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APRESENTAÇÃO Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea- lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que melhor se encaixa à organização curricular de sua escola. A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen- tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci- dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas, histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob- jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade. As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada região brasileira. Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz. Gerente Editorial Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários

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APRESENTAÇÃO

Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três

séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea-

lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que

melhor se encaixa à organização curricular de sua escola.

A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen-

tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci-

dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito

crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas,

histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de

dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob-

jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade.

As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante

situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos

privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de

questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada

região brasileira.

Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia

intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o

aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz.

Gerente Editorial

Introdução ao estudo da Literatura;

Gêneros e elementos literários

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Ruben Formighieri

Emerson Walter dos Santos

Joseph Razouk Junior

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Cláudio Espósito Godoy

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Sergio Augusto Kalil

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O2 Comunicação

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2014

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@LIT030

Neste livro, você encontra ícones com códigos de acesso aos conteúdos digitais. Veja o exemplo:

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Autores e obras

da literatura

brasileira

@LIT030

D541 Dias, Nathalia Saliba.Ensino médio : modular : literatura : introdução ao estudo da literatura; gêneros

e elementos literários / Nathalia Saliba Dias, Sergio Augusto Kalil. – Curitiba : Positivo, 2010.

: il.

ISBN 978-85-385-6504-8 (livro do aluno)ISBN 978-85-385-6505-5 (livro do professor)

1. Literatura. Ensino médio – Currículos. I. Kalil, Sergio Augusto. II. Título.

CDU 373.33

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SUMÁRIO

Unidade 1: Introdução ao estudo da literatura

O que é literatura? 6

Literariedade 6

Figuras de linguagem 9

Origem da literatura 21

Unidade 2: Gêneros e elementos literários

Verso e prosa 28

Gêneros poéticos 28

Metrificação 34

Rimas 38

Prosa de ficção 41

Finalidade da arte? 46

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A literatura humaniza em sentido profundo

porque faz viver.

Antonio Candido

CANDIDO, Antonio. Textos de intervenção. São Paulo: Editora 34, 2000. p. 85.

Introdução ao estudo da literatura

1

4 Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários

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1. Para você, o que é literatura?

2. Uma bula de remédio é literatura? Um bilhete é literatura? Um e-mail é literatura?

3. Na sua opinião, para que serve a literatura?

4. Por que você acha que as pessoas escrevem textos literários?

5. Quais textos literários você conhece?

6. Qual é o livro de que mais gosta e por quê?

7. Quando e como você lê? Descreva os seus hábitos de leitura.

8. Na sua opinião, em que medida as novas tecnologias modificam a maneira de ler e as rela-ções sociais?

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Ensino Médio | Modular 5

LITERATURA BRASILEIRA

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O que é literatura?

Em sentido amplo, a literatura pode ser definida como um texto. Assim, qualquer texto, independen-temente da área de conhecimento a que estiver vinculado, será literatura. Pode-se, então, afirmar que existe uma literatura médica, uma literatura jurídica, uma literatura política, etc. Ou seja, todo texto – uma propaganda, um e-mail, um livro de Matemática – pode ser considerado (por ser texto) literatura.

Essa concepção está diretamente relacionada à origem da palavra. Segundo a etimologia – ciência que estuda a origem das palavras –, o termo “literatura” vem do latim littera, que significa letra, caráter de escritura.

Em sentido restrito, a literatura (designada com letra maiúscula) é caracterizada como área de conhecimento e tem como finalidade o estudo de manifestações literárias, isto é, obras que, por sua relevância, se tornaram clássicos representativos da cultura. Nesse sentido, existe um conjunto de características próprias de determinados textos para que estes sejam considerados Literatura.

Literariedade

Normalmente, a literatura é associada à criação de um texto elaborado por um autor, que seleciona criterio-samente os termos utilizados e é capaz de criar imagens significativas por meio do trabalho com a linguagem.

Assim, determinados textos exploram os mais diferentes recursos linguísticos, distinguindo-os de outros da esfera cotidiana. Esse trabalho com a linguagem é um dos critérios definidores do texto literário e é denominado literariedade.

Nessa perspectiva, a linguagem literária se diferencia da usada nos textos produzidos nas práticas sociais, pois é mais expressiva, ambígua, densa, complexa, imaginária, estética, etc. De acordo com esse ponto de vista, uma bula de remédio, uma notícia de jornal ou um trabalho acadêmico não são Literatura, pois não fazem essa exploração e elaboração da linguagem.

Para entender um pouco melhor esse critério, analise atentamente os dois textos a seguir: Texto 1

não

Aterro terá escolta armada para expulsar badameiros em Jequié

Depois de tentar, sem sucesso, retirar um grupo de 40 badameiros do aterro sanitário de Jequié, a 359 km de Salvador, a prefeitura do município abriu licitação para contratar serviços de vigilância armada

a informação. Segundo ele, depois da evacuação dos

no aterro.

SOUZA, Juscelino. Aterro terá escolta armada para expulsar badameiros em Jequié. Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.com>. Acesso em: 24 ago. 2010.

Badameiros: é o nome que se dá, na Região Nordeste, aos catadores de lixo.

Folh

apre

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olha

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em/M

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ron

Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários6

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Texto 2

Os dois textos apresentam tema comum, porém a organização e a linguagem utilizadas são diferentes. Considerando essa informação, responda:

a) Qual é o assunto tratado nos textos?

b) Qual é a função desempenhada em cada um dos textos apresentados?

c) Quais são as diferenças de composição entre eles? Aponte, pelo menos, três.

d) Analisando a linguagem, é possível dizer que um deles possui literariedade? Justifique.

O bicho

Vi ontem um bicho Na imundície do pátioCatando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,Não examinava nem cheirava:Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,Não era um gato,Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 283.

O texto intitulado “O bicho” é de autoria de Manuel Bandeira – um conhecido escritor brasilei-ro – e se organiza como um poema, em versos e estrofes. Apresenta sonoridade e ritmo, além de utilizar outro recurso, como a repetição de estrutura em “o bicho não era um cão,/não era um gato/não era um rato”.

Observe, ainda, que o poema mantém o clima de suspense, revelando somente no último verso a informação de maior impacto. Tais escolhas linguísticas são próprias de um texto literário, cuja intenção é comover, denunciar ou simplesmente emocionar o leitor.

Já o texto “Aterro terá escolta armada para expulsar badameiros em Jequié” é uma notícia de jornal, cujo objetivo principal é informar o leitor sobre um acontecimento. Nesse relato, a linguagem utilizada deve ser clara, objetiva e imparcial, organizando-se em ordem direta e sem utilizar figuras de linguagem, pois a intenção é dar conhecimento de um fato à população.

A linguagem literária se caracteriza pela elaboração estética que procura gerar algum efeito. Por vezes, os autores fazem uso de figuras de linguagem, inversões sintáticas, vocábulos rebuscados; por outras, valem-se da linguagem cotidiana. De qualquer forma, percebe-se a intenção de trabalhar a palavra como matéria-prima da literatura.

Ordem direta: trata-se da sequência

como a frase se organiza. Na

língua portu-guesa, segue a ordem “sujeito

+ predicado + complemento”.

Manuel

Bandeira:

biografia,

estilo e

levantamento

das obras

@LIT945

Ensino Médio | Modular 7

LITERATURA BRASILEIRA

Ensino Médio | Modular 7

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Linguagem literária

Quando se lê um texto literário, percebe-se que a linguagem usada pelo escritor ou pelo poeta é diferente daquela que se usa, cotidianamente, quando se fala ou mesmo quando se escreve.

A linguagem literária é elaborada de tal forma que chama a atenção do leitor para si mesma. Assim, não se trata apenas de comunicar uma ideia ou um acontecimento, mas de fazer com que a linguagem dê força ao que se pretende comunicar e, nesse processo, ela se destaque.

O escritor faz uso de diversos recursos de linguagem, objetivando que o leitor sinta um estranha-mento diante dela. Entre esses recursos estão, por exemplo, a inversão da ordem sintática da frase e a escolha de palavras, às vezes, típicas da linguagem literária e distantes da fala. Esse estranha-mento chama mais a atenção do leitor para aquilo que o escritor pretende dizer, além de mostrar o seu domínio da linguagem.

Denotação e conotação

Observe o quadro de René Magritte e responda às questões propostas:

MAGRITTE, René. La corde sensible. 1 óleo sobre tela: color.; (100 cm x 70 cm). Museu Magritte, Bruxelas.

1. Observado à distância, o quadro de Magritte representa algum objeto de forma precisa?

2. A imagem apresentada leva a fazer associações com outras imagens? Quais?

3. Analisando a obra de Magritte, pode-se inferir que:a) nessa obra predomina uma linguagem precisa, que não permite a multiplicidade de sentidos. b) os sentidos propostos são múltiplos e se estabelecem na interação com o leitor.

René Magritte (1898-1967) foi um

dos principais pinto-res do Surrealismo, movimento artístico

do início do século XX, que valorizava

o inconsciente. Sua obra propõe,

frequentemente, um jogo entre realidade

e ilusão.

Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários88

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A linguagem poética faz uso constante de elementos extraídos da retórica, que é uma arte ou uma técnica que tem a finalidade de ensinar as pessoas a falarem e a escreverem de tal forma que consigam persuadir e convencer os outros de seus argumentos. Para que isso ocorra, a retórica ensina, por exemplo, a usar a linguagem para a composição de imagens sedutoras, com efeitos sonoros que impressionam e cativam os ouvintes ou leitores.

Para criar essas imagens e recursos sonoros, os poetas usam as figuras de linguagem, que são formas consagradas pela tradição literária para expressar um pensamento a fim de torná-lo mais incisivo, tocante.

Metáfora

A metáfora é uma comparação por semelhança. O poeta designa um objeto ou uma qualidade por uma palavra que, na verdade, designa outro objeto ou qualidade. A relação entre esses objetos ou qualidades é sempre de semelhança.

No seguinte texto de Mario Quintana, essa aproximação entre elementos diversos fica evidente, pois o autor cria um paralelo entre os poemas e os pássaros:

Os poemas são pássaros que chegamnão se sabe de onde e pousamno livro que lês.Quando fechas o livro, eles alçam voocomo de um alçapão.Eles não têm pousonem porto;alimentam-se um instante em cadapar de mãos e partem.

no maravilhado espanto de saberesque o alimento deles já estava em ti...

QUINTANA, Mario. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005. p. 119.

De acordo com as relações de sentido estabelecidas, a linguagem pode ser classificada em deno-tativa ou conotativa.

A denotativa é aquela em que as palavras são usadas na forma dicionarizada, com o sentido delimitado pelo uso específico, técnico ou científico. A linguagem, nesse caso, visa a uma comunicação precisa e sem ambiguidades.

Já a conotativa, bastante usada na literatura, permite associações com coisas ou situações semelhantes.

Agora, pense na expressão “morrendo de fome” e observe estas duas situações:

Na linguagem denotativa, alguém, por um motivo qualquer, político, por exemplo, iniciou uma greve de fome e, por não comer, está morrendo de inanição. Refere-se, portanto, a uma situação real. Por esse motivo, ela é também chamada de referencial.

Na linguagem conotativa, seria uma pessoa que não tomou o café da manhã e por volta do horário do almoço está com muita fome, entretanto não está literalmente morrendo de fome. A linguagem conotativa é, portanto, figurada.

Figuras de linguagem

Conceito e

exemplos de

linguagem

@LIT937

Ensino Médio | Modular 9

LITERATURA BRASILEIRA

Ensino Médio | Modular 9

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Gregório de Matos (1636-1695) foi o

principal poeta do Barroco brasileiro – escola literária que

valorizava a retórica e a temática religiosa.

Sua obra, por retratar o cotidiano da socie-

dade baiana do século XVII, é um dos prin-cipais instrumentos

para o conhecimento do Brasil Colonial.

