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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE MEDICINA VETERINÁRIA MESTRADO EM MEDICINA VETERINÁRIA TROPICAL AVALIAÇÃO DOS FATORES DE RISCO PARA INFECÇÃO POR LEISHMANIA EM CÃES NA ÁREA URBANA DE JEQUIÉ, BAHIA. VERENA MARIA MENDES DE SOUZA Salvador - Bahia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE MEDICINA VETERINÁRIA

MESTRADO EM MEDICINA VETERINÁRIA TROPICAL

AVALIAÇÃO DOS FATORES DE RISCO

PARA INFECÇÃO POR LEISHMANIA EM

CÃES NA ÁREA URBANA DE JEQUIÉ, BAHIA.

VERENA MARIA MENDES DE SOUZA

Salvador - Bahia

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2003

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VERENA MARIA MENDES DE SOUZA

AVALIAÇÃO DOS FATORES DE RISCO PARA INFECÇÃO POR LEISHMANIA

EM CÃES NA ÁREA URBANA DE JEQUIÉ, BAHIA.

Dissertação apresentada a Escola de Medicina

Veterinária da Universidade Federal da Bahia, como

requisito para a obtenção do título de Mestre em

Medicina Veterinária Tropical, na área de Saúde

Animal.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Roberto Franke

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Salvador - Bahia 2003

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FICHA CATALOGRÁFICA

ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA EMEV-UFBA

Unitermos: cães, leishmaniose visceral canina, estudo de coorte, corte transversal, fatores de risco, prevenção & controle.

AVALIAÇÃO DOS FATORES DE RISCO PARA INFECÇÃO POR LEISHMANIA

EM CÃES NA ÁREA URBANA DE JEQUIÉ, BAHIA.

SOUZA, Verena Maria Mendes de Avaliação dos Fatores de Risco para Infecção por Leishmania em Cães na Área Urbana de Jequié, Bahia / Verena M. M. de Souza. Salvador-Ba, 14/11/2003, 49p.

Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária Tropical ) – Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia. Departamento de Produção Animal, 2003. Área de Concentração: Medicina Veterinária Tropical

Professor Orientador: Carlos Roberto Franke

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VERENA MARIA MENDES DE SOUZA

Dissertação defendida e aprovada para a obtenção do grau de Mestre em Medicina Veterinária

Tropical.

Salvador, 14 de Novembro de 2003. Comissão Examinadora:

____________________________________ Prof. Dr. Carlos Roberto Franke - UFBA

Orientador

___________________________________ Prof. Dr. Edson Duarte Moreira Júnior - FIOCRUZ- BA

_____________________________________ Prof. Dr. Hélio Vilela Barbosa Júnior - UFBA

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À minha família, em especial ao meu pai.

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AGRADECIMENTOS

Por sermos humanos estamos sempre contando com a colaboração de alguém, é por isso que

agradeço a todos aqueles que participaram de forma direta ou indireta na realização deste

trabalho e em especial:

- A Deus pelo dom da Vida e por trilhar o meu caminho;

- A minha família, pelo incentivo, amor e carinho distribuídos durante toda a minha

caminhada;

- Ao meu companheiro Adriano de Lemos Alves Peixoto pelo amor e compreensão

principalmente nos momentos difíceis;

- A Dr. Edson Duarte Moreira Júnior pela confiança e incentivo depositados e a toda equipe

do NEPE (FIOCRUZ) especialmente Isabela Rebouças Arapiraca, Nilson Lima Lopes e

Ronald B. Barreto pela confecção do material do inquérito, banco de dados e ELISA;

- Ao meu orientador, Prof. Carlos Roberto Franke pela orientação e confiança;

- As amigas: Tatiana Ceará, Laura C. Pinho de Oliveira, Maria José B. Sampaio, Liliana

Dantas Galvão e Fátima de Almeida Cruz pelos momentos de alegria e angústias

compartilhadas durante este período;

- Ao amigo Fred da Silva Julião pelos trabalhos fornecidos e pela grande ajuda em Jequié e na

apresentação da dissertação;

- A equipe do LIVE, especialmente Daniela Souza Freitas, Lídia Silva de Oliveira e Bárbara

M. P. dos S. Souza pela colaboração nos ensaios da defesa da dissertação;

- Aos amigos Antônio Lemos Maia e Aroldo C. Lima Filho pelas fotos tiradas em Jequié;

- A todos os docentes do curso de mestrado em Medicina Veterinária Tropical-UFBA, por

acreditarem no sucesso deste curso;

- A equipe do PIEJ em especial ao Sr. Antônio pela simplicidade e satisfação demonstrada

durante a realização dos trabalhos de campo;

- A Cyro Gomes Neto pela ajuda imprescindível na confecção da apresentação da dissertação;

- E aos colegas: Selma, Ricardo, Paula, Mônica, Mariana e Juliana pelos bons momentos e

ajuda durante todo o curso do mestrado;

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“Quem conhece a sua ignorância, revela a mais alta sapiência. Quem ignora

a sua ignorância, vive na mais profunda ilusão. Não sucumbe à ilusão, quem

conhece a ilusão como ilusão. O sábio conhece o seu não-saber, e essa

consciência do não-saber o preserva de toda a ilusão”.

LAO-TSE,/ TAO TE KING

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ÍNDICE

página

LISTA DAS TABELAS........................................................................................................ix

LISTA DAS FIGURAS..........................................................................................................x

LISTA DE ABREVIATURAS.............................................................................................xi

RESUMO.............................................................................................................................xii

SUMMARY..........................................................................................................................xiii

1 Introdução GERAL....................................................................................................1

1.1 Objetivos..........................................................................................................................3

2 REVISÃO DE LITERATURA...........................................................................................4

2.1 Taxonomia........................................................................................................................4

2.2 Morfologia e Ciclo Biológico...........................................................................................4

2.3 A Leishmaniose Visceral..................................................................................................5

2.4 O Vetor.............................................................................................................................6

2.5 Reservatórios....................................................................................................................8

2.6 Fatores de Risco Relacionado à Leishmaniose Visceral................................................11

2.7 Medidas de Prevenção e Controle da LV.......................................................................13

3. ARTIGO

CIENTÍFICO....................................................................................................15

4. CONSIDERAÇÕES GERAIS.........................................................................................36

5. ReferênciaS BibliográficaS.............................................................................37

AnexoS..............................................................................................................................

42

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LISTA DAS TABELAS

Página

TABELA 1 - Características selecionadas dos 532 cães e do seu habitat no estudo

de corte transversal em Jequié, Bahia, Brasil, 1997. .........................

21

TABELA 2 - Razão de Odds simples e ajustado para idade para infecção por

Leishmania em 532 cães de acordo com as características

selecionadas, Jequié, Bahia, Brasil, 1997...........................................

23

TABELA 3 - Análise multivariada para infecção por Leishmania em 532 cães

Jequié, Bahia, Brasil, 1997-2000. ......................................................

24

TABELA 4 - Características selecionadas dos cães no estudo de coorte entre

1997-2000, Jequié, Bahia, Brasil. ......................................................

25

TABELA 5 - Análise crua e ajustada para idade do risco relativo para infecção

por Leishmania em 245 cães, em Jequié, Bahia, Brasil, 1997-2000.

26

TABELA 6 - Análise multivariada dos fatores de risco para infecção por

Leishmania em 245 cães em Jequié, Bahia, Brasil, 1997-2000. .......

27

LISTA DAS FIGURAS

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Página

FIGURA 1 Proporção dos motivos pelos quais os cães foram perdidos durante o estudo de coorte, nos bairros de São Judas Tadeu / Mutirão - Jequié, 1997-2000.........................................................

19

FIGURA 2 Vista do bairro Mutirão/ São Judas Tadeu no município de Jequié, Bahia, 1997 a 2000. ..........................................................

43

FIGURA 3 Vista de um lote no bairro Mutirão/São Judas, Jequié, Bahia, 1997-2000. ....................................................................................

43

FIGURA 4 Suínos se alimentando na rua, no bairro Mutirão, Jequié, Bahia, 1997-2000. ....................................................................................

44

FIGURA 5 Caprinos pastando em terreno ainda não construído, no bairro São Judas Tadeu, Jequié, Bahia, 1997-2000. ...............................

44

FIGURA 6 Entrevista em um domicílio, do bairro Mutirão, Jequié, Bahia, 1997-2000. ....................................................................................

45

FIGURA 7 Coleta de sangue em animal da área endêmica de Mutirão, Jequié, Bahia,1997 a 2000. ...........................................................

46

FIGURA 8 Curral no quintal de uma casa na área endêmica de Mutirão, Jequié, Bahia, 1997/2000. ............................................................

46

FIGURA 9 Eqüinos criados no bairro São Judas Tadeu, Jequié, Bahia, 1997 a 2000. ..........................................................................................

47

FIGURA 10 Equipe de apoio no trabalho de campo durante o estudo em Jequié, Bahia, 1997 a 2000. ..........................................................

47

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LISTA DE ABREVIATURAS

LV - Leishmaniose Visceral

LVC – Leishmaniose Visceral Canina

LVH – Leishmaniose Visceral Humana

LF – Leishmaniose Felina

L. chagasi – Leishmania chagasi

L. donovani - Leishmania donovani

L. infantum – Leishmania infantum

L. brasiliensis – Leishmania brasiliensis

L. mexicana - Leishmania mexicana

L.(Lu.) longipalpis – Lutzomyia longipalpis

D. albiventris – Didelphis albivebtris

D. marsupialis – Didelphis marsupialis

% - porcento

χ2 - Qui-quadrado

OMS – Organização Mundial da Saúde

FNS – Fundação Nacional de Saúde

SFM – Sistema Fagocítico Mononuclear

LIT – “Liver Infusion Triptose”

NNN – “Neal, Novy & Nicole”

PCR – Reação em Cadeia da Polimerase

ELISA – Ensaio Imunoenzimático

IFI – Imunofluorêscencia Indireta

SRD - Sem Raça Definida

IgG – Imunoglobulina G

IC – Intervalo de Confiança

RR – Risco Relativo

OR – Razão de Odds (Odds Ratio)

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SOUZA, V. M. M. Avaliação dos Fatores de Risco para Infecção por Leishmania em

Cães na Área Urbana de Jequié, Bahia. Salvador, Bahia, 2003. 49p. Dissertação (Mestrado

em Medicina Veterinária Tropical) - Escola de Medicina Veterinária, Universidade Federal da

Bahia, 2003.

RESUMO

No Brasil a leishmaniose visceral constitui um sério problema de saúde pública que

atinge diversas cidades, possuindo o cão como principal reservatório doméstico da doença.

Inicialmente nós realizamos um estudo de corte transversal para caracterizar a ocorrência da

doença. Neste estudo 532 cães foram avaliados, revelando uma prevalência de infecção de

16%. Através da análise multivariada e do teste qui quadrado sugerimos que borrifação

periódica do domicílio protegeu contra a infecção (OR=0,5). Também observamos que nos

domicílios onde haviam tido casos de LVC, os cães possuíam uma chance maior em adquirir

a infecção (OR=2,0). Além disso, idade foi associada a um maior risco para a infecção. Após

o estudo transversal uma coorte de cães foi acompanhada durante 2,5 anos, determinando se o

risco variava com a idade, raça, sexo, e outras características ambientais. Neste estudo

entraram 447 cães, dos quais 245 tiveram seguimento, e o restante (202) foi perdido por

diversas causas. Os dados foram ajustados para idade e através de regressão de Cox. Na

coorte, a incidência de infecção foi de 11,8 casos/100 cães-ano (95% IC 8,6 a 15,6). Alguns

fatores foram associados a risco elevado de infecção como pêlo curto (RR=9,4), criadouro de

suínos (RR=4,1), galinhas (RR=3,3) e outros animais de produção (RR=2,6). Então,

sugerimos medidas de controle dirigidas a modificar fatores ambientais que favorecem o

contato entre vetores, reservatórios e humanos suscetíveis, além disso, ratificamos a

importância do programa de borrifação de inseticida em habitação humana, dentro e ao redor

de abrigos para animais.

