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Introdução dos princípios da filosofia de construção enxuta em construtoras de Santa Maria-RS Julho/2015 1 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 Introdução dos princípios da filosofia de construção enxuta em construtoras de Santa Maria-RS Cleber Bataglin Dal Zouto - [email protected] MBA em Gerenciamento de Obras, Tecnologia e Qualidade da Construção Instituto de Pós-Graduação - IPOG Santa Maria RS, 11 de agosto de 2014 Resumo O objetivo principal deste estudo é verificar atualmente como são adotados os princípios da Construção Enxuta e suas ferramentas, em construtoras da cidade de Santa Maria - RS. Esta pesquisa foi baseada em análise qualitativa e de natureza exploratória, desenvolvida por meio de estudo de casos múltiplos em três empresas de diferentes portes. Quanto à filosofia da Construção Enxuta, alguns gestores alegaram certo desconhecimento, mas comparou-se a prática dos princípios, mesmo desconhecendo o conceito. Das empresas observadas, a de pequeno porte não é certificada e pretende adequar-se às normas; a de médio porte costuma usar da filosofia, por possuir certificações de qualidade; e a de grande porte é certificada e possui sistemas próprios. Entre as principais conclusões deste estudo, pode-se destacar: que a integração dos princípios da construção enxuta ao PBQP-H, proporcionam a introdução da nova filosofia de produção na construção e possibilitam a geração de melhorias da produção de obras. Também identificam, com clareza, a necessidade de ampliação das boas práticas, propostas pelos princípios lean, para as demais empresas de construção da região sul e supostamente outros locais. Palavras-chave: Construção Enxuta; Melhorias no Processo Construtivo; Práticas Construtivas. 1. Introdução O estudo foi baseado no conceito de Mentalidade Enxuta ou Lean Thinking que foi formulado no início da década de 90, baseado no Sistema Toyota de Produção e firmou-se como o novo paradigma de produtividade na manufatura, existindo aplicações em vários setores industriais. Nos últimos anos, esforços estão sendo realizados no sentido da modernização do setor. Estes esforços incluem estudos e pesquisas desenvolvidas pela comunidade acadêmica, programas institucionais envolvendo entidades setoriais e governamentais e também iniciativas individuais por parte de algumas empresas de construção. Tais iniciativas são de importância estratégica para o setor, na medida em que a indústria da construção cumpre um importante papel, na ampliação e manutenção da infraestrutura necessária para suprir as necessidades básicas da população (habitação, educação, saúde e transporte).

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Introdução dos princípios da filosofia de construção enxuta em construtoras de Santa Maria-RS

Julho/2015 1

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015

Introdução dos princípios da filosofia de construção enxuta em

construtoras de Santa Maria-RS

Cleber Bataglin Dal Zouto - [email protected]

MBA em Gerenciamento de Obras, Tecnologia e Qualidade da Construção

Instituto de Pós-Graduação - IPOG

Santa Maria – RS, 11 de agosto de 2014

Resumo

O objetivo principal deste estudo é verificar atualmente como são adotados os princípios da

Construção Enxuta e suas ferramentas, em construtoras da cidade de Santa Maria - RS. Esta

pesquisa foi baseada em análise qualitativa e de natureza exploratória, desenvolvida por

meio de estudo de casos múltiplos em três empresas de diferentes portes. Quanto à filosofia

da Construção Enxuta, alguns gestores alegaram certo desconhecimento, mas comparou-se a

prática dos princípios, mesmo desconhecendo o conceito. Das empresas observadas, a de

pequeno porte não é certificada e pretende adequar-se às normas; a de médio porte costuma

usar da filosofia, por possuir certificações de qualidade; e a de grande porte é certificada e

possui sistemas próprios. Entre as principais conclusões deste estudo, pode-se destacar: que

a integração dos princípios da construção enxuta ao PBQP-H, proporcionam a introdução

da nova filosofia de produção na construção e possibilitam a geração de melhorias da

produção de obras. Também identificam, com clareza, a necessidade de ampliação das boas

práticas, propostas pelos princípios lean, para as demais empresas de construção da região

sul e supostamente outros locais.

Palavras-chave: Construção Enxuta; Melhorias no Processo Construtivo; Práticas

Construtivas.

1. Introdução

O estudo foi baseado no conceito de Mentalidade Enxuta ou Lean Thinking que foi

formulado no início da década de 90, baseado no Sistema Toyota de Produção e firmou-se

como o novo paradigma de produtividade na manufatura, existindo aplicações em vários

setores industriais. Nos últimos anos, esforços estão sendo realizados no sentido da

modernização do setor.

Estes esforços incluem estudos e pesquisas desenvolvidas pela comunidade

acadêmica, programas institucionais envolvendo entidades setoriais e governamentais e

também iniciativas individuais por parte de algumas empresas de construção. Tais iniciativas

são de importância estratégica para o setor, na medida em que a indústria da construção

cumpre um importante papel, na ampliação e manutenção da infraestrutura necessária para

suprir as necessidades básicas da população (habitação, educação, saúde e transporte).

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Esta importância se destaca, também, na realização de outras atividades econômicas,

além de ter um grande impacto na geração de empregos diretos e indiretos. O setor da

construção civil tem demonstrado grande interesse neste conceito, tendo diversas empresas e

pesquisadores discutindo essa aplicação.

Na visão de Picchi (2001:23), “é um conceito relativamente novo para o setor e uma

pequena parcela de seu potencial de aplicação foi explorado até hoje”. Com base nas

considerações, destaca-se a questão da pesquisa: “Como podem ser introduzidos os princípios

da filosofia de Construção Enxuta, oportunizando melhorias no processo de produção de

obras nas edificações da cidade de Santa Maria-RS?”.

Assim Koskela (1992:75), como pioneiro no trabalho, diversos pesquisadores

Formoso (1993:58); Ballard e Howell (1994:93); Howell (1999:26); Koskela (2000:298);

Santos (2002:1525), e empresas têm buscado interpretar os conceitos para este ambiente, bem

como realizar aplicações práticas. Segundo Picchi (2003:224), “a compreensão sistêmica dos

conceitos e experiências desenvolvidos até o momento é um grande desafio para todos os

setores que buscam o uso da mentalidade enxuta, que é uma complexa combinação de

filosofia, sistemas e técnicas (ou ferramentas)”.

Na visão de Lewis (2000:960), “a indústria da Construção Civil vem passando por

sucessivas mudanças ao longo dos últimos anos, o que tem exigido deste setor uma maior

mobilidade em busca do aumento da eficiência dos seus processos, para atender às

necessidades de clientes mais exigentes”. Também comentam Alves; Milberg; Walsh

(2012:525), que a “produção em larga escala existente na Construção Civil, em seus

empreendimentos, assim como na Indústria Automobilística, implica que sejam adotados

princípios científicos para a gestão dos processos envolvidos”.

