introduÇÃo aos gÊneros do discurso

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Ateliers 1 e 2 ATIVIDADE 1 — APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA Universidade de Mogi das Cruzes PROGRAMA DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA AS OFICINAS ESPECÍFICAS Cursos: todos Períodos: 1º e 2º semestre Ano: 2001 Nº aulas semanais: 4 1. OBJETIVOS: GERAL: Criar condições para o desenvolvimento de capacidades de linguagem dos alunos, necessárias à produção e à leitura de textos, por meio de um trabalho integrado de leitura/análise/produção de textos, tendo como campo de trabalho específico alguns gêneros cujo domínio é necessário tanto para atividades escolares, quanto profissionais e para um exercício mais pleno da cidadania. 2. Objetivos específicos a) criar condições para o desenvolvimento da capacidade de ativar, buscar e selecionar informação relevante para a própria produção e para a leitura, de acordo com o contexto de produção; 1

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1

Ateliers 1 e 2

ATIVIDADE 1 APRESENTAO DO PROGRAMA Universidade de Mogi das Cruzes

PROGRAMA DE LNGUA PORTUGUESA PARA AS OFICINAS ESPECFICASCursos: todos Perodos: 1 e 2 semestre Ano: 2001 N aulas semanais: 4

1. OBJETIVOS:GERAL: Criar condies para o desenvolvimento de capacidades de linguagem dos alunos, necessrias produo e leitura de textos, por meio de um trabalho integrado de leitura/anlise/produo de textos, tendo como campo de trabalho especfico alguns gneros cujo domnio necessrio tanto para atividades escolares, quanto profissionais e para um exerccio mais pleno da cidadania.

2. Objetivos especficosa) criar condies para o desenvolvimento da capacidade de ativar, buscar e selecionar informao relevante para a prpria produo e para a leitura, de acordo com o contexto de produo; b) criar condies para o desenvolvimento da capacidade de ativar um modelo de gnero adequado ao contexto; c) criar condies para o desenvolvimento da capacidade de

contextualizar a prpria produo e o texto lido; d) criar condies para o desenvolvimento da capacidade de

estabelecer e de reconhecer o plano geral do texto;

2

e) criar

condies

para

o

desenvolvimento

da

capacidade

de

argumentar, narrar, relatar, teorizar, de acordo com o gnero em foco e de reconhecer e avaliar essas atividades no texto alheio; f) criar condies para o desenvolvimento da capacidade de

estabelecer relaes de coeso e conexo adequadas ao contexto e ao gnero, tanto na produo quanto na leitura; g) criar condies para o desenvolvimento da capacidade de utilizar e de reconhecer modalizaes e discursos relatados, de acordo com o contexto e o gnero; h) criar condies para que o desenvolvimento da capacidade de autoavaliao e de refaco do prprio texto; i) criar condies para a superao dos problemas microestruturais mais comuns (acentuao, ortografia, crase, regncia, concordncia nominal e verbal, uso de relativos, paragrafao, etc.), numa abordagem discursiva.

3.

Contedos 3.1. 3.2. Gneros e textos O contexto de produo de linguagem e sua influncia sobre as caractersticas textuais 3.3. Os elementos do contexto de produo: emissor/enunciador, receptor/destinatrio, momento da produo, lugar/instituio social, objetivos 3.4. O plano global do texto

3

3.5. 3.6.

Mecanismos de textualizao: coeso nominal e verbal Mecanismos de textualizao: a conexo e o papel dos organizadores textuais

3.7. 3.8. 3.9.

Os diferentes tipos de modalizao O discurso relatado e suas diferentes formas Problemas microestruturais mais comuns

OBSERVAOTodos esses contedos sero abordados de forma articulada, por meio do estudo de gnero(s) especfico(s) que atua(m) como organizador(es) global(is).

4.

METODOLOGIA Os cursos sero desenvolvidos por meio de seqncias didticas

conjunto de atividades com objetivo definido, centradas no estudo de um gnero especfico. Cada seqncia ser constituda de ateliers semanais, cada um deles desenvolvendo atividades com objetivos bem definidos, diretamente relacionados ao objetivo geral da seqncia, aos objetivos especficos e aos contedos acima citados. As atividades dos ateliers sero desenvolvidas, basicamente, por meio de: produo inicial de um texto pertencente ao gnero estudado; atividades, individuais ou em grupo, de leitura e de anlise de textos com caractersticas especficas do gnero estudado; discusses coletivas sobre as atividades de leitura e de anlise; elaborao de fichas de auto-controle (snteses) pelos alunos;

4

refazimento da produo inicial com auxlio da ficha de controle e da ficha de avaliao do professor; aulas terico-expositivas, quando necessrias.

