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INTRODUÇÃO
Trabalhar não é uma escolha, é uma questão de sobrevivência. Se
você é patrão, parte-se do princípio que você é dono de um negócio. Esse
negócio pode ser uma corporação, uma pequena ou micro empresa, uma
instituição ou mesmo uma organização com ou sem fins lucrativos. Se você é
empregado, parte-se do princípio que você é funcionário de alguma
corporação, pequena ou micro empresa, instituição ou mesmo uma
organização com ou sem fins lucrativos.
A lógica é a seguinte: se você é padrão, você trabalha para garantir a
sobrevivência do seu negócio. Se você é empregado, você trabalha para
garantir, primeiramente, sua própria sobrevivência. Logo, se você é patrão você
precisa dos seus empregados. Se você é empregado, você precisa do seu
emprego. E de quem é que ambos precisam? Quem é que garante a
sobrevivência de ambos? O cliente.
Por mais clichê e repetitiva que essa afirmação possa soar, o cliente é,
de fato, o maior responsável pelo sucesso de qualquer negócio, afinal é ele que
contrata seu serviço ou compra seu produto. É o cliente quem paga seus
custos e garante seus lucros. Sem clientes, não há razão de ser, nem como se
manter.
Campanhas de marketing e publicitárias podem até ajudar empresários
a promover seus negócios, produtos, serviço ou sua marca; porém ela só será
bem sucedida se atrair ou contribuir para manter seus clientes.
A grande questão é: mas afinal, quem é o cliente? O que ele quer e
espera de uma empresa? Como se preparar para receber e lidar com os mais
variados tipos de cliente? Como oferecer excelência em atendimento e
tratamento ao cliente?
Centenas de artigos e livros já foram escritos e vendidos a respeito do
tema em questão. Então por que será que existe um hiato tão grande entre a
teoria e a realidade?
O presente trabalho procura responder essas questões da seguinte
forma: o primeiro capítulo contextualizará historicamente o cliente brasileiro e
os porquês da valorização do cliente nos últimos 30 anos; o segundo capítulo
traz um conjunto de medidas que devem ser tomadas pelas empresas e
organizações a fim de alcançarem a excelência em atendimento ao cliente; o
terceiro e último capítulo discorrerá sobre uma empresa que é referência
internacional no assunto e mundialmente reconhecida pela alta qualidade e
padrões em atendimento – a Disney.
CAPÍTULO I
CLIENTE – DA TEORIA À REALIDADE
O cliente ganhou uma dimensão muito maior e não podemos deixar de
perceber isso. É todo aquele deposita em nós suas expectativas.
(Zugaib, 2010)
Ao adentrar qualquer livraria de médio ou grande porte, seja ela física
ou virtual, e se dirigir ou acessar a sessão de livros de administração, será
possível localizar com facilidade dezenas de títulos que abordam de alguma
forma o tema “clientes” ou “atendimento ao cliente”. Essas obras, muitas delas
recheadas de repetições e clichês, são escritas por autores e consultores que
se julgam gurus no assunto e buscam compartilhar sua experiência com os
meros mortais e guiá-los pelos caminhos que certamente o levarão à
excelência em atendimento ao cliente.
Milhares de exemplares são vendidos, centenas de consultorias
prestadas, mas por que parece ser tão difícil colocar o aprendizado em prática?
Simples: Um empresário investe milhões nos melhores produtos e numa infra-
estrutura super moderna, gasta outras centenas de milhares em consultoria,
marketing, propaganda, mas não faz o básico: não investe no seu cliente.
Investir no cliente não significa algo puramente financeiro. Investir no
cliente demanda tempo, interesse genuíno em conhecê-lo e, principalmente,
investimento em treinamento contínuo para que se possa fornecer um
atendimento de qualidade constante.
1.1 – O Cliente Brasileiro
Por que será que é notável uma enorme disparidade entre a forma
como um cliente é tratado no Brasil em relação à forma com ele é tratado, por
exemplo, nos Estados Unidos? Quem já viajou para o exterior sabe que na
cadeia de supermercados Walmart o cliente que compra em uma loja nos EUA
tem uma série de direitos que o cliente que compra em uma loja do Brasil nem
imagina ser possível.
Seguem alguns exemplos:
1) Ao comprar um item eletrônico, o comprador tem até três meses a
partir da data impressa na nota fiscal para desistir da compra,
devolver o produto usado e receber seu dinheiro de volta, sem que
se façam necessárias maiores explicações do motivo para a
devolução.
2) Ao comprar um produto da sessão alimentícia que esteja estragado
ainda que dentro do prazo de validade, o cliente não só é ressarcido
integralmente, como recebe um adicional no mesmo pago pelo
alimento para compensar a inconveniência de ter retornado à loja e
ter colocado sua saúde em risco.
Na famosa rede de fast-food McDonald´s, por exemplo, as máquinas
de refrigerante das lojas americanas ficam no meio do restaurante. Assim, os
clientes têm acesso ilimitado à mesma e podem se servir livremente por um
preço que é inferior ao valor praticado para se tomar um único copo do mesmo
refrigerante no Brasil. Por que será que isso acontece? Será que os clientes
brasileiros não merecem os mesmo benefícios que os americanos? Se a rede é
a mesma, porque a política de benefício e atendimento ao cliente não segue o
mesmo padrão?
A origem básica dessa diferença pode ser encontrada em nossa
história. De acordo com Boris Fausto (2002), quando colônia, o Brasil só podia
comercializar com sua metrópole, Portugal. O exclusivismo colonial nos
impunha os produtos portugueses, bem mais inferiores em qualidade do que os
produtos ingleses, por exemplo. Era aquilo ou nada. Essa imposição tornava
aqueles que aqui viviam, reféns dos portugueses. Eles nos tinham em suas
mãos.
Mesmo depois da independência, a situação não mudou muito. Na
justificativa de compensar o atraso industrial ocasionado por séculos de
colonização, nossos governantes optavam pelo protecionismo:
“Antes de 1990, importar algo de forma legal era quase
impossível. O país tinha uma política de fechamento
absoluto às importações. Essa restrição incluía normas
que não diziam respeito apenas às tarifas de importação,
como as cotas de importação por empresa, por exemplo.
Tudo isto fazia com que o acesso aos produtos
importados fosse muito difícil (...). A conseqüência era o
pleno funcionamento de um mercado informal. Boa parte
dos profissionais (...) tinha de lidar com os “muambeiros”
para conseguir os equipamentos a preços viáveis, mas
sem nota ou garantia.” (Sá, 2007, p.66)
Isso quer dizer que o mercado brasileiro ficou basicamente livre da
concorrência de produtos e serviços estrangeiros durante a maior parte de sua
história, representando um verdadeiro desestímulo à competitividade, capaz de
proporcionar melhoras em qualidade, produtividade e tecnologia em todos os
setores de uma empresa, inclusive no que tange atendimento ao cliente.
Reinando absoluto em um mercado sem grandes concorrências, o
empresário nacional não via a menor necessidade ou obrigação em evoluir
tecnologicamente e atender bem o seu cliente; afinal, por mais insatisfeito que
este estivesse, este não tinha opção. Se ele quisesse ter o produto x ou o
serviço y, ele teria que aceitar as condições impostas pela empresa que o
fornecia. Para o empresário o raciocínio era: “para quê investir em melhoras e
me preocupar com a satisfação do meu cliente, se ele vai continuar comprando
comigo de qualquer jeito?”. Para o cliente, as pífias alternativas seguiam a
mesma lógica dos tempos coloniais: era isso ou nada.
O comodismo da industrial brasileira só começou a perder espaço
depois que o então presidente Collor começou a adotar medidas para
flexibilizar as importações a partir de março de 1990. O impacto da abertura do
mercado brasileiro foi cruel com muitos setores da obsoleta industrial nacional:
centenas de fábricas, lojas e negócios foram à falência ao longo dos anos 90.
Aqueles que sobreviveram, se viram forçados a tentar se adequar aos novos
padrões de qualidade oferecidos pelas concorrentes internacionais.
Motivados pelas boas vendas e excelente aceitação do mercado
consumidor brasileiro, as multinacionais foram se estabelecendo no país de
forma cada vez mais forte durante a última década do século XX e
transformando pouco a pouco o comportamento e percepção do cliente no
Brasil.
1.2 – Da Era do Produto à Era do Cliente
Sob a perspectiva de Sergio Almeida (1995), a Era do Produto pode
ser identificada pelo período que seguiu a Segunda Guerra Mundial. Com a
indústria e a economia de grande parte do planeta devastada por meia década
de guerras e o leste Europeu isolado pelas políticas soviéticas, os Estados
Unidos da América se tornaram os grandes líderes e produtores para a
insaciável sede de consumo capitalista.
