investigação de populações do complexo lutzomyia ... · populations from restinga da marambaia,...

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Juliana Tavares Pinheiro Investigação de populações do complexo Lutzomyia longipalpis em Mangaratiba, estado do Rio de Janeiro e Mossoró, estado do Rio Grande do Norte Rio de Janeiro 2017

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Page 1: Investigação de populações do complexo Lutzomyia ... · populations from Restinga da Marambaia, Mangaratiba municipality, state of Rio de Janeiro and Santo Antônio neighborhood,

Juliana Tavares Pinheiro

Investigação de populações do complexo Lutzomyia longipalpis em Mangaratiba, estado

do Rio de Janeiro e Mossoró, estado do Rio Grande do Norte

Rio de Janeiro

2017

Page 2: Investigação de populações do complexo Lutzomyia ... · populations from Restinga da Marambaia, Mangaratiba municipality, state of Rio de Janeiro and Santo Antônio neighborhood,

Juliana Tavares Pinheiro

Investigação de populações do complexo Lutzomyia longipalpis em Mangaratiba, Estado

do Rio de Janeiro e Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Saúde Pública, da Escola

Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, na

Fundação Oswaldo Cruz, como requisito

parcial para obtenção do título de Mestre em

Saúde Pública. Área de concentração:

Abordegem Ecológica de Doenças

Transmissíveis.

Orientador: Prof. Dr. Fabiano Borges

Figueiredo.

Coorientador: Prof. Dr. Marcos Barbosa de

Souza.

Rio de Janeiro

2017

Page 3: Investigação de populações do complexo Lutzomyia ... · populations from Restinga da Marambaia, Mangaratiba municipality, state of Rio de Janeiro and Santo Antônio neighborhood,

Catalogação na fonte

Fundação Oswaldo Cruz

Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica

Biblioteca de Saúde Pública

P654i Tavares-Pinheiro, Juliana.

Investigação de populações do complexo Lutzomyia

longipalpis em Mangaratiba, Estado do Rio de Janeiro e

Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte / Juliana Tavares

Pinheiro. -- 2017.

66 f. : il. color. ; mapas

Orientador: Fabiano Borges Figueiredo.

Coorientador: Marcos Barbosa de Souza.

Dissertação (mestrado) – Fundação Oswaldo Cruz, Escola

Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2017.

1. Psychodidae. 2. Leishmaniose. 3. Fenótipo.

4. Leishmaniose Visceral. 5. Lutzomyia longipalpis. I. Título.

CDD – 22.ed. – 616.9364

Page 4: Investigação de populações do complexo Lutzomyia ... · populations from Restinga da Marambaia, Mangaratiba municipality, state of Rio de Janeiro and Santo Antônio neighborhood,

Juliana Tavares Pinheiro

Investigação de populações do complexo Lutzomyia longipalpis em Mangaratiba, estado

do Rio de Janeiro e Mossoró, estado do Rio Grande do Norte

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Saúde Pública, da Escola

Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, na

Fundação Oswaldo Cruz, como requisito

parcial para obtenção do título de Mestre em

Saúde Pública. Área de concentração:

Abordegem Ecológica de Doenças

Transmissíveis.

Aprovada em: 16 de março de 2017.

Banca Examinadora

Prof.a Dra. Marina Carvalho Furtado

Fundação Oswaldo Cruz – Campus FIOCRUZ Mata Atlântica

Prof. Dr.Antonio Nascimento Duarte

Fundação Oswaldo Cruz – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

Prof. Dr. Fabiano Borges Figueiredo (Orientador)

Fundação Oswaldo Cruz – Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas

Rio de Janeiro

2017

Page 5: Investigação de populações do complexo Lutzomyia ... · populations from Restinga da Marambaia, Mangaratiba municipality, state of Rio de Janeiro and Santo Antônio neighborhood,

Dedico, aos meus miríficos pais (in memoriam).

Page 6: Investigação de populações do complexo Lutzomyia ... · populations from Restinga da Marambaia, Mangaratiba municipality, state of Rio de Janeiro and Santo Antônio neighborhood,

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço ao meu pai Thelmo Azevedo Pinheiro (in memoriam) e a minha mãe

Jamil Ribeiro Tavares (in memoriam) por tudo amor, carinho e dedicação. Por terem sempre

zelado pela minha educação, como semear com a expectativa da colheita. Vocês vivem em

mim agora, “pois o que a memória ama fica eterno” Rubem Alves. Fazem parte do que sou

hoje e dessa conquista tão almejada. Certamente estão olhando por mim nesse momento.

Obrigada por tudo, amo muito vocês!!!

Ao meu orientador Dr. Fabiano Borges Figueiredo pela orientação segura, pelo exemplo

profissional e humano, sempre disposto a ajudar. Você foi fundamental na minha formação.

Muito obrigada!!!

Ao meu querido coorientador Dr. Marcos Barbosa de Souza (in memoriam) por ter aberto as

portas para mim e ter compartilhado com generosidade conhecimentos sobre flebotomíneos,

como especialista que era no assunto.

Aos meus companheiros de coleta, Adilson Benedito, Arthur Velho, Renato Orsini, Larissa

Clara, Cézar do Santo Ponte, Ciro Vilanova e Antônio Meira. A parceria de vocês foi

fundamental. Muito obrigada!!!

Aos professores da disciplina de seminários, Dra. Joseli Nogueira, Dra. Sheila Ferraz, Dr.

Francisco Paumgartten e Dra. Cecilia Paumgartten pelas valiosas contribuições nesse

processo.

À Thaís Leal, pela contribuição no trabalho, com importantes sugestões e sempre solícita.

À Thaís Kazimoto, por ter cedido gentilmente os espécimes de L. longipalpis provenientes do

estado do Rio Grande do Norte.

Aos técnicos em Saúde Pública do Instituto Nacional de Endemias Rurais- INERU,

especialmente Sidney da Silva Alves, Cesinha do Santo Ponte, Walace Guimarães e Flávio

Alcelino por todo o suporte que deram na identificação de flebotomíneos. Sempre muito

gentis e antenciosos, se tornaram bons amigos. Muito obrigada a todos!!!

Page 7: Investigação de populações do complexo Lutzomyia ... · populations from Restinga da Marambaia, Mangaratiba municipality, state of Rio de Janeiro and Santo Antônio neighborhood,

A Dra. Suzana Côrte-Real Faria, a técnica Sandra Maria e aos estudantes Gabriel Henriques e

Stella da Silva Oliveira do laboratório de Biologia Estrutural; à Luisa Miranda e ao Dr.

Rodrigo Menezes do laboratório de dermatozoonoses por terem gentilmente ajudado a tirar as

fotos dos flebotomíneos L. longipalpis.

À toda equipe do laboratório de Dermatozoonoses.

Aos funcionários da secretaria do Departamento de Ciências Biológicas da ENSP, Maria

Isabel Pereira Soares, Rogéria Leite Peregrino Pinho, Rosa Maria Rodrigues Lopes e Fabiano

Esteves Silva, foram sempre muito amáveis e atenciosos.

Aos amigos brasileiros, colombianos, paquistaneses, moçambicanos, angolanos e cabo-

verdianos que conviveram comigo durante o mestrado no Alojamento do Centro de

Referência Professor Hélio Fraga. Obrigada pela experiência intercultural!!!

Dentre os amigos agradeço especialmente ao Ramon Feliphe Souza por ter me ajudado

cedendo seu tempo, sempre me incentivando e me lembrando que ostra feliz não faz pérolas.

Mergulhou tão intensamente no trabalho que agora é um historiador que sabe reconhecer as

manchas nos tergitos dos machos de L. longipalpis.

À amiga Quezia Dias, por ter me apresentado ao meu Coorientador, pelo incentivo e pelas

horas de estudos juntas desde a graduação ao processo seletivo do mestrado. Muito

obrigada!!!

Aos moradores das áreas de estudo por terem permitido as instalações das armadilhas no

peridomicílio de suas residencias.

À Marinha do Brasil, por ter concedido a realização do trabalho de campo na Restinga da

Marambaia.

Ao CNPQ pelo apoio financeiro.

E a todos aqueles que de alguma forma contribuiram para essa realização.

Page 8: Investigação de populações do complexo Lutzomyia ... · populations from Restinga da Marambaia, Mangaratiba municipality, state of Rio de Janeiro and Santo Antônio neighborhood,

Seguir para a vida.

Ser barco, navegar.

Começar com uma gota,

de repente mar...

Ramon Feliphe Souza, amigo do Mestrado.

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RESUMO

Lutzomyia longipalpis lato sensu (l.s) é considerado o principal vetor de Leishmania chagasi,

agente etiológico causador da leishmaniose visceral nas Américas. Durante estudos pioneiros no

nordeste Brasil, Mangabeira (1969) observou variações fenotípicas entre machos de L.

longipalpis que coexistiam em simpatria em Sobral no Ceará, e sugeriu que poderiam se tratar

de espécies distintas. Desde então a maioria dos estudos destinados a esclarecer o verdadeiro

status taxonômico de L. longipalpis, apontam para a existência de um complexo de espécies

incipiente, embora o número de integrantes e suas áreas de distribuição ainda não estejam

totamente resolvidos. Recentemente, estudos tem correlacionado variabilidade genética a

padrões fenotípicos distintos. Essas diferenças são de grande importância para a saúde pública,

não somente pela possibilidade de influenciarem na capacidade vetorial desses flebotomíneos,

mas também de sua antropofilia. O presente estudo teve como objetivo analisar as

características fenotípicas das populações de machos de L. longipalpis provenientes da Restinga

da Marambaia, município de Mangaratiba, estado do Rio de Janeiro e do bairro de Santo

Antônio, localizado no município de Mossoró, estado do Rio Grande do Norte, região semi-

árida do nordeste brasileiro. As capturas foram realizadas durante o período de 12 meses.

Armadilhas do tipo HP foram empregadas, iniciadas às 18 horas e encerradas às 7 horas do dia

seguinte, totalizando 13 horas/coleta. Os flebotomíneos machos capturados foram identificados

a nível de espécie de acordo com a nomenclatura proposta por Galati (2003) e, em seguida, os

machos de L. longipalpis obtidos submetidos à caracterização fenotípica. Todos os machos de

L. longipalpis provenientes da Restinga da Marambaia apresentaram o padrão morfológico de

uma mancha clara no 4º tergito abdominal, morfotipo predominante também em outras áreas do

Rio de Janeiro. No bairro de Santo Antônio, município de Mossoró, identificamos significativa

diversidade fenotípica, composta por machos que apresentaram o padrão morfológico de uma

mancha clara no 4º tergito abdominal, enquanto outros apresentaram o padrão morfológico de 2

manchas claras no 3º e no 4º tergito, além do encontro de um fenótipo intermediário

representado por machos com uma mancha clara no 4º tergito e 3/4 do 3º tergito preenchido

pela mancha clara. Na última região, variedades morfológicas parecem apresentar importância

vetorial com fortes consequências epidemiológicas, tendo em vista a maior incidência da

leishmaniose visceral na região nordeste do Brasil, sobretudo no Estado do Rio Grande do

Norte.

Palavras-chave: Lutzomyia longipalpis lato sensu. Complex Lutzomyia longipalpis.

Caracterização fenotípica.

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ABSTRACT

Lutzomyia longipalpis lato sensu (l.s) is considered the main vector of Leishmania chagasi,

an etiological agent that causes visceral leishmaniasis in the Americas. During pioneering

studies in northeast Brazil, Mangabeira (1969) observed phenotypic variations among males

of L. longipalpis that coexisted in sympatry in Sobral, Ceará, and suggested that they could

be different species. Since then, most of the studies aimed at clarifying the true taxonomic

status of L. longipalpis point to the existence of an incipient species complex, although the

number of members and their areas of distribution are still not fully resolved. Recently,

studies have correlated genetic variability to distinct phenotypic patterns. These differences

are of great importance for public health, not only for the possibility of influencing the

vectorial capacity of these sandflies, but also for their anthropophilia. The present study had

the objective of analyzing the phenotypic characteristics of the L. longipalpis males

populations from Restinga da Marambaia, Mangaratiba municipality, state of Rio de Janeiro

and Santo Antônio neighborhood, located in the municipality of Mossoró, state of Rio

Grande do Norte, semi-arid region of Northeast Brazil. Catches were taken during the 12-

month period. HP- type traps were employed, starting at 6 pm and ending at 7 pm the

following day, totaling 13 hours / collection. The captured male sandflies were identified at

species level according to the nomenclature proposed by Galati (2003) and then the males

of L. longipalpis obtained submitted to the phenotypic characterization. All males of L.

longipalpis from the Restinga da Marambaia presented the morphological pattern of a pale

spot in the 4th abdominal tergite, a predominant morphotype in other areas of Rio de

Janeiro. In the Santo Antônio neighborhood, Mossoró municipality, we identified a

significant phenotypic diversity composed by males that presented the morphological

pattern of a pale spot in the 4th abdominal tergite, while others presented the morphological

pattern of 2 pale spots completely filled in the 3rd and 4th tergite, In addition to the finding

of an intermediate phenotype represented by males with a single solid spot in the 4th tergite

and 3/4 of the 3rd tergite filled by the light spot. In the latter region, morphological varieties

seem to present vectorial importance with strong epidemiological consequences, due to the

higher incidence of visceral leishmaniasis in northeastern Brazil, especially in the State of Rio

Grande do Norte.