Foi abordada por Ahlstron; Karlsson (1996:48), a “necessidade de uma teoria que

explicasse de forma mais adequada às práticas da Construção Civil”. O desenvolvimento de

conceitos de gestão da produção aplicados à Construção Civil vem se adequando às

necessidades com o paradigma da Manufatura Enxuta. Dessa forma, Koskela (1992:73)

apresentou ao setor da Construção Civil, “a possibilidade da utilização de uma nova filosofia

de produção, denominada Construção Enxuta (Lean Construction)”.

Visando à eliminação dos desperdícios Ohno (1997); White; Prybutok (2001:116),

“pode-se considerar que a Construção Enxuta é uma generalização de diferentes modelos

sugeridos em outras áreas de aplicação”, tais como JIT (Just in Time), da automação (Jidoca)

e o TQC (Total Quality Control), caracterizada na filosofia da Manufatura Enxuta do STP.

Esta filosofia pode ser entendida pela integração entre o produto e o planejamento de

resultados, por meio da integração de todos os envolvidos.

Entretanto, Ballard; Howell (2004:17), “caracteriza a Construção Civil como uma

indústria que possui um sistema de produção temporário, visando a entregar o produto de

forma que os valores sejam maximizados e os desperdícios sejam minimizados”.

Conforme Lorenzon (2008:219), a “baixa produtividade e o desperdício na Construção

Civil são históricos, e a situação atual de escassez de recursos obriga as empresas a realizarem

modificações para poderem subsistir”.

Assim sendo, Barros Neto (1999) “esse segmento deve realizar algumas mudanças

para ajustar-se às tendências atuais de mercado”.

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Na busca por melhores produtos e processos construtivos, resulta na demanda por

qualidade e competitividade, levando a necessidade de maior capacitação da mão-

de-obra envolvida no processo produtivo, à procura de novas tecnologias

construtivas e inovadoras, na formulação de empreendimentos econômicos com uso

de ferramentas modernas de gestão da Construção Enxuta (AMARAL, 2004).

A adaptação dos conceitos e a aplicação dos princípios de Produção Enxuta, na

construção, é um desafio, principalmente, porque esse processo representa a construção de

uma teoria para o gerenciamento da construção.

Nesse sentido, Hirota (2000), defende que “os conceitos e princípios da Nova Filosofia de

Produção na Construção precisam ser colocados em prática para que, através do estudo

empírico, a teoria possa ser consolidada”. Para tanto, torna-se necessário disseminar seu

conteúdo, para possibilitar sua aplicação.

2. Evolução do conceito de pensamento enxuto

Pensamento enxuto é uma técnica que permite uma empresa eliminar desperdícios

onde quer que eles estejam e fazer com que o cliente receba somente aquilo que deseja, no

momento e na quantidade requisitada. A palavra ‘pensamento’ implica um conceito

abrangente não restrito a intervenções no chão da obra, nem ao campo de ação direto da

empresa, mas também às áreas administrativas da obra e aos fornecedores. O método busca

atingir todas as atividades que geram valor ao produto, sendo realizadas na própria obra ou

em outro local.

Cinco princípios básicos norteiam o Pensamento Enxuto: a especificação do valor, a

identificação da cadeia de valor, o fluxo, a produção puxada e a perfeição.

O ponto de partida para uma empresa implantar um Sistema Enxuto é a especificação

correta de valor. O significado de valor está relacionado a todas as características do produto

desejadas pelo usuário. Especificá-lo permitirá a identificação das atividades que contribuem

para que o produto atenda aos requisitos exigidos pelo consumidor. As restantes serão

consideradas fontes de desperdícios e, portanto, deverão ser eliminadas.

O segundo princípio em um Sistema Enxuto é a identificação da cadeia de valor,

entendida como o conjunto de todas as ações específicas necessárias para se levar um bem ou

serviço a passar por três tarefas gerenciais críticas: desenvolvimento do produto da concepção

até o lançamento, gerenciamento da informação do pedido à entrega e transformação física da

matéria-prima ao produto acabado. A cadeia de valor de um produto não se limita às

atividades de uma única empresa. Em geral, um grande número de firmas colaboram, para que

uma mercadoria seja devidamente transformada e chegue às mãos do consumidor. Por isso,

todas as ações relativas à produção do bem devem ser consideradas, independentemente do

local onde elas foram realizadas.

Após o valor ter sido especificado com precisão, a cadeia de valor de determinado

produto ter sido totalmente mapeada e as etapas que geram desperdícios eliminados, o

próximo passo é fazer com que as atividades fluam. Este princípio busca suprimir esperas

para a execução das tarefas. Elas ocorrem muitas vezes devido à forma de se organizar a

empresa e de se pensar a produção.

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No entanto, fazer com que produtos inúteis fluam rapidamente somente gera mais

desperdícios. Assim, a produção puxada é vital para a implementação do Sistema Enxuto.

Significa que um processo só produzir um bem ou serviço quando o cliente de uma etapa

posterior solicite. Quando isto ocorrer a fabricação deve ser realizada rapidamente.

O quinto princípio em um Sistema Enxuto é a perfeição. Pressupõe que o processo de

redução de esforços, tempo, espaço, custos e erros é infinito. Sempre será possível especificar

melhor o valor, eliminar desperdícios ao longo da cadeia, suprimir obstáculos que

interrompam o fluxo do produto e fazer com que o cliente puxe mais a produção.

3. A Produção Enxuta: surgimento e conceitos

Produção Enxuta (Lean Production) é a denominação de uma nova concepção dos

sistemas de produção, que teve origem na indústria japonesa, a partir da década de 50, mais

especificamente na Toyota Motor Company, a partir do trabalho desenvolvido por Taiichi,

Ohno e Shigeo Shingo. Diante da necessidade de produzir pequenas quantidades de

numerosos modelos de produtos, Ohno (1997) estudou os sistemas de produção norte

americanos, adaptou seus conceitos para a realidade japonesa da época, que se caracterizava

pela escassez de recursos (materiais, financeiros, humanos e de espaço físico), e aplicou novas

abordagens para a produção industrial, o que acabou consolidando, na prática, o chamado

CORIAT (1994), “Sistema Toyota de Produção ou Produção com Estoque Zero”. O conceito

Lean Thinking (Mentalidade Enxuta) é baseado no Sistema Toyota de Produção (também

conhecido pela sua sigla em inglês TPS) e foi desenvolvido em um ambiente de manufatura,

mais especificamente, na indústria automobilística. O termo “enxuto” foi adotado por

Womack e Roos (1990), visando caracterizar um novo paradigma de produção, para contrapor

ao paradigma tradicional da produção em massa. A base da mentalidade enxuta é a eliminação

de desperdícios. Na definição de Taiichi Ohno (1997) “reduzir a linha do tempo, do momento

que o cliente faz o pedido até o ponto de receber o dinheiro, removendo os desperdícios que

não agregam valor ao longo desta linha”. A Figura 1 representa esquematicamente esta

definição.

