inventariopermanente das existencias - reflexoes

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  • 8/8/2019 InventarioPermanente Das Existencias - Reflexoes

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    Autor: Joaquim Fernando da Cunha Guimares

    O I N V E N T R I O P E R M A N E N T E D A S

    E X I S T N C I A S

    Breves Reflexes

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    Autor: Joaquim Fernando da Cunha Guimares

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    IINNTTRROODDUUOO

    Em trabalho anterior, sob o ttulo Inventrio ou Realrio das Existncias1, publicado narevista Eurocontas n. 45, de Janeiro de 1999, alertmos para alguns aspectos tcnico-prticos resultantes da entrada em vigor, em 1 de Janeiro de 2000, do Decreto-Lei n. 44/99,de 12 de Fevereiro.

    Esse diploma veio, sem dvida, introduzir, algumas regras contabilsticas importantes para amelhoria da informao financeira traduzida nas demonstraes financeiras.

    Com este trabalho pretendemos completar algumas das ideias ento expostas, tendo emconsiderao a evoluo do assunto e algumas diligncias que efectumos para a clarifica-o de alguns aspectos relacionados com a problemtica em apreo.

    11.. IINNVVEENNTTRRIIOO PPEERRMMAANNEENNTTEE:: OO QQUUEE ??

    No estudo atrs referido, apresentmos a definio de Lopes de S2:

    Inventrio a verificao ou existncia de um componente patrimonial .

    O mesmo autor apresenta tambm as definies de inventrio de outros dois autores:

    Funo administrativa e de contabilidade que consiste em certificar-se da existncia deelementos patrimoniais, sua classificao e seus valores (Francisco D Auria em Estruturae Anlise de Balano, 1. Edio, p. 498).

    o levantamento ordenado dos elementos do patrimnio de uma dada azienda ou de umasua poro, em dado momento, para finalidades diversas... (Masi em Relivazione Patrimo-niale, 2. Edio, p.5) .

    Pinheiro Pinto, em recente trabalho3, colocou uma dvida conceptual sobre o inventriopermanente, nos seguintes termos:

    Confessamos no saber o que significa esta expresso no contexto da lei em apreo, o quenos causa algum embarao, principalmente quando no nos sentimos acompanhados nessaignorncia, ao assistirmos a pedidos de vrias entidades no sentido de a obrigao seradiada, apesar - dizem - do seu inegvel interesse, principalmente, em termos de transpa-

    rncia e rigor.Quando esta dvida surge num distinto professor e especialista de contabilidade e de fisca-lidade, compete-nos interrogarmo-nos sobre essa realidade e tentar acrescentar algumasideias.

    Efectumos, por isso, alguma pesquisa que passamos a descrever:

    1Na oportunidade clarificmos que a palavra realrio no faz parte do vocabulrio, pois s a utilizmos comojustificao para que os inventrios devam corresponder realidade econmica portuguesa.

    2LOPES DE S, A. e LOPES DE S, A.M. Dicionrio de Contabilidade, 9. Edio, Ed. Atlas, 1995.

    3 PINHEIRO PINTO, Jos Alberto Inventrio Permanente; problema de conceito ou de organizao?, artigopublicado na Revista de Contabilidade e Comrcio n. 224, de Fevereiro de 2000 (pg. 671-4).

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    a) Desde a implementao do POC/77 e at data, com o POC/89, bem como com as

    Directrizes Contabilsticas4, no so apresentados os conceitos de Inventrio e deInventrio Permanente;

    b) O Decreto-Lei n. 44/99, de 12 de Fevereiro (item 9), alterou o Captulo 12, Classe 3,do POC/89, mas no clarifica conceptualmente o inventrio permanente, referindo

    somente o seguinte:9 No Captulo 12, Classe 3, Existncias, do Plano Oficial de Contabili-dade, o primeiro pargrafo substitudo pelo seguinte:

    Esta classe serve para registar, consoante a organizao existente naempresa:

    a) As compras e os inventrios inicial e final;

    b) O inventrio permanente.

