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1 Guerra do Peloponeso Como a Guerra do Peloponeso afetou a hegemonia ateniense? Isabela Sousa Ramos Vítor Costa E Silva Santos Brasília, 2019.

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1

Guerra do Peloponeso Como a Guerra do Peloponeso afetou a hegemonia ateniense?

Isabela Sousa Ramos

Vítor Costa E Silva Santos

Brasília,

2019.

2

“Esta e a exposição da investigação de Herodoto de Halicarnasso, para que os

acontecimentos passados não sejam extintos entre os homens com o tempo, e para que os

feitos grandiosos e maravilhosos, uns realizados por helenos e outros por bárbaros, não

fiquem sem glória, e ainda os demais assuntos e por qual motivo guerrearam uns contra os

outros.”

HERODOTO.1

1 Heródoto foi o primeiro autor grego a nos transmitir diretamente a palavra “História”, portanto, ele é

considerado o “Pai da História”. Seu foco não foi a guerra do Peloponeso, atualmente tudo que temos sobre essa

guerra Tucídides quem escreveu.

3

Sumário

Como a Guerra do Peloponeso afetou a hegemonia ateniense:

1. Introdução............................................................................................ 5

2. Contexto Histórico................................................................................ 7

2.1 Antecedentes ......................................................................................10

2.2 A Guerra do Peloponeso.....................................................................14

3. Liga de Delos........................................................................................18

3.1 Formação.............................................................................................18

4.Liga do Peloponeso.................................................................................19

4.1 Formação..............................................................................................19

5. Consequências da Guerra .....................................................................20

5.1 O fascínio pelo poder: paradigma Ateniense ......................................22

6. Conclusão ..............................................................................................23

7. Referência bibliográfica ........................................................................24

4

Como a Guerra do Peloponeso afetou a hegemonia ateniense

Por Isabela Sousa Ramos e Vítor Costa E Silva Santos

1. Introdução

O presente artigo utilizou como base para a fase de pesquisa, substancialmente, o livro

“História da Guerra do Peloponeso” de Tucídides, autor cuja visão política dos acontecimentos,

ao seu ver, é construída por duas forças contrastantes: a vontade de poder e o desejo de

liberdade dos povos.2 Para construção da nossa argumentação, utilizamos Claude Mossé com

sua obra: “Atenas: a história de uma democracia” e para fins didáticos seguimos a linearidade

dos fatos de acordo com o livro História das Guerras do Demetrio Magnoli.

“De todos os acontecimentos da História de Atenas, a Guerra

do Peloponeso é o que conhecemos melhor. Não apenas porque

Tucídides narrou-a minuciosamente, mas também porque os últimos

trinta anos do século V a.C., foram um período extremamente rico na

história do pensamento ateniense, e que nos deixou numerosos

testemunhos.” 3

Se, por um lado, a narrativa de Tucídides nos oferece a versão, de certo modo oficial,

dos acontecimentos, por outro, os historiadores modernos permitem-nos entrever críticas à

Guerra do Peloponeso. Além de entender a Guerra e suas consequências, precisávamos

explorar o pensamento grego, e para isso utilizamos VEYNE, Paul e sua obra “Os gregos

conheceram a democracia?”. O estudo foi feito também por meio de textos dos seguintes

historiadores: Pierre Grimal, Jean Pierre Vernant, Jacqueline Romilly e Moses Finley.

Tucídides afirma explicitamente que a investigação histórica assenta nas provas

evidentes a ele, o observador. Nesse sentido, o trabalho de Tucídides dependia, principalmente,

das declarações e testemunhas oculares, com quem ele tinha contato. Tucídides nasceu e

morreu em Atenas, portanto será possível descrever Atenas de sua época e como ela saiu de

glória absoluta para derrota infindável.

Se a guerra é inevitável como considera Tucídides, torna-se necessário verificar se caso

Atenas tivesse tomado outras medidas, ou invertido a sua política, a guerra seria evitável,

portanto veremos em seguida a mentalidade de defesa e sobre o império naval ateniense na

Guerra do Peloponeso.

A metodologia utilizada averiguou os estudos já realizados a respeito do tema proposto,

entrelaçando a obra de Tucídides com a literatura da História Política, ou seja, além de

construirmos uma argumentação com os motivos do fim da hegemonia ateniense com o pós-

guerra, iremos utilizar do anacronismo para explicar como conceitos contemporâneos se

aplicam na Grécia Antiga.

Por exemplo, considerando que “hegemonia” é a influência preponderante exercida por

um povo sobre outros, a hegemonia começou na Grécia Antiga, com a hegemonia marítima

2 Tucídides. História da Guerra do Peloponeso, Livro V, Diálogo dos Mélios. 3 Mossé, Claude. Atenas: a história de uma democracia, capítulo terceiro, pág. 53.

5

que os gregos detinham. Nesse sentido explanaremos sobre a construção da supremacia

exercida pelos atenienses.

Na segunda seção desse artigo será exposto um breve contexto histórico do mundo

grego. Iniciando-se desde a Idade do Bronze (3000 a.C.) com Creta, a primeira civilização da

Antiguidade grega e todas as invasões que formaram o povo grego, seguindo até o Período

Clássico (iniciado em 500 a.C.), momento muito importante da formação da Liga de Delos,

liderança de Péricles e início da Guerra do Peloponeso.4

Em seguida, no tópico 2.1, trataremos sobre os motivos da Guerra desde a antipatia

entre Esparta e Atenas, iniciada nas Guerras Médicas, até o crescimento desenfreado da Liga

de Delos nas rotas comerciais marítimas. O tópico 2.2, sobre a Guerra em si, nos elucidará

sobre o estopim e as movimentações estratégicas sobre a Guerra do Peloponeso.

A Liga de Delos, estudada no tópico 3 foi liderada por Atenas e veremos como se

afundou em um poço de decisões erradas e terminou a guerra com o fim de sua hegemonia.

Nesse sentido, estudaremos como no século IV a.C., o quadro político do mundo grego passou

por grandes mudanças, graças as alianças formadas pela Guerra do Peloponeso.

Já a Liga do Peloponeso, estudada no tópico 4, foi formada por Esparta, Corinto e Tebas

ganhou o conflito. Em 404 a.C., Esparta conquistou a hegemonia no mundo grego e nessa parte

do capítulo elucidaremos o histórico de formação da Liga do Peloponeso e suas principais

estratégias.

Ou seja, entre os tópicos 3 e 4 será esclarecido acerca das alianças e os polos da Guerra.

Nesse sentido é de grande relevância explicitar a importância de entendermos a formação tanto

da Liga de Delos como da Liga do Peloponeso, já que para compreendermos as estratégias

diplomáticas e políticas dos grupos, precisamos saber os principais interesses.

Por fim, no tópico 5 antecedendo a conclusão, discorreremos sobre o caso ateniense.

Que em meados do século V a.C., tinha atingido um considerável desenvolvimento, tanto no

campo econômico e político, como no domínio cultural, a ponto de Péricles poder afirmar que

Atenas era a “escola da Hélade”5, porém Atenas passou desse esplendor para uma derrota

catastrófica.

4 É de suma importância dizer que resumos de contextualização histórica são muito perigosos, pois sempre serão

incompletos. A ideia é apenas introduzir a construção do mundo grego, até o início da Guerra do Peloponeso. 5 Tucídides, Livro II, 41.

