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Investimento e dinâmica em Keynes e Kalecki Maria Isabel Busato Referencias: Busato, M.I. & REIF, A.C. & POSSAS, M.L Uma tentativa de integração entre Keynes e Kalecki: Investimento e dinâmica; Keynes (1936): Capítulos 11 a 13; Keynes (1937): A teoria geral do emprego

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Investimento e dinâmica em Keynes e Kalecki

Maria Isabel Busato

Referencias:Busato, M.I. & REIF, A.C. & POSSAS, M.L Uma tentativa de integração entre Keynes e Kalecki: Investimento e dinâmica;Keynes (1936): Capítulos 11 a 13;Keynes (1937): A teoria geral do emprego

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Apresentar a tomada de decisão de investimento em Keynes e em Kalecki, buscando integrar as visões dos autores para conjuntamente construirmos uma explicação para as fases cíclicas regulares que se quebram eventualmente e repentinamente, dando lugar à instabilidade.

Objetivo

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Investimento e dinâmica em Keynes e KaleckiDinâmica Capitalista: Tendência e Ciclo (foco do artigo)Modelos que adotam o PDE normalmente atribuem ao Investimento papel central para explicar flutuações cíclicas do produto e do emprego.

Sumário da aula:i) Introduçãoii) Decisão de Investir e dinâmica em Kalecki;iii) Investimento e dinâmica em Keynes + Proposta

integradoraiv) Modelo Multissetorial – Construção teórica;v) Modelo Multissetorial – Dinâmica em economias abertas

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Kalecki (já apresentado em aulas anteriores): - Destaque para o fato de que o Investimento possui

efeito dual;- A interação desses efeitos (demanda e capacidade)

defasados gera – em acordo com o Princípio do ajustamento do estoque de capital - uma dinâmica cíclica associada às decisões de Investir;

Crítica: mecanicista?!

Elementos da Integração

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Keynes: EMgK e Taxa de juros são conceitos fundamentais para a

tomada de decisões de Investir. Nos dois conceitos estão incluídas expectativas e, portanto, tomada de decisão sob incerteza.

Visão mais difundida: Contínua revisão de expectativas x Volatilidade da EMgK

Fatos Estilizados: Flutuações bem comportadas com quebras repentinas.

Elementos da Integração

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• Kalecki: Modelo determinista?• Keynes: Instabilidade e baixa capacidade analítica. É

possível teorizar sobre o LP? • Fatos estilizados: O sistema capitalista é marcado por flutuações

‘bem comportadas’ com quebras repentinas.

• Proposta: Integrar a visão dos dois autores para dar conta daquele fato estilizado.

Elementos da Integração

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EMgK x Taxa de Juros Taxa de Juros: De acordo com a TPL a taxa de juros é a recompensa da renúncia da liquidezEMgK: relação entre Fluxo de renda esperada e o preço de ofertaou “é a taxa de desconto que torna o valor presente do fluxo deanuidades das rendas esperadas do capital igual ao seu preço deoferta”

A Emgk é definida em termos de expectativas, Como sãoformadas as expectativas de Longo prazo em Keynes:

Endógenas x Exógenas???• Expectativas e Incerteza fundamental

Keynes, Investimento e dinâmica

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Keynes: formação de expectativas de Longo Prazo

“A renda esperada de um ativo se baseia, em parte, em fatosexistentes que se pode supor sejam conhecidos mais ou menoscom certeza e, em parte, em eventos futuros que podem serprevistos com maior ou menor confiança” (TG, cap. 12 p. 123)

E continua...“seria insensato, na formação de nossas expectativas, atribuirgrande importância a tópicos que para nós são muito incertos[...] por essa razão os fatos atuais desempenham um papel que,em certo sentido, podemos julgar desproporcional na formaçãode nossas expectativas a LP, sendo que o nosso método atualconsiste em considerar a situação atual e depois projetá-la” p.124

Decisões de investir e dinâmica em Keynes: uma leitura

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“não existe base científica pra o cálculo probabilístico, apesar disso a necessidade de tomada de decisões obriga-nos como homens práticos, a fazer o máximo para esquecer esse fato incomodo e na nos comportar exatamente como deveríamos se tivéssemos atrás de nós um bom cálculo” TG, CAP 12)

É paradoxal que a incerteza sobre os eventos futuros crie um antídoto e permite que a tomada de decisões ocorra. Esse antídoto se chama CONVENÇÕES. Conceito presente de forma mais elaborada no artigo de 1937 intitulado “A teoria geral do emprego”.CONVENÇOES: teoria prática do futuro, rotina, agir conforme comportamento médio, o presente pode até ser um guia útil em momentos de normalidade. Ignora-se a perspectiva de mudanças; supõe-se que o estado atual das coisas ou de opinião expressa em preços, nível de produção, e etc, baseia-se num sumário correto das futuras perspectivas. Votamo-nos para o