“Nenhum homem faminto e sóbrio pode ser convencido a
gastar seu último dólar em outra coisa que não comida.
Mas uma pessoa bem alimentada, bem vestida, bem
abrigada e em tudo mais bem cuidada pode ser
convencida a escolher entre um barbeador e uma escova
de dentes elétrica. Juntamente com preços e custos, a
demanda do consumidor se torna sujeita à
administração.” (Hobsbawn, 1994, p. 252)
Durante esse período, o importante era produzir, pois
independentemente de ter ou não qualidade, tudo o que era produzido, era
vendido. As empresas só concorriam com elas mesmas pela capacidade de
produzir cada vez mais. Nesse cenário, o cliente não tinha voz e não tinha vez;
lhe “restava comprar o que lhe era oferecido, nas condições que lhe eram
impostas” (Almeida, 1995, p.61). A célebre frase do presidente da Ford, Henry
Ford (1863-1947), representava bem a visão predominante dessa época: “As
pessoas podem comprar o Modelo T de qualquer cor, contato que seja preto.”
Essa realidade só começou a mudar na década de 70. Como lembra o
historiador Eric Hobsbawn, com as seqüentes crises do petróleo, já não se
vendia mais com a mesma facilidade que antes. Para “piorar”, a concorrência
no mercado de produtos havia se tornado mais acirrada com a recuperação
das economias européias e japonesa. O mercado deixou de ser
essencialmente comprador e a competição entre as empresas fez com que
essas passassem a batalhar por seus clientes.
“Recuperar-se da guerra era a prioridade esmagadora dos
países europeus e do Japão (...). Considerando o
tamanho e avanço da economia americana, seu
desempenho de fato durante os Anos Dourados não foi
tão impressionante quanto a taxa de crescimento de
outros países, que partiram de uma base bem menor.
Entre 1950 e 1973, os EUA cresceram mais devagar que
qualquer outro país. (...)Na verdade, para os EUA essa
foi, econômica e tecnologicamente, uma época mais de
relativo retardo que de avanço.” (Hobsbawn, 1994, p. 253)
O Japão, completamente arrasado pela 2ª Guerra Mundial, em menos
de duas décadas conseguiu se reerguer e começar a incomodar os países
industrializados de primeiro mundo por ganhar força e mercado destacando-se
pela qualidade de seus produtos, algo ignorado até então, como já dito, pelos
líderes americanos. Enquanto os demais países tentaram sistematicamente
imitar o modelo norte-americano se adaptando a uma tecnologia já existente,
os japoneses desenvolveram sua própria tecnologia.
“Para isso contribuíram dois grandes baluartes e pioneiros
na área da qualidade, o Dr. Deming e o Dr. Juran
(especialistas americanos), que naquela época não eram
ouvidos dentro dos EUA (...). Resultado: aluno
extremamente aplicado, determinado e disciplinado (...) -
em que os dois pilares fundamentais foram a educação e
a qualidade – o Japão deu a volta por cima, e, em apenas
vinte anos, já mostrava resultados extraordinários.”
(Almeida, 1995, p.63)
Como ressalta Almeida (1995), o “despertar do cliente” foi influenciado
pelos fatores históricos já mencionados, tecnológicos (com a revolução na
comunicação: popularização da telefonia celular, internet e, mais recentemente,
redes sociais), macroeconômicos (com a formação de blocos econômicos e a
conseqüente pressão para a redução de barreiras comerciais),
microeconômicas (aumento da concorrência) e sociais (crescente senso de
direito). No caso do Brasil, este último foi motivado pela criação do Código de
Defesa do Consumidor (lei Nº 8.078, 11/09/90), que entrou em vigor de 11 de
março de 1991.
Como se pode notar, o primeiro salto em qualidade foi na qualidade de
produtos. O Japão passou a ser um referencial, um exemplo a ser seguido
nesse quesito. Como resposta, durante as décadas seguintes, os países
começaram a focar no desenvolvimento tecnológico visando uma constante
elevação no nível de qualidade de seus produtos. A conseqüência foi a
seguinte:
“A tecnologia nivelou todos... passou a ser piso!
Qualidade em Serviço e no relacionamento com os
Clientes... Este sim é o grande diferenciador da década
de 90”. (Almeida, 1995, p. 49)
Assim sendo, não só as empresas, como também o Estado, foram se
mobilizando no sentido de oferecer um canal de comunicação direta e uma
rede se proteção ao cliente.
“O Código de Defesa do Consumidor é uma lei
abrangente que trata das relações de consumo em todas
as esferas: civil, definindo as responsabilidades e os
mecanismos para a reparação de danos causados;
administrativa, definindo os mecanismos para o poder
público atuar nas relações de consumo; e penal,
estabelecendo novos tipos de crimes e as punições para
os mesmos.” (IDEC, 1990)
Agora, tendo o cliente como foco das atenções, vivemos uma nova era
e tanto o Brasil empresarial como o Brasil consumidor, precisam estar cientes
disso.
1.3 – Atendimento no Brasil
O Brasil sofreu um choque em relação à concorrência em produtos
com a abertura do mercado no início da década de 90. Com o tempo, não só
os produtos estrangeiros começaram a chegar, mas as empresas
multinacionais passaram e se instalar e abrir filiais e fábricas no Brasil. Com
elas, trouxeram também a noção de qualidade e valor agregado em seus
produtos e serviços.
Apesar de ser mundialmente conhecido por ser um povo hospitaleiro e
simpático, por que será que temos uma cultura de atendimento ao cliente tão
ruim?
O empresariado brasileiro ficou anos fechado em si mesmo com o “rei
na barriga”. A infra-estrutura de comunicação fornecida por nossas estatais
também não favoreciam qualquer contato mais próximo entre fornecedor e
cliente. Há 20 anos, ter uma linha de telefone fixo era um investimento tão
valioso que costumava fazer ser listado em testamentos. Telefonia celular e
internet era itens de luxo, desconhecidos da grande massa.
A realidade da comunicação brasileira só começou a mudar a partir de
1998, quando o Sistema Telebrás foi privatizado. Novas empresas de telefonia
fixa e celular foram e continuam surgindo desde a virada no milênio. A internet
de banda larga se expande com velocidade por todo país.
“O crescimento do serviço de telefonia no Brasil teve um
aumento assombroso após a privatização. Sai de 1992
com 19% das casas com telefone para 85% em 2009. É
um aumento de 337% neste período.” (Leitão, 2010)
Ainda assim, há certos aspectos que contribuem negativamente para o
setor: de acordo com a instituição Diálogo Regional sobre a Sociedade de
Informação (Dirsi), o país tem as maiores tarifas de telefonia celular pré-paga
entre os países latino-americanos, com custo médio mensal de US$ 45,01
(cerca de R$ 80 pelo câmbio atual). O Sindicato Nacional das Empresas de
Telefonia e de Serviço Móvel Celular destacou como uma das razões para tal a
absurda carga tributária - entre 40% e 63% - que incide sobre os serviços de
telefonia por aqui; algo que nos demais países da América Latina gira na média
de 19,4%. (Castro, 2010)
De qualquer forma, hoje podemos dizer que o Brasil já dispõe de uma
rede de comunicação de certa forma extensa e integrada. Isso tem contribuído
de forma positiva para o cliente, que agora tem maior facilidade no acesso à
informação. Antes de comprar um produto ou contratar um serviço, o
consumidor pode pesquisar a opinião de outros usuários e compradores na
internet em websites especializados em denúncias, reclamações e elogios, no
website das próprias lojas ou em redes sociais.
Outro grande avanço no que tange o atendimento ao cliente no Brasil,
diz respeito ao decreto 6.523 de 2008. Este decreto, popularmente conhecido
como "Lei do SAC", estabelece regras a serem seguidas no atendimento
telefônico ao consumidor, como: ligação gratuita por meio de um telefone 0800,
limite de 1 minuto de espera, atendimento ininterrupto (24 horas por dia, 7 dias
na semana), registro das solicitações em sistema informatizado, emissão de
protocolo, gravação das ligações, entre outras.
Embora seus dispositivos se apliquem apenas às empresas
fornecedoras de serviços regulados pelo Poder Público Federal – como:
bancos, operadoras de telefonia celular e fixa, empresas de transportes,
energia elétrica, saneamento básico e fornecedoras de canais a cabo – ele
serviu como forma de minimizar os abusos e destratos cometidos pelas
empresas fornecedoras desses serviços aos seus clientes.
O SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor) é um atendimento
receptivo onde os clientes da empresa são escutados como forma de
direcionas suas reclamações, sugestões e dúvidas. Com este serviço a
empresa oferece confiança e credibilidade ao seu produto ou serviço, sendo
uma excelente forma de conquistar e reter clientes, além de aumentar as
informações e as opiniões sobre o produto e a empresa. Algumas empresas
chegam a oferecer chat online em seus sites na internet na intenção se melhor
atender e informar seus clientes sobre produtos, prazos e procedimentos.
Portanto, hoje o mercado brasileiro se encontra aberto à concorrência
interna e externa e oferece um sistema de comunicação muito mais extenso,
acessível e eficiente em comparação à realidade de 20 anos atrás. Os
empresários e gestores que aqui permanecem ativos ou que aqui pretendem
se estabelecer precisam estar cientes e prontos para conviver e enfrentar tanto
as leis de mercado, como as leis federais e à forte concorrência no que diz
respeito ao tratamento aos seus clientes.
Um dos maiores desafios está no setor financeiro, onde a infidelidade é
marca constante principalmente no Brasil. A média mundial de clientes com
contas em dois ou mais banco é de 59%; aqui esse índice sobe para 66%.
Uma pesquisa realizada pela Ernest & Young em 2011 sobre o perfil do cliente
bancário no Brasil e no mundo ajuda a entender alguns dos critérios de escolha
levados em consideração na hora de priorizar ou escolher a instituição que
fornecerá tal serviço:
“A qualidade dos serviços oferecidos é a maior causa de
insatisfação por parte dos clientes bancários – razão
citada por 48% dos consumidores de todo o mundo como
principal motivo para planejarem trocar de instituição. Em
segundo lugar aparecem os preços, apontados por 43%
dos entrevistados como principal motivo para essa
possível mudança. Outras razões para deixar uma
instituição bancária e ir para outra incluem ofertas de
produtos, proximidade e falta de confiança. (...) A imagem
e a reputação de uma instituição foram os fatores
identificados como mais importantes para a confiança na
instituição. (...) No Brasil, todas as principais instituições
têm marcas fortes. Para realmente se diferenciarem e
terem vantagens competitivas relevantes, as instituições
precisam se ‘reconectar’ com sua base de consumidores.
(...) Há uma demanda por mais qualidade, nível de
atenção e personalização em todos os canais, com
destaque para call centers e agências”. (Dantas, 2011)
Ou seja, a preferência geral dos clientes brasileiros e escolha por
determinado produto e serviço será feita com base em suas experiências, na
relação preço-qualidade, nas impressões e grau de satisfação por determinada
marca, empresa, produto ou serviço é o que garantirá a sobrevivência de um
negócio no atual cenário histórico-sócio-ecônomico.
CAPÍTULO II
ATENDIMENTO - O CAMINHO PARA A EXCELÊNCIA
O homem comum é exigente com os outros; o homem superior é exigente
consigo mesmo.
(MARCO AURÉLIO, s.d.)
2.1 – Momentos da Verdade
Não importa se uma empresa oferta produtos ou serviços como carro-
chefe, excelência em atendimento é algo para o qual os gestores não podem
fazer vista grossa. A globalização e a elevada competitividade que veio com
esta, transferiram muito poder ao consumidor. Ele agora pode optar dentro de
uma enorme variedade de ofertas. A conseqüência disso é que a exigência
também aumentou, obrigando empresas a oferecer maior qualidade, menor
preço, melhor serviço e atendimento em todos os níveis do processo.
Pensando nisso, em 1987, um empresário sueco chamado Jan Carlzon
desenvolveu e tornou popular o conceito de “momentos da verdade”. Ele foi
presidente da SAS, empresa de aviação da Escandinávia, na qual liderou uma
verdadeira revolução. Jan Carlzon disse que de nada adiantavam os aviões, as
redes de hotéis, os terminais próprios de embarque, as oficinas de
manutenção:
“O bem maior que uma empresa pode possuir são os
seus clientes, e o desejo que esses mesmos clientes têm
de comprar e continuar comprando da sua empresa”.
(Carlzon, 1987)
Defini-se como momento da verdade todo o momento e o tempo em
que o cliente, de alguma forma, interage com a empresa, seus funcionários e
seu ambiente físico. São esses momentos que irão gerar no cliente uma
percepção da qualidade do serviço fornecido. Quanto mais curto é esse
período de interação, mais importante será aquele momento, pois estarão
reduzidas as chances da empresa causar uma boa ou má impressão no
cliente. Caso ele saia insatisfeito menores serão as oportunidades de a
empresa desfazer a má impressão.
Para estar pronta para encantar o cliente em cada momento da
verdade, a empresa precisa passar por um processo de humanização. Não só
os clientes, como também os funcionários precisam ser tratados como
pessoas. O funcionário também é cliente da sua empresa e como tal precisa
estar satisfeito e ser igualmente colocado no centro dos processos.
“Nós costumávamos fazer aviões voarem, agora nós
fazemos pessoas voarem”. (Carlzon, 1989)
Bjorn W. Biben Frederick - professor e pesquisador do PROVAR,
entidade conveniada à Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
da USP – diz que:
“Um dos erros gerenciais mais comuns é enxergar os
momentos da verdade como um acontecimento pontual
desvinculado do resto da empresa. Ou seja, se faz um
grande investimento em treinamento e remodelamento
físico dos pontos de contato, porém com pouca
capacidade de atender às expectativas reais dos clientes.
Há sorriso, há contato no olhar, há cordialidade, porém
não há resposta ou solução satisfatória para uma série de
assuntos de interesse do cliente. (...) Quando se investe
em treinamento e aprimoramento apenas no grupo de
linha de frente, o resultado freqüentemente são processos
burocráticos, improdutivos e quebrados com baixa
autonomia para prover o que o cliente quer.” (Frederick,
2009)
Antes de mais nada, é preciso entender os principais anseios,
solicitações e reclamações dos seus clientes. Por que e com que freqüência
ele entra em contato com a empresa? O que ele espera que a empresa faça
por ele?
É preciso estar pronto para oferecer uma resposta imediata, clara e
objetiva. Clientes estão cansados de ver os mesmos problemas se repetindo.
Isso quer dizer que a solução precisa ser precisa, eficiente e definitiva. Para
que isso se dê, Carlzon diz que precisa haver um achatamento da pirâmide
hierárquica, a fim de reduzir o número de autorizações necessárias para a
tomada de decisão.
Atualmente, esse conceito de achatamento da pirâmide hierárquica tem
sido promovido em diversos cursos de gestão de pessoas e implementado por
diversas empresas através do termo que se popularizou como “empowerment”.
Empowerment nada mais é do que conferir maior poder de decisão e
autonomia aos funcionários que lidam diretamente com os clientes,
redistribuindo responsabilidades e reduzindo a distância entre o cliente e a
pessoa capaz de solucionar seu problema de fato.
É claro que para que um funcionário esteja preparado para lidar
diretamente com o cliente e pronto para oferecer uma solução razoável dentro
de um prazo aceitável existe uma fase crucial no processo, geralmente
ignorada na planilha de planejamento orçamentário do empresário brasileiro: o
investimento maciço e contínuo em treinamento e aprimoramento de
pessoal.
Todos os funcionários precisam conhecer a história, a política e a
filosofia de atendimento da empresa para a qual trabalham. Eles precisam se
interessar pela empresa, estarem felizes e, se possível, orgulhosos da função
que desempenham. Existe um leque de conhecimentos (regras, leis,
procedimentos internos, logística de entrega etc) e características básicas que
precisam ser compartilhados por todos a fim de garantir que o atendimento
fornecido pelo funcionário x terá o mesmo nível de excelência do que aquele
oferecido pelo funcionário y.
“Mesmo em situações onde a resposta não possa ser
imediata por qualquer motivo, o funcionário demonstra
uma postura de responsabilidade ao se nomear como
“dono” do problema do cliente na empresa e mantém o
contato com o cliente até a solução final.
Interessante mesmo é notar que entre as empresas que
conheço as que mais colheram frutos dessa filosofia (de
Momentos da Verdade) são as que mais investiram em
treinamento e satisfação de seus funcionários. São
empresas que construíram um entendimento humanizado
e dinâmico do relacionamento entre cliente-funcionário-
empresa”. (Frederick, 2009)
2.2 – “Clientologia”
De acordo com Sérgio Almeida (1995), “clientologia” é o estudo do
cliente, buscando entender o que motiva e define o comportamento do cliente,
os tipos de relacionamento empresa-cliente, impactos econômicos/financeiros
e custos da perde do cliente, e a relação entre o nível de satisfação do cliente e
o sucesso de um negócio.