Na poesia, o uso de metáforas é muito comum. Gregório de Matos, poeta do século XVII, escreveu um poema em que ele alerta a esposa, Maria, sobre a necessidade de se aproveitar a vida antes que se aproxime da morte.

Lisonjeia outra vez impaciente a retenção de sua mesma desgraça, aconselhando a esposa neste regalado soneto

Discreta e formosíssima Maria,

Enquanto estamos vendo a qualquer hora

Em tuas faces a rosada Aurora,

Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:

Enquanto com gentil descortesia

O ar, que fresco Adônis te namora,

Te espalha a rica trança voadora,

Quando vem passear-te pela fria:

Goza, goza da flor da mocidade,

Que o tempo trota a toda ligeireza,

E imprime em toda a flor sua pisada.

Oh não aguardes, que a madura idade

Te converta em flor, essa beleza

Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.

MATOS, Gregório de. Obra completa. Rio de Janeiro: Record, 1992. p. 507.

Consciente de que o termo “gozar” significa, nesse contexto, aproveitar, discuta estas questões:

1. O que é “a flor da mocidade”?

2. O que o poeta quis dizer com “o tempo […] imprime em toda a flor sua pisada”? É uma metáfora? Justifique:

A metáfora, diferente da comparação, não apresenta um elemento linguístico que explicite essa aproximação, por isso, nos primeiros três versos, há uma metáfora, mas, no quarto e no quinto, há uma comparação.

Os poemas são pássaros que chegamnão se sabe de onde e pousam

no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam voocomo de um alçapão.

Gregório de

Matos: vida

e obra

@LIT958

Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários10

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Com base no conceito de metáfora, percebe-se que no rosto da Maria está a rosada aurora, que demonstra o frescor do dia e, por semelhança, a juventude da personagem, que deve aproveitar a vida, porque o tempo “trota” a toda ligeireza. Ora, sabe-se que o tempo passa e os animais, particularmente os cavalos, trotam. Então, por que motivo o poeta diz que o tempo trota? A ideia do poeta é demonstrar como o tempo passa rápido, semelhantemente ao animal em determinado ritmo.

Aliteração

É a repetição de consoantes, primordialmente no início das palavras, como ocorre no poema “Tecendo a manhã”, de João Cabral de Melo Neto:

Tecendo a manhã

Um galo soele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos out

tos de galo para que a manhã, desde uma tela tênue, se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, t

MELO NETO, João Cabral de. Obra completa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar,1994. p. 354.

A repetição constante da consoante “t” não se dá por acaso ou por mero exercício. Ela potencializa o conteúdo do poema, visto que, conforme se intensifica a repetição da consoante “t”, a manhã ganha corpo no poema.

Assonância

É a repetição de vogais em um verso ou frase. Observe a primeira estrofe do poema “Entre o ser e as coisas”, de Carlos Drummond de Andrade.

A repetição das vogais “o” e “a” produz, nesse caso, não só efeito sonoro, mas também um efeito semântico, pois o som “on” e “an” lembram o movimento da onda retratada no poema.

Entre o ser e as coisas Onda e amor, onde amor, ando indagandoao largo vento e à rocha imperativa,e a tudo me arremesso, nesse quandoamanhece frescor de coisa viva. [...]

ANDRADE, Carlos Drummond de. Obra completa. Rio de janeiro: Aguilar, 1973. p. 247.

Ensino Médio | Modular 11

LITERATURA BRASILEIRA

Ensino Médio | Modular 11

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Polissíndeto

Essa figura de linguagem caracteriza-se pelo emprego reiterado de conectivos em uma sequência coordenada, como na estrofe final do soneto “A um poeta”, de Olavo Bilac.

A um poetaLonge do estéril turbilhão da rua,Beneditino escreve! No aconchegoDo claustro, na paciência e no sossego,Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o empregoDo esforço: e trama viva se construa

Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplícioDo mestre. E natural, o efeito agrade,Sem lembrar os andaimes do edifício:

Arte pura, inimiga do artifício,É a força e a graça na simplicidade.

BILAC, Olavo. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1996. p. 268.

O tema do poema é o oficio do poeta, a dificuldade de escrever e como o artista deve esconder isso do leitor. O polissíndeto nesse caso intensifica, por meio da repetição, como é árduo o ato de escrever. Nota-se, portanto, que o uso da retórica por meio da figura de linguagem não é gratuito, mas potencializa o sentido daquilo que o poeta quer dizer.

Paronomásia

Consiste no uso de palavras com semelhança sonora, mas com diferentes sentidos. O padre Antônio Vieira, no “Sermão da Sexagésima”, falando sobre os pregadores do Evangelho,

afirma que: “Os de cá, achar-vos-ei com mais paço; os de lá, com mais passos” (VIEIRA, 1945, p. 2), ou seja, que alguns padres viajavam ao Oriente para levar a palavra do Senhor, daí terem muitos “passos”; enquanto outros ficavam somente nos palácios, representados no texto pela palavra “paço”, sinônimo de palácio.

O uso da paranomásia, um verdadeiro jogo de linguagem, cria uma tensão entre os significados das palavras que conduzem o ouvinte ou o leitor a uma reflexão sobre o tema tratado.

12 Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários

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O primeiro verso contém, inicialmente, uma elipse, “(seja) bendito”, e também um hipérbato, visto que na ordem direta ele seria escrito “Bendito o que na terra fez o fogo e o teto”. O motivo evidente da inversão sintática é chamar a atenção do leitor para a palavra “fogo”. O poeta pode, por exemplo, realizar a inversão da ordem direta para ter uma rima ou para manter a métrica.

Ironia

É a forma de exprimir algo, dizendo justamente o contrário daquilo que se pensa ou sente, com intenção, por exemplo, de se fazer uma crítica. Leia estes versos de um poema de Gregório de Matos:

Fingindo o poeta que acode pelas honras da cidade, entra a fazer justiça em seus moradores assinalando-lhes os vícios, em que alguns deles se depravarão

Uma cidade tão nobre,Uma gente tão honrada,veja-se um dia louvadadesde o mais rico ao mais pobre:

MATOS, Gregório de. Obra completa. Rio de Janeiro: Record, 1992. p. 34.

O poeta está criticando a cidade da Bahia – expressão do século XVI para designar a cidade que hoje se conhece por Salvador – e as pessoas que lá vivem. A ironia torna-se visível quando se compara o título do poema com o seu conteúdo e nota-se que o objetivo é criticar as pessoas e não elogiá-las. Observe que o poeta finge que vai elogiar, mas, na verdade, faz uma crítica.

Hipérbato

É a inversão da ordem direta de uma frase, que consiste na sequência: sujeito, verbo e predicado. Observe como essa figura ocorre no poema “Benedicite”, de Olavo Bilac:

Benedicite

E o que uniu à charrua o boi paciente e amigo;E o que encontrou a enxada; e o que do chão abjeto,

E o que o ferro forjou; e o piedoso arquiteto

E o que deu uma esmola ao primeiro mendigo;

E o que soltou ao mar a quilha, e ao vento o pano,E o que inventou o canto e o que criou a lira,E o que domou o raio e o que alçou o aeroplano...

Mas bendito entre os mais o que no dó profundo,Descobriu a Esperança, a divina mentira,Dando ao homem o dom de suportar o mundo!

BILAC, Olavo. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1996. p. 254.

Ensino Médio | Modular 13

LITERATURA BRASILEIRA

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1. No material de apoio, há uma cópia do seguinte poema para que você descubra novas palavras e novos sentidos. Busque-o e responda ao que se pede:

CAMPOS, Augusto de. Viva a vaia. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. s/p.

a) Quais novas palavras podem resultar das dobraduras propostas?

b) Lidas em conjunto, essas palavras podem criar um todo significativo. Que leitura você faz desse conjunto?

Antítese

Consiste na oposição de ideias, imagens ou sentimentos. A antítese, quando combina palavras de sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente, mas que, no contexto geral, reforçam a expressão, é conhecida por oxímoro ou paradoxismo.

O poeta Gregório de Matos apresenta um excelente exemplo do uso dessa figura de linguagem no soneto que tem por tema a transitoriedade.

Moraliza o poeta nos ocidentes do sol a inconstância dos bens do mundoNasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?

Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza.

A somente na inconstância.

MATOS, Gregório de. Obra completa. Rio de Janeiro: Record, 1992. p. 752.

As oposições entre nascer e morrer, alegria e tristeza caracterizam a antítese. Dessa forma, sempre que o poeta tentar definir algo por meio de ideias e imagens opostas está fazendo uso dessa figura.

Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários14

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Mor: maior. Soía: do

português arcaico, soer. Significa ter

costume, prática.

Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número

Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro

Bebeu

Cantou

Dançou

Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 214.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,

Que já coberto foi de neve fria,

E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía.

CAMÕES, Luís Vaz de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988. p. 270.

2. Faça uma comparação entre o poema da atividade anterior e a seguinte citação do poeta francês Mallarmé:

“A poesia se faz com palavras”

3. Agora, compare os poemas a seguir – um do século XVI e outro do XX – e depois responda ao que se pede:

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a) O texto de Camões organiza-se como um texto literário? Com base nos seus conhecimentos, justifique a sua resposta:

b) Observando o texto de Manuel Bandeira, pode-se dizer que se trata de um poema? Justifique sua resposta:

4. Toda segunda-feira, o escritor gaúcho Moacyr Scliar escrevia para a Folha de S.Paulo uma crônica ba-seada em uma notícia publicada no mesmo jornal. Leia o texto a seguir e assinale a opção correta:

A JAQUETA MÁGICA

De repente, um homem sorridente a deteve na rua e ofereceu sua jaqueta para que se sentisse melhor

Depois de um casamento malsucedido, precocemente

é que no fundo sentia-se muito angustiada.Voltava do trabalho para o pequeno apartamento em que agora

morava, comia alguma coisa e em seguida tinha de sair: não

por causa do perigo que isso representava: pouco lhe importava o risco de assalto, pelo menos representaria algo de novo em sua vida monótona.

E aí veio o inverno, e as noites geladas, mas mesmo assim saía para suas caminhadas. Numa noite, a temperatura caiu demais e ela, mal abrigada, começou a tremer de frio.

Avançava contra o vento, encolhida, sem olhar para os lados, quando de repente alguém a deteve: um homem jovem, sorridente, que a mirava, divertido.

"Dessa maneira você vai congelar", disse. E o que é que você tem com isso, ela ia perguntar, não sem irritação,

A atitude poderia ser considerada imprudente, mas que lhe importava a imprudência? Ela vestiu a jaqueta.

algum minúsculo alto-falante, vinha uma música que era suave, romântica. [...]

SCLIAR, Moacyr. A jaqueta mágica. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff3008201004.htm>. Acesso em: 24 ago. 2010.

sua jaqueta o acolhe. Pesquisadores

alterações emocionais e emitir mensagens de conforto para o usuário. (EQUILÍBRIO, 24 ago. 2010).

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a) O texto de Moacyr Scliar não é um texto literário porque foi publicado em um jornal, portanto não possui trabalho literário com a linguagem.

b) Ainda que seja publicado no jornal, o texto possui diversos elementos próprios da literariedade, como a repetição de termos, a pontuação expressiva, metáforas e inversões sintáticas.

c) Somente poemas possuem literariedade e podem ser considerados textos da esfera literária.

d) A linguagem literária deve necessariamente trabalhar com uma linguagem difícil que tenha como recurso as figuras de linguagem.

e) Nenhum texto publicado em jornal pode ser considerado literário, pois nessa esfera prima-se pela objetividade e neutralidade.

5. Você encontrou algum elemento típico da linguagem literária na crônica? Quais?

Leia o poema de Gregório de Matos e responda às questões 6 e 7:

Ao braço do mesmo menino quando apareceu O todo sem a parte não é todo, A parte sem o todo não é parte,

Não se diga, que é parte, sendo todo.