6

2. Contexto Histórico

A área ocupada pela antiga civilização grega não corresponde à Grécia atualmente. Os

gregos antigos não formaram um Estado unificado, mas estenderam sua influência sobre

uma área geográfica. 6

A civilização grega é originária de quatro grupo étnicos: Aqueus, Jônios, Eólios e

Dórios que migraram para a península Balcânica entre 2000 e 1200 a.C. Os gregos antigos

criaram sociedades diferentes, mas sentiam-se parte de um mesmo conjunto cultural: a

Hélade. Por esta razão, nunca se identificaram usando o termo “grego”, derivado do nome

que os romanos lhes deram: graeci. 7

Creta foi o início de tudo, a maior ilha do Mediterrâneo oriental, foi cenário da primeira

grande civilização da Europa: a civilização minoica ou cretense, cujos primeiros

assentamentos são de 6.000 a.C.8

No terceiro milênio, início da idade do Bronze, os povoados se tornaram maiores, com

grandes palácios construídos de pedra calcária. Creta era ao mesmo tempo moradia real,

centro religioso e núcleo comercial. Em 1450 a.C., os micênicos, cuja civilização

desenvolveu-se durante o segundo milênio, tomaram Cnossos e acabaram com o controle

econômico de Creta sobre o mar Egeu.

Começava, então, o período micênico, que se prolongou até cerca de 1100 a.C. Os

micênicos falavam uma forma de grego arcaico e sua civilização tinha um forte sentido

militar. Entre 1400 e 1200 a.C. os principais núcleos micênicos estavam no Peloponeso

(Península no sul da Grécia), nas cidades fortificadas de Micenas, Argos e Pilos. O centro

administrativo de Micenas ficava no caminho de uma importante rota comercial que

cruzava o nordeste do Peloponeso.

A influência do Oriente Próximo na civilização micênica manifestou-se também nas

tecnologias de guerra. Dessa região os micênicos trouxeram carros de guerra para serem

usados nos combates pelos guerreiros. Os soldados da aristocracia partiam para as batalhas

com armadura completa e um par de perneiras feitas de bronze. Usavam um elmo, fabricado

com presas de javali e com orelhas de metal. A infantaria portava lanças compridas,

escudos octogonais e às vezes utilizavam elmo.

Sendo assim, enquanto os cretenses deixaram uma influência cultural devido às suas

relações comerciais, os micênicos construíram sua supremacia desenvolvendo um sistema

militar.9

Já no final do século XII a.C. o mundo micênico chegou ao fim. Os dórios tomaram

Creta e fundaram Esparta, no Peloponeso. Pouco ou quase nada sobreviveu a essa invasão,

as cidades foram incendiadas e acabaram reduzidas a condições de aldeias.

Nesse período (Idade do Ferro), a grande característica foi a revolução tecnológica

provocada pela metalurgia e o ferro. Na época, oikos, que significava uma unidade

econômica e familiar, era formado pela família de um chefe guerreiro (líder do grupo), por

todos os servidores e escravos e ainda pela terra, casa, ferramentas, gado, armas e tudo que

garantisse a sobrevivência do grupo.

O trabalho era realizado por escravos, que eram comprados ou obtidos por meio de

invasões e guerras. O tratamento dado aos escravos era diferenciado, já que alguns tinham

6 FLORENZANO, Maria Beatriz. O Mundo Antigo: economia e sociedade. 13. Ed. São Paulo: Brasiliense,

1998. 7 Ibid. 8 Ibid.

7

privilégios porque eram leais ou executavam bem sua tarefa, e incrivelmente esses escravos

tinham condição de vida melhor do que alguns homens livres e pobres.

Os chefes do oikos acumulavam o poder econômico e político, juntos formavam uma

aristocracia fechada e reforçavam sua união por meio dos laços de parentesco, amizade e

fidelidade. Decidiam o destino da comunidade nas assembleias, mas o povo limitava-se a

aplaudir ou vaiar, pois não tinha direito a propor ou votar nenhuma decisão.

Durante 200 anos, os povos da Grécia antiga se mantiveram num relativo isolamento.

Por volta de 900 a.C., esse quadro começou a mudar com o crescimento das relações

comerciais no Mediterrâneo. A população aumentou, favorecendo o aparecimento das

cidades. Por volta de 700 a.C., surgiram as cidades-Estados ou pólis, organização de maior

destaque da sociedade grega antiga.

O surgimento da pólis marca o início do Período Arcaico, que se prolonga até cerca do

ano 500 a.C. A pólis pode ser definida como comunidade política independente. Embora

cada pólis tenha se desenvolvido à sua maneira, havia duas características comuns a todas

elas: ágora e a acrópole. A ágora ou praça central era o espaço onde se reuniam os cidadãos

para discutir a vida política e decidir sobre ações a serem tomadas. No seu entorno estavam

os edifícios públicos e religiosos, feiras e mercados. A acrópole ou cidade alta era o

conjunto arquitetônico situado no alto de uma colina. Nela eram construídos os templos e

os prédios mais nobres, que expressavam o poder e a grandeza da pólis. O lugar tinha

também uma função defensiva.

Apesar de partilharem o mesmo espaço público, nem todos os habitantes de uma

cidade-Estado eram considerados cidadãos. Apenas os homens livres participavam da vida

política da pólis e tinham cidadania. A mão de obra escrava garantia o funcionamento da

economia, liberando os homens livres do trabalho no campo.

Em Atenas, os escravos, os estrangeiros (metecos), comerciantes em sua maioria e as

mulheres, responsáveis pelos cuidados da casa e da família, não eram considerados

cidadãos.

A estabilidade da pólis era, porém, abalada por crises econômicas. O solo rochoso

prejudicava os rendimentos agrícolas. Boa parte da população se endividava, pois pedia

empréstimos em gênero aos proprietários das melhores terras, comprometendo-se a

entregar a sexta parte de sua colheita ao credor.

O código Ateniense em vigor no século VI a.C. havia sido escrito por Drácon, em torno

de 620 a.C. As leis draconianas davam ao conselho de anciãos da cidade o poder de julgar

os crimes graves e punir os infratores com a morte ou o exílio. Consagravam o poder

paterno sobre a família e demais habitantes da casa, favoreciam a aristocracia agrária e

ignoraram os pobres. Além disso, eram muito rigorosas: previam pena de morte até para

roubos.

Aristocrata de nascimento, Solón foi eleito arconte, em 594 a.C., com amplos poderes

para executar reformas sociais e políticas. Proibiu a escravidão por dívidas e anulou as

dívidas existentes, facilitando o retorno daqueles que haviam sido vendidos como escravos.

Estabeleceu quatro categorias de cidadãos, a partir de critérios censitários, isto é, com base

na renda anual e não mais no nascimento. Todos os homens nascidos em Atenas,

proprietários ou não de terras e capazes de custear sua participação no exército, tornaram-

se cidadãos.

Porém, a mais alta magistratura de Atenas, o arcontado, continuava a ser exercita pelos

membros da primeira classe censitária, ou seja, os mais ricos. Os escravos, os estrangeiros

e as mulheres continuavam excluídos da categoria de cidadãos. Sólon também criou a Bulé,

conselho encarregado de preparar os trabalhos da assembleia dos cidadãos (Eclésia),

composto de representantes das tribos atenienses. A Bulé era, na verdade, um reduto da

aristocracia rural.

8

Apesar das reformas de Sólon, as tensões sociais continuaram em Atenas, o que

favoreceu o surgimento de Tiranias, em 545 a.C., com Pisítrato. Durante seu reinado, as

famílias de agricultores alcançaram uma posição relativamente segura: receberam as terras

dos nobres exilados e empréstimos para o cultivo. Pisístrato criou e encorajou a colonização

da Trácia, impulsionou o comércio, incentivou os cultos religiosos populares e realizou

grandes obras públicas, que valorizaram o aspecto urbano de Atenas.