Figura 1 - Linha de tempo da produção

Fonte: Ohno (1997)

Ohno (1988) junto a Koskela (1992:72), líder do desenvolvimento do Sistema Toyota

de Produção, “define sete tipos de desperdício durante o processo de produção:

superprodução, espera, transporte, processamento desnecessário, estoque, movimento e

defeitos”. O autor diferencia dois tipos de desperdícios: atividades que não agregam valor, do

ponto de vista do cliente, mas que são necessárias no atual estágio de desenvolvimento

Pedido Dinheiro

Linha do tempo

(reduz pela remoção dos desperdícios sem valor agregado)

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tecnológico (ex.: alguns tipos de inspeção), e atividades que não agregam valor e que podem

ser eliminadas imediatamente. Na busca pela eliminação destas atividades que não agregam

valor, diversas técnicas foram desenvolvidas, estando muitas delas intimamente ligadas à

Mentalidade Enxuta. Podemos citar o Kanban, um sistema de cartões usados na produção; o

Just-in-time, um sistema baseado na produção de somente o necessário, quando requerido

pelo cliente, sem uso de estoques; 5S, utilizado para a organização e limpeza do ambiente de

trabalho; Poka-yoke, assim afirma Koskela (1992:74) “o uso de dispositivos que impedem

erros”.

Segundo alguns autores, Hopp e Spearman (1996); Bartezzaghi (1999:229); Koskela

(2000:298), “a Produção Enxuta representa uma mudança de paradigma na gestão da

produção”.

Hopp e Spearman (1996) destacam o fato de que a “essência da mudança observada na

Produção Enxuta não está nos conceitos, mas na forma de pensar a produção”. O Fordismo e

o Taylorismo, tidos como padrões de sucesso, antes do advento da Produção Enxuta, foram

concebidos sob a influência de métodos científicos reducionistas. Esta abordagem parte do

princípio de que a análise e compreensão de sistemas complexos devem ser desenvolvidas

através da divisão em partes menores e do estudo detalhado de cada uma das partes isoladas.

Ohno optou pela produção de pequenas quantidades de numerosos modelos de

produtos, para atender a uma demanda diversificada (foco no cliente) em substituição adotada

por Taylor Coriat (1994) “padronização de produtos e obtenção de redução de custos, através

da produção de grandes quantidades (produção em massa)”. O resultado é a flexibilização da

produção. Para ganhar produtividade com essa diversidade, Ohno buscou a “fábrica mínima”,

voltando sua atenção para a redução dos recursos estocados em fábrica tais como: materiais,

equipamentos, recursos humanos e área construída. A idéia era de que os estoques escondiam

as ineficiências do processo e a explicitação de problemas dava oportunidades para aprender e

melhorar o processo.

Picchi (2001) reúne os esforços de alguns autores mais recentes, para generalizar o

Sistema Toyota de Produção e entender o Lean Thinking. O autor reúne os cinco princípios de

Womack e Jones (1998) para compreender a Produção Enxuta:

1) Valor: especificar e melhorar o valor. A grande ênfase deste princípio é que o valor

deve ser identificado a partir da ótica do cliente. Embora pareça óbvio, são inúmeros os

exemplos de empresas que projetam seus produtos e determinam a forma como os serviços

serão prestados, negligenciando aspectos fundamentais para os clientes.

2) Cadeia de Valor: identificar a cadeia de valor e remover os desperdícios na

realização de um produto, desde a matéria prima até sua entrega ao consumidor final.

Observam-se inúmeras atividades que não agregam valor, do ponto de vista do cliente como:

transportes, estoques, retrabalhos. Em geral diversas empresas participam desta cadeia de

valor, com visão restrita a suas atividades, não enxergando os enormes desperdícios que

ocorrem, considerando-se a cadeia como um todo.

3) Fluxo: fazer o produto fluir. A produção ideal, do ponto de vista da Mentalidade

Enxuta, é um fluxo contínuo, peça a peça, sem estoques intermediários e nem paradas durante

o processamento. Isto traz inúmeros benefícios, dentre os quais: menores lead times (tempos

de produção), obrigatoriedade de qualidade em 100% e eliminação de vários tipos de

desperdícios, tais como movimentos e transportes desnecessários.

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4) “Puxar”: deixar o cliente “puxar”. Para a Mentalidade Enxuta, produzir mais que o

necessário, criando estoques (superprodução) é a forma de desperdício mais combatida,

inclusive por ser esta uma cultura largamente difundida pela produção em massa. Produção

enxuta significa produção na quantidade certa, na hora certa, somente para atender a

demanda.

5) Perfeição: gerenciar em direção à perfeição. Melhoria contínua, com participação

dos níveis operacionais, identificando as causas dos problemas, faz parte da Mentalidade

Enxuta e conta com métodos específicos, baseados em cinco “porquês” e ferramentas da

qualidade.

Spear e Bowen (1999) apud Picchi (2001) discutem como estas regras, na base do

Sistema Toyota de Produção, criam um ambiente com alto grau de delegação, que viabiliza

mudanças descentralizadas e contínuas, sem criar o caos.

Picchi (2001), também apresenta as capacidades citadas por Fujimoto (1999) apud Picchi

(2001):

1) Capacidade de manufatura rotinizada: de forma padronizada e precisa realizamse

atividades em todos os processos da empresa;

2) Capacidade de aprendizado rotinizada: rotinas para identificação e solução de

problemas e retenção da solução;

3) Capacidade de aprendizado evolutivo: capacidade de aprendizado intencional e

oportunístico de lidar com mudanças e construir as capacidades rotinizadas.

O aspecto denso está relacionado com produtividade, eficiência e eliminação de

desperdícios. A importância de um ritmo regular de transferência de informações é também

enfatizada, e a qualidade é interpretada como exatidão das informações transmitidas.

Santos (2002:1525) ao analisar criticamente o histórico evolutivo da aplicação de

conceitos e princípios de engenharia de produção, em empresas como a Toyota e Motorolla,

“sugere que o alcance da excelência em vários critérios competitivos é possível e, mais

importante, segue um caminho evolutivo lógico e natural”.

Este caminho evolutivo, geralmente, inicia-se pela ênfase na busca da melhoria da

qualidade do processo, o que implica esforços para reduzir a variabilidade da produção.

Comenta Santos (2002:1528) “a partir da obtenção da estabilidade do processo, passa-

se a buscar reduções nos tempos de ciclo do processo, redução de custo e, finalmente,

flexibilidade da produção”. Hill (1992) apud Santos (2002) argumenta que “a qualidade está

gradualmente se tornando um critério de entrada ou permanência em mercados competitivos”.

Nestes mercados, a obtenção da qualidade no sistema de produção é condição básica para

alcançar vantagem em outros critérios competitivos.

Essa dinâmica mundial faz com que as empresas busquem atingir um elevado grau de

competitividade, o que tem exigido das mesmas uma revisão de suas estratégias e a perfeita

visão do ambiente empresarial em que atuam. Além disso, a busca da melhoria do

desempenho, através da alta produtividade e da qualidade, torna-se imperativo para a

sobrevivência das mesmas.

