introdução à psicologia do ser - maslow

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- Introdução à Psicologia doSer, de Abraham H. Maslow -é uma das obras mais representativas da Psicologia Humanista, movimento hoje solidamente firmado como a alternativa viável para resolver o impasse entre a psicologia experimental-positivista-behavioristae o freudianismo ortodoxo.Essa "Terceira Força"aglutina os partidários deAdler, Rank e Jung, além detodos os neofreudianos e pósfreudianos,psicólogos da personalidade,fenomenólogos, humanistas,rogerianas, existencialistase muitos outros.Introdução à Psicologia doSer, cuja edição original vendeu· mais de 100.000 exemplaresnos E. U. A., caracteriza-sepor um inabalável otimismo emrelação ao futuro, baseado nosvalores intrínsecos da humanidade.Segundo Maslow, "A naturezainterior, até onde podemos.conhecê-la, não parece ser intrinsecamentemá; é, antes,neutra ou positivamente "boa".O que chamamos de .comportamentomau vem a ser, via deregra, uma reação secundáriaà frustração dessa natureza intrlnseca.''Abraham Harold Maslow éatualmente o psicólogo maispopular nos Estados Unidos.Foi presidente da The AmericanPsychological Association,tem 65 anos e é o chefe do Departamentode Psicologia daUruversidade Brandeis.Escritor vigoroso e de invulgarclareza, é autor de- TbePsychology · of Science e Motivationand Personality, alémde mais de 100 artigos.Em sua teoria da metamotivação,procurou desenvolveras bases para uma ideologia~ue pudesse ser aceita por todosos seres humanos, que pudesseunir todos os seres humanos."Não pensem em mim comoum antibehaviorista", esclareceele . "Sou antidoutrinário.Sou contra qualquer coisaque feche portas ou amputepossibilidades. "

TRANSCRIPT

  • A Cole~ Anima tem por objetivo oferecer aos especialis-tas em Psicologia e reas afins, bem como ao leitor interessado, textos de qualidade que, inde-pendentemente das correntes s quais os diversos autores aqui reunidos se filiem, contri-buam para uma maior com-preenso do fenmeno do psi-quismo humano e da natureza do homem em geral.

    O 19 volume desta Coleo - Introduo Psicologia do Ser, de Abraham H. Maslow - uma das obras mais represen:. tativas da Psicologia Humanis- tica, movimento hoje solida-mente firmado como a alterna-tiva vivel para resolver o im passe entre a psicologia experi-mental-positivista-beha viorista e o freudianismo o~oxo.

    Essa "Ter e.eira Fo:i;-a" a g 1 u t i n a os partidrios de Adler, Rank e Jung, . alm de todos os neofreudianos e ps-freudianos, psiclogos da perso-nalidade, fenomenlogos, hu-manistas, rogerianas, existen-cialistas e muitos outros.

    Introduo Psicologia do Ser, cuja edio original ven-deu mais de 100.000 exempla-res nos E. U. A., caracteriza-se por um inabalvel otimismo em relao ao futuro, baseado nos valores intrnsecos da humani-dade.

    Segundo Maslow, "A natu-reza interior, at onde podemos .conhec-la, no parece ser in-trinsecamente m; , antes, neutra ou positivamente "boa". O que chamamos de .comporta-mento mau vem a ser, via de regra, uma reao secundria frustrao dessa natureza in-trlnseca. ''

  • Abraham Harold Maslow atualmente o psiclogo mais popular nos Estados Unidos. Foi presidente da The Ameri-can Psychological Association, tem 65 anos e o chefe do De-partamento de Psicologia da Uruversidade Brandeis.

    Escritor vigoroso e de in-vulgar clareza, autor de- Tbe Psychology of Science e Moti-vation and Personality, alm de mais de 100 artigos.

    Em sua teoria da metamo-tivao, procurou desenvolver as bases para uma ideologia ~ue pudesse ser aceita por todos os seres humanos, que pudesse unir todos os seres humanos.

    "No pensem em mim co-mo um antibehaviorista", es-clarece ele . "Sou antidoutrin-rio. Sou contra qualquer coi-sa que feche portas ou ampute possibilidades. "

    Coleo Anima

    Prximo lanamento: -Entrevistas c0m Carl G. Jung

    (e as reaes de Ernest Jones) Richard I. Evans.

  • INTRODU.AO A PSICOLOGIA DO SER

  • OOLEAO ANIMA

    ABRAHAM H. MASLOW

    INTRODU.AO PSICOLOGIA DO SER

    Traduo de AL V ARO CABRAL

    CP eldorado

  • Ttulo do original em ingls: TOW ARD A PSYCHOLOGY OF BEING

    (C) by Litton Educational Publishing, Inc.

    A presente traduo baseou-se na edio publicada por Van Nostrand Reinhold Company, New York.

    Direitos desta traduo reservados LIVRARIA ELDORADO TIJUCA LTDA.

    Departamento Editorial:

    Maura Ribeiro Sardinha Cristina Mary P. da Cunha Carmen Lcia R. de Oliveira

    Capa: AG Comunicao Visual e Arquitetura Ltda.

    Impresso no Brasil Printed in Brazil

    LIVRARIA ELDORADO TIJUCA LTDA. Rua Conde Bonfim, 422, loja K, Rio de Janeiro - GB

    Tels.: 254-2615 264-0398

  • Este livro dedicado a KURT GOLDSTEIN

  • ndice

    Prefcio da Segunda Edio Prefcio da Primeira Edio

    11 15

    PARTE I - UMA JURISDIO MAIS AMPLA PARA A PSICOLOGIA

    1 . Introduo: Para uma Psicologia da Sade . . . . 27 2. O que a Psicologia Pode Aprender dos Existen-

    cialistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

    PARTE II - CRESCIMENTO E MOTIVAO

    3. Motivao de Deficincia e Motivao de Cresci-mento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

    4 . Defesa e Crescimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 5 . A Necessidade de Saber e o Medo do Conheci-

    mento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

    PARTE III - CRESCIMENTO E COGNIO

    6. Cognio do Ser em Experincias Culminantes 99 7. Experincias Culminantes como Agudas Expe-

    rincias de Identidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 B. Alguns Perigos da Cognio do Ser . . . . . . . . . . 147 9. Resistncia Rubricao do Ser . . . . . . . . . . . . 159

  • PARTE IV - CRIATIVIDADE

    10. Criatividade nas Pessoas Individuacionantes . . 167

    PARTE V~ VALORES

    11. Dados Psicolgicos e Valores Humanos 181 12. Valores, Crescimento e Sade . . . . . . . . . . . . . . 201 13. A Sade como Transcendncia do Ambiente 213