Ao morrer, em 510 a.C., Pisístrato foi sucedido por seus filhos, que não conseguiram

se manter no poder por muito tempo. Dois anos depois, Clístenes, com forte apoio popular,

inaugurava o regime democrático em Atenas. Considerado o “pai da democracia grega”,

Clístenes empreendeu uma grande reforma. Incluiu no corpo de cidadãos certo número de

metecos e de libertos (ex-escravos) e separou os cidadãos em 10 tribos e 160 divisões

administrativas, os demos.

Apesar de incentivar a ampliação da cidadania em Atenas, Clístenes reforçou o poder

da Bulé, controlada pelos cidadãos mais ricos, cujo poder rivalizava com o da assembleia

popular. O regime ateniense combinava assim, a democracia direta (participação de todos

os cidadãos na Éclesia) com a democracia representativa (onde prevalecia o poder dos

cidadãos mais ricos através da Bulé).

As famílias mais ricas compunham a elite intelectual e política de Atenas. Viviam na

cidade, dedicando-se à política, à filosofia e às atividades físicas. Cumpriam à risca o ideal

“mente sã, corpo são”.

Os cidadãos que viviam do artesanato trabalhavam lado a lado com seus escravos,

enquanto os pequenos proprietários dedicavam-se às tarefas no campo com o auxílio da

família. Como obtinham o sustento com o próprio trabalho, restava-lhes pouco tempo para

assuntos da política e da filosofia.

A democracia ateniense possuía uma particularidade importante: os direitos políticos e

civis eram muito desiguais. Apesar de livres, os metecos se ocupavam apenas do comércio

e das manufaturas, porque não tinham direito a possuir nenhuma propriedade fundiária.

Como os demais cidadãos, pagavam taxas ao Estado, mas precisavam de um tutor para

representá-los nos tribunais. Ao menor deslize, poderiam tornar-se escravos. Era o caso

daqueles acusados de transgredir as leis da pólis.

Além de ser baseada na escravidão, a democracia ateniense criou, paulatinamente,

instrumentos restritivos da cidadania. Entre 488 e 487 a.C., aplicou-se pela primeira vez o

ostracismo, ou seja, a cassação dos direitos políticos de um cidadão por dez anos. A decisão

foi tomada em assembleia com um quórum mínimo de seis mil cidadãos, que votaram por

escrito e em secreto. Nessa mesma época, os arcontes passaram a ser escolhidos por sorteio

a partir das listas elaboradas pelas dez tribos atenienses. Esse sistema de eleição

enfraqueceu a posição do arcontado, a mais antiga magistratura em favor dos dez estrategos

eleitos pela assembleia, que se ocupavam da política interna, externa e das questões

militares.

Em meados do século V a.C. novas mudanças políticas aprimoraram o funcionamento

da democracia à moda ateniense. Em 451 a.C., Péricles, que foi eleito para a função de

estratego pelo menos quinze vezes, criou uma lei determinando que apenas filhos de pai e

mãe atenienses fossem considerados cidadãos10. Entretanto, todo cidadão ou meteco era

considerado apto para o serviço militar. Em caso de guerra, cabia a assembleia decidir

quantos seriam recrutados.

O conflito entre persas e gregos durou boa parte do século V a.C. e ficou conhecida

como Guerras Médicas. O início da ofensiva persa ocorreu ainda no reinado de Dario I, as

10 VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. São Paulo: Edusc, 2003.

9

populações das colônias gregas na Anatólia se revoltaram, com o apoio de Atenas, mas

foram vencidas em 494 a.C. Dario I enviou uma expedição à Grécia, mas não obteve êxito.

Seu filho e sucessor, Xerxes I, organizou outra invasão. A guerra ocorreu, sobretudo,

pela hegemonia comercial no mar Egeu e adjacências. Algumas cidades gregas se

submeteram ao poderio do exército persa, menos Atenas e Esparta, que se aliaram na Liga

de Delos. Os persas derrotaram os espartanos na famosa Batalha de Termópilas, no verão

de 480 a.C., e saquearam Atenas, mas não conseguiram sustentar a situação. No mesmo

ano, a frota ateniense derrotou a esquadra persa na Batalha de Salamina. No ano seguinte,

a coalizão grega afastou de vez o perigo da invasão.

Atenas foi a cidade mais beneficiada com a vitória. Aumentando o seu poder econômico

e impondo sua hegemonia no mundo grego, com exceção de Esparta e suas aliadas, fazendo

a Liga de Delos um verdadeiro império. O apogeu ocorreu no governo de Péricles11, que

reforçou as alianças entre Atenas e as regiões fornecedoras de cereais, sobretudo a Crimeia

no mar Negro e a Trácia na atual Turquia. Promoveu, a consolidação do poder ateniense e

do regime democrático e impulsionou o desenvolvimento da filosofia e das artes.

O século V a.C. ficou conhecido como o século de Péricles. O democrata combateu os

conservadores, os corruptos, os traidores, teve que combater ameaças de guerra das outras

póleis, como também empreendeu as próprias batalhas. Péricles dedicou-se a promover o

desenvolvimento econômico, social e cultural de Atenas. A Grécia então entrou na Era

Clássica de sua história.

2.1 Antecedentes da Guerra do Peloponeso

A rivalidade entre Atenas e Esparta decorre desde, pelo menos, as Guerras Médicas, pois

durante esse evento as poléis enfrentaram choques de interesse. Porém, o crescimento

exarcebado da Liga de Delos fazia o conflito ser inevitável. De acordo com o

historiador Tucídides: A partir de 460 a.C., conflitos começaram a acontecer com crescente

frequência, levando ao que ficou conhecido como a Primeira Guerra do Peloponeso.

Atenas vivia sua era de ouro, nenhuma outra polis igualava em riqueza e esplendor. Por

meio das alianças com as cidades que compunham a Liga de Delos, Atenas tinha as fundações

necessárias para expansão de seu império emergente. Porém, existia um adversário que não

tinha a intenção de entregar toda a Grécia para os atenienses, e esse adversário era composto

pelos guerreiros mais temidos do mundo antigo: os espartanos.

Em 433 a.C. estava em vigor um acordo de paz entre Esparta e Atenas, que foi selado após

o fim das hostilidades de anos anteriores. Esse acordo deveria durar por 30 anos. Porém, a

tensão entre as potências gregas era crescente.12

As principais tensões entre as poléis que deflagraram a guerra são:

Questão de Corinto

Embargo econômico em Mégara

Questão de Corinto: Corinto, que era aliada de Esparta, sentia ameaçada pelo crescimento

da influência de Atenas sobre o territórios e rotas comerciais dominadas por Corinto. A ilha de

Córcira, que era uma colônia de Corinto, estava sendo assediada por Epidammo, outra colônia

11 Pericles foi o grande estrategista ateniense, ao preocupar-se, desde 445 a.C., com o estabelecimento de linhas

de abastecimento seguras para Atenas. 12 MOSSÉ, Claude. Atenas: a história de uma democracia. Brasília: EDUnB, 1979.

10

de Corinto. Córcira possuía uma das maiores frotas navais e por isso decidiu atacar Epidammo,

que enviou um pedido de socorro a Corinto. Porém, a cidade decidiu apoiar a colônia de

Epidammo em detrimento de Córcira. Que se vendo em uma posição desvantajosa ameaçou

pedir apoio para Atenas. Os espartanos não tinham interesse em uma guerra naquele momento,

e como líder da Liga do Peloponeso, Esparta obriga Corinto a fazer concessões a Córcira para

evitar um conflito maior. 13

Como a população de Córsira ainda se sentia ameaçada por Corinto enviaram emissários a

Atenas, os quais se reuniram com Péricles e lhe disseram: “Só existem três frotas navais

relevantes na Grécia. A sua, a nossa e a de Corinto. Se formos dominados e a nossa esquadra

capturada, vocês terão que lutar contra uma força combinada superior à sua.”14

Então os Atenienses incluíram Córsira como membro da liga de Delos, o que revoltou os

espartanos. O líder ateniense instituiu um pacto exclusivo com Córcira, assim a liga de Delos

garantia que defenderia a ilha apenas em caso de agressão por parte de agressores externos.

