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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

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GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁSEED - SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃOUEM - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

FECILCAM - FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃOP D E - PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

Caderno Pedagógico

EDSON MARTINS2010

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ESTADO DO

PARANÁ

Edson Martins

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL NUMA

PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO O QUOTIDIANO

SOCIAL.

Campo Mourão

2010

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ESTADO DO

PARANÁ

Edson Martins

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL

NUMA PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO

O QUOTIDIANO SOCIAL.

Campo Mourão

2010

Material Didático - Pedagógico do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), elaborado sob a orientação da Profª. Ms. Adriana Delmira Mendes Polato da Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão para a Sec re ta r i a de Es tado da Educação do Paraná.

SUMÁRIO

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Texto 1 – Maria Dusá Lindolfo Rocha 10

Texto 2 – Meninos Carvoeiros Manuel Bandeira 16

Texto 3 – A canção do africano Castro Alves 21

Texto 4 – A escrava Isaura Bernardo Guimarães 24

Texto 5 – O enfermeiro Machado de Assis 27

Texto 6 – Eu, etiqueta Carlos Drummond de Andrade 35

Texto 7 – O ciclista Dalton Trevisan 40

Texto 8 – Otelo William Shakespeare 43

Texto 9 – Bom-Crioulo Adolfo Caminha 48

Texto 10 – Mulher pra mim é minha vó Ziraldo 54

Texto 11 – A velhinha contrabandista Sérgio Porto 56

Texto 12 – Poema tirado de uma notícia de jornal Manuel Bandeira 60

Texto 13 – A descoberta da América pelos turcos Jorge Amado 62

Texto 14 – Menininha Bonita do Chapéu de Fitas Edson Martins 66

APRESENTAÇÃO

Os textos que integram a presente coletânea, foram criteriosamente selecionados, resultando neste caderno pedagógico, com o qual cumpre-se um dos requisitos para fins de titulação como professor participante do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, ofertado pela Secretaria de Estado da Educação e Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, e Ensino Superior do Governo do Estado do Paraná.

Mantendo estrita sintonia com o Projeto de Implementação Pedagógica na Escola – Literatura e gêneros discursivos da esfera legal numa perspectiva relacional-dialógica – a ser desenvolvido em escola de ensino médio, o caderno foi estruturado com textos das várias espécies dos gêneros literários clássicos: lírico, narrativo e dramático. Relacionados e dialogando com estes textos, encontram-se as leis, cuja abordagem, a tessitura dos textos literários escolhidos ensejam. Assim, o texto literário é apresentado para fins de leitura, análise, interpretação, enfim, exploração a critério do professor, e na sequência, o texto do gênero discursivo da esfera legal é citado, objetivando estabelecer uma perspectiva relacional-dialógica. A concepção bakhtiniana de gênero discursivo portanto, direcionou a estruturação deste Caderno Pedagógico, mantendo um estreito liame com o conteúdo do Projeto de Intervenção a ser implementado.

Os gêneros discursivos formam um imenso mosaico, através do qual, pode-se levar o estudante a extrair uma gama de informações que lhes serão úteis para a vida toda. O despertar de uma cidadania participativa, estabelecida em bases sólidas, requer naturalmente, o conhecimento indispensável para a ação. O universo dos gêneros discursivos oferece a oportunidade de se adquirir conhecimentos, que em ato contínuo, levam à comparação, à reflexão, à análise de que a ficção bebe, em maior ou menor proporção, na fonte da realidade do quotidiano humano. Essa realidade é reconstruída nas obras literárias, a partir da interpretação dos autores de poemas, romances, novelas, contos, crônicas, tragédias, comédias, dramas e outras espécies dos gêneros literários clássicos (lírico, narrativo e dramático), resultando nas obras de ficção. A relação dialógica entre os gêneros discursivos, desperta no estudante a percepção para os diferentes empregos das palavras, de acordo com os enunciados que se deseja construir, considerando-se sempre os interlocutores e as esferas de circulação dos textos que conterão tais enunciados.

É no Ensino Médio que o indivíduo inicia o exercício de sua cidadania de fato, através de instrumentos como o voto, com o qual, assim como qualquer adulto, escolherá seus representantes nas esferas municipal, estadual e federal, nos poderes executivo e legislativo.

Dessa clientela, sairão, num curto espaço de tempo, os novos representantes dos poderes legalmente constituídos.

O contato com gêneros discursivos da esfera legal contribui para a formação crítica dos adolescentes, preparando-os para o exercício de uma cidadania plena.

Textos normativos (leis) trazem em seu bojo, o essencial para a adequada convivência social. Assim sendo, conhecê-los, compreendê-los e adquirir noções de onde e como encontrá-los, é indispensável.

Não basta, pois, ensinar direitos e deveres ao estudante do Ensino Médio. Nesta fase da vida do estudante, faz-se mister que o mesmo adquira noções quanto ao alicerce legal dos seus direitos e igualmente dos seus deveres. Raros são os estudantes do Ensino Médio, que ao concluir seus estudos básicos, são capazes de afirmar que em algum momento manusearam uma Constituição Federal, a lei maior do seu país, ou tiveram contato com algum gênero discursivo da esfera legal. Some-se a isso, o lamentável fato de que, se a um aluno do ensino médio for solicitado que enumere uma lista básica de direitos e deveres de um cidadão ou cidadã, ele certamente o fará, todavia sem conseguir dizer onde estaria o alicerce legal para se exigir o cumprimento desses direitos e deveres citados.

Entretanto, esse mesmo estudante encontra-se inserido num contexto social, onde os meios de comunicação noticiam ocorrências que o surpreende, choca, causa perplexidade e que, reiteradas vezes, são protagonizadas por adolescentes, ou pessoas muito jovens.

Infração aos direitos da pessoa humana, em nossos dias, é fato corriqueiro, em alguns casos, até já banalizado. As diversas espécies dos gêneros literários clássicos (lírico, narrativo e dramático),

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não raro, apresentam em tom de denúncia, as mais diversas mazelas da sociedade, dando testemunho do comprometimento da literatura, enquanto arte, com a realidade. Oportuna pois, a remissão a normas legais relacionadas a temas artisticamente aludidos em romances, novelas, contos, crônicas, poemas, tragédias, comédias, dramas e outras espécies dos gêneros literários que ocupam espaço nas aulas de literatura.

A literatura de um povo enquanto arte, reflete sua cultura, em toda sua riqueza e aspectos sociais, incluídos aqui, os aspectos negativos.

O papel humanizador da literatura em todo e qualquer tempo, é fato. Para Antônio Cândido, crítico literário brasileiro de renome internacional, a literatura

desempenha um papel humanizador, exatamente por não exercer uma função doutrinadora, onde a seleção de ideias busca disseminar verdades que adquirem um valor dogmático. A literatura humaniza, na medida em que revela o ser humano em sua essência. Um ser humano que transportado para o texto literário, apresenta-se revestido de qualidades e defeitos, testemunha valores e contravalores, sacia-se através de ações que exaltam o bem, contudo também sente necessidade de beber na sedutora taça do mal, pois assim, entre o surpreendente e o estarrecedor, entre o reto e o tortuoso, transita o gênero humano. Assim sendo, a literatura não se resume ao enfoque do que se descortina como belo e agradável, embrenhando-se na selva inóspita da vida, despertando a reflexão, contribuindo com a humanização da única criatura que pode aproveitar a arte literária em toda a sua riqueza: a pessoa humana, sempre tão frágil e concomitantemente tão complexa.

O gênero literário clássico lírico, numa rápida ilustração, que tem na poesia a sua mais evidente concretização, por mais que admita uma gama significativa de palavras usadas no sentido conotativo, despertando variadas interpretações de acordo com o grau de sensibilidade do interlocutor, em que pese ser um dos mais antigos em utilização para o homem extravasar suas emoções, nem por isso algum dia abriu mão da influência da realidade na composição de suas diversas espécies. Isso comprova o comprometimento da arte literária com o registro da realidade e o seu caráter humanizador.

Que o brasileiro ainda lê pouco, não é nenhuma descoberta recente. Porém, têm pouca serventia os comentários lamuriosos, a respeito de uma realidade que requer atitudes para revertê-la. Ações para transformação do quadro estatístico, que constata que após uma soma de horas considerável nos bancos escolares, estudantes não incorporaram o indispensável hábito da leitura, além de necessárias, são urgentes. Partindo-se da obra literária e seu tecido repleto de conteúdos polêmicos, instigantes, tramas embasadas em mistérios, humor, fantasias, realismo fantástico, surrealismo, é possível se estabelecer uma ponte temática para o contato do estudante com o gênero discursivo lei. Essa ponte deve priorizar os textos das leis cujo conhecimento elementar é imperioso a todo e qualquer cidadão, já que norteiam a ação de cada um em seu dia a dia, na relação com os demais.

O texto literário é materializado a partir das muitas vozes nele contidas. A lei, pode ser vista como enunciado transliterário. .

A Constituição Federal, especialmente em seu artigo 5º, que contempla os direitos e garantias individuais dos cidadãos; o Código do Consumidor; o Estatuto da Criança e Adolescente e outras coletâneas normativas, sob as quais cidadãos e cidadãs, de qualquer idade, encontram-se submetidos(as), podem e devem ser abordados enquanto gêneros que circulam na sociedade e também a partir da motivação temática contida nos textos dos gêneros literários lírico, narrativo e dramático, levando o estudante do Ensino Médio a um contato e compreensão, ainda que elementares, com textos normativos essenciais, no que concerne ao conhecimento para fins de vivência numa sociedade organizada, e num estado democrático de direito. Evidentemente, essas leis, expressas através de enunciados escritos, traduzirão, como não poderia deixar de ser, uma ideologia, em razão do(s) seu(s) autor(es), objetivos e contexto social.

Necessário se faz, pois: - promover a leitura responsiva do gênero discursivo lei, compreendendo as relações

dialógicas entre o mesmo e os temas suscitados a partir da abordagem das várias espécies dos gêneros literários lírico, narrativo e dramático, objetos de estudo na disciplina de literatura no Ensino Médio.

- assegurar ao estudante o conhecimento elementar de normas legais, que contribuam para com a ampliação de seus horizontes, no que se refere a uma visão concreta de cidadania.

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- oportunizar a estudantes do Ensino Médio, o conhecimento do gênero discursivo lei, através da leitura, análise estrutural e interpretativa de textos previamente selecionados, para que possam refletir sobre sua esfera de produção e circulação social.

- levar o aluno a perceber que o conteúdo do artigo 5º da Constituição Federal brasileira, o qual versa sobre os direitos e garantias individuais dos cidadãos, contempla em essência, os direitos humanos.

- estimular o estudante do Ensino Médio, a proceder a leitura de leis, numa perspectiva de formação para o exercício pleno da cidadania, percebendo que os mesmos temas contemplados nas leis, permeiam na sociedade e são também explicitados em outros gêneros discursivos. - despertar no aluno a percepção do caráter do texto literário artístico enquanto instrumento de denúncia, questionamento, resultado de estreito liame com a realidade social.

- assegurar o exercício da oralidade, incentivando a participação nos debates dos temas abordados, no intuito da construção e exteriorização de opiniões, posicionamentos e pontos de vista.

- estimular a produção textual escrita a partir do contato com os gêneros discursivos literários clássicos e da esfera legal, levando o estudante ao exercício escrito de diversos gêneros, cuja circulação se dá em inúmeras esferas, e revelam múltiplos objetivos na seara da comunicação humana. Dessa forma, ao posicionar-se por escrito, o estudante estará confirmando sua responsividade diante do que lê.

O material didático elaborado, possibilitará ao público alvo, o contato com o gênero discursivo lei, a partir de uma seleção criteriosa de textos dos gêneros lírico, narrativo, e dramático, a serem estudados previamente. Textos estes, que oportunizarão a leitura, análise e aplicação de normas legais no que se refere à garantia dos direitos individuais do cidadão, relações de consumo, direitos e deveres da criança e adolescente, e outros também pertinentes.

A leitura da obra “Maria Dusá”, um romance de autoria de Lindolfo Rocha, servirá como mote desencadeador para a leitura dos artigos 238 (caput) e Parágrafo Único, da Lei nº. 8.069/90, de 13- 07- 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente, uma vez que o enredo dessa obra apresenta a entrega de filho a terceiro, mediante pagamento. Para tanto, os alunos deverão dispor dos textos impressos, para leitura e posterior discussão do conteúdo.

Na sequência, o poema de Manuel Bandeira, “Meninos Carvoeiros” será estudado, oportunizando o conhecimento da redação dos artigos 3º. (caput), da Lei nº. 8.069/90, de 13- 07- 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente; e ainda o artigo 7°., inciso XXXIII, da Constituição Federal Brasileira, que tratam respectivamente da proteção à dignidade da criança e do adolescente, e proibição do trabalho infantil. Oportuna aqui, a remissão também ao artigo 1634 (caput), inciso VII, da Lei nº. 10.406/02, de 10- 01- 2002, Código Civil Brasileiro, que traz insculpidas em sua redação, obrigações dos filhos para com seus pais, enfocando o exercício do poder familiar. Além da leitura, análise textual e discussão dos textos, a atividade poderá ser concluída com a produção de um painel sobre a exploração do trabalho infantil no Brasil, atualmente.

Para abordagem do preconceito e discriminação racial, recomenda-se pesquisa prévia, a respeito de personalidades afro-descendentes. Uma vez feita a introdução do assunto, através de relatos breves sobre as personalidades pesquisadas, o espaço estará aberto para o trabalho com os textos “A Canção do Africano”, poema de autoria de Castro Alves, e o romance “A Escrava Isaura”, escrito por Bernardo Guimarães. Após a leitura dos textos mencionados, e extraídos, em nível de interpretação, os elementos essenciais constantes dos mesmos, oportuno o manuseio do artigo 5º (caput) da Constituição Federal Brasileira, que exprime o princípio da igualdade entre as pessoas, e o inciso XLII, do mesmo diploma legal, que trata da prática de racismo, bem como o artigo 20 (caput), da Lei nº. 7.716/89, de 05- 01- 1989, que define os crimes resultantes de preconceitos de raça e de cor.

A partir da leitura do conto “O Enfermeiro”, de Machado de Assis, cabível a análise do artigo 121, Parágrafo 2º., inciso III, do Código Penal Brasileiro, Decreto-Lei nº. 2.848/40, de 07- 12- 1940, que versa sobre o homicídio qualificado.

O contato com o gênero discursivo lei, em que o objetivo do texto é garantir os direitos do consumidor, será feito a partir da leitura jogralizada do poema “ Eu, Etiqueta”, do poeta Carlos Drummond de Andrade. Da análise desse texto, serão extraídas as informações mais significativas, que servirão de base para a discussão sobre o significado da palavra etiqueta e sua função no universo

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comercial. Oportuno, portanto, o contato nesse momento com o artigo 6º. da Lei n°. 8.078/90, de 11- 09- 90, Código do Consumidor Brasileiro, que descreve os direitos básicos do consumidor.

Elaboração de gráfico de barras, indicando o número de acidentes de trânsito nas diversas regiões brasileiras, e leitura do conto de Dalton Trevisan, “O Ciclista”, colaborarão para a abordagem dos artigos 302 (caput), Parágrafo único, e incisos de I a V, da Lei nº. 9.503/97, de 23- 09- 97, Código de Trânsito Brasileiro, que versam sobre a prática de homicídio culposo na direção de veículo automotor.

“Otelo”, de William Shakespeare, com leitura e interpretação prévias, abrirá espaço para análise do artigo 28, inciso I, do Código Penal Brasileiro, que contempla a imputabilidade penal em casos de crimes cometidos sob efeito de emoção ou paixão.

Excerto da obra “Bom-Crioulo”, romance de Adolfo Caminha, lido e analisado, permitirá aos alunos contatarem novamente com o artigo 5º (caput), da Constituição Federal Brasileira, que estabelece em sua redação, a igualdade entre os cidadãos, agora com ênfase no inciso XLI, que prevê punição à discriminação que atente contra direitos e liberdades fundamentais. Nessa esteira, caberá também o conhecimento do artigo 3º. (caput), inciso IV, contido na Constituição Federal Brasileira, cujo conteúdo visa o combate a preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade, e quaisquer outras. A obra “Bom-Crioulo”, enseja a abordagem da temática relacionada à diversidade sexual.

O texto “Mulher pra mim é minha vó”, extraído da obra infanto-juvenil “Vovó Delícia”, de autoria de Ziraldo, oportunizará remissão à Constituição Federal Brasileira, em seus artigos 229 e 230 (caput), que versam sobre a pessoa idosa. Nessa seara, oportuno também o conteúdo dos artigos 2º (caput) e 4º. (caput e parágrafos 1º. e 2º.), da Lei nº. 10.741/03, de 01- 10- 2003, Estatuto do Idoso, cujo conteúdo evoca a dignidade da pessoa humana idosa. Antecipadamente, os alunos poderão produzir árvores genealógicas de suas famílias. Lido o texto “Mulher pra mim é minha vó”, de Ziraldo, serão analisados os conteúdos dos artigos das leis supra mencionadas, desencadeando assim, os debates sobre o assunto em pauta.

