uso de próteses em cirurgias contaminadas
TRANSCRIPT
Danilo Martins Cardinelli - R1 Cirurgia Geral Hospital Julia Kubitschek - Belo Horizonte, 06/08/10
TEMA
Uso de material sintético em cirurgias limpas: papel bem-estabelecido
Próteses em campos potencialmente contaminados: novos caminhos – novos materiais
Uso de telas em campos contaminados: controvérsias
CONCEITO
NRC 1 - Limpa (eletiva, sem abordagem TGI)
NRC 2 - Potencialmente contaminada (TGI, biliar, apêndice)
NRC 3 - Contaminada (secreção TGI, inflamação)
NRC 4 - Infectada (secreção purulenta, peritonite fecal)
Classificação da Ferida Cirúrgica (National Research Council – 1964)
INTRODUÇÃO 11-20% incidência hérnias incisionais em
laparotomias medianas. Reparação primária leva a grande tensão - taxa
de recorrência de 12% a 50% - tensão e necrose Complicações são comuns após correção de
hérnia ventral: 5%-30% dos casos por laparoscopia e 27%-34% dos casos abertos
Infecção de ferida – principal fator independente para hérnia incisional – 23% incidência
Grandes defeitos da parede abdominal:- Ressecção ampla de tumores malignos- Lesões traumáticas - Anomalias congênitas Não podem ser fechados primariamente - o uso de malhas protéticas então se tornou necessário
INTRODUÇÃO
Defeitos de parede abdominal em campos contaminados: maior dificuldade
Abordagem única ou múltipla em feridas contaminadas
Defeitos fasciais significativos - reparação com malha é preferível (menor tensão) - taxa de recorrência de 3% a 24%.
INTRODUÇÃO
Redução 50% em recorrências com uso de telas
Uso de prótese associado a complicações graves em 10% -15% dos casos (infecção, fístula e erosão da pele)
Malha sintética + feridas contaminadas – aumento de complicações, com remoção necessária em 50% -90% dos casos de infecção [5]
INTRODUÇÃO
Prótese ideal: Força, flexibilidade, compatibilidade com tecido hospedeiro e capacidade de evitar infecções
Vários tipos de malhas: sintéticas e biológicas
PRÓTESES
INTRODUÇÃO Telas absorvíveis (Vycril e Dexon)
• Indicação em casos com risco significativo de infecção de tela e impossibilidade de
fechamento primário
• Uso em casos de trauma
Telas inabsorvíveis
• Causam aderências indesejadas, formação de fístula (0% -2%) e infecções da ferida (2% -17%).
• Tela de poliéster – aumenta taxa fistulas e infecção
• Polipropileno – maior fixação de tecido
• PTFE – menos aderência intestinal
PRÓTESES
Polipropileno Marlex (monofilamento)
Prolene (duplo filamento)
Surgipro (multifilamento)
Atrium (multifilamento)
Vypro (multifilamento)
Politetrafluoretileno (PTFE) Teflon (multifilamento)
Gore-Tex (soft tissue-patch)
Dualmesh
Parietex
Polyester Mersilene (multifilamento)
Dacron
Poliamida Nylon
Poliglactina 910 Vicryl (reabsorvível)
Ácido poliglicolico Dexon (reabsorvível)
Complicações potenciais de malhas sintéticas:
contração de malha,
migração,
inflamação,
seroma,
dobra das bordas em contato com visceras
dor crônica devido à resposta inflamatória ou compressão de nervos.
PRÓTESES
Mais recente: malha biossintéticas - boas possibilidades
- Oferecem arcabouço de colágeno e matriz extracelular permitindo fixação de fibroblastos, angiogênese e deposição de colágeno novo.
- A natureza não sintética destes produtos permite-lhes serem mais resistentes às infecções.