Embargo econômico em Mégara: Com o ocorrido em Corinto, a cidade de Mégara

decide apoia-la, começando a fazer uma campanha em prol de uma guerra contra Atenas.

Então, os atenienses decidem retaliar Mégara decretando o primeiro embargo econômico

registrado na história15. Assim os comerciantes de Mégara não tinham acesso aos portos da

Liga de Delos e nem acesso a Ágora de Atenas. O embargo econômico foi devastador para a

economia de Mégara.

Os espartanos não podiam mais ficar parados frente a expansão do poder de Atenas e seu

império, então Esparta e seus aliados decidem declarar Guerra a Atenas. Tucídides nos relata

que a decisão de Esparta em fazer a guerra foi por temerem “que os atenienses ficassem

demasiado fortes, estando já a maior parte da Grécia em suas mãos”.

Além dessas tensões nas outras póleis Tucídides afirma que (1,23,6), “a causa mais

verdadeira do conflito, mas a menos comentada, foi o crescimento do poder (arkhe) de Atenas,

que amedrontava os espartanos e forçando-os a guerra”.

Péricles acabou sendo conivente com a Guerra, por medo de fazer acordos com os

Espartanos e afirmou: “se aceitarmos as exigências deles agora, em seguida nos pedirão outras

concessões, ainda maiores, já que fizemos a primeira concessão por temor” (Tucídides,

1,140,5).

Antes de iniciar a Guerra, Esparta conduziu uma assembleia em que os aliados da Liga do

Peloponeso fizeram várias queixas não só os atenienses, mas também aos Espartanos que foram

acusados pelos Coríntios de negligência.16

Os Atenienses na sua defesa afirmavam que não havia rompido a Paz dos Trinta Anos,

lembrando os espartanos ainda do poderio ateniense, demonstrado nas Guerras Médicas, e

recomendando-os a buscar uma saída diplomática17. Por fim, Esparta decide que os atenienses

de fato quebraram a Paz dos Trinta anos, e declara guerra contra Atenas e seus aliados, dando

início à Guerra do Peloponeso.

13 DE STE. CROIX, G. E. M. The origins of the Peloponnesian War. Oxford: Oxford University Press, 1972. 14 Tucidides 1,33,3 15 Sun-Tzu, A arte da Guerra. Sun-Pin; tradução a partir do inglês de Ana Aguiar Cotrin – 2ª Ed. São Paulo:

Editora WMF Martins Fontes, 2009. 16 Tucídides, 1,1,68 17 Tucídies 1,1,73

11

18

Figura 1, Mundo Grego pré-Guerra. Importante perceber que os aliados de Atenas, em sua

maioria, estavam localizados em costas litorâneas. História das guerras / Demétrio Magnoli,

organizador. 3. ed. Sao Paulo: Contexto, 2006.

12

Figura 2, Mapa centralizado do mundo grego. Importante perceber a proximidade de Atenas e

Esparta. Imagem retirada do Historia das guerras / Demetrio Magnoli, organizador. 3. ed. Sao

Paulo: Contexto, 2006.

13

2.1 Guerra do Peloponeso

Quando a Guerra do Peloponeso começou, os espartanos queriam atacar por terra e

fazer o que se conhece atualmente, como “estratégia da terra arrasada”, ou seja, deixar os

atenienses sem terras férteis, destruir plantações e bloquear as rotas terrestres de chegada de

materiais forçando, assim, Atenas a aceitar a paz ou lutar sem ser pelo Mar, já que os espartanos

eram excelentes em guerras terrestres.

Atenas era um esplendor no que tange a Arte, Filosofia, Política e até acordos

diplomáticos. Entretanto, o exército ateniense era menor e menos preparado para os combates,

principalmente quando esses eram terrestres. O que os atenienses tinham a seu favor no início

da guerra era Péricles, líder democrata que utilizava muito bem da sofistica para aprovar o que

ele aconselhava. Nesse sentido, algo muito positivo de sua influência em Atenas foi a

elaboração de uma contra-estratégia inovadora.

Atenas importava muitos grãos do Egito e da Criméia, os tributos proviam, em tempos

de guerra, não só dos cidadãos atenienses como também dos muitos aliados da Liga de Delos,

ou seja, os espartanos não conseguiriam bloquear todas as rotas comerciais. O que inviabilizava

o plano de “terra arrasada” pretendida pelos espartanos. Historicamente, era sabido pelo rei

espartano que Atenas preferia uma posição mais conservadora em relação a guerra, sempre

atacando pelas costas marítimas, o que se diferenciava muito dos espartanos lacônicos, os quais

preferiam uma estratégia mais tradicional do ataque frontal e terrestre.

Péricles era mais defensivo, tinha estratégias mais conservadoras e ficou conhecido

pela sua famosa frase: "O que eu temo não é a estratégia do inimigo, mas os nossos erros", por

isso adotava uma postura conciliatória frente a Guerra do Peloponeso.

Os atenienses estavam seguros, já que eram protegidos por uma muralha que ligava a

Pólis a seu porto, podendo continuar as trocas comerciais e sendo sempre guarnecidos. Houve

muito êxodo rural, já que os camponeses se sentiam mais resguardados dentro dos muros da

cidade.

“A poderosa frota ateniense manteria a ordem no império,

garantiria o abastecimento a cidade e ainda permitiria que o Peloponeso

fosse acossado por mar, exigindo que os espartanos não abandonassem

sua retaguarda desguarnecida, dividindo o exército inimigo.” 19

Os espartanos tinham um problema grave: o exército que se organizava para recolher

os efetivos durante a primavera e o outono. A maioria dos soldados eram obrigados a deixar os

postos de batalha para ajudar os camponeses. Já Atenas não tinha tal obrigação, pois tinham

muitos escravos.

Tucídides demonstra que Péricles era um democrata que oferecia os melhores

conselhos, as respostas mais adequadas para a solução dos eventos, em prol dos interesses da

cidade. Pericles e exaltado por Tucídides por suas capacidades intelectivas, as quais utiliza para

demonstrar as possibilidades desencadeadas pela guerra e percebe-la além dos fatos que a

iniciaram. Mas a democracia Ateniense também limitava Péricles. Por exemplo, o líder militar

tentou mudar a lei de cidadania, que não permitia que filhos de atenienses com estrangeiros

fossem reconhecidos como cidadãos atenienses. Ele fez isso para tentar ajudar seu único filho

que ainda estava vivo, mas as assembleias se recusaram a aceitar a medida.

Péricles conseguiu convencer os atenienses a abandonarem os campos e irem para a

cidade murada, mas teve dificuldade de montar uma ofensiva marítima já que os atenienses

19 MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras, organizador. 3. ed. Sao Paulo: Contexto, 2006

14

não queriam levar um grande número de militares para o combate. Ponto importante para

entender um dos motivos do declínio ateniense, foi o êxodo rural, já que houve um inchaço

populacional e as leis atenienses só consideravam cidadãos aqueles que estavam no exército.