5.

Avaliao A avaliao ser formativa e contnua, levando-se em conta a

participao e a responsabilidade do aluno na execuo das tarefas propostas, assim como o resultado de seu desenvolvimento.

6.3 4

Bibliografia a ser utilizada

Material didtico correspondente (s) seqncia(s) de cada semestre; Dicionrios e gramticas indicados pelos professores; medida das necessidades especficas de cada turma e de cada estudante, os professores indicaro bibliografias complementares no decorrer dos semestres.

ATIVIDADE 2 APRESENTAO DAS NORMAS DE FUNCIONAMENTO

Normas de funcionamento da oficina

1. Cada atelier est programado para uma durao de duas horas-aula. 2.A maioria dos ateliers tem uma tarefa presencial. Por isso, a presena em absolutamente necessria. Pelo mesmo motivo, cada aluno dever trazer, em todas as aulas de Portugus, seu exemplar da seqncia didtica que est sendo trabalhada.

5

3.

Cada aluno deve elaborar fichas de controle de sua produo no

seguinte modelo:

Ficha de controle sobre o gnero ______________________________. Prof. Responsvel:................................................................................................ Aluno:.................................................................... RGM:.......................................... Curso:............................................................ Turma:........................................... Atelier n.:..........................................................Data _____ /______ /_______ OBSERVAES PESSOAIS:........................................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................................

4. 5.. 6.consultas.

Os textos e exerccios que os alunos entregarem aos professores

devem ser bem apresentados, legveis. Os alunos podero receber subsdios tericos a mais que faro

parte da pasta , medida que forem sendo desenvolvidos os ateliers. Os alunos devero ter mo gramticas e dicionrios para

ATIVIDADE 3 AVALIANDO A ADEQUAO AO CONTEXTO DE PRODUO E ? Objetivo: (Luci vai completar) 1. Imagine que voc um nufrago solitrio, perdido em uma ilha no meio do Atlntico. Voc s dispe de 5 coisas: uma folha de papel, uma caneta, uma garrafa, uma rolha e uma bssola. Imagine que mensagem voc escreveria numa situao como essa.Ateliers 3 e 4

ATIVIDADE 1 PRODUO DE TEXTOS PERTENCENTES A DIFERENTES GNEROS

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Objetivos:a) Levar o aluno a relacionar a escolha de gneros com as diferentes situaes de produo b) Levar o aluno a perceber, atravs da comparao entre textos pertencentes a vrios gneros, as diferentes formas de organizao e algumas das marcas lingsticas prprias desses textos.

1. Leia a seqncia de eventos que se segue. Um grupo da sua classevai escrever como seria uma conversa telefnica entre duas pessoas conhecidas sobre esses acontecimentos (uma das pessoas viveu os acontecimentos relatados). Outro grupo vai escrever uma crnica. Um terceiro grupo vai escrever um interrogatrio (um delegado interrogando a pessoa que viveu os acontecimentos relatados). Outro grupo vai escrever sobre esses dados como uma notcia a ser publicada no jornal Folha de S. Paulo e um ltimo grupo vai escrever sobre esses dados como uma notcia a ser publicada no jornal Notcias Populares.

Dependendo do texto que o seu grupo vai escrever, vocs podem inventar outros fatos ou acrescentar informaes, se julgarem necessrio. Vocs no so obrigados a usar todos os fatos abaixo. Escolham apenas aqueles que julgarem necessrios para o texto a ser produzido.1. abre os olhos; 2. consulta o relgio de cabeceira; 3. levanta-se; 4. vai ao banheiro; 5. escova os dentes; 6. lava o rosto; 7. ouve a campainha da porta; 8. enxuga-se s pressas; 9. sai do banheiro; 10. caminha at porta; 11. destranca a fechadura; 12. abre a porta; 13. v um homem cado na soleira; 14. corre o olhar em torno; 15. constata que no h ningum mais no corredor; 16. abaixa-se; 17. toca o homem com os dedos; 18. sente que o corpo est frio e rgido; 19. percebe que um cadver; 20. corre para o telefone; 21. disca o nmero da central de polcia(Seqncia de eventos retirada de Lage, Nilson (1993) Estrutura da Notcia. So Paulo:tica)

2. Cada

grupo dever apresentar o texto que produziu.