Enfocando a educação fiscal, interpretação através de encenação, da crônica de Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto), “A Velhinha Contrabandista”, oportunizará o conhecimento dos artigos 3º. e 5º. (caput), da Lei nº. 5.172/66, de 25- 10- 1966, Código Tributário Nacional, onde se encontra a definição de tributo e as espécies tributárias. O artigo 334 (caput) do Código Penal Brasileiro, Decreto-Lei nº. 2.848/40, de 07- 12- 1940, merece lembrança, “in casu”, já que se refere ao contrabando, atividade ilícita, prejudicial à arrecadação tributária.

No que concerne aos tóxicos, notadamente, em relação às chamadas drogas lícitas, o texto de Manuel Bandeira, “Poema tirado de uma notícia de jornal”, permitirá, partindo de sua leitura e análise, o conhecimento do artigo 1º. (caput) e Parágrafo único, da Lei nº. 11.343/06, de 23- 08- 2006, que trata das políticas públicas sobre drogas.

Tema recorrente na sociedade, a violência doméstica, está contemplada na Lei nº. 11.340/06, de 07- 08- 2006, da qual serão destacados para fins de enfoque, o artigo 5º. (caput), e incisos I, II, III e Parágrafo único, motivando-se o estudo da referida lei, por meio da leitura de um excerto da obra “A descoberta da América pelos turcos”, de Jorge Amado.

O conto “Menininha Bonita do Chapéu de Fitas”, registra a questão da deficiência física. A leitura e análise deste conto, de autoria de Edson Martins, oportunizará o contato com a Constituição Federal, em seus artigos 23 (caput) e inciso II, e 203 (caput) e inciso IV, que asseguram proteção à pessoa portadora de deficiência.

A partir dos textos anteriormente mencionados, desenvolver-se-ão as práticas de oralidade, leitura e escrita.

Grupos de discussão, debates, socialização de respostas a questões propostas previamente, são algumas atividades que permitem o exercício da oralidade.

Nas práticas de leitura, considerar-se-á o perfil do gênero discursivo em destaque. Leitura silenciosa, leitura jogralizada, leitura em voz alta alternando leitores, são algumas possibilidades para a concretização da prática da leitura. A atividade de compreensão configurará foco principal do trabalho, para que os alunos possam ter a possibilidade de um posicionamento responsivo.

Para cada tema explorado, objetivando exercitar e aprimorar a prática da escrita, propôe-se atividade de produção de enunciados enfocando um determinado gênero discursivo. Carta, artigo de

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opinião, editorial para revista e jornal, relatório, jornal mural, reportagem jornalística e outros gêneros discursivos, terão espaço para sua exploração e produção, definindo os contornos dos vários gêneros do discurso, para que sejam compreendidos e apreendidos com a devida clareza.

Os estudantes poderão ter inclusa também nas atividades, uma visita à Câmara Municipal, para acompanhamento de uma reunião legislativa.

Objetivando a compreensão do processo de elaboração das leis municipais, os estudantes devidamente orientados, estarão aptos a realizar entrevistas com representantes e ex-representantes do Poder Legislativo Municipal. Posteriormente, o conteúdo colhido através das entrevistas, poderá ser socializado em forma de seminário, aberto para todas as turmas do estabelecimento de ensino, onde será desenvolvido o Projeto de Intervenção.

A implementação do Projeto de Intervenção na Escola, é para o professor, o momento da aplicação das atividades, que visam alcançar os objetivos previstos no mesmo, aliando o estudo da literatura à educação para a cidadania. O material didático contribuirá significativamente para que o acréscimo almejado na aprendizagem se verifique, e os objetivos estabelecidos sejam de fato alcançados

Cuidou-se para que as questões apresentadas direcionassem o estudante no sentido de extrair da literatura enquanto arte, a sua face humanizadora. As obras literárias expressam em geral, os múltiplos aspectos da vida humana. A multifacetada existência humana, é a grande musa inspiradora para a produção da literatura que emociona, leva ao riso e ao choro, promove a reflexão, denuncia injustiças, combate preconceitos, alimenta a imaginação do leitor através de um imaginário que alguém, o autor, em dado momento, decidiu partilhar. Logo, os gêneros discursivo que circulam na esfera legal e alcançam a vida de cada um, em razão de suas ações diárias, no contexto social, estão aqui contemplados, através das várias citações de leis vigentes no ordenamento jurídico brasileiro.

A importância do conhecimento de leis, cujo conteúdo se aplica à vida de todo e qualquer cidadão, fazendo com que o contacto com as mesmas se faça necessário, até como condição para o exercício de uma cidadania consciente e participativa, identificando-se pois, a fonte da qual emana seus direitos e em contrapartida, estabelece seus deveres. Os enunciados complementares, são fragmentos de textos de circulação em diversas esferas, que vêm acrescentar outras informações a respeito dos temas abordados, complementando os textos principais. A produção do presente Caderno Pedagógico, deu-se tendo o conteúdo das Diretrizes Curriculares para a Escola Pública do Paraná – Língua Portuguesa, como sinalizadora de que a contribuição dos professores para a transformação do panorama educacional do Estado do Paraná, é a garantia de um fazer em educação pública, com espírito imbuído de entusiasmo e vontade de contribuir na formação e lapidação de perfis humanos, despertando o interesse em descobrir, e o prazer em partilhar generosamente as descobertas. Descobertas essas, que acenem com a possibilidade de se edificar uma sociedade alicerçada em valores que correspondam aos mais caros anseios humanos para um convívio social harmônico. Saudações educacionais!

Farol, agosto, 2010

Edson MartinsProfessor PDE/2009

09

O romance Maria Dusá, ambientado na Chapada Diamantina, estado da Bahia, escrito por Lindolfo Rocha apresenta em seu enredo a venda de uma das filhas de uma família, que em razão de forte seca no sertão baiano, estava passando por necessidades materiais. O ato de venda se encontra narrado, no capítulo II da obra, transcrito a seguir, para sua leitura.

II

Sol alto, a tropa milhada e engangalhada, esperava a hora de arribar. Os camaradas almoçavam.

Enquanto arreavam o ruão, o mineiro, reatando a conversa interrompida com o Raimundo,

afirmava:

- É como digo: por menos de cinco mala-reis não vai um celamim para ninguém. O sal da terra

pode-se achar mais em conta; o sal de Baixo, não. A tropa está morta. Não está vendo? Não há tropa que

suba, nem desça. A estrada está que nem um fiapo de capim manso. Onde tem, nalgum ponto, é

amargoso, capim brabo e fraco. Desde que saí da Serra Nova, quase não descansei. Cheguei em S.

Félix, achei logo frete inteirado para Maracá. Aí tampei a tropa de sal, e ia para casa. Mas no Gavião

sube que na Lavra do Mucujê, sal e toucinho estão bons. Então troquei um bocado de sal por toucinho

e aqui vou eu...

- Ah! seu Ricardo, interrompeu o velho, nós estamos perguntando por perguntar. Como já disse,

tivemos criação e dinheiro, mas hoje não temos nada. Se sua mercê der um celamim por meio cobre,

pois nem assim podemos comprar. Faz dous meses que não sabemos o que é uma pedra de sal na boca.

Vivemos de raiz do mato, fruta brava e palmito cozido sem sal!

- Na verdade! comentou o mineiro, sorvendo após uma fomaça do pito de Baependi; para quem

já teve, dói muito!

- E todo o mundo destas beiradas! acrescentou o velho, pondo a prumo a cabeça, que se

assemelhava à de um esqueleto.

- E por que não vão para as Lavras? inquiriu o mineiro; lá está tudo caro, mas ainda não se come

raiz de pau.

- Que é da força pra caminhar, meu senhor?! atalhou a velha; e ainda para sustentar uma porção

de gente que só tem pele e osso?! Sua mercê quer ver?

E a mulher, com cara de fúria, gritou em voz esganiçada:

- Ó João, chama tuas irmãs!

Apareceu um rapazinho de uns 14 anos, coberto de trapos que foram camisa e calções, muito sujos,

predominando a cor vermelha da terra que habitava.

- Chama tuas irmãs! Repetiu a mulher que armava assim uma cena de efeito para obter alguma

10

MARIA DUSÁ

TEXTO 1

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL NUMA

PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO O QUOTIDIANO SOCIAL.

Disponível em http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8f/1632x1224_traditional_house_with_stable_sertaoe_rio_grande_do_norte_brasil.jpgAcesso em: 15/07/2010

esmola.

Em alguns momentos surgiu à porta da varanda um grupo de três moças, parecendo ter

15 anos a mais nova.

E essa mãe, a quem a fome tirara certamente todo o amor maternal e todo o pudor

feminil, se é que em tempo algum o teve realmente, levantava, sacrilegamente, os trapos que

cobriam os ombros e seios e essas pobres criaturas, para que o mineiro, certificando-se de sua

miséria, pela magreza extrema de suas filhas, se compadecesse ao mesmo tempo. Ao

aproximar-se, porém, da mais velha, que poderia contar 18 anos, esta recuou um passo. Apesar

da fome, corava e reagia.

- Ó xente, Maria!! que é que tem o homem ver tua magreza?!

Duas lágrimas brotaram dos olhos da moça que sentou-se no pavimento, apoiando a cabeça

sobre os joelhos.

- Menina tola! quem tem vergonha morre de fome!

No terreiro, ao longe, Pingo d'Água começou a cantar em dueto com um companheiro,

enquanto descansavam o almoço.

- Deixe a moça, Dona, disse o mineiro penalizado.

- Levanta a cabeça, Maria! insistia a velha, com o olhar chispando de ódio e, fingindo um

sorriso, acrescentou, como gracejando: - Ele quer te levar; tu queres ir?

E, ao mesmo tempo, fingindo uma ameaça que, entretanto, exprimia sua verdadeira

intenção, afirmou:

- Se ele desse um celamim de sal, bem que eu te dava para cozinhar na casa dele.

- É que nem isso ela vale, obtemperou o velho, interrompendo um cochilo.

O mineiro, de cabeça baixa, pitava, em silêncio, meditando sem dúvida nas aberrações

possíveis da natureza humana, e no que, a esse respeito, tinha visto, desde criança, em suas

viagens.

Ao levantar a cabeça, deu com o olhar da moça. Notou, então, que, apesar da magreza,

Maria conservava uns tons de beleza, apenas esmaecidos pela fome. Os olhos negros e grandes

pareciam, nesse momento, refletir um braseiro; o rosto moreno, emoldurando-se pelos cabelos

lisos e corredios que se desgrenhavam nos ombros, patenteava longo martírio. Não inspirava

sensualidade, porém amor e compaixão.

- Pronto, patrão! disse um dos camaradas.

- Carrega! ordenou Ricardo, em voz pausada, voltando-se para o camarada.

- E sua mercê tinha coragem de dar um celamim de sal pela Maria? interrogou o velho

Raimundo, em tom de desenxabida chocarreirice.

- Até mais, senão fosse pecado comprar gente forra, respondeu o mineiro, supondo que o

velho gracejava:

- Estou falando sério, asseverou o velho; sua mercê não sabe o que é comer palmito sem

sal, por necessidade.

11

EDSON MARTINS

- Compro, disse o mineiro, tornando-se vermelho.

- Está dito, bradou a velha, apanhando num torno da varanda uma cuia grande, em que

devia receber o preço de sua filha mais velha; aqui está esta cuia que é um celamim certinho.

O mineiro gritou ao cuca e mandou trazer um celamim de sal, um lanho de toucinho e um

pedaço de carne.

Marido e mulher não sabiam de que modo exprimiriam seu contentamento e gratidão. O

mineiro é que não contava com semelhante gratidão. Num açodamento indescritível, a velha foi

suspender ao fumeiro o saquinho de sal, a carne e o toucinho, cujo cheiro só, lhe causava um

prazer infantil.

Arrochando os últimos animais do seu lote dianteiro, Pingo d'Água cantava

apropositadamente:

Nesse mundão tenho visto! Mas aqui já é sofrê! Aqui é que filho chora, Filho chora e mãe não vê!

Ao atar à corda do fumeiro, a velha resmungava, respondendo ao trovista, como se pudesse ser ouvida:

- Vê, sim; mais a fome é que tem cara de herege!

No peitoril, o Raimundo, numa espécie de delírio, esfregava as mãos de contente, e de

olhos fechados, prelibava o gozo de um pedaço de carne gorda, que, havia meses, nem ao menos

lhe fora dado cheirar.

As duas irmãs de Maria tinham-se retirado, chorando.

Então, dirigindo-se à vendida, que soluçava convulsivamente, o mineiro falou:

- Não chore, não, moça; seus pais venderam a filha, mas a filha não foi comprada: fica aí,

com eles; somente lembre-se que o mineiro se chama Ricardo Brandão. Aqui está mais uma

lembrança, que eu destinava a uma irmã.

E assim dizendo, tirou da escarcela uma pequena medalha de prata e a entregou com

mão trêmula. A moça recebeu a lembrança e disse por entre soluços:

- Deus ajude a vosmincê, e lhe dê feliz viagem!

Partia o lote dianteiro. Depois de rasgada cortesia com o chapéu de couro, e um até outra

vista, a quem estava no peitoril, Pingo d'Água soltou dois gritos guturais para ativar o lote, e

seguiu cantando:

Guardo o mimo que me deste Na hora da retirada: Quem paga amor com firmeza Não fica devendo nada!

O velho Raimundo mal voltara a si da surpresa. Nos seus tempos de miséria, não tinha

visto generosidade igual. Disse, por fim, desenvolvendo a elevada estatura e acenando com os

12

compridos braços esqueléticos:

- Pois, senhor Ricardo Brandão, aqui fica este velho, que, se não morrer, ainda pode

servir pra botar seu animal no pasto, quando sua mercê passar por aqui outra vez.

Depois de uma pequena pausa, murmurou:

- É verdade! bem se diz que o mineiro tem o coração nas mãos!

Ricardo mordia a ponta do cigarro, olhando para os dois lotes que partiam. Restava o da

cozinha, sempre mais retardatário.

O velho abanava a cabeça. Ao ver assomar à porta sua mulher, disse:

- Sinhá Maria Rosa, pois o mineiro é bom mesmo.

- Pois não deixou ficar a Maria?

- Ué!... pois não leva, não? Interrogou a velha sem ocultar seu desapontamento.

- Não, sinhá Maria!

- Deus é que o há de ajudar! Deus é que o há de ajudar! repetia a velha com esforço,

porque sua intenção era desobrigar-se de sustentar a filha.

Partia o lote do coice. Ricardo correu a vista no rancho, apertou no mento a correia do

chapéu de coiro curtido, amarrou as esporas, despediu-se de todos, trocando com Maria um

aperto de mão, e saltou no seligote, esporeando o ruão energicamente.

Adiante, voltou-se; Maria enxugava os olhos, debruçada no peitoril. O mineiro parecia

fascinado. Mais longe ouviu Pingo d'Água cantando:

Meu beija-flor da campina. Que tiveste o teu condão: Leva no bico a saudade Ao bem do meu coração.

O sol, a essa hora, calcinava a estrada poeirenta da catinga. Os animais turravam e

gemiam por desafogo.

(Lindolfo Rocha. Maria Dusá.)

A Lei nº. 8.069/90, de 13- 07- 1990, denominada Estatuto da Criança e do Adolescente,

em seu artigo 238 (caput) e Parágrafo único, trata da entrega de filho a terceiro, mediante

pagamento, conforme segue:

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL.

13

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL.

Art. 238- Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou

recompensa:

Pena – reclusão de um a quatro anos, e multa.

Parágrafo único- Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou

recompensa.

A partir da leitura do excerto da obra Maria Dusá, e do conteúdo do artigo 238 (caput) e

Parágrafo único do Estatuto da Criança e do Adolescente, reflita:

1- O tema central da obra Maria Dusá, continua atual? Em caso afirmativo, como você

pode justificar sua resposta?

2- Ao vedar a comercialização dos filhos pelos pais, qual é a pretensão do Estatuto da

Criança e do Adolescente, enquanto lei?

FICÇÃO & LEI

14

FICÇÃO LEI&

MEXICANO ENTREGA OS 2 FILHOS PARA PAGAR DÍVIDA DE US$ 1.937

Um mexicano de 20 anos entregou seus dois filhos mais novos a uma mulher para pagar uma dívida de 25 mil pesos.

México – Um mexicano de 20 anos entregou seus dois filhos mais novos a uma mulher para pagar uma dívida de 25 mil pesos (US$ 1.937), e depois fingiu que as crianças foram sequestradas, o que causou uma série de protestos em um bairro da Cidade do México, informou hoje a promotoria da capital.A Procuradoria Geral de Justiça do Distrito Federal (PGJDF, procuradoria local) indicou em comunicado que agentes da Polícia de Investigação localizaram e detiveram Javier Covarrubias González, que se escondia em um sítio no município de Jacala, no estado de Hidalgo, vizinho à capital mexicana. No dia 18 de maio Covarrubias denunciou o suposto sequestro de seus filhos, Ísis Liliana e Darien Isaí, mas as autoridades conseguiram comprovar que ele mentiu. [...]