Ou seja, não teve como realocar esse contingente de pessoas e a aglomeração humana em

Atenas permitiu que uma praga, vinda com os grãos do Egito e da Líbia, se propagasse com

rapidez, causando grande devastação humana.

De 430 a.C a 427 a.C milhares de pessoas morreram. Tucídides descreveu alguns dos

mortos e os sintomas da doença: fortes febres, sensação de queimação, pústulas, tosse contínua

e até delírios. Se Atenas tivesse aceitado mais pessoas no exército, haveria menos concentração

de pessoas nas cidades e mais homens para formar o que Péricles tanto desejava: uma enorme

ofensiva marítima contra Esparta.

“Em meio a praga, um destacamento foi enviado a Potideia,

levando a doença para as tropas distantes. Enquanto as outras cidades

permaneciam sem a praga, tanto pelo pouco contato com os atenienses,

como pela menor aglomeração humana, Atenas perdia pela doença os

homens que não perdera em campo de batalha. Os ataques a Esparta

eram, assim, débeis, e as cidades do Império Ateniense, pressionadas a

pagarem tributos de guerra, mostravam descontentamento ou mesmo

revolta. Em meio a crise, uma oferta ateniense de paz foi rejeitada por

Esparta em 430 a.C.”20

Quando a peste se espalhou Péricles estava fora da cidade, liderando ataques navais no

Peloponeso, mas quando retornou ficou aterrorizado com o que viu. Muitos dos cadáveres que

se espalhavam pelas ruas geravam uma visão imunda de Atenas. Moscas, ratos e cães atacavam

os cadáveres que eram postos em carroças para serem cremados.

"Os templos e demais edifícios públicos da cidade enchiam-se

de cadávares e os mortos eram cremados ou enterrados de maneira

caótica, sem as cerimônias fúnebres habituais. A ordem pública entrou

em colapso". (KING, 1988, p. 79).

Em 429 a.C, Péricles contraiu a peste, ficando muito doente até morrer. Atenas não

voltaria a ter nenhum outro político igual a Péricles ou que tivesse sua popularidade. Péricles

foi um grande líder, defendeu como poucos a democracia em seu tempo, a importância da

cultura, das artes, da educação, da política, da boa conduta, da cidadania, das alianças e

amizades. Segundo Plutarco: "Ele considerava que o seu maior mérito era o fato de que, apesar

do imenso poder de que dispôs, jamais cedeu a sentimentos de inveja ou de ódio e nunca tratou

ninguém como um inimigo tão irreconciliável que este não pudesse jamais tornar-se um

amigo".

E possível perceber na escrita de Tucídides a associação da derrota ateniense na guerra

a desconsideração dos conselhos de Pericles, assim como a ambição e a incompetencia dos

líderes que alçaram o poder da cidade apos sua morte. Para Tucídides, a morte de Pericles e a

ausencia de seus conselhos sabios estao associadas a derrota final de Atenas na guerra:

20 MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras, organizador. 3. ed. Sao Paulo: Contexto, 2006

15

“Pericles sobreviveu dois anos e seis meses ao inicio da guerra; depois

de sua morte foi ainda mais admirado pelo valor de suas previsoes

quanto a mesma. De fato, ele havia aconselhado os atenienses a

manterem uma politica defensiva, a cuidarem de sua frota e a nao

tentarem aumentar o seu imperio durante a guerra. Eles, porem, agiram

contrariamente a tudo isto e, mais ainda, em assuntos aparentemente

alheios a guerra foram levados por ambicoes pessoais e cobica a adotar

politicas nocivas a si mesmos e aos seus aliados.”21

A Liga de Delos e a Liga do Peloponeso acreditaram que a Guerra seria mais rápida.

Nesse caso, Esparta subestimou o poderio de Atenas. Após o final de 421 a.C. a guerra estava

equilibrada e as cidades desgastadas. Por isso, o primeiro período da guerra foi encerrado

pelo Tratado de Nícias, que garantia a paz durante cinquenta anos.

O segundo período foi de 415 a 413 a.C. Alcíbiades22 liderou um movimento de

oposição a Esparta no Peloponeso; suas esperanças acabavam com a vitória de Esparta

em Mantineia, em 418 a.C.

Em 415 a.C., foi preparada uma grande e poderosa esquadra, comandada por

Alcibíades, para atacar a Sicília e outras regiões da península itálica, colônias de onde

provinham os alimentos para Esparta e seus aliados. Na visão de Tucídides a segurança da

cidade é colocada acima de tudo, e para alcança-la só agindo prudentemente, assim os

Atenienses deveriam reavaliar suas decisões quanto a expedição a Sicília.

A opinião de Nícias coincide com a concepção de Tucídides tendo em vista que para

os dois a força necessária para conquistar a Sicília tinha sido erroneamente estimada e que os

jovens estavam sendo levados pela paixão e não pela razão.

O desfecho da expedição Siciliana foi um fracasso, assim como a derrota de Atenas na

Guerra do Peloponeso, esse ambiente de rompimento do tecido social. Alcibíades, principal

defensor da expedição a Sícilia, foi acusado de impiedoso por seus adversários políticos em

Atenas. Alcibíades, então, fugiu para Esparta e traiu os atenienses.

Desde a morte de Péricles, o regime democrático de Atenas enfrentava uma crise entre

oligarcas e populares (Alcibíades e Nícias). As questões internas de Atenas influenciariam nos

anos seguintes na falta de engajamento, nas brigas e no ostracismo, o que terminaria, ao final,

por destruir a própria democracia ateniense.

Então, já na terceira fase da guerra (412 – 404 a.C) os Persas decidiram apoiar os

Espartanos em troca de territórios perdidos nas Guerras Médicas, os oligarcas atenienses

tomaram o poder em um golpe de Estado (411 a.C) e com ajuda espartana vários líderes

populares atenienses foram assassinados.

A Marinha ateniense revoltou-se com a situação da guerra e passou a apoiar o regime

oligárquico, porém as disputas entre os 400 membros do conselho de oligarcas que acreditavam

que Alcibíades voltaria, com apoio persa, para planejar uma revanche contra Esparta.

“As massas conseguiram reunir-se na Pnice — praça da

assembléia popular —, depuseram o regime dos 400 e estabeleceram

que 5.000 hoplitas (os soldados armados) passariam a governar.”

Quando Esparta recebeu ajuda da Pérsia, a liga do Peloponeso conseguiu finalmente

bloquear o abastecimento de grãos proveniente do Egito para Atenas. Como Atenas dependia

dos suprimentos vindos da Criméia pelo Helesponto, os comandantes atenienses Trasibulus e

21 Tucídides, 2, 30. 22 Discípulo de Sócrates.

16

Trasilus derrotaram os espartanos em várias batalhas marítimas para reestabelecer a rota

comercial e a supremacia marítima ateniense. Nesse cenário Demétrio Magnoli descreve os

acontecimentos posteriores da seguinte maneira:

“Os espartanos lançaram mão do apoio persa e construíram uma

poderosa frota, baseada em Efeso. Os atenienses enfrentavam

problemas logísticos no abastecimento de sua Marinha. Então,

Alcibiades23 em 407 a.C., dividiu a frota em duas partes, de modo que

pudesse dirigir-se com uma delas para o norte, a fim de conseguir

suprimentos com a pilhagem de cidades inimigas.”

A maior batalha naval ocorrida na guerra foi a de Arginusa, em 406 a.C,. O espartano

Calicratidas bloqueou a frota ateniense no porto de Metilene. Com a chegada dos reforços de

Atenas, os peloponesios perderam mais de 60 barcos. Calicrátidas morreu em batalha e os

espartanos ofereceram um acordo de paz, que foi rejeitado pelos democratas atenienses.