PRÓTESES
espécie de origem (alogênico, xenogenética)
tipo de matriz de colágeno utilizadas (derme, pericárdio, submucosa intestinal)
presença ou ausência de cross-linking
descelularização e necessidade de reidratação
requisitos de armazenamento (necessidade de refrigeração ou não)
PRÓTESES
Vários enxertos biológicos disponíveis no mercado.
Classificação:
FIG- Telas Parietex® e Surgisis®
Pericárdio bovino (TUTOMESH®)
colágeno tridimensional com fibras entrelaçadas boa resistência e fácil colocação
mantém elasticidade do tecido nativo - boa remodelação.
várias indicações em ginecologia, cirurgia cardíaca e plástica, e também em hérnias (incluindo diafragma, femoral, incisional, lombar, inguinal, paracolostômicas e umbilical).
PRÓTESES
Alloderm ®:
bioprótese de matriz dérmica acelular utilizado como um substituto de tecidos para enxerto
de pele há 20 anos Uso recente para a reconstrução da parede
abdominal Muitas publicações, porém, sem consenso para
utilização Chance de afrouxamento e formação de eventração
ou pseudo-recorrências
PRÓTESES
derivado do colágeno da derme suína tridimensional semelhante à derme humana
Aprovado pela Food and Drug Administration (FDA-EUA) para utilização como substituto de tecido.
Usada no Reino Unido desde 1998. Remodelamento lento, boa resistência Fácil manuseio Boa difusão de antibióticos Extremamente cara
PRÓTESES
Permacol ™ :
Poucos dados disponíveis sobre próteses
biológicas – sem níveis de evidência.
Escolha da prótese baseada apenas nas
características dos produtos e no custo.
PRÓTESES
Diversas técnicas para reduzir a tensão
Incisões relaxantes
Liberação de compartimentos
Método de Separação de Componentes (CSM)
Resultados estão longe do ideal.
TÉCNICAS CIRÚRGICAS
Diversas técnicas em hérnia incisional com prótese têm sido descritas:
Técnica de “inlay”: sutura da tela nas bordas da aponeurose. Usada para fechamento de defeitos grandes, não-aproximáveis.
Técnica “onlay”: colocação da tela sobre o fechamento primário de fáscia
TÉCNICAS CIRÚRGICAS
Técnica “sublay” (Rives-Stoppa) técnica livre de tensão , com prótese fixada no espaço retro-retal após o fechamento da bainha posterior do reto/ peritônio.
Objetivo de evitar contato malha-vísceras. Cobertura pelo músculo
diminui complicações em
subcutâneo (seroma,
infecção de ferida)
TÉCNICAS CIRÚRGICAS
Técnica intraperitoneal: malhas “dupla-face” com barreira anti-adesiva. Pode ser feita laparoscopicamente.
TÉCNICAS CIRÚRGICAS
Passo I. Pele e subcutâneo são mobilizados e a a aponeurose do musculo oblíquo externo é incisada via para-retal, 01 cm lateralmente ao musculo reto
Passo II. Os músculo oblíquo externo e interno são separados por dissecção romba.
Método de Separação de Componentes (CSM)
Passo IV. Posicionamento de tela retromuscular pré-fascial (Rives-Stoppa), após realização do CSM
Passo III. Adicionalmente o músculo reto pode ser separado da fáscia posterior
Método de Separação de Componentes (CSM)
TÉCNICAS CIRÚRGICAS
Algoritmo de opções cirúrgicas:
• Fechamento primário: evitar a tensão
• Malha: 10% de recorrência da hérnia, 7% infecção
• Enxertos cutâneos: sobre vísceras, ± malha, ± omento
• Liberação de fascia
• Separação de componentes
• Expansão do tecido
- Retalhos miocutâneos
- Retalhos livres
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
Rives-Stoppa et al
57 correções de hérnia incisional com
polipropileno ou PTFE
Não houve recidiva da hérnia, complicações GI,
fístulas, ou mortes
7 (12,3%) – seroma em pós-operatório
2 (3,5%) - infecções da ferida com remoção da
prótese
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS Lindermann et al - enxerto de pericárdio bovino em 37 hérnias
incisionais e duas hérnias paraestomais: 4 recidivas no grupo hérnias incisionais com técnica inlay
Post et al - 13 hérnias incisionais com pericárdio bovino,
técnica sublay: nenhuma infecção, dor, sensação de corpo estranho ou recidiva.