    PARTE IV - TAREFAS PARA o FUTURO

    14. Algumas Proposies Bsicas de uma Psicologia do Crescimento e da Individuao . . . . . . . . . . . . 223

    APNDICE A - Sero as Nossas Publicaes e Conven-es Adequadas s Psicologias Pes-

    . ? soais . . ... .. ......... . .... . ... .. . . APNDICE B - Possvel

    Normativa? Bibliografia

    uma Psicologia Social 251

    257 261

    Bibliografia Adicional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269 A Rede Eupsiquiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 275

  • Prefcio da Segunda Edio

    Muita coisa aconteceu no mundo da Psicologia desde que este livro foi publicado pela primeira vez. A Psicologia Humanista - como vem sendo mais freqentemente cha-mada - est hoje solidamente estabelecida como terceira alternativa vivel da psicologia objetivista e behaviorista (mecanomrfica) e do freudianismo ortodoxo. A sua lite-ratura vasta e est em rpido crescimento. Alm disso, est comeando a ser usada, especialmente na educao, indstria, organizao e administrao, terapia e auto-a perfeioamento e por vrios indivduos, revistas e orga-nizaes "eupsiquianos " (ver a Rede Eupsiquiana, pgs. 275-279).

    Devo confessar que acabei pensando nessa tendncia humanista da Psicologia como uma revoluo no mais ver-dadeiro e mais antigo sentido da palavra, o sentido em que Galileu, Darwin, Einstein, Freud e Marx fizeram revo-lues, isto , novos caminhos de perceber e de pensar, novas imagens do homem e da sociedade, novas concep-es ticas e axiolgicas, novos rumos por onde enveredar.

    Esta Terceira Psicologia agora uma faceta de uma Weltanschauung geral, uma nova filosofia da vida, uma nova concepo do homem, o comeo de um novo sculo de trabalho (isto , se conseguirmos sustar, entrementes, um holocausto). Para qualquer homem de boa vontade, qualquer homem "pr vida'', h um trabalho a ser feito aqui, efetivo, probo e eficaz, satisfatrio, que pode propor-cionar um significado fecundo nossa prpria vida e dos outros.

    Essa Psicologia rio puramente descritiva ou acad-mica; sugere ao e implica conseqncias. Ajuda a gerar

    11

  • 12 PREFClO DA SEGUNDA EDIO

    um modo de vida, no s para a prpria pessoa, dentro da sua psique particular, mas tambm para a mesma pessoa como ser social, como membro da sociedade. De fato, aju-da a compreender at que ponto esses dois aspectos da vida esto realmente relacionados entre si. Fundamental-mente, a pessoa que fornece a melhor ajuda a "boa pes-soa". Quantas vezes, tentando ajudar, a pessoa doente ou inadequada causa, pelo contrrio, srios danos.

    Devo tambm dizer que considero a Psicologia Huma-nista, ou Terceira Fora da Psicologia, apenas transitria, uma preparao para uma Quarta Psicologia ainda "mais elevada", transpessoal, transumana, centrada mais no cos-mo do que nas necessidades e interesses humanos, indo alm do humanismo, da identidade, da individuao e que-jandos . Haver em breve (1968) um Jourrwl of Transper-sa.nxz.l PsychoZogy, organizado pelo mesmo Tony Sutich que fundou o Jour1l!al of Humanistic Psychology. Esses novos avanos podem muito bem oferecer uma satisfao tang-vel, usvel e efetiva do "idealismo frustrado" de muita gente entregue a um profundo desespero, especialmente os jovens. Essas Psicologias comportam a promessa de desenvolvimento de uma filosofia da vida, de um substi-tuto da religio, de um sistema de valores e de um pro-grama de vida cuja falta essas pessoas esto sentindo. Sem o transcendente e o transpessoal, ficamos doentes, violentos e niilistas, ou ento vazios de esperana e ap-ticos. Necessitamos de algo "maior do que somos'', que seja respeitado por ns prprios e a que nos entreguemos num novo sentido, naturalista, emprico, no-eclesistico, talvez como Thoreau e Whitman, William James e John Dewey fizeram .

    Creio que outra tarefa que precisa ser realizada antes de podermos ter um mundo bom o desenvolvimento de uma psicologia humanista e transpessoal do mal, uma que seja escrita com um sentimento de compaixo e amor pela natureza humana e no de repulsa ou de irremedia-bilidade. As correes que fiz nesta nova edio encon-tram-se, primordialmente, nessa rea. Sempre que pude, sem incorrer numa dispendiosa tarefa de reescrever, aclarei a minha psicologia do mal - o "mal de cima" e no de baixo . Uma leitura atenta localizar essas revises, muito embora sejam extremamente condensadas.

  • PREFCIO DA SEGUNDA EDIO 13

    Essas aluses ao mal talvez soem aos leitores do pre-sente livro como um paradoxo, ou uma contradio com as suas principais teses, mas no , decididamente no . Existem certamente homens bons, fortes e bem sucedidos no mundo - santos, sbios, bons lderes, responsveis, candidatos a polticos, estadistas, homens de esprito forte, vencedores mais do que perdedores, pais em vez de filhos. Tais pessoas esto disposio de quem quiser estud-los como eu fiz . Mas nem por isso deixa de ser verdade que existem muito poucos, embora -pudesse haver muitos mais, e so freqentemente maltratados pelos seus semelhantes. Assim, isso tambm deve ser estudado, esse medo da bon-dade e da grandeza humanas, essa falta de conhecimento sobre como ser bom e forte, essa incapacidade para con-verter a nossa ira em atividades produtivas, esse temor da maturidade e da sublimao que nos chega com a matu-ridade, esse receio de nos sentirmos virtuosos, de nos amarmos a ns prprios, de sermos dignos de amor e de respeito . Especialmente, devemos aprender como trans-cender a nossa tendncia insensata para deixar que a com-paixo pelos fracos gere o dio pelos fortes .

    essa espcie de pesquisa que recomendo mais insis-tente e urgentemente aos jovens e ambiciosos psiclogos, socilogos e cientistas sociais em geral. E a outras pessoas de boa vontade, que querem ajudar a construir um mundo melhor, recomendo veementemente que considerem a cin-cia - a cincia humanista - uma forma de fazer isso, uma forma muito boa e necessria, talvez at a melhor de todas.

    Simplesmente, no dispomos hoje de conhecimentos bastante idneos para avanar na construo de Um Mun-do Bom. No dispomos sequer de conhecimentos suficien-tes para ensinar aos indivduos como se amarem uns aos outros - pelo menos, com uma razovel dose de certeza. Estou convencido de que a melhor resposta est no pro-gresso do conhecimento. Minha Psychology of Science, assim como PersOTl!al Knowledge, da autoria de Polanyi, so claras demonstraes de que a vida da cincia tambm pode ser uma vida de paixo, de beleza, de esperana para a humanidade e de revelao de valores.