Na Batalha de Arginusa muitos marinheiros morreram, o que revoltou muitos

atenienses. Sendo assim, alguns comandantes atenienses foram executados. Nesse cenário os

comandantes mortos foram substituídos por generais adversários de Alcibíades, que

propositalmente ordenaram que Alcibíades embarcasse em uma investida suicida em

Aegospótami, no Helesponto, o que permitiu que o líder espartano Lisandro o capturasse, em

405 a.C., junto com toda marinha ateniense.

Com a rota de abastecimento em graos novamente cortada, em Helesponto, Lisandro

impos um bloqueio naval a Atenas, enquanto o rei espartano cercava a cidade por terra. Após

seis meses de sítio, esfomeada, destruída, arruinada economicamente, politicamente e

socialmente Atenas rendeu-se, tendo suas muralhas invadidas e seu império dissolvido.

23 De fato, Alcibíades retornou após a deposição do regime oligárquico, porém sem ajuda da Pérsia.

17

Figura 3- Batalha de Arginusa em que Atenas saiu vitoriosa, mas devido ao mau tempo teve

suas tropas navais impedidas de resgatar alguns de seus náufragos e feridos e entre esses

estavam os 8 melhores comandantes de Atenas, o que foi uma perda incalculável para Liga

de Delos.

18

3. Liga de Delos

Atualmente é comum, com a globalização, os países fazerem alianças diplomáticas,

miliares, econômicas e políticas dependendo de seus interesses, entretanto no mundo Antigo

isso era uma novidade, já que na maior parte do tempo as póleis estavam guerreando uma

contra as outras. A ideia de unir forças, surgiu da necessidade de combater um inimigo em

comum entre os gregos.

Nas guerras Médicas os atenienses tentaram reunir as cidades gregas para combater os

persas e outros inimigos, o que incluía até mesmo outras cidades gregas. Atenas era uma das

potencias econômicas da época, visto que sua frota naval realizava muito comércio, então um

dos objetivos da liga, além de ajuda militar, era cooperar mutuamente em questões econômicas,

por exemplo com a construção de portos em póleis estratégicas. O interessante é que de fato a

liga representou um dos primeiros “mercados comuns” da História, pois a moeda ateniense

passou a ser a moeda padrão da liga.

A confederação começou forte e unida, os aliados dos persas foram derrotados

facilmente nas guerras médicas, expulsos do norte do mar Egeu e os piratas que roubavam os

navios mercantes gregos foram expulsos de seus refúgios nas ilhas. A medida que a liga

ampliava o seu raio de operações, mais cidades nas ilhas e nas costas do Egeu eram convidadas

a participar.

Cada póleis ajudava como podia na Liga de Delos, por exemplo: as maiores forneciam

tropas e navios, já as menores pagavam um tributo conhecido como phoros que ficava retido

na cidade de Delos. Após as Guerras Médicas, em que a Atenas – que fez uma ótima campanha

– forçou as demais póleis continuarem na aliança e obrigou todas as póleis pagarem o imposto.

A partir de 450 a.C, os cofres da Liga de Delos foram transferidos para Atenas, a sede

agora não seria mais Delos, e sim Atenas. Péricles soube aproveitar o momento, e utilizou o

tesouro da liga para revitalizar e reconstruir Atenas, que foi destruída pelos Persas durante as

Guerras Médicas.

Figura 4, moeda comum da Liga de Delos

19

3.1 Formação

Pensando em prevenir uma nova invasão persa, Atenas formou uma aliança de cunho

militar, embora esta gradualmente se tenha tornado uma aliança de cunho econômico. Em

contrapartida, Esparta criou a Liga do Peloponeso, composto pelas poleis daquela região de

mesmo nome.

Essa aliança grega constituída de uma união de cidades-estado foi organizada durante

as Guerras Médicas (499 a.C. – 449 a.C.), um conflito bélico pela disputa sobre a Jônia na Ásia

Menor entre a sociedade grega e o Primeiro Império Persa (Império Aquemênida). Os

atenienses, organizadores da Liga, após sua conquista perante os persas em 479 a.C. forçaram

todas as cidades-estado aliadas a continuarem na liga, tendo a concentração de poder em suas

mãos.

"O líder militar da Liga de Delos era o general ateniense Címon.

Aristocrata renomado por seu temperamento generoso, Címon era

também um brilhante estrategista. Assumindo firmemente o controle

das finanças e da organização militar da liga, ele conduziu os gregos

numa longa campanha contra os exércitos persas na Ásia Menor. [...].

As vitórias de Címon, as doações que fez aos pobres e sua aplicação de

recursos para melhorar os lugares públicos de Atenas tornaram-no

muito popular. No entanto, suas ideias políticas eram conservadoras:

apoiava uma democracia limitada e acreditava que os atenienses

deveriam deixar as decisões a cargo de homens como ele mesmo,

provenientes de famílias aristocráticas". (KING, 1988, p. 29).

A sede da liga era em Delos, que era localizada na ilha de Cíclades ao norte do mar

Egeu. O tesouro era controlado por tesoureiros atenienses, os dez Hellenotamiae. Uma

alternativa ao fornecimento de dinheiro era dar navios e/ou matérias (especialmente madeira)

e grãos. Com isso, Atenas enriqueceu e foi capaz de dominar ainda mais a sua região de

controle. Teve-se então, o início da base do poder e hegemonia da pólis de Atenas.

A concentração do poder em Atenas gerou algumas consequências ao contexto grego,

por exemplo:

1. Padronização monetária de acordo com a moeda em Atenas;

2. Aumento da escravidão em Atenas;

3. Disseminação de modelos de pensamentos filosóficos e de formas de vida para todo o

mundo antigo.

Além disso, é datado nesse período o firmamento da democracia direta ateniense,

conquistada e garantida pelo uso do ostracismo como uma das principais estratégias de controle

social, além disso Atenas estabeleceu algumas regras mais rígidas para a classificação dos

cidadãos plenos atenienses.

Durante a guerra contra o Império Persa, Esparta e Atenas eram aliadas, essa aliança

foi celebrada em 481 a.C. e seria formalmente quebrada em 465 a.C., e após alcançarem

diversas expressivas conquistas, tanto em terra (Batalha de Maratona em 490 a.C.), como no

mar (Batalha de Salamina em 480 a.C.), o Império Persa se viu obrigado a retirar a sua força

expedicionária que estava situada nos territórios de origem grega.

20

Importante ressaltar que Esparta fazia parte da organização ateniense. O abandono

espartano ocorreu após o afastamento da ameaça pérsica durante as Guerras Médicas. Essa

ação espartana causou um enorme atrito com Atenas, que dominava Delos.

Em 450 a.C. quando a sede da Liga foi transferida de Delos para Atenas, toda a

poupança da organização ficou na póleis de Atenas, a qual aplicou em sua infraestrutura,

urbanização, remodelamento ampliando notavelmente o seu poder, transformando-se em um

enorme império marítimo e comercial durante o governo de Péricles, responsável pela

construção do Partenon. Em consequência desse poderio ateniense sobre a Liga, tornava-se

quase impossível sair dela sem contrariar Atenas. São datadas diversas rebeliões e revoltas de

cidades que procuravam se libertar do poder ateniense.

Em suma, o principal objetivo da Liga era de formar, desenvolver e unir a força grega

contra a ameaça persa, além de defender todas as pólis gregas de qualquer invasão, como uma

defesa para possíveis ataques de revanche persa após sua derrota na Batalha de Maratona,

Salamis e Plataea, ocorridas no início do quinto século a.C. Primordialmente, os membros

juraram manter os mesmos inimigos e aliados fazendo um juramento, entretanto quebrado por

algumas póleis, por exemplo, Esparta.