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INSTRUONo decorrer de cada atelier, v anotando nas suas fichas de controle todas as informaes que voc julgar que vo poder ajud-lo no momento da produo de seu texto.

3. Preencha a ficha de controle abaixo:FICHA DE CONTROLE DO ALUNOProf. Responsvel:.................................................................................................. Aluno:.....................................................................................RGM:.......................... Curso:....................................................................................... Turma:.................. Atelier n.:..............................................................Data _____ /______ /_______ OBSERVAES PESSOAIS:........................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................... ...........................................................................................................................................................................

Ateliers 3 e 4

ATIVIDADE 2 RECONHECIMENTO DE DIFERENTES GNEROS TEXTUAIS

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Objetivos:Criar condies de conscientizao de conhecimentos prvios sobre a relao entre gneros textuais, contexto de produo e caractersticas lingsticodiscursivas dos textos Criar condies de reconhecimento de gnero, de sua relao com o contexto de produo e com as caractersticas lingstico-discursivas dos textos.

Leia os textos que seguem para identificar as semelhanas e diferenas entre eles. Em seguida, responda as duas seguintes questes, preenchendo o quadro.

1-

A que gnero de texto (por exemplo: entrevista, notcia, anncio publicitrio etc.) pertence cada um desses recortes?

2-

Que pistas o auxiliaram a reconhecer o gnero a que pertence cada texto?

(Manter da atividade de 2000 os textos 1, 2 (trocar a charge), 3, 5, 6, 8, 9, 11, 12, 13, 15 e acrescentar trechos de uma bula de remdio, de uma procurao e de um relatrio. )

RECONHECIMENTO QUANTO AOS GNEROS TEXTUAISRecortes Gneros Pistas

9

1

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15Ateliers 5 e 6

ATIVIDADE 1 RECONHECENDO OS GNEROS TEXTUAIS

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Subsdio terico:

A noo de gnero

N

o decorrer da histria, no quadro de cada sociedade e no quadro de cada lngua, foram sendo elaboradas diferentes maneiras de

fazer textos, em funo de diferentes objetivos sociais ou em decorrncia do aparecimento de novos meios de comunicao. Veja-se, por exemplo, que antes do aparecimento dos computadores e da Internet, no tnhamos um texto chamado e-mail. Essas diferentes maneiras de elaborar textos foram e vo constituindo tipos relativamente estveis de enunciados, uma forma padro e relativamente estvel de estruturao do conjunto do texto. Essas formas-padro ou modelos de textos so os gneros de texto ou de discurso. Assim, cada esfera de atividade social tem seus prprios gneros, com uma temtica prpria, uma determinada composio e um determinado estilo. Como toda a atividade humana, a linguagem tende a se organizar em formas diversas em funo das necessidades, dos interesses e das condies de funcionamento dos grupos humanos que a utilizam. Veja-se, por exemplo, que, na rea do Direito, temos gneros como a petio inicial, a sentena, o recurso, enquanto na rea da Medicina, temos as receitas, as bulas, etc. Entretanto, embora em um determinado momento histrico, os gneros tenham uma certa estabilidade, isto , uma certa forma constante de se concretizar, eles tambm se modificam constantemente, de acordo com as mudanas sociais e com os instrumentos novos que vo surgindo: alguns desaparecem, outros se modificam, outros aparecem.

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Conforme M. Bakhtin (1953), podemos classificar os gneros em primrios e secundrios. Os primeiros seriam os que ocorrem nas

circunstncias de uma comunicao cultural mais simples e que so aprendidos espontaneamente, sem necessidade de ensino formal. o

caso, por exemplo, dos dilogos em situao familiar.J os secundrios aparecem em circunstncias de uma comunicao cultural mais complexa, principalmente escrita, embora possamos ter gneros secundrios orais, como o caso de uma conferncia. Pode-se, ainda, fazer uma distino entre os gneros, de acordo com o grau maior ou menor de subjetividade que ele (o gnero) permite ao produtor do texto. Os que so mais propcios a refletir a individualidade, o querer-dizer do locutor so os literrios. So gneros mais livres,

prestando-se a uma reestruturao criativa, assim como os gneros familiares e os da conversao em geral. Os menos propcios a isso so os que tm forma padronizada, oficiais, que so muito estveis e muito prescritivos (os gneros da rea do Direito, por exemplo). .Num determinado momento histrico da sociedade, os gneros disponveis constituem-se como "modelos de referncia", ou modelos de escritura", nos quais cada produtor deve se inspirar. Para falarmos

escrevermos, mesmo sem o sabermos, utilizamo-nos sempre dos gneros. A escolha do gnero se realiza em funo do contexto da comunicao, das necessidades do tema, do destinatrio a quem nos dirigimos. A idia que temos da forma do gnero escolhido vai dirigir-nos em todo nosso processo de produo do texto.