Em todo o sacramento está Deus todo,E todo assiste inteiro em qualquer parte,E feito em partes todo em toda a parte,

O braço de Jesus não seja parte,Pois que feito Jesus em partes todo,Assiste cada parte em sua parte.

Não se sabendo parte deste todo,Um braço, que lhe acharam, sendo parte,Nos disse as partes todas deste todo.

MATOS, Gregório de. Obra completa. Rio de Janeiro: Record, 1992. p. 67.

6. Assinale a alternativa correta quanto à figura de linguagem presente no poema:

a) Antítese. b) Aliteração.

c) Paranomásia. d) Polissíndeto.

e) Hipérbato.

7. Esse poema, de Gregório de Matos, foi escrito quando encontraram um braço da estátua do meni-no Jesus, que havia sido quebrada por um vândalo. Consciente dessa informação, reescreva com as suas palavras a primeira estrofe do poema.

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8. Leia atentamente o poema de José Paulo Paes e responda às questões:

Poéticaconciso? com sisoprolixo? pro lixo

PAES, José Paulo. Melhores poemas. São Paulo: Global, 1996. p. 162.

a) O poeta faz uso de que figura de linguagem?

b) Faça uma pesquisa em dicionários e explique o que significa a palavra “poética”, título do poema:

c) Em relação aos sentidos propostos no poema, é correto afirmar que:( ) quem escreve de forma concisa e lúcida tem o texto compreendido.( ) quem se expressa de forma complexa deve ter o texto descartado.( ) quem escreve com concisão deve ter o texto jogado no lixo.

9. Leia o fragmento do poema “Navio negreiro”, de Castro Alves, e responda às questões:Existe um povo que a bandeira emprestaP'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...E deixa-a transformar-se nessa festaEm manto impuro de bacante fria!...Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,Que impudente na gávea tripudia?Silêncio. Musa... chora, e chora tantoQue o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,Que a brisa do Brasil beija e balança,

E as promessas divinas da esperança...Tu que, da liberdade após a guerra,Foste hasteado dos heróis na lança,Antes te houvessem roto na batalha,Que servires a um povo de mortalha!...

ALVES, Castro. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1966. p. 250.

No verso “Que a brisa do Brasil beija e balança”: o poeta faz uso de que figura de linguagem? Com que finalidade?

10. (ENEM) Oximoro, ou paradoxismo, é uma figura de retórica em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão. (DICIONÁRIO Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.)

Considerando a definição apresentada, o fragmento poético da obra Cantares, de Hilda Hilst, pu-blicada em 2004, em que pode ser encontrada a referida figura de retórica é:

a) “Dos dois contemplo rigor e fixidez./Passado e sentimento/me contemplam” (p. 91).b) “De sol e lua/De fogo e vento/Te enlaço” (p. 101).c) “Areia, vou sorvendo/A água do teu rio” (p. 93).

d) “Ritualiza a matança/de quem só te deu vida./E me deixa viver/nessa que morre” (p. 62).e) “O bisturi e o verso./Dois instrumentos/entre as minhas mãos” (p. 95).

A infâmia e a cobardia

(covardia) refe-ridas no poema

remetem à escravidão

presente na sociedade

brasileira até os fins do

século XIX.

Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários18

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Além do critério de literariedade, mais conhecido, é necessário levar em consideração outros aspectos para avaliar se um texto pode ser classificado como literatura ou não.

Muitas vezes, um texto não possui um trabalho elaborado com a linguagem, mas pode ser considerado literário, como foi visto no poema, de Manuel Bandeira, tirado de uma “notícia de jornal”, por exemplo.

Para determinar se um texto é literário ou não, é preciso levar em conta o critério de produção e recepção e o critério histórico.

Um texto também é literário, quando o autor tem a intenção de escrever uma obra como literatura e o leitor o reconhece como tal.

É o que acontece quando se vai a uma livraria, por exemplo, e não se sabe se determinado livro é literário ou não. O primeiro passo é analisar a capa:

Se o autor decidiu que seu texto é um romance, um conto ou um ensaio, ele está produzindo texto literário e a editora e o público o estão reconhecendo como tal.

O seguinte poema de Augusto de Campo é um bom exemplo de como a produção e recepção podem dar ao texto o status de literatura. Observe:

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CAMPOS, Augusto de. Código. In: ______. Poesia 1949-1979. São Paulo: Editora do Autor, 1975. p. 209.

Mas, por que esse texto é um exemplo de texto literário?Porque, em algum momento, um grupo de artistas se organizou e decidiu produzir textos em que se explo-

rasse não só a linguagem (a literariedade), mas também a forma, o espaço da página, o aspecto sonoro, etc.

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Parede pintada em Århus, Dinamarca, pelo artista italiano que responde pelo pseudônimo Blu

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Ainda que no século XIX esse texto não fosse entendido como um poema, hoje ele o é, porque as pessoas que escrevem e aquelas que o leem reconhecem-no como tal.

Outros textos, ainda que não sejam imediatamente reconhecidos como literários, podem muitas vezes ter esse reconhecimento mais tarde. Esse é o critério histórico de definição, como aconteceu com a Carta de Pero Vaz de Caminha, que será estudada no próximo volume, em que o capitão do navio explica e descreve para o rei como foi o achamento da nova terra. Em 1500, esse texto não era literário, era informativo, mas hoje é entendido como a primeira produção literária nacional porque entrou para a história, influenciou vários outros escritos e a cultura nacional.

Como saber, então, se um texto é literário ou não?

É necessário levar em consideração diversos fatores: quem escreveu e com que intenção; quando escreveu e em que contexto foi produzido; como é lido e qual é a sua relevância para a produção cultural; se há algum trabalho com a matéria-prima da Literatura – a palavra –, isto é, se o texto possui literariedade, etc.

Assim, é a sociedade que indica se os textos são literários ou não, podendo mudar de opinião com o passar do tempo, pois um texto pode não ser considerado literário de imediato, mas ser entendido como tal depois de alguns anos. Esses critérios flexíveis de definição provêm da própria essência do objeto de estudo, pois a Literatura é uma realidade complexa, heterogênea e mutável, como o próprio homem.

Observe que essa possibilidade de mudança não deve ser entendida como um defeito, mas como um valor, à medida que aproxima a Literatura da própria condição humana.

1. No critério histórico, está previsto que obras, antes não ar-tísticas, possam ser vistas depois como tal. Pensando nisso, assinale as opções corretas sobre a imagem a seguir:

( ) O grafite representado é somente um ato de vandalismo contra a propriedade privada e não traz nenhuma men-sagem sobre a cultura.

( ) Os grafites podem ser considerados obras de arte quan-do são contratados por uma entidade, a fim de modificar a paisagem urbana e transmitir uma mensagem.

( ) Quando elaborados de forma criativa e com a intenção de transmitir uma ideia pelo autor, o grafite pode ser considerado uma obra de arte.

( ) Por não estarem presentes em museus, exposições ou afins, os grafites não podem ser vistos como obras de arte.

( ) O grafite surgiu como depredação do patrimônio, mas hoje é visto como manifestação cultural marginal.

Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários20

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Art Spiegelman (Estocolmo, Suécia; 15 de feve-reiro de 1948) é ilustrador, cartunista e autor de histórias em quadrinhos, estabelecido nos Esta-dos Unidos da América. Atuou durante a década de 1990 na produção de charges, ilustrações e capas para a revista novaiorquina The New Yorker. Duas de suas obras mais conhecidas são a semibiográfica Maus e a coletânea de tiras em quadrinhos À sombra das torres ausentes.

2. O artista americano Art Spiegelman foi agracia-do, em 1992, com o Pulitzer, premiação que tem a intenção de prestigiar as melhores obras literá-rias dos Estados Unidos, pela sua história em qua-drinhos denominada Maus. Essa foi a primeira vez que uma história em quadrinhos foi considerada uma obra de arte literária. Baseando-se nos seus conhecimentos sobre o gênero, em quais critérios esse texto poderia ser considerado literário? Justi-fique:

Origem da literatura

Essas e muitas outras perguntas surgem toda vez que o estudo da Li-teratura se inicia no Ensino Médio. Primeiro, é necessário quebrar alguns preconceitos e entender que a literatura está intimamente ligada à vontade que os seres humanos têm de se comunicar e de contar histórias. Esta nasce do mesmo desejo que os leva a falarem sobre acontecimentos do dia a dia para amigos e parentes, desabafarem sobre problemas ou, ainda, a se manifestarem contra algo que tenha lhes causado revolta.

Essa necessidade de comunicação é própria e exclusiva dos seres humanos. Nenhum outro animal é capaz de transmitir e receber informações de maneira

tão complexa e nem é capaz de aprender com uma experiência não vivida, acumulando conhecimentos de forma abstrata.

Narrando as suas experiências, dividem os seus conhecimentos e expressam a sua subjetividade, isto é, a sua forma de pensar e entender o mundo.

Desse modo, é possível entender que o germe da literatura está presente nas conversas e mensa-gens pelo Facebook, Orkut, Twitter, MSN, etc. porque, em todos esses eventos, os seres humanos são movidos pelo seu desejo de contar sobre si e sobre o que veem. Assim, postar fotos, relatar eventos importantes, contar sobre um fato marcante para amigos e escrever um romance têm muito em comum.

De onde vem a literatura? Por que as pessoas escrevem longos romances e poemas para falar sobre seus sen-timentos e suas experiências? Para que servem e por que esses textos devem ser lidos?

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Literatura e oralidade

Mas, então, quando surgiu a literatura? Os primeiros textos de caráter literário que se conhece são os mitos, que nada mais são do que

narrativas para tentar explicar como funcionava o mundo e quem era o ser humano. Há muitos anos, quando as pessoas se deparavam com eventos que não conseguiam explicar,

como as devastações, as chuvas, os relâmpagos, as pestes e até a prosperidade ou não de campos e rebanhos, criavam histórias para atribuir sentido ao que não tinha explicação.

Essas histórias são os chamados mitos, narrativas em que dados reais, dados inventados e crenças se misturam em histórias cheias de elementos sobrenaturais ou divinos que falaram sobre a comunidade, o homem e o mundo. Esses textos surgiram oralmente, contados de geração em geração.

Como histórias tão longas podiam ser memorizadas e transmitidas oralmente?

Os textos orais possuíam um ritmo próprio que funcionava como recurso mnemônico: o sistema é muito pare-cido com a maneira como são memorizadas as músicas ou as parlendas, como, por exemplo, “Batatinha quando nasce”, “Se essa rua fosse minha”, etc.

Outra técnica de memorização é o uso de epítetos – expressões que servem para caracterizar os personagens: Aquiles: pés de vento Agamenon: de vasto poder Ulisses: o que muito sofreuTroianos: domadores de cavalos

Os aedos – artistas que cantavam os poemas – repetiam versos inteiros. As frases eram armazenadas como pontos de apoio para que o artista ganhasse tempo de pensar no verso seguinte. Quando o poeta queria dizer, por exemplo, que o dia raiou, já tinha um belo verso preparado:

“Quando surgiu a Aurora de dedos róseos, filha da manhã”.

Ou quando queria introduzir um discurso direto utilizava uma fórmula, trocando apenas o nome do personagem:

“Em resposta disse-lhe o poderoso Agamenon/Em resposta disse-lhe Aquiles de pés velozes”.

Esses elementos (os epítetos, o ritmo, as fórmulas) estavam presentes nos textos orais e, consequentemente, foram transpostos para o registro escrito muitos anos depois.

Com o desenvolvimento de diversas tecnologias, essas histórias aparecem nos textos dos mais diferentes autores. Os detalhes e a composição desses mitos mudavam muito de uma região para outra, o que permanecia era a ideia central, chamada de mitema. Os personagens e o enredo central são tão fundamentais para a formação da cultura que estão presentes até hoje em diversos quadrinhos, filmes, pinturas e no imaginário de um modo geral.