  • 14 PREFCIO DA SEGUNDA EDIO

    AGRADECIMENTOS

    ' Desejo agradecer a bolsa que me foi concedida pelo Fundo para o Progresso da Educao, da Fundao Ford. Ela pagou-me no s um ano de licena, mas tambm o trabalho de duas secretrias dedicadas, as Sr.s Hilda Smith e Nona Wheeler, a quem desejo expressar aqui a minha gratido.

    Dediquei este livro a Kurt Goldstein, originalmente, por inmeras razes. Gostaria agora de expressar tambm a minha dvida para com Freud e todas as teorias que ele produziu e as contrateorias que eZas geraram. Se eu ti-vesse de exprimir numa nica frase o que a Psicologia Humanista significou para mim, eu diria que constitui uma integrao de Goldstein (e da Psicologia da Gestalt) com Freud (e as vrias psicologias psicodinmicas), o todo combinado com o esprito cientfico que me foi ensinado pelos meus professores da Universidade de Wisconsin.

    A . H . MASIIOW

  • Pref.cio da Primeira Edio

    Tive muitas dificuldades ao escolher o ttulo para este livro. O conceito de "sade psicolgica", embora ainda seja necessrio, tem vrias deficincias intrnsecas para fins cientficos, as quais sero analisadas em vrios lugares apropriados, no decorrer do livro. O mesmo pode ser dito de "doena psicolgica", como Szasz ( 160a) e os psiclogos existenciais (110, 111) recentemente sublinharam. Ainda podemos usar esses termos normativos e, de fato, por ra-zes heursticas, dievemos utiliz-los, desta vez; entretanto, estou convencido de que se tornaro obsoletos dentro de uma dcada.

    Um termo muito melhor "individuao",* no sentido em que o usei . Ele sublinha a "humanidade plena do in-divduo", o desenvolvimento da natureza humana biolo-gicamente alicerada e, portanto, (empiricamente) nor-mativo para toda a espcie, em vez de s-lo para determi-nados tempos e lugares; quer dizer, menos culturalmente relativo. Ajusta-se mais ao destino biolgico do que aos modelos de valor historicamente arbitrrios e cultural-mente locais, como freaentemente ocorre com os termos "sade" e "doena". Tambm tem contedo emprico e significado operacional .

    O termo cunhado por Kurt Goldstein foi seit-actualization para descrever os processos de desenvolvimento das capacidades e talentos do individuo; de compreensll.o e aceitall.o do prprio eu ("oneself"); de harmonizao ou inte-grao dos motivos individuais. Alm disso, como se ver, a self-actualizatian representa uma variedade de dados, que so melhor entendidos quando toma-dos globalmente do que quando analisados, e assinala problemas que o psi-clogo deve estudar - em vez de um problema resolvido . o prprio autor Indicaria como sinnimos "aceitveis": self-development (enfatizando a evo-luo temporal da unidade interior), self- realization, productiveness, autonomv e indivduation. Optamos pela traduo deste ltimo, "Individuao", talvez por nos parecer menos "desgracioso, de um ponto de vista literrio". (N. do T. )

    15

  • 16 PREFCIO DA PRIMEIRA EDIO Contudo, parte ser desgracioso de um ponto de vista

    literrio, esse termo provou ter imprevistas deficincias, como: a) implicar egosmo em vez de altrusmo; b) enco-brir o aspecto de dever e de dedicao s tarefas da vida; c) negligenciar os vnculos com outras pessoas e a socie-dade, e a dependncia da plena realizao individual de uma "boa sociedade"; d) negligenciar o carter exigente* da realidade no-humana e o seu fascnio e interesse in-trnsecos; e) negligenciar o desprendimento do ego e a possibilidade de transcendncia do eu; e, finalmente, f) sublinhar, por implicao, a atividade, mais do que a passividade ou receptividade . E tudo isso aconteceu apesar dos meus cuidadosos esforos para descrever o fato emp-rico de que as pessoas individuacionantes so altrustas, dedicadas, sociais, capazes de se transcenderem etc. (97, captulo 14) .

    A palavra "eu" parece desconcertar as pessoas, e as minhas redefinies e descrio emprica so amide im-potentes diante do poderoso hbito lingstico de identi-ficar "eu" com "egosta" e com autonomia pura. Para minha consternao, tambm verifiquei que alguns psic-logos inteligentes e capazes (70, 134, 157a) persistem em tratar a minha descrio emprica das caractersticas de pessoas individuacionantes como se eu tivesse arbitraria-mente inventado essas caractersticas, em vez de desco-bri-las .

    "Plena realizao humana" evita, segundo me parece, alguns desses equvocos. E "diminuio ou deficincia hu-mana" tambm serve como melhor substituto para "doen-a" e at, porventura, para neurose, psicose e psicopatia . Pelo menos, esses termos so mais teis para a teoria psi-colgica e social geral, quando no para a prtica psico-teraputica.

    Os termos "Ser" e "Devir" ou "Vir a Ser'', tal como os emprego em todo este livro, so ainda melhores, se bem que no estejam utilizados, por enquanto, de maneira su-ficientemente generalizada para servir como moeda cor-rente. Isso deveras lamentvel, porque a Psicologia do

    c arter exigente (demand-character) emprega.do por Maslow de acordo com o con ceito gestaltlsta que caracteriza os a t ributos provoca.dores de neces-sidade dos objetos . Assim, uma reluzente ma vermelha "exige" ser comida ; u m q uadro Im pressionant e "exige" ser olhado e admirado. {N. do T .)

  • PREFCIO DA PRIMEIRA EDIO 17

    Ser certamente muito diferente da Psicologia do Devir e da Psicologia da Deficincia, como veremos. Estou con-vencido de que os psiclogos devem caminhar no sentido da reconciliao da S-psicologia com a D-psicologia,* isto , do perfeito com o imperfeito, do ideal com o real, do eupsiquismo com o existente, do intemporal com o tem-poral, da Psicologia como fim com a Psicologia como meio.

    Este livro uma continuao do meu Motivation and Personality, publicado em 1954. Foi elaborado mais ou menos da mesma maneira, isto , fazendo uma pea de cada vez da mais vasta estrutura terica. um anteces-sor do trabalho a ser ainda realizado para a construo de uma Psicologia e Filosofia Geral, abrangente, sistem-tica e empiricamente baseada, que inclua as profundezas e as alturas da natureza humana. O ltimo captulo , em certa medida, um programa para esse trabalho futuro e serve de ponte para ele. uma primeira tentativa para integrar a "Psicologia da Sade e Crescimento" com a Psicopatologia e a dinmica psicanaltica, a dinmica com a holstica, o Devir com o Ser, o bem com o mal, o posi-tivo com o negativo. Por outras palavras, constitui um esforo para construir, numa base psicanaltica geral e numa base cientfico-positivista de Psicologia experimen-tal, a superestrutura eupsiquiana, S-psicolgica e metamo-tivacional que falta a esses dois sistemas, superando os seus limites.