Unitermos: cães, leishmaniose visceral canina, estudo de coorte, corte transversal, fatores de

risco, epidemiologia, prevenção & controle.

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SOUZA, V. M. M. Peridomestic risk factors for canine leishmaniasis in urban dwellings

in Jequié, Bahia. Salvador, Bahia, 2003. 49p: Dissertation (Master of Science in Tropical

Veterinary Medicine) - School of Veterinary Medicine, Federal University of Bahia, 2003.

SUMMARY

Visceral leishmaniasis is a serious public health problem in several Brazilian cities and

canines are considered a major reservoir of the infection. First, we realized a cross-

sectional study for obey an idea of the occurrence the disease in the study area. In this

study, 532 dogs were valued and revealed the prevalence of infection of 16%. The data

was analyzed thought multivariate and qui square test. Periodic borrifate seems protect

to infection (OR = 0.5). History of previous CVL in the household was more associated

with infection that homes than never had cases (OR=2.0). Moreover, age is also

associated with risk of infection. After the cross sectional study, we studied a cohort of

dogs and determined whether incidence varied with age, breed and other environmental

characteristics. The incidence rate was 11.8 cases/ dog-years (95% CI 8.6 to 15.6). Short

fur was the strongest predictor of CLI in this study (RR=9.4). In addition, our data

indicate that raising pigs (RR=4.1), chickens (RR=3.3), or other livestock (RR=2.6)

significantly increases the risk of CLI in urban dwellings. Therefore, suggesting control

measures direct to modifying the environment factors favoring contacts between

vectors, reservoirs and susceptible humans and ratify the importance of spraying

residual insecticide in human dwellings, in and around animal sheds.

Key words: canine, canine visceral leishmaniasis, cohort studies, cross-sectional, risk

factors, epidemiology, prevention & control

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1. INTRODUÇÃO GERAL A leishmaniose visceral humana (LVH) foi descrita pela primeira vez na Grécia em 1835,

quando então era denominada “Ponos” ou “Hapoplinakon”. Em 1869 na Índia recebeu o

nome de “Kala-jwar” ou “Kala-azar” que significa pele negra, devido ao discreto aumento da

pigmentação da pele, que ocorre durante a doença (MARZOCHI et al.1985). Em 1885,

também na Índia, Cunningham observou os parasitas que provocavam a doença em pacientes

infectados. Entretanto foi apenas em 1903 que o agente etiológico foi descrito quase

simultaneamente, por William Leishman e Charles Donovam. Em 1908, na Tunísia, Nicole &

Comte demonstraram pela primeira vez o parasita em cães, sugerindo seu potencial papel

como reservatório da doença. Na América do Sul o primeiro caso foi descrito no Paraguai em

1913 por Migone, em um paciente imigrante italiano que havia contraído a doença no Mato

Grosso, Brasil. No Brasil o primeiro relato do parasito, foi em 1934 quando Penna, um

patologista do Instituto Oswaldo Cruz, encontrou 41 lâminas com o parasito dentre as 47000

viscerotomias realizadas para febre amarela provenientes de vários estados brasileiros

(LAINSON & SHAW, 1971; NEVES et al.1997).

A leishmaniose visceral (LV) constitui-se em um grave problema de saúde pública, possuindo

uma vasta distribuição mundial, atingindo áreas da América, África, Sul da Europa e Ásia. Na

América do Sul, a doença encontra-se espalhada por vários países, sendo 90% dos casos

reportados no Brasil, onde se apresenta como uma importante causa de morbidade e

mortalidade. Por ano são notificados cerca de 2000 a 3000 casos, dos quais 87% são oriundos

do Nordeste, destacando-se os estados do Ceará, Bahia, Maranhão, Piauí, Rio Grande do

Norte e Pernambuco (TESH, 1995; NASCIMENTO et al.1996; MILES et al.1999).

No Brasil a LV é uma doença grave provocada pela Leishmania chagasi, cuja transmissão é

feita pela picada da fêmea do flebótomo Lutzomyia longipalpis, durante o repasto sanguíneo.

Em humanos, esta enfermidade acomete principalmente crianças e indivíduos

imunocomprometidos, podendo levá-los a óbito. Com base nas manifestações clínicas e na

evolução da doença a leishmaniose pode ser classificada das seguintes formas: inaparente,

leve, moderada e grave (MARZOCHI et al.1994). A doença caracteriza-se principalmente

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pela infecção do sistema fagocítico mononuclear (SFM), particularmente macrófagos. A

infecção é expressa por episódios febris, hepatoesplenomegalia severa, linfadenopatia, anemia

com leucopenia, edema e episódios hemorrágicos (NEVES et al.1997; CORREDOR et al.

1989).

Através do tempo, a epidemiologia do calazar americano vem se alterando. Inicialmente a

doença mantinha um perfil rural de transmissão peridomiciliar. Entretanto degradações

ambientais, migrações de populações carentes para a periferia dos grandes centros, fixando-se

em locais sem infra-estrutura e em contato direto com animais contribuíram para o processo

de urbanização da doença (TESH, 1995, PALATINIK DE SOUSA et al.2001, DESJEUX,

2002). Atualmente no Brasil, a LV vem apresentando um caráter endêmico-epidêmico.

Nessas áreas o cão doméstico é considerado o principal reservatório e o responsável pela

persistência da doença (ABRANCHES et al.1998). Entretanto, não se pode desprezar o ser

humano como fonte de infecção (DEANE, 1958), bem como outros possíveis reservatórios,

como marsupiais e roedores que vêm sendo incriminados (SILVEIRA et al.1982;

SHERLOCK et al.1984).

Apesar dos cães apresentarem todas as características de um bom reservatório, fatores

ecológicos e biológicos relacionados à leishmaniose visceral ainda não foram completamente

detalhados (DEANE, 1958; ABRANCHES et al.1991). Muitos fatores de risco têm sido

associados a leishmaniose visceral canina (LVC), como idade do cão, raça, sexo macho,

tamanho do pêlo, grau de confinamento, presença de outros animais, etc, porém ainda não

existe um consenso entre os autores em relação a estes fatores (DYE et al.1992; AMELA et

al.1995; ZAFFARONI et al. 1999; PALATINIK DE SOUSA et al.2001; FRANÇA-SILVA et

al.2003). Além disso, estudos sobre flebótomos referem que o cão não é a fonte favorita para

a sua alimentação. MORRISON et al.(1993) em um estudo realizado na Colômbia,

comprovou que vacas e porcos foram os animais preferidos pelo inseto para se alimentar.

A leishmaniose visceral canina é mais amplamente distribuída que a leishmaniose visceral

humana, e geralmente está associada à presença de casos humanos (PARANHOS-SILVA et

al.1996). Estudos realizados no Brasil referem uma prevalência de infecção em cães de 1 a

36%, podendo chegar até 67% em determinadas áreas (COUTINHO et al.1985;

PARANHOS-SILVA et al.1996; ASHFORD et al.1998; COURTENEY et al.2002;

FRANÇA-SILVA et al. 2003). Pelo fato do cão ser considerado o principal reservatório da

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doença, a LVC tornou-se um sério problema veterinário e de saúde pública, principalmente

porque os cães podem apresentar ou não sinais da doença. Em um estudo realizado por

FERRER et al.(1999) em uma área endêmica, a maioria dos cães que apresentaram presença

de anticorpos específicos ou resposta imune celular específica para LV, não possuía qualquer

sinal da enfermidade. Este fato dificulta o reconhecimento dos cães positivos, prejudicando as

medidas de controle da doença.

O diagnóstico da LVC não se baseia apenas na sintomatologia. Uma vez que não possui

nenhum sinal patognomônico, a LV pode ser confundida com diversas patologias, como

babesiose, erlichiose, escabiose entre outras. Evidências de ordem epidemiológica, como o

caso ser proveniente de zona endêmica, presença do vetor e de reservatórios, são importantes

para a confirmação do diagnóstico (MARZOCHI et al.1985). Entretanto, além desses dados, o

diagnóstico definitivo só é feito mediante a confirmação do parasito em esfregaço, cultura ou

inoculação, ou através de provas sorológicas ou moleculares (SHERLOCK, 1996; FERRER

et al.1999).

As principais medidas de prevenção e controle preconizadas pela Organização Mundial de

Saúde (OMS) são:diagnóstico precoce e tratamento das pessoas infectadas, eliminação dos

cães soropositivos e borrifação de inseticida residual nos domicílios e peridomicílios.

Entretanto, apesar do grande esforço na execução destas medidas, a Fundação Nacional de

Saúde (FNS), responsável pelo controle da doença aqui no Brasil, não vem obtendo sucesso.

Segundo COSTA & VIEIRA (2001), a medida de triagem e eliminação de cães domésticos é

a principal responsável pelo fracasso do programa, apresentando o menor suporte técnico-

científico entre as três estratégias adotadas. Em trabalhos realizados por DIETZE et al.(1997)

a incidência de casos em humanos e caninos não diminuiu após a eliminação dos cães

positivos da área estudada. Um dos motivos levantados pelo autor para tal acontecimento,

seria a existência de outros reservatórios ainda desconhecidos, além de outros fatores de risco

que poderiam estar envolvidos tanto na LVC quanto na LVH. COURTENAY et al. (2002)

também sugerem que uma das causas para o insucesso das medidas sanitárias adotadas é a

falta de um exame diagnóstico mais sensível e específico, capaz de indicar os animais no

estágio inicial da infecção.

1.1-OBJETIVOS

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Devido a inefetividade das medidas sanitárias adotadas no controle da LV, e baseado na

importância do cão como reservatório, este trabalho teve como objetivo determinar a

prevalência e a incidência da infecção canina em uma área endêmica de Jequié, bem como

analisar quais fatores de risco estão envolvidos na LVC, podendo assim sugerir medidas de

controle e prevenção da doença.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. TAXONOMIA

O gênero Leishmania agrupa espécies de protozoários unicelulares, assexuados, heteroxênos,

pertencentes à ordem Kinetoplastida e à família Trypanossomatidae, encontrados nas formas

flageladas promastigotas e paramastigotas, no trato digestivo dos hospedeiros invertebrados

ou em meios de cultura, e amastigota, sem flagelo livre, parasito intracelular obrigatório do

SFM dos hospedeiros vertebrados (NEVES et al.1997; REY, 2001).

2.2. MORFOLOGIA E CICLO BIOLÓGICO

As formas amastigotas apresentam-se tipicamente ovóides ou esféricas. Não há flagelo livre,

mas apenas um rudimento que está presente na bolsa flagelar, uma pequena invaginação da

superfície do parasito. Apresenta um núcleo esférico ou ovóide disposto em geral em um dos

lados da célula. As formas promastigotas são alongadas em cuja região anterior emerge um

flagelo livre. No citoplasma observa-se granulações azurófilas e pequenos vacúolos. O núcleo

assemelha-se ao existente na forma amastigota e situa-se na região central da célula. As

formas paramastigotas apresentam-se ovais ou arredondadas, com um pequeno flagelo livre,

encontradas aderidas ao epitélio do trato digestivo do vetor pelo flagelo através dos

hemidesmossomas (NEVES et al.1997; REY, 2001).