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Além das referências a símbolos e personagens mitológicos, diversos autores usam a ideia de mito como mote para criar suas obras. É o que acontece, por exemplo, com Star Trek, Harry Potter e O senhor dos anéis. Nesses textos, encontram-se elementos mágicos e sobrenaturais que servem para criar uma genealogia e explicar a origem de eventos que influenciam a comunidade de um modo geral, sendo fundadores da cultura ali representada.

CANOVA, Antônio. Perseu com a cabeça de Medusa. 1800-1801. Museu do Vaticano, Vaticano.

A Medusa era uma das deusas do mundo subterrâneo que transformava em pedra aqueles que a olhassem diretamente. Foi decapitada por Perseu, que utilizou sua cabeça como escudo até oferecê-la à deusa Atena

MUNIZ, Vick. Medusa a partir de Caravaggio. 2009. 1 fotografia colorida: color.; 128,30 cm x 101,60 cm. In: ______. Obra

completa. 1987-2009. Rio de Janeiro: Capivara, 2009. p. 564.

Vick Muniz, artista brasileiro de renome internacional, faz recriações de obras com diversos materiais, como lixo, pedras

preciosas, etc.

FÚRIA de titãs. Direção de Louis Laterrier.

Reino Unido/Estados Unidos: Warner Bros,

2010. 1 DVD (118 min).

Esse filme foi ampla-mente divulgado no

cinema e reconta, li-vremente, a história de

Perseu e da Medusa

CARAVAGGIO, Michelangelo Merisi da. Medusa. 1598.

1 óleo sobre madeira: color.; 60 x 55 cm.

Galleria degli Uffizi, Firenze.

CELLINI, Benvenuto. Perseu com a cabeça

de Medusa. 1554. Praça da Senhoria, Florença.

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Existem muitas joias e peças

decorativas inspiradas na

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Jogos de computador, como

God of war, utilizam a Medusa como

personagem de suas tramas

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As referências (mera citação de personagem ou parte do enredo) e apropriações (uso do original em um novo contexto) do mito de Perseu e da Medusa, por exemplo, são muito comuns nas mais diversas áreas:

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1. A rua

A rua mastigaos homens: mandíbulasde asfalto, argamassa,cimento, pedra e aço.

A rua degluteos homens: e nutrecom eles seu sôfrego, omnívoro esôfago.

A rua digereos homens: mistériodos seus cabossubterrâneoscom cabos e canos.

A rua dejectaos homens: o poeta,o agiota, o larápio,o bêbado e o sábio.

ALMEIDA, Guilherme de. Os melhores poemas de Guilherme de Almeida. São Paulo: Global, 1993. p. 14.

O texto estrutura-se em linguagem conotativa e a figura de linguagem presente, na 3a. estrofe do poema é:

a) assonância. b) metáfora.

c) polissíndeto. d) paranomásia. e) aliteração.

2. O Círio de Nazaré

Na romaria de Nazaré, o melhor dia é a noite da transladação, diziam os namorados. Noite em que a Virgem de Nazaré saía do Instituto Gentil Bittencourt, um colégio de moças, para a Catedral na Cidade Velha, passando a procissão pelas três janelas da família Alcântara. Da velha e bela Sé, o Círio, na manhã seguinte, novamente passando pelos Alcântaras, levaria a santa na sua berlinda para a Basílica ainda e sempre em construção. [...]

JURANDIR, Dalcídio. Belém do grão Pará. Portugal: Europa- -América, 1979. p. 312.

No trecho Na passagem “passando a procissão pe-las três janelas da família Alcântara”, o autor utili-zou uma figura de linguagem que explora a sono-ridade. Valeu-se da:

a) aliteração.b) ironia.c) antítese.d) assonância.e) paranomásia.

3. Cuitelinho

Cheguei na beira do porto

onde as ondas se espaia.

As garça dá meia volta,

senta na beira da praia.

E o cuitelinho não gosta

que o botão de rosa caia.

Ai quando eu vim de minha terra,

despedi da parentaia.

Eu entrei no Mato Grosso,

dei em terras paraguaia.

Lá tinha revolução,

enfrentei fortes bataia.

A tua saudade corta

como aço de navaia.

O coração fica aflito,

bate uma a outra faia.

E os óio se enche d’água

que até a vista se atrapaia.

Fonte: Tema folclórico. Adaptação musical: Wagner Tiso e Milton Nascimento. Texto poético: Paulo Vanzolini e Antônio Xandó. In: NASCIMENTO, M. Milton Nascimento ao Vivo. São Paulo: Polygram, 1983.

Qual a figura de linguagem utilizada no verso “cheguei na beira do porto/onde as ondas se es-paia”?

a) Metáfora.b) Paranomásia.c) Aliteração. d) Assonância.e) Polissíndeto.

Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários24

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4. Afinal, o que faz um texto ser considerado lite-rário? Os textos podem ganhar esse status por vários motivos: ora porque há um trabalho sin-gular com a linguagem, ora porque o texto foi produzido em um momento histórico relevante, às vezes porque um grupo de críticos e analistas aceita uma nova forma escrita como literária, etc. Pensando nisso e considerando aspectos, como a intenção do autor e a composição do texto, assinale a opção que não contém um tex-to literário:

a) “Daí a pouco, em volta das bicas era um zun-zum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lava-vam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos.”

b) “O mineiro Mário Lúcio Mendes, 43, conhe-cido como Rambo, mora na Rocinha, favela de São Conrado, que, de acordo com o Censo de 2000 do IBGE, tem 56 338 habitantes. Sua caverna possui uma cama de casal, geladeira, fogão e um exaustor para que o ar circule ali dentro.”

c) “Dario vem apressado, guarda-chuva no bra-ço esquerdo. Assim que dobra a esquina, di-minui o passo até parar, encosta-se numa pa-rede. Por ela escorrega, senta-se na calçada, ainda úmida de chuva. Descansa na pedra o cachimbo.”

d) “A cachorra baleia estava para morrer. O pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avulta-vam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida.”

e) “Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considera-ções me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segun-da é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.”

5. (ENEM) Para o Mano Caetano

O que fazer do ouro de tolo

Quando um doce bardo brada a toda brida,

Em velas pandas, suas esquisitas rimas?

Geografia de verdades, Guanabaras postiças

Saudades banguelas, tropicais preguiças?

A boca cheia de dentes

De um implacável sorriso

Morre a cada instante

Que devora a voz do morto, e com isso,

Ressuscita vampira, sem o menor aviso

[...]

E eu soy lobo-bolo? lobo-bolo

Tipo pra rimar com ouro de tolo?

Oh, Narciso Peixe Ornamental!

Tease me, tease me outra vez 1

Ou em banto baiano

Ou em português de Portugal

De Natal

[...]

1 Tease me (caçoe de mim, importune-me).LOBÃO. Disponível em: http://vagalume.uol.com.br. Acesso em: 14 ago. 2009 (adaptado).

Na letra da canção apresentada, o compositor Lobão explora vários recursos da língua portu-guesa, a fim de conseguir efeitos estéticos ou de sentido. Nessa letra, o autor explora o extrato so-noro do idioma e o uso de termos coloquiais na seguinte passagem:

a) “Quando um doce bardo brada a toda brida” (v. 2)

b) “Em velas pandas, suas esquisitas rimas?” (v. 3)

c) “Que devora a voz do morto” (v. 9)

d) “lobo-bolo//Tipo pra rimar com ouro de tolo? (v. 11-12)

e) “Tease me, tease me outra vez” (v. 14)

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Ao ler um texto, a primeira observação que se faz relaciona-se à forma como ele se apresenta, isto é, o tipo de letra e a disposição gráfica das palavras na página ou na tela do computador. Pensando nisso, analise os seguintes textos e discuta as questões:

Texto 1

Notícia do Alto Sertão

Por trás do que lembro, ouvi de uma terra desertada,

mais que seca, calcinada.

De onde tudo fugia,

pedras e poucos homens

Lá o céu perdia as nuvens, derradeiras de suas aves; as árvores, a sombra, que nelas já não pousava.

Tudo o que não fugia, gaviões, urubus, plantas bravas, a terra devastada ainda mais fundo devastava.

MELO NETO, João Cabral de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 87.

verso

estrofe

Gêneros e elementos literários

2

26 Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários

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Texto 2

Vidas secasNa planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes

tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam

pouco, mas, como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira

bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apa-

receu longe, através dos galhos pelados da catinga rala.

Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto

e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada

numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho

e a cachorra Baleia iam atrás.

Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a cho-

rar, sentou-se no chão.

– Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.

Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno

esperneou acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu

algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou os

quatro cantos, zangado, praguejando baixo.

A catinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que

eram ossadas. O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.

– Anda, excomungado.

O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria res-

ponsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a

obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas

dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde. [...]

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 1994. p. 9-10.

1. Analisando primeiramente a disposição dos textos na página, qual deles está em verso e qual em prosa? Justifique.

2. Identifique as estrofes e os versos do poema e, na prosa, os parágrafos.

3. Os dois textos têm uma temática comum. Sobre o que eles falam?

4. Ainda que o tema seja comum, os meios para expor essas ideias são bem diferentes. Você consegue notar algumas diferenças? Quais?

Vidas secas:

análise da

obra

@LIT1472

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LITERATURA BRASILEIRA

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Verso e prosa

A forma gráfica em que os textos são dispostos permite que se diferencie o texto escrito em verso do texto escrito em prosa.

O primeiro texto foi escrito em versos. A palavra “verso” vem do latim versus, que significa linha, fileira. Assim, o texto em verso, obrigatoriamente, possui uma disposição gráfica em fileira, que não segue os limites das margens de uma página como ocorre na prosa.

O segundo texto, escrito em prosa, é o capítulo inicial do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos. Nele, não há preocupação com rimas ou sílabas poéticas. Assim, o corpo do texto segue as margens estipuladas para a página e as ideias são expressas em frases que constituem parágrafos.

Gêneros poéticos

Desde a Grécia Antiga, a poesia estava dividida em gêneros, conforme o tema que abordava e a linguagem que utilizava. Dessa forma, o poeta ao escrever seguia um conjunto de regras previamente estipulado para cada um dos gêneros literários.

Esse procedimento de dividir a produção artística em gêneros é também comum ao cinema. Observe que os filmes obedecem a uma classificação, por exemplo, aventura, drama, comédia, terror, policial, etc.

Épico

O gênero épico tem por tema as aventuras vividas pelos heróis de uma nação. Esses heróis são exaltados por sua inteligência ou por suas habilidades guerreiras, exemplos a serem seguidos. Os poemas do gênero épico possuem grande extensão e, devido ao tema tratado, apresentam uma linguagem sempre elevada. Por serem tradicionalmente cantados, os poemas épicos são divididos em cantos.

Qual é o tamanho de um verso?

O tamanho de um verso depende de vários fatores. Ele pode ter seu fluxo interrompido, por exem-plo, quando o poeta percebe que é possível criar uma rima (semelhança sonora entre as palavras).

Pode-se, então, dizer que o verso é uma linha de palavras que é interrompida quando o poeta cria um sistema de rimas ainda que o sentido da frase não esteja completo. O sentido se completará nos versos seguintes, que estarão encadeados. Esse fenômeno de encadeamento de ideias é denominado, nos estudos literários, de enjambement, palavra que vem da língua francesa e significa encadeamento.

Verso, estrofe

e suas

classificações

@LIT963

28 Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários

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Duas dessas histórias se perpetuaram e hoje são lidas, estudadas e viraram até filmes: a Ilíada e a Odisseia.

Acredita-se que o autor desses textos seja o poeta Homero. Contudo, não há certeza de sua existência e, por meio de estudos, hoje se crê que os poemas épicos Ilíada e Odisseia foram transpostos para a linguagem escrita por volta do século VII a.C. Por essa razão, esses poemas épicos são mesmo atribuídos a Homero.