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Os usurios de uma lngua tm conscincia da existncia dessa diversidade de gneros e so capazes de reconhecer um certo nmero deles e de nome-los de forma mais ou menos comum (por exemplo, sabemos reconhecer que o texto que temos em mo um romance, ou uma notcia, ou uma carta, etc.). Em todo o decorrer de nossa vida, as formas tpicas dos gneros se introduzem em nossa experincia e em nossa conscincia. Aprender a falar aprender a estruturar enunciados e so os gneros que organizam nossa fala. Aprendemos no s a moldar a nossa fala ao gnero, como tambm a detectar o gnero na fala do outro, o que facilita tambm a compreenso. Para o leitor, o conhecimento do gnero cria "horizontes de

expectativa"(TODOROV, 1978). Assim, ao pensarmos que vamos ler uma notcia, j prevemos que o texto trar, logo no incio, o fato central ocorrido no dia anterior e que s depois viro os pormenores. Nossos conhecimentos sobre os gneros esto sempre

correlacionados s representaes sobre o contexto social em que se processa a comunicao: conhecer um gnero conhecer suas condies de uso, sua pertinncia, sua eficcia, sua adequao a esse contexto, que chamamos de contexto de produo, que discutiremos com mais detalhes no prximo atelier. Os problemas de produo (ou de compreenso) de textos, que freqentemente vivemos, podem ser derivados exatamente da falta de

domnio de um gnero que caracterstico de um determinado contexto. Nesse sentido, podemos afirmar que estamos sempre aprendendo a

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escrever e a falar, pois, sempre estamos sujeitos a nos encontrarmos em situaes nas quais se devem utilizar gneros que no dominamos. Assim, importante aprendermos na escola as caractersticas dos gneros mais formais, que no aprendemos espontaneamente, nas situaes informais de nosso cotidiano. Quanto maior for o domnio que tivermos de diferentes gneros, maior facilidade de compreenso e de produo teremos, maior ser a possibilidade de expresso de nossa individualidade, maior a possibilidade de atingirmos nossos objetivos discursivos.

INSTRUONo decorrer de cada atelier, v anotando nas suas fichas de controle todas as informaes que voc julgar que vo poder ajud-lo no momento da produo de seu texto.

FICHA DE CONTROLE DO ALUNOProf. Responsvel:.................................................................................................. Aluno:.....................................................................................RGM:.......................... Curso:....................................................................................... Turma:.................. Atelier n.:..............................................................Data _____ /______ /_______ OBSERVAES PESSOAIS:.......................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................................................... ..........................................................................................................................................................................

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1. Agora volte aos textos da pg. 9 e preencha o quadro abaixo que destaca elementos do contexto de produo de alguns textos. Antes de completar o quadro observe o exemplo que se segue. (Colocar texto - petio)(DEFINIR OS TEXTOS SOBRE OS QUAIS ELES DEVERO PREENCHER OS DADOS ABAIXO)

IDENTIFICANDO O CONTEXTO DE PRODUOTextos Autor Exemplo Erick C. L. Lima Procurador do Estado Tem competncia( procurador) e capaz de fazlo (conhece a lei, faz citaes em latim, etc..) O Procurador Chefe; a interessada, Virgnia Menezes, aos que lidam com o Direito, ao Estado. Procurador Chefe, 1 2 3 4 5 6

Papel social do autorImagem que o autor quer passar de si mesmo

Destinatrios possveis

Papel social dos Destinat-rios

15proprietria, advogados, etc. Na procuradoria do Estado, nas revistas especializadas em Direito. 01/12/97 Defender o Estado do pagamento de desapropriao Petio

Locais onde de modo preferencial o texto circular

Momento possvel da publicao Objetivo do autor do texto Gnero(s)em que se encaixa o texto

ATIVIDADE 3 O CONTEXTO DE PRODUO (incluir texto sobre o contexto de produo)Ateliers 7 e 8