A infecção para o hospedeiro invertebrado ocorre quando da ingestão, no momento do

repasto sanguíneo em hospedeiro infectado, de células do SFM, macrófagos e leucócitos,

parasitados pelas formas amastigotas. Durante o trajeto pelo trato digestivo anterior, ou no

estômago, os macrófagos se rompem liberando as amastigotas. Essas sofrem divisão binária e

se transformam rapidamente em promastigotas, adaptando-se às novas condições fisiológicas

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existentes. Ao exercer novamente o repasto sanguíneo sobre um hospedeiro não infectado, o

homem ou outro reservatório, o vetor inocula as formas promastigotas presente no trato

digestivo anterior, probóscida, faringe e esôfago. No sítio da picada, as formas promastigotas

injetadas são fagocitadas por células do SFM, macrófagos teciduais e granulócitos neutrófilos.

No interior dos macrófagos, o parasito sofre a transformação para a forma amastigota,

intracelular obrigatória, capaz de desenvolver-se e multiplicar-se. A multiplicação por divisão

binária simples é iniciada pela duplicação do cinetoplasto no interior do vacúolo fagocitário

dos macrófagos. Após sucessivas multiplicações, na ausência do controle parasitário pela

célula hospedeira, esta se rompe e as amastigotas liberadas serão fagocitadas por outros

macrófagos (NEVES et al.1997; REY, 2001). A partir daí ocorre a visceralização das

amastigotas, principalmente nos órgãos linfóides, tais como medula óssea, baço, fígado e

linfonodos, embora macrófagos infectados ocasionais possam ser encontrados em todos os

tecidos, incluindo sangue, pele, pulmões, rins, testículos, meninges e outros (NEVES et

al.1997; FERRER et al.1999; REY, 2001).

2.3. A LEISHMANIOSE VISCERAL

Os parasitos responsáveis pela LV estão agrupados no complexo Donovani, onde são

reconhecidas três espécies como agente etiológico da doença: Leishmania donovani,

Leishmania infantum e Leishmania chagasi (NEVES et al.1997; REY, 2001). No entanto,

pesquisas baseadas em comparações moleculares indicam que a L. chagasi e a L. infantum são

indistinguíveis, sendo consideradas por alguns autores como uma só espécie (MILES et

al.1999).

A leishmnaniose visceral encontra-se distribuída mundialmente. Nos países do velho mundo;

Ásia, África, Europa, Índia e Oriente Médio ocorrem principalmente as espécies L. donovani

e L. infantum. Nas Américas a principal responsável pela doença é a L. chagasi (MUTINGA

et al.1989; NEVES et al.1997).

O primeiro sintoma da doença em humanos é uma febre baixa recorrente, que persiste durante

todo o curso da infecção. À medida que os órgãos são acometidos, ocorrem alterações de

ordem fisiológica e histopatológica que se agravam com a evolução da doença. Durante o seu

curso podem ser observados, perda de peso, palidez, diarréia, aumento de volume abdominal,

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hepatoesplenomegalia, edema, icterícia, infecções bacterianas secundárias e hemorragias. O

período de incubação da doença é bastante variável, entre dois a sete meses, porém já ouve

relatos de extremos de três semanas a dois anos (MARZOCHI et al.1994; NEVES et al.1997;

FERRER et al.1999). Nos cães os sinais clínicos são bastante semelhantes, podendo ocorrer

ainda lesões de pele, onicogrifose, lesões oculares e paresia dos membros (DEANE &

DEANE, 1955; FERRER et al.1999)

Devido à sintomatologia da LV ser bastante inespecífica, podendo ser confundida com outras

patologias, o diagnóstico da doença se faz, além dos aspectos epidemiológicos, a partir de

técnicas parasitológicas, sorológicas ou moleculares (FERRER et al.1999).

Através de esfregaços ou fragmentos coletados por punção ou biopsia de órgãos do SFM,

pode-se fazer a visualização de formas amastigotas coradas pelo Giemsa ou Leishman, ou

ainda a visualização de formas promastigotas cultivadas em meios enriquecidos apropriados

como liver infusion triptose (LIT), Neal, Novy & Nicolle (NNN), Schneider entre outros

(SHERLOCK, 1996; FERRER et al.1999). Além das técnicas parasitológicas, as provas

moleculares são bastante utilizadas. A partir do advento da reação em cadeia da polimerase

(PCR), a detecção e identificação do parasito em diversos tecidos, tornaram-se mais fácil,

sensível e eficaz (ASHFORD et al.1995; OSMAN et al.1997; FERRER et al.1999; REALE et

al.1999).

As provas sorológicas, principalmente a imunofluorêscencia indireta (IFI) e o ensaio imuno-

enzimatico (ELISA) também vêm sendo amplamente utilizadas, tanto para inquéritos

soroepidemiológicos quanto pelos órgãos oficiais de saúde. Estas provas baseiam-se na

detecção de anticorpos anti-Leishmania, principalmente IgG (MANCIANTI et al.1994;

RYAN et al.. 2002).

2.4. O VETOR

Como já foi descrito anteriormente, a Leishmania é transmitida através da picada da fêmea do

flebótomo (Família, Plebotomidae) infectada através do repasto sanguíneo (KILLICK-

KENDRICK & KILLICK-KENDRICK, 1999). No Brasil o principal vetor da L. chagasi é o

Lutzomyia longipalpis, popularmente conhecido como mosquito palha, asa branca ou

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cangalhinha (MORRISON et al.1993; LAINSON & SHAW,1971). Esta espécie tem a

capacidade de movimentar-se em ambientes peridomésticos, onde encontrando condições

climáticas favoráveis e abundância de alimento, sua densidade populacional torna-se bastante

aumentada (MORRISON et al.1993).

Segundo KILLICK-KENDRICK & KILLICK-KENDRICK (1999), comparados aos

mosquitos, pouco se conhece a respeito da biologia dos flebótomos. A maioria das

informações disponível é oriunda de observações laboratoriais e não de campo. Estudos feitos

na Colômbia por FERRO et al.(1997) referem que estágios imaturos do flebótomo se

desenvolvem em microhabitats terrestres, dentro ou próximos a cavernas, base de árvores,

folhas mortas e currais de animais. Estes locais também podem servir ou não de abrigo para

os flebótomos adultos.

A atividade dos flebótomos ocorre principalmente no crepúsculo ou ao anoitecer,

provavelmente devido à queda de temperatura e aumento da umidade (SHERLOCK, 1996).

Esta atividade atinge seu pico máximo entre as 21:00 e 23:00 horas. Após as 23:00 horas o

número de flebótomos diminui até desaparecer quase totalmente entre as 5:00 e 6:00 horas da

manhã. Durante o dia eles procuram locais frios e úmidos para descansarem, como paredes,

abrigos para animais, rochas, etc (SHERLOCK, 1996; KILLICK-KENDRICK & KILLICK-

KENDRICK, 1999).

Em relação aos hábitos alimentares, pouco é conhecido a respeito das preferências do L.

longipalpis. QUINNELL et al.(1992), em um estudo realizado na Amazônia, Brasil,

demonstrou que o flebótomo possui hábitos alimentares bastante variáveis, não demonstrando

uma preferência por um hospedeiro específico. A atratividade dos hospedeiros utilizados no

estudo (homem, cão e galinha) pareceu variar em função do tamanho. Entretanto

CHRISTENSEN & HERRER (1980) referem que o tamanho do animal não parece ser um

fator crítico para a seleção da fonte de alimento para o inseto, pois morcegos e roedores

usados no estudo, foram as espécies que mais atraiu os flebótomos. Semelhantemente

ZELEDÓN et al.(1984) em um estudo feito na Costa Rica relata que não houve uma

preferência dos flebótomo aos animais expostos. A quantidade de insetos capturados variou

de um mês para o outro e estava mais relacionada à presença de corrente de ar e a quietude do

animal no momento da captura. Já MORRISON et al.(1993) em um estudo realizado na

Colômbia, indicou que vacas e porcos foram os hospedeiros preferidos do L. longipalpis.

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Também AGUIAR et al.(1987) no Rio de Janeiro, relata que uma galinha atraiu dez vezes

mais flebótomos que um homem, ou um cão, ou um burro.

2.5. RESERVATÓRIOS

O papel do cão como principal reservatório doméstico da leishmaniose visceral é hoje fato

geralmente aceito. Este é considerado o principal reservatório da LV, pois apresenta entre

outras características, grande atratividade ao flebótomo, constituindo-se numa fonte de

infecção melhor que outros hospedeiros devido ao seu parasitismo viscero-cutâneo. Além

disso, estes animais estão geralmente em estreito contato com o ambiente humano, podendo

ser portadores assintomáticos da doença, capazes de transmitir a infecção (RACHAMIM et al.

1991; ABRANCHES et al. 1998). Em experimento realizado em Jacobina, Bahia, 78% dos

cães examinados infectaram 29% dos flebótomos utilizados para xenodiagnóstico

(SHERLOCK, 1996). No Ceará, DEANE (1958) refere que 75% dos cães estudados

infectaram os insetos. Além disso, observações de biópsia de pele resultaram no encontro de

Leishmanias em 77,6% dos cães examinados. Entretanto outros reservatórios também devem

ser considerados na epidemiologia do calazar (SHERLOCK et al.1984; DIETZE et al.1997).

Segundo SHERLOCK (1996) o papel do ser humano como reservatório parece ser

insignificante exceto quando ocorrem surtos epidêmicos da doença. Também para ASHFORD

et al. (1996) o homem não representa um reservatório significante para a doença, sendo

considerado um hospedeiro acidental. Entretanto segundo DEANE (1961) não se pode

desprezar o ser humano como fonte de infecção. Em estudos realizados no Ceará, 28,5% dos

pacientes humanos infectaram os flebótomos por xenodiagnóstico. Nas infecções de alguns

destes insetos, alimentados em pessoas, observou-se multiplicação intensa de leptomônas,

com bloqueio de faringe.

Em relação a outros reservatórios, ainda é bastante questionada a participação de alguns

animais no ciclo epidemiológico da doença. Marsupiais, principalmente sariguês (Didelphis

albiventris e Didelphis marsupialis) têm sido incriminados como reservatórios do parasito.

SHERLOCK et al.(1984), em experimento realizado em Jacobina, Bahia, encontraram de 57

espécimes examinados, um D. albiventris naturalmente infectado por L. donovani. Exames

diretos feitos no animal foram negativos, entretanto grande quantidade de amastigotas foi

encontrada em baço, pele e fígado de hamster necropsiado nove meses após a inoculação de

material. Também em Jacobina, SHERLOCK (1996) encontrou de 119 sariguês capturados,

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quatro infectado com três espécies de Leishmania: L. chagasi, L. amazonensis e L.

brasiliensis. Os dois animais infectados com L. chagasi não apresentavam ao exame

histopatológico lesões evolutivas típicas da doença, no entanto em duas casas próximas onde

um dos animais foi capturado, foram registrados casos humanos e caninos de leishmaniose

visceral. CABRERA et al. (2003) em Barra de Guaratiba, Rio de Janeiro, encontrou uma

prevalência de infecção de 29% nos sariguês capturados, porém, em nenhum deles foi

observado sinal clínico da doença, cultura ou esfregaço positivo. No entanto, formas

amastigotas foram encontradas no baço, fígado e medula óssea de hamster 90 dias após

inoculação. Semelhantemente, num estudo realizado na Colômbia por CORREDOR et al.