    Descobri que muito difcil comunicar a outros o meu respeito e a minha impacincia simultneos, ante essas duas psicologias abrangentes. Tantas pessoas insistem em ser ou a favor de Freud ou contra Freud, a favor da Psi-cologia Cientfica ou contra Psicologia Cientfica etc.! Na minha opinio, todas as posies de leadade desse gnero so idiotas. A nossa misso integrar essas vrias verda-des na verdade total, que dever constituir a nossa 'nica lealdade.

    Para mim, perfeitamente claro que os mtodos cien-tficos (concebidos em termos gerais) so o nosso nico meio fundamental de estarmos certos de que terrws a

    * Por mera facilidade expositiva e narrativa . o Prof. Maslow decidiu referir-se B eing-psychology (Psicologia do Ser) como B-psychol ogy, que vert emos para $-psicologia; e d e/ciency-psychology (Psicologia da Deficincia) como D-psy-chology que, naturalmente, mantemos como D-Psicologia. (N. do T .)

  • 18 PREFCIO DA PRIMEIBA EDIO

    verdade. Mas tambm aqui demasiado fcil cometer um equvoco e cair numa dicotomia: a favor da cincia ou contra a cincia. J escrevi sobre o assunto (97, captulos 1, 2 e 3). Trata-se de crticas ao cientificismo ortodoxo do sculo XIX e tenciono prosseguir nesse empreendimento, no sentido de ampliar os mtodos e a jurisdio da cin-cia, de modo a torn-la mais capaz de assumir as tarefas das novas psicologias pessoais e experienciais (104).

    A cincia, tal como habitualmente concebida pelos ortodoxos, inadequada para essas tarefas. Mas estou certo de que no precisa limitar-se a esses mtodos orto-d xos. No precisa abdicar dos problemas do amor, criati-vi ade, valor, beleza, imaginao, tica e alegria, deixando tudo isso para os "no-cientistas", os poetas, profetas, sa-cerdotes, dramaturgos, artistas ou diplomatas. Todas essas pessoas podem ter maravilhosas introvises, formular in-terrogaes que tm de ser feitas, aventar hipteses desa-fiadoras e podem at estar certas e dizer a verdade na maioria das vezes. Mas, por muito seguras que elas pos-sam estar, nunca podero tornar a humanidade segura. Podem apenas convencer aqueles que j concordam com elas e alguns mais. A cincia o nico meio de que dis-pomos para enfiar a verdade pela goela abaixo dos relu-tantes. Somente a cincia pode superar as diferenas ca-racterolgicas no ser e no crer. Somente a cincia pode progredir.

    Entretanto, permanece o fato de que ela chegou a uma espcie de beco sem sada e (em algumas de suas formas) pode ser encarada como uma ameaa e um perigo para a humanidade ou, pelo menos, para as mais elevadas e nobres qualidades e aspiraes da humanidade. Muitas pessoas sensveis, especialmente os artistas, receiam que a cincia macule e deprima, que dilacere coisas em vez de integr-las e, por conseguinte, mate em vez de criar.

    Acho que nada disso necessrio. Tudo o que a cin-cia precisa para ser uma ajuda plena realizao humana positiva ampliar e aprofundar a concepo da sua na-tureza, das suas metas e dos seus mtodos .

    Espero que o leitor no ache esse credo incompatvel com o tom algo literrio e filosfico deste livro e daquele que o precedeu. De qualquer modo, eu no acho. Quando se esboa, a traos largos, uma teoria geral, necessrio

  • PREFCIO DA PRIMEIRA EDIO 19

    esse tipo de tratamento - temporariamente, pelo menos. Em parte, isso tambm se deve ao fato da maioria dos captulos deste livro ter sido preparada, inicialmente, como conferncias .

    Este livro, tal como o anterior, est repleto de afirma-es que se baseiam em pesquisas-piloto, fragmentos de provas, observaes pessoais, dedues tericas e simples palpites. De um modo geral, esto redigidas de forma que se possa demonstrar a sua verdade ou falsidade . Quer dizer, so hipteses, apresentadas mais para exame do que para crena final . Tambm s.o obviamente pertinen-tes, isto , a sua possvel correo ou incorreo impor-tante para outros ramos da Psicologia. Despertam inte-resse . Portanto, devem gerar pesquisas e assim espero que acontea. Por todas essas razes, considero que este livro se situa mais no domnio da cincia, ou pr-cincia, do que no da exortao, ou da filosofia pessoal, ou da expresso literria.

    Uma palavra sobre as correntes intelectuais contem-porneas em Psicologia talvez ajude a situar este livro no seu lugar prprio. As duas teorias abrangentes da natu-reza humana que mais influenciaram a Psicologia at uma poca recente foram a freudiana e a experimental-positi-vista-behaviorista. Todas as outras teorias so menos abrangentes e os seus adeptos formaram numerosos grupos dissidentes e minoritrios. Nos ltimos anos, porm, esses vrios grupos aglutinaram-se rapidamente numa terceira, cada vez mais abrangente, teoria da natureza humana -teoria essa a que poderamos chamar uma "Terceira For-a". Esse grupo inclui os adlerianos, rankianos e jun-guia.nos, assim como todos os neofreudianos (ou neo-adle-rianos) e os ps-freudianos (os egopsiclogos psicanal-ticos, assim como autores da linha de Marcuse, Wheelis, Marmor, Szasz, Norman Brown, H. Lynd e Schachtel, que esto tomando o lugar dos psicanalistas talmdicos). Alm disso, a influncia de Kurt Goldstein e da sua Psi-cologia Organsmica est umentando firmemente . Cada vez mais influentes so tambm a Gestalt-terapia, os psic-logos gestaltistas e lewinianos, os semnticos gerais e os psiclogos da personalidade como G. Allport, G. Murphy, J. Moreno e H. A. Murray. Uma nova e poderosa influn-cia a Psicologia Existencial e a Psiquiatria. Dezenas de outros contribuintes destacados podem ser agrupados como

  • 20 PREFCIO DA PRIMEIBA EDIO

    psiclogos do Eu, psiclogos fenomenolgicos, psiclogos rogerianos, psiclogos humanistas etc. etc. Uma lista com-pleta impossvel. Um modo mais simples de agrup-los est disposio do leitor nas cinco revistas em que esse grupo tem maiores probabilidades de publicar seus traba-lhos, todas relativamente novas. So elas: Journal of In-dividual Psychology (Universidade de Vermont, Burling-ton, Vt.), Americwn Journal of Psychoanalysis (220 W. 98th Street, Nova York 25, N. Y.), Journal of Existential Psychiatry (679 N. Michigan Avenue, Chicago 11, Ill.) , Review of Existential Psychology and Psychiatry (Univer-sidade Duquesne, Pittsburgh, Pa.) e a mais recente de todas, o Journal of Humanistic Psychology (2637 Marshall Drive, Palo Alto, Calif.). Alm disso, a revista Manas (P.O. Box 32 .112, El Sereno Station, Los Angeles 32, Calif.) aplica este ponto de vista filosofia pessoal e social do leigo inteligente. A bibliografia no final deste volume, embora no completa, uma razovel amostra dos es-critos desse grupo . O presente livro perteJ:J.ce a essa cor-rente de pensamento.