A “clientologia” exige uma certa interdisciplinaridade entre áreas como
psicologia, economia empresarial e doméstica, comunicação, sociologia,
filosofia, antropologia etc.
Existem empresas especializadas em fornecer treinamentos e
palestras sobre o assunto. De acordo com a página virtual da XBL Consultoria
e Treinamentos, as palestras sobre esse tema abordam as ferramentas e
técnicas de comunicação e atendimento e leitura de perfis dos clientes para
que profissionais criem estratégias cada vez mais eficazes baseadas na
perfeita adequação ao público alvo. Para tal, os moderadores das palestras
aplicam testes, apresentam de vídeos, estudos de casos e realizam dinâmicas
de grupo.
Se você fizer uma busca no Google, verá que o assunto “clientologia” é
especialmente direcionado a profissionais ligados a relações públicas e
vendas. Mas será que não possuímos e lidamos todos nós, com maior ou
menor intensidade, com clientes? Se prestamos, por exemplo, algum tipo de
serviço para nossos colegas de trabalho, se falamos com fornecedores ou
lidamos com pessoas em geral, temos clientes. Logo, precisamos estar todos
preparados para atendê-los da melhor forma possível.
Uma analogia que Sergio Almeida gosta de fazer em suas palestras
para enfatizar a importância da Qualidade Total (soma da qualidade das
partes/cada funcionário ou departamento) é dizer que não prezar por ela é o
mesmo que ter dez jogadores craques e “só” o goleiro ser perna de pau; ou ir
ao médico e ouvir que está tudo bem, menos o coração.
Jan Carlzon (1987) diz que é preciso treinar todos os funcionários para
se aproximarem do cliente, uma vez que:
1) Toda pessoa precisa saber e sentir que é necessária.
Se um cliente entre em uma loja e nota que ninguém aparenta
interesse em atendê-lo ou todos estão ocupados demais para fazê-
lo, ele certamente concluirá que o negócio que ele trará é
indiferente para o estabelecimento em questão. Logo, sua
tendência é ir embora e procurar outro lugar onde sua presença
seja notada e valorizada.
2) Todos gostam de ser tratados como indivíduos.
Ser tratado como indivíduo é ser tratado com atenção exclusiva. O
ideal é que o atendente se dirija ao cliente chamando-o pelo nome e
consiga perceber pela sua forma de falar e se colocar o que ele
precisa. Esse item requer uma capacidade subjetiva de “ler” as
pessoas e jamais tratá-las como se fossem todas iguais.
3) Todos devem ter liberdade e informação suficientes para assumir
responsabilidades quando preciso.
Se os funcionários de uma empresa estiverem bem treinamos e
cientes da filosofia, regras e procedimentos da organização, eles
estarão todos preparados para dar um passo à frente quando for
preciso. Se o que o tipo de ajuda que um cliente requer está além
de sua alçada, o funcionário saberá direcioná-lo para alguém capaz
de atendê-lo. Não basta informar um nome ou um telefone de
contato. O funcionário bem treinado estabelecerá o contato com a
pessoa responsável e nunca deixará o elo que liga o cliente ao
próximo nível de atendimento necessário se romper.
Grande parte dos erros mais comuns cometidos pelas empresas no trato
com o público se dá em decorrência de funcionários mal-treinados ou que,
ainda pior, não passaram por nenhum tipo de treinamento. No Brasil, esse fato
é ainda mais notável, pois aqui a cultura de investir em treinamento e
preparação dos funcionários ainda é rejeitada ou postergada pela maioria dos
empresários, que costumam achar que o funcionário já deve vir pronto e com
toda a experiência necessária para realizar a função para o qual foi contratado.
Segundo o consultor de orientação empresarial do SEBRAE, Renato
Fonseca de Andrade (2004), os fatores mais importantes a serem
compreendidos e aprimorados são: as necessidades dos clientes; a
comunicação durante o atendimento; a percepção aguçada para lidar com
reações emocionais, aplicando valores, crenças e princípios éticos; a empatia
(capacidade de se colocar no lugar do cliente) e o treinamento.
É preciso lembrar que, no trato com pessoas, devemos levar em
consideração a capacidade de ajuste de cada um a elementos e situações
altamente subjetivas. O valor/carga emocional de um produto, serviço ou da
experiência que um cliente teve desde a escolha do prestador de serviço,
marca ou loja, até a entrega e/ou vivência decorrente destes, são alguns
exemplos de ocorrências e percepções altamente subjetivas.
Logo, todas essas nuances precisam ser levadas em consideração e,
para tal, é preciso aprender a ter tato e a estabelecer conectividades
emocionais. Sim, essas são coisas que se aprendem.
É claro que determinados traços da personalidade de algumas pessoas
colaboram para que elas sejam facilmente rotuladas como uma people person.
People Person, termo muito comum nos Estados Unidos, faz referência
àqueles que, por natureza, gostam de interagir com pessoas e tem facilidade
em comunicar-se com elas, talvez por possuírem uma sensibilidade maior.
Isso não quer dizer que alguém tímido ou mais fechado não tenha
capacidade de aprender as técnicas e características que envolvem um bom
atendimento, como: ter um sorriso na voz, falar de forma clara e correta, ser
cortês, demonstrar real interesse e preocupação por resolver um problema
para alguém ou fornecer uma informação correta etc.
Quando Jan Carlzon mudou a história da SAS, ele não demitiu os menos
simpáticos ou se livrou de clientes “reclamões”, pensando ser mais conveniente
captar novos clientes e encontrar funcionários perfeitos. Seu grande êxito foi ter
aumentado a margem de lucratividade investindo no mercado, nos usuários e
nos empregados, ao invés de cortar custos.
Os clientes queriam pontualidade? Em pouco tempo, a pontualidade da
SAS se tornou a melhor do continente, voltando a gerar lucro enquanto as
concorrentes somavam prejuízos. O segredo era um programa ambicioso,
voltado para um grande aperfeiçoamento da eficiência.
Quem administra uma empresa de serviços, precisa compreender que
há uma enorme diferença entre o processo produtivo de um serviço quando
comparado ao processo produtivo de um produto. Um produto geralmente é
fabricado de forma automatizada, sem qualquer participação do cliente final na
fase de produção, embalagem e remessa para os pontos de venda.
Em situações como essas, o processo produtivo é completamente
desvinculado do cliente. O primeiro contato deste com o produto é nas lojas e,
se a loja for virtual, o primeiro contato físico com o bem adquirido acontece
ainda mais tarde, somente quando o mesmo é entregue em sua residência.
Por outro lado,
“Com freqüência, o cliente de serviços desempenha um
papel fundamental no processo produtivo. Primeiramente,
geralmente o cliente deflagra o início do processo, ou
seja, um serviço não é providenciado sem que haja
alguém que o solicite. Segundo, com muito maior
freqüência que para a produção de bens materiais, os
clientes interagem durante a execução dos serviços,
estabelecendo parâmetros que devem ser cumpridos
durante o processo de atendimento. Uma das tendências
mais marcantes neste fim de século tem sido os esforços
em prestar serviços cada vez mais individualizados que,
fugindo a um padrão único, busquem satisfazer às
necessidades particulares dos clientes. Trata-se da
chamada customização, que só se torna possível com a
maciça participação dos clientes. (Valério, 2000)
Sob essa ótica, falhas na prestação de um serviço ou na fabricação de
produtos customizados – situação em que se paga mais caro para ter algo
exatamente do jeito que se imaginou – por parte da empresa fornecedora
podem ser percebida pelos clientes como "algo pessoal", coisa que, para os
produtos em geral, é compreendida como "defeito de fábrica".
De qualquer forma, mesmo no que se refere à fabricação de produtos de
massa, os avanços tecnológicos garantiram um aumento da eficiência e uma
redução dos bens que chegam ao cliente esses “defeitos de fábrica”. No caso
de serviços, a tecnologia pode auxiliar a manter um registro do perfil do seu
cliente e do acompanhamento de cada caso, mas a eficiência nesse quesito
está muito mais atrelada à qualidade dos recursos humanos da empresa.
Portanto, vale a pena enfatizar mais uma vez a importância do treinamento de
todo seu quadro de funcionários.
Basta imaginar um cliente ligando para solicitar a uma visita técnica à
empresa que presta serviços de manutenção de aparelhos de ar condicionado.
De nada adianta a mocinha de voz simpática que atende ao chamado de forma
super profissional e agenda a visita, se o técnico que dirige o carro com o logo
da empresa desrespeita as regras de trânsito no caminho ou não sabe de
portar e falar de forma apropriada ao chegar à residência ou escritório do
cliente.