A promotoria conseguiu que o suspeito confessasse, na presença de seu advogado, que no dia 18 de maio entregou seus filhos a uma mulher que se identificou como “La Lupe” no município de Tlalnepantla, na área metropolitana da Cidade do México. O homem tinha uma

ENUNCIADO COMPLEMENTAR

Chegou a sua vez de escrever. E será em dupla. Escolha um(a) colega de classe , para escreverem um texto, em que um de vocês se posicionará a favor da atitude da mãe de Maria, e o outro, contra. Posicionem-se e argumentem defendendo seus respectivos pontos de vista.

PRODUZINDO ENUNCIADOS

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

Faça a leitura do excerto da obra Maria Dusá de autoria de Lindolfo Rocha, observando a presença de variantes linguísticas, tais como regionalismos, linguagem popular ou linguajar, copiando-as em seguida em seu caderno. Comente a seguinte afirmação: - O uso de variantes linguísticas na construção do enunciado literário, contribui decisavamente para que a fidelidade à realidade retratada, e a construção convincente das personagens inseridas em determinado universo social, sejam alcançadas pelo autor da obra.

15

dívida de 25 mil pesos (US$ 1.937) que tinha que saldar desde novembro com uma pessoa “que lhe emprestou o dinheiro e que o estava pressionando muito para obter o pagamento”, por isso decidiu dar seus filhos “como forma de pagamento”, precisou a PGJDF. (Último Segundo. 7/6/2010)

No poema Meninos Carvoeiros, o poeta modernista brasileiro, Manuel Bandeira, trata com sutileza e sensibilidade ímpares, da questão da exploração do trabalho infantil. Interessante observar a expressão “- Eh, carvoero!”, que ao mesmo tempo traduz saudação e lamento pela condição dos meninos retratados no texto.

Os meninos carvoeirosPassam a caminho da cidade.- Eh, carvoero!E vão tocando os animais com um relho enorme.

Os burros são magrinhos e velhos.Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.A aniagem é toda remendada.Os carvões caem.

(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)

- Eh, carvoero!Só mesmo estas crianças raquíticasVão bem com estes burrinhos descadeirados.A madrugada ingênua parece feita para eles...Pequenina, ingênua, miséria!Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!

- Eh, carvoero!

Quando voltam, vêm mordendo num pão encovado,Encarapitados nas alimárias,Apostando corrida,Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.

(Manuel Bandeira) http://www.luso-poemas.net

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

MENINOS

CARVOEIROS

16

TEXTO 2

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL NUMA

PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO O QUOTIDIANO SOCIAL.

Disponível em http://www.canato.com.br/imagens/meninocarvoeiro/meninocarvoeiro_r5_c3.jpgAcesso em: 15/07/2010

Analise agora, o que diz algumas leis brasileiras sobre a exploração do trabalho infantil.

Art. 7º.- São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à

melhoria de sua condição social:

[...]

XXXIII- proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e

de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de

quatorze anos. (Constituição Federal Brasileira)

Art. 3º.- A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à

pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhes, por

lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o

desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de

dignidade. (Lei nº. 8.069/90, de 13- 07- 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente)

Após a leitura do poema Meninos Carvoeiros e dos artigos e inciso das leis supra-

nominadas, proceda a discussão em grupo para posterior socialização das questões a seguir.

1- A que classe social pertencem os meninos carvoeiros, retratados no poema de

Bandeira? Fundamente sua resposta com base no texto do poema.

2- De acordo com as leis brasileiras, em que situações se admite o trabalho ao

menor de 18 anos?

3- O artigo 1.634 (caput), inciso VII, da lei nº. 10.406/02, de 10- 01- 2002, Código

Civil Brasileiro, traz a seguinte redação:

Art.1.634- Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:

ARTE POÉTICA & LEI

17

ARTE POÉTICA LEI&

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL.

EDSON MARTINS

18

[...]

VII- exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e

condição.

- O conteúdo do artigo e inciso citados, contraria o que prescrevem o artigo 7º., inciso

XXXIII, da Constituição Federal Brasileira, e o artigo 3º. (caput) do Estatuto da

Criança e do Adolescente? Explique.

I

“Com a realização plena desse artigo (7º. do Estatuto da Criança e do Adolescente), o

Brasil poderia resgatar uma boa parte de sua dívida social para com milhões de crianças e

adolescentes, que jamais tiveram uma vida que pudesse ser considerada digna de ser vivida por

um ser humano, e garantir a condição básica para a construção de uma nova sociedade.

[...]

Somente a realização plena desse artigo devolverá ao Brasil a condição de uma

sociedade digna, democrática e humana. Enquanto houver uma criança ou adolescente sem as

condições mínimas, básicas, de existência, não teremos condições de nos encarar uns aos outros

com a tranqüilidade dos que estão em paz com sua consciência”.

(Herbert de Souza – Sociólogo/Rio de Janeiro. In Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, p.56 e 57)

II

[...]

As chaminés domésticas começaram a aparecer na Inglaterra no século XVI, quando

veio da Itália a idéia de usar poços murados paralelos às paredes para acabar com a fumaça das

lareiras. Conforme as técnicas de mineração melhoravam e a madeira se tornava escassa, o

ENUNCIADOS COMPLEMENTARESENUNCIADOS COMPLEMENTARES

carvão foi sendo visto como uma opção viável de combustível para aquecimento. Mas as

chaminés precisavam ser limpas. O trabalho, a princípio, era feito pelos criados, mas os

limpadores de chaminés especializados começaram a surgir na era elisabetana. As grandes

lareiras a lenha, com seus largos poços de chaminé, não se ajustavam bem à queima de carvão, a

qual, para funcionar devidamente, exigia maior ventilação e uma boa sucção do fogo. Com isso,

nos séculos subsequentes, os poços das antigas chaminés foram diminuídos e as novas

chaminés foram em geral construídas com poços mais estreitos, para evitar a descarga de

fumaça nas salas de estar.

A solução adotada pelos limpadores de chaminés, frente à dificuldade de limpar os

poços estreitos, era usar crianças, alguma delas empregadas como aprendizes desde os quatro

ou cinco anos. Um limpador, Thomas Allen, disse, durante um inquérito parlamentar, que sua

carreira começara aos três anos e meio. Meninos e meninas eram utilizados no serviço. Duas

meninas, filhas de um limpador chamado Morgan, eram empregadas para limpar as chaminés

da família real no Castelo de Windsor. Alguns poços eram bastante espaçosos, mas outros eram

tão estreitos – chegavam a 45 cm² – que somente a mais diminuta das crianças, muitas vezes

totalmente nua, conseguia se espremer pela passagem. Elas tinham de mover-se com os braços

estendidos. Um só descuido e ficariam entaladas.

Os limpadores usavam uma variedade de métodos para persuadir seus jovens

aprendizes a fazerem o trabalho. Por vezes era a promessa de um pudim de passas quando

chegassem ao topo, às vezes uma ameaça de surra. Nos casos mais extremos, sabe-se que os

mestres limpadores mais brutais punham palhas acesas na lareira ou alfinetavam os pés das

crianças. As opções opostas do bordão e da cenoura, em suas muitas variações, foram um

método motivador duradouro ao longo da história. Todavia, quando o trabalho é fatalmente

punitivo, como o dos limpadores infantis, a conversa sobre motivação parece redundante.

Havia histórias de crianças roubadas de seus pais. Algumas eram vendidas pelas

famílias, outras tiradas de oficinas.

(Richard Donkin. Sangue, Suor e Lágrimas – A evolução do trabalho. p. 86-87)

19

Você é um jornalista. Elabore cinco perguntas que faria a uma autoridade pública, a respeito da exploração da mão-de-obra infantil no seu país, no seu estado ou no seu município.

PRODUZINDO ENUNCIADOS

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

Pesquise o maior número de fontes possível e produza juntamente com seus colegas, um painel sobre a exploração do trabalho infantil no Brasil, atualmente. Disponibilizem o conteúdo desse painel em forma de mural, para que outras turmas tenham acesso.

20

Um dos principais nomes da estética literária romântica, Castro Alves, usou sua poesia

para combater o preconceito contra a pessoa negra. A poesia condoreira deste poeta brasileiro,

está repleta de evocações à terra e aos costumes daqueles que, aqui, em condições sub-humanas

contribuíram grandemente com sua força de trabalho para o desenvolvimento do país. Leia a

seguir, um dos poemas do cognominado “Poeta dos Escravos”.

Lá na úmida senzala,Sentado na estreita sala,Junto ao braseiro no chão,Entoa o escravo o seu canto,E ao cantar correm-lhe em prantoSaudades do seu torrão...

De um lado, uma negra escravaOs olhos no filho crava,Que tem no colo a embalar...E a meia voz lá respondeAo canto, e o filhinho esconde,Talvez pra não o escutar!

“Minha terra é lá bem longe,Das bandas de onde o sol vem;Esta terra é mais bonita,Mas à outra eu quero bem!

O sol faz lá tudo em fogo,Faz em brasa toda a areiaNinguém sabe como é beloVer de tarde a papa-ceia!

“Aquelas terras tão grandes,Tão compridas como o mar,Com suas poucas palmeirasDão vontade de pensar...

“Lá todos vivem felizes,

A CANÇÃO DO

AFRICANO

21

TEXTO 3

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL NUMA

PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO O QUOTIDIANO SOCIAL.

Disponível em http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0b/Ant%C3%B4nio_Parreiras_-_Zumbi_2.jpgAcesso em: 15/07/2010

Todos dançam no terreiro;A gente lá não se vendeComo aqui só por dinheiro.”

O escravo calou a fala,Porque na úmida salaO fogo estava a apagar;E a escrava acabou seu canto,Pra não acordar com o prantoO seu filhinho a sonhar!

..................................................

O escravo então foi deitar-se,Pois tinha de levantar-seBem antes do sol nascer, E se tardasse, coitado,Teria de ser surrado,Pois bastava escravo ser.

E a cativa desgraçadaDeita seu filho, calada,E põe-se triste a beijá-lo,Talvez temendo que o donoNão viesse, em meio do sono,De seus braços arrancá-lo!

(Castro Alves. Os Escravos.)

A Lei nº. 7.716/89, de 05- 01- 1989, define os crimes resultantes de preconceitos de raça

e cor no Brasil. Veja a redação do artigo 20 (caput) desta lei.

Art. 20- Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia,

religião ou procedência nacional:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

ARTE POÉTICA & LEI

22

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

EDSON MARTINS

De acordo com o artigo 20 da Lei nº. 7.716/89:

01- O crime de racismo se materializa somente quando se discrimina a pessoa

de cor negra? Exponha brevemente sua compreensão do conteúdo apresentado

pelo artigo em tela da referida lei.

02- Copie do poema o verso em que se encontra expressa a ideia de propriedade em

relação ao ser humano escravizado, tema do poema de Castro Alves.

Mas foi a eloquência de escravos fugidos, como Frederick Douglass, em seus discursos

para o público do norte, que expôs com mais efeito a crueldade do sistema escravista. Um ex-

escravo, Josiah Henson, recordava ter encontrado o pai empapado em sangue. Sua orelha direita

fora decepada e suas costas haviam sido duramente laceradas por cem chibatadas. O

chicoteamento e a mutilação foram seu castigo por bater em um supervisor que molestara a mãe

de Henson. Era essa a realidade do escravo africano na América.

(Richard Donkin. Sangue, suor & lágrimas – A evolução do trabalho. p. 127)

ENUNCIADO COMPLEMENTAR

23

ARTE POÉTICA LEI&

ENUNCIADO COMPLEMENTAR

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

Faça uma pesquisa sobre personalidades afro-descendentes. Procure destacar a ação das mesmas no combate ao preconceito racial.

A ESCRAVA

ISAURA

Bernardo Guimarães, também fez da literatura uma ferramenta para denunciar o

absurdo da discriminação à pessoa negra. A escrava Isaura, classificada como obra

abolicionista, é um romance cujas sucessivas adaptações para a televisão, tem conquistado

público em todo o mundo, tornando o trabalho literário de Bernardo Guimarães, escritor do

Romantismo brasileiro, conhecido além fronteira.

Malvina aproximou-se de manso e sem ser pressentida para junto da cantora,

colocando-se por detrás dela, esperou que terminasse a última copla.

- Isaura!... – disse ela pousando de leve a delicada mãozinha sobre o ombro da cantora.

- Ah! É a senhora?! – respondeu Isaura voltando-se sobressaltada. – Não sabia que

estava aí me escutando.

- Pois que tem isso?...continua a cantar... tens a voz tão bonita!...mas eu antes quisera

que cantasses outra coisa; por que é que você gosta tanto dessa cantiga tão triste, que você

aprendeu não sei onde?...

- Gosto dela, porque acho-a bonita e porque... ah! não devo falar ...

- Fala, Isaura. Já não te disse que nada me deves esconder, e nada recear de mim?...

- Porque me faz lembrar de minha mãe, que eu não conheci, coitada!... Mas se a senhora

não gosta dessa cantiga, não a cantarei mais.

- Não gosto que a cantes, não, Isaura. Hão de pensar que és maltratada, que és uma

escrava infeliz, vítima de senhores bárbaros e cruéis. Entretanto passas aqui uma vida que faria

inveja a muita gente livre. Gozas da estima de teus senhores. Deram-te uma educação como não

tiveram muitas ricas e ilustres damas que eu conheço. És formosa, e tens uma cor linda, que

ninguém dirá que gira em tuas veias uma só gota de sangue africano. Bem sabes quanto minha

boa sogra antes de expirar te recomendava a mim e a meu marido. Hei de respeitar sempre as

recomendações daquela santa mulher, e tu bem vês, sou mais tua amiga do que tua senhora. Oh!

não; não cabe em tua boca essa cantiga lastimosa, que tanto gostas de cantar. – Não quero –

continuou em tom de branda repreensão -, não quero que a cantes mais, ouviste, Isaura?... se não

fecho-te o meu piano.

- Mas, senhora, apesar de tudo isso, que sou eu mais do que uma simples escrava? Essa

24

TEXTO 4

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL NUMA

PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO O QUOTIDIANO SOCIAL.

Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:EscravaIsaura.jpgAcesso em: 15/07/2010

educação que me deram e essa beleza, que tanto me gabam, de que me servem?... São trastes de

luxo colocados na senzala do africano. A senzala nem por isso deixa de ser o que é: uma senzala.

(Bernardo Guimarães. A escrava Isaura.)

O Princípio da Igualdade, é um dos pilares dos direitos e garantias individuais e

coletivos, contemplados pela Constituição Federal Brasileira, lei maior do país. Todo e

qualquer outro texto de lei, deve obrigatoriamente estar em consonância com o que determina a

constituição, para que seja aplicado. A respeito da igualdade entre as pessoas, analise a redação

do artigo 5º (caput) e seu inciso XLII.

Art. 5º.- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-

se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à

liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

XLII- a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena

de reclusão, nos termos da lei;

Relacione a fala da personagem Isaura, constante do último parágrafo do excerto da

obra A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, com o conteúdo do artigo 5º. (caput) da

Constituição Federal Brasileira.

01- Quais são as condições inerentes à pessoa humana, ausentes na vida de Isaura,

prescritas no referido artigo?

02- É possível a interpretação da fala de Isaura, no último parágrafo do texto, a

respeito de sua educação e beleza, como meros ornamentos, em face de sua

condição de pessoa humana escravizada, em razão de ser fruto do

relacionamento entre um branco e uma negra? Fundamente sua resposta

argumentando.

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

FICÇÃO & LEI

25

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

FICÇÃO LEI&

EDSON MARTINS

PRODUZINDO ENUNCIADOS

Escolha uma personalidade negra, pesquise a respeito de sua biografia e produza um

resumo para ser socializado com a sua turma.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

Faça um levantamento da contribuição do povo negro para o enriquecimento da língua

portuguesa.

26

O ENFERMEIRO

Machado de Assis, o grande mestre da literatura realista brasileira, que soube revelar em

seus escritos toda uma capacidade de análise da alma humana, em seu conto O Enfermeiro,

expõe mais uma vez perfis humanos possíveis. O assassinato do patrão idoso, pelo seu

empregado, num acesso incontido de ira, faz parte do enredo que você tem na trama literária

deste conto machadiano.

Parece-lhe então que o que se deu comigo em 1860 pode entrar numa página de livro?

Vá que seja, com a condição única de que não há de divulgar nada antes da minha morte. Não

esperará muito, pode ser que oito dias, se não for menos; estou desenganado.

