Sócio Fundador do Escritó-rio Harada Advogados Associados, Ex-Procurador Chefe da Consultoria Jurídica.

O tema enfocado no presente artigo apenas aparentemente se acha pacificado pela decisão do Plenária do STF que, por maioria de votos, no RE 582.525, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe 07.02.2014, em que se reco-nheceu a existência de repercussão geral do tema constitucional ventilado, decidiu pela indedutibilidade do valor da CSLL da base de cálculo do IRPJ.

O contribuinte, não se conformando com acórdão proferido pelo TRF3 que vedou a dedução do valor da CSLL da base de cálculo do imposto de renda, impetrou o recurso extraordinário em que se pleiteou a referida exclusão a título de despesa operacional porque o pagamento desse tributo é indispensável à realização da atividade empresarial. Sustentou a vulnera-ção do conceito constitucional de renda, a ausência de lei complementar para modificar o fato gerador do IR e a violação dos princípios da capacida-de contributiva e da anterioridade.

O Ministro Relator, Joaquim Barbosa, refutou todas as argumentações da recorrente sustentando, em síntese, o seguinte:

a) não há conceito ontológico do que seja renda no texto constitucional;

b) o valor pago a título de CSLL não perde a característica de corresponder a uma parte do lucro ou da renda do contribuinte;

c) ocorrido o fato gerador – a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de rendas ou proventos –, é irrelevante a ulterior destinação de parte da renda ou proventos à seguridade social;

d) não há necessidade de lei complementar porquanto o CTN não definiu o que seja lucro real na extensão pretendida pela recorrente;

e) não há ofensa ao princípio da capacidade contributiva, visto que a “ve-dação da dedução do valor da CSLL na apuração do IRPJ não leva inexora-velmente à tributação do patrimônio ou de qualquer outra grandeza que não seja a renda”;

f) a regra da anterioridade especial aplicada à CSLL (art. 195, § 6º, da CF) não se soma à regra da anterioridade tradicional (art. 150, III, b, da CF), aplicável ao IR.

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Concordamos que não há realmente um conceito ontológico de ren-da na Constituição Federal. Entretanto, o CTN define o fato gerador do IR em seu art. 43 nos seguintes termos:

Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como gerador a aquisição da disponibilidade econô-mica ou jurídica:

I – de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da com-binação de ambos;

II – de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos pa-trimoniais não compreendidos no inciso anterior.

Assim, indubitável que o fato gerador do imposto de renda é o acrés-cimo patrimonial traduzido por uma riqueza nova. Sem esse acréscimo pa-trimonial não haverá aquisição da disponibilidade econômica (regime de caixa – pessoa física), ou da disponibilidade jurídica (regime de competên-cia – pessoa jurídica).

Concordamos que o valor da CSLL pago não pode ser considerado como despesa operacional, porque ele é resultado da atividade econômica exercida pelo contribuinte para auferir rendas, e não uma despesa necessá-ria à produção de renda.

Contudo, esse raciocínio é válido apenas quanto à indedutibilidade da provisão da CSLL, mas não é válido em relação à CSLL efetivamente paga. Na provisão, reserva-se uma parte do lucro para pagar a CSLL. A CSLL, depois de paga com os recursos provenientes do lucro apurado, passa a ser um encargo, uma despesa, e não uma receita que vem propiciar uma renda ou lucro1.

Não se trata de saber se o valor da CSLL pago é uma despesa opera-cional ou não; parece lógico que não o é, pelo simples fato de que ele não é algo necessário à produção da renda, como os insumos, por exemplo. O fato é que o valor do tributo pago constitui uma despesa do contribuinte, ra-zão pela qual não pode integrar a base de cálculo de um imposto que pres-supõe a tributação do acréscimo patrimonial. Considerar como renda uma despesa, por ficção jurídica que, em decorrência da interpretação literal do art. 1º e do seu parágrafo único2 da Lei nº 9.316/1996, acaba por violentar

1 Renda e lucro são conceitos distintos. Este decorre daquela. Pode haver renda sem lucro, mas não pode haver lucro sem renda.

2 “Art. 1º O valor da contribuição social sobre o lucro líquido não poderá ser deduzido para efeito de determinação do lucro real, nem de sua própria base de cálculo. Parágrafo único. Os valores da contribuição social a que se refere este artigo, registrados como custo ou despesas, deverão ser adicionados ao lucro líquido do respectivo período de apuração para efeito de determinação do lucro real e de sua própria base de cálculo.”

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o princípio da capacidade contributiva. É o próprio parágrafo único do ci-tado art. 1º que, como não poderia ser de outra forma, considera os valores da CSLL escriturados como custos ou despesas, porém determinando sua adição ao lucro líquido apurado. E o caput desse artigo, ficticiamente, con-sidera esses valores como receitas operacionais.

Ora, ficção jurídica, ao contrário da presunção, consiste em atribuir uma característica irreal a um determinado fato3. Por isso, seu emprego é vedado no campo do direito tributário, principalmente em relação à norma jurídica definidora do fato gerador da obrigação tributária que abrange a base de cálculo, que, juntamente com a alíquota, compõe o aspecto quan-titativo do fato gerador. Não há como adicionar o valor de uma despesa no montante do lucro líquido apurado, como determina o parágrafo único do citado art. 1º, para aumentar o valor do tributo por meio de uma ficção ju-rídica engendrada pelo astuto legislador a fim de alcançar riquezas que não existem no mundo da realidade.

Esse fato não passou despercebido aos olhos do Ministro Marco Aurélio, que dava provimento ao recurso porque essa exigência não se en-quadra “no figurino constitucional do tributo, haja vista que pessoa jurídica tem, considerada a CSLL, um ônus e não uma vantagem, não sendo possí-vel entender que um ônus signifique, ao mesmo tempo, ônus e renda para quem quer que seja”.

Em outras palavras, o valor da CSLL pago não se acha dentro do cam-po de incidência do imposto de renda. Nada tem a ver com as hipóteses de deduções do lucro real a título de despesas operacionais. É caso típico de não incidência pura, isto é, aquela que resulta, por exclusão, da definição do campo de incidência do imposto de renda.

O mesmo raciocínio aduzido por ocasião do julgamento do RE 240.785, em que se excluiu o ICMS da base de cálculo da Cofins – porque, sendo o ICMS um imposto, ele não poderia estar compreendido no con-ceito de faturamento, que é a base de cálculo do PIS/Cofins – deveria ter prevalecido em relação ao tema objeto de exame, porque, sendo o valor da CSLL pago uma despesa do contribuinte, não poderia estar compreendido no conceito de renda ou de proventos de qualquer natureza. Não pode ele

3 Presunção nada mais é do que o convencimento antecipado da provável existência de um fato ainda desconhecido, extraído a partir de um fato conhecido e conexo, podendo ser refutado por meio de prova em sentido contrário. Porém, a presunção iure et de iure não comporta prova em sentido contrário; ela é absoluta. O direito tributário vale-se muitas vezes de presunções. Ficção jurídica outra coisa não é senão uma criação pelo legislador de uma realidade jurídica diferente da real, isto é, a lei impõe a existência de efeitos ou verdades jurídicas que não existem no mundo da realidade. Seu emprego no âmbito do direito tributário é vedado, sob pena de afronta ao princípio constitucional da capacidade contributiva.

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compor a base de cálculo de imposto que incide sobre o acréscimo patri-monial.

Impõe-se a observância da coerência lógica, até mesmo para susten-tar as incoerências.

Parte Geral – Doutrina

Pagamento pela Distribuição de Softwares na Nuvem Não É Fato Gerador de Cide

OCTáVIO GIACOBBO DA ROSAAdvogado do Carvalho Machado e Timm Advogados, Especialista em Direito Tributário pela PUCRS.

RESUMO: O presente artigo cuida de uma das tantas temáticas jurídicas surgidas a partir do advento de criações humanas que facilitam a vida em sociedade. Os programas de computador, há muito tempo, de-sempenham papel fundamental no cotidiano de empresas e indivíduos. Inicialmente oferecidos através de mídias físicas, os softwares passaram a ser disponibilizados via downloads e, mais adiante, em ambientes on-line, identificados como “nuvem”, mediante utilização de senha e login. Essa modalidade de acesso prescinde da transferência eletrônica de uma cópia do programa, o que oferece maior segurança ao titular do software e mais praticidade ao usuário final. O desafio colocado diante dos operadores do Direito é encontrar tratamento jurídico adequado aos contratos envolvendo o acesso a software na nuvem, tema que até o presente momento não recebeu linhas normativas próprias. A lei nacional que disciplina a explo-ração e proteção dos direitos autorais sobre softwares foi publicada no ano de 1998, quando a entrega dos programas de computador ocorria eminentemente por meio de mídia física. Ainda que os meios de acesso aos softwares tenham evoluído, não é possível afirmar que a natureza jurídica desses contratos tenha sofrido modificação, a ponto de ensejar tratamento tributário mais oneroso à distribuição de softwares na nuvem. A partir dessa ideia, a objetivo do presente artigo é analisar o posicionamento da Receita Federal a respeito da incidência de Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) sobre as autorizações da distribuição de senhas de acesso aos softwares na nuvem, outorgadas pelas empresas estrangeiras. O ponto de vista aqui defendido é de que esses negócios devem receber tratamento tributário equivalente ao dedicado ao licenciamento de comercialização de softwares via downloads, que não recebem a incidência desse tributo.

PALAVRAS-CHAVE: Softwares; tecnologia; programas de computador; tributação; direitos autorais; licen-ça; distribuição; Cide; nuvem; royalties.

SUMÁRIO: Introdução; 1 O posicionamento da Receita Federal na SC Cosit nº 191/2017; 2 Da natureza jurídica do pagamento pelo direito de distribuição de softwares na nuvem; 3 Da não incidência de Cide sobre os contratos de distribuição de software na nuvem; Conclusão.

INTRODUÇÃO

As plataformas tecnológicas já se consolidaram, há algum tempo, como ferramentas essenciais no nosso cotidiano, seja para execução das tarefas profissionais, seja como mecanismo de relacionamento com a socie-dade em geral. Dita realidade favoreceu para o aumento gradual das tran-sações no mercado internacional envolvendo a exploração de softwares. Segundo levantamento feito pela Associação Brasileira das Empresas de

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Software (Abes), o seguimento da tecnologia da informação movimentou, no Brasil, aproximadamente 39,6 bilhões de dólares em 2016, algo em tor-no de 2,1% do PIB nacional. A entidade projeta um crescimento de 2,5% no volume de operações até o final do ano de 20171.

Em particular, o acesso a programas de computador localizados na nuvem (clouding) é prática cada vez mais difundida no mercado global. Em muitas vezes, o alcance remoto de softwares é uma eficiente alternativa em relação à transferência eletrônicas de dados (downloads), modalidade pela qual o usuário recebe uma cópia do programa e a instala em seu equipa-mento de uso pessoal.

Nesse grupo, os aplicativos Netflix e Spotify são comumente lem-brados. Porém, softwares de uso profissional também são habitualmente comercializados via nuvem. Podem-se citar, como exemplo usual, as pla-taformas de acompanhamento processual, fundamentais para escritórios de advocacia com grande escala de demandas.

Nesse contexto, causa preocupação o entendimento manifestado pela Receita Federal através da SC Cosit nº 191/2017, a respeito da incidência da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), mediante alíquota de 10% (dez por cento) sobre os valores pagos por empresas distri-buidoras de softwares acessíveis na nuvem, aos fornecedores estrangeiros, titulares dos direitos econômicos sobre os programas. A posição firmada acaba chancelando tratamento tributário mais oneroso às empresas comer-cializadoras, no mercado interno, de softwares acessíveis na nuvem, em comparação aos contratos de distribuição de programas estrangeiros, mas com previsão de transmissão ao usuário final via download.

No sentido econômico, essa orientação potencialmente pressiona o preço a ser cobrado dos usuários finais, inibindo a difusão dessa modalida-de de contratação.

Até a conclusão deste artigo, tratava-se da única solução de consulta, no âmbito federal, a abordar os reflexos tributários desse tipo de negócio.

1 O POSICIONAMENTO DA RECEITA FEDERAL NA SC COSIT Nº 191/2017

O caso concreto foi apresentado por uma empresa distribuidora, no mercado nacional, de autorizações de uso e acesso de softwares pertencen-tes a empresa estrangeira, colocados à disposição dos seus clientes, usuá-

1 Mercado brasileiro de software: panorama e tendências, 2017. 1. ed. São Paulo: ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software, 2017. Disponível em: <http://central.abessoftware.com.br/Content/UploadedFiles/Arquivos/Dados%202011/ABES-Publicacao-Mercado-2017.pdf>.

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rios finais, mediante entrega senhas de acesso e nomes de usuários. Segun-do a consulente, o contrato firmado lhe concedia o direito de revenda, no Brasil, das respectivas autorizações de uso, mediante remuneração perió-dica à empresa localizada no exterior. A dúvida que motivou a consulta residia no correto tratamento tributário a ser dado a esses pagamentos.

Na decisão, a autoridade consultada manifestou haver diferença entre os royalties pagos pelo direito de distribuição de programas de computado-res, que não sofrem a incidência da Cide, conforme o § 1º-A do art. 2º da Lei nº 10.168/20002, e os pagamentos feitos pela empresa consulente. As remessas informadas no caso concreto foram interpretadas como remunera-ção por serviços técnicos, que se encontram sujeitos à incidência da Cide, prevista no art. 2º, § 2º, da Lei nº 10.168/2000. A conclusão alcançada pela Receita Federal foi de que o agente estrangeiro acabava prestando serviços técnicos à empresa nacional, consistentes na disponibilização de senhas para acesso da plataforma, ficando responsável pela manutenção e suporte técnico aos usuários no Brasil. Em razão disso, considerou inaplicável, ao caso, a não incidência da Cide sobre a remuneração pelas licenças de uso ou de direitos de comercialização ou distribuição de programas de compu-tador, assegurada no § 1º-A.

Espera-se. no entanto, que a posição firmada seja revista por parte do Fisco, visto que manifestamente equivocada. Cabe alertar que não se objetiva, por meio deste breve artigo, unicamente estabelecer uma crítica ao entendimento alcançado na peça fiscal. Em verdade, a partir dos próprios fundamentos invocados, propomos que é possível chegar a uma constata-ção oposta, que nos leva a reconhecer a não incidência da Cide sobre tais operações.

A cobrança de Cide sobre os valores remetidos ao exterior, como remuneração pela licença de uso, aquisição de conhecimentos tecnológi-cos ou transferência de tecnologia, foi instituída pelo art. 2º, caput, da Lei nº 10.168/2000, tendo como objetivo o estímulo ao desenvolvimento tec-nológico brasileiro, mediante financiamento da atividade estatal nesse setor. O § 2º do art. 2º ainda prevê a incidência do tributo sobre os royalties a qualquer título e pagamentos por serviços técnicos e de assistência adminis-trativa prestados por residentes ou domiciliados no exterior.

2 “Art. 2º Para fins de atendimento ao Programa de que trata o artigo anterior, fica instituída contribuição de intervenção no domínio econômico, devida pela pessoa jurídica detentora de licença de uso ou adquirente de conhecimentos tecnológicos, bem como aquela signatária de contratos que impliquem transferência de tecnologia, firmados com residentes ou domiciliados no exterior. § 1º-A. A contribuição de que trata este artigo não incide sobre a remuneração pela licença de uso ou de direitos de comercialização ou distribuição de programa de computador, salvo quando envolverem a transferência da correspondente tecnologia.”

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Apenas escapa da regra geral a remuneração pela licença de uso ou de diretos de comercialização ou distribuição de programa de computador, sem transferência de tecnologia, conforme expressamente previsto no § 1º-A. Como visto, segundo a aludida solução dada ao processo de consulta, referida norma não se estenderia aos contratos envolvendo o repasse de autorizações de acesso a softwares na nuvem, visto que a sua execução dependeria de conhecimentos especializados em informática pelo fornece-dor, componente típico da prestação de serviços técnicos subordinados à incidência da Cide. Noutras palavras, nesses contratos, o repasse das autori-zações de uso aos usuários finais não se confundiria com a comercialização ou distribuição dos programas de computador, fato jurídico fora do campo do tributo.

Na fundamentação da resposta, há o cuidado em descrever os deta-lhes particulares do fornecimento do acesso de software via clouding, que o diferenciariam da distribuição convencional de programas de computador. Todavia, a nosso juízo, as mesmas características podem estar presentes em ambas as relações jurídicas, o que torna injustificável a aplicação de regras tributárias diversas.

Segundo a autoridade federal, o contrato analisado reunia as seguin-tes peculiaridades, que, reunidas, caracterizam prestação de serviços:

(i) aquisição dos acessos de uso pela empresa nacional e repasse aos usuários;

(ii) inexistência de uma venda tradicional dos softwares, que permanecem sob a administração da empresa estrangeira, havendo comercialização ex-clusiva direito de acesso ao programa, sem transferência dos direitos autorais;

(iii) usuário não recebe cópia do programa para instalação;

(iv) responsabilidade do fornecedor pela manutenção e suporte técnico;

(v) usuário não tem a disponibilidade de modificar os programas disponíveis;

(vi) fornecedor recebe pagamentos mensais como contraprestação decorren-te do acesso e uso à distância, dos programas de computador;

(vii) empresa do exterior oferece um pacote de utilidades aos usuário finais que utilizarão o software;

(viii) serviços técnicos oferecidos dependem de conhecimentos especializa-dos (manutenção e suporte técnico);

(ix) usuário não sabe onde se encontra a base tecnológica dos sistemas in-formatizados.

É indiscutível que tais fatores podem estar reunidos nas entregas de software na nuvem. No entanto, na maioria dos casos, é possível que tam-

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bém sejam encontradas nos contratos convencionais de cessões de direitos de comercialização ou distribuição de programas de computador, previstos no art. 1º-A.

2 DA NATUREZA JURÍDICA DO PAGAMENTO PELO DIREITO DE DISTRIBUIÇÃO DE SOFTWARES NA NUVEM

De qualquer forma, as características levantadas não conferem na-tureza jurídica diversa aos contratos sob exame. Pelo contrário, é possível afirmar que tanto a disponibilização de softwares via clouding quanto por meio de download obrigam o contratado da mesma forma, divergindo ape-nas quanto ao método de entrega.

É importante notar que nos dois casos há aproveitamento econômico de direitos autorais de terceiros. É esse o critério que faz nascer, em ambas as circunstâncias, a obrigação de retribuir financeiramente o titular do pro-grama. O método de exploração e entrega do programa, a ser deliberado entre as partes contratantes, é questão de segundo plano, que não interfere na natureza da relação jurídica. Aliás, nada impede que, em contratos de maior prazo de vigência, a entrega dos softwares para download seja subs-tituída pelo acesso remoto em nuvem, visando a facilitar a execução do negócio.

No Brasil, aos titulares de programas de computador é conferida a proteção destinada aos direitos autorais, garantida pela Lei nº 9.609/1998 (Lei do Software). Dado seu caráter protecionista, a norma exige que a des-tinação comercial ou utilização pessoal dos programas de computador seja objeto de autorização pelo titular (art. 9º).

Segundo o Capítulo IV da norma, os softwares podem ser explorados por terceiros mediante três modalidades de negócios jurídicos: (i) transferên-cia de tecnologia (art. 11), licença de direitos de comercialização (art. 10) e (iii) licença de uso (art. 9º). Ainda, conforme o art. 8º da lei, o responsável pela comercialização do programa de computador, seja titular dos direitos sobre o programa ou somente dos direitos de comercialização, deverá as-segurar aos usuários a prestação de serviços técnicos complementares ao adequado funcionamento do programa:

Art. 8º Aquele que comercializar programa de computador, quer seja titular dos direitos do programa, quer seja titular dos direitos de comercialização, fica obrigado, no território nacional, durante o prazo de validade técnica da respectiva versão, a assegurar aos respectivos usuários a prestação de serviços técnicos complementares relativos ao adequado funcionamento do programa, consideradas as suas especificações.

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Art. 9º O uso de programa de computador no País será objeto de contrato de licença.

[...]

Art. 10. Os atos e contratos de licença de direitos de comercialização refe-rentes a programas de computador de origem externa deverão fixar, quanto aos tributos e encargos exigíveis, a responsabilidade pelos respectivos paga-mentos e estabelecerão a remuneração do titular dos direitos de programa de computador residente ou domiciliado no exterior.

[...]

Art. 11. Nos casos de transferência de tecnologia de programa de computa-dor, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial fará o registro dos respec-tivos contratos, para que produzam efeitos em relação a terceiros.

[...]

Prudentemente, cuidou o legislador apenas de regulamentar a circu-lação comercial do software, não estabelecendo um formato prévio para que isso ocorra. Provavelmente, à época já se imaginava que a venda das cópias dos programas, gravadas nos suportes físicos, seria em futuro próxi-mo, superada pelos downloads, reduzindo significativamente a circulação física da mercadoria.

Por isso, nada mais equivocado afirmar que a comercialização dos softwares pressupõe a transferência de uma cópia do programa ao usuário. Não se encontra na lei essa previsão, ainda que, em certas passagens, a có-pia do programa seja utilizada como referência para regular determinadas situações.

Certo é que o termo comercialização, contido no art. 8º, refere-se à transação jurídica que, mediante remuneração, confere ao usuário o acesso ao programa de computador, que obrigatoriamente deve vir acompanhada da licença de uso e garantia de serviços técnicos para adequado funciona-mento do programa.

3 DA NÃO INCIDÊNCIA DE CIDE SOBRE OS CONTRATOS DE DISTRIBUIÇÃO DE SOFTWARE NA NUVEM

Conclusão a que se chega é que a entrega on-line do software, me-diante senhas e logins ao usuário, não é motivo suficiente para negar a aplicabilidade de tais normas a esses contratos, visto que a forma de dispo-nibilização não foi regulamentada pela Lei nº 9.609/1998, não devendo ser, portanto, critério para auferição da natureza jurídica desses pagamentos.

Daí se depreende que o distribuidor nacional que fornecer aos usuá-rios senhas para acesso de softwares via clouding, evidentemente, encontra-

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-se obrigado a prover aos usuários os serviços técnicos complementares, conforme preceitua o art. 8º. Atente-se que a obrigação de prestar serviços técnicos é inerente ao contrato de comercialização, seja pelo próprio distri-buidor, seja pelo estrangeiro titular dos direitos autorais.

A prestação de serviços que envolvem conhecimento técnico, por de-terminação legal, poderá se verificar tanto para os usuários que receberam uma cópia do programa quanto para aqueles que o acessam na nuvem. De toda sorte, os serviços prestados no âmbito desses contratos, via de regra, se trata de atividades-meio, consistentes na manutenção e atualização do aplicativo, garantindo o seu regular uso.

A própria Receita Federal, em Solução de Consulta nº 262 – Cosit, publicada em 29.05.2017, admite a distinção, para fins de tratamento tribu-tário, entre a remuneração pela licença de uso e de distribuição do software e os pagamentos destinados a retribuir a prestação de serviços técnicos, ain-da que tenham origem no mesmo contrato. Segundo essa manifestação, se determinado contrato prever e discriminar a prestação de serviços técnicos e a remuneração correspondente, haverá incidência das contribuições PIS e Cofins apenas sobre o montante pago a esse título.

A prestação de serviços de suporte técnico e manutenção, por parte do fornecedor estrangeiro, admite tratamento tributário próprio, na medida em que ocorra durante a relação contratual. Afinal, o Direito comporta a formação de contratos complexos, nos quais uma das partes assume pres-tações diversas perante o seu contratante. É possível, não há dúvidas, que, além da outorga do direito de comercialização das licenças de uso, o forne-cedor do software comprometa-se, também, a prover aos usuários a manu-tenção, suporte técnico ou atualização dos programas durante a vigência do contrato. No entanto, há de se ter, com clareza, que se trata de obrigações distintas derivadas de uma mesma relação contratual. Apenas a realização de serviços técnicos constitui-se em uma obrigação de fazer, enquanto a licença de uso ou comercialização se trata de uma permissão do titular dos direitos autorais para que outrem os explore economicamente.

Veja que a RFB, por meio da Instrução Normativa nº 1.455/2014, tratou de distinguir, para fins de incidência de IR sobre importâncias pagas à pessoa jurídica domiciliada no exterior, os royalties dos serviços técnicos e de assistência técnica. Segundo a regra, configuram-se royalties os rendi-mentos de qualquer espécie decorrentes do uso, fruição e exploração de direitos autorais (art. 17, § 1º, I, d)3.

3 “Art. 17. As importâncias pagas, creditadas, entregues, empregadas ou remetidas a pessoa jurídica domiciliada no exterior a título de royalties de qualquer natureza e de remuneração de serviços técnicos e de

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CONCLUSÃO

Portanto, independentemente da forma de disponibilização ao usuá- rio, aquele que praticar ato mercantil envolvendo softwares de terceiros es-tará exercendo a exploração de direitos autorais de outrem, o que somente pode ocorrer através da respectiva autorização do titular, dado o caráter protecionista da lei brasileira de softwares. Por tal motivo, os pagamentos realizados ao titular do programa, salvo em casos de gratuidade, sempre te-rão a natureza de royaltiy, pois obrigatoriamente se darão como retribuição à concessão para exploração do direito autoral.

Dados os motivos acima, como medida de respeito ao princípio da isonomia tributária4, há necessidade de conferir-se uma leitura atual e sistê-mica à expressão comercialização ou distribuição de programa de compu-tador, prevista no § 1º-A do art. 2º, de modo que envolva toda a forma de exploração de direitos autorais envolvendo softwares de terceiros, salvo os casos de transferência de tecnologia. Dessa forma, a não incidência da Cide irá alcançar, também, a retribuição paga à pessoa jurídica estrangeira pelo direito de distribuição de softwares na nuvem.

assistência técnica, administrativa e semelhantes sujeitam-se à incidência do imposto sobre a renda na fonte à alíquota de 15% (quinze por cento). § 1º Para fins do disposto no caput: I – classificam-se como royalties os rendimentos de qualquer espécie decorrentes do uso, fruição, exploração de direitos, tais como: [...] d) exploração de direitos autorais, salvo quando recebidos pelo autor ou criador do bem ou obra; [...]”

4 “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; [...]”

Parte Geral – Doutrina

Responsabilidade Civil, Tributária e Penal do Profissional da Contabilidade

MARCELO PIRES HARTwIGMestrando em Direito pela UFPEL, Especialista em Direito Tributário pela PUCRS, Graduado em Direito pela UFPEL, Advogado.

RESUMO: A responsabilidade jurídica gera intensos debates no ambiente jurídico e até mesmo fora dele. Ao profissional da contabilidade cumpre a observância de uma série de obrigações, sendo muitas, con-sequentemente, as infrações passíveis de cometimento por parte deste profissional, sujeitando-o à res-ponsabilização nas searas civil, tributária e penal. O presente estudo visa a analisar esse contexto, de modo a permitir uma visão ampla a respeito da responsabilidade jurídica do profissional da contabilidade decorrente do exercício da profissão.

PALAVRAS-CHAVE: Responsabilidade; profissional da contabilidade; civil; penal; tributária.

ABSTRACT: The legal responsibility generates intense debates both within and outside the legal sphere. Accountancy professionals must observe several rules, and failure to do may render them responsible civil, tributary and criminal spheres. This study aims at providing a broad view on the legal responsibility of accountancy professionals related with the exercise of profession.

KEYWORDS: Responsibility; accountancy professionals; civil; criminal; tributary.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Obrigações e infrações atinentes ao profissional da contabilidade no exercício de suas atividades; 1.1 Obrigações: deveres, proibições e normas de compliance; 1.2 Infrações: falha na prestação de serviços de contabilidade e os atos dolosos; 2 Responsabilidade civil; 2.1 Requisitos da responsabilidade civil do profissional da contabilidade; 2.2 O profissional da contabilidade na condição de preposto; 2.3 O dano moral atribuído ao profissional da contabilidade; 3 Responsabilidade tributária; 3.1 O enquadramento legal do profissional da contabilidade no CTN e os requisitos para a configuração da responsabilidade tributária; 3.1.1 Artigo 124 do Código Tributário Nacional; 3.1.2 Artigo 135, inciso II, do Código Tributário Nacional; 3.1.3 A definição do enquadramento legal; 4 Responsabilidade penal; 4.1 Crimes imputáveis ao profissional da contabilidade em razão do exercício de suas atividades; 4.2 A Necessidade do dolo específico; 4.3 Normas de compliance e a responsabilidade administrativa do profis-sional da contabilidade; Conclusão; Referências.

INTRODUÇÃO

Questão que suscita muitas dúvidas e que se revela objeto de consi-derável quantidade de litígios é a responsabilidade jurídica. Não raro as pes-soas não possuem total consciência dos riscos a que se submetem através da prática dos mais variados atos da vida.

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No caso do profissional da contabilidade1, a responsabilidade jurídi-ca mostra-se cada vez mais presente, e não está a se falar apenas daquele profissional que, por exemplo, de forma deliberada, coopera com seu clien-te ou empregador a fim de, mediante fraude ou outro ato ilícito, obter van-tagem. Também o profissional que atua pautado na boa-fé (frise-se, a grande maioria) depara-se com normas que redundam na sua responsabilização, normas essas que, muitas vezes, sequer dizem respeito ao bom desempenho de suas atividades. É sobre essa “categoria” de profissionais que a presente pesquisa se ocupará de modo mais atento.

No Brasil, além da elevada carga tributária, há um sem-número de obrigações que recaem sobre pessoas físicas e jurídicas (sejam obrigações tributárias acessórias2 ou obrigações de outra natureza), cujo cumprimento, em grande parte, dá-se por meio da atuação do profissional da contabili-dade. Isso o torna conhecedor de uma série de informações importantes, sigilosas ou até mesmo ilícitas (tudo isso, na ótica do Poder Público, torna--o uma excelente fonte de informação), bem como faz com que diversas situações extremamente relevantes da vida e dos negócios dos seus clientes tenham ampla relação com o trabalho por ele desenvolvido (um erro co-metido pode gerar grave prejuízo ao cliente). Assim sendo, verifica-se que a situação deste profissional é bastante delicada, devendo ele agir com a máxima diligência e cautela.

Diante disso, a fim de que se possam evitar ou, ao menos, amenizar os riscos de atribuição de responsabilidade jurídica e de conflitos com o cliente ou empregador, é fundamental que sejam conhecidas as diferentes formas de como se dá a responsabilização do profissional da contabilidade pelos atos praticados no exercício de suas funções. É o que irá se tratar neste estudo, apresentando-se, inicialmente, as obrigações e infrações atinentes à profissão contábil e, na sequência, abordar-se-á a responsabilidade do profissional da contabilidade nos âmbitos civil, penal e tributário. Ao final, em sede de conclusão, serão feitas considerações a respeito da pesquisa realizada.

1 Ao longo do presente trabalho, será utilizado termo “profissional da contabilidade” fazendo referência tanto ao contador (com bacharelado em contabilidade) como ao técnico em contabilidade, em consonância com a deliberação do Conselho Federal de Contabilidade, que determinou a substituição do termo “contabilista”, muito utilizado no passado (e ainda hoje, com certa frequência), pela referida terminologia. Informação disponível em: <http://www.crcsp.org.br/portal/profissao/terminologia.htm>. Acesso em: 11 maio 2017.

2 O custo e o tempo gastos para o cumprimento das obrigações tributárias acessórias já foram analisados em artigo publicado na Revista Pensamento & Realidade da PUCSP (REIS, Renata Toledo. O custo das obrigações acessórias nas empresas tributadas pelo lucro real na grande São Paulo. Revista Pensamento & Realidade, v. 30, n. 3. 2015. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/pensamentorealidade/article/viewFile/20300/18741>. Acesso em: 11 maio 2017). A respeito do fator tempo, no mencionado estudo, há menção à informação de que, em média, uma empresa gasta 2.600 horas por ano para cumprir as obrigações tributárias no Brasil, o que corresponde a, aproximadamente, 3,6 meses.

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Ressalta-se que não se tratará da responsabilidade no plano ético--disciplinar e a responsabilidade no contexto da falência e da recuperação judicial, pelas seguintes razões: a primeira é regulada por meio de normas editadas pelos conselhos de contabilidade, que também realizam a função de julgar os casos que envolvem a responsabilidade ético-disciplinar3; a segunda diz respeito a situações específicas, que não estão presentes no cotidiano de grande parte dos profissionais. Portanto, por se tratarem de situações dotadas de características muito específicas, optou-se por não incluí-las no presente trabalho.

1 OBRIGAÇÕES E INFRAÇÕES ATINENTES AO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE NO EXERCÍCIO DE SUAS ATIVIDADES

1.1 Obrigações: deveres, prOibições e nOrmas de cOmpliance

Inicialmente, cumpre referir que o Código Civil, nos arts. 1.179 até 1.195, regula questões atinentes a escrituração contábil, apresentando uma série de regras a respeito de como deve ser feita e de informações que nela devem constar. O art. 1.182 atribui ao profissional da contabilidade a res-ponsabilidade pela escrituração. A título exemplificativo, vale mencionar as seguintes obrigações: 1) escrituração uniforme dos livros, em correspon-dência com a documentação respectiva (art. 1.179); 2) lançamento, dia a dia, de todas as operações relativas ao exercício da empresa no livro diário (art. 1.184); 3) expressão da situação real da empresa, com indicação distin-ta do ativo e do passivo no balanço patrimonial (art. 1.188).

Norma de grande importância para o assunto ora em análise é tam-bém o Código de Ética Profissional do Contador – CEPC, aprovado pela Resolução CFC nº 803/1996, que, nos termos do art. 1º, fixa a forma pela qual deve o profissional da contabilidade conduzir o exercício profissional.

Ao longo do texto do CEPC, estão previstas obrigações de diversas espécies: Capítulo II – Dos Deveres e Das Proibições, Capítulo III – Do Va-lor dos Serviços Profissionais e Capítulo IV – Dos Deveres em Relação aos Colegas e à Classe. No presente estudo, cumpre tratar com maior atenção

3 Acerca do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), tais atribuições constam no art. 6º do Decreto-Lei nº 9.295/1946, que prevê, como atribuições do CFC, entre outras, as seguintes: tomar conhecimento de quaisquer dúvidas suscitadas nos Conselhos Regionais e dirimi-las (alínea c); decidir, em última instância, recursos de penalidade imposta pelos Conselhos Regionais (alínea d); regular acerca dos princípios contábeis, do Exame de Suficiência, do cadastro de qualificação técnica e dos programas de educação continuada; e editar Normas Brasileiras de Contabilidade de natureza técnica e profissional (alínea f, incluída pela Lei nº 12.249/2010).

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o Capítulo II, que contém as obrigações do profissional da contabilidade perante o cliente, perante terceiros e perante o Poder Público.

Os deveres estão elencados nos arts. 2º, que se referem ao profissio-nal da contabilidade em geral, e 5º, que diz respeito especificamente ao contador na condição de perito, assistente técnico, auditor ou árbitro. O pri-meiro contém 12 (doze) incisos, ao passo que o segundo contém 9 (nove).

Diante do elevado número de deveres, serão indicados os considera-dos como principais, quais sejam: 1) exercer a profissão com zelo, diligên-cia, honestidade e capacidade técnica, observada toda a legislação vigente, em especial os Princípios de Contabilidade e as Normas Brasileiras de Con-tabilidade, e resguardados os interesses de seus clientes e/ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência profissionais; 2) guardar sigilo sobre o que souber em razão do exercício profissional lícito, inclusive no âmbito do serviço público, ressalvados os casos previstos em lei ou quando solicitado por autoridades competentes, entre estas os Conselhos Regionais de Contabilidade; 3) comunicar, desde logo, ao cliente ou empregador, em documento reservado, eventual circunstância adversa que possa influir na decisão daquele que lhe formular consulta ou lhe confiar trabalho, esten-dendo-se a obrigação a sócios e executores.

As proibições, a seu turno, estão previstas no art. 3º, que contém 25 (vinte e cinco) incisos. Tais proibições podem ser sintetizadas através da seguinte listagem: 1) assinar documentos ou peças contábeis elaborados por outrem, alheio à sua orientação, supervisão e fiscalização; 2) concorrer para a realização de ato contrário à legislação ou destinado a fraudá-la ou pra-ticar, no exercício da profissão, ato definido como crime ou contravenção; 3) solicitar ou receber do cliente ou empregador qualquer vantagem que saiba para aplicação ilícita; 4) prejudicar, culposa ou dolosamente, interesse confiado a sua responsabilidade profissional; 5) reter abusivamente livros, papéis ou documentos, comprovadamente confiados à sua guarda; 6) acon-selhar o cliente ou o empregador contra disposições expressas em lei ou contra os Princípios de Contabilidade e as Normas Brasileiras de Contabili-dade editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade; 7) exercer atividade ou ligar o seu nome a empreendimentos com finalidades ilícitas; 8) iludir ou tentar iludir a boa-fé de cliente, empregador ou de terceiros, alterando ou deturpando o exato teor de documentos, bem como fornecendo falsas infor-mações ou elaborando peças contábeis inidôneas; 9) renunciar à liberdade profissional, devendo evitar quaisquer restrições ou imposições que possam prejudicar a eficácia e correção de seu trabalho; 10) apropriar-se indevida-mente de valores confiados a sua guarda.

Ponto que, por sua atualidade e relevância, merece menção especí-fica dentro da temática das obrigações é o das normas de compliance, que

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têm ganhado força nos últimos anos. Em razão das informações a que tem acesso em decorrência do exercício de suas atividades, o profissional da contabilidade acaba sendo um dos principais destinatários dessas normas.

As obrigações decorrentes das normas de compliance podem ser en-contradas em variadas espécies normativas (leis, regulamentos etc.), sen-do que as mais relevantes para a presente pesquisa são as seguintes: Lei nº 9.613/1998 (Lei de Lavagem de Dinheiro), Lei nº 12.683/2012 (alterou a Lei nº 9.613/1998, para tornar mais eficiente a persecução penal dos crimes de lavagem de dinheiro), Resolução CFC nº 1.445/2013 (Dispõe sobre os procedimentos a serem observados pelo profissional da contabilidade para o cumprimento das obrigações prevista na Lei nº 9.613/1998 e alterações).

A Lei nº 9.613/1998, em seu art. 9º, parágrafo único, XIV, atribui ex-pressamente ao profissional da contabilidade as obrigações nela previstas, quais sejam: identificação de clientes e manutenção de registros (Capítulo VI) e comunicação de operações financeiras (Capítulo VII).

Na Resolução CFC nº 1.445/2013, o Conselho Federal de Contabili-dade regulamentou as obrigações atribuídas ao profissional da contabilida-de pela reforma na Lei de Lavagem de Dinheiro promovida por meio da Lei nº 12.683/2012, que inclui o indigitado inciso XIV ao parágrafo único do art. 9º da Lei nº 9.613/1998. A resolução preceitua uma série de condutas e procedimentos que devem ser adotados pelo profissional da contabilidade, que podem ser assim sintetizados: Seção II – Da Política de Prevenção: es-tabelecer e implementar uma política de prevenção à lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, identificando e obtendo informações a res-peito dos negócios realizados por seus clientes; Seção III – Do cadastro de Clientes e Demais Envolvidos: manutenção de cadastro de clientes e demais envolvidos nas operações que realizarem; Seção IV – Do Registro das Ope-rações: manutenção de registro de todos os serviços prestados e operações realizadas em nome de clientes; Seção V – Das Comunicações ao COAF: analisar determinadas operações e propostas de operações (listadas nos in-cisos do art. 9º) e comunicar ao COAF as consideradas suspeitas, bem como comunicar ao COAF as referidas no art. 10, independentemente de análise; Seção VI – Da Guarda e Conservação de Registros e Documentos: conser-var cadastros, registros e correspondências referentes aos deveres constantes na resolução, pelo prazo mínimo de 5 (cinco) anos, a partir da entrega do serviço contratado.

Importante referir, ainda, a norma conhecida como “Noclar”, que obriga o profissional da contabilidade a comunicar às autoridades compe-tentes quando descobrirem, na sua atuação profissional, a prática de atos ilí-citos (como corrupção, lavagem de dinheiro e não pagamento de impostos

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de forma deliberada)4. Trata-se de uma norma internacional, cuja entrada em vigor no Brasil está prevista para o mês de julho deste ano5. Em que pese ainda não estar produzindo efeitos, a norma indica que os deveres de compliance estarão cada vez mais presentes na rotina profissional da classe contábil.

1.2 infrações: falha na prestaçãO de serviçOs de cOntabilidade e Os atOs dOlOsOs

As infrações do profissional da contabilidade no exercício de suas atividades decorrem do descumprimento das obrigações da profissão, seja pela falta de atendimento a um dos deveres que lhe são impostos, seja pela prática de ato previsto como proibido.

Vale ressaltar, desde já, que, para ser considerado como infração, ou ato (ou a omissão) praticado, não precisa necessariamente decorrer de má--fé do profissional da contabilidade. Em outras palavras, não se exige o dolo em toda e qualquer situação, sendo a culpa, em muitos casos, suficiente para caracterizar a infração e gerar a responsabilização.

A falha na prestação dos serviços6, infração que mais comumente se pode atribuir ao profissional da contabilidade, confirma a afirmação aci-ma, podendo decorrer tanto de ato ou omissão dolosa como de culpa. Tal infração pode ocorrer de inúmeras formas, podendo ser referida, a título exemplificativo, a falha em relação às seguintes obrigações: cálculo de tri-butos, cumprimento de obrigações acessórias, enquadramento do cliente na sistemática de apuração de tributos correta e repasse à Fazenda Pública de valores confiados pelos clientes.

Importante referir que os atos dolosos podem resultar de condutas que não necessariamente se enquadram como má prestação de serviços. Os atos dolosos advêm da atuação deliberada do profissional da contabilidade visando, ao menos, a um dos seguintes fins: obtenção de vantagem indevi-da, em conluio com seu cliente (por exemplo: deixar de incluir determina-da informação na escrituração contábil, de modo a deixar de pagar tributo

4 Conforme matéria veiculada pelo jornal Valor Econômico, que pode ser acessada por meio do seguinte endereço eletrônico (link): <http://www.valor.com.br/empresas/4768369/contador-tera-quereportar-irregularidade- -partir-do-ano-que-vem>. Acesso em: 14 maio 2017.

5 Conforme matéria veiculada no site oficial do Conselho Federal de Contabilidades, que pode ser acessada por meio do seguinte endereço eletrônico (link): <http://cfc.org.br/noticias/orgaointernacional-emissor-de- -normas-eticas-iesba-divulga-nova-regra-no-brasil/>. Acesso em: 14 maio 2017.

6 A partir do Código de Ética Profissional do Contador, pode-se dizer que a infração decorre do dever disposto no art. 2º, I: “Art. 2º São deveres do Profissional da Contabilidade: I – exercer a profissão com zelo, diligência, honestidade e capacidade técnica, observada toda a legislação vigente, em especial aos Princípios de Contabilidade e as Normas Brasileiras de Contabilidade, e resguardados os interesses de seus clientes e/ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência profissionais; [...]”.

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devido, sendo a economia tributária resultante deste ato distribuída entre o profissional da contabilidade e o cliente); facilitar a obtenção de vantagem indevida para o seu cliente (por exemplo: assinar documento comprobató-rio de rendimentos que sabe ser falso, a fim de que o cliente consiga ob-ter empréstimo bancário); obter vantagem indevida em prejuízo do cliente e/ou da Fazenda Pública (por exemplo: deixar de repassar à Fazenda Públi-ca os valores confiados pelo cliente para o fim de pagamento de tributos); prejudicar o cliente (calcular, intencionalmente, tributos com valor acima do que seria devido, em razão de desavença tida com o cliente ou por qual-quer outra razão).

É importante a diferenciação dos atos culposos dos dolosos, na me-dida em que isso gera significativos reflexos em termos de responsabilidade jurídica. De modo simplificado, pode afirmar-se que as condutas culposas podem gerar tão somente a responsabilização na esfera civil, ao passo que os atos dolosos podem redundar na responsabilidade civil, tributária e até mesmo criminal do profissional da contabilidade, conforme se estudará a seguir, na segunda parte do presente estudo.

2 RESPONSABILIDADE CIVIL

2.1 requisitOs da respOnsabilidade civil dO prOfissiOnal da cOntabilidade

Os requisitos da responsabilidade decorrente da prática de ato ilícito (responsabilidade civil extracontratual) estão previstos no art. 186 do Códi-go Civil, que preceitua o seguinte: “Aquele que, por ação ou omissão vo-luntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Verifica-se, portanto, que os pressupostos da responsabilidade extracontratual (por descumpri-mento de dever legal) são ação ou omissão, culpa ou dolo, relação de cau-salidade e dano7. Nesse ponto, não há qualquer especificidade referente ao profissional da contabilidade, razão pela qual os referidos pressupostos serão abordados sucintamente.

A ação, no caso do profissional da contabilidade, pode decorrer de ato próprio ou praticado por terceiro, nos termos do art. 932, III, do Código Civil8. No caso da omissão, é necessária a existência do dever jurídico da

7 Conforme GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: parte geral. 8. ed. São Paulo: Saraiva, v. 1, 2010. p. 502. As definições dos pressupostos da responsabilidade civil apresentadas no presente estudo baseiam-se nesta obra, sendo feitas as devidas referências a outras fontes, quando for o caso.

8 “Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: [...] III – o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; [...]”

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prática de determinado ato. Descumprido esse dever, através da omissão, poderá configurar-se a responsabilidade civil.

O dolo consiste na violação intencional do dever jurídico. A culpa, por sua vez, decorre de imprudência, negligência ou imperícia do agente9. Há situações nas quais a regra geral é excepcionada, configurando-se o dever de indenizar sem que se leve em consideração a existência de cul-pa10. Tal situação, em princípio, não ocorre em relação ao profissional da contabilidade, eis que sua atividade não se enquadra nas exceções legais. Ainda que se entenda tratar-se de relação de consumo, a responsabilização na esfera civil dependerá da demonstração de culpa, nos termos do art. 14, § 4º, do Código de Defesa do Consumidor11.

O requisito da relação de causalidade é o nexo causal que deve exis-tir entre a ação ou omissão ocorrida e o dano. Em outras palavras, é a ne-cessidade de que a causa do evento danoso esteja relacionada com o com-portamento do agente.

Porém, há situações previstas no Código Civil nas quais há o rompi-mento do nexo de causalidade, afastando a responsabilidade civil do agen-te. São elas12: caso fortuito e força maior, culpa de terceiro e culpa exclusiva da vítima.

Por fim, para a caracterização da responsabilidade civil, deve a vítima ter sofrido um dano efetivo, seja este dano pequeno ou grande, individual ou coletivo, patrimonial ou não13.

Pode haver o dever de indenizar, também, em virtude de contrato firmado entre o profissional da contabilidade e seu cliente (responsabilidade civil contratual), bem como restrições ao referido dever, que normalmente haveria em se tratando de responsabilidade civil extracontratual14.

9 Embora não esteja prevista expressamente no art. 186, é tradicional o entendimento de que a imperícia está abrangida pela negligência, conforme GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: parte geral. 8. ed. São Paulo: Saraiva, v. 1, 2010. p. 502.

10 Situação prevista no art. 927, parágrafo único, do Código Civil, que preceitua o seguinte: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.

11 Há vários julgados nos quais o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul adotou tal entendimento, entre eles: TJRS, AC 70036920338, J. 10.12.2014; TJRS, AC 70068002930, J. 27.04.2016; TJRS, AC 70068637644, J. 10.11.2016.

12 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. 2. ed. rev. São Paulo: Saraiva, v. 2, 2005. p. 387.

13 COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit., p. 384.

14 Exemplo relevante para o presente estudo é a cláusula de não indenizar, na qual as partes estabelecem que determinados danos não serão indenizados, ou serão dentro de certos limites. Para maior aprofundamento, ver: COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit., p. 394-396.

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2.2 O prOfissiOnal da cOntabilidade na cOndiçãO de prepOstO

A atuação do profissional da contabilidade como preposto é objeto de regulação nos arts. 1.177 e 1.778 do Código Civil.

O primeiro dispositivo atribui ao profissional da contabilidade a con-dição de preposto em relação à escrituração da empresa. Os registros por ele lançados nos documentos de escrituração consideram-se realizados pelo próprio preponente, a menos que seja constatada má-fé na sua atua-ção. A respeito da responsabilidade civil, o parágrafo único estabelece ha-ver responsabilidade objetiva do preponente por danos causados a terceiros em decorrência de ato culposo. Nesse caso, caberá direito de regresso do preponente em face do preposto. Na hipótese de ato doloso do profissional da contabilidade, haverá responsabilidade solidária, cabendo, também, o direito do preponente exigir do preposto o reembolso das despesas decor-rentes da reparação dos danos causados a outrem15.

No segundo preceito legal, verifica-se que os atos praticados pelo preposto dentro do estabelecimento comercial da empresa presumem-se autorizados pelo preponente, ainda que não autorizados por escrito. Nesse caso, responderá o preponente pelos atos praticados pelo preposto dentro do estabelecimento. Acerca dos atos praticados fora do estabelecimento, o preponente somente responderá pelos atos do preposto que constem de forma expressa em documento ou instrumento de delegação de poderes16.

Portanto, a responsabilidade civil do profissional da contabilidade, também em relação à condição de preposto, é subjetiva17.

2.3 O danO mOral atribuídO aO prOfissiOnal da cOntabilidade

O dano moral decorre de uma lesão a um direito da personalidade18.

Questão de grande relevância é saber se a pessoa jurídica pode ou não pleitear reparação por danos morais. Em que pese a existência de diver-gência19, o Superior Tribunal de Justiça há muito firmou entendimento no sentido de que o ordenamento jurídico permite essa modalidade de inde-

15 DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. 15 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 805-806; e MATIELLO, Fabrício Zamprogna. Código Civil comentado. 5. ed. São Paulo: LTr, 2013. p. 733.

16 DINIZ, Maria Helena. Op. cit., p. 806-807.

17 Nesse sentido, ver os dois últimos julgados já mencionados na nota de rodapé nº 12.

18 Conforme TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 2. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. p. 453.

19 Entendendo que as pessoas jurídicas não são titulares de direitos da personalidade (o que não lhes permitiria pleitear indenização por danos morais): Enunciado nº 286 da IV Jornada de Direito Civil e Apelação Cível nº 70036920338, TJRS, J. 10.12.2014.

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nização20. Tal entendimento tem se confirmado em julgados recentes, nos quais se tem entendido, outrossim, que o dano moral sofrido por pessoa jurí-dica não é in re ipsa, sendo necessária a comprovação do prejuízo sofrido21.

No âmbito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, encontram-se casos nos quais houve o pleito de reparação por danos morais em face de profissionais da contabilidade, decorrentes de infrações por eles cometidas.

As decisões não indicam um entendimento uniforme por parte do Tribunal, havendo julgados nos seguintes sentidos: dano moral in re ipsa em virtude de danos ocasionados por conduta imperita (ambas as partes pessoas físicas)22; impossibilidade de a pessoa jurídica sofrer abalo moral in-denizável23; necessidade de comprovação de dano efetivo à honra subjetiva da pessoa jurídica24.

3 RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA

3.1 O enquadramentO legal dO prOfissiOnal da cOntabilidade nO ctn e Os requisitOs para a cOnfiguraçãO da respOnsabilidade tributária

A sujeição passiva tributária é tratada, pelo CTN, nos arts. 121 até 138, sendo todos estes de alta relevância para a temática da responsabilida-de tributária. Diante da amplitude do assunto, serão referidos os principais dispositivos que podem ser invocados em relação ao profissional da conta-bilidade, cuja análise permitirá aferir os requisitos para a atribuição de tal modalidade de responsabilidade jurídica.

3.1.1 Artigo 124 do Código Tributário Nacional

O art. 124 do CTN prevê as hipóteses de solidariedade tributária, quais sejam: interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal (inciso I) e designação expressa em lei (inciso II).

A primeira situação dificilmente poderá ser atribuída ao profissional da contabilidade, tendo em vista que se faz necessária a existência de um

20 Enunciado nº 227 da súmula do STJ, proveniente de julgamento ocorrido em 1999.

21 Entre outros, REsp 1.414.725 e REsp 1.637.629, julgados, respectivamente, em 08.11.2016 e 06.12.2016.

22 TJRS, AC 70039473988, J. 24.02.2011.

23 TJRS, AC 70036920338, J. 10.12.2014.

24 TJRS, AC 70068637644, J. 10.11.2016. Pela pesquisa realizada, constatou-se que se trata de entendimento predominante do TJRS, em consonância, portanto, com a jurisprudência do STJ.

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“interesse comum” no fato jurídico tributário, não sendo suficiente, por exemplo, um interesse meramente financeiro25.

A segunda possibilidade exige análise mais detida. A responsabiliza-ção mediante a aplicação dessa hipótese é limitada, não podendo o legisla-dor contrariar o CTN ou estabelecer solidariedade sobre quem não guarde relação com o fato gerador26, eis que o art. 128 do CTN exige a vinculação do sujeito a ser designado como responsável com o fato jurídico tributário, o que faz com que a solidariedade somente possa recair sobre quem pos-sa figurar como responsável. Assim sendo, não pode, por exemplo, haver previsão de solidariedade em lei ordinária em relação aos administradores sem o preenchimento dos requisitos do art. 135 do CTN27, uma vez que eles já possuem tratamento específico no referido Código. Conforme o art. 146, III, b, da Constituição Federal, cabe à lei complementar estabelecer normas gerais acerca do tema da obrigação tributária (que engloba a sujeição passi-va, na qual estão inseridas a solidariedade e a responsabilidade tributárias), o que acontece por meio do CTN, que possui status de lei complementar.

Por essa razão, deve o legislador ordinário observar os parâmetros do Código Tributário Nacional28. Em que pese a existência de entendimentos contrários29, tal compreensão prevalece nos âmbitos doutrinário30 e juris-prudencial31.

3.1.2 Artigo 135, inciso II, do Código Tributário Nacional

O dispositivo ora em análise inclui os prepostos como responsáveis tributários, quando agirem com excesso de poderes, infração de lei, contra-to social ou estatutos. A doutrina não aborda o referido dispositivo de forma

25 SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 604-605.

26 PAULSEN, Leandro. Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 12. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado; Porto Alegre: Esmafe, 2010. p. 930.

27 SCHOUERI, Luís Eduardo. Op. cit., p. 605. O mesmo entendido aplica-se ao profissional da contabilidade, também previsto no art. 135 do CTN (como preposto no inciso II).

28 SCHOUERI, Luís Eduardo. Op. cit., p. 605.

29 STJ, AgRg-REsp 410.080, J. 04.03.2004; e SARAIVA FILHO, Oswaldo Othon de Pontes. Responsabilidade do sócio quotista e de acionista controlador por débitos relativos à seguridade social. RFDT 20, mar./abr. 2006, apud PAULSEN, Leandro. Op. cit., p. 932.

30 MACHADO, Raquel Cavalcanti Ramos. Responsabilidade do sócio por créditos tributários lançados contra a pessoa jurídica – Os arts. 124, II, 134 e 135 do CTN, o art. 13 da Lei nº 8.620/93 e a razoabilidade. RDDT 114/84, mar. 2005, apud PAULSEN, Leandro. Op. cit., p. 930; SCHOUERI, Luís Eduardo. Op. cit., p. 605; HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário. 25. ed. atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2016. p. 662.

31 STJ, AgRg-REsp 946.509; STJ, REsp 757.065; e STJ, RE 562.276, julgados, respectivamente, em 20.09.2007, 28.09.2005 e 03.11.2010.

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muito aprofundada, sendo os estudos mais direcionados à hipótese prevista no inciso III32.

Contudo, as lições referentes aos arts. 124, II, 135 e 137, permitem que se chegue a uma conclusão adequada. Tendo em vista que a hipótese de maior complexidade é a questão que envolve a “infração de lei”, a aná-lise a seguir será feita exclusivamente em relação a ela.

Inicialmente, cumpre referir que a “lei” a que se refere o art. 135 é a lei que rege a atuação de cada um dos sujeitos elencados33. No caso do profissional da contabilidade, deverão ser observadas as leis que digam res-peito aos atos por ele praticados34. Parece ser esse o caso do já analisado art. 1.177 do Código Civil, que prevê, em seu parágrafo único, a responsa-bilidade solidária entre preposto e preponente perante terceiros em relação aos atos dolosos praticados pelo preposto. Dispositivo também relevante é o art. 1.182 do referido Código, que determina ser de responsabilidade do profissional da contabilidade a escrituração fiscal. Havendo a violação dos deveres previstos, poderá o profissional da contabilidade ser responsa-bilizado em âmbito tributário com base no inciso II do art. 135 do Código Tributário Nacional.

Ponto crucial é a definição do elemento anímico necessário e se o proveito econômico por parte do preposto é ou não condição para a atri-buição da responsabilidade prevista no art. 135, II, do CTN. Na doutrina, há quem sustente o entendimento de que é essencial a prova do dolo e do proveito pessoal em detrimento do representado35, bem como adeptos da compreensão de que não se faz necessário o dolo, tampouco vantagem pessoal do preposto em desfavor do representado, sendo o ato contrário à lei suficiente para a atribuição de responsabilidade36. Com o devido respei-to a ambos os entendimentos, revela-se mais adequada uma compreensão intermediária, por assim dizer, a qual, em virtude da limitação do presen-te estudo, será brevemente explicada. O art. 134 do CTN prevê hipóteses de responsabilidade decorrente da conjugação dos seguintes pressupostos:

32 PAULSEN, Leandro. Curso de direito tributário: completo. 6. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014. p. 166.

33 BECHO, Renato Lopes. Responsabilidade tributária de terceiros: CTN, arts. 134 e 135. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 101.

34 Conforme se depreende das lições de Misabel Derzi, constantes em: DERZI, Misabel Abreu Machado. Nota de atualização à obra de Aliomar Baleeiro. Direito tributário brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 756, apud PAULSEN, Leandro. Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. Op. cit., p. 971-972.

35 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de direito tributário brasileiro. 12. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 658.

36 Conforme se depreende das lições constantes em: SCHOUERI, Luís Eduardo. Op. cit., p. 645.

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impossibilidade de exigência do contribuinte37 e culpa do responsável38. O art. 135, por sua vez, prevê situação mais gravosa, decorrente de dolo do responsável. O art. 137, no inciso III, b (previsão expressa da figura do preposto), estabelece situações nas quais o agente atua em seu interesse pró-prio, até mesmo contra o interesse de seu representado, obtendo vantagem escusa39. É necessário, portanto, dolo específico em tais situações.

A partir disso, pode-se verificar, com base no CTN, uma espécie de graduação da gravidade das condutas, na seguinte ordem (crescente): art. 134, art. 135, II, e art. 137, II, b. Deste modo, não se mostra coerente atribuir os mesmos requisitos para a configuração de situações dotadas de diferentes “níveis” de gravidade, o que acaba acontecendo, entre outras possibilidades, caso se utilizem os seguintes entendimentos: mera culpa sendo suficiente para a configuração das hipóteses previstas nos arts. 134 (o que é correto) e 135, II (o que parece incorreto); necessidade de dolo e de proveito econômico para que ocorram as situações dispostas nos arts. 135, II (o que parece incorreto), e 137, II, b (o que é correto). Outrossim, mostra--se muito difícil, a partir dos elementos textuais do caput do art. 135, II, do CTN, a extração da compreensão da necessidade do proveito econômico em favor do preposto. Ainda, é importante ter em vista que o fundamento da responsabilidade tributária é o dever de colaboração com a Administração Tributária40. Por conseguinte, exigir-se o dolo específico de obtenção de vantagem indevida em detrimento do representado se revelaria excessivo, posto que tal situação vai muito além do descumprimento dos deveres de colaboração. Sendo estes o fundamento da responsabilidade tributária, é em relação ao seu descumprimento, tão somente, que deve ser demonstra-do o dolo por parte do responsável, sendo dispensável que se comprove, também, objetivo diverso41.

Por todos esses elementos, adota-se, na presente pesquisa, o enten-dimento de que, para a configuração da hipótese de responsabilidade tri-butária prevista no art. 135, II, do CTN, é necessária a comprovação da atuação dolosa do profissional da contabilidade, porém não é essencial que ele tenha obtido vantagem em razão disso42.

37 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Op. cit., p. 649.

38 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Op. cit., p. 655.

39 SCHOUERI, Luís Eduardo. Op. cit., p. 653.

40 PAULSEN, Leandro. Responsabilidade e substituição tributárias. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014. p. 165-173.

41 Nos casos do art. 137 do CTN, é necessária a demonstração de dolo específico, não bastando que o dever de colaboração tenha sido descumprido conscientemente. Assim o é, contudo, por exigência expressa na norma.

42 Em caso levado à apreciação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, o órgão entendeu ser correta a atribuição de responsabilidade tributária (art. 135, II, do CTN) a profissional cuja participação voluntária

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3.1.3 A definição do enquadramento legal

O TRF da 4ª Região43 já proferiu julgamento no sentido de que o art. 1.177 do Código Civil justifica a solidariedade prevista no art. 124, II, do CTN. Em que pese, em princípio, não parecer entendimento dotado de equívoco flagrante, a responsabilidade do profissional da contabilidade en-contra previsão em normas específicas, quais sejam: arts. 135, II, e 137, III, b (que se refere ao preposto, ou até mesmo em outra hipótese prevista neste artigo).

Assim sendo, a norma mais específica deve ser utilizada. A esta com-preensão, presente em todos os ramos do Direito, deve ser aliado o enten-dimento doutrinário do direito tributário, no sentido de que as hipóteses de responsabilidade tributária já reguladas pelo Código Tributário Nacional não podem ser alteradas por lei ordinária44.

4 RESPONSABILIDADE PENAL

4.1 crimes imputáveis aO prOfissiOnal da cOntabilidade em razãO dO exercíciO de suas atividades

São diversas as hipóteses de crimes que podem ser cometidos pelo profissional da contabilidade, podendo ser citados, como principais, os se-guintes: 1) apropriação indébita, inclusive com pena majorada (art. 168, § 1º, III, do CP); 2) falso testemunho ou falsa perícia (art. 342 do CP); 3) so-negação de contribuição previdenciária (art. 337-A do CP); 4) crimes contra a ordem tributária (arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137/1990). Tendo em vista que os crimes contra a ordem tributária são aqueles que geram maiores debates e aparecem com maior frequência nos casos levados à Juízo, serão mais detidamente analisados a seguir.

A respeito do art. 1º da Lei nº 8.137/1990, é importante ressaltar, inicialmente, que não basta a ocorrência de uma das condutas descritas

e consciente em esquema fraudulento utilizado pela empresa restou comprovada nos autos, o que está em consonância com o posicionamento defendido na presente pesquisa. Para mais detalhes, ver: Recurso de Ofício e Voluntário, Processo nº 10840.723012/2011-38, Acórdão nº 1302-001.705, CARF, J. 25.03.2015.

43 TRF 4ª R., EI 5018338-60.2015.4.04.0000, J. 05.05.2016. Ressalta-se, com a devida vênia, que há falta de clareza ou confusão na interpretação dos institutos da responsabilidade tributária, eis que, no referido julgado, há a afirmação de que o art. 124, II, do CTN estabelece a responsabilidade “pessoal e direta” das pessoas designadas em lei. O que há, em verdade, é a atribuição de solidariedade. Não se desconhece o fato de que parcela da doutrina, em relação ao art. 135 do CTN, entende que a responsabilidade “pessoal” gera o efeito da solidariedade (conforme já referido neste estudo). Caso o TRF da 4ª Região tenha entendido assim, a decisão não estaria incorreta. Ainda assim, seria mais adequado mencionar de forma expressa o termo “solidariedade”, a fim de evitar dificuldades de interpretação.