Se o ciclo de atendimento e momentos da verdade não estiver o mesmo
padrão de qualidade, a empresa continuará correndo grandes riscos de
cometer erros irreversíveis e perder clientes. Manter a qualidade total e a
eficiência do atendimento não é algo decorrente de medidas pontuais; precisa
haver um trabalho ininterrupto para assegurar a consistência em atendimento
em todos os departamentos e níveis hierárquicos.
2.3 – Encantamento
Clientes podem demitir todos de uma empresa, do alto executivo para baixo,
simplesmente, gastando seu dinheiro em algum outro lugar.
(Sam Walton - Fundador do Wal-Mart, s.d.)
A qualidade do atendimento que oferecemos pode determinar o sucesso ou
fracasso de um negócio. O contato de um funcionário com os clientes da
empresa como um todo influenciará o relacionamento com a companhia.
(Kotler, 1991)
Conforme já foi dito anteriormente, tendo capital, tecnologia é algo que
se adquire da noite para o dia; percepção e empatia não. Percepção e empatia
são coisas que requerem tempo para desenvolvermos nas pessoas. É por isso
que o potencial de encantamento será o grande diferencial para cativar, cultivar
e fidelizar clientes no século XXI.
Mesmo sabendo disso e entendendo que o foco deixa de ser o produto e
passa a ser o cliente, muitas empresas poucos fizeram para a produção de
clientes encantados. A grande maioria continua fabricando produtos e os
empurrando para o mercado com campanhas publicitárias milionárias, que
geram no cliente uma expectativa, em geral, muito mais alta do que se pode
atender. Esse é o primeiro passo para promover não a marca ou o produto,
mais uma grande decepção e insatisfação nos clientes.
Logo fica claro que mais difícil que entender ou reconhecer a mudança
de foco é mudar o nosso jeito de agir ou aprender a agir de acordo com uma
nova lógica de raciocínio.
Mas como encantar o cliente? Algumas empresas e lojas mantêm uma
base de dados de seus clientes para poder traçar um perfil de consumo
individualizado, oferecer descontos no mês do aniversário, brindes em datas
especiais etc. Porém, muitas vezes, demonstrar que você conhece seu cliente
pelo rosto ou pelo nome já causa encantamento. Isso só se torna possível se o
índice de rotatividade entre seus funcionários for o menor possível.
E nesse sentido, seu funcionário se torna cliente da empresa e, por este
motivo, a empresa deve se preocupar em garantir que os bons funcionários
estejam satisfeitos em trabalhar ali. Às vezes o custo de perder um funcionário
é muito maior do que o de perder um cliente, pois este pode levar consigo os
clientes diretamente atendidos por ele.
Cientes disso, algumas empresas realizam avaliações de desempenho
anuais com seus funcionários, oferecem participação nos lucros ou algum outro
tipo de incentivo para mantê-los motivados e satisfeitos. Certos clientes, seja
por questão de identificação, conveniência ou segurança, exigem ser sempre
atendidos pelos mesmos funcionários.
Outra forma de encantar o cliente é, caso seu tipo de negócio exija a
existência de um ponto físico, oferecendo a ele um ambiente agradável, limpo,
climatizado, com estacionamento de fácil acesso e, se possível, gratuito. Para
complementar, se atendido por um profissional atencioso, que conheça bem os
produtos, escute o cliente, possa oferecer facilidade e variedades de forma de
pagamento, nunca se esquecendo de agradecer sinceramente a visita parece
ser a descrição de um atendimento perfeito em todos os níveis de momentos
da verdade.
O efeito de encantamento é imediatamente transformado em satisfação
e em negócios quando o cliente fecha a compra e comenta sobre a experiência
positiva que teve com amigos, criando uma imagem positiva da empresa e
certamente influenciando a decisão futura de compra de outras pessoas.
(Almeida, 2004)
Para a qualidade em atendimento ser uma constante é preciso que a
empresa tenha consistência no atendimento e profissionais gostem de ajudar
pessoas, sejam rápidos e eficientes e não prometam prazos e soluções que
não poderão cumprir.
“Consistência é proporcionar a mesma qualidade de
atendimento sempre apesar das circunstâncias. Se um
profissional de atendimento a cada dia tratar bem 36
clientes e ofender 4, na média terá tido um bom
desempenho: 90% de bom atendimento. Mas se ele
perder 4 clientes por dia, a empresará estará perdendo
1.000 cliente por ano. É muito. Todo cliente deve ser
atendido com excelência.” (Economus, 2011)
Em termos de gestão, isso significa ter um RH atuante, que estimule a
troca de informação, promova treinamentos internos e cursos de reciclagens
contínuos. Significa dispor de um time de gestores capazes de mapear o ciclo
de serviços da empresa e entender profundamente onde estão os momentos
da verdade, seus pontos fortes e fracos na percepção da experiência total do
cliente junto à empresa.
O próximo capítulo fará uso de um exemplo real para ilustrar as diversas
vertentes horizontais e verticais envolvidas no processo de conquista do título
de excelência em qualidade de atendimento para encantamentos dos clientes
na prática. Esse exemplo servirá como ponte capaz de ligar toda a teoria até
agora abordada à uma prática real e diária em um dos maiores conglomerados
de empresas do mundo: a Walt Disney Company.
CAPÍTULO III
DISNEY- O EXEMPLO COMO REFERÊNCIA
Os clientes querem experiências mágicas e as empresas devem se tornar
encenadoras de experiências
(Disney Institute, 2011, p. 21)
3.1 – Disney Institute: compartilhando o segredo do sucesso
Não é preciso citar fonte para a afirmação de que o nome Disney é
sinônimo de qualidade em produtos, serviços e, principalmente excelência em
atendimento ao cliente. Tanto isso é verdade que o índice de retenção do
cliente é superior a 70%. Esse dado certamente chama a atenção. Quantas
empresas e organizações não gostariam de poder dizer o mesmo?
A Disney subiu rapidamente na lista das 500 maiores empresas da
revista Fortune e lidera a relação das empresas mais admiradas segundo
pesquisas da mesma revista. Estudos mostram que um aumento de 1 por
cento no índice de retenção de clientes podem significar um aumento de até 7
por cento nos lucros. (CONNELLAN, 1998)
Para quem vê a Disney de fora, a combinação de impetuosidade
comercial pela rigorosidade na forma como negocia com seus parceiros e
fornecedores aliada à generosidade para com os seus clientes parece trazer
dividendos. Por conta disso, milhares de executivos e profissionais dos mais
diversos setores e cantos do mundo sonham com a oportunidade de aprender
o segredo por trás desse sucesso.
Pensando em atender a essa demanda, a Disney fundou em 1986 o
Disney Institute, uma instituição de ensino empresarial focada em promover
desenvolvimento profissional ao estilo Disney. Nos cursos ministrados no
instituto, os participantes são incentivados a pensar e agir de forma diferente.
De acordo com o site do instituto, o objetivo é transmitir e compartilhar
os conceitos e valores que guiam a compania e mostrar como eles são
aplicados na prática, de forma a ilustrar uma adaptação à realidade de cada
negócio.
O Disney Institute promove dezenas de treinamentos em liderança,
gestão de pessoas, qualidade em serviço, lealdades à marca, criatividade &
inovação, excelência em negócios e soluções customizadas todos os anos
tanto na Disneyland na Califórnia, como na Walt Disney World na Flórida.
Aplicando estratégias especialmente criadas pela Disney para fazer com
que seus funcionários aprendam a trabalhar em equipe, um profissional que
freqüente um desses cursos estará habilitado a fazer com que todos os seus
empregados compreendam a importância de seus papéis e funções dentro de
cada empresa e acreditem neles.
Por mais que os alunos desses cursos se desloquem para os parques
da Califórnia ou da Flórida para participar do treinamento, trata-se de uma
viagem de negócios; algo que poderia ser melhor descrito como uma curiosa
combinação de programas de treinamento, de benchmarking e de
aperfeiçoamento. São treinamentos de até uma semana descobrindo como a
Disney faz para manter um grau de fidelidade tão elevado por parte de seus
convidados.