    Na elaborao dos inventrios das existncias devem ser observados osseguintes procedimentos:

    a) Quando se utilize o sistema de inventrio intermitente, as contagensfsicas devem ser efectuadas com referncia ao final do exerccio;

    b) Quando se utiliza o sistema de inventrio permanente, as contagensfsicas devem ser efectuadas:

    - Com referncia ao final do exerccio; ou

    - Ao longo do exerccio, de forma rotativa, de modo que cada item seja

    contado, pelo menos, uma vez em cada exerccio;....

    c) Nos vrios livros de contabilidade financeira e contabilidade analtica nacionaisque consultmos no encontrmos clarificado o conceito;

    d) NIC 2 (reviso de 1997), sob o ttulo Inventrios, no captulo das Definiesrefere:

    Os inventrios so activos:

    - detidos para venda no decurso ordinrio da actividade empresarial;

    - no processo de produo para tal venda; ou- na forma de matrias ou materiais de consumo a serem consumidosno processo de produo ou na prestao de servios..

    e) No glossrio de termos contabilsticos das NIC acolhe-se o conceito da NIC 2 eacrescenta-se:

    Os inventrios englobam bens comprados e detidos para revendaincluindo, por exemplo, mercadorias compradas por um retalhista e

    4 Com permeio das Notas Interpretativas publicadas entre 1987 e 1988 e que foram tacitamente revogadas peloPOC789.

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    detidas para revenda, ou terrenos e outras propriedades detidas pararevenda. Os inventrios tambm englobam produtos produzidos acaba-dos, ou produtos em curso que estejam sendo produzidos pela empresae incluem matrias e procedimentos que aguardam utilizao no pro-cesso de produo. No caso de um fornecedor de servios, os invent-rios incluem os custos do servio pelo qual a empresa no reconheceu

    ainda o respectivo rdito.

    No nos parece que estas duas ltimas descries sejam definies/conceitos na verdadei-ra acepo da palavra, podendo considerar-se mais como caractersticas e contedo doinventrio.

    Note-se, porm, que as NIC no contemplam objectivamente qualquer definio de invent-rio permanente.

    f) Raul Dria, na 1. edio (1914) do seu Dicionrio Prtico de Comrcio, o nico

    escrito por um portugus de gema5, refere:

    Inventrio, no sentido mais prprio da palavra, um extracto completo, detalhado,de todos os bens, mveis e imveis, ttulos e dvidas, papis e documentos depen-dentes de um patrimnio; como tal sinnimo de registo, lista, rol, catlogo, relao,etc.

    O mesmo autor, na ltima edio (a 3.)6 do dicionrio, alm do conceito de inventrioapresenta o de Inventrio Permanente, com o seguinte texto:

    Sistema de contabilizao das fazendas que tem em vista conhecer o valor globaldos stocks em qualquer altura que isto se torne necessrio.

    22.. RREELLAATTRRIIOO DDAA CCOOMMIISSSSOO DDEE NNOORRMMAALLIIZZAAOO CCOONNTTAABBIILLSSTTIICCAA

    O relatrio de actividades do primeiro semestre de 1999 da Comisso de Normalizao

    Contabilstica7 assinala:

    Presentemente, a CNC encontra-se, tambm, a analisar, na sequncia,alis, do solicitado pelo Senhor Secretrio de Estado dos Assuntos Fiscais,os efeitos da aplicao do Decreto-Lei n. 44/99, de 12 de Fevereiro, sobre oinventrio permanente das existncias, no sentido de promover a emisso

    de orientaes que permitam o esclarecimento de dvidas que se coloqueme habilitem os destinatrios a aplicar correctamente o que aquele diploma sedispe.

    5Estamos a lembrar-nos do Dicionrio de Contabilidade de A. Lopes de S (brasileiro naturalizado portugus),Ed. Atlas.