Na Ilíada, é narrada uma parte da Guerra de Troia, que se iniciou com o rapto de Helena, esposa de Menelau, pelo príncipe troiano Paris. Essa grande ofensa ao chefe local fez com que os gregos se unissem em nome de sua honra e se deslocassem em naus até Troia. O núcleo da narrativa é uma batalha em que Aquiles manifesta sua ira após ter seu primo Pátroclo morto pelo príncipe troiano Heitor.

O retorno dos gregos, e particularmente de Ulisses, é narrado na Odisseia. Perdido no mar por vinte anos e vivendo aventuras fantásticas, Ulisses re-torna a sua casa na ilha grega de Ítaca e ainda é desafiado por uma série de homens que tentam lhe roubar a esposa Penélope.

Nos dois textos de Homero, percebe-se a constante presença dos deuses que atuam a favor e contra os gregos. Tal presença é uma das características mar-cantes dos poemas épicos ocidentais com repercussão, inclusive, em Os lusíadas, de Camões.

A poesia épica foi, durante a Antiguidade, instru-mento da paideia, a educação grega. As crianças e os jovens ouviam com atenção a narrativa para aprender como os heróis agiam diante dos perigos da guerra.

Na poesia épica, há sempre um narrador que relata a história na terceira pessoa e diversos personagens que a vivenciam.

Latin

Stoc

k/W

arne

r Bro

s/A

lbum

TROIA (Troy). Direção de Wolfgang Petersen. Estados Unidos: Warner Bros, 2004.

Esse filme de Hollywood se inspira livremente na Ilíada de Homero

Os lusíadas são um poema épico português do século XVI, que narra a viagem de navegação de Vasco da Gama às Índias. Os navegadores portugueses são apoiados pela deusa do amor, Vênus, e por Marte, deus da guerra. Contra eles, atua Netuno, deus dos mares, que se ofende ao ver seus domínios invadidos

Obra completa

Os lusíadas@LIT1366

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1. Este trecho, do capítulo XV da Ilíada, retrata o momento em que os gregos chegam a Troia e se dá o início da guerra. Leia-o em voz alta, observando-lhe o ritmo e a pontuação:

Aquivos não esperavam com vida escapar mas morrer ali mesmo;no coração dos Troianos a grata esperança aninhava-sede porem fogo aos navios e os fortes Acaios matarem.

Pôde Héctor o ínclito a popa tocar duma nau sulcadorabela e de rápido curso que tinha para ÍlionProtesilau sem dever de tornada contudo levá-loMuitas espadas vistosas munidas de punhos escuroscaem por terra saltando das mãos ou dos ombros robustosdos combatentes; no chão sangue negro abundante escorria.

aplustre agarrar. Para os Teucros virando-se brada:pugna uns aos outros.

Hoje nos dá Zeus um dia que todos os outros compensa;vamos tomar os navios que contra a vontade dos deuses

que sempre que desejava lutar junto às naus me retinhamnão consentindo tampouco me dessem auxílio os do povo.Se Zeus atroante porém nos turvou nesse tempo o intelecto

Disse e com mais ardimento os Troianos aos Dánaos atacam.

HOMERO. Ilíada. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Ediouro, 2009. p. 92.

2. De acordo com a sua leitura, o trecho aborda o quê?

O mesmo que aqueus e aquivos, gregos.

Navio de vela.Muito falado, famoso, celebrado.

Ornato da popa do navio.

Em latim, Troia.

O mesmo que troianos.

Luta, peleja, combate.

Gregos.

Gregos

1 E t t h

Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários30

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3. Nesse trecho, podem-se identificar duas vo-zes distintas, isto é, duas pessoas que falam. De quem são essas vozes? Assinale os trechos correspondentes a cada uma:

4. A Ilíada retrata a Guerra de Troia e a cultura de gregos e troianos. Sobre esse trecho, é cor-reto afirmar:

I. Morrer na batalha era uma glória para os guerreiros.

II. O andamento da guerra dependia da von-tade dos deuses.

III. Os gregos dominavam bem as técnicas de navegação e de construção de naus.

Está(ão) correta(s) a(s) opção(ões):

a) Somente I.

b) Somente II.

c) I e II.

d) II e III.

e) Todas.

5. É correto afirmar que o narrador (aedo) se po-siciona em relação aos eventos? Como? Expli-que retirando passagens do texto:

6. Sabendo-se que a Ilíada é uma narrativa gre-ga, qual é a intenção do narrador ao elogiar os guerreiros troianos?

7. Leia a definição de catarse e faça o que se pede:

(ss). [Do gr. kátharsis.] Substantivo feminino.

4. Teatrda tragédia clássica, conceituado por Aristóteles (v. aristotelismo), cujas situações dramáticas, de extrema

os sentimentos de terror e piedade dos espectadores, proporcionando--lhes o alívio, ou purgação, desses sentimentos.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3. ed. Curitiba: Positivo, 2004. p. 424.

Qual das passagens da Ilíada se pode dizer que possui um efeito catártico?

a) “Mui diferente certeza a cada um susten-tava: os Aquivos/não esperavam com vida escapar mas morrer ali mesmo;”

b) “Pôde Héctor o ínclito a popa tocar duma nau sulcadora/bela e de rápido curso que tinha para Ílion trazido/Protesilau sem de-ver de tornada contudo levá-lo”

c) “Se Zeus atroante porém nos turvou nesse tempo o intelecto/hoje é ele próprio que o manda e nos faz avançar para a luta.”

d) “no coração dos Troianos a grata esperan-ça aninhava-se/de porem fogo aos navios e os fortes Acaios matarem.”

e) “Muitas espadas vistosas munidas de pu-nhos escuros/caem por terra saltando das mãos ou dos ombros robustos/dos comba-tentes; no chão sangue negro abundante escorria.”

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Lírico

O gênero lírico, nascido com a literatura grega, originalmente era cantado. Durante a declamação, o poeta frequentemente tocava um instrumento musical, conhecido por lira. Daí o nome desse gênero literário.

Ao contrário do gênero épico, que tem por tema a guerra e os atos heroicos, o gênero lírico aborda sentimentos humanos, como o amor, a solidão, o medo, entre outros.

Na poesia lírica, encontra-se uma voz que se expressa em primeira pessoa. Essa voz é criada pelo poeta e não é necessariamente o próprio poeta, daí ser conhecida por “eu lírico”.

Observe este exemplo no seguinte poema de Safo, da ilha de Lesbos.A poeta grega Safo viveu na Grécia arcaica

(630 a.C.). Suas composições são tão belas que ela

foi considerada uma das deusas do Olimpo e um

dos grandes nomes da poesia

lírica universal.

Mais verde que uma erva

Igual aos deuses esse homem

me parece: diante de ti

sentado, e tão próximo, ouve

a doçura de tua voz,

e o teu riso claro e solto. Pobre

de mim: o coração me bate

de assustado. Num ápice te vejo

e a voz se me vai;

a língua paralisa; um arrepio

de fogo, fugaz e fino,

corre-me a carne; enevoados

os olhos; tontos os ouvidos.

O suor me toma, um tremor

me prende. Mais verde sou

do que uma erva – e de mim

não me parece a morte longe.

SAFO. Poemas. Tradução de Pedro Alvim. São Paulo: Ars Poética, 1992. p. 21

A expressão da subjetividade, na poesia lírica, é a manifestação dos sentimentos de tristeza, alegria, angústia, dor, etc., que são experimentados pelo “eu lírico”.

A expressão dos sentimentos é comum no gênero lírico. Observe que, no poema, a voz que fala, ou seja, o “eu lírico” criado pela poeta, manifesta dor pela pessoa amada que conversa com outro homem. A angústia e o medo da perda vão sendo expressos pelos sentidos. Conforme a amada, conversa com o homem que está sentado bem próximo dela, o “eu lírico” sente o coração bater assustado, a voz emudecer, os olhos se encherem de lágrimas – enevoados os olhos – e tontos os ouvidos. A intensa expressão faz com que a poesia lírica seja subjetiva e, portanto, apresentada primordialmente em primeira pessoa.

32 Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários

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É comum tam-bém textos de

outros gêneros literários em

prosa, como o romance, o conto e ainda a poesia

lírica, serem adaptados para o

gênero dramáti-co e encenados

em uma peça de teatro.

Dramático

A poesia dramática está diretamente relacionada à ideia de teatro. Contudo, é importante diferenciá-los. O teatro é o conjunto que envolve o texto, os atores com suas interpretações, o cenário, os figurinos, etc. Quando se isola o texto, fala-se de uma modalidade de composição poética que era apresentada ao povo por meio da encenação, mas que hoje se lê também em livros.

Esses textos dramáticos foram escritos predominantemente em verso até o século XVIII. A partir daí é que se tornou mais comum o texto sem metrificação ou rimas, caracterizando o texto em prosa.

No gênero dramático, de acordo com o tema, tem-se:

Tragédia: aborda temas elevados, como a traição, a vingança e a morte, e o efeito desejado é a catarse, ou seja, um sentimento de horror e piedade do espectador diante do destino, quase sempre, funesto do personagem.

Comédia: neste, o poeta procura despertar o riso nos espectadores por meio das ações dos personagens.

Leia o seguinte trecho da peça Auto da compadecida, de Ariano Suassuna, e observe a composição gráfica do texto, as rubricas (indicações do autor para o ator, sobre o cenário, a música, etc.):

PadreMeu Deus! Que terá sido isso? BispoO barulho era de tiro! Mulher, entrando, assombrada Valha-me Deus! Ai, meu marido de minha alma, vai morrer todo mundo agora. Socorro, Senhor Bispo. BispoQue há? Que é isso? Que barulho? MulherÉ Severino de Aracaju, que entrou na cidade com uma cabra e vem pra cá roubar a igreja. PadreAve-Maria! Valha-me Nossa Senhora!BispoQuem é Severino de Aracaju?SacristãoUm cangaceiro, um homem horrível.Bispo, à mulherChame a polícia. BispoCorreu?MulherEntão, informaram-me por onde ele vinha e saíram exatamente pelo outro lado.

SUASSUNA, Ariano. Auto da compadecida. Rio de Janeiro: Agir, 2000. p. 80-81.

Essa peça, de caráter cômico, se passa no Nordeste do Brasil e se utiliza do dialeto típico da região para compor os personagens, como se pode perceber pela transcrição das falas. Insere elementos do cordel, do Barroco, da cultura popular e religiosa para criar um quadro local que denuncie as mazelas daquele povo.

personagem

rubrica

fala

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(ENEM)

Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária entre si e o público a representação. A palavra vem do grego drao -nada à apresentação por atores em um palco, atuando e dialogando entre si. O texto dramático é complemen-

presença de personagens que devem estar ligados com lógica uns aos outros e à ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos dramáticos, maneiras de ser e de agir das personagens encadeadas

3) pela situação ou ambiente, que é o conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação; 4) pelo tema, ou seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real por meio da representação.

COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária

Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um espetáculo teatral, conclui-se que:

a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de ordem individual, pois não é possível sua concepção de forma coletiva.

b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido e construído pelo cenógrafo de modo autônomo e independente do tema da peça e do trabalho interpretativo dos atores.

c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais, como contos, lendas, ro-mances, poesias, crônicas, notícias, imagens e fragmentos textuais, entre outros.

d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação teatral, visto que o mais im-portante é a expressão verbal, base da comunicação cênica em toda a trajetória do teatro até os dias atuais.

e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico independem do processo de produção/recepção do espetáculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas diferentes, agregadas posterior-mente à cena teatral.