Ao aprender essa lição, o profissional entende as vantagens de trocar as
estratégias de conquista de novos clientes pela estratégia de manutenção dos
clientes já cativados. Reter a clientela é vital em um universo cada vez mais
competitivo. (CONNELLAN, 1998)
Se pararmos para pensar, a marca Disney remete a muito mais do que
um complexo de parques temáticos onde um rato reina absoluto. A Disney é na
realidade um conglomerado – muito preferem o termo “império” – constituído
por empresas na área de televisão, cinema, parques temáticos e
entretenimento em geral. Entretanto, nesse capítulo, o foco será a Walt Disney
World Company: complexo hoje constituído por quatro parques temáticos, dois
parques aquáticos, mais de vinte hotéis, centenas de restaurantes e as mais
variadas opções de lazer em 121km² de área localizados em Lake Buena Vista,
Flórida. (Disney Institute, 2011, p. 15)
A construção de Magic Kingdom, primeiro parque do complexo,
inaugurado em 1971, juntamente com os três primeiros hotéis da propriedade –
Disney´s Grand Floridian Resort & Spa, Polynesian e Contemporary Resorts –
representava a realização de um sonho para Walt Elias Disney. O terreno
originalmente adquirido na Califórnia, terra da Disneyland, não era grande o
suficiente para habitar a grandeza de seus sonhos.
Para entender o segredo do sucesso de Walt Disney, é preciso conhecer
o conceito que deu origem ao negócio de parques temáticos, aplicados a partir
da construção da Disneyland California, em 1955.
Um dia, ao acompanhar suas filhas a um parque de diversões
tradicional, Walt notou que enquanto as crianças se divertiam nas atrações, os
adultos que as acompanhavam ficam entediados, sem maiores opções de
lazer. Os atendentes, em geral, eram mal humorados; a limpeza e manutenção
desses locais deixavam a desejar. Isso certamente afetava a percepção e até
mesmo a experiência dos visitantes, que não se sentiam bem-vindos.
Walt pensou: por que não criar um parque em que todos os membros
da família possam se divertir juntos? Como cartunista, “pai” de Mickey Mouse,
ele imaginou um parque de diversões diferente dos demais, primeiramente
porque seria temático. Em segundo lugar, porque ele queria que os visitantes
se sentissem bem-vindos e pudessem levar em suas memórias lembranças
duradouras de momentos felizes em família ou entre amigos de seus parques.
Para que todo visitante se sentisse à vontade e entretido, Walt percebeu
que eles precisavam ser vistos e tratados como convidados. Afinal, quando
convidamos alguém para nos visitar, queremos que a pessoa se sinta bem e
desfrute de bons momentos em nossa companhia. É comum arrumarmos e
limparmos a casa, oferecermos um lanche ou refeição especial e darmos
atenção especial, recebendo-o com simpatia para que nosso convidado fique
encantado com nossa hospitalidade.
Walt não viu problemas em aplicar essa lógica caseira aos valores mais
básicos da Walt Disney World. Para que seus funcionários recebessem os
visitantes como convidados e mantivessem a “casa” sempre limpa e
apresentável, ele sabia que seria necessário treiná-los, transmitir a cultura e a
ideologia Disney e ensiná-los a colocá-las em prática todos os dias de forma
sincera.
Todos os membros do elenco (cast member: terminologia Disney para
referir-se aos funcionários) devem ser capazes de causar o “uau” para encantar
seus convidados (guest: terminologia Disney para referir-se aos clientes) a
ponto de quererem voltar.
“Atendimento de qualidade significa superar as
expectativas dos convidados e prestar atenção aos
detalhes. (...) Encontrar o “uau” significa não apenas
satisfazer as noções preconcebidas de como deveriam
ser as férias na Disney, como também superá-las”
(Disney Institute, 2011, p. 23)
Tornar esse objetivo uma realidade palpável começa pelo processo
seletivo. Qual será o grande segredo que faz com que a Walt Disney World
consiga contratar funcionários perfeitos para a perpetuação contínua da magia
ao redor de toda a propriedade?
Os membros do elenco que formam esse time de sucesso não são robôs
fabricados e sim pessoas comuns que se encontram disponíveis e são
selecionadas no mesmo mercado de trabalho acessíveis a qualquer outra
organização. Além disso, ao contrário do que muitos possam pensam, a Walt
Disney World não é conhecida por pagar salários altos. Os salários oferecidos
são “apenas” justos. (Disney Institute, 2011, p. 67)
A principal razão disso é que a empresa não quer atrair candidatos
interessados prioritariamente em retorno financeiro, mas sim aqueles que se
identificam com tudo aquilo que o nome e a marca Disney representam e estão
dispostos a executar tal função pelo prazer de realizar sonhos e preservar a
magia e não pelo simples desejo de ficarem ricos.
Durante o processo seletivo, além do perfil acima mencionado, é claro
que os recrutadores procuram pessoas com excelentes habilidades
interpessoais, mas o grande segredo é a forma como os membros de elenco
selecionados são treinados e absorvem a cultura Disney.
3.2 – Traditions: disseminando a cultura Disney entre os
membros do elenco
Você não constrói nada sozinho. Você descobre o que as pessoas
querem e constrói para elas
(WALT DISNEY, s.d.)
Algumas vezes, olhar através dos olhos de um cliente demanda um
ajuste de perspectiva
(Disney Institute, 2001, p.103)
A Disney foi uma das primeiras empresas a aplicar e desenvolver a
noção de “clientologia” (guestology), abordado no capítulo 2 do presente
trabalho. Foi realizada uma pesquisa de mercado para descobrir que são os
convidados e o que eles esperam quando chegam para uma visita: férias,
felicidade, memórias duradouras, diversão e empolgação.
A partir desses dados, coube a Disney pensar tudo o que seria
necessário para não só satisfazer, mas também superar essas expectativas.
“O tema de atendimento da The Walt Disney Company
declara em alto e bom som uma missão (criar felicidade),
como essa missão será realizada (proporcionando o
melhor em entretenimento) e para quem (pessoas de
todas as idades, por toda parte)” (Disney Institute, 2011,
p. 46)
Sem sombra de dúvidas o tema do atendimento atua como uma
promessa para os visitantes da Walt Disney World. Uma vez sendo promessa,
é necessário cumpri-la. É por isso que os padrões de atendimento já estão
profundamente enraizados na história do negócio.
Os convidados entram em contato com o elenco mais de 2,5 bilhões de
vezes ao ano. Michael Einser, ex-CEO da Disney, dizia que cada contato “é
uma chance de conquistar ou perder um cliente” (Disney Institute, 2011, p. 64).
A partir desse fato, foi desenvolvido um programa formal de orientação aos
novos funcionários.
Antes de vestirem seu uniforme pela primeira vez, antes mesmo de
pisarem em seu novo local de trabalho, todo membro de elenco recém-
contratado passa um dia na Disney University participando do Traditions. O
Traditions é um aulão de 8 horas em que os facilitadores são funcionários
veteranos.
Certa vez, em entrevista publicada na HR Magazine, um veterano definiu
muito bem o espírito desse primeiro contato:
“Não colocamos a pessoa na Disney. Nós colocamos a
Disney na pessoa” (Richard Parks, 1998)
Esse primeiro treinamento serve como introdução aos valores e à cultura
Disney. Os novos membros aprendem quais são e os porquês por trás de cada
gesto, filosofia e atitude explicadas a partir da dicotomia entre bad show (show
ruim) e good show (bom show).
3.2.1 – Disney Look
Uma das maiores exigências da Disney recai na apresentação e
aparência dos membros do elenco. Nesse quesito, a empresa é extremamente
rigorosa e conservadora. Se os acessórios, corte de cabelo e sapato não
estiverem adequados ao padrão, o supervisor ou gerente da área não
autorizaram a entrada do funcionário no posto de trabalho.
A explicação para tamanha exigência está no fato de os membros do
elenco trabalharem em contato constante com os convidados das mais
variadas idades e origens. Como a função primordial é servir bem, demonstrar
ser uma pessoa amistosa e incentivar a aproximação alheia, a aparência não
pode em nenhum momento causa espanto ou receio no convidado.
A fim de não deixar dúvidas referentes a esse tema foi criado o Disney
Look, um livreto com exemplos claros do que é ou não aceitável.
De acordo com a página na internet do Disney International Program,
nas mulheres não é permitido brincos grandes, maquiagem carregada,
acessórios em excesso, unhas muito compridas ou pintadas em cores
berrantes. Os homens não podem se apresentar com barba por fazer e o único
estilo de pêlo facial permitido é o bigode. Dentre as regras para ambos os
sexos estão: óculos escuros são autorizados desde que a lente permita que o
outro enxergue seus olhos; nada de cortes ou cores de cabelo indiscretos,
perfume forte, tatuagem e piercing em áreas visíveis do corpo.
3.2.2 – As 7 Diretrizes para atendimento ao convidado
No dia do Traditions, um cartão com os sete tópicos impressos das
diretrizes Disney para atendimento ao cliente são entregues a cada um dos
novos membros de elenco.