4. Aplicações dos princípios da construção enxuta

Conforme Ballard; Howell (1998:16), a construção enxuta teve seu início na

percepção da reprodutibilidade dos conceitos desenvolvidos na indústria automobilística, para

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o ambiente da Construção Civil. Teve como marco principal a publicação do trabalho do

pesquisador finlandês Lauri Koskela (1992), no seu Relatório Técnico n° 72 - “Application of

the new production philosophy in the constructos industry”, publicado pelo CIFE (Center for

Integrated Facility Engineering) ligada à Universidade de Stanford nos Estados Unidos da

América - EUA.

Howell (1999) define a Construção Enxuta como “um novo caminho para o

gerenciamento na indústria da Construção Civil, com implicações nas relações comerciais e

na concepção dos projetos, planejar e controlar técnicas que reduzam o desperdício,

melhorando a confiabilidade dos fluxos produtivos”.

Conforme Formoso (2002:50), “nesse relatório, Koskela (1992) desafia os

profissionais da Construção Civil a quebrar seus paradigmas de gestão e adaptar as técnicas e

ferramentas desenvolvidas com sucesso no STP”. Em seguida, foi criado o Internacional

Group for Lean Construction - IGLC, uma organização mundial sem fins lucrativos, fundada

em 1994 por Glenn Ballard e Gregory A. Howell.

Na visão de Koskela (1994), “o processamento representa o aspecto de conversão do

sistema de produção; a inspeção, a movimentação e a espera, representam os aspectos de

fluxo da produção”. Conforme Santos (1999:513), “os processos referentes a fluxos podem

ser caracterizados por tempo, custo e valor”.

Valor que se refere ao atendimento das necessidades dos clientes, em grande parte dos

casos, somente as atividades de processamento proporcionam a agregação de valor ao

produto.

Koskela (1994), em artigo apresentado na Conferência do IGLC, em Santiago do

Chile, demonstra a importância do conceito, destacando as diferenças mais relevantes entre a

produção convencional e nova filosofia de produção resumida no quadro 1:

Filosofia convencional de produção Nova filosofia de produção

Conceito de

produção Produção constituída de conversão,

todas as atividades agregam valor

Produção constituída de conversão e fluxo. Existem

atividades que agregam valor e atividades que não

agregam valor.

Foco de controle Custo da atividade Custo, tempo e valor dos fluxos

Foco de melhoria Aumento da eficiência pela

implementação de novas tecnologias

Eliminação ou diminuição de atividades que não

agregam valor, aumento da eficiência de atividades

que agregam valor de melhoria contínua e novas

tecnologias. Quadro 1 - A Filosofia Convencional e a Nova Filosofia de Produção.

Fonte: Adaptado de Koskela (1994)

Vários pesquisadores, tais como: Dulaimi e Tamanas (2001); Alarcón e Diethelm

(2001); Formoso (2002); Picchi e Granja (2004) e Lorenzon (2008), entre outros, publicaram

desde a obra de Koskela (1992), contribuindo na disseminação da filosofia. Alarcón e

Diethelm (2001:365), por exemplo, relatam que “várias atividades foram desenvolvidas em

conjunto entre as empresas, como a implementação de métodos de identificação e redução de

desperdício de material”. Picchi e Granja (2004) constatam que, “na maioria das experiências

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de implementação da Construção Enxuta, são utilizadas ferramentas isoladas em cada obra e,

geralmente, fragmentadas, sem conexão entre elas”.

Dulaimi e Tanamas (2001), descrevem que, em Cingapura, 21 empresas da Construção

Civil certificadas na norma ISO 9000, atendendo às recomendações do relatório da

Construção Civil, publicadas em 1999, também iniciaram processos de implantação dos

conceitos da Construção Enxuta. Os autores concluem que, somente partes dos conceitos

desta filosofia foram implantadas, e apontam a resistência cultural como o grande fator,

trabalhadores desqualificados e descomprometidos, alta rotatividade e falta de treinamento,

como elementos de restrição ao sucesso da implantação.

Estudos recentes têm sido desenvolvidos com o intuito de facilitar a implantação dos

conceitos da Construção Enxuta no campo de trabalho, como tais como: Serviço de Apoio às

Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE (2000:5); Bernardes (2003); Solomon (2004);

Teixeira et al. (2004); Salem; Solomon; Genaidy; Minkarah (2006:168); Wiginescki (2009);

Costa; Rola; Azevedo (2010); Garrido; Pasquire (2011:8); Oliveira; Freitas; Hofacker;

Ghebauer; Mendes Jr. (2011:156); Rezende; Domingues; Mano (2012:281) e Koranda;

Chong; Kim; Chou (2012:699), entre outros estudos, em que soluções foram propostas em

diversas empresas, de diversos portes e em diversos locais, para auxiliar na implantação dos

princípios da Construção Enxuta. Nas pesquisas recentes supracitadas, há preocupação na

verificação, investigação e implementação da filosofia da Construção Enxuta, tal como o foco

deste trabalho. Hirota e Formoso (2001) “advertem que a aplicação dos conceitos da

Manufatura Enxuta na Construção Civil deve resultar de um processo de transferência, e não

de réplica de práticas bem sucedidas, como a aprendizagem por meio da ação durante a

implantação dessas práticas em outros contextos”. Entre outros autores pesquisados, destacam-se Isatto; Formoso (1998:241) que

“consideram que a visão de Shingo (1996) e Koskela (1992) são complementares”.

Destacando-se que Shingo (1996) “enfatiza a melhoria dos processos sobre as melhorias das

operações”, enquanto Koskela (1992:72), por sua vez, “propõe um foco destacando um

balanceamento entre as melhorias nas atividades de fluxo com as atividades de conversão”.

O modelo de conversão é adotado, normalmente, nos processos de elaboração de

orçamentos convencionais e de planos de obra, na medida em que são representadas, nesses

documentos, apenas atividades de conversão, sendo assim, explicitadas unicamente as

atividades que agregam valor ao produto.

Dentre outras Sanchez; Péres (2001:1433), fala sobre o “interesse na adoção da prática

da Construção Enxuta é baseado, principalmente, nas evidências empíricas, que indicam na

competitividade das empresas, nas formas de redução dos prazos, custos e aumento da

qualidade”.

No entanto Lorenzon (2008:219), “embora a implantação dos conceitos da Construção

Enxuta tenha como objetivo o aumento da competitividade das empresas, isto pode não

ocorrer imediatamente, mas fatores como do tipo de empresa, do produto e do método

empregado podem influenciar os resultados”.

Assim Koskela (2000:298), exemplifica que “uma particularidade dessa filosofia é a

relativa fase de maturação e adaptação que essa filosofia se encontra”. No entanto, Alarcón e

Diethelm (2001:377) “argumentam que a implantação dos conceitos da Construção Enxuta é

possível, independentemente, da tecnologia empregada pela empresa”.