    AGRADECIMENTOS

    No repetirei aqui os agradecimentos j feitos no Pre-fcio de Motivation and Personality. Desejo agora acres-centar apenas os seguintes.

    Fui extraordinariamente feliz com os meus colegas de departamento, Eugenia Hanfmann, Richard Held, Richard Jones, James Klee, Ricardo Morant, Ulric Neisser, Harry Rand e Walter Toman, os quais foram todos colaborado-res, examinadores e companheiros de debate para vrias partes deste livro . Desejo expressar-lhes aqui o meu afeto e respeito, e agradecer-lhes toda a ajuda que me deram .

    Foi para mim um privilgio ter mantido, durante dez anos, contnuas discusses com um douto, brilhante e ctico colega, o Dr. Frank Manuel, do Departamento de Histria da Universidade Brandeis. Gozei no s da sua amizade, mas tambm aprendi muito com ele.

    Tenho tido relaes anlogas com outro amigo e co-lega, o Dr. Harry Rand, um psicanalista . Durante dez anos, exploramos juntos, continuamente, os significados mais profundos das teorias freudianas e um produto dessa

  • PREFCIO DA PRIMEIRA EDIO 21

    colaborao j foi publicado (103). Tanto o Dr. Manuel como o Dr . Rand no concordam com o meu ponto de vista geral, nem Walter Toman, tambm psicanalista, com quem tive muitas discusses e debates. Talvez por essa razo eles tivessem me ajudado a aprimorar as minhas prprias concluses.

    O Dr. Ricardo Morant e eu colaboramos em semin-rios, experimentos e em vrios escritos. Isso ajudou-me a permanecer mais prximo da corrente principal da Psico-logia Experimental. Os captulos 3 e 6, especialmente, muito devem ajuda do Dr. James Klee .

    Os acirrados, mas amistosos, debates no Graduate Colloquium do nosso Departamento de Psicologia com esses e meus outros colegas, e com os nossos estudantes finalis-tas, foram continuamente instrutivos . Do mesmo modo, aprendi tambm muito atravs dos contatos formais e in-formais dirios com muitos membros do corpo docente da Brandeis, um grupo to culto, sofisticado e controverso de intelectuais quanto o que possa existir em qualquer lugar.

    Aprendi muito com os meus colegas do Simpsio de Valores, realizado no MIT (102), especialmente Frank Bowditch, Robert Hartman, Gyorgy Kepes, Dorothy Lee e Walter Weisskopf. Adrian van Kaam, Rollo Ma.y e James Klee introduziram-me na literatura do existencialismo. Frances Wilson Schwartz (179, 180) foi quem me deu as primeiras lies sobre educao artstica criadora e suas numerosas implicaes para a Psicologia do Crescimento. Aldous Huxley (68a) foi um dos primeiros a convencer-me d.e que era melhor eu encarar a srio a Psicologia da Re-ligio e do Misticismo. Feliz Deutsch ajudou-me a apren-der Psicanlise de dentro para fora, experimentando-a. A minha dvida intelectual para com Kurt Goldstein to grande que lhe dediquei este livro.

    Grande parte deste livro foi escrita durante um ano de licena remunerada que devo esclarecida poltica ad-ministrativa da minha Universidade . Desejo agradecer tambm ao EUa Lyman Ca;bot Trust a concesso de uma bolsa que me ajudou a Ubertar-me de preocupaes mo-netrias durante esse ano dedicado a escrever. muito difcil realizar um trabalho terico contnuo durante o ~o letivo normal.

  • 22 PREFCIO DA PRIMEIRA EDIO

    A Sr. ta Verna Collette realizou a maior parte da da-tilografia deste livro. Desejo agradecer-lhe a sua incomum solicitude, pacincia e rduo trabalho, pelo que estou ex-tremamente grato. Devo tambm agradecimentos a Gwen Whately, Lorraine Kaufman e Sandy Mazer por sua ajuda secretarial .

    O captulo 1 uma verso revista de uma parte de uma conferncia proferida na Cooper Union, Nova York, em 18 de outubro de 1954. O texto integral foi publicado em Self, um volume organizado por Clark Moustakas para a editora Harper & Bros., 1956, e aqui usado com devida autorizao da editora. Tambm foi reproduzido em J. Coleman, F. Libaw e W. Martinson, Success in College, em edio Scott, Foresman, 1961.

    O captulo 2 uma verso revista de uma dissertao lida perante um Simpsio sobre Psicologia Existencial, durante a Conveno de 1959 da Associao Psicolgica Americana. Foi publicada inicialmente em Existentidist Inquiries, 1960, 1, 1-5, e utilizada aqui com permisso do editor . Depois disso, foi reproduzido em Existential Psychology, volume organizado por Rollo May, Random House, 1961, e na revista Religious Inquiry, 1960, n .0 28, 4-7.

    O car>f.tulo 3 uma verso condensada de uma confe, rncia lida no Simpsio sobre Motivao da Universidade de Nebrasca, em 13 de janeiro de 1955, e publicada no Nebraska Symposium on Motivation, 1955, volume orga-nizado por M. R. Jones, University of Nebraska Press, 1955. usado aqui com autorizao do editor. Tambm foi re-produzido no General Semantics Bulletin, 1956, n.0 18 e 19, 32-42, e em J . Coleman, Personality Dynamics and Effective Behavior, Scott, Foresman, 1960.

    O captulo 4 foi, originalmente, uma conferncia pro-ferida no Seminrio sobre Crescimento da Merrill-Palmer ScllJOol, em 10 de maio de 1956. Foi publicada no Merrill--Palmer Quarterly, 1956, 3, 36-47, e utilizada aqui com permisso do editor.

    O car>f.tulo 5 uma reviso da segunda parte de uma conferncia pronunciada na Universidade Tufts e que foi publicada na ntegra em The Journal of General Psycho-logy, em 1963. usada aqui com autorizao do editor. A primeira metade da conferncia resume todas as provas

  • PREFCIO DA PRIMEIBA EDIO 23

    existentes para justificar a proposio de uma necessidade instintide de conhecimento.

    O capitulo 6 uma verso revista da orao de posse na presidncia da Diviso de Personalidade da Associao Psicolgica Americana, em 1. o de setembro de 1956. O trabalho original foi publicado no Journal of Genetic Psy-choLogy, 1959, 94, 43-66, e utilizado aqui com permisso do editor. Foi reproduzido no International Jourrnal of Pa-mpsychology, 1960, 2, 23-54.