(1989), 32,4% dos D. marsupialis capturados encontravam-se infectados, apresentando após

inoculação em hamster, cultura e esfregaço densamente parasitado.

Segundo HUNSAKER et al. (1977), muitos aspectos relacionados aos marsupiais os tornam

um excelente reservatório doméstico para L. chagasi. Estes animais são abundantes,

extremamente adaptáveis e podem viver tanto em ambientes silvestres como domésticos,

sendo facilmente encontrados nos domicílios e peridomicílios. Eles são onívoros e parecem

não ser perturbados pela atividade humana. Além disso, em algumas áreas da América Latina,

o papel que estes animais desempenham no ciclo peridoméstico do Trypanosoma cruzi

(doença de chagas), já é bastante conhecido (CORREDOR et al.1989).

Em relação aos roedores, principalmente o Rattus rattus (rato preto), GRADONI et al. (1983)

sugere que apesar destes animais serem bastante resistentes ao parasito, eles possam ser

reservatórios da infecção. Num estudo realizado na Venezuela, DE LIMA et al.(2001)

sugerem que o rato preto é um potencial reservatório de L. brasiliensis e L. mexicana.

ALENCAR et al.. (1960), também identificou ratos naturalmente infectados provavelmente

com L. brasiliensis em uma zona endêmica para leishmaniose tegumentar no Ceará.

Quanto à raposa (Lycalopex vetulus), DEANE (1961) refere que individualmente uma raposa

parasitada é fonte de infecção tão importante quanto o cão. Tanto quanto nele, sua infecção

cutânea é freqüente e intensa. Num estudo realizado no nordeste do Ceará, dos quatro

exemplares parasitados, três apresentaram Leishmanias na pele, e em dois o parasitismo foi

mais intenso do que nos cães examinados. Além disso, uma única raposa conseguiu infectar

todos os dez Lu. Longipalpis utilizados para xenodiagnóstico (DEANE, 1961).

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O gato não é considerado um hospedeiro usual para infecção por Leishmania e apenas casos

esporádicos de leishmaniose felina (LF) são reportados, a maioria em países onde a doença é

endêmica (PENNISI, 2002). Em 1912 SERGENT et al.(1912) ao sacrificar um filhote de

quatro meses que convivia com uma criança acometida por LV, encontrou amastigotas na

medula óssea do animal. KIRKPATRICK et al. (1984) experimentalmente inoculou felinos

com L. chagasi e L. donovani, porém não encontrou nenhum sinal clínico característico da

doença ou qualquer presença do parasita nas vísceras dos animais após necropsia. Apenas os

animais desenvolveram um elevado título de anticorpos anti Leishmania spp. Por outro lado,

PENNISI (2002) na Sicília, relata quatro casos clínicos de LF, sugerindo que gatos que vivem

em áreas endêmicas são freqüentemente expostos ao contato com o parasito, podendo tornar-

se um possível reservatório da doença, já que a preferência alimentar dos flebótomos também

inclui gatos.

Já em relação aos demais possíveis reservatórios, como suínos, bovinos, eqüinos e caprinos,

há poucos relatos a respeito. Em estudos realizados na área endêmica de Jequié e Jacobina,

por CERQUEIRA et al. (2001), demonstraram que eqüídeos apresentaram alta prevalência de

soropositividade aos testes ELISA, TRALd e PCR, indicando a presença de anticorpos

específicos contra Leishmania e a existência de infecção nestes animais.

Estudos realizados em suínos por MORAES-SILVA et al. (2000) na região de Jequié-Bahia

demonstraram alta soroprevalência dos animais examinados. No entanto não houve êxito no

isolamento de leishmânias. BRAZIL et al. (1987) refere também a descoberta de numerosas

formas amastigotas intracelulares em um esfregaço de biópsia de lesão de pele de um porco,

no entanto eles não conseguiram isolar e identificar o microorganismo.

Em um estudo realizado no vilarejo de Naura-Kwar, Índia, constatou-se a ocorrência de caso

de leishmaniose tegumentar em bovinos, confirmado por pesquisadores da Escola de

Medicina Tropical de Calcutá. Este trabalho sugere ainda que o mais provável reservatório da

leishmaniose visceral na Índia é o boi, pois nenhum cão foi encontrado infectado na região

estudada. O estudo refere que o vetor Phlebótomos argentipes, alimenta-se tanto de bovinos

quanto de humanos, porém preferem os bovinos. Estes animais freqüentemente são picados

por flebótomos infectados com L. donovani, porém não há nada confirmado a respeito da

suscetibilidade deles a esta infecção (KILLICK-KENDRICK, 1990).

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MUTINGA et al. (1989) em estudos realizados em West Pokot, no Kenya, África,

demonstraram que caprinos também podem ser hospedeiros suscetíveis a Leishmania. Eles

conseguiram isolar por meio de amostras de sangue, punção de linfonodos, “imprints” de

lesões e inoculação em cobaios, formas amastigotas e promastigotas do parasito. Entretanto

eles não conseguiram identificar qual espécie de Leishmania provocou a doença: L. donovani,

L. major ou L. aethiopica, já que todas são endêmicas na área do estudo. Além disso, eles

sugerem que novos estudos sejam realizados a fim de confirmar se os caprinos são realmente

reservatórios da doença, quanto tempo o parasito permanece viável no organismo e se os

vetores são capazes de se infectarem e transmitir o parasito, já que neste estudo não foi

possível fazê-lo (MUTINGA et al.1989).

2.6. FATORES DE RISCO RELACIONADO À LEISHMANIOSE VISCERAL

Diversos fatores de risco têm sido associados à leishmaniose visceral tanto humana quanto

canina. Antigamente a LV era considerada uma doença tipicamente rural, entretanto o

fenômeno de urbanização modificou o perfil da doença, encontrando-se casos também em

zona urbana. Devido a fatores sócio-econômicos, demográficos, culturais, religiosos, políticos

e ambientais principalmente relacionados ao fenômeno da seca, pessoas abandonam suas

casas e migram para os grandes centros urbanos, instalando-se principalmente nas periferias

das cidades, trazendo consigo cães, muitas vezes infectados, entre outros animais de criação,

como galinhas e porcos, os quais propiciam um excelente habitat para o vetor da doença

(TESH, 1995; CALDAS et al. 2001; ALEXANDER et al. 2002; DESJEUX, 2002; FRANKE

et al. 2002).

A desnutrição é outro fator de risco relacionado à leishmaniose visceral. CERF et al. (1987)

sugerem em estudo realizado no interior da Bahia, que a má nutrição pode estar associada à

mortalidade e morbidade da doença. Analisando crianças com infecção clínica e subclínica, a

freqüência de subnutrição severa entre as crianças com leishmaniose clínica foi muito maior

do que entre aquelas com infecção subclínica (P<0,0001). Semelhantemente, CALDAS et

al.(2001), em um estudo realizado em São Luiz do Maranhão, sugere que entre os desnutridos

a taxa de infecção foi mais acentuada entre crianças com desnutrição crônica.

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Além da condição nutricional, a leishmaniose atinge em maior grau crianças com menos de

dez anos de idade, correspondendo a 80% dos casos detectados (MARZOCHI et al. 1994). No

entanto com o surgimento da AIDS, a leishmaniose se tornou uma das infecções oportunista

associada ao HIV (DESJEUX, 1999; LYONS et al. 2003). Segundo DESJEUX (1999) casos

de LV/HIV tem sido reportados em vinte e oito países, principalmente na Espanha, Itália,

França e Portugal. Nestes países 25% a 70% dos casos de LVH em adulto estão associados à

infecção por HIV.

Em relação aos cães, apesar destes apresentarem todas as características de um bom

reservatório, diversos fatores de risco relacionados a ele ainda não foram completamente

detalhados, não existindo um consenso entre os autores (DEANE, 1958; ABRANCHES et

al.1991; DYE et al.1992; AMELA, et al.1995; ZAFARONE et al.1999).

Quanto à idade, a literatura relata que a LVC ocorre principalmente entre cães adultos e

velhos, principalmente após os três anos de vida (FISA et al.1999; ABRANCHES et al.1991;

FRANÇA-SILVA et al.2003). O aumento de casos nesta fase pode ser devido a fatores

imunes ou relacionados aos hábitos dos animais. Além disso, estes cães possuem um maior

tempo de exposição ao flebótomo, podendo assim se infectar com mais facilidade.

Alguns autores referem que não há uma predisposição da infecção em função do sexo dos

cães (ABRANCHES et al.1991; SIDERIS et al.1996; FRANÇA-SILVA et al.2003).

Entretanto em um estudo feito na Ligúria, Itália, relata que os cães machos foram mais

suscetíveis à infecção que as fêmeas (ZAFFARONI et al.1999).

Segundo alguns autores determinadas raças possuem maior predisposição à infecção que

outras. ABRANCHES et al.(1991), referem que cães das raças Doberman (35.3%) e Pastor

Alemão (16.3%) apresentaram-se mais infectados que outras raças. Semelhantemente na

França, RANQUE et al. (1997) demonstraram que cães das raças Boxer e Pastor Alemão

foram os mais afetados. Em Minas Gerais, FRANÇA-SILVA et al. (2003) relatam que Pastor

Alemão foi a raça mais afetada. Entretanto, acredita-se que esta predisposição está mais

relacionada com as atividades dos animais e com o comprimento do pêlo, do que

propriamente com a raça. (SIDERIS et al. 1996; MORENO e ALVAR, 2002).

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Em um estudo realizado por ZAFFARONI et al. (1999) na Itália, o modo de vida dos cães foi

o fator de risco mais associado com a infecção. Cães que passavam a noite “fora de casa”

demonstraram maior soroconversão do que cães que “dormiam” dentro de casa, pois

possivelmente estavam mais expostos ao inseto vetor. Segundo DYE et al. (1992), cães de

trabalho, que permanecem maior tempo fora de casa possuem risco três vezes maior de

adquirir a infecção que cães de companhia. Também em um estudo realizado em Lisboa,

sugere que 7,7% e 8,6% dos cães infectados eram para guarda ou para caça respectivamente,

sendo 2,5% dos cães infectados de companhia, vivendo restritos à casa (ABRANCHES et al.

1991).

Outro possível fator de risco para LVC é o tamanho do pêlo. FRANÇA-SILVA et al. (2003)

em um estudo realizado em Minas Gerais, refere que cães de pêlo curto possuíam uma

prevalência menor de infecção que cães de pêlo longo (11,9% vs. 8,9% respectivamente).

Corroborando com estes achados, MORILLAS et al. (1996) relatam que em Axárquia,

província de Málaga, a soroprevalência de LV em cães de pêlo longo (20,9%) foi menor do

que em cães de pêlo curto (37,6%). Estes autores sugerem que possivelmente o flebótomo

encontre maior dificuldade em pousar e picar os animais peludos do que os de pêlo curto.