1) Faça contato visual e sorria
2) Cumprimente e dê boas-vindas a cada e todo convidado
3) Busque o contato com o convidado
O membro do elenco deve estar sempre buscando interagir com os
convidados, olhar nos olhos ao dirigir-lhe a palavra, desejando-lhe boas-vindas
ao parque, hotel, restaurante ou atração em questão e levar consigo um sorriso
constante no rosto e na voz, principalmente quando o atendimento for por
telefone.
4) Proporcione imediata substituição/reposição
É comum que os convidados derramem sua bebida, derrubem a bandeja
com o lanche, a caixa de pipoca ou deixem cair o sorvete. Ao presenciar cenas
como essas, o membro de elenco deve oferecer sua reposição na hora. Isso é
feito sem qualquer burocracia em qualquer canto do complexo Disney.
5) Mantenha linguagem corporal apropriada o tempo todo
Esse item é um complemento ao Disney Look. De nada adianta sua
aparência estar dentro dos padrões se a sua postura demonstra indisposição
em atender alguém. Na Disney, não é permitido ficar de braços cruzados, cara
amarrada, apoiar-se em objetos ou sentar-se para “descansar” on stage -
terminologia que indica uma área onde os convidados têm livre acesso e
podem te ver. Descanso e relaxamento só na sala apropriada disponível off
stage.
6) Preserve a experiência mágica para o convidado
Quantos Mickeys, Cinderelas, Brancas de Neve existem na Disney? Um só!
Dizer para um convidado que há diversas pessoas que se vestem como
personagens em cada parque, por mais óbvio que seja, é proibido. É como
dizer a uma criança que Papai Noel não existe.
7) Agradeça cada e todo convidado.
3.2.3 – Disney Point e nunca diga “não sei”
Durante o Traditions, também se aborda a maneira Disney de apontar
direções. Os facilitadores do treinamento explicam que em muitas culturas o
apontar com um só dedo pode ser considerado ofensivo. Por conta disso, foi
criado o Disney Point, que é a maneira politicamente correta de se indicar uma
direção: utilizar os dois dedos (indicador e médio) juntos ou a palma da mão
completamente aberta.
Em sites especializados em pesquisa, como o Google, é possível
encontrar imagens que ilustram o Disney Point.
Outro fator muito importante, base desse treinamento, é a noção de que
jamais se pode deixar um convidado sem resposta para uma pergunta. Logo,
dizer “não sei” e virar as costas é inadmissível. Saber a resposta para
perguntas comuns - como: onde fica o banheiro mais próximo, como chegar a
determinada atração, onde comer, onde se localiza o “achados e perdidos”, a
que horas começa o desfile dos personagens, a que horas o parque fecha –
são obrigação de todo membro de elenco.
Caso o convidado faça uma pergunta referente a assuntos mais
profundos - como história, engenharia, arquitetura etc. – o funcionário deve
fazer o possível para buscar essa resposta para ele, ainda que seja necessário
anotar seus dados e enviá-la por e-mail mais tarde.
3.3 – Estabelecendo regras e padrões de atendimento
Em um parque temático, cada processo precisaria ser repetido
continuamente e resultar no mesmo produto a cada vez.
(Disney Institute, 2001, p.121)
Nos anos 1920, início de sua carreira com desenhista e criador de
animações e personagens, Walt conseguia sozinho dar conta do processo
produtivo, criativo e de tomada de decisão da sua pequena empresa.
“Na rápida expansão que se seguiu ao sucesso de Mickey
Mouse, Walt não conseguia mais lembrar cada detalhe de
cada animação em produção ou tomar ele mesmo cada
decisão. Precisou formalizar uma abordagem para as
operações diárias da empresa, de forma que começou a
elaborar processos que produziriam e ofertariam a marca
de entretenimento da Disney” (Disney Institute, 2001,
p.120)
Não é difícil imaginar a dimensão que esse procedimento de
formalização e divulgação tomou para que os padrões de qualidade Disney
alcançassem de forma eficiente os 55 mil funcionários da Walt Disney World.
Integração é a palavra-chave. O extenso e continuo treinamento interno
complementam a preparação do vértice humano desse processo.
Após concluir o Traditions e antes de assumirem seu posto, os novos
membros do elenco passam por mais um treinamento de pelo menos 1 semana
no seu local de trabalho, seja ele um parque ou um hotel. Se o funcionário
trabalha diretamente com um determinado programa ou sistema de
computador para venda de ingressos, check-in/check-out ou reserva de hotel e
pacotes de viagens, o treinamento é ainda mais extenso e são realizadas
provas para avaliar o aprendizado e a preparação deste profissional. O objetivo
é minimizar qualquer possibilidade de o convidado ter uma experiência
negativa por conta do despreparo de algum membro.
Durante esse período de preparação, o novo membro acompanha lado a
lado o dia a dia de um veterano na função, em um programa que a Disney
chama de job shadowing. É como se você fosse a sombra deste veterano por
um período determinado. Isso também é feito a fim de garantir que o novo
membro ganhe confiança e tire todas as dúvidas que possam surgir on stage.
Uma vez na função, são realizadas reuniões diárias, entituladas
homerooms. Essas reuniões com cerca de 15 minutos de duração são uma
forma de garantir que todos estarão cientes dos acontecimentos mais recentes
e preparados para lidar com qualquer situação que possa ser decorrente de
alguma expectativa ou frustração dos hóspedes, como o fechamento de
alguma atração para manutenção, visita de algum VIP e acontecimentos
externos que afetem a rotina dos funcionários e convidados, como no 11 de
Setembro de 2001 ou durante a passagem de furacões pela cidade.
No final das contas, o que se percebe é que na Disney todos os
membros de elenco são treinados para serem gentis e oferecerem ajuda
sempre que alguém parece precisar e não apenas quando alguém pede ajuda.
Todos mostram entusiasmo:
"Já vi membros do elenco pararem de fazer algo para
ajudar alguém que esta tendo dificuldades com sua
cadeira de rodas. Vi gente consolando crianças perdidas
enquanto outros vão ao Guest Relations, o departamento
de atendimento ao convidado, para pedir ajuda na
localização dos parentes ou amigos. E lógico que as
pessoas fazem coisas assim lá fora, mas a impressão que
se tem e de que aqui isso e uma regra, não a exceção. E
muito inspirador, mesmo depois de tantos anos estudando
este lugar.” (CONNELLAN, 1998, p.110)
A Disney também contrata pessoas para atuarem como secret shoppers,
ou cliente ocultos. Esses clientes ocultos passeiam pelos parques, hospedam-
se em hotéis, ligam para a central de reservas e comem nos restaurantes como
se fossem uma pessoa comum, mas na verdade estão avaliando o
atendimento de cada membro do elenco, a limpeza, arrumação e manutenção
de tudo a sua volta. Seus relatórios são analisados e, se algo ou alguém estiver
fora do padrão, será devidamente reportado e endereçado.
“No ciclo de atendimento de qualidade, os processos são
as políticas, as tarefas e os procedimentos utilizados para
prestar o atendimento. Agora estamos falando do motor a
vapor do trem do ciclo de atendimento de qualidade. Se
esse motor não funcionar, não importa o quão amistoso
for o maquinista ou quão atrativos os vagões.” (Disney
Institute, 2001, p.120)
Os cursos do Disney Institute destacam aos executivos e profissionais
que os frequentam a importância de identificar os pontos-chave de combustão,
ou seja, os pontos de atrito entre a empresa e o convidado. Do que eles
reclamam? Quais são os problemas comuns que enfrentam ao transitar sua
organização?
Criar um processo padronizado é uma excelente maneira de atender o
convidado típico, mas o que acontece quanto um cliente não se encaixa nesse
padrão? É nessas horas que todos precisam estar bem treinados para ouvir o
cliente e saber o que ele entende como solução para seu problema. Todos
precisam estar aptos a criar soluções personalizadas.
Um ponto que é importante ressaltar é que, enquanto a maioria das
grandes corporações delimita e incentiva a formalidade trazida pela
hierarquização das funções e dos funcionários que as exerce, a Disney segue
o fluxo contrário, estimulando uma política de portas abertas - open door policy.
Entende-se que os membros do elenco que trabalham na limpeza, na
parte operacional das atrações, nos restaurante e lojas, são exatamente
aqueles que mais conhecem os convidados e os problemas vivenciados por
eles. Ao derrubar as barreiras da arrogância que separam os membros do
elenco dos gerentes dos parques e hotéis, a Disney mantém uma comunicação
interna muito mais eficaz e sincera.