ATIVIDADE 1 O CONTEXTO DE PRODUO DETERMINANDO MARCAS LINGSTICAS1

Objetivo: Levar o aluno a perceber, ao longo do texto, marcas determinadas pelo contexto de produo. 1. Uma das notcias que se seguem foi retirada no jornal Notcias Populares e outra do jornal Folha de S. Paulo. Leia as duas notcias e, considerando as diferenas existentes entre elas, diga que notcia foi retirada de qual jornal. Justifique sua resposta, elencando pelo menos trs razes que a sustentem. NOTCIA 1:

Guerra no centroSEM-TERRA, SEM-TETO E SEM-EMPREGO ENFRENTARAM A POLCIA

Dois anos depois do massacre de 19 sem-terras, em Eldorado dos Carajs (PA), a violncia policial fez quatro feridos no centro de So Paulo, ontem. A baguna toda comeou depois que um grupo de 2.000 manifestantes comeou um protesto em frente Bolsa de Valores de So Paulo. O grupo era formado por gente da CUT, MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), punks, religiosos e estudantes. Eles tinham sado de um ato religioso na praa da S. "A Bolsa um cassino sem ganhador. S a democracia que perde", disse o lder dos sem-terra, Gilmar Mauro.1

Adaptado de Barbosa, Jacqueline (no prelo) Notcias, Coleo Trabalhando com os Gneros do Discurso, Editora FTD, S.P..

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Ningum sabe quem comeou a briga. O deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) disse que os policiais chegaram dando porrada. Em seguida, jogaram os ces e bombas de gs lacrimogneo no grupo. Havia crianas, idosos, grvidas e at uma freira entre os manifestantes. "Eu no enxergava nada", disse a freira Alberta Girardi, 77 anos. Sete pessoas ficaram feridas: 4 manifestantes e 3 PMs. J a deputada Martha Suplicy disse que os punks xingaram antes os policiais. "Mas isso no justifica a violncia." Caiu do cavalo Um cavalo da polcia ficou nervoso com o protesto e derrubou um policial. O PM teve que fazer carinho no animal para poder voltar a montar nele. O protesto terminou com uma assemblia na praa Ramos, que decidiu que os desempregados vo acampar em frente aos supermercados. O MST tambm quer iseno de luz, gua e transporte para os desempregados. Uma caravana da CUT e MST vai sair dia 1 de maio de vrias partes do pas em direo a Braslia. O objetivo chegar l dia 17 de maio para protestar contra Fernando Henrique Cardoso. "Ele no garante comida, emprego e terra para o povo", chiou Gilmar. (18/04/98)

NOTCIA 2: QUESTO AGRRIAPunks comearam a confuso, que envolveu PMs e sem-terra

Manifestao do MST em SP acaba com seis feridosBERNARDINO FURTADO da Reportagem Local

Cerca de 3.000 manifestantes do MST, da CUT (Central nica dos Trabalhadores) e da CMP (Central de Movimentos Populares) entraram em confronto com policiais do Batalho de Choque da PM em frente Bovespa (Bolsa de Valores de So Paulo, no centro da capital paulista ontem. Segundo a PM, o estopim do conflito foi o avano de um grupo de punks contra a linha de policiais que protegiam o prdio de eventuais conflitos durante protesto pelo aniversrio da morte dos sem-terra do Par. O conflito se generalizou e a PM usou ces, cassetetes, bombas de gs e de efeito moral. Os manifestantes responderam com paus e pedras. Havia 160 PMs no local, metade deles do Choque. Segundo o coronel PM Marcos Alcntara, trs policiais, um deles com suspeita de fratura do punho e os demais com escoriaes leves, e trs manifestantes saram feridos do confronto na Bovespa. As 19 cruzes de madeira que simbolizavam os sem-terra mortos h dois anos em Eldorado do Carajs (PA) viraram armas de ataque contra os policiais. Delweck Mateus e Gilmar Mauro, lderes do MST se revezaram no microfone do carro de som para tentar conter os cerca de 50 manifestantes que insistiram em atirar paus e pedras contra os policiais. Esse primeiro confronto durou cerca de dez minutos e aos poucos os manifestantes foram retomando o calado em frente Bovespa. O clima, porm, continuou tenso. Por cinco vezes os policiais usaram os ces para afastar os militantes. Cerca de 15 minutos depois da trgua, estourou uma nova escaramua: mais cinco minutos de bombas de gs lacrimognio, paus e pedras. Quando a calma voltou, os manifestantes marcharam at a praa Ramos de Azevedo, onde fizeram uma assemblia e se dispersaram s 18h. Eles aprovaram uma agenda de manifestaes, com destaque para a instalao de acampamentos de desempregados em frente a supermercados nas grandes cidades.