Parker et al - Permacol em 9 pacientes com hérnias em
feridas contaminadas ou com história de infecção em prótese, técnica sublay: apesar da presença de infecção ativa ou contaminação grosseira, nenhuma complicação infecciosa ocorreu.
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
Baghai et al
- 20 implantes de prótese biológica em 17 pacientes com hérnia recorrente após uso de tela. - Diferentes enxertos biológicos usados (submucosa intestinal suína, derme humana e suína).- Todos os pacientes tratados com
a técnica inlay ou onlay (n = 17) apresentaram infecção da ferida e / ou deiscência dentro de 2 semanas da cirurgia.
- 3 implantes com técnica sublay bem sucedidos
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
Posição de malha é fator independente de recidiva, em próteses biológicas e sintéticas
Malhas biológicas por técnica inlay – medida temporária em áreas altamente contaminadas.
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
• Campanelli et al
- 10 reparos de hérnia com tela em campos potencialmente contaminados - preparação prévia do espaço retromuscular pré-peritoneal antes da abordagem da hérnia
- Sem complicações maiores ou menores em tempo de seguimento médio de 21 meses
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
• Van Geffen et al- 26 pacientes com hérnias incisionais grandes em campos contaminados (NRC 3 e 4)- 5 infecções superficiais de ferida,- 3 pacientes com fístula entero-cutânea - 2 casos de sepse, com 1 óbito por ruptura anastomótica- 2 recorrências assintomáticas (8%)- Seguimento médio de 27 meses.
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
• Alaedeen et al
- 19 pacientes com reparo de hérnia ventral em campo contaminado- 14 com colocação prévia de tela e presença de complicações diversas- Realização de diferentes técnicas (reparo primário, separação de componentes, reforço de tela)- 9 pacientes com complicações pós-operatórias, com 1 óbito- 2 recidivas identificadas
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
CONCLUSÃO
Reconstrução complexa da parede abdominal é um desafio.
Malhas biossintéticas: mais nova ferramenta disponível no arsenal do cirurgião, usáveis em campos limpos e contaminados.
Mais experiência e maior tempo de seguimento são necessários para determinar os resultados da bioprótese quando usado para a reconstrução da parede abdominal.
Informações insuficientes na literatura
Conclusões heterogêneas Necessidade de estudos prospectivos Julgamento cirúrgico e experiência
CONCLUSÃO
Como decidir o que fazer?
OBRIGADO!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Cavallaro A, Lo Menzo E, Di Vita M, Zanghì A, Cavallaro V, Veroux PF, Cappellani A. Use of
biological meshes for abdominal wall reconstruction in highly contaminated fields. World J Gastroenterol 2010; 16(15): 1928-1933
D. I. Alaedeen · J. Lipman · D. Medalie · M. J. Rosen. The single-staged approach to the surgical management of abdominal wall hernias in contaminated fields. Hernia (2007) 11:41–45
van Geffen, H.J., Simmermacher, R.K.J., van Vroonhoven, T.J.M.V. van derWerken, C. Surgical Treatment of Large Contaminated Abdominal Wall Defects. J Am Coll Surg 2005;201:206–212.
G. Campanelli Æ F. M. Nicolosi Æ D. Pettinari E. Contessini Avesani. Prosthetic repair, intestinal resection, and potentially contaminated areas: Safe and feasible? Hernia (2004) 8: 190–192
Kelly, M.E., Behrman, S.W. The Safety and Efficacy of Prostetic Hernia Repair in Clean-Contaminated and Contaminated Wounds. Annual Meeting, Southeastern Surgical Congress, February 1-5, 2002, Nashville, Tenessee