Formação de Expectativas de Longo Prazo - KEYNES

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CONVENÇOES: teoria prática do futuro, rotina, agir conforme comportamento médio, o presente pode até ser um guia útil em momentos de normalidade. Ignora-se a perspectiva de mudanças; supõe-se que o estado atual das coisas assim prevalecerá por algum tempo;

É a teoria prática do futuro que por se basear em fundamentos tão frágeis está sujeita a mudanças repentinas e violentas. A prática da calma e da estabilidade rompe-se de repente.Por isso a moeda ganha papel fundamental como reserva de valor, porque ela é garantia contra incerteza, pois garante seu valor no tempo. Moeda é liquidez por excelência e não precisa ser convertida por moeda.

Formação de Expectativas de Longo Prazo - KEYNES

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“Na prática, concordamos em recorrer a um método que é, naverdade, uma convenção” p.126

“o fato de maior importância é a extrema precariedade da basedo conhecimento sobre o qual temos que fazer os nossoscálculos das rendas esperadas” (p. 125)

“logo, o estado da expectativa de LP não dependeexclusivamente do prognóstico mais provável [...] depende,também, da confiança com o qual fazemos este prognóstico”

Decisões de investir e dinâmica em Keynes: uma leitura

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Tiramos o foco das contínuas revisões de expectativas e daremos ênfase nos 2 conceitos centrais para nossa análise:

CONVENÇÃO GRAU DE CONFIANÇA.

Capítulo 22 TG: Princípio do ajustamento do estoque de capital,um formato de convenção válida em momentos de normalidade.O ponto central de Keynes é mostrar que os agentes formulam suas expectativas sob incerteza, mas agem seguindo convenções que se materializam em algum padrão de normalidade.As convenções ancoram o sistema porque ancoram a tomada de decisões;A incerteza sempre está presente e a quebra é potencial, materializada em mudanças no grau de confiança e da EMgK.

Decisões de investir e dinâmica em Keynes: uma leitura

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Os determinantes do Investimento: Por que o I é tão sujeito aflutuações?O estado de confiança afeta a escala da EMgK ao impactar a confiança na expectativa sobre o fluxo de rendimentos esperados e não a própria ‘expectativa’.

Temos, portanto, duas fontes de alterações nas variáveis macroeconômicas. Primeiro, as mudanças endógenas, tal como proposto também no modelo de Kalecki e, segundo, as mudanças exógenas, que, mesmo que as expectativas ainda não tenham sido frustradas, poderão ocorrer em virtude de mudanças no grau de confiança, esse sim, exógeno (ao modelo teórico e não necessariamente ao sistema). Mudanças no grau de confiança, em geral abruptas, dão a tônica dos fatores de instabilidade.

Decisões de investir e dinâmica em Keynes: uma leitura

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A análise conjunta permite dar conta da dinâmica capitalista, marcada por:(i) fases de estabilidades ou de normalidade, que ocorrem quando as

convenções estão vigentes e há razões para se acreditar que o estado atual das coisas permanecerá aproximadamente como está – gerando uma dinâmica econômica cíclica ‘bem comportada’, conforme previsto por Kalecki em seu modelo analiticamente superior;

(ii) instabilidade do sistema que ocorrem quando a confiança atribuída ao prognóstico realizado é fraca ou se rompe, quebrando as convenções que ancoravam a tomada de decisões e dando lugar a uma dinâmica instável. Não é a contínua revisão das expectativas que torna instável a EMGK, mas a quebra nas convenções em decorrência da fragilidade da confiança.

Keynes e Kalecki: Investimento e dinâmica, umatentativa de integração

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• Conclusões:1º) as economias capitalistas tendem a apresentar flutuações regulares – com padrão cíclico aproximadamente identificável –compatível com o chamado comportamento convencional, com reversão endógena, que vigora em momentos de normalidade;2º) discutimos um caminho através do qual essa regularidade tende a ser rompida de forma imprevista, dando lugar a flutuações não regulares, explicadas essencialmente pela mudança ‘exógena’ no grau de confiança nas expectativas de longo prazo e na quebra de convenções.Conjuntamente, Keynes e Kalecki dão conta de explicar as duas características dos ciclos econômicos – flutuações e crises, bem como dão conta de explicar a tendência de longo prazo, contribuindo para uma teoria da Dinâmica Capitalista.