Metrificação

A poesia, em sua origem – na Antiguidade grega –, estava ligada à música. Os poetas, ao declama-rem um poema ao público, frequentemente tocavam um instrumento musical. Devido a isso, a poesia precisava ter musicalidade e ritmo, para ser literalmente cantada. Atualmente, tem-se por hábito ler um texto de maneira individualizada e em silêncio. Contudo, o ritmo ainda está presente na poesia e, para que possamos percebê-lo, faz-se necessário conhecer os recursos utilizados pelos poetas para criar o ritmo em seus poemas. O primeiro elemento é a métrica, que consiste em determinar um número específico de sílabas poéticas para compor um verso.

Essas sílabas poéticas são muito importantes para que o poeta imprima um ritmo para a leitura.

Exemplos de

metrificação

@LIT1178

34 Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários

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Ace

rvo

Icon

ogra

phia

Antônio Gonçalves Dias (1823-1864) foi o principal poeta da primeira geração romântica. Destacou-se pela intensa pro-dução de textos sobre o Brasil, exaltando a sua natureza e o sentimento patriótico.

I-Juca-Pirama

Se os três primeiros versos forem divididos segundo as regras das sílabas gramaticais, o primeiro verso terá seis sílabas; o segundo, cinco; e o terceiro; seis. Contudo, quando se pensa nas sílabas poéticas, há três versos com cinco sílabas. Para aprender a dividir o verso em sílabas poéticas, devem--se levar em conta duas regras:

1a. regra: para saber as sílabas poéticas, conta-se até a última sílaba tônica do verso.

Meu can-to de mor-te,guer-rei-ros ou-vi

sou fi-lho das sel-vas

Observe ainda que a metrificação é determinante para o ritmo do poema. No caso do fragmento do poema “I-Juca-Pirama”, além da 5.a sílaba poética, a 2.a sílaba poética também é acentuada. Chamamos as sílabas acentuadas de tônicas, em oposição às átonas, aquelas que não têm acento.

Da tribo pujante, Que agora anda errante

2a. regra: a contração de vogais, que ocorre quando uma vogal é absorvida por outra, é denominada sinalefa.

Que agora. ∪

Às vezes, pensa-se que ocorre uma sinalefa e, na verdade, a sílaba tônica impede que ela aconteça. Exempo: Eu era o seu guia – Não há sinalefa, visto que a tônica em “era” impede a junção das vogais.

Conhecendo a escansão

Escandir um verso significa contar as sílabas poéticas que ele contém. Mas, atenção, essas são diferentes das sílabas gramaticais.

Leia o fragmento do poema “I-Juca-Pirama” de Gonçalves Dias:

A sílaba acen-tuada é aquela

proferida com mais intensida-

de que as ou-tras. Ela possui

o acento tônico, também cha-

mado de acento de intensidade

ou prosódico. Porém, nem

sempre a sílaba tônica possui

acento gráfico.

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci;

Guerreiros, descendo

Da tribo tupi.

Da tribo pujante,

Que agora anda errante

Por fado inconstante,

Guerreiros, nasci;

Sou bravo, sou forte,

Sou filho do Norte;

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi.

DIAS, Gonçalves. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1998. p. 382.

Ensino Médio | Modular 35

LITERATURA BRASILEIRA

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Classificação de acordo com o número de

sílabas poéticas

O verso recebe uma denominação específica de acordo com o número de sílabas poéticas. As principais são:

Pentassílabo (redondilha menor) O verso de cinco sílabas é conhecido por pentassílabo ou redondilha menor. O poeta Tomas

Antônio Gonzaga usou esse tipo de verso na obra Marília de Dirceu, lira IV, para contar à Marília como se sentia diante dela.

Lira IV Marília, teus olhosSão réus, e culpados,Que sofra, e que beijeOs ferros pesadosDe injusto Senhor.

Marília, escutaUm triste Pastor.Mal vi o teu rosto,O sangue gelou-se,A língua prendeu-se,

Tremi, e mudou-seDas faces a cor.Marília, escutaUm triste Pastor.

Heptassílabo (redondilha maior)O verso de sete sílabas é conhecido por heptassílabo ou redondilha maior. Tomas Antônio Gonzaga

utilizou-o para descrever o Cupido, entidade mitológica que representa o amor, na lira II do livro Marília de Dirceu.

Lira IIPintam, Marília, os PoetasA um menino vendado,Com uma aljava de setas,Arco empunhado na mão;Ligeiras asas nos ombros,O tenro corpo despido,E de Amor, ou de CupidoSão os nomes, que lhe dão.

GONZAGA, Tomás Antônio. . Rio de Janeiro: Aguilar, 1996. p. 575.

GONZAGA, Tomás Antônio. . Rio de Janeiro: Aguilar, 1996. p. 578.

Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários36

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O verso decassílabo foi imortalizado na língua portuguesa por Luís Vaz de Camões em sua obra máxima – Os lusíadas –, na qual narra a viagem de Vasco da Gama às Índias.

Observe a estrofe em que se fala de um poema maior que a Ilíada, a Odisseia e a Eneida porque a história que será contada é para seu autor mais importante que todas elas.

Cessem do sábio Grego e do Troiano

Cale-se de Alexandro e de TrajanoA fama das vitórias que tiveram;Que eu canto o peito ilustre Lusitano,A quem Neptuno e Marte obedeceram:Cesse tudo o que a Musa antiga canta,Que outro valor mais alto se alevanta.

CAMÕE Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1988. p. 9.

Verso livreNa poesia moderna, elaborada principalmente a partir do século XIX, encontra-se o denominado

verso livre, por não possuir metrificação. Carlos Drummond de Andrade foi um dos poetas que melhor usou esse tipo de verso.

Decassílabo Um dos versos mais comuns em língua portuguesa é o verso de dez sílabas, chamado de decassí-

labo. Grande parte dos sonetos – poema composto de duas estrofes de quatro versos e duas de três e uma das formas poéticas mais desafiadoras para qualquer poeta – é primordialmente construído com versos decassílabos. Verifique essa característica no “Soneto da fidelidade” de Vinicius de Moraes.

De tudo ao meu amor serei atento

Que mesmo em face do maior encantoDele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momentoE em seu louvor hei de espalhar meu cantoE rir meu riso e derramar meu prantoAo seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procureQuem sabe a morte, angústia de quem vive

Que não seja imortal, posto que é chama

MORAES, Vinicius de. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1998. p. 183.

Latin

Stoc

k/SP

L/Pa

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ndm

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Vasco da Gama, 1497

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Observe as estrofes iniciais do poema “Nosso tempo”, escrito em versos livres:

Nosso tempoEste é tempo de partido,tempo de homens partidos. Em vão percorremos volumes,viajamos e nos colorimos.A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.As leis não bastam. Os lírios não nascemda lei. Meu nome é tumulto, e escreve-sena pedra.

Visito os fatos, não te encontro. Onde te ocultas, precária síntese,

dormindo acesa na varanda?

sobe ao ombro para contar-me a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro.

São tão fortes as coisas!Mas eu não sou as coisas e me revolto. Tenho palavras em mim buscando canal, são roucas e duras, irritadas, enérgicas, comprimidas há tanto tempo, perderam o sentido, apenas querem explodir.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1974. p.144.

Rimas

Ricas e pobresAs rimas são classificadas em ricas e pobres de acordo com a classe das palavras que rimam.

Nessa perspectiva, se um substantivo rima com outro substantivo (ouro – touro) a rima é pobre, mas, se um verbo rima com um substantivo, ela é considerada rica (fazia – vida). É comum os poetas usarem rimas ricas e pobres em um mesmo poema. Exemplo disso pode ser percebido no “Soneto da Fidelidade” de Vinicius de Moraes:

De tudo ao meu amor serei atento (adjetivo)Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto (advérbio)Que mesmo em face do maior encanto (substantivo)Dele se encante mais meu pensamento. (substantivo)

Quero vivê-lo em cada vão momento (substantivo)E em seu louvou hei de espalhar meu canto (substantivo)E rir meu riso e derramar meu pranto (substantivo)Ao seu pesar ou seu contentamento (substantivo)

rica rica

pobre pobre

Rimas:

e exemplos

@LIT956

Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários38

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Emparelhadas

As rimas emparelhadas são dispostas de forma sucessiva, como no poema “A valsa”, de Casimiro de Abreu:

Na valsaTão falsaCorriasFugiasArdenteContente

ABREU, Casimiro de. Obras. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940. p. 167.

Cruzadas

As cruzadas são as rimas que se alternam dentro de uma estrofe de tal forma que o primeiro verso rima com o terceiro; e o segundo, com o quarto, como no fragmento do poema “A germano Meireles”, de Antero de Quental:

Só males são reais, só dor existe:ia:

Em nada, um imaginar, o bem consiste,Anda o mal em cada hora e instante e dia.

QUENTAL, Antero de. Sonetos. Lisboa: INCM, 1994. p. 55.

Interpoladas

Já as rimas interpoladas rimam o primeiro verso com o quarto e o segundo com o terceiro, como nesta estrofe do soneto n.o 12, de Luís de Camões:

Busque Amor novas artes, novo engenho,Para matar-me, e novas esquivanças;Que não pode tirar-me as esperanças,Que mal me tirará o que eu não tenho

Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1988. p. 273.

InternasAs rimas são classificadas também conforme sua disposição nos poemas. Há as rimas internas,

como na primeira estrofe do poema “Canção”, de Gonçalves Dias:

Tenho uma harpa religiosa,Toda inteira fabricada de madeira preciosa sobre o Líbano cortada

DIAS, Gonçalves. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1998. p. 222.

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1. Analise a quarta parte do poema “I-Juca-Pirama”, de Gonçalves Dias, e responda às questões:

Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi:

Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi. Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci;

Sou bravo, sou forte,

Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi.

Já vi cruas brigas, De tribos imigas, E as duras fadigas Da guerra provei; Nas ondas mendaces Senti pelas faces Os silvos fugaces Dos ventos que amei.

Andei longes terras Lidei cruas guerras, Vaguei pelas serras Dos vis Aimorés; Vi lutas de bravos, Vi fortes — escravos! De estranhos ignavos Calcados aos pés.

E os campos talados, E os arcos quebrados, E os piagas coitados Já sem maracás; E os meigos cantores, Servindo a senhores, Que vinham traidores,

Aos golpes do imigo, Meu último amigo, Sem lar, sem abrigo Caiu junto a mi! Com plácido rosto, Sereno e composto, O acerbo desgosto Comigo sofri.

Meu pai a meu lado Já cego e quebrado, De penas ralado, Firmava-se em mi: Nós ambos, mesquinhos, Por ínvios caminhos, Cobertos d’espinhos Chegamos aqui!

O velho no entanto Sofrendo já tanto De fome e quebranto, Só qu’ria morrer! Não mais me contenho, Nas matas me embrenho, Das frechas que tenho Me quero valer.

I-Juca-Pirama

Que mente, falso.

Sons rápidos.

Intransitável.

Cruel, terrível.

Estranhos sem coragem, covardes.

Campos devasta-dos, saqueados.

Chefe espiritual dos indígenas, pajé.

Chocalho indígena.

Então, forasteiro, Caí prisioneiro De um troço guerreiro Com que me encontrei: O cru dessossego Do pai fraco e cego, Enquanto não chego

Eu era o seu guia Na noite sombria, A só alegria Que Deus lhe deixou: Em mim se apoiava,

Em mim descansava,

Ao velho coitado De penas ralado,Já cego e quebrado, Que resta? — Morrer. Enquanto descreve O giro tão breve Da vida que teve, Deixai-me viver!

Não vil, não ignavo, Mas forte, mas bravo, Serei vosso escravo: Aqui virei ter. Guerreiros, não coro Do pranto que choro: Se a vida deploro, Também sei morrer.

DIAS, Gonçalves. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1998. p. 382.

Fraco.

a) Faça a escansão da primeira estrofe, apontando as sílabas tônicas. Depois, leia novamente a estro-fe, dando ritmo para a leitura:

b) A que gênero pertence o poema “I-Juca-Pirama”, de Gonçalves Dias? Justifique sua resposta:

c) Na última estrofe, por qual motivo o herói I-Juca-Pirama chora?

Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários40

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Prosa de ficção

A prosa de ficção é uma modalidade de texto que se caracteriza, primordialmente, pela narrativa em linguagem não versificada, sem metrificação ou rimas. Essa proposição é importante, visto que o texto poético épico possui também um narrador que contará, por meio de cantos, metrificados e rimados, uma história.

A prosa de ficção, ou simplesmente prosa, teve sua ascensão no século XVIII. Nesse período, uma nova classe social – a burguesia – se formava, e os escritores perceberam a necessidade de retratá- -la em suas obras. Contudo, a vida desse grupo social, toda voltada para atividades comerciais e envolta no universo das cidades que se desenvolviam, era incompatível com os gêneros poéticos existentes. Não havia como retratar a vida de um burguês dentro do gênero épico. Daí a necessidade de uma nova linguagem, mais próxima da fala, mais comum e acessível aos ouvidos dos novos leitores que se formavam. A linguagem que conhecemos por prosaica.

A prosa de ficção está dividida em três grandes grupos: o romance, a novela e o conto.

Essa divisão se dá inicialmente pela extensão do tex-to. Assim, o romance possui maior extensão que a novela, a qual, por sua vez, é maior que o conto. Pode-se pensar também no número de personagens e de episódios que serão apresentados. No romance, texto de maior extensão e dividido frequentemente em capítulos, há maior número de personagens e de episódios.

Gêneros da prosa

No romance, a vida dos personagens é apresen-tada, frequentemente, na sua totalidade. Isso não significa que o narrador vá descrever detalhadamente cada um dos momentos da vida dos personagens, mas, sim, que, por meio de várias referências no texto, os leitores poderão visualizar o caráter deles.

A novela, uma forma muito utilizada no século XIX, mas hoje raramente publicada, tem o número de per-sonagens bastante reduzido em relação ao romance. No que diz respeito à ação, há poucos episódios devido à pequena extensão do texto. Um dos raros exemplos de novela, na literatura brasileira do século XX, é Um copo de cólera de Raduan Nassar, publicada em 1978.

O conto é uma forma de prosa bastante curta. Normalmente, tem poucos personagens e a narrativa envolve um único episódio. Essa forma narrativa ganhou destaque no século XIX com o escritor es-tadunidense Edgar Allan Poe, que escrevia contos policiais e de terror muito apreciados pelos leitores. Para Poe, um texto deveria ser curto ao ponto de poder ser lido na sua totalidade de uma só vez.

A crônica é outra forma de prosa muito ex-plorada pelos escritores. Nela, os acontecimentos políticos, sociais e mesmo particulares são desen-volvidos num texto de rápida leitura e de pequena extensão, que é veiculado por jornais, revistas e blogs. Às vezes, uma notícia de jornal, como um escândalo de corrupção envolvendo políticos, é explorada com traços literários por um cronista.

A extensão do conto pode ser tão reduzida ao ponto de criar outro gênero, o miniconto, que se relaciona à ideia de nanoarte. Por ser curtíssimo, o miniconto deixa para o leitor a tarefa de preen-cher os espaços vazios, ou seja, as elipses, da história que às vezes se limita a um diálogo. Observe o exemplo de Dalton Trevisan, um dos escritores brasileiros que mais tem explorado o miniconto:

Ele dá um, dois, três beijinhos. Ela suspirosa:Você é mais convincente amor, quando não fala.

TREVISAN, Dalton. 111 ais. Porto Alegre: L&PM, 2000. p. 71.

Ensino Médio | Modular 41

LITERATURA BRASILEIRA

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Elementos da narrativa

Os temas abordados pela prosa de ficção são os mais diversos. Nos primeiros romances escritos, havia uma busca de retratar a vida cotidiana da burguesia. Hoje, os escritores têm total liberdade para abordar tanto os temas baseados na realidade quanto os decorrentes da imaginação.

A prosa de ficção contém alguns elementos vinculados à narrativa que precisam ser mais profun-damente estudados.

Enredo

O enredo é a sucessão de fatos que constituem a ação. É a história que é contada pelo narrador. Deve apresentar começo, meio e fim. Não necessariamente nessa ordem. Às vezes, o narrador começa a contar a história de um personagem quando este vive um episódio marcante e, a partir daí, pode retomar outros episódios para que se possa melhor compreendê-lo.

Foco narrativo

O narrador pode contar sua história em primeira ou terceira pessoa. Na nar-rativa em primeira pessoa, há um narrador-personagem, ou seja, o narrador conta a história que ele mesmo viveu. Já na narrativa em terceira pessoa, o narrador, normalmente, é exterior à história e conhece absolutamente tudo, portanto é onisciente.

Tipos de personagem

Os personagens são classificados em planos e esféricos. Os planos não sofrem, durante a narrativa, alteração no seu caráter, na sua percepção de mundo. Já os personagens esféricos possuem maior complexidade psicoló-gica, pois vivenciam momentos de acentuada crise existencial.

Tempo

O tempo é também um elemento primordial na narrativa, visto que, por meio dele, o escritor organiza a narrativa. Neles, a sucessão dos episódios segue uma ordem cronológica precisa. Outra modalidade para a sucessão dos episódios ocorre com a inversão cronológica. Nesse caso, o narrador é livre para dispor a história que conta sem se limitar a uma ordem que implique começo, meio e fim.O tempo da prosa de ficção pode ser também estudado sob a:

Dimensão psicológica – sua medida está vinculada aos personagens e às suas experiências. É um tempo subjetivo que ocorre primordialmente na psique do personagem.

Dimensão cronológica – os fatos são ordenados e apresentados ao lei-tor de forma precisa, por meio de indicadores, como “mês de agosto”, “passaram-se sete anos”, etc.

Espaço

O espaço em que os personagens vivem a ação é de fundamental importân-cia. Às vezes, os escritores inserem os personagens em certos ambientes que refletem o caráter do próprio personagem. O espaço opera, então, como auxiliar na caracterização do personagem.

42 Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários

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O romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, publi-cado em 1900, conta a história de Bentinho, homem de boa condição econômica, que se casou com seu amor de infância, Capitu, e se considerou traído ao ponto de aban-doná-la e rejeitar o suposto filho. Esse livro é um verdadeiro enigma da literatura brasileira, pois, ao término da leitura, o leitor fica em dúvida se houve ou não traição. A dúvida é instituída porque o narrador conta sua história de um ponto de vista subjetivo.

Leia os textos I e II e responda às questões:

Texto I

Capítulo IDo título

Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo,

conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado,

interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.– Continue, disse eu acordando.– Já acabei, murmurou ele.– São muito bonitos.

"Dom Casmurro, domingo vou jantar com você." – "Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma

caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça."

Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o

por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver outro daqui até

pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.

Folh

aPre

ss/F

olha

Imag

em/R

osan

e M

arin

ho

Página inicial da primeira edição de Dom Casmurro, publicada no Rio de Janeiro, em 1900

Obra completa

Dom Casmurro@LIT832

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LITERATURA BRASILEIRA

43Ensino Médio | Modular

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Texto II

Capítulo IIDo livro

Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que me põem a pena na mão.

é pacata, com a exterior, que é ruidosa.

É o que vais entender, lendo.

Dom Casmurro

44 Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários

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1. No capítulo II, Dom Casmurro descreve sua casa como:

a) ambiente de pobreza e privação, cheio de móveis velhos, que carece de conforto mí-nimo para a sobrevivência da família.

b) mundo mágico, capaz de recuperar o en-cantamento do passado perdido durante o período de decadência da nobreza urbana portuguesa.

c) cena familiar, na qual o calor humano dos habitantes da casa ocupa o primeiro plano, compensando a frieza e a austeridade dos objetos antigos.

d) símbolo de um passado ilustre que, apesar de superado, ainda resiste à sua total dis-solução graças ao cuidado e ao asseio que a família dispensa à conservação da casa.

e) espaço que retoma os tempos da adoles-cência.

2. Assinale a alternativa incorreta:

a) O narrador Dom Casmurro é caracteriza-do como um homem fechado, apegado ao passado.

b) O foco narrativo está em primeira pessoa, o que atribui tom de veracidade ao relato do narrador.

c) Além de narrador, Dom Casmurro é tam-bém personagem da história.

d) O espaço da casa em que mora Dom Cas-murro revela um personagem apegado ao passado, visto que ele já adulto reconstruiu uma casa semelhante àquela em que viveu quando criança.

e) Dom Casmurro quer escrever o livro apenas para se distrair.

3. (FUVEST – SP) “O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui re-compor o que foi nem o que fui.” É o que diz o narrador no segundo capítulo do romance Dom Casmurro. Afinal, por que não teria ele alcançado o seu intento?

a) Pelas dificuldades inerentes à estrutura do romance, na recuperação de outros tem-pos.

b) Pelo receio de confessar suas fraquezas e a traição sofrida.

c) Porque era impossível recuperar o sentido daquele período, pois ele já não era a mes-ma pessoa.

d) Pela falta de bom senso e de clareza na apreensão das lembranças.

e) Porque o tempo, impiedoso, apaga todos os acontecimentos e transforma as pes-soas.

4. Com base nos capítulos, como você definiria o personagem-narrador, Bentinho?

5. Analise a seguinte passagem e marque a al-ternativa que designa corretamente a figura de linguagem utilizada:

Os amigos que me restam são de data re-cente; todos os antigos foram estudar a geo-logia dos campos-santos.

a) Ironia, já que pretende explicar que os ami-gos moram em lugares distantes e desa-gradáveis.

b) Aliteração, porque repete diversas vezes a consoante “r”, a fim de destacar a sua va-riante regional típica do interior do Brasil.

c) Eufemismo, pois pretende dizer que os amigos morreram e, para isso, usa uma ex-pressão mais leve e bem-humorada.

d) Paradoxo, uma vez que os seus amigos es-tão próximos fisicamente, mas eles pouco de falam.

e) Pleonasmo, com a repetição do termo “amigo”, cujo objetivo é ressaltar os laços afetivos e físicos entre eles.

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LITERATURA BRASILEIRA

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Ao estudar determinada área de conhecimento, questiona-se frequentemente se ela possui ou não um fim específico, uma utilidade. Essa questão é também comum aos estudos da Literatura.

O poeta latino Horácio (65 a.C.-8 d.C.) afirmou que a arte literária precisa ser útil e agradável. Assim, a Literatura que se constrói como objeto de arte deve ser útil ao permitir que o leitor desenvolva a sua percepção visual ou possa compreender os sentimentos que vivencia, próprios da condição hu-mana, e ser agradável ao proporcionar emoção e fazer fruir a imaginação no ato da leitura. Contudo, há pensadores, como o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), que acreditam que a arte tem um fim em si mesma. Para ele, a arte visa somente à fruição estética; portanto, ela não possui uma utilidade prática.

Os versos de Camões foram escritos no século XVI, mas são tão difundidos hoje que estão presentes em canções

populares, como ocorre na letra de Monte Castelo do grupo Legião

Urbana:

É só o amor, é só o amorQue conhece o que é verdade

O amor é bom, não quer o malNão sente inveja

Ou se envaidece...O amor é o fogo

Que arde sem se verÉ ferida que dóiE não se sente

É um contentamentoDescontente

É dor que desatina sem doer...

RUSSO, Renato. Monte Castelo. In: Legião Urbana. As quatro estações, 1989. 1 CD.

Para que seja possível desenvolver essas ideias, leia primeiro o poema de Luís Vaz de Camões e responda às questões:

Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;

É um andar solitário entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade

É servir a quem vence o vencedor,

É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade;

Se tão contrário a si é o mesmo amor?

CAMÕES, Luís Vaz de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988. p. 284.

Finalidade da arte?