    6O Dicionrio teve mais duas edies. A 2. Edio, de 1955, e a 3. edio, de 1975. A 1. edio foi editadapela tipografia da Escola Prtica Comercial Raul Dria, do Porto. A 2. e 3. edies foram editadas pela Livra-ria Cruz, em Braga. Na 3. edio o ttulo do dicionrio foi alterado para Dicionrio Prtico do Comrcio e

    Contabilidade.7

    Publicado no Jornal de Contabilidade da APOTEC n. 271, de Outubro de 1999.

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    Face a algumas diligncias que efectumos, verificmos que esse relatrio j foi apresenta-

    do, no tendo sido efectuada a divulgao pela CNC8.

    Julgamos que seria muito til que os TOC, os ROC e os docentes de contabilidade tivessemconhecimento do teor desse relatrio, a fim de permitir o esclarecimento de certas dvidasque se tm colocado, o que, alis, mencionado na transcrio supra.

    De acordo com esse documento9, denominado Nota de Anlise e intitulado Aplicao doDec. Lei n. 44/99, de 12 de Fevereiro Inventrio Permanente de Existncias e Demons-trao dos Resultados por Funes, uma das questes abordadas prende-se com a datade entrada em vigor desse diploma legal, cujo parecer resumimos no seguinte quadro:

    Condies (limites do art. 262 do CSC) Obrigatoriedade / Dispensa

    1. Se no ultrapassou os limites em 1998 e1999.

    Dispensa, pelo menos, at ao ano 2001(inclusive).

    2. Se ultrapassou os limites em 1998 e 1999. Obrigao a partir de 1 Janeiro de 2000.

    3. Se no ultrapassou em 1998 mas ultra-passou em 1999.

    Dispensa no ano de 2000 e obrigao a partirde 1 de Janeiro de 2001.

    4. Se ultrapassou em 1998 mas no ultra-passou em 1999.

    Igual situao 1.

    33..PPOOSSIIOODDAAOORRDDEEMMDDOOSSRROOCC

    A adopo do sistema de inventrio permanente (SIP), independentemente da sua obriga-toriedade legal ou no, deveria ser encarada como uma necessidade bsica para o rgo degesto da empresa como suporte na tomada de decises (v.g. fixao de preos de venda,fixao de margens de lucro, reduo de custos). O prprio prembulo do Dec. Lei n. 44/99

    sublinha esse aspecto ao utilizar a expresso as boas regras de gesto....

    8A CNC tem sido objecto de diversas crticas pela no divulgao dos seus trabalhos (v.g. pareceres, relatrios).Durante quatro meses e em representao da Direco da Cmara dos TOC estivemos a exercer funes naComisso Executiva da CNC e abordmos o assunto. Ento sugerimos que, sem custos para a CNC, os refe-ridos documentos fossem divulgados nos CD da CTOC e da OROC e, tambm, que a CNC desenvolvesseum site, pelo que foi com agrado que constatmos que essa pretenso j estava a ser equacionada h jalgum tempo, enquadrada no Plano de Actividades da CNC 2001/2002, pelo que aguardamos (a evoluo do

    assunto) desenvolvimentos na matria.9

    Ao qual tivemos acesso aquando das referidas funes.

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    Por outro lado, a adopo do SIP poder ser considerada uma boa medida de controlointerno da rea das existncias, a ser objecto de reviso/auditoria pelo Revisor Oficiais deContas (ROC).

    Tambm neste particular o prefcio do referido diploma destaca que a adopo do SIP visafacilitar o processo conducente reviso/auditoria de contas.

    Neste contexto, e uma vez que havia que clarificar a posio da Ordem dos Revisores Ofi-ciais de Contas (OROC) no que tange, designadamente, ao contedo dos relatrios a emitirpelos ROC, elabormos uma exposio OROC que, pela sua importncia, passamos atranscrever na ntegra:

    Em conversas com alguns colegas tenho constatado a existncia de dvidas e diferentespontos de vista sobre qual dever ser a posio do ROC para o caso de uma empresa noadoptar o sistema de inventrio permanente (SIP) na contabilizao das suas existncias,quando a tal se encontra obrigada, cf. dispe o Decreto-Lei n. 44/99, de 12 de Fevereiro.