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O MST prometeu distribuir hoje dois caminhes de alimentos produzidos em assentamentos do Estado para a populao carente. A manifestao liderada pelo MST comeou ao meio-dia na praa da S. Antes do incio da passeata em direo ao prdio da Bovespa, ocorreu o primeiro incidente com os punks. Um deles carregava um bola de bilhar dentro de um meio, um basto de ferro e uma faca de cozinha, que foram apreendidos pela PM. "Vamos at a Bolsa, que um cassino onde os jogadores sempre ganham e o povo s perde", disse Gilmar Mauro. Ele assegurou que o MST no pretendia invadir a Bovespa, mas apenas fazer um ato simblico. J Mateus, vestindo camisa social e gravata, entrou no prdio da Bovespa e desfraldou a bandeira do MST no prego. Acusados pela PM e pelo prprio MST de terem causado o tumulto na frente da Bovespa, os cerca de 20 punks se retiraram da manifestao contrariados. Um dos lderes do grupo, que se identificou como Tefilo Loureno, 23, disse que "ningum deu apoio aos punks quando eles comearam a apanhar da polcia". (18/04/98)

Ateliers 7 e 8

ATIVIDADE 1 RECONHECENDO DIFERENTES GNEROS JORNALSTICOS2

Objetivos:a) Explorar um dos portadores do gnero artigo de opinio o jornal b) Levar o aluno a identificar artigos de opinio, atravs da comparao entre textos pertencentes a diferentes gneros jornalsticos C) Diagnosticar o que os alunos j sabem sobre o gnero artigo de opinio

1. Leia os quatro textos abaixo: TEXTO 1:

Maluf d trote para testar o 190 e descobre que funcionaO CANDIDATO A GOVERNADOR QUERIA MOSTRAR QUE O TELEFONE DE EMERGNCIA DA PM ERA DEMORADO. NO SE IDENTIFICOU E DISSE QUE 3 SUSPEITOS RONDAVAM SEU ESCRITRIO. EM 8 MINUTOS, APARECERAM 3 VIATURAS

Paula Schimitt Sentado mesa do seu escritrio na Avenida Europa, diante de um gravador, o candidato do PPB ao governo do Estado, Paulo Maluf, testou ontem o servio 190 para mostrar reportagem do Jornal da Tarde que a Polcia Militar do governo Covas no funciona. Cometendo uma contraveno,2

Maluf enganou o soldado do Centro de Operaes da PM (Copom) e fingiu se sentir ameaado por elementos mal-encarados. Ao final, o feitio virou contra o feiticeiro. Em pleno horrio de pico, com 82 quilmetros de lentido no trnsito das 17h55, trs viaturas da PM apareceram aps oito minutos do

Adaptado de Barbosa, Jacqueline (no prelo) Notcias, Coleo Trabalhando com os Gneros do Discurso, Editora FTD, S.P..

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chamado da vtima. (...)Tarde, So Paulo, 09/06/98.)

(Jornal da

TEXTO 2:

Caso de PoliciaQue coisa feia, Paulo Maluf, passando trote para a polcia s para saber de sua eficincia! Est vendo? O senhor pensou errado e danou. Eu, como eleitor, j no ia mesmo votar no senhor e, agora, devemos ter menos voto para o malufismo.(Paulo Augusto Breseghelo Braun, So Jos do Rio Preto. (O Estado de So Paulo, 12/06/98.))

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TEXTO 3:

O TROTE DE MALUFO pr-candidato ao governo do Estado de So Paulo pelo PPB, Paulo Maluf, perdeu boa oportunidade de ficar quieto ao apostar nas falhas de atendimento da PM paulista, caso revelado pelo "Jornal da Tarde". Na segunda-feira, ligou para o servio 190 e deu queixa falsa de que suspeitos rondavam seu escritrio. Em oito minutos, trs carros da Polcia Militar j respondiam ao trote. (...) Aproveitando-se do sentimento generalizado de falta de segurana, motivado pelos de fato alarmantes ndices de criminalidade no Estado, cometeu tambm ele ato ilcito, sem ao menos atentar para a leviandade de seu trote num servio pblico essencial. (...) Ao acionar a polcia sem precisar de seu servio, Maluf, mais do que um desservio sua campanha, mostrou uma falta de seriedade que seria infantil se no estivesse at colocando em risco um cidado que precisasse da PM naquele momento. (...) (Trechos publicados na Folha de S. Paulode 11/06/98.)