    O captulo 7 uma verso revista de uma conferncia proferida durante uma sesso do Kwren Horney Memorial Meeting on Identity and Alienatiorn, celebrado em Nova York, em 5 de outubro de 1960, pela Association for the Advancement of Psychoanalysis . Publicada no American Journal of Psychoanalysis, 1961, 21, 254, usada aqui com autorizao dos editores.

    O capitulo 8 foi publicado primeiro no nmero de Kurt Goldstein do Journal of Individual Psychology, 1959, 15, 24-32, e reproduzido aqui com permisso dos editores.

    O cap,tulo 9 uma verso revista de um estudo pu-blicado originalmente em Perspectives in Psychologfoal Theory, volume organizado por B. Kaplan e S. Wapner, International Universities Press, 1960, uma coletnea de ensaios em homenagem a Heinz Werner. aqui reprodu-zido com autorizao dos organizadores e do editor.

    O captulo 10 uma verso revista de uma aula dada em 28 de fevereiro de 1959 na Universidade Estadual do Michigan, East Lansing, Michigan, dentro do curso sobre Criatividade. O curso completo foi publicado pela Harper & Eros. em 1959, num volume organizado por H. H. An-derson sob o ttulo de Creativity and Its Cultivation. Essa lio aqui usada com a permisso do organizador e da editora. Foi posteriormente reproduzido em Electro-Me-chanical Design, 1959 (nmeros de janeiro e agosto) e no General Semantics Bulletin, 1959-60, n.0 23 e 24, 45-50.

    O captulo 11 uma reviso e ampliao de uma dis-sertao lida perante a Conference on New Knowledge in Humctm Values, 4 de outubro de 1954, organizada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Cambridge, Mass. Foi publicada em New Knowledge in Human Va-lues, A. H. Maslow (org.), Harper & Eros., 1958, e aqui usada com autorizao da eqitora.

  • 24 PREFCIO DA PRIMEIRA EDIO

    O captulo 12 uma verso revista e ampliada de uma conferncia lida durante um Simpsio sobre Valores, Aca-demia de Psicanlise, Nova York, em 10 de dezembro de 1960.

    O cap.tulo 13 foi uma comunicao apresentada ao Simpsio sobre as Implicaes da Pesquisa de Sade Men-tal Positiva, organizada pela Associao Psicolgica do Leste, 15 de abril de 1960. Foi publicada no Journal oj Humanistic Psychology, 1961, 1, 1-7, e usada aqui com autorizao do editor .

    O cap tulo 14 uma verso revista e ampliada de um ensaio escrito em 1958 para o volume Peroeiving, Behaving, Becoming : A New Focus for Eduoati on, organizado por A. Combs e publicado no 1962 Yearbook of the Associatimi for Supervision -and Curriculum D evelopment (ASCD), NEA, Washington, DC, captulo 4, pgs. 34-39. Copyright (C) 1962 by the Association for Supervision and Curri-culum Development, NEA. Reproduzido com autorizao. Em parte, essas proposies constituem um resumo deste livro e do seu antecessor (97). Tambm em parte, uma extrapolao programtica para o futuro.

  • PARTE I

    UMA JURISDIAO MAIS AMPLA PARA A PSICOLOGIA

  • l

    lntrodu,o: Para uma Psic,ologia da Sade

    Est surgindo agora no horizonte uma nova concep-o de doena humana e de sade humana, uma Psico-logia que acho to emocionante e to cheia de maravilho-sas possibilidades que cedi tentao de apresent-la publicamente, mesmo antes de ser verificada e confirmada, e antes de poder ser denominada conhecimento cientfico idneo.

    Os pressupostos bsicos desse ponto de vista so:

    1. Cada um de ns tem uma natureza interna es-sencial, biologicamente alicerada, a qual , em certa me-dida, "natural", intrnseca, dada e, num certo sentido limitado, invarivel ou, pelo menos, invariante.

    2. A natureza interna de cada pessoa , em parte, singularmente sua e, em parte, universal na espcie.

    3. possvel estudar cientificamente essa natureza interna e descobrir a sua constituio (no inventar, mas descobrir) .

    4 . Essa natureza interna, at onde nos dado saber hoje, parece no ser intrinsecamente, ou primordialmente, ou necessariamente, m. As necessidades bsicas (de vida, de segurana, de filiao e de afeio, de respeito e de dignidade pessoal, e de individuao ou autonomia), as

    27

  • 28 INTRODUO PSICOLOGIA DO SER

    emoes humanas bsicas e as capacidades humanas b-sicas so, ao que parece, neutras, pr-morais ou positiva-mente "boas". A destrutividade, o sadismo, a crueldade, a premeditao malvola etc. parecem no ser intrnse-cos, mas, antes, constituiriam reaes violentas contra a frustrao das nossas necessidades, emoes e capacidades intrnsecas. A clera, em si mesma, no m, nem o medo, a indolncia ou at a ignorncia. claro, podem levar (e levam) a um comportamento maligno, mas no forosamente. Esse resultado no intrinsecamente ne-cessrio. A natureza humana est muito longe de ser to m quanto se pensava. De fato, pode-se dizer que as possibilidades da natureza humana tm sido, habitual-mente, depreciadas.

    5 . Como essa natureza humana boa ou neutra, e no m, prefervel express-la e encoraj-la, em vez de a suprimir. Se lhe permitirmos que guie a nossa vida, cresceremos sadios, fecundos e felizes.

    6. Se esse ncleo essencial da pessoa for negado ou suprimido, ela adoece, por vezes de maneira bvia, outras vezes de uma forma sutil, s vezes imediatamente, algu-mas vezes mais tarde .

    7. Essa natureza interna no forte, preponderante e inconfundvel, como os instintos dos animais. frgil, delicada, sutil e facilmente vencida pelo hbito, a presso cultural e as atitudes errneas em relao a ela.

    8. Ainda que frgil, raramente desaparece na pes-soa normal - talvez nem desaparea na pessoa doente. Ainda que negada, persiste subjacente e para sempre, pressionando no sentido da individuao .

    9. Seja como for, essas concluses devem ser todas articuladas com a necessidade de disciplina, privao, frus-trao, dor e tragdia. Na medida em que essas expe-rincias revelam, estimulam e satisfazem nossa natureza interna, elas so experincias desejveis. Est cada vez mais claro que essas experincias tm algo a ver com um sentido de realizao e de robustez do ego; e, portanto, com o sentido de salutar amor-prprio e autoconfiana. A pessoa que no conquistou, no resistiu e no superou continua duvidando de que possa consegui-lo . Isso certo no s a respeito dos perigos externos ; tambm vlido para a capacidade de controlar e de protelar os prprios impulsos e, portanto, para no ter medo deles.