44 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários ao Código Tributário Nacional. São Paulo: Saraiva, v. 2, 1998. p. 215, apud PAULSEN, Leandro. Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. Op. cit., p. 950.

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nos incisos I a V, mas que, de tais condutas, ocorra a supressão ou redução de tributo. É, portanto, crime material45. O elemento subjetivo é o dolo, consubstanciado na vontade de realizar uma das condutas previstas na lei, acrescido da especial finalidade de reduzir ou suprimir tributo46.

Analisando-se as hipóteses descritas nos incisos I a V, é possível veri-ficar a previsão de condutas comissivas (incisos I a IV) e omissivas (incisos I e V). Em relação às últimas, não se admite a tentativa47, ao passo que, acerca das primeiras, apesar de se tratar de questão polêmica, é possível a ocorrên-cia do crime na forma tentada, eis que os crimes contra a ordem tributária, via de regra, são plurissubsistentes, sendo necessária mais de uma conduta para a consumação48.

O art. 2º da Lei nº 8.137/1990, por sua vez, não exige a ocorrência de omissão ou supressão de tributos. Há, apenas, a necessidade de ocorrer uma das condutas previstas ao longo dos incisos I a V. Portanto, diversamente do que se verificou em relação ao art. 1º, trata-se de crime formal, cuja con-sumação acontece com a simples realização do comportamento previsto, independentemente da ocorrência do resultado naturalístico49. O elemento subjetivo é, também, o dolo.

Acerca das condutas previstas na norma, percebe-se, também, casos de omissão (inciso I) e casos de ação (todos os incisos). A omissão, como já se mencionou, não admite tentativa. As condutas comissivas, por outro lado, ainda que esteja a se tratar de crime formal, admitem a figura do crime tentado, em razão da característica da plurissubsistência, acima referida.

Nos crimes contra a ordem tributária, normalmente o profissional da contabilidade, quando denunciado, ocupa a posição de coautor juntamente com o administrador da empresa, eis que este, na grande maioria dos casos, tem, no mínimo, participação relevante no fato criminoso.

4.2 a necessidade dO dOlO específicO

Consoante se explicou acima, deve ser constatado o dolo do agente a fim de que se configure a conduta criminosa, não podendo haver a res-

45 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: legislação penal especial. 8. ed. São Paulo: Saraiva, v. 4, 2013. p. 622-623.

46 CAPEZ, Fernando. Op. cit., p. 624.

47 CAPEZ, Fernando. Op. cit., p. 625.

48 HARADA, Kiyoshi; MUSUMECCI FILHO, Leonardo; POLIDO, Gustavo Moreno. Crimes contra a ordem tribu­tária. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 158-167; e STJ, HC 18.952, J. 17.12.2002.

49 CAPEZ, Fernando. Op. cit., p. 632.

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ponsabilização criminal em virtude, por exemplo, de mera falha técnica na escrituração contábil.

Deve ser um dolo específico, o que leva a crer que, até prova em con-trário, o profissional da contabilidade não deve ser responsabilizado crimi-nalmente em virtude de sua atuação profissional, na medida em que elabora as declarações de acordo com as orientações e a partir dos documentos fornecidos pelo cliente ou empregador. Em outras palavras, ao menos em princípio, quem decide pela prática delituosa é o cliente ou empregador (seja pessoa física ou jurídica, na figura de seu administrador), não o profis-sional da contabilidade50.

Não é necessário, por outro lado, que o profissional da contabilida-de tenha obtido alguma vantagem (v.g., econômica) em virtude do delito, sendo suficiente a presença do dolo. Se o profissional da contabilidade tiver ciência da existência de, por exemplo, simulação por parte do seu cliente e, mesmo assim, elabora e assina a escrituração contábil, poderá responder por crime contra a ordem tributária51.

Questão relevante e que possui relação com o presente ponto é o en-tendimento atual do Supremo Tribunal Federal em relação à exigência de, nos crimes societários, haver a indicação pormenorizada dos fatos imputa-dos a cada denunciado. A jurisprudência do STF, que em diversos julgados admitiu a mitigação de tal exigência, foi alterada, de modo que, atualmente, faz-se necessária a descrição individual das condutas supostamente pratica-das, a fim de permitir a defesa efetiva de cada um dos acusados52.

Vale ressaltar que há casos nos quais o profissional da contabilida-de é incluído como coautor, juntamente com os administradores, por ser “totalmente possível que o contador da empresa contribua para a prática criminosa”53. O entendimento atual do STF acerca dessa questão, ao que tudo indica, impedirá que a mera possibilidade de contribuição para prática de crime justifique a condição de coautor, sendo necessária a descrição da conduta específica adotada pelo profissional da contabilidade.

4.3 nOrmas de cOmpliance e a respOnsabilidade administrativa dO prOfissiOnal da cOntabilidade

As normas de compliance, já tratadas neste estudo, especialmente a Lei nº 9.613/1998, têm ampla relação com o tema da responsabilidade

50 TRF 4ª R., Apelação Criminal nº 500504374.2012.4.04.7205, J. 01.02.2017.

51 STJ, RHC 305, J. 06.02.1990.

52 STF, HC 127.415, J. 13.09.2016.

53 STJ, HC 13.170, J. 13.11.2000.

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penal. Além de prever as condutas que configuram os crimes de lavagem de dinheiro, a referida lei institui, ao profissional da contabilidade, uma série de deveres de prestação de informações referentes a atos praticados por seus clientes, de modo a que ele atue como um cooperador em relação aos mecanismos de controle. Tudo isso visa a prevenir e a combater os crimes de lavagem de dinheiro.

É importante destacar que a Lei de Lavagem de Dinheiro não respon-sabiliza criminalmente o profissional da contabilidade que não cumprir as obrigações de cooperação. Tal responsabilidade se dá em âmbito adminis-trativo, cujas sanções estão previstas no art. 12, sendo aplicáveis ao profis-sional da contabilidade as seguintes: advertência (inciso I), multa pecuniária (inciso II) e cassação ou suspensão de autorização para o exercício de ativi-dade, operação ou funcionamento (inciso IV).

CONCLUSÃO

Após a realização do presente estudo, verificou-se que a profissão contábil é bastante complexa, sendo muitas as obrigações (deveres e proibi-ções) atinentes à profissão, merecendo destaque as normas de compliance, as quais atribuem uma série de obrigações de informação e cooperação ao profissional da contabilidade, que deve agir em prol do Poder Público na busca de combate e prevenção de determinados delitos. Do descumprimen-to das obrigações decorrem as infrações passíveis de cometimento, o que pode acarretar na responsabilização jurídica do profissional contábil nas diversas searas do Direito.

Além disso, constatou-se que a profissão é amplamente regulamen-tada pelo Conselho Federal de Contabilidade, o que exige do profissional da contabilidade um acompanhamento constante das resoluções emitidas pelo órgão, a fim de que o exercício profissional ocorra de forma segura e de acordo com os padrões das normas nacionais e internacionais de con-tabilidade. Em termos de lei ordinária, cabe destacar o Código Civil, que apresenta uma série de artigos que tratam do profissional da contabilidade (arts. 1.177 e 1.178) e da escrituração contábil (arts. 1.179 até 1.195).

No que se refere à responsabilidade jurídica do profissional da con-tabilidade, foram abordadas as searas civil, tributária e penal, de modo a abranger as questões mais presentes no cotidiano da profissão, sem adentrar em temas mais específicos, o que não caberia no presente estudo (como seria o caso da responsabilidade ético-disciplinar e as situações envolvendo recuperação judicial e falência).

Acerca da responsabilidade civil, viu-se que é bastante ampla, respon-dendo o profissional da contabilidade por atos dolosos ou culposos. Ademais,

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verificou-se que a configuração de dano moral decorrente de infração cometi-da pelo profissional da contabilidade, em que pese não estar plenamente pa-cificada, possui, na jurisprudência pátria, forte indicativo no sentido de que, sendo a vítima pessoa jurídica, dependerá da demonstração do dano efetivo à honra subjetiva. Sendo a vítima pessoa física, trata-se de dano in re ipsa.

A responsabilidade tributária, como se viu, é tema espinhoso. Consta-tou-se haver intensa divergência doutrinária e jurisprudencial sobre o tema. Apesar disso, foi possível concluir-se que a responsabilidade tributária do profissional da contabilidade exige a comprovação de dolo. Ainda que se tenha chegado a uma conclusão, ressalta-se que a temática merece estudo específico, tarefa que se pretende realizar em momento posterior.

No âmbito penal, verificou-se que são muitas as condutas criminosas passíveis de atribuição ao profissional da contabilidade em virtude do exer-cício da profissão. Foram analisados os crimes contra a ordem tributária, que ocupam com mais frequência os espaços do Poder Judiciário e que geram maiores debates.

Notou-se que, em determinadas situações (art. 1º da Lei nº 8.137/1990), é necessária a supressão ou redução de tributos em virtude da conduta pre-vista na norma, ao passo que, em outras situações (art. 2º da referida lei), tal requisito não se faz presente, configurando-se hipótese de crime formal. A responsabilização pode ocorrer por meio de atos comissivos ou omissi-vos. Em qualquer caso, é necessário o dolo para a caracterização do delito. Importante salientar que a tentativa, em princípio, é possível em qualquer caso, com exceção das condutas omissivas.

Ainda em relação à esfera penal, foi salientado que as normas de compliance, apesar de preverem condutas ilícitas e até mesmo criminosas, não atribuem responsabilidade criminal às pessoas obrigadas a colaborar com o Poder Público, mas sim responsabilidade administrativa. Isso se veri-fica, por exemplo, no Capítulo VIII (Da Responsabilidade Administrativa) da Lei nº 9.613/1998, que é a mais relevante norma de compliance em relação ao profissional da contabilidade.

Por fim, pretendeu-se, por meio do presente estudo, oferecer uma vi-são ampla e bem fundamentada a respeito da responsabilidade jurídica do profissional da contabilidade. Conforme se tem verificado, especialmente por meio das normas de compliance, a classe contábil está cada vez mais exposta a ser responsabilizada em virtude de atos praticados por seus clien-tes. Utilizando o conteúdo exposto neste trabalho, bem como em outros es-tudos envolvendo a temática, poderá o profissional da contabilidade com-preender e, principalmente, evitar os riscos aos quais está submetido em virtude do exercício profissional.

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HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário. 25. ed. atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2016.

______; MUSUMECCI FILHO, Leonardo; POLIDO, Gustavo Moreno. Crimes contra a ordem tributária. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 31. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Malheiros, 2010.

MATIELLO, Fabrício Zamprogna. Código Civil comentado. 5. ed. São Paulo: LTr, 2013.

PAULSEN, Leandro. Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurispru-dência. 12. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado; Porto Alegre: Esmafe, 2010.

______. Curso de direito tributário: completo. 6. ed. Porto Alegre: Livraria do Advoga-do, 2014.

______. Responsabilidade e substituição tributárias. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014.

REIS, Renata Toledo. O custo das obrigações acessórias nas empresas tributadas pelo lucro real na grande São Paulo. Revista Pensamento & Realidade, v. 30, n. 3, 2015.

60 ���������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – DOUTRINA

Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/pensamentorealidade/article/viewFile/20300/18741>. Acesso em: 11 maio 2017.

SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 2. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012.

Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

13627

Supremo Tribunal Federal11.12.2017 Primeira TurmaAgRg no Recurso Extraordinário nº 1.056.756 PernambucoRelatora: Min. Rosa WeberAgte.(s): Município de ItapissumaAdv.(a/s): Moacir Alfredo Guimarães NetoAdv.(a/s): Marcelo Trajano Alves BarrosAgdo.(a/s): UniãoProc.(a/s)(es): Procurador‑Geral da Fazenda Nacional

ementa

DIREITO TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS – BASE DE CÁLCULO – CARÁTER INFRACONSTITUCIONAL DA MATÉRIA – EXTRAORDINÁRIO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO CPC/1973 – ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS ARTS. 146 E 150, I, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REELABORAÇÃO DA MOLDURA FÁTICA – PROCEDIMENTO VEDADO NA INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA – AGRAVO MANEJADO SOB A VIGÊNCIA DO CPC/2015

1. Obstada a análise da suposta afronta aos preceitos constitucionais invocados, porquanto dependeria de prévia análise da legislação in-fraconstitucional aplicada à espécie, procedimento que refoge à com-petência jurisdicional extraordinária desta Corte Suprema, a teor do art. 102 da Magna Carta.

2. As razões do agravo não se mostram aptas a infirmar os fundamen-tos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à ausência de ofensa a preceito da Constituição da República.

3. Majoração em 10% (dez por cento) dos honorários anteriormente fixados, obedecidos os limites previstos no art. 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC/2015, ressalvada eventual concessão do benefício da gratuidade da Justiça.

4. Agravo interno conhecido e não provido, com aplicação da pena-lidade prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015, calculada à razão de 1% (um por cento) sobre o valor atualizado da causa.

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acÓrdãO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal em conhecer do agravo e negar-lhe provimento, nos termos do voto da Relatora e por unanimidade de votos, em sessão vir-tual da Primeira Turma de 1º a 07 de dezembro de 2017, na conformidade da ata do julgamento. Aplicada a penalidade prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015. Majorados os honorários anteriormente fixados, obedecidos os limites previstos no art. 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC/2015, ressalvada eventual concessão do benefício da gratuidade da Justiça.

Brasília, 11 de dezembro de 2017.

Ministra Rosa Weber Relatora

relatÓriO

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): A decisão por mim profe-rida, pela qual negado seguimento ao recurso extraordinário, restou desa-fiada por agravo interno.

Na minuta, impugna-se a decisão agravada ao argumento de que de-monstrada, na hipótese, a afronta direta dos preceitos da Lei Maior indi-cados nas razões recursais. Reitera-se a afronta aos arts. 146 e 150, I, da Constituição Federal.

O Colegiado de origem julgou a controvérsia em decisão cuja ementa reproduzo:

“TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – TRANSPORTADO-RES AUTÔNOMOS – ART. 22, III, DA LEI Nº 8.212/1991 – BASE DE CÁL-CULO – PORTARIA Nº 1.135/2001 – LEGALIDADE – PRECEDENTE DO STJ – 1. Sentença que julgou improcedente pedido de declaração de inexistência de relação jurídico-tributária, consistente na cobrança de contribuição pre-videnciária prevista no art. 12, V, g, da Lei nº 8.212/1999 sobre os valores pagos aos transportadores autônomos pelo frete ou transporte de pessoas. A Primeira Seção do STJ reconhece a legalidade do art. 201, § 4º, do Decreto nº 3.048/1999 e da Portaria 2.MPAS nº 1.135/2001, ao fundamento de que tais atos normativos não afrontam o princípio da legalidade, pois foram edi-tados apenas para esclarecer no que consiste a remuneração do trabalhador autônomo, sobre a qual deverá incidir a contribuição previdenciária, nos termos do art. 22, III, da Lei nº 8.212/1991, ressalvando tão somente sua não incidência no prazo nonagesimal. (STJ, EDcl-AREsp 404573/SC, 2ª T., Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 19/03/2014). Apelação improvida.”

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ���������������������������������������������������������������� 63

Recurso extraordinário interposto na vigência do CPC/1973.

Agravo manejado sob a égide do CPC/2015.

É o relatório.

vOtO

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Preenchidos os pressupos-tos genéricos, conheço do agravo e passo ao exame do mérito.

Irrepreensível a decisão agravada.

Consoante asseverado, no caso, a suposta afronta aos preceitos cons-titucionais indicados nas razões recursais somente poderia ser constatada a partir da análise da legislação infraconstitucional apontada no apelo extre-mo, o que torna oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, portanto, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário.

Dessarte, desatendida a exigência do art. 102, III, a, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência deste egrégio Supremo Tribunal Federal. Aplicação da Súmula nº 636/STF: “Não cabe recurso extraordi-nário por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infra-constitucionais pela decisão recorrida.” Nesse sentido: RE 634315/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 04.12.2013; e RE 816414/RS, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 26.09.2016, verbis:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO – TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PRE-VIDENCIÁRIA – TRANSPORTADOR AUTÔNOMO – BASE DE CÁLCU-LO – REFORMATIO IN PEJUS – NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS – IMPOSSIBILIDADE – SÚMULA Nº 279 DO STF – MATÉRIA DE ÍNDOLE INFRACONSTITUCIO-NAL – OFENSA INDIRETA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL – PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA, DO CONTRADITÓRIO E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL – MATÉRIA COM REPERCUSSÃO GERAL REJEITADA PELO PLENÁRIO DO STF NO ARE 748.371 – RECURSO DESPROVIDO.”

De mais a mais, o Tribunal de origem, na hipótese em apreço, las-treou-se na prova produzida para firmar seu convencimento, razão pela qual aferir a ocorrência de eventual afronta aos preceitos constitucionais invocados no apelo extremo exigiria o revolvimento do quadro fático deli-neado, procedimento vedado em sede extraordinária. Aplicação da Súmula nº 279/STF: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordi-nário.”

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Nesse sentir, constato que as razões do agravo não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada.

De outro lado, cumpre destacar que a garantia de prestação juris-dicional em tempo razoável, decorrência lógica da dignidade da pessoa humana, fundamento da República Federativa do Brasil, passou a figurar, de forma explícita, entre as cláusulas pétreas, a partir da Emenda Cons-titucional nº 45/2004, quando inserido o inciso LXXVIII no art. 5º da Lei Maior. Ressalte-se que a proteção contida no referido dispositivo não se di-rige apenas às partes, individualmente consideradas, estendendo-se a todos os usuários do Sistema Judiciário, porquanto beneficiados pelo desafogo dos Tribunais Pátrios.

Se a parte, ainda que não interessada na postergação do desenlace da demanda, utiliza a esmo o instrumento processual colocado à sua dis-posição quando já obteve uma prestação jurisdicional completa, todos os demais jurisdicionados são virtualmente lesados no seu direito à prestação jurisdicional célere e eficiente.

A utilização indevida das espécies recursais, consubstanciada na interposição de recursos manifestamente inadmissíveis, improcedentes ou contrários à jurisprudência desta Suprema Corte como mero expediente protelatório, desvirtua o próprio postulado constitucional da ampla defesa e configura abuso do direito de recorrer, a ensejar a aplicação da penalidade prevista no art. 1021, § 4º, do CPC, calculada à razão de 1% (um por cento) sobre o valor atualizado da causa, se unânime a votação. Nesse sentido: ARE 951.191-AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª T., DJe 23.06.2016; e ARE 955.842-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, 2ª T., DJe 28.06.2016.

Agravo interno conhecido e não provido, com aplicação da penalida-de prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015, calculada à razão de 1% (um por cento) sobre o valor atualizado da causa, se unânime a votação.

Majoro, ainda, em 10% (dez por cento) os honorários anteriormen-te fixados, obedecidos os limites previstos no art. 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC/2015, ressalvada eventual concessão do benefício da gratuidade da Justiça.

É como voto.

primeira turma extratO de ata

AgRg no Recurso Extraordinário nº 1.056.756Proced.: Pernambuco

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Relatora: Min. Rosa WeberAgte.(s): Município de ItapissumaAdv.(a/s): Moacir Alfredo Guimarães Neto (20609/PE)Adv.(a/s): Marcelo Trajano Alves Barros (23449/BA, 01236/PE)Agdo.(a/s): UniãoProc.(a/s)(es): Procurador-Geral da Fazenda Nacional

Decisão: A Turma, por unanimidade, conheceu do agravo e negou--lhe provimento, com aplicação da penalidade prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015, e com majoração dos honorários anteriormente fixados, obedecidos os limites previstos no art. 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC/2015, ressalvada eventual concessão do benefício da gratuidade da justiça, nos termos do voto da Relatora. Primeira Turma, Sessão Virtual de 01.12.2017 a 07.12.2017.

Composição: Ministros Marco Aurélio (Presidente), Luiz Fux, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.

Disponibilizou processos para esta Sessão o Ministro Edson Fachin, não tendo participado do julgamento desses feitos o Ministro Alexandre de Moraes por sucedê-lo na Primeira Turma.

Carmen Lilian Oliveira de Souza Secretária da Primeira Turma

Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

13628

Superior Tribunal de JustiçaRecurso Especial nº 1.141.142 – SP (2009/0096063‑7)Relator: Ministro Og FernandesRecorrente: Portopar Distribuidora de Títulos e Valores MobiliáriosAdvogados: Rubens Jose Novakoski F. Velloza – SP110862

Luiz Eduardo de Castilho Girotto – SP124071Recorrido: Município de São PauloProcurador: Denise Perez de Almeida e outro(s) – SP084240

ementa

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – RECURSO ESPECIAL – ISS – ART. 535, II, DO CPC/1973 – AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO – ISS – LISTA ANEXA – ENQUADRAMENTO – NECESSIDADE DE ANÁLISE DO CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO – INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7/STJ

1. Inexiste contrariedade ao art. 535, II, do CPC/1973 quando o Tri-bunal de origem decide fundamentadamente todas as questões postas ao seu exame. Ademais, não se deve confundir decisão contrária aos interesses da parte com ausência de prestação jurisdicional.

2. O Tribunal de origem, soberano na análise das provas, afirmou que a sociedade empresária, recorrente, exerce atividade sujeita à incidência do ISS.

3. Para afastar o entendimento a que chegou a Corte a quo, de modo a albergar as peculiaridades do caso e verificar se as atividades não se enquadram no item 50 da Lei Complementar nº 57/1986, como sus-tentado neste apelo, é necessário o revolvimento do acervo fático-pro-batório dos autos, o que se mostra inviável em recurso especial por óbice da Súmula nº 7/STJ: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”. Precedente: AgRg-REsp 1.464.576/SP, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 09.11.2015.

4. Não é possível o conhecimento do especial interposto por diver-gência jurisprudencial na hipótese em que o dissídio é apoiado em fatos e não na interpretação de lei federal, uma vez que o óbice da Súmula nº 7/STJ também se aplica aos recursos especiais maneja-dos pela alínea c do permissivo constitucional. Precedente: AgInt--REsp 1.650.870/RO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., DJe 27.09.2017.

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ���������������������������������������������������������������� 67

5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, não provido.

acÓrdãO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa parte, negar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães, Francisco Falcão (Presidente) e Herman Benjamin votaram com o Sr. Ministro Relator.

Dra. Gabriela Gonçalves Carneiro, pela parte recorrente: Portopar Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários.

Brasília, 05 de dezembro de 2017 (data do Julgamento).

Ministro Og Fernandes Relator

certidãO de JulgamentO segunda turma

Número Registro: 2009/0096063-7

Processo Eletrônico REsp 1.141.142/SP

Números Origem: 19461998 194698 200802079954 5124535 5124535903 53984292809

Em Mesa Julgado: 21.11.2017

Relator: Exmo. Sr. Ministro Og Fernandes

Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Francisco Falcão

Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. José Elaeres Marques Teixeira

Secretária: Belª Valéria Alvim Dusi

autuaçãO

Recorrente: Portopar Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários

Advogado: Luiz Eduardo de Castilho Girotto e outro(s) – SP124071

Recorrido: Município de São Paulo

Procurador: Denise Perez de Almeida e outro(s) – SP084240

Assunto: Direito tributário – Impostos – ISS – Imposto sobre Serviços

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certidãO

Certifico que a egrégia Segunda Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

“Adiado por indicação do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”

certidãO de JulgamentO segunda turma

Número Registro: 2009/0096063-7

Processo Eletrônico REsp 1.141.142/SP

Números Origem: 19461998 194698 200802079954 5124535 5124535903 53984292809

Em Mesa Julgado: 21.11.2017

Relator: Exmo. Sr. Ministro Og Fernandes

Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Francisco Falcão

Subprocuradora-Geral da República: Exma. Sra. Dra. Mônica Nicida Garcia

Secretária: Belª Valéria Alvim Dusi

autuaçãO

Recorrente: Portopar Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários

Advogado: Luiz Eduardo de Castilho Girotto e outro(s) – SP124071

Recorrido: Município de São Paulo

Procurador: Denise Perez de Almeida e outro(s) – SP084240

Assunto: Direito tributário – Impostos – ISS – Imposto sobre Serviços

certidãO

Certifico que a egrégia Segunda Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

“Retirado de Pauta por indicação do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”

relatÓriO

O Sr. Ministro Og Fernandes: Trata-se de recurso especial interposto por Portopar Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, com base nas alíneas a e c do inciso III do art. 105 da CF/1988, contra acórdão proferido

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ���������������������������������������������������������������� 69

pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, assim ementado (e-STJ, fl. 618):

AGRAVO RETIDO – Questões preliminares. Natureza do tributo discutido. Inépcia da inicial. Recurso desprovido.

Imposto sobre Serviços – ISS. Atividade de intermediação desenvolvida por empresas de corretagem na Bolsa de Mercadorias & Futuros. Enquadramento no item 50 da lista anexa à Lei Complementar nº 56/1987. Incidência do Tributo. Recursos voluntário e ex officio providos.

Os embargos de declaração (e-STJ, fls. 630/642) foram rejeitados, nos termos da decisão de e-STJ, fls. 646/651.

A recorrente alega, nas razões do especial, existência de contrarieda-de ao art. 535, II, do CPC/1973, bem como aos itens 46, 50, 95 e 96 da Lista de Serviços da Lei Complementar nº 56/1987.

Defende, em síntese, que o acórdão deixou de pronunciar-se sobre: a diferenciação das atividades desenvolvidas por uma distribuidora de títulos e valores mobiliários e das praticadas por corretora de mercadorias; o fato de a corretora não estar submetida à disciplina do Banco Central; a não incidência do ISS, pois a recorrente é instituição financeira; e a taxatividade das atividades bancárias sujeitas à incidência do imposto.

Sustenta, ainda, que não atua na bolsa de mercadorias e futuros, por-quanto é uma distribuidora de títulos e valores mobiliários, e que, em virtu-de de exercer atividade vinculada ao Banco Central, não está sujeita ao ISS.

Por fim, aponta haver divergência jurisprudencial acerca do tema.

Apresentadas contrarrazões às e-STJ, fls. 727/736.

Admitido o recurso especial na origem (e-STJ, fls. 764/765), foram os autos remetidos a esta Corte de Justiça.

É o relatório.

vOtO

O Sr. Ministro Og Fernandes (Relator): Registro, de logo, que não merece prosperar a tese de violação do art. 535 do CPC/1973, porquanto o acórdão recorrido fundamentou, claramente, o posicionamento por ele assumido, de modo a prestar a jurisdição que lhe foi postulada.

É o que se depreende da leitura dos seguintes trechos do voto condu-tor do aresto impugnado (e-STJ, fl. 620):

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As empresas que atuam na intermediação de tais negócios nas Bolsas de Futuros não necessitam de autorização do Banco Central para o seu fun-cionamento, por não serem consideradas instituições financeiras; logo, há incidência do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISSQN, por-tanto sobre os negócios realizados pela apelada incide o ISS, e também se amoldam à hipótese de incidência prevista no item 50 da Lista de Serviços editada pela Lei Complementar nº 56/1987, ao estabelecer: “agenciamento, corretagem ou intermediação de bens móveis e imóveis não abrangidos nos itens 45, 46, 47 e 48”.

Aliás, ensina Walter Gaspar, ao discorrer sobre o aludido item 50, que: “qualquer tipo de corretagem pode ser aqui enquadrada” (cf. ISS Teoria e prática. 2. ed., rev. e atual. Editora Lumen Juris, p. 226).

Sendo assim, não há que se falar em omissão, obscuridade ou contra-dição do aresto. O fato de o Tribunal a quo haver decidido a lide de forma contrária à defendida pela parte recorrente, elegendo fundamentos diversos daqueles por ela propostos, não configura omissão ou qualquer outra causa passível de exame mediante a oposição de embargos de declaração.

No aspecto:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA – INFRAÇÃO À OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA – AUSÊNCIA DE ESCRITURAÇÃO DO MOVIMENTO FINANCEIRO – MULTA – REVISÃO DO VALOR – SÚMULA Nº 7/STJ

1. A solução integral da controvérsia, com fundamento suficiente, não carac-teriza ofensa ao art. 535 do CPC.

2. O acórdão recorrido consignou: “De forma que, com os livros fiscais de-vidamente registrados o Município tem possibilidade de averiguar as carac-terísticas dos serviços e desta feita, concluir pelo pagamento do ISS; mas a ausência do registro dificulta o procedimento fiscalizatório e, por conse-qüência, pode gerar multa, posto que se trata de obrigações distintas, a pri-meira é de manter os livros fiscais, possibilitando a fiscalização; a segunda é a obrigação de pagar o imposto, caso seja devido e, sendo assim, não é pelo fato do contribuinte não estar jungido ao pagamento do tributo que também não estaria obrigado a escriturar os livros fiscais”. Rever essa conclusão es-barra no óbice da Súmula nº 7/STJ.

3. O STJ possui o entendimento de que “a obrigação acessória prevista no art. 113, § 2º c/c art. 115, do CTN, constitui dever instrumental, independente da obrigação principal, e subsiste, ainda que o tributo seja declarado incons-titucional, principalmente para os fins de fiscalização da Administração Tri-butária” (AgRg-Ag 1.138.833/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª T., DJe 06.10.2009).

4. Agravo Regimental não provido.

(AgRg-AREsp 783.791/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., DJe 05.02.2016)

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ���������������������������������������������������������������� 71

De outra parte, afirmou o Tribunal de origem que a sociedade empre-sária, recorrente, exerce atividade sujeita à incidência do ISS.

Confira-se (e-STJ, fl. 621):

“Os contratos e os títulos são espécies diferentes de negócios; estes unilate-rais, aqueles bilaterais.”

“No magistério de Pontes de Miranda, diferença entre o negócio jurídico unilateral e o contrato é que aquele se basta (subscrição do titulo, promessa) e nesse se faz necessária a vontade de outrem que aceite a oferta” (Tratado de Direito Privado, Editora Borsoi, Rio de Janeiro, 1971, tomo XXXII, p. 136).

“Quando as partes ajustam a compra e venda de mercadorias, ou a cessão dessa avença, tem-se, respectivamente, um contrato e uma cessão de contra-to – nunca um título ou uma transferência de título.”

“A expressão ‘venda de contrato utilizada nos mercados futuros’ – escreveu Nelson Eizirik (Aspectos Jurídicos dos Mercados Futuros, in Revista de Di-reito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, nº 81, p. 27) – ‘signifi-ca precisamente a possibilidade, sempre existente, de reversão de posições. Juridicamente, estamos diante do instituto da cessão de contratos, regulado pelo Código Civil Italiano (arts. 1.406 a 1.410) e que vem sendo admitido na doutrina pátria (Dimas de Oliveira César, estudo sobre a Cessão de Contrato, São Paulo, Ed. RT, 1954). No mesmo sentido, Luiz Gastão Paes de Barros Leães (Liquidação Compulsória de Contratos Futuros, in Revista dos Tribu-nais, v. 675, p. 47)’.

A hipótese, portanto, é aquela prevista no art. 50 da Lista editada pela Lei Complementar nº 56, de 1967, in verbis: [...]”

Para afastar o entendimento a que chegou a Corte a quo, de modo a albergar as peculiaridades do caso e verificar se as atividades não se enqua-dram no item 50 da Lei Complementar nº 57/1986, como sustentado neste apelo, é necessário o revolvimento do acervo fático-probatório dos autos, o que se mostra inviável em recurso especial por óbice da Súmula nº 7/STJ: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”.

A propósito:

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL – VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC – INEXISTÊNCIA – DEVIDO ENFRENTAMENTO DAS QUESTÕES RECUR-SAIS – CDA – REQUISITOS DE VALIDADE – AUTO DE INFRAÇÃO – NU-LIDADE – REEXAME DE FATOS E PROVAS – IMPOSSIBILIDADE – INCI-DÊNCIA DA SÚMULA Nº 7/STJ – ISS – SERVIÇOS BANCÁRIOS – LISTA DE SERVIÇOS – TAXATIVIDADE – INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA – ART. 543-C DO CPC – ENQUADRAMENTO – REVOLVIMENTO DE MATÉRIA FÁTICO--PROBATÓRIA – IMPOSSIBILIDADE – INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7/STJ

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– HONORÁRIOS – SUCUMBÊNCIA MÍNIMA OU RECÍPROCA – REVISÃO – IMPOSSIBILIDADE – SÚMULA Nº 7/STJ

1. Inexiste violação do art. 535 do CPC quando a prestação jurisdicional é dada na medida da pretensão deduzida, com enfrentamento e resolução das questões abordadas no recurso.

2. Nos termos da jurisprudência pacífica desta Corte, a “aferição da certeza e liquidez da CDA, bem como da presença ou não dos requisitos essenciais à sua validade implica reexame do conjunto fático-probatório dos autos, o que é vedado, nesta instância especial, em face do óbice constante da Súmula nº 7/STJ” (AgRg-AREsp 326.868/RJ, Relª Min. Assusete Magalhães, 2ª T., jul-gado em 02.09.2014, DJe 11.09.2014).

3. A jurisprudência do STJ sedimentou-se no sentido de que a Lista de Servi-ços anexa ao Decreto-Lei nº 406/1968 e à Lei Complementar nº 116/2003, para efeito de incidência de ISS sobre serviços bancários, é taxativa, mas se admite a interpretação extensiva, sendo irrelevante a denominação atribuída.

4. Nos termos da Súmula nº 424/STJ: “É legítima a incidência de ISS so-bre os serviços bancários congêneres da lista anexa ao DL 406/1968 e à LC 56/1987”.

5. Para verificar se as atividades que se pretendem tributar enquadram-se na lista anexa ao Decreto-Lei nº 406/1968 e à Lei Complementar nº 116/2003, é indispensável a análise da natureza das cobranças realizadas pela instituição financeira, isto é, saber em que essas atividades consistem efetivamente, não sendo suficiente considerar-se o mero nomen iuris da cobrança. Essa avalia-ção, contudo, deve ser feita pelas instâncias de origem, sendo inviável o seu reexame em sede de recurso especial, nos termos da Súmula nº 7/STJ.

6. No caso dos autos, o Tribunal de origem, adotando o entendimento dis-posto no recurso representativo da controvérsia, considerou que os serviços bancários realizados pelo recorrente referentes à administração de fundos previdenciários não se enquadram nos itens da lista anexa, logo não são tributáveis pelo ISS, mas o de administração de clubes de investimentos atrai a incidência do imposto.

7. O art. 21, parágrafo único, do Código de Processo Civil tem aplicabilidade quando se evidencia o decaimento mínimo de uma das partes, entretanto, aferir a ocorrência de sucumbência em parte mínima ou recíproca do pedido demanda inegável incursão na seara fático-probatória da demanda, provi-dência vedada pela Súmula nº 7 desta Corte.

8. No presente caso, o Tribunal de origem firmou e reiterou por ocasião da apreciação dos embargos de declaração que houve “sucumbência recíproca e não mínima, portanto não é pertinente o dispositivo legal indicado pela embargante” (fl. 430, e-STJ).

Agravo regimental improvido.

(AgRg-REsp 1.464.576/SP, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 09.11.2015)

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ���������������������������������������������������������������� 73

Por fim, não é possível o conhecimento do especial interposto por divergên-cia jurisprudencial na hipótese em que o dissídio é apoiado em fatos e não na interpretação de lei federal, uma vez que o óbice da Súmula nº 7/STJ também se aplica aos recursos especiais manejados pela alínea “c” do permissivo constitucional.

Sobre o tema:

PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL – ENUNCIADO ADMINISTRATIVO Nº 3/STJ – IMPROBIDADE ADMINIS-TRATIVA – TRANSPORTE ESCOLAR – IRREGULARIDADES – PRÁTICA DE ATO SUBSUMÍVEL À LEI Nº 8.429/1992 E EM CONTRARIEDADE À LEI DE LICITAÇÕES – REVISÃO DE FUNDAMENTOS FÁTICOS E PROBATÓRIOS CONSTANTE DOS AUTOS – SÚMULA Nº 7/STJ – DIVERGÊNCIA JURIS-PRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA

1. Foi com base no conjunto fático e probatório constante dos autos que o acórdão recorrido concluiu pela efetiva prática de ato de improbidade ad-ministrativa, bem como pela lesão à Lei de Licitações, tendo em vista que a parte ora Agravante “tinha pleno conhecimento das irregularidades, mas per-maneceu silente, sem adotar as medidas necessárias para que fosse retomada a regularidade e cumprido o contrato administrativo à risca, com oferta de eficiente serviço de transporte, sem risco e com conforto para o alunado”.

2. A revisão de tais fundamentos não é viável na via recursal eleita, tendo em vista a incidência da Súmula nº 7/STJ, porquanto demandaria analisar nova-mente, em especial os depoimentos testemunhais colhidos os quais serviram para subsidiar as conclusões alcançadas pelo Tribunal a quo.

3. A incidência do referido enunciado sumular – Súmula nº 7 – inviabiliza também a análise da divergência jurisprudencial suscitada, tendo em vista justamente a falta de similitude fática entre o acórdão ora recorrido e o julga-do indicado como paradigma.

4. Agravo interno não provido.

(AgInt-REsp 1.650.870/RO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., DJe 27.09.2017)

Ante o exposto, conheço parcialmente do recurso especial e, nessa extensão, nego-lhe provimento.

É como voto.

certidãO de JulgamentO segunda turma

Número Registro: 2009/0096063-7 REsp 1.141.142/SP

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Números Origem: 19461998 194698 200802079954 5124535 5124535903 53984292809Pauta: 05.12.2017 Julgado: 05.12.2017Relator: Exmo. Sr. Ministro Og FernandesPresidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Francisco FalcãoSubprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. Nívio de Freitas Silva FilhoSecretária: Belª Valéria Alvim Dusi

autuaçãO

Recorrente: Portopar Distribuidora de Títulos e Valores MobiliáriosAdvogados: Rubens Jose Novakoski F. Velloza – SP110862

Luiz Eduardo de Castilho Girotto – SP124071Recorrido: Município de São PauloProcurador: Denise Perez de Almeida e outro(s) – SP084240Assunto: Direito tributário – Impostos – ISS – Imposto sobre Serviços

sustentaçãO Oral

Dr(a). Gabriela Gonçalves Carneiro, pela parte Recorrente: Portopar Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários

certidãO

Certifico que a egrégia Segunda Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

“A Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso e, nessa parte, negou-lhe provimento, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”

Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães, Francisco Falcão (Presidente) e Herman Benjamin votaram com o Sr. Mi-nistro Relator.

Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

13629

Superior Tribunal de JustiçaRecurso Especial nº 1.463.712 – PR (2014/0155372‑8)Relator: Ministro Og FernandesRecorrente: Refinaria de Petróleos de Manguinhos S/AAdvogado: Ursula Vieira Barbosa Peroni e outro(s) – RJ134683Recorrido: Astra Oil Company LLCAdvogados: Antonio Carlos Guidoni Filho – SP146997

André Ricardo Lemes da Silva – SP156817Recorrido: Fazenda NacionalAdvogado: Procuradoria‑Geral da Fazenda Nacional – PR000000O

ementa

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL – RECURSO ESPECIAL – ART. 535, II, DO CPC/1973 – AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO – PENA DE PERDIMENTO – INTERVENÇÃO DE TERCEIRO PREJUDICADO – AUSÊNCIA DE INTERESSE JURÍDICO – FUNDAMENTO INATACADO – INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 283 DO STF – DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL BASEADA EM ACÓRDÃO PROFERIDO EM CONFLITO DE COMPETÊNCIA – INADMISSIBILIDADE – SÚMULA Nº 13/STJ

1. Inexiste contrariedade ao art. 535, II, do CPC/1973 quando o Tri-bunal de origem decide fundamentadamente todas as questões postas ao seu exame. Ademais, não se deve confundir decisão contrária aos interesses da parte com ausência de prestação jurisdicional.

2. É inadmissível o recurso especial quando o acórdão combatido as-senta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles (Súmula nº 283 do STF). Na hipótese, a parte recorrente deixou de impugnar o fundamento no sentido de que não foi demons-trado o interesse jurídico exigido para a intervenção de terceiro que, por si só, mantém incólume o acórdão recorrido.

3. No que concerne à alínea c do Texto Constitucional, a jurisprudên-cia do STJ firmou a orientação de que não se admitem, como para-digmas, acórdãos proferidos em Mandado de Segurança, Recurso em Mandado de Segurança, Conflito de Competência, Habeas Corpus, Mandado de Injunção, Ação Rescisória e Suspensão de Segurança, porquanto não guardam o mesmo objeto e a mesma extensão material do Recurso Especial. A propósito, confiram-se os seguintes julgados: REsp 1.645.712/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, 6ª T., Julgado

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em 20.04.2017, DJe 04.05.2017; AgRg-REsp 1.655.278/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, 5ª T., Julgado em 19.09.2017, DJe 27.09.2017; AgInt-EDcl-REsp1.618.085/DF, Relª Min. Regina Helena Costa, 1ª T., Julgado em 10.11.2016, DJe 30.11.2016.

4. Nos termos da Súmula nº 13 do STJ: “A divergência entre julgados do mesmo Tribunal não enseja recurso especial.”

5. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, não pro-vido.

acÓrdãO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa parte, negar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães, Francisco Falcão (Presidente) e Herman Benjamin votaram com o Sr. Ministro Relator.

Consignada a presença da Dra. Andrea Fabrino Hoffmann Formiga, pela parte recorrida: Astra Oil Company LLC

Brasília, 05 de dezembro de 2017 (data do Julgamento).

Ministro Og Fernandes Relator

relatÓriO

O Sr. Ministro Og Fernandes: Trata-se de recurso especial interposto pela Refinaria de Petróleos de Manguinhos S.A., com fundamento nas alíne-as a e c do inciso III do art. 105 da CF/1988, contra acórdão proferido pelo TRF da 4ª Região, assim ementado (e-STJ, fl. 2.697):

AGRAVO – INSUFICIÊNCIA DAS RAZÕES

Não é de acolher-se o agravo quando insuficientes as razões apresentadas para modificação da decisão agravada.

Os embargos de declaração (e-STJ, fls. 2.705/2.720) foram rejeitados, nos termos da decisão de e-STJ, fls. 2.726/2.728.

A recorrente alega, nas razões do especial, a existência de contra-riedade aos arts. 113 e 535, I e II, do CPC/1973, bem como a ocorrência

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de dissídio jurisprudencial entre tribunais, no que se refere à competência absoluta do Juízo da Recuperação universal.

Defende, em síntese, que o Tribunal de origem incorreu em omissão e em contradição, ao deixar de se pronunciar sobre a competência absolu-ta do Juízo da Recuperação universal e que a não admissão da recorrente como terceira interessada traria “efeitos nefastos”.

Assevera, de outra parte, que seria possível, de ofício, o reconheci-mento da competência absoluta do Juízo da Recuperação universal.

Em contrarrazões, a Fazenda Nacional sustenta, em síntese, que a re-corrente não demonstrou seu interesse jurídico na demanda, não possuindo, portanto, legitimidade para fazer qualquer pedido (e-STJ, fls. 2.777/2.779). Já a empresa Astra Oil Company LLC, defende a aplicação das Súmulas nºs 282 e 284 do STF (e-STJ, fls. 2.782/2.797).

Admitido o recurso especial na origem (e-STJ, fl. 2801), foram os au-tos remetidos a esta Corte de Justiça.

É o relatório.

vOtO

O Sr. Ministro Og Fernandes (Relator): O recurso especial não merece ser conhecido.

Trata-se, na origem, de ação anulatória com pedido de antecipação de tutela proposta por Astra Oil Company LLC, com objetivo de anular o Auto de Infração e Termo de Apreensão e Guarda Fiscal nº 0917800/33478/12, que determinou a perda de perdimento; bem como a imediata liberação das mercadorias (13.682m³ de óleo) que se encontram armazenadas no recinto de Catallini Terminais Marítimos S.A.

A Refinaria de Petróleos de Manguinhos (em recuperação judicial) peticionou, requerendo ingresso na lide como terceira interessada e, simul-taneamente, que os autos fossem remetidos para o juízo que tramita a recu-peração judicial.

O Juízo Federal rejeitou, liminarmente, o ingresso na lide como ter-ceira interessada, bem como afastou a remessa da ação para a vara de recu-peração judicial, já que não estaria configurada a situação prevista no art. 6º da Lei nº 11.101/2005, conforme decisão de e-STJ, fls. 1.230/1.241.

Contra a decisão do Juízo de 1º Grau foi interposto agravo de instru-mento para o TRF da 4ª Região, tendo sido negado seguimento com base no seguinte (e-STJ, fl. 2.695):

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Pelo que se vê dos autos, a pretexto de ter interesse no deslinde da causa, a parte agravante Refinaria de Petróleos de Maguinhos S.A. postulou sua admissão no processo para o fim de obter a reconsideração da decisão que determinou não fosse dada destinação à mercadoria enquanto não ana-lisado o pedido de antecipação dos efeitos da tutela (evento 12 do processo originário).

Ocorre que a parte agravante não demonstrou interesse legalmente qualificado que autorize sua admissão no processo. É certo que a liberação das mercadorias à parte autora Astra Oil Company LLC é medida que pode ser tida como desfavorável à parte agravante, mas tal interesse fático, ou mesmo econômico, não equivale ao interesse jurídico exigido para a in-tervenção de terceiro, tanto que a própria parte agravante, nas suas razões recursais, não foi capaz de enquadrar-se juridicamente dentro de uma das causas legais de intervenção de terceiro previstas no Código de Processo Civil (Livro I, Título II, Capítulo VI – arts. 56 a 80), limitando-se em dizer-se “terceira interessada”.

Não demonstrado, assim, seu interesse jurídico, não cabe admitir Re-finaria de Petróleos de Maguinhos S.A. no processo. Em consequência, não tem legitimidade para fazer qualquer pedido, razão pela qual fica prejudi-cada a análise dos demais pedidos.

Irresignada, a parte opôs os embargos de declaração, alegando, em suma, que o acórdão teria sido omisso quanto à não admissão como terceira interessada.

O Tribunal de origem rejeitou os embargos com base na seguinte premissa (e-STJ, fl. 2.726):

Ao contrário do que alega a embargante, não há nenhuma omissão no acór-dão, o qual concluiu, fundamentadamente, que a parte agravante não de-monstrou interesse legalmente qualificado que autorize sua admissão no processo, e que é certo que a liberação das mercadorias à parte autora Astra Oil Company LLC é medida que pode ser tida como desfavorável à parte agravante, mas tal interesse fático, ou mesmo econômico, não equivale ao interesse jurídico exigido para a intervenção de terceiro, tanto que a própria parte agravante, nas suas razões recursais, não foi capaz de enquadrar-se juridicamente dentro de uma das causas legais de intervenção de terceiro previstas no Código de Processo Civil (Livro I, Título II, Capítulo VI – arts. 56 a 80), limitando-se em dizer-se “terceira interessada”.

Agora, a recorrente apresenta recurso especial, com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional, alegando violação dos arts. 113 e 535, I e II, do CPC/1973.

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ���������������������������������������������������������������� 79

Defende, em síntese, que o Tribunal de origem incorreu em omissão e em contradição, ao deixar de se pronunciar sobre a competência absoluta do Juízo da Recuperação universal; e que a não admissão da recorrente, como terceira interessada, traria “efeitos nefastos”.

Assevera, de outra parte, que seria possível, de ofício, o reconheci-mento da competência absoluta do Juízo da Recuperação universal.

Acena, ainda, com dissídio jurisprudencial entre tribunais.

De início, no que concerne à alínea c do Texto Constitucional, a jurisprudência do STJ firmou a orientação de que não se admitem, como paradigmas, acórdãos proferidos em Mandado de Segurança, Recurso em Mandado de Segurança, Conflito de Competência, Habeas Corpus, Manda-do de Injunção, Ação Rescisória e Suspensão de Segurança, porquanto não guardam o mesmo objeto e a mesma extensão material do Recurso Especial. A propósito, confiram-se os seguintes julgados: REsp 1.645.712/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, 6ª T., Julgado em 20.04.2017, DJe 04.05.2017; AgRg-REsp 1.655.278/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, 5ª T., Julgado em 19.09.2017, DJe 27.09.2017; AgInt-EDcl-REsp 1.618.085/DF, Relª Min. Re-gina Helena Costa, 1ª T., Julgado em 10.11.2016, DJe de 30.11.2016.

Registre-se ainda quanto a esse ponto, que a divergência jurispru-dencial não pode ser conhecida quando os paradigmas apresentados forem oriundos do mesmo Tribunal que proferiu o acórdão recorrido, uma vez que aplicável, ao caso, a Súmula nº 13 do STJ, segundo a qual “a divergência entre julgados do mesmo Tribunal não enseja recurso especial”.

De outra parte, tenho que não merece prosperar a tese de violação do art. 535 do CPC/1973, porquanto o acórdão recorrido fundamentou, clara-mente, o posicionamento por ele assumido, de modo a prestar a jurisdição que lhe foi postulada.

É o que se depreende da leitura dos seguintes trechos do voto condu-tor do aresto impugnando (e-STJ, fl. 2.726):

Ao contrário do que alega a embargante, não há nenhuma omissão no acór-dão, o qual concluiu, fundamentadamente, que a parte agravante não de-monstrou interesse legalmente qualificado que autorize sua admissão no processo, e que é certo que a liberação das mercadorias à parte autora Astra Oil Company LLC é medida que pode ser tida como desfavorável à parte agravante, mas tal interesse fático, ou mesmo econômico, não equivale ao interesse jurídico exigido para a intervenção de terceiro, tanto que a própria parte agravante, nas suas razões recursais, não foi capaz de enquadrar-se juridicamente dentro de uma das causas legais de intervenção de terceiro previstas no Código de Processo Civil (Livro I, Título II, Capítulo VI – arts. 56 a 80), limitando-se em dizer-se “terceira interessada”.

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Sendo assim, não há que se falar em omissão, obscuridade ou contra-dição do aresto. O fato de o Tribunal a quo haver decidido a lide de forma contrária à defendida pela parte recorrente, elegendo fundamentos diversos daqueles por ela propostos, não configura omissão ou qualquer outra causa passível de exame mediante a oposição de embargos de declaração.

No aspecto:

PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL – ENUNCIADO ADMINISTRATIVO Nº 03/STJ – SERVIDOR PÚBLICO FEDE-RAL – PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR – DEMISSÃO – REIN-TEGRAÇÃO – OFENSA AO ART. 557 DO CPC/1973 – INOCORRÊNCIA – NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL – INOCORRÊNCIA – ACÓR-DÃO RECORRIDO ASSENTADO NO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DO FEITO – REVISÃO – IMPOSSIBILIDADE – NECESSÁRIO REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO – INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7/STJ – PRECEDENTES – AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO

1. Não há falar em violação ao art. 557 do CPC/1973 alegada pela parte agravante, tendo em vista que a questão suscitada encontra óbice na Súmula nº 7/STJ, sendo o recurso especial, por conseguinte, manifestamente inadmis-sível. Ainda que assim não fosse, é de se ressaltar que fica superada eventual ofensa ao referido dispositivo legal, pelo julgamento colegiado do agravo regimental interposto contra a decisão singular do Relator. Precedentes.

2. Inexiste violação aos arts. 458, II e 535, II, do CPC/1973, quando não se vislumbra omissão, obscuridade ou contradição no acórdão recorrido capaz de torná-lo nulo, especialmente se o Tribunal a quo apreciou a demanda em toda a sua extensão, fazendo-o de forma clara e precisa, estando bem deline-ados os motivos e fundamentos que o embasam.

[...]

Precedentes.

4. Agravo interno não provido.

(AgInt-REsp 1.595.272/SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., Julga-do em 02.06.2016, DJe 08.06.2016)

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – SERVIDOR PÚBLICO – INOCORRÊNCIA DA ALE-GADA VIOLAÇÃO AOS ARTS. 535 E 458 DO CPC – ACÓRDÃO DEVIDA-MENTE FUNDAMENTADO – RECURSO QUE SE FUNDA, TÃO SOMENTE, NESSA ALEGAÇÃO – AGRAVO REGIMENTAL DO ESTADO DO PARÁ A QUE SE NEGA PROVIMENTO

1. No caso, não há como acolher a alegada violação aos arts. 458, II e 535, II do CPC/1973, visto que a lide foi resolvida com a devida fundamentação, ainda que sob ótica diversa daquela almejada pelo ora Recorrente. Todas as

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questões postas em debate foram efetivamente decididas, não tendo havido vício algum que justificasse o manejo dos Embargos Declaratórios.

[...]

3. Agravo Regimental do Estado do Pará a que se nega provimento.

(AgRg-AREsp 884.151/PA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 1ª T., Jul-gado em 24.05.2016, DJe 13.06.2016)

No mais, o Tribunal de origem negou provimento ao agravo de instru-mento, com base na seguinte premissa:

Pelo que se vê dos autos, a pretexto de ter interesse no deslinde da causa, a parte agravante Refinaria de Petróleos de Maguinhos S.A. postulou sua admissão no processo para o fim de obter a reconsideração da decisão que determinou não fosse dada destinação à mercadoria enquanto não analisado o pedido de antecipação dos efeitos da tutela (evento 12 do processo origi-nário).

Ocorre que a parte agravante não demonstrou interesse legalmente qualificado que autorize sua admissão no processo. É certo que a liberação das mercadorias à parte autora Astra Oil Company LLC é medida que pode ser tida como desfavorável à parte agravante, mas tal interesse fático, ou mesmo econômico, não equivale ao interesse jurídico exigido para a in-tervenção de terceiro, tanto que a própria parte agravante, nas suas razões recursais, não foi capaz de enquadrar-se juridicamente dentro de uma das causas legais de intervenção de terceiro previstas no Código de Processo Civil (Livro I, Título II, Capítulo VI – arts. 56 a 80), limitando-se em dizer-se “terceira interessada”.

Não demonstrado, assim, seu interesse jurídico, não cabe admitir Re-finaria de Petróleos de Maguinhos S.A. no processo. Em consequência, não tem legitimidade para fazer qualquer pedido, razão pela qual fica prejudi-cada a análise dos demais pedidos.

Verifica-se que a parte recorrente deixou de impugnar o fundamento no sentido de que não foi demonstrado o interesse jurídico exigido para a intervenção de terceiro que, por si só, mantém incólume o acórdão com-batido.

A não impugnação de fundamento suficiente para manter o acórdão recorrido atrai a aplicação do óbice da Súmula nº 283/STF, inviabilizando o conhecimento do apelo extremo.

A propósito:

AGRAVO REGIMENTAL – AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – SEGURO HABITACIONAL – VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO – PRESCRIÇÃO ÂNUA –

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NÃO OCORRÊNCIA – APLICABILIDADE DO CDC – ILEGITIMIDADE ATI-VA – FUNDAMENTO INATACADO – SÚMULA Nº 283/STF – FORMAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO COM A CEF – DESNECESSI-DADE

1. Os danos decorrentes de vício da construção são daqueles que se alongam no tempo e, por essa razão, não se tem uma data precisa para o início da contagem do prazo prescricional, razão pela qual considera-se irrompida a pretensão do beneficiário do seguro apenas no momento em que, comunica-do o fato à seguradora, esta se recusa a indenizar. (REsp 1.143.962/SP, Relª Min. Nancy Andrighi, 3ª T., DJe 09.04.2012)

2. Na esteira de precedentes deste Tribunal, há relação de consumo entre o agente financeiro do Sistema Financeiro Habitacional, que concede emprés-timo para aquisição de casa própria, e o mutuário, razão pela qual se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos contratos firmados após o início da vigência do referido diploma legal.

3. Inviável o Recurso Especial que deixa de impugnar fundamento suficiente, por si só, para manter a conclusão do julgado, atraindo a aplicação da Súmu-la nº 283 do Supremo Tribunal Federal.

4. “Nas ações envolvendo seguros de mútuo habitacional no âmbito do SFH, a CEF detém interesse jurídico para ingressar na lide como assistente simples somente nos contratos celebrados de 02.12.1988 a 29.12.2009 – período compreendido entre as edições da Lei nº 7.682/1988 e da MP 478/2009 – e nas hipóteses em que o instrumento estiver vinculado ao FCVS (apólices pú-blicas, ramo 66). Ainda que compreendido no mencionado lapso temporal, ausente a vinculação do contrato ao FCVS (apólices privadas, ramo 68), a CEF carece de interesse jurídico a justificar sua intervenção na lide. Ademais, o ingresso da CEF na lide somente será possível a partir do momento em que a instituição financeira provar documentalmente o seu interesse jurídico, mediante demonstração não apenas da existência de apólice pública, mas também do comprometimento do FCVS, com risco efetivo de exaurimento da reserva técnica do Fesa, colhendo o processo no estado em que este se encontrar no instante em que houver a efetiva comprovação desse interes-se, sem anulação de nenhum ato anterior” (EDcl-EDcl-REsp 1.091.363, Relª Min. Maria Isabel Gallotti, Relª. p/ Ac. Min. Nancy Andrighi, 2ª S., data do julgamento 10.10.2012).

5. Ao que se depreende, tais requisitos não foram demonstrados no Acórdão recorrido, não havendo que se falar, portanto, na existência de interesse jurí-dico da CEF em integrar a lide.

6. Agravo Regimental improvido.

(AgRg-AREsp 388.861/SC, Rel. Min. Sidnei Beneti, 3ª T., Julgado em 17.10.2013, DJe 29.10.2013)

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ���������������������������������������������������������������� 83

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – RECURSO ESPECIAL – FOR-NECIMENTO DE SUPLEMENTO ALIMENTAR PELO ESTADO – ALERGIA À LACTOSE – ALEGADA OFENSA AO ART. 535 DO CPC – DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO – SÚMULA Nº 284/STF – SUPOSTA OFENSA A DISPOSITIVO NÃO PREQUESTIONADO – SÚMULA Nº 211/STJ – AUSÊN-CIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA A FUNDAMENTO SUFICIENTE PARA MANTER O ACÓRDÃO RECORRIDO – SÚMULA Nº 283/STF – ALEGADA EXISTÊNCIA DE PROVAS NOS AUTOS PARA SUSTENTAR A PRETENSÃO INICIAL – NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVA – IMPOSSIBILIDADE – SÚMULA Nº 7/STJ

[...]

3. Ausente a impugnação a fundamento suficiente para manter o acórdão re-corrido, o recurso especial não merece ser conhecido, por lhe faltar interesse recursal. Inteligência da Súmula nº 283 do STF, aplicável, por analogia, ao recurso especial.

[...]

5. Recurso especial não conhecido. (REsp 1.367.651/MG, Relª Min. Eliana Calmon, 2ª T., DJe 03.12.2013)

Ante o exposto, conheço em parte o recurso especial e, nesta parte, nego provimento.

É como voto.

certidãO de JulgamentO segunda turma

Número Registro: 2014/0155372-8Processo Eletrônico REsp 1.463.712/PRNúmeros Origem: 50009539520134047008 50028197520124047008 50179287020134040000 PR-50009539520134047008 PR-50028197520124047008 TRF4-50170850820134040000Pauta: 05.12.2017 Julgado: 05.12.2017Relator: Exmo. Sr. Ministro Og FernandesPresidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Francisco FalcãoSubprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. Nívio de Freitas Silva FilhoSecretária: Belª Valéria Alvim Dusi

autuaçãO

Recorrente: Refinaria de Petróleos de Manguinhos S/A

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Advogado: Ursula Vieira Barbosa Peroni e outro(s) – RJ134683Recorrido: Astra Oil Company LLCAdvogados: Antonio Carlos Guidoni Filho – SP146997

André Ricardo Lemes da Silva – SP156817Recorrido: Fazenda NacionalAdvogado: Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional – PR000000OAssunto: Direito tributário – Procedimentos Fiscais – Liberação de mer-cadorias

sustentaçãO Oral

Consignada a presença da Dra. Andrea Fabrino Hoffmann Formiga, pela parte Recorrida: Astra Oil Company LLC

certidãO

Certifico que a egrégia Segunda Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

“A Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso e, nessa parte, negou-lhe provimento, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”

Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães, Francisco Falcão (Presidente) e Herman Benjamin votaram com o Sr. Mi-nistro Relator.

Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

13630

Superior Tribunal de JustiçaRecurso Especial nº 1.382.317 – PR (2013/0157647‑0)Relator: Ministro Benedito GonçalvesRecorrente: Josir MarquesAdvogados: Leonardo Sperb de Paola – PR016015

Maria das Graças Anunciação – PR040561Recorrido: Fazenda NacionalProcurador: Procuradoria‑Geral da Fazenda Nacional – PR000000O

ementa

TRIBUTÁRIO – RECURSO ESPECIAL – PARCELAMENTO DA LEI Nº 11.941/2009 – ART. 1º, § 2º – INCLUSÃO DE PERCENTUAL DE DÉBITO ISOLADO – IMPOSSIBILIDADE – RESPEITO AO PERÍODO DE APURAÇÃO OU COMPETÊNCIA DO TRIBUTO

1. O parcelamento é instituto de interpretação literal, a impedir que o Fisco se exceda nas exigências a serem feitas aos contribuintes e, de outro lado, que estes não logrem êxito em deduzir pretensão não albergada pelos termos legais que abrem a possibilidade do acordo. Interpretação dos arts. 111, I, e 151, VI, do CTN.

2. Referindo-se o art. 1º, § 2º, da Lei nº 11.941/2009 às dívidas consi-deradas isoladamente deve-se compreender o termo como a expres-são monetária referente a um tributo, de modo que a palavra dívida se refere à quantia em dinheiro devida em virtude da subsunção de um fato da vida (fato gerador) a uma previsão normativa abstrata (hi-pótese de incidência).

3. Dentro da concepção de tributo e de crédito tributário, bem como do respectivo aspecto temporal, a interpretação que deve ser dada à expressão dívidas consideradas isoladamente deve respeitar, no míni-mo, uma competência ou período de apuração.

4. Pode o contribuinte escolher débitos isolados e os parcelar, ainda que digam respeito a uma mesma Certidão de Dívida Ativa, desde que respeitado o período de apuração do tributo.

5. No caso dos autos, o recorrente não pretende incluir em parcela-mento débito isolado, mas “percentual” ou “fração” de um débito, o que não está previsto em lei.

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6. Recurso especial não provido.

acÓrdãO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, vencido o Sr. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Sérgio Kukina, Regina Helena Costa (Presidente) e Gurgel de Faria votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 21 de novembro de 2017 (data do Julgamento).

Ministro Benedito Gonçalves – Relator

relatÓriO

O Exmo. Sr. Ministro Benedito Gonçalves (Relator): Trata-se de recur-so especial interposto com fundamento no art. 105, III, a, da Constituição Federal, contra acórdão proferido pelo TRF4, assim ementado (fl. 303):

LEI Nº 11.941, DE 2009 – PARCELAMENTO – PERCENTUAL DE DÉBITO ISOLADO

Não tem o contribuinte direito, pelo sistema da Lei nº 11.941, de 2009, a par-celar “percentual” ou “fração” de débito isolado, mas apenas o direito de es-colher, dentre os vários débitos isolados, aqueles que deseja ver parcelados.

Embargos de declaração rejeitados.