    Na verdade, caso o ROC constate essa realidade dever emitir opinio com reservas por

    limitao ou, simplesmente, relatar uma nfase na certificao legal das contas? E, inde-pendentemente dessas evidncias, no dever mencionar tal facto no Relatrio Anual daFiscalizao Efectuada?

    Com efeito, tenho verificado que h divergncias de interpretao que podero sintetizar-senas seguintes atitudes:

    - Mencionar o facto unicamente no RELATRIO ANUAL DA FISCALIZAOEFECTUADA;

    - Referir uma RESERVA POR LIMITAO NO MBITO...10

    - Destacar o facto numa NFASE... 10

    - No efectuar qualquer referncia nesses documentos, pois se em exercciosanteriores a empresa no utilizou o SIPe o ROC no teve qualquer dificuldadeem emitir os seus relatrios, tambm, agora, pelo facto11 de estarmos na presen-a de uma exigncia contabilstica (ou contabilstico - fiscal) no deve relatar talfacto . Ou seja, por outras palavras e especificando melhor, se o ROC nos exer-ccios anteriores emitiu uma certificao legal das contas sem reservas baseadana utilizao do SII,com base na validao das asseres inerentes rea deExistncias, ser que, pelo facto da empresa no utilizar o SIP, dever qualificar

    a sua opinio?

    Julgo que este assunto de extrema importncia pois poder suscitar desintelign-cias com o rgo de gesto, com os tcnicos oficiais de contas e entre os prprios

    10Na exposio constavam outros argumentos tcnicos que aqui no reproduzimos por no os considerarmosrelevantes.

    11 bvio que, nos termos do art. 47. do Decreto-Lei n. 487/99, de 16 de Novembro, o ROC tem como compe-

    tncia especfica a fiscalizao da gesto com vista observncia das disposies legais, e, sendo o POC odiploma em referncia aprovado por Decreto-Lei, ento o ROC no dever alhear-se desse facto.

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    ROC, pelo que sugiro que o assunto seja devidamente divulgado a todos os colegas,com vista uniformizao dos procedimentos.

    Posteriormente, e em aditamento, escrevemos:

    Em aditamento ao meu fax n. 1234/OROC/2000, de 26 de Dezembro, e nasequncia da discusso com um colega ROC, o mesmo apresentou as

    seguintes justificaes em favor da no meno de qualquer reserva/nfasena Certificao legal das Contas, admitindo, contudo, a hiptese de refernciano Relatrio Anual da Fiscalizao Efectuada no sentido de sensibilizar aadministrao das empresas para a necessidade de cumprir os requisitoslegais:

    - Se at agora o ROC no sentiu dificuldade em apreciar as contas seminventrio permanente, porque razo iria agora t-las?

    - A incluso de uma reserva ou de uma nfase na certificao legal das con-

    tas iria decerto criar as condies para que o Fisco mandasse proceder aexame escrita, face ao teor da declarao anual do IRC.

    - Tanto quanto parece, o balano e a demonstrao de resultados no sofremqualquer influncia do sistema de inventrio permanente ou intermitente pelo que est em causa uma mera questo interna, sem reflexo nos produ-tos da informao para o exterior que so aqueles sobre os quais se pretendeque o ROC se pronuncie.

    Aproveito, ainda, para alertar para a data de entrada em vigor da obrigatoriedade do

    SIP , de acordo com parecer da Comisso Executiva da Normalizao Contabilstica.

    Na sequncia da mesma exposio, a OROC emitiu a Circular n. 08/01, de 25 de Janei-ro de 2001, que juntamos a este trabalho (Anexo n.1):

    De notar a divergncia de entendimento entre a CNC e a OROC no que se concerne sdatas da obrigatoriedade de aplicao do SIP, nos termos do Decreto Lei n. 44/99.