Keywords: Lutzomyia longipalpis lato sensu. Lutzomyia longipalpis complex. Phenotypic

characterization.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Ciclo Biológico dos protozoários do gênero Leishmania........................... 21

Figura 2 - Espermateca feminina de L. longipalpis...................................................... 23

Figura 3 - Terminália genital masculina de L. longipalpis............................................ 23

Figura 4 - Resumo das informações disponíveis sobre diferentes sons de cópula e

principais tipos de feromônios produzidos por 14 populações de L.

longipalpis do Brasil..................................................................................... 25

Figura 5 - Área de estudo: Ilha da Marambaia............................................................. 28

Figura 6 - Área de estudo: Mossoró………………………………………………….. 29

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

1M Fenótipo de Lutzomyia longipalpis com uma mancha clara no quarto tergito

abdominal

2M Fenótipo de Lutzomyia longipalpis com duas manchas claras uma no terceiro e outra

no quarto tergito abdominal

CEUA Comissão de Ética no Uso de Animal

DNA Ácido Desoxirribonucléico

DPP Teste imunocromatográfico rápido em dupla plataforma

ENSP Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

ELISA Ensaio Imunoenzimático

FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz

INI Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas

INERU Instituto Nacional de Endemias Rurais

IOC Instituto Oswaldo Cruz

KDNA DNA do cinetoplasto ou DNA mitocondrial

LGP Molécula lipofosfoglicana

l.s. lato sensu

LT Leishmaniose Tegumentar

LTA Leishmaniose Tegumentar Americana

LV Leishmaniose Visceral

LVA Leishmaniose Visceral Americana

MLEE Eletroforese Multilocus de Isoenzimas

PCR Reação em Cadeia da Polimerase

Pb Pares de bases

Per Gene period

WHO/OMS Organização Mundial da Saúde

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 12

2 PRESSUPOSTO TEÓRICO....................................................................... 14

2.1 LEISHMANIOSES........................................................................................ 14

2.2 AGENTE ETIOLÓGICO.............................................................................. 15

2.3 CICLO BIOLÓGICO..................................................................................... 19

2.4 FLEBOTOMÍNEOS VETORES................................................................... 22

2.5 COMPLEXO L. longipalpis........................................................................... 23

3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA......................................................... 26

4 OBJETIVO................................................................................................... 27

4.1 OBJETIVO GERAL...................................................................................... 27

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS......................................................................... 27

5 MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................ 28

5.1 TRABALHO DE CAMPO............................................................................. 28

5.1.1 Área de estudo: Ilha da Marambaia........................................................... 28

5.1.2 Área de estudo: Mossoró.............................................................................. 29

5.2 CAPTURA DE FLEBOTOMÍNEOS, SELEÇÃO DE AMOSTRAS E

IDENTIFICAÇÃO TAXONÔMICA............................................................ 30

5.2.1 Caracterização fenotípica............................................................................ 30

6 ANÁLISE ESTATÍSTICA.......................................................................... 31

7 ASPECTOS ÉTICOS.................................................................................. 31

8 RESULTADOS............................................................................................. 31

8.1 ARTIGO......................................................................................................... 32

9 CONCLUSÃO.............................................................................................. 53

REFERÊNCIAS........................................................................................... 54

GLOSSÁRIO................................................................................................ 65

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1 INTRODUÇÃO

As leishmanioses são consideradas doenças cosmopolitas de grande preocupação para

a saúde pública. São doenças infecciosas causadas por protozoários do gênero Leishmania,

transmitidos por vetores, os flebotomíneos. Nas Américas, essas enfermidades apresentam

uma variedade de sinais clínicos agrupados basicamente sob duas formas - Leishmaniose

Tegumentar Americana (LTA) e Leishmaniose Visceral Americana (LVA) (GONTIJO;

CARVALHO, 2003).

A ampla distribuição geográfica das leishmanioses está estreitamente condicionada ao

desenvolvimento bem sucedido dos flebotomíneos, espécies vetoras pertencentes ao gênero

Phlebotomus no Velho Mundo e ao gênero Lutzomyia no Novo Mundo (RANGEL;

LAINSON, 2003).

Lutzomyia longipalpis lato sensu, considerado o principal vetor da LVA no Brasil,

possui extensa distribuição geográfica, entretanto, em áreas focalizadas e de forma

descontinua (YOUNG; DURAN, 1994). Esse cenário muito se deve a existência de barreiras

geográficas, climáticas e ao curto raio de vôo do vetor (ALEXANDER et al., 1998), sendo o

isolamento por distância condição reconhecida por reduzir o fluxo gênico entre as populações,

atuando em processos de especiação (BAUZER et al., 2007). Nessa perspectiva, a

variabilidade genética observada entre populações de L. longipalpis pode estar relacionada

aos processos de deriva gênica e seleção natural, eventos graduais na escala espaço-temporal

que possivelmente exercem influências sob a capacidade vetorial desses flebotomíneos, tendo

fortes consequências na epidemiologia da LVA (LANZARO et al., 1993).

Durante estudos pioneiros no Nordeste do Brasil, Mangabeira (1969) observou

variações morfológicas entre machos de populações simpátricas de L. longipalpis em Sobral,

no Ceará, em comparação com as populações alopátricas do Pará. Foi identificada a existência

de dois fenótipos distintos, compostos por machos com uma mancha clara no IV seguimento

abdominal (1M), enquanto outros apresentavam manchas claras no III e IV segmentos

abdominais (2M). O mesmo também observou que essas populações estavam dispostas em

ambientes com condições ecológicas distintas. Com base nesses indícios, sugeriu que

poderiam se tratar de espécies distintas (MANGABEIRA, 1969).

Tais achados impulsionaram o desenvolvimento de novas pesquisas, no sentido de

solucionar a questão enigmática posta em debate, que ainda hoje pretende responder se as

populações de L. longipalpis, de diferentes regiões geográficas do Brasil, correspondem a

uma única espécie ou a um complexo de espécies a ser investigado. Estudos comparativos a

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nível inter-populacional utilizaram diferentes metodologias no intuito de esclarecer o

verdadeiro status taxonômico de L. longipalpis, principalmente a partir das populações

encontradas na América do Sul e Central. A maioria deles fornecem fortes evidências para a

existência do complexo L. longipalpis (URIBE, 1999; SOARES; TURCO, 2003; BAUZER et

al., 2007), embora ainda não haja consenso quanto ao número de espécies integrantes e as

suas áreas de distribuição (ARRIVILLAGA et al., 2003; BAUZER et al., 2007).

Por conseguinte, a epidemiologia complexa da LVA e sua distribuição heterogênea,

com manifestações de amplo espectro clínico produzidas por L. chagasi, podem ser

explicadas pelo envolvimento de diversas espécies crípticas dentro do complexo L.

longipalpis. Deste modo, a importância dos processos de especiação para a saúde pública é de

tal ordem que torna-se necessário o conhecimento do vetor em cada foco de transmissão

(ARRIVILLAGA et al., 2003).

É nesse contexto que foi realizado o primeiro estudo com o objetivo de analisar as

características fenotípicas das populações de L. longipalpis provenientes da Restinga da

Marambaia, município de Mangaratiba, estado do Rio de Janeiro e do bairro de Santo

Antônio, município de Mossoró, estado do Rio Grande do Norte, área de transmissão

silenciosa e intensa dessa protozoose, respectivamente.

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14

2 PRESSUPOSTO TEÓRICO

2.1 LEISHMANIOSES

As leishmanioses, na sua forma tegumentar (LT) e visceral (LV), constituem um

grupo de protozooses infecto-parasitárias de grande importância em saúde pública no mundo

(GRIMALDI; TESH, 1993). São endêmicas em 88 países, infectando cerca de 12 milhões de

pessoas em todo mundo. Cerca de 350 milhões estão sob risco de adquirir a doença, com

incidência anual de 1 a 1,5 milhões de novos casos de leishmaniose cutânea e 500.000 novos

casos da forma visceral. Nas Américas, o Brasil é o país com mais registros de casos, tanto da

forma tegumentar quanto visceral (WHO, 2010).

As leishmanioses são zoonoses importantes, que acometem o ser humano e outras

espécies de mamíferos silvestres e domésticos, sob a forma de doenças infecciosas crônicas

com diversas manifestações clínicas (GRIMALDI; TESH, 1993). São causadas por

protozoários do gênero Leishmania e a sua principal forma de transmissão ocorre através da

picada de insetos vetores da subfamília Phlebotominae. São relacionadas entre as seis

principais endemias do mundo (MARZOCHI; MARZOCHI, 1994; WHO, 2010).

No Brasil, a LV é um problema de saúde pública cada vez mais importante devido à

frequência com que ocorre e a habilidade de se espalhar rapidamente (BRASIL, 2006). É

causada por L. infantum, comumente transmitida pelo flebotomíneo Lutzomyia longipalpis. A

densidade populacional desses insetos no peridomicílio pode alcançar níveis muito altos

(WARD et al., 1985).

O ciclo para manutenção da L. infantum envolve populações de raposas no ambiente

silvestre (DEANE; DEANE, 1962; LAINSON; SHAW, 1969) e cães domésticos que habitam

no peridomicílio e servem como reservatórios dos parasitas. Embora gambás possam ser

naturalmente infectados (SHERLOCK et al., 1984; CORREDOR et al., 1989), seu papel

epidemiológico como reservatório permanece desconhecido.

Os cães domésticos são altamente susceptíveis para a infecção por L. infantum e a

principal fonte de infecção para o vetor, devido ao intenso parasitismo na pele, independente

da apresentação clínica (MOLINA et al., 1994; MICHALSKY et al., 2007; GIUNCHETTI et

al., 2006). Tem sido identificado como o principal reservatório de L. infantum, além do que a

doença no cão ter se tornando uma doença emergente e reemergente, dependendo da área de

ocorrência, como indicado pelo número de cães soropositivos para LV e a expansão

geográfica da doença (COURA-VITAL et al., 2014).

Medidas de controle usadas para LV no Brasil são focadas na busca ativa de pacientes

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15

humanos e tratamento, eutanásia dos cães soropositivos e controle do vetor por meio de

dedetização dos domicílios e canis (LACERDA, 1994).

Alguns autores sugerem que o controle efetivo requer uma elevada proporção de cães

infectados removidos imediatamente após detecção para alcançar uma redução na transmissão

da doença (QUINNELL et al., 1997; COURTENAY et al., 2002). O estudo de Costa e

colaboradores (2013) demonstra que os métodos citados, dependendo da intensidade da

transmissão canina, se aplicados de forma contínua, com remoção dos cães infectados em até

quatro meses após coletados, podem reduzir significativamente a prevalência da LVC ao

longo do tempo (COSTA et al., 2013).

Desde 2011, após um estudo realizado pelo Ministério da Saúde, o teste

imunocromatotográfico rápido em dupla plataforma (DPP®) tem sido utilizado como exame

de referência na triagem da LVC, em substituição ao ensaio imunoenzimático (ELISA)

anteriormente utilizado. Contudo, resultados positivos no DPP® devem ser confirmados por

ELISA (NOTA TÉCNICA N° 01/2011) para posterior eutanásia dos cães positivos para LV.

Com o propósito de melhorar o diagnóstico para a retirada do animal e consequentemente

melhor controle da doença.

As técnicas de biologia molecular baseadas na detecção de ácidos nucléicos como a

reação em cadeia pela polimerase (PCR) tem demonstrado ser uma importante ferramenta

para o diagnóstico de diferentes doenças infecciosas, dentre elas as leishmanioses (HARRIS

et al., 1998).

Na detecção do DNA de Leishmania, a PCR apresenta a vantagem de utilização de

uma extensa variedade de amostras clínicas como, por exemplo, aspirados de linfonodos

(REALE et al., 1999; MANNA et al., 2004), sangue (REITHINGER et al., 2000; MANNA et

al., 2004), medula óssea (REITHINGER et al., 2000), pele (ROURA et al., 1999), “swab” oral

e conjuntival (LOMBARDO et al., 2012), e pelos (BELINCHON-LORENZO et al., 2013).

2.2 AGENTE ETIOLÓGICO

No mundo, a leishmaniose visceral tem como agentes etiológicos os protozoários da

ordem Kinetoplastida, da família dos tripanossomatídeos, pertencentes ao subgênero

Leishmania, do gênero Leishmania. Esses parasitos integram o complexo donovani, o qual é

constituído por três espécies: Leishmania donovani incriminada pelo calazar Indiano, L. (L.)

infantum responsável pela enfermidade no continente Europeu, Africano e Asiático e L. (L.)

chagasi de ocorrência nas Américas (LAINSON et al., 1987), apesar dessa classificação

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16

taxonômica ainda hoje ser questionada (DANTAS-TORRES, 2006a; DANTAS-TORRES,

2006b; SHAW, 2006).

Em 1937, L. chagasi (CUNHA; CHAGAS, 1937) foi descrita como uma nova espécie

do gênero Leishmania responsável por causar a LVA, após ter sido demostrada a

incapacidade do protozoário parasita de produzir experimentalmente infecções viscerotrópicas

em seu principal reservatório, o cão doméstico, o que a distinguiu de L. infantum, o primeiro

agente causal descrito por Nicole (1908), outrora incriminado pelo calazar Europeu na região

Mediterrânea (NICOLLE, 1908).

Entretanto no ano seguinte, Cunha (1938) reconheceu que L. chagasi, a espécie recém

descrita, e L. infantum eram morfologicamente indistinguíveis (CUNHA, 1938). Tal

declaração inevitavelmente, representou o estopim para a realização de novos estudos, no

sentido de prestar maiores esclarecimentos sobre a verdadeira etiologia e taxonomia do

parasita visceral de ocorrência nas Américas (DANTAS-TORRES, 2006a). Os resultados dos

estudos produzidos desde então fundamentam posicionamentos taxonômicos divergentes. Por

convenção, mesmo à parte da discussão sobre o staus taxonômico dos agentes causais da

leishmaniose visceral no Novo e Velho Mundo, respeitamos no presente estudo o

posicionamento taxonômico defendido por cada autor citado para fazer referência a ambos os

parasitos, de acordo com as denominações deliberadas em suas obras.

De acordo com Shaw (2006), sempre houve uma forte tendência de considerar a

origem geográfica do parasito viscerotrópico no momento de decidir sobre o seu status

taxonômico, prática que possivelmente motivou a denominação L. chagasi para incriminar o

agente causal da LVA. Para ele é possível que existam diferentes linhagens de leishmanias

viscerotrópicas nas Américas, sejam elas nativas e ou introduzidas (SHAW, 2006).

Outros pesquisadores (KILLICK-KENDRICK, 1984; RIOUX et al., 1990) sustentam

a hipótese de que L. infantum fora introduzida nas Américas por cães infectados trazidos

durante o período da colonização portuguesa e espanhola, sendo o complexo donovani

constituído por apenas duas espécies: L. donovani e L. infantum. Logo L. chagasi é

desconsiderada como espécie. Porém, o encontro de altas taxas de infecção benigna e

assintomática em reservatório silvestre (Cerdocyon thous), no Parque Ambiental do Utinga-

Amazônia brasileira, área sem relatos de casos humanos e caninos, sugere a existência de

ciclos enzoóticos fechados antigos, possivelmente decorrente de milhares de anos de interação

adaptativa entre a ação patogênica do parasito a resposta imune do hospedeiro (LAINSON E

SHAW, 2005; SILVEIRA; CORBETT, 2010). Além disso L. (L.) infantum adaptada ao

flebotomíneo vetor Phlebotomus dubosqi nos países europeus, teria que se adaptar num curto

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período de tempo a L. longipalpis, espécie de febotomíneo autóctone do continete americano,

o qual vive sob condições climáticas e ecológicas muito distintas às encontradas no continente

Europeu (SILVEIRA; CORBETT, 2010).

Por outro lado, no final da década de 90, Mauricio e colaboradores (1999) avaliaram

relações genotípicas dentro do complexo donovani, por métodos moleculares de ligação da

sonda Lmet9 específica para L. chagasi e Leishmania spp do Velho Mundo, sequenciamento

parcial do gene MSPC, além da utilização da técnica de amplificação aleatória de DNA

polimórfico a partir de diferentes isolados de leishmanias viscerotrópicas provenientes do

Novo e Velho Mundo. Ao comparar os perfis genéticos traçados, verificou-se que L. chagasi

e L. infantum eram geneticamente indistinguíveis. Frente a esses achados, eles consideraram

que L. chagasi e L. infantum são sinonímias e, por conseguinte, concluíram que L. chagasi

não deveria ser considerada como espécie. Adiciona-se a isso, o fato dos padrões

filogeográficos obtidos nesse estudo indicarem a origem monofilética de ambos os parasitos

dentro do complexo donovani, o que sugere a introdução de L. infantum no Novo Mundo

(MAURICIO et al., 1999a).

Em contraposição, Lainson e Shaw (2005) publicaram uma vasta revisão do gênero

Leishmania e, amparados por evidências consistentes, tais como: aspectos

ecoepidemiológicos da LVA na América Latina, interação do parasito com o seu principal

vetor L. longipalpis e reservatório silvestre, sugeriram o status taxonômico para ambos os

parasitos a nível subespecífico, com a denomição L (L.) infantum chagasi para o agente

etiológico da LV de origem americana e L. (L.) infantum infantum para o agente causal da

enfermidade natural do Velho Mundo (LAINSON; SHAW, 2005).

Posteriormente, análises multilocus de microssatélites, marcadores moleculares

altamente polimórficos (KUHLS et al., 2011) e, comparações de perfis isoenzimáticos por

eletroforese multilocus de isoenzimas – MLEE, identificaram que a baixa variabilidade

genética encontrada entre os parasitos em questão não foi significativa a ponto de separá-los a

nível específico ou subespecífico (RIOUX et al., 1990), sendo a última técnica considerada

“padrão ouro” para a classificação taxonômica do gênero Leishmania (WHO, 1990).

Entretanto, uma nova abordagem combinada de ensaios fluorogênicos identificou

heterogeneidade genética significativa entre parasitas viscerais provenientes do Velho Mundo,

com o encontro de cinco grupos distintos dentro do complexo donovani, cujos membros

foram tipados por zimodemas (QUISPE-TINTAYA et al., 2005), o que indica a existência de

mais de uma linhagem com a mesma origem geográfica (SHAW, 2006). O alto poder

discriminatório da técnica empregada foi compatível com a percepção de evolução do gênero

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e revelou discrepância na atual taxonomia baseada em MLEE (QUISPE-TINTAYA et al.,

2005).

As demais análises comparadas de perfis genéticos traçados a partir de fragmentos de

DNA do cinetoplasto ou mitocondrial (KDNA) obtidos por digestão enzimática de restrição

(JACKSON; WOHLHIETER; HOCKMEYER, 1982; JACKSON et al., 1984), o uso de

impressão digital de DNA (ELLIS; CRAMPTON, 1991), a identificação de Leishmania spp

por radiorrespirometria (DECKER- JACKSON et al., 1980), e ainda o não reconhecimento

das proteínas de superfície de formas promastigotas de L. chagasi a anticorpos monoclonais

glicoconjugados (SANTORO et al., 1984) forneceram evidências consistentes de diferenças

significativas entre as duas linhagens dentro do complexo donovani. Achados esses,

interpretados por Maurício e colaboradores (2000), como “menores diferenças” genotípicas e

fenotípicas utilizadas como critérios para justificar a separação em duas espécies ou

subespécies (MAURICIO; STOTHARD; MILES, 2000; DANTAS-TORRES, 2006a). Em

contraposição, Rangel (2006) ressalta as análises de sorodemas e zimodemas como adventos

promissores da biologia molecular capazes de aumentar a consciência sob “menores

diferenças” entre isolados parasitários de leishmanias viscerais, os quais futuramente podem

ser considerados como subespécies, denominação essa, indicativa da estreita relação entre L.

(L.) infantum chagasi e L. (L.) infantum infantum, o que reforça a existência de processos de

especiação recentes na produção de “menores diferenças”, como se referem os autores

supracitados (DANTAS-TORRES, 2006b).

Na opinião de Shaw (2006) estamos testemunhando um processo de especiação

atribuído a seleção natural espécie-específica de parasitas viscerais no vetor (SHAW, 2006).

Existem diferenças nas galectinas intestinais secretadas por flebotomíneos, responsáveis por

intermediar a adesão específica do parasito à parede intestinal do vetor, atuando por

consequência no sucesso da transmissão (KAMHAWI et al., 2004; SHAW, 2006). Assim a

adaptação a novos vetores irá depender da compatibilidade entre os glicolipídeos de superfície

do protozoário parasito às galectinas secretadas no tubo digestivo do flebotomíneo vetor

durante a digestão do alimento sanguíneo (SHAW, 2006).

De fato, ainda hoje a questão é polêmica e, por não haver consenso sobre o real status

taxonômico do agente causal da LV nas Américas, várias denominações são utilizadas para

fazer referência ao mesmo parasito, o que é inaceitável do ponto de vista científico

(DANTAS-TORRES, 2006b). Frente a esses entraves taxonômicos, muitos pesquisadores

(MOMEN; GRIMALDI; DEANE, 1986; RIOUX et al., 1990; MAURICIO et al., 1999b;

MAURICIO; STOTHARD; MILES, 2000; DANTAS-TORRES, 2006a; DANTAS-TORRES,

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2006b; LUKES et al., 2007; KUHLS et al., 2011) sugerem a reclassificação do agente causal

da LVA dentro do complexo donovani.

Sobre esse aparente dilema taxonômico, Shaw (2006) argumenta com propriedade que

justamente por ainda existirem muitas questões a serem respondidas sobre a etiologia,

identidade e epidemiologia do parasito americano, sinonimizar o nome chagasi com infantum,

significaria excluir linhagens passíveis de investigação antes mesmo de ser cogitada a sua

existência (SHAW, 2006). Além disso, desqualificar L. (L.) chagasi com base apenas em sua

similaridade genética com L. (L.) infantum representaria desconsirar cinquenta anos de

conhecimento acumulado sobre o agente etiológico responsável pela LVA (SILVEIRA;

CORBETT, 2010).

Mesmo para os evolucionistas os processos de especiação representam um grande

desafio para a identificação de agentes infecciosos. Na maioria dos casos é possível atribuir

uma denominação a nível específico a agentes patogênicos de impotância médica, sendo

fundamental para os tomadores de decisão, mas tal deliberação requer uma abordagem

integrada na qual devem ser considerados aspectos biológicos, filogenéticos, fenéticos e

fenotípicos. Logo, a combinação desses princípios aliados ao advento das tecnologias

moleculares modernas podem contribuir para a manipulação desses conceitos (TIBAYRENC,

2006).

2.3 CICLO BIOLÓGICO

A cadeia de transmissão dos protozoários do gênero Leishmania envolve interações

complexas entre parasitas, vetores e hospedeiros susceptíveis em ambientes com

características ecológicas distintas (DANTAS-TORRES et al., 2012).

Nas Américas, L. (L.) chagasi é o único agente etiológico causador da leishmaniose

visceral, comumente transmitido pela fêmea do flebotomíneo L. longipalpis. Dentro da fauna

flebotomínica apenas as fêmeas são hematófagas, desenvolveram o hábito de alimentar-se do

sangue de animais vertebrados, nutrição necessária para o amadurecimento do folículo

ovariano e a produção de ovos, o que as deixou susceptíveis a invasão de microorgamismos

como os protozoários do gênero Leishmania (RANGEL; LAINSON, 2003).

L. (L.) chagasi, pode apresentar-se na natureza sob duas principais formas necessárias

para completar seu ciclo evolutivo digenético: promastigotas, formas extracelulares presentes

no tubo digestivo de fêmeas infectadas e as amastigotas, formas intracelulares obrigatórias

que parasitam o sistema fagocítico mononuclear de hospedeiros vertebrados (PETERS;

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KILLICK-KENDRICK, 1987; RANGEL; LAINSON, 2003). As amastigotas são imóveis,

apresentam morfologia ovoide, contendo um flagelo internalizado próximo ao cinetoplasto

situado abaixo do núcleo. Já as promastigotas são formas móveis, com flagelo livre e

aparente, possuem corpo alongado, com cinetoplasto na parte anterior ao núcleo centralizado

(MOLYNEUX; KILLICK-KENDRICK; PETERS, 1987).

Durante o repasto sanguíneo num vertebrado infectado, a fêmea flebotomínea causa

um pequeno hematoma no ponto da picada, de onde ingere macrófagos parasitados com

formas amastigotas de L. chagasi (COURA, 2008). Na luz do trato digestivo da fêmea vetora,

as formas amastigotas diferenciam-se em poucos dias de formas intermediárias a

promastigotas (RANGEL; LAINSON, 2003). Esse processo é intertermediado pela matriz

peritrófica, uma membrana amorfa semipermeável, a qual atua como barreira física com a

função de evitar danos ao epitélio intestinal do vetor e confere proteção contra o ataque de

microorganismos patogênicos ingeridos no momento da hematofagia (PIMENTA et al.,

1997). No entanto, a formação da matriz peritrófica pode minimizar a ação de enzimas

digestivas sob verdadeiros ninhos de leishmanias concentrados do meio do bolo alimentar. O

escape da matriz peritrófica permite a adesão do parasito ao epitélio intestinal do vetor e

impede que as formas promastigotas sejam excretadas junto com o alimento não digerido

(PIMENTA et al., 1997; RANGEL; LAINSON, 2003). Em seguida, inicia-se o processo de

metaciclogenese e a emergência de promastigotas metacíclicas, altamente infectantes, que

logo migram para a porção anterior do trato digestivo em direção a probóscide. O aglomerado

de metacíclicas causam a desfunção da válvula cárdea ou estomodeal, a qual em seu estado

normal funciona como um esfíncter que impede o refluxo do alimento sanguíneo ingerido

(SCHLEIN; JACOBSON; MESSER, 1992).

Ao realizar um novo repasto sanguíneo a fêmea infectada regurgita o conteúdo

intestinal com formas promastigotas metacíclicas de L. chagasi, as quais possuem tropismo

pelas vísceras, interiorizadas principalmente por macrófagos do fígado, baço e da medula

óssea do hospedeiro vertebrado (COURA, 2008). Posteriormente as promastigotas

metacíclicas são encerradas por vacúolos parasitófaros, os fagolisossomas. As leishmanias são

capazes de resistir a atividade leishmanicida dentro dos fagolisossomas, devido a expressão da

molécula lipofosfoglicana (LGP) de superfície, existente apenas nas formas promastigotas

metacíclicas que inibe a exposão oxidativa decorrente da atividade respiratória dos

macrófagos, o que confere proteção contra a lise (SCHLEIN; SCHNUR; JACOBSON, 1990;

RANGEL; LAINSON, 2003). Ainda no interior dos fagolisossomas as formas promastigotas

metacíclicas diferenciam-se em formas amastigotas, essas multiplicam-se ativamente por

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bivisão binária e abarrotam aqueles macrófagos causando a sua ruptura e o estrapolamento

para o meio extracelular, aptas a infectar novas células do sistema fagotícico mononuclear

(COURA, 2008), como pode ser observado abaixo (figura 1):

Ciclo Biológico

Figura 1. Esquema do ciclo biológico das leishmanioses (adaptado traduzido para o português).

Fonte: www.cdc.gov/dpdx/leishmaniasis/index.html

Recentemente, Warburg e colaboradores (1994) observaram que em países da

América do Sul, como Colômbia e Brasil, L. chagasi transmitido pela fêmea do flebotomíneo

L. longipalpis, geralmente causa a leishmaniose visceral, enquanto que na América Central,

mais especificamente em Costa Rica, L. chagasi produz leishmaniose cutânea atípica. Eles

evidenciaram que a variabilidade no curso da infecção pode ser atribuída a diferenças na

composição da substância salivar indutora de eritema (maxidilan), secretada no momento da

hematofagia por flebotomíneos L. longipalpis da América do Sul e Central. O peptídeo

maxidilan de populações de L. longipalpis encontradas no Brasil e Colômbia é mais potente e

está em maior quantidade exacerbando a infecção cutânea menor, causando a leishmaniose

visceral. Já nas populações de L. longipalpis da Costa Rica, o maxidilan apresenta pouca

quantidade e baixa atividade vasodilatadora, portanto, o parasito não visceraliza

permanecendo na pele. Frente a esses achados foi sugerido que L. longipalpis representa um

complexo de espécies cuja a capacidade vetorial de seus integrantes diferem, com efeito de

modular a patologia da enfermidade que transmitem (WARBURG et al., 1994).

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2.4 FLEBOTOMÍNEOS VETORES

No Brasil, segundo atualizações do Ministério da Saúde (2010), as espécies com

maiores competências vetoriais de LTA são: Lutzomyia flaviscutellata, Lutzomyia whitmani,

Lutzomyia umbratilis, Lutzomyia intermedia e Lutzomyia migonei. Outras espécies como

Lutzomyia neivai e Lutzomyia fisheri são frequentemente encontradas em áreas endêmicas,

porém ainda não são incriminadas na transmissão do parasito (BRASIL, 2010). Até o

momento, as espécies de flebotomíneos L. longipalpis e L. cruzi estão relacionadas com a

transmissão de LV, sendo essa última recentemente incriminada no estado do Mato Grosso do

Sul (MISSAWA et al., 2011). Rangel e Lainson (2003) afirmam que, no Brasil, 19 espécies

são suspeitas ou incriminadas de transmitir Leishmania spp. e capazes de infectar humanos.

L. longipalpis, apresenta ampla distribuição geográfica, abrangendo as Américas

Central e do Sul (FORATTINI, 1973; LAINSON; RANGEL, 2005). No Brasil, este

flebotomíneo apresenta ampla distribuição geográfica, sendo registrado em todas as regiões

político-administrativas, incluindo 21 estados (BRASIL, 2003).

Este vetor apresenta atividade, tanto intradomiciliar como extradomiciliar, ressaltando

sua capacidade de adaptação aos ambientes antrópicos (DEANE; DEANE, 1957; DE SOUZA

et al., 1981; RESENDE et al., 2006; DIAS et al., 2007). Esta adaptação é fruto de sua

habilidade de se alimentar tanto de animais domésticos como de animais sinantrópicos

(DEANE; DEANE, 1957; FORATTINI, 1973; RANGEL; LAINSON, 2003; BARATA et al.,

2005) e, juntamente de sua antropofilia, favorece a manutenção e transmissão da doença em

ambientes modificados (CONCEIÇÃO-SILVA; ALVES, 2014). É evidente a importância de

tais fatores para a saúde pública, somado aos impactos gerados pelas alterações ambientais,

determinadas principalmente pelas ações humanas, uma vez que podem influenciar no padrão

epidemiológico da LVA (DESJEUX, 2004; NUNES et al., 2008; MARZOCHI et al., 2009).

Segundo Barata e colaboradores (2005), L. longipalpis é uma espécie oportunista, pois

realiza o repasto sanguíneo em diversas espécies de vertebrados. Vale ressaltar tais aspectos,

uma vez que a LVA já é abordada como uma doença com forte tendência a urbanização

(DESJEUX, 2004; COSTA, 2008; FRANCA-SILVA et al., 2005, MARZOCHI et al., 2009),

por conta dos achados em áreas urbanas (DE OLIVEIRA; FALCAO; BRAZIL, 2000;

FRANCA-SILVA et al., 2005; RANGEL; VILELA, 2008; SANTOS; FERREIRA; BISETTO

JUNIOR, 2012).

Os indivíduos adultos são de porte médio em relação a outras espécies de

flebotomíneos e de tonalidade castanho amarronzada. A espermateca das fêmeas possui corpo

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anelado, embora não tão evidente, no qual podem ser contados aproximadamente 10 anéis e

seus dutos são longos e estreitos (Figura 2). Já os machos possuem espinhos geniculados bem

característicos da espécie, além de um tufo basal de 4 cerdas longas e delgadas no basistilo,

enquanto que o dististilo é dotado de 4 espinhos desenvolvidos e anexados em posições

diferentes; o parâmero apresenta parte distal triangular com várias cerdas, com pequenas

cerdas enfileiradas na parte inferior do parâmero; o lobo lateral é simples e mais longo que o

basistilo; a bomba ejaculadora apresenta extremidades simples e afiladas e três vezes mais

longas que as mesmas (FORATTINI, 1973; YOUNG; DURAN, 1994), (Figura 3).

Fonte: http://www.scielo.br/pdf/paz/v51n27/01.pdf .(SHIMABUKURO et al., 2011)

Os machos de L. longipalpis podem apresentar dois fenótipos distintos de acordo com

manchas nos tergitos abdominais, um deles com presença de um par de manchas claras no 4º

tergito e o outro com um par adicional de manchas claras no 3º tergito. O primeiro registro

dessa característica foi descrito por Mangabeira (1969) no Nordeste do Brasil.

As duas formas apresentam distribuição variada, sendo a forma 1M com distribuição

mais ampla, do sul do México ao norte da Argentina (LANZARO et al., 1993; YOUNG e

DUNCAN, 1994), enquanto que a forma 2M apresenta uma distribuição mais restrita, sendo

encontrada apenas na Bolívia, Paraguai e algumas localidades do Brasil (WARD et al., 1983;

DUJARDIN et al., 1997; BAUZER et al., 2002a; BAUZER et al., 2002b; ARAKI et al., 2009;

ARAKI et al., 2013).

2.5 COMPLEXO L. longipalpis

A evidência da formação de híbridos ou acasalamentos não aleatórios, consequência

do processo de diferenciação genética (MAINGON et al., 2008), parece existir com

populações de L. longipalpis. Costa Rica, Colômbia e Brasil produzem machos híbridos

(LANZARO et al., 1993). A seleção sexual também já é registrada entre populações que

vivem em simpatria, como as de Sobral (CE), nas quais fêmeas reconhecem feromônios e

Figura 2. Espermateca

feminina de L. longipalpis.

Figura 3. Terminália genital

masculiana de L. longipalpis.

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sons de corte, produzidos especificamente pelo sexo oposto, dados esses concordantes com o

padrão de manchas nos tergitos dos machos (WARD et al., 1988; HAMILTON; DAWSON;

PICKETT, 1996; SOUZA et al., 2004; HAMILTON et al., 2005). A participação dos

feromônios e sons de corte é forte no processo de seleção sexual, agindo como barreira

reprodutiva (BAUZER et al., 2002a; BAUZER et al., 2002b; BOTTECCHIA et al., 2004;

WATTS et al., 2005; MAINGON et al., 2008), na escolha dos parceiros no momento do

acasalamento (JONES; HAMILTON, 1998). Apesar dos fortes indícios de fluxo gênico e

introgressão em populações simpátricas, como é o caso de populações de Sobral (CE)

(ARAKI et al., 2013), há evidências de que o isolamento reprodutivo entre tais populações é

mais forte do que entre irmãs alopátricas do complexo L. longipalpis (WARD et al., 1983;

SOUZA et al., 2008).

Considerando somente os dados de manchas – 1M para machos com uma mancha

clara no 4º tergito e 2M para machos com duas manchas claras (3º e 4º tergito) – Ward e

colaboradores (1983) induziram o cruzamento entre os esses dois grupos, de populações

alopátricas (Morada Nova, Lapinha e Marajó) e simpátricas (Sobral - CE) do Brasil, nos quais

a inseminação falhou para praticamente todos eles. Observou-se também esse insucesso em

machos alopátricos com padrão igual de manchas, indicando o isolamento reprodutivo e

consequentemente a existência do complexo (WARD et al., 1983). Ainda é clara a falta de

consenso a respeito da existência ou não do complexo. Alguns autores apontam tal fato como

fruto da recente ou incompleta separação dessas populações, permanecendo ainda

características genéticas do ancestral comum (WARD et al., 1983; BAUZER et al., 2002a;

ARAKI et al., 2009). Além disso, a introgressão genética também é apontada, tanto em L.

longipalpis, como em outros flebotomíneos (BAUZER et al., 2002b; MAZZONI et al., 2008;

ARAKI et al., 2009; ARAKI et al., 2013), levando ao atual mosaico genético encontrado na

literatura científica.Os estudos apontam para a existência de dois grupos principais dentro das

populações brasileiras de L. longipalpis. De acordo com características moleculares e

químicas, o primeiro grupo é constituído de um complexo morfologicamente semelhante, mas

vivem em alopatria (LANZARO et al., 1993; MUTEBI et al., 1998; BAUZER et al., 2002a).

Este forma um grupo mais homogênico que apresenta som de corte (“love song”) do tipo

explosão (“brust-type) e produção de um mesmo feromônio, C20. Já o segundo grupo é mais

heterogêneo e interessantemente, ocorre em simpatria. Tal grupo apresenta padrões de sons de

corte variáveis, em pulso (“Pulse-type”), além de apresentarem composição de diferentes

feromônios C16 ( Figura 4 ), (SOUZA et al., 2004; ARAKI et al., 2009).

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Figura 4 - Resumo das informações disponíveis sobre diferentes sons de corte e principais tipos de feromônios

produzidos por 14 populações de L. longipalpis do Brasil (ARAKI et al., 2009).

No Brasil, apesar das diferenças apresentadas entre os marcadores genéticos (URIBE,

1999; SOARES; TURCO, 2003; BAUZER et al., 2007; ARAKI et al., 2013), alguns estudos

apontam, de acordo com análises mais amplas através de características fenotípicas,

comportamentais e genéticas, que existem espécies crípticas, simpátricas ou alopátricas, em

diferentes processos de diferenciação (WARD et al., 1983; LANZARO et al., 1993;

BAUZER et al., 2002a; BAUZER et al., 2002b; MAINGON et al., 2003; ARAKI et al., 2009;

LINS et al., 2012; ARAKI et al., 2013).

Marcadores moleculares estudados em L. longipalpis voltam-se principalmente para a

questão do complexo de espécies. Incluem estudos que vão desde bandeamento

cromossômico (YIN et al., 1999), polimorfismo em gens de especiação (MAZZONI et al.,

2002; BAUZER et al., 2002a; BAUZER et al., 2002b; ARAKI et al., 2009; ARAKI et al.,

2013) e expressão gênica (MCCARTHY et al., 2013).

Dentre vários marcadores, os apontados como mais confiáveis para o estudo de

populações de L. longipalpis são, segundo Araki e colaboradores (2013), per, para, up e

sec22. Um bom marcador molecular precisa ser capaz de diferenciar duas espécies

simpátricas (Ex: Sobral 1M vs Sobral 2M) e não necessariamente um que é capaz de

distinguir duas espécies alopátricas (Ex: Lapinha 1M vs Pancas1M), (ARAKI et al., 2013).

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3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA

Este foi o primeiro estudo destinado a analisar variações fenotípicas a partir de

populações de L. longipalpis provenientes da Restinga da Marambaia, município de

Mangaratiba, Rio de Janeiro, e do bairro de Santo Antônio, município de Mossoró, estado do

Rio Grande do Norte, sendo de grande contribuição para a maior compreensão da

epidemiologia da leishmaniose visceral em área de transmissão silenciosa e intensa dessa

protozoose, respesctivamente. Além disso, fornecerá subsídios essenciais para análises

comparadas a outras populações de L. longipalpis dentro de um complexo de espécies

crípticas do Brasil, ainda desconhecidas.

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4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

Investigar a ocorrência de populações do complexo Lutzomyia longipalpis na Restinga

da Marambaia, Mangaratiba, estado do Rio de Janeiro e no bairro de Santo Antônio,

Município de Mossoró, estado do Rio Grande do Norte.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

I. Identificar populações do complexo Lutzomyia longipalpis provenientes da Restinga

da Marambaia, município de Mangaratiba, estado do Rio de Janeiro, através das

características fenotípicas utilizando o padrão morfológico de 1 mancha (1M) e 2

manchas (2M) dos tergitos abdominais dos machos;

II. Identificar populações do complexo Lutzomyia longipalpis provenientes do bairro de

Santo Antônio, município de Mossoró, estado do Rio Grande do Norte, através das

características fenotípicas utilizando o padrão morfológico de 1 mancha (1M) e 2

manchas (2M) dos tergitos abdominais dos machos;

III. Comparar os padrões fenotípicos encontrados nas duas áreas de estudo com os

achados descritos na literatura.

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5 MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 TRABALHO DE CAMPO

5.1.1 Área de estudo: Restinga da Marambaia

A Restinga de Marambaia faz parte da Baía de Sepetiba, localizada no município de

Mangaratiba (entre 23°04’S e 43°53’ W), ao litoral sul do estado do Rio de Janeiro (Figura 5).

Corresponde a uma Área de Proteção Ambiental (BRASIL, 2014), com clima tropical úmido

e ecossistemas diversificados contíguos ao bioma Mata Atlântica, tais como: pântanos,

restingas, dunas, praias e mangues. O pico da Marambaia é considerado o ponto culminante,

atinge cerca de 647 metros de altura. O território possui 79 km² e uma estreita faixa de areia

com 40 km de extensão o conecta ao continente. Embora a Restinga da Marambaia não seja

cercada de água por todos os lados, recebe também a denominação de Ilha da Marambaia, por

seu relevo e topografia característicos (CONDE et al., 2005; MATTOS, 2005; CARMO et al.,

2013), por exemplo, durante a maré alta a extensa faixa de restinga torna-se inundada.

A região é administrada pelas Forças Armadas do Brasil e recebe militares de origem

nacional e internacional para treinamentos, além de visitantes brasileiros de regiões

endêmicas de leishmaniose. A Restinga da Marambaia ainda é habitada por remanescentes

quilombolas. Alonso e colaboradores (2014) relataram a existência de 100 residências na

região, distribuídas por oito praias, algumas junto à costa e outras próximas da mata. Há

coleta de lixo, mas as condições sanitárias ainda não correspondem as ideais. No

peridomicílio a maioria dos moradores locais possuem criações de animais para consumo. Os

cães de estimação geralmente são deixados soltos e retornam as residências ao anoitecer,

período de maior atividade dos flebotomíneos. Ademais, casos de leishmaniose visceral

canina foram identificados em inqueritos sorológicos realizados na região (ALONSO et al.,

2014; CARMO et al., 2013).

Figura 5 - Mapa da Costa Verde, litoral sul do estado do Rio de Janeiro, em destaque a Restinga da Marambaia,

localizada no município de Mangaratiba.

Page 31: Investigação de populações do complexo Lutzomyia ... · populations from Restinga da Marambaia, Mangaratiba municipality, state of Rio de Janeiro and Santo Antônio neighborhood,

29

5.1.2 Área de estudo: Mossoró

O município de Mossoró, está situado no estado do Rio Grande do Norte, mesorregião

do Oeste Potiguar, sobre as seguintes coordenadas geográficas: Latitude 5º 11’ 15” Sul, e

longitude: 37º 20’ 39” Oeste. Possui área de aproximadamente 2.110,21 km² e com altitude

em relação a sede do município de 16 metros. Natal, a capital do estado, está distante cerca de

285 km do município de Mossoró. O tipo de clima é muito quente e semi-árido, com baixa

precipitação pluviométrica, de aproximadamente 703.7mm/ano. Apresenta duas estações bem

marcadas, cujo o período chuvoso ocorre de fevereiro a abril, seguido da estação seca, com

Umidade Relativa Média Anual em torno de 70% (IDEMA, 2008).

Para a realização do estudo foi selecionada uma área com transmissão intensa para

LVA, no município de Mossoró, seja ela: o bairro de Santo Antônio (Figura 2). Cabe

ressaltar, que na localidade há soroprevalência de leishmaniose visceral canina (KAZIMOTO

et al 2016).

Figura 6 - Mapa do município de Mossoró, em destaque o bairro de Santo Antônio.

Page 32: Investigação de populações do complexo Lutzomyia ... · populations from Restinga da Marambaia, Mangaratiba municipality, state of Rio de Janeiro and Santo Antônio neighborhood,

30

5.2 CAPTURA DE FLEBOTOMÍNEOS, SELEÇÃO DE AMOSTRAS E IDENTIFICAÇÃO

TAXONÔMICA

As capturas foram realizadas entre o período de agosto de 2015 a agosto de 2016,

totalizando 12 meses de captura em cada área de estudo. Para isso, armadilhas luminosas do

tipo HP foram empregadas, iniciadas às 18 horas e encerradas às 7 horas do dia seguinte,

totalizando 13 horas/coleta.

As armadilhas foram instaladas em pontos onde levantamentos entomológicos

anteriores evidenciaram a presença de L. longipalpis e no peridomicílio das residências as

quais inquéritos sorológicos caninos relataram a ocorrência de casos de leishmaniose visceral

canina. No peridomicílio foram selecionados os locais mais propícios à proliferação dos

flebotomíneos, como os abrigos de animais, principalmente galinheiros e canis.

Os insetos capturados foram entorpecidos com éter e em seguida foi realizada uma

triagem para separar flebotomíneos de não flebotomíneos. Todos os flebotomíneos obtidos na

triagem foram alocados em tubos plásticos contendo álcool a 70%, devidamente rotulados de

acordo com o local de captura e enviados para o laboratório de entomologia do Instituto

Nacional de Endemias Rurais (INERU/FIOCRUZ).

No laboratório, com o auxílio de uma lupa estereoscópica os flebotomíneos foram

submetidos a uma segunda triagem para a separação de machos e fêmeas. Os machos obtidos

foram montados em lâminas para a visualização dos caracteres morfológicos em microscópio

óptico, e então identificados a nível de espécie de acordo com a nomenclatura proposta por

Galati, 2003. Após a identificação taxonômica os espécimes machos de L. longipalpis foram

separados para posterior caracterização fenotípica.

5.2.1 Caracterização fenotípica

A caracterização fenotípica dos machos de L. longipalpis provenientes das duas áreas

de estudo, consistiu em identificar por meio de visualização em lupa estereoscópica o padrão

morfológico de 1 mancha (1M) e ou de 2 manchas (2M) nos segmentos abdominais dos

machos, de acordo com a metodologia proposta por Mangabeira (1969), incluindo os

fenótipos intermediários descritos em estudo prévios (WARD et al., 1983; WARD et al.,

1988; MUKHOPADHYAY et al., 1998; SOUZA et al., 2008).

Page 33: Investigação de populações do complexo Lutzomyia ... · populations from Restinga da Marambaia, Mangaratiba municipality, state of Rio de Janeiro and Santo Antônio neighborhood,

31

6 ANÁLISE ESTATÍSTICA

A análise estatística foi realizada de forma descritiva.

7 ASPECTOS ÉTICOS

O presente estudo não necessita de aprovação pelo Comitê de Ética no Uso de

Animais (CEUA) por se tratar de um estudo desenvolvido com insetos.

8 RESULTADOS

Os resultados e discussão dessa dissertação serão apresentados em formato de artigo

científico submetido para publicação na Revista Acta Amazônica.

Page 34: Investigação de populações do complexo Lutzomyia ... · populations from Restinga da Marambaia, Mangaratiba municipality, state of Rio de Janeiro and Santo Antônio neighborhood,

32

8.1 ARTIGO

Investigação de populações do complexo Lutzomyia longipalpis em Mangaratiba, estado

do Rio de Janeiro e Mossoró, estado do Rio Grande do Norte.

Autores: Tavares-Pinheiro, J. ¹*; De Souza, M. B.²; Amora, S. S. A.³; Kazimoto, T. A.³;

Figueiredo, F. B 4.

¹Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública- ENSP/ Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil;

²Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca- ENSP/ Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil;

³Programa de Pós-Graduação em Ambiente, Tecnologia e Sociedade – Universidade Federal Rural do Semi-

Árido, Mossoró, RN, Brazil;

4 Laboratório de Biologia Celular, Instituto Carlos Chagas/Fiocruz, Curitiba, PR, Brazil.

*Corresponding author: Tel.:(+5521) 3865-9536

E-mail address: [email protected] (Tavares-Pinheiro, J).

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Resumo

Lutzomyia longipalpis lato sensu (l.s) é considerado o principal vetor de Leishmania

chagasi, agente etiológico causador da leishmaniose visceral nas Américas. Durante estudos

pioneiros no nordeste Brasil, Mangabeira (1969) observou variações fenotípicas entre

machos de L. longipalpis que coexistiam em simpatria em Sobral no Ceará, e sugeriu que

poderiam se tratar de espécies distintas. Desde então a maioria dos estudos destinados a

esclarecer o verdadeiro status taxonômico de L. longipalpis, apontam para a existência de

um complexo de espécies incipiente, embora o número de integrantes e suas áreas de

distribuição ainda não estejam totalmente resolvidos. Recentemente, estudos tem

correlacionado variabilidade genética a padrões fenotípicos distintos. Essas diferenças são

de grande importância para a saúde pública, não somente pela possibilidade de

influenciarem na capacidade vetorial desses flebotomíneos, mas também de sua

antropofilia. O presente estudo teve como objetivo analisar as características fenotípicas das

populações de machos de L. longipalpis provenientes da Restinga da Marambaia, município

de Mangaratiba, estado do Rio de Janeiro e do bairro de Santo Antônio, localizado no

município de Mossoró, estado do Rio Grande do Norte, região semi-árida do nordeste

brasileiro. As capturas foram realizadas durante o período de 12 meses. Armadilhas do tipo

HP foram empregadas, iniciadas às 18 horas e encerradas às 7 horas do dia seguinte,

totalizando 13 horas/coleta. Os flebotomíneos machos capturados foram identificados a

nível de espécie de acordo com a nomenclatura proposta por Galati (2003) e, em seguida, os

machos de L. longipalpis obtidos submetidos à caracterização fenotípica. Todos os machos

de L. longipalpis provenientes da Restinga da Marambaia apresentaram o padrão

morfológico de uma mancha clara no 4º tergito abdominal, morfotipo predominante

também em outras áreas do Rio de Janeiro. No bairro de Santo Antônio, município de

Mossoró, identificamos significativa diversidade fenotípica, composta por machos que

apresentaram o padrão morfológico de uma mancha clara no 4º tergito abdominal, enquanto

outros apresentaram o padrão morfológico de 2 manchas claras no 3º e no 4º tergito, além

do encontro de um fenótipo intermediário representado por machos com uma mancha clara

no 4º tergito e 3/4 do 3º tergito preenchido pela mancha clara. Na última região variedades

morfológicas parecem apresentar importância vetorial com fortes consequências

epidemiológicas, tendo em vista a maior incidência da leishmaniose visceral na região

nordeste do Brasil, sobretudo no Estado do Rio Grande do Norte.

Palavras-chave: Lutzomyia longipalpis lato sensu, complexo Lutzomyia longipalpis,

caracterização fenotípica.

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34

Abstract

Lutzomyia longipalpis lato sensu (l.s) is considered the main vector of Leishmania chagasi,

an etiological agent that causes visceral leishmaniasis in the Americas. During pioneering

studies in northeast Brazil, Mangabeira (1969) observed phenotypic variations among males

of L. longipalpis that coexisted in sympatry in Sobral, Ceará, and suggested that they could

be different species. Since then, most of the studies aimed at clarifying the true taxonomic

status of L. longipalpis point to the existence of an incipient species complex, although the

number of members and their areas of distribution are still not fully resolved. Recently,

studies have correlated genetic variability to distinct phenotypic patterns. These differences

are of great importance for public health, not only for the possibility of influencing the

vectorial capacity of these sandflies, but also for their anthropophilia. The present study had

the objective of analyzing the phenotypic characteristics of the L. longipalpis males

populations from Restinga da Marambaia, Mangaratiba municipality, Rio de Janeiro State

and Santo Antônio neighborhood, located in the municipality of Mossoró, state of Rio

Grande do Norte, semi-arid region of Northeast Brazil. Catches were taken during the 12-

month period. HP- type traps were employed, starting at 6 pm and ending at 7 pm the

following day, totaling 13 hours / collection. The captured male sandflies were identified at

species level according to the nomenclature proposed by Galati (2003) and then the males

of L. longipalpis obtained submitted to the phenotypic characterization. All males of L.

longipalpis from the Restinga da Marambaia presented the morphological pattern of a pale

spot in the 4th abdominal tergite, a predominant morphotype in other areas of Rio de

Janeiro. In the Santo Antônio neighborhood, Mossoró municipality, we identified a

significant phenotypic diversity composed by males that presented the morphological

pattern of a pale spot in the 4th abdominal tergite, while others presented the morphological

pattern of 2 pale spots completely filled in the 3rd and 4th tergite, In addition to the finding

of an intermediate phenotype represented by males with a single solid spot in the 4th tergite

and 3/4 of the 3rd tergite filled by the light spot. In the latter region, morphological varieties

seem to present vectorial importance with strong epidemiological consequences, due to the

higher incidence of visceral leishmaniasis in northeastern Brazil, especially in the State of Rio

Grande do Norte.