  • INTRODUO; PARA UMA PSIOOLOGIA DA SADE 29

    Assinale-se que, se a verdade desses pressupostos for demonstrada, eles prometem uma tica cientfica, um sis-tema natural de valores, uma corte de apelao suprema para a determinao do bem e do mal, do certo e errado. Quanto mais aprendemos sobre as tendncias naturais do homem, mais fcil ser dizer-lhe como ser bom, como ser feliz, como ser fecundo, como respeitar-se a si prprio , como amar, como preencher as suas mais altas potencia-lidades. Isso equivale soluo automtica de muitos problemas da personalidade do futuro. A coisa a fazer, segundo me parece, descobrir o que que realmente somos em nosso mago, como membros da espcie hu-mana e como indivduos.

    O estudo de tais pessoas, em sua plena individuao, poder nos ensinar muito sobre os nossos prprios erros, as nossas deficincias, as direes adequadas em que de-vemos crescer. Todas as idades, exceto a nossa, tiveram seu modelo, seu ideal. Todos eles foram abandonados pela nossa cultura: o santo, o heri, o cavalheiro, o ms-tico. Quase tudo o que nos resta o homem bem ajus-tado, sem problemas, um substituto muito plido e duvi-doso. Talvez estejamos aptos em breve a usar como nosso guia e modelo o ser humano plenamente desenvolvido e realizado, aquele em que todas as suas potencialidades esto atingindo o pleno desenvolvimento, aquele cuja na-tureza ntima se expressa livremente, em vez de ser per-vertida, desvirtuada, suprimida ou negada.

    A coisa mais sria que cada pessoa vvida e pun-gentemente reconheceu, cada uma por si prpria, que toda e qualquer abjurao da virtude da espcie, todo e qualquer crime contra a nossa prpria natureza, todo e qualquer ato maldoso, cada um sem exceo, se registra no nosso prprio inconsciente e faz com que nos despre-zemos a ns mesmos. Karen Horney usou uma boa pa-lavra para descrever essa percepo e recordao incons-ciente; ela falou de "lanamento". Se fazemos algo de que nos envergonhamos, isso "lanado" a nosso descr-dito, se fazemos algo honesto, ou admirvel, ou bom, "lanado" a nosso crdito. Os resultados lquidos, em l-tima anlise, s podem ser uma coisa ou outra: ou nos respeitamos e aceitamos, ou nos desprezamos e sentimos desprezveis, inteis e repulsivos. Os telogos costuma-

  • 30 INTRODUO PSICOLOGIA DO SER

    vam usar a palavra "accidie" para descrever o pecado de no fazermos da nossa vida o que sabamos que podia ser feito.

    Esse ponto de vista no desmente, em absoluto, o usual quadro freudiano. Pelo contrrio, adiciona-se-lhe e suplementa-o . Para simplificar a questo, como se Freud nos tivesse fornecido a metade doente da Psicologia e ns devssemos preencher agora a outra metade sadia. Talvez essa Psicologia da Sade nos proporcione mais pos-sibilidades para controlar e aperfeioar as nossas vidas e fazer de ns melhores pessoas. Talvez isso seja mais pro-veitoso do que indagar "como ficar no-doente".

    De que forma poderemos encorajar o livre desenvol-vimento? Quais so as melhores condies educacionais para isso? Sexuais? Econmicas? Polticas? De que espcie de mundo precisamos para que tais pessoas nele cresam? Que espcie de mundo essas pessoas criaro? As pessoas doentes so feitas por uma cultura doente; as pessoas sadias so possveis atravs de uma cultura saudvel. Melhorar a sade individual um mtodo para fazer um mundo melhor. Por outras palavras, o encrajamento do desenvolvimento individual uma possibilidade real; a cura dos sintomas neurticos reais muito menos possvel sem ajuda exterior. relativamente fcil tentar, delibe-radamente, tornarmo-nos homens mais honestos; muito difcil tentar curar as nossas prprias compulses ou ob-sesses.

    O mtodo clssico de encarar os problemas da perso-nalidade considera-os problemas num sentido indesejvel. Luta, conflito, culpa, autopunio, sentimento de inferio-ridade ou de indignidade, m conscincia, ansiedade, de-presso, frustrao, tenso, vergonha - tudo isso causa dor psquica, perturba a eficincia do desempenho e in-controlvel. Portanto, as pessoas so automaticamente consideradas doentes e indesejveis, e tm de ser "curadas" o mais depressa possvel.

    Mas todos esses sintomas so igualmente encontrados em pessoas sadias ou em pessoas que esto crescendo saudavelmente. Suponhamos que o leitor devia sentir-se culpado e no se sente? Suponhamos que atingiu uma bela estabilizao de foras e est ajustado? Ser, talvez, que o ajustamento e a estabilizao, conquanto bons porque

  • INTRODUO: PARA UMA PSICOLOGIA DA SADE 31

    eliminam a dor, tambm so maus, visto que cessa o de-senvolvimento no sentido de um ideal superior?

    Erich Fromm, num livro muito importante (50), ata-cou a clssica noo freudiana de um Superego porque esse conceito era inteiramente autoritrio e relativista. Quer dizer, Freud supunha que o nosso superego ou a nossa conscincia era, primordialmente, a internalizao dos desejos, exigncias e ideais do pai e da me, quem quer que eles fossem . Mas, supondo que eram crimino-sos? Ento, que espcie de conscincia temos? Ou supondo que temos um pai rigidamente moralizante, que detesta divertimentos? Ou um psicopata? Essa conscincia existe - Freud estava certo. Obtemos os nossos ideais , em grande parte, dessas primeiras figuras e no dos livros recomendados pela Escola Dominical, que lemos mais tarde. Mas existe tambm outro elemento na conscincia ou, se preferirem, outra espcie de conscincia, que todos ns possumos, seja ela dbil ou vigorosa . Trata-se da "conscincia intrnseca" . Esta baseia-se na percepo in-consciente ou pr-consciente da nossa prpria natureza, do nosso prprio destino ou das nossas prprias capaci-dades, da nossa prpria "vocao" na vida. Ela insiste em que devemos ser fiis nossa natureza ntima e em que no a neguemos, por fraqueza, por vantagem ou qualquer outra razo . Aquele que acredita no seu talento, o pintor nato que, em vez de pintar, vende roupas feitas, o homem inteligente que leva uma vida estpida, o homem que v a verdade, mas conserva a boca fechada, o covarde que renuncia sua virilidade, todas essas pessoas percebem, de uma forma profunda, que fizeram mal a si prprias e desprezam-se por isso . Dessa autopunio s pode re-sultar neurose, mas tambm poder resultar muito bem uma coragem renovada, uma legtima indignao, um aumento de amor-prprio, quando se faz, posteriormente, a coisa certa; numa palavra, crescimento e aperfeioa-mento podem ocorrer atravs da dor e do conflito.