    44..PPOOSSIIOODDAAAADDMMIINNIISSTTRRAAOOFFIISSCCAALL

    Tendo em conta algumas dvidas no mbito da tributao em sede de impostos sobre orendimento, efectumos, tambm, uma exposio Direco dos Servios do IRC, aque aguardamos resposta, abordando os seguintes aspectos:

    a) Considerando que os esclarecimentos da OROC e da CNC (cf. Memorando pre-parado para o Secretrio de Estado dos Assuntos Fiscais) no so coincidentesquanto aos prazos de entrada em vigor e consequente obrigatoriedade da aplica-o do sistema de inventrio permanente das existncias;

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    b) Considerando que essa data tambm importante nas implicaes fiscais emsede do IR, por fora dos efeitos no resultado contabilstico (resultado lquido doexerccio) e, consequentemente, no resultado fiscal (v.g. art. 17. do CIRC);

    c) Considerando que h quem defenda que a no aplicao do sistema de invent-rio permanente, quando obrigatria, poder suscitar a aplicao de mtodos indi-

    rectos nos termos da Lei Geral Tributria;d) Considerando a importncia da clarificao do assunto para os profissionais de

    Contabilidade, designadamente os TOC, os ROC e os Docentes do Ensino Supe-rior.

    55.. AA RREEGGUULLAARRIIZZAAOO CCOONNTTAABBIILLSSTTIICCAA EE FFIISSCCAALL DDAASS EEXXIISSTTNNCCIIAASS

    Como comummente sabido, a maior parte das PMEs, especialmente as que apresentamestruturas organizativas precrias, tm dado preferncia utilizao do designado sistema

    de inventrio intermitente (ou peridico).

    Ora, no fugindo questo, porque no assim que se resolvem os problemas, tambm do conhecimento dos profissionais de contabilidade que, no raras vezes, esses inventriosso elaborados com alguma criatividade12, de forma a apresentarem-se os resultados con-tabilsticos e fiscais numa perspectiva de economia fiscal dos impostos sobre o rendimento.

    Agora que se chama colao o inventrio permanente para as empresas que esto den-tro da dimenso definida no n. 2 do art. 1. do Decreto-Lei n. 44/99, de 12 de Fevereiro 13,e marginalizando as referidas dvidas conceptuais, a essas empresas coloca-se o problemade traduzir essa mutao nas demonstraes financeiras.

    Com efeito, se tal no for concretizado, podero surgir, entre outros, os seguintes proble-mas:

    Facturao de mercadorias e de produtos que no estejam correctamente inventa-riados;

    Incluso na produo acabada e ou em curso de matrias-primas e subsidirias queno estavam inventariadas.

    bvio que a feitura dos ditos inventrios poder resultar de registos por defeito ou porexcesso, pelo que o problema ter de ser equacionado dentro desses parmetros.

    Assim, retomando a questo, como regularizar contabilstica e fiscalmente (em sede de IRCou IRS) os stocks de forma a cumprir o diploma14?

    12No confundir com Contabilidade Criativa, pois esta pressupe o cumprimento do postulado da Imagemverdadeira e apropriada.

    132- Ficam dispensadas do estabelecido nas alneas a) e b) do nmero anterior as entidades nele referidas, atao termo do exerccio seguinte quele em que tenham sido ultrapassados dois dos trs limites referidos noart. 262. do Cdigo das Sociedades Comerciais.

    14 No podemos ignorar que, em abono da verdade, este problema j se colocou em final de 1999, pois so ossaldos iniciais de 2000.