O recorrente alega violação ao(s) arts. 1º, caput, e § 2º, da Lei 11.941/2009, sob os seguintes argumentos: (a) inicialmente, assevera a re-corrente não ser o caso de aplicação da Súmula nº 7/STJ, vez que não há qualquer controvérsia no que diz respeito: (i) a viabilidade de individualiza-ção dos valores indicados ao parcelamento; (ii) ao fato de terem sido efetiva-mente individualizados pelo Recorrente; ainda, (iii) quanto à existência de desistência parcial da discussão com vistas ao aproveitamento do benefício legal (fl. 340); (b) quanto ao mérito, propriamente, assevera que a inter-pretação que melhor se coaduna com o espírito da Lei do Refis é a de que débito corresponde a toda a quantia devida ao fisco em razão de uma obri-gação tributária, seja ela uma competência/período de apuração integral ou, fração desta (fl. 344, grifei); (c) o Recorrente pretende, reconhecendo-se devedor do percentual de 6%, devidos a título de comissões de corretagem, utilizar-se dos benefícios da Lei do Refis e parcelar seu débito (fl. 344).

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ���������������������������������������������������������������� 87

Com contrarrazões.

Juízo positivo de admissibilidade à fl. 364.

É o relatório.

ementa

TRIBUTÁRIO – RECURSO ESPECIAL – PARCELAMENTO DA LEI Nº 11.941/2009 – ART. 1º, § 2º – INCLUSÃO DE PERCENTUAL DE DÉBITO ISOLADO – IMPOSSIBILIDADE – RESPEITO AO PERÍODO DE APURAÇÃO OU COMPETÊNCIA DO TRIBUTO

1. O parcelamento é instituto de interpretação literal, a impedir que o Fisco se exceda nas exigências a serem feitas aos contribuintes e, de outro lado, que estes não logrem êxito em deduzir pretensão não albergada pelos termos legais que abrem a possibilidade do acordo. Interpretação dos arts. 111, I, e 151, VI, do CTN.

2. Referindo-se o art. 1º, § 2º, da Lei nº 11.941/2009 às dívidas consi-deradas isoladamente deve-se compreender o termo como a expres-são monetária referente a um tributo, de modo que a palavra dívida se refere à quantia em dinheiro devida em virtude da subsunção de um fato da vida (fato gerador) a uma previsão normativa abstrata (hi-pótese de incidência).

3. Dentro da concepção de tributo e de crédito tributário, bem como do respectivo aspecto temporal, a interpretação que deve ser dada à expressão dívidas consideradas isoladamente deve respeitar, no míni-mo, uma competência ou período de apuração.

4. Pode o contribuinte escolher débitos isolados e os parcelar, ainda que digam respeito a uma mesma Certidão de Dívida Ativa, desde que respeitado o período de apuração do tributo.

5. No caso dos autos, o recorrente não pretende incluir em parcela-mento débito isolado, mas “percentual” ou “fração” de um débito, o que não está previsto em lei.

6. Recurso especial não provido.

vOtO

O Exmo. Sr. Ministro Benedito Gonçalves (Relator): Inicialmente, registra-se que “[a]os recursos interpostos com fundamento no CPC/1973

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(relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exi-gidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as in-terpretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (Enunciado Administrativo nº 2, aprovado pelo Plenário do Superior Tribunal de Justiça em 09.03.2016)”.

O recorrente ingressou com mandado de segurança para assegurar o direito de ver parcelada fração de débito tributário, correspondente a 6% dos valores objeto da CDA 90.1.08.000655-37.

Cinge-se a controvérsia acerca da interpretação que deve ser confe-rida à expressão dívidas consideradas isoladamente, constante do art. 1º, § 2º, da Lei nº 11.941/2009 (grifados):

Art. 1º [...]

[...]

§ 2º Para os fins do disposto no caput deste artigo, poderão ser pagas ou par-celadas as dívidas vencidas até 30 de novembro de 2008, de pessoas físicas ou jurídicas, consolidadas pelo sujeito passivo, com exigibilidade suspensa ou não, inscritas ou não em dívida ativa, consideradas isoladamente, mesmo em fase de execução fiscal já ajuizada, ou que tenham sido objeto de parce-lamento anterior, não integralmente quitado, ainda que cancelado por falta de pagamento, assim considerados:

I – os débitos inscritos em Dívida Ativa da União, no âmbito da Procuradoria--Geral da Fazenda Nacional;

II – os débitos relativos ao aproveitamento indevido de crédito de IPI referido no caput deste artigo;

III – os débitos decorrentes das contribuições sociais previstas nas alíneas a, b e c do parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, das contribuições instituídas a título de substituição e das contribuições devidas a terceiros, assim entendidas outras entidades e fundos, administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil; e

IV – os demais débitos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil.

[...]

§ 4º O requerimento do parcelamento abrange os débitos de que trata este artigo, incluídos a critério do optante, no âmbito de cada um dos órgãos.

Também deve ser enfrentado o comando normativo do § 4º do mes-mo dispositivo, acima transcrito, o qual se remete aos débitos que tratam este artigo, ou seja, às dívidas consideradas isoladamente.

Quanto aos valores que o recorrente pretende compreender no con-ceito de dívidas consideradas isoladamente, o voto condutor do acórdão

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ���������������������������������������������������������������� 89

recorrido delimitou a questão da seguinte forma: no caso dos autos o impe-trante não pretende incluir em parcelamento débito isolado, mas “percen- tual” ou “fração” de um débito, o que não está previsto em lei (fl. 301).

Nesse sentido, transcrevo o seguinte trecho do recurso especial, para bem delimitar a questão a ser resolvida (fl. 344, grifei):

Com efeito, o débito/crédito tributário, muito embora vinculado a períodos de apuração/competências, expressa quantia devida, que pode ser represen-tada, sem sombra de dúvida, por uma fração de determinada competência/período de apuração, se esta é a fração decorrente da obrigação tributária.

Assim, a interpretação que melhor se coaduna com o espírito da Lei do Refis é a de que débito corresponde a toda a quantia devida ao fisco em razão de uma obrigação tributária, seja ela uma competência/período de apuração integral ou, fração desta.

Portanto, pretende a recorrente compreender dentro do conceito de dívidas consideradas isoladamente toda a quantia devida ao fisco em razão de uma obrigação tributária, seja ela referente à uma competência ou período de apuração integral, ou fração destes.

Em outras palavras, pretende a recorrente seja parcelada qualquer fração de uma obrigação tributária, ainda que corresponda à quantitativo fracionado de competência ou período de apuração do tributo, o que equi-vale, por exemplo, para um tributo apurado mês a mês, o parcelamento de um valor que corresponda a qualquer fração do mês.

Pois bem.

Acerca do instituto do parcelamento ensina Leandro Paulsen que (Curso de direito tributário completo/Leandro Paulsen. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2017):

O art. 155-A dispõe no sentido de que o “parcelamento será concedido na forma e condição estabelecidas em lei específica”, o que nos leva à conclu-são de que, de um lado, o contribuinte não tem direito a pleitear parcelamen-to em forma e com características diversas daquelas previstas em lei e, de outro, que o Fisco não pode exigir senão o cumprimento das condições nela previstas, de modo que não podem ser estabelecidos requisitos adicionais por atos normativos.

O parcelamento é instituto que carrega feição bifronte, a impedir que o Fisco se exceda nas exigências a serem feitas aos contribuintes e, de outro lado, que estes não logrem êxito em deduzir pretensão não albergada pelos termos legais que abrem a possibilidade do acordo.

Em norma de diretriz interpretativa, o Código Tributário Nacional determina seja interpretada literalmente a legislação que disponha sobre a

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suspensão do crédito tributário (art. 111, I). Sendo o parcelamento uma das modalidades suspensivas de crédito tributário (art. 151, VI, do CTN), a legis-lação que o institui deve ser lida sem expansão ou restrição de seus termos.

Para a melhor compreensão do que se entende por interpretação lite-ral, cito a doutrina de Hugo de Brito Machado Segundo (Código Tributário Nacional: anotações à Constituição, ao Código Tributário Nacional e as Leis Complementares nºs 87/1996 e 116/2003/Hugo de Brito Machado Segundo. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2017):

Não é correto, porém, afirmar que o art. 111 do CTN impõe o uso de inter-pretação restritiva. A interpretação literal é aquela coerente com os sentidos possíveis do texto, vale dizer, significados compatíveis com o texto legal, que não vão além dele, mas não necessariamente restritiva. Tanto que, em alguns casos, a interpretação literal pode ensejar sentido mais amplo do que outros métodos sugeririam.

Nesse sentido, entendo ser relevante, para a compreensão do que se entende por dívidas consideradas isoladamente, se buscar uma leitura do conceito de tributo.

Paulo de Barros Carvalho apresenta as seguintes acepções do vocábu-lo tributo (CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 28. ed. São Paulo, Saraiva: 2017. p. 51):

a) “tributo” como quantia em dinheiro;

b) “tributo” como prestação correspondente ao dever jurídico do sujeito pas-sivo;

c) “tributo” como direito subjetivo de que é titular o sujeito passivo;

d) “tributo” como sinônimo de relação jurídica tributária;

e) “tributo” como norma jurídica tributária;

f) “tributo” como norma, fato e relação jurídica.

Quando a Lei se refere às dívidas consideradas isoladamente deve--se compreender o termo como a expressão monetária referente ao tributo (“tributo” como quantia em dinheiro). Ou seja, aqui o termo dívida se refere à quantia em dinheiro devida em virtude da subsunção de um fato da vida (fato gerador) a uma previsão normativa abstrata (hipótese de in-cidência).

Essa compreensão é animada pelo fato de que apenas com o surgi-mento de uma obrigação tributária, – que, por meio de uma modalidade de lançamento tributário, se transforma em crédito tributário –, é que surge a obrigação de pagar uma quantia em dinheiro (dívida).

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ���������������������������������������������������������������� 91

Nesse sentido, o CTN, em seus arts. 3º e 4º, refere-se ao conceito de tributo como sendo uma prestação pecuniária, cuja natureza é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação.

Portanto, o termo dívidas consideradas isoladamente se refere à pró-pria expressão monetária do tributo, ou seja, ao tributo como quantia em dinheiro.

Uma fração da dívida desnatura a própria prestação pecuniária repre-sentada no tributo, pois incompleta a fenomenologia tributária. Em outras palavras, não há se falar em dívida de uma fração de tributo; só há dívida de tributo integralmente considerado.

Se não se pode cobrar um tributo informe, também não pode conside-rar o parcelamento de uma fração da dívida, senão aquela que corresponda, no mínimo, a um tributo completo.

Seguindo neste raciocínio, invoco outra acepção do termo tributo, da doutrina já colacionada do professor Paulo de Barros Carvalho: tributo como norma jurídica tributária. Desta, dentre todos os seus elementos (ou aspectos) de formatação, de relevo, para a presente discussão, o aspecto temporal. A esse respeito, transcrevo mais uma vez a doutrina (CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 28. ed. São Paulo, Saraiva: 2017, p. 284):

Compreendemos o critério temporal da hipótese tributária como o grupo de indicações contidas no suposto da regra, e que nos oferecem elementos para saber, com exatidão, em que preciso instante acontece o fato descrito, passando a existir o liame jurídico que amarra devedor e credor, em função de um objeto – o pagamento de certa prestação pecuniária.

Incompleto o aspecto temporal, não há se falar em tributo, tampouco em dívida. Nesse sentido: O aspecto temporal é a circunstância de tempo do aspecto material ou o momento em que, por ficção legal, visando à opera-cionalidade (ou “praticabilidade”) da tributação, é determinado que se con-sidere ocorrido o fato gerador (Curso de direito tributário completo/Leandro Paulsen. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2017).

Desse modo, dentro da concepção de tributo e de crédito tributário, bem como do aspecto temporal da hipótese de incidência, a interpretação que deve ser dada à expressão dívidas consideradas isoladamente deve res-peitar, no mínimo, uma competência ou período de apuração tributária.

Outra conclusão levaria à completa desnaturação do próprio tributo, fazendo desaparecer o crédito tributário e o próprio conceito de dívida ou valor devido.

Acrescento que, o art. 151, VI, do CTN, diz que o crédito tributá-rio tem sua exigibilidade suspensa pelo parcelamento; de acordo com o

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art. 139 do CTN, o crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta.

Ou seja, compreender em um parcelamento tributário fração do as-pecto temporal (período de formação do próprio tributo) implicaria em par-celar fração de um crédito tributário, o que se revela impossível.

Conclusão diversa implica não apenas em cisão da própria existência de um tributo, mas de concessão da faculdade ao contribuinte de parcelar qualquer valor perante o fisco, à margem da identidade mínima do crédito, isoladamente considerado, e em contraponto à praticabilidade da tributação.

Não se está a afirmar, contudo, que o contribuinte encontra-se im-pedido de parcelar fração de dívida ativa, ou até de um auto de infração (lançamento de ofício).

A Lei não veda o parcelamento de uma fração de Certidão de Dívida ou de um auto de infração. Contudo, terá que ser respeitado cada período de apuração ou de competência do tributo.

Destaco o seguinte trecho do voto condutor do acórdão recorrido (fl. 301, grifei):

Como se vê, a Lei nº 11.941, de 2009, permite que o contribuinte escolha “débitos” que pretende ver parcelados, dentre os diversos que eventualmente possua, sejam eles inscritos em dívida ativa ou não. Se, v.g., um tributo é apurado mensalmente,gerando um débito a cada mês ou competência, é cer-to que poderá o contribuinte eleger algumas competências (= débitos) para parcelamento, deixando outras de fora. O que não pode, porque a lei a tanto não o autoriza, é pretender parcelar “percentual” ou “fração” de um débito isolado, como, por exemplo, “50%” desta ou daquela competência/débito.

Conclusivamente, correta a compreensão do acórdão recorrido quan-to ao tema, permitindo o parcelamento referente à uma ou mais compe-tências, ou um ou mais períodos de apuração, mas considerando proscrita a possibilidade de se parcelar uma fração de competência ou período de apuração.

Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial.

É como voto.

vOtO-vencidO (ministrO napOleãO nunes maia filhO)

1. Senhora Presidente, no caso em apreço, se o contribuinte preten-desse parcelar todo o débito, não haveria problema ou dificuldade alguma.

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ���������������������������������������������������������������� 93

Se houvesse a previsão, a Fazenda Pública teria deferido ou indeferido, con-forme sua conveniência.

2. A Lei nº 11.941/2009, ao dispor sobre o parcelamento do débito tributário, exige a perfeita individualização da dívida, mas não impõe restri-ção ao aproveitamento do parcelamento de fração de um débito isolado, no caso, 6% do débito objeto de uma CDA.

3. A sentença de primeiro grau e o parecer do Ministério Público Federal foram favoráveis ao contribuinte. Penso que são inteligentes, tanto a sentença como o parecer, porque é melhor para o Fisco receber 6% da dívida a não receber nada. A não ser que o credor faça uma opção por não receber nada – o que é muito estranho. Ele recebe 6%, parcela ou não parcela, e executa os 94%. Se o débito não foi incluído no parcelamento, sujeita-se à execução fiscal.

4. Há uma singularidade nessa questão que, a meu ver, desafia a uma reflexão: poderia o credor público dizer ao contribuinte que só recebe tudo ou nada, que só parcela tudo ou nada? Talvez essa não seja, em meu sentir, uma atitude que mereça um abono judicial. Acredito que é melhor receber parte do que nada, ao menos nas relações privadas ocorre dessa maneira.

5. Entendo, Professora Regina Helena Costa, que talvez essa atitude rígida do Fisco de não aceitar parte da dívida não seja abonável, pelo menos à primeira vista no Judiciário. Não me parece razoável. Realmente o par-celamento é um favor fiscal instituído em benefício do contribuinte. Talvez o credor fiscal, nesse caso, não tenha o poder de utilizar esse favor fiscal somente em seu benefício.

6. Com todo respeito à excelente sustentação feita da tribuna, calcada na legalidade estrita do Direito Tributário, mas entendo que, aqui, há uma relação de negociação administrativa, em que o indivíduo deseja quitar a dívida e a outra parte não quer recebê-la.

7. Penso, Ministro Benedito Gonçalves e Professor Gurgel de Faria, que a convocação do Judiciário se dá precisamente nesses casos em que a legislação não contempla, ao menos de maneira explícita ou definida, a solução que deve ser dada. A meu ver, a melhor decisão seria prover o Recurso Especial e estabelecer que se receba os 6% como quitação de parte da dívida e se execute os 94%; ou, ainda, que se receba os 94% de outro modo; mas não recusar os 6% que o recorrente quer pagar.

8. Ministro Benedito Gonçalves, li o voto de Vossa Excelência, sem-pre muito ponderado, muito esmerado e certeiro, mas peço-lhe vênia, com todo respeito, para dissentir da sua conclusão, porque entendo que o tudo

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ou nada não deve ser utilizado nas relações com o Poder Público. Com todo respeito, divirjo do douto Relator para dar provimento ao Recurso Especial.

certidãO de JulgamentO primeira turma

Número Registro: 2013/0157647-0

Processo Eletrônico REsp 1.382.317/PR

Números Origem: 200870000081281 200870000081282 20087000081287 50141822020114047000 9010800065537 9080800001963 9188600048992 PR-50141822020114047000

Pauta: 14.11.2017 Julgado: 21.11.2017

Relator: Exmo. Sr. Ministro Benedito Gonçalves

Presidente da Sessão: Exma. Sra. Ministra Regina Helena Costa

Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. Mário José Gisi

Secretária: Belª Bárbara Amorim Sousa Camuña

autuaçãO

Recorrente: Josir Marques

Advogados: Leonardo Sperb de Paola – PR016015 Maria das Graças Anunciação – PR040561

Recorrido: Fazenda Nacional

Procurador: Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional – PR000000O

Assunto: Direito tributário – Procedimentos fiscais

sustentaçãO Oral

Dra. Gabriel Matos Bahia, pela parte Recorrida: Fazenda Nacional

certidãO

Certifico que a egrégia Primeira Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Turma, por maioria, vencido o Sr. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Sérgio Kukina, Regina Helena Costa (Presidente) e Gurgel de Faria votaram com o Sr. Ministro Relator.

Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

13631

Tribunal Regional Federal da 1ª RegiãoNumeração Única: 0009504‑96.2009.4.01.3800Apelação Cível nº 2009.38.00.009890‑0/MGRelatora: Desembargadora Federal Maria do Carmo CardosoRelator Convocado: Juiz Federal Bruno César Bandeira ApolinárioApelante: Samarco Mineração S/AAdvogado: MG0000822A – João Dacio de Souza Pereira RolimApelado: Fazenda NacionalProcurador: GO00013207 – Adriana Gomes de Paula Rocha

ementa

PROCESSUAL – TRIBUTÁRIO – CRÉDITOS DE ICMS – EXCLUSÃO DA BASE DE CÁLCULOS DO IRPJ – CSLL – IMPOSSIBILIDADE

1. A escrituração dos créditos de ICMS caracteriza a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de acréscimos patrimoniais, e, portanto, permite a tributação pelo IRPJ e pela CSLL (STJ, REsp 859322/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 06.10.2010).

2. Apelação denegada.

acÓrdãO

Decide a Oitava Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação, nos termos do voto do re-lator.

Brasília/DF, 16 de outubro de 2017.

Juiz Federal Bruno Apolinário Relator convocado

relatÓriO

O Exmo. Sr. Juiz Federal Bruno Apolinário (Relator Convocado):

Trata-se de apelação interposta contra sentença em que se entendeu que a escrituração de créditos de ICMS configura aquisição de disponibi-lidade econômica ou jurídica de acréscimos patrimoniais e configura fato

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gerador do IRPJ e da CSLL. Com tal fundamento, denegou-se a segurança pretendida.

A apelante sustenta que o aproveitamento dos créditos acumulados de ICMS decorrentes das operações anteriores à exportação muitas das ve-zes não pode ser concretizado pelo exportador. Acrescenta que disso de-correm os efeitos sobre as bases de cálculo do IRPJ e da CSLL, que não estão refletindo a dedução do valor deste ativo a recuperar como custo, o que repercute tributação sobre lucro inexistente. Conclui que o montante de ICMS recolhido não pode ser considerado como ativo a recuperar no ativo realizável a longo prazo, e que se trata, em verdade, de custo. Com tais argumentos, pede que seja reconhecido o direito de excluir da base de cálculo do IRPJ e da CSLL o saldo credor acumulado de ICMS.

Contrarrazões apresentadas.

É o relatório.

vOtO

O Exmo. Sr. Juiz Federal Bruno Apolinário (Relator Convocado):

A questão versada no recurso já foi dirimida pelo Superior Tribunal de Justiça, que assentou: A escrituração dos créditos de ICMS caracteriza a “aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de acréscimos patri-moniais”, muito embora possa não significar aquisição de disponibilidade financeira quando há restrições ao uso dos créditos adquiridos, e, portanto, permite a tributação pelo IRPJ e pela CSLL.

Transcrevo os precedentes:

PROCESSUAL CIVIL – TRIBUTÁRIO – AUSÊNCIA DE PREQUESTIONA-MENTO – SÚMULA Nº 211/STJ – EXCLUSÃO DOS CRÉDITOS DE ICMS DA BASE DE CÁLCULO DO IMPOSTO DE RENDA DA PESSOA JURÍDICA – IRPJ E DA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO (CSLL) – IMPOSSIBILIDADE

Ausente o prequestionamento do disposto no art. 44, IV, da Lei nº 4.506/1964, e no art. 392, do Decreto nº 3.000/1999, incide o Enunciado nº 211 da Súmu-la do STJ: “Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal a quo”.

O fato gerador do imposto de renda é a aquisição da disponibilidade eco-nômica ou jurídica de renda, proventos de qualquer natureza ou acréscimos patrimoniais (art. 43, do CTN).

“Não se deve confundir disponibilidade econômica com disponibilidade fi-nanceira da renda ou dos proventos de qualquer natureza. Enquanto esta

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última se refere à imediata ‘utilidade’ da renda, a segunda está atrelada ao simples acréscimo patrimonial, independentemente da existência de recur-sos financeiros” (REsp 983.134/RS, 2ª T., Rel. Min. Castro Meira, Julgado em 03.04.2008).

A escrituração dos créditos de ICMS caracteriza a “aquisição da disponibi-lidade econômica ou jurídica de acréscimos patrimoniais”, muito embora possa não significar aquisição de disponibilidade financeira quando há res-trições ao uso dos créditos adquiridos, e, portanto, permite a tributação pelo IRPJ e pela CSLL.

Recurso especial não provido.

(REsp 859322/PR, 2ª T., Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 06.10.2010 – sem grifos no original)

PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL – RECURSO ESPECIAL – TRI-BUTÁRIO – IMPOSTO DE RENDA DA PESSOA JURÍDICA – IRPJ E CON-TRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO (CSLL) – LUCRO PRESU-MIDO – INCLUSÃO DO ICMS NA BASE DE CÁLCULO – POSSIBILIDADE – APLICAÇÃO DO ART. 31 DA LEI Nº 8.981/1995

O contribuinte de direito do ICMS quando recebe o preço pela mercadoria ou serviço vendidos o recebe integralmente, ou seja, o recebe como recei-ta sua o valor da mercadoria ou serviço somado ao valor do ICMS (valor total da operação). Esse valor, por se tratar de produto da venda dos bens, transita pela sua contabilidade como “receita bruta”, assim conceituada pela legislação que apura o IRPJ e a CSLL pelo lucro presumido, notada-mente o art. 31, da Lei nº 8.981/1995 e o art. 279, do RIR/1999 (Decreto nº 3.000/1999).

A “receita bruta” desfalcada dos valores correspondentes aos impostos inci-dentes sobre vendas (v.g. ICMS) forma a denominada “receita líquida”, que com a “receita bruta” não se confunde, a teor do art. 12, § 1º, do Decreto-Lei nº 1.598, de 1977 e art. 280 do RIR/1999 (Decreto nº 3.000/1999).

As bases de cálculo do IRPJ e da CSLL apurados pelo lucro presumido têm por parâmetro a aplicação de determinado percentual sobre a “receita bruta” e não sobre a “receita líquida”. Quisera o contribuinte deduzir os tributos pagos, no caso o ICMS, deveria ter feito a opção pelo regime de tributa-ção com base no lucro real, onde tal é possível, a teor do art. 41, da Lei nº 8.981/1995 e art. 344 do RIR/1999 (Decreto nº 3.000/1999). Precedente: REsp 1.312.024/RS, 2ª T., Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Julgado em 02.05.2013.

“Não é possível para a empresa alegar em juízo que é optante pelo lucro presumido para em seguida exigir as benesses a que teria direito no regi-me de lucro real, mesclando os regimes de apuração” (AgRg-EDcl-AgRg--Ag 1.105.816/PR, 2ª T., Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Julgado em 02.12.2010).

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Agravo regimental não provido.

(AgRg-REsp 1420119/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., Julgado em 08.04.2014, DJe 23.04.2014)

Mais recentemente, a Segunda Turma daquela Corte reiterou o posi-cionamento, como ilustra o seguinte julgado:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – AGRAVO INTERNO NOS EMBAR-GOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL – ICMS PRESUMIDO – BASE DE CÁLCULO – IPRJ E CSLL – INCIDÊNCIA – NECESSIDADE DE OPOSIÇÃO DE EMBARGOS INFRINGENTES NA ORIGEM – AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRA-VADA – SÚMULA Nº 182/STJ

1. Nos termos do art. 1.021, § 1º, do CPC/2015, cabe à parte agravante, na petição do seu agravo interno, impugnar especificamente os fundamentos da decisão agravada, o que, na hipótese dos autos, não foi atendido.

2. A Segunda Turma desta Corte firmou a compreensão de que “o crédi-to presumido do ICMS, ao configurar diminuição de custos e despesas, au-menta indiretamente o lucro tributável e, portanto, deve compor a base de cálculo do IRPJ e da CSLL” (AgRg-REsp 1.537.026/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., DJe 02.02.2016).

3. Agravo interno conhecido em parte e não provido.

(AgInt-EDcl-REsp 1621183/RS, Rel. Min. Og Fernandes, 2ª T., Julgado em 20.04.2017, DJe de 02.05.2017)

Esta Corte também já se manifestou sobre o assunto:

PROCESSUAL – TRIBUTÁRIO – PRESCRIÇÃO – LC 118/2005 – PIS – CO-FINS – BASE DE CÁLCULO – INCLUSÃO DO ICMS – NÃO CABIMENTO – IRPJ – CSLL – CABIMENTO – COMPENSAÇÃO

1. A segunda parte do art. 4º da LC 118/2005 foi declarada inconstitucional, e considerou-se válida a aplicação do novo prazo de cinco anos apenas às ações ajuizadas a partir de 09.06.2005 – após o decurso da vacatio legis de 120 dias (STF, RE 566621/RS, Relª Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, DJe de 11.10.2011).

2. A inclusão do ICMS na base de cálculo da Cofins viola o art. 195, I, b, da Constituição (RE 240785/MG, DJe de 16.12.2014). 3. A fundamentação utilizada para a não inclusão do ICMS na base da Cofins autoriza, também, sua exclusão da base de cálculo do PIS.

3. A escrituração dos créditos de ICMS caracteriza a aquisição da disponibili-dade econômica ou jurídica de acréscimos patrimoniais, e, portanto, permite a tributação pelo IRPJ e pela CSLL (STJ, REsp 859322 /PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 06.10.2010).

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4. Apelação da Fazenda Nacional e recurso adesivo a que nega provimento.

(AC 0008144-36.2007.4.01.3400/DF, Relª Desª Fed. Maria do Carmo Cardoso, 8ª T., e-DJF1 de 29.04.2016)

TRIBUTÁRIO – MANDADO DE SEGURANÇA – PRESCRIÇÃO – EXCLUSÃO DO ICMS E ISS DA BASE DE CÁLCULO DO PIS/COFINS, IRPJ E CSLL

1. A 4ª Seção desta Corte, no julgamento da Questão de Ordem nos Embar-gos Infringentes nºs 0016794-43.2005.4.01.3400-DF, e-DJF1 de 01.06.2012, da minha relatoria, por decisão majoritária, manteve a orientação de que se deve prosseguir no julgamento dos feitos relativos à inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS e da Cofins, diante do escoamento do prazo da medi-da cautelar na ADC 18 (Relª Desª Fed. Maria do Carmo Cardoso).

2. Impetrado o mandado de segurança depois da vigência da LC 118/2005, a prescrição é quinquenal.

3. O ICMS e o ISS são despesas do contribuinte, que não podem ser incluídos na base de cálculo da Cofins e do PIS – contribuições sociais incidentes so-bre o “faturamento” (Lei nº 9.718/1998, art. 3º). Despesa não é faturamento (Constituição, art. 195/I, alínea b). “Faturamento” é a receita decorrente da venda de serviços e/ou mercadorias.

4. A escrituração dos créditos de ICMS caracteriza a “aquisição da disponi-bilidade econômica ou jurídica de acréscimos patrimoniais”, muito embora possa não significar aquisição de disponibilidade financeira quando há res-trições ao uso dos créditos adquiridos, e, portanto, permite a tributação pelo IRPJ e pela CSLL. Precedente do STJ.

5. A compensação será realizada de acordo com a lei vigente na época de sua efetivação, vedada antes do trânsito em julgado (REsp 1.164.452/MG, representativo da controvérsia, Rel. Min. Teori Albino Zavaski, 1ª S.).

6. Apelação da impetrante parcialmente provida.

(AMS 0030805-31.2011.4.01.3800/MG, Rel. Des. Fed. Novély Vilanova, 8ª T., e-DJF1 de 11.04.2014)

CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO – INCLUSÃO DO ICMS NAS BASES DE CÁLCULO DO IRPJ E DA CSLL – POSSIBILIDADE – PRECEDENTES DO STJ E DO TRF/1ª REGIÃO – APELAÇÃO NÃO PROVIDA

1. É devida a inclusão do ICMS nas bases de cálculo do IRPJ e da CSLL. Pre-cedentes do Superior Tribunal de Justiça e deste Regional. 2. Apelação não provida.

(AC 0027007-04.2007.4.01.3800/MG, Rel. Des. Fed. Marcos Augusto de Sousa, 8ª T., e-DJF1 de 20.02.2015, p. 1411)

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Por fim, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento realizado no dia 18/8/2017, entendeu que a matéria não tem repercussão geral, dada sua natureza infraconstitucional:

EMENTA: Recurso extraordinário. Tributário. Créditos presumidos de ICMS. Inclusão na base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Natureza infraconstitucional da controvérsia. Ausência de repercussão geral.

(RE 1052277-RG, Rel. Min. Dias Toffoli, Julgado em 18.08.2017, DJe de 29.08.2017)

Assim, não há de se falar em exclusão do ICMS da base de cálculo do IRPJ e da CSLL.

Ante o exposto, nego provimento à apelação.

É como voto.

tribunal regiOnal federal da 1ª regiãO secretaria Judiciária

32ª Sessão Ordinária do(a) Oitava TurmaPauta de: 09.10.2017 Julgado em: 09.10.2017Ap 0009504-96.2009.4.01.3800/MGRelator: Exmo. Sr. Juiz Federal Bruno Cesar Bandeira Apolinario (Conv.)Juiz(a) Convocado(a) conforme Ato Presi nº 858Revisor: Exmo(a). Sr(a).Presidente da Sessão: Exmo(a). Sr(a). Desembargador Federal Marcos Augusto de SousaProc. Reg. da República: Exmo(a). Sr(a). Dr(a). Adriana Costa BrockesSecretário(a): Jesus Narvaez da SilvaApte.: Samarco Mineração S/AAdv.: Joao Dacio de Souza Pereira Rolim Apdo.: Fazenda Nacional Procur.: Adriana Gomes de Paula RochaNº de Origem: 2009.38.00.009890-0 Vara: 21ªJustiça de Origem: Justiça Federal Estado/Com.: MG

sustentaçãO Oral certidãO

Certifico que a(o) egrégia(o) Oitava Turma, ao apreciar o processo em epígrafe, em Sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA �������������������������������������������������������������101

Julgamento adiado por indicação do Relator.

Participaram do Julgamento os Exmos. Srs. Desembargador Federal Marcos Augusto de Sousa e Desembargador Federal Novély Vilanova. Au-sente, por motivo de férias, a Exma. Sra. Desembargadora Federal Maria do Carmo Cardoso.

Brasília, 9 de outubro de 2017.

Jesus Narvaez da Silva Secretário(a)

Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

13632

Tribunal Regional Federal da 2ª RegiãoAgravo de Instrumento – Turma Espec. II – TributárioNº CNJ: 0007404‑85.2015.4.02.0000 (2015.00.00.007404‑0)Relator: Desembargadora Federal Leticia De Santis MelloAgravante: Jorge Roberto de Mendonça Pimenta e outroAdvogado: RJ167306 – Norberto Sartorio de AndradeAgravado: União Federal/Fazenda Nacional e outroProcurador: Procurador da Fazenda Nacional e outroOrigem: 12ª Vara Federal de Execução Fiscal do Rio de Janeiro (01228607720134025101)

ementa

EXECUÇÃO FISCAL E PROCESSUAL CIVIL – EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE – DISSOLUÇÃO IRREGULAR – SÚMULA Nº 435 DO STJ – PRAZO PARA REDIRECIONAMENTO AO SÓCIO – TERMO A QUO – ACTIO NATA – PRESCRIÇÃO – INOCORRÊNCIA – BACENJUD – PENHORA DE VALOR INFERIOR A 40 SALÁRIOS MÍNIMOS

1. O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Repetitivo REsp 1.120.295/SP (Rel. Min. Luiz Fux), consolidou o entendimento que, nos tributos sujeitos a lançamento por homologação, o crédito tribu-tário constitui-se na data do vencimento do crédito tributário decla-rado, mas não pago, ou na data da entrega da declaração, o que for posterior. A partir de tal entendimento, foi editada a Súmula nº 436 do STJ (“A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra provi-dência por parte do fisco.”). Portanto, uma vez que não foi comprova-da a data da apresentação da declaração, não é possível reconhecer a prescrição.

2. O redirecionamento da execução em face do sócio-gerente tem lugar quando for constatada uma das hipóteses previstas no art. 135, III, do Código Tributário Nacional, isto é, no caso de “atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei contrato social ou estatu-tos”. A dissolução irregular da sociedade também é considerada causa apta a ensejar o redirecionamento, entendimento encontra consolida-do na Súmula nº 435 do STJ, cujo enunciado dispõe que “presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu

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domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legiti-mando o redirecionamento da execução para o sócio gerente”.

3. Conforme orientação que tem prevalecido neste Colegiado, “O marco inicial do prazo prescricional, na hipótese de redirecionamen-to da execução fiscal para o sócio, é a data em que a exequente toma ciência da dissolução irregular da sociedade. A partir de en-tão está autorizado o redirecionamento, consoante precedentes do STJ” (TRF 2ª R., AC 2014.02.01.009306-6, Relª Desª Fed. Claudia Neiva). No caso, o Oficial de Justiça certificou a diligência negati-va, em 11.12.2013, por não encontrar a empresa executada no en-dereço indicado no mandado de citação. O pedido de redireciona-mento da execução para os sócios, ora Agravantes, foi formulado em 15.01.2015, e, em 05.03.2015 e 18.03.2015, foram citados. Vê-se que não se há que falar em prescrição para redirecionamento.

4. A questão relativa à impenhorabilidade de valores limitados a 40 salários mínimos que esteja ou não depositados em caderneta de poupança, encontra-se pacificada no âmbito de ambas as Turmas de Direito Público do E. Superior Tribunal de Justiça, que, ao analisa-rem o alcance do inciso X, do art. 649, do CPC/1973 (art. 833, X, CPC/2015), estabeleceram que “A impenhorabilidade da quantia de até quarenta salários mínimos poupada alcança não somente as apli-cações em caderneta de poupança, mas também as mantidas em fun-do de investimentos, em conta-corrente ou guardadas em papel-mo-eda, ressalvado eventual abuso, má-fé, ou fraude, a ser verificado de acordo com as circunstâncias do caso concreto” (REsp 1582264/PR, 1ª T., Relª Min. Regina Helena Costa, DJe 28.06.2016). No mesmo sentido: REsp 1.340.120/SP, 4ª T., Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Jul-gado em 18.11.2014, DJe 19.12.2014; AgRg-REsp 1566145/RS, 2ª T., Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 18.12.2015.

5. Agravo de instrumento parcialmente provido, apenas para deter-minar o desbloqueio do valor inferior a 40 salários mínimos constrito através do sistema BacenJud.

acÓrdãO

Vistos e relatados os presentes autos em que são partes as acima indi-cadas, decide a Quarta Turma Especializada do Tribunal Regional Federal

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da 2ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento ao recurso, na forma do Relatório e do Voto, que fica fazendo parte do presente julgado.

Rio de Janeiro, 5 de dezembro de 2017 (data do Julgamento).

(Assinado eletronicamente – art. 1º, § 2º, inc. III, alínea a, da Lei nº 11.419/2006) Fabíola Utzig Haselof Juíza Federal Convocada Relatora

relatÓriO

Trata-se de agravo de instrumento, interposto por Silvio Ribeiro Junior e Jorge Roberto de Mendonça Pimenta, contra decisão (cópia fls. 12/17) proferida nos autos da ação nº 0122860-77.2013.4.02.5101, que rejeitou a exceção de pré-executividade sob o fundamento de inocorrência da pres-crição.

Os agravantes alegam, em síntese, que os créditos tributários estão prescritos, bem como postulam a liberação de valores constritos através do sistema BacenJud, alegando que se trata de verbas de caráter salarial.

Decisão indeferindo a antecipação dos efeitos da tutela recursal às fls. 24/31.

Contrarrazões de fls. 37/42.

Dispensada a oitiva do Ministério Público Federal (Súmula nº 189 do STJ: “É desnecessária a intervenção do Ministério Público nas execuções fiscais.”)

É o relatório. Peço dia para julgamento.

(Assinado eletronicamente – art. 1º, § 2º, inc. III, alínea a, da Lei nº 11.419/2006) Fabíola Utzig Haselof Juíza Federal Convocada Relatora

vOtO

Presentes os pressupostos, conheço do recurso.

Trata-se de agravo de instrumento, com pedido de antecipação dos efeitos da tutela recursal, interposto por Silvio Ribeiro Junior e Jorge Roberto

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA �������������������������������������������������������������105

de Mendonça Pimenta contra a decisão de fls. 12/17, proferida pelo Juízo da 12ª Vara Federal de Execução Fiscal do Rio de Janeiro/RJ, nos autos da Execução Fiscal nº 2013.51.01.122860-3, que rejeitou a exceção de pré--executividade dos Agravantes e determinou a realização da penhora de valores via BacenJud.

O Juízo a quo rejeitou a exceção de pré-executividade, por entender que “desde a citação da Sociedade Devedora, a Fazenda Nacional vem dando regular prosseguimento ao presente executivo fiscal, não havendo que se falar em prescrição intercorrente em razão de sua inércia. Assim, se não ocorrida a prescrição intercorrente, será ilegítimo entender prescrito o prazo para redirecionamento” (fl. 16). Em seguida, determinou a penhora de valores via BacenJud, considerando o decurso do prazo legal sem que os Executados tenham oferecido garantia ao Juízo.

Em suas razões, os Agravantes sustentam (i) a ocorrência da prescri-ção do crédito tributário, sob a alegação de que transcorreram seis anos entre o lançamento e sua citação; e (ii) a conseqüente impossibilidade de manutenção do bloqueio de valores via BacenJud, não apenas pela prescri-ção, mas por serem estes irrisórios e pela natureza alimentar.

Segundo os Agravantes, a decisão agravada deixou de apreciar a ale-gada prescrição intercorrente e, apesar de instado mediante embargos de declaração, o Juízo de origem limitou-se a apreciar matéria diversa, relativa à prescrição para o redirecionamento da execução.

Sustentam a ocorrência da prescrição, por entenderem que o prazo prescricional já tinha se escoado no momento em que foi determinada sua citação. Isso porque a constituição do crédito tributário mais recente ocor-reu em 13.02.2009 e sua citação foi determinada apenas em 05.02.2015.

No caso, a execução foi ajuizada em 19.09.2013, em face de Kaltech – Manutenção de Equipamentos Industriais Ltda., para cobrança dos valores constantes na Certidão de Dívida Ativa nº 70.4.13001508-01, resultantes da apuração realizada no Processo Administrativo nº 12448.501457/2013-90, devidos a título de Simples Nacional no período compreendido entre 01.01.2008 e 01.12.2008. O crédito tributário foi constituído por declara-ção, mas não constam dos autos de origem informações que evidenciem a data em que esta foi apresentada.

O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Repetitivo REsp 1.120.295/SP (Rel. Min. Luiz Fux), consolidou o entendimento que, nos tri-butos sujeitos a lançamento por homologação, o crédito tributário constitui--se na data do vencimento do crédito tributário declarado, mas não pago, ou na data da entrega da declaração, o que for posterior. A partir de tal

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entendimento, foi editada a Súmula nº 436 do STJ (“A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco.”)

Portanto, uma vez que não foi comprovada a data da apresentação da declaração, não é possível reconhecer a prescrição.

Relativamente à alegação de prescrição para o redirecionamento aos sócios, ora Agravantes, também não se verifica.

O redirecionamento da execução em face do sócio-gerente tem lugar quando for constatada uma das hipóteses previstas no art. 135, III, do Có-digo Tributário Nacional, isto é, no caso de “atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei contrato social ou estatutos”. A dissolução irregular da sociedade também é considerada causa apta a ensejar o redi-recionamento, entendimento encontra consolidado na Súmula nº 435 do STJ, cujo enunciado dispõe que “presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução para o sócio gerente”.

É necessário estabelecer um prazo dentro do qual o redirecionamen-to possa ocorrer, sob pena de tomar o crédito tributário imprescritível. Tal prazo deve ser contado a partir do momento em que a pretensão se tornar exercitável contra o sócio (teoria da actio nata), ou seja, a partir do momen-to em que o Exequente tiver conhecimento de indícios da dissolução irregu-lar que autoriza o redirecionamento. Em regra, o termo a quo para o prazo quinquenal para redirecionamento será contado da ciência da Exequente da diligência negativa de citação da pessoa jurídica, indicando sua dissolução irregular. Nesse sentido:

TRIBUTÁRIO – EXECUÇÃO FISCAL – REDIRECIONAMENTO – SÓCIO-GE-RENTE – PRESCRIÇÃO – TEORIA DA ACTIO NATA – RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS – MATÉRIA QUE EXIGE DILAÇÃO PROBATÓRIA – INCIDÊN-CIA DA SÚMULA Nº 393/STJ – 1. O termo inicial da prescrição é o momento da ocorrência da lesão ao direito, consagrado no princípio universal da actio nata. 2. In casu, não ocorreu a prescrição, porquanto o redirecionamento só se tornou possível a partir da dissolução irregular da empresa executada. 3. A responsabilidade subsidiária dos sócios, em regra, não pode ser dis-cutida em exceção de pré-executividade, por demandar dilação probatória, conforme decidido no Recurso Especial “repetitivo” 1.104.900/ES, Relª Min. Denise Arruda, 1ª S., Julgado em 25.03.2009, DJe 01.04.2009, nos termos do art. 543-C, do CPC. 4. Incidência da Súmula nº 393/STJ: “A exceção de pré-executividade é admissível na execução fiscal relativamente às matérias conhecíveis de ofício que não demandem dilação probatória”. Agravo re-gimental provido. (STJ, AGREsp 201000981780, 2ª T., Rel. Min. Humberto Martins, DJe Data: 27.10.2010)

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA �������������������������������������������������������������107

EXECUÇÃO FISCAL – DISSOLUÇÃO IRREGULAR DA EMPRESA – MARCO INICIAL DA PRESCRIÇÃO – ACTIO NATA – 1. A jurisprudência do STJ é no sentido de que o termo inicial da prescrição é o momento da ocorrência da lesão ao direito, consagração do princípio universal da actio nata. 2. In casu, não ocorreu a prescrição, porquanto o redirecionamento só se tornou possí-vel a partir da dissolução irregular da empresa executada. Agravo regimental improvido. (STJ, AGREsp 200802386451, 2ª T., Rel. Min. Humberto Martins, DJe Data: 18.09.2009)

PROCESSUAL CIVIL – TRIBUTÁRIO – EXECUÇÃO FISCAL – REDIRECIO-NAMENTO – SÓCIO-GERENTE – PRESCRIÇÃO – TERMO A QUO – DISSO-LUÇÃO IRREGULAR – ACTIO NATA – 1. O marco inicial do prazo prescri-cional, na hipótese de redirecionamento da execução fiscal para o sócio, é a data em que a exequente toma ciência da dissolução irregular da sociedade. A partir de então está autorizado o redirecionamento, consoante precedentes do STJ. 2. Hipótese em que não ocorreu o transcurso de 5 anos entre a ciên-cia da dissolução irregular e o requerimento de redirecionamento. 3. Recurso da União Federal/Fazenda Nacional provido.

No caso, o Oficial de Justiça atestou, em 11.12.2013, não ter locali-zado a empresa executada no endereço indicado no mandado de citação, tendo sido dada vista dos autos à Fazenda em 05.02.2014 (fl. 27). O pedido de redirecionamento da execução para os sócios, ora Agravantes, foi formu-lado em 15.01.2015 (fl. 39) e, em 05.03.2015 e 18.03.2015, foram realiza-das com sucesso a citação dos Agravantes, sócios da Executada. Vê-se que não se há que falar em prescrição para redirecionamento.

Apenas com relação à impenhorabilidade, é de ser dado provimento ao agravo. A questão relativa à impenhorabilidade de valores limitados a 40 salários mínimos que estejam ou não depositados em caderneta de pou-pança, encontra-se pacificada no âmbito de ambas as Turmas de Direito Público do E. Superior Tribunal de Justiça, que, ao delimitarem o alcance do inciso X, do art. 649, do CPC, estabeleceram, verbis:

PROCESSUAL – TRIBUTÁRIO – RECURSO ESPECIAL – CPC DE 1973 – APLI-CABILIDADE – REGRA DE IMPENHORABILIDADE – ART. 649, X, DO CPC – LIMITE DE QUARENTA SALÁRIOS MÍNIMOS – INTERPRETAÇÃO EXTEN-SIVA – CABIMENTO

I – Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. Assim sendo, in casu, aplica-se o Códi-go de Processo Civil de 1973.

II – A impenhorabilidade da quantia de até quarenta salários mínimos pou-pada alcança não somente as aplicações em caderneta de poupança, mas também as mantidas em fundo de investimentos, em conta-corrente ou guar-

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dadas em papel-moeda, ressalvado eventual abuso, má-fé, ou fraude, a ser verificado de acordo com as circunstâncias do caso concreto. Precedentes.

III – Recurso Especial improvido. (REsp 1582264/PR, 1ª T., Relª Min. Regina Helena Costa, DJe 28.06.2016)

PROCESSO CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – OFENSA AO ART. 535 DO CPC – NÃO CARACTERIZAÇÃO – EXECUÇÃO FISCAL – APLICAÇÃO FINANCEIRA – IMPENHORABILIDADE DO LIMITE PREVISTO NO ART. 649, X, DO CPC – AFASTAMENTO DA CONSTRIÇÃO EM RELAÇÃO AO LIMITE DE QUARENTA SALÁRIOS MÍNIMOS – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

1. Não havendo no acórdão recorrido omissão, obscuridade ou contradição, não fica caracterizada ofensa ao art. 535 do CPC.

2. Segundo a jurisprudência pacificada deste STJ “é possível ao devedor, para viabilizar seu sustento digno e de sua família, poupar valores sob a regra da impenhorabilidade no patamar de até quarenta salários mínimos, não apenas aqueles depositados em cadernetas de poupança, mas também em conta-corrente ou em fundos de investimento, ou guardados em papel--moeda” (REsp 1.340.120/SP, 4ª T., Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Julgado em 18.11.2014, DJe 19.12.2014).

3. Agravo regimental não provido. (AgRg-REsp 1566145/RS, 2ª T., Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 18.12.2015).

Conclui-se que a instância competente para dar a palavra final na interpretação da legislação federal, ao valorar a impenhorabilidade confe-rida aos depósitos em caderneta de poupança por força do art. 649, X, do CPC/1973 (art. 833, X do CPC/2015), atribuiu-lhe alcance extensivo para abarcar depósitos em conta-corrente e em fundos de investimento, e tam-bém guardados em espécie. Desta feita, irrelevante se a verba conserva a natureza salarial ou mesmo se foi comprovada que se originou de salários, uma vez que não ultrapassa o limite de quarenta salários mínimos.

Do exposto, dou provimento parcial ao agravo de instrumento, para determinar o desbloqueio do valor inferior a 40 salários mínimos constrito através do sistema BacenJud. É como voto.

(Assinado eletronicamente – art. 1º, § 2º, inc. III, alínea a, da Lei nº 11.419/2006) Fabíola Utzig Haselof Juíza Federal Convocada Relatora

Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

13633

Tribunal Regional Federal da 3ª RegiãoApelação Cível nº 0002754‑82.2013.4.03.6128/SP2013.61.28.002754‑7/SPRelatora: Desembargadora Federal Mônica NobreApelante: Houseware Brasil Ltda.Advogado: SP336518 Marcio Jose Barbero

SP213224 Joselaine Cristina BuenoApelado(a): União Federal (Fazenda Nacional)Advogado: SP000004 Raquel Vieira Mendes e Lígia Scaff ViannaNº Orig.: 00027548220134036128 1ª Vr. Jundiaí/SP

ementa

TRIBUTÁRIO – BASE DE CÁLCULO PIS E COFINS – EXCLUSÃO ICMS – COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA – PRESCRIÇÃO QUINQUENAL – CORREÇÃO MONETÁRIA – JUROS MORATÓRIOS – APELAÇÃO DA AUTORA PARCIALMENTE PROVIDA

O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), como noticiado em 15.03.2017, por maioria de votos, decidiu que o Imposto Sobre Cir-culação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não integra a base de cál-culo das contribuições para o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).

Ao finalizar o julgamento do Recurso Extraordinário nº 574.706/PR, com repercussão geral reconhecida, os ministros entenderam que o valor arrecadado a título de ICMS não se incorpora ao patrimônio do contribuinte, dessa forma, não pode integrar a base de cálculo dessas contribuições, que são destinadas ao financiamento da seguridade social.

Independentemente do quanto disposto pela Lei nº 12.973/2014, deve prevalecer o entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Fe-deral no sentido de reconhecer a inconstitucionalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS e da Cofins.

Nos termos do art. 1.035, § 11 do Código de Processo Civil, a pu-blicação da ata de julgamento do RE 574.706 equivale ao acórdão, razão pela qual não há qualquer óbice à imediata aplicação da tese firmada. Nesse sentido, o ARE 1071340.

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No que toca a eventual insurgência relativa à possibilidade de mo-dulação dos efeitos do julgado, não é possível nesta fase processual, dada a longevidade da ação e os efeitos impactantes que o paradigma ocasiona, interromper o curso do feito apenas com base numa ex-pectativa que até o momento não deu sinais de confirmação. A regra geral relativa aos recursos extraordinários julgados com repercussão geral é de vinculação dos demais casos ao julgado e a inobservância da regra deve ser pautada em razões concretas.

In casu, o acórdão prolatado está em divergência com a orientação do Supremo Tribunal Federal, cabendo, nos termos do art. 1.040, II, NCPC (antigo art. 543-C, § 7º, inc. II, do CPC 1973), retratação para adequação à jurisprudência.

O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à compensação tributária. No entanto, não é via adequada para o pleito de repetição de indébito, pela restituição, porque não é substitutivo de ação de cobrança, conforme a Súmula nº 269 do STF.

In casu, o feito não foi instruído com documentos capazes de com-provar os recolhimentos considerados indevidos.

Apelação da Autora parcialmente provida.

acÓrdãO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, em juízo de retratação, adotar o entendimento firmado no Recurso Especial nº 574.706/PR, para dar parcial provimento à apelação nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do pre-sente julgado.

São Paulo, 22 de novembro de 2017.

Mônica Nobre Desembargadora Federal

relatÓriO

Trata-se de apelação interposta contra a v. sentença proferida no mandado de segurança, cujo objeto é o reconhecimento do direito de apu-rar o PIS e a Cofins sem a inclusão do ICMS nas respectivas bases de cálculo,

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bem como a compensação e/ou restituição dos valores recolhidos indevi-damente.

Em suas razões de apelo, sustenta-se, em síntese, que o valor do ICMS não deve integrar a base de cálculo das contribuições para o PIS e a Cofins.

O Representante do Ministério Público Federal deixou de ofertar pa-recer, e pugnou pelo processamento do recurso (fls. 130/132).

Em decisão monocrática, foi negado seguimento à apelação (fls. 137/143).

Contra r. decisão, a Autora interpôs Agravo (fls. 145/162).

A Eg. Quarta Turma desta Corte, por unanimidade, negou provimento ao agravo (fls. 164/168).

A autora interpôs Recurso Extraordinário (fls. 195/204).

Tendo em vista a decisão proferida pelo C. STF no julgamento do RE 574.706/PR, a Vice-Presidência desta Corte, nos termos do disposto na Ordem de Serviço nº 2/2017 (DJe 31.08.2017), determinou a remessa do feito a este Órgão Julgador, para os fins dos arts. 543-B, § 3º, do CPC/1973 e 1.040, II, do CPC/2015 (fls. 340-v).

É o relatório.

vOtO

O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 240.785, já havia manifestado entendimento no sentido da inconstitucionalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS/Cofins, conforme acórdão assim emen-tado:

“TRIBUTO – BASE DE INCIDÊNCIA – CUMULAÇÃO – IMPROPRIEDADE – Não bastasse a ordem natural das coisas, o arcabouço jurídico constitucional inviabiliza a tomada de valor alusivo a certo tributo como base de incidência de outro. COFINS – BASE DE INCIDÊNCIA – FATURAMENTO – ICMS – O que relativo a título de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e a Presta-ção de Serviços não compõe a base de incidência da Cofins, porque estranho ao conceito de faturamento.”

(RE 240785, Relator(a): Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, Julgado em 08.10.2014, DJe-246 Divulg. 15.12.2014, Public. 16.12.2014, Ement. v. 02762-01, p. 00001)

Ressalto que o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), como no-ticiado em 15.03.2017, por maioria de votos, decidiu que o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não integra a base de cálculo

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das contribuições para o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribui-ção para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).

Ao finalizar o julgamento do Recurso Extraordinário nº 574.706/PR, com repercussão geral reconhecida, os Ministros entenderam que o valor arrecadado a título de ICMS não se incorpora ao patrimônio do contribuin-te, dessa forma, não pode integrar a base de cálculo dessas contribuições, que são destinadas ao financiamento da seguridade social.

Prevaleceu o voto da relatora, Ministra Cármen Lúcia, no sentido de que a arrecadação do ICMS não se enquadra entre as fontes de financia-mento da seguridade social previstas na Constituição Cidadã, pois não re-presenta faturamento ou receita, representando apenas ingresso de caixa ou trânsito contábil a ser totalmente repassado ao fisco estadual. A tese de re-percussão geral fixada foi a de que “O ICMS não compõe a base de cálculo para fins de incidência do PIS e da Cofins”.

Dessa forma, independentemente do quanto disposto pela Lei nº 12.973/2014, deve prevalecer o entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal no sentido de reconhecer a inconstitucionalidade da inclu-são do ICMS na base de cálculo do PIS e da Cofins.

Nos termos do art. 1.035, § 11 do Código de Processo Civil, a publi-cação da ata de julgamento do RE 574.706 equivale ao acórdão, razão pela qual não há qualquer óbice à imediata aplicação da tese firmada.

Nesse sentido, rejeitou o Min. Marco Aurélio, nos autos do ARE 1071340, a apreciação de feito decido de forma contrária ao RE 574.706, determinando de imediato o retorno dos autos ao juízo de origem para ade-quação do julgado:

DECISÃO RECURSO EXTRAORDINÁRIO – BASE DE CÁLCULO – ICMS – INCLUSÃO – APRECIAÇÃO DA MATÉRIA SOB O ÂNGULO DA REPER-CUSSÃO GERAL – RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº 574.706/PR – BAIXA À ORIGEM – 1. O Supremo, no Recurso Extraordinário nº 240.785/MG, de minha relatoria, apreciou, em 8 de outubro de 2014, a matéria versada neste processo, assentando, por maioria de votos, a não inclusão do Imposto so-bre Circulação de Mercadorias e Serviços na base de cálculo da Cofins e da contribuição social para o PIS. O acórdão ficou assim ementado: TRIBUTO – BASE DE INCIDÊNCIA – CUMULAÇÃO – IMPROPRIEDADE – Não bastasse a ordem natural das coisas, o arcabouço jurídico constitucional inviabiliza a tomada de valor alusivo a certo tributo como base de incidência de outro. COFINS – BASE DE INCIDÊNCIA – FATURAMENTO – ICMS – O que rela-tivo a título de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e a Prestação de Serviços não compõe a base de incidência da Cofins, porque estranho ao conceito de faturamento. O entendimento, todavia, não havia sido fixado sob o ângulo da repercussão geral, o que ocorreu quando do julgamento

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do Recurso Extraordinário nº 574.706-9/PR, da relatoria da Ministra Cármen Lúcia, acórdão pendente de publicação. 2. Considerado o fato de o recurso veicular matéria similar, bem como presente o objetivo maior do instituto – evitar que o Supremo, em prejuízo dos trabalhos, tenha o tempo tomado com questões repetidas –, determino a devolução do processo à origem. Faço-o com fundamento no art. 328, parágrafo único, do Regimento Interno deste Tribunal, para os efeitos do art. 543-B do Código de Processo Civil de 1973. 3. Publiquem. Brasília, 6 de setembro de 2017. Ministro Marco Aurélio, Re-lator.

Assim também é o entendimento do STF acerca de paradigmas que não foram publicados e não possuem trânsito em julgado:

EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL – INSUR-GÊNCIA VEICULADA CONTRA A APLICAÇÃO DA SISTEMÁTICA DA REPER-CUSSÃO GERAL (ARTS. 543-B DO CPC E 328 RISTF) – POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO IMEDIATO INDEPENDENTEMENTE DA PUBLICAÇÃO OU DO TRÂNSITO EM JULGADO DO PARADIGMA – PRECEDENTES – ACÓR-DÃO RECORRIDO PUBLICADO 01.10.2010 – A existência de precedente firmado pelo Plenário desta Corte autoriza o julgamento imediato de causas que versem sobre o mesmo tema, independente da publicação ou do trânsito em julgado do paradigma. Precedentes. Adequada à espécie, merece manu-tenção a sistemática da repercussão geral aplicada (arts. 543-B do CPC e 328 do RISTF). Agravo regimental conhecido e não provido. (ARE 673256-AgR, Relator(a): Min. Rosa Weber, 1ª T., Julgado em 08.10.2013, Processo Eletrô-nico DJe-209, Divulg. 21.10.2013, Public. 22.10.2013)

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – SERVIDORES PÚBLICOS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – INSURGÊNCIA VEICULADA CONTRA A APLICAÇÃO DA SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL – ART. 543-B DO CPC – RE 561.836/RN – POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO IMEDIA-TO, INDEPENDENTEMENTE DA PUBLICAÇÃO OU DO TRÂNSITO EM JULGADO DO PARADIGMA – PRECEDENTES

1. “A existência de precedente firmado pelo Plenário desta Corte autoriza o julgamento imediato de causas que versem sobre o mesmo tema, indepen-dente da publicação ou do trânsito em julgado do paradigma. Precedentes. Adequada à espécie, merece manutenção a sistemática da repercussão geral aplicada (arts. 543-B do CPC e 328 do RISTF). Agravo regimental conhecido e não provido.” (STF, ARE 673.256-AgR, Relª Min. Rosa Weber, 1ª T., DJe 22.10.2013)

2. Agravo regimental a que se nega provimento

(AgRg-AREsp 653.756/RN, Rel. Min. Og Fernandes, 2ª T., Julgado em 19.05.2015, DJe 05.06.2015)

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No que toca a eventual insurgência relativa à possibilidade de mo-dulação dos efeitos do julgado, não é possível nesta fase processual, dada a longevidade da ação e os efeitos impactantes que o paradigma ocasiona, interromper o curso do feito apenas com base numa expectativa que até o momento não deu sinais de confirmação. A regra geral relativa aos recursos extraordinários julgados com repercussão geral é de vinculação dos demais casos ao julgado e a inobservância da regra deve ser pautada em razões concretas.

In casu, o acórdão prolatado está em divergência com a orientação do Supremo Tribunal Federal, cabendo, nos termos do art. 1.040, II, NCPC (antigo art. 543-C, § 7º, inc. II, do CPC 1973), retratação para adequação à jurisprudência.

Assim, necessária a retratação do acórdão prolatado por esta E. Quar-ta Turma, para reconhecer que o ICMS não compõe a base de cálculo para fins de incidência do PIS e da Cofins.

Com relação à compensação dos valores, ora questionados, a juris-prudência se consolidou pela possibilidade de utilização do mandado de segurança para declaração do direito de compensação, conforme o Enun-ciado nº 213 da sua Súmula do Superior Tribunal de Justiça:

O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à compensação tributária.

O mandado de segurança, no entanto, não é via adequada para o pleito de repetição de indébito, pela restituição, porque não é substitutivo de ação de cobrança, conforme a Súmula nº 269 do STF:

O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.

No presente caso, a parte postula o reconhecimento do direito à com-pensação e não à restituição. De tal sorte, é possível, por esta via, declarar o direito à compensação, a ser promovida na via administrativa, observados os parâmetros legais, observando-se o prazo prescricional.

Observa-se, outrossim, que a autora pleiteou a exclusão do ICMS na base de cálculo das exações em comento, bem como o reconhecimento do direito de compensar o que recolheu indevidamente, com quaisquer tribu-tos administrados pela Receita Federal.

Verifica-se, todavia, que o feito não foi instruído com documentos capazes de comprovar os recolhimentos considerados indevidos, tendo a Apelante colacionado aos autos apenas o comprovante de inscrição CNPJ e o contrato social (fls. 22/26).

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Assim, denota-se que a parte não se desincumbiu do ônus de compro-var que recolheu indevidamente os tributos, cuja restituição pleiteia.

Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1.111.164/BA, representativo da controvérsia, reconheceu a necessidade da comprovação dos valores que o impetrante pretende compensar, mediante a juntada aos autos das respectivas guias de recolhimento:

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL – MANDADO DE SEGURANÇA – COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA – IMPETRAÇÃO VISANDO EFEITOS JURÍDI-COS PRÓPRIOS DA EFETIVA REALIZAÇÃO DA COMPENSAÇÃO – PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA – NECESSIDADE

1. No que se refere a mandado de segurança sobre compensação tributária, a extensão do âmbito probatório está intimamente relacionada com os limites da pretensão nele deduzida. Tratando-se de impetração que se limita, com base na Súmula nº 213/STJ, a ver reconhecido o direito de compensar (que tem como pressuposto um ato da autoridade de negar a compensabilida-de), mas sem fazer juízo específico sobre os elementos concretos da própria compensação, a prova exigida é a da “condição de credora tributária” (EREsp 116.183/SP, 1ª S., Min. Adhemar Maciel, DJ de 27.04.1998).

2. Todavia, será indispensável prova pré-constituída específica quando, à de-claração de compensabilidade, a impetração agrega (a) pedido de juízo so-bre os elementos da própria compensação (v.g.: reconhecimento do indébito tributário que serve de base para a operação de compensação, acréscimos de juros e correção monetária sobre ele incidente, inexistência de prescrição do direito de compensar), ou (b) pedido de outra medida executiva que tem como pressuposto a efetiva realização da compensação (v.g.: expedição de certidão negativa, suspensão da exigibilidade dos créditos tributários contra os quais se opera a compensação). Nesse caso, o reconhecimento da liqui-dez e certeza do direito afirmado depende necessariamente da comprovação dos elementos concretos da operação realizada ou que o impetrante preten-de realizar. Precedentes da 1ª Seção (EREsp 903.367/SP, Min. Denise Arruda, DJe de 22.09.2008) e das Turmas que a compõem.