4. Liga do Peloponeso

Diz Tucidides “a causa mais verdadeira embora menos declarada e, penso eu, que

os atenienses, tornando-se poderosos, inspiraram temor aos lacedemonios e os

forcaram a lutar”

A Liga do Peloponeso, também conhecida como Simaquia do Peloponeso foi uma

aliança de várias poleis localizadas na península do Peloponeso. Quando Esparta adquiriu dois

fortes aliados em Corinto e Élida, libertando Corinto da tirania e auxiliando Élis a manter o

controle dos Jogos Olímpicos, Esparta percebeu que a estratégia para conseguir outros aliados

em sua liga seria o ponto decisivo para a política externa espartana: ou seja, ajudar outras poleis

pedindo algo em troca, como por exemplo a adesão a Liga do Peloponeso.

Muitas outras cidades-Estados do centro e do norte da península do Peloponeso uniram-

se a liga, que eventualmente incluía todos as cidades peloponésias, exceto Argos e Acaia. Os

laços entre os membros da Liga e Esparta eram flexíveis, já que era uma aliança mais defensiva.

Não havia um conselho de magistrados que se reunia com regularidade, as cidades-Estados

eram autônomas e cada uma por si, tinha uma representação igual apesar de que Esparta tinha

voto decisivo) quando eventualmente o conselho se reunia.

4.1 Formação

A confederação entre diversas poleis localizadas no sul da Grécia foi a associação

política mais antiga e duradoura no mundo Antigo. Para a pólis de Esparta, a Liga do

Peloponeso deu uma confiável proteção contra revoltas dentro de suas próprias fronteiras,

garantindo seu total domínio na região do Peloponeso e, mais tarde, após a sua vitória na Guerra

do Peloponeso em 404 a.C., toda a Grécia. Contudo toda sua glória e poder acabou quando

Esparta foi derrotada na Batalha de Leuctra (em 371 a.C.) contra uma desenfreada Tebas. Após

essa derrota, a Liga dissolveu-se pouco depois.

Os próprios gregos referiram-se à associação como “os lacedemônios e seus aliados”.

Ao contrário de outras alianças como a sincrônica Liga de Delos, a Liga do Peloponeso não

tinha um acordo vinculativo único, mas sim uma coleção de poleis, cada uma negociando seus

21

próprios termos com Esparta. Dessa maneira, a Liga do Peloponeso não funcionava como uma

liga em essência, tendo em consideração o fato deles não estarem engajados em guerras

coletivas, com isso, as poleis poderiam muito bem guerrear umas com as outras livremente.

As características comuns dessa flexível confederação eram a exigência de que os

membros jurassem manter “amigos e inimigos” em comum, que prometessem dar assistência

a todas as poleis que estivessem dentro da Liga e seguissem a ambição militar de seu líder, a

pólis de Esparta. No entanto, no caso de uma obrigação religiosa, como uma festa religiosa, os

membros poderiam recusar a sua participação.

Esparta era a principal cidade-Estado na Liga de Delos por isso comandava a

assembleia dos Espartanos, em que as decisões dessa assembleia tinham poder de veto, ou seja,

a decisão final cabia aos espartanos e não aos aliados. Havia também um conselho de

magistrados, em que independentemente da polis, cada aliada tinha direito a um voto de mesmo

peso.

Diferentemente, da Liga de Delos não havia cobrança de impostos. Apenas alguns

temporários em caso de força maior: como uma guerra. Os espartanos que convocavam as

reuniões, sendo Esparta, sempre, a mediadora das alianças entre as poleis. Por isso é

questionável o sentido de Liga como aliança de ajuda mútua entre as poleis, já que os interesses

de Esparta eram sempre colocados em primeiro plano.

5. Consequências da Guerra

O filosofo Heraclito (540-475 a.C.) observou que “a guerra e o pai de todas

as coisas” (polemos pater panton).

O Império Ateniense foi fragmentado e as regiões repartidas entre espartanos e persas,

além de perder a liderança da Liga de Delos para Esparta. Antes Atenas queria impor a

democracia por todo o Mundo Antigo, depois da derrota os espartanos instalaram governos

Oligárquicos em todas as poleis da Liga de Delos, além da mudança governamental, que os

espartanos impuseram um regime títeres: regime dos trinta tiranos, eles construíram postos

militares e cobraram tributos, agora os favorecendo. Os Tiranos tomaram o poder por conta

dos interesses espartanos (sempre defensores de regimes fortes), o que explica o desprezo

ateniense por esta fase.

O governo dos Trinta Tiranos estabeleceu uma ditadura terrível em Atenas, com direito

a perseguição política e confiscações contra os líderes democráticos. No final da ditadura, os

tiranos recorreram a tropas espartanas para manter-se no poder por meio da força.

Tebas foi uma polis que cresceu exponencialmente durante, e principalmente, após a

Guerra do Peloponeso, acolhendo democratas atenienses refugiados, tornou-se uma das

principais inimigas de Esparta, concorrendo pela hegemonia no Mundo Grego após o declínio

de Atenas.

Esparta vivenciou uma crise política por disputas internas de poder, ficando um pouco

enfraquecida. Sendo assim, os antigos aliados e inimigos viram a oportunidade para atacar a

hegemonia espartana, o que os levou a buscar o apoio persa. Aos 30 anos da vitória sobre

Atenas, Esparta sairia derrotada em terra pelos tebanos.

Portanto, com a vitória, Esparta ganhou supremacia, mas sua política opressora e seu

apoio à expansão persa sobre as colônias gregas provocaram reação da cidade de Tebas que se

aliou a Atenas, derrotando os espartanos na decisiva batalha de Leuctras, em 371 a.C.

22

Os tebanos até exerceram hegemonia sobre a Grécia por um curto período de nove anos.

Porém a sua tentativa de organizar uma marinha para guerra incomodou os Atenienses. Em

362 a.C, exércitos atenienses e espartanos, agora aliados derrotaram os tebanos na batalha de

Mantineia, encerrando o ciclo das Guerras imperialistas.

Na metade do século IV a.C, as cidades-Estados da Grécia estavam arrasadas pelas

constantes lutas imperialistas, poleis destruídas, crises sociais, econômicas e políticas, em suma

o enfraquecimento do Mundo Grego. Ao mesmo tempo, no norte da Grécia, o pequeno reino

bárbaro da Macedônia expandia-se com Filipe II, que se aproveitou das lutas internas entre os

gregos e dominou algumas cidades que estavam sob a influência de Atenas. Diante do avanço

macedônico, as cidades gregas tentaram reagir, entretanto foram derrotadas e logo permitindo

a conquista da Grécia.

Houve inovações diplomáticas e estratégicas da época da Guerra do Peloponeso, que

foram e são usadas no percurso da História como:

Aliança defensiva

Por exemplo, na Primeira Guerra Mundial: de um lado a Tríplice Aliança (Alemanha,

Império Austro-Húngaro e Itália) e de outro, a Tríplice Entente (Inglaterra, França e Rússia).

Bloqueio econômico/embargo econômico

Por exemplo, o embargo dos EUA a Cuba em 1960.

Recurso à arbitragem internacional

Por exemplo, as reuniões da ONU.

Estratégia da Terra Arrasada

Por exemplo, tática usada pelos Russos nas Guerras Napoleônicas.

Recolhimento da população nas muralhas

Por exemplo, as muralhas de Jerusalém.