TEXTO 4: Maluf depe no caso sobre trote na PMO ex-prefeito Paulo Maluf admitiu em depoimento na polcia, na segunda-feira, ter feito pedido de socorro para o servio de atendimento telefnico da Polcia Militar, no dia 8. Ele ligou para o 190 e simulou uma situao de risco. Candidato ao governo pelo PPB, disse que seria seu "dever conhecer em detalhe o funcionamento" da PM, mas negou que a chamada tenha sido um trote. Maluf acusado de falsa comunicao de crime, no inqurito sob responsabilidade do delegado do 15 Distrito Policial, Cludio Kiss. O ex-prefeito est sujeito a pagamento de multa ou priso de seis meses a um ano. (O Estado de S. Paulo. 18 de junho de 1998.)

a.1.Os quatro textos tratam do mesmo assunto? a.2.Os quatro textos tm os mesmos objetivos? b) Agora diga a que gnero pertencem os textos que voc acabou de ler: TEXTO 1: ____________________ TEXTO 2:_________________________ TEXTO 3: ____________________ TEXTO 4: _________________________ c. Qual parece ter sido o objetivo do autor: do texto 1: ___________________ do texto 2: ________________________ do texto 3: ____________________ do texto 4: _______________________

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ATIVIDADE 2 NEUTRALIDADE SUSPEITA

Objetivo: Levar o aluno a perceber que no existe opinio pura e nem relatos totalmente neutros, atravs da explorao de situaes relatadas em notcias que veiculam um posicionamento implcito por parte do jornalista e/ou do jornal.1. O jornalista Clvis Rossi, no seu livro O que Jornalismo?, ilustra bem como a viso de uma emissora interfere tendenciosamente no relato de fatos, comentando uma notcia dada pela Rede Globo ao final de seis meses do governo Collor. A notcia divulgada pela Globo relatava o resultado de uma pesquisa feita pelo Ibope a respeito de como o povo brasileiro avaliava o governo Collor. O resultado da pesquisa do Ibope foi o seguinte:

8 % achavam o governo timo 27% achavam o governo bom 44% achavam o governo regular 8% achavam o governo ruim 11% achavam o governo pssimo 2% no responderam A informao dada pela Rede Globo foi a seguinte: 79% dos entrevistados aprovam o governo Collor, 19% no aprovam e 2% no responderam. O que a Globo fez foi somar timo, bom e regular e dizer que isso era igual a aprovar. Ora, regular no significa aprovao nem desaprovao. Imagine um outro canal de TV, que fosse oposio ao governo e utilizasse o mesmo recurso utilizado pela Globo. Que tipo de informao contrria ao governo Collor este outro canal poderia dar, baseado nos mesmos dados do Ibope?

Vejamos mais alguns exemplos que ilustram que uma neutralidade absoluta no relato dos fatos algo impossvel de ser praticado.

2. Leia os ttulos de notcias abaixo, que foram retirados de jornais. Considere os fatos relacionados s notcias e procure localizar, em cada caso, o que se pede:A) FATOS: Em janeiro de 1998, um prdio desabou na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, por problemas de construo, causando at a morte de algumas pessoas. A justia obrigou a construtora do prdio, de propriedade de Srgio Naya - que, na poca, era um deputado federal -, a indenizar as vtimas e a fornecer uma moradia provisria para elas. Muitas dessas famlias passaram, ento, a morar em hotis, at que pudessem ter suas casas de volta. Em abril de 1998, vrias famlias vtimas do desabamento que estavam morando em hotis tiveramque sair de alguns destes hotis, pois haveria um congresso na cidade e muitos participantes de outras cidades e pases j haviam feito suas reservas anteriormente nesses hotis.

Qual dos ttulos que se seguem enfatiza mais a humilhao a que as famlias moradoras do Palace foram submetidas?