Olhe, eu podia mesmo contar-lhe a minha vida inteira, em que há outras coisas

interessantes, mas para isso era preciso tempo, ânimo e papel, e eu só tenho papel; o ânimo é

frouxo, e o tempo assemelha-se à lamparina de madrugada. Não tarda o sol do outro dia, um sol

dos diabos, impenetrável como a vida. Adeus, meu caro senhor, leia isto e queira-me bem;

perdoe-me o que lhe parecer mau, e não maltrate muito a arruda, se lhe não cheira a rosas. Pediu-

me um documento humano, ei-lo aqui. Não me peça também o império do Grão-Mogol, nem a

fotografia de Macabeus; peça, porém, os meus sapatos de defunto e não os dou a ninguém mais.

Já sabe que foi em 1860. No ano anterior, ali pelo mês de agosto, tendo eu quarenta e dois

anos, fiz-me teólogo, - quero dizer, copiava os estudos de teologia de um padre de Niterói,

antigo companheiro de colégio, que assim me dava, delicadamente, casa, cama e mesa. Naquele

mês de agosto de 1859, recebeu ele uma carta de um vigário de certa vila do interior,

perguntando se conhecia pessoa entendida, discreta e paciente, que quisesse ir servir de

enfermeiro ao coronel Felisberto, mediante um bom ordenado. O padre falou-me, aceitei com

ambas as mãos, estava já enfarado de copiar citações latinas e fórmulas eclesiásticas. Vim à

Corte despedir-me de um irmão, e segui para a vila.

‘ Chegando à vila, tive notícias do coronel. Era homem insuportável, estúrdio, exigente,

ninguém o aturava, nem os próprios amigos. Gastava mais enfermeiros que remédios. A dois

deles quebrou a cara. Respondi que não tinha medo de gente sã, menos ainda de doentes; e

depois de entender-me com o vigário, que confirmou as notícias recebidas, e me recomendou

mansidão e caridade, segui para a residência do coronel.

‘ Achei-o na varanda da casa estirado numa cadeira, bufando muito. Não me recebeu mal.

27

TEXTO 5

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL NUMA

PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO O QUOTIDIANO SOCIAL.

Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Poumon_artificiel.jpgAcesso em: 15/07/2010

Começou por não dizer nada; pôs em mim dois olhos de gato que observa; depois, uma espécie

de riso maligno alumiou-lhe as feições, que eram duras. Afinal, disse-me que nenhum dos

enfermeiros que tivera, prestava para nada, dormiam muito, eram respondões e andavam ao

faro das escravas; dois eram até gatunos!

- Você é gatuno?

- Não, senhor.

Em seguida, perguntou-me pelo nome: disse-lho e ele fez um gesto de espanto.

Colombo? Não, senhor: Procópio José Gomes Valongo. Valongo? Achou que não era nome de

gente, e propôs chamar-me tão-somente Procópio, ao que respondi que estaria pelo que fosse do

seu agrado. Conto-lhe esta particularidade, não só porque me parece pintá-lo bem, como porque

a minha resposta deu de mim a melhor ideia ao coronel. Ele mesmo o declarou ao vigário,

acrescentando que eu era o mais simpático dos enfermeiros que tivera. A verdade é que vivemos

uma lua-de-mel de sete dias.

No oitavo dia, entrei na vida dos meus predecessores, uma vida de cão, não dormir, não

pensar em mais nada, recolher injúrias, e, às vezes, rir delas, com um ar de resignação e

conformidade; reparei que era um modo de lhe fazer corte. Tudo impertinência da moléstia e do

temperamento. A moléstia era um rosário delas, padecia de aneurisma, de reumatismo e de três

ou quatro afecções menores. Tinha perto de sessenta anos, e desde os cinco toda a gente lhe fazia

a vontade. Se fosse só rabugento, vá; mas ele era também mau, deleitava-se com a dor e a

humilhação dos outros. No fim de três meses estava farto de o aturar; determinei vir embora; só

esperei ocasião.

Não tardou a ocasião. Um dia, como lhe não desse a tempo uma fomentação, pegou da

bengala e atirou-me dois ou três golpes. Não era preciso mais; despedi-me imediatamente, e fui

aprontar a mala. Ele foi ter comigo, ao quarto, pediu-me para que ficasse, que não valia a pena

zangar por rabugice de velho. Instou tanto que fiquei.

- Estou na dependura, Procópio, dizia-me ele à noite; não posso viver muito tempo.

Estou aqui, estou na cova. Você há de ir ao meu enterro, Procópio; não o dispenso por nada. Há

de rezar ao pé da minha sepultura. Se não for, acrescentou rindo, eu voltarei de noite para lhe

puxar as pernas. Você crê em almas de outro mundo, Procópio?

- Qual o quê!

- E por que é que não há de crer, seu burro? Redarguiu vivamente, arregalando os olhos.

Eram assim as pazes; imagine a guerra. Coibiu-se das bengaladas; mas as injúrias

ficaram as mesmas, se não piores. Eu com o tempo, fui calejando, e não dava mais por nada; era

burro, camelo, pedaço d'asno, idiota, moleirão, era tudo. Nem, ao menos, havia mais gente que

recolhesse uma parte desses nomes. Não tinha parentes; tinha um sobrinho que morreu tísico,

em fins de maio ou princípios de junho, em Minas. Os amigos iam por lá às vezes aprová-lo,

aplaudi-lo, e nada mais; cinco, dez minutos de visita. Restava eu; era eu sozinho para um

dicionário inteiro. Mais de uma vez resolvi sair; mas, instado pelo vigário, ia ficando.

28

EDSON MARTINS

Não só as relações foram-se tornando melindrosas, mas eu já estava ansioso por tornar à

Corte. Aos quarenta e dois anos não é que havia de acostumar-me à reclusão constante, ao pé de

um doente bravio, no interior. Para avaliar o meu isolamento, basta saber que eu nem lia os

jornais; salvo alguma notícia mais importante que levavam ao coronel, eu nada sabia do resto do

mundo. Entendi, portanto, voltar para a Corte, na primeira ocasião, ainda que tivesse de brigar

com o vigário. Bom é dizer (visto que faço uma confissão geral) que, nada gastando e tendo

guardado integralmente os ordenados, estava ansioso por vir dissipá-los aqui.

Era provável que a ocasião aparecesse. O coronel estava pior, fez testamento,

descompondo o tabelião quase tanto como a mim. O trato era mais duro, os breves lapsos de

sossego e brandura faziam-se raros. Já por esse tempo tinha eu perdido a escassa dose de

piedade que me fazia esquecer os excessos do doente; trazia dentro de mim um fermento de ódio

e aversão. No princípio de agosto resolvi definitivamente sair; o vigário e o médico, aceitando

as razões, pediram-me que ficasse algum tempo mais. Concedi-lhes um mês; no fim de um mês

viria embora, qualquer que fosse o estado do doente. O vigário tratou de procurar-me um

substituto.

Vai ver o que aconteceu. Na noite de vinte e quatro de agosto, o coronel teve um acesso

de raiva, atropelou-me, disse-me muito nome cru, ameaçou-me de um tiro, e acabou atirando-

me um prato de mingau, que achou frio; o prato foi cair na parede, onde se fez em pedaços.

- Hás de pagá-lo, ladrão! bradou ele.

Resmungou ainda muito tempo. Às onze horas passou pelo sono. Enquanto ele dormia,

saquei um livro do bolso, um velho romance d'Arlincourt, traduzido, que lá achei, e pus-me a lê-

lo, no mesmo quarto, a pequena distância da cama; tinha de acordá-lo à meia-noite para lhe dar o

remédio. Ou fosse do cansaço, ou do livro, antes de chegar ao fim da segunda página adormeci

também. Acordei aos gritos do coronel, e levantei estremunhado. Ele, que parecia delirar,

continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la contra mim.

Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda, e tal foi a dor que não vi

mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o.

Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me

ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamar à vida, era tarde, arrebentara o aneurisma, e o coronel

morreu. Passei à sala contígua, e durante duas horas não ousei voltar ao quarto. Não posso

mesmo dizer tudo o que passei, durante esse tempo. Era um atordoamento, um delírio vago e

estúpido. Parecia-me que as paredes tinham vultos; escutava umas vozes surdas. Os gritos da

vítima, antes da luta e durante a luta, continuavam a repercutir dentro de mim, e o ar, para onde

quer que me voltasse, parecia recortado de convulsões. Não creia que esteja fazendo imagens

nem estilo; digo-lhe que eu ouvia distintamente umas vozes que me bradavam: assassino!

assassino!

Tudo o mais estava calado. O mesmo som do relógio, lento, igual e seco, sublinhava o

silêncio e a solidão. Colava a orelha à porta do quarto na esperança de ouvir um gemido, uma

29

palavra, uma injúria, qualquer coisa que significasse a vida, e me restituísse a paz à consciência.

Estaria pronto a apanhar das mãos do coronel, dez, vinte, cem vezes. Mas nada, nada; tudo

calado. Voltava a andar à toa, na sala, sentava-me, punha as mãos na cabeça: arrependia-me de

ter vindo. –“Maldita a hora em que aceitei semelhante coisa!” exclamava. E descompunha o

padre de Niterói, o médico, o vigário, os que me arranjaram um lugar, e os que me pediram para

ficar mais algum tempo. Agarrava-me à cumplicidade dos outros homens.

Como o silêncio acabasse por aterrar-me, abri uma das janelas, para escutar o som do

vento, se ventasse. Não ventava. A noite ia tranquila, as estrelas fulguravam, com a indiferença

de pessoas que tiram o chapéu a um enterro que passa, e continuam a falar de outra coisa.

Encostei-me ali por algum tempo, fitando a noite, deixando-me ir a uma recapitulação da vida; a

ver se descansava da dor presente.

Só então posso dizer que pensei claramente no castigo. Achei-me com um crime às

costas e vi a punição certa. Aqui o temor complicou o remorso. Senti que os cabelos me ficavam

de pé. Minutos depois, vi três ou quatro vultos de pessoas, no terreiro, espiando, com um ar de

emboscada; recuei, os vultos esvaíram-se no ar; era uma alucinação.

Antes do alvorecer curei a contusão da face. Só então ousei voltar ao quarto. Recuei duas

vezes, mas era preciso e entrei; ainda assim, não cheguei logo à cama. Tremiam-me as pernas, o

coração batia-me; cheguei a pensar na fuga; mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia

fazer desaparecer os vestígios dele. Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a

boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos séculos: “Caim, que fizeste de teu

irmão?” Vi no pescoço o sinal de minhas unhas; abotoei-lhe alto a camisa e cheguei ao queixo a

ponta do lençol. Em seguida, chamei um escravo, disse-lhe que o coronel amanhecera morto;

mandei recado ao vigário e ao médico.

A primeira ideia foi retirar-me logo cedo, a pretexto de ter meu irmão doente, e, na

verdade, recebera carta dele, alguns dias antes, dizendo-me que se sentia mal. Mas adverti que a

retirada imediata poderia fazer despertar suspeitas, e fiquei. Eu mesmo amortalhei o cadáver,

com o auxílio de um velho preto míope. Não saí da sala mortuária; tinha medo de que

descobrissem alguma coisa. Queria ver no rosto dos outros se desconfiavam; mas não ousava

fitar ninguém. Tudo me dava impaciência: os passos de ladrão com que entravam na sala, os

cochichos, as cerimônias e as rezas do vigário. Vindo a hora, fechei o caixão, com as mãos

trêmulas, tão trêmulas que uma pessoa, que reparou nelas, disse a outra com piedade:

- Coitado do Procópio! apesar do que padeceu, está muito sentido.

Pareceu-me ironia; estava ansioso por ver tudo acabado. Saímos à rua. A passagem da

meia-escuridão da casa para a claridade da rua deu-me grande abalo; receei que fosse então

impossível ocultar o crime. Meti os olhos no chão, e fui andando. Quando tudo acabou, respirei.

Estava em paz com os homens. Não o estava com a consciência e as primeiras noites foram

naturalmente de desassossego e aflição. Não é preciso dizer que vim logo para o Rio de Janeiro,

nem que vivi aqui aterrado, embora longe do crime; não ria, falava pouco, mal comia, tinha

30

alucinações, pesadelos...

- Deixa lá o outro que morreu, diziam-me. Não é caso para tanta melancolia.

E eu aproveitava a ilusão, fazendo muitos elogios ao morto, chamando-lhe boa criatura,

impertinente, é verdade, mas um coração de ouro. E, elogiando, convencia-me também, ao

menos por alguns instantes. Outro fenômeno interessante, e que talvez lhe possa aproveitar, é

que, não sendo religioso, mandei dizer uma missa pelo eterno descanso do coronel, na igreja do

Sacramento. Não fiz convites, não disse nada a ninguém; fui ouvi-la sozinho, e estive de joelhos

todo o tempo, persignando-me a miúdo. Dobrei a espórtula do padre, e distribuí esmolas à porta,

tudo por intenção do finado. Não queria embair os homens; a prova é que fui só. Para completar

este ponto, acrescentarei que nunca aludia ao coronel, que não dissesse: “Deus lhe fale n'alma!”

E contava dele algumas anedotas alegres, rompantes engraçados...

Sete dias depois de chegar ao Rio de Janeiro, recebi carta do vigário, que lhe mostrei,

dizendo-me que fora achado o testamento do coronel, e que eu era o herdeiro universal. Imagine

o meu pasmo. Pareceu-me que lia mal, fui a meu irmão, fui aos amigos; todos leram a mesma

coisa. Estava escrito; era eu o herdeiro universal do coronel. Cheguei a supor que fosse uma

cilada; mas adverti logo que haveria outros meios de capturar-me, se o crime estivesse

descoberto. Demais, eu conhecia a probidade do vigário, que não se prestaria a ser instrumento.

Reli a carta, cinco, dez, muitas vezes; lá estava a notícia.

- Quanto tinha ele? perguntava-me meu irmão.

- Não sei, mas era rico.

- Realmente provou que era teu amigo.

- Era... era...

Assim, por uma ironia da sorte, os bens do coronel vinham parar às minhas mãos.

Cogitei em recusar a herança. Parecia-me odioso receber um vintém de tal espólio; era pior do

que fazer-me esbirro alugado. Pensei nisso três dias, e esbarrava sempre na consideração de que

a recusa podia fazer desconfiar alguma coisa. No fim dos três dias, assentei num meio-termo:

receberia a herança e dá-la-ia toda, aos bocados e às escondidas. Não era só escrúpulo: era

também o modo de resgatar o crime por um ato de virtude; pareceu-me que ficava assim de

contas saldas.

Preparei-me e segui para a vila. Em caminho, à proporção que me ia aproximando,

recordava o triste sucesso; as cercanias da vila tinham um aspecto de tragédia, e a sombra do

coronel parecia-me surgir de cada lado. A imaginação ia reproduzindo as palavras, os gestos,

toda a noite horrenda do crime...

Crime ou luta? Realmente, foi uma luta em que eu, atacado, defendi-me, e na defesa...

Foi uma luta desgraçada, uma fatalidade. Fixei-me nessa ideia. E balanceava os agravos, punha

no ativo as pancadas, as injúrias... Não era culpa do coronel, bem o sabia, era da moléstia, que o

tornava assim rabugento e até mau... Mas eu perdoava tudo, tudo... O pior foi a fatalidade

daquela noite... Considerei também que o coronel não podia viver muito mais; estava por

31

pouco; ele mesmo o sentia e dizia. Viveria quanto? Duas semanas, ou uma; pode ser até que

menos. Já não era vida, era um molambo de vida, se isto mesmo se podia se chamar ao padecer

contínuo do pobre homem... E quem sabe mesmo se a luta e a morte não foram apenas

coincidentes? Podia ser, era até mais provável; não foi outra coisa. Fixei-me também nessa

ideia...

Perto da vila apertou-se-me o coração, e quis recuar; mas dominei-me e fui. Receberam-

me com parabéns. O vigário disse-me as disposições do testamento, os legados pios, e de

caminho ia louvando a mansidão cristã e o zelo com que eu servira o coronel, que, apesar de

áspero e duro, soube ser grato.

- Sem dúvida, dizia eu, olhando para outra parte.

Estava atordoado. Toda a gente me elogiava a dedicação e a paciência. As primeiras

necessidades do inventário detiveram-me algum tempo na vila. Constituí advogado; as coisas

correram placidamente. Durante esse tempo, falava muita vez do coronel. Vinham contar-me

coisas dele, mas sem a moderação do padre; eu defendia-o, apontava algumas virtudes, era

austero...

- Qual austero! Já morreu, acabou; mas era o diabo.

E referiam-me casos duros, ações perversas, algumas extraordinárias. Quer que lhe

diga? – Eu, a princípio, ia ouvindo cheio de curiosidade; depois, entrou-me no coração singular

prazer, que eu, sinceramente, buscava expelir. E defendia o coronel, explicava-o, atribuía

alguma coisa às rivalidades locais; confessava, sim, que era um pouco violento... Um pouco?