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Já Barros Neto (1999), o planejamento da produção deve-se manter equilibrado,

evitando-se os picos de produtividade que ocasionam melhoria em determinada atividade,

mas não em todo projeto. Em seu trabalho principal, Koskela (1992:75) apresenta onze

princípios heurísticos para projeto e melhoria de fluxo de processo, que são à base da

Construção Enxuta:

- Reduzir atividades que não agregam valores. Considerando que estas atividades no

processo consomem tempo, espaço, material e mão-de-obra, não agregando valor e não

atendendo o requisito desejado pelos clientes;

- Aumentar o valor do produto, identificando as necessidades dos clientes, tanto

internos quanto externos, para projeto do produto e na gestão da produção;

- Reduzir a variabilidade da matéria prima (dimensão característica), do processo

(tempo para a execução) e na demanda (necessidade dos clientes). A dificuldade de

intervenção de cada aspecto, não é variável;

- Reduzir o tempo de ciclo, que pode ser definido como a soma de todos os tempos

(transporte, espera, processamento e inspeção) para produzir um determinado produto.

A eliminação dos tempos improdutivos provocará a compressão do tempo total dessa série de

atividades;

- Simplificar por meio da redução do número de passos ou partes, relacionando aos

sistemas construtivos a diminuição de elementos ou, principalmente, a padronização destes;

- Aumentar a flexibilidade de saída, possibilitando aumentar as características finais

dos produtos, conforme as necessidades dos clientes, vinculando ao conceito como gerador de

valor;

- Aumentar a transparência do processo, já que evidencia possíveis distorções no

processo, facilitando sua correção e propiciando o envolvimento da mão-de-obra;

- Manter o foco no controle como um processo, não por partes ou atividades isoladas,

contribuindo para eliminar o surgimento de perdas por qualidade;

- Gerar melhorias contínuas, promovendo redução do desperdício;

- Criar o balanceamento de melhorias entre o fluxo e as conversões. O paradigma deve

ser abordado tanto nas atividades produtivas quanto nas atividades de transformações; e

- Aplicar o benchmarking, consistindo como um aprendizado; podendo ser um

estímulo para alcançar a devida melhoria do processo como um todo.

Na visão de Bertelsen e Koskela (2004), há uma diferença na percepção do cliente,

entre a Construção Enxuta e a Manufatura Enxuta. “Nesta filosofia, é possível determinar os

parâmetros de valor do mercado e desenvolver os produtos de acordo com eles”; porém, na

Construção Enxuta, não há um cliente específico, já que seus produtos têm importância para

várias partes. O cliente pode ser representado por um grande número de interesses, de

diferentes perspectivas de tempo, como por exemplo, o dono, os usuários e o restante da

comunidade que têm que conviver com o produto, a avenida, a rua e outras construções

públicas.

Picchi (2003:21) enfoca que os onze princípios de Koskela (1992) foram propostos

com base no trabalho de Womack; Jones; Roos (1998), que propuseram cinco princípios

largamente disseminados e adotados em diversos setores:

5. Justificativa Teórica

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O termo “Pensamento Enxuto” (Lean Thinking) não se restringe a um sistema de

produção, esse termo está relacionado a buscar melhorias a eficiência dos seus processos

produtivos, através da criação de um ambiente de transparência em seus canteiros de obras e

da utilização de ferramentas e práticas de gerenciamento e controle da produção. Desta forma,

a apresentação dos conceitos da Construção Enxuta, neste momento, contribui com a

formulação de estratégias de melhoria e apoio gerencial para estas empresas.

Na visão de Rother; Shook (2003), “requer menos de metade dos estoques no local de

fabricação, além de resultar em bem menos defeitos e produzir uma maior variedade de

produtos”.

No Quadro 2 apresentam-se as sugestões de Picchi (2004) para aplicação dos

conceitos de lean thinking, ao fluxo de obra, de maneira mais ampla e integrada. Estas

sugestões tomam como base as recomendações e experiências de implementação, acumuladas

em diversos setores industriais, registradas na literatura ou acompanhadas pelo autor.

Principios Exemplos de ferramentas já

aplicadas na construção

Sugestões para a aplicação mais amplas e

integradas

Valor - Iniciativas de racionalização

construtiva, em geral, visando à

redução de custos, sem partir de

uma identificação sistemática do

que é valor, para o cliente, como

regra geral.

- Identificação do que é valor para o cliente.

- Revisão sistemática de processos construtivos

visando aumentar o valor oferecido ao cliente,

tanto reduzindo os desperdícios, quanto

oferecendo novas características desejadas.

Fluxo - Aplicação de mapeamento de

processos.

- Mapeamento do fluxo de valor, considerando

informações e materiais.

- Desenho de um estado futuro do fluxo de valor

identificando as melhorias necessárias e

ferramentas decorrentes.

Fluxo de valor - Aplicação de ferramentas

específicas, tais como controles

visuais e poka-yoke, em aspectos de

segurança.

- Uso de last planner para melhorar

a estabilização de fluxos de

trabalho.

- Uso de work structuring para

identificação e minimização de

desperdícios em processos.

- Criação de fluxo entre atividades, revendo a

estrutura e divisão de trabalhos entre equipes e

entre operadores, de forma a minimizar

interrupção e espera entre atividades.

- Adoção de trabalho padronizado, definindo

seqüência, ritmo, estoques.

Puxar - Aplicação de just-in-time entre

serviços ou fornecimento de

materiais específicos.

- Utilização extensiva de formas de comunicação

direta, para puxar, no momento que sejam

necessários, serviços, componentes e materiais.

Perfeição - Uso de sistemas da qualidade com

foco prioritário em padronização de

aspectos do processo que afetam o

- Adoção de processos que possibilitem a rápida

exposição de problemas.

- Estabelecimento, na base da hierarquia

funcional, de procedimentos sistêmicos de

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produto.

melhoria e aprendizado contínuos, acionados

sempre que ocorra qualquer variação no trabalho

padronizado.

Quadro 2 – Sugestão de aplicação dos princípios da produção Enxuta

Fonte: Picchi (2004)

6. Descrição e análise dos resultados

6.1. Estudo de caso na empresa A

A empresa A, de pequeno porte, atua no mercado de Construção Civil há mais de 12

anos, com sede no município de Santa Maria. Suas principais atividades são todas voltadas

para o setor da construção civil. Possui um quadro de funcionários em torno de 16

colaboradores diretos e, ainda estimava mais de 30 colaboradores indiretos subcontratados por

meio do processo de terceirização de mão de obra, uma vez que a empresa analisada possui

mais de uma obra realizada ao mesmo tempo no município, tornando assim mais econômica a

contratação da mão de obra.

Observou-se que a empresa adquiriu extensa experiência por meio de dezenas de obras

diversificadas como casas de baixo e alto padrão, prédios de pequeno porte, manutenção em

edificações e serviços de obras públicas para prefeituras.

Na abertura da conversa, iniciou-se com a seguinte pergunta: “A empresa pratica a

filosofia da Construção Enxuta, conhecida também como “Lean Construction”?”. Os técnicos

respondentes observaram que já ouviram falar, mas que não conhecem esta filosofia da

Construção Enxuta. Informaram desconhecer o termo, apesar de serem profissionais do

quadro de engenheiros civis e técnicos com longa experiência no segmento de Construção

Civil, poucos tem tempo para atualizações.

No entanto, pôde-se aferir neste estudo de caso e nas visitas realizadas de campo, que

a Empresa A tem adotada uma postura voltada à produtividade. Possui como vantagem

competitiva, a experiência de controle de obras, por meio do diário em que são apontadas as

medições e ocorrências do cotidiano.

São registradas nas atividades, medições de avanço e paradas por ocorrências de

intempérie do tempo, falta de material ou mesmo por outras atividades inerentes para as quais

há uma classificação em códigos para serem analisadas. Os dados evidenciam que o diário de

obra é o documento básico de análise e o principal guia para procedimentos de composição

dos relatórios de medição econômico-financeiro e indicadores de produtividade.

A razão deste documento é visualizar e acompanhar a situação atual da obra.

Constatou-se que a Empresa A, por não ter certificação, tende a seguir os procedimentos

exigidos por seus clientes, aplicando-os e agregando-os às suas práticas.

Seu desenvolvimento sustenta-se mais na observação das empresas que são

Benchmarking, razão de sua permanência neste mercado competitivo. Possui grande potencial

de desenvolvimento da filosofia da Construção Enxuta, visto que na sua conduta parte destes

princípios foram observados. Verificou-se, também o interesse na implementação das

ferramentas. Não obstante, um ponto negativo volta-se ao desafio de promover mudança na

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cultura organizacional da empresa pesquisada, visto que muitas atividades tidas como vícios

devem ser eliminadas frente à nova mentalidade.

6.2. Estudo de caso na empresa B

A Empresa B, de médio porte, foi fundada há mais de 26 anos, possui três sócios que

quando se conheceram tinham o mesmo sonho de montar uma incorporadora na cidade de

Santa Maria, decidiram concretizar seus sonhos, dando início ao que hoje é uma conceituada

incorporadora e construtora na região.

Desde o início de suas operações, a constante busca por uma empresa que promovesse

a sustentabilidade econômica, social e ambiental, está concretizada em projetos já entregues e

em elaboração na região, também são realizados e executados projetos em todo o estado do

Rio Grande do Sul. Tendo como valores diferenciados:

Portar-se de maneira ética e profissional; relacionando-se com os colegas de trabalho

praticando a sinceridade e honestidade; voltado a sempre estar atento as práticas sustentáveis

e cuidando do meio ambiente; nunca deixando de ser cordial com os clientes, colegas e

fornecedores; buscar inovar sempre e jamais deixar de valorizar a equipe.

Este compromisso aliado ao bem-estar dos colaboradores, investidores e clientes,

consolidou-se no seu maior patrimônio.

Comprometida com a filosofia da Construção Enxuta, foco deste trabalho, identifica

oportunidades de conceber, viabilizar e materializar, por conta própria ou em parceria,

entregando bens e serviços que geram resultados econômicos, satisfazendo as necessidades

humanas, enquanto que buscar e reduzir os impactos ambientais durante seu ciclo de vida faz

com que a Empresa B mantenha sua permanência no mercado.

Na apresentação da empresa, os assuntos relacionados obtiveram melhor sucesso,

devido a que o principal respondente é sócio proprietário da empresa que, além de ser

graduado em Engenharia Civil, também é Mestre em Gerenciamento de Obras, possuindo

ótima visão de Administração dos negócios, estando comprometido com os resultados.

Com uma conduta própria na aplicação da filosofia da construção enxuta, os gestores

argumentaram que não basta só o processo logístico, mas, também atuarem em segurança

buscando a melhoria contínua de seus produtos e serviços, visando à satisfação de seus

clientes, colaboradores e da sociedade.

Toda movimentação dentro do canteiro de obra é de responsabilidade exclusiva da

empresa, do qual todos os equipamentos de proteção individual são próprios. A empresa

mantém o plano de manutenção preventiva, uma vez que estes equipamentos trabalham com

vidas. Os materiais que são empregados, visando o sentido logístico, é o que mais dificulta a

empresa, exigindo maiores cuidados, pois em qualquer desvio no planejamento, os atrasos

tornam-se evidentes, comprometendo o cronograma da obra.

A empresa sempre tem que ter o total controle de todos os setores para poder ter

respostas mais rápidas que refletem na visão dos departamentos de planejamento, produção e

qualidade.

Para responder aos questionamentos, não houve necessidade de aprofundar-se na

filosofia da Construção Enxuta com muitos detalhes, visto que os princípios da Construção

Enxuta são conhecidos por seus colaboradores tidos como linha de frente, devido à Empresa

manter uma consultoria que desenvolve treinamento e promove palestras sobre o assunto para

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todos seus funcionários. Nesta Construtora configurou-se a prática da filosofia como conduta,

e seguida de suas próprias normas e procedimentos.

6.3. Estudo de caso na empresa C

A Empresa C, considerada de grande porte, fundada há mais de 39 anos, tendo mais de

600 pessoas no seu quadro de colaboradores com atuação em toda região Sul do Brasil. Possui

certificação ISO 9001e ISO 14001 desde 2007. Atua nas áreas de negócios focadas nas

demandas de cada segmento. Sua estrutura flexível favorece a mobilização de recursos e

especialistas adequados para cada tipo de projeto, mantendo um alto nível de competitividade

e agilidade.

Possui um recurso de sistema integrado de gestão, o MS (Management System), o qual

assegura que tanto os requisitos contratuais dos clientes quanto os objetivos da organização

sejam atingidos. Este sistema contém todas as orientações necessárias para as operações da

empresa, como a filosofia empresarial, o modelo de organização e os processos das atividades

requeridas pelo modelo de negócio, em consonância com os requisitos das normas

internacionais de qualidade, saúde, segurança e meio ambiente.

Na Gestão da qualidade, possui um SIG (Sistema Integrado de Gestão). Assim, as

orientações para o atendimento do SIG são apresentadas no Management Book que atende

aos requisitos da norma brasileira NBR ISO 9001, garantindo assim, a satisfação dos clientes

e as melhorias necessárias para o crescimento da empresa.

A empresa assegura que todas as atividades são desenvolvidas; visando,

fundamentalmente, à proteção do ser humano e a preservação de seus ativos. Por atuar em

mercado diversificado na Construção Civil, a empresa possui uma gestão Green Building, que

tem como foco principal o levantamento, em cada empreendimento, de todos os aspectos

ambientais envolvidos e respectivos impactos, além de toda a legislação em função da

natureza das atividades que serão desenvolvidas. Com base nessas informações, medidas de

controle são definidas para garantir que, tanto a política ambiental da empresa quanto seus

objetivos e indicadores sejam plenamente atingidos.