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    Analisando o problema naquela dupla ptica temos:

    a) Perspectiva contabilstica

    No quadro seguinte resumimos os movimentos contabilsticos a efectuar:

    CONTAS AOPERAO

    DBITO CRDITOStock em excesso: Mercadorias 59 ou 697 382 Produtos acabados e intermdios 59 ou 697 383 Subprodutos, desperdcios, resduos e refugos 59 ou 697 384 Matrias primas, subsidirias e de consumo 59 ou 697 386

    Stock deficitrio: Mercadorias 382 59 ou 797 Produtos acabados e intermdios 383 59 ou 797 Subprodutos, desperdcios, resduos e refugos 384 59 ou 797 Matrias primas, subsidirias e de consumo 386 59 ou 797

    Quer o stock em excesso (valor inventariado superior ao real) quer o stock deficitrio(valor inventariado inferior ao real) so regularizados pela conta 59 Resultadostransitados, no pressuposto de que resultam de erros fundamentais, como estipulaa Directriz Contabilstica n. 8, sob o ttulo Clarificao da Expresso regularizaesno frequentes e de grande significado, relativamente Conta 59 - Resultadostransitados.

    Se os valores no forem materialmente relevantes, essas regularizaes devem ser

    efectuadas nas contas 797 Correces relativas a exerccios anteriores (stockdeficitrio) e 697 - Correces relativas a exerccios anteriores (stock em excesso).

    Atendendo a que a conta 59 Resultados transitados objecto de diversos movi-

    mentos contabilsticos15, sugerimos que seja criada uma subconta com o ttulo 59x Regularizao de existncias DL 44/99"

    15Em estudo anterior sob o ttulo A conta 59 Resultados transitados (POC e CIRC), publicado no nossolivro Contabilidade, Fiscalidade, Auditoria Breves Reflexes Ed. Autor, 1997, apelmos diviso da conta59 Resultados Transitados em diversas subcontas:

    - 591 Por aplicao dos resultados lquidos5911 Do exerccio...5912 Do exerccio...

    - 592 Por regularizaes (correces) contabilsticas5921 Correces relativas a exerccios anteriores5922 Correces da DC n. 10

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    b) Perspectiva fiscal em IRC

    No que concerne ao apuramento do lucro tributvel em IR e reflexos no respectivoquadro 07 da declarao peridica de rendimentos mod. 22 do IRC (Q07 da DR22)podemos resumir o seu tratamento no seguinte quadro:

    DESCRIO POC Q07 DA DR22

    59 Campo 203 Variao patrimonial negativa (art.24.)Stock em excesso

    697 Campo 201 Resultado lquido do exerccio

    59 Campo 202 Variao patrimonial positiva (art.21.)Stock deficitrio

    697 Campo 201 Resultado lquido do exerccio

    Na verdade, considerando que a referida movimentao a dbito da conta 59 setraduz num decrscimo dos capitais prprios (situao lquida), i.e., numa variaopatrimonial modificativa (ou quantitativa) negativa no reflectida no resultado lquidoter de entrar (a deduzir) para o apuramento do lucro tributvel do IRC (campo 203do quadro 07 da DR22), pois no consta das excepes previstas no n. 1 do art.24. do CIRC.

    Da mesma forma, o citado movimento a crdito na conta 59 traduz-se num acrs-cimo dos capitais prprios (situao lquida), i.e., numa variao patrimonial modifica-tiva (ou quantitativa) positiva no reflectida no resultado lquido, que entra (a adicio-nar) no lucro tributvel do IRC (campo 202 do Q07 da DR22), pois no consta dasexcepes previstas no art. 21. do CIRC.

    Caso essas regularizaes contabilsticas sejam relevadas nas contas 697 e 797sero registadas no campo 201 e no Q07 da DR22.

    No que se refere interpretao do princpio contabilstico Da especializao dosexerccios, consagrado no art. 18. do CIRC, sublinhamos que no poder/deverser invocado o requisito previsto no n. 2 de que a situao era imprevisvel ou mani-festamente desconhecida, pelo que esses registos teriam de ser anulados pois nodeveriam afectar o lucro tributvel desse ano, mas os lucros tributveis dos respecti-vos exerccios.

    5923 Correces da DC n. 85924 Regularizaes de excedentes, cf. DC n. 165925 Mtodo da equivalncia patrimonial, cf. DC n. 9..