    Em essncia, estou deliberadamente rejeitando a nossa atual e fcil distino entre doena e sade, pelo menos, no que diz respeito aos sintomas superficiais . En-fermidade significa ter sintomas? Sustento agora que enfermidade poder consistir em no ter sintomas quando se devia. Sade significa estar livre de sintomas? Nego-o. Em Auschwitz ou Dachau, quais os nazistas que eram

  • 32 INTRODUO PSICOLOGIA DO SER

    sadios? Os que tinham sua conscincia ferida e per-turbada ou os que tinham uma conscincia tranqila, cris-talina e feliz? Era possvel, para uma pessoa profunda-mente humana, no sentir conflito, sofrimento, angstia, depresso, raiva etc.?

    Numa palavra, se o leitor me disser que tem um problema de personalidade, enquanto no o conhecer me-lhor no poderei ter a certeza de que a minha resposta adequada ser "timo! " ou "Lamento muito" . Tudo de-pende das razes. E estas, segundo parece, podem ser ms razes ou boas razes .

    Um exemplo a mudana de atitude dos psiclogos em relao popularidade, ao ajustamento, at em rela-o delinqncia . Popular com quem? Talvez seja melhor para um jovem ser impO'p'Ular com os esnobes da vizi-nhana ou com os scios do Country Club local. Ajustado a qu? A uma cultura m? A um pai dominante? O que deveremos pensar de um escravo bem ajustado? De um prisioneiro bem ajustado? At o comportamento de um rapaz problemtico est sendo encarado com uma nova tolerncia. Por que que ele delinqente? Na maioria dos casos, por razes patolgicas. Mas, ocasionalmente, ser por boas razes e o rapaz est, simplesmente, resis-tindo explorao, prepotncia, negligncia, ao des-dm e ao tripdio.

    Claramente, o que ser chamado problemas de per-sonalidade depende de quem lhes d essa designao. O dono do escravo? O ditador? O pai patriarcal? O marido que quer que a sua esposa permanea uma criana? Pa-rece evidente que os problemas de personalidade podem, s vezes, ser protestos em voz alta contra o esmagamento da nossa ossatura psicolgica, da nossa verdadeira natu-reza ntima. O que patolgico, nesse caso, no pro-testar enquanto o crime est senqo cometido. E eu la-mento muito dizer que a minha impresso que a maioria das pessoas no protesta, sob tal tratamento. Aceitam-no e pagam-no anos depois, em sintomas neurticos e psicos-somticos de vrias espcies; ou, talvez, em alguns casos, nunca se apercebam de que esto doentes, de que perde-ram a verdadeira felicidade, a verdadeira realizao de promessas, uma vida emocional rica e fecunda, e uma velhice serena e produtiva; de que jamais sabero at que

  • INTRODUO: PARA UMA PSICOLOGIA DA SADE 33

    ponto maravilhoso ser criativo, reagir esteticamente, achar a vida apaixonante e sensacional.

    A questo da mgoa ou dor desejvel, ou da sua ne~ cessidade, tambm deve ser enfrentada. O crescimento e a realizao plena da pessoa sero possveis sem dor, aflio e atribulaes? Se estas so, em certa medida, necessrias e inevitveis, ento at que ponto? Se a afli-o e a dor so, por vezes, necessrias ao crescimento da pessoa, ento devemos aprender a no proteger delas as pessoas, automaticamente, como se fossem sempre coisas ms. Por vezes, podem ser boas e desejveis, tendo em vista as boas conseqncias finais. No permitir s pes-soas que expiem seu sofrimento e proteg-las da dor poder resultar numa espcie de superproteo que, por seu turno, implica uma certa falta de respeito pela integridade, a natureza intrnseca e o desenvolvimento futuro do indi-vduo.

  • 2

    O que a Psicologia Pode Aprender dos Existencialistas

    Se estudarmos o existencialismo do ponto de vista de "O que que nele interessa ao psiclogo? '', encontra-mos muita coisa que demasiado vaga e demasiado di-fcil de entender no plano cientfico (no confirmvel ou desconfirmvel). Mas tambm encontramos muita coisa proveitosa. De um tal ponto de vista, verificamos que no se trata tanto de uma revelao totalmente nova quanto de uma enfatizao, confirmao, refinamento e redesco-berta de tendncias j existentes na "Psicologia da Terceira Forai" .

    Quanto a mim, a Psicologia Existencial significa, es-sencialmente, duas nfases principais. Primeiro, uma acentuao radical do conceito de identidade e da expe-rincia de identidade como um sine qua non da natureza humana e de qualquer filosofia ou cincia da natureza humana. Escolho esse conceito como o bsico, em parte porque o compreendo melhor do que termos como essn-cia, existncia, ontologia etc.; e, em parte, porque tam-bm acho que pode ser trabalhado empiricamente, se no agora, pelo menos em breve .

    Mas, ento, resulta um paradoxo, pois os psiclogos americanos tambm ficaram impressionados com a busca de identidade. (Allport, Rogers, Goldstein, Fromm, Wheelis, Erikson, Murray, Murphy, Horney, May e outros.) E devo acrescentar que esses autores so muito mais

    35

  • 36 INTRODUO PSICOLOGIA DO SER

    claros e esto muito mais prximos dos fatos concretos, isto , so mais empricos do que, por exemplo, os alemes, Heidegger, Jaspers .

    Em segundo lugar, incute grande nfase a que se parta do conhecimento experimental, e no de sistemas de conceitos ou categorias abstratas ou apriorsticas . O existencialismo assenta na fenomenologia, isto , usa a experincia pessoal e subjetiva como fundao sobre a qual o conhecimento abstrato construdo .

    Mas houve muitos psiclogos que tambm partiram dessa mesma nfase, para no mencionar as vrias esco-las de psicanalistas.

    1. Portanto, a concluso nmero 1 que os filsofos europeus e os psiclogos americanos no -esto to dis-tanciados uns dos outros quanto parece primeira vista. Ns, americanos, estivemos "fazendo prosa o tempo todo sem saber" . Em parte, claro, esse desenvolvimento si-multneo em diferentes pases , por si mesmo, uma indi-cao de que as pessoas que chegaram ou esto chegando independentemente s mesmas concluses esto respon-dendo todas a algo real, fora delas prprias.

    2. Esse algo real, creio eu, o colapso total de todas as fontes de valores fora do indivduo. Muitos exis-tencialistas europeus esto reagindo, em grande parte, concluso de Nietzsche de que Deus est morto e talvez ao fato de aue Marx tambm est morto . Os americanos aprenderam- que a democracia poltica e a prosperidade econmica no resolvem, por si ss, qualquer dos proble-mas em torno dos valores bsicos. No h out ro lugar para onde nos voltarmos seno para dentro, para o eu, como local de valores. Paradoxalmente, at alguns exis-tencialistas religiosos concