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IPU - INTRODUÇÃO AO
PLANEJAMENTO URBANO
O QUE É A CIDADE? Aula 02
Raquel Rolnik – Ed Brasiliense – São Paulo:1988
Profa Noemi Yolan Nagy Fritsch
Prof Estevam Vanale Otero
Prof Fernando Luiz Antunes Guedes
Créditos: Profa Vanessa Gayego Bello Figueiredo
O QUE É A CIDADE?
- A cidade é uma obra coletiva .
- Fruto da imaginação e trabalho de muitos homens (da
sociedade).
- Representa a ação dos homens sobre o território (marcas,
vestígios materiais).
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COMO NASCE?
A cidade nasce a partir da sedentarização, da necessidade
de fixação em um ponto para plantar, colher, armazenar e
guardar.
Com o tempo as sociedades foram adquirindo maiores
conhecimentos técnicos e complexidade nas suas formas
de organização sócio-espaciais.
O nomadismo (característica dos primeiros grupos
humanos) deu lugar às estruturas sociais sedentárias
(núcleos familiares, enterro dos mortos, agricultura,
construções, abrigos) cada vez mais complexos).
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A cidade passa a ser o local dessas transformações,
conforme as técnicas agrícolas se ampliam. Passa a ser
possível destinar o excedente da produção e os indivíduos
para outras atividades (urbanas - não-rurais).
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As cidades que prosperaram localizavam-se
junto aos rios: vales férteis, abastecimento de água,
pesca, vias de circulação e defesa.
Cairo (Egito)/Rio Nilo
Paris (França)/Rio Sena
Bagdá (Iraque)/Rio Tigre
Nova York (EUA)/Rio Hudson
Londres (Inglaterra)/Rio Tâmisa
Roma (Itália)/Rio Tibre
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Para se fixar é preciso garantir o domínio permanente sobre
um território.
Estratégia de domínio territorial:
1. Templo: cerimônias/deuses/religiões
2. Muralhas e fortes: proteção
3. Poder militar: guerras
Apropriação material, ritual e política do território.
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As primeiras cidades: 3.500 a.C Mesopotâmia: Eridu, Ur, Babilônia Zigurate: Templo. O centro era feito de tijolos queimados, muito mais resistentes, e
o exterior mostrava adornos de tijolos cozidos ao sol, mais fáceis de serem
produzidos, mas menos resistentes. Os adornos normalmente eram envidraçados
em cores diferentes. O acesso ao templo era situado no topo do zigurate.
3.200 A.C. Egito: Tebas, Mênfis
2.200 A.C. Vale do Rio Indo (Paquistão)
1.500 A.C. Mediterrâneo e Europa: Ugarit, cidades romanas, Biblos, cidades
gregas e China
150 A.C. Novo Mundo : Teotihuacán (México).
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Mas o que há de comum em cidades tão
diferentes, como as gigantescas metrópoles
contemporâneas e as antigas cidades muradas
da Antiguidade e, posteriormente, da Idade
Média?
A autora relaciona as seguintes definições/características:
1 – Cidade como ímã
2 – Cidade como escrita
3 – Cidade política (civitas)
4 – Cidade como mercado
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1. CIDADE COMO ÍMÃ:
“A cidade é antes de mais nada um ímã, antes mesmo de se tornar local de
trabalho e moradia.”
TEMPLO = ímã que reunia os grupos (cidade dos deuses e dos mortos, que
precede a cidade dos vivos, anunciando a sedentarização)
PLANTIO = abastecimento, sedentarização
TÉCNICA = tijolo, irrigação (cria condições para plantio e construção em
escala)
FORTALEZA = proteção para fixação
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2. CIDADE COMO ESCRITA:
Na história, a escrita e a construção de cidades ocorrem quase que ao
mesmo tempo (necessidade de comunicação, organização social,
memorização, registro e gestão do trabalho coletivo).
Textos que a cidade produz: documentos, ordens, leis, inventários.
E também a própria arquitetura urbana (desenho da rua, casas, praças,
templos, monumentos comemorativos, skyline).
Barcelona - Espanha Lisboa - Portugal São Paulo - Brasil
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3. A CIDADE POLÍTICA “CIVITAS”: participação do cidadão na vida pública da
cidade (gregos – ágora e romanos – fórum).
Do grego polis (cidade, origem das palavras política, polícia, polidez).
Do latim civitas (cidade, origem das palavras cidadão, civil, civismo, civilidade,
civilização).
CIDADE:
•Local de organização da vida social.
•Necessidade de gestão da produção coletiva.
•Não pode ser separada da dimensão política.
ESTADO:
•Autoridade político-administrativa.
•Constituição de um poder urbano para a gestão da vida coletiva: lixo, limpeza
urbana, manutenção da cidade, transporte e trânsito, regras de convivência urbana,
circulação e comércio de mercadorias, etc.
A primeira forma de poder político-administrativo é a REALEZA (centralizado e
despótico)
REI - A base do poder é a guerra
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Conquista e defesa de territórios mantêm o poder monárquico.
A cidade da realeza medieval é a CIDADELA (recinto murado e fortificado onde
se encontram o palácio, o templo e o silo).
• De onde são dirigidos a construção, produção, tributos e guerras.
• Súditos ao mesmo tempo protegidos e compelidos (obrigados, forçados)
pelas muralhas.
•Domínio territorial: muros, guerras e poder despótico.
Estrutura social da Cidadela:
• CENTRO: reis, sacerdotes,
soldados, escribas;
• ENTORNO: artesãos,
empregados, camponeses,
escravos e servos.
A cidadela tem uma HIERARQUIA
que se expressa espacialmente:
Suntuosidade dos palácios reais
e templos;
Simplicidade das demais
edificações. PLANTA DA CIDADE MURADA DE ROTEMBURGO OB DER TAUBER
ALEMANHA
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CIDADE POLÍTICA: A origem da cidade reside no binômio diferenciação social
- centralização do poder.
Existe tanto internamente (diferenciação de grupos/classes sociais)
quanto externamente (conquista/ordenação dos territórios).
POLIS GREGA: Expressa claramente a dimensão política do urbano.
Duas Partes:
•Acrópole: colina fortificada e centro religioso.
•Cidade baixa: em torno da ágora (grande local aberto de reunião).
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OBS. Civitas e Polis: O conceito de cidade não se refere à sua dimensão
espacial, mas política.
O conceito de cidadão não se refere ao de morador, mas àquele que tem
direito de participar da vida política.
A Ágora Grega (Antiguidade) e a Cidadela Medieval (Idade Média)
expressam de maneiras diversas a centralidade do poder na cidade e
como esse poder pode ser percebido:
• CIDADELA: poder concentrado na realeza.
• ÁGORA: poder repartido entre os aristocratas (só era considerado
cidadão quem possuía propriedades).
Escravos, servos, estrangeiros, artesãos e mulheres (embora habitantes)
não tinham direitos políticos.
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Nas mega-cidades como São Paulo ou Nova York, existem
manifestações materiais do poder político-
administrativo?
Estaríamos num espaço urbano mais descentralizado?
Nessas metrópoles nunca antes o poder urbano foi tão centralizado!
“A instantaneidade do computador e das imagens de vídeo permite a
existência de sistemas de controle organizados em estruturas
fortemente centralizadas e hierarquizadas, sem que isso implique
necessariamente em concentração espacial” Rolnik, 1988
Assim, o poder urbano, antes materializado nas pedras dos palácios,
torna-se invisível, mas mais eficiente.
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Apesar do domínio da autoridade político-administrativa sobre a
cidade (e seus habitantes), há uma luta diária pela APROPRIAÇÃO do espaço urbano, que também define a dimensão política da cidade.
Espaços públicos (praças/ ruas): locais de manifestações civis
(políticas).
Espaços privados: apropriação
de casarões ou palacetes por
pessoas de baixa renda: cortiços.
MST: luta pela ocupação de
latifúndios improdutivos.
Reforçam a decadência do
espaço urbano e revelam a
disputa por território, mudando
seu significado e seu valor de mercado.
Cerca de 300 mil pessoas participaram do histórico comício na campanha pelas Diretas Já, na Praça da Sé
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4. A CIDADE COMO MERCADO
A cidade, ao atrair e aglomerar pessoas, reforça as possibilidade de TROCA
(comercial/cultural) e colaboração entre os homens.
Se isolados, os homens devem produzir tudo o que necessitam para
sobreviver.
Quando é possível se obter os produtos necessários à sobrevivência através
da troca, configura-se :
•Divisão rural-urbano
•Divisão do trabalho rural-urbano
•Especialização do trabalho
•Mercado
A divisão do trabalho entre campo e cidade, possibilitou a especialização e o
desenvolvimento das técnicas (metalurgia, cerâmica, vidraria, ferramentas,
armamento, têxtil, etc.).
OBS. Nas cidades antigas (POLIS), mercados e mercadores ficavam fora dos
muros, em feiras e acampamentos.
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Primeiro, os mercados ficavam no interior das cidades .
Depois, ocorre uma divisão de trabalho entre cidades (mercantilização):
- Divisão de trabalho interurbana num espaço politicamente unificado (poder
único e centralizado – reinos, impérios).
- A junção de cidades autônomas (cidades-estado) em impérios criou
condições para o surgimento de uma economia urbana. Ex. Impérios Romano,
Mongol, Chinês.
IMPÉRIO ROMANO:
Comércio livre, rede de estradas,
portos integrados, intensas trocas: mercadorias e cultura.
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Em ROMA o lugar do mercado ganharia um espaço central, o FÓRUM
ROMANO: ao mesmo tempo ágora (assembléia), acrópole (templo) e mercado
(trocas).
CIDADE CAPITALISTA = PRODUÇÃO + TROCA + CONSUMO Hoje a imagem da cidade como centro de produção e consumo é marcante.
Nas cidades contemporâneas não há quase nenhum espaço que não seja investido
pelo mercado.
Esse modelo começou a se formar na EUROPA OCIDENTAL ao final da IDADE
MÉDIA, com o esgotamento do sistema FEUDAL, vindo a se consolidar depois com a
Revolução Industrial (séculos XVIII-XIX).
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DEFINIÇÃO DE CIDADE/CARACTERÍSTICAS COMUNS DE TODAS AS
CIDADES - RESUMO:
1. CIDADE COMO IMÃ:
Atração
Estabilização
Aglomeração
Sedentarismo
2. CIDADE COMO ESCRITA:
Comunicação
Documento /Registro
Lei
Símbolo
3. A CIDADE POLÍTICA “CIVITAS”:
Organização
Gestão
Hierarquia
Centralização do poder
Disputa territorial
Apropriação
4. A CIDADE COMO MERCADO
Produção - Troca - Consumo
Divisão do trabalho
Especialização do trabalho
Circulação de mercadorias