2.7. MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE DA LV

As principais medidas de controle e prevenção da LV preconizadas pela OMS são tratamento

dos casos humanos, triagem e eliminação dos cães soropositivos e borrifação de inseticida

residual nos domicílios e peridomicílios. Entretanto apesar do grande esforço na execução

destas medidas, o controle da doença não vem obtendo sucesso (COSTA & VIEIRA, 2001).

No Brasil, o custo destas atividades no período de 1984-1996 excedeu 96 milhões de dólares.

Em sete anos aproximadamente um milhão de casas foram borrifadas, 6,5 milhões de

amostras de sangue de cães foram colhidas para sorologia e 153.819 cães soropositivos foram

eliminados (AKHAVAN, 1996, VIEIRA & COELHO, 1998).

COSTA & VIEIRA (2001), referem que o programa de triagem e eliminação de cães é o

principal responsável pelo insucesso do programa, apresentando o menor suporte técnico-

científico entre as três estratégias utilizadas. Corroborando com esta opinião, DYE (1996)

sugere que a eliminação dos cães infectados é a pior opção entre as medidas de controle da

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LV pois ao eliminar o cão infectado, rapidamente este será substituído por um novo “filhote”,

que estará suscetível ao parasito, adquirindo a infecção. Também ALENCAR (1962),

comparando duas áreas controles, refere que encontrou uma redução muito mais acentuada

(58%) nos casos de infecção por Leishmania na área onde só foi usada borrifação sistemática,

do que na área onde foi realizada apenas a eliminação dos cães soropositivos (12%). DIETZE

et al.(1997) também relatam que em um estudo realizado no Espírito Santo, Brasil, a triagem

e eliminação dos cães não reduziu significativamente a incidência da infecção tanto para

humanos quanto para caninos.

Devido ao insucesso demonstrado desta técnica, DIETZE et al. (1997) sugerem que outros

reservatórios, como marsupiais, raposas e inclusive o homem possam estar envolvidos na

manutenção da LV. Além disso, COURTENAY et al. (2002) referem que a efetividade da

triagem e eliminação de cães depende de um diagnóstico acurado, capaz de detectar qualquer

animal infectado, principalmente aqueles no período latente da infecção e de um intervalo de

tempo menor entre o diagnóstico, captura e eliminação do animal.

A fim de resolver o problema da LV, novas medidas de controle, principalmente em relação

ao cão vêm sendo pesquisadas. Em 1997, KILLICK-KENDRICK et al. na França relataram a

existência de uma coleira impregnada com inseticida piretróide, que conseguiu proteger os

cães contra 96% das picadas do Phlebotomus pernicious por um período de até oito meses.

Esta mesma coleira foi utilizada por pesquisadores no Ceará, Brasil, obtendo resultados

bastante satisfatórios, tanto ao repelir o inseto quanto ao matá-lo (DAVID et al. 2001). Deste

modo, a utilização destas coleiras seria uma maneira mais efetiva e simples de controlar a LV

além de ser mais bem aceita pelos donos de cães em áreas endêmicas.

Outra alternativa seria o tratamento dos cães doentes, fato que já vem ocorrendo em alguns

países da Europa. Entretanto é sabido que nos cães a terapia é menos eficaz que no homem,

podendo o mesmo continuar como portador da infecção sendo capaz de infectar o vetor

(FERRER, 1999).

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3. ARTIGO CIENTÍFICO

AVALIAÇÃO DOS FATORES DE RISCO PARA INFECÇÃO POR LEISHMANIA

EM CÃES NA ÁREA URBANA DE JEQUIÉ, BAHIA.

Peridomestic risk factors for canine leishmaniasis in urban dwellings in Jequié, Bahia.

SOUZA VMM; FRANKE CR.

Departamento de Produção Animal da EMEV-UFBA. Laboratório de Infectologia Veterinária

– LIVE.< [email protected]>

RESUMO

No Brasil a leishmaniose visceral constitui um sério problema de saúde pública que atinge

diversas cidades, possuindo o cão como principal reservatório doméstico da doença.

Inicialmente nós realizamos um estudo de corte transversal para caracterizar a ocorrência da

doença. Neste estudo 532 cães foram avaliados, revelando uma prevalência de infecção de

16%. Através das análises multivariadas e do teste qui quadrado sugerimos que borrifação

periódica do domicílio protegeu contra a infecção (OR=0,5). Também observamos que nos

domicílios onde haviam tido casos de LVC, os cães possuíam uma chance maior em adquirir

a infecção (OR=2,0). Além disso, idade foi associada a um maior risco para a infecção. Após

o estudo transversal uma coorte de cães foi acompanhada durante 2,5 anos, determinando se o

risco variava com a idade, raça, sexo, e outras características ambientais. Neste estudo

entraram 447 cães, dos quais 245 tiveram seguimento, e o restante (202) foi perdido por

diversas causas. Os dados foram ajustados para idade e através de regressão de Cox. Na

coorte, a incidência de infecção foi de 11,8 casos/100 cães-ano (95% IC 8,6 a 15,6). Alguns

fatores foram associados a risco elevado de infecção como pêlo curto (RR=9,4), criadouro de

suínos (RR=4,1), galinhas (RR=3,3) e outros animais de produção (RR=2,6). Então,

sugerimos medidas de controle dirigidas a modificar fatores ambientais que favorecem o

contato entre vetores, reservatórios e humanos suscetíveis, além disso, ratificamos a

importância do programa de borrifação de inseticida em habitação humana, dentro e ao redor

de abrigos para animais.

Palavras-chave: canino, leishmaniose visceral, estudo de coorte, corte transversal, fatores de

risco, epidemiologia, prevenção & controle.

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SUMMARY

Visceral leishmaniasis is a serious public health problem in several Brazilian cities and

canines are considered a major reservoir of the infection. First, we realized a cross-sectional

study for obey an estimative of the occurrence the disease in the study area. In this study, 532

dogs were valued and revealed the prevalence of infection of 16%. The data was analyzed

thought multivariate and qui square test. Periodic borrifate seems protect to infection

(OR=0,5; 95%IC:0,3-0,9). History of previous CVL in the household was more associated

with infection than homes that never had cases (OR=2,0; 95%IC: 1,0-4,1). Moreover, age is

also associated with risk of infection. After the cross sectional study, we studied a cohort of

dogs and determined whether incidence varied with age, breed and environmental

characteristics. The incidence rate was 11.8 cases/ dog-years (95% CI 8.6 to 15.6). Short fur

was the strongest predictor of CLI in this study (RR=9,4; 95%IC: 4,3-20,7). In addition, our

data indicate that raising pigs (RR= 4,1; 95%IC:1,2-13,8), chickens (RR=3,3;95%IC:1,4-7,7),

or other livestock (RR=2,6;95%IC:1,1-6,6) significantly increases the risk of CLI in urban

dwellings. Therefore, suggesting control measures direct to modifying the environment

factors favoring contacts between vectors, reservoirs and susceptible humans and ratify the

importance of spraying residual insecticide in human dwellings, in and around animal sheds.

Key words: canine, visceral leishmaniasis, cohort studies, cross-sectional, risk factors,

epidemiology, prevention & control

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INTRODUÇÃO

Na América Latina a leishmaniose visceral canina (LVC) é causada principalmente pela

Leishmania chagasi e transmitida através da picada da fêmea do flebótomo Lutzomyia

longipalpis (MILES et al.1999). Em muitas cidades brasileiras a leishmaniose visceral (LV)

tem sido um sério problema de saúde pública e em locais onde a doença é endêmica, o cão é

considerado o principal reservatório doméstico da doença, sendo o responsável pela

manutenção da infecção para homens e outros cães (MILES et al.1999; MORENO e ALVAR

2002). No Brasil a prevalência da infecção por Leishmania em cães varia de 1 a 36%, e cerca

de 90% dos casos são descritos na região Nordeste (COUTINHO et al.1985; PARANHOS-

SILVA et al.1996; ASHFORD et al.. 1998). Em um estudo realizado em Jequié, Bahia,

PARANHOS-SILVA et al.(1998) relatou que a incidência de LVC foi de 6.5/100 cães-ano,

embora esta incidência tenha variado bastante entre os bairros da cidade.

Apesar dos cães apresentarem todas as características de um bom reservatório, fatores

biológicos e ecológicos da LV não têm sido necessariamente detalhados. Diversos fatores de

risco para a ocorrência da infecção em cães têm sido relatados, incluindo idade, sexo, raça,

tamanho do pêlo, convivência com outros animais de criação, porém estes dados não

apresentam um consenso entre os autores (DYE et al.. 1992; AMELA et al.1995;

ZAFFARONI et al.1999; FRANÇA-SILVA et al.2003). Fatores ambientais como

proximidade com galinheiros, por exemplo, tem sido apresentado como um possível fator de

risco para a leishmaniose visceral humana e canina. Entretanto, o papel da galinha na

transmissão da L. chagasi ainda não foi completamente esclarecido (ALEXANDER et

al.2002). Outros animais também têm sido incriminados como possíveis reservatórios ou

mesmo como uma fonte de alimento para o Lu. longipalpis (BRAZIL et al.1987; MUTINGA

et al.1989; TRAVI et al.1998). Em um estudo realizado na Colômbia, vacas e porcos foram

os hospedeiros preferidos pelo flebótomo para se alimentar (MORRISON et al.1993).

Muitos estudos foram publicados sobre fatores de risco para infecção por Leishmania em cães

que vivem em áreas endêmicas para LVC. Entretanto a maioria destes referem-se a dados de

prevalência (DYE et al.1992; AMELA et al.1995; FRANÇA-SILVA et al.2003). Embora

estes dados sejam úteis para avaliar a distribuição da infecção em uma população, estimativas

de prevalência não devem ser usadas para calcular o risco de infecção. Para determinar risco é

necessário obter taxas de incidência, as quais inclui apenas novos casos num determinado

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período de tempo. A identificação de verdadeiros determinantes da infecção por Leishmania

em cães é crucial para o planejamento de medidas adequadas de combate à doença na

população canina e humana, as quais conduzirá a um melhor programa de prevenção e

controle. Neste estudo, nós estimamos a prevalência e a incidência da infecção em um estudo

de corte transversal e numa coorte de cães respectivamente e determinamos se o risco para

infecção variou com a idade, gênero, raça, e outras características ambientais.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

A cidade de Jequié é considerada uma área endêmica para LVC, com uma prevalência em

torno de 23.5% (PARANHOS-SILVA et al.1996). O município está localizado a 367 km de

Salvador, no sudoeste da Bahia, situado a 13º52´S e 40º4´W, distante 112 km do Oceano

Atlântico e 216 m acima do nível do mar. Com uma área de 3.113 km2, sua população em

2000 foi 147.202 habitantes, 88,5% vivendo em área urbana, e 11,5% na zona rural. É uma

região de clima semi-árido, com uma temperatura anual média de 24ºC e índice pluviométrico

de 500 mm por ano. A vegetação consiste predominantemente de arbustos, cactos e

gramíneas, porém algumas áreas rurais do município estão cobertas por floresta tropical ou

bosque secundário. Para executar o estudo nós selecionamos dois bairros na periferia da

cidade (Mutirão / São Judas Tadeu) com 376 casas e 1.873 habitantes. Estes bairros são

relativamente novos, fundados entre os anos de 1989 e 1991. A maioria da população é de

baixa renda, e as ruas não possuem calçamento. Estes bairros foram escolhidos devido a

prevalência de infecção por Leishmania em cães ser maior que em outros bairros da cidade

(PARANHOS-SILVA et al.1996), e por ter limites facilmente demarcados.

Desenho de estudo

Em dezembro de 1997 foi realizado um estudo preliminar de corte transversal na área a fim de

avaliar todos os cães com idade igual ou superior a seis meses. Nesta primeira fase, os

animais soropositivos foram eliminados, segundo diretrizes da Fundação Nacional de Saúde,

e os cães soronegativos restantes foram incluídos em nossa coorte e acompanhados. O estudo

de coorte foi realizado de dezembro de 1997 a julho de 2000 durante o qual foram executados

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quatro inquéritos soroepidemiológicos a intervalos de aproximadamente oito meses. Como se

tratava de uma coorte dinâmica, a cada inquérito cães novos que tinham imigrado à área de

estudo, e/ou nascidos durante este intervalo de tempo e atingindo idade acima de seis meses,

foram testados para infecção por Leishmania, e se soronegativos, incluídos na coorte. Caso

contrário estes animais e aqueles da coorte que soroconverteram, eram sacrificados. Ao todo,

532 cães foram avaliados durante o estudo transversal e 447 cães entraram na coorte, sendo

que na análise final do estudo prospectivo, apenas 245 (54,8%) foram incluídos. A taxa média

de perda durante o seguimento foi de 35,8%, com uma perda global de 202 (45,2%) animais.

Dos 202 animais perdidos, 129 (63,9%) se mudaram da área, 35 (17,3%) morreram, 1 (0,5%)

seu dono não deu o consentimento para participar do estudo, e 37 (18,3%) não tiveram

nenhuma informação disponível sobre o que poderia ter-lhes acontecido (Figura 1).

Dados e coleta de sangue

Os dados foram colhidos através de questionários padronizados, administrados por

entrevistadores treinados e certificados. Informações sobre idade, sexo, raça, e outras

características tanto do animal quanto do ambiente foram obtidas em todas as residências do

bairro. As raças foram identificadas de acordo com o Kennel Club que reconhece 147 raças de

cães. Em relação à pelagem, os animais foram arbitrariamente definidos como pêlo curto se o

comprimento do pêlo fosse menor que 3.0 cm, e pêlo longo caso contrário. Também foi

63,9

17,3 18,30,5

010203040506070

%

Mudança Morte S/ inf. Recusa

Motivo das perdas

Figura 1:Proporção dos motivos pelos quais os cães foram perdidos durante o estudo de coorte, nos bairros de São

Judas Tadeu / Mutirão - Jequié, 1997-2000.

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avaliada a presença de criadouros de galinhas, porcos e/ou outros animais (bovinos, suínos,

caprinos, eqüinos, ou asininos) na área de habitação (ou peridomicílio). Todos os dados

obtidos foram atualizados a cada avaliação e amostras de sangue foram coletadas através de

venopunção de todos os animais a cada inquérito.

Sorologia

Para determinar a presença de anticorpos anti-Leishmania usamos o ensaio imunoenzimático

(ELISA) conforme descrito por PARANHOS-SILVA et al.(1996). Resumidamente, as placas

foram sensibilizadas com extrato solúvel de promastigotas de Leishmania sp. obtidas de um

paciente humano e os soros dos cães diluídos 1:400. Foi utilizado immunoglobulina anti IgG

de cão conjugada a peroxidase a uma diluição de 1:5000 (Sigma Cia. Chemical, St., Louis

Mo.). Foram incluídos soros de controle positivo (confirmados através de cultura) e negativo

(cães com “cut of” abaixo do estipulado e clinicamente saudáveis) de cães da área de estudo

em todo ensaio. Foram considerados positivos os cães com valores maiores que a média mais

três desvios padrões obtidos de 102 cães saudáveis. Todos o soros foram testados em

duplicata e os resultados positivos eram re-testados pelo menos uma vez.

Análise estatística

No estudo de corte transversal foi calculada a prevalência da infecção, definida como animais

soropositivos divididos pelo número total de animais avaliados, bem como medidas de

associação relativa através da razão de Odds (OR). Para tanto foram utilizadas análises

multivariadas, comparações de proporções através do Qui quadrado (χ2) e análises ajustadas

para idade. No estudo de coorte, a densidade de incidência para a infecção por Leishmania foi

calculada como o número de infecções novas (definido como soroconversão a cada

seguimento) dividida pelo número total de cães-ano de seguimento (que foi definido como o

somatório do tempo de segmento de cada cão com risco de infecção). Foram calculados

intervalos de confiança (IC) 95%, estimativas de risco relativo de infecção ajustada para idade

por categorias das variáveis estudadas e análise multivariada utilizando-se regressão de Cox

(COX, 1972) a qual eliminou passo a passo as variáveis não significativas até chegar a

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determinação do modelo final. O valor de p foi estipulado em menor ou igual a 0,05 para os

resultados serem estatisticamente significativos.

RESULTADOS

No estudo de corte transversal, foram estudados 532 cães, 54% (285) machos e 46% (247)

fêmeas. A média de idade da população foi de 1,9 anos, variando de seis meses a 14 anos. A

maioria dos animais era sem raça definida (80,8%) e de pêlo curto (85,7%). Cinqüenta e

quatro (10,2%) cães viviam em casas onde já houvera caso de LVC e 87,3% (460) das casas

eram borrifadas com inseticida periodicamente. Além dos cães, outros animais eram criados

nos domicílios e peridomicílios, como descrito na tabela 1.

Tabela 1: Características selecionadas dos 532 cães e do seu habitat no estudo de corte transversal, em Jequié, Bahia, Brasil, 1997. Características N (%) Idade (Anos)

0 136 (25,7%) 1 129 (24,4%) 2 94 (17,8%) 3 78 (14,7%) 4 35 (6,6%) 5 24 (4,5%) >6 36 (6,8%)

Sexo

Machos 285 (54,0%) Fêmeas 247 (46,0%)

Raça Mestiços 427 (80,8%) Pura 105 (19,2%)

Comprimento do Pêlo Curto 453 (85,7%) Longo 79 (14,3%)

História prévia de LVC no domicílio

Sim 54 (10,2%) Não 478 (89,8%)

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Características N (%) Borrifação periódica do domicílio

Sim 460 (87,3%) Não 72 (12,7%) Presença de criadouros de

Galinhas Sim 164 (30,8%) Não 368 (69,2%)

Suínos

Sim 41 (7,7%) Não 491 (92,3%)

Durante o estudo inicial todos os 532 cães foram examinados para presença de anticorpos anti

Leishmania sp. através do teste ELISA, destes 85 (16%) tiveram sorologia positiva. Foram

realizados três análises com os dados. Na análise crua, o Odds aumentou de 2,3; 5,7; 5,5 e 7,3

para animais com um, dois, três e quatro anos respectivamente em comparação aos animais

com menos de um ano, sendo estes dados estatisticamente significativos (Tabela 2). Ainda

nesta análise, não houve diferença significativa na associação entre a soropositividade de

machos e fêmeas (OR=1,3; IC 95% 0,8-2,1; p=0,27), entre cães de raça pura e sem raça

definida (OR=0,7; IC 95% 0,4-1,5; p=0,35), entre cães de pêlo curto e longo (OR=1,8; IC

95% 0,8-3,9; p=0,13) e entre os cães que moravam em casas onde galinhas (OR=0,9; IC 95%

0,5-1,6; p=0,76) e porcos (OR=1,3; IC 95% 0,5-3,1; p=0,52) eram criados no domicílio ou

peridomicílio. Já em relação à história prévia de LV, cães que moravam em casas onde já

houvera caso possuíam uma prevalência de soropositividade duas vezes maior do que aqueles

que não tinham histórico de LVC no domicílio (OR=2,0; 95% IC 1,0-4,0 p =0,04). Além

disso, cães que moravam em casas que foram periodicamente borrifadas com inseticida

apresentaram-se protegidos em relação a LVC (OR=0,5; IC 95% 0,3-0,9; p= 0,02) (Tabela2).

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Tabela 2: Razão de Odds simples e ajustado para idade para infecção por Leishmania em 532 cães de acordo com as características selecionadas, Jequié, Bahia, Brasil, 1997. Características Odds Ratio não ajustado

(95% IC) Odds Ratio ajustado para idade (95% IC)

Idade (Anos) 0 1 (referência) 1 2,3 (0,8-6,4) 2 5,7 (2,2-15,4) * 3 5,5 (2,0-15,3) * 4 7,3 (2,3-23,9) * >5 5,1 (1,8-15,1) ¥

Sexo Fêmeas 1 (referência) 1 (referência) Machos 1,3 (0,8-2,1) 1,2 (0,8-2,0)

Raça

Mestiços 1 (referência) 1 (referência) Pura 0,7 (0,4-1,5) 0,7 (0,4-1,3)

Comprimento do Pêlo

Longo 1 (referência) 1 (referência) Curto 1,8 (0,8-3,9) 2,2 (1,0 – 4,9) Ŧ

História prévia de LVC no domicílio

Não 1 (referência) 1 (referência) Sim 2,0 (1,0-4,1) Ŧ 1,8 (0,9-3,5) Borrif. periódica do domicílio Não 1 (referência) 1 (referência) Sim 0,5 (0,3-0,9) ŧ 0,5 (0,3-0,9) ‡ Presença de criadouros de

Galinhas Não 1 (referência) 1 (referência) Sim 0,9 (0,5-1,6) 0,8 (0,5-1,4)

Suínos

Não 1 (referência) 1 (referência) Sim 1,3 (0,5-3,1) 1,2 (0,5-2,7)

¥p=10-3

*p=10-4

ŧp=0.02 ‡p=0.03 Ŧp=0.04

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Além da análise crua, nós também examinamos as variáveis ajustadas para idade. Desta

forma, cães de pêlo curto apresentaram uma prevalência de infecção maior do que os cães de

pêlo longo (OR=2,2; IC 95% 1,0-4,9; p=0,04). Borrifação periódica do domicílio permaneceu

protetora para infecção (Tabela 2).

No modelo final da análise multivariada, idade foi o fator de risco mais fortemente

significativo associado à infecção, juntamente à borrifação periódica do domicílio, que

permaneceu protetora conforme descrito na tabela 3.

Tabela 3: Análise multivariada para infecção por Leishmania em 532 cães Jequié, Bahia, Brasil, 1997-2000. Características Odds Ratio (95% IC) Idade (anos) 1,3 (1,1-1,4) ¥ Sexo

Fêmeas 1 (referência) Machos 1,2(0,7-2,0)

Comprimento do Pêlo

Longo 1 (referência) Curto 2,0(0,9-4,5)

História Prévia de LVC no domicílio

Não 1 (referência) Sim 1,9(1,0-3,9) Borrifação periódica do domicílio

Não 1 (referência) Sim 0,5(0,3-0,9) ŧ ¥p=10-3

ŧp=0.02

No estudo prospectivo, a coorte foi formada principalmente por cães sem raça definida

(SRD), jovens e de pêlo curto. A média de idade dos 447 animais que entraram no estudo foi

de 1,7 anos, variando entre 0,5 a 14 anos. As características selecionadas na coorte inteira, na

amostra analisada, e no grupo perdido são mostradas na Tabela 4. Isto permitiu a comparação

das variáveis na coorte, e a avaliação de como a perda dos cães poderia ter afetado a amostra

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que permaneceu no estudo. Os cães da amostra analisada foram semelhantes aos que tiveram

perda de seguimento com respeito à distribuição de idade, gênero, raça, e presença de animais

de criação no quintal. Porém, entre os animais sem acompanhamento tinham mais cães com

pêlo longo e que viviam confinados ao quintal (Tabela 4).