A Empresa C, possuidora de Gestão Estratégica (Benchmarking), que tem o objetivo

de melhorar as funções e processos de uma empresa, além de ser um importante aliado

para vencer a concorrência, uma vez que o benchmarking analisa as estratégias e possibilita a

empresa criar e ter ideias novas em cima do que já é realizado, assim preparando para atuar

em todo o ciclo de vida do empreendimento. Dessa forma, a empresa tem como estratégia,

atuar em todo o ciclo de vida de um empreendimento. Por meio do desenvolvimento de

parcerias com clientes e fornecedores, buscando os melhores prazos, qualidade e preços, que

atendem às exigências do mercado atual e na inovação de tecnologias emergentes.

Foram discutidos os itens do conteúdo da filosofia da Construção Enxuta junto com a

equipe do Project Team e gestores envolvidos no processo. Foram discutidos, também o uso

das ferramentas do STP na Construção Civil e sua aplicabilidade; porém percebeu-se a

resistência quanto sua aplicação, devido à cultura da empresa ter desenvolvido seu próprio

sistema em detrimento a outras ferramentas, mesmo que isoladas.

Assim sendo, observou-se na visitação que a Empresa C tem uma conduta fixada na

execução de seus procedimentos da ISO 9001e ISO 14001, que desde 2007 conquistou sua

certificação. O fato de a Empresa C ser um Benchmarking para outras construtoras, deixou

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evidente o comprometimento da equipe dentro do processo. Nas respostas obtidas, nota-se

que Construção Enxuta não é um nome familiar, mesmo aos engenheiros mais experientes.

Ao comentar-se sobre os princípios da Construção Enxuta e seu relacionamento nas

normas aplicadas na empresa, constatou-se que o entendimento é o mesmo noutra forma de

abordagem. Verifica-se que esta empresa não utiliza os princípios da Construção Enxuta

como filosofia, e seus colaboradores ao serem indagados, também desconhecem o termo

academicamente, mesmo os mais antigos colaboradores com mais de 26 anos de atuação na

função de gerentes de contratos.

Esta pesquisa in loco permitiu concluir que na Empresa C é válido, pois apesar de essa

Construtora não praticar totalmente a filosofia da Construção Enxuta, sua conduta direciona

às suas próprias normas e os procedimentos da norma ISO 9001. Para concluir este artigo,

segue-se um comparativo demonstrando a relação entre as três empresas, tornando evidente

sua conclusão.

6.4. Comparativo entre as empresas A, B e C

No intuito de atingir o objetivo desta pesquisa, o Quadro 3 evidencia um comparativo

da aplicação dos 11 princípios da Construção Enxuta nas três empresas pesquisadas:

Empresa A Empresa B Empresa C

1 - Redução de atividade que não agregam valor ao cliente

- Canteiro de obra com layout mal

arranjado.

- Não tem sistema de logística

interna.

- Desconhece os princípios da

construção enxuta.

- Possuem conhecimento dos

princípios.

- Funcionários participam de

treinamentos para boa execução

dos princípios envolvidos na

construção enxuta.

- Implantação de uma logística

interna minimizando as distâncias

e os processos.

- Proporciona um layout

diferenciado facilitando as tarefas.

2 - Aumento de valor ao produto final considerando os requisitos do cliente

- Seguem o que esta em contrato

para não agregar valor a mais ao

cliente.

-Sem planejamentos de tarefas.

- Buscam sempre adiantar algum

serviço.

- Empresa relata que o produto

final entregue, é específico e

proposto para um mercado

exigente em qualidade.

- Buscam uma definição de

tolerâncias de aceitação de

serviços, para liberação da próxima

etapa.

- A empresa busca entregar ao

cliente um produto com valor e

qualidade no mercado, resultado de

seu Management Book.

3 - Redução da variabilidade do processo

- Geralmente são conferidas as

quantidades e se os materiais não

estão danificados.

- execução do serviço é feita por

etapa, uma seguindo a outra.

- Com a aplicação dos

procedimentos de qualidade, evita

falhas e erros no planejamento e

execução dos serviços, com isso

evitará atraso na entrega da obra.

- Empresa certificada na ISSO

9001, 14001; com isso, percebe de

forma diferenciada as perdas e

desperdício ocorridos no canteiro

de obra, buscando sempre

melhorias contínuas.

4 - Redução do tempo de ciclo das atividades

- Os gestores conhecem o princípio

e fazem o controle diário da obra,

evitando desperdícios e perdas.

- Sendo especialista nesta área e

por meio de sua experiência, são

utilizados métodos e

- Procuram reduzir as atividades

que não agregam valor.

- A busca da melhoria contínua dos

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procedimentos que desenvolvam

dispositivos facilitadores.

processos ajuda na redução do

tempo gasto.

5 - Simplificação do processo eliminando etapas e atividades

- Não é aplicado esse tipo de

princípio, desconhece a

simplificação de passos nas

atividades de execução.

-Disponibilizam kits de material no

local de trabalho.

-Simplificam processos para ganho

de tempo final.

- Seus trabalhos passam por um

fluxograma em que é possível a

verificação de cada processo,

definindo assim suas etapas.

6 - Aumentar a flexibilidade de entrega de produtos diferenciados

- Seus colaboradores entendem que

conforme o padrão de obra é a

execução, quando aumenta o

padrão também aumentaria o

prazo.

- Para melhor compreensão do

produto final, é feita uma maquete

eletrônica facilitando a visão real

do produto desejado.

- A empresa busca atender de

forma específica gerando valor ao

produto, possibilitando mudanças

rápidas, para satisfazer as

exigências do consumidor.

7 - Aumentar a transparência do processo

- A empresa não possui padrão

adequado, sempre tenta seguir o

contrato ou as regras do cliente.

- Foi Criado um planejamento

adequado, permitindo ao gestor da

obra, supervisionar e fiscalizar o

andamento dos serviços,

coordenando ações estratégicas

para redução de custo.

- A empresa afirma que esse é um

dos diferenciais, sua meta é sempre

buscar melhoria nos resultados.

- Utilizam de dispositivos de

visualização e comunicação no

canteiro, como mural para

divulgação de indicadores, prazos,

metas.

8 - Foco no controle no processo global

- Não Utiliza de parcerias com

fornecedores.

- Buscam Identificar os valores do

produto, possibilitando uma visão

mais ampla do percurso do

produto até chegar ao consumidor.

- O sistema de qualidade atua

como padrão, não permitindo

trabalhar isoladamente um cliente.

- O sistema atua como um todo e

não em partes isoladas.

- Seguem o sistema de certificação

e qualidade que possuem.

9 - Introduzir melhorias contínuas no processo

- A empresa busca entregar um

ótimo produto final para se garantir

no mercado.

- Possui uma equipe que busca

implantar melhorias em vários

setores.

- Introduzem os procedimentos de

ação corretiva e preventiva,

identificando os problemas e suas

prováveis causas.

10 - Balanceamento de melhorias entre fluxos e conversões

- Pretendem usar algum método

que venha facilitar o contexto nas

próximas obras.

- A empresa pratica o equilíbrio de

fluxo e conversões, buscando

mostrar o conhecimento da

filosofia para empresas

interessadas.