Ambos os lados tinham pontos fracos, Esparta passou muito tempo contando apenas

com ataques terrestre e agrícola. Atenas tinha confiança em sua marinha, incapaz de articulação

por terra. Demétrio Magnoli compara: “Muitos seculos depois, ja no periodo moderno,

conclusoes semelhantes seriam estudadas tanto por Napoleao (sobre os erros da falta de

comando unificado, em uma democracia) como pelos ingleses (sobre a fragilidade de uma

marinha sem exercito a altura).”

Outra marca da guerra foi a História escrita por Tucidides, que foi e é uma base para o

estudo do tema. Tucídides foca em escrever a história como uma disciplina que cuida das

mudanças, e a guerra traz muitas transformações, sua metodologia é complexa e o objetivo é a

veracidade de sua narrativa.

5.1 O fascínio pelo poder: paradigma Ateniense

Após as Guerras Médicas, Atenas dominou o comércio no Mar Egeu e exerceu

hegemonia sobre as poleis da Liga de Delos, mantidas a força na confederação para formação

de um grande império. Muito dessa política externa se explica devido a boa campanha de

Atenas ao final das Guerras Médicas, que impunha força, organização e liderança.

Atenas atingiu o máximo de seu esplendor durante o governo de Péricles, que

reconstruiu e embelezou a cidade destruída pelos Persas. Apesar da contradição de que em

relação a política interna ateniense ele era um defensor máximo da Democracia, haja vista ter

adotado medidas democráticas como estender o direito à cidadania, já externamente era um

imperialista, que desrespeitou a soberania de algumas poleis como os Mélios.

23

Frente ao imperialismo ateniense, Esparta organizou a liga do Peloponeso, reunindo

várias cidades aliadas. Esparta detinha um poderoso exército temido por todo Mundo Grego

sendo que a polis de Atenas também tinha um exército respeitável, mas o mais temido era o

tamanho e o poder de sua marinha.

Atenas foi gradualmente ganhando relevância e sendo prepotente, até se tornar o

Império Ateniense que impunha a democracia, cobrava tributos dos aliados e punia quem

não seguisse as ordens atenienses.

A reforma democrática Ateniense até gerou direitos sociais, políticos e materiais que

Atenas tinha de cumprir. Consequentemente, isto obriga à implementação de uma política

agressiva e expansionista do império, colidindo com a Liga do Peloponeso - provocando um

profundo receio.

O sistema oligárquico de Esparta apresentava uma lógica militar adaptado à enorme

desproporção numérica face aos Hilotas e à ameaça colocada pela cidade de Argos - e a atuação

(democrática) de Atenas fazia aumentar estes perigos. Ademais, a Liga do Peloponeso era

constituída por cidades que tinham o mesmo regime político e desempenhavam um papel vital

na segurança e sobrevivência de Esparta - e que a pressionaram a declarar guerra a Atenas.

Apesar de não desejar a guerra, Péricles tinha uma excessiva confiança na superioridade

moral da democracia do seu império e não quis evitar o conflito. Assim sendo, foi adotada uma

estratégia defensiva e de reabastecimento por mar - no pressuposto (equivocado) que Esparta

desistiria das suas investidas.

A democracia era o que causava medo nos espartanos. Já que o crescimento prospero

ateniense, comprovava ou ao menos parecia comprovar, que sua forma de conduzir a política

estava dando certo e seria razoável acreditar que se as poleis adotassem o mesmo regime

prosperariam como Atenas. Mas, se Esparta ou aliados dos Espartanos adotassem o mesmo

regime que os atenienses estariam se curvando diante a hegemonia de Atenas.

Norberto Bobbio afirma que o motivo que faz emergir um conflito armado pode ser a

busca da hegemonia, que consiste na defesa da posição a qual permite o uso da força visando

adquirir ou manter certos privilégios. Atenas buscava consolidar e espalhar sua zona de

influência, enquanto Esparta não aceitava a hegemonia ateniense na Grécia e pensava em partir

para conquista de sua própria zona de influência.

6. Conclusão

No Mundo Antigo a guerra era algo corriqueiro. O filósofo Heráclito (540-570 a.C)

observou que “a guerra e o pai de todas as coisas” (polemos pater panton), ou seja, podemos

entender que, depois de tantas mudanças causadas pela guerra, novas situações surgem. Essas

situações podem ser, por exemplo, o desmonte da Hegemonia Ateniense.

A Guerra do Peloponeso trouxe mais malefícios do que benefícios, pois instaurou uma

crise política, social e econômica em Atenas, enquanto, em um segundo momento Esparta

falhou em desenvolver seus próprios objetivos de construir sua hegemonia, prova disso é que

antigas Aliadas de Esparta (e rivais poderosas de Atenas) como Mégara e Tebas acabaram por

se aliar à Atenas, tanto cedendo refúgio para exilados atenienses como auxiliando na expulsão

da oligarquia dos Trinta tiranos.

Segundo Norberto Bobbio, podemos dizer que existe um estado de guerra quando dois

ou mais grupos políticos encontram-se entre si em uma relação de conflito cuja solução está

24

confiada ao uso da força.24 No caso, os grupos políticos seriam a Democracia versus Diarquia

Militar. Atenas não só queria se expandir como também necessitava, já que a população

ateniense cresceu e precisavam de mais territórios para o cultivo e mais recursos provenientes

de áreas subordinadas.

Sendo assim, pode-se dizer que Atenas se auto sabotou. Já que a busca incansável por

territórios acabou por atrapalhar o próprio expansionismo. Assim como Napoleão e Hitler que

tentaram expandir suas conquistas, deixando de lado estratégias analisadas com mais cautela e

agindo pelo sentimento hegemônico de conquista e propagação de seus ideais políticos e

culturais.

A peste, seguida da morte de Péricles enfraqueceu a cidade-Estado, desuniu os cidadãos

e enfraqueceu o exército, o que gerou muitas baixas nas batalhas, fator decisivo no que se refere

a perda Ateniense.

Ademais, o segredo da supremacia marítima ateniense estava na habilidade de seus

remadores, capazes de realizar manobras complexas sem desorganizar os trirremes. Mas, após

anos de combate muito desses remadores morreram ou foram comprados pelos Persas e

Espartanos, o que influenciou, também, na derrota da Liga de Delos.

A expedição para Sicília organizada por Alcibíades, entra nas escolhas atenienses que

corroboraram para a grande derrota e declínio ateniense, já que nessa expedição Atenas foi

humilhada, inclusive influenciando na autoestima do exército da Liga de Delos. A batalha que

poderia reerguer os ânimos do exército do lado ateniense seria a Batalha de Arginusa em que

Atenas saiu vitoriosa, porém devido ao mau tempo teve suas tropas navais impedidas de

resgatar alguns de seus náufragos e feridos e entre esses estavam os 8 melhores comandantes

de Atenas, o que foi uma perda incalculável para Liga de Delos.

Por fim, encerremos com Noberto Bobbio ao mencionar que por mais que a guerra, em

todas as suas formas, suscite terror e apelos de paz, não podemos apagar os seus indícios de

memória pelo fato de fazer parte da história da humanidade diante de sua busca pela

hegemonia.

“Gostemos, ou não, estando ou não conscientes, a nossa civilidade ou

aquilo ao qual consideremos ser a nossa civilidade, nos leva a afirmar

que talvez não seríamos aquilo que somos sem todas as guerras que

contribuíram para a nossa formação. O binômio guerra-paz

permanece como parte do imaginário social de toda humanidade.”25

24 N. BOBBIO, Teoria Geral da Política: a filosofia Política e as lições dos clássicos. Tradução: Daniella

Beccaccia Versiani. Rio de Janeiro: Editora Campus 2000 p.513. 25 BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Tradução:

Daniela Versiani. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2000.

25

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