Keynes e Kalecki: Investimento e dinâmica, uma tentativade integração

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É o desejo por entesourar, a possibilidade de fazê-lo e não oentesouramento stricto senso que Keynes chama atenção.Porque o desejo pela liquidez, a preferencia pela liquidez e apossibilidade de entesouramento como refúgio contra aincerteza terão papel fundamental na determinação da taxa dejuros;

a taxa de juros é uma medida da relutância dos agentes. A taxade juros expressa a medida da nossa relutância em abrir mão daliquidez. É a recompensa por renunciar liquidez.

Teoria Geral da Taxa de Juros

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Para efetivar plenamente suas preferencias psicológicastemporais um indivíduo depara-se com dois conjuntos edecisões a serem tomadas:• A primeira relaciona-se com aquele aspecto da preferência

temporal que denominei ‘propensão a consumir’, significando que parte da renda de cada indivíduo será consumida e parte será reservada sob alguma forma de comando sobre o consumo futuro;

• O segundo aspecto se relaciona à FORMA que conservará tal poder de comando. Em sua forma líquida (dinheiro ou seu equivalente) ou está disposto a alienar sob alguma outra forma e, se necessário, converter o poder de comando sobre bens em geral?

Em outras palavras, qual e o grau de sua PREFERÊNCIA PELA LIQUIDEZ?

Teoria Geral da Taxa de Juros

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Nas teorias tradicionais, o erro consistiu em querer deduzir ataxa de juros do primeiro desses dois elementos (a antítese dapropensão a consumir é a propensão a poupar), negligenciandoo segundo; é essa omissão que devemos procurar reparar, poisdeveria ser óbvio que a taxa de juros não pode ser umrendimento da poupança ou da espera como tal. Quandoalguém acumula suas economias sob a FORMA de dinheirolíquido, não ganha juro, embora economize tanto quanto antes.

Teoria Geral da Taxa de Juros

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• Por que existe preferência pela liquidez? (p.136)Para começar é preciso distinguir o uso da moeda para transações

comerciais e para uso como reserva de riqueza. Sob o ponto de vista das transações, vale a pena sacrificar alguma quantidade de juro pela conveniência da liquidez. Porém, como a taxa de juros nunca é negativa por que alguém guardaria dinheiro na forma que não rende juros? A condição necessária para que possa existir a preferência pela liquidez pela moeda como meio de conservação de riqueza está na existência da incerteza quanto ao futuro da taxa de juros.O indivíduo para que as futuras taxas de juros estão acima daquelas previstas pelo mercado, tem motivos para conservar em casa dinheiro líquido (os agentes que esperam que as taxas de juros aumentem, com consequente queda no valor dos títulos) logo aumentam a demanda por moeda, são chamadas posição baixista, URSOS

Teoria Geral da Taxa de Juros

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As DIVISÕES na FORMA em que se manifesta a preferência pela liquidez podem ser definidas pelos motivos que as governam:• Motivo transação – isto é, a necessidade de moeda para

operações correntes de trocas pessoais e comerciais;• Motivo precaução – desejo de segurança com relação ao

equivalente do valor monetário futuro de certa parte dos recursos totais – tem influência da incerteza;

• Motivo especulação – que se trata do propósito de obter lucros por saber melhor que o mercado o que trará o futuro, a taxa de juros e o valor dos títulos no futuro. Também tem influência da incerteza.

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No entanto, haverá circunstancias em que mesmo um acréscimo considerável na quantidade de moeda exercera uma influencia comparativamente pequena na taxa de juros. Porque se há um aumento da incerteza quanto ao futuro, a preferencia pela liquidez pelo motivo precaução pode ser fortalecida; por outro lado, é possível que haja uma opinião tão unanime sobre a futura taxa de juros que uma pequena variação nas taxas atuais leva a um movimento maciço em direção à busca de liquidez

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Introduzimos assim a moeda como nexo causal e podemos ter uma primeira ideia de como a quantidade de moeda intervém no sistema econômico. “Contudo, se nos vemos tentados a considerar a moeda como bebida que estimula a atividade do sistema, não nos esqueçamos que podem surgir muitos percalços entre a taça e os lábios”

Embora seja de se esperar que um aumento na quantidade de moeda reduz a taxa de juros, isso não ocorrerá se a preferencia do publico pela liquidez aumentar mais que a quantidade de moeda;E, enquanto se possa esperar que uma baixa na taxa de juros estimule o fluxo de investimento, isso não ocorrerá se a escala da eficiência marginal do capital cair mais que a taxa de juros; e finalmente se o investimento e o emprego aumentarem o efeito sobre a renda depende do multiplicador e, portanto, da propensão a consumir. Se essa cair, o efeito final sobre a renda poderá ser menor que o esperado.

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Não nos esqueçamos que os fatores que governam o grau de confiança nas expectativas de longo prazo são aproximadamente os mesmos que governo a preferência pela liquidez.

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