Era uma cobra assanhada, interrompia-me o barbeiro: e todos, o coletor, o boticário, o escrivão,

todos diziam a mesma coisa: e vinham outras anedotas, vinha toda a vida do defunto. Os velhos

lembravam-se das crueldades dele em menino. E o prazer íntimo, calado, insidioso, crescia

dentro de mim, espécie de tênia moral, que por mais que a arrancasse aos pedaços, recompunha-

se logo e ia ficando.

As obrigações do inventário distraíram-me; e por outro lado a opinião da vila era tão

contrária ao coronel, que a vista dos lugares foi perdendo para mim a feição tenebrosa que a

princípio achei neles. Entrando na posse da herança, converti-a em títulos e dinheiro. Eram

então passados muitos meses, e a idéia de distribuí-la toda em esmolas e donativos pios não me

dominou como da primeira vez: achei mesmo que era afetação. Restringi o plano primitivo:

distribuí alguma coisa aos pobres, dei à matriz da vila uns paramentos novos, fiz uma esmola à

Santa Casa de Misericórdia, etc.: ao todo trinta e dois contos. Mandei também levantar um

túmulo ao coronel, todo de mármore, obra de um napolitano, que aqui esteve até 1866, e foi

morrer, creio eu, no Paraguai.

Os anos foram andando, a memória tornou-se cinzenta e desmaiada. Penso às vezes no

coronel, mas sem os terrores dos primeiros dias. Todos os médicos a quem contei as moléstias

dele, foram acordes em que a morte era certa, e só se admiravam de ter resistido tanto tempo.

Pode ser que eu, involuntariamente, exagerasse a descrição que então lhes fiz; mas a verdade é

32

que ele devia morrer, ainda que não fosse aquela fatalidade...

Adeus, meu caro senhor. Se achar que esses apontamentos valem alguma coisa, pague-

me também com um túmulo de mármore, ao qual dará por epitáfio esta emenda que faço aqui ao

divino sermão da montanha: “Bem-aventurados os que possuem, porque eles serão

consolados”.

(Machado de Assis. O Enfermeiro. )

O artigo 121, em seu Parágrafo 2º., inciso III do Código Penal Brasileiro, Decreto-Lei

nº. 2.848/40, de 07- 12- 1940, versa sobre o homicídio qualificado, com a seguinte redação:

Artigo 121- Matar alguém:

Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.

[...]

Homicídio qualificado

§ 2º. Se o homicídio é cometido:

[...]

III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso

ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

FICÇÃO & LEI

33

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

Uma vez lido o conto de Machado de Assis, O Enfermeiro, onde se narra a prática de

crime de homicídio qualificado, praticado pelo empregado, tendo como vítima a pessoa do

patrão, e conhecendo o teor do artigo 121, Parágrafo 2º., inciso III, do Código Penal Brasileiro,

procure responder aos questionamentos que se segue, para fins de socialização e debate.

01- O que tornou o ato do empregado em relação a seu patrão, um homicídio

qualificado?

02- Você pode considerar que houve nesse caso o crime tipificado como

latrocínio? Justifique sua resposta.

34

FICÇÃO LEI&

PRODUZINDO ENUNCIADOS

Redija uma ata relatando uma reunião de leitura de um testamento. Se preferir,

considere a abertura do testamento do coronel Felisberto, personagem do conto O Enfermeiro,

de Machado de Assis.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

No conto O enfermeiro, pequena mostra da genialidade do escritor brasileiro Machado

de Assis, o autor se revela um analista profundo do comportamento humano. O sentimento de

culpa que tortura a consciência do personagem Procópio a princípio, com o passar do tempo,

vai aos poucos se dissipando.

Identifique e copie do texto as razões a que o personagem Procópio recorre para

justificar a ausência de sentimento de culpa, ao aceitar a herança deixada pelo coronel.

Felisberto.

A vida numa sociedade de consumo, faz com que se crie termos próprios para as

chamadas relações comerciais. O vocábulo etiqueta e suas múltiplas significações no

quotidiano, em que o consumidor possui direitos básicos assegurados por lei, costuma evocar,

inclusive, o status de um produto. Carlos Drummond de Andrade, teceu um poema em que o

cerne do mesmo é a palavra etiqueta e sua simbologia em nossos dias.

Em minha calça está grudado um nomeQue não é meu de batismo ou de cartórioUm nome... estranho.Meu blusão traz lembrete de bebidaQue jamais pus na boca, nessa vida,Em minha camiseta, a marca de cigarroQue não fumo, até hoje não fumei.Minhas meias falam de produtoQue nunca experimenteiMas são comunicados a meus pés.Meu tênis é proclama coloridoDe alguma coisa não provadaPor este provador de longa idade.Meu lenço, meu lençol, meu chaveiro,Minha gravata e cinto e escova e pente,Meu corpo, minha xícara,Minha toalha de banho e sabonete,Meu isso, meu aquilo,Desde a cabeça ao bico dos sapatos.São mensagens,Letras falantes,Gritos visuais,Ordens de uso, abuso, reincidências,Costume, hábito, premência,Indispensabilidade,E fazem de mim homem-anúncio itinerante,Escravo da matéria anunciada.Estou, estou na moda.É doce andar na moda, ainda que a modaSeja negar minha identidade,Trocá-la por mil, açambarcandoTodas as marcas registradas, Todos os logotipos do mercado.

Eu, etiqueta

35

TEXTO 6

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL NUMA

PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO O QUOTIDIANO SOCIAL.

Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:100_10212.jpgAcesso em: 15/07/2010

Com que inocência demito-me de serEu que antes era e me sabiaTão diverso de outros, tão mim-mesmo,Ser pensante sentinte e solidárioCom outros seres diversos e conscientesDe sua humana, invencível condiçãoAgora sou anúncioOra vulgar ora bizarroEm língua nacional ou em qualquer língua(Qualquer, principalmente).E nisto me comprazo, tiro glóriaDe minha anulação.Não sou – vê lá – anúncio contratado.Eu é que mimosamente pagoPara anunciar, para venderEm bares festas praias pérgulas piscinas,E bem à vista exibo esta etiquetaGlobal no corpo que desisteDe ser veste e sandália de uma essênciaTão viva, independente,Que moda ou suborno algum a compromete.Onde terei jogado foraMeu gosto e capacidade de escolher,Minhas idiossincrasias tão pessoais,Tão minhas que no rosto se espelhavamE cada gesto, cada olhar,Cada vinco da roupaResumia uma estética?Hoje sou costurado, sou tecido,Sou gravado de forma universal,Saio da estamparia, não de casa,Da vitrine me tiram, recolocam,Objeto pulsante mas objetoQue se oferece como signo de outrosObjetos estáticos, tarifados.Por me ostentar assim, tão orgulhosoDe ser não eu, mas artigo industrial,Peço que meu nome retifiquem.Já não me convém o título de homem.Meu nome novo é coisa.Eu sou a coisa, coisamente.

(Carlos Drummond de Andrade. Eu, etiqueta. )

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

36

EDSON MARTINS

O vocábulo etiqueta, lembra entre outras coisas, consumo, que nos remete, em se

tratando de legislação, ao Código do Consumidor Brasileiro, Lei nº. 8.078/90, de 11- 09- 1990,

que em seu artigo 6º., descreve os direitos básicos do consumidor.

Art. 6º.- São direitos básicos do consumidor:

I- a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por

práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos

ou nocivos;

II- a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e

serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas

contratações;

III- a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,

com especificação correta de quantidade, características, composição,

qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;

IV- a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais

coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas

ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;

V- a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações

desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as

tornem excessivamente onerosas;

VI- a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,

individuais, coletivos e difusos;

VII- o acesso aos órgãos judiciários e admnistrativos, com vista à prevenção

ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou

difusos, assegurada a proteção jurídica, admnistrativa e técnica aos

necessitados;

VIII- a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus

da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for

verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as

regras ordinárias de experiências;

IX- (Vetado);

X- a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

ARTE POÉTICA & LEI

37

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

Carlos Drummond de Andrade, enumera em seu poema Eu, etiqueta, diversos

elementos do universo comercial, típicos de uma sociedade de consumo. O Código do

Consumidor Brasileiro, estabelece normas de proteção ao consumidor. Uma vez realizadas as

leituras do poema e do artigo 6º e incisos, da Lei nº. 8.078/90, respon-

da ou dê o que se pede.

01- Copie do poema, o(s) verso(s) que falem da publicidade comercial, e em

seguida identifique e copie da Lei nº. 8.079/90, Código do Consumidor

Brasileiro, artigo 6º, o inciso que regulamenta essa publicidade.

02- Destaque o inciso do artigo 6º. que você considera de maior importância,

e defenda sua escolha, argumentando.

Proteção da vida, saúde e segurança.

Tem os consumidores e terceiros não envolvidos em dada relação de consumo

incontestável direito de não serem expostos a perigos que atinjam sua incolumidade física,

perigos tais representados por práticas condenáveis no fornecimento de produtos e serviços.

E, em decorrência de tal direito, o Código elenca normas que exigem, por exemplo, a

devida informação sobre os riscos que produtos e serviços possam apresentar, de maneira clara

e evidente, ou simplesmente não colocá-los no mercado, se tais riscos forem além do que

normalmente se espera deles.

(José Geraldo Brito Filomeno. Código Bra- sileiro de defesa do Consumidor comentado

pelos autores do anteprojeto. p. 137)

ENUNCIADO COMPLEMENTAR

38

ARTE POÉTICA LEI&

ENUNCIADO COMPLEMENTAR

PRODUZINDO ENUNCIADOS

Crie uma nova marca comercial e produza o conteúdo para a etiqueta da mesma, com as

informações essenciais para o consumidor.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

Pesquise os sentidos em que a palavra etiqueta é empregada, e a importância da mesma

para o gênero discursivo publicitário.

39

As peripécias de um ciclista no caos do trânsito urbano, chama a atenção nesse conto do

paranaense Dalton Trevisan. Infração às leis do trânsito, não é ação restrita a condutores de

veículos automotores, como bem podemos depreender da leitura de O Ciclista.

Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na esquina dá com o sinal vermelho e não se

perturba – levanta voo bem na cara do guarda crucificado. No labirinto urbano persegue a morte

com o trim-trim da campainha: entrega sem derreter sorvete a domicílio.

É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio acorrentado

ao pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso, desvia de fininho o

poste e o caminhão; o ciclista por muito favor derrubou o boné.

Atropela gentilmente e, vespa furiosa que morde, ei-lo defunto ao perder o ferrão.

Guerreiros inimigos trituram com chios de pneus o seu diáfano esqueleto. Se não estrebucha ali

mesmo, bate o pó da roupa e – uma perna mais curta – foge por entre as nuvens, a bicicleta no

ombro.

Opõe o peito magro ao pára-choque do ônibus. Salta a poça d'água no asfalto. Num só

corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão.

Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o sono trim-

trim a pé e, na primeira esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim.

(Dalton Trevisan. O ciclista. )

O Código de Trânsito Brasileiro, Lei nº. 9.503/97, de 23- 09- 1997, estabelece em seu

artigo 302 (caput), Parágrafo único, e incisos de I a V, sanções para a prática de homicídio

culposo na direção de veículo automotor, e informa ainda, quais são as situações de aumento de

pena.

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

O CICLISTA

40

TEXTO 7

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL NUMA

PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO O QUOTIDIANO SOCIAL.

Disponível em http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/28/Biker-75.pngAcesso em: 15/07/2010

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

Art. 302- Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:

Penas – detenção, de 2 (dois) a 4(quatro) anos, e suspensão ou proibição de se obter a

permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Parágrafo único – No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a

pena é aumentada de 1/3 (um terço) à 1/2 (metade), se o agente:

I- não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

II- praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;

III- deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco

pessoal, à vítima do acidente;

IV- no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo

veículo de transporte de passageiros;

V- estiver sob a influência de álcool ou substância tóxica ou

entorpecente de efeitos análogos.

Em O Ciclista, Dalton Trevisan, com brevidade, traça um painel, da rotina do trânsito nos

centros urbanos. Condutores de veículos diversos, obrigam-se a conviver nas vias públicas,

embora nem sempre essa convivência seja muito pacífica. O Brasil, apresenta estatísticas

alarmantes quanto a acidentes de trânsito, em razão do grande número de mortes ocorridas

anualmente.

Tendo procedido leitura e análise dos textos O Ciclista, de Dalton Trevisan, e artigo 302

(caput), Parágrafo único, e incisos de I a V do Código de Trânsito Brasileiro, realize a seguinte

atividade:

01- De acordo com o enredo, caso o ciclista, personagem central do

conto de Dalton Trevisan, estivesse conduzindo um veículo

automotor, aponte quais seriam a(s) infração(ões) praticadas por

ele.

02- Que lei recente está relacionada com o inciso V?

FICÇÃO & LEI

41

FICÇÃO LEI&

EDSON MARTINS

ENUNCIADO COMPLEMENTAR

Violência gratuita.

É impossível encontrar quem nunca tenha se alarmado com as estatísticas de acidentes e

mortes no trânsito em cidades e rodovias brasileiras. Segundo o Sistema de Informações sobre

Mortalidade do Ministério da Saúde, o trânsito é responsável por cerca de 36 mil mortes ao ano

no país. De acordo com dados registrados pelo Departamento de Trânsito do Paraná (Detran),

mais de sessenta mil pessoas foram vítimas de acidentes de trânsito no Estado em 2008. O

número de mortos no local do acidente chegou a 1.590, o que corresponde a uma média

superior a quatro mortos por dia, sem contar os óbitos ocorridos após a remoção dos feridos, não

computados pelos órgãos de trânsito brasileiros.

(Climéa Bevilacqua. Revista Sem Fronteiras. Nº.

02, Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e

Ensino Superior. Curitiba: 1º. Semestre de 2009. p. 90)

42

ENUNCIADO COMPLEMENTAR

PRODUZINDO ENUNCIADOS

Considere seu trabalho em um jornal de grande circulação e que está sob sua

responsabilidade escrever um editorial sobre a violência no trânsito urbano. Não deixe de usar

dados estatísticos recentes para alicerçar suas ideias.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

Verifique no texto do Código Brasileiro de Trânsito, quais são as determinações para os

ciclistas e pedestres em trânsito nas vias públicas.

Em grupos, discutam o conteúdo dessa lei e qual a importância de um trãnsito

organizado, independente do porte de uma comunidade.

Até hoje, os chamados crimes passionais, chamam atenção. Quem os pratica, sempre

justifica sua ação maléfica, invocando seus sentimentos feridos, numa relação afetiva. O inglês

William Shakespeare, retrata em Otelo, uma tragédia em que explora várias faces da alma

humana, como o ciúme, pode desiquilibrar psicologicamente um ser humano, a ponto de levá-lo

a praticar um terrível crime.

Otelo, personagem central da tragédia homônima, é um nobre mouro a serviço do

Estado de Veneza. Contrariando o pai de Desdêmona, de nome Bragâncio, Otelo casa-se com

ela. Iago, alferes de Otelo, que muito o invejava, semeia desconfiança em seu íntimo, fazendo

com que experimente um ciúme tão doentio, a ponto de decidir tirar a vida de Desdêmona, sua

esposa, acusando-a de traição conjugal.

QUINTO ATO

CENA II

Um quarto na cidadela. Desdêmona dorme em sua cama.

Entra Otelo com uma luz. Ele tranca a porta.

OTELO – Essa é a causa, essa é a causa, minha alma. Não me peçam, castas estrelas,

que eu dê nome a ela. Essa é a causa. Contudo, não derramarei seu sangue, nem deixarei marca

naquela sua pele, mais branca que a neve, mais lisa que o alabastro de monumentos... E, no

entanto, ela deve morrer, para que não venha a trair mais homens. Primeiro, apaga-se a luz, e

depois... apaga-se a luz. Se preciso extinguir-te a ti, sacerdotisa ardente, posso ainda uma vez

recuperar tua luz passada, no caso de me arrepender. Porém, uma vez apagada a tua luz, modelo

mais sutil da natureza em sua excelência, eu não saberia onde encontra-se aquela chama de

Prometeu que pudesse reacender tua luz.

OTELO

43

TEXTO 8

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL NUMA

PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO O QUOTIDIANO SOCIAL.

Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Oteloydesdemona_Mu%C3%B1ozDegrain.jpgAcesso em: 15/07/2010

[Larga o círio.]

Quando eu tiver arrancado a rosa da roseira, não tenho como restituir-lhe o crescimento

vital. Ela não tem outro remédio que não fenecer. Aspiro então o seu perfume no galho.

[Beija-a.]

Oh, hálito balsâmico, quase consegues persuadir a Justiça a quebrar a sua espada! Mais

um! Mais um! Sê assim quando estiveres morta, e quero matar-te para depois te amar. Um mais,

e este é o derradeiro. Tamanha doçura jamais foi tão fatal. Minha necessidade é de chorar, mas

as minhas são lágrimas cruéis; e celestial é o meu pesar, pois ele dói na fonte do amor. Ela está se

acordando.

DESDÊMONA – Quem está aí? Otelo?