Tabela 4: Características selecionadas dos cães do estudo de coorte entre 1997-2000, Jequié, Bahia, Brasil. Características Coorte

(n=447) Amostra analisada (n=245)

Perda Total (n=202)

Idade (anos) <1 256 (57,3%) 127 (51,9%) 129 (63,9%) 2 85 (19,0%) 55 (22,4%) 30 (14,8%) 3 54 (12,1%) 35 (14,3%) 19 (9,4%) >4 52 (11,6%) 28 (11,4%) 24 (11,9%)

Gênero

Machos 237 (52,8%) 135 (55,1%) 102 (50,5%) Feminino 210 (47,2%) 110 (44,9%) 100 (49,5%)

Raça Mestiço 404 (90,4%) 225 (91,9%) 179 (88,6%) Puro 43 (9,7%) 20 (8,2%) 23 (11,4%)

Comprimento do pêlo Longo 41 (9,2%) 14 (5,7%) 27 (13,4%) Curto 406 (90,8%) 231 (94,3%) 175 (86,6%)

Grau de confinamento Limitado ao quintal 178 (39,8%) 78 (31,8%) 100 (49,5%) Livre 269 (60,2%) 167 (68,2%) 102 (50,5%)

Presença de criadouros de Galinhas 98 (21,9%) 46 (18,8%) 52 (25,7%) Suínos 13 (2,9%) 6 (2,4%) 7 (3,5%)

Outros 17 (3,8%) 8 (3,3%) 9 (4,5%)

A média de idade da amostra foi de 1,5 anos (variando de 0,6 a 2,6). Foram identificados 42

casos de infecção por Leishmania em 357,5 cães-ano de seguimento o que gerou uma taxa de

densidade de incidência de 11,8 casos por 100/ cão-ano (95% IC 8,6 a 15,6). Na análise não

ajustada, o risco de infecção aumentou depois do primeiro ano de vida do animal, porém

permaneceu estável depois disso (Tabela 5). A incidência de infecção foi mais alta em cães

com pêlo curto (RR=4,7; 95% IC 2,4 a 9,0), e entre aqueles que moravam em casa com

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chiqueiro no quintal (RR=3,3; 95% IC 1,1 a 10,2). Gênero, raça, grau de confinamento e

presença de criadouros de galinhas não foram fatores significantes de infecção (Tabela 5).

Tabela 5: Análise crua e ajustada para idade do risco relativo para infecção por Leishmania em 245 cães, em Jequié, Bahia, Brasil, 1997-2000. Características Risco relativo não

ajustado (95%IC) Risco relativo ajustado para idade (95%IC)

Idade (anos) <1 1 (referência) 2 1,6 (0,8-3,4) 3 1,8 (0,8-4,3) >4 1,4 (0,5-3,6)

Gênero Fêmeas 1 (referência) 1 (referência) Machos 1,2 (0,7-2,2) 1,1 (0,6-2,1)

Raça Mestiço 1 (referência) 1 (referência) Puro 1,5 (0,5-4,6) 1,5 (0,5-4,9)

Comprimento do pêlo Longo 1 (referência) 1 (referência) Curto 4,7 (2,4-9,0)* 6,4 (3,2-12,8)*

Grau de confinamento Limitado ao jardim 1 (referência) 1 (referência) Livre 0,7 (0,4-1,3) 1,6 (0,8-3,0)

Presença de criadouros de Galinhas Não 1 (referência) 1 (referência) Sim 1,5 (0,7-3,1) 1,6 (0,7-3,6)

Suínos

Não 1 (referência) 1 (referência) Sim 3,3 (1,1-10,2) ¥ 4,4 (1,3-14,8) ŧ Outros Não 1 (referência) 1 (referência) Sim 1,9 (0,8-4,3) 1,9 (0,8-4,6)

* P<10-3 ¥P=0.03 ŧP=0.01

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Além da análise crua, nós também examinamos as associações das variáveis ajustadas para

idade. O risco relativo de infecção para cães com pêlo curto comparado com os de pêlo longo

foi ainda mais alto que na análise crua (RR=6,4; 95% IC 3,2 a 12,8). O mesmo foi verdade

para os cães que moravam em casa com porcos no quintal (RR=4,4; 95% IC 1,3 a 14,8)

(Tabela 5).

No modelo final da análise (multivariada), o fator de risco mais fortemente associado à

infecção por Leishmania foi pêlo curto. Além disso, presença de suínos no quintal

permaneceu significativamente associado com risco aumentado de LVC. Criação de galinhas,

e/ou outro animal de produção, depois de controlar para outras variáveis, também foram

associados à infecção (Tabela 6).

Tabela 6: Análise multivariada dos fatores de risco para infecção por Leishmania em 245 cães em Jequié, Bahia, Brasil, 1997-2000. Características Risco relativo

(95% IC) Idade (anos)

<1 1 (referência) >2 1,8 (0,9-3,5)

Comprimento do pêlo

Longo 1 (referência) Curto 9,4 (4,3-20,7)*

Presença de criadouros de

Galinhas Não 1 (referência) Sim 3,3 (1,4-7,7) ¥

Suínos

Não 1 (referência) Sim 4,1 (1,2-13,8) ŧ Outros Não 1 (referência) Sim 2,6 (1,1-6,6) ŧ

*P<10-4 ¥P<10-2

ŧ P<0.05

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DISCUSSÃO

Apesar da abundância de informação a partir de dados de prevalência sobre LVC, dados sobre

a incidência ainda são escassos, e pouco é conhecido sobre os fatores de risco para esta

infecção. A leishmaniose visceral no Brasil constitui um sério problema de saúde pública

atingindo também áreas urbanas, principalmente do Nordeste brasileiro. A destruição maciça

de florestas primárias e o êxodo rural têm favorecido a expansão da LVC nos centros urbanos

e periferias das cidades.

Nossos dados revelaram uma prevalência da infecção de 16% (85/532) entre os animais

examinados no período. Estudos semelhantes realizados por FRANÇA-SILVA et al. (2003)

em Montes Claros, e MAGALHÃES et al. (1980) na zona do Rio Doce, ambos em Minas

Gerais encontraram uma prevalência de 9,7% e 8,4% respectivamente. Já FISA et al. (1999)

na Catalunha, e AMELA et al. (1995) em Madri, Espanha encontraram, respectivamente, uma

prevalência de infecção de 10,2% e 5,25%. PARANHOS-SILVA et al. (1996), no mesmo

município encontraram uma prevalência de 23,5%. Esta diminuição da prevalência pode ter

sido devido à implementação de medidas sanitárias preconizadas pelos órgãos de saúde em

toda a cidade ou flutuação amostral. Em relação à taxa de incidência global de leishmaniose

em nossa população (11,8 casos/100 cães-ano), foi semelhante à incidência anual encontrada

na Ilha de Elba (12,4%) e na Ligúria Ocidental (11,2%), ambos na Itália (ZAFFARONI et

al.1999; GRADONI et al.1988). Porém foi mais alta que estimativas encontradas no mesmo

município (6.6 casos/100 cães-ano) (PARANHOS-SILVA et al.1998), e em Montes Claros,

Minas Gerais (6.4 casos/100 cães-ano) (FRANÇA-SILVA et al.2003).

A soroprevalência da infecção tendeu a aumentar com a idade, atingindo principalmente

animais com faixa etária entre 4 e 5 anos. Já no estudo prospectivo, nossos dados sugeriram

risco aumentado de infecção por Leishmania após o primeiro ano de vida do cão, porém não

demonstrou qualquer incremento adicional depois disso. POZIO et al.(1985) em um estudo

realizado na Itália, referem um aumento da prevalência da infecção após o terceiro ano de

idade, permanecendo constante após isto. FISA et al. (1999), relatam um aumento da

soroprevalência entre cães de 5 a 6 anos, assim como ABRANCHES et al. (1991) que referem

um aumento da prevalência com a idade, principalmente entre cães velhos, com idade

superior a 9 anos (14,7%). No entanto, em um estudo feito em Montes Claros, Minas Gerais a

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prevalência da infecção não foi correlacionada com a idade (FRANÇA-SILVA et al.2003).

Este aumento da prevalência sugere um maior tempo de exposição à atividade do flebótomo,

entretanto outros fatores como situação imunológica e hábitos dos animais, podem estar

associados.

Não houve associação entre soropositividade e o sexo dos cães, corroborando com os achados

de ABRANCHES et al. (1991), SIDERIS et al. (1996) e FRANÇA-SILVA et al. (2003).

Entretanto em um estudo feito na Ligúria, Itália, relata que os cães machos foram mais

suscetíveis à infecção do que as fêmeas (ZAFFARONI et al.1999). Também não encontramos

diferença significativa entre cães de raça pura e cães SRD. No entanto nossos dados sugerem

um maior risco de infecção para cães mestiços. Segundo ABRANCHES et al. (1991), cães

das raças Doberman (35,3%) e Pastor Alemão (16,3%) apresentaram-se mais infectados que

outras raças. Semelhantemente na França, RANQUE et al. (1997) demonstraram que cães das

raças Boxer e Pastor Alemão foram os mais afetados. Em Minas Gerais, FRANÇA-SILVA et

al. (2003) referem que Pastor Alemão foi a raça mais afetada. Contudo, alguns autores

acreditam que esta predisposição esteja mais relacionada com as atividades dos animais e com

o comprimento do pêlo, do que propriamente com a raça. (SIDERIS et al. 1996; MORENO e

ALVAR, 2002).

Em relação ao grau de confinamento nossos dados sugerem, apesar de não terem sido

significativos estatisticamente, que cães criados soltos (que vivem mais fora de casa, na rua

do que em casa) possuem risco maior de infecção do que cães criados dentro de casa. Alguns

estudos reportam que cães que passavam a noite “fora de casa”, cães de trabalho que

permanecem maior tempo fora de casa, possuem risco maior de adquirir a infecção que cães

de companhia que “dormiam” dentro de casa, pois possivelmente estavam mais expostos a

picada do inseto vetor (ABRANCHES et al. 1991; DYE et al. 1992; ZAFFARONI et al.

1999).

No estudo de corte transversal não houve correlação entre criação de animais como galinhas e

porcos e aumento da soroprevalência. No entanto no estudo de coorte, nossos dados

demonstraram um risco mais elevado de infecção por Leishmania em cães que viviam em

ambientes com criadouros de galinhas, porcos e outros animais de produção. Esta

discrepância entre os dois estudos provavelmente decorre do fato de que o estudo de corte

transversal analisa casos prevalentes e não incidência, não sendo adequado para análise de

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risco. Por isso os dados obtidos pelo estudo de coorte são mais robustos, dando maior

confiabilidade aos resultados.

Após a análise de Cox, no estudo prospectivo, cães que viviam em habitações com galinheiros

possuíam um risco para infecção 3,3 vezes maior do que os animais que viviam em casas sem

galinhas. Semelhantemente, em habitações onde havia criações de bovinos, eqüinos entre

outros animais de produção, o risco de infecção foi 2,6 vezes maior. Em um estudo prévio na

mesma área, RODRIGUES et al.(1999) informaram que o risco de pessoas adquirirem

leishmaniose visceral em habitações com galinheiros era 4,2 vezes maior que pessoas que não

tinham criação de galinhas. Também MORILLAS et al. (1996) mostraram uma prevalência

mais alta de positividade de reação cutânea para Leishmania em aldeias onde a maioria das

casas tinha estábulos para manter animais (principalmente mulas e cabras). Não obstante,

galinhas não podem sustentar infecções por Leishmania, e o papel que esses animais podem

ter na epidemiologia desta enfermidade ainda não foi realmente esclarecido.