3. No caso em exame, foram deduzidas pretensões que supõem a efetiva realização da compensação (suspensão da exigibilidade dos créditos tribu-tários abrangidos pela compensação, até o limite do crédito da impetrante e expedição de certidões negativas), o que torna imprescindível, para o reco-nhecimento da liquidez e certeza do direito afirmado, a pré-constituição da prova dos recolhimentos indevidos.

4. Recurso especial provido. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ nº 08/2008.

(REsp 1111164/BA, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1ª S., Julgado em 13.05.2009, DJe 25.05.2009

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Nessa linha, segue precedente dessa Colenda Corte:

TRIBUTÁRIO E PROCESSO CIVIL – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DO AU-TOR E DA UNIÃO – OMISSÃO – EMBARGOS DO AUTOR ACOLHIDOS – EMBARGOS DA UNIÃO REJEITADOS

Objetiva o contribuinte, em seus embargos, pronunciamento acerca da pos-sibilidade de compensação de valores que eventualmente tenham sido in-devidamente recolhidos em decorrência da vigência do diploma normativo impugnado, qual seja, a Instrução Normativa nº 243/2002. A questão da compensação tributária no âmbito do mandado de segurança já foi objeto de análise pelo Superior Tribunal de Justiça, que reconheceu, no julgamento do REsp 1.111.164/BA, representativo da controvérsia, a necessidade da com-provação do recolhimento dos valores que se pretende compensar, mediante a juntada das respectivas guias Darf. No caso dos autos, no entanto, não foram juntados pelo impetrante documentos hábeis a demonstrar a efetiva existência de relação jurídica entre as partes no que tange aos tributos em comento, tampouco as guias comprobatórias de eventuais pagamentos, de modo que o pleito não pode ser acolhido (art. 333, inciso I, do CPC), por-quanto a concessão da ordem no presente remédio constitucional reclama a prova do direito líquido e certo.

Além, no que toca ao argumento desenvolvido pela União no recurso ora apresentado, tem-se que o acórdão embargado apreciou de maneira clara tal questão (fls. 210v/213), qual seja, a indicação equivocada da autoridade co-atora, de modo que inexistem vícios a serem sanados, mas sim clara intenção da fazenda de rediscutir a tese nesta sede, o que não é admitido.

Rejeitados os embargos de declaração da União, porém acolhidos os do au-tor para suprir a omissão e, em consequência, emprestado-lhes efeitos infrin-gentes a fim de que o dispositivo da decisão embargada passe a constar nos seguintes termos: Ante o exposto, não conheço do agravo retido, acolho a preliminar arguida nas contrarrazões, a fim de retificar a autoridade coatora para o Delegado da Receita Federal em Osasco, e, nos termos do art. 515, § 3º, do CPC de 1973, correspondente ao art. 1.013, § 3º, inciso I, do CPC vigente, dou parcial provimento ao apelo e concedo em parte a ordem para que o impetrante não se sujeite à incidência da IN 243/2002 e seja mantida a regulamentação da Lei nº 9.430/1996, com a redação da Lei nº 9.959/2000, por meio da IN/SRF 32/2001, até a edição da Lei nº 12.715, de 17 de setem-bro de 2012.

(AMS – Apelação Cível, 4ª T., 312655/SP – 0028202-25.2005.4.03.6100, Rel. Des. Fed. Andre Nabarrete, Julgamento: 02.08.2017, Publicação/Fonte: e-DJF3 Judicial 1 Data: 24.08.2017)

Assim, não obstante tenha sido reconhecido o direito da Apelante de recolher as contribuições para o PIS e a Cofins sem incluir o ICMS nas respectivas bases de cálculo, o pedido de compensação deve ser julgado

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improcedente, pela falta de comprovação dos valores indevidamente reco-lhidos.

Ante o exposto, em juízo de retratação, adotar o entendimento fir-mado no Recurso Especial nº 574.706/PR, para dar parcial provimento à apelação, consoante fundamentação.

É o meu voto.

Mônica Nobre Desembargadora Federal

Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

13634

Tribunal Regional Federal da 4ª RegiãoApelação Cível nº 5003021‑39.2014.4.04.7216/SCRelator: Juíza Federal Gabriela Pietsch SerafinApelante: Divo PintoAdvogado: Ricardo Augusto SilveiraApelado: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS

ementa

PREVIDENCIÁRIO – COBRANÇA DO INSS DE BENEFÍCIO ASSISTENCIAL INDEVIDAMENTE RECEBIDO – DEVOLUÇÃO DOS VALORES – MÁ-FÉ – CARACTERIZAÇÃO – CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS SOBRE OS VALORES A SEREM RESTITUÍDOS AO INSS

1. É devida a devolução de valores recebidos em decorrência do pa-gamento de benefício previdenciário quando comprovada, pela pro-va dos autos, a má-fé do réu que recebeu indevidamente o benefício assistencial.

2. Nas ações de ressarcimento promovidas pelo INSS, o elemento central tende a ser a identificação da má-fé do beneficiário, já que a existência do fato lesivo à autarquia previdenciária é facilmente demonstrável por meio do processo administrativo originário, onde há declaração assinada pelo representante legal do beneficiário infor-mando expressamente não receber “benefício da Previdência Social nem de outro regime”.

3. Em face de não possuírem as parcelas a serem restituídas ao INSS natureza de crédito tributário, descabe a incidência da Selic para atualizar o montante devido.

acÓrdãO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Turma Regional suplementar de Santa Catarina do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento ao recurso da parte ré, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Florianópolis, 14 de dezembro de 2017.

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Juíza Federal Gabriela Pietsch Serafin Relatora

relatÓriO

Trata-se de apelação interposta contra sentença, prolatada em 03.09.2015, que julgou parcialmente procedente o pedido de ressarcimen-to ajuizada pelo INSS referente às parcelas recebidos a título de benefício assistencial pelo filho do réu entre 04/2009 a 11/2012.

Em suas razões recursais o réu defende que a renda familiar é com-provadamente inferior aos excessivos gastos do grupo familiar por conta da doença do filho Fernando de Souza Pinto, que era o beneficiário do Loas cancelado administrativamente. Em caso de manutenção da sentença, re-quer seja aplicada na atualização das parcelas vencidas e juros de mora as disposições da Lei nº 11.960/2009.

Após as contrarrazões, vieram os autos conclusos.

É o relatório.

vOtO

MÉRITO

É cediço que a Seguridade Social é um amplo sistema de proteção social inserido na Constituição Federal. Por esta razão, a proteção previden-ciária oriunda de um sistema contributivo em que todos devem colaborar merece uma atenção destacada, de modo que os recursos financeiros sejam distribuídos com justiça e igualdade.

Assim, a Previdência Social pode buscar a devolução de valores per-cebidos indevidamente, em razão de três fundamentos jurídicos: a) poder/dever de auto-tutela da Administração Pública; b) supremacia do interesse público sobre o interesse privado; e c) vedação do enriquecimento sem cau-sa do segurado.

Para tanto, encontra autorização legal nos arts. 115 da Lei nº 8.213/1991 e 154 do Decreto nº 3.048/1999, in verbis:

Lei nº 8.213/1991:

Art. 115. Podem ser descontados dos benefícios:

I – contribuições devidas pelo segurado à Previdência Social;

II – pagamento de benefício além do devido; [...]

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§ 1º Na hipótese do inciso II, o desconto será feito em parcelas, confor-me dispuser o regulamento, salvo má-fé. (Incluído pela Lei nº 10.820, de 17.12.2003)

§ 2º Na hipótese dos incisos II e VI, haverá prevalência do desconto do inciso II. (Incluído pela Lei nº 10.820, de 17.12.2003)

Decreto nº 3.048/1999:

Art. 154. O Instituto Nacional do Seguro Social pode descontar da renda mensal do benefício:

I – contribuições devidas pelo segurado à previdência social;

II – pagamentos de benefícios além do devido, observado o disposto nos §§ 2º ao 5º;

§ 2º A restituição de importância recebida indevidamente por beneficiário da previdência social, nos casos comprovados de dolo, fraude ou má-fé, deverá ser feita de uma só vez, atualizada nos moldes do art. 175, independente-mente de outras penalidades legais.

§ 2º A restituição de importância recebida indevidamente por beneficiário da previdência social, nos casos comprovados de dolo, fraude ou má-fé, deverá ser atualizada nos moldes do art. 175, e feita de uma só vez ou mediante acordo de parcelamento na forma do art. 244, independentemente de outras penalidades legais. (Redação dada pelo Decreto nº 5.699, de 2006)

§ 3º Caso o débito seja originário de erro da previdência social, o segurado, usufruindo de benefício regularmente concedido, poderá devolver o valor de forma parcelada, atualizado nos moldes do art. 175, devendo cada parcela corresponder, no máximo, a trinta por cento do valor do benefício em ma-nutenção, e ser descontado em número de meses necessários à liquidação do débito.

§ 4º Se o débito for originário de erro da previdência social e o segurado não usufruir de benefício, o valor deverá ser devolvido, com a correção de que trata o parágrafo anterior, da seguinte forma. [...].

Logo, para a manutenção do equilíbrio financeiro do regime geral, tão caro à sociedade brasileira, o princípio da supremacia do interesse pú-blico deve ser invocado pela Autarquia Previdenciária para fazer retornar ao sistema da seguridade social valores que foram indevidamente pagos.

De outro lado, não se desconhece a remansosa jurisprudência pátria consolidada no sentido de que, havendo por parte da Autarquia má aplica-ção de norma jurídica, interpretação equivocada e erro da administração, não se autoriza, por si só, a devolução de valores recebidos indevidamente a título de benefício previdenciário, já que, em tese, foram recebidos de boa-fé pelos segurados. Afora isso, tais valores são considerados de natureza alimentar, sendo, portanto, irrepetíveis.

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Nesse sentido, os seguintes julgados do STJ:

PROCESSUAL CIVIL – PREVIDENCIÁRIO – RECURSO ESPECIAL – CÓDI-GO DE PROCESSO CIVIL DE 1973 – APLICABILIDADE – APOSENTADORIA POR INVALIDEZ – BENEFÍCIO RECEBIDO INDEVIDAMENTE POR ERRO DA ADMINISTRAÇÃO – BOA-FÉ – VERBA DE CARÁTER ALIMENTAR – RES-TITUIÇÃO DE VALORES – IMPOSSIBILIDADE – I – Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime re-cursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. Assim sendo, in casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 1973. II – Por força do princípio da irrepetibilidade dos alimentos, e, sobre-tudo, em razão da diretriz da boa-fé objetiva do segurado, não cabe a de-volução de valores recebidos, a título de benefício previdenciário, por força de interpretação equivocada, má aplicação da lei ou erro da Administração. III – Recurso Especial não provido. (REsp 1550569/SC, Relª Min. Regina Helena Costa, 1ª T., Julgado em 03.05.2016, DJe 18.05.2016)

PREVIDENCIÁRIO – PENSÃO POR MORTE – PAGAMENTO INDEVIDO – BOA-FÉ – ERRO DA ADMINISTRAÇÃO – VERBA DE CARÁTER ALIMENTAR – RESTITUIÇÃO DE VALORES – IMPOSSIBILIDADE – 1. Conforme a juris-prudência do STJ é incabível a devolução de valores percebidos por pensio-nista de boa-fé por força de interpretação errônea, má aplicação da lei ou erro da Administração. 2. É descabido ao caso dos autos o entendimento fixado no Recurso Especial nº 1.401.560/MT, julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, pois não se discute na espécie a restituição de valores recebidos em virtude de antecipação de tutela posteriormente revogada. 3. Recurso Especial não provido. (REsp 1553521/CE, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., Julgado em 03.11.2015, DJe 02.02.2016)

No entanto, quando os benefícios previdenciários são obtidos, com-provadamente, mediante fraude, dolo e má-fé, há previsão legal autorizan-do a administração a adotar medidas administrativas para fazer cessar a ilicitude, bem como a buscar a via judicial para obter a restituição da verba indevidamente paga.

No caso concreto, o INSS busca a devolução de valores percebidos a título de benefício assistencial deferido ao filho do recorrente Fernando Souza Pinto (curatelado) entre 01/2009 a 11/2012.

O magistrado sentenciante julgou parcialmente o pedido do INSS, reconhecendo a má-fé do curador do beneficiário (ora réu na ação) no rece-bimento das parcelas do benefício assistencial, uma vez que seu filho já era beneficiário desde 1984 de pensão de deficiente mental pago pelo Estado de Santa Catarina, no valor de um salário mínimo. Todos esses fatos foram apurados no processo administrativo, juntado ao evento 1, PROCADM3.

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Defende o recorrente que o INSS apurou de forma incompleta a au-sência de eventual requisito para a concessão do benefício assistencial, ra-zão pela qual não pode pretender fazer as consequências de tal erro reca-írem exclusivamente no beneficiário, que de boa-fé recebeu as prestações que possuem natureza nitidamente alimentar.

Pois bem.

Impede observar que, nas ações de ressarcimento promovidas pelo INSS, o elemento central tende a ser a identificação da má-fé do beneficiá-rio, já que a existência do fato lesivo à autarquia previdenciária é facilmen-te demonstrável por meio do processo administrativo originário, onde há declaração assinada pelo representante legal do beneficiário informando expressamente não receber “benefício da Previdência Social nem de outro regime” – evento 1, PROCADM3, p. 03.

Nessa esteira, reputo indispensável que seja demonstrada a má-fé ou, no revés, que seja afastada boa-fé da pessoa que alegadamente recebeu de forma indevida determinado benefício previdenciário. Essa é a orientação correta e atual das Turmas Previdenciárias, consoante decisão recente da 6ª Turma do nosso Tribunal em caso similar:

PROCESSO CIVIL E PREVIDENCIÁRIO – RESTABELECIMENTO DE BENEFÍ-CIO ASSISTENCIAL A PORTADOR DE DEFICIÊNCIA – REQUISITO DA HI-POSSUFICIÊNCIA NÃO DEMONSTRADO – DEVOLUÇÃO DOS VALORES – MÁ-FÉ – CARACTERIZAÇÃO

1. Não comprovada a hipossuficiência do núcleo familiar, não faz jus a par-te autora ao restabelecimento do benefício assistencial a portador de defi-ciência.

2. É devida a devolução de valores recebidos em decorrência do pagamento de benefício previdenciário quando ausentes os seus pressupostos e com-provada, pela prova dos autos, a má-fé do réu que recebeu indevidamente o auxílio-doença.

(TRF 4ª R., Apelação Cível nº 5001218-73.2014.4.04.7134/RS, Rel. Des. Fed. João Batista Pinto Silveira, 6ª T., Julgado em 17.05.2017)

A questão da comprovação da má-fé no recebimento do Loas restou muito bem elaborada pelo magistrado sentenciante, cujos fundamentos e argumentos a seguir transcrevo:

II.2 Mérito

A questão controvertida nos autos cinge-se à possibilidade ou não do res-sarcimento ao erário dos valores recebidos a título de benefício assistencial, cuja concessão foi ulteriormente considerada irregular.

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Primeiramente, cabe registrar que consolidou-se na jurisprudência pátria o entendimento de que em se tratando de benefício previdenciário ou assis-tencial indevidamente pago, face ao caráter alimentar, imprescindível é a comprovação da má-fé do beneficiário. A esse respeito:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL – BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO – RECEBIMENTO INDEVIDO – BOA-FÉ CONFIGURADA – É certo que o Instituto Nacional do Seguro Social tem direito de promover a execução dos seus créditos inseridos em dívida ativa. Todavia, para a cobrança de valores pagos indevidamente a título de benefício previdenciário, ou assistencial, em face do caráter ali-mentar dessas verbas e, em decorrência, da sua irrepetibilidade, é impres-cindível a demonstração da má-fé do beneficiário em processo judicial próprio com a observância do contraditório e ampla defesa. (TRF 4ª R., Ap-Reex 0001585-94.2012.404.9999, 3ª T., Rel. Fernando Quadros da Silva, DE 20.04.2012)

Também, de acordo com a jurisprudência, não cabe a restituição dos valores indevidos pelo beneficiário se reconhecido nas vias ordinárias que ele estava de boa-fé, mormente se o ato concessório decorreu de erro administrativo:

PREVIDENCIÁRIO – BENEFÍCIO PAGO A MAIOR – ERRO ADMINIS-TRATIVO – RECEBIMENTO DE BOA-FÉ – NATUREZA ALIMENTAR – RESTITUIÇÃO INDEVIDA – 1. Em face do caráter social das demandas de natureza previdenciária, associada à presença da boa-fé do benefici-ário, afasta-se a devolução de parcelas pagas a maior, mormente na hi-pótese de erro administrativo. 2. Agravo regimental improvido. (AgRg-Ag 1318361/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª T, DJe 13.12.2010

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO – PREVI-DENCIÁRIO – BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO – PAGAMENTO A MAIOR – DEVOLUÇÃO DOS VALORES RECEBIDOS INDEVIDAMENTE PELO SEGURADO AO INSS – ART. 115 DA LEI Nº 8.213/1991 – IMPOSSIBI-LIDADE – BOA-FÉ – NATUREZA ALIMENTAR – ALEGAÇÃO DE VIOLA-ÇÃO AO PRINCÍPIO DA RESERVA DE PLENÁRIO – INOCORRÊNCIA – MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL – 1. A violação constitucional dependente da análise do malferimento de dispositivo infraconstitucional encerra violação reflexa e oblíqua, tornando inadmissível o recurso ex-traordinário. 2. O princípio da reserva de plenário não resta violado, nas hipóteses em que a norma em comento (art. 115 da Lei nº 8.213/1991) não foi declarada inconstitucional nem teve sua aplicação negada pelo Tribunal a quo, vale dizer: a controvérsia foi resolvida com a fundamen-to na interpretação conferida pelo Tribunal de origem a norma infra-constitucional que disciplina a espécie. Precedentes: AI 808.263-AgR, 1ª T., Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 16.09.2011; Rcl 6944, Pleno, Relª Min. Cármen Lúcia, DJe de 13.08.2010; RE 597.467-AgR, 1ª T., Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 15.06.2011; AI 818.260-AgR, 2ª T., Relª Min. Ellen Gracie, DJe de 16.05.2011, entre outros. 3. In casu, o acór-

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dão recorrido assentou: “PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO – COBRANÇA DOS VALORES PAGOS IN-DEVIDAMENTE – CARÁTER ALIMENTAR DAS PRESTAÇÕES PREVIDEN-CIÁRIAS – 1. Esta Corte vem se manifestando no sentido da impossibili-dade de repetição dos valores recebidos de boa-fé pelo segurado, dado o caráter alimentar das prestações previdenciárias, sendo relativizadas as normas dos arts. 115, II, da Lei nº 8.213/91, e 154, § 3º, do Decreto nº 3.048/1999. 2. Hipótese em que, diante do princípio da irrepetibili-dade ou da não-devolução dos alimentos, deve ser afastada a cobrança dos valores recebidos indevidamente pelo segurado, a título de aposen-tadoria por tempo de contribuição.” 4. Agravo regimental desprovido. (AI 849529-AgR, Relator(a): Min. Luiz Fux, 1ª T, DJe 15.03.2012)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – RES-TITUIÇÃO DE PARCELAS PREVIDENCIÁRIAS – VERBA DE NATUREZA ALIMENTAR RECEBIDA DE BOA-FÉ PELA PARTE SEGURADA – IRREPE-TIBILIDADE – 1. Segundo a jurisprudência deste Superior Tribunal de Jus-tiça, “A reclamação não integra o rol das ações constitucionais destinadas a realizar o controle concentrado e abstrato de constitucionalidade das leis e atos normativos. É medida processual que somente opera efeitos inter partes, não ostentando efeito geral vinculante” (REsp 697.036/RS, Rel. Min. Castro Meira, 2ª T, DJe 04.08.2008). 2. Ainda na forma dos precedentes desta Corte, incabível a restituição de valores indevidamen-te recebidos por força de erro no cálculo, quando presente a boa-fé do segurado. 3. Ademais, no caso dos autos, há de ser considerado que as vantagens percebidas pelos beneficiários da Previdência Social possuem natureza alimentar, pelo que se afigura a irrepetibilidade desses importes. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg-AREsp 33.649/RS, Rel. Min. Og Fernandes, 6ª T, DJe 02.04.2012)

Consoante apontado nas decisões acima suscitadas, a jurisprudência é pa-cífica no sentido do descabimento de descontos ou cobrança, a título de restituição de valores pagos pelo INSS aos segurados por erro administrativo, cujo recebimento deu-se de boa-fé, sem prova de má-fé ou fraude por parte da ré, em face do princípio da irrepetibilidade ou da não devolução dos alimentos.

E, nesse particular, muito embora o art. 115 da Lei nº 8.213/1991 autorize o INSS a proceder ao desconto, o fato é que, estando de boa-fé o segu-rado, as parcelas são irrepetíveis, porque alimentares – devendo ser even-tual fraude ou má-fé comprovada através de prova robusta produzida em processo judicial próprio, com a observância do contraditório e da ampla defesa (TRF 4ª R., AC 2004.72.07.004444-2, DJ 07.12.2007 e STJ, AGAREsp 201101841532, DJe 02.04.2012).

Nesse sentido:

[...]

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No tocante à definição do conceito de boa-fé no contexto de restituição de benefício previdenciário pago indevidamente, elucidativo é o artigo publi-cado pelo Desembargador Federal Rômulo Pizzolatti (A restituição de bene-fícios previdenciários pagos indevidamente e seus requisitos) na Revista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, nº 78, p. 111/115, conforme adiante transcrito:

Ora, para a solução dos litígios compreendidos no tema ora sob exame é crucial definir-se o que seja boa-fé e má-fé, devendo prová-las a parte que as alegue, não cabendo cogitar-se de presunções. A boa-fé e a má-fé se incluem no âmbito das questões de fato e provam-se por indícios e circunstâncias, incumbindo a quem as alegar o ônus da prova. Se o beneficiário alegar que recebeu os valores indevidos de boa-fé, não estando por isso obrigado a res-tituí-los, caber-lhe-á prová-lo. E se o INSS alegar que o beneficiário recebeu os valores indevidos de má-fé, devendo por isso restituir os valores de uma só vez, caber-lhe-á então a prova do que alega.

Como se sabe, existem duas boas-fés no âmbito do Direito, sendo uma obje-tiva, a boa-fé princípio ou boa-fé como regra de conduta, aplicável principal-mente na esfera dos contratos, e outra subjetiva, a boa-fé estado, que respeita a elementos internos, principalmente psicológicos3. A segunda, apropriada ao tema em estudo, comporta duas concepções, a psicológica e a ética. Por aquela, a pessoa ignora os fatos reais, ainda que culposamente (sem que se cogite de culpa grave, equiparável ao dolo), e está de boa-fé, ou não ignora, e está de má-fé. Por esta, para haver boa-fé a ignorância dos fatos deve ser desculpável, por ter a pessoa respeitado os deveres de cuidado; se puder ser--lhe atribuído um desconhecimento ainda que meramente culposo, estará a pessoa de má-fé. Entre nós, assim como nos demais sistemas jurídicos, pre-domina a concepção ética da boa-fé, que aliás melhor corresponde à justiça.

“O mais poderoso argumento em favor da concepção ética está na afir-mação de que o negligente e o impulsivo não podem ficar em situação mais vantajosa ou mesmo igual à do avisado e do prudente: quem erra in-desculpavelmente não poderá ficar na mesma situação jurídica de quem erra sem culpa.”4

Adotada a concepção ética da boa-fé, predominante no nosso direito, caberá então a restituição de valores indevidamente pagos pela Previdência Social, em decorrência de erro administrativo, sempre que a ignorância do erro pelo beneficiário não for desculpável. A meu ver, não é desculpável o recebimen-to de benefícios inacumuláveis (Lei nº 8.213, de 1991, art. 124), porque a lei é bastante clara, sendo de exigir-se o seu conhecimento pelo beneficiário. Também não será escusável o recebimento, em virtude de simples revisão, de valor correspondente a várias vezes o valor do benefício6. Do mesmo modo, não cabe alegar boa-fé o pensionista que recebe pensão de valor in-tegral e continua a receber o mesmo valor, ciente de que outro beneficiário se habilitou e houve o desdobramento da pensão. De qualquer modo, serão os indícios e circunstâncias que indicarão, em cada caso concreto, se a ig-norância do erro administrativo pelo beneficiário é escusável ou não. Grifei.

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Em conclusão, inexistindo má-fé da parte ré em relação aos valores inde-vidamente recebidos no benefício previdenciário, não há que se falar em ressarcimento ao erário.

Por outro lado, havendo nos autos elementos indiciários de que o segurado agiu com má-fé no recebimento indevido do benefício, os valores indevida-mente pagos e apurados devem ser por ele ressarcidos.

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região assim já analisou a matéria:

PREVIDENCIÁRIO – CONCESSÃO DE BENEFÍCIO – AUXÍLIO-DOENÇA – APOSENTADORIA POR INVALIDEZ – AUSÊNCIA DA QUALIDADE DE SEGURADO – I – Tratando-se de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez, o Julgador firma sua convicção, via de regra, por meio da prova pericial. II – Considerando que a parte autora encontra-se inca-pacitada, porém não comprovado sua qualidade de segurada, descabe a concessão do benefício. III – Comprovada a concessão irregular do benefício previdenciário e demonstrado que o postulante atuou de má--fé, mostra-se correta a pretensão da autarquia previdenciária de rever os valores indevidamente disponibilizados. (TRF 4ª R., Ap-Reex 5065145-23.2011.404.7100, 5ª T., Rel. p/ Ac. Gerson Godinho da Costa, DE 30.09.2013) (grifei)

Por fim, de acordo com o § 2º, do art. 154, do Decreto nº 3.048/1999, a restituição dos valores previdenciários recebidos indevidamente, em caso de comprovada fraude, deverá ser efetuada de uma só vez ou mediante acordo de parcelamento na forma do art. 244 do RPS, com atualização dos valores nos moldes do art. 175 do mesmo regulamento. O parcelamento do débito, se assim desejar, deverá ser obtido administrativamente, mediante requeri-mento feito pelo interessado na autarquia previdenciária.

[...]

II.3. Caso concreto

No caso dos autos, a parte ré, na condição de genitor e curador de Fernando Souza Pinto, requereu em nome deste o Amparo Assistencial ao Portador de Deficiência nº 533.931.140-2, em 11.12.2008.

Após a concessão do benefício a autarquia foi informada, através do Ofício nº 069/2012, expedido pela Apae/Laguna, de que Fernando Souza Pinto é beneficiário de pensão estadual (evento 01, PROCADM3, fl. 24).

Outrossim, mediante o Ofício nº 3.826/2013, a Secretaria de Estado da Administração de Santa Catarina informou que o beneficiário do amparo assistencial recebe regularmente pensão do Estado de Santa Catarina, na modalidade de Pensão ao Deficiente Mental, desde 20.08.1984 (evento 01, PROCADM3, fl. 66).

Referido benefício foi instituído pela Lei Estadual nº 6.185/1982 e alterado pela Lei Estadual nº 7.702/1989 (evento 54, INF1, INF2), sendo pago no

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valor de 50% do salário mínimo nacional. Atualmente, segundo afirmado pelo próprio réu em contestação, o valor é de um salário mínimo (evento 39, CONT1, fl. 04).

Por outro lado, a Lei Orgânica da Assistência Social (Lei nº 8.742/93), em seu art. 20, §4º, veda expressamente o recebimento acumulado do amparo assistencial com qualquer outro benefício no âmbito da Seguridade Social ou de outro regime, salvo os de assistência médica e de pensão especial de natureza indenizatória:

§ 4º O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo be-neficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo os da assistência médica e da pensão especial de natureza indenizatória. Grifei.

Analisando os fatos e a prova dos autos, verifico que, no caso, a presunção de boa-fé restou elidida pela conduta da parte ré no recebimento do benefício.

Isto porque, ao contrário do alegado na contestação, por ocasião do reque-rimento do benefício assistencial, o réu declarou expressamente, e sob as penas da lei, que Fernando Souza Pinto não recebia qualquer benefício da Previdência Social ou de outro regime: “Não recebe benefício da Previdên-cia Social, nem de outro regime e assume a responsabilidade por esta decla-ração, sob as penas da lei” (evento 01, PROCADM3, fl. 03). Aliás, somente após ser notificado através do Ofício nº 20023040/313/2012 é que o réu apresentou novo formulário de requerimento com a informação de que rece-bia o benefício da “APAE” (evento 01, PROCADM3, fl. 33).

Nesse contexto, em que a irregularidade no recebimento do benefício assis-tencial advenha da vedação legal de acumulação deste com qualquer outro recebido de outro regime (no caso, do Estado de Santa Catarina), tenho que o réu, inevitavelmente, recebeu as parcelas de má-fé.

Isto porque prestou declaração falsa à Previdência Social ao requerer o be-nefício assistencial, uma vez que já recebia a pensão estadual desde o ano de 1984, não podendo ser considerada escusável a sua omissão, porque de-corrente de culpa grave, equiparável ao dolo. Nesse particular, esclarece o Desembargador Federal Rômulo Pizzolatti, em seu artigo intitulado A resti-tuição de benefícios previdenciários pagos indevidamente e seus requisitos (in Revista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, nº 78, p. 111/115):

[...] Por aquela, a pessoa ignora os fatos reais, ainda que culposamente (sem que se cogite de culpa grave, equiparável ao dolo), e está de boa-fé, ou não ignora, e está de má-fé. Por esta, para haver boa-fé a ignorância dos fatos deve ser desculpável, por ter a pessoa respeitado os deveres de cuidado; se puder ser-lhe atribuído um desconhecimento ainda que meramente culposo, estará a pessoa de má-fé. Entre nós, assim como nos demais sistemas jurídicos, predomina a concepção ética da boa-fé, que aliás melhor corresponde à justiça.

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[...]

A meu ver, não é desculpável o recebimento de benefícios inacumu-láveis (Lei nº 8.213, de 1991, art. 124), porque a lei é bastante clara, sendo de exigir-se o seu conhecimento pelo beneficiário. Também não será escusável o recebimento, em virtude de simples revisão, de valor correspondente a várias vezes o valor do benefício6. Do mesmo modo, não cabe alegar boa-fé o pensionista que recebe pensão de valor integral e continua a receber o mesmo valor, ciente de que outro beneficiário se habilitou e houve o desdobramento da pensão. De qualquer modo, serão os indícios e circunstâncias que indicarão, em cada caso concreto, se a ignorância do erro administrativo pelo beneficiário é escusável ou não. Grifei.

Não se olvida, por outro lado, que o benefício assistencial tem caráter ali-mentar, a ele sendo aplicado o princípio da irrepetibilidade ou da não de-volução, consagrado pela jurisprudência. Tal princípio, entretanto, não é absoluto, cedendo lugar nos casos em que restar configurada a má-fé do beneficiário no recebimento indevido do benefício, situação ora constatada.

Nessa linha é a jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 4ª Região:

PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA POR INVALIDEZ – RETORNO À ATIVIDADE LABORATIVA – RESTITUIÇÃO DOS VALORES RECEBIDOS DURANTE O EXERCÍCIO DE ATIVIDADE REMUNERADA – Comprova-do nos autos que o segurado aposentado por invalidez voltou a exercer atividade laborativa, correta a atitude do INSS em determinar a devolução dos valores pagos nos períodos concomitantes. (TRF 4ª R., Apelação Cí-vel nº 0019726-30.2013.404.9999/SC, Rel. Des. Fed. Ricardo Teixeira do Valle Pereira, J. 19.03.2014). (Grifei)

PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA POR INVALIDEZ E PENSÃO POR MORTE A FILHO INVÁLIDO – CUMULAÇÃO COM REMUNERA-ÇÃO DE CARGO DE CONFIANÇA – IMPOSSIBILIDADE – RESTABE-LECIMENTO DA APOSENTADORIA – IMPOSSIBILIDADE DE REABILI-TAÇÃO – DESCONTOS NO BENEFÍCIO – VALORES RECEBIDOS POR FORÇA DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA – 1. A concessão de pensão por morte da mãe a filho maior inválido pressupõe a existência de dependên-cia econômica. 2. É indevida a cumulação de benefício por incapacidade com remuneração de cargo de confiança, sendo correta a cessação da aposentadoria por invalidez no período em que perdurou o trabalho. 3. Hipótese em que, todavia, o exercício daquele cargo de confiança não correspondeu à reabilitação profissional do autor, devendo ser restabe-lecida a aposentadoria por invalidez, dada a existência de incapacidade total e permanente para o trabalho. 4. Constatada a má-fé do segurado na percepção de benefício por incapacidade concomitantemente ao exer-cício de atividade remunerada, deve devolver os valores indevidamente percebidos, limitado o desconto mensal em seu benefício previdenciário aos percentuais expressos no art. 115 da Lei nº 8.213/1991, vedada a

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percepção de valor resultante inferior ao mínimo constitucional. 5. Não pode o INSS cobrar os valores recebidos em razão de decisão judicial (an-tecipação de tutela concedida nos presentes autos), conforme iterativa ju-risprudência que consagrou o princípio da irrepetibilidade dos valores de benefícios previdenciários recebidos em situações similares. (TRF 4ª R., Apelação/Reexame Necessário nº 0008661-43.2010.404.9999/PR, Relª Juíza Federal Eliana Paggiarin Marinho, J. em 10.08.2011). (Grifei).

PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA POR INVALIDEZ – RESTABE-LECIMENTO – RETORNO À ATIVIDADE LABORATIVA – BENEFICIÁ-RIO ELEITO VEREADOR E DESIGNADO SECRETÁRIO DE MUNICÍPIO – ART. 46 DA LEI Nº 8.213/1991 – CANCELAMENTO – Comprovado nos autos que o segurado aposentado por invalidez voltou a exercer atividade laborativa, na condição de vereador e, após, como Secretário Municipal da Agricultura, cargos de natureza política que implicam desempenho de funções administrativas e gerenciais, correta a atitude do INSS em cance-lar o benefício. (TRF 4ª R., Ap-Reex 0006185-27.2013.404.9999, 5ª T., Rel. Ricardo Teixeira do Valle Pereira, DE 14.11.2013) (Grifei)

Portanto, o recebimento cumulado de benefício assistencial com a pensão estadual paga ao deficiente, aliado à omissão da informação da parte reque-rida acerca desta última, caracteriza a ocorrência de má-fé e determina a necessidade de restituição dos valores recebidos a este título.

Na medida em que os valores recebidos a título de Amparo Social à Pes-soa Portadora de Deficiência nº 533.931.140-2 no período de 01/2009 a 11/2012 foram indevidos, ou seja, demonstrada a existência de ilegalidade na concessão do benefício, é poder-dever do INSS proceder à sua revisão a qualquer tempo, a fim de corrigir o equívoco, afigurando-se legítima a revi-são administrativa levada a efeito pela autarquia previdenciária e que deu ensejo à cessação.

Nesse contexto, tenho por caracterizada a má-fé por parte do requerido e acolho os pedidos iniciais, impondo-se a restituição do montante que rece-beu indevidamente, ressalvada a prescrição, independente de tratar-se de verba de natureza alimentar, por força do art. 927 do CC/2002 ou mesmo do art. 884 do mesmo diploma legal.

Portanto, devidamente comprovada a má-fé da parte ré na percepção do benefício, a restituição do montante que recebeu indevidamente, ressalvada a prescrição, é medida que se impõe.

Correção monetária e juros

Quanto à forma de correção monetária e dos juros a serem aplicados nos valores da condenação, o recorrente requer seja observado o princípio da isonomia para fins de se aplicar na atualização e juros da conta das par-celas vencidas, as disposições da Lei nº 11.960/2009, que modificou a reda-

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ção do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, conforme vem pleiteando a autarquia previdenciária em seu favo nas lides previdenciárias em que é condenada a proceder o pagamento de seus segurados.

O magistrado sentenciante determinou a correção das parcelas pela Selic.

Porém, em face de não possuírem as parcelas a serem restituídas ao INSS natureza de crédito tributário, descabe a incidência da Selic para atua-lizar o montante devido. Nesse ponto, portanto, o recurso prospera.

A atualização monetária, incidindo a contar do vencimento de cada prestação, deve-se dar pelos índices oficiais, e jurisprudencialmente aceitos, quais sejam: IGP-DI (05/1996 a 03/2006, art. 10 da Lei nº 9.711/1998, com-binado com o art. 20, §§ 5º e 6º, da Lei nº 8.880/1994) e INPC (04/2006 a 06/2009, conforme o art. 31 da Lei nº 10.741/2003, combinado com a Lei nº 11.430/2006, precedida da MP 316, de 11.08.2006, que acrescentou o art. 41-A à Lei nº 8.213/1991, e REsp 1.103.122/PR). A partir de 30.06.2009 aplica-se o IPCA-E, consoante julgamento do RE 870.947 (Tema 810).

Quanto aos juros de mora, até 29.06.2009 devem ser fixados à taxa de 1% ao mês, a contar da citação, com base no art. 3º do Decreto-Lei nº 2.322/1987, aplicável, analogicamente, aos benefícios pagos com atraso, tendo em vista o seu caráter alimentar, consoante firme entendimento con-sagrado na jurisprudência do STJ e na Súmula nº 75 desta Corte. A partir de 30.06.2009, por força da Lei nº 11.960, de 29.06.2009, que alterou o art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, para fins de apuração dos juros de mora haverá a incidência, uma única vez, até o efetivo pagamento, do índice oficial apli-cado à caderneta de poupança.

Honorários advocatícios recursais

Considerando que a sentença foi proferida antes de 18.03.2016, data definida pelo Plenário do STJ para início da vigência do NCPC (Enunciado Administrativo nº 1/STJ), bem como o Enunciado Administrativo nº 7/STJ (Somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a partir de 18 de março de 2016, será possível o arbitramento de honorários sucumben-ciais recursais, na forma do art. 85, § 11, do novo CPC), aplica-se ao caso a sistemática de honorários advocatícios da norma anteriormente vigente.

Desse modo, condeno a parte ré, ora apelante, ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, estes fixados em 10% so-bre o valor da condenação atualizado. Exigibilidade suspensa em face da AJG.

Ante o exposto, voto por dar parcial provimento ao recurso da parte ré.

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Juíza Federal Gabriela Pietsch Serafin Relatora

extratO de ata da sessãO de 14.12.2017

Apelação Cível nº 5003021-39.2014.4.04.7216/SCOrigem: SC 50030213920144047216Relator: Juíza Federal Gabriela Pietsch SerafinPresidente: Paulo Afonso Brum VazProcurador: João Heliofar de Jesus VillarApelante: Divo PintoAdvogado: Ricardo Augusto SilveiraApelado: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS

Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 14.12.2017, na sequência 644, disponibilizada no DE de 27.11.2017, da qual foi intimado(a) Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, o Ministério Público Federal e as demais Procuradorias Federais.

Certifico que o(a) Turma Regional suplementar de Santa Catarina, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A turma, por unanimidade, decidiu dar parcial provimento ao recurso da parte ré.

Relator Acórdão: Juíza Federal Gabriela Pietsch SerafinVotante(s): Juíza Federal Gabriela Pietsch Serafin

Des. Federal Jorge Antonio Maurique Des. Federal Paulo Afonso Brum Vaz

Ana Carolina Gamba Bernardes Secretária

Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

13635

Tribunal Regional Federal da 5ª RegiãoGabinete do Desembargador Federal Manuel MaiaEmbargos de Declaração em Apelação/Reexame Necessário (Ap‑Reex) nº 27694/CE (0002537‑20.2012.4.05.8100/03)Apte.: Companhia Eletrocerâmica do Nordeste – CeleneAdv./Proc.: Nelson Wiliams Fratoni Rodrigues e outrosApte.: Fazenda NacionalApdo.: os mesmosRemte.: Juízo da 7ª Vara Federal do Ceará (Fortaleza)Embte.: Fazenda NacionalOrigem: 7ª Vara Federal do Ceará – CERelator(a): Desembargador(a) Federal Manuel Maia de Vasconcelos Neto – 1ª Turma

ementa

PROCESSUAL CIVIL – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA PATRONAL – AVISO-PRÉVIO INDENIZADO E SEU RESPECTIVO 13º PROPORCIONAL – SEGURADOS EMPREGADOS VINCULADOS AO RGPS – JULGAMENTO PELO STJ EM ÉGIDE DE RECURSO REPETITIVO – AUSÊNCIA DE VÍCIOS – REDISCUSSÃO – DESCABIMENTO

1. Os embargos de declaração não são meio próprio ao reexame da causa, devendo limitar-se ao esclarecimento de obscuridade, contra-dição ou omissão, in casu, inexistentes no acórdão embargado.

2. Matéria do recurso foi devidamente analisada, com motivação cla-ra e nítida. Questões enfrentadas conforme as legislação e jurispru-dência.

3. Afasta-se a análise da suposta ofensa ao art. 97 da CF/1988, pois o acórdão não declarou a inconstitucionalidade da norma legal apon-tada.

4. “Não há que se falar em violação da cláusula de reserva de ple-nário (art. 97 CF/1988), visto que não houve declaração de incons-titucionalidade, nem afastamento da aplicação do art. 12 da Lei nº 7.713/1988. O julgado tratou da forma como deve incidir o impos-to de renda, ou seja, sobre os rendimentos efetivamente recebidos em cada mês, estando tal entendimento, inclusive, em consonância com a jurisprudência emanada do col. STJ em sede de recurso repetitivo (REsp 1118429), enquanto que o art. 12 da Lei nº 7.713/1988 estipula

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quando deve incidir o imposto de renda, a saber: o momento em que se efetiva o pagamento” (AC 516597/01/RN, Rel. Des. Fed. Francisco Wildo, DJe 09.06.2011).

5. Deveras apreciado, com base em jurisprudência pacífica no STJ, que “não incide a contribuição previdenciária sobre: a) aviso-prévio indenizado; b) 13º proporcional ao aviso prévio indenizado”.

6. Matéria decidida pelo colendo STJ, sob a égide do art. 543-C do CPC (REsp 1230957/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques).

7. A 1ª Seção do colendo STJ firmou entendimento, em recurso repeti-tivo, de que “não viola o art. 535 do CPC, tampouco nega a prestação jurisdicional, o acórdão que adota fundamentação suficiente para de-cidir de modo integral a controvérsia” (REsp 1111175/SP).

8. Possível erro do julgamento deve ser sanado por recurso próprio.

9. Embargos de declaração não-providos.

acÓrdãO

Decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento aos embargos de declaração, nos ter-mos do voto do relator, na forma do relatório e notas taquigráficas constan-tes nos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Recife, 28 de abril de 2016.

Desembargador Federal Manuel Maia Relator – Convocado

relatÓriO

O Senhor Desembargador Federal Manuel Maia (Convocado): Cuida--se de embargos de declaração ofertados contra decisão que apreciou de-manda acerca da incidência da contribuição previdenciária patronal sobre o aviso-prévio indenizado e seu respectivo 13º proporcional.

Alega-se, em síntese, a ocorrência de omissão quanto:

a) à incidência da aludida contribuição sobre as parcelas conce-didas;

b) à ofensa ao art. 97 da Carta Magna, por terem sido afastados os arts. 22, I, e 28, I, § 9º, da Lei nº 8.212/1991.

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Discorrendo sobre a tese levantada, postula a procedência do recurso para o(s) fim(ns) delineado(s).

É o relatório.

vOtO

O Senhor Desembargador Federal Manuel Maia (Convocado): A dis-cussão aventada não é possível em sede de embargos de declaração. A ma-téria do recurso foi devidamente analisada, com motivação clara e nítida. As questões enfrentadas conforme as legislação e jurisprudência pertinentes.

Afasta-se a apreciação da suposta violação do art. 97 da CF/1988, pois o acórdão atacado não declarou a inconstitucionalidade da norma le-gal apontada.

“Não há que se falar em violação da cláusula de reserva de plenário (art. 97, CF/1988), visto que não houve declaração de inconstitucionali-dade, nem afastamento da aplicação do art. 12 da Lei nº 7.713/1988. O julgado tratou da forma como deve incidir o imposto de renda, ou seja, sobre os rendimentos efetivamente recebidos em cada mês, estando tal en-tendimento, inclusive, em consonância com a jurisprudência emanada do col. STJ em sede de recurso repetitivo (REsp 1118429), enquanto que o art. 12 da Lei nº 7.713/1988 estipula quando deve incidir o imposto de ren-da, a saber: o momento em que se efetiva o pagamento” (AC 516597/01/RN, 2ª T., Rel. Des. Fed. Francisco Wildo, DJe 09.06.2011).

Restou deveras apreciado que o colendo STJ, sob a égide do recurso repetitivo (REsp 1230957/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques), decidiu que:

“– aviso-prévio indenizado. A despeito da atual moldura legislativa (Lei nº 9.528/1997 e Decreto nº 6.727/2009), as importâncias pagas a título de indenização, que não correspondam a serviços prestados nem a tempo à disposição do empregador, não ensejam a incidência de contribuição previ-denciária. O pagamento decorrente da falta de aviso-prévio, isto é, o aviso--prévio indenizado, visa a reparar o dano causado ao trabalhador que não fora alertado sobre a futura rescisão contratual com a antecedência míni-ma estipulada na Constituição Federal (atualmente regulamentada pela Lei nº 12.506/2011). Dessarte, não há como se conferir à referida verba o caráter remuneratório pretendido pela Fazenda Nacional, por não retribuir o traba-lho, mas sim reparar um dano.

– in casu, não incide a contribuição previdenciária sobre: a) aviso-prévio indenizado; b) 13º proporcional ao aviso-prévio indenizado.”

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Os embargos em tela não foram opostos com intenção de sanar algum vício no acórdão, mas sim, para reexaminar matéria já julgada. Assumindo cunho meramente integrativo, descabe na via de embargos o efeito modifi-cativo ou infringente, quer para substituir o provimento por outro quer para ampliar seu âmbito. Possível erro do julgamento deve ser sanado por recur-so próprio, e não nessa via.

Sobre o tema, o colendo STJ já se pronunciou no REsp 1111175/SP, sob a égide do art. 543-C do CPC, no sentido de que “não viola o art. 535 do CPC, tampouco nega a prestação jurisdicional, o acórdão que adota fun-damentação suficiente para decidir de modo integral a controvérsia”.

Destarte, rejeito os embargos.

É como voto.

Recife, 28 de abril de 2016.

Desembargador Federal Manuel Maia Relator – Convocado

Parte Geral – Ementário de Jurisprudência13636 – Aquisição de moeda estrangeira – imposto sobre operação de câmbio – incidência

“Recurso fundado no CPC/2015. Tributário. Agravo interno. Aquisição de moeda estrangeira. Im-posto sobre operação de câmbio. Incidência. 1. O IOF incide tanto na compra como na venda de moeda estrangeira, porquanto, conforme já decidido nesta Corte, o Decreto nº 995/1993 não extrapolou o disposto no Decreto-Lei nº 1.783/1990, uma vez que este não restringiu a incidência do referido tributo apenas nas hipóteses de venda de moeda estrangeira. Precedentes. 2. Agravo interno a que se nega provimento.” (STJ – AgInt-REsp 1.216.406 – (2010/0191325-0) – 1ª T. – Rel. Min. Sérgio Kukina – DJe 17.10.2017 – p. 1338)

13637 – Cadin – exigibilidade de crédito tributário – reexame de fatos e provas e de legislação local

“Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. Interposição em 11.05.2016. Direito tributário. Registro no cadastro informativo de créditos não quitados. Cadin. Exigibilidade de crédito tributário. Reexame de fatos e provas e de legislação local. Súmulas nºs 279 e 280 do STF. 1. Para se chegar à conclusão diversa daquela a que chegou o Tribunal de origem, quanto à legalidade da inclusão de nome de contribuinte em Cadin, seria necessário o reexame dos fatos e provas, além da legislação aplicável à espécie. Incidência das Súmulas nºs 279 e 280 do STF. 2. É entendimento sumulado do STF o não cabimento de recurso extraordinário, em decorrência de violação ao prin-cípio da legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela decisão recorrida (Súmula nº 636 do STF). 3. Agravo regimental a que se nega provimento, com previsão de aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, CPC. Inaplicabili-dade do art. 85, § 11, CPC, em virtude da Súmula nº 512 do STF.” (STF – AgRg-RE-Ag 965.820 – São Paulo – 2ª T. – Rel. Min. Edson Fachin – J. 15.09.2017)

Transcrição RETSúmulas do Supremo Tribunal Federal:

“279 – Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.

280 – Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário.”

13638 – CDA – exceção de pré-executividade – presunção de liquidez e certeza – taxa Selic – aplicabilidade – processo administrativo – juntada – desnecessidade – multa de mora

“Embargos de declaração. Processual civil. Tributário. Exceção de pré-executividade. CDA. Pre-sunção de liquidez e certeza. Taxa Selic. Aplicabilidade. Processo administrativo. Juntada. Desne-cessidade. Multa de mora. Caráter confiscatório. Inocorrência. Omissão. Inocorrência. 1. Inexiste a omissão apontada, uma vez que as questões relevantes para o deslinde do recurso foram enfrenta-das no acórdão embargado. 2. Na hipótese vertente, com base em alegação de omissão, deseja a recorrente modificar o julgado por não-concordância, sendo esta a via inadequada. 3. Embargos de declaração conhecidos e desprovidos.” (TRF 2ª R. – AI 0012012-92.2016.4.02.0000 – 3ª T.Esp. – Relª Desª Fed. Cláudia Maria Pereira Bastos Neiva – DJe 04.10.2017 – p. 397)

13639 – Cofins e contribuição ao PIS – base de cálculo – exclusão do ICMS

“Agravo interno no recurso extraordinário com agravo. Tributário. Cofins e contribuição ao PIS. Base de cálculo. Exclusão do ICMS. Apelo extremo interposto de decisão monocrática em recurso especial. Ausência de exaurimento das vias recursais ordinárias. Súmula nº 281 do STF. Agravo in-terno que não ataca os fundamentos da decisão agravada. Súmula nº 283/STF. Incidência. Recurso interposto sob a égide do novo Código de Processo Civil. Majoração dos honorários de sucumbên-cia. Art. 85, § 11, do CPC/2015. Agravo interno não conhecido.” (STF – AgRg-RE-Ag 1.038.556 – Distrito Federal – 1ª T. – Rel. Min. Luiz Fux – J. 30.06.2017)

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA �������������������������������������������������������������������������������137

Transcrição RETSúmulas do Supremo Tribunal Federal:

“281 – É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada.

[...]

283 – É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles.”

13640 – Contribuição ao SAT – exigibilidade e alíquota – coisa julgada – art. 471 do CPC/1973 – suspensão da execução fiscal – inocorrência das hipóteses previstas no art. 151 do CTN

“Embargos à execução fiscal. Contribuição ao SAT. Exigibilidade e alíquota. Coisa julgada. Art. 471 do CPC/1973. Suspensão da execução fiscal. Inocorrência das hipóteses previstas no art. 151 do CTN. Ato administrativo. Presunção de legitimidade e veracidade. CDA. Presunção de certeza, li-quidez e exigibilidade não afastada. Multa moratória. Redução. Em face do disposto no art. 14 da Lei nº 13.105/2015, aplica-se a esse processo o CPC/1973. A alegação de inexigibilidade da contribui-ção ao SAT e o pedido de redução de alíquota foram julgadas em ação anteriormente ajuizada pela apelante, estando sob os efeitos da coisa julgada. Aplicação do art. 471 do CPC/1973. A suspensão da execução fiscal, para discussão da cobrança, somente é possível nas hipóteses do art. 38 da Lei nº 6.830/1980 e do art. 151 do Código Tributário Nacional, em que fica suspensa a exigibilidade do crédito, o que inocorreu no caso dos autos. Os critérios e procedimentos para apuração do tributo e a incidência da alíquota devida a título de SAT são determinados por lei, não escolhidos pelo contribuinte. Presume-se a legitimidade e a veracidade do ato administrativo de lavratura da NFLD, cabendo ao contribuinte apresentar prova irrefutável para a desconstituição do crédito. Compete à autoridade administrativa, no momento da fiscalização, proceder à correta alteração do grau de risco e à competente notificação, quando verificar a ocorrência de erro na fixação da alíquota por parte da empresa, em razão de inadequada classificação de atividade preponderante. A inscrição em dívida ativa deve conter os requisitos dispostos nos arts. 202 do Código Tributário Nacional, e 2º, § 5º, da Lei nº 6.830/1980, entre os quais a indicação da natureza do débito, sua fundamentação legal e a forma de cálculo dos juros e da correção monetária. Os requisitos legais têm, por escopo precípuo, proporcionar ao executado meio para defender-se de forma eficaz, de modo que saiba exatamente o que lhe está sendo cobrado. A certidão de dívida ativa que embasa a execução fiscal subjacente preenche todos os requisitos legais, permitindo a verificação do valor original da dívida, a sua natureza jurídica, o seu termo inicial e a forma de cálculo dos juros de mora, assim como a legislação aplicável ao caso e demais encargos incidentes sobre o débito. Estando regularmente inscrita, a CDA goza de presunção de certeza e liquidez, conforme preceitua o art. 204 do Código Tributário Nacional, combinado com o art. 3º da Lei nº 6.830/1980. Embora não sejam absolutas tais presunções, é certo que produzem efeitos até prova inequívoca acerca da respectiva invali-dade. Reduzida a multa moratória ao patamar de 20% (vinte por cento), conforme previsto na Lei nº 11.941/2009, que deu nova redação ao art. 35 da Lei nº 8.212/1991 e determinou sua aplicação, nos termos do art. 61 da Lei nº 9.430/1996. Apelo da embargante parcialmente conhecido e, na parte conhecida, parcialmente provido.” (TRF 3ª R. – Ap-RN 0000248-44.2008.4.03.6182/SP – 11ª T. – Relª Juíza Fed. Noemi Martins – DJe 02.10.2017 – p. 2189)

Transcrição RETCódigo Tributário Nacional:

“Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:

138 �������������������������������������������������������������������������� RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA

I – moratória;

II – o depósito do seu montante integral;

III – as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário ad-ministrativo;

IV – a concessão de medida liminar em mandado de segurança;

V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; (Incluído pela LCP 104, de 2001)

VI – o parcelamento. (Incluído pela LCP 104, de 2001)

Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o cumprimento das obrigações assessórios dependentes da obrigação principal cujo crédito seja suspenso, ou dela conseqüentes.”

13641 – Contribuição previdenciária – adicional de horas extras, insalubridade, periculosidade, trabalho noturno, diárias de viagem que ultrapassem 50% da remuneração, gorjetas, comissões, prêmios, ajudas de custo e abonos – salário de contribuição

“Tributário. Contribuição previdenciária. Adicional de horas extras, insalubridade, periculosidade, trabalho noturno, diárias de viagem que ultrapassem 50% da remuneração, gorjetas, comissões, prêmios, ajudas de custo e abonos. Salário de contribuição. Inclusão. 1. Conforme estabelecido pelo Plenário do STJ, ‘aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas até então pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça’ (Enunciado Administrativo nº 2). 2. A jurisprudência desta Corte Superior consolidou-se no sentido de que incide a contribuição previdenciária sobre as parcelas pagas a título de adicional de horas extras, insalubridade, periculosidade, trabalho noturno, gorjetas, comissões, prêmios, ajudas de custo e abonos. 3. No que tange às diárias de viagem que ultrapassem os 50% da remuneração mensal, há expressa previsão legal de inclusão delas no salário de contribuição (art. 28, § 8º, a, da Lei nº 8.212/1991), não havendo por que se discutir a natureza ou destinação de tal verba, consti-tuindo ela base de cálculo da contribuição previdenciária para o regime geral. 4. Recurso especial desprovido.” (STJ – REsp 1.517.074 – (2015/0034355-0) – 1ª T. – Rel. Min. Gurgel de Faria – DJe 15.09.2017 – p. 1493)

13642 – Contribuição previdenciária sobre a receita bruta – mandado de segurança – revoga-ção da MP 774/2017

“Tributário. Agravo de instrumento. Mandado de segurança. Contribuição previdenciária sobre a receita bruta. Revogação da MP 774/2017. Ausência de produção de efeitos. Antecipação de tu-tela recursal. Requisitos preenchidos. 1. A Medida Provisória nº 774/2017 afastou, para diversas categorias de contribuintes, a possibilidade de optarem pelo recolhimento de suas contribuições sociais patronais sobre a receita bruta (arts. 7º e 8º da Lei nº 12.546/2011 e demais disposições pertinentes), ao invés de recolhê-las sobre as bases de cálculo previstas no art. 22, incisos I e III, da Lei nº 8.212/1991 e demais disposições legais pertinentes. 2. Revogação da Medida Provisória nº 774/2017 ocorreu antes de ela ser convertida em lei, ou da expiração de seu prazo de validade. 3. Quando revoga as medidas provisórias que adotou, pode-se entender que o Chefe do Poder Executivo exerce um juízo de retratação, com efeitos ex tunc, de modo que se mostra razoável a exegese de que ela não produziu quaisquer efeitos, nem mesmo durante o período de sua vi-gência, o que configura o sinal de bom direito. 4. Concorre o risco de dano, na medida em que a frequente alteração das regras tributárias, num curto espaço de tempo, prejudica a segurança que deve nortear qualquer tipo de planejamento econômico-financeiro.” (TRF 4ª R. – AI 5040534-53.2017.4.04.0000 – Rel. Des. Fed. Rômulo Pizzolatti – J. 19.09.2017)

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13643 – Contribuição social – ilegitimidade passiva da CEF – art. 1º da LC 110/2001 – exauri-mento da finalidade legalmente prevista – inocorrência

“Direito tributário. Mandado de segurança. Ilegitimidade passiva da CEF. Contribuição social. Art. 1º da LC 110/2001. Exaurimento da finalidade legalmente prevista. Inocorrência. I – Entendo que deve ser reconhecida a ilegitimidade passiva da Caixa Econômica Federal, arguida em contrarra-zões, com sua exclusão da lide. II – A legitimidade para fiscalizar o recolhimento das contribuições ao FGTS, efetuar as respectivas cobranças e exigir os créditos tributários é do Ministério do Trabalho e da Procuradoria da Fazenda Nacional, ainda que seja permitido celebrar convênio para tanto. III – Observo, também, que se por um lado a CEF, que é operadora do sistema e tem como uma de suas atribuições a manutenção e controle das contas vinculadas (art. 7º, inciso I, da Lei nº 8.036/1990), tem legitimidade para responder às ações em que os titulares das referidas contas questionam os critérios de correção monetária e juros (Súmula nº 249 do Superior Tribunal de Justiça), de outro isso não atribui legitimidade para responder às ações em que os contribuintes do FGTS questionam a própria contribuição ou seus acessórios. IV – A contribuição a que se refere o art. 1º da Lei Complementar nº 110/2001 foi instituída por tempo indeterminado, o que não ocorre em relação à contribuição prevista no art. 2º do mesmo diploma legal, cuja cobrança foi progra-mada para se estender no prazo máximo de sessenta meses. V – A apelante só poderia se furtar ao pagamento da contribuição social prevista no art. 1º da Lei Complementar nº 110/2001 caso uma lei posterior revogasse o dispositivo, ou procedesse à extinção da exação em comento, o que não ocorreu na espécie, ao menos até o presente momento. Precedentes do C. STJ. VI – Além disso, descabe ao Poder Judiciário firmar o exaurimento finalístico da contribuição social a que alude o art. 1º da Lei Complementar nº 110/2001, pois tal medida representaria irrogar-se titular de função inerente ao Poder Legislativo, a quem compete o exercício desta espécie de valoração. VII – No que se refere aos honorários advocatícios, mantenho sua fixação em 10% do valor da causa, pro rata. VIII – Apelação da autora desprovida. Apelação da CEF provida.” (TRF 3ª R. – AC 0008959-17.2013.4.03.6100/SP – 1ª T. – Rel. Des. Fed. Wilson Zauhy – DJe 19.09.2017 – p. 360)

Comentário RETTemos adiante um acórdão que tratou de um recurso de apelação em face de sentença que jul-gou improcedente o pedido, formulado com vistas a afastar a exigibilidade da contribuição social prevista no art. 1º, da Lei Complementar nº 110/2001.

Em suas razões de apelação, a autora sustentou a inconstitucionalidade da exação por esgo-tamento da finalidade que justificou a instituição da contribuição prevista no art. 1º, da Lei Complementar nº 110/2001.

Requereu ainda que fosse reconhecido o direito à compensação do indébito.

Em recurso adesivo, sustentou a CEF sua ilegitimidade passiva, por se tratar de mera agente operadora e não gestora do FGTS e requereu que fossem fixados os honorários advocatícios para cada um dos litisconsortes.

Com as respectivas contrarrazões, subiram os autos ao Egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que iniciou seu julgamento destacando que deve ser acolhida a preliminar de ilegitimi-dade passiva da Caixa Econômica Federal, com sua exclusão da lide.

E para tanto sustentou que os arts. 1º e 2º da Lei nº 8.844/1994, que dispõem sobre a fiscali-zação, apuração e cobrança judicial das contribuições e multas devidas ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), determinam que:

“Art. 1º Compete ao Ministério do Trabalho a fiscalização e a apuração das contribuições ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), bem assim a aplicação das multas e demais encargos devidos.

Art. 2º Compete à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional a inscrição em Dívida Ativa dos débitos para com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, bem como, diretamente,

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ou por intermédio da Caixa Econômica Federal, mediante convênio, a representação judicial e extrajudicial do FGTS, para a correspondente cobrança, relativamente à contribuição e às multas e demais encargos previstos na legislação respectiva.”

O Nobre Julgador entendeu que a legitimidade para fiscalizar o recolhimento das contribuições ao FGTS, efetuar as respectivas cobranças e exigir os créditos tributários é do Ministério do Trabalho e da Procuradoria da Fazenda Nacional, ainda que seja permitido celebrar convênio para tanto, e assim destacou:

“Observo também, que se por um lado a CEF, que é operadora do sistema e tem como uma de suas atribuições a manutenção e controle das contas vinculadas (art. 7º, inciso I, da Lei nº 8.036/1990), tem legitimidade para responder às ações em que os titulares das referidas contas questionam os critérios de correção monetária e juros (Súmula nº 249 do Superior Tri-bunal de Justiça), de outro isso não atribui legitimidade para responder às ações em que os contribuintes do FGTS questionam a própria contribuição ou seus acessórios.”

Nesse sentido, inclusive, o Ilustre Desembargador reforçou que já vem assim decidindo a juris-prudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, e para tanto reproduziu:

“TRIBUTÁRIO – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – FGTS – ABSTENÇÃO DE COBRANÇA DE DÉBITO FUNDIÁRIO AINDA NÃO INSCRITO – CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – CEF – ILEGITIMIDADE PASSIVA

1. Esta Corte de Justiça possui entendimento no sentido de que a Caixa Econômica Federal é parte ilegítima para figurar no polo passivo das ações que visam ao reconhecimento da inexigibi-lidade das contribuições previstas na Lei Complementar nº 110/2001. (grifei)

2. ‘Não há razoabilidade em dizer que a União só é parte legítima nos casos que envolvam cobrança de débito fundiário devidamente inscrito. Se a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional tem competência para a inscrição e a correspondente cobrança dos débitos do FGTS, também será competente para a defesa da sua exigibilidade, nos casos em que o contribuinte a ques-tionar, ainda que se trate de débito não inscrito’ (REsp 948.535/RS, Rel. Min. José Delgado, 1ª T., DJe 05.03.2008).

3. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg-REsp 1454615/PE, Rel. Min. Og Fernan-des, 2ª T., Julgado em 16.04.2015, DJe 04.05.2015)”

No que tange ao mérito, V. Excelência destacou que a Lei Complementar nº 110, de 29 de junho de 2001 instituiu contribuições sociais devidas por empregadores em seus arts. 1º e 2º, abaixo transcritos:

“Art. 1º Fica instituída contribuição social devida pelos empregadores em caso de despedida de empregado sem justa causa, à alíquota de dez por cento sobre o montante de todos os depósitos devidos, referentes ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, durante a vigência do contrato de trabalho, acrescido das remunerações aplicáveis às contas vinculadas.

Parágrafo único. Ficam isentos da contribuição social instituída neste artigo os empregadores domésticos.

Art. 2º Fica instituída contribuição social devida pelos empregadores, à alíquota de cinco déci-mos por cento sobre a remuneração devida, no mês anterior, a cada trabalhador, incluídas as parcelas de que trata o art. 15 da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990.

[...]

§ 2º A contribuição será devida pelo prazo de sessenta meses, a contar de sua exigibilidade.”

Pela mera leitura dos dispositivos retro transcritos percebe-se que a contribuição a que se refere o art. 1º da Lei Complementar nº 110/2001 foi instituída por tempo indeterminado, o que não ocorre em relação à contribuição prevista no art. 2º do mesmo diploma legal cuja cobrança foi programada para se estender no prazo máximo de sessenta meses.

Por outro lado, o art. 2º da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro estatui que a lei, não se destinando à vigência temporária, produzirá seus efeitos normalmente até que sobreve-nha outra lei que a modifique ou revogue.

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA �������������������������������������������������������������������������������141

Disposição semelhante, mas específica para o Direito Tributário, pode ser encontrada no art. 97, inciso I, do Código Tributário Nacional que assim estabelece:

“Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

I – a instituição de tributos, ou a sua extinção;

[...]”

Desta forma concluiu que, da conjugação dos preceptivos referidos, conclui-se que a apelante só poderia se furtar ao pagamento da contribuição social prevista no art. 1º da Lei Complementar nº 110/2001 caso uma lei posterior revogasse o dispositivo ou procedesse à extinção da exação em comento, o que não ocorreu na espécie, ao menos até o presente momento.

Além disso, descabe ao Poder Judiciário firmar o exaurimento finalístico da contribuição social a que alude o art. 1º da Lei Complementar nº 110/2001, pois tal medida representaria irrogar--se titular de função inerente ao Poder Legislativo, a quem compete o exercício desta espécie de valoração.

Seguiu reforçando que ainda que assim não fosse, o Colendo Superior Tribunal de Justiça, na análise de casos muito próximos ao presente, teve oportunidade de sedimentar entendimento no sentido de que a contribuição social ora discutida não exauriu sua finalidade, consoante o julgado adiante reproduzido:

“PROCESSUAL CIVIL – TRIBUTÁRIO – MANDADO DE SEGURANÇA – INEXIGIBILIDADE DE CONTRIBUIÇÃO – EXAURIMENTO DA FINALIDADE – NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓ-RIA – SÚMULA Nº 7/STJ – 1. O Tribunal de origem, reiterando os termos do parecer ministerial, entendeu que a pretensão da impetrante em declarar o exaurimento da finalidade para qual se instituiu a contribuição prevista no art. 1º da LC 110/2001 demandaria dilação probatória, inadequada à via estreita do mandado de segurança. A modificação do julgado fica inviabili-zada na via estreita do recurso especial, ante o óbice da Súmula nº 7/STJ. 2. Obter dictum, a contribuição prevista no art. 1º da Lei Complementar nº 110/2001 ainda é exigível, porquanto apenas sua expressa revogação seria capaz de retirar-lhe do plano da existência/exigência, o que não ocorreu, apesar da tentativa por meio do Projeto de Lei Complementar nº 200/2012. REsp 1.487.505/RS, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., Julgado em 17.03.2015, DJe 24.03.2015). Agravo regimental improvido.” (AgRg-REsp 1467068/RS, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., Julgado em 05.05.2015, DJe 11.05.2015)

Por fim, reforçou que se já não bastassem as razões até aqui expendidas, destaque-se lembrar que ações judiciais referentes aos expurgos inflacionários ainda tramitam, em quantidades con-sideráveis, junto ao Poder Judiciário, afastando, de pronto, o argumento da recorrente no sentido de que a destinação da contribuição já teria sido atingida.

Assim, diante de todo o explanado, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região votou por negar provimento à apelação da autora e dar provimento à apelação da CEF.

13644 – Contribuições previdenciárias – construção civil – fato gerador – conclusão da obra – decadência – prazo quinquenal

“Tributário. Contribuições previdenciárias. Construção civil. Fato gerador. Conclusão da obra. De-cadência. Prazo quinquenal. Súmula Vinculante nº 8. I – A hipótese trata de executivo fiscal ajuiza-do em 26.02.2007 com vistas à cobrança de contribuições previdenciárias decorrentes da constru-ção civil, por aferição indireta datada de 02.10.2006. II – A contribuição previdenciária incidente sobre obras de construção civil tem por fato gerador a data de conclusão da obra. Na hipótese, a obra foi concluída em 30.11.1998 (data do ‘habite-se’). III – A teor da Súmula Vinculante nº 08, ‘são inconstitucionais os arts. 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991, que tratam de prescrição e decadên-cia de crédito tributário’. IV – Comprovada a conclusão da obra em nov./1998, a constituição do crédito tributário por meio da notificação de lançamento fiscal em out./2006 extrapolou o prazo decadencial quinquenal. V – Na oportunidade de manifestar-se em contestação, a União apenas pleiteou a concessão de prazo a fim de que a Receita Federal procedesse à análise da alegação

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de decadência. VI – Muito embora quando do ajuizamento da ação executiva ainda não houves-se posicionamento definitivo do STF acerca da questão de fundo ora tratada, fato é que, quando da oposição dos embargos à execução em ago./2009, já havia sido editada a Súmula Vinculante nº 8. VII – Não tendo reconhecido o pedido quando citada para resposta, tem-se por inaplicável à espécie a dispensa de honorários prevista no art. 19, § 1º, inciso I, da Lei nº 10.522/2002, restando mantida integralmente a sentença proferida. VIII – Remessa oficial desprovida.” (TRF 3ª R. – RNC 0034399-89.2012.4.03.9999/SP – 1ª T. – Rel. Des. Fed. Wilson Zauhy – DJe 19.09.2017 – p. 348)

Comentário RETCuida-se de embargos à execução fiscal opostos por um contribuinte objetivando desconstituir o título executivo em decorrência da decadência, nos termos da Súmula Vinculante nº 8, haja vista a conclusão da obra em 1998, bem como sua ilegitimidade passiva, considerando a venda do imóvel (sucessão).

A sentença foi no sentido da extinção da ação executiva, diante da decadência.

Apelou a União Federal pleiteando o afastamento dos honorários advocatícios, nos termos do art. 26, da LEF, c/c art. 19, § 2º, da Lei nº 10.522/2002, na medida em que a autoridade fazendária reconheceu a decadência.

O recurso não foi admitido por intempestivo.

Subiram os autos a esta Corte por força do reexame necessário.

Ao julgar, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região destacou que, a hipótese trata de exe-cutivo fiscal ajuizado em 26.02.2007 com vistas à cobrança de contribuições previdenciárias decorrentes da construção civil, por aferição indireta datada de 02.10.2006.

Por se tratar de contribuição previdenciária incidente sobre obras de construção civil, o momento da ocorrência do fato gerador do tributo é a data da conclusão da obra.

Na hipótese, conforme se infere da documentação acostada, a obra foi concluída em 30.11.1998, nos termos do “Habite-se”.

Com o advento da Constituição de 1988, tornou-se indiscutível a natureza tributária das contri-buições previdenciárias, de modo que estariam sujeitas ao prazo do CTN de 5 anos.

O Nobre Julgador destacou ainda que a Lei nº 8.212/1991, nos arts. 45 e 46, previu o prazo de 10 anos para prescrição e decadência do crédito previdenciário, dispositivos posteriormente declarados inconstitucionais, culminando com a edição da Súmula Vinculante nº 8, do STF:

São inconstitucionais o parágrafo único do art. 5º do Decreto-Lei nº 1.569/1977 e os arts. 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário.

Desta forma, não há mais controvérsia quanto ao prazo quinquenal de prescrição e decadência das contribuições previdenciárias, após a Constituição de 1988, de modo que, comprovada a conclusão da obra em nov./1998, a notificação de lançamento fiscal em out./2006 extrapolou o prazo decadencial, não merecendo reparos a sentença proferida.

No que se refere aos honorários advocatícios, a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça consolidou a orientação no sentido de que, nas demandas em que a Procuradoria da Fazenda Nacional, na condição de parte, deixa de oferecer contestação pelo reconhecimento do pedido, com fundamento no art. 19, inciso II e § 1º da Lei nº 10.522/2002, resta afastada sua conde-nação em honorários advocatícios (precedente: REsp 1215624).

Na hipótese, porém, na oportunidade de manifestar-se em contestação, a União apenas pleiteou a concessão de prazo de 90 dias a fim de que a Receita Federal procedesse à análise da alegação de decadência (fls. 84/86).

O Relator frisou que, muito embora quando do ajuizamento da ação executiva ainda não hou-vesse posicionamento definitivo do STF acerca da questão de fundo ora tratada, fato é que, quando da oposição dos embargos à execução em ago./2009, já havia sido editada a Súmula Vinculante nº 8.

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA �������������������������������������������������������������������������������143

Assim, não tendo reconhecido o pedido quando citada para resposta, tem-se por inaplicável à espécie a dispensa de honorários prevista no art. 19, § 1º, inciso I, da Lei nº 10.522/2002.

Assim, com base em todo o exposto, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região votou por negar provimento à remessa oficial.

13645 – Empréstimo compulsório sobre energia elétrica – execução regressiva contra a União

“Processual civil e tributário. Recurso especial. Eletrobras. Execução regressiva contra a União. Em-préstimo compulsório sobre energia elétrica. Alegação de ofensa ao art. 535 do CPC/1973. Inexis-tência. Fundamento não impugnado. Súmula nº 283/STF. Deficiência na fundamentação. Súmula nº 284/STF. Reexame de fatos e provas. Impossibilidade. Súmula nº 7/STJ. 1. Hipótese em que a Cor-te local, ao dirimir a controvérsia, concluiu que ‘a Eletrobras não tem legitimidade para promover ação de execução regressiva contra a União, visto que não se reveste da condição de sub-rogado’. 2. Não se conhece de Recurso Especial em relação à ofensa ao art. 535 do CPC/1973 quando a parte não aponta, de forma clara, o vício em que teria incorrido o acórdão impugnado. Aplicação, por analogia, da Súmula nº 284/STF. 3. Os argumentos da recorrente são insuficientes para afastar a conclusão a que chegou a Corte local. Sendo o argumento apto, por si só, para manter o decisum combatido, permite-se aplicar na espécie, por analogia, os óbices das Súmulas nºs 284 e 283 do STF, ante a deficiência na motivação e a ausência de impugnação de fundamento autônomo. 4. A revisão do entendimento firmado nas instâncias ordinárias – de que a dívida oriunda do empréstimo compulsório de energia elétrica interessa exclusivamente à Eletrobras, pelo que aplicável, in casu, a regra do art. 285 do Código Civil – requer revolvimento do conjunto fático-probatório, visto que a instância a quo utilizou elementos contidos nos autos para alcançar tal entendimento. Assim, a aná-lise dessa questão demanda o reexame de provas, o que é inadmissível na via estreita do Recurso Especial, ante o óbice da Súmula nº 7/STJ. 5. Recurso Especial não provido.” (STJ – REsp 1.679.632 – (2017/0144475-9) – 2ª T. – Rel. Min. Herman Benjamin – DJe 17.10.2017 – p. 1550) 13641 –

13646 – Exceção de pré-executividade – conselho profissional – anuidade – fato gerador – ins-crição – presunção de exercício da profissão

“Tributário. Exceção de pré-executividade. Conselho profissional. Anuidade. Fato gerador. Ins-crição. Presunção de exercício da profissão. 1. A defesa veiculável em sede de exceção de pré--executividade, mormente para por fim à execução, deve ser aferível de plano, sem quaisquer questionamentos. 2. Hipótese em que necessária dilação probatória a fim de verificar as alega-ções relativas aos valores das anuidades. 3. Quando do julgamento dos Embargos Infringentes nº 5000625-68.2013.404.7105, apresentado na sessão de 06.03.2014, a 1ª Seção desta Corte deci-diu que o fato gerador da contribuição tributária em face do Conselho de fiscalização é o registro do profissional nos quadros do Conselho. 4. A inscrição no conselho Profissional é ato voluntário, de-correndo desta condição a obrigação de pagar anuidade. No momento em que o profissional opta pelo não exercício da profissão regulamentada, deve adotar procedimentos administrativos visando ao seu desligamento junto aos quadros do órgão de classe, para que se desobrigue do pagamento da anuidade.” (TRF 4ª R. – AI 5017160-08.2017.4.04.0000 – Rel. Des. Fed. Roger Raupp Rios – J. 05.10.2017)

13647 – Execução fiscal – anuidades – notificação – comprovação – desnecessidade

“Agravo de instrumento. Execução fiscal. Anuidades. Notificação. Comprovação. Desnecessidade. A prova da regular constituição do crédito tributário (notificação do contribuinte para o pagamento das anuidades devidas a conselho de fiscalização profissional) não é exigida para o ajuizamento da execução fiscal, para o que basta a inicial acompanhada da certidão de dívida ativa (art. 6º da Lei nº 6.830, de 1980).” (TRF 4ª R. – AI 5043797-93.2017.4.04.0000 – 3ª T. – Relª Desª Fed. Marga Inge Barth Tessler – J. 19.09.2017)

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Comentário RET

Cuida-se de agravo de instrumento contra decisão que, em execução fiscal promovida pelo Con-

selho Regional de Farmácia, determinou a intimação da parte exequente para que, no prazo de

30 (trinta) dias, apresente o comprovante de notificação administrativa da parte executada para

o pagamento do débito ou impugnação administrativa, sob pena de extinção do feito.

Em suas razões de agravo, sustentou o Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina, que a

teor do art. 202 do CTN e § 5º do art. 2º da Lei nº 6.830/1980, não há necessidade de juntada

aos autos do processo administrativo.

Diante de tal situação, requereu a reforma da decisão agravada.

Ao julgar, o Eg. Tribunal Regional Federal da 4ª Região iniciou seu julgamento destacando que

a redação do art. 6º da Lei nº 6.830/1980 (diploma que dispõe sobre a cobrança judicial da

Dívida Ativa da Fazenda Pública) assim determina:

“Art. 6º A petição inicial indicará apenas:

I – o Juiz a quem é dirigida;

II – o pedido; e

III – o requerimento para a citação.

§ 1º A petição inicial será instruída com a Certidão da Dívida Ativa, que dela fará parte integran-

te, como se estivesse transcrita.

§ 2º A petição inicial e a Certidão de Dívida Ativa poderão constituir um único documento, pre-

parado inclusive por processo eletrônico.

§ 3º A produção de provas pela Fazenda Pública independe de requerimento na petição inicial.

§ 4º O valor da causa será o da dívida constante da certidão, com os encargos legais.”

Seguiu o Nobre Desembargador frisando que, como se vê, nos termos da legislação de regência,

não há necessidade de juntada aos autos da notificação do lançamento do crédito ao contribuin-

te pelo Conselho Profissional Exequente.

Portanto, a CDA goza de presunção de legalidade e veracidade, e constitui documento apto à

deflagração da execução fiscal.

Em seu entendimento, o Ilustre Relator destaca que a prova da regular constituição do crédito

tributário não é exigida como pressuposto para a deflagração da execução fiscal. Eventual ine-

xigibilidade do crédito executado, inclusive por defeito no que toca à sua constituição, deve ser

arguida pelo executado, se for o caso, em eventual defesa manifestada mediante instrumento

processual adequado.

Nesse sentido, inclusive, temos os seguintes precedente desta Corte:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO FISCAL – ANUIDADES – NOTIFICAÇÃO – COM-

PROVAÇÃO – DESNECESSIDADE

A prova da regular constituição do crédito tributário (notificação do contribuinte para o pa-

gamento das anuidades devidas a conselho de fiscalização profissional) não é exigida para o

ajuizamento da execução fiscal, para o que basta a inicial acompanhada da certidão de dívida

ativa (art. 6º da Lei nº 6.830, de 1980).” (TRF 4ª R., Agravo de Instrumento nº 5030114-

57.2015.404.0000, 2ª T., Des. Fed. Rômulo Pizzolatti, por unanimidade, juntado aos autos

em 16.09.2015)

“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – EXECUÇÃO FISCAL – JUNTADA DA NOTIFICAÇÃO

DO DEVEDOR DA CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO – DESNECESSIDADE – PRESUNÇÃO DE CER-

TEZA E LIQUIDEZ DA CDA NÃO AFASTADA

1. Nos termos do art. 3º da Lei nº 6.830/1980, a certidão de dívida ativa goza de presunção re-

lativa de liquidez e certeza, cabendo ao executado demonstrar eventual inexigibilidade do título.

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2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é assente no sentido de que incumbe à parte executada o ônus da juntada da cópia do processo administrativo, em razão da presunção rela-tiva de liquidez e certeza da CDA.

3. É desnecessária a apresentação da notificação do devedor da constituição do crédito, uma vez que a Lei nº 6.830/1980 dispõe expressamente sobre os requisitos essenciais para a instrução da petição inicial e não elenca a notificação administrativa entre eles.” (TRF 4ª R., Apelação Cível nº 5001813-07.2015.404.7112, 4ª T., Juiz Federal Loraci Flores de Lima, por unanimi-dade, juntado aos autos em 18.08.2015)

Desta forma, com base em todo o exposto, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região votou por dar provimento ao agravo de instrumento.

13648 – Execução fiscal – bem de família – imóvel locado a terceiros

“Tributário. Embargos à execução fiscal. Bem de família. Imóvel locado a terceiros. Lei nº 8.090/1990. Aluguéis. Impenhorabilidade. 1. Pretende a União Federal a substituição do imóvel penhorado pelos alugueres decorrentes da locação deste, considerado tratar-se de bem de família, cuja renda não estaria sendo revertida para a o sustento da própria família. 2. Em que pese o Embar-gante não residir no imóvel objeto da penhora com a sua família, tal fato não impede a aplicação da regra da impenhorabilidade do bem de família, que deve ser sempre pautada pela finalidade que a norteia, ou seja, a manutenção da garantia de moradia familiar ou de subsistência da família. Desta forma, o valor obtido com a locação como complemento da renda familiar, atende o escopo da Lei. 3. O instituto do bem de família, previsto na Lei nº 8.009/1990, não é descaracterizado automati-camente pela constatação de que o grupo familiar não reside no único imóvel de sua propriedade, quando evidenciada a sua vinculação ao pagamento da locação do imóvel residencial. Precedente do STJ: AgRg-Ag 902919/PE, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª T., DJe 19.06.2008. 4. Afastada a alegação de que os alugueres não estariam sendo revertidos para o sustento da família diante da prova dos autos. 4. Recurso desprovido.” (TRF 2ª R. – AC 2008.50.03.000392-7 – 3ª T.Esp. – Relª Juíza Fed. Conv. Andréa Cunha Esmeraldo – DJe 04.10.2017 – p. 361)

13649 – Execução fiscal – CDA – requisitos – inexistência de vício – constituição do débito – prescrição configurada

“Tributário. Embargos à execução fiscal. CDA. Requisitos. Inexistência de vício. Constituição do dé-bito. Prescrição configurada. 1. A teor do disposto nos arts. 204 do CTN e 3º da Lei nº 6.830/1980, a dívida ativa regularmente inscrita goza da presunção de certeza e liquidez e tem efeito de prova pré--constituída, cabendo ao executado o ônus de comprovar a existência de qualquer irregularidade na CDA. 2. A circunstância de os dados constantes da CDA serem indicados pela simples menção à legislação respectiva não invalida o título, eis que a informação pertinente nele consta, permitindo a defesa do executado. Essa situação é totalmente diferente daquela outra, na qual a certidão apenas discrimina uma série de valores, sem lhes apontar a origem legal nem os critérios de incidência da atualização monetária e dos juros. 3. No caso, constata-se da CDA que a cobrança está fundamen-tada e atendeu a todos os requisitos legais, indicando a origem da dívida, o período, os valores cobrados com seus acréscimos legais, bem com a indicação das leis pertinentes. 4. A entrega de declaração retificadora sem alteração dos valores anteriormente declarados pelo contribuinte não gera a interrupção do prazo prescrição. Contudo, nos autos não há prova do alegado. 5. No caso dos autos, não há prova de que as GFIPS retificadoras informadas pelo embargante foram apresen-tadas apenas para a correção de equívocos formais. 5. É dever do executado, muito mais do que fazer afirmações genéricas, apresentar prova inequívoca, de modo a não gerar dúvidas quanto as suas alegações, trazendo aos autos os documentos pertinentes, como as primeiras declarações apre-sentadas e as retificadoras. 6. Apelação improvida.” (TRF 2ª R. – AC 0113316-03.2015.4.02.5002 – 4ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Luiz Antonio Soares – DJe 19.10.2017 – p. 343)

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13650 – Execução fiscal – conselho – Sistema Infojud

“Agravo de instrumento. Execução fiscal. Conselho. Sistema Infojud. Em que pese o Código Tribu-tário Nacional, em seu art. 198, assegurar a não divulgação da situação econômica ou financeira do contribuinte (sigilo fiscal), o disposto no inciso I de seu § 1º excetua o caso de requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça. A legislação processual possui mecanismos de favo-recimento ao exequente, fortalecendo o princípio do resultado. A utilização desses mecanismos, do que é exemplo o Infojud, ganha relevo na cobrança de créditos tributários, e é derivada do dever fundamental de pagar tributos. Não há razão para impor à Fazenda Pública a promoção de diligências dispendiosas se existem sistemas criados justamente para simplificar e agilizar a obten-ção de informações acerca dos bens do devedor (Precedentes do STJ).” (TRF 4ª R. – AI 5045919-79.2017.4.04.0000 – Rel. Des. Fed. Roger Raupp Rios – J. 05.10.2017)

Comentário RETCuida-se de agravo de instrumento interposto pelo Conselho Regional de Administração do Rio Grande do Sul – CRA/RS contra decisão singular que indeferiu a utilização do sistema Infojud.

O conselho aduziu em suas razões recursais que já utilizou os sistemas de busca de bens penho-ráveis tais como o Bacenjud, não havendo razões para indeferir a consulta ao Infojud.

Quando do julgamento do recurso pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o Relator, o No-bre Desembargador Federal Roger Raupp Rios iniciou a questão falando um pouco do sistema Infojud, senão vejamos:

“O Infojud se constitui em instrumento de comunicação entre a Receita Federal e o Poder Ju-diciário, traduzindo mecanismo de simplificação e agilização dos procedimentos executórios. O referido sistema substitui o anterior procedimento de fornecimento de informações cadastrais e de cópias de declarações pela Receita Federal.

Em que pese o Código Tributário Nacional, em seu art. 198, assegurar a não divulgação da situação econômica ou financeira do contribuinte (sigilo fiscal), o disposto no inciso I de seu § 1º excetua o caso de requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça (o que já vinha previsto desde a redação original, no parágrafo único do art. 198).

Desse modo, o executado que se opõe à execução, ou que não indica onde se encontram seus bens, está praticando ato atentatório à dignidade da justiça (Novo Código de Processo Civil, art. 774), o que evidencia o interesse da justiça na obtenção das informações fiscais, utilizando--se o magistrado de seu poder de requisitar dados às repartições públicas (NCPC, art. 438).

A par disso, a legislação processual possui mecanismos de favorecimento ao exequente, forta-lecendo o princípio do resultado. A utilização desses mecanismos ganha relevo na cobrança de créditos tributários, derivada do dever fundamental de pagar tributos.”

Seguindo ainda esta linha, o Douto Julgador destaca que a jurisprudência do STJ respalda o entendimento de que não há razão para impor à Fazenda Pública a promoção de diligências dispendiosas se existem sistemas criados justamente para simplificar e agilizar a obtenção de informações acerca dos bens do devedor.

Nesse sentido:

“PROCESSUAL CIVIL – SISTEMA INFOJUD – ESGOTAMENTO DE DILIGÊNCIAS – DESNECES-SIDADE

1. Com a entrada em vigor da Lei nº 11.382/2006, e como resultado das inovações nela tra-tadas, houve evolução no sentido de prestigiar a efetividade da Execução, de modo que a apre-ensão judicial de dinheiro, mediante o sistema eletrônico denominado Bacenjud passou a ser medida primordial, independentemente da demonstração relativa à inexistência de outros bens.

2. Atualmente, a questão se encontra pacificada, nos termos do precedente fixado pela Corte Especial do STJ, no julgamento do REsp 1.112.943/MA, sujeito ao rito dos recursos repetitivos.

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3. Ademais, o STJ posiciona-se no sentido de que o entendimento adotado para o Bacenjud deve ser aplicado ao Renajud e ao Infojud, haja vista que são meios colocados à disposição dos credores para simplificar e agilizar a busca de bens aptos a satisfazer os créditos executados. Nesse sentido: AgRg-REsp 1.322.436, Relª Min. Assusete Magalhães, DJe 17.08.2015; REsp 1.522.644, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 01.07.2015; AgRg-REsp 1.522.840; Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 10.06.2015; REsp 1.522.678, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 18.05.2015.

4. Recurso Especial provido.” (REsp 1582421/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., J. 19.04.2016, DJe 27.05.2016)

“RECURSO ESPECIAL – PROCESSUAL CIVIL – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – SISTEMA RENAJUD – CONSULTA – POSSIBILIDADE – EXAURIMENTO DE DILIGÊNCIAS PARA BUSCA DE BENS DO EXECUTADO – DESNECESSIDADE

1. Cinge-se a controvérsia a definir se é dado ao exequente solicitar ao Juízo a busca – pelo sistema Renajud – de informação acerca da existência de veículos de propriedade do executado, independentemente da comprovação do esgotamento das vias extrajudiciais para tal finalidade.

2. O Renajud é um sistema on­line de restrição judicial de veículos criado pelo Conselho Nacio-nal de Justiça (CNJ), que interliga o Judiciário ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e permite consultas e envio, em tempo real, à base de dados do Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam) de ordens judiciais de restrições de veículos, inclusive registro de pe-nhora.

3. Considerando-se que i) a execução é movida no interesse do credor, a teor do disposto no art. 612 do Código de Processo Civil; ii) o sistema Renajud é ferramenta idônea para simplificar e agilizar a busca de bens aptos a satisfazer os créditos executados e iii) a utilização do sistema informatizado permite a maior celeridade do processo (prática de atos com menor dispêndio de tempo e de recursos) e contribui para a efetividade da tutela jurisdicional, é lícito ao exequente requerer ao Juízo que promova a consulta via Renajud a respeito da possível existência de veícu-los em nome do executado, independentemente do exaurimento de vias extrajudiciais.

4. Recurso especial provido.” (REsp 1347222/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, 3ª T., J. 25.08.2015, DJe 02.09.2015)

Desta forma, com base no explanado, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região deu provimento ao agravo de instrumento para determinar ao Juízo de origem a realização das dili-gências através do sistema Infojud.

13651 – Execução fiscal – conselho de classe – anuidade – termo de confissão de dívida – exe-cução de título extrajudicial – descabimento

“Processual civil e tributário. Apelação. Conselho de classe. Anuidade. Termo de confissão de dívi-da. Execução de título extrajudicial. Descabimento. O conselho regional de corretores de Imóveis da 2ª Região em São Paulo – Creci/SP propôs ação de execução de título executivo extrajudicial fundada em termo de confissão de dívida, a qual tem origem nas anuidades de 2009 e 2010 e multa eleitoral do ano de 2009 devidas pela executada (fls. 17/14), no montante de R$ 1.560,77. Os conselhos de classe são autarquias, de modo que seus créditos, como as anuidades em questão, constituem dívida ativa da fazenda pública. Assim, como crédito dessa natureza, judicialmente, deve ser cobrado na forma da Lei nº 6.830/1980, a qual impõe a sua inscrição em dívida ativa (§§ 3º, 4º e 5º do art. 2º da LEF) e posterior ajuizamento de execução fiscal contra o devedor – por se tratar de relação jurídica de direito público, não é lícito às partes por contrato se afastarem do regramento jurídico relativo à cobrança de dívidas que nela tem origem, de modo que descabida a presente execução de título extrajudicial. Ademais, a presente ação representa um meio de burlar a aplicação do art. 8º da Lei nº 12.514/2011, o que também não se admite (Precedente desta Corte). O disposto nos arts. 576 do CPC/1973 e 5º, incisos XXXIV, alínea a, XXXV e LIV, da CF não tem o

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condão de afastar tal entendimento pelos fundamentos exarados. Apelação desprovida.” (TRF 3ª R. – AC 0008959-80.2014.4.03.6100/SP – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Andre Nabarrete – DJe 18.10.2017)

Comentário RETTemos adiante o comentário de um acórdão que julgou um recurso de apelação interposto pelo Conselho Regional de Corretores de Imóveis da 2ª Região em São Paulo – Creci/SP contra sen-tença que indeferiu a petição inicial, com base no art. 295, inciso I, do Código de Processo Civil e, por conseguinte, com fulcro no art. 267, inciso I e IV, do Estatuto Processual Civil, julgando extinto o processo sem resolução de mérito.

Sustentou em seu recurso o apelante, sem suma, que a dívida exequenda provém da cobrança de título extrajudicial que não goza dos privilégios da certidão de dívida ativa, bem como não se submete à lei de execução fiscal, mas sim aos ritos estabelecidos no CPC/1973 (art. 576), razão pela qual está presente o interesse de agir da autarquia.

Alegou ainda, que a decisão viola o art. 5º, incisos XXXIV, alínea a, XXXV e LIV, da CF, eis que priva o conselho de seu direito de acesso ao Poder Judiciário e ao devido processo legal, bem como que a competência é da Vara Cível da Subseção Judiciária Federal de São Paulo, por se tratar de execução de título judicial.

Na época, o Conselho Regional de Corretores de Imóveis da 2ª Região em São Paulo – Creci/SP havia proposto ação de execução de título executivo extrajudicial fundada em termo de confissão de dívida, a qual tem origem nas anuidades de 2009 e 2010 e multa eleitoral do ano de 2009 devidas pela executada, no montante de R$ 1.560,77.

Agora em grau de recurso em 2ª Instância, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região iniciou o julgamento do conflito frisando que os conselhos de classe são autarquias, de modo que seus créditos, como as anuidades em questão, constituem dívida ativa da Fazenda.

Reforçou ainda que, como crédito dessa natureza, judicialmente, deve ser cobrado na forma da Lei nº 6.830/1980, a qual impõe a sua inscrição em dívida ativa (§§ 3º, 4º e 5º do art. 2º da Lei de Execução Fiscal) e posterior ajuizamento de execução fiscal contra o devedor.

O Ilustre Desembargador Federal Relator, Andre Nabarrete ressaltou que, por se tratar de relação jurídica de direito público, não é lícito às partes por contrato se afastarem do regramento jurídico relativo à cobrança de dívidas que nela tem origem, de modo que descabida a presente execução de título extrajudicial. Ademais, a presente ação representa um meio de burlar a aplicação do art. 8º da Lei nº 12.514/2011, o que também não se admite. Nesse sentido, confira-se:

“TRIBUTÁRIO – CONSELHO DE FISCALIZAÇÃO PROFISSIONAL – ANUIDADE – NATUREZA TRIBUTÁRIA – TERMO DE NOVAÇÃO – IRRELEVÂNCIA – ART. 156 DO CTN – AJUIZAMENTO COMO EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL – IMPOSSIBILIDADE – SUBSUNÇÃO AOS DI-TAMES DA LEI Nº 6.830/1980 – APLICAÇÃO DO ART. 8º DA LEI Nº 12.514/2011

1. As anuidades devidas aos conselhos de fiscalização profissional possuem natureza tributária, visto fundarem-se no art. 149 da Constituição de 1988 (Nesse sentido: STF, RE 721194-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, J. 18.03.2014, DJe 15.04.2014).

2. Ressalte-se que o Código Tributário Nacional não prevê a novação como modalidade de extinção do crédito tributário.

3. Inaplicável o Código Civil, devendo as respectivas cobranças ocorrerem por meio do procedi-mento previsto na Lei nº 6.830/1980.

4. Tratando-se de relação jurídica regida pelo direito público, não podem as partes, por contrato (confissão de dívida, etc.), afastarem o rígido regramento relativo à cobrança de dívidas oriundas dessa relação.

5. Dessarte, não é lícito à parte exequente, sob alegação de novação (instrumento de índole privada), cobrar as anuidades inadimplidas por procedimento diverso da execução fiscal, a fim de burlar a aplicação do art. 8º da Lei nº 12.514/2011.

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6. Apelação desprovida.” TRF 3ª R., 4ª T., AC – Apelação Cível nº 2162155 – 0024227-77.2014.4.03.6100, Rel. Des. Fed. Marcelo Saraiva, J. 17.08.2016, e-DJF3 Judicial 1 Data: 14.09.2016.

Finalizou o Nobre Desembargador, destacando que o disposto nos arts. 576 do CPC/1973 e 5º, incisos XXXIV, alínea a, XXXV e LIV, da CF não tem o condão de afastar tal entendimento pelos fundamentos exarados.

Assim, com base em todo o exposto, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região negou provimento à apelação.

13652 – Execução fiscal – constituição do crédito – entrega da declaração – demora na citação por culpa do credor – prescrição ordinária

“Processual civil e tributário. Embargos à execução fiscal. Constituição do crédito. Entrega da de-claração. Demora na citação por culpa do credor. Prescrição ordinária. Jurisprudência do STJ (08). Ajuizada a EF dentro do quinquênio, cabe à exequente promover a citação no prazo de 10 dias, prorrogável até 90 dias (§§ 2º e 3º do art. 219 do CPC). Se a exequente deixa o feito inerte na Vara por vários anos sem motivo, não há falar em aplicação da Súmula nº 106/STJ tendo em vista a evidente inércia do credor, pois era sua responsabilidade movimentar o feito. Não se efetuando a citação no referido prazo, tem-se que o prazo prescricional não foi interrompido (§ 4º do art. 219 do CPC). Ultrapassado o quinquênio desde a constituição do crédito sem que realizada a citação, inafastável a ocorrência da prescrição (art. 174 do CTN). Apelação não provida.” (TRF 1ª R. – Proc. 00301135720104013900 – Rel. Juiz Eduardo Morais da Rocha – J. 29.08.2017)

13653 – Execução fiscal – contribuições previdenciárias – CDA – presunção de certeza e liqui-dez não ilidida pelo contribuinte – prescrição – inocorrência

“Direito tributário. Embargos à execução fiscal. Contribuições previdenciárias. CDA. Presunção de certeza e liquidez não ilidida pelo contribuinte. Prescrição. Inocorrência. Salário-educação. Cons-titucionalidade da cobrança. 1. A parte contribuinte não trouxe aos autos elementos que pudessem infirmar a presunção de certeza e liquidez da certidão de dívida ativa, ônus que a ela competia. Ademais, a análise da CDA que instrui a cobrança demonstra que ela preenche os requisitos legais, tendo fornecido à parte contribuinte os elementos necessários para conhecimento da exigência fiscal e apresentação da respectiva defesa. 2. Crédito tributário constituído por confissão do con-tribuinte em 05.04.1993. Início do prazo prescricional. 3. O despacho que determinou a citação foi proferido antes do início da vigência da LC 118/2005, que deu nova redação ao art. 174, I, do CTN. Incidência da antiga redação do art. 174, I, do CTN, sendo a citação da empresa, ocorrida em 17.02.1998, o termo final da prescrição em tela. Marco temporal que retroage à data do ajui-zamento do executivo fiscal, em exegese do quanto decidido pelo STJ sob a égide paradigmáti-ca no julgamento do REsp 1.120.295/SP. 4. Executivo fiscal ajuizado em 30.01.1998. Prescrição não consumada. 5. A constitucionalidade da exigência do salário-educação, tendo por referência tanto a Constituição vigente quanto a Carta Magna anterior, está pacificada pela jurisprudência pátria, havendo, inclusive, julgados proferidos sob a égide paradigmática (STF: RE 660933; STJ: REsp 1162307/RJ). 6. Apelação da parte contribuinte não provida.” (TRF 3ª R. – AC 0020489-39.2005.4.03.9999/SP – 5ª T. – Relª Juíza Fed. Louise Filgueiras – DJe 18.10.2017 – p. 326)

Transcrição RETCódigo Tributário Nacional:

“Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva.

Parágrafo único. A prescrição se interrompe:

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I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal; (Redação dada pela LCP 118, de 2005)

II – pelo protesto judicial;

III – por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;

IV – por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor.”

13654 – Execução fiscal – contribuições previdenciárias – responsabilidade solidária dos sócios da pessoa jurídica – acórdão fundamentado

“Retratação. Agravo de instrumento. Execução fiscal. Contribuições previdenciárias. Responsabilida-de solidária dos sócios da pessoa jurídica. Acórdão fundamentado no art. 13 da Lei nº 8.620/1993. 1. No julgamento do Recurso Extraordinário nº 562.276/RS, pela sistemática do art. 543-B do Código de Processo Civil de 1973, o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional a regra do art. 13 da Lei nº 8.620/1993, que autorizava a responsabilização solidária dos sócios pelos débitos da empresa junto à Seguridade Social. E, em sede de recurso repetitivo, o Superior Tribunal de Justiça também acabou por afastar a aplicação do art. 13 da Lei nº 8.620/1993 (REsp 1.153.119/MG, 1ª S., Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe 02.12.2010). 2. No caso concreto, o nome do sócio foi incluído na CDA por força do disposto no art. 30, inciso I, b, da Lei nº 8.212/1991, que entre outros dispositivos, refere--se a contribuições descontadas dos salários dos empregados e não repassadas à Previdência Social, o que configura, em tese, o crime de apropriação indébita previdenciária (CP, art. 168-A), de modo que tal conduta resulta em infração à lei, ensejando a responsabilização pessoal prevista no inciso III do art. 135 do Código Tributário Nacional. 3. Estando a matéria decidida no agravo de instrumento em desconformidade com o julgamento proferido pelo Superior Tribunal de Justiça e pelo Supremo Tribu-nal Federal, no que se refere ao dispositivo declarado inconstitucional (art. 13 da Lei nº 8.620/1993), impõe-se a adequação do julgado nesta parte, mantendo-se, entretanto, os sócios no polo passivo da execução, como corresponsáveis pelo débito exequendo, porém por outro fundamento legal. 4. Juízo de retratação positivo.” (TRF 3ª R. – AI 0120293-67.2006.4.03.0000/SP – 11ª T. – Rel. Juiz Fed. Conv. Alessandro Diaféria – DJe 19.09.2017 – p. 1381)

Transcrição RETLei nº 8.620/1993:

“Art. 13. O titular da firma individual e os sócios das empresas por cotas de responsabilidade limitada respondem solidariamente, com seus bens pessoais, pelos débitos junto à Seguridade Social. (Revogado pela Medida Provisória nº 449, de 2008) (Revogado pela Lei nº 11.941, de 2009)

Parágrafo único. Os acionistas controladores, os administradores, os gerentes e os diretores respondem solidariamente e subsidiariamente, com seus bens pessoais, quanto ao inadimple-mento das obrigações para com a Seguridade Social, por dolo ou culpa. (Revogado pela Medida Provisória nº 449, de 2008) (Revogado pela Lei nº 11.941, de 2009)”

13655 – Execução fiscal – crédito tributário – prescrição – inaplicabilidade da Súmula nº 106 do STJ – ocorrência – provimento

“Processual civil. Embargos à execução fiscal. Crédito tributário. Prescrição. Inaplicabilidade da Súmula nº 106 do STJ. Ocorrência. Provimento. 1. Apelação interposta por particular em face de sentença que julgou improcedentes os embargos executivos manejados, por entender não ter se verificado a prescrição intercorrente entre o arquivamento e o desarquivamento da Ação Fiscal nº 0003193-37.2004.4.05.8300. 2. O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1.102.554/MG, sob o rito dos recursos repetitivos, pacificou entendimento no sentido de que ainda que a execução fiscal tenha sido arquivada em razão do pequeno valor do débito executado, sem

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baixa na distribuição, nos termos do art. 20, da Lei nº 10.522/2002, deve ser reconhecida a pres-crição intercorrente se o processo ficar paralisado por mais de cinco anos a contar da decisão que determina o arquivamento, pois essa norma não constitui causa de suspensão do prazo prescricio-nal. 3. Hipótese em que a ação fiscal foi ajuizada em 23.02.2004, vindo o despacho que ordena a citação ser proferido em 26.02.2004. Como a ação foi proposta antes da vigência da Lei Com-plementar nº 118/2005, somente quando se verificar a efetiva citação é que haverá a interrupção do prazo prescricional. Considerando o Juízo a quo que a ação se enquadrava nas disposições do art. 20, da Lei nº 10.522/2002, determinou a intimação da exequente para que requeresse o arqui-vamento sem baixa do feito. Ato contínuo, em 12.01.2006, o Fisco Nacional requereu o arquiva-mento sem baixa do feito e a citação do devedor. 4. Em 21.02.2006, o magistrado de 1º grau indefe-riu o pedido de citação, por entender ser inútil neste momento processual, ordenando, em seguida, o arquivamento sem baixa do processo. Contra esta decisão não houve qualquer insurgência da exequente. 5. Em 24.07.2009, com o fito de garantir o Juízo, requereu a Fazenda Nacional a transfe-rência, para estes autos, do imóvel penhorado na Execução Fiscal nº 2005.83.00.009713-3, prestes a ser extinta por pagamento. Informou, ainda, que o valor atualizado do débito era de R$ 10.564,18. 6. Restando infrutífera a citação por carta no endereço apontado na inicial, em 05.11.2010, foi in-timada a exequente para promover o prosseguimento do feito. O Fisco requereu a citação em outro endereço em 29.11.2010, sendo o mandado de citação expedido em 27.07.2011 e a efetiva citação ocorrida em 15.08.2011. Em seguida, foi proferida a sentença recorrida (17.03.2014). 7. Prescri-ção do crédito vindicado, uma vez que a execução fiscal foi ajuizada em 23.02.2004 e a efetiva citação verificou-se em 15.08.2011, quando ultrapassado o quinquênio legal (2009). Extinção da execução fiscal. 8. Inaplicabilidade das disposições da Súmula nº 106, do STJ, uma vez que a para-lisação na movimentação processual não foi ocasionada pelo Judiciário. Com efeito, verifica-se que a exequente quedou-se inerte quando do indeferimento do seu pleito de citação e determinação de arquivamento sem baixa do feito, em 21.02.2006, vindo a manifestar-se apenas em 24.07.2009, para requerer a transferência da penhora existente em outra execução fiscal que iria ser extinta por pagamento. 9. Honorários de sucumbência, a serem adimplidos pela exequente, fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da execução (R$ 10.564,18), nos termos do art. 20, do CPC. 10. Ape-lação provida.” (TRF 5ª R. – AC 0013594-51.2011.4.05.8300 – (593007/PE) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Rubens de Mendonça Canuto Neto – DJe 29.09.2017 – p. 141)

Transcrição RETSúmula do Superior Tribunal de Justiça:

“106 – Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência.”

13656 – Execução fiscal – cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública – pretensão exe-cutiva – prescrição – medida cautelar de protesto – prazo – interrupção

“Agravo de instrumento. Cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública. Pretensão executiva. Prescrição. Medida cautelar de protesto. Prazo. Interrupção. A jurisprudência deste Tribunal é no sen-tido de que o ajuizamento da ação de protesto judicial pelo contribuinte interrompe o prazo prescri-cional para a pretensão executiva do indébito tributário, nos termos do Decreto nº 20.910, de 1932.” (TRF 4ª R. – AI 5043626-39.2017.4.04.0000 – Rel. Des. Fed. Rômulo Pizzolatti – J. 19.09.2017)

Comentário RETTemos adiante um recurso de agravo de instrumento interposto pela União (Fazenda Nacional) contra decisão do MM. Juiz Federal Substituto Tiago Scherer, da 14ª Vara Federal de Porto Alegre/RS, que, nos autos do Cumprimento de Sentença contra a Fazenda Pública nº 5024318-

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57.2017.4.04.7100/RS, a pretexto de ter havido ajuizamento de ação cautelar de protesto interruptivo da prescrição, rejeitou impugnação visando ao reconhecimento da prescrição da pretensão executiva (evento 17 do processo originário).

Em suas razões, sustentou a agravante, em suma, que o cumprimento de sentença de origem foi proposto após cinco anos do trânsito em julgado da sentença.

Argumentou também que o protesto judicial não possui natureza jurídica de ação, já que proce-dimento de jurisdição voluntária, e assim não tem o efeito de interromper o prazo prescricional.

Seguiu alegando que o protesto não é condicionante da repetição e que por isso não influi nessa relação, além ser ato desprovido de utilidade que não pode ser admitido apenas para o fim de ampliar prazo prescricional, tanto mais quando a medida adequada seria a própria propositura da execução.

Por fim, sustentou que os arts. 867 e 869 do Código de Processo Civil de 1973, o inciso II do art. 202 do Código Civil e o art. 165 do Código Tributário Nacional definem os prazos prescri-cionais, inviabilizando o protesto judicial como forma de interrupção do prazo prescricional.

Para tanto, requereu a reforma da decisão agravada para que fosse acolhida sua impugnação, reconhecendo-se a prescrição do cumprimento de sentença de origem.

Foi indeferido o pedido de antecipação da tutela recursal.

Ao analisar o caso, o Eg. Tribunal Regional Federal da 4ª Região invocou a Súmula nº 150 do Supremo Tribunal Federal, que afirma prescrever a execução no mesmo prazo de prescrição da ação, o que, aplicada ao indébito tributário, equivale a dizer que a execução deve ser promovida no prazo de cinco anos.

Destacou o Nobre Relator que, com base em sentença transitada em julgado em 12.02.2010, o contribuinte instaurou o cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública de origem em 12.05.2017, após, portanto, o prazo de cinco anos.

Frisou ainda que o Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais no Estado do Rio Grande do Sul – SINPRF-RS, autor na ação ordinária em que proferida a sentença executada, propôs em 27.01.2015 ação cautelar de protesto, a fim de interromper o prazo prescricional para a execu-ção (cf. Medida Cautelar de Protesto nº 5004753-78.2015.404.7100/RS).

Mas no entendimento do Ilustre Julgador, ainda que pesem as alegações da parte agravante, a jurisprudência dominante deste Tribunal estabeleceu orientação no sentido de que o ajuizamen-to da ação de protesto judicial pelo contribuinte também interrompe o prazo prescricional nos termos do Decreto nº 20.910, de 1932, senão vejamos:

“TRIBUTÁRIO – EMBARGOS À EXECUÇÃO DE SENTENÇA – PROTESTO JUDICIAL – INTER-RUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO – MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – O ajuizamento da ação de protesto judicial pelo contribuinte interrompe o prazo prescricional. Precedentes do STJ.” (TRF 4ª R., AC 5027692-77.2014.404.7200, 1ª T., juntado aos autos em 15.01.2015)

“REMESSA OFICIAL – ART. 475, §§ 2º E 3º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – Não se co-nhece da remessa oficial nas hipóteses dos §§ 2º e 3º do art. 475 do Código de Processo Civil. REPETIÇÃO DE INDÉBITO TRIBUTÁRIO – PRESCRIÇÃO – LC 118, DE 2005 – PROTESTO JUDICIAL – INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL – ART. 174, PARÁGRAFO ÚNICO, II, DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL – 1. Em se tratando de ação de repetição de quantias pa-gas indevidamente, a título de tributo, ajuizada depois de 09.06.2005, ou seja, após a vacatio legis da Lei Complementar nº 118, de 09.02.2005, que alterou o art. 168 do Código Tributário Nacional (CTN), o prazo prescricional aplicável é de cinco (5) anos. 2. O protesto judicial não suspende o prazo prescricional atinente à repetição de indébito tributário, na forma do art. 9º do Decreto nº 20.910, de 1932, mas sim o interrompe, conforme o disposto no art. 174, parágrafo único, II, do Código Tributário Nacional, aplicável por isonomia. PIS-IMPORTAÇÃO – COFINS--IMPORTAÇÃO – BASE DE CÁLCULO – VALOR ADUANEIRO – É indevido o acréscimo de valores referentes ao ICMS, ao PIS e à Cofins na base de cálculo da contribuição ao PIS-Importação e da Cofins-Importação, uma vez que essas contribuições devem incidir tão somente sobre o ‘valor

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aduaneiro’.” (TRF 4ª R., Ap-Reex 5014475-95.2013.404.7201, 2ª T., juntado aos autos em 02.12.2014)

No mesmo sentido, a jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do que são exemplos os seguintes julgados assim sintetizados:

“EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA – PRESCRIÇÃO – TERMO INICIAL – PROTESTO JUDICIAL – CITAÇÃO VÁLIDA – NO QUE TANGE A PRESCRIÇÃO, DISPÕE O ART. 174, II DO CTN, A IN-TERRUPÇÃO E PELO PROTESTO JUDICIAL – IRRELEVANTE O FATO DE QUE O ART. 219 DO CPC, ANTES DA LEI Nº 8.952/1994, TINHA OUTRA REDAÇÃO, PORQUE A QUESTÃO PODE SER DIRIMIDA COM BASE NO CTN – EMBARGOS RECEBIDOS.” (EREsp 108.866/DF, 1ª S., Julgado em 29.04.1998, DJ 08.06.1998, p. 7)

“TRIBUTÁRIO – RESSARCIMENTO DE VALORES FISCAIS – DECRETO-LEI Nº 491/1968 – CORREÇÃO MONETÁRIA – PRESCRIÇÃO – O CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL ELEGE O PROTESTO JUDICIAL COMO CAUSA INTERRUPTIVA DO PRAZO PRESCRICIONAL, PARA QUE A FAZENDA PÚBLICA PROPONHA A AÇÃO DE COBRANÇA DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO (ART. 174, PARÁGRAFO ÚNICO, INCISO II). FACE AO PRINCÍPIO DA IGUALDADE DAS PARTES, NO PROCESSO (ISONOMIA PROCESSUAL), IDÊNTICO TRATAMENTO DEVE SER DISPENSADO AO CONTRIBUINTE NAS AÇÕES EM QUE POSTULA A REPETIÇÃO DO INDÉBITO. [...]” (REsp 82.553/DF, 1ª T., Julgado em 29.04.1996, DJ 03.06.1996, p. 19214)

“PROCESSUAL CIVIL – TRIBUTÁRIO – INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO PARA A AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO POR MEDIDA CAUTELAR DE PROTESTO JUDICIAL DO ART. 867, DO CPC – POSSIBILIDADE – ARTS. 108, 165, CAPUT, E 173, PARÁGRAFO ÚNICO II, DO CTN. MARCO INTERRUPTIVO DO ART. 219, § 1º, DO CPC – IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DOS ARTS. 3º E 4º DA LEI COMPLEMENTAR Nº 118/2005 ÀS AÇÕES CAUTELARES DE PROTESTO JUDICIAL AJUIZADAS EM E ANTES DE 08.06.2005 – 1. O Código Tributário Nacional, se não prevê expressamente a ação cautelar de protesto para o contribuinte, parte do pressuposto de sua existência e possibilidade, ao disciplinar no seu art. 165, caput, que tanto o pedido admi-nistrativo de repetição de indébito quanto a ação para a repetição de indébito independem de prévio protesto. 2. O fato de o art. 165, do CTN mencionar o protesto significa que ele é uma faculdade posta ao contribuinte, que a fazenda pública não pode exigir o protesto como condição da repetição. Em resgate histórico, observo que a inserção do dispositivo no CTN, inclusive, foi feita em razão de existir anteriormente a sua vigência interpretação fazendária no sentido de que o protesto judicial do contribuinte (na época feito na forma do art. 720, do CPC/1939 – Decreto--Lei nº 1.608/1939) era obrigatório para ressalvar seus direitos quando do pagamento que entendeu indevido (cf. Aliomar Baleeiro in Direito Tributário Brasileiro, 11. ed. Rio de Janeiro, Forense: 2000, p. 877). 3. Quanto à força interruptiva da prescrição pelo protesto feito pelo contribuinte, aplica-se, por analogia permitida pelo art. 108, I, do CTN, o disposto no art. 174, parágrafo único, II, que admite o protesto judicial como forma de interromper a prescrição para a cobrança do crédito tributário. 4. Em se tratando o CTN de norma geral, o seu complemento se dá com a identificação precisa do marco interruptivo da prescrição que é feito por norma específica e conformadora dos direitos processuais, qual seja o art. 219, § 1º, do CPC e os dispositivos pertinentes que regulam a ação cautelar de protesto (arts. 867 a 873, do CPC), como toda e qualquer ação judicial. [...]” (REsp 1329901/RS, 2ª T., Julgado em 23.04.2013, DJe 29.04.2013, sublinhou-se)

Desta forma, como houve interrupção do prazo prescricional em 27.01.2015, não está prescrita a pretensão executiva exercida em 12.05.2017.

Assim, diante de todo o explanado, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região votou por negar provimento ao agravo de instrumento.

13657 – Execução fiscal – débito inscrito em dívida ativa – crédito rural

“Tributário. Processual civil. Agravo de instrumento. Execução fiscal. Débito inscrito em dívida ati-va. Crédito rural. Lei nº 13.340/2016. Demonstração da origem e da natureza da dívida. Ausência.

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Tutela antecipada. Impossibilidade. 1. Caso no qual se busca reforma de decisão que indeferiu a suspensão de execução fiscal, com base na Lei nº 13.340/2016. 2. Com efeito, a Lei nº 13.340/2016 estabelece, entre outras disposições, a possibilidade de suspensão das execuções em curso, quando envolverem cobrança de dívida decorrente de crédito rural. 3. À falta de documentação nos autos, capaz de demonstrar a natureza, a origem e os desdobramentos da dívida, necessários à caracte-rização da mesma como crédito rural passível de subsunção à Lei nº 13.340/2016, não há espaço para o deferimento de tutela antecipada. 4. Agravo de instrumento não provido.” (TRF 5ª R. – AGTR 0000872-43.2017.4.05.0000 – (145728/RN) – 1ª T. – Rel. Des. Fed. Élio Wanderley de Siqueira Filho – DJe 28.09.2017 – p. 72)

13658 – Execução fiscal – dissolução irregular da empresa – redirecionamento a membro do conselho de administração à época dos fatos geradores – descabimento

“Tributário. Embargos à execução fiscal. Dissolução irregular da empresa. Redirecionamento a membro do conselho de administração à época dos fatos geradores. Descabimento. Apelo provido. 1. A responsabilidade do sócio em matéria tributária é subsidiária em relação à pessoa jurídica, de modo que o primeiro requisito para que uma pessoa física possa ser responsabilizada pelas dívidas de uma empresa é fazer parte do seu quadro societário, a fim de poder praticar atos em nome da pessoa jurídica, através dos poderes que lhe são conferidos pelo respectivo contrato so-cial. Ocorre que, no caso concreto, restou incontroverso que a apelante fora tão somente membro do Conselho de Administração durante a existência da pessoa jurídica, sem que tenha exercido a função de gerência, o que, por si só, é o que basta para afastar o redirecionamento a si efetivado. 2. Dada a singeleza da demanda e vencida a Fazenda Pública, deve ser fixada a verba honorária em R$ 2.000,00 (dois mil reais), nos termos do art. 20, § 4º, do CPC/1973, aplicável ao caso, porquanto a ação fora ajuizada sob sua vigência. 3. Apelação provida. Agravo regimental, manejado pela Fazenda Nacional contra decisão monocrática que atribuiu efeito suspensivo à apelação, prejudi-cado.” (TRF 5ª R. – AC 0001061-22.2014.4.05.8311 – (587526/PE) – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo Roberto de Oliveira Lima – DJe 16.10.2017 – p. 37)

13659 – Execução fiscal – grupo econômico – ausência de interesse comum no fato gerador do tributo executado – ilegitimidade passiva que se reconhece – inexistência de caráter confiscatório na multa (75%)

“Agravo de instrumento. Tributário. Redirecionamento de execução fiscal. Grupo econômico. Ausência de interesse comum no fato gerador do tributo executado. Ilegitimidade passiva que se reconhece. Inexistência de caráter confiscatório na multa (75%). Agravo parcialmente provida. I – Não há que se falar em prescrição quando a execução foi ajuizada dentro do prazo quinquenal previsto no art. 174 do CTN, já que a constituição definitiva do crédito foi operada a 17.09.1996 e o aforamento do feito executório ocorreu a 18.07.2001. Mesmo que a citação somente tenha sido perfectibilizada, por edital, a 09.04.2012, tem-se que os efeitos desse ato de retroagem à data do despacho de chamamento do devedor (25.07.2001), por força da integração normativa do art. 219, § 1º, do CPC/1973, então em vigor. II – Dá margem ao redirecionamento de uma execução fiscal para empresa dita integrante de grupo econômico, a evidência de que existe interesse comum entre a devedora originária e aquela que é alvo do reencaminhamento da cobrança judicial. CTN, art. 128. Inexistindo essa comunhão de interesses, in concreto, não há base para o redirecionamen-to. III – A chave da compreensão jurídica do redirecionamento da execução forçada, sob o pálio de extensão da responsabilidade dos integrantes do suposto grupo econômico de fato é a presença da pessoa (física ou jurídica), ‘que tenha interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal’ (CTN, art. 124, I) ou que decorra de expressa designação legal (CTN, art. 124, II). IV – O interesse comum que se especula, para os fins do art. 124, I, do CTN, não é o mero inte-resse econômico e genérico, bastante presente, em maior ou menor grau de proximidade, em em-

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presas que laboram no mesmo ramo ou mesmo que exploradoras de atividades diferentes, inspirem objetivos ou alvíssaras de negócios cruzados, por exemplo. V – O que justifica o redirecionamento da cobrança de tributos, sob a flâmula da solidariedade, é a identidade de interesse no fato gerador específico que deu margem à obrigação tributária principal, originadora, por conseguinte, de débito tributário regularmente lançado e, passo adiante, da ação executiva fiscal. Posicionamento do STJ: AgRg-AREsp 603.177/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe 27.03.2015; AgRg-REsp 1.433.631/PE, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 13.03.2015; REsp 1.433.631/PE, Napoleão Maia, 19.06.2015. VI – Cabe à Fazenda Nacional, dotada de competência constitucional para cobrar o tributo, fazer prova de que fora frustrado o seu intento de perseguir o devedor original para constrangê-lo a quitar o débito fiscal e por isso mesmo estava chamando à responsabilidade outrem que tivesse interesse comum na ‘situação que constitua o fato gerador’, não bastando similitudes de denominação, coin-cidência de integrantes do corpo acionário ou atuação em um mesmo ramo negocial, por exemplo. Se o título executivo é dotado de certeza, exigibilidade e liquidez, apurados em regular processo administrativo, não pode transmudar-se, ao querer da Fazenda em uma cártula ‘ao portador’, a ser colada à primeira firma que aparentar meios patrimoniais para suportar a execução. VII – Para além do interesse da Fazenda de ver satisfeitos os seus créditos, de inescondível feição social e basilar para o sustento das necessidades do Estado, está o princípio da legalidade, de feição garantista, que assegura ao súdito o direito de só ser desfalcado do seu patrimônio se a lei assim o determinar. É primado da Constituição, tanto no art. 5º, inciso II (‘ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei’), como, mais especificamente, art. 150, que no inciso primeiro veda aos entes estatais ‘exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça’. E na lei está dito que o redirecionamento só pode ser voltado para a pessoa que tenha interesse comum na si-tuação que constitua o fato gerador da obrigação principal’ (CTN, art. 124, I). VIII – Prejudicada a discussão sobre o valor da multa, em razão da exclusão do recorrente do polo passivo da execução. IX – Agravo parcialmente provido.” (TRF 5ª R. – AGTR 0000470-93.2016.4.05.0000 – (144066/PE) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Rubens de Mendonça Canuto Neto – DJe 15.09.2017 – p. 109)

Transcrição RETCódigo Tributário Nacional:

“São solidariamente obrigadas:

I – as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obri-gação principal;

II – as pessoas expressamente designadas por lei.

Parágrafo único. A solidariedade referida neste artigo não comporta benefício de ordem.”

13660 – Execução fiscal – ilegitimidade de parte – reexame de fatos e provas – Tema nº 660 – ofensa reflexa – majoração dos honorários – descabimento

“Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Tributário. Execução fiscal. Ilegitimida-de de parte. Reexame de fatos e provas. Tema nº 660. Ofensa reflexa. Majoração dos honorários. Descabimento. Agravo a que se nega provimento, com aplicação de multa. I – Aplicação do enten-dimento firmado na apreciação de recursos nos quais houve o reconhecimento da existência e da ausência de repercussão geral (Tema nº 660 – ARE 748.371-RG). Precedentes. II – É inadmissível o recurso extraordinário quando para se chegar à conclusão contrária à adotada pelo acórdão re-corrido, seria necessário o reexame do conjunto fático-probatório constante dos autos, o que atrai a incidência da Súmula nº 279 do STF. III – Incabível a majoração de honorários, uma vez que não foram fixados pelo juízo de origem. IV – Agravo regimental a que se nega provimento, com aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC.” (STF – AgRg-RE-Ag 1.038.347 – Espírito Santo – 2ª T. – Rel. Min. Ricardo Lewandowski – J. 01.09.2017)

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13661 – Execução fiscal – Inmetro – valor abaixo de R$ 10.000,00 – extinção ex officio – inad-missibilidade

“Processual civil e tributário. Execução fiscal. Inmetro. Valor abaixo de R$ 10.000,00. Extinção ex officio. Inadmissibilidade. 1. Execução fiscal promovida pelo Instituto Nacional de Metrologia, Nor-malização e Qualidade Industrial – Inmetro, em 21.07.2006 (fl. 2), pela qual intenta o recebimento de crédito, oriundo da incidência de multa administrativa, no valor de R$ 318,08 (fl. 3). 2. O baixo valor exigido não é causa para a extinção da ação, mas apenas arquivamento do feito. Precedente do Superior Tribunal de Justiça, REsp 1.111.982/SP. 3. Vedada a atuação judicial de ofício, con-forme Súmula nº 452/STJ. 4. Apelo provido.” (TRF 3ª R. – AC 0016660-30.2017.4.03.9999/SP – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Marcelo Saraiva – DJe 02.10.2017 – p. 469)

Comentário RETA execução fiscal que passamos a comentar, teve um recurso de Apelação interposto pelo Institu-to Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – Inmetro, contra sentença que extinguiu a ação, nos termos dos art. 267, VI, 329 e 598, todos do Código de Processo Civil, uma vez que o valor do crédito exigido não fundamentaria o interesse de agir.

Sem condenação em honorários advocatícios.

Em suas razões de apelação, a autarquia sustentou que a Lei nº 9.469/1997 e a Portaria nº 377/2011 facultam ao procurador pedir ou não a extinção da ação, bem como seu arquiva-mento, não cabendo ao Judiciário semelhante ato, o que infringe ainda a previsão da Súmula nº 452/STJ.

Destarte, requereu o regular prosseguimento do feito.