OTELO – Sim, Desdêmona.

DESDÊMONA – Já vens para cama, meu Senhor?

OTELO – Dissestes tuas orações esta noite, Desdêmona?

DESDÊMONA – Sim, meu amo e esposo.

OTELO – Se te vier à memória algum crime para o qual ainda não conseguiste

reconciliação com os céus e a graça divina, faze esse pedido agora ao Senhor.

DESDÊMONA – Ai! Meu amo e esposo, o que poderias estar querendo dizer com isso?

OTELO – Bem, faze isso, e sê breve. Enquanto isso, eu dou uma caminhada. Eu não

mataria o teu espírito despreparado. Não... Deus me livre!...Eu não mataria tua alma.

DESDÊMONA – Falas em matar?

OTELO – Sim, falo em matar.

DESDÊMONA – Pois então que os céus tenham piedade de mim!

OTELO – Amém, é o que eu desejo com todo o meu coração.

44

EDSON MARTINS

45

DESDÊMONA – Se falas assim, espero que não me mates.

OTELO – Hmm!

DESDÊMONA – E no entanto, tu me assustas, pois sabes ser fatal quando reviras os

olhos dessa maneira. Por que deveria eu assustar-me contigo não faço a menor ideia, uma vez

que desconheço culpas. Todavia, sinto-me assustada.

OTELO – Pensa em teus pecados.

DESDÊMONA – Todos eles são amores que entrego em ti, para ti.

OTELO – Sim, e por isso tu morres.

DESDÊMONA – Essa não seria uma morte natural, a que mata por se amar. Ai de mim,

por que mordes teu lábio inferior desse jeito? Alguma paixão sanguinária faz tremer todo teu

corpo. Isso são presságios, mas espero, realmente espero que não me ameacem a mim esses

presságios.

OTELO – Calma, e fica quieta.

DESDÊMONA – Assim farei. Qual é o problema?

OTELO – Aquele lenço de que tanto gosto e dele te fiz um presente, tu o deste a Cássio.

DESDÊMONA – Não! Por minha vida, não! Por minha alma, não! Manda buscar o

homem e pergunta a ele.

OTELO – Doce alma, presta atenção. Presta atenção, que isso é perjúrio. Estás no teu

leito de morte.

DESDÊMONA – Sim, mas ainda não estou pronta para morrer.

OTELO – Pois logo, logo morrerás. Portanto, confessa e liberta-te desse teu pecado. O

teu negar cada item com juramentos não fará desaparecer, tampouco sufocará, o forte propósito

de que estou imbuído e que me faz assim padecer. Deves morrer.

DESDÊMONA – Oh, Senhor meu Deus, tende piedade de mim.

OTELO – Amém.

DESDÊMONA – E tenhas tu piedade também. Jamais o traí em toda a minha vida.

Jamais amei Cássio com outro amor que não aquele que os céus sancionam, o único tipo de

amor que eu poderia sentir por Cássio. E jamais dei-lhe uma lembrança. [...]

(William Shakespeare. Otelo. )

O Código Penal Brasileiro, Decreto-Lei nº. 2.848/40, de 07- 12- 1940, traz em seu artigo

28 (caput), e inciso I:

Art. 28- Não excluem a imputabilidade penal:

I – a emoção ou a paixão;

Agora que você conhece um fragmento da famosa tragédia shakespereana Otelo, e o

conteúdo do artigo 28 (caput) e inciso I, do Código Penal Brasileiro, forme e exponha sua

opinião sobre a questão a seguir.

01- É admissível na esfera legal a justificativa de que se atentou contra a vida de

outrem por amor? Explique.

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

FICÇÃO E LEI

46

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

FICÇÃO LEI&

Emoção: É um movimento psíquico de forte e repentina comoção ou excitação, que

pode acometer uma pessoa, à vista de alguém ou pela percepção de algo bom ou ruim.

Exemplos: raiva, alegria, medo, coragem etc.

Paixão: É um estado psíquico similar à emoção, porém mais duradouro, muitas vezes

originário de uma emoção guardada e constantemente lembrada. Exemplos: amor, ciúme, ódio,

ambição etc.

( Celso Delmanto et al. Código Penal Comentado. p. 57)

47

ENUNCIADO COMPLEMENTAR

PRODUZINDO ENUNCIADOS

Redija um texto jornalístico noticiando o assassinato da personagem Desdêmona por

seu marido Otelo, personagens imortais da obra de William Shakespeare. Não deixe de dar um

título ao seu texto.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

Analise o excerto da obra Otelo de William Shakespeare. Trata-se de um texto para

teatro, classificado como tragédia. As tragédias têm uma característica peculiar, que as

distinguem de outros textos escritos para teatro (comédia, drama, auto, farsa, tragicomédia,

etc.).

Qual é essa característica?

Pesquise a respeito.

No site , você encontrará outras obras de Shakes-

peare na íntegra. Procure conhecê-las e amplie sua cultura literária.

http://www.dominiopublico.gov.br

BOM CRIOULO

Adolfo Caminha, escandalizou a sociedade de sua época, com a publicação do romance

Bom-Crioulo, que aborda a homossexualidade masculina nas Forças Armadas brasileiras

(marinha). O envolvimento homoafetivo entre os marinheiros Amaro, um negro, apelidado de

Bom-Crioulo, e Aleixo, um rapaz branco, motiva também a discussão sobre a questão

racial/preconceito de cor.

Abaixo, você tem o bilhete que Amaro (Bom-Crioulo), escreve a Aleixo, reclamando

sua ausência, em razão da falta de contato entre os dois, após um certo tempo.

Capítulo IX

“Meu querido Aleixo

Não sei o que é feito de ti, não sei o que é feito do meu bom e carinhoso amigo da Rua da

Misericórdia. Parece que tudo acabou entre nós. Eu aqui estou, no hospital, já vai quase um mês,

e espero que me venhas consolar algumas horas com a tua presença.

Estou sempre a me lembrar do nosso quartinho... Não faltes. Vem amanhã, que é

Domingo.

TeuBom-Crioulo”.

(Adolfo Caminha. Bom-Crioulo.)

48

TEXTO 9

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL NUMA

PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO O QUOTIDIANO SOCIAL.

Disponível em http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a2/Abram_Petrovich_Gannibal.jpgAcesso em: 15/07/2010

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

FICÇÃO & LEI

A igualdade entre cidadãos, é assegurada pelo texto da Constituição Federal Brasileira,

quando afirma no caput do seu artigo 5º., e enfatiza no inciso XLI:

Art. 5º.- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-

se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à

liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades

fundamentais;

Nessa esteira, o conteúdo do artigo 3º. (caput), e inciso IV:

Art. 3º.- Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

[...]

IV – promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, cor, idade e quaisquer

outras formas de discriminação.

Considere o enredo da obra de Adolfo Caminha, “Bom-Crioulo”, que narra o

envolvimento homoafetivo entre dois marinheiros, Amaro (Bom-Crioulo), e Aleixo, à luz do

que expressa os artigos e incisos da Constituição Federal, acima citados.

01- Há amparo legal para essa relação homoafetiva no texto constitucional?

Fundamente sua resposta.

02- A orientação sexual de uma pessoa faz com que esta pertença a uma

segunda categoria de cidadãos? Justifique.

49

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

FICÇÃO LEI&

EDSON MARTINS

ENUNCIADOS COMPLEMENTARES I

Marcha soldado.

Num ato corajoso, pela primeira vez na história, um juiz de São Paulo derruba tabus e

dá ganho de causa a um subtenente que quer incluir o companheiro como seu beneficiário na

Previdência da Polícia Militar.

Antonio Módulo Sobrinho, de 68 anos, é subtenente reformado da Polícia Militar do

Estado de São Paulo. Trabalhou na polícia por 22 anos. Fez policiamento ostensivo nas ruas, foi

salva-vidas do Corpo de Bombeiros em São Paulo, na Baixada Santista, e atuou também no

presídio do Carandiru. Durante 20 anos conseguiu esconder da corporação sua vida pessoal.

“Nunca perceberam nada em mim, nunca dei motivo nem falei para ninguém da PM sobre a

minha opção sexual”, explica.

O policial aposentado vive com Guilherme Mallas Filho, de 56 anos, há quase 41. Desde

fevereiro de 2006, o casal luta na Justiça para que Guilherme possa ser incluído como

beneficiário do companheiro na Caixa Beneficente da Polícia Militar do Estado de São Paulo,

uma espécie de previdência exclusiva para PMs.

Numa decisão inédita do Juiz Rômolo Russo Jr., da 5ª. Vara da Fazenda Pública, a dupla

obteve a primeira vitória. “O cargo choca, mas não é indigno ser homossexual em nenhuma

profissão”, diz o magistrado. Russo Jr. explica que como não há uma legislação para casos como

esse, o juiz deve agir como legislador, já que existe uma lacuna na lei. “Eles provaram que

mantêm uma união estável, têm conta conjunta desde 1987, e que existe uma relação de afeto e

dependência econômica. Não há razão para que Guilherme não seja beneficiário do

companheiro”.

[...]

(Camila Garcia)

II

O romance “Bom-Crioulo”, foi publicado em 1895, causando enorme escândalo, não só

por seu conteúdo, mas também por ter sido escrito por um ex-oficial da Armada, ou seja,

Adolfo Caminha. Mais de um século depois, em junho de 2008, a Revista Época, publicou uma

reportagem sobre um casal de soldados do Exército brasileiro que mantinha vida em comum há

50

ENUNCIADOS COMPLEMENTARES

mais de dez anos, fato que gerou polêmica, levando um deles, o sargento De Araújo, a ser preso

e processado, ficando sujeito à expulsão da corporação.

ELES SÃO DO EXÉRCITO.

ELES SÃO PARCEIROS.

ELES SÃO GAYS

51

O pernambucano Fernando Alcântara de Figueiredo pisou pela primeira vez em Brasília

em 1995, com uma mochila nas costas e uma pequena mala à mão. Tinha 22 anos. Após onze

meses no curso preparatório para sargento do Exército em Juiz de Fora, Minas Gerais, ele

desembarcava na capital da República para se apresentar ao Batalhão da Guarda Presidencial,

unidade conhecida por ter uma das rotinas mais severas da caserna. Foi lá que, dias depois,

conheceu o potiguar Laci Marinho de Araújo, outro recém-chegado a Brasília. Laci, que fizera o

curso preparatório em Três Corações, interior mineiro, fora escalado para o mesmo BGP.

Demorou pouco para os dois se identificarem. Em questão de dias, a amizade parecia vir da

infância.

A relação que ali começava nortearia, de modo marcante, o futuro da dupla tanto dentro

quanto fora do Exército. A amizade já durava quase dois anos quando eles resolveram sair do

alojamento militar para morar juntos numa república. Mais tarde, passaram a dividir o mesmo

apartamento. A proximidade entre os dois passou a despertar a atenção dos companheiros de

quartel, incluindos seus superiores. Tudo indicava que ali poderia haver mais que uma amizade.

Fernando e Laci, no entanto, garantiam ser apenas grandes amigos. Na semana passada, isso

mudou. Em entrevista a ÉPOCA, eles assumiram viver uma relação amorosa desde que se

mudaram do alojamento do batalhão, em 1997.

É o primeiro caso de militares da ativa do Exército Brasileiro que, além de assumirem

ser homossexuais, admitem uma relação estável e, mais que isso, mostram a cara. "Nós somos

um casal e mantemos uma relação estável há mais de dez anos", diz Laci, hoje com 36 anos.

"Até no cartão de crédito nós temos o outro como dependente", diz. "É tudo como um casal

normal", emenda Fernando, 34.

Sargento De Araújo, ou Laci, divide a carrerira militar com a vida de artista. É o

Unidos, os sargentos Laci Marinho de Araújo e Fernando Alcântara de Figueiredo. "É tudo como um casal normal", dizem.

vocalista de uma banda chamada Terceira Visão e se apresenta como cover da cantora Cássia

Eller, morta em 2001. No palco, assume outro nome: Eron Anderson. Sargento Fernando o

apóia. "Eu sou uma espécie de empresário do Laci", diz.

Essa jornada dupla está no epicentro de uma guerra que a dupla vem travando com o

Exército. Em 2007, Laci passou seis meses fora do trabalho. Alegou problemas de saúde. "Já

diagnosticaram várias coisas, como lesão medular, esclerose múltipla, disfunção labiríntica,

depressão... Mas até hoje não sei ao certo o que é", diz ele. O sargento mostra um punhado de

caixas de remédios tarja-preta para reforçar o argumento.

No dia 21 de maio, a justiça militar mandou prender o sargento De Araújo. Hoje, ele

é considerado desertor. Ao final do processo, poderá ser expulso do Exército.

52

(Rodrigo Rangel e Solange Azevedo)

III

STJ RECONHECE ADOÇÃO POR CASAL HOMOSSEXUAL NO RS

Em uma decisão histórica, a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu

por unanimidade a adoção de crianças por um casal homossexual de Bagé (RS). A Justiça

gaúcha já havia considerado a união homoafetiva em questão como uma família e autorizado

que as duas crianças adotadas fossem registradas com o nome das duas mães. O Ministério

Público Federal do Rio Grande do Sul, no entanto, recorreu da decisão, o que levou o caso ao

STJ, em 2006.

“Não se pode supor que o fato dos adotantes serem duas mulheres possa causar algum

dano (à formação das crianças), dano ao menor seria a não adoção”, disse o ministro João

Otávio de Noronha, presidente da 4ª Turma. Ao criticar a atuação do Ministério Público do Rio

Grande do Sul, ele afirmou que o MP devia ter considerado o interesse das crianças.

Segundo ele, o entendimento não era uma preferência a heterossexuais ou

homossexuais, e sim para aquilo que “for melhor para as crianças”.

(Último Segundo. 27/4/2010)

PRODUZINDO ENUNCIADOS

Escreva uma resenha apresentando a obra literária Bom-Crioulo, de autoria de Adolfo Caminha, com o intuito de despertar a curiosidade dos leitores a respeito da mesma.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

As Forças Armadas do Brasil, são compostas pelo Exército, Marinha e Aeronáutica. Pesquise o papel de cada uma e faça um relato para apresentação oral em sala de aula.

53

MULHER PRA MIM

É MINHA VÓ

Em sua obra Vovó Delícia, o escritor e cartunista Ziraldo aborda a admiração da neta

pela avó. Em nossos dias, nem todo avô ou avó, tem necessariamente que ser um idoso ou

idosa. Porém, em algum momento, todos seremos idosos, se a natureza nos permitir, alcançando

uma longevidade, que no Brasil, se revela através de uma população idosa que vem aumentando

significativamente, em comparação com as gerações passadas.

Quer dizer, tem a mamãe, não é? Mas mãe não vale, mãe tem o dia dela. Quando ouço

falar nesse negócio de Dia Internacional da Mulher, o primeiro nome que me vem à cabeça é o

da minha vó. Mamãe e eu não temos muito tempo para conversar sobre essas coisas. Lá em casa

somos só ela e eu, e ela trabalha feito formiguinha. De manhã vou para a escola, e ela, para um

dos seus empregos. Quem vai me buscar no colégio é minha vó. Já o que mais a minha vó faz é

conversar comigo. Fico até sem jeito de dizer, mas acho que sou a alegria da vida dela. Quer

dizer: ela é que vive falando isso baixinho para os outros e eu, quieta, escutando. Minha vó

conversa comigo como se nós fôssemos da mesma idade. Não é como se eu fosse da idade dela,

não; é como se ela fosse da minha idade.

(Ziraldo. Vovó Delícia. p. 8)

A Carta Magna Brasileira, reza em seus artigos 229 e 230 (caput):

Art. 229- Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos

maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.

Art. 230- A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,

assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e

garantindo-lhes o direito à vida.

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL.

54

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

TEXTO 10

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL NUMA

PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO O QUOTIDIANO SOCIAL.

Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Azc.JPGAcesso em: 15/07/2010

A Lei nº. 10.741/03, de 01-10-2003, denominada Estatuto do Idoso, estabelece em seu

artigo 2º (caput), 4º (caput) e parágrafos 1º. e 2º.:

Art. 2º.- O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem

prejuízo da proteção integral de que trata essa Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros

meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu

aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.

Art. 4º.- Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação,

violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será

punido na forma da lei.

§ 1º. – É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso.

§ 2º. – As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção outras decorrentes

dos princípios por ela adotados.

No texto, de autoria de Ziraldo, a neta revela profunda admiração por sua avó. A

Constituição Federal e o Estatuto do Idoso, asseguram assistência ao idoso e respeito a sua

dignidade de pessoa humana.

01- Em sua opinião, a que se deve a falta de respeito manifestada à pessoa idosa,

inclusive por aqueles que se dizem esclarecidos?

ICÇÃO & LEI

55

FICÇÃO LEI&

PRODUZINDO ENUNCIADOS

Redija uma carta a sua avó, exaltando as qualidades da mesma enquanto mulher.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

Prepare, em equipe, um jornal falado sobre a situação do idoso no Brasil.