A política de portas abertas é a ponte que liga aqueles que seguem os
procedimentos àqueles que os estipulam, facilitando com que os superiores
tomem ciência imediata de quando um processo está defasado. Isso permite
com que ele seja revisto, reavaliado e atualizado o mais rapidamente possível.
Isso mostra que por mais bem avaliada que sua empresa seja, há sempre
margem para melhora.
Outro exemplo que mostra como a hierarquia Disney não afeta os egos
e o senso de responsabilidade pela manutenção dos valores mais básicos -
cortesia e limpeza – é o fato de gerentes e executivos da empresa abaixarem
para pegar qualquer pedaço de lixo que tenha sido jogado no chão e levá-los
até a lixeira mais próxima quando visitam os parques.
Quando a Disneyland foi inaugurada, Walt pesquisou qual distância um
convidado dava em média com um pedaço de lixo na mão antes de jogá-lo no
chão. Assim foi determinado que houvesse uma lata de lixo disponível e visível
a cada 15 passos.
Manter a limpeza de um parque que chega a receber mais de 70 mil
convidados por dia é uma tarefa árdua, mas é dever de todos. A mesma lógica
se aplica para a manutenção da propriedade. É claro que ninguém compra um
balde de tinta e pinta uma parede que está descascando, mas é função de todo
funcionário reportar a um número central quando algo precisa de manutenção
ou ajuda com um tipo de limpeza mais pesada.
3.4 – Reconhecendo seus funcionários
Qualquer profissional que já tenha trabalhado para mais de uma
empresa no Brasil sabe que a nossa cultura tende a priorizar aqueles
com os cargos mais altos ou que trazem retorno financeiro direto para a
empresa. Geralmente, há diversos prêmios para o departamento de vendas,
para a alta gerência, diretores, executivos e até acionistas/investidores. A
grande maioria, no entanto, ainda não introduziu nenhum tipo de premiação
para funcionários administrativos ou operacionais e não é difícil notar que é
exatamente nesses cargos onde há o maior nível de rotatividade, desmotivação
e acomodação.
Como já dito anteriormente, a Walt Disney World sabe que são
exatamente esses funcionários operacionais a base da empresa. São eles
aqueles que têm contato diário e direto com os clientes, e por isso é tão
importante os manter motivados em suas funções. Assim eles continuarão a
dar o seu melhor no atendimento aos clientes, garantindo a manutenção da
excelência.
"Uma das ferramentas que utilizamos é o Guest Service
Fanatic Card, que contém a seguinte mensagem: 'Você foi
reconhecido como um Fanático pelo Serviço ao
Convidado por (________)'. Os gerentes andam por ai
com esses cartões, entregando-os a outros membros do
elenco e agradecendo por suas boas ações. Eles também
depositam esses cartões em uma caixa. No final de cada
mês há um sorteio, e cinco ou seis membros cujas boas
ações lhes deram chances de disputar — quanto mais
boas ações, maiores as chances — ganham prêmios.
(CONNELLAN, 1998, p. 92)
A melhor maneira de compreender a importância da recompensa e do
reconhecimento é colocar-se no lugar do funcionário. Ele precisa ganhar a vida,
e há dois tipos de renda essenciais: a econômica - salário, bônus, benefícios
adicionais, descontos etc - e a renda psicológica - elogios, cartas de
recomendação, cerimônias de reconhecimento, comemorações e festas. As
pessoas precisam das duas formas de renda. Imagine a água como o
rendimento econômico e a comida como reconhecimento psicológico. Sem
água, você morre em pouco tempo, talvez em alguns dias. Sem comida você
também morre. Só que leva um pouco mais de tempo. (CONNELLAN, 1998, p.
98)
Reconhecer os funcionários ajuda a aumentar a satisfação do cliente,
pois as pessoas tratam os clientes tal como desejam ser tratadas. Portanto, há
correlações muito bem definidas entre a satisfação dos funcionários e a
satisfação dos clientes.
Além do Guest Fanatic Card, que é o reconhecimento que vem de cima,
da gerência, há também o Spirit of Disney Award. Nesse prêmio do Espírito
Disney, são os próprios membros do elenco que elegem um colega para
receber a premiação, mostrando que o reconhecimento vem de todos os lados
e é sempre bem-vindo.
Dessa forma, a Disney garante que seus funcionários estão sempre
satisfeitos e motivados a prestar um serviço de qualidade, certos do impacto
direto sobre a felicidade dos seus convidados. Portanto, a cada recompensa, a
cada reconhecimento genuíno, a Walt Disney World está também estimulando
o desejo dos clientes em voltarem muitas e muitas vezes; o que, no final das
contas, é o que garante o sucesso desse mega-empreendimento há quase
meio século.
CONCLUSÃO
Desde o início do processo de abertura de mercado no início dos anos
1990, o Brasil passou por uma enorme transformação no que tange a noção de
concorrência e percepção do cliente. Se antes dessa abertura a concorrência
se limitava às fronteiras nacionais, agora as empresas atuantes no mercado
brasileiro devem estar preparadas para concorrer de igual para igual em um
mercado sem fronteiras, onde o mundo é o limite.
Como consequência dessa nova noção de concorrência, o produto
deixou de ter um fim em si mesmo e as empresas passaram a ver a satisfação
do cliente como o bem final maior. Para tal, as empresas tiveram que passar
por uma reformulação interna, em que o cliente passa a ser o bem de maior
valor.
Fidelizar e manter um cliente agora volúvel, com total liberdade para
migrar sua preferência para o produto ou serviço concorrente quando lhe for
conveniente, requer um talento e um preparo muito maior do que simplesmente
atrair novos clientes com propagandas chamativas. E se a concorrência é
grande e a voluptibilidade também, a capacidade de assegurar os clientes já
conquistados pode ser a chave para elevar os lucros e garantir a sobrevivência
de um negócio na atual conjuntura.
Foi assim que passamos da Era do Produto para a Era do Cliente.
Mas a verdade é que um negócio não é feito só de clientes. Ele é feito
de pessoas em geral: clientes, padrão e funcionários. A real compreensão
desse fato, ainda ignorado pela maioria dos grandes empresários, acarretará
na incorporação de novos valores e novas formas de relacionamento entre
esses três vértices.
A partir do momento que isso for internalizado, será muito mais fácil para
presidentes e diretores de pequenas, médias ou grandes empresas
entenderem a correlação entre treinamento, preparo e reconhecimento dos
funcionários com satisfação e manutenção tanto de funcionários como de
clientes.
A Walt Disney World Company é uma prova real de que a definição de
uma cultura, valores e processos focados em pessoas e, consequentemente,
na excelência no trato de pessoas é capaz de trazer reconhecimento
internacional e sucesso financeiro.
Fato é que clientes podem ser externos – aqueles que compram os
produtos – ou internos – aqueles que compõem o quadro de funcionários. O
desenvolvimentos de um programa de aperfeiçoamento da eficiência e
satisfação para conquista da qualidade total em uma empresa, trará amarrada
consigo a criação de um padrão de excelência em atendimento.
Obviamente esse processo terá um resultado muito mais natural se
ocorrer de dentro para fora, inspirado pela delimitação de visão e missão
genuinamente voltados para pessoas, do que se for forçado de fora para dentro
sem que haja um base corporativa cultural e filosófica para tal.
O exemplo Disney nos ensina que grande parte do segredo em garantir
o retorno de um cliente está em tocar suas emoções e cativar um espaço fiel
no seu coração e sua memória. Contudo, a fidelização desse cliente não é fruto
um acaso feliz. É sim resultado de um planejamento detalhado, trabalho
impecável de equipe e execução a toda prova. (CONNELLAN, 1998, p.142)
Os cursos do Disney Institute ressalta que quando o assunto é
atendimento ao cliente, a concorrência não é formada apenas pelas demais
empresas atuantes no mesmo segmento e sim por qualquer empresa com qual
o cliente o compara. Por isso, cada contato que o cliente faz com a empresa é
uma oportunidade de criar valor, super expectativas e contornar uma má
impressão.
Todo corpo de funcionários precisa estar ciente disso. Para que um
funcionário possa prover um atendimento de qualidade, ele precisa estar
treinado e, principalmente, satisfeito com seu trabalho. Empregadores e
empregados precisam estar consciente da importância do seu papel para o
sucesso do negócio e, para tal, o reconhecimento e a valorização de pessoas é
crucial.
Portanto, a experiência Disney nos revela que a magia do lugar consiste
em nada mais do que transformar o bom senso em uma prática comum.
If you can dream it, you can do it.
Walt Elias Disney, s.d.