Ao analisar o referido recurso, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região, ressaltou que a presente Execução Fiscal foi ajuizada pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – Inmetro, em 21.07.2006, pela qual intentou o recebimento de crédito, oriundo da incidência de multa administrativa, no valor de R$ 318,08.

De fato, o art. 1º-A da Lei nº 9.469/1997, com redação dada pela Lei nº 11.941/2009, assim dispõe:

“Art. 1º-A. O Advogado-Geral da União poderá dispensar a inscrição de crédito, autorizar o não ajuizamento de ações e a não interposição de recursos, assim como o requerimento de extinção das ações em curso ou de desistência dos respectivos recursos judiciais, para cobrança de cré-ditos da União e das autarquias e fundações públicas federais, observados os critérios de custos de administração e cobrança.

O Nobre Relator frisou que, a Primeira Seção do C. Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o REsp 1.111.982/SP, decidiu que possuir a Execução Fiscal valor igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais) não determina a extinção do processo sem resolução do mérito, impondo-se apenas o arquivamento, sem baixa na distribuição.

Nesse sentido:

“TRIBUTÁRIO – EXECUÇÃO FISCAL – PEQUENO VALOR – ARQUIVAMENTO DO FEITO SEM BAIXA NA DISTRIBUIÇÃO – RECURSO SUBMETIDO AO PROCEDIMENTO DO ART. 543-C DO CPC E DA RESOLUÇÃO STJ Nº 08/2008

1. As execuções fiscais relativas a débitos iguais ou inferiores a R$ 10.000,00 (dez mil re-ais) devem ter seus autos arquivados, sem baixa na distribuição. Exegese do art. 20 da Lei nº 10.522/2002, com a redação conferida pelo art. 21 da Lei nº 11.033/2004.

2. Precedentes: EREsp 669.561/RS, Rel. Min. Castro Meira, DJU de 01.08.2005; EREsp 638.855/RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJU de 18.09.2006; EREsp 670.580/RS, Rel. Min. Teori Albino Zavaski, DJU de 10.10.2005; REsp 940.882/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe de 21.08.2008; RMS 15.372/SP, Rel. Min. Humberto Martins, DJe de 05.05.2008; REsp 1.087.842, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe de 13.04.2009; REsp 1.014.996/SP, Relª

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Min. Denise Arruda, DJe de 12.03.2009; EDcl-REsp 906.443/SP, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 27.03.2009; REsp 952.711/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 31.03.2009.

3. Recurso representativo de controvérsia, submetido ao procedimento do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ nº 08/2008.

4. Recurso especial provido.” (REsp 1111982/SP, Rel. Min. Castro Meira, 1ª S., Julgado em 13.05.2009, DJe 25.05.2009)

Por fim, a matéria foi tratada pela Súmula nº 452/STJ, editada por aquela Corte:

“A extinção das ações de pequeno valor é faculdade da Administração Federal, vedada a atuação judicial de ofício.” (Corte Especial, Julgado em 02.06.2010, DJe 21.06.2010)

Com base em todo o exposto, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região deu provimento à Apelação do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – Inmetro, reformando a sentença para determinar o regular prosseguimento do feito, conforme fundamen-tação.

13662 – Execução fiscal – inscrição de dívida ativa de natureza não tributária – benefício pre-videnciário recebido mediante fraude – CDA obtida em procedimento administrativo – inadequação da via eleita

“Processo civil execução fiscal. Inscrição de dívida ativa de natureza não tributária. Benefício previ-denciário recebido mediante fraude. CDA obtida em procedimento administrativo. Inadequação da via eleita. Apelação improvida. I – Cuida-se de apelação de sentença que extinguiu execução fiscal sem julgamento do mérito, sob o fundamento de que a Certidão de Dívida Ativa não está amparada em dívida líquida e certa. II – A presente execução está amparada em Certidão de Dívida Ativa (CDA), originada de crédito não tributário, decorrente de procedimento administrativo instaurado para apuração de irregularidade na concessão de benefício previdenciário. III – O art. 2º da Lei nº 6.830/1980 permite a inclusão das chamadas dívidas não tributárias, assim definidas nos termos da Lei nº 4.320/1964, no conceito de Dívida Ativa da Fazenda Pública. No entanto, essa definição de dívida não tributária não deve abranger todo e qualquer crédito de titularidade da Fazenda. IV – A dívida cobrada originou-se de procedimento administrativo através do qual se apurou a con-cessão irregular de benefício previdenciário, ou seja, mediante fraude, sendo certo que tal atuação não advém de atividade típica da autarquia, não está enquadrada como dívida não tributária nos termos da lei. V – O eg. STJ decidiu, sob a sistemática dos recursos repetitivos, quando do julgamen-to do REsp 1350804/PR que, ‘à míngua de lei expressa, a inscrição em dívida ativa não é a forma de cobrança adequada para os valores indevidamente recebidos a título de benefício previdenciário previstos no art. 115, II, da Lei nº 8.213/1991, que devem submeter-se a ação de cobrança por enriquecimento ilícito para apuração da responsabilidade civil’. VI – Apelação improvida. [04].” (TRF 5ª R. – AC 0002354-74.2011.4.05.8200 – (595495/PB) – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Leonardo Carvalho – DJe 18.09.2017 – p. 34)

13663 – Execução fiscal – legitimidade passiva – responsabilidade do sócio presidente – coope-rativa – período – remessa oficial

“Tributário. Embargos à execução fiscal. Legitimidade passiva. Responsabilidade do sócio presiden-te. Cooperativa. Período. Remessa oficial. 1. O embargante exerceu a presidência da cooperativa no período de 10 de junho de 1999 a 10 de agosto de 2000. 2. O débito cobrado abrange o período de janeiro/1999 a janeiro/2000, conforme se verifica da cópia da CDA. 3. O embargante não exercia o cargo de presidente da cooperativa durante parte do período executado (janeiro a junho de 1999), não podendo, portanto, ser responsabilizado por débito ao qual não deu origem. 4. Manutenção da sentença que julgou parcialmente procedentes os embargos à execução fiscal, para determinar a exclusão da responsabilidade do embargante pelos débitos referentes ao período de janeiro a junho

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de 1999. 5. Remessa oficial não provida.” (TRF 3ª R. – Ap-RN 0011889-66.2003.4.03.6000/MS – 5ª T. – Relª Juíza Fed. Louise Filgueiras – DJe 18.10.2017 – p. 355)

13664 – Execução fiscal (Lei nº 6.830/1980) – ação ajuizada contra executado que faleceu sem citação válida – redirecionamento – impossibilidade

“Tributário. Execução fiscal (Lei nº 6.830/1980). Ação ajuizada contra executado que faleceu sem citação válida. Redirecionamento. Impossibilidade. 1. A execução fiscal acima referenciada foi ajuizada em 18.05.2007 para cobrar crédito inscrito sob o nº 70107013250-25, constituído em 16.03.2006 (fl. 03). Ordenada a citação em 29.11.2007 (fl. 05), a diligência não obteve êxito. Intimada, a Fazenda Nacional pediu citação por edital, que ocorreu em 26.01.2010 (fl. 24). Em 01.07.2016, a secretaria da Vara Federal verificou que na base de dados da Receita Federal consta o falecimento do executado em 2009, motivo pelo qual o MM. Juiz a quo extinguiu o processo, conforme a sentença de fl. 29. 2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que o redirecionamento contra o espólio só pode ser realizado quando o falecimento do contri-buinte ocorrer depois do ajuizamento da ação com citação válida. No mesmo sentido esta Egrégia Turma. 3. Desse modo, as argumentações da exequente em torno da ausência de atualização dos cadastros e da responsabilidade contida no art. 131 do CTN não têm o condão de reformar a sen-tença objurgada. Também não se vislumbra ofensa aos princípios da instrumentalidade processual, da celeridade e da economia, até porque, tendo em vista que o parcelamento realizado, este, como se sabe, interrompe o prazo prescricional, não havendo, na hipótese, prejuízo para a exequente. 4. O valor da execução fiscal é R$ 171.107,49 (em 18.05.2007). 5. Recurso desprovido.” (TRF 2ª R. – AC 0518760-24.2007.4.02.5101 – 4ª T.Esp. – Rel. José Carlos da Silva Garcia – DJe 19.10.2017 – p. 307)

13665 – Execução fiscal – penhora sobre o faturamento da empresa – depositário – operacio-nalização da constrição – recusa dos representantes legais da executada em aceitar o aludido encargo

“Processual civil. Agravo interno no recurso especial. Submissão à regra prevista no Enunciado Ad-ministrativo nº 3/STJ. Tributário. Execução fiscal. Penhora sobre o faturamento da empresa. Depo-sitário. Operacionalização da constrição. Recusa dos representantes legais da executada em aceitar o aludido encargo. Ônus da exequente, dispensada, prima facie, a figura do administrador judicial. 1. ‘A figura do administrador da penhora sobre o faturamento da empresa pode ser feita por de-positário – por força do art. 655-A, § 3º, do Código de Processo Civil –, que assumirá a função de responsável pela operacionalização da constrição, com a prestação de contas mensal e segregação das quantias constritas, sendo dispensável, prima facie, a figura do administrador judicial para ge-renciar a intervenção na empresa prevista’ (AgRg-AREsp 302.529/RJ, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., J. 20.06.2013, DJe 28.06.2013). 2. Agravo interno não provido.” (STJ – AgInt-REsp 1.622.586 – (2016/0227018-7) – 2ª T. – Rel. Min. Mauro Campbell Marques – DJe 02.10.2017 – p. 1732)

13666 – Execução fiscal – prescrição intercorrente – art. 40 da LEF – configuração – transcurso de prazo superior a cinco anos após arquivamento – inércia do exequente

“Tributário. Execução fiscal. Prescrição intercorrente. Art. 40 da LEF. Configuração. Transcurso de prazo superior a cinco anos após arquivamento. Inércia do exequente. Recurso improvido. 1. Trata-se de apelação interposta contra sentença que extinguiu o feito executivo, com resolução do mérito, declarando a prescrição intercorrente da pretensão executiva de cobrança do crédito, nos termos dos art. 485, II, do CPC/2015 c/c o art. 40, § 4º, da Lei nº 6.830/1980. 2. Verifica-se que em 17.09.2010 foi proferida decisão para suspensão do feito por um ano, nos termos do art. 40, caput, da LEF, e, caso não houvesse manifestação naquele período, o seu posterior arquivamento sem baixa. Ou seja, considerou-se o feito arquivado após 17.09.2011, iniciando-se, a partir daí, o

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cômputo do lapso prescricional. 3. Em 19.10.2016, houve a intimação do exequente para se ma-nifestar, no prazo de 10 (dez) dias, sobre a possível ocorrência da prescrição intercorrente, tendo em vista o lapso temporal decorrido desde a suspensão da presente execução. Tendo havido a manifestação do exequente no sentido apenas de que as dificuldades causadas pelo executado não podem configurar a sua inércia, com a consequente extinção do processo. 4. Em consonância com o que dispõe o art. 40 da LEF, antes de decretar de ofício a prescrição intercorrente, o MM. Juiz sentenciante determinou a intimação do exequente para se manifestar, e como não houve qualquer informação relevante acerca de eventual interrupção da prescrição, tendo transcorrido prazo superior a cinco anos da data em que determinado o arquivamento do feito, correta a sen-tença exarada em 02.06.2017, que extinguiu a execução. 5. Apelação improvida.” (TRF 5ª R. – AC 2006.81.00.004870-5 – (596151/CE) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Rubens de Mendonça Canuto Neto – DJe 15.09.2017 – p. 119)

13667 – Execução fiscal – prescrição intercorrente – art. 40 da Lei nº 6.830/1980 – ausência de fato interruptivo ou suspensivo da prescrição – extinção do feito – apelação improvida

“Tributário e processual civil. Execução fiscal. Prescrição intercorrente. Art. 40 da Lei nº 6.830/1980. Ausência de fato interruptivo ou suspensivo da prescrição. Extinção do feito. Apelação improvida. 1. Apelação do Crea/CE – Conselho Regional de Engenharia Arquitetura e Agronomia do Ceará contra sentença que declarou a prescrição intercorrente da pretensão executiva de cobrança do crédito, extinguindo a execução fiscal com resolução do mérito, nos termos do art. 485, II do CPC/2015 c/c art. 40, § 4º da Lei nº 6.830/1980. 2. Cinge-se a questão sobre a ocorrência ou não da prescrição intercorrente da execução fiscal. 3. A prescrição tem como objetivo por fim à pretensão do titular da ação que permaneceu inerte por um determinado lapso de tempo, privilegiando, assim, a segurança jurídica e a ordem social. Observe-se que a aplicação do instituto da prescrição não decorre de qualquer inércia momentânea, mas, sim, da inércia prolongada, fruto da negligência do titular do direito. 4. Visando evitar que os feitos executivos fiscais se prolonguem aguardando diligências a cargo do exequente, cabível a decretação da prescrição intercorrente, como forma de obstar a imprescritibilidade da pretensão executiva (art. 40 da Lei nº 6.830/1980). 5. Como forma de impedir a eternização dos feitos executivos fiscais, o STJ formulou a Súmula nº 314, dispondo que ‘em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o qual se inicia o prazo prescricional da prescrição intercorrente’. 6. No caso dos autos, em 17 de setembro de 2010 foi proferido despacho que ordenou a suspensão do processo por não terem sido localizados bens penhoráveis. Contudo, o exequente, ora Apelante não diligenciou com eficiência no sentido de, dentro do prazo promover o cumprimento efetivo do crédito tributário. 7. Decorri-dos mais de 06 (seis) anos do despacho que ordenou a suspensão do processo, sem a existência de qualquer causa interruptiva ou suspensiva da fluência do lustro prescricional, configura-se a prescri-ção intercorrente. 8. Apelação improvida.” (TRF 5ª R. – AC 2005.81.00.020243-0 – (595812/CE) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Rogério Fialho Moreira – DJe 17.10.2017 – p. 35)

Transcrição RETLei nº 6.830/1980:

“Art. 40. O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo de prescrição.

§ 1º Suspenso o curso da execução, será aberta vista dos autos ao representante judicial da Fazenda Pública.

§ 2º Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano, sem que seja localizado o devedor ou encontrados bens penhoráveis, o Juiz ordenará o arquivamento dos autos.

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§ 3º Encontrados que sejam, a qualquer tempo, o devedor ou os bens, serão desarquivados os autos para prosseguimento da execução.

§ 4º Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato. (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004)

§ 5º A manifestação prévia da Fazenda Pública prevista no § 4º deste artigo será dispensada no caso de cobranças judiciais cujo valor seja inferior ao mínimo fixado por ato do Ministro de Estado da Fazenda. (Incluído pela Lei nº 11.960, de 2009)”

13668 – Execução fiscal – prescrição intercorrente – inaplicabilidade em caso de decurso do prazo prescricional – inércia da exequente – lapso

“Tributário. Execução fiscal. Prescrição intercorrente. Inaplicabilidade em caso de decurso do prazo prescricional. Inércia da exequente. Lapso temporal superior a cinco anos. 1. A prescrição inter-corrente, nas execuções fiscais, ocorrerá se houver, além de lapso temporal superior a cinco anos, inércia imputável ao credor. 2. O exercício do direito de fiscalizar o correto andamento do processo é de iniciativa da parte interessada, não sendo condicionado a qualquer intimação, salvo hipóteses expressamente previstas na legislação. Não pode deixar o tempo passar sem promover qualquer medida apta a suspender ou interromper o curso da prescrição. 3. Mantida a prescrição reconhecida na sentença.” (TRF 4ª R. – AC 5013121-96.2017.4.04.7200 – Rel. Des. Fed. Roger Raupp Rios – J. 05.10.2017)

13669 – Execução fiscal – redirecionamento – impossibilidade – prescrição intercorrente – re-curso não provido

“Tributário. Agravo de instrumento. Execução fiscal. Redirecionamento. Impossibilidade. Prescrição intercorrente. Recurso não provido. A evolução jurisprudencial do instituto da prescrição intercor-rente ocorrida nos Tribunais Superiores brasileiros ampliou os casos de incidência deste conceito, o qual passou a abarcar situações para além do previsto no art. 40 da Lei das Execuções Fiscais. O marco interruptivo de tal prescrição dá-se com o despacho da citação (ou com a citação válida nos termos da legislação anterior a LC 118/2005) da ação movida em face da empresa executada, que, regra geral, retroage à data da propositura da ação, sendo lídimo afirmar, com o respaldo na juris-prudência consolidada, que, em se tratando de responsabilidade tributária, em havendo interrupção da prescrição com relação a um dos devedores solidários alcança os demais, ex vi do art. 125, III, do CTN. Para que esteja caracterizada tal prescrição é necessário que entre a citação da pessoa jurídica executada e o pedido de redirecionamento da execução transcorra o período de 5 (cinco) anos. Além disso, de acordo com o entendimento adrede mencionado o E. STJ, em recente julgado, reforçou a tese de que a prescrição intercorrente relativa ao redirecionamento da ação executiva em face do sócio não depende da análise de fatores subjetivos, mas do mero decurso do prazo quin-quenal. Verifica-se que, no caso dos autos, o pedido de redirecionamento da execução em relação aos sócios ocorreu somente em 25 de fevereiro de 2015 (fl. 15) e o despacho que determinou a citação ocorreu antes de 10.07.2008 (fl. 20). Desse modo, foi extrapolado o lustro concedido pela jurisprudência para o redirecionamento. Apesar das alegações da agravante, o marco interruptivo do prazo prescricional, de acordo com o art. 174 do CTN (na redação posterior a LC 118/2005), é o despacho que determina a citação da executada e não a data da dissolução irregular. Além disso, a jurisprudência dominante no STJ é de que a prescrição depende unicamente do decurso de prazo quinquenal e não da análise de fatores subjetivos. Por fim, salienta-se que cabia a exequente infor-mar os endereços corretos da executada para a realização das diligências, bem como impulsionar a execução e apresentar as informações necessárias ao pedido de redirecionamento em tempo hábil, não existindo justificativa para o longo transcurso de tempo entre o ajuizamento da ação e o pedido

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de constatação da dissolução. Agravo legal prejudicado e agravo de instrumento não provido.” (TRF 3ª R. – AI 0024744-15.2015.4.03.0000/SP – 4ª T. – Relª p/o Ac. Desª Fed. Mônica Nobre – DJe 18.10.2017 – p. 273)

Transcrição RETCódigo Tributário Nacional:

“Art. 125. Salvo disposição de lei em contrário, são os seguintes os efeitos da solidariedade:

I – o pagamento efetuado por um dos obrigados aproveita aos demais;

II – a isenção ou remissão de crédito exonera todos os obrigados, salvo se outorgada pessoal-mente a um deles, subsistindo, nesse caso, a solidariedade quanto aos demais pelo saldo;

III – a interrupção da prescrição, em favor ou contra um dos obrigados, favorece ou prejudica aos demais.

[...]

Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva.

Parágrafo único. A prescrição se interrompe:

I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal; (Redação dada pela LCP 118, de 2005)

II – pelo protesto judicial;

III – por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;

IV – por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor.”

13670 – Execução fiscal – redirecionamento aos sócios – descabimento – hipóteses do art. 135 do CTN – não comprovação – ilegitimidade passiva do executado pessoa física

“Direito tributário. Execução fiscal. Redirecionamento aos sócios. Descabimento. Hipóteses do art. 135 do CTN. Não comprovação. Ilegitimidade passiva do executado pessoa física. Mantida a multa por litigância de má-fé. Honorários advocatícios. As situações jurídicas consolidadas e os atos processuais impugnados serão apreciados, em conformidade com as normas do Código de Processo Civil de 1973, consoante determina o art. 14 da Lei nº 13.105/2015. O redirecionamento, aos sócios e/ou dirigentes, de executivos fiscais ajuizados, originariamente em face apenas da em-presa, requer a demonstração pelo exequente de que tenham agido com excesso de poderes, em infração à lei, contrato social ou estatuto, ou então que se comprove nos autos a dissolução irregular da sociedade. No âmbito tributário, este entendimento tem supedâneo no art. 135, III, do CTN. A comprovação da ocorrência de alguma das hipóteses do art. 135 do CTN justifica o redireciona-mento da execução fiscal ao sócio/dirigente. Precedente do STJ. Não obstante tenha atuado como sócio-gerente da sociedade empresária, exercendo poderes de gestão, não restou demonstrada a legitimidade do embargante para figurar no polo passivo da ação executiva, devendo ser excluído. Configurada a litigância de má-fé prevista no art. 17, incisos VI e VII, do CPC/1973. Mantida a condenação ao pagamento de multa. Tendo em vista a sucumbência mínima do embargante, a União responderá pelo pagamento de honorários advocatícios, fixados em R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), nos termos do art. 20, § 4º, do Código de Processo Civil/1973, que estabelece na fixação da verba honorária a apreciação equitativa do juiz, obedecendo aos critérios do § 3º do mesmo artigo. Apelação parcialmente provida.” (TRF 3ª R. – AC 0000585-46.2008.4.03.6113/SP – 11ª T. – Relª Juíza Fed. Noemi Martins – DJe 02.10.2017 – p. 2178)

Transcrição RETCódigo Tributário Nacional:

162 �������������������������������������������������������������������������� RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA

“Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributá-rias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos:

I – as pessoas referidas no artigo anterior;

II – os mandatários, prepostos e empregados;

III – os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.”

13671 – Funrural – contribuição social – empregador rural pessoa natural – incidência sobre a receita bruta da comercialização da produção rural

“Processual civil e tributário. Contribuição social (Funrural). Empregador rural pessoa natural. In-cidência sobre a receita bruta da comercialização da produção rural. Lei nº 10.256/2001. Cons-titucionalidade. Precedente do STF. 1. O egrégio Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 596177, sob o rito do art. 543-B do Código de Processo Civil de 1973 (Repercussão Geral), declarou inconstitucional a alteração da Lei nº 8.212/1991 pela Lei nº 8.540/1992, por ofensa formal (necessidade de Lei Complementar para tratar da matéria). 2. Em decisão proferida pelo eminente Rel. Min. Ricardo Lewandowski, em embargos de declaração opostos pela União, nos autos do RE 596177, acima mencionado, restou explicitado que: ‘a discussão do tema com enfoque na Lei nº 10.256/2001 teve sua repercussão geral reconhecida nos autos do RE 718.874/RS, de minha relatoria. Assim, o julgamento desse feito será a oportunidade adequada para o enfrenta-mento da matéria’. 3. Sobre o tema o egrégio Supremo Tribunal Federal, em julgamento sob o rito do art. 543-B do Código de Processo Civil de 1973 (Repercussão Geral), nos autos do RE 718874/RS, em 30.03.2017, declarou que: ‘É constitucional formal e materialmente a contribuição social do empregador rural pessoa física, instituída pela Lei nº 10.256/2001, incidente sobre a receita bruta obtida com a comercialização de sua produção’. 4. Assim, o egrégio STF reconheceu que a Lei nº 10.256/2001 afastou a inconstitucionalidade da exação questionada, vez que foi editada posteriormente à Emenda Constitucional nº 20/1998, que deu nova redação ao inciso I do art. 195 da Constituição Federal. 5. Apelação à que se dá provimento. 6 Os honorários advocatícios deve guardar observância aos princípios da razoabilidade e da equidade, considerando-se o previsto nos incisos nos incisos I a V do § 3º c/c o inciso II do § 4º do art. 85 do NCPC, cujo montante deverá ser apurado no momento processual oportuno.” (TRF 1ª R. – Proc. 00007521220164013503 – Rel. Des. José Amilcar Machado – J. 19.09.2017)

13672 – Funrural – contribuição social – empregador rural pessoa natural – incidência sobre a receita bruta da comercialização da produção rural – Lei nº 10.256/2001 – constitu-cionalidade

“Processual civil e tributário. Contribuição social (Funrural). Empregador rural pessoa natural. Inci-dência sobre a receita bruta da comercialização da produção rural. Lei nº 10.256/2001. Constitucio-nalidade. Precedente do STF. 1. O egrégio Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 596177, sob o rito do art. 543-B do Código de Processo Civil de 1973 (Repercussão Geral), declarou inconsti-tucional a alteração da Lei nº 8.212/1991 pela Lei nº 8.540/1992, por ofensa formal (necessidade de Lei Complementar para tratar da matéria). 2. Em decisão proferida pelo eminente Rel. Min. Ricardo Lewandowski, em embargos de declaração opostos pela União, nos autos do RE 596177, acima mencionado, restou explicitado que: ‘a discussão do tema com enfoque na Lei nº 10.256/2001 teve sua repercussão geral reconhecida nos autos do RE 718.874/RS, de minha relatoria. Assim, o julga-mento desse feito será a oportunidade adequada para o enfrentamento da matéria’. 3. Sobre o tema o egrégio Supremo Tribunal Federal, em julgamento sob o rito do art. 543-B do Código de Processo Civil de 1973 (Repercussão Geral), nos autos do RE 718874/RS, em 30.03.2017, declarou que: ‘É constitucional formal e materialmente a contribuição social do empregador rural pessoa física, instituída pela Lei nº 10.256/2001, incidente sobre a receita bruta obtida com a comercialização de

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sua produção’. 4. Assim, o egrégio STF reconheceu que a Lei nº 10.256/2001 afastou a inconstitu-cionalidade da exação questionada, vez que foi editada posteriormente à Emenda Constitucional nº 20/1998, que deu nova redação ao inciso I do art. 195 da Constituição Federal. 5. Remessa ofi-cial e apelação às quais se dá provimento. 6. Os honorários advocatícios deve guardar observância aos princípios da razoabilidade e da equidade, considerando-se o previsto nos incisos nos incisos I a V do § 3º c/c o inciso II do § 4º do art. 85 do NCPC, cujo montante deverá ser apurado no mo-mento processual oportuno.” (TRF 1ª R. – Proc. 00006199020144013906 – Rel. Des. José Amilcar Machado – J. 29.08.2017)

13673 – ICMS – aproveitamento de créditos – anuência de lei estadual – Súmula nº 280 – recur-so extraordinário

“Direito tributário. ICMS. Aproveitamento de créditos. Anuência de lei estadual. Súmula nº 280. Recurso extraordinário interposto sob a égide do CPC/1973. Alegação de ofensa aos arts. 150, § 5º, e 155, § 2º, XII, g, da Constituição da República. Eventual violação reflexa da constituição da república não viabiliza o manejo de recurso extraordinário. Não verificada identidade entre o caso em análise e o paradigma da repercussão geral. Agravo manejado sob a vigência do CPC/1973. 1. Obstada a análise da suposta afronta aos preceitos constitucionais invocados, porquanto de-penderia de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, procedimento que refoge à competência jurisdicional extraordinária desta Corte Suprema, a teor do art. 102 da Magna Carta. 2. As razões do agravo não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à ausência de ofensa a preceito da Constituição da República. 3. Agravo regimental conhecido e não provido.” (STF – AgRg-RE-Ag 912.937 – Rio Gran-de do Sul – 1ª T. – Relª Min. Rosa Weber – J. 15.09.2017)

13674 – ICMS – base de cálculo – inclusão – Tust – Tusd – Súmula nº 166/STJ

“Agravo regimental no recurso extraordinário. Tributário. Art. 97 da CF. Inexistência de afronta. ICMS. Base de cálculo. Inclusão. Tust. Tusd. Súmula nº 166/STJ. Necessidade de reexame da causa à luz da legislação infraconstitucional. Afronta reflexa. 1. O Tribunal de origem não declarou a in-constitucionalidade de lei ou ato normativo, tampouco afastou, no todo ou em parte, sua incidência com base em princípios constitucionais, limitando-se a interpretar a legislação aplicável na espécie. Inexistência de afronta ao art. 97 da Constituição ou à Súmula Vinculante nº 10/STF. Precedentes. 2. O Supremo Tribunal Federal, na análise do RE 1.041.816/SP, Relator o Ministro Edson Fachin, julgamento finalizado em 04.08.2017, reconheceu a ausência de repercussão geral da matéria re-ferente à análise da ‘Inclusão da Tarifa de Uso do Sistema de Transmissão (Tust) e da Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (Tusd) na base de cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) incidente sobre energia elétrica’. 3. Agravo regimental não provido, com imposição de multa de 2% (art. 1.021, § 4º, do CPC). 4. Não se aplica ao caso dos autos a majoração dos honorários pre-vista no art. 85, § 11, do novo Código de Processo Civil, uma vez que não houve o arbitramento de honorários sucumbenciais em favor do recorrido pela Corte de origem.” (STF – AgRg-RE 1.030.939 – Mato Grosso – 2ª T. – Rel. Min. Dias Toffoli – J. 01.09.2017)

13675 – ICMS – crédito outorgado de quebra de sigilo bancário – exclusão do regime do sim-ples paulista – legislação de regência – ofensa a direito local – Súmula nº 280/STF

“Processual civil e tributário. Agravo interno no agravo em recurso especial. Crédito outorgado de ICMS. Quebra de sigilo bancário. Exclusão do regime do simples paulista. Legislação de regência. Ofensa a direito local. Súmula nº 280/STF. Tese não abordada no recurso especial. Inovação recur-sal. 1. A questão levantada no bojo do recurso especial do contribuinte cinge-se à aplicabilidade, ou não, da Lei nº 12.186/2006 ao caso em tela, o qual, nessa condição, constitui legislação estadual que disciplina a matéria, incidindo-lhe, a rigor, a Súmula nº 280/STF: ‘Por ofensa a direito local não

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cabe recurso extraordinário.’ 2. Agravo interno a que se nega provimento.” (STJ – AgInt-Ag-REsp 889.652 – (2016/0076686-2) – 2ª T. – Rel. Min. Og Fernandes – DJe 17.10.2017 – p. 1390)

Transcrição RETSúmula do Supremo Tribunal Federal:

“280 – Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário.”

13676 – ICMS – fornecimento de energia elétrica – base de cálculo – Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (Tusd) – inclusão

“Recurso fundado no CPC/2015. Tributário. ICMS. Fornecimento de energia elétrica. Base de cálcu-lo. Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (Tusd). Inclusão. Entendimento firmado pela Primeira Turma do STJ. 1. A Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o REsp 1.163.020/RS, passou a se orientar no sentido de que a tributação do ICMS abrange todo o processo de forneci-mento de energia elétrica, tendo em vista a indissociabilidade das fases de geração, transmissão e distribuição, razão pela qual a Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição – Tusd compõe a base de cálculo de referido tributo. 2. Agravo interno a que se nega provimento.” (STJ – AgInt-REsp 1.623.318 – (2016/0225258-2) – 1ª T. – Rel. Min. Sérgio Kukina – DJe 15.09.2017 – p. 1493)

Transcrição RETSúmula do Supremo Tribunal Federal:

“280 – Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário.”

13677 – ICMS – operação de importação – entidade de assistência social – imunidade

“Direito tributário. Agravo interno no recurso extraordinário com agravo. Entidade de assistência so-cial. ICMS. Operação de importação. Imunidade. 1. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que a imunidade contida no art. 150, VI, c, da Constituição Federal abrange o ICMS incidente na importação de bens utilizados na prestação de serviços pelas entidades de assistência social. 2. Nos termos do art. 85, § 11, do CPC/2015, fica majorado em 25% o valor da verba honorária fixada anteriormente, observados os limites legais do art. 85, §§ 2º e 3º, do CPC/2015. 4. Agravo interno a que se nega provimento, com aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do RI/STF.” (STF – AgRg-RE-Ag 1.049.943 – Minas Gerais – 1ª T. – Rel. Min. Roberto Barroso – J. 29.09.2017)

Transcrição RETCódigo de Processo Civil/2015:

“Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.

[...]

§ 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2º a 6º, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2º e 3º para a fase de conhecimento.”

13678 – ICMS – regime de pagamento – antecipado sem substituição tributária – legalidade

“Tributário. Agravo regimental no recurso especial. ICMS. Regime de pagamento. Antecipado sem substituição tributária. Legalidade. Agravo regimental da empresa desprovido. 1. O STJ firmou sua compreensão no sentido de ser legítima a cobrança antecipada do ICMS através do regime normal de tributação, desde que exista previsão legal local, o que se verifica no caso em apreço. 2. Agravo Regimental da empresa desprovido.” (STJ – AgRg-REsp 1.273.501 – (2011/0169860-9) – 1ª T. – Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho – DJe 03.10.2017 – p. 1306)

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13679 – ICMS – substituição tributária para a frente – base de cálculo efetiva menor do que a presumida – limitações – normas infralegais locais – incidência da Súmula nº 280/STF

“Agravo regimental no recurso extraordinário. Tributário. ICMS. Substituição tributária para a frente. Base de cálculo efetiva menor do que a presumida. Limitações. Normas infralegais locais. Inci-dência da Súmula nº 280/STF. 1. A orientação do Supremo Tribunal Federal, firmada em sede de repercussão geral, é no sentido ser ‘devida a restituição da diferença do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS pago a mais no regime de substituição tributária para frente se a base de cálculo efetiva da operação for inferior à presumida’. 2. O Tribunal de origem reconheceu o direito à imediata e preferencial restituição do ICMS recolhido a maior no regime de substi-tuição tributária, sem as limitações contidas na legislação infralegal local (Decretos nºs 41.653 e 42.039/1997, Resolução nº 25/1995 e Portaria CAT nº 45/1995). Para decidir de modo diverso, seriam imprescindíveis a reanálise e a interpretação da referida legislação infraconstitucional local, providências vedadas na via do apelo extremo, nos termos da Súmula nº 280 do STF. 3. Agravo regimental não provido, com imposição de multa de 2% (art. 1.021, § 4º, do CPC). 4. Não se aplica ao caso o art. 85, § 11, do CPC, haja vista tratar-se, na origem, de mandado de segurança (art. 25 da Lei nº 12.016/2009).” (STF – AgRg-RE 556.259 – São Paulo – 2ª T. – Rel. Min. Dias Toffoli – J. 25.08.2017)

13680 – ICMS-Importação – sujeito ativo – Estado onde estiver situado o destinatário jurídico da mercadoria – irrelevante o local do desembaraço aduaneiro – créditos registrados pela recorrente

“Direito tributário. Segundo agravo interno no recurso extraordinário com agravo. ICMS. Importa-ção. Sujeito ativo. Estado onde estiver situado o destinatário jurídico da mercadoria. Irrelevante o local do desembaraço aduaneiro. Créditos registrados pela recorrente. Glosa efetuada pela adminis-tração tributária. Impossibilidade de análise da legislação infraconstitucional. Súmula nº 279/STF. 1. Nos termos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o sujeito ativo da relação jurídico--tributária do ICMS-Importação é o Estado onde estiver situado o domicílio ou o estabelecimento do destinatário jurídico da mercadoria, pouco importando se o desembaraço aduaneiro ocorreu por meio de ente federativo diverso. 2. Para firmar entendimento diverso do acórdão recorrido e con-cluir pela legitimidade dos créditos, seria indispensável o reexame da legislação infraconstitucional e do acervo probatório dos autos, providência vedada em sede de recurso extraordinário. Incidência da Súmula nº 279/STF. 3. Inaplicável o art. 85, § 11, do CPC/2015, uma vez que não houve fixação de honorários advocatícios. 4. Agravo interno a que se nega provimento, com aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015.” (STF – AgRg-RE-Ag 989.361 – Rio Grande do Sul – 1ª T. – Rel. Min. Roberto Barroso – J. 29.09.2017)

Transcrição RETSúmula do Supremo Tribunal Federal:

“279 – Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.”

13681 – Imposto de renda – complementação de aposentadoria (Petros) – Lei nº 7.713/1988 – isenção

“Processual civil e tributário. Imposto de renda. Complementação de aposentadoria (Petros). Lei nº 7.713/1988. Isenção. 1. O prazo prescricional de cinco anos para se pleitear a restituição de imposto de renda começa a fluir na data da retenção do tributo na fonte pagadora, estando atingidas pela prescrição a pretensão relativa aos períodos anteriores ao quinquênio antecedente à proposi-tura da ação. Incidência do art. 168, I, do CTN. 2. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento de não incidir o imposto de renda sobre o recebimento de benefícios e o resgate das contribuições recolhidas às entidades de previdência privada, guardadas as devidas pro-

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porções no que se refere aos valores decorrentes das contribuições efetuadas entre janeiro de 1989 e dezembro de 1995, cujo ônus tenha sido da pessoa física. 3. Na repetição do indébito tributário, a correção monetária é calculada segundo os índices indicados no Manual de Orientação de Proce-dimentos para os Cálculos da Justiça Federal, aprovado pela Resolução nº 561/CJF, de 02.07.2007, do Conselho da Justiça Federal, a saber: (a) a ORTN de 1964 a fevereiro/1986; (b) a OTN de mar-ço/1986 a dezembro/1988; (c) pelo IPC, nos períodos de janeiro e fevereiro/1989 e março/1990 a fevereiro/1991; (d) o INPC de março a novembro/1991; (e) o IPCA – série especial – em dezem-bro/1991; (f) a Ufir de janeiro/1992 a dezembro/1995; (g) a Taxa Selic a partir de janeiro/1996 (EREsp 912.359/MG, 1ª S., DJ de 03.12.2007). 4. Mantida a condenação recíproca das partes em honorários advocatícios no valor de 10% sobre o valor da condenação, ou seja, valor equivalente a R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais), observado os termos do art.85, §§ 2º, 3º e 14 do CPC. 5. Recurso de apelação cível da União/Fazenda Nacional improvido.” (TRF 2ª R. – AC 0065612-42.2009.4.02.5151 – 3ª T.Esp. – Rel. Theophilo Antonio Miguel Filho – DJe 04.10.2017 – p. 404)

Transcrição RETCódigo Tributário Nacional:

“Art. 168. O direito de pleitear a restituição extingue-se com o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados:

I – nas hipótese dos incisos I e II do art. 165, da data da extinção do crédito tributário; (Vide art. 3º da LCP 118, de 2005)

II – na hipótese do inciso III do art. 165, da data em que se tornar definitiva a decisão admi-nistrativa ou passar em julgado a decisão judicial que tenha reformado, anulado, revogado ou rescindido a decisão condenatória.”

13682 – Imposto de renda – moléstia grave – isenção engloba “rendimentos salariais” – termo inicial – diagnóstico da doença

“Apelação cível. Tributário. Imposto de renda. Moléstia grave. Isenção engloba ‘rendimentos sa-lariais’. Termo inicial. Diagnóstico da doença. 2. A isenção engloba os ‘rendimentos salariais’ do portador de moléstia grave e não só os ‘proventos de aposentadoria’, pelo seu caráter alimentar que foi o que justificou a norma. ‘A isenção, vicejando só em prol dos “inativos portadores de moléstias graves”, está descompromissada com a realidade socio-fático-jurídica; a finalidade (sistemática) da isenção, na evolução temporal desde sua edição em 1988; os princípios da isonomia e da dignidade humana e, ainda, com o vetor da manutenção do mínimo vital’ (EIAC 0009540-86.2009.4.01.3300/BA, Rel. Des. Fed. Luciano Tolentino Amaral, 4ª S., e-DJF1 p. 1023 de 08.02.2013). Nesse sentido, precedente desta Turma, ao julgar, nos termos do art. 942 do CPC/2015 e do art. 2º, § 8º, inc. II, da Resolução Presi nº 11/2016, em Sessão Extraordinária, a Ap 0072367-54.2010.4.01.3800/MG. Na espécie, devida é a restituição dos valores recolhidos a título de imposto de renda desde o diagnós-tico da moléstia grave (neoplasia maligna), no mês de junho de 2013, até a data da sua concessão na via administrativa, após a sua aposentadoria. Apelação não provida.” (TRF 1ª R. – AC 0068799-90.2015.4.01.3400 – Rel. Juiz Eduardo Morais da Rocha – J. 19.09.2017)

13683 – Imunidade tributária – RFFSA – caráter infraconstitucional da matéria – ausência de repercussão geral

“Direito tributário. Agravo interno em recurso extraordinário. RFFSA. Imunidade tributária. Ca-ráter infraconstitucional da matéria. Ausência de repercussão geral. Aplicação do art. 1.033 do CPC/2015. Impossibilidade. Recurso interposto na vigência da sistemática processual anterior. 1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 959.489-RG, reconheceu a inexistência de re-percussão geral da matéria em exame, qual seja, o preenchimento dos pressupostos necessários ao gozo da imunidade tributária pela RFFSA. 2. A sistemática de conversão de recurso extraordinário

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em recurso especial é aplicável quando a publicação do acórdão recorrido tenha ocorrido a partir de 18.03.2016, início da vigência do CPC/2015. 3. Nos termos do art. 85, § 11, do CPC/2015, fica majorado em 25% o valor da verba honorária fixada anteriormente, observados os limites legais do art. 85, §§ 2º e 3º, do CPC/2015. 4. Agravo interno a que se nega provimento, com aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015.” (STF – AgRg-RE 978.875 – São Paulo – 1ª T. – Rel. Min. Roberto Barroso – J. 29.09.2017)

Transcrição RETCódigo de Processo Civil/2015:

“Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.

[...]

§ 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2º a 6º, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2º e 3º para a fase de conhecimento.”

13684 – IPI – créditos escriturais – incidência de correção monetária – matéria infraconstitu-cional

“Direito tributário. Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI. Créditos escriturais. Incidência de correção monetária. Matéria infraconstitucional. Recurso extraordinário interposto sob a égide do CPC/1973. Alegação de ofensa aos arts. 5º, II, 37, caput, e 153, § 3º, da Constituição da República. Legalidade. Eventual violação reflexa da constituição da república não viabiliza o manejo de recur-so extraordinário. Agravo manejado sob a vigência do CPC/1973. 1. Obstada a análise da suposta afronta aos preceitos constitucionais invocados, porquanto dependeria de prévia análise da legis-lação infraconstitucional aplicada à espécie, procedimento que refoge à competência jurisdicional extraordinária desta Corte Suprema, a teor do art. 102 da Magna Carta. 2. As razões do agravo não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à ausência de ofensa a preceito da Constituição da República. 3. Agravo regimental conhecido e não provido.” (STF – AgRg-RE-Ag 886.886 – São Paulo – 1ª T. – Relª Min. Rosa Weber – J. 15.09.2017)

13685 – IPI – insumos isentos ou tributados à alíquota zero – creditamento – ausência de preli-minar formal e fundamentada de repercussão geral

“Direito tributário. Embargos declaratórios em agravo interno em agravo de instrumento. IPI. Insu-mos isentos ou tributados à alíquota zero. Creditamento. Ausência de preliminar formal e fundamen-tada de repercussão geral. Pretensão meramente infringente. 1. Não há obscuridade, contradição ou omissão no acórdão questionado, o que afasta a presença dos pressupostos de embargabilidade. 2. A via recursal adotada não se mostra adequada para a renovação de julgamento que ocorreu regularmente. 3. A parte recorrente não apresentou preliminar formal e fundamentada de reper-cussão geral das questões constitucionais discutidas. 4. Embargos de declaração rejeitados, com determinação de trânsito em julgado e de baixa imediata dos autos.” (STF – EDcl-AgRg-AI 787.786 – Pernambuco – 1ª T. – Rel. Min. Roberto Barroso – J. 30.06.2017)

13686 – IPI – veículo – sujeito passivo – consumidor final – importação – uso próprio – não cumulatividade – operações sucessivas – inexistência – incidência do tributo – reper-cussão geral – omissão – ausência

“Embargos de declaração. Tributário. IPI. Veículo. Sujeito passivo. Consumidor final. Importação. Uso próprio. Não cumulatividade. Operações sucessivas. Inexistência. Incidência do tributo. Reper-

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cussão geral. Omissão. Ausência. Inovação recursal. Prequestionamento. 1. O acórdão se encontra em consonância com o entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, que pacificou a questão, no julgamento do RE 723.651, com repercussão geral reconhecida, no qual fixou a se-guinte tese: ‘Incide o imposto de produtos industrializados na importação de veículo automotor por pessoa natural, ainda que não desempenhe atividade empresarial e o faça para uso próprio’ (Tema nº 643). 2. Inexistem os vícios apontados no acórdão embargado, sendo certo que omissão haveria caso não ocorresse a apreciação das questões de fato e de direito relevantes para o deslinde da causa. 3. Não há que se falar em omissão no julgado quanto à aplicação da alíquota interna de 25% (vinte e cinco por cento), para fins de recolhimento do IPI, em razão da observância ao art. 152 da Constituição Federal e ao GATT 47, visto que tal alegação não constou de suas razões de apelação, o que caracteriza inovação recursal, não permitida em embargos de declaração. 4. Com base em alegações de omissão, deseja a recorrente modificar o julgado por não concordância, sendo esta a via inadequada. 5. Para fins de prequestionamento, basta que a questão tenha sido debatida e enfrentada no corpo do acórdão, sendo desnecessária a indicação de dispositivo legal ou constitu-cional (STF, RTJ 152/243; STJ, Corte Especial, RSTJ 127/36; ver ainda: RSTJ 110/187). 6. Embargos de declaração conhecidos e desprovidos.” (TRF 2ª R. – AC 0110434-96.2014.4.02.5101 – 2ª S.Esp. – Relª Desª Fed. Cláudia Maria Pereira Bastos Neiva – DJe 19.10.2017 – p. 265)

13687 – IPTU – condomínios irregulares – fato gerador – ocorrência

“Tributário. Recurso especial. IPTU. Condomínios irregulares. Fato gerador. Ocorrência. 1. O IPTU tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel, por natureza ou acessão física, localizado na zona urbana do Município. 2. O contribuinte do imposto é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor, a qualquer título. 3. No caso concreto, o Tribunal de origem concluiu que a recorrida é possuidora do imóvel sobre o qual recai a exação sob análise, pelo que a incidência do IPTU é medida que se impõe. Precedentes: REsp 1.402.217/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., DJe 24.11.2015; EDcl-AgRg-AREsp 600.366/DF, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 03.03.2015. 4. Recurso especial a que se dá provimento.” (STJ – REsp 1.429.505 – (2014/0006186-0) – 2ª T. – Rel. Min. Og Fernandes – DJe 18.10.2017 – p. 1939)

13688 – IPTU – prescrição – marco inicial – dia seguinte ao vencimento da exação

“Tributário. IPTU. Prescrição. Marco inicial. Dia seguinte ao vencimento da exação. 1. O Plenário do STJ decidiu que ‘aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas até então pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça’ (Enunciado Administrativo nº 2). 2. A contagem da prescrição para a cobrança do IPTU tem como marco inicial o dia seguinte ao estipulado pela lei local para o vencimento da exação. Prece-dentes. 3. Hipótese em que o acórdão recorrido, por contar a prescrição da data de notificação do lançamento, deve ser cassado, com a determinação de novo julgamento da apelação, a fim de que seja aplicada a Orientação Jurisprudencial desta Corte Superior à realidade dos autos. 4. Agravo interno desprovido.” (STJ – AgInt-Ag-REsp 976.764 – (2016/0231709-8) – 1ª T. – Rel. Min. Gurgel de Faria – DJe 14.09.2017 – p. 1939)

13689 – IPVA – execução fiscal – CDA – modificação do sujeito passivo – impossibilidade – Sú-mula nº 392/STJ

“Processual civil e tributário. Execução Fiscal. IPVA. CDA. Modificação do sujeito passivo. Impos-sibilidade. Súmula nº 392/STJ. 1. O acórdão recorrido está em consonância com a jurisprudência do STJ no sentido da possibilidade de emendar ou substituir a CDA por erro material ou formal, até a prolação da sentença de Embargos, nos termos do art. 2º, § 8º, da Lei nº 6.830/1980, vedada a

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modificação do sujeito passivo da execução (Súmula nº 392/STJ). Reafirmou-se tal entendimento no REsp 1.045.472/BA, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 18.12.2009, submetido ao rito dos recursos repetitivos. 2. Recurso Especial não provido.” (STJ – REsp 1.676.142 – (2017/0078051-0) – 2ª T. – Rel. Min. Herman Benjamin – DJe 14.09.2017 – p. 2044)

13690 – IR – programa de alimentação do trabalhador – sistemática de apuração do incentivo fiscal

“Tributário. Mandado de segurança. Imposto de renda. Programa de alimentação do trabalhador. Sistemática de apuração do incentivo fiscal. Lei nº 6.321/1976. Decretos regulamentadores e instru-ções normativas. Hierarquia das leis. Ilegalidade. 1. A Lei nº 6.321/1976, em seu art. 1º, permitiu a dedução, do lucro tributável para fins de apuração do imposto sobre a renda, do dobro das despesas comprovadamente realizadas pelas empresas em Programas de Alimentação do Trabalhador – PAT na forma que dispusesse o regulamento. 2. As disposições de hierarquia inferior dos Decretos re-gulamentadores e das instruções normativas não podem extrapolar os limites da lei. Portanto, não há dúvidas de houve violação ao princípio da hierarquia das normas, bem como ao art. 84, inc. IV, da Constituição Federal, que trata acerca do chamado poder regulamentar.” (TRF 4ª R. – RNC 5007873-89.2016.4.04.7005 – Rel. Des. Fed. Roger Raupp Rios – J. 05.10.2017)

Comentário RETO acórdão que passamos a comentar cuidou de remessa necessária interposta em face de sen-tença que concedeu a segurança requerida em mandado de segurança impetrado por uma as-sociação empresarial em face de ato coator supostamente praticado pelo Delegado da Receita Federal do Brasil em Cascavel/PR (segundo o recorrente), para o fim de:

a) declarar que as limitações impostas pela Portaria Interministerial nº 326/1977, e pela Ins-trução Normativa nº 267/2002, fixando custos máximos para cada refeição individual oferecida pelo PAT – Programa de Alimentação do Trabalhador exorbitaram da Lei, porquanto estabelecem restrições que não foram previstas nas Leis nºs 6.321/1976 e 9.532/1997, ficando assegurado às impetrantes o direito de deduzir as despesas realizadas com o referido programa na forma do art. 1º da Lei nº 6.321, de 1976, respeitado o limite de 4% do imposto de renda devido, consoante previsão da Lei nº 9.532/1997;

b) declarar, ainda, o direito das impetrantes à compensação dos valores indevidamente recolhi-dos a maior a título de Imposto de Renda Pessoa Jurídica, nos últimos 05 (cinco) anos anteriores ao ajuizamento da presente demanda, com incidência de juros equivalentes à taxa Selic, ex-cluindo-se qualquer índice de correção monetária ou juros de mora, nos termos do art. 39, § 4º, da Lei nº 9.250, de 1995, observado o disposto no art. 170-A do Código Tributário Nacional.

A União foi condenada a reembolsar as custas adiantadas pela impetrante. Sem honorários.

Ausentes recursos voluntários das partes, os autos subiram conclusos, por força da remessa necessária.

Ao julgar, o Egrégio Tribunal de Justiça da 4ª Região, repassou que o presente mandado de se-gurança coletivo foi impetrado pela associação empresarial em face de ato coator supostamente praticado pelo Delegado da Receita Federal do Brasil em Cascavel/PR, com o objetivo de que seja declarado o direito dos atuais e futuros associados da impetrante em deduzir da base de cálculo do IRPJ, na sistemática do lucro real, o dobro dos valores despendidos com o Programa de Alimentação do Trabalhador – PAT, limitado a 4% do imposto devido, nos moldes das Leis nºs 6.321/1976 e 9.523/1997, requerendo ainda que fosse declarado o direito dos associados em promoverem a compensação tributária dos valores indevidamente recolhidos nos últimos 5 (cinco) anos.

A sentença concedeu a segurança postulada, e a União expressamente manifestou desinteresse em apresentar recurso, em razão do que dispõe o Ato Declaratório PGFN nº 13/2008, que dispensa a interposição de apelo em relação à matéria discutida nos autos (Evento 40, PET1).

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Quanto ao PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador), destacamos que a Lei nº 6.321, de 14 de abril de 1976, permitiu a dedução, do lucro tributável para fins de apuração do imposto sobre a renda das pessoas jurídicas, do dobro das despesas realizadas em Programas de Alimen-tação do Trabalhador (PAT), nos termos do seu art. 1º, senão vejamos:

“Art. 1º As pessoas jurídicas poderão deduzir, do lucro tributável para fins do imposto sobre a renda o dobro das despesas comprovadamente realizadas no período base, em programas de alimentação do trabalhador, previamente aprovados pelo Ministério do Trabalho na forma em que dispuser o Regulamento desta Lei.

§ 1º A dedução a que se refere o caput deste artigo não poderá exceder em cada exercício finan-ceiro, isoladamente, a 5% (cinco por cento) e cumulativamente com a dedução de que trata a Lei nº 6.297, de 15 de dezembro de 1975, a 10% (dez por cento) do lucro tributável.

§ 2º As despesas não deduzidas no exercício financeiro correspondente poderão ser transferidas para dedução nos dois exercícios financeiros subsequentes.”

A pretexto de regulamentar esta Lei, o Decreto nº 78.676/1976 assim dispôs:

“Art. 1º A utilização do incentivo fiscal previsto na Lei nº 6.321, de 14 de abril de 1976, para alimentação do trabalhador far-se-á diretamente, através de dedução do imposto sobre a renda devido pelas pessoas jurídicas, em valor equivalente à aplicação da alíquota cabível sobre a soma das despesas de custeio realizadas na execução de programas previamente aprovados pelo Ministério do Trabalho, atendidos os limites e condições previstos neste Decreto.

§ 1º As despesas realizadas durante o período-base da pessoa jurídica, além de constituírem custo operacional, poderão ser consideradas em igual montante para o fim previsto neste artigo.

§ 2º A dedução do imposto de renda estará limitada a 5% (cinco por cento) do lucro tributável em cada exercício, podendo o eventual excesso ser transferido para dedução nos 2 (dois) exer-cícios subseqüentes.

§ 3º Os programas de alimentação deverão conferir prioridade ao atendimento dos trabalhadores de baixa renda e limitar-se-ão aos contratados pela pessoa jurídica beneficiária.”

No mesmo sentido, o Decreto nº 05/1991 dispôs:

“Art. 1º A pessoa jurídica poderá deduzir, do Imposto de Renda devido, valor equivalente à aplicação da alíquota cabível do Imposto de Renda sobre a soma das despesas de custeio reali-zadas, no período base, em Programas de Alimentação do Trabalhador, previamente aprovados pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social – MTPS, nos termos deste regulamento.”

Por sua vez, o Decreto nº 3.000/1999 (RIR/1999) assim estabeleceu:

“Art. 581. A pessoa jurídica poderá deduzir, do imposto devido, valor equivalente à aplicação da alíquota do imposto sobre a soma das despesas de custeio realizadas, no período de apuração, em programas de alimentação do trabalhador, nos termos desta Seção (Lei nº 6.321, de 14 de abril de 1976, art. 1º).

Parágrafo único. As despesas de custeio admitidas na base de cálculo do incentivo são aquelas que vierem a constituir o custo direto e exclusivo do serviço de alimentação, podendo ser con-siderados, além da matéria-prima, mão de obra, encargos decorrentes de salários, asseio e os gastos de energia diretamente relacionados ao preparo e à distribuição das refeições.

Art. 582. A dedução está limitada a quatro por cento do imposto devido em cada período de apuração, podendo o eventual excesso ser transferido para dedução nos dois anos-calendário subseqüentes (Lei nº 6.321, de 1976, art. 1º, §§ 1º e 2º, e Lei nº 9.532, de 1997, art. 5º).

Parágrafo único. O total da dedução deste artigo e a referida no inciso I do art. 504, não poderá exceder a quatro por cento do imposto devido (Lei nº 9.532, de 1997, art. 6º, inciso I).”

O Ilustre Julgador então na sequência do julgamento reforçou que a Lei nº 6.321/1976 deter-mina que as despesas realizadas em programas de alimentação do trabalhador sejam deduzidas do lucro tributável para fins de imposto de renda.

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Com isto, entende-se que o abatimento deve ser feito antes da formação da base de cálculo do imposto, ou seja, a lei garantiu o direito de deduzir do lucro tributável o dobro das despesas citadas, e não diretamente do imposto de renda já apurado.

O Nobre Desembargador Federal Roger Raupp Rios, ressaltou que os Decretos nºs 78.676/1976, 05/1991 e 3.000/1999, a pretexto de regulamentarem a citada Lei, estabelecem que o con-tribuinte deduza, do imposto devido, valor equivalente à aplicação da alíquota do imposto de renda sobre a soma das despesas de custeio realizadas nos programas de alimentação. Com esta interpretação, transformaram a parcela dedutível do lucro tributável em redução do imposto já calculado, implicando, assim, em distorção da sua base de cálculo.

E seguiu concluindo que os Decretos supracitados violaram o princípio da hierarquia das nor-mas, bem como o art. 84, inc. IV, da Constituição Federal, que trata acerca do chamado poder regulamentar.

Nesse sentido, citou precedentes desta Corte:

“TRIBUTÁRIO – PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR (PAT) – IMPOSTO DE RENDA – INCENTIVO FISCAL – LEI Nº 6.321/1976 – NORMAS INFRALEGAIS – OFENSA – PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE – LIMITAÇÃO – 1. As normas infralegais que limitaram o benefício fiscal previsto na Lei nº 6.321/1976 são ilegais, na medida em que extrapolam sua prerrogativa de poder regulamentar o instituto, o qual possibilita às empresas deduzirem o dobro das des-pesas comprovadamente realizadas no período em Programas de Alimentação do Trabalhador – PAT do lucro tributável, consoante jurisprudência desta Corte e do STJ. 2. Permanece apenas a limitação de percentual levada a efeito pela Lei nº 9.532/1997 (arts. 5º e 6º) para fins de de-dução do incentivo fiscal, porquanto não constitui afronta ao princípio da legalidade (ou reserva legal). 3. A impetrante, assim, deverá apurar o incentivo com o PAT na forma determinada pelo art. 1º da Lei nº 6.323/1976, independentemente do limite de valor com as refeições, e excluí-lo do lucro tributável, apurando a base de cálculo do IRPJ e do adicional, a fim de verificar o valor que deveria ter sido pago e o que foi recolhido, observando a limitação de 4% do IRPJ devido, excluído o adicional, nos termos do art. 5º e 6º, I, a Lei nº 9.532/1997.” (TRF 4ª R., 5019160-80.2015.404.7200, 2ª T., Rel. Otávio Roberto Pamplona, juntado aos autos em 09.11.2016)

“TRIBUTÁRIO – IMPOSTO DE RENDA – PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR – SISTEMÁTICA DE APURAÇÃO DO INCENTIVO FISCAL – LEI Nº 6.321/1976 – ILEGALIDADE DAS NORMAS REGULAMENTARES – COMPENSAÇÃO

1. Os Decretos nºs 78.676/1976, 05/1991 e 3.000/1999 (RIR) extrapolaram os limites da legalidade ao estipular sistemática de dedução do lucro tributável, relativo a despesas com pro-gramas de alimentação do trabalhador, diversa da lei de regência (Lei nº 6.321/1976).

2. Com efeito, a modificação perpetrada mitigou o benefício legal, visto que a dedução prevista nos decretos não minimiza a base de cálculo do imposto, acarretando um aumento no valor final do IRPJ.

3. Logo, configura-se violação ao princípio da legalidade esta a alteração da forma de dedução das despesas em programas de alimentação. O mesmo vício caracteriza-se quanto à fixação de valores máximos para cada refeição instituídos na Portaria Interministerial nº 326/1977 e nas Instruções Normativas nºs 143/1986 e 267/2002 da SRF, já que inexistente qualquer menção na Lei nº 6.321/1976. Precedentes.

4. Pela legislação atual, somente é possível a compensação após o trânsito em julgado da decisão e deverá dar-se na forma prescrita pela Lei nº 10.637/2002, isto é: por iniciativa do contribuinte, entre quaisquer tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal e me-diante entrega de declaração contendo as informações necessárias acerca dos créditos e débitos utilizados.

5. Sentença mantida.” (TRF 4ª R., AC 5002865-29.2010.404.7107/RS, 2ª T., Relª Vânia Hack de Almeida, J. 11.05.2011)

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Quanto ao percentual mencionado na Lei nº 9.532/1997, o Ilustre Julgador ressaltou que a referida norma apenas reduziu o limite da dedução para 4%, regra esta repetida no art. 582 do Decreto nº 3.000/1999 (RIR/1999). Assim, o art. 1º da Lei nº 6.321/1976 ainda se encontra em plena vigência.

Por fim, firmou que não merece reparos, portanto, a sentença que reconheceu o direito da impetrante de “apurar o incentivo com o PAT na forma determinada pelo art. 1º da Lei nº 6.323/1976, independentemente do limite de valor com as refeições, e excluí-lo do lucro tri-butável, apurando a base de cálculo do IRPJ e do adicional, a fim de verificar o valor que deveria ter sido pago e o que foi recolhido, observando a limitação de 4% do IRPJ devido, excluído o adicional, nos termos do art. 5º e 6º, I, a Lei nº 9.532/97. Nessa linha: Ap-Reex 5030438-24.2014.4.04.7100/RS, 1ª T., Rel. Des. Federal Joel Ilan Pacionik, J. 04.11.2015)”; e, tam-bém, de efetuar a compensação dos valores recolhidos a maior a título de Imposto de Renda Pessoa Jurídica por conta das restrições impostas pelos referidos atos normativos, atualizados monetariamente pela taxa Selic.

Assim, diante de todo o explanado, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região negou provimento à remessa necessária.

13691 – ISSQN – ação de restituição de indébito – substituição tributária – legitimidade do contribuinte

“Processo civil e tributário. Agravo interno no agravo em recurso especial. Enunciado Administra-tivo nº 3/STJ. Ação de restituição de indébito. ISSQN. Substituição tributária. Legitimidade do con-tribuinte. Violação aos arts. 3º do CPC/1973, 165 e 166 do CTN. Ausência de prequestionamento. Súmulas nºs 282 e 356 do STF. Agravo interno não provido. 1. É assente nesta Corte, o entendimen-to de que é condição sine qua non para que se conheça do Especial que tenham sido ventilados, no contexto do acórdão objurgado, os dispositivos legais indicados como malferidos. 2. Agravo interno não provido.” (STJ – AgInt-Ag-REsp 1.005.188 – (2016/0280922-8) – 2ª T. – Rel. Min. Mauro Campbell Marques – DJe 02.10.2017 – p. 1665)

Transcrição RETCódigo Tributário Nacional:

“Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemente de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do art. 162, nos seguintes casos:

I – cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou da natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido;

II – erro na edificação do sujeito passivo, na determinação da alíquota aplicável, no cálculo do montante do débito ou na elaboração ou conferência de qualquer documento relativo ao pagamento;

III – reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória.

Art. 166. A restituição de tributos que comportem, por sua natureza, transferência do respectivo encargo financeiro somente será feita a quem prove haver assumido o referido encargo, ou, no caso de tê-lo transferido a terceiro, estar por este expressamente autorizado a recebê-la.”