EDSON MARTINS

A VELHINHA

CONTRABANDISTA

Sérgio Porto, que assinava seus escritos como Stanislaw Ponte Preta, tece uma bem

humorada crônica a partir de um fato que já se tornou comum pela frequência com que aparece

nos noticiários nacionais e internacionais, o contrabando. A grande novidade, é que a

protagonista da ação ilícita nessa crônica, é uma simpática velhinha.

Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava na fronteira

montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da alfândega – tudo

malandro velho – começou a desconfiar da velhinha.

Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da alfândega mandou ela

parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:

- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que

diabo a senhora leva nesse saco?

- A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que ela

adquiriu no odontólogo, e respondeu:

- É areia!

Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar

da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha

areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi

embora, com o saco de areia atrás.

Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no

outro com moamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na

lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que ela levava no

saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês

seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.

Diz que foi aí que o fiscal se chateou:

- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com quarenta anos de serviço. Manjo essa

56

TEXTO 11

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL NUMA

PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO O QUOTIDIANO SOCIAL.

Disponível em http://3.bp.blogspot.com/_jsN9tBCMuXI/SwFSLMXDL6I/AAAAAAAAAro/fTQOSmg8OvI/s1600/interpretacao+de+texto+exercicio.jpgAcesso em: 15/07/2010

coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.

- Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal

propôs:

- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não

conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está

passando por aqui todos os dias?

- O senhor promete que não “espáia”? – quis saber a velhinha.

- Juro – respondeu o fiscal.

- É lambreta.

(Stanislaw Ponte Preta)

O Código Tributário Nacional, Lei nº. 5.172/66, de 25- 10- 1966, traz em seus artigos 3º.

e 5º. (caput) a definição de tributo e quais são as espécies tributárias legalmente criadas no

Brasil.

Art. 3º.- Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela

se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante

atividade admnistrativa plenamente vinculada.

Art. 5º.- Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria.

A arrecadação de tributos, é uma necessidade para que a máquina estatal seja mantida, e

ao mesmo tempo, possa cumprir o seu papel de atender às necessidades da população nas áreas

de educação, saúde, assistência social, segurança e outras de igual importância.

Na crônica de Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), a velhinha admite praticar

diariamente, a atividade ilegal de contrabando de lambretas.

http://www.casadobruxo.com.br/poesia/s/sergio19.htm

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

FICÇÃO & LEI

57

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

FICÇÃO LEI&

EDSON MARTINS

01- A atividade da velhinha impede a arrecadação de que espécie de tributo citado

no artigo 5º. do Código Tributário Nacional?

02- Escreva alguns impostos, taxas e contribuições de melhoria que você

conhece, pois fazem parte da vida dos brasileiros.

03- Leia o enunciado complementar II, e informe porque a velhinha, personagem

da crônica de Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), deveria ser autuada pelo

fiscal da alfândega.

I

Além dos impostos, taxas e contribuições de melhoria, estão previstas na Constituição

Federal Brasileira duas outras figuras tributárias, que se encaixam na definição de tributo, que

são os empréstimos compulsórios, previstos no artigo 148 e as contribuições especiais ou

parafiscais, previstas no artigo 149.

Portanto, as espécies tributárias, no Brasil, são cinco: impostos, taxas, contribuições

de melhorias, empréstimos compulsórios e contribuições especiaias ou parafiscais.

II

Sonegar imposto, ou deixar de pagar mediante qualquer artifício, é considerado infração

pelas leis brasileiras.

O contrabando ou descaminho, por exemplo, é crime capitulado no Decreto-Lei nº.

2.848/40, de 07- 12- 1940, Código Penal Brasileiro, conforme redação do artigo 334 (caput), do

referido diploma legal.

Art.334- Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o

ENUNCIADOS COMPLEMENTARES

58

ENUNCIADOS COMPLEMENTARES

pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de

mercadoria:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

III

Para que alcancemos a igualdade e a justiça é indispensável que o Sistema Tributário

Nacional seja utilizado como instrumento de distribuição de renda e redistribuição de riqueza e

tenha como objetivos o crescimento econômico, a criação de empregos, a redução da

dependência de capitais externos, a eliminação da pobreza, a justiça fiscal, a justiça social e o

desenvolvimento sustentado.

(Ministério da Fazenda e Ministério da Educação.

Programa de Educacão Fiscal – PNEF. Caderno 3, p. 84)

59

Produza um artigo de opinião sobre a cobrança de tributos no Brasil. Não deixe de incluir outras vozes no texto, que também opinem sobre o assunto. Enfoque ainda, a realidade e a necessidade de fiscalização na aplicação dos valores arrecadados com essa cobrança.

PRODUZINDO ENUNCIADOS

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

Verifique quais são os tributos municipais que você e sua família pagam.Procure o setor fazendário da prefeitura do seu município, e solicite o valor das alíquotas aplicadas na cobrança de cada um dos tributos municipais, pagos pelos munícipes.

POEMA TIRADO

DE UMA NOTÍCIA

DE JORNAL

Manuel Bandeira, em seu Poema tirado de uma notícia de jornal, apresenta-nos João

Gostoso e o seu trágico fim, após uma noite de bebedeira.

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num

barracão sem número.

Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro

Bebeu

Dançou

Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

(Manuel Bandeira)

A Lei nº. 11.340/06, de 23- 08- 2006, trata das políticas públicas sobre drogas. O artigo

1º (caput) estabelece os objetivos desta lei, e o Parágrafo único, informa o que se define como

drogas, na legislação brasileira.

Art. 1º- Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas –

Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de

http://www.cpv.com.br/cpv-vestibulandos/dicas/livros/litobr3001.pdf

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

60

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

TEXTO 12

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL NUMA

PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO O QUOTIDIANO SOCIAL.

NOTÍCIAS

Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:P_newspaper.svgAcesso em: 15/07/2010

usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada

e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes.

Parágrafo único- Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os

produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas

atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União.

Você que além de conhecer a tragédia ocorrida com João Gostoso, conhece o artigo 1º. e

o Parágrafo único, da lei brasileira de Tóxicos, pode agora analisar e responder às questões

abaixo.

01- João Gostoso, na noite do seu afogamento, havia usado algum tipo de

substância classificada como droga lícita? Em caso afirmativo, que

substância era essa?

02- Embasado na redação do Parágrafo único, da Lei de Tóxicos, relacione

substâncias e produtos considerados(as) drogas lícitas e aqueles(as)

classificados(as) como drogas ilícitas.

ARTE POÉTICA & LEI

61

ARTE POÉTICA LEI&

Redija um texto para ser utilizado em uma campanha de conscientização sobre o uso de

drogas, alertando para os perigos que as mesmas representam. Tente dar enfoque tanto às

drogas classificadas como lícitas, quanto às consideradas ilícitas.

PRODUZINDO ENUNCIADOS

Pesquise sobre drogas lícitas e drogas ilícitas, para fins de realização de uma mesa-

redonda sobre o assunto.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

EDSON MARTINS

No romance A descoberta da América pelos turcos, Jorge Amado, um dos mais

conhecidos escritores brasileiros, com vastíssima obra, registra um ato de violência doméstica,

quando a personagem Adib, reagindo à reação de sua esposa Adma, que resolvera tomar

satisfação quanto a sua ausência do lar, resolve aplicar-lhe um corretivo.

Apesar de jovem conseguiu impor-se: patrão competente e trabalhador, aceito estimado

pela parentela. Mais do que isso, feliz no casamento. Revelou-se marido pacato e constante,

afeiçoado ao leito da cara-metade. Não chegava a ser exemplo singular de monogamia, como o

fora Ibrahim ao tempo de Sálua. Vez por outra acompanhava o sogro a espairecer à toa pela

noite, sem hora de regresso. Por ocasião do primeiro espairecimento do consorte, Adma tentou

botar as manguinhas de fora; esperou acordada, acumulando cólera e veneno, virou cobra e o

recebeu com paus e pedras, urros e soluços, um verdadeiro dois-de-julho. Para começo de

conversa Adib aplicou-lhe potente par de bofetadas, prelúdio da surra memorável com que a

exemplou; em seguida ele a montou com ímpeto e desvelo, deixando-a por fim quieta e

satisfeita, ronronando. Sempre que necessário e também sem necessidade aparente, repetiu o

tratamento: assim a domou com porrada e mimo.

(Jorge Amado. A descoberta da América

pelos turcos. p. 165-166)

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

A DESCOBERTA DA

AMÉRICA PELOS

TURCOS

62

TEXTO 13

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL NUMA

PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO O QUOTIDIANO SOCIAL.

Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Suzanne_Perry.jpgAcesso em: 15/07/2010

A chamada Lei Maria da Penha, é a Lei nº. 11.340/06, de 07- 08- 2006, que trata da

violência doméstica. Observe a redação do artigo 5º. (caput), incisos I, II, III e Parágrafo único.

Art. 5º.- Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a

mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento

físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio

permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos

que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade

expressa;

III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido

com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo Único- As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de

orientação sexual.

Uma vez lido o excerto da obra de Jorge Amado, A descoberta da América pelos turcos,

e conhecendo o artigo 5º. (caput), incisos I, II, III e Parágrafo único da Lei Maria da Penha

(Violência doméstica), reflita e posicione-se sobre os questionamentos a seguir para fins de

debate.

01- Caso Adib tivesse humilhado sua esposa Adma, com palavras, esta poderia se

valer do texto da Lei Maria da Penha, para denunciá-lo?

02- A lei garante amparo ao ex-cônjuge, em caso de agressão? Fundamente sua

resposta com base no caput do artigo, e/ou incisos e parágrafo citados.

FICÇÃO & LEI

63

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

FICÇÃO LEI&

EDSON MARTINS

I

[...]

Segundo um mapa estatístico realizado pela Comissão da Mulher Advogada da

OAB/SP, em 2004, com registros das Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher

(DEAMS) de São Paulo, foram registrados 132 mil casos de violência contra a mulher em

apenas cinco meses. O número poderia ser maior se todas as vítimas registrassem queixa.

Entre os tipos de violência, constavam lesões corporais dolosas, calúnia, difamação,

maus-tratos, estupros, ameaças, atentado ao pudor e crimes sexuais sem violência. Somente na

capital paulista, foram contabilizados 21.888 denúncias, das quais, apenas 241 resultaram em

prisão. Para relembrar o histórico de impunidade em crimes desse tipo, até a década de 1970,

era comum que agressores e assassinos de mulheres saíssem ilesos dos tribunais ao alegar

traição. Assim, matavam “em legítima defesa da honra”.

(Taís Laporta. Fim da violência doméstica. In: Revista Visão Jurícia nº. 06,

editora Escala, São Paulo)

64

II

CIDADE DO INTERIOR DO PARANÁ TEM CRESCIMENTO DA VIOLÊNCIA

DOMÉSTICA DE QUASE 200%

A Polícia Militar divulgou dados que indicam que a violência doméstica em Campo

Mourão aumentou assustadoramente, chegando a 195%. A divulgação foi feita durante reunião

do Conselho de Segurança da Cidade.

Campo Mourão é uma cidade localizada no centro-oeste do Paraná, cuja a população é

de menos de cem mil habitantes. O município conta com a Delegacia da Mulher, o que segundo

autoridades da área de segurança, com o advento da Lei 11.340/2006, mais conhecida como

Maria da Penha, faz com que as vítimas sintam-se encorajadas em denunciar seus agressores.

Os casos de violência registrados, nem sempre são contra as mulheres. Há situações em

que todos os membros da família são atingidos. Se a violência atinge o menor de 18 anos, o

agressor pode ser enquadrado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Há vítimas que

declaram no ato da denúncia, que não é a primeira vez que é agredida.

Para as autoridades da 16ª DP, a divulgação dos casos resolvidos, inclusive com prisão

dos agressores, encorajam as vítimas a procurar a delegacia para fazerem as denúncias das

agressões sofridas.

(Edson Martins)

ENUNCIADOS COMPLEMENTARES

PRODUZINDO ENUNCIADOS

Você é o legislador. Escreva um artigo que faria acrescentar a uma lei de prevenção à

violência doméstica. Se considerar interessante atuar como legislador, escreva vários artigos,

ou até proponha um texto de lei na íntegra sobre a questão.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

Em equipes, prepare um jornal mural sobre a conquista dos direitos femininos nas

últimas décadas. Saliente em que aspectos a mulher ainda sofre discriminação em nossa

sociedade.

65

MENININHA

BONITA

DO CHAPÉU

DE FITAS

Menininha Bonita do Chapéu de Fitas, é um conto que tem como tema a deficiência

física. O autor, Edson Martins, construiu um enredo que provoca a reflexão sobre as atitudes

discriminatórias em relação à pessoa deficiente e sua aceitação no meio social.

- Dona Glória, vim trazer sua filha um pouco mais cedo.

- Obrigada! E como foi nesse primeiro dia?

- Foi tudo bem... ou melhor... quase tudo. Criança... sabe como é...

A professora de nariz aquilino e voz rouca tentava explicar-se, escolhendo as palavras

para não ofender. Só mais tarde, a mãe ficou sabendo do ocorrido.

Primeiro dia de aula. A filha, finalmente conseguira uma vaga no Centro de Educação

Infantil. Era a personificação da alegria. Banho tomado, com o sabonete de fabricação caseira.

Aliás, no casebre modesto, muita coisa era resultado do talento da mãe, para o artesanato.

Inclusive as fitas de veludo vermelhas, bordadas com motivos dourados, aplicadas num

chapeuzinho que prendia os cabelos loiros que emolduravam um rostinho de pele clara, macia,

que quando iluminado por um sorriso, fazia as covinhas nas faces tornarem-se evidentes.

Sentada em seu troninho de princesa, distribuindo sorrisos ao longo do caminho, lá se foram.

Muitas crianças espertas como ela, numa sala espaçosa. Alguém se apresentou lá na

frente como professora da turma. Os colegas perceberam que Menininha permanecia em seu

troninho. Não ocupara umas das cadeiras que os demais ocupavam. Sobre as pernas, uma

manta, também vermelha, contrastando com as fitas do seu gracioso chapéu.

E o melhor momento da aula, chegou. Recreação no grande pátio. Menininha não quis a

gangorra, nem o balanço, muito menos o escorregador. Divertia-se com o contentamento dos

colegas barulhentos, que emitiam gritinhos de emoção, cada vez que o balanço subia um pouco

mais, ou na descida do escorregador, em velocidade máxima.

O Dudu já estava desinteressado de tudo, quando se deu conta que poderia se divertir

perturbando a vida de alguém. Vasculhou em torno de si, e seu olhar pouco inocente encontrou

66

TEXTO 14

LITERATURA E GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LEGAL NUMA

PERSPECTIVA RELACIONAL-DIALÓGICA, EVOCANDO O QUOTIDIANO SOCIAL.

Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mobilidade.JPGAcesso em: 15/07/2010

Menininha. A garota lhe sorriu. Ele se aproximou, e com um gesto rápido puxou a manta que

cobria as pernas de Menininha. Estava quase sendo tomado por uma enorme sensação de

decepção, daquelas que apagam qualquer calorosa chama de peraltice, quando realizou sua

grande descoberta: os pezinhos. Aqueles pezinhos?! Não se conteve e chamou os demais, com

gritos da mais absoluta urgência. Parecia até, que aqueles pezinhos, poderiam abandonar sua

dona, e saírem sozinhos numa corrida desenfreada.

- Você é Curupira!

E a galera de miudinhos, em coro, concordou.

- Curupira! Curupira! Curupira!

Riram, divertiram-se até mais do que nos brinquedos. Estes, silenciosamente, assistiam

a cena da grande descoberta dos últimos tempos, protagonizada pelo Dudu dos Cabelos de

Fogo. Menininha, experimentava pela primeira vez, um misto de medo e vontade de enfrentar

aquelas crianças que se encontravam gargalhando em torno de si. Tentou abrir caminho,

forçando as rodas do seu troninho com as mãos, por entre aqueles garotinhos e garotinhas, cuja

aparente alegria, era motivo de sua real tristeza, mas não obteve sucesso. A turma do Dudu não

parecia nem um pouco interessada em se afastar, abrindo passagem para Menininha e seu

troninho. Desejou sua mãe ali. Quase não estava mais conseguindo controlar aquele beicinho de

choro que anuncia a vitória de um pranto inevitável, contido até não poder mais. Não fosse a

intervenção da professora, gritariam o resto da tarde. Para garantir a disciplina e limitar tanta

curiosidade, Menininha permaneceu lá fora, a uma cautelosa distância das outras crianças,

cuidada por uma encarregada da limpeza. Finalmente, a professora pôde retomar suas

atividades. Menininha, sem que a consultassem, se viu conduzida de volta para casa, bem antes

dos seus colegas.