Immanuel

Kant: vida e

obra

@LIT1245

Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários46

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1. Analise o poema e assinale a opção correta sobre o tema abordado:

a) O poema aborda a despedida do ser ama-do com a intenção de retratar uma situa-ção vivida por muitas pessoas.

b) O tema do poema é a dificuldade de amar, e o seu objetivo é mostrar como o amor não vale a pena.

c) O poema tem por objeto o amor, e sua in-tenção é definir esse sentimento humano.

d) O poema retrata a perda de uma pessoa que-rida e a dor que ela causa para diminuir as dores do homem.

e) O poema aborda diversos assuntos, em es-pecial as manifestações dos sentimentos humanos com a intenção de entendê-las.

2. Como o “eu lírico” define o amor? Justifique a sua resposta com passagens do texto:

3. Analisando o poema, é possível inferir que:

I. o amor deve ser evitado porque causa muito sofrimento.

II. o amor e a amizade são sentimentos que se relacionam.

III. o amor estabelece uma relação de depen-dência entre as pessoas que vivenciam esse sentimento.

Marque a alternativa correta:

a) I.

b) II.

c) I e II.

d) II e III.

e) Todas.

Agora, leia o poema de Alberto de Oliveira e responda às questões de 4 a 7:

Vaso chinês

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,

Casualmente, uma vez, de um perfumado

Contador sobre o mármor luzidio,

Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,

Nele pusera o coração doentio

Em rubras flores de um sutil lavrado,

Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,

Quem o sabe?... de um velho mandarim

Também lá estava a singular figura.

Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,

Sentia um não sei quê com aquele chim

De olhos cortados à feição de amêndoa.

OLIVEIRA, Alberto de. Vaso chinês. In: ______. Poesias completas. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1978. p. 177.

4. Alguns poemas exigem uma pesquisa dos ter-mos utilizados antes de iniciar a sua análise. Procure a definição dos seguintes termos:

Contador:

Luzidio:

Mármor:

Lavrado:

5. Qual é o assunto do poema?

a) Uma cena cotidiana entre um artista chinês e sua namorada.

b) A criação do próprio poema.

c) Um artista chinês que pintara um belo quadro.

d) O amor de um chinês.

e) Um vaso chinês.

Chim: nesse

caso, faz referên-

cia ao chinês repre-

sentado no vaso.

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LITERATURA BRASILEIRA

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Texto para as questões 1 a 3:

Sonata para ir à Lua

Desnudo já me dou de mim doendona doação das folhas da florestaque vão caindo sem saber-se sendopedaços de nós na noite deserta

A lua imponderável vai ardendocúmplice em nossa luz de fogo e festaMeus braços são dois galhos te dizendoque o forte às vezes treme em sua aresta

Esta outra face frágil de aparênciaque só aos puros é dado conhecerno abraço da paixão e sua ardência

Mesmo cego de mim eu pude vere sentir no teu beijo a clara essênciaque faz do nosso amor raro prazer

BEÇA, Aníbal. Diponível em: <http://www.revista.agulha.nom.br/abeca.html>/ Acesso em: 30 nov. 2010.

1. O texto, quanto à forma, deve ser classificado como:

a) epopeia.

b) soneto.

c) drama.

d) prosa.

e) conto.

2. O texto é exemplo de gênero:

a) épico.

b) dramático.

c) romance.

d) conto.

e) lírico.

3. Na primeira estrofe, as rimas podem ser classifi-cadas como:

a) ricas e pobres.

b) internas.

c) emparelhadas.

d) cruzadas.

e) interpoladas.

6. Sobre o poema, é correto afirmar:

I. Posiciona o vaso chinês sobre o mármore de um contador, entre um leque e um ren-dado.

II. O vaso retrata a cena de um chinês apaixo-nado pelos olhos de amêndoa da sua namo-rada.

III. O vaso foi pintado por um chinês apaixo-nado que retratou o seu amor por meio de flores vermelhas.

IV. O vaso tem o desenho de flores vermelhas e de um mandarim com olhos cortados que parecem amêndoas.

Estão corretas as opções:

a) I e II.

b) I, III e IV.

c) II, III e IV.

d) III e IV.

e) Todas.

7. Comparando o poema de Camões e o de Alberto de Oliveira, qual é a diferença quanto à intenção? A finalidade da poesia é a mesma para os dois? Justifique:

Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários48

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4. Velho tema

V

Alma serena e casta, que eu persigoCom o meu sonho de amor e de pecado;Abençoado seja, abençoadoO rigor que te salva e é meu castigo.

Assim desvies sempre do meu ladoOs teus olhos; nem ouças o que eu digo;E assim possa morrer, morrer comigoEsse amor criminoso e condenado.

Sê sempre pura! Eu com denodo enjeitoUma ventura obtida com teu dano,Bem meu que de teus males fosse feito.

Assim penso, assim quero, assim me enganoComo se não sentisse que em meu peitoPulsa o covarde coração humano.

CARVALHO, Vicente. Disponível em: <http://pt.poesia.wikia.com/wiki/Velho_Tema:V-Alma_serena_e_casta,_que_eu_per-sigo...>. Acesso em: 30 nov. 2010.

Esse soneto pertence ao gênero:

a) épico. b) lírico.

c) dramático. d) conto.

e) romance.

5. (ENEM)

A velha Totonha de quando em vez batia no enge-nho. E era um acontecimento para a meninada... Que talento ela possuía para contar as suas histó-rias, com um jeito admirável de falar em nome de todos os personagens, sem nenhum dente na boca, e com uma voz que dava todos os tons às pala-vras! Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. E muito da vida, com as suas maldades e as suas grandezas, a gente encontrava naqueles heróis e naqueles intrigantes, que eram sempre castigados com mortes horríveis! O que fa-zia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela punha nos seus descritivos. Quando ela queria pintar um reino era como se estivesse falando dum engenho fabuloso. Os rios e florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito com a Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco.

REGO, José Lins do. Menino de engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980. p. 49-51. (Adaptação).

Na construção da personagem “velha Totonha”, é possível identificar traços que revelam marcas do processo de colonização e de civilização do país. Considerando o texto acima, infere-se que a velha Totonha:

a) tira o seu sustento da produção da literatura, apesar de suas condições de vida e de traba-lho, que denotam que ela enfrenta situação econômica muito adversa.

b) compõe, em suas histórias, narrativas épicas e realistas da história do país colonizado, livres da influência de temas e modelos não repre-sentativos da realidade nacional.

c) retrata, na constituição do espaço dos contos, a civilização urbana europeia em concomitân-cia com a representação literária de engenhos, rios e florestas do Brasil.

d) aproxima-se, ao incluir elementos fabulosos nos contos, do próprio romancista, o qual pre-tende retratar a realidade brasileira de forma tão grandiosa quanto à europeia.

e) imprime marcas da realidade local a suas narrati-vas, que têm como modelo e origem as fontes da literatura e da cultura europeia universalizada.

6. Assinale a opção em que o texto literário rompe com o conceito tradicional de poesia como um texto organizado em estrofes e versos:

a) “– Qué apanhá sordado? – O quê? – Qué apanhá? Pernas e cabeças na calçada.”

Andrade, Oswald de. Pau-Brasil. Rio de Janeiro: Globo, 23. p. 3.

b) “De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento.”

MORAES, Vinicius de. Poesia completa e prosa. Rio de Ja-neiro: Nova Aguilar, 2004. p. 85.

c) “Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem dor.”

CAMÕES, Luis de. Sonetos. São Paulo: Ateliê, 1998. p. 42.

d) “Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado;

De tosco trato, d’expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado.”

GONZAGA, Tomás Antônio. Disponível: <http://www.revis-ta.agulha.nom.br/tomaz1.html>. Acesso em: 30 nov. 2010.

e) “Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido,

Porque quanto mais tenho delinquido, Vos tendes a perdoar mais empenhado.”

MATOS, Gregório de. Melhores poemas de Gregório de Matos. São Paulo: Global, 1996. p. 30.

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LITERATURA BRASILEIRA

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7. (PUCPR)

Considere as assertivas sobre Dom Casmurro, de Machado de Assis:

I. O romance faz parte da chamada literatura realista machadiana.

II. O adultério de Capitu tem sido colocado em dú-vida também em função da construção do tex-to, que permite a possibilidade de outra leitura.

III. Publicado em 1900, o romance se filia a uma temática comum à época: o adultério feminino.

IV. O fato de ser narrado em terceira pessoa permite que Bentinho crie a dúvida quanto à exatidão de suas lembranças.

V. A duplicidade, encontrada na leitura dessa obra, é uma constante na obra machadiana.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) Somente as assertivas I, II e III são verdadeiras.

b) Somente as assertivas I e V são verdadeiras.

c) Somente a assertiva IV é falsa.

d) Somente as assertivas II e V são falsas.

e) Somente a assertiva IV é falsa.

8. (PUCPR)

Leia o trecho abaixo da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. Em seguida considere as as-sertivas:.

Capítulo II – A denúncia[(...])

– Mas, Sr. José Dias, tenho visto os pequenos brincando, e nunca vi nada que faça desconfiar.Basta a idade; Bentinho mal tem quinze anos. Capitu fez quatorze a semana passada; são dois crian-çolas. Não se esqueça que foram criados juntos, desde aquela grande enchente, há dez anos, em que a família Pádua perdeu tanta coisa; daí vieram as nossas relações. Pois eu hei de crer?. . . Mano Cosme, você que acha? Tio Cosme respondeu com um "Ora!" que, traduzido em vulgar, queria dizer:

"São imaginações do José Dias os pequenos divertem-se, eu divirto-me; onde está o gamão?"

– Sim, creio que o senhor está enganado.– Pode ser, minha senhora. Oxalá tenham

razão; mas creia que não falei senão depois de muito examinar...

– Em todo caso, vai sendo tempo, interrompeu minha mãe; vou tratar de metê-lo no seminário quanto antes.

I. Esse trecho deixa clara a situação de José Dias na narrativa, pois foi ele quem atrapa-lhou todo o namoro de Bentinho e Capitu.

II. Segundo o texto, a família de Capitu, como era pobre, incentivava o namoro dos jovens como uma possibilidade de ascensão social.

III. Depois do dia lembrado no capítulo 2, Bentinho foi para o seminário, sem questionar.

IV. Tio Cosme é caracterizado como alguém inte-ressado pelos acontecimentos que o rodeiam.

V. A ideia da ida de Bentinho para o seminário surgiu nesse momento.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) Somente as assertivas I, II e III são verdadeiras.

b) Somente as assertivas I e V são verdadeiras.

c) Todas as assertivas são falsas.

d) Somente as assertivas II e V são falsas.

e) Somente a assertiva V é falsa.

9. (UERN)À procura de Paula

Eu e você, no terraço Itália, 7 de julho de 1994, São Paulo.Eu, europeu, estava passando alguns dias no Brasil.Você, brasileira, estava promovendo uma marca de whisky[...].Eu e você, no dia seguinte, passamos algumas horas no Parque do Ibirapuera.Eu, 23 anos.Você, 18.Você me deu seu telefone.Eu, infelizmente, perdi.Eu, só após longos anos, pude fazer este anúncio.Você, mande sua foto dizendo o nome do hotel em que me hospedei, para a Caixa Postal 12.986, CEP 04010-970 – São Paulo – SPEu esperando você.

(Folha de S.Paulo, 25 de fev.ereiro, 1999.)

Tendo em vista o propósito comunicacional, o produtor do texto pode variar o estilo, a forma composicional. Essa variação pode ser percebida em textos como “À procura de Paula”, que, mes-mo sendo classificado como do gênero anúncio, se constitui sob a forma de um(a):

a) Romance.

b) Miniconto.

c) Notícia.

d) e-mail.

Introdução ao estudo da Literatura; Gêneros e elementos literários50

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-------- corte

______ dobra

Material de apoio

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Ensino Médio | Modular 53

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LITERATURA BRASILEIRA

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Ensino Médio | Modular 55

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LITERATURA BRASILEIRA

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