    5929 Outras regularizaes (correces)A mesma sugesto poder ser seguida para as contas 697 e 797.

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    Assim, se se tratasse de uma variao patrimonial negativa, teramos de a efectuarno campo 237 do Q07 da DR22 (campo em branco e acrescenta-se o mesmo textodo campo 22416).

    Considerando que o lucro tributvel do exerccio em que se procede regularizaocontabilstica no afectado, ento como cumprir o estipulado no Ofcio-Circulado

    n. 14/93, de 23 de Novembro?Na verdade, o n. 2 desse Ofcio-Circulado estabelece:

    Assim e competindo aos Servios de Fiscalizao no mbito de anliseinterna ou externa o controlo da matria colectvel, determinada combase em declarao do contribuinte, devem os mesmos, sem prejuzoda penalidade ao caso aplicvel, fazer as correces adequadas aoresultado lquido do exerccio a que os custos ou proveitos digam res-peito, quando, nos termos do Art. 18. do CIRC, no sejam considera-das componentes negativas ou positivas do lucro tributvel do exerccioda sua contabilizao.

    Para que a Administrao Fiscal (AF) possa efectuar as competentes correces,deveria saber a que exerccio(s) diz (em) respeito, o que nos parece de difcil detec-o, pois o contribuinte provavelmente no disporia dessa informao, devido noadopo do sistema de inventrio permanente. Se o contribuinte no conseguir efec-tuar essas discriminaes, julgamos que a AF poder aceitar que essas regulariza-es afectem o exerccio em que forem efectuadas. Deste modo, a empresa nodeveria proceder s respectivas correces fiscais (positiva ou negativa) ao lucro tri-butvel e as variaes patrimoniais afectariam o lucro tributvel do exerccio em queforam concretizadas.

    Registe-se, contudo, que, na prtica, a AF tem aceite pacificamente os registos posi-tivos (variaes patrimoniais ou correces fiscais) no Q07 da DR22. Porm, relati-vamente aos registos negativos, tal nem sempre tem acontecido, da que os sujeitospassivos tero de estar precavidos para essa situao.

    Note-se, contudo, que esta situao poder penalizar fiscalmente, em sede de IR, oscontribuintes que pretendam regularizar a sua situao, pelo que, em nossa opinio,se justificaria um regime contabilstico-fiscal transitrio que obviasse a essas situa-es.

    16Em alternativa, h quem defenda que no se deveriam efectuar esses dois registos, com sinal contrrio, poiso lucro tributvel o mesmo. Na verdade, o lucro tributvel o mesmo quer se utilize um ou outro procedi-

    mento, s que, em nossa opinio, a clareza dos registos no a mesma, pelo que defendemos a situaoexposta.

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    44.. CCOONNCCLLUUSSEESS

    Alm das dvidas conceptuais sobre o inventrio permanente, o D.L. n. 44/99, de 12 deFevereiro, veio trazer algumas dificuldades prticas na sua implementao e exigir um

    esforo redobrado no s ao rgo de gesto, principal interessado e responsvel pela ela-borao das demonstraes financeiras, como tambm aos profissionais responsveis pelaexecuo da contabilidade os Tcnicos Oficiais de Contas (TOC) e pela reviso legaldas contas os Revisores Oficiais de Contas (ROC).

    Neste trabalho sublinhmos, por isso, algumas das tarefas que incubem ao rgo de gestoe queles profissionais.

    Acresce a este facto que as prprias entidades envolvidas mais directamente na concepodaquele diploma legal - a Comisso de Normalizao Contabilstica e a Administrao Fiscal

    ainda no divulgaram as diversas dvidas que subsistem na aplicao do SIP, como,alis, foi reconhecido, j em 1999, por despacho do Secretrio do Estado dos Assuntos Fis-cais.

    Dado que nos preocupamos com estas questes, dirigimos exposies queles dois orga-nismos e OROC para a clarificao de algumas dvidas e apenas recebemos respostadesta ltima entidade, a qual, pela sua importncia, divulgamos neste trabalho.

    Braga, Dezembro de 2001

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    Autor: Joaquim Fernando da Cunha Guimares

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    AANNEEXXOO NN..11

    CCIIRRCCUULLAARR NN.. 88//0011,, DDEE 2255 DDEE JJAANNEEIIRROO

    DDAA OORRDDEEMM DDOOSS RREEVVIISSOORREESS OOFFIICCIIAAIISS DDEE CCOONNTTAASS

    1. A publicao do Decreto-Lei n. 44/99, de 12 de Fevereiro, veio contribuir de for-ma decisiva para o revisor/auditor recomendar a adopo do sistema de inventriopermanente na contabilizao das existncias e a elaborao de Demonstrao dosResultados por Funes pelas empresas/entidades que por ele estejam abrangidas.

    2. No entanto, as disposies mencionadas no n. 2 do artigo 1. e no n. 2 do artigo3. do Decreto-Lei n. 44/99, de 12 de Fevereiro, relativas Demonstrao dosResultados por Funes resultam contraditrias entre si, uma vez que, de acordocom o n. 2 do artigo 1. deste diploma legal, esta demonstrao dos resultados sseria obrigatria a partir do exerccio de 2002, enquanto que de acordo com o n. 2do seu artigo 3. j o seria a partir de 2001. Trata-se de uma incoerncia legislativaque ter de ser resolvida pela mesma via. Acresce que o Decreto-Lei n. 44/99, de 12de Fevereiro, cujos objectivos esto bem patentes na respectiva parte preambular,no foi revogado pelo Decreto-Lei n. 367/99, de 18 de Setembro.

    3. Informamos que esta Ordem oportunamente solicitou esclarecimentos entidadecompetente sobre a questo anterior e outras relacionadas com o citado diploma

    legal e ainda com alguns aspectos do regime das directrizes contabilsticas.

    4. Independentemente da posio que venha a ser definida e que ser transmitidalogo que conhecida, o Conselho Directivo, ouvida a Comisso Tcnica das Entidadesno Financeiras apreciou e deliberou o seguinte:

    a) A adopo do sistema de inventrio permanente na contabilizao das exis-tncias obrigatria aps o incio do exerccio de 2002, para as empre-sas/entidades que satisfaam as condies previstas no Decreto-Lei n. 44/99,de 12 de Fevereiro;

    b) A no adopo do sistema de inventrio permanente no , porm, determi-nante para a formao da opinio do revisor/auditor, visto que, em variadas cir-cunstncias, o controlo das existncias e o razovel apuramento dos saldos rela-cionados com as mesmas podem ser assegurados por outras formas. Pode porconseguinte expressar-se uma opinio sem reservas nem nfases apesar de noter sido adoptado tal sistema;

    c) Quando a entidade no adopte o sistema de inventrio permanente e o revi-sor/auditor entenda que ele seria necessrio para o objectivo do seu trabalho, orevisor/auditor deve expressar uma reserva por limitao de mbito;

    d) A no adopo do sistema do inventrio permanente por empresa/entidade

    que a tal esteja obrigada deve ainda ser divulgada nos componentes relatrios e

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    Autor: Joaquim Fernando da Cunha Guimares

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    pareceres emitidos pelo revisor/auditor, independentemente de se justificar ouno uma reserva nos termos da alnea c);

    e) Por razes de certeza e segurana na aplicao de direito, a Ordem consideraa Demonstrao dos Resultados por Funes de elaborao obrigatria apenasa partir do exerccio de 2002, para as empresas/entidades que satisfaam ascondies previstas no Decreto-Lei n. 44/99, de 12 de Fevereiro;

    f) A no elaborao de Demonstrao dos Resultados por Funes, quando obriga-

    tria, dar lugar a uma reserva por limitao de mbito, devendo ainda ser divul-

    gada nos competentes relatrios e pareceres emitidos pelo revisor/auditor.