investigação geoambiental de Áreas contaminadas - reduzindo as incertezas

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Page 1: Investigação Geoambiental de Áreas Contaminadas - Reduzindo as Incertezas

ÁREAS CONTAMINADAS

Por Marcos Tanaka Riyis

Abr a Jun 2013 - www.revistaPE.com.br 21

essa edição, detalhare-mos alguns princípios para que essa investiga-ção tenha a qualidade adequada. Inicialmente,

é preciso que todos os envolvidos no gerenciamento (responsável legal, respon-sável técnico, poder público) estejam cien-tes que é preciso priorizar as etapas de investigação, ao invés de concentrar os recursos na etapa de remediação.

O responsável legal deve entender e exigir o mesmo de seu responsável téc-nico que, por sua vez, deve direcionar seus melhores técnicos, equipamentos, fer-ramentas e recursos para o diagnóstico adequado da área de estudo. Havendo esse “amadurecimento” do mercado, certamente o órgão ambiental olhará com outros olhos um trabalho que avance além do que é soli-citado pelas leis, normas e procedimentos. Isso ainda não ocorre devido à concorrên-cia entre as consultorias - estimulada pelos responsáveis legais - que priorizam o menor custo na investigação para “ganharem” a remediação. Porém, se todos os envolvi-dos derem a ênfase necessária às etapas de diagnóstico, o principal objetivo será alcançado: reabilitar a área rapidamente e reduzir o risco à saúde humana. É funda-mental que sejam utilizadas ferramentas de investigação de alta resolução, ou HRSC (High Resolution Site Characterization), que podem ser vistas em detalhe no site da EPA (Environmental Protection Agency - Agência de Proteção Ambiental dos EUA) [1]. Essas ferramentas são necessárias por-que os métodos tradicionais de coleta de dados (amostragem de solo e instalação de poços de monitoramento), embora estejam totalmente dentro das normas, possuem incertezas, que muitas vezes inviabilizam uma tomada de decisão adequada [2]. Para ilustrar podemos citar dois exemplos:

A metodologia Direct Push (DP) com liner é a modalidade de amostragem de

solo mais utilizada e recomendada no Brasil [3] e no exterior, e considerada a mais representativa, tanto na realização de análises químicas quanto na caracterização do meio físico (geológico e hidrogeológi-co). Para essa segunda finalidade, a amos-tragem DP é extremamente dependente do profissional que está descrevendo as amostras em campo. As diferenças de interpretação tátil-visual levam a diferen-ças de até três ordens de magnitude [4]. Além disso, frequentemente há variações em escala de centímetros nas camadas hidroestratigráficas que não são possíveis de detectar no liner. Existe uma limitação da ferramenta: é muito difícil recuperar amostras de solo na zona saturada, e essa amostragem abaixo do nível de água é fundamental para determinar zonas de fluxo e armazenamento, dimensionar pro-jetos de remediação ou posicionar a seção filtrante dos poços de monitoramento. É adequado tomar uma decisão baseada somente em dados com tantas incertezas?

Um segundo exemplo são os poços de monitoramento. Imagine um poço adequa-damente instalado, sem problemas de pro-jeto ou de execução, que tem, no mínimo, 1m de seção filtrante. Uma amostra de água coletada (excluindo os erros nessa etapa) é uma média ponderada da concentração de todas as camadas hidrogeológicas que estão nesse 1,60m (1,0m da seção filtrante e 0,60m de pré-filtro acima do topo do tubo-filtro). É frequente a variação de condutividade hidráulica de até 4 ordens de grandeza nesse fragmento do aquífero [5], o que nos leva a outra pergunta: a concentração mensurada pelo laboratório é representativa? É possível tomar uma decisão baseada nesses dados?

Para minimizar essas incertezas, podem ser utilizadas as HRSC, que coletam grande densidade de dados, propiciando a elabora-ção de um modelo conceitual mais sólido e uma tomada de decisão mais confortável. Algumas ferramentas têm como função

principal realizar um diagnóstico muito detalhado do meio físico (perfil hidroestrati-gráfico, mapas de condutividade hidráulica, entre outros), outras priorizam o mapea-mento das concentrações de compostos químicos de interesse. No primeiro grupo, que fornece um entendimento excelente do meio físico, mas não fornece informações sobre as concentrações, estão as ferramen-tas derivadas do Cone Penetration Test (CPT) [6] como o piezocone (CPTu), o piezocone de resistividade (RCPTu), o sen-sor de condutividade elétrica (EC), o HPT, o Slug Test Pneumático, entre outros. No segundo, que mapeiam espacialmente as concentrações, mas não fornecem informa-ção sobre o meio físico, estão os equipamen-tos que funcionam pelo método LIF (Laser--Induced Fluorescence), como o UVOST, o famoso MIP e os cromatógrafos de campo. Muitos estão disponíveis no Brasil (RCPTu, UVOST e MIP, pelo menos). Sobre o custo: é superior ao das ferramentas tradi-cionais, porém, se for calculado o custo por dado coletado, as ferramentas de alta reso-lução se tornam muito mais baratas. Além disso, qual é o custo de tomar uma decisão baseada em dados não confiáveis?

Então, para que a investigação tenha a qualidade necessária, é preciso que ela seja priorizada dentro do gerenciamento, que ela vá além do que é obrigatório, que a coleta de dados seja realizada pelo pro-fissional mais qualificado da consultoria e que sejam utilizadas as ferramentas ade-quadas, de preferência de alta resolução. Só assim as decisões poderão ser tomadas baseadas em informações confiáveis e o processo de gerenciamento de uma área contaminada terá menor duração e menor custo econômico, social e ambiental.

ReferênciasAs referências estão online no endereço: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Investigação geoambiental de alta resolução para áreas contaminadasVocê se sente confortável em tomar decisões baseadas em dados pouco representativos? Reduza as incertezas na elaboração do diagnóstico ambiental da área

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Marcos Tanaka Riyis é Diretor Técnico da ECD Sondagens Ambientais Ltda, empresa especializada em Investigação Geoambiental de Áreas Contamina-das; Mestre em Engenharia Civil e Ambiental - Área de Geotecnia Ambiental pela FEB/UNESP; Pós-Graduado em Gerenciamento de Áreas Contaminadas pelo SENAC-SP; Pós-Graduado em Educação Ambiental pelo SENAC-RJ; Engenheiro Ambiental pela UNESP/Sorocaba; autor de diversos trabalhos publi-cados no Brasil e no Exterior sobre Investigação Geoambiental de Áreas Contaminadas.