- Adota uma forma de controle de

estoque e fluxo de materiais

assegurando que partes dos

princípios configuram-se com a

lógica da construção enxuta.

11 - Aplicação de boas práticas do Benchmarking

- A empresa não é certificada, mas

possui qualidade no seu produto

entregue, com isso conclui que seu

Benchmarking é mantido pela

qualidade e o cumprimento

estipulado dos prazos de entrega

final da obra.

- A empresa relata que seu

Benchmarking é o resultado das

obras construídas dentro do padrão

exigido pelos seus clientes.

- A empresa Conhece os processos

e sempre busca melhorias através

do aprendizado de práticas de

outras empresas.

Quadro 3 – Comparativo dos princípios utilizados entre as empresas A, B e C.

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Fonte: Elaborado pelo autor

As entrevistas foram realizadas com o objetivo de interrogação direta das pessoas,

cujo comportamento se desejava conhecer, possibilitando a obtenção de dados, a partir do

ponto de vista dos pesquisados.

A Empresa A desconhece os princípios da construção enxuta, sendo que qualidade

para esta empresa significa seguir processos determinados pelas Especificações Técnicas de

seus clientes. Age de formas diferentes na atuação, quando trabalha como subcontratada nas

obras de grande porte, atua conforme a exigência do contratante, mas não aplica nas demais

obras, concluindo que não há padrão e consistência de aplicação dos princípios de construção

enxuta.

Percebeu-se que existem mais um sistema de modismo ou cópia de processos das

empresas reconhecidas por elas como Benchmarking, também ficou evidente que a filosofia

de Construção Enxuta é totalmente desconhecida, fato contribuído pela não certificação;

porém, o conteúdo de seus respondentes ficou claro que possuem grande potencial e desejo de

melhoria. Demonstrou grande interesse de implementação, apesar de não terem profissional

qualificado para esta tarefa.

Na Empresa B, quando da apresentação da filosofia, demonstra o comprometimento

da construtora para com a satisfação do cliente e a melhoria contínua dos serviços oferecidos.

Seu principal respondente declarou que é um conhecedor da filosofia e pratica os princípios

na empresa, promovendo palestras e incentivando seus gestores aos cursos de

aperfeiçoamento.

A empresa com mais de 26 anos de mercado e que tem em seu currículo a busca

contínua de melhorias e foco total na satisfação do cliente. Além dos certificados, a empresa

já possui a mais de 10 anos o atestado de qualificação que tem como objetivo a otimização da

qualidade dos materiais, componentes, sistemas construtivos, projetos e obras nos

empreendimentos do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, portanto nada mais pertinente

do que as novas certificações para comprovar o nosso compromisso.

Na Empresa C, os gestores são conhecedores da filosofia da Construção Enxuta, mas

ao serem abordados quanto à aplicação dos princípios foi respondida que, por política da

empresa, possui um sistema único e corporativo.

Na Empresa C, as respostas do questionário apontam para um fato conclusivo para

esta pesquisa: os gestores não conhecem a filosofia da Construção Enxuta e pouco se ouviu

falar, mesmo os mais experientes. Apenas o gestor da Qualidade pareceu ser o mais

atualizado, tanto no conhecimento quanto na sua aplicação. No contexto, a Empresa C

mostrou que, apesar da não aplicação da filosofia, seu método, o Management Book configura

o sucesso desta empresa como um todo. Com isso, conclui-se que empresas de grande porte

possuem sua própria filosofia que, de certa forma, leva ao mesmo objetivo.

7. Conclusões

Com base na revisão bibliográfica e nos resultados mostrados ao longo deste trabalho,

são apresentadas as principais conclusões.

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Como problema de pesquisa o trabalho abordou a questão: “Introdução dos princípios

da filosofia de construção enxuta em construtoras de Santa Maria?”.

Na procura pelo sistema de gerenciamento da produção mais adequado às

características do setor da construção civil, a construção enxuta parece ser a melhor solução

para os problemas dos processos produtivos. A Lean Construction, ao sugerir soluções

alternativas para a melhoria dos processos construtivos, não se baseia, exclusivamente, na

implementação de novas tecnologias e direciona os esforços para a racionalização dos

processos, através da otimização dos fluxos existentes entre as diversas atividades necessárias

à execução da obra. A construção enxuta consegue adaptar-se às peculiaridades apresentadas

pelo setor da construção.

A pesquisa qualitativa realizada por meio de Estudo de Caso Múltiplo, verifica as

práticas da Construção Enxuta em Construtoras na cidade de Santa Maria - RS.

Foram discutidos os itens da filosofia da Construção Enxuta e os princípios que os

entrevistados, gestores das empresas pesquisadas, consideram relevantes na aplicação dos

processos internos das empresas analisadas.

Discutidos os itens do conteúdo da filosofia da Construção Enxuta junto com a sua

direção e gestores envolvidos no processo, foram, também argumentados o uso e

conhecimento das ferramentas da Manufatura Enxuta na Construção Civil. Percebeu-se que,

na Empresa B, o objetivo foi alcançado integralmente, devido haver comprometimento na

aplicação da filosofia da Construção Enxuta. Dessa forma, a Empresa B tornou-se

considerada Benchmarking neste mercado da Construção civil, como referencia para seus

principais concorrentes.

Foram verificadas nas Empresas A e C, analisadas por meio de seus principais

respondentes, que a filosofia da Construção Enxuta é de desconhecimento do tema. Porém, ao

abordar, detalhadamente, por meio de apresentação os princípios básicos dessa filosofia,

observou-se que seus respondentes aplicam em partes, de forma não estruturada e adaptada,

conforme a política de qualidade de cada empresa.

As práticas de gestão fundamentadas nos princípios e métodos da construção enxuta

são totalmente viáveis a qualquer tipo de empreendimento na Construção Civil, e deve ser

aplicada para tornar mais competitiva a empresa que detém a vontade de fazer posse e uso

dessa filosofia, que busca aperfeiçoar todo o processo de produção, desde a concepção do

projeto até a conclusão da obra. O ramo da construção civil está ficando mais competitivo

com o passar dos anos, e incumbe a cada empresa a utilização de estratégias para ter sucesso

nesta disputa pelo mercado. As ferramentas da construção enxuta auxiliam as construtoras

para que tenham um maior controle na produção e na gestão de suprimentos, procurando

evitar retrabalhos e desperdícios que são comuns nesse importante seguimento. Como a

Construção Enxuta não se baseia em implantação de novas tecnologias, ela indica ideias e

soluções alternativas para a melhoria dos processos construtivos através da racionalização das

atividades e otimização dos fluxos existentes, necessárias à execução da obra. Assim sendo,

essa filosofia pode ser destacada como uma das melhores soluções para o sistema de

gerenciamento da construção. Embora pareça ser um processo de fácil implementação, na

aplicação dessa metodologia precisa-se de muita dedicação, empenho e organização, para que

seus resultados sejam alcançados com sucesso, pois se trata de uma mudança não somente

administrativa, mas cultural.

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