Nós encontramos também que cães que moravam em casas com criadouro de suínos possuíam

risco significativamente maior para infecção por Leishmania. Esses animais são considerados

uma das fontes de alimento preferido pelo flebótomo, e as suas instalações servem como local

para o acasalamento e postura dos ovos destes insetos, como indicado por alguns estudos

(FERRO et al.1995; FERRO et al.1997).Em uma pesquisa realizada para localizar

microhabitats das larvas de L. longipalpis, 73.3% das fêmeas capturadas foram de solo ao

redor de chiqueiros. Além disso, a proporção de L. longipalpis (62,5%) capturados nestes

locais foi significativamente mais alta que em outros (10,5%) (FERRO et al.1997). Em um

estudo sobre o padrão de alimento preferido pelos flebótomos, suínos obtiveram o segundo

lugar na preferência do L. longipalpis, perdendo apenas para os bovinos (MORRISON et

al.1993). Embora seja bastante evidente a atração que os suínos exercem sobre o L.

longipalpis, o papel que estes animais desempenham na transmissão da Leishmania ainda está

obscuro. BRAZIL et al.(1987) relatou a descoberta de numerosas formas amastigotas

intracelulares em um esfregaço de biópsia de lesão de pele de um porco, no entanto eles não

conseguiram isolar e identificar o microorganismo.

Até mesmo sem agir como reservatórios para L. chagasi, a presença desses animais

domésticos em proximidade com habitações humanas pode ser importante, mantendo uma

grande população do vetor no peridomicílio. Quando a densidade da população de flebótomos

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fica muito alta, se torna mais provável que o inseto entre numa casa, e pique cães ou

humanos. Além disso, animais de produção (como bovinos, porcos e galinhas) são

comumente criados dentro de áreas urbanas e periurbanas no Brasil. Muitos destes animais

são transportados periodicamente a áreas de pastagem e então voltam aos abrigos deles no

quintal das residências. Além disso, populações destes animais em zonas urbanas flutuam,

dependendo significativamente dos períodos de comercialização ou abate. Assim, uma grande

população de L. longipalpis, repentinamente privada de seus alimentos preferidos, pode

começar a picar cães ou humanos freqüentemente, compensando um potencial efeito

profilático que a presença destes animais poderia ter.

Nossos dados no estudo transversal sugeriram na análise ajustada por idade que animais de

pêlo curto possuem uma prevalência maior de infecção que animais de pêlo longo.

Corroborando com este achado, no estudo de coorte, pêlo curto foi o fator de risco mais

relevante para a infecção, tanto na análise multivariada, quanto na análise ajustada para idade.

Em um estudo no Sul da Espanha cães que pertencem a raças “peludas” mostraram uma

soroprevalência significativamente mais baixa para anticorpos de Leishmania (20,9%) que os

animais pertencentes a raças de pêlo curto (37,6%) (MORILLAS et al.1996).

Semelhantemente, SIDERIS et al. (1996) durante uma pesquisa em Atenas, Grécia,

encontraram taxas mais baixas de infecção em cães de pêlo longo (36,7%) que em animais de

pêlo curto (60,8%). FRANÇA-SILVA et al.(2003) também relataram diferenças semelhantes

em outra área endêmica no Brasil. Esta proteção aparentemente conferida aos cães com pêlo

longo pode ser devido à interferência do pêlo na habilidade do flebótomo em pousar e picar o

animal e/ou relacionada a outros fatores como eliminação de CO2, odor do animal e

irradiação de calor (ALEXANDER et al. 2002)

Na análise bruta do corte transversal, os dados indicaram que história pregressa de cão

positivo para leishmaniose visceral num domicílio quase dobrou a prevalência de

soropositividade. EVANS et al. (1992) em estudo realizado no Ceará para leishmaniose

visceral humana, referem que crianças que moravam em casas onde havia tido casos prévios

de LV estavam mais expostas ao risco de infecção do que crianças domiciliadas em

residências onde não havia tido casos. Estes resultados sugerem a manutenção de fatores de

risco ao longo do tempo, como presença do vetor, localização da casa, infecções inaparentes,

presença de outros reservatórios, que devem ser considerados no controle e prevenção da

doença.

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Em todas as análises feitas no estudo transversal, borrifação periódica com inseticida do

domicílio e peridomicílio permaneceu protegendo contra infecção. Utilizando modelos

matemáticos, DYE (1996) sugere que o uso de inseticida nos domicílios e peridomicílios,

inclusive nos abrigos dos animais, teria um impacto marcante na prevalência da infecção em

cães e humanos. TESH et al. (1995) também referem que apesar do uso de inseticidas

residuais (DDT), dentro das casas e nos abrigos de animais ser bastante efetiva na redução da

população de flebótomos e conseqüentemente na transmissão do parasita, o efeito desta

medida é apenas temporário. Além disso, experiências com outros inseticidas sugerem que os

vetores da LVC podem eventualmente desenvolver resistência ao produto com o uso

prolongado, existindo ainda considerações sociais, financeiras e ambientais contra aplicações

domésticas repetidas.

Méritos e limitações metodológicas

Apesar do estudo de corte transversal ser bastante útil para avaliar a distribuição da infecção

em uma população, ele não é adequado para análise de risco, pois analisa apenas os casos

prevalentes da infecção, além de que não esclarece a relação temporal entre os eventos

estudados (soroconversão x fatores de risco). Por isso foi feito também um estudo de coorte

no qual obtivemos dados mais consistentes, dando maior confiabilidade aos resultados.

No estudo de coorte prospectivo as análises feitas permitiram o cálculo de taxas de incidência

e estimativas válidas de risco relativo. A avaliação cega do resultado da soroconversão

preveniu a ocorrência de viés de observação. Finalmente, o uso da regressão de Cox proveu

estimativas do efeito dos fatores de risco ajustados para idade, gênero, raça, e outros fatores

de confundimento.

A principal limitação do estudo de coorte foi a perda de seguimento. O grupo sem segmento

possuía mais cães com pêlo longo e que eram criados limitados ao quintal. Isso os deixariam

mais protegido contra a infecção que os da amostra analisada. Assim, a estimativa de

incidência da infecção obtida com a amostra analisada pode ter sido superestimada em relação

à verdadeira incidência na população. Entretanto, a maioria dos cães excluídos tinha emigrado

da área de estudo e é improvável que este fato estivesse associado com quaisquer das

variáveis investigadas. Então, já que a maioria das perdas não parece ter sido diferencial,

provavelmente os nossos resultados não foram distorcidos.

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CONCLUSÃO

Entender melhor a epidemiologia da infecção por Leishmania é crucial para planejar

estratégias de controle efetivas para a população canina, e também para prevenção da

leishmaniose visceral humana.

1- A prevalência inicial da infecção foi de 16% e ao final do estudo a taxa de incidência

global foi de 11,8 casos/100 cães-ano. Nossos dados sugeriram que a soroprevalência da

infecção tendeu aumentar com a idade, atingindo um pico máximo entre os animais de

quatro a seis anos.

2- A presença de suínos, galinhas, e/ou outro animal de produção, aumentou

significativamente o risco de infecção canina por Leishmania em habitações urbanas.

3- Animais de pêlo curto tiveram um maior risco de infecção do que animais de pêlo longo.

4- No estudo transversal nossos dados sugeriram que borrifação periódica do domicílio

diminuiu significativamente a prevalência da infecção.

5- Na análise não ajustada do estudo de prevalência, cães que moravam em casas com

história pregressa de LVC tiveram um “Odds” maior que animais domiciliados em locais

sem história previa de infecção.

6- Não houve correlação entre soropositividade e o gênero dos cães, bem como com a raça

dos animais.

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4. CONSIDERAÇÕES GERAIS

Nossos dados demonstraram que criação de galinhas, porcos e outros animais no

peridomicílio aumentaram substancialmente o risco para infecção por Leishmania em cães.

Assim, novos estudos são necessários para esclarecer o potencial papel de alguns desses

animais na epidemiologia do calazar, bem como estabelecer medidas sanitárias de criação

destes animais em zonas urbanas, a fim de reduzir o contato entre vetores, reservatórios e

humanos suscetíveis. Porém, estas medidas podem não ser possíveis ou fáceis de

implementar, visto que geralmente estes animais são a única fonte de renda destas famílias,

servindo também como alimento.

No estudo transversal nossos dados sugeriram que os cães que moravam em domicílios

borrifados periodicamente estavam mais protegidos contra infecção do que aqueles que

residiam em locais que não eram borrifados. De fato, a borrifação é uma das principais

medidas de controle e prevenção da LV, devendo ser dirigida principalmente aos abrigos dos

animais, numa tentativa de reduzir a população de flebótomos mais efetivamente.

O comprimento do pêlo foi um fator fortemente relacionado ao risco de adquirir a infecção.

Neste caso, talvez fosse válido sugerir a população de áreas endêmicas que optem por criar

animais de pêlo longo ao invés de animais de pêlo curto. Além disso, apesar dos nossos dados

não terem sido estatísticamente significativos, o fato de criar os cães soltos, principalmente

deixando-os do lado de fora da casa ao anoitecer, horário no qual ocorre maior atividade do

vetor, poderia aumentar o risco de infecção. Sendo assim, seria aconselhável que estes

animais permanecessem dentro de casa ou em abrigos no qual poderiam se proteger contra a

picada dos vetores.

Durante o estudo, muitas vezes encontramos dificuldade em coletar o sangue dos cães por

receio dos proprietários, em caso de sorologia positiva, ter que sacrificar o animal. Em vista

disso, sugerimos que outras medidas de controle, além das já citadas, sejam introduzidas em

zonas endêmicas, como a utilização de coleiras impregnadas com inseticida. Esta seria uma

alternativa ao sacrifício dos animais com sorologia positiva, mas que não possuem sinais

clínicos da doença, nem exame parasitológico positivo, diminuindo assim a possibilidade de

transmissão do parasito tanto para os cães quanto para os seres humanos.

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ANEXOS

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FIGURA 2: Vista do bairro Mutirão/ São Judas Tadeu no município de Jequié, Bahia, 1997 a 2000.

FIGURA 3: Vista de um lote no bairro Mutirão/São Judas, Jequié, Bahia, 1997-2000.

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FIGURA 4: Suínos se alimentando na rua, no bairro Mutirão, Jequié, Bahia, 1997-2000.

FIGURA 5: Caprinos pastando em terreno ainda não construído, no bairro São Judas Tadeu, Jequié, Bahia, 1997-2000.

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FIGURA 6: Entrevista em um domicílio, do bairro Mutirão, Jequié, Bahia, 1997-2000.

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FIGURA 7: Coleta de sangue em animal da área endêmica de Mutirão, Jequié, Bahia,1997 a 2000.

FIGURA 8: Curral no quintal de uma casa na área endêmica de Mutirão, Jequié, Bahia,1997/2000.

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FIGURA 9: Eqüinos criados no bairro São Judas Tadeu, Jequié, Bahia, 1997a 2000.

FIGURA 10: Equipe de apoio no trabalho de campo durante o estudo em Jequié, Bahia, 1997 a 2000.