13692 – ISSQN – sujeição passiva – empresa administradora de jogos de bingo

“Agravo interno no recurso extraordinário com agravo. Tributário. ISSQN. Sujeição passiva. Empre-sa administradora de jogos de bingo. Período anterior à vigência da Lei nº 9.981/2000. Controvérsia de índole infraconstitucional. Agravo interposto sob a égide do novo Código de Processo Civil. Ma-joração dos honorários de sucumbência. Art. 85, § 11, do CPC/2015. Agravo interno desprovido.” (STF – AgRg-RE-Ag 981.150 – São Paulo – 1ª T. – Rel. Min. Luiz Fux – J. 30.06.2017)

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13693 – ITCMD – compensação – precatórios – solução da controvérsia com base na interpre-tação do Código Tributário Nacional e da lei estadual – incidência da Súmula nº 280 do STF – descabimento

“Direito tributário. Agravo interno em recurso extraordinário com agravo. Direito tributário. ITCMD. Compensação. Precatórios. Solução da controvérsia com base na interpretação do Código Tributá-rio Nacional e da lei estadual. Incidência da Súmula nº 280 do STF. Descabimento. 1. Hipótese em que a resolução da controvérsia demanda a análise de legislação infraconstitucional. Precedentes. 2. Agravo interno a que se nega provimento, com aplicação da multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC/1973.” (STF – AgRg-RE-Ag 926.786 – Mato Grosso do Sul – 1ª T. – Rel. Min. Roberto Barroso – J. 29.09.2017)

13694 – ITCMD – incidência – concessão de direito real de uso – análise de lei local

“Processo civil e tributário. Agravo interno no recurso especial. Enunciado Administrativo nº 3/STJ. Ofensa ao art. 1.022 do CPC/2015. Não caracterização. ITCMD. Incidência. Concessão de direito real de uso. Análise de lei local. Súmula nº 280/STF. Agravo não provido. 1. Quanto à alegada ofensa ao art. 1.022 do CPC/2015, depreende-se dos autos que o Tribunal de origem, de modo fundamentado, tratou da questão suscitada, resolvendo, portanto, de modo integral a controvérsia posta. 2. Como se depreende do acórdão recorrido, a lei distrital não alberga a incidência do referi-do imposto na hipótese em comento. Logo, a tese deste recurso especial não merece guarida, ante a incidência do óbice da Súmula nº 280/STF, pois a análise da compatibilidade material dos ele-mentos da hipótese de incidência, especificamente no que toca ao fato gerador do imposto, requer necessariamente a análise de lei local, seu teor e seus consectários, o que em sede de recurso es-pecial é vedado. 3. Agravo interno não provido.” (STJ – AgInt-REsp 1.662.311 – (2017/0063488-5) – 2ª T. – Rel. Min. Mauro Campbell Marques – DJe 02.10.2017 – p. 1741)

13695 – PIS e Cofins – bases de cálculo – inclusão do ISS – impossibilidade – prescrição quin-quenal – compensação

“Constitucional e tributário. Mandado de segurança. PIS e Cofins. Bases de cálculo. Inclusão do ISS. Impossibilidade. Prescrição quinquenal. Compensação. Apelação não provida. Remessa oficial parcialmente provida. 1. Válida a aplicação do prazo prescricional de 5 (cinco) anos da Lei Comple-mentar nº 118/2005 às ações ajuizadas a partir de 09.06.2005 (RE 566.621/RS, STF, Tribunal Pleno, Relª Min. Ellen Gracie, Repercussão Geral, DJe 11.10.2011). 2. O ISS, imposto de competência dos Municípios e do Distrito Federal, tem como fato gerador a prestação de serviços constante da lista anexa à Lei Complementar nº 116/2003 e, assim como o ICMS, está embutido no preço dos serviços praticados, o que autoriza a aplicação do mesmo raciocínio adotado para a exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e da Cofins para fundamentar a exclusão do ISS das bases de cálculos das mencionadas exações. 3. O STF reiterou, agora sob a sistemática de repercussão geral, no julga-mento do RE 574.706 (acórdão ainda não publicado), o entendimento que antes firmara no bojo do RE 240.785, no sentido de que o valor arrecadado a título de ICMS não se incorpora ao patrimônio do contribuinte e, dessa forma, não pode integrar as bases de cálculo da contribuição para o PIS e da Cofins, que são destinadas ao financiamento da seguridade social. 4. A compensação deve ser realizada conforme a legislação vigente na data do encontro de contas e após o trânsito em julgado, tendo em vista o disposto no art. 170-A do CTN (REsp 1.164.452/MG, julgado na sistemática do art. 543-C do CPC/1973). 5. Em relação à correção monetária e aos juros de mora, deverão ser ob-servados os parâmetros fixados pelo Manual de Cálculos da Justiça Federal (Resolução CJF nº 134, de 21.12.2010, com alterações da Resolução CJF nº 267, de 02.12.2013). 6. Apelação não provida. Remessa oficial parcialmente provida.” (TRF 1ª R. – AC-RN 0062274-90.2014.4.01.3800/MG – 8ª T. – Des. Fed. Marcos Augusto de Sousa – DJe 25.08.2017)

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Comentário RETCuida-se de remessa oficial e de apelação interposta pela União (FN) contra sentença proferida nestes autos que concedeu a segurança para determinar a exclusão do ISS das bases de cálculo do PIS e da Cofins, reconhecendo o direito da parte impetrante à compensação dos valores recolhidos indevidamente nos cinco anos que antecedem a propositura da ação, atualizados pela taxa Selic.

A União sustentou, em síntese, a constitucionalidade da inclusão do ISS nas bases de cálculo do PIS e da Cofins.

Postulou ainda que caso seja mantida a sentença, que a compensação seja feita nos termos do art. 74 da Lei nº 9.430/1996, excetuando-se as contribuições sociais a que se refere o art. 2º da Lei nº 11.457/2007.

Ao julgar, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 1ª Região, iniciou destacando que, inicial-mente, relativamente à prescrição, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário nº 566.621/RS, considerou válida a aplicação do novo prazo de 5 (cin-co) anos previsto na Lei Complementar nº 118/2005 tão somente às ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 (cento e vinte) dias, ou seja, a partir de 9 de junho de 2005, senão vejamos:

“DIREITO TRIBUTÁRIO – LEI INTERPRETATIVA – APLICAÇÃO RETROATIVA DA LEI COMPLE-MENTAR Nº 118/2005 – DESCABIMENTO – VIOLAÇÃO À SEGURANÇA JURÍDICA – NECES-SIDADE DE OBSERVÂNCIA DA VACACIO LEGIS – APLICAÇÃO DO PRAZO REDUZIDO PARA REPETIÇÃO OU COMPENSAÇÃO DE INDÉBITOS AOS PROCESSOS AJUIZADOS A PARTIR DE 9 DE JUNHO DE 2005

Quando do advento da LC 118/2005, estava consolidada a orientação da Primeira Seção do STJ no sentido de que, para os tributos sujeitos a lançamento por homologação, o prazo para repetição ou compensação de indébito era de 10 anos contados do seu fato gerador, tendo em conta a aplicação combinada dos arts. 150, § 4º, 156, VII, e 168, I, do CTN. A LC 118/2005, embora tenha se auto-proclamado interpretativa, implicou inovação normativa, tendo reduzido o prazo de 10 anos contados do fato gerador para 5 anos contados do pagamento indevido. Lei supostamente interpretativa que, em verdade, inova no mundo jurídico deve ser considerada como lei nova. Inocorrência de violação à autonomia e independência dos Poderes, porquanto a lei expressamente interpretativa também se submete, como qualquer outra, ao controle judicial quanto à sua natureza, validade e aplicação.

A aplicação retroativa de novo e reduzido prazo para a repetição ou compensação de indébito tributário estipulado por lei nova, fulminando, de imediato, pretensões deduzidas tempestiva-mente à luz do prazo então aplicável, bem como a aplicação imediata às pretensões pendentes de ajuizamento quando da publicação da lei, sem resguardo de nenhuma regra de transição, implicam ofensa ao princípio da segurança jurídica em seus conteúdos de proteção da confiança e de garantia do acesso à Justiça.

Afastando-se as aplicações inconstitucionais e resguardando-se, no mais, a eficácia da nor-ma, permite-se a aplicação do prazo reduzido relativamente às ações ajuizadas após a vacatio legis, conforme entendimento consolidado por esta Corte no Enunciado nº 445 da Súmula do Tribunal. O prazo de vacatio legis de 120 dias permitiu aos contribuintes não apenas que tomassem ciência do novo prazo, mas também que ajuizassem as ações necessárias à tutela dos seus direitos. Inaplicabilidade do art. 2.028 do Código Civil, pois, não havendo lacuna na LC 118/2005, que pretendeu a aplicação do novo prazo na maior extensão possível, descabida sua aplicação por analogia. Além disso, não se trata de lei geral, tampouco impede iniciativa legislativa em contrário.

Reconhecida a inconstitucionalidade do art. 4º, segunda parte, da LC 118/2005, considerando--se válida a aplicação do novo prazo de 5 anos tão somente às ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 dias, ou seja, a partir de 9 de junho de 2005. Aplicação do art. 543-B, § 3º, do CPC aos recursos sobrestados.

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Recurso extraordinário desprovido.” (RE 566.621/RS, STF, Tribunal Pleno, Relª Min. Ellen Gracie, Julgado em 04.08.2011, Repercussão Geral, DJe 11.10.2011)

Na espécie, tendo sido a ação ajuizada após 9 de junho de 2005, o prazo prescricional a ser aplicado é o quinquenal.

O Ilustre Desembargador continuou seu raciocínio frisando que, no que se refere ao mérito da controvérsia, o ISS, imposto de competência dos Municípios e do Distrito Federal, tem como fato gerador a prestação de serviços constante da lista anexa à Lei Complementar nº 116/2003 e, assim como o ICMS, está embutido no preço dos serviços praticados, o que autoriza a aplicação do mesmo raciocínio adotado para a exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e da Cofins para fundamentar a exclusão do ISS das bases de cálculos das mencionadas exações, e assim decretou:

“Nessa perspectiva, a questão de mérito já não merece maiores discussões, considerando que o STF reiterou, agora sob a sistemática de repercussão geral, no julgamento do RE 574.706 (acór-dão ainda não publicado), o entendimento que antes firmara no bojo do RE 240.785, no sentido de que o valor arrecadado a título de ICMS não se incorpora ao patrimônio do contribuinte e, dessa forma, não pode integrar as bases de cálculo da contribuição para o PIS e da Cofins, que são destinadas ao financiamento da seguridade social.”

Para reforçar seu entendimento, citou os julgados adiante:

“TRIBUTO – BASE DE INCIDÊNCIA – CUMULAÇÃO – IMPROPRIEDADE – Não bastasse a or-dem natural das coisas, o arcabouço jurídico constitucional inviabiliza a tomada de valor alusivo a certo tributo como base de incidência de outro.

COFINS – BASE DE INCIDÊNCIA – FATURAMENTO – ICMS – O que relativo a título de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e a Prestação de Serviços não compõe a base de incidência da Cofins, porque estranho ao conceito de faturamento.” (RE 240785, Tribunal Pleno, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe 16.12.2014)

Continuou destacando que a compensação deve ser realizada conforme a legislação vigente na data do encontro de contas e após o trânsito em julgado, tendo em vista o disposto no art. 170-A do CTN (REsp 1.164.452/MG, julgado na sistemática do art. 543-C do CPC/1973).

Em relação à correção monetária e aos juros de mora, deverão ser observados os parâmetros fixados pelo Manual de Cálculos da Justiça Federal (Resolução CJF nº 134, de 21.12.2010, com alterações da Resolução CJF nº 267, de 02.12.2013).

Por fim, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 1ª Região negou provimento à apelação da União e deu parcial provimento à remessa oficial para, reformando parcialmente a sentença, estabelecer que no procedimento de compensação sejam observados os critérios previstos na fundamentação supra, devendo a atualização monetária do indébito observar os parâmetros fixados pelo Manual de Cálculos da Justiça Federal.

13696 – Prescrição da execução fiscal – violação do art. 535 do CPC – ocorrência – retorno dos autos ao Tribunal de origem

“Processual civil. Tributário. Prescrição da execução fiscal. Violação do art. 535 do CPC. Ocor-rência. Retorno dos autos ao Tribunal de origem. 1. O Tribunal a quo decretou a prescrição da execução fiscal e recusou a aplicação ao caso concreto da Súmula nº 106/STJ. 2. O recorrente arguiu perante o Tribunal de origem, mediante Embargos de Declaração, culpa exclusiva do serviço judiciário e que nenhuma providência processual lhe era legalmente imputável, na medida em que ‘ajuizou a ação dentro do prazo prescricional e, desde então, praticou todos os atos que lhe compe-tia para tentar receber seu crédito’. Invocou ser responsabilidade da serventia do juízo a expedição da carta de citação e que incidiam na espécie os arts. 141, II, 219, §§ 1º e 2º, e 262 do CPC, além do art. 1º da LEF. 3. O Tribunal omitiu apreciação de importante aspecto acerca da correta aplicação do direito objetivo invocado. Ao quedar-se silente sobre a ausência de atos a serem praticados pelo exequente e a responsabilidade exclusiva da serventia judiciária de expedir a carta de citação no

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endereço fornecido pelo credor, nos termos da legislação federal indicada como violada, maltratou o art. 535 do CPC/1973. 4. Se, por um lado, o órgão julgador não é obrigado a analisar todas as alegações das partes, não menos certo é que ele deve decidir, de forma motivada e sem obscuridade e contradição, todas as questões jurídicas que lhe são apresentadas. Em se tratando de questão fun-damental para a correta prestação jurisdicional, devem os autos retornar à origem para o suprimento da omissão, consoante jurisprudência pacífica do STJ. 5. Recurso especial provido.” (STJ – REsp 1.676.148 – (2017/0102308-0) – 2ª T. – Rel. Min. Herman Benjamin – DJe 14.09.2017 – p. 2047)

Transcrição RETSúmula do Superior Tribunal de Justiça:

“106 – Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência.”

13697 – Taxa de Saúde Suplementar da ANS (TSS) – execução fiscal – Lei nº 9.961/2000 – base de cálculo definida na Resolução RDC nº 10 – exação indevida – ofensa ao princípio da legalidade

“Constitucional. Tributário. Execução fiscal. Taxa de Saúde Suplementar da ANS (TSS). Lei nº 9.961/2000. Base de cálculo definida na Resolução RDC nº 10. Exação indevida. Ofensa ao princípio da legalidade. Jurisprudência do STJ (8) A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento de que é inexigível a Taxa de Saúde Suplementar – TSS, prevista no art. 20, I, da Lei nº 9.961/2000, porquanto sua base de cálculo foi determinada pelo art. 3º da Resolução RDC nº 10/2000, em contrariedade ao principio da legalidade estrita (art. 97 do CTN) (AgRg-REsp 1231080/RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina, 1ª T., J. 20.08.2015, DJe 31.08.2015). Apelação não provida.” (TRF 1ª R. – Proc. 00018436820164014302 – Relª Desª Ângela Catão – J. 03.10.2017)

13698 – Taxa de Serviços Administrativos (TSA) – Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa)

“Tributário. Taxa de Serviços Administrativos – TSA. Superintendência da Zona Franca de Manaus – Suframa. Lei nº 9.960/2000. Inconstitucionalidade. 1. O STF, em sede de repercussão geral, confirmou a jurisprudência dominante no sentido de ser inconstitucional a Taxa de Serviços Administrativos criada pela Lei nº 9.960/2000, por não definir de forma específica o fato gerador da cobrança (ARE 957650, Rel. Min. Teori Zavascki, Plenário Virtual, julgado e publicado no DJe de 16.05.2016). 2. Apelação da Suframa a que se nega provimento.” (TRF 1ª R. – AC 0066153-44.2014.4.01.3400/DF – 8ª T – Relª Desª Fed. Maria do Carmo Cardoso – J. 04.09.2017)

Comentário RETA Superintendência da Zona Franca de Manaus – Suframa impetrou recuso de apelação cível contra à sentença proferida pelo Juízo da 4ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal, que acolheu alegação de inconstitucionalidade da Taxa de Serviços Administrativos – TSA, instituída pela Lei nº 9.960/2000.

A referida decisão havia determinado a abstenção da cobrança da Taxa de Serviços Administra-tivos – TSA, bem como a restituição das parcelas não atingidas pela prescrição quinquenária.

Em suas razões de apelação, a Suframa sustentou que a imposição tributária da Lei nº 9.960/2000 decorre do exercício de poder de polícia e prestação de serviços públicos especí-ficos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição, em conformidade com as disposições do Decreto-Lei nº 288/1967, que regula as funções estatais da entidade.

Alegou ainda que sua atuação é voltada para a concessão e para a limitação dos incentivos fiscais concedidos às empresas, bem como para a regulação da atividade econômica no âmbito da Zona Franca de Manaus e Áreas de Livre Comércio, mediante acompanhamento, avaliação

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e controle da produção incentivada e das operações comerciais de importação, exportação, internamento e internação.

Defendeu que as normas que regulam o tributo não ofendem a Constituição Federal.

Ao julgar, a Ilustre Desembargadora Federal Maria do Carmo Cardoso (Relatora), aqui represen-tando o Egrégio Tribunal Regional Federal da 1ª Região, iniciou seu julgamento reforçando que na presente ação, discute-se a constitucionalidade da TSA – Taxa Administrativa de Serviços, instituída pela Lei nº 9.960/2000 em favor da Suframa – Superintendência da Zona Franca de Manaus.

Segundo seu entendimento, a Corte Especial deste Tribunal, no julgamento da Inams 0005632-98.2007.4.01.3200/AM (Rel. Des. Fed. Catão Alves, Corte Especial, e-DJF1 de 18.09.2012), declarou a inconstitucionalidade do art. 1º da Lei nº 9.960, de 28.01.2000.

Neste Tribunal, o exame da controvérsia ficou centrado na ausência de definição legal da pres-tação de serviços públicos, específica e divisível, sobre a qual incidiria a Taxa de Serviços Ad-ministrativos – TSA.

Além disso, em 06.05.2016, o Plenário Virtual do STF, em sede de repercussão geral, confirmou a jurisprudência dominante nos termos da seguinte ementa:

“TRIBUTÁRIO – RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO – SUPERINTENDÊNCIA DA ZONA FRANCA DE MANAUS (SUFRAMA) – COBRANÇA DA TAXA DE SERVIÇOS ADMINIS-TRATIVOS, INSTITUÍDA PELO ART. 1º DA LEI Nº 9.960/2000 – INCONSTITUCIONALIDADE

1. É inconstitucional o art. 1º da Lei nº 9.960/2000, que instituiu a Taxa de Serviços Adminis-trativos (TSA), por não definir de forma específica o fato gerador da exação.

2. Agravo conhecido para negar provimento ao recurso extraordinário, com o reconhecimento da repercussão geral do tema e a reafirmação da jurisprudência sobre a matéria.” (ARE 957650, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado e publicado no DJe em 16.05.2016)

Assim, com base no explanado, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 1ª Região negou provi-mento à apelação da Suframa.

Parte Geral – Ementário de Jurisprudência Administrativa13699 – Cofins – período de apuração – 01.10.2004 a 31.12.2004 – crédito – cálculo – rateio –

receita de exportação – comercial exportadora – exclusão

“Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins. Período de apuração. 01.10.2004 a 31.12.2004. Crédito. Cálculo. Rateio. Receita de exportação. Comercial exportadora. Exclusão. As receitas decorrentes de exportação de mercadorias adquiridas com o fim específico de exportação não integram o total das receitas de exportação da empresa comercial exportadora, para efeito de cálculo do índice de rateio utilizado, na apuração do crédito da contribuição passível de aproveitamento. Créditos. Combustíveis. Glosa. Mantém-se a glosa dos créditos aproveitados inde-vidamente sobre os gastos com combustíveis que não foram utilizados na produção industrial dos produtos fabricados e vendidos. Crédito presumido da agroindústria. Cerealista. Aproveitamento. Vedação. A pessoa jurídica que exerce cumulativamente as atividades de limpeza, padronização, armazenagem e comercialização de produtos agrícolas, soja e milho, não faz jus ao crédito presu-mido da agroindústria a título de Cofins. Crédito presumido da agroindústria. Ressarcimento/com-pensação. Vedação. Os saldos credores trimestrais de créditos presumidos da agroindústria, a título de Cofins, não são passíveis de ressarcimento/compensação. Saldo credor trimestral. Ressarcimen-to. Atualização monetária. Vedação. É expressamente vedado por lei a atualização monetária do ressarcimento do saldo credor trimestral dos créditos da Cofins não cumulativa, pela taxa Selic. Re-curso Especial do Contribuinte Negado.” (CARF – REsp 10950.001890/2007-76 – (9303-005.823) – Rel. Rodrigo da Costa Possas – DOU 22.12.2017)

13700 – Contribuição para o PIS/Pasep – período de apuração – cálculo – rateio – receita de exportação – comercial exportadora – exclusão

“Contribuição para o PIS/Pasep. Período de apuração. 01.07.2005 a 30.09.2005. Crédito. Cálcu-lo. Rateio. Receita de exportação. Comercial exportadora. Exclusão. As receitas decorrentes de exportação de mercadorias adquiridas com o fim específico de exportação não integram o total das receitas de exportação da empresa comercial exportadora, para efeito de cálculo do índice de rateio utilizado, na apuração do crédito da contribuição passível de aproveitamento. Créditos. Com-bustíveis. Glosa. Mantém-se a glosa dos créditos aproveitados indevidamente sobre os gastos com combustíveis que não foram utilizados na produção industrial dos produtos fabricados e vendidos. Crédito presumido da agroindústria. Cerealista. Aproveitamento. Vedação. A pessoa jurídica que exerce cumulativamente as atividades de limpeza, padronização, armazenagem e comercialização de produtos agrícolas, soja e milho, não faz jus ao crédito presumido da agroindústria a título de Cofins. Crédito presumido da agroindústria. ressarcimento/compensação. Vedação. Os saldos cre-dores trimestrais de créditos presumidos da agroindústria, a título de Cofins, não são passíveis de ressarcimento/compensação. Saldo credor trimestral. Ressarcimento. Atualização monetária. Ve-dação. É expressamente vedado por lei a atualização monetária do ressarcimento do saldo credor trimestral dos créditos da Cofins não cumulativa, pela taxa Selic. Recurso Especial do Contribuinte Negado.” (CARF – REsp 10950.001900/2007-73 – (9303-005.832) – Rel. Rodrigo da Costa Possas – DOU 22.12.2017)

13701 – Contribuições previdenciárias – período de apuração – auto de infração de obrigação principal – salário indireto – bolsa de estudos dependentes – ausência de previsão legal para exclusão da base de cálculo

“Contribuições sociais previdenciárias. Período de apuração. 01.01.2004 a 31.10.2008. Contribui-ções previdenciárias. Auto de infração de obrigação principal. Salário indireto. Bolsa de estudos de-pendentes. Ausência de previsão legal para exclusão da base de cálculo. A destinação de bolsa de estudos aos dependentes do segurado empregado não se encontra dentre as exclusões do conceito de salário de contribuição do art. 28, § 9º da Lei nº 8.212/1991. Até a edição da Lei nº 12.513, de 2011, que alterou o art. 28, § 9º, t da Lei nº 8.212/1991 trazendo expressa referência aos depen-

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dentes do segurado, não se aplicava qualquer exclusão da base de cálculo aos dependentes dos empregados, independente do tipo de curso ofertado. A legislação trabalhista não pode definir o conceito de remuneração para efeitos previdenciários, quando existe legislação específica que trata da matéria, definindo o seu conceito, o alcance dos valores fornecidos pela empresa, bem como especifica os limites para exclusão do conceito de salário de contribuição. Aplicação de penalida-de. Princípio da retroatividade benigna. Lei nº 8.212/1991, com a redação dada pela MP 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009. Portaria PGFN/RFB nº 14, de 04 de dezembro de 2009. Na afe-rição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, antes de tudo, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, por-tanto que sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. O cálculo da penalidade deve ser efetuado em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14, de 04 de dezembro de 2009, se mais benéfico para o sujeito passivo.” (CARF – REsp 10580.726771/2009-47 – (9202-005.507) – Relª Ana Paula Fernandes – DOU 21.12.2017)

13702 – DCTF – prazo para retificação – homologação

“Normas gerais de direito tributário. Ano-calendário. 2001. DCTF. Prazo para retificação. Homolo-gação. O prazo para o contribuinte retificar sua declaração de débitos e créditos federais coincide com o prazo homologatório atribuído à Fazenda Nacional e sendo tributo sujeito à homologação, assinala-se o prazo previsto no § 4º do art. 150 do CTN. DIPJ. Confissão de dívida. Súmula CARF nº 92. A DIPJ, desde a sua instituição, não constitui confissão de dívida, nem instrumento hábil e suficiente para a exigência de crédito tributário nela informado. Alegações genéricas. Aplicação do art. 17, do Decreto nº 70.235/1972. Matéria não impugnada. Em processo administrativo tributário, o poder instrutório da defesa compete, em princípio, ao sujeito passivo, o que lhe exige carrear aos autos provas capazes de amparar convenientemente seu direito, o que não ocorreu no presente caso. Inexistindo a insurgência específica com relação à fundamentação da decisão recorrida ou à motivação do próprio lançamento tributário, aplicável o art. 17, do Decreto nº 70.235/1972.” (CARF – RVol 13851.902173/2009-31 – (1302-002.487) – Rel. Luiz Tadeu Matosinho Machado – DOU 21.12.2017)

13703 – Decadência – declaração de rendimentos – multa por atraso na entrega

“Declaração de rendimentos. Multa por atraso na entrega. Decadência. O prazo decadencial pre-visto no art. 150, § 4º, do CTN (lançamento por homologação) é inadequado para os casos de multa por inobservância de obrigação acessória. Se a obrigação da contribuinte era de natureza instrumental, de fazer algo (no caso, apresentar a declaração de imposto de renda até determinada data), nem mesmo há espaço para tratar de homologação de algum pagamento feito pela contri-buinte. Nesse tipo de situação, nos termos do que foi decidido pelo STJ por ocasião do julgamento do Recurso Especial repetitivo nº 973.733/SC, o único regime jurídico que se afigura compatível para o cômputo do período decadencial é aquele previsto no art. 173, I, do CTN.” (CARF – REsp 19647.005223/2003-47 – (9101-003.235) – Rel. Rafael Vidal de Araujo – DOU 21.12.2017)

13704 – IPI – período de apuração – normas regimentais – obrigatoriedade de reprodução do conteúdo de decisão proferida pelo STJ

“Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI. Período de apuração. 01.01.1997 a 31.03.1997. Normas regimentais. Obrigatoriedade de reprodução do conteúdo de decisão proferida pelo STJ no rito do art. 543-C do CPC. Consoante art. 62-A do Regimento Interno do CARF, as decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelos arts. 543-B e 543-C da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no

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julgamento dos recursos no âmbito do CARF. Ressarcimento de IPI. Aquisições a não contribuintes do PIS e Cofins. Apreciação do pedido administrativo pelo Fisco. Escoamento do prazo de 360 dias previsto no art. 24 da Lei nº 11.457/2007. Resistência ilegítima configurada. Súmula nº 411/STJ. Correção monetária pela taxa Selic. Devida. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça – STJ, no julgamento do REsp 1.035.847/RS, sob o rito do art. 543-C do CPC, firmou entendimento no sen-tido de que o aproveitamento de créditos escriturais, em regra, não dá ensejo à correção monetária, exceto quanto obstaculizado injustamente o creditamento pela Fazenda. É devida a correção mo-netária ao creditamento do IPI quando há oposição ao seu aproveitamento decorrente de resistência ilegítima do Fisco (Súmula nº 411/STJ). Em tais casos, a correção monetária, pela taxa Selic, deve ser contada a partir do fim do prazo de que dispõe a administração para apreciar o pedido do con-tribuinte, que é de 360 dias (art. 24 da Lei nº 11.457/2007), nos termos do REsp 1.138.206/RS, sub-metido ao rito do art. 543-C do CPC e da Resolução nº 8/STJ.” (CARF – REsp 10680.021814/99-89 – (9303-005.412) – Rel. Demes Brito – DOU 20.12.2017)

13705 – IRPJ – ano-calendário – premissa – instituto jurídico-tributário

“Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica – IRPJ. Ano-calendário. 2009, 2010, 2011. Premissa. Instituto jurídico-tributário. O conceito do ágio é disciplinado pelo art. 20 do Decreto-Lei nº 1.598, de 27.12.1977 e os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10.12.1997, e trata-se de instituto jurídico-tri-butário, premissa para a sua análise sob uma perspectiva histórica e sistêmica. Aproveitamento do ágio. Investidora e investida. Eventos. Separação. União. São dois os eventos em que a investidora pode se aproveitar do ágio contabilizado: (1) a investidora deixa de ser a detentora do investimen-to, ao alienar a participação da pessoa jurídica adquirida com ágio; (2) a investidora e a investida transformam-se em uma só universalidade (em eventos de cisão, transformação e fusão). Despesas. Amortização. Agio. A amortização, a qual se submete o ágio para o seu aproveitamento, constitui--se em espécie de gênero despesa, e, naturalmente, encontra-se submetida ao regramento geral das despesas disposto no art. 299 do RIR/1999, submetendo-se aos testes de necessidade, usualidade e normalidade. Despesas. Fatos espontâneos. Não há norma de despesa que recepcione uma situação criada artificialmente. As despesas devem decorrer de operações necessárias, normais, usuais da pessoa jurídica. Não há como estender os atributos de normalidade, ou usualidade, para despesas derivadas de operações atípicas, não consentâneas com uma regular operação econômica e finan-ceira da pessoa jurídica. Condições para amortização do ágio. Testes de verificação. A cognição para verificar se a amortização do ágio passa por verificar, primeiro, se os fatos se amoldam à hipótese de incidência dos arts. 385 e 386 do RIR/1999, segundo, se requisitos de ordem formal es-tabelecidos encontram-se atendidos, como arquivamento da demonstração de rentabilidade futura do investimento e efetivo pagamento na aquisição, e, terceiro, se as condições do negócio aten-deram os padrões normais de mercado, com atuação de agentes independentes e reorganizações societárias com substância econômica. Amortização do ágio. Hipótese de incidência. Investidor e investida. Mesma universalidade. Os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10.12.1997 se dirigem às pessoas jurídicas (1) real sociedade investidora, aquela que efetivamente acreditou na mais valia do investimento, fez os estudos de rentabilidade futura, decidiu pela aquisição e desembolsou origina-riamente os recursos, e (2) pessoa jurídica investida. Deve-se consumar a confusão de patrimônio entre essas duas pessoas jurídicas, ou seja, o lucro e o investimento que lhe deu causa passam a se comunicar diretamente. Compartilhando do mesmo patrimônio a controladora e a controlada ou coligada, consolida-se cenário no qual os lucros auferidos pelo investimento passam a ser tributa-dos precisamente pela pessoa jurídica que adquiriu o ativo com mais valia (ágio). Enfim, toma-se o momento em que o contribuinte aproveita-se da amortização do ágio, mediante ajustes na escritu-ração contábil e no Lalur, para se aperfeiçoar o lançamento fiscal com base no regime de tributação aplicável ao caso e estabelecer o termo inicial para contagem do prazo decadencial. Assunto:

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA ADMINISTRATIVA �������������������������������������������������181

Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL. Ano-calendário. 2009, 2010, 2011. Despesa de amortização de ágio. Repercussão dos ajustes no lucro real para a base de cálculo da CSLL. Mo-mentos da existência do investimento. Aquisição. Desenvolvimento. Desfazimento. I – Construção empreendida pelo Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, encontra-se em consonância com a edição no ano anterior (1976) da Lei nº 6.404 (‘Lei das S/A’), no qual se buscou modernizar os conceitos de contabilização de investimentos decorrentes de participações societárias, inclusive com a adoção do método de equivalência patrimonial (MEP). Foram delineados três momentos cruciais para o investidor: nascimento, desenvolvimento e fim do investimento, assim tratados: (1º) o da aquisição do investimento, normatizando-se a figura do ‘ágio’, que consiste no sobrepreço pago na aquisição, (2º) o momento em que o investimento gera frutos para o investidor, ou seja, a empresa adquirida gera lucros; e (3º) e desfazimento do investimento. II – O segundo momento operacionalizou siste-ma no qual os resultados de investimentos em participações societárias pudessem ser devidamente refletidos no investidor, por meio do MEP, e ao mesmo tempo, não fossem objeto de bitributação. De um lado, os resultados da investida seriam refletidos no investidor, fazendo com que tanto na investida quando no investidor fossem apuradas receitas operacionais que, em tese, integrariam o lucro líquido e a base de cálculo tributável. De outro, determinou-se que o investidor poderia efe-tuar ajuste, no sentido de excluir da base de cálculo tributável os resultados positivos auferidos pela investida, viabilizando-se a neutralidade do sistema e a convergência para fins fiscais das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL. III – A mesma premissa deve ser considerada para o primeiro (aquisição) e terceiro (desfazimento) momentos. No desfazimento, o ágio deve ser considerado na apuração da base de cálculo do ganho de capital. Na aquisição, o sobrepreço contabilizado só poderá ser objeto da amortização se ocorridas as hipóteses de aproveitamento previstas expressamente na legislação. IV – Nítida e transparente a convergência entre as bases de cálculo do IRPJ e CSLL, no que concerne às operações decorrentes de participações societárias e os correspondentes resultados auferidos, em seus diferentes momentos: aquisição, desenvolvimento e desfazimento. Regras gerais de dedutibi-lidade. Ágio. Despesa. Ágio é despesa, submetida à amortização, submetida ao regramento geral das despesas disposto no art. 47, da Lei nº 4.506, de 1964, e com repercussão tanto na apuração do IRPJ quando da CSLL, conforme art. 13 da Lei nº 9.249, de 1995 e art. 57 da Lei nº 8.981, de 1995. Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário. Ano-calendário. 2009, 2010, 2011. Juros de mora sobre multa de ofício. Incidência. A multa de ofício, penalidade pecuniária, compõe a obrigação tributária principal, e, por conseguinte, integra o crédito tributário, que se encontra submetido à in-cidência de juros moratórios, após o seu vencimento, em consonância com os arts. 113, 139 e 161, do CTN, e 61, § 3º, da Lei nº 9.430/1996.” (CARF – REsp 16561.720133/2013-11 – (9101-003.145) – Relª Daniele Souto Rodrigues Amadio – DOU 15.12.2017)

13706 – ITR – exercício – área de interesse ecológico dentro de parque questionamento – ato específico do poder público – área de interesse ecológico – isenção – condições

“Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR. Exercício. 2005. APP. Área de interesse ecoló-gico dentro de parque questionamento. Ato específico do poder público. Área de interesse ecológi-co. Isenção. Condições. Para que as áreas de interesse ecológico para a proteção dos ecossistemas sejam isentas do ITR, é necessário que sejam assim declaradas por ato específico do órgão com-petente, federal ou estadual, e que estejam sujeitas a restrições de uso superiores àquelas previstas para as áreas de Reserva Legal e de Preservação Permanente.” (CARF – REsp 10730.720093/2007-86 – (9202-006.040) – Relª Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri – DOU 18.12.2017)

13707 – Simples – exclusão – atividade vedada – embargos de declaração

“Embargos de declaração. Simples. Exclusão. Atividade vedada. 1. Cinge-se a presente discussão acerca do enquadramento da atividade exercida pela Recorrente no inciso XIII do art. 9º da Lei nº 9.317/1996. 2. No caso em tela, se aplica o inciso II, b, do art. 106, do CTN, permitindo, portanto,

182 ����������������������������������������������� RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA ADMINISTRATIVA

que o disposto no art. 1º da Lei nº 10.034/2000 se aplique ao Ato Declaratório em questão, mesmo este sendo anterior à edição da mencionada Lei. 3. Embargos de Declaração opostos conhecidos e rejeitados, de sorte a manter o julgado no Recurso Voluntário.” (CARF – NInf 10830.009105/00-05 – (1401-000.203) – Rel. Maurício Pereira Faro – DOU 22.12.2017)

13708 – Simples – termo de indeferimento – Simples Nacional – microempresa ou empresa de pequeno porte – débitos com a Fazenda Pública Federal, Estadual ou Municipal

“Simples Nacional. Ano-calendário. 2013. Simples Nacional. Termo de indeferimento Débitos não poderá recolher os impostos e contribuições na forma do Simples Nacional a microempresa ou empresa de pequeno porte que possua débitos com a Fazenda Pública Federal, Estadual ou Muni-cipal.” (CARF – RVol 15504.722131/2013-71 – (1001-000.157) – Rel. Lizandro Rodrigues de Sousa – DOU 15.12.2017)

Seção Especial – Direito Tributário em Discussão

Conclusões do 42º Simpósio Nacional de Direito Tributário do Centro de Extensão Universitária – CEU e IICS – Instituto Internacional de Ciências Sociais

Tema: Tributação sobre a ReceitaData: 17 de novembro de 2017Coordenação Geral: Ives Gandra da Silva MartinsConferencista Inaugural: Humberto ÁvilaProfessor Honorário 2017: Everardo MacielAutores: Alice Kazumi Hatae, Angela Maria da Motta Pacheco, André Luiz Costa‑Corrêa, Bruno Fajerstajn, Carlos Henrique Abrão, Edison Carlos Fernandes, Elidie Palma Bifano, Douglas Yamashita, Fabiana Carsoni Alves F. da Silva, Fabio Cunha Dower, Fernando L. Lobo d’Eça, Gustavo Miguez de Mello, Hugo de Brito Machado, Hugo de Brito Machado Segundo, Ives Gandra da Silva Martins, José Eduardo Soares de Melo, Kiyoshi Harada, Luiz Carlos Marques Simões, Marcello Palma Bifano, Marilene Talarico Martins Rodrigues, Ramon Tomazela Santos, Ricardo Castagna, Ricardo Mariz de Oliveira, Schubert de Farias Machado, Raquel Cavalcanti Ramos Machado, Yoshiaki Ichihara, Thais Folgosi Françoso e Vittório Cassone.Comissão I:Presidente: Everardo MacielRelatores: Ana Regina Campos de Sica, Sérgio Magalhães Dias, Jimir Doniak Jr.Autores: Ives Gandra da Silva Martins, André Luiz Costa‑Corrêa, Gustavo Miguez de Mello, Luiz Carlos Marques Simões, Ricardo CastagnaConvidado especial: José Maria Arruda de AndradeComissão II:Presidente: Helenilson Cunha PontesRelator: Faissal Yunes JuniorAutores: Fabiana Carsoni Alves F. da Silva, Marilene Talarico Martins Rodrigues, Ramon Tomazela Santos, Ricardo Mariz de Oliveira, Thais Folgosi Françoso, Vittorio CassoneConvidado Especial: Eduardo FloresComissão III:Presidente: Rogério Gandra da Silva MartinsRelatores: Cristiano Conceição, Miguel Delgado Gutierrez, Vanessa Rosa SpinaAutores: Angela Maria da Motta Pacheco, Edison Fernandes, Elidie Palma Bifano, Jose Eduardo Soares de MeloConvidados Especiais: Fernando Facury Scaff e Rudah LuccasComissão de redação: Fátima Fernandes Rodrigues de Souza, Cláudia Fonseca Morato Pavan

QUESTÃO 1

A Constituição Federal de 1988 faz expressa referência à “receita” no art. 149, § 2º, I e III, a, e no art. 195, I, b e § 13. Existe, então, um conceito constitucional de receita ou o termo deve ser utilizado como um tipo aber-to? Qual seria esse conceito ou esse tipo? O conceito contábil de receita pode ser utilizado para fins tributários?

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respOsta cOmissãO 1

Primeira parte

O termo “receita” constante dos arts. 149, § 2º, I e III, a; 195, I, b, e § 13 não é indicativo de um “tipo aberto”, mas um conceito “abrangente”.

Segunda parte

O conceito de “receita”, contido nos dispositivos referidos, é o ingres-so de bens e direitos no patrimônio do contribuinte, de forma definitiva, sem condições e reservas, independente dos meios para a sua obtenção, e sem implicar qualquer dever contraposto, podendo ser adjetivado em função de diferentes objetivos.

Terceira parte

O conceito contábil tem natureza instrumental, sendo utilizado em um âmbito específico, subsidiando a interpretação do conceito jurídico sem sobre ele prevalecer.

Votação unânime: 23.

respOsta cOmissãO 2

Por questão de segurança jurídica, a CF estabelece alguns conceitos que delimitam e restringem o poder de tributar das pessoas políticas. No caso da tributação sobre a receita, o constituinte valeu-se do “conceito” de receita até então reconhecido pela doutrina e pela jurisprudência para deli-mitar o campo de atuação do legislador infraconstitucional, não permitindo que o referido conceito fosse alargado pelo legislador. Sendo assim, há um conceito constitucional de receita.

Entende-se por receita o ingresso que se integra no patrimônio, na condição de elemento novo e positivo, sem reservas ou condições, com caráter contraprestacional.

O conceito constitucional de receita não se confunde com conceito contábil. São conceitos distintos, e o conceito constitucional não é o con-tábil; dessa forma, não se deve partir do conceito contábil para a definição do conceito de receita.

O Dr. Vittorio Cassone entende que existe um conceito constitucional de receita, que, na hipótese, é fechado ou restrito.

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – SEÇÃO ESPECIAL – DIREITO TRIBUTÁRIO EM DISCUSSÃO �������������������������������������������������������������������185

respOsta cOmissãO 3

Existe um conceito constitucional de “receita”. Esse conceito não pode ser utilizado como tipo aberto. Representa ingresso no patrimônio do contribuinte de forma definitiva, sem restrições, decorrente da atividade da empresa. O conceito contábil de “receita” pode ser utilizado para fins tribu-tários, observados os princípios constitucionais.

Votação não unânime. (Aprovado por 21 de 27 dos presentes – res-salva quanto ao conceito constitucional de receita, que deve ser buscado no direito privado).

respOsta cOmissãO de redaçãO

Sim, há um conceito constitucional de receita aplicável aos arts. 149, § 2º, I e III, a; 195, I, b, e § 13 da CF, que representa ingresso positivo de bens e direitos, de forma definitiva, sem condições, reservas e contraparti-das. O conceito contábil de receita pode ser utilizado para fins tributários, desde que não conflite com o direito positivo.

QUESTÃO 2

Aplicam-se à tributação da receita a capacidade contributiva (art. 145, § 1º, da Constituição Federal) e a universalidade? Além disso, aplicam-se à recei-ta a disponibilidade jurídica e a disponibilidade econômica, nos mesmos termos do imposto sobre a renda? Assim, a tributação da receita deveria seguir o mesmo modelo para a tributação sobre a renda, no que diz respeito à inadimplência (créditos de liquidação duvidosa)?

respOsta cOmissãO 1

Primeira parte

O princípio da capacidade contributiva é aplicável à tributação da receita. Já a universalidade não é aplicável, por ser constitucionalmente res-trita ao imposto sobre a renda.

Segunda parte

A disponibilidade econômica e a jurídica, nos termos do imposto so-bre a renda, não são aplicáveis à tributação sobre a receita.

Terceira parte

A tributação da receita em relação à inadimplência deve seguir o mesmo modelo de tributação sobre a renda, ou seja, não deve tributar a

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receita não incorporada de forma definitiva ao patrimônio do contribuinte, vale dizer, a tributação deveria adotar o regime de caixa.

Votação unânime: 23.

respOsta cOmissãO 2

Aplica-se a capacidade contributiva à tributação da receita. Em rela-ção da universalidade, por maioria, não se aplica.

Vittorio Cassone entende que, conforme o caso, pode ser aplicada da universalidade.

Aplica-se a disponibilidade jurídica e econômica, nos termos da legis-lação do IR, esclarecendo-se que não se trata de disponibilidade financeira.

A maioria entende que, embora não aplicável a legislação do IR neste caso, para tributação sobre a receita, no que se refere à inadimplência, ocor-re o esvaziamento do conteúdo econômico do fato gerador.

Fernando entende que não há esvaziamento do conteúdo econômico do fato gerador.

respOsta cOmissãO 3

Embora o art. 145, § 1º, refira-se a “impostos”, o princípio da ca-pacidade contributiva deve ser aplicado também às contribuições sociais incidentes sobre a “receita”. Quanto a princípio da universalidade, deve ser aplicado desde que observado o aspecto material de cada tributo (receita e renda) e que não haja vedação constitucional à tributação. Aplicam-se à re-ceita a disponibilidade jurídica e a disponibilidade econômica, nos termos da legislação do imposto sobre a renda. A tributação da receita, no caso de inadimplência, deve desconsiderar os valores não recebidos, observada a resposta à próxima questão.

Votação não unânime (Aprovado por 20 de 23 presentes – ressalva quanto à parte final da última questão, onde foi sugerida a seguinte redação: “No caso de inadimplência (créditos de liquidação duvidosa) ocorrida após o registro da receita correspondente, não há como excluir o seu montante à tributação, por não ofender o princípio da capacidade contributiva, visto que ela corresponde à frustração na liquidação de crédito, e não à geração de receita).

respOsta cOmissãO de redaçãO

Sim, aplicam-se à tributação da receita a capacidade contributiva (art. 145, § 1º, da Constituição Federal) e a disponibilidade jurídica e eco-

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nômica. No que diz respeito à inadimplência (créditos de liquidação duvi-dosa), a tributação da receita deve seguir o mesmo modelo adotado para a tributação sobre a renda. A universalidade não se aplica à tributação da receita. (Por maioria).

QUESTÃO 3

A receita deve ser reconhecida para efeito de tributação de acordo com as normas contábeis (regime de competência), conforme o efetivo recebimento (regime de caixa) ou no momento da emissão da nota fiscal?

respOsta cOmissãO 1

A tributação da receita deve ser realizada pelo regime de caixa para que a verdade material da imposição realize-se em sua amplitude absoluta, ou seja, com o efetivo ingresso da receita correspondente.

respOsta cOmissãO 2

Versão 1 – 7 votos

As receitas devem ser reconhecidas para efeito de tributação quando incorporadas em caráter definitivo e incondicional ao patrimônio do contri-buinte, mediante a adoção do regime legal, que pode ser de caixa ou de com-petência, sempre tomando por premissa o conceito constitucional de receita.

Versão 2 – 18 votos

As receitas devem ser reconhecidas para efeito de tributação quando incorporadas em caráter definitivo e incondicional ao patrimônio do con-tribuinte, portanto a receita não deve ser reconhecida com base nas normas contábeis, ou no respectivo recebimento, embora a lei possa diferir para o momento do recebimento a receita efetivamente auferida.

A nota fiscal não necessariamente determina o momento da ocorrên-cia do fato gerador.

respOsta cOmissãO 3

Para fins de tributação, a “receita” deve ser reconhecida pelo regime de competência. A nota fiscal não deve ser considerada para reconhecimen-to da “receita”.

Votação não unânime (Aprovado por 26 de 27 participantes – ressal-va quanto ao regime de competência – entende que deve ser pelo regime de caixa – 1 de 27).

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respOsta cOmissãO de redaçãO

Para efeito de tributação, a receita deve ser reconhecida no momento do efetivo ingresso no patrimônio do contribuinte, pelo regime de caixa. (Por maioria). Por unanimidade, entendeu-se que o momento da emissão da nota fiscal não é fator determinante para reconhecimento da receita.

QUESTÃO 4

Como deve ser entendida a expressão “receitas da atividade ou objeto prin-cipal da pessoa jurídica”, do art. 12, IV, do Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, com a redação dada pela Lei nº 12.973, de 2014? A previsão da atividade econômica no objeto social da pessoa jurídica (cláusula do contrato social) é essencial para configurar o campo material dos tributos sobre a receita?

respOsta cOmissãO 1

Primeira parte

A expressão “receitas da atividade ou objeto principal da pessoa jurí-dica” deve ser compreendida como aquelas receitas decorrentes do exercí-cio das atividades operacionais da pessoa jurídica.

Parte segunda

Não. A previsão no contrato não é determinante.

Votação unânime: 23.

respOsta cOmissãO 2

As “receitas da atividade ou objeto principal da pessoa jurídica” re-feridas no art. 12, IV, são aquelas que, não sendo receitas de vendas, pres-tação de serviços ou operação de conta alheia, são originadas de outras atividades que compõem o objeto da pessoa jurídica, em caráter principal ou acessório.

A previsão da atividade econômica da empresa no objeto social, constante dos atos constitutivos, é a forma legal regular para comprovar quais sejam os ingressos que compõem a receita bruta, mas, se tal cláusula estiver incompleta ou desatualizada, a realidade empresarial prevalece so-bre o ato constitutivo e recomenda-se que este seja alterado.

respOsta cOmissãO 3

A expressão “receitas da atividade ou objeto principal da pessoa ju-rídica” refere-se à receita decorrente do exercício de suas atividades prin-

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cipais. Atividade principal é aquela desenvolvida de maneira profissional, habitual e organizada (art. 966 do Código Civil). Não é essencial que essa atividade esteja prevista no objeto social da pessoa jurídica para configurar o campo material dos tributos sobre a receita.

Votação unânime (27 participantes).

respOsta cOmissãO de redaçãO

A expressão “receitas da atividade ou objeto principal da pessoa jurí-dica”, adotada no art. 12, IV, do Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, com a re-dação dada pela Lei nº 12.973, de 2014, engloba as demais receitas decor-rentes da efetiva atividade empresarial do contribuinte, excluídas aquelas já arroladas nos incisos I a III do referido art. 12. A previsão da atividade eco-nômica no objeto social da pessoa jurídica (cláusula do contrato social) não é essencial para configurar o campo material dos tributos sobre a receita.

QUESTÃO 5

É possível que tributos que incidam sobre receita possuam conceitos (cam-pos materiais) distintos? Se sim, qual deveria ser o elemento de diferencia-ção a ser aplicado pelo legislador tributário para a razoável distinção dos conceitos de receita?

respOsta cOmissãO 1

Sim, podem ter campos materiais distintos, desde que estejam conti-dos na regra de competência constitucional.

O elemento de diferenciação a ser aplicado pelo legislador é a natu-reza jurídica do tributo.

Votação unânime: 23.

respOsta cOmissãO 2

Sim, é possível que tributos que incidam sobre a receita tenham fatos geradores distintos, sempre levando em consideração a materialidade cons-titucional do tributo. Dentro do limite constitucional do aspecto material, o legislador pode estabelecer critérios distintos para as respectivas bases de cálculo.

A liberdade do legislador está limitada pelo conceito constitucional de receita, de acordo com a natureza do respectivo tributo.

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respOsta cOmissãO 3

Não. O conceito de receita é único.

Votação unânime (27 participantes).

respOsta cOmissãO de redaçãO

Sim, é possível que tributos que incidam sobre a receita tenham fatos geradores distintos. O critério de diferenciação a ser aplicado pelo legisla-dor deve, necessariamente, observar a materialidade do fato imponível. (Por maioria).

QUESTÃO 6

Os créditos de subvenção pública configuram receitas dos contribuintes? E os créditos fiscais presumidos (IPI, ICMS, PIS e Cofins)?

respOsta cOmissãO 1

Primeira parte

Créditos de subvenção pública de investimento ou custeio não cons-tituem receitas tributáveis porque representam benefícios fiscais, sendo, portanto, contraditório um ente estatal conceder a subvenção e subsequen-temente tributá-la.

Essa contradição amplifica-se quando se trata de subvenção concedi-da por outro ente tributante, hipótese na qual haveria violação do pacto fe-derativo e ineficácia, no caso do ICMS, da concessão de benefício fiscal em desacordo com a previsão do art. 155, § 2º, XII, g, da Constituição Federal.

Segunda parte

Créditos fiscais presumidos não configuram receita, pois também se configuram benefício fiscal.

Votação unânime: 23.

respOsta cOmissãO 2

Tanto os créditos de subvenções públicas quanto os créditos fiscais presumidos não se enquadram no conceito constitucional de receita.

Ainda que as subvenções representem encargos aos contribuintes, não há o caráter contraprestacional, exigido para a caracterização de receita.

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Vittorio Cassone entende que os créditos presumidos são receitas su-jeitas a tributação.

respOsta cOmissãO 3

Os créditos de subvenção pública, embora reconhecidos como re-ceita dos contribuintes, não são e não devem ser tributáveis. Os créditos fiscais presumidos de IPI, ICMS, PIS e Cofins não constituem receita, sendo redução de custo, e não devem ser tributados.

Votação unânime (27 participantes).

respOsta cOmissãO de redaçãO

Subvenção pública tem natureza jurídica de auxílio, permitindo ao Estado, por exemplo, fomentar determinada atividade privada. Por conse-guinte, não detém natureza de receita tributável. Não é, portanto, legítimo que o Estado pretenda tributar a subvenção por ele próprio concedida. Daí por que os créditos de subvenção pública não integram a base de cálculo das exações que têm como fato gerador a receita.

De igual modo, os créditos fiscais presumidos têm natureza jurídica de redução do custo dos tributos, sendo, portanto, ilógica a sua tributação.

a2017-059 CONCLUSOES DO 42º SNDT

Seção Especial – Estudos Jurídicos

Dinâmica da Tributação e a Urgência da Implementação de Novos Padrões de Política Fiscal ao Atual Cenário Brasileiro

ISABEL DELfINO SILVA MASSAIA Advogada Tributarista em São Paulo, Mestranda em Direito Tributário pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, Especialista em Direito Tributário pela USP, Membro Efetivo da Comissão Especial do Contencioso Administrativo Tributário da OAB/SP, Membro Efetivo da Comissão Especial de Direito Tributário da OAB/SP.

I – INTRODUÇÃO: DINÂMICA DA TRIBUTAÇÃO E A POLÍTICA FISCAL

Não há Estado sem a fonte de recursos mais preciosa que é a oriunda da arrecadação de tributo1. Não há o cumprimento da função alocativa e distributiva do Estado (financiamento das despesas públicas) sem o debate do nosso sistema de arrecadação tributária e o destino das receitas arrecada-das. Isso porque não se pode pensar em tributação como uma pasta fechada e sem reflexos; antes, porém, é algo dinâmico e que causa impactos, uma vez que gera receita para promover as atividades essências do Estado De-mocrático e Social de Direito de 1988.

Em outras palavras:

Um Estado não tem condições de sobreviver se não arrecadar impostos. Há um acordo ideológico de que a arrecadação tributária é necessária, mesmo para aqueles que discordam com veemência se todas as funções exercidas pelo Estado são realmente necessárias ou, ainda, da dimensão de Estado que se necessita.2

A Tributação é algo que está presente na vida como um todo e não se subsume somente à lei tributária, mas depende da história, das políticas, das formas de governo, das classes sociais e de seus anseios, sendo, pois, elemento fundamental para o desenvolvimento de um povo e de um país. É, antes, algo social, político e econômico. Imposto é o que pagamos por uma sociedade civilizada3.

1 “Sem olvidar, evidentemente, da possibilidade de atuação do Estado como agente de direito provado e da obtenção de receitas via endividamento.” (PISCITELLI, Tathiane. Direito financeiro. 6. ed. São Paulo: Método, 2017. p. 29)

2 AVI-YONAH, Reuven S. Os três objetivos da tributação. Trad. Luís Flávio Neto. Direito tributário atual, n. 22, p. 9.

3 Oliver Wendell Holmes. In: AVI-YONAH, Reuven S. Os três objetivos da tributação. Trad. Luís Flávio Neto. Direito tributário atual, n. 22, p. 11.

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Diante disso, o sistema tributário não está dissociado da destinação da receita, pois tudo está intrinsicamente ligado e, como um círculo, a recei-ta e a despesa formam a atividade financeira do Estado. Portanto, não há de se pensar o direito tributário isoladamente, nem, tampouco, que termine no documento de arrecadação de receitas, mas, sim, é fonte de recursos para promoção dos gastos públicos.

Nesse passo, imprescindível refletir sobre a análise de novos modelos possíveis de tributação, pensando no nosso Estado, na nossa economia, nas nossas desigualdades culturais, regionais, educacionais, no nosso tamanho geográfico e, sobretudo, no nosso gasto público elevado e ineficiente. Essa é a dinâmica da tributação, que não se restringe à análise de normas consti-tucionais ou do Código Tributário Nacional ou, ainda e somente, de leis es-parsas acerca da tributação. Muito pelo contrário: há a simbiose de matérias e elementos essenciais (política, economia, finanças públicas), que devem mesclar-se à análise do direito tributário.

Assim sendo, o sistema tributário deve assegurar a existência e a con-tinuidade do Estado4 com a necessidade de realização de justiça distributi-va. Porém, será que dentro da nossa realidade social e econômica e do ta-manho do nosso Estado temos a melhor eficiência arrecadatória? O sistema tributário é eficiente e cumpre seu papel? Certamente, não.

No atual cenário político e econômico, há perda de arrecadação, e, assim, o governo não tem mais dinheiro para cobrir o gasto público que só cresce e só aumentará (sobretudo por conta da previdência social e do descaso do governo de aprovar a reforma previdenciária); logo, a tendên-cia é o agravamento das contas públicas, que já está em, pelo menos, 139 bilhões de déficit, gerando o avanço assustador da dívida que, em outubro deste ano, chegou ao patamar de R$ 4,84 trilhões5, equivalente a 74,38% do PIB6 – o que acarretará maior rebaixamento da nota brasileira no cenário mundial e a consequente insolvência estatal.

E como tentar organizar esse cenário? A equação não é difícil de se compreender: há a necessidade de se promover verdadeiro ajuste fiscal que passa, invariavelmente, por três itens: (i) diminuir gastos – controle de despesas discricionárias uma vez que as obrigatórias não podemos cortar;

4 Tentando-se, por óbvio, alcançar o quanto descrito no art. 3º da Constituição Federal, que elenca os objetivos da República Federativa do Brasil.

5 O Estado de São Paulo: “Dívida pública, risco crescente” (01.12.2017). Disponível em: <http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,divida-publica-risco-crescente,70002103563>.

6 A dívida pública brasileira cresce quase 3% a cada ano e pode alcançar 100% do PIB em 2021. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/audios/2017/10/instituicao-fiscal-independente-preve-crescimento- -economico-e-elevacao-da-divida-publica>. Acesso em: 12 out. 2017.

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(ii) aumento de arrecadação (mas, para isso, a economia precisa estar mais equalizada), aumento de receitas extraordinárias (Refis7); (iii) aumento de receita com o corte total ou parcial das desonerações fiscais concedidas a setores específicos. Esse seria o caminho razoável para o ajuste fiscal.

II – POLÍTICA FISCAL AO ATUAL CENÁRIO BRASILEIRO

Especificamente, no item (i), o gasto público há de ser mais eficiente. As despesas com a previdência social já atingiram R$ 450 bilhões em 2017, o que representa 40,7% da receita total da União8, ou seja, o gasto público com INSS ocupa mais de 2/3 da receita total arrecadada pela União e quase o dobro das despesas com pessoal e encargos sociais de R$ 228,9 bilhões.

Esse número é insustentável, e a tendência, com o retardo à reforma da previdência, será o agravamento das contas públicas. Outra cifra alar-mante é o gasto com as aposentadorias dos militares reformados. De acor-do com o Aspectos Fiscais da Seguridade Social no Brasil, publicado pelo Tesouro Nacional em 29.11.2017, o Estado gasta R$ 127.692,40, por ano, com cada militar reformado, e R$ 99.217,90 com cada pensionista ligado à carreira militar, contra R$ 3,7 mil para a saúde pública por brasileiro e R$ 12,5 mil com cada estudante do ensino básico9, ou seja: a despesa com cada militar reformado é trinta vezes maior que o gasto com saúde para cada brasileiro e dez vezes mais que para a educação do ensino básico para cada aluno:

7 Arrecadou 5,1 bilhões em outubro contra 46,3 bilhões em outubro de 2016 do programa de repatriação de capitais.

8 O Estado de São Paulo: “Cresce o déficit da previdência urbana” (01.12.2017). Disponível em: <http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,cresce-o-deficit-da-previdenciaurbana,70002103664>.

9 DANTAS, Fernando. Privilégio adquirido. O Estado de São Paulo de 01.12.2017.

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Fonte: Tesouro Nacional. Relatório da Previdência Social, novembro de 2017.10

O que vale dizer: a despesa previdenciária com militares representa um dispêndio anual de R$ 34 bilhões de reais contra o gasto de R$ 15 bi-lhões de reais com o Bolsa Família, programa social extremante relevante para diminuir o desajuste social e gerar “certa” circulação de capital na classe extremanente pobre.

Será que esse gasto é eficiente? Privilegiar direito adquirido em carrei-ra militar a despeito do incentivo à educação e fomento à saúde pública é a melhor alternativa para reduzir desigualdade e promover um país mais jus-to? Estamos cumprindo o preceito do art. 3º, I e III, da CF? Certamente, não. Há a necessidade de rever essa regra, que, no atual cenário, não se justifica.

No comparativo intrenacional, o estudo conclui que o Brasil gasta muito com previdência – mais do que a Alemanha e o Japão:

10 Disponível em: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/0/Relat%C3%B3rio+da+Previd%C3%AAncia+editado/99361f87-d1e0-4da5-8627-662fb86c0c9b>. Acesso em: 2 dez. 2017.

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Esse gasto precisa ser revisto por ser ineficiente e injusto.

Já com relação ao item (ii), aumento da receita, algumas medidas poderiam ser tomadas para que houvesse maior arrecadação dentro da es-trutura legislativa existente e sem aumentar impostos, por exemplo: a tribu-tação dos novos negócios e fontes de riquezas proporcionadas pelo avanço de novas tecnologias; a tributação de criptomoedas; a tributação de grandes fortunas, a diminuição da tributação sobre o consumo e o aumento da tri-butação da propriedade com mais efetividade, isto é: a elevação da alíquota do ITCMD com características mais progressivas e de acordo com o grau de parentesco e com a capacidade contributiva do herdeiro revelada pelo patrimônio existente. O produto de arrecadação do ITCMD poderia ser ex-clusivamente direcionado para a educação da população, de modo a tentar diminuir a desigualdade no Brasil.

Outro item necessário para o ajuste fiscal é o cancelamento das re-núncias fiscais concedidas a determinados setores da economia, nas quais o Estado deixa de exercer na plenitude o dever de arrecadar tributos, renun-ciando a bilhões por ano. O corte dessa política justifica-se pelo fato de que, quando o Estado concedeu a redução da carga tributária e a consequente renúncia à arrecadação, buscava-se fomentar determinado setor econômico e tentar, com isso, o retorno social na geração de mais empregos. O que não ocorreu. Assim, hoje, diante do cenário catastrófico, não se justifica mais em sua plenitude, sendo mais favorável, em nome da tentativa de equali-zar as contas públicas, o corte de benefícios fiscais e subsídios financeiros concedidos.

Ressalta-se que, de acordo com o estudo do Banco Mundial11, o gasto do governo com a desoneração fiscal é de 4,5% do PIB e não há evidências de que os programas existentes tenham sido eficientes em seu objetivo de impulsionar a produtividade e a geração sustentável de empregos.

As principais renúncias fiscais estão nos seguintes seguimentos: Zona Franca de Manaus (que consome 0,38% do PIB em renúncias fiscais12); veículos – Programa Inovar – Auto; desoneração de folha de pagamentos; entidades filantrópicas; exportadores do setor rural; microempreendedor in-

11 Um Ajuste Justo – Análise da Eficiência e Equidade do Gasto Público no Brasil. Publicado em 21.11.2017. Disponível em: <http://www.worldbank.org/pt/country/brazil/publication/brazil-expenditure-review-report>. Acesso em: 2 dez. 2017, p. 140.

12 “É um programa que deveria ser provisório, sustentável apenas para induzir o desenvolvimento regional. Mas já tem 50 anos, sua extinção vai sendo sucessivamente prorrogada e sua indústria exporta uma irrelevância, porque montada em bases artificiais e altos custos logísticos não consegue ser competitiva. Não menos importante, a Zona Franca não consegue emancipar a Amazônia.” (MING, Celso. Usina de falácias. O Estado de São Paulo, 23.11.2017)

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dividual e microempresas e empresas de pequeno porte que optam pelo Simples Nacional, este último sozinho representa metade do gasto tributá-rio: 1,2% do PIB.