21

( ( (

) "FAMLIAS DO PALACE 1 TM DE SAIR DE HOTIS" )"MORADORES DO PALACE DEIXAM HOTIS"

(Folha de S. Paulo, 17/04/98)

(O Estado de S. Paulo, 18/04/98)

) "PALACE 1: MORADORES QUE ESTAVAM EM APART-HOTEL SO DESPEJADOS" (Jornal da Tarde, 18/04/97) B) FATOS: Um avio, que deveria pousar no aeroporto de Vitria, pousa no aeroporto de Guarapari, cidade distante cerca de 54 Km de Vitria. Leia os ttulos de duas notcias sobre o mesmo fato, citado acima, e diga qual a diferena entre eles?

AVIO DA TAM POUSA EM PISTA ERRADA E ASSUSTA PASSAGEIROS NO ES (Folha de So Paulo, 10/07/98) PILOTO ERRA E POUSA AVIO EM AEROPORTO DE OUTRA CIDADE (O Estado de So Paulo, 10/07/98) C. Qual dos ttulos e chamadas abaixo passa uma viso menos negativa do Movimento Sem Terra (MST):

(

) "No geral, ato pacficoMST REALIZA PROTESTOS EM 20 ESTADOS" (Folha de S. Paulo,18/04/98)

(

) "MILITANTES TOMAM AS RUAS DAS CAPITAIS DO PAS Dia Internacional da Reforma Agrria foi marcado por manifestaes" (O Estadode S. Paulo, 18/04/98)

(

) "MST E POLCIA ENTRAM EM CHOQUEConflito ocorreu em So Paulo durante manifestao para lembrar massacre em Eldorado dos Carajs" (Jornal Da Tarde, 18/04/98)

D) FATOS: O resultado da final da Copa do Mundo de 1998, disputada entre Brasil e Frana, foi 3 x 0 para a Frana. As manchetes abaixo foram retiradas de jornais brasileiros e tambm do jornal francs Le Monde. Pensando no que significou o resultado deste jogo para os dois pases, coloque B frente das manchetes que vocs acharem que foram retiradas de jornais brasileiros e F frente das manchetes que vocs considerarem que foram retiradas de um jornal francs:

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( ((

) A FRANA EM JBILO CELEBRA SUA PRIMEIRA COPA DO MUNDO ) BRASIL DEIXA ESCAPAR O PENTA E FRANA CAMPE) MAIS DE UM MILHO DE PESSOAS FESTEJAM A VITRIA NOS CAMPOS ELSEOS

(

) FRANA CAMPE DO MUNDO; BRASIL SOFRE SUA PIOR DERROTA

Quando algum vai contar algo, tem que escolher uma srie de coisas: as palavras que vai usar, a ordem destas palavras, os dados que vai usar, etc. Ao fazer isso, muitas vezes, acaba-se privilegiando um dos lados envolvidos na questo. Querem ver outro exemplo?

3. A partir dos dados das pesquisas eleitorais abaixo, voc, juntamente com um colega, vai ter que inventar uma manchete que, faremos de conta, dever ser publicada num jornal de amanh. Esta pesquisa traz dados sobre as intenes de voto dos moradores de So Paulo para o primeiro turno das eleies para o governo de So Paulo, em 1998. Os dados so os seguintes: Uma pesquisa, realizada pelo Datafolha - Instituto de Pesquisa ligado ao grupo Folha de So Paulo - entre os dias 27 e 28/08/98, dava a seguinte porcentagem de inteno de votos para o governo do Estado de S. Paulo:FRANCISCO ROSSI 27% PAULO MALUF 27% MRIO COVAS 14% MARTA SUPLICY 12%

Uma outra pesquisa, realizada entre 01 e 02/09/98, dava seguinte porcentagem de inteno de votos para o governo do Estado:FRANCISCO ROSSI 25% PAULO MALUF 25% MRIO COVAS 17% MARTA SUPLICY 14% A tabela abaixo resume os dados:

ROSSI MALUF COVAS MARTA

PESQUISA de 27 e 28/08 27 27 14% 12%

PESQUISA de 01 e 02/09 25 25 17% 14%

a) A partir desses dados, pensem e escrevam uma manchete que seja mais favorvel ao candidato Rossi.

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b) A partir desses mesmos dados, pensem e escrevam uma manchete que seja mais favorvel ao candidato Maluf.

c) A partir desses mesmos dados, pensem e escrevam uma manchete que seja mais favorvel ao candidato Covas.d) Como vemos, embora o fato seja o mesmo, podemos cont-lo de diferentes formas. Baseado nas diferentes manchetes que vocs acabaram de inventar, vocs diriam que possvel contar um fato poltico como esse de uma maneira totalmente neutra? Justifique.