Dona Glória, não se abalou com o ocorrido. Na manhã seguinte, quando Menininha,

acordada desde as primeiras horas, terminou de tomar o leite com chocolate bem quentinho,

brincando de soprar e traçar formas no vidro do espelho com o qual sua mãe a penteava, ficou

sabendo que não iria para a escola. Antes que se entristecesse, a mãe atendeu ao toc, toc na porta,

e num tom de entusiasmo, anunciou:

- Olha só quem vai lhe fazer companhia.

- Toucinho! Toucinho, venha para junto de mim.

O garoto de pele negra, vestindo um macacão, abotoado somente no ombro esquerdo,

correu até Menininha, beijando-lhe o rosto como sempre fazia. A mãe beijou os dois, e

recomendou fechando a porta atrás de si:

- Muita alegria para os dois, até a minha volta, mas sem estripulias.

Toucinho Defumado, era o apelido do mais querido amigo de Menininha. De sorriso

matreiro e barriguinha proeminente, o menino era de uma simpatia que o tornava a mais suave

das criaturas

67

EDSON MARTINS

- E então? Aonde vamos hoje, minha princesa?

Conduzindo velozmente o trono de Menininha, ao longo das ruas despidas de asfalto,

razão dos solavancos, que arrancavam sorrisos da amiga, Toucinho, após longo percurso,

insistiu na indagação.

- Aonde vamos, Menininha?

- Oficina de Bonecas do Seu Lourenço.

Toucinho Defumado, que com o esforço em conduzir Menininha em seu troninho, havia

suado um bocado, estranhou, todavia continuou o trajeto e algumas quadras depois, estavam

diante da famosa oficina de conserto de bonecas.

Seu Lourenço ajeitava uma nova cabeça de boneca de porcelana em um corpo vestido de

cetim púrpura.

- Digam lá a que vieram, ou preferem ficar com esse olhar espichado, vigiando o meu

serviço? Os dois gostam de bonecas?

Toucinho olhou encabulado para Menininha.

- Bom dia, Seu Lourenço! Preciso dos seus serviços.

Seu Lourenço ajeitou melhor os óculos sobre o nariz, e aguardou que a garota

continuasse.

- Ouvi falar que o senhor transforma qualquer boneca com defeito, e a deixa como se

fosse nova...

- De fato! E daí?

Menininha ajeitou-se no troninho, empurrou a manta que lhe cobria pernas e pés, e

impassível, continuou.

- Trouxe-lhe serviço. Quanto cobra para trocar pezinhos? Os dois. Ou... ao menos

colocá-los no lugar certo. Como o de todo mundo... entende?

Seu Lourenço meneou a cabeça. Levantou-se, espantou sua sisudez com uma longa

espreguiçada, que lhe fez estalar os velhos e cansados ossos. Aproximou-se de Menininha,

acariciou-lhe o rosto.

- O que me pede, me parece justo pequeno anjo, porém não está ao meu alcance. Sou um

médico de bonecas, contudo você busca um médico que trata de gente.

Menininha agradeceu. Um semblante contrariado seguia agora em seu troninho pelas

ruas da cidade. Toucinho quis animá-la. Já estava quase sem fôlego, subindo ladeira acima,

quando chegou em frente à academia de dança clássica. A professora trabalhava alguns passos

ao ar livre. Menininha colocou as mãos sobre o queixo, e esqueceu as razões de sua

contrariedade, encantando-se com o movimento gracioso das meninas. Quando uma garotinha

dançou, equilibrando-se na ponta dos pés, Menininha não se conteve.

- Que lindo! Mais... mais!

No caminho de volta à sua casa, Menininha lamentou:

- Veja só, Toucinho! Seu Lourenço não foi legal comigo. Sempre ouço mamãe dizer que

68

ele é especialista em pezinhos de porcelana. Todo mundo diz que tenho lindos pezinhos de

porcelana. Mesmo assim, ele dispensou o serviço que levei. O seu Lourenço, não foi com a

minha cara. Deve ter achado que eu não teria dinheiro para pagar o serviço dele. Pois sim! Seu

Lourenço! Seu Lourenço... eu não teria dinheiro agora. Mas quando for uma bailarina famosa,

daquelas que estão sempre na televisão, terei dinheiro em todos os bancos.

Toucinho gargalhou.

- Não duvide, Toucinho. E quando eu for famosa, você não será mais meu chofer, será

meu empresário.

Toucinho então, assoviou uma canção, a preferida da sonhadora amiguinha, que o

acompanhou com palmas.

Aproximando-se de casa, Menininha viu a novidade na horta da vizinha, Dona Carmen.

A conhecida “Vovó da Perna-de-Pau” havia colocado um espantalho, entre os canteiros centrais

da grande horta, que ficava a alguns metros do pomar. Menininha sentiu aquele espantalho tão

triste, que comprometeu-se mentalmente em fazer-lhe uma visita.

Toucinho estava empapado de suor. Não era para menos. O percurso era bem longo, e ele

conseguira percorrê-lo em tempo record. Naquele momento, justificava seu apelido. Sua pele

negra estava brilhando, com o suor escorrendo em bicas, tal qual o toucinho colocado no

defumador. Despediu-se de Menininha, e se foi cantarolando um dos seus “raps” favoritos.

Ao cair da tarde, Menininha em seu troninho, seguiu com um certo cuidado para a horta.

Precisava ver de perto o espantalho. Equilibrou-se cuidadosamente, e pouco depois, estava na

frente dele. Num primeiro momento sentiu pena do pobrezinho. Meu Deus! O que era aquilo?

Apenas duas ripas cruzadas, um cabeção feito de saco de estopa, com uma cabeleira tecida com

restos de lã colorida, umas calças listradas, presas por suspensórios puídos, uma camisa de

flanela xadrez. Flanela! Com aquele calor de verão. E o paletó? Todo espantalho que se preza,

tem paletó. Não era à toa que Dona Carmen tinha fama de pão-dura. Até para fazer um

espantalho, era sovina.

- Pode me chamar de Espanta.

- Hein? Você fala? Um espantalho falante... Nossa!

A menina estava perplexa.

- Falo! Somente com crianças. E crianças que não me apedrejem. A única que ainda não

me apedrejou aqui, até agora, foi você. Mas... se vai me apedrejar, por favor, não machuque

meus amiguinhos que estão pousados sobre os meus ombros.

- Ora, mas você não foi colocado aqui para espantar os passarinhos?

- Esta foi a intenção da minha dona. Mas, felizmente, o efeito tem sido contrário, e os

pássaros, me alegram pousando sobre mim, e cantando praticamente o dia todo. Acabo

recebendo muitas pedradas dos meninos que com seus bodoques, atentam contra a vida dos

meus amigos passarinhos. Ainda assim, vale a pena.

- Muito prazer, Espanta! Sou...

69

O espantalho interrompeu, revirando os olhos, vasculhando suas lembranças.

- Sei quem é você: Menininha Bonita do Chapéu de Fitas.

- É como me chamam. Sabe, quero ser bailarina, quando crescer.

- Que dez, que cem, que mil! Também tenho alma de artista. Ainda serei um grande

palhaço, um famoso saltimbanco, que levará alegria às crianças por aí a fora.

Menininha entusiasmou-se. Uma voz que até então, não tomara parte da conversa, se fez

ouvir.

- Falando sozinha, Menininha?

- Oh, Dona Carmen! Eu... desculpe-me por estar aqui entre seus canteiros. Mas veja,

não tem nenhum estrago. Tomei muito cuidado.

- Venha comigo pequena. Isso não é lugar para pessoas com certas limitações.

A velha senhora foi conduzindo o troninho com sua dona para fora dali, enquanto

Menininha olhava para trás dando uma piscadela disfarçada para o espantalho, que

compreendeu que ela voltaria.

Após atravessarem o pomar, Menininha estava na grande sala de visitas de Dona

Carmen. A “Vovó da Perna-de-Pau” ofereceu-lhe um biscoito de polvilho.

- Ouvi parte da sua conversa, Menininha. Temos algo em comum. Eu também amo a

dança. Pensa que é por que danço mal que me chamam de “Vovó da Perna-de-Pau”?

Menininha ficou cabisbaixa em silêncio.

Após ter colocado um CD no aparelho de som, e ligado no último volume, a animada

senhora rodopiou pela sala, demonstrando agilidade e desenvoltura nos passos de dança, sendo

inteiramente fiel à melodia executada. Terminando, veio sentar-se ao lado do troninho de

Menininha.

- Na verdade, “Vovó da Perna-de-Pau”, era para ser uma ofensa para mim. Mas não

conseguiram me ofender. Olhe aqui! Isso, de uma certa maneira, é uma perna-de-pau.

A velha senhora desencaixou a prótese, que usava em função da perda da perna

esquerda, um pouco abaixo do joelho num acidente automobilístico.

- Menininha, ser chamada de “Curupira”, é bem menos desconfortável do que “Vovó da

Perna-de-Pau”. Não acha?

A bonachona senhora fez ecoar a sua gargalhada pela casa toda, e minutos depois,

deixava Menininha na companhia da mãe, que acabara de chegar da prestação do serviço de

diária às senhoras de um bairro de classe alta da cidade.

O casebre fora tomado pelo apetitoso cheiro da sopa de mandioca que a mãe sabia fazer

como ninguém.

- Duas conchas, mamãe.

- Não acha que é muito? Uma concha, e se você comer tudo, outra depois.

Palmas lá fora. Alguém chamava. Dona Glória colocou o prato de sopa sobre o apoio do

troninho, e foi atender.

- Boa noite! Não me convide para entrar. Na verdade só passei para dizer... bem, nem sei

70

por onde começar. Glória... quero dizer, Dona Glória, é sobre a Curup... quero dizer, sua filha, a

Menininha...

- Ah, pois não! Ela já pode retornar às aulas amanhã?

- Veja... até que sim... se não fosse o número excessivo de crianças. Estamos com falta

de pessoal para atender as crianças normais... e sua filha... a senhora sabe... a Menininha

necessita de cuidados... maiores cuidados, vamos dizer assim.

O coração bateu mais acelerado, e por um instante, a mãe se esqueceu que o casebre era

minúsculo, e a filha estava logo ali, a alguns passos apenas.

- Professora... a senhora ficou de me avisar a respeito do retorno da minha filha, e não de

que ela estaria impossibilitada de frequentar a escola. A senhora pediu tempo para preparar os

coleguinhas para conviverem com as diferenças que Menininha apresenta. Aliás, nem é minha

filha que é diferente. Nós é que não somos iguais a ela.

A professora ainda quis acrescentar alguma justificativa. Dona Glória abreviou a

conversa. Lágrimas teimosas que lhe turvavam a visão, se encarregaram de fazer a despedida,

sem mais palavras.

Tomaram a sopa, mãe e filha. Menininha quis mesmo outra concha de sopa fumegante.

A mãe justificou os olhos molhados, pela cebola que acabara de cortar e acrescentar na panela

de ferro, alegando ter esquecido de fazê-lo momentos antes.

Uma colherada de sopa, fez-lhe arder o céu da boca, mas nada a dilacerava mais do que a

lembrança do marido, no dia em que retornara da maternidade, trazendo Menininha nos braços.

O pai, tomara a filha num abraço carinhoso, cobrindo-a de beijos. Em seguida, como se a

menina estivesse revestida de espinhos, devolveu-a à mãe, acusando-a.

- Ela é uma... uma... Curupira!

Saiu para comprar fraldas para a pequena. Nunca mais voltou. Mas a justificativa do

sumiço paterno se espalhou: Curupira.

Toucinho Defumado, não veio para brincarem pela manhã. O dia estava abafado, e o sol

escaldava as verduras de Dona Carmen. Menininha, o dia todo trancada no casebre. Decidiu

fazer uma visita para o espantalho.

- Olá, Espanta! Olha o que eu trouxe para você.

- Oh! Olá, Menininha! Desculpe-me. Estava cochilando. Este sol me deixa sonolento.

Você me trouxe um paletó? Muito obrigado!

- Mamãe não pode descobrir, Espanta. Mas você não poderia ficar sem um paletó. Vista-

o! Isso!

O espantalho era pura vaidade.

- Que dez, que cem, que mil!

- Estive pensando no que você me falou. Você ainda continua querendo ser um palhaço

famoso?

- Sonho com isso todas as noites. Mas... sei que não tenho chances. Imagina! Olhe para

71

mim. Sou feito com duas estacas em cruz. Que futuro posso ter? Uma cabeça de saco de estopa

com cabelos feitos de restos de lã... Nem um chapéu, minha dona foi capaz de me dar... Ah,

Menininha, sei que tenho que me contentar com o canto dos meus amigos passarinhos todos os

dias. Isso é tudo o que tenho.

E o espantalho chorou. E Menininha quis animá-lo.

- Não fale assim. Sou sua amiga. E, como você, não será fácil me tornar uma bailarina.

Olhe para os meus pezinhos.

A garotinha retirou a manta, e o espantalho viu lindos pezinhos, branquinhos, parecendo

feitos da mais pura porcelana. Todavia, contrariando os pés comuns, eram virados para trás.

Agora, era Menininha quem chorava.

- Por causa dos meus pezinhos, meu pai se foi, e o pessoal da escola, não me quer por lá.

Sou diferente.

- Então, somos diferentes.

A menininha enxugou as lágrimas. O espantalho deu um longo suspiro. Se eram

diferentes, poderiam fazer algo incomum.

- Espanta, o que acha de aprendermos juntos os primeiros passos de dança?

- Acho que podemos tentar sim. Você já pensou, eu um espantalho, me tornando um

palhaço dançarino?

- Dê-me sua mão, para eu levantar do meu troninho. Isso! Assim! Agora, vamos tentar

alguns passos de dança que já vi na televisão.

- Oba! Vamos lá! Gostei desse. Estamos nos saindo bem, Menininha. Você tem talento.

Entretidos, ambos nem percebiam o tempo passando. Riam dos próprios erros.

Repetiam passos. Elogiavam-se, e se auto-elogiavam.

As nuvens foram se juntando e escurecendo o céu. O vento tempestuoso soprava

furiosamente. Raios riscando o mata-borrão celeste, formavam a grande ribalta. E os dois

artistas ali, já se sentindo prontos para entrar no palco.

O vento assoviou ainda mais forte, como se fosse uma orquestra anunciando a entrada

dos grandes astros. O espantalho sentiu-se libertar do chão frio que o prendia, e Menininha

começou a flutuar, juntamente com seu companheiro. Saltos e cambalhotas perfeitos no ar. Os

trovões reboaram solenes, anunciando o “gran finale”. Gritos.

- Menininha!

- Minha filha!

Gotas de chuva cristalina formaram uma densa cortina que foi se fechando. E o troninho,

feito de retalhos de madeira presos a uma estrutura metálica, sobreposta em dois pneus de

bicicleta, já não era mais digno de sua princesa, agora uma fulgurante estrela, brilhando no

infinito, pois o show não pode parar.

(Edson Martins)

72

A pessoa portadora de deficiência física, tem na Lei Maior do país, a Constituição Federal, a garantia de proteção e assistência.

Art. 23- É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios:

[...]

II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras

de deficiência;

Art. 203- A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente

da contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

[...]

IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de

sua integração à vida comunitária;

Você conheceu a história de Menininha, e também o que diz a Constituição Federal

Brasileira em seus artigos 23, inciso II e 203, inciso IV, quanto ao dever de proteção e assistência

à pessoa deficiente. Analise as questões a seguir e formule suas respostas.

01- Opine sobre a atitude da professora de Menininha, ao procurar a mãe da

garota e declarar impossibilidade de atendimento da menina na escola.

Considere o conteúdo do inciso IV do artigo 203, da Constituição Federal

Brasileira.

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

FICÇÃO & LEI

73

RELAÇÃO DIALÓGICA TEXTUAL

FICÇÃO LEI&

02- Para que a inclusão do portador de deficiência física se concretize de

fato na sociedade em que vivemos, que atitudes devem ser tomadas

pelo poder público? O que deve mudar na visão de cada um de nós

em relação a esses(as) cidadãos(ãs)?

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PRODUZINDO ENUNCIADOS

Coloque-se como portador de uma limitação física (cadeirante). Você deverá contestar

a decisão do poder público local a respeito de uma reivindicação sua, feita por escrito, em que

decide pela protelação da construção das rampas de acesso a prédios públicos solicitadas,

alegando insuficiência de recursos financeiros.

Faça um levantamento no prédio da sua escola e liste os itens que contemplam o respeito

ao direito de ir e vir, das pessoas portadoras de limitações físicas, presentes na arquitetura do

mesmo.

Aponte também elementos que, embora previstos em lei, se encontram ausentes,

dificultando a vida de um portador de alguma limitação física.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

Amplie seus conhecimentos sobre os gêneros discursivos da esfera legal. Acesse os sites a seguir, e saiba mais sobre a legislação brasileira que regulamenta direitos e deveres dos cidadãos nas mais diversas áreas da vida social.

http://www.presidencia.gov.br/legislacao

www.abdir.com.br

www.direitoshumanos.etc.br

http://www.senado.gov.br

www.camara.gov.br

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