Além disso, as renúncias fiscais acarretam reflexos no gasto com a previdência social; nesse sentido, de acordo com o Tesouro Nacional, as renúncias atingiram de 57,7 bilhões em 2016:

Assim sendo, será que as políticas implementadas de desoneração fis-cal ainda se justificam se fizermos uma análise de resultados entre eficiência e efetividade delas?

CONCLUSÃO

Com tudo isso, percebe-se a urgência da implementação de novos padrões de política fiscal, visando a tentar colocar as contas públicas em situação sustentável, uma vez que, sem a conscientização de que o Brasil gasta mais do que pode e gasta mal, bem como que programas governamen-tais não têm atingido de forma eficaz os seus objetivos e ainda beneficiam mais os ricos que os pobres, aliado ao fato de que a arrecadação tem seu limite por conta do desaquecimento da economia.

Se nada for feito, o resultado será atingirmos, de forma mais rápida, a projeção do Instituição Fiscal Independente, que, em 2021, poderíamos chegar a um patamar de dívida pública de 100% PIB, decretando-se, assim, a insolvência estatal, forçando os agentes econômicos a exigir juros cada vez mais altos e prazos menores para financiar o governo, deixando, cada

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vez mais distante e no plano meramente ideal, os objetivos descritos no art. 3º da Constituição Federal. O ajuste fiscal precisa ser feito!

REFERÊNCIASAVI-YONAH, Reuven S. Os três objetivos da tributação. Trad. Luís Flávio Neto. Direito tributário atual, n. 22, p. 9.

DANTAS, Fernando. Privilégio adquirido. O Estado de São Paulo de 01.12.2017.

MING, Celso. Usina de falácias. O Estado de São Paulo, 23.11.2017.

PISCITELLI, Tathiane. Direito financeiro. 6. ed. São Paulo: Método, 2017.

HOLMES, Oliver Wendell. In: AVI-YONAH, Reuven S. Os três objetivos da tributação. Trad. Luís Flávio Neto. Direito tributário atual, n. 22, p. 11.

Clipping Jurídico

Aprovada isenção de PIS/Pasep e Cofins sobre comercialização e importação de fralda geriátricaA Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa aprovou o Projeto de Lei nº 7.393/2017, da Deputada Geovania de Sá (PSDB-SC), que reduz a zero as alíquotas de PIS/Pasep e da Cofins incidentes na importação e comercialização de fraldas geriá-tricas. Atualmente, a Lei nº 10.925/2004 estabelece alíquota zero para a importação de vários tipos de produtos, como alimentos e papel higiênico. De acordo com o relator, Deputado Gilberto Nascimento (PSC-SP), a população idosa necessita de políticas públi-cas efetivas. A proposta cumpre plenamente o direito ao acesso a materiais de extrema necessidade. A Deputada Raquel Muniz (PSD-MG), que é geriatra, destacou que hoje em dia muitas famílias precisam entrar na Justiça para garantir o recebimento de fraldas geriátricas. Tramitação: A proposta tramita em caráter conclusivo e será analisada ainda pelas comissões de Finanças e Tributação (inclusive quanto ao mérito); e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Nº do Processo: 7293/2017. (Fonte: Câmara dos Deputados Federais)

Falecimento de titular de firma individual causa a extinção da execução fiscalO falecimento da parte executada antes do ajuizamento da execução fiscal gera a sua extinção. Com essa fundamentação, a 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Re-gião confirmou sentença que julgou procedentes os embargos à execução, extinguindo a execução fiscal, em virtude da morte do titular da firma individual. Ao analisar o caso, a relatora, Desembargadora Federal Ângela Catão, citou jurisprudência do Superior Tribu-nal de Justiça (STJ) no sentido de que, constatado que o falecimento da parte executada ocorrera antes do ajuizamento da execução fiscal, não é possível a regularização do polo passivo da ação mediante habilitação do espólio, de herdeiros ou do cônjuge meeiro. Nesse sentido, explicou a Magistrada, o falecimento do titular da firma, como no caso em apreço, causa a extinção do processo, em razão da ilegitimidade da parte executada. Inexiste distinção para efeito de responsabilidade tributária entre o empresário individual e a pessoa jurídica, uma vez que a empresa individual é constituída pela pessoa natural que a criou, afirmou. A relatora finalizou o voto citando precedentes do próprio TRF1: A empresa individual é constituída pela pessoa natural que a criou, não havendo dis-tinção entre o patrimônio da pessoa física e o da pessoa jurídica. Tratando-se de firma indivi dual, não há distinção entre a pessoa física e a jurídica e a responsabilidade do empresário é ilimitada, confundindo-se com a da empresa. A decisão foi unânime. Nº do Processo: 0049221-44.2014.4.01.9199. (Fonte: Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

Cancelado impedimento judicial sobre bem de alienante que não foi citado na exe-cução fiscalPor unanimidade, a 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região julgou impro-cedente pedido da Fazenda Nacional requerendo o restabelecimento de impedimento judicial sobre veículo para garantir o pagamento de execução fiscal. A decisão do tribu-nal confirmou sentença que determinou o cancelamento do impedimento sobre o bem ao fundamento de que o automóvel nunca foi propriedade do executado. Na decisão, a relatora, Desembargadora Federal Ângela Catão, destacou que a devedora principal citada pela Fazenda Nacional na execução fiscal nunca fez parte da cadeia dominial do veículo. Segundo ela, o automóvel em questão era propriedade de sócio da devedora principal, que, à época da constrição junto ao órgão de trânsito, já o havia transferido ao

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embargante, razão pela qual, não tendo o alienante sequer sido citado, não se vislum-bra qualquer ato passível de comprovar a má-fé do comprador ou do vendedor, o que afasta a presunção de fraude à execução. A Magistrada citou entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) quanto à aplicação da atual redação do art. 185 do Código Tri-butário Nacional (CTN): a alienação efetivada antes da entrada em vigor da LC 118/2005 presumia-se fraude à execução se o negócio jurídico sucedesse a citação válida do de-vedor; posteriormente a 09.06.2005, consideram-se fraudulentas a alienação efetuada pelo devedor fiscal após a inscrição do crédito tributário na dívida ativa. Nº do Processo: 0002830-78.2004.4.01.3800. (Fonte: Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

Apenas a indenização por morte do segurado está alcançada pela regra de isenção do imposto de rendaA isenção de cobrança de imposto de renda não se estende à indenização recebida de companhia seguradora por invalidez permanente. Com essa fundamentação, a 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região negou provimento a recurso da parte autora objetivando impedir a cobrança do imposto sobre indenização por invalidez perma-nente recebida de companhia seguradora. Em suas alegações recursais, o requerente sustenta que a verba em referência é isenta do imposto de renda, nos termos do art. 6º, XIII, da Lei nº 7.713/1988. Alega não haver razão para distingui-la dos seguros recebidos de entidade de previdência privada decorrentes de morte ou invalidez permanente do participante, cuja isenção está expressa no inciso VII do citado artigo da mesma lei. Os argumentos foram rejeitados pelo relator, Desembargador Federal Marcos Augusto de Sousa, que, no voto, esclareceu que apenas o capital pago por morte do segurado está alcançado pela regra isentiva, não havendo margem para estender-se o benefício fiscal para a indenização recebida de companhia seguradora por invalidez permanente. O Magistrado também ressaltou que a legislação tributária que disponha sobre outorga de isenção de imposto de renda deve ser interpretada de modo literal, razão pela qual não cabe ao intérprete incluir sob o manto do benefício verba não prevista expressamente na norma de isenção. O relator concluiu seu voto afirmando que, se fosse intenção do legislador isentar do imposto de renda também a indenização por invalidez permanente recebida de companhia seguradora, ali o teria feito, mas a norma isentiva ali insculpida restringiu-se aos seguros recebidos de entidades de previdência privada. O que diz a lei: Art. 6º, XIII, da Lei nº 7.713/1988: Ficam isentos do imposto de renda os seguintes ren-dimentos percebidos por pessoas físicas: [...] capital das apólices de seguro ou pecúlio pago por morte do segurado, bem como os prêmios de seguro restituídos em qualquer caso, inclusive no de renúncia do contrato. Nº do Processo: 1516-21.2009.4.01.3801. (Fonte: Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

Crédito trabalhista pode ser incluído em recuperação judicial de empresaA Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) acolheu recurso de uma empresa de vigilância para habilitar no quadro geral de credores um crédito trabalhista reconhe-cido pela Justiça do Trabalho após o ajuizamento da recuperação judicial. A relatora do recurso, Ministra Nancy Andrighi, citando o art. 49 da Lei nº 11.101/2005, afirmou que o crédito trabalhista existe desde o momento da prestação do serviço e independe do trânsito em julgado da reclamação trabalhista. O crédito (ainda que inexigível e ilíquido) não depende de provimento judicial que o declare e muito menos do transcurso de seu trânsito em julgado, para efeito de sua sujeição à recuperação judicial, disse. Créditos

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existentes: A empresa apresentou recurso ao STJ pleiteando a reforma da decisão de segundo grau. O pedido questionava o momento em que se considera existente o cré-dito trabalhista para efeito de sua habilitação em processo de recuperação judicial. Em primeira e segunda instância, foi rejeitada a possibilidade de o trabalhador integrar o quadro geral de credores, por se entender que o crédito postulado depois do ajuizamen-to da recuperação não está sujeito aos seus efeitos, mesmo que o contrato tenha sido firmado antes da recuperação. Para o tribunal de origem, o crédito trabalhista surge com a sentença judicial na reclamatória trabalhista. Não está em discussão o contrato indivi-dual de trabalho, mas o fato de que as obrigações resultantes da contratação devem ser solvidas com o ingresso da reclamatória trabalhista, que declarará ou não o crédito, des-tacou o acórdão de segunda instância. A Ministra Nancy Andrighi, no entanto, ressaltou que o entendimento do tribunal de origem, ao considerar que o crédito não se constitui com a prestação de serviço, contrariou a jurisprudência do STJ, razão pela qual deve ser reformado. Esta notícia refere-se ao(s) processo(s): REsp 1686168. (Fonte: Superior Tribunal de Justiça)

Incide PIS e Cofins sobre faturamento decorrente da locação e venda de bens imó-veis por imobiliáriaReceita derivada da locação de bens imóveis próprios ou de terceiros está sujeita à inci-dência da contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e para a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Com esse entendimento, a 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) negou provimento à apelação de uma imobiliária que objetivava isentar-se do recolhimento do PIS e da Cofins incidentes sobre esse tipo de receita. O relator do caso, Juiz Federal Convocado Clodomir Sebastião Reis, esclareceu que o fato de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter reputado inconstitucional o alargamento do conceito de faturamento estabelecido pela Lei nº 9.718/1998 não induz a não integração dos aluguéis de imóveis próprios na base de cálculo da contribuição para o PIS e a Cofins. O Magistrado salientou ainda que o STF já fixou o entendimento de que a locação de bens imóveis, quer próprios, quer de terceiros, está sujeita à incidência dessas contribuições. Nesta Corte, a matéria também não merece maiores digressões ou discussões jurídicas, porquanto já está superada: valores oriundos da venda e locação de bens imóveis compõem o faturamento da empresa, dentro do universo das receitas provenientes da venda de mercadorias e/ou serviços, afirmou o relator. O Colegiado, acompanhando o voto do relator, negou provimento à apelação da empresa. Processo nº: 0038353-49.2007.4.01.3800. (Fonte: Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

Empresa com mais de 40% de empregados no Bolsa Família poderá ter redução tributáriaTramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 7.563/2017, da Deputada Dâmina Pereira (PSL-MG), que institui regime especial de tributação para empresa que tenha, pelo menos, 40% dos empregados de família beneficiária do Bolsa Família. As empresas terão redução em quatro tributos (IRPJ, CSLL, PIS e Cofins), de acordo com o percentual de trabalhadores no programa. Para locais com 40% de beneficiários, a redução será de 40%. O pagamento desses tributos poderá ser dispensado em caso de contratação exclusiva de beneficiários. Para cálculo do percentual, não serão considerados contratos de trabalho de experiência, com duração total inferior a 30 dias ou que tenham sido rescindidos antes do dia 15 do respectivo mês. Micro e pequenas empresas, com regime

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específico definido pela Lei Complementar nº 123/2006, não poderão ser beneficiadas pela proposta. O texto condiciona a redução tributária à regularidade fiscal da empresa, à manutenção de documentos para comprovar o vínculo com o Bolsa Família e a progra-ma de treinamento e capacitação de mão de obra. Pela proposta, o treinamento poderá ser feito pelas entidades do As entidades são: Senar, Senac, Sesc, Sescoop, Senai, Sesi, Sest, Senat, Diretoria de Portos e Costas do Ministério da Marinha (DPC), Incra, Sebrae e Fundo Aeroviário, vinculado ao Ministério da Aeronáutica, Sistema S. Para Pereira, o texto ajuda a reduzir a tributação das empresas para reaquecer o mercado de trabalho. Ela também afirmou que a medida contribuirá para reduzir gastos com o Bolsa Família. Ao focar em trabalhadores incluídos no programa, o projeto busca contribuir para que as famílias carentes tenham mais condições de conseguir um trabalho, disse. Benefício suspenso: Ao receber o primeiro salário, a família terá o pagamento do Bolsa Família suspenso. Pelo projeto, o benefício suspenso não poderá ser redirecionado para outra família. Caso o empregado seja demitido e a família ainda se enquadre no Bolsa Família, o benefício volta a ser dado. Podem se beneficiar com o programa famílias em situação de pobreza (renda per capita entre R$ 85,01 a R$ 170,00) ou extrema pobreza (renda por pessoa de até R$ 85,00 por mês) e que tenham em sua composição gestantes, mães que amamentam, crianças ou adolescentes entre 0 e 17 anos. Tramitação: A proposta tramita em caráter conclusivo e será analisada pelas comissões de Seguridade Social e Família; de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços; de Finanças e Tributação (inclusive quanto ao mérito); e de Constituição e Justiça e de Cidadania. (Fonte: Câmara dos Deputados Federais)

Tribunal garante isenção de IR à pessoa com neoplasia malignaA isenção de imposto de renda engloba os rendimentos salariais do portador de moléstia grave e não só os proventos de aposentadoria, pelo seu caráter alimentar que justificou a norma. Com esse entendimento, a 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) negou provimento à apelação da União e manteve a sentença que reestabeleceu a isenção de imposto de renda a um homem com neoplasia maligna. O relator do caso, Juiz Federal Convocado Clodomir Sebastião Reis, esclareceu que, de acordo com a legis-lação de regência, a Lei nº 7.713/1988, ficaram isentos do imposto de renda os proven-tos de aposentadoria ou reforma recebidos por pessoas físicas de moléstias graves, como a neoplasia maligna. No caso dos autos, o apelado é portador de neoplasia maligna de próstata, diagnosticada em maio de 2003. O Magistrado salientou que a jurisprudência tem se firmado no sentido de que, sendo o conjunto probatório favorável à parte autora, admite-se até laudo emitido por médico particular para o reconhecimento da incapaci-dade. O juiz federal citou ainda precedentes do TRF1, em que é disposta a desnecessi-dade de apresentação de laudo pericial oficial e demonstração da contemporaneidade dos sintomas para a isenção do imposto de renda em caso de neoplasia maligna. Para o relator, a isenção engloba os rendimentos salariais do portador de moléstia grave e não só os proventos de aposentadoria, pelo seu caráter alimentar, que foi o que justificou a norma. Isso porque, em razão da sua perda salarial, com remédios, tratamento médico especializado e exames periódicos, a isenção deve ser deferida a toda situação em que caracterizadas as patologias da Lei nº 7.713/1988, afirmou o relator. O Colegiado, acom-panhando o voto do relator, negou provimento à apelação da União. Nº do Processo: 0063348-84.2015.4.01.3400. (Fonte: Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

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Ação questiona mudança do local de incidência do ISS de planos de saúdeUma entidade do ramo de saúde questionou no Supremo Tribunal Federal (STF) as no-vas regras para a tributação dos planos de saúde pelo Imposto sobre Serviços (ISS). Na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 499, a Confederação Nacional de Saúde, Hospitais e Estabelecimentos e Serviços (CNS) questiona a regra que alterou o local de recolhimento do tributo, que deixou de ser o município da sede da operadora do plano e passou a ser aquele do prestador do atendimento médico. O prin-cipal argumento da entidade é a dificuldade e o maior custo que a nova regra vai impor às operadoras, uma vez que terão de se relacionar com todos os fiscos municipais onde existem clínicas, hospitais ou consultórios ou assemelhados, ou seja, potencialmente todos os municípios brasileiros. A nova regra foi criada pela Lei Complementar (LC) nº 157/2016, que alterou o art. 3º, XXIII, da Lei Complementar nº 116/2003. A alteração é deveras significativa: os planos de saúde e odontológicos deixarão de recolher o ISS no domicílio da companhia gestora de planos para, então, recolher no local dos tomadores de serviços, espalhados por todos os mais de 5.570 municípios brasileiros, afirma. A confederação sustenta o cabimento de ADPF no caso em razão de ser o meio proces-sual apto a impugnar a validade, além do dispositivo da LC federal, das leis municipais editadas com base na regra federal, visando assim a garantir, por meio da ação, máxima eficácia aos julgados do STF. Assim, questiona também nos autos leis de Manaus (AM), Joinville (SC), Campo Grande (MS), Palmas (TO), Ponta Grossa (PR) e Ribeirão Preto (SP) que contêm essa previsão. A alteração gerada pela norma, argumenta a entidade, resul-tará na multiplicação por milhares das obrigações acessórias a serem cumpridas pelas operadoras. Alega que a norma significa violação ao princípio da capacidade colabo-rativa do contribuinte, da praticabilidade tributária, livre iniciativa e da razoabilidade e proporcionalidade na tributação. Lembra que o conjunto de obrigações tributárias deve estar alinhado com um custo razoável e proporcional para que o contribuinte consiga fazer frente à imposição. Além desses pontos, sustenta haver desvio da regra matriz do ISS, que impõe a tributação no município em que ocorre o núcleo material do serviço do plano de saúde, que no caso seria a sede de funcionamento da operadora. Alega também que o dispositivo questionado foi vetado pela Presidência da República em dezembro de 2016, mas o veto foi derrubado pelo Congresso Nacional em maio de 2017. Para a entidade, trata-se de matéria relacionada a diretrizes financeiras e tributárias de compe-tência privativa do presidente da República, não cabendo, no seu entender, a derrubada do veto pelo Parlamento. A entidade pede assim a concessão de liminar para suspender os processos e decisões judiciais relacionadas ao tema. No mérito, requer a declaração de inconstitucionalidade do dispositivo na atual redação da LC federal 116/2003 e das leis municipais atacadas. O relator da ADPF é o Ministro Celso de Mello. (Fonte: Supre-mo Tribunal Federal)

Entrega de carnês de IPTU sem a intermediação de terceiros não viola a manuten-ção do serviço público postalA 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) negou provimento ao agravo de instrumento interposto pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) contra sentença que indeferiu seu pedido antecipatório, cujo objetivo consistia na ime-diata abstenção do município de Picos/PI na entrega de boletos de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) aos contribuintes. Em suas alegações recursais, a ECT sustentou

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que a legislação de regência da matéria, a Constituição Federal (CF) e a jurisprudência aplicadas ao caso não permitem que o município entregue guias de IPTU aos contri-buintes, pois o serviço postal é de competência exclusiva da União exercido apenas pela ECT. O relator do caso, Desembargador Kassio Nunes Marques, esclareceu que o entendimento firmado tanto no Superior Tribunal de Justiça (STJ) quanto no TRF1 é de que a entrega pelo município dos carnês de cobrança do IPTU aos seus contribuintes, sem intermediários, não viola o privilégio da União Federal garantido pela CF acerca da exclusividade do serviço postal público. Isso porque tal ato constitui parte integrante do procedimento de constituição do crédito tributário, inerente à competência tributária de cada ente estatal, não se subsumindo ao disposto no art. 9º da Lei nº 6.538/1978, que conceitua a atividade de serviço postal. O Colegiado, acompanhando o voto do relator, negou provimento ao agravo de instrumento, mantendo a sentença. Processo nº 0072478-79.2016.4.01.0000/PI. (Fonte: Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

Isenção de imposto de renda a portador de moléstia grave engloba todos os rendi-mentos salariaisA 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região confirmou o restabelecimento da isenção de imposto de renda da parte autora, portadora de neoplasia maligna (câncer). Na decisão, o relator, Juiz Federal Convocado Clodomir Sebastião Reis, destacou que a referida isenção engloba os rendimentos salariais do portador de moléstia grave e não só os proventos de aposentadoria. O processo chegou ao TRF1 via remessa oficial. O instituto prevê que está sujeita ao duplo grau de jurisdição a sentença proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e as respectivas autarquias e funda-ções de direito público. Também se aplica às sentenças que julgarem procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de dívida ativa da Fazenda Pública. Ao ana-lisar o caso, o relator enfatizou que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) já consolidou o entendimento de que não se exige a demonstração da contemporaneidade dos sintomas da enfermidade, nem a indicação de validade do laudo pericial, ou a comprovação de recidiva da moléstia grave, para que o contribuinte faça jus à isenção do imposto de ren-da nos termos do art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/1988, uma vez que o objetivo da isenção é aliviar os encargos financeiros relativos ao tratamento médico. A decisão foi unânime. Processo nº 0063348-84.2015.4.01.3400/DF. (Fonte: Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

Impossibilidade de compensação tributária não anula contrato de cessão de crédi-tos firmado sem motivo expressoA Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) restabeleceu sentença que havia julgado improcedente pedido de anulação de contrato de cessão de crédito tributário em que a empresa cessionária alegou não ter conseguido realizar – como pretendia com o contrato – a compensação tributária na Receita Federal. Por unanimidade, o Colegiado entendeu que a cessão tributária não foi apontada como motivo expresso para a formali-zação do contrato, o que impossibilita o reconhecimento de nulidade. Na ação originá-ria, a empresa autora narrou que firmou com duas sociedades empresárias contratos de cessão de créditos tributários previdenciários e relativos ao Fundo de Investimento Social (Finsocial). A autora pagou cerca de R$ 2 milhões pela cessão dos créditos. Segundo a autora, os créditos seriam utilizados para pagamento de tributos, mas a compensação foi

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rejeitada pela Receita Federal, que concluiu que isso só seria possível no caso de débi-tos próprios. Como não foi possível a compensação administrativa, a autora buscava a anulação do negócio. Função econômica: O pedido foi julgado improcedente pelo juiz de primeiro grau, que considerou que a negociação dos créditos para compensação dos débitos tributários não foi objeto de vinculação das partes por meio do contrato, o que inviabilizaria a invalidação do pacto. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro reformou a decisão e declarou a nulidade dos contratos por entender que, diante da impossibili-dade de a empresa autora fazer a compensação administrativa, a função econômica do contrato não foi adequadamente consumada. Restituição ou notificação: Em análise dos recursos especiais das empresas rés, o Ministro Villas Bôas Cueva, relator, destacou que o tribunal fluminense, ao julgar a apelação, entendeu que as sociedades empresárias ainda constavam como credoras junto à Receita, o que poderia ocasionar o recebimento do crédito duas vezes (tanto do cessionário quanto do devedor). Todavia, o ministro lembrou que a empresa autora da ação entrou com pedido de compensação dos créditos perante a União, e, assim, a devedora tomou ciência de que os créditos foram cedidos. Dessa forma, segundo o relator, não haveria razão para concluir que as empresas rés permaneceram na condição de credoras. Apesar de ter sido vedada a compensação, a recorrida poderia ter requerido a restituição dos valores, ou, no mínimo, notificado os recorrentes para que pudessem receber o crédito, disse o relator. Motivo expresso: Em relação à motivação do negócio jurídico, Villas Bôas Cueva lembrou que o art. 140 do Código Civil estabelece que o falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante do negócio. No entanto, de acordo com a dicção do art. 140 do Código Civil, a identificação de “potenciais motivos” ou de suposta inten-ção não são suficientes para anular o contrato, pois somente a declaração expressa do motivo no instrumento consegue imprimir-lhe a qualidade de determinante, ensejando a anulação do negócio jurídico caso não se confirme, concluiu o ministro ao restabele-cer a sentença. Esta notícia refere-se ao(s) processo(s): REsp 1645719. (Fonte: Superior Tribunal de Justiça)

Adesão a parcelamento de débito tributário interrompe o curso do prazo prescri-cionalA adesão ao parcelamento de execução fiscal interrompe o curso do prazo prescricional, que recomeça a fluir, em sua integralidade, a partir da apresentação do respectivo re-querimento administrativo. Essa foi a fundamentação adotada pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região para reformar sentença, a pedido da Fazenda Nacional, que havia extinguido a presente execução fiscal ao argumento de ocorrência de prescri-ção. Na decisão, o relator, Desembargador Federal Marcos Augusto de Sousa, destacou que o crédito tributário objeto da presente demanda foi constituído em 31.05.2005. O ajuizamento da cobrança foi feito em 01.03.2012. Todavia, a dívida em questão foi objeto de parcelamento, cuja adesão se deu em 11.11.2009, interrompendo, portanto, a prescrição. Caso se mantivesse inerte a União, a prescrição estaria consumada em 2014, pontuou. O Magistrado ainda esclareceu que o pedido de parcelamento implica reco-nhecimento dos débitos tributários correspondentes pelo devedor e, por isso, é causa de interrupção da prescrição. Assim, caracterizada a confissão irretratável e irrevogável do débito pelo parcelamento, o qual interrompeu o curso do lapso prescricional, não há de se falar em prescrição do aludido débito, visto que não decorreu o prazo de cinco anos

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entre o parcelamento e o ajuizamento da execução, finalizou. A decisão foi unânime. Nº do Processo: 0030634-42.2012.4.01.9199. (Fonte: Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

Trabalhador com câncer consegue isenção do Imposto de RendaPessoas portadoras de doenças graves como Parkinson, Aids e câncer são isentas do Imposto de Renda. Essa regra vale, normalmente, para quem já está aposentado, recebe pensão ou reforma. Mas, no Distrito Federal, um trabalhador diagnosticado com câncer entrou com uma ação contra a Fazenda Nacional para deixar de pagar o IR. A repórter Roberta Nunes mostra que o Tribunal Regional Federal da 1ª Região entendeu que as pessoas que estão na ativa também precisam de recursos financeiros para custear o tra-tamento e, desta forma, isentou o homem do pagamento do Imposto de Renda. O Via Legal mostra ainda que 28 milhões de brasileiros sofrem com algum tipo de problema de audição, de acordo com o Ministério da Saúde. A dificuldade em ouvir tem começado cada vez mais cedo no Brasil: a partir dos 40 anos. E um ambiente de trabalho baru-lhento pode antecipar o problema. Em Pernambuco, o INSS foi condenado a conceder aposentadoria especial a um homem que trabalhou mais de 30 anos em usinas de cana--de-açúcar sujeito a ruídos e eletricidade. A reportagem é de Alessandro Viera. O avanço da tecnologia, em tese, é para melhorar a vida humana. O problema é que, por causa do alto custo, nem todos têm acesso fácil às novidades. É o caso de um aparelho ortopédico de R$ 4 mil, que ajuda pessoas com deficiência a andar. Em São Paulo, a família de uma menina só conseguiu o equipamento depois de uma decisão judicial. A repórter Letícia Lagoa visitou uma instituição que oferece tratamentos a crianças com dificuldade de locomoção e conta a história da pequena Cammily, que começou a andar com ajuda da órtese. O Via mostra ainda a dor de cabeça de quem tem cheques clonados. Apesar do transtorno, nem sempre essa situação pode ser caracterizada como um dano moral. Uma correntista do Sul do País acionou a Caixa Econômica pedindo uma indenização 20 vezes maior que o valor descontado, mas não conseguiu. A Justiça Federal determinou apenas o ressarcimento da quantia do cheque. A reportagem é de Marcelo Magalhães. (Fonte: Conselho da Justiça Federal)

Pena de perdimento não se aplica a mercadoria com guia de importação ou docu-mento equivalenteEm caso de irregularidade na declaração de bagagem acompanhada, não é cabível a aplicação da penalidade de perdimento de bens, e sim a cobrança do tributo devido. Com esse entendimento, a 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) negou provimento à apelação da Fazenda Nacional e manteve sentença que julgou pro-cedente o pedido para determinar a restituição à apelante de um aparelho de ar-condi-cionado que foi apreendido pela Receita Federal. O relator do caso, Juiz Federal Con-vocado Clodomir Sebastião Reis, esclareceu que o art. 102 do Decreto nº 6.759/2009 dispõe que, quando o viajante que estiver trazendo, na bagagem, bens estrangeiros sem destinação comercial ou industrial, de valor superior ao limite de isenção, aplica-se o regime de tributação especial. Já o art. 689, XX, do Decreto nº 6.759/2009 dispõe que, quando a mercadoria importada não possui guia de importação ou documento de efei-to equivalente, gera dano ao Erário e implica pena de perdimento. Para o Magistrado, o conceito tributário de bagagem disposto no art. 155 do Decreto nº 6.759/2009 está ligado ao uso ou consumo pessoal do viajante, sem finalidade comercial. No caso em

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espécie, a viajante transportava um aparelho de ar-condicionado comprado no exterior, destinado ao seu uso próprio. Portanto, encaixa-se na definição de bagagem, o que não implica a aplicação da pena de perdimento, afirmou o relator. Consta dos autos que a viajante efetuou o pagamento do tributo incidente sobre o ar-condicionado após o auto de infração. Desse modo, em caso de irregularidade na declaração de bagagem acompanhada, não é cabível a aplicação da penalidade de perdimento de bens, e sim a cobrança do tributo devido, finalizou o Magistrado. O Colegiado, acompanhando o voto do relator, negou provimento à apelação e manteve a decisão que restituiu o aparelho. Processo nº: 0000905-98.2010.4.01.4200/RR. (Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

2ª Turma julga válida lei paulista sobre ICMS em importação realizada por pessoas físicasA Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou válida lei paulista que prevê a incidência de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre im-portação de veículo por pessoa física e para uso próprio. Na decisão do colegiado no julgamento de agravo regimental no Recurso Extraordinário (RE) nº 917950, prevaleceu o voto do Ministro Gilmar Mendes, segundo o qual não há nulidade da norma, uma vez que ela foi editada após a Emenda Constitucional (EC) nº 33/2001, que autorizou a tri-butação. O RE foi interposto por uma contribuinte contra acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) que, confirmando sentença, considerou válida a incidência do ICMS na operação de importação concluída quando já vigente a Lei estadual nº 11.001/2001, editada posteriormente à EC 33/2001. O relator do RE, Ministro Teori Zavascki (falecido), deu provimento ao recurso, invalidando a cobrança, pois, segundo ele, a exigência do tributo pelas Fazendas Estaduais deveria cumprir dois requisitos: existência de legislação local posterior à Lei Complementar federal nº 114/2002, que prevê a cobrança do ICMS de pessoa física, e fato gerador posterior à lei estadual. No caso, a lei paulista é anterior à lei federal. O relator assentou seu entendimento na decisão do Plenário no RE 439796, com repercussão geral. Posteriormente, o Estado de São Paulo interpôs agravo regimen-tal contra a decisão do relator, lembrando que a lei estadual é posterior à EC 33/2001, que igualmente previu a tributação do ICMS de pessoa física. Assim, argumentou que a lei local é válida, ainda que anterior à lei complementar federal. O agravo começou a ser julgado pelo colegiado em setembro do ano passado. Na ocasião, o relator votou no sentido do desprovimento, mantendo sua decisão monocrática. O Ministro Gilmar Men-des, por sua vez, abriu a divergência, dando provimento ao agravo regimental. Segundo ele, a hipótese não é de nulidade da lei estadual, mas de ineficácia até a superveniência da lei complementar federal. O julgamento foi retomado nesta terça-feira com o voto--vista do Ministro Dias Toffoli, que seguiu o entendimento do Ministro Gilmar Mendes. Segundo explicou Toffoli, o Estado de São Paulo tinha normatividade plena para regular o tema, diante da emenda constitucional, quando mais tarde veio a ser editada a lei nacional. Para ele, não é possível entender a lei estadual como incompatível com a Constituição Federal, mas dependente da edição da lei nacional para ser eficaz. A Lei paulista nº 11.001/2001 deve ser entendida no particular como de eficácia contida, pois dependente de lei complementar de normas gerais, afirmou. Ele afastou a aplicação ao caso do entendimento firmado pelo Plenário do RE 439796, uma vez que, naquele precedente, tratou-se da invalidade de leis estaduais editadas antes da EC 33/2001. Com a decisão, por maioria, vencido o relator, foi dado provimento ao agravo regimental do

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Estado de São Paulo para negar provimento ao recurso extraordinário do contribuinte. (Fonte: Supremo Tribunal Federal)

Deve ser adotada a prescrição quinquenal para as ações de repetição de indébitoA 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região anulou sentença que extinguiu o feito, sem resolução do mérito, e afastou a exigência de recolhimento das contribuições para o PIS e para a Cofins, assegurado o direito à compensação dos valores recolhidos indevidamente do autor, APJ Borba Serviços de Engenharia, nos cinco anteriores ao ajui-zamento da presente ação. A empresa, ora recorrente, entrou com ação na Justiça Fede-ral requerendo afastar a exigência de recolhimento das contribuições para o PIS e para a Cofins na forma estabelecida pela Lei nº 9.718/1998, assim como a restituição dos valo-res indevidamente descontados. Em primeira instância, o Juízo, ao reconhecer a falta de interesse processual, considerou a inexistência de documentos capazes de comprovar o recolhimento dos valores a restituir, razão pela qual extinguiu o processo, sem resolução do mérito. Em suas razões recursais, a empresa alegou a desnecessidade de comprova-ção, na inicial, de recolhimento dos tributos em análise e requereu a compensação dos valores indevidamente recolhidos nos últimos 10 anos contados retroativamente a partir da distribuição da demanda até a entrada em vigor da Lei nº 11.941/2009. O Colegiado, ao analisar o caso, julgou parcialmente procedente o pedido do autor. Tratando-se de pedido meramente declaratório, dispensável a juntada de documentos comprobatórios de recolhimento dos tributos, explicou o relator, Desembargador Federal Hercules Fajo-ses, em seu voto. O Magistrado ainda esclareceu que o Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento do RE 585.235/MG, decidiu ser inconstitucional a ampliação da base de cálculo do PIS e da Cofins prevista no art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/1998. Por fim, o re-lator destacou que o STF decidiu pela aplicação da prescrição quinquenal para as ações de repetição de indébito ajuizadas a partir de 9 de junho de 2005, razão pela qual os valores a serem compensados devem se limitar aos cinco anos anteriores ao ajuizamento da ação. A decisão foi unânime. Nº do Processo: 0017736-72.2010.4.01.3700. (Fonte: Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

É possível a compensação de ofício mesmo quando o débito não possui natureza tributáriaA 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região acatou recurso apresentado pela Fazenda Nacional contra sentença da 5ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Pará, que determinou a imediata liberação do saldo a restituir da impetrante referente ao Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), sem qualquer compensação com eventuais débitos. De acordo com a relatora, Desembargadora Federal Ângela Catão, o presente caso versa sobre a possibilidade ou não da compensação de ofício do valor a ser restituído do imposto de renda, eis que o débito inscrito em dívida ativa da autora da ação é de natureza não tributária, no caso, taxa de ocupação de terreno de marinha. No voto, a Magistrada esclareceu que, segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), é, sim, possível. O colendo STJ, em sede de recurso repetitivo, decidiu que, para efetuar a compensação de ofício, não se faz distinção quanto à necessidade de que os débitos do contribuinte sejam de natureza tributária ou não, mas apenas assevera a hipótese de débitos do sujeito passivo em relação à Administração Pública Federal para a compensa-ção de ofício, fundamentou. Desse modo, finalizou a relatora, devida é a compensação de ofício, mesmo não sendo o débito do contribuinte de natureza tributária, taxa de

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ocupação de terreno de marinha. Nº do Processo: 0006918-82.2006.4.01.3900. (Fonte: Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

Ministro extingue ação ajuizada pela CNI contra norma sobre ISSO Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes julgou extinta a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn) nº 5742, por meio da qual a Confederação Nacional da Indústria (CNI) questionava a incidência do Imposto sobre Serviços (ISS) em serviços de costura realizados no ciclo produtivo. Segundo o ministro, a CNI não possui legitimidade para impugnar a norma, uma vez que não preencheu o requisito da perti-nência temática, que é a demonstração da relação direta entre objetivos institucionais da entidade e as regras objeto da ação. Na ação, a CNI questionava interpretação de dis-positivo da Lei Complementar (LC) nº 116/2003 (com redação dada pela LC 157/2016), que admite a incidência do imposto nas atividades de costura e de acabamento inseridas na produção de bens que serão utilizados em operações comerciais ou industriais poste-riores. Ao extinguir a ação, o relator explicou que o Supremo exige, para as associações classistas, confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional, a aferição da denominada pertinência temática, requisito da relação de pertinência entre a defesa de interesse específico do legitimado e o objeto da ação. No caso, segundo o ministro, a autora da ação não demonstrou, de forma adequada e suficiente, essa relação. Segundo Moraes, a CNI defende interesses do setor industrial e o objeto da ação dispõe sobre tributação de serviços. A discussão, esclarece o relator, não alcança operações relativas à circulação de mercadorias e prestações de serviços de transporte interestadual e inter-municipal e de comunicação, inerentes ao âmbito industrial. Para o ministro, admitir à CNI representatividade para o objeto apresentado na presente ação transcenderia os in-teresses do âmbito econômico no qual se insere, concluiu. Argumentos: A Confederação alegava na ADIn que a norma complementar não previu os limites de competência para a incidência do ISS em caso de operações prestadas no curso do processo produtivo. De acordo com a CNI, as atividades de costura e acabamento devem ser tributadas pelo ISS, por consistirem em legítima prestação de serviços ao consumidor final do produto. Por outro lado, a atividade exercida pela indústria têxtil e de confecções, na qual são produ-zidos bens que servirão de insumo, produto intermediário ou material de embalagem ao ciclo econômico de outras mercadorias, deve ser tributada pelo ICMS. (Fonte: Supremo Tribunal Federal)

Negado trâmite a ADIn de federação sindical que questiona elevação de contribui-ção ao PISO Ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou seguimento (julgou in-viável) à Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn) nº 5837, ajuizada pela Federação dos Sindicatos das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis e dos Edifícios em Condomínios Residenciais e Comerciais (Fesecovi). A ação questiona elevação da contribuição ao Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) incidente sobre combustíveis promovida pelo Decreto nº 9.101/2017. Segundo o relator da ação, a Fesecovi é entidade sindical de segundo grau (federação sindical), enquanto que o STF possui jurisprudência no senti-do de que, dentre as entidades sindicais, apenas as confederações possuem legitimidade para propor as ADIns. A decisão também levou em conta a falta de correlação entre os objetivos institucionais da entidade, representante de empresas do ramo imobiliário, e

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o conteúdo das normas impugnadas, que dizem respeito à majoração de tributos sobre combustíveis. A exigência de pertinência temática é verdadeira projeção do interesse de agir no processo objetivo, que se traduz na necessidade de que exista uma estreita relação entre o objeto do controle e a defesa dos direitos da classe representada, afirma a decisão. A entidade alegava na ADIn que o decreto questionado fere o princípio da legalidade tributária, uma vez que não é possível criar ou majorar tributos por meio de ato administrativo. Assim, pedia a declaração de inconstitucionalidade do decreto e dos dispositivos de lei que o autorizavam. (Fonte: Supremo Tribunal Federal)

Projeto prevê equalização de tributos para empresas no Brasil e em paraísos fiscaisA Câmara dos Deputados analisa proposta (PL 8.130/2017) que iguala os encargos su-portados pelos prestadores de serviços e fornecedores de mercadorias localizados no Brasil e por aqueles que procuram os paraísos fiscais para pagar menos tributos. O texto é de autoria do Senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES). A proposta eleva de 25% para 34% a alíquota do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) incidente sobre rendimentos obtidos no Brasil por beneficiário que seja residente ou domiciliado em país com tribu-tação favorecida (paraísos fiscais) ou que usufrua de regime fiscal privilegiado. Com isso, segundo o autor, a tributação desses contribuintes ficaria similar à das empresas sediadas no Brasil, que pagam IRRF de 25% e mais 9% de Contribuição Social sobre o Lucro Lí-quido (CSLL). O texto altera as Leis nºs 9.481/1997 e 9.779/1999 e a Medida Provisória nº 2.159-70, de agosto de 2001. Se aprovada e sancionada, a norma produzirá efeitos a partir do primeiro dia do ano subsequente ao da publicação. Tramitação: A proposta tramita em caráter conclusivo e será analisada pelas comissões de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. (Fonte: Câmara dos Deputados Federais)

Projeto concede isenção de IPI para veículo comprado por produtor ruralO Deputado Heuler Cruvinel (PSD-GO) apresentou projeto de lei (PL 8.353/2017) na Câmara dos Deputados que concede isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos adquiridos por produtores rurais que exerçam a atividade, comprova-damente, há pelo menos cinco anos. A isenção vale para utilitários de fabricação nacio-nal e para automóveis de passageiros de fabricação nacional, equipados com motor de até duas mil cilindradas. A proposta altera a Lei nº 8.989/1995, a mesma que concede a isenção de IPI para taxistas e pessoas com deficiência. Cruvinel explicou que o foco do projeto é reduzir o custo de veículos adquiridos por pequenos produtores rurais, como os hortifrutigranjeiros que comercializam sua produção nas Ceasas. Tramitação: O projeto tramita de forma conclusiva nas comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cida-dania. (Fonte: Câmara dos Deputados Federais)

Câmara analisa redução de tributo para setor hoteleiroA Câmara dos Deputados analisa o Projeto de Lei nº 6.801/2017, do Deputado licencia-do Felipe Carreras (PSB-PE), que reduz de 4,5% para 2% a contribuição sobre o valor da receita bruta paga pelo setor hoteleiro. O tributo, também chamado de desoneração da folha de pagamento, incide sobre o faturamento da empresa e substitui a contribui-ção patronal de 20% incidente sobre a folha de pagamento. Para o autor, a iniciativa aumentará a competitividade no mercado nacional e frente aos turistas estrangeiros. É necessário um incentivo para voltar a crescer e, assim, contribuir para a redução do

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – CLIPPING JURÍDICO ���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������211

desemprego que hoje atinge mais de 12 milhões de brasileiros, frisou o deputado. Tra-mitação: A proposta será analisada de forma conclusiva pelas comissões de Turismo; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Fonte: Câmara dos Deputados Federais

Fechamento da Edição em: 10�01�2018

Resenha Legislativa

LEIS

lei nº 13.594, de 05.01.2018 – publicada nO dOu de 08.01.2018

Prorroga o prazo para a utilização do Regime Especial de Tributação para Desenvolvimento da Atividade de Exibição Cinematográfica (Reci-ne), instituído pela Lei nº 12.599, de 23 de março de 2012, bem como dos benefícios fiscais previstos nos arts. 1º e 1º-A da Lei nº 8.685, de 20 de julho de 1993, e no art. 44 da Medida Provisória nº 2.228-1, de 6 de setembro de 2001; e altera a Lei nº 8.685, de 20 de julho de 1993, e a Medida Provisória nº 2.228-1, de 6 de setembro de 2001.

lei nº 13.586, de 28.12.2017 – publicada nO dOu de 29.12.2017

Dispõe sobre o tratamento tributário das atividades de exploração e de desenvolvimento de campo de petróleo ou de gás natural; institui regime tributário especial para as atividades de exploração, de desenvolvimento e de produção de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos; altera as Leis nºs 9.481, de 13 de agosto de 1997, e 12.973, de 13 de maio de 2014; e revoga dispositivo do Decreto-Lei nº 62, de 21 e novembro de 1966.

Fechamento da Edição: 09�01�2018

Índice Alfabético e Remissivo

Índice GeralDOUTRINAS

Assunto

PeRt

• A Quem Interessa o Refis? (Antonio Baptista Gonçalves) .. 9• Pert – O Novo Refis: da MP para Lei – Mudanças

(Pert – Programa Especial de Regularização Tribu-tária – Lei nº 13.496/2017) (Osvaldo Rodrigues daCruz da Cruz) ...............................................................22

Refis

• A Quem Interessa o Refis? (Antonio Baptista Gonçalves) .. 9

Autor

Antonio bAPtistA GonçAlves

• A Quem Interessa o Refis? ..............................................9

osvAlDo RoDRiGues DA cRuz DA cRuz

• Pert – O Novo Refis: da MP para Lei – Mudanças (Pert – Programa Especial de Regularização Tribu-tária – Lei nº 13.496/2017) ...........................................22

Índice GeralDOUTRINAS

Assunto

ciDe

• Pagamento pela Distribuição de Softwares na Nuvem Não É Fato Gerador de Cide (Octávio Giacobbo da Rosa) .......................................................33

csll• Dedução da CSLL da Base de Cálculo do Imposto

de Renda (Kiyoshi Harada) ...........................................29

ResPonsAbiliDADe civil

• Responsabilidade Civil, Tributária e Penal do Pro-fissional da Contabilidade (Marcelo Pires Hartwig).......41

Autor

Kiyoshi hARADA

• Dedução da CSLL da Base de Cálculo do Imposto de Renda ......................................................................29

mARcelo PiRes hARtwiG

• Responsabilidade Civil, Tributária e Penal do Pro-fissional da Contabilidade ............................................41

octávio GiAcobbo DA RosA

• Pagamento pela Distribuição de Softwares na Nu-vem Não É Fato Gerador de Cide .................................33

DIREITO TRIBUTÁRIO EM DISCUSSÃO

Assunto

ReceitA

• Conclusões do 42º Simpósio Nacional de Direi-to Tributário do Centro de Extensão Universitária

– CEU e IICS – Instituto Internacional de CiênciasSociais ........................................................................183

ESTUDOS JURÍDICOS

Assunto

PolíticA fiscAl

• Dinâmica da Tributação e a Urgência da Implemen-tação de Novos Padrões de Política Fiscal ao AtualCenário Brasileiro (Isabel Delfino Silva Massaia) ........192

Autor

isAbel Delfino silvA mAssAiA

• Dinâmica da Tributação e a Urgência da Implemen-tação de Novos Padrões de Política Fiscal ao AtualCenário Brasileiro .......................................................192

JURISPRUDÊNCIA

Assunto

contRibuição PReviDenciáRiA

• Direito tributário – Contribuição previdenciária – Transportadores autônomos – Base de cálculo – Ca-ráter infraconstitucional da matéria – Extraordinário interposto sob a égide do CPC/1973 – Alegação de ofensa aos arts. 146 e 150, I, da Constituição da Re-pública – Eventual violação reflexa da constituição da república não viabiliza o recurso extraordinário – Reelaboração da moldura fática – Procedimento ve-dado na instância extraordinária – Agravo manejado sob a vigência do CPC/2015 (STF) ....................13627, 61

• Previdenciário – Cobrança do INSS de benefício assistencial indevidamente recebido – Devolução dos valores – Má-fé – Caracterização – Correção monetária e juros sobre os valores a serem restituí-dos ao INSS (TRF 4ª R.) ..................................13634, 118

contRibuição PReviDenciáRiA PAtRonAl

• Processual civil – Embargos de declaração – Con-tribuição previdenciária patronal – Aviso-prévio indenizado e seu respectivo 13º proporcional – Se-gurados empregados vinculados ao RGPS – Jul-gamento pelo STJ em égide de recurso repetitivo – ausência de vícios – Rediscussão – Descabimento (TRF 5ª R.) ......................................................13635, 132

csll• Processual – Tributário – Créditos de ICMS – Exclu-

são da base de cálculos do IRPJ – CSLL – Impos-sibilidade (TRF 1ª R.) ........................................13631, 95

execução fiscAl

• Execução fiscal e processual civil – Exceção de pré--executividade – Dissolução irregular – Súmula nº 435 do STJ – Prazo para redirecionamento ao sócio – termo a quo – Actio nata – Prescrição – Inocor-rência – Bacenjud – Penhora de valor inferior a 40salários mínimos (TRF 2ª R.) ...........................13632, 102

iss• Processual civil e tributário – Recurso especial – ISS

– Art. 535, II, do CPC/1973 – Ausência de violação – ISS – Lista anexa – Enquadramento – Necessida-de de análise do contexto fático-probatório – Inci-dência da Súmula nº 7/STJ (STJ) ........................13628, 66

214 ������������������������������������������������������������������������������������������������������� RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO

PARcelAmento

• Tributário – Recurso especial – Parcelamento da Lei nº 11.941/2009 – Art. 1º, § 2º – Inclusão de percen-tual de débito isolado – Impossibilidade – Respei- to ao período de apuração ou competência do tri-buto (STJ) ..........................................................13630, 85

PenA De PeRDimento

• Tributário e processual civil – Recurso especial – Art. 535, II, do CPC/1973 – Ausência de violação – Pena de perdimento – Intervenção de terceiro prejudicado – Ausência de interesse jurídico – Fun-damento inatacado – Incidência da Súmula nº 283 do STF – Divergência jurisprudencial baseada em acórdão Proferido em conflito de competência –Inadmissibilidade – Súmula nº 13/STJ (STJ) .......13629, 75

Pis e cofins

• Tributário – Base de cálculo PIS e Cofins – Exclu-são ICMS – Compensação tributária – Prescrição quinquenal – Correção monetária – Juros mora-tórios – Apelação da autora parcialmente provida(TRF 3ª R.) ......................................................13633, 109

EMENTÁRIO JUDICIAL

Assunto

AQuisição De moeDA estRAnGeiRA

• Aquisição de moeda estrangeira – imposto sobre operação de câmbio – incidência...................13636, 136

cADin

• Cadin – exigibilidade de crédito tributário – reexame de fatos e provas e de legislação local ............13637, 136

cDA

• CDA – exceção de pré-executividade – presunção de liquidez e certeza – taxa Selic – aplicabilida-de – processo administrativo – juntada – desneces-sidade – multa de mora ..................................13638, 136

cofins e contRibuição Ao Pis

• Cofins e contribuição ao PIS – base de cálculo – ex-clusão do ICMS ..............................................13639, 136

contRibuição Ao sAt

• Contribuição ao SAT – exigibilidade e alíquota – coisa julgada – art. 471 do CPC/1973 – suspensão da execução fiscal – inocorrência das hipótesesprevistas no art. 151 do CTN ..........................13640, 137

contRibuição PReviDenciáRiA

• Contribuição previdenciária – adicional de horas extras, insalubridade, periculosidade, trabalho no-turno, diárias de viagem que ultrapassem 50% da remuneração, gorjetas, comissões, prêmios, ajudas decusto e abonos – salário de contribuição .......13641, 138

• Contribuição previdenciária sobre a receita bru-ta – mandado de segurança – revogação da MP774/2017 .......................................................13642, 138

contRibuição sociAl

• Contribuição social – ilegitimidade passiva da CEF – art. 1º da LC 110/2001 – exaurimento da finalidade legalmente prevista – inocorrência .................13643, 139

contRibuições PReviDenciáRiAs

• Contribuições previdenciárias – construção civil – fato gerador – conclusão da obra – decadência –prazo quinquenal ...........................................13644, 141

emPRéstimo comPulsóRio sobRe eneRGiA elétRicA

• Empréstimo compulsório sobre energia elétrica – execução regressiva contra a União ...............13645, 143

exceção De PRé-executiviDADe

• Exceção de pré-executividade – conselho profissio-nal – anuidade – fato gerador – inscrição – presun-ção de exercício da profissão .........................13646, 143

execução fiscAl

• Execução fiscal – anuidades – notificação – com-provação – desnecessidade ............................13647, 143

• Execução fiscal – bem de família – imóvel locado a terceiros ........................................................13648, 145

• Execução fiscal – CDA – requisitos – inexistência de vício – constituição do débito – prescrição con-figurada ..........................................................13649, 145

• Execução fiscal – conselho – Sistema Infojud ......................................................................13650, 146

• Execução fiscal – conselho de classe – anuidade – termo de confissão de dívida – execução de título extrajudicial – descabimento ..........................13651, 147

• Execução fiscal – constituição do crédito – entrega da declaração – demora na citação por culpa do credor – prescrição ordinária ..........................13652, 149

• Execução fiscal – contribuições previdenciárias – CDA – presunção de certeza e liquidez não ilidi-da pelo contribuinte – prescrição – inocorrência ......................................................................13653, 149

• Execução fiscal – contribuições previdenciárias – responsabilidade solidária dos sócios da pessoa jurídica – acórdão fundamentado ...................13654, 150

• Execução fiscal – crédito tributário – prescrição – inaplicabilidade da Súmula nº 106 do STJ – ocorrên-cia – provimento ............................................13655, 150

• Execução fiscal – cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública – pretensão executiva – prescri-ção – medida cautelar de protesto – prazo – inter-rupção ............................................................13656, 151

• Execução fiscal – débito inscrito em dívida ativa –crédito rural ...................................................13657, 153

• Execução fiscal – dissolução irregular da empresa – redirecionamento a membro do conselho de ad-ministração à época dos fatos geradores – descabi-mento .............................................................13658, 154

• Execução fiscal – grupo econômico – ausência de interesse comum no fato gerador do tributo execu-tado – ilegitimidade passiva que se reconhece – ine-xistência de caráter confiscatório na multa (75%) ......................................................................13659, 154

• Execução fiscal – ilegitimidade de parte – reexame de fatos e provas – Tema nº 660 – ofensa reflexa – ma-joração dos honorários – descabimento .........13660, 155

• Execução fiscal – Inmetro – valor abaixo de R$ 10.000,00 – extinção ex officio – inadmissibili-dade ...............................................................13661, 156

• Execução fiscal – inscrição de dívida ativa de na-tureza não tributária – benefício previdenciário recebido mediante fraude – CDA obtida em proce-

RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO �������������������������������������������������������������������������������������������������������������215 dimento administrativo – inadequação da via eleita ......................................................................13662, 157

• Execução fiscal – legitimidade passiva – respon-sabilidade do sócio presidente – cooperativa – período – remessa oficial ................................13663, 157

• Execução fiscal (Lei nº 6.830/1980) – ação ajuizada contra executado que faleceu sem citação válida – redirecionamento – impossibilidade ...............13664, 158

• Execução fiscal – penhora sobre o faturamento da empresa – depositário – operacionalização da cons-trição – recusa dos representantes legais da execu-tada em aceitar o aludido encargo .................13665, 158

• Execução fiscal – prescrição intercorrente – art. 40 da LEF – configuração – transcurso de prazo supe-rior a cinco anos após arquivamento – inércia doexequente ......................................................13666, 158

• Execução fiscal – prescrição intercorrente – art. 40 da Lei nº 6.830/1980 – ausência de fato interrupti-vo ou suspensivo da prescrição – extinção do fei-to – apelação improvida .................................13667, 159

• Execução fiscal – prescrição intercorrente – inapli-cabilidade em caso de decurso do prazo prescricio-nal – inércia da exequente – lapso .................13668, 160

• Execução fiscal – redirecionamento – impossibili-dade – prescrição intercorrente – recurso não pro-vido ................................................................13669, 160

• Execução fiscal – redirecionamento aos sócios – des-cabimento – hipóteses do art. 135 do CTN – não comprovação – ilegitimidade passiva do executado pessoa física ...................................................13670, 161

funRuRAl

• Funrural – contribuição social – empregador rural pessoa natural – incidência sobre a receita bruta da comercialização da produção rural ................13671, 162

• Funrural – contribuição social – empregador ru-ral pessoa natural – incidência sobre a receita bru-ta da comercialização da produção rural – Lei nº 10.256/2001 – constitucionalidade ............13672, 162

icms• ICMS – aproveitamento de créditos – anuência de lei

estadual – Súmula nº 280 – recurso extraordinário ......................................................................13673, 163

• ICMS – base de cálculo – inclusão – Tust – Tusd – Súmula nº 166/STJ .......................................13674, 163

• ICMS – crédito outorgado de quebra de sigilo ban-cário – exclusão do regime do simples paulista – legislação de regência – ofensa a direito local –Súmula nº 280/STF .........................................13675, 163

• ICMS – fornecimento de energia elétrica – base de cálculo – Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (Tusd) – inclusão ............................................13676, 164

• ICMS – operação de importação – entidade de assis-tência social – imunidade ...............................13677, 164

• ICMS – regime de pagamento – antecipado sem substituição tributária – legalidade .................13678, 164

• ICMS – substituição tributária para a frente – base de cálculo efetiva menor do que a presumida – li-mitações – normas infralegais locais – incidência da Súmula nº 280/STF ........................................13679, 165

• ICMS – Importação – sujeito ativo – Estado onde es-tiver situado o destinatário jurídico da mercadoria – irrelevante o local do desembaraço aduaneiro – créditos registrados pela recorrente ................13680, 165

imPosto De RenDA

• Imposto de renda – complementação de aposen-tadoria (Petros) – Lei nº 7.713/1988 – isenção ......................................................................13681, 165

• Imposto de renda – moléstia grave – isenção engloba “rendimentos salariais” – termo inicial – diagnóstico da doença ......................................................13682, 166

imuniDADe tRibutáRiA

• Imunidade tributária – RFFSA – caráter infraconsti-tucional da matéria – ausência de repercussão geral ......................................................................13683, 166

iPi• IPI – créditos escriturais – incidência de correção

monetária – matéria infraconstitucional ..........13684, 167

• IPI – insumos isentos ou tributados à alíquota zero – creditamento – ausência de preliminar formal e fundamentada de repercussão geral ...............13685, 167

• IPI – veículo – sujeito passivo – consumidor final – importação – uso próprio – não cumulatividade – operações sucessivas – inexistência – incidência do tributo – repercussão geral – omissão – ausência ......................................................................13686, 167

iPtu• IPTU – condomínios irregulares – fato gerador – ocor-

rência .............................................................13687, 168

• IPTU – prescrição – marco inicial – dia seguinte aovencimento da exação ...................................13688, 168

iPvA• IPVA – execução fiscal – CDA – modificação do su-

jeito passivo – impossibilidade – Súmula nº 392/STJ ......................................................................13689, 168

iR• IR – programa de alimentação do trabalhador – sis-

temática de apuração do incentivo fiscal........13690, 169

issQn

• ISSQN – ação de restituição de indébito – subs-tituição tributária – legitimidade do contribuinte ......................................................................13691, 172

• ISSQN – sujeição passiva – empresa administradora de jogos de bingo ...........................................13692, 172

itcmD

• ITCMD – compensação – precatórios – solução da controvérsia com base na interpretação do Có-digo Tributário Nacional e da lei estadual – inci-dência da Súmula nº 280 do STF – descabimento ......................................................................13693, 173

• ITCMD – incidência – concessão de direito real de uso – análise de lei local ................................13694, 173

Pis e cofins

• PIS e Cofins – bases de cálculo – inclusão do ISS – impossibilidade – prescrição quinquenal – com-pensação ........................................................13695, 173

PRescRição DA execução fiscAl

• Prescrição da execução fiscal – violação do art. 535 do CPC – ocorrência – retorno dos autos ao Tribunal de origem .......................................................13696, 175

216 ������������������������������������������������������������������������������������������������������� RET Nº 119 – Jan-Fev/2018 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO

tAxA De sAúDe suPlementAR DA Ans (tss)• Taxa de Saúde Suplementar da ANS (TSS) – exe-

cução fiscal – Lei nº 9.961/2000 – base de cálculo definida na Resolução RDC nº 10 – exação indevida– ofensa ao princípio da legalidade ................13697, 176

• Taxa de Serviços Administrativos (TSA) – Superin-tendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) ......................................................................13698, 176

EMENTÁRIO ADMINISTRATIVO

Assunto

cofins

• Cofins – período de apuração – 01.10.2004 a 31.12.2004 – crédito – cálculo – rateio – receita de exportação – comercial exportadora – exclusão ......................................................................13699, 178

contRibuição PARA o Pis/PAseP

• Contribuição para o PIS/Pasep – período de apura-ção – cálculo – rateio – receita de exportação – co-mercial exportadora – exclusão .....................13700, 178

contRibuições PReviDenciáRiAs

• Contribuições previdenciárias – período de apura-ção – auto de infração de obrigação principal – sa-lário indireto – bolsa de estudos dependentes – au-sência de previsão legal para exclusão da base decálculo ...........................................................13701, 178

Dctf• DCTF – prazo para retificação – homologação

......................................................................13702, 179

DecADênciA

• Decadência – declaração de rendimentos – multa por atraso na entrega .....................................13703, 179

iPi• IPI – período de apuração – normas regimentais –

obrigatoriedade de reprodução do conteúdo de de-cisão proferida pelo STJ ..................................13704, 179

iRPJ• IRPJ – ano-calendário – premissa – instituto jurídico-

-tributário .......................................................13705, 180

itR• ITR – exercício – área de interesse ecológico den-

tro de parque questionamento – ato específico do poder público – área de interesse ecológico – isen-ção – condições .............................................13706, 181

simPles

• Simples – exclusão – atividade vedada – embargosde declaração ................................................13707, 181

simPles

• Simples – termo de indeferimento – Simples Nacio-nal – microempresa ou empresa de pequeno porte – débitos com a Fazenda Pública Federal, Estadualou Municipal ..................................................13708, 182

CLIPPING JURÍDICO

• 2ª Turma julga válida lei paulista sobre ICMS em importação realizada por pessoas físicas ...................207

• Ação questiona mudança do local de incidência do ISS de planos de saúde ..........................................203

• Adesão a parcelamento de débito tributário inter-rompe o curso do prazo prescricional ........................205

• Apenas a indenização por morte do segurado está alcançada pela regra de isenção do imposto de renda ..................................................................................200

• Aprovada isenção de PIS/Pasep e Cofins sobre comer-cialização e importação de fralda geriátrica ...............199

• Câmara analisa redução de tributo para setor hote-leiro ...........................................................................210

• Cancelado impedimento judicial sobre bem de alienante que não foi citado na execução fiscal .........199

• Crédito trabalhista pode ser incluído em recupera-ção judicial de empresa .............................................200

• Deve ser adotada a prescrição quinquenal para asações de repetição de indébito ...................................208

• É possível a compensação de ofício mesmo quandoo débito não possui natureza tributária ......................208

• Empresa com mais de 40% de empregados no Bolsa Família poderá ter redução tributária ..........................201

• Entrega de carnês de IPTU sem a intermediação de terceiros não viola a manutenção do serviço pú-blico postal ................................................................203

• Falecimento de titular de firma individual causa a extinção da execução fiscal ........................................199

• Impossibilidade de compensação tributária não anu-la contrato de cessão de créditos firmado sem mo-tivo expresso ..............................................................204

• Incide PIS e Cofins sobre faturamento decorrente dalocação e venda de bens imóveis por imobiliária ......... 201

• Isenção de imposto de renda a portador de mo-léstia grave engloba todos os rendimentos salariais ....204

• Ministro extingue ação ajuizada pela CNI contra nor-ma sobre ISS ...............................................................209

• Negado trâmite a ADIn de federação sindical quequestiona elevação de contribuição ao PIS.................209

• Pena de perdimento não se aplica a mercadoria comguia de importação ou documento equivalente ..........206

• Projeto concede isenção de IPI para veículo com-prado por produtor rural .............................................210

• Projeto prevê equalização de tributos para empresas no Brasil e em paraísos fiscais ....................................210

• Trabalhador com câncer consegue isenção doImposto de Renda ......................................................206

• Tribunal garante isenção de IR à pessoa com neo-plasia maligna ............................................................202

RESENHA LEGISLATIVA

leis

• Lei nº 13.594, de 05.01.2018 – Publicada no DOU de 08.01.2018 ............................................................212

• Lei nº 13.586, de 28.12.2017 – Publicada no DOU de 29.12.2017 ............................................................212