Key words: Lutzomyia longipalpis lato sensu, Lutzomyia longipalpis complex, phenotypic

characterization.

INTRODUÇÃO

Lutzomyia longipalpis lato sensu (l.s) é considerado o principal vetor envolvido no

ciclo de transmissão de L. chagasi, agente etiológico causador da LVA. Durante estudos

pioneiros no Nordeste do Brasil, Mangabeira (1969) observou variações fenotípicas entre

machos de populações simpátricas de L. longipalpis em Sobral, no estado do Ceará e

alopátricas no estado do Pará. Foi identificada a existência de dois fenótipos distintos,

compostos por machos com uma mancha clara no IV segmento abdominal (1M), enquanto

outros apresentavam duas manchas claras, uma no III e outra no IV segmento abdominal

(2M). O mesmo também observou que em Sobral, apesar de coexistirem em simpatria,

essas populações estavam dispostas em ambientes com características ecológicas distintas.

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35

Com base nesses indícios, sugeriu que poderiam se tratar de espécies distintas

(MANGABEIRA, 1969). Tais achados impulsionaram o desenvolvimento de novas

pesquisas, no sentido de solucionar a questão enigmática posta em debate, que ainda hoje

pretende responder se as populações de L. longipalpis, de diferentes regiões geográficas do

Brasil, correspondem a uma única espécie ou a um complexo de espécies a ser investigado

(BAUZER et al., 2007).

A evidência da formação de híbridos ou acasalamentos não aleatórios, consequência

do processo de diferenciação genética (MAINGON et al., 2008), parece existir com

populações de L. longipalpis. Costa Rica, Colômbia e Brasil produzem machos híbridos

(LANZARO et al., 1993). A seleção sexual também já é registrada entre populações que

vivem em simpatria, como as de Sobral (CE), nas quais fêmeas reconhecem feromônios e

sons de corte, produzidos especificamente pelo sexo oposto, dados esses concordantes com

o padrão de manchas nos tergitos dos machos (WARD et al., 1988; HAMILTON;

DAWSON; PICKETT, 1996; SOUZA et al., 2004; HAMILTON et al., 2005). A

participação dos feromônios e sons de corte é forte no processo de seleção sexual, agindo

como barreira reprodutiva (BAUZER et al., 2002a; BAUZER et al., 2002b; BOTTECCHIA

et al., 2004; WATTS et al., 2005; MAINGON et al., 2008), na escolha dos parceiros no

momento do acasalamento (JONES; HAMILTON, 1998).

No Brasil, apesar das diferenças apresentadas entre os marcadores genéticos

(URIBE, 1999; SOARES; TURCO, 2003; BAUZER et al., 2007; ARAKI et al., 2013),

alguns estudos apontam, de acordo com análises mais amplas através de características

fenotípicas, comportamentais e genéticas, que existem espécies crípticas, simpátricas ou

alopátricas, em diferentes processos de diferenciação (WARD et al., 1983; LANZARO et

al., 1993; BAUZER et al., 2002a; BAUZER et al., 2002b; MAINGON et al., 2003; ARAKI

et al., 2009; LINS et al., 2012; ARAKI et al., 2013).

Lutzomyia longipalpis (l.s), possui extensa distribuição geográfica no Brasil,

entretanto, em áreas focalizadas e de forma descontinua (YOUNG; DURAN, 1994). Esse

cenário muito se deve a existência de barreiras geográficas, climáticas e ao curto raio de

vôo do vetor (ALEXANDER et al., 1998), sendo o isolamento por distância condição

reconhecida por reduzir o fluxo gênico entre as populações, atuando em processos de

especiação (BAUZER et al., 2007). Nessa perspectiva, a variabilidade genética observada

entre populações de L. longipalpis pode estar relacionada aos processos de deriva gênica e

seleção natural, eventos graduais na escala espaço-temporal que possivelmente exercem

influências sob a capacidade vetorial desses flebotomíneos, tendo fortes consequências na

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epidemiologia da LVA (LANZARO et al., 1993).

A epidemiologia complexa da LVA e distribuição heterogênea, com manifestações

de amplo espectro clínico produzidas por L. chagasi, podem ser explicadas pelo

envolvimento de diversas espécies crípticas dentro do complexo L. longipalpis. Deste

modo, a importância dos processos de especiação para a saúde pública é de tal ordem que

torna-se necessário o conhecimento do vetor em cada foco de transmissão

(ARRIVILLAGA et al., 2003) de modo a contribuir para o seu controle.

É nesse contexto que foi realizado o primeiro estudo com o objetivo de analisar as

características fenotípicas das populações de L. longipalpis provenientes da Restinga da

Marambaia, município de Mangaratiba, estado do Rio de Janeiro e do bairro de Santo

Antônio, município de Mossoró, estado do Rio Grande do Norte, área de transmissão

silenciosa e intensa dessa protozoose, respectivamente.

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo: Restinga da Marambaia, município de Mangaratiba (RJ).

A Restinga de Marambaia faz parte da Baía de Sepetiba, localizada no município de

Mangaratiba (entre 23°04’S e 43°53’ W), ao litoral sul do estado do Rio de Janeiro

(Figura1). Corresponde a uma Área de Proteção Ambiental (BRASIL, 2014), com clima

tropical úmido e ecossistemas diversificados contíguos ao bioma Mata Atlântica, tais como:

pântanos, restingas, dunas, praias e mangues. O território possui 79 km² e uma estreita faixa

de areia com 40 km de extensão o conecta ao continente. Embora a Restinga da Marambaia

não seja cercada de água por todos os lados, recebe também a denominação de Ilha da

Marambaia, por seu relevo e topografia característicos (CONDE et al., 2005; MATTOS,

2005; CARMO et al., 2013), por exemplo, durante a maré alta a extensa faixa de restinga

torna-se inundada.

A região é administrada pelas Forças Armadas do Brasil e recebe militares de origem

nacional e internacional para treinamentos, além de visitantes brasileiros de regiões

endêmicas de leishmaniose. A Restinga da Marambaia ainda é habitada por remanescentes

quilombolas. No peridomicílio a maioria dos moradores locais possuem criações de animais

para consumo. Os cães de estimação geralmente são deixados soltos e retornam as

residências ao anoitecer, período de maior atividade dos flebotomíneos. Ademais, casos de

leishmaniose visceral canina foram identificados em inqueritos sorológicos realizados na

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região (ALONSO et al., 2014; CARMO et al., 2013).

Área de estudo: Bairro de Santo Antônio, município de Mossoró (RN)

O município de Mossoró, está situado no estado do Rio Grande do Norte,

mesorregião do Oeste Potiguar, sobre as seguintes coordenadas geográficas: Latitude 5º 11’

15” Sul, e longitude: 37º 20’ 39” Oeste. Possui área de aproximadamente 2.110,21 km² e

com altitude em relação a sede do município de 16 metros. Natal, a capital do estado, está

distante cerca de 285 km do município de Mossoró. O tipo de clima é muito quente e semi-

árido, com baixa Precipitação Pluviométrica, de aproximadamente 703.7mm/ano. Apresenta

duas estações bem marcadas, cujo período chuvoso ocorre de fevereiro a abril, seguido da

estação seca, com Umidade Relativa Média Anual em torno de 70% (IDEMA, 2008).

Para a realização do estudo foi selecionada uma área com transmissão intensa para

LVA, no município de Mossoró, seja ela: o bairro de Santo Antônio (Figura 2). Cabe

ressaltar, que na localidade há soroprevalência de leishmaniose visceral canina

(KAZIMOTO et al 2016).

Captura de flebotomíneos, seleção das amostras e identificação taxonômica

As capturas foram realizadas nas duas regiões geográficas descritas anteriormente,

entre o período de agosto de 2015 a agosto de 2016, totalizando 12 meses de captura em cada

área de estudo. Para isso, armadilhas luminosas do tipo HP foram empregadas, iniciadas às 18

horas e encerradas às 7 horas do dia seguinte, totalizando 13 horas/coleta.

As armadilhas foram instaladas em pontos onde levantamentos entomológicos

Figura 1. Mapa da Costa Verde, litoral sul do estado do

Rio de Janeiro, em destaque a Restinga da Marambaia,

localizada no município de Mangaratiba.

Figura 2. Mapa do município de

Mossoró, em destaque o bairro de

Santo Antônio.

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anteriores evidenciaram a presença de L. longipalpis e no peridomicílio das residências as

quais inquéritos sorológicos caninos relataram a ocorrência de casos de leishmaniose visceral

canina. No peridomicílio foram selecionados os locais mais propícios à proliferação dos

flebotomíneos, como os abrigos de animais, principalmente galinheiros e canis.

Os insetos capturados foram entorpecidos com éter e em seguida foi realizada uma

triagem para separar flebotomíneos de não flebotomíneos. Com o auxílio de uma lupa

estereoscópica os flebotomíneos foram submetidos a uma segunda triagem para a separação

de machos e fêmeas. Os machos obtidos foram montados em lâminas para a visualização dos

caracteres morfológicos em microscópio óptico, e então identificados a nível de espécie de

acordo com a nomenclatura proposta por Galati, (2003).

Caracterização fenotípica

Após a identificação taxonômica os espécimes machos de L. longipalpis de cada uma

das regiões de captura foram submetidos à caracterização fenotípica, que consistiu em

identificar por meio de visualização em lupa estereoscópica o padrão morfológico de 1

mancha (1M) e ou de 2 manchas (2M) nos segmentos abdominais dos machos, de acordo com

a metodologia proposta por Mangabeira (1969), incluindo os fenótipos intermediários

descritos em estudo prévios.

Figura 3. Esquema ilustrativo de fenótipos descritos na literatura. A) Fenótipo 1M - 4º tergito preenchido pela

mancha clara; B) Fenótipo 2M- 3º e 4º tergitos preenchidos pela mancha clara; C) Fenótipo intermediário de 1

ponto (1P) - Uma mancha clara no 4º tergito abdominal e um ponto claro no 3º tergito em adicional; D) Fenótipo

intermediário de ¼ - 4º tergito preenchido pela mancha clara e 1/4 do 3º tergito em adicional preenchido pela

mancha clara; E) Fenótipo intermediário de ½ - 4º tergito preenchido pela mancha clara e 1/2 do 3º tergito

preenchido pela mancha clara; F) Fenótipo intermediário de ¾ - 4º tergito preenchido pela mancha clara e ¾ do

3º tergito em adicional preenchido pela mancha clara (MANGABEIRA, 1969 – A e B; WARD et al., 1985– A,

B;WARD et al., 1988 – A, B, C, D, E e F; DE SOUZA et al., 2008. – A, B e E; MUKHOPADHYAY et al.,

1998– A, B e F).

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RESULTADOS

Durante os 12 meses de captura na Restinga da Marambaia foram coletados um total

24 (1,0%) espécimes machos de L. longipalpis. Todos os machos de L. longipalpis

capturados e submetidos à caracterização fenotípica apresentaram o padrão morfológico de

uma mancha clara no quarto tergito abdominal (Figura 3).

No município de Mossoró, especificamente no bairro de Santo Antônio, foram

coletados um total de 337 espécimes machos de L. longipalpis durante os 12 meses de

captura. Após a caracterização fenotípica, observou-se 131 (38,9%) machos que

apresentaram o padrão morfológico de uma mancha clara no 4° tergito abdominal, 139

(41,2%) apresentaram o padrão morfológico de 2 manchas claras no 3º e 4º tergito, além do

encontro de um fenótipo intermediário composto por 67 (19,9%) machos com uma mancha

clara no 4º tergito e ¾ do 3º tergito em adicional preenchido pela mancha clara (Figura 4),

(Tabela 1).

Figura 3. Fenótipo de uma mancha clara no 4º

tergito obtido na Restinga da Marambaia

(Aumento de 25 X).

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Figura 4. Fenótipos obtidos na área de estudo de Mossoró: A- Fenótipo de uma mancha clara no 4º tergito

abdominal; B- Fenótipo de uma mancha clara no 4ª e 3º tergito abdominal e C- Fenótipo intermediário da uma

mancha clara no 4º tergito e ¾ do 3º tergito em adicional preenchido pela mancha clara (Aumento de 25 X).

Tabela 1. Número de fenótipos e as respectivas frequências obtidas nas áreas de estudo.

Durante a caracterização fenotípica observou-se que o padrão morfológico de 1M,

nem sempre apresenta o 4º tergito totalmente prenchido pela mancha clara, enquanto todos

padrões morfológicos de 2M apresentaram o 3º e o 4º tergito abdominal totalmente

preenchidos pela mancha clara.

Quanto ao fenótipo intermediário obtido, observamos que o 4º tergito nem sempre está

totamente preenchido pela mancha clara e o 3º tergito em adicional apresenta ¾ de

preenchimento pela mancha clara.

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DISCUSSÃO

Ao longo de doze meses de capturas na Restinga da Marambaia, foram obtidos um

total de 15.032 flebotomíneos, entre os quais, apenas 24 espécimes machos de L. longipalpis

foram capturados. A baixa densidade vetorial de L. longipalpis já havia sido observada desde

o primeiro levantamento entomológico realizado na região no ano de 2009, o qual revelou a

existência de uma composição faunística diversificada com a captura de um total de 32.006

flebotomíneos, distribuídos entre 13 espécies distintas, sendo quatro delas de importância

epidemiológica no Brasil (Migoneimyia migonei, Nyssomyia intermedia e Pintomyia fischeri),

espécies vetoras da LTA, incluindo entre machos e fêmeas um total 108 espécimes de

Lutzomyia longipalpis, espécie vetora da LVA (NOVO et al., 2013).

No presente estudo os machos de L. longipalpis coletados na Restinga da Marambaia

mostraram o padrão fenotípico de uma mancha clara no 4º tergito abdominal, morfotipo

predominante também em outras áreas do Rio de Janeiro, como no município de Campo

Grande (WARD et al., 1985) Mesquita e Garatiba - Barra de Guaratiba (ARAKI et al., 2009),

região sudeste do Brasil.

Durante o mesmo período foram capturados no bairro de Santo Antônio, município de

Mossoró (RN), um total de 1.002 flebotomíneos, dentre eles foram identificados 337 machos

de L. longipalpis. Através da caracterização morfológica, foi possível observar significativa

diversidade fenotípica, composta por machos que apresentaram o padrão morfológico de uma

mancha clara no quarto segmento abdominal, outros machos mostraram o padrão morfológico

de duas manchas claras no 3º e 4º tergito abdominal e ainda verificou-se a existência de um

fenótipo intermediário composto por machos com uma mancha clara no 4º segmento

abdominal e ¾ do 3º tergito em adicional preenchido pela mancha clara.

Se compararmos o total de flebotomíneos capturados nas duas áreas de estudo, é

notável o número bem superior de espécimes coletados na Restinga da Marambaia, devido a

sua maior extensão territorial e ecoepidemiologia condicionada a um mosaico de ecossistemas

associados, em relação ao bairro de Santo Antônio, área antrópica intensamente urbanizada.

Por outro lado, embora na Restinga da Marambaia o total de flebotomíneos tenha sido alto,

poucos espécimes de L. longipalpis foram capturados, ao passo que no município de Mossoró

– apesar do total menos expressivo, a quantidade de machos capturados foi mais elevada em

comparação com a primeira região. Isso reflete a densidade significativa do vetor na última

área de estudo, como sendo de alta endemicidade. Inquéritos entomológicos realizados na

mesma área apontam L. longipalpis como o flebotomíneo mais frequente e predominante, em

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relação a outras espécies (KAZIMOTO et al 2016; AMORIM et al 2015).

Os machos de L. longipalpis provenientes do Estado do Rio Grande do Norte,

especialmente aqueles encontrados em Natal são altamente polimórficos para o fenótipo de

manchas nos tergais dos machos, uma vez que foram observados além dos padrões

morfológicos 1M e 2M, os fenótipos intermediários de ½, ¼ e ¾ do 3º tergito em adicional

preenchido pela mancha clara (WARD et al., 1983; WARD et al., 1988; MUKHOPADHYAY

et al., 1998; SOUZA et al., 2008).

Os morfotipos obtidos em Mossoró no presente estudo (1M, 2M e ¾) foram também

evidenciados por Mukhopadhyay e colaboradores (1998) em área endêmica próxima a cidade

de Natal, mas quando frequências isoenzimáticas foram comparadas, as 3 formas se

mostraram genotipicamente monomórficas, em conformidade com as expectativas de Hardy-

Heinberg. Diante desses achados eles consideram que em Natal, as variedades morfológicas

de L. longipalpis, correspondem na realidade a membros de uma população panmítica

(MUKHOPADHYAY et al., 1998).

No entanto estudos que analisaram isoenzimas (Mukhopadhyay et al., 1998; Mutebi et

al 1999; Azevedo et al., 1999), não encontraram heterogeneidade genética significativa a

ponto de considerar a existência de um complexo de espécies no Brasil.

Nessa perspectiva, Bauzer e colaboradores (2002a e b) ressaltam que populações de L.

longipalpis em diferentes regiões geográficas do Brasil, alopátricas ou simpátricas,

representam um complexo de espécies incipiente e distâncias genéticas a nível

interpopulacional não são facilmente detectáves por marcadores isoenzimáticos, pois estes

parecem não evoluir rápido o suficiente; seja por mudanças silenciosas ou pela persistência de

frequências alélicas semelhantes, quando se tratam de populações numerosas. Mas

particularmente em Natal, as variedades morfológicas de L. longipalpis parecem ser

monomórficas tanto para isoenzimas quando para marcadores nucleares de especiação, tais

como o gene per (BAUZER et al., 2002 a e b), cacofonia( BOTTECHIA et al., 2004),

microssatélites (WATTS et al., 2005), além de apresentarem filogenia monofilética

(BAUZER et al., 2002b).

Mangabeira (1969) foi o primeiro taxonomista a observar variações morfológicas entre

machos de L. longipalpis encontrados no Norte e Nordeste do Brasil. Ele identificou que no

estado do Pará os machos apresentavam apenas uma mancha clara no 4º tergito abdominal,

enquanto que no estado do Ceará, na localidade de Sobral, esse morfotipo coexistia em

simpatria com outro de uma mancha clara em adicional no 3º tergito abdominal. Ambos

habitavam nichos com características ecológicas contrastantes e, com base nesses indícios

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43

sugeriu que poderiam se tratar de espécies distintas (MANGABEIRA, 1969).

Amparados pela definição de espécie biológica Ward e colaboradores (1983), testaram

a hipótese com cruzamentos experimentais realizados a nível interpopulacional, a partir de

colônias estabelecidas de L. longipalpis coletados em diferentes regiões geográficas do Brasil.

Quase todos os machos falharam em inseminar fêmeas heterólogas para os padrões

morfológicos de manchas. Em menores taxas, falhas na inseminação de fêmeas concordantes

com machos de uma mancha clara no 4º tergito também ocorreram. O forte isolamento

reprodutivo encontrado entre os morfotipos de populações simpátricas (1M X 2M), e entre

populações alopátricas com mesmo padrão de mancha (1M X 1M), indicou a existência de

pelo menos duas formas distintas pertencentes ao complexo L. longipalpis (WARD et al.,

1983).

Ainda assim, quando cópulas ocorreram entre populações alopátricas com fenótipos

distintos, observou-se a emergência de proles intermediárias, recuperadas por

retrocuzamentos após algumas gerações (WARD et al., 1983). Condição similar foi observada

durante cruzamentos experimentais realizados posteriormente e, fenótipos intermediários

foram descartados para não gerarem resultados ambíguos (WARD et al., 1988; SOUZA et al.,

2008). Com base nesses indícios, os padrões morfológicos de manchas nos tergitos

abdominais dos machos (1M e 2M) não foram considerados confiáveis para diferenciação a

nível específico, pois esses não se conservam por isolamento reprodutivo (WARD et al.,

1983; WARD et al., 1988; MUTEBI et al., 1999). Exceto para os pares morfológicos da

localidade de Sobral, os quais indicaram isolamento reprodutivo mais forte no pré –

acasalamento, a medida que não foram observadas cópulas durante tentativas de cruzamentos

heteroespecíficos, o que sugere um reforço no papel da especiação dentro do complexo L.

longipalpis, por se tratarem de populações simpátricas (SOUZA et al., 2008). Nesse caso,

diferenças morfológicas são úteis para separar espécie. (WARD et al., 1983; WARD et al.,

1988; SOUZA et al., 2008; ARAKI et al., 2009).

Na maioria das áreas onde os dois morfotipos se sobrepõem (1M e 2M), formas

intermediárias também são relatadas (BOTTECHIA et al., 2004; WARD et al., 1988).

Possivelmente, em condições naturais fenótipos intermediários são a manifestação visual de

polimorfismos intraespecíficos, originados a partir de cruzamentos entre padrões fenotípicos

distintos (WARD et al., 1988). No entanto, especialmente na localidade de Sobral (CE), onde

fenótipos intermediários são raros ou inexistentes (MUTEBI et al., 1999; BAUZER et al.,

2002b), os pares morfológicos (1M e 2M) em simpatria parecem representar espécies distintas

(WARD et al., 1983; WARD et al., 1988; SOUZA et al., 2008). Supostamente, a ausência de

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fenótipos intermediários na localidade possa ser explicada por uma alteração de

semidominância para dominância de base genética, responsável pela expressão do fenótipo de

manchas, possivelmente pelo envolvimento de algum fator ambiental (MUTEBI et al., 1999;

BAUZER et al., 2002b).

Diante do exposto, tudo indica que assim como em Natal, o fenótipo intermediário de

¾ obtido na área estudo de Mossoró, corresponde a um híbrido, resultante do intercuzamento

entre os fenótipos 1M e 2M, morfotipos encontrados também na mesma área de captura.

Nesse contexto, o alto polimorfismo morfológico observado entre os machos de Natal

(MUKHOPADHYAY et al., 1998; WARD et al., 1988) sugere a existência de acasalamentos

aleatórios com fêmeas discordantes. Portanto o isolamento reprodutivo incompleto observado,

indica que nessas duas localidades os padrões morfológicos de manchas nos tergais dos

machos não devem ser utilizados para separar espécie (WARD et al., 1988; SOUZA et al.,

2008; BAUZER et al., 2007; ARAKI et al., 2009).

No Brasil as populações de L. longipalpis foram separadas em dois principais grupos,

de acordo com aspectos moleculares e comportamentais. O primeiro grupo possivelmente

corresponde a membros da mesma espécie, com ampla distribuição geográfica e genótipos

mais homogêneos, cujos machos emitem o som de corte do tipo estouro (brust- type) e

produzem o feromônio cembrene-1. Já o segundo grupo parece ser composto por membros

em diferentes processos de especiação incipiente, com distribuição restrita e genotipicamente

mais heterogêneo. Os machos pertencentes a esse grupo podem emitir subtipos de sons de

corte do tipo pulso (P1, P2, P3, P4, P5 e Mix) e secretar feromônios distintos com as seguintes

composições químicas: Germacrene, Himachalene, Cembrene-1 e Cembrene-2 (ARAKI et al.,

2009).

Esses sinais químicos e sonoros são fortes no processo de especiação a medida que

atuam como barreiras reprodutivas pré-zigóticas, acarretando na seleção sexual e isolamento

reprodutivo (SOUZA et al., 2008; BAUZER et al., 2007). Além das populações simpátricas

de Sobral, os pares morfológicos provenientes de Estrela de Alagoas e de Jaiba foram

recentemente indicados como novas espécies putativas do complexo L. longipalpis, os quais

diferem em aspectos genéticos e comportamentais na produção de feromônios e sons de corte

discordantes em relação aos fenótipos de manchas. Jaíba 1M produz o feromônio cembrene-2

e som do tipo pulso (P4), enquanto Jaíba 2M produz o feromônio cembrene-1 e som do tipo

estouro (HAMILTON et al., 2004; SOUZA et al., 2002b; ARAKI et al., 2009). Já os machos

de Estrela de Alagoas 1M e 2M apesar de produzirem o mesmo quimiotipo de feromônio

(cembrene-1), emitem sons de corte distintos, sendo o primeiro morfotipo do pulso (P5) e o

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segundo do tipo estouro (ARAKI et al., 2009).

Tomamos aqui as populações de Natal como referência, pela proximidade com o

município de Mossoró - área do presente estudo - e pela similaridade dos morfotipos

encontrados nas duas áreas. Porém, não está claro na literatura o tipo de feromônio e som de

corte produzido por cada uma das três formas (1M, 2M e 3/4) encontradas em Natal. Portanto

presume-se que esses morfotipos produzem o mesmo tipo de feromônio (cembrene-1) e som

do tipo estouro, embora apresentem padrões morfológicos distintos (SOUZA et al., 2004;

ARAKI et al., 2009).

Recentemente foi identificado um novo padrão sonoro chamado de mix, produzido por

machos provenientes de município de Mesquita, estado do Rio de Janeiro. O som foi

caracterizado por uma mistura do tipo pulso e do tipo estouro, o qual inicia no primeiro terço

com trens de pulsos policíclicos seguido de rajadas do tipo estouro, altamente policíclicas até

o seu término. Tais achados revelam mudanças envolvidas com aspectos comportamentais e

fornecem indícios interessantes sobre a evolução de sons de corte, a medida que esses machos

além de vibrar as asas, mexem de forma continua seus corpos de um lado para outro num

ângulo de aproximadamente 30 graus durante o ritual de acasalamento, comportamento não

observado para as populações de tipo pulso (ARAKI et al., 2009). Vale ressaltar que os

machos de Barra de Guaratiba (RJ), apresentaram produção de dois tipos de feromônios,

sendo 9-metilgermacrene o principal composto encontrado, feito por um terpeno com 16

carbonos e o segundo composto constituído por dispertenos variados (ARAKI et al., 2009).

Futuramente será interessante conhecer o som de corte e o tipo de feromônio

produzidos pelos machos da Restinga da Marambaia, área de nosso estudo localizada no

mesmo estado.

Dentre os marcadores moleculares mais utilizados, o gene per destaca-se por controlar

ritmos biológicos e circadianos, associados a locomoção (KONOPKA; BENZER, 1971) e a

regulação de sons de corte, determinados pelo bater de asas dos machos durante o ritual de

acasalamento (KYRIACOU; HALL, 1980). Inicialmente estudado para o inseto modelo

Drosophila melanogaster (PEIXOTO et al., 1992; SAWYER et al., 2006), o gene per tem

sido útil para análise de diversidade genética entre membros do complexo L. longipalpis,

contanto que foi reconhecido por Coyne (1992) como “gene de especiação” (COYNE, 1992).

Um fragmento de 266 pares de bases (pb) do gene per, foi analisado a partir de

populações brasileiras isoladas por distância (Lapinha - MG, Jacobina - BA e Natal -RN). Os

resultados obtidos indicaram a existência de pelo menos três populações alopátricas altamente

diferenciadas para o gene per, com um nível muito baixo de fluxo gênico entre elas.

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Entretanto, nenhuma mudança de aminoácidos foi observada neste fragmento (BAUZER et

al., 2002a).

Em seguida o mesmo fragmento de 266 pb do gene per foi analisado, desta vez a partir

de populações que coexistiam na região geográfica de Sobral (1M e 2M). Eles foram os

primeiros a apresentarem fortes evidências de que esses morfotipos poderiam representar duas

espécies simpátricas, sendo os membros do grupo 1M mais polimórficos do que o grupo 2M.

Entretanto, apesar da alta diversidade genética observada, não foram encontrados

polimorfismos fixos entre as duas formas (BAUZER et al., 2002b).

Essas inconsistências foram atribuídas a introgressão genética, ou seja, a possibilidade

de populações praticamente isoladas voltarem a se cruzar, resultando na manutenção de

polimorfismos ancestrais. Evidenciou-se ainda que Natal e Sobral 2M pertencem ao mesmo

pool genético e os índices de fixação em pares (FST) não foram significativos, embora as

duas localidades estejam a mais de 600 km de distância (BAUZER et al., 2002a; BAUZER et

al., 2002b). Nesse contexto cabe ressaltar que o município de Mossoró, onde foi realizado o

presente estudo está distante apenas 285 km quilômetros de Natal, a capital.

Após analisar um fragmento maior de 525 pb, Costa e colaboradores (2015)

identificaram novos polimorfismos fixos do gene per entre os pares morfológicos 1M e 2M de

duas localidades do Estado do Ceará (Sobral e Caririaçu) e uma do Estado de Pernambuco

(Bodocó), o que sugere relação direta entre variações fenotípicas e genotípicas. A utilidade

desse marcador molecular para análise de diversidade genética foi de tal ordem que o mesmo

foi indicado como um verdadeiro código de barras para identificação taxonômica de

populações simpátricas do complexo L. longipalpis no nordeste do Brasil. Além disso, os

perfis filogeográficos obtidos aqui, revelaram a origem ancestral do morfotipo 1M sob o 2M,

sendo de grande contribuição para entendimento da história natural e biogeografia desses

flebotomíneos (LIMA COSTA et al., 2015).

De acordo com aspectos biogeográficos, L. longipalpis pode ter habitado uma

extensão geográfica muito maior do que a atual, mas devido a alterações climáticas, sua

distribuição se tornou gradativamente focal e descontínua (WARD et al., 1985). Nessa

perspectiva a teoria dos refúgios parte do pressuposto que durante períodos extremamente

secos do pleistoceno e pós-pleistoceno, vastas áreas de floresta da América do Sul teriam

escasseado, restando apenas fragmentos de floresta úmida, os quais atuaram como “ilhas de

refúgios” (HAFFER, 1969), onde processos de especiação se intensificaram tal como uma

verdadeira “bomba de espécies” (HAFFER, 1992). Durante o quaternário, flutuações

climático-vegetacionais teriam provocado a retração e re-associação das áreas florestadas,

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condição determinante para a diversificação da fauna e flora mais rápida nos trópicos

(HAFFER, 1969).

Atualmente, a alta diversidade genética observada entre as populações brasileiras de L.

longipalpis é comparada ao nível de complexidade evidenciado para o complexo Anopheles

gamblia reconhecido na África (BAUZER et al., 2007), cujos membros podem diferir quanto

a capacidade vetorial, em sua preferência hospedeira (AYALA; COLUZZI, 2005), assim

como na resistência a inseticidas, o que dificulta o controle de protozooses por eles

transmitidas, tendo graves implicações epidemiológicas (MARCONDES et al., 1997).

Nesse contexto, as duas áreas onde o presente estudo foi realizado apresentam

características epidemiológicas próprias e contrastantes. Apesar da Restinga da Marambaia

não ser considerada endêmica para leishmaniose visceral, um inquérito sorológico canino

realizado por Carmo e colaboradores (2014), confirmou a soropositividade da doença em 17

cães entre os 116 testados, equivalente a soroprevalência de 14,6% cães infectados, além do

encontro de L. infantum isolada em culturas positivas (CARMO et al., 2014).

Ainda não há relatos de casos humanos de leishmaniose visceral na Restinga da

Marambaia, porém as condições são favoráveis para a emergência da enfermidade, já que está

comprovada a circulação do parasito, vetor e de reservatórios amplificadores na região, elos

cruciais para que o ciclo de transmissão dessa protozoose ocorra e se estabeleça.

Por outro lado, cerca de 90 % dos casos de LVA relatados na América Latina ocorrem

no Brasil, principalmente na região nordeste (BRASIL, 2010). O Estado do Rio Grande do

Norte destaca-se pela alta endemicidade dessa protozoose, além de apresentar o coeficiente de

incidência anual mais elevado da média nacional (BARBOSA, 2013). Especialmente no

município de Mossoró, ocorre a maior incidência de casos do Estado (BARBOSA, 2013), e

vem apresentando nos últimos anos crescente taxa de letalidade, a cima da média para o país

(LEITE; ARAÚJO, 2013).

Considerando a distribuição das duas formas (1M e 2M) no Brasil, Ward e

colaboradores (1983) sugeriram que o padrão morfológico de 2M pode ter maior importância

vetorial na transmissão de L. chagasi, a medida que a sua distribuição desigual e restrita

coincide com a ocorrência focalizada de casos humanos de LVA na região nordeste do Brasil.

Nada obstante, mesmo apresentado perfis genéticos monomórficos

(MUKHOPADHYAY et al., 1998; BAUZER et al., 2002a; BAUZER et al., 2002b;

BOTTECHIA et al., 2004; WATTS et al., 2005), não há como negligenciar a importância

vetorial das variedades morfológicas de L. longipalpis encontradas no Rio Grande do Norte,

haja vista que no estado são relatados os maiores índices de LVA do Brasil.

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9 CONCLUSÃO

• Todos os machos de L. longipalpis provenientes da Restinga da Marambaia (RJ)

apresentaram o padrão morfológico de uma mancha clara no 4º tergito abdominal,

assim como em outras áreas do Rio de Janeiro.

• No bairro de Santo Antônio (RN), foi encontrada significativa diversidade fenotípica

composta por machos com o padrão morfológico de uma mancha clara no 4º tergito,

enquanto outros apresentaram uma mancha clara no 4º e 3º tergito abdominal, além do

encontro de um fenótipo intermadiário com 3/4 do 3º tergito em adicional preenchido

pela mancha clara.

• Na última região variedades morfológicas parecem apresentar importância vetorial

com fortes consequências epidemiológicas, tendo em vista a maior incidência da

leishmaniose visceral na região nordeste do Brasil, sobretudo no Estado do Rio

Grande do Norte.

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GLOSSÁRIO

Complexo de espécies crípticas: Formado por duas ou mais espécies morfologicamente

indistinguíveis, as quais são classificadas como uma única espécie, passíveis de

discrimimação por diferenças comportamentais e genéticas (BICKFORD et al., 2007).

Deriva gênica: Mudanças ao acaso na freqüência de alelos de uma população. Ocorre com a

diminuição do número de invíduos uma população, por conseguite, menos gametas formarão

a constituição genética das gerações futuras. Portanto, há redução da variabilidade genética,

com alelos sub-representados ou ausentes, considerando a composição genética da

população original. A longo prazo, tanto alelos deletérios podem ser fixados na população

quanto alelos de importância do ponto de vista evolutivo podem ser pedidos (KLUG et al.,

2009).

Especiação: Desdobramento de uma espécie em duas ou mais espécies filhas. Diz respeito

ao processo gradativo de formação de novas espécies a partir de um ancestral comum por

incompatibilidade reprodutiva intra- específica (ODUM; BARRETT, 2011). Os processos de

especiação podem ocorrer em condições simpátricas, parapátricas ou alopátricas.

Fenótipo: Expressão de uma característica que pode ser determinada por interações entre o

genótipo e fatores ambientais (LIMA-E-SILVA et al., 2002).

Fluxo gênico: Troca de atributos genéticos de uma população para outra, determinada pela

movimentação de indivíduos (LIMA-E-SILVA et al., 2002). A existência de fluxo gênico

entre populações é considerada fonte efetiva de variabilidade genética, enquanto a redução

gradual de fluxo gênico pode separá-las a nível de espécie (KLUG et al., 2009).

Genótipo: Corresponde a todas as informações genéticas presentes no genoma de um

organismo, as quais determinam sua fisiologia e estrutura (LIMA-E-SILVA et al., 2002).

Híbrido: Indivíduo resultante do cruzamento entre genitores com linhagens genéticas

distintas (KLUG et al., 2009).

Isolamento reprodutivo: Impedimento total ou parcial de intercruzamento efetivo entre

organismos integrantes de duas ou mais populações, inviabilizando o intercâmbio de fluxo

gênico, devido tanto a mecanismos pré-zigóticos quanto a mecanismos pós-zigóticos, os

quais podem ser determinados por diferenças morfológicas, genéticas, fisiológicas,

comportamentais e ecológicas (LIMA-E-SILVA et al., 2002). Fatores esses reconhecidos por

atuar em processos de especiação.

Introgressão genética: Quando populações em processo de especiação recente voltam a se

cruzar, devido ao tempo insuficiente para separá-las a nível de espécie por conta do

isolamento reprodutivo incompleto, o que dificulta a detecção de diferentes graus de

polimorfismos genético, por conseqüência da reintrodução de atributos genéticos e

conservação de polimorfismos ancestrais existentes entre os organismos envolvidos, como

ocorre com as populações simpátricas de flebotomíneos L. longipalpis encontradas no

nordeste do Brasil (BAUZER et al., 2002a; BAUZER et al., 2002b; MAZZONI et al., 2008;

ARAKI et al., 2009; DE SOUZA FREITAS; DE QUEIROZ BALBINO, 2010; ARAKI et

al., 2013).

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Populações alopátricas: Conjunto de organismos pertencentes a mesma espécie separados

geograficamente, com baixo ou nenhum fluxo gênico entre eles (LIMA-E-SILVA et al.,

2002). Condição associada a processos de especiação alopátrica.

Populações simpáticas: Grupos de organismos pertencentes a mesma espécie que coexistem

na mesma região geográfica, mas por barreiras reprodutivas há impedimento parcial ou total

de intercruzamento entre eles (LIMA-E-SILVA et al., 2002). Condição associada a

processos de especiação simpátrica.

Ritmos circadianos: Termo proveniente do latim circa= “cerca” + dies= “dia”, o qual

designa a capacidade de um organismo programar seu ciclo de vida, realizar atividades, as

marcando e as repetindo durante intervalos de tempo de cerca de 24 horas (ODUM;

ORTEGA, 2006).

Seleção natural: Termo proposto por Charles Darwin (DARWIN, 1859) em sua obra

“Origem das Espécies”, o qual parte do princípio que seres pertencentes a mesma espécie

apresentam ligeiras variações na forma e fisiologia. Na luta pela sobrevivência as

características vantajosas são selecionadas pelo ambiente, logo os indivíduos mais adaptados

sobrevivem, se reproduzem e por conseguinte transmitem suas características genéticas ás

gerações futuras, garantindo assim a continuidade da espécie.

Sons de corte: Sons emitidos por machos no ritual de acasalamento para a atração das

fêmeas. No que diz respeito a fauna flebotomínica, machos de L. longipalpis pertencentes a

populações alopátricas e simpátricas podem emitir sinais sonoros com variações de

amplitude e frequência (SOUZA et al., 2004; BAUZER et al., 2007). Em evolução, esses

mecanismos pré-zigoticos são precurssores dos processos de especiação, a medida que atuam

na seleção sexual, resultando no isolamento reprodutivo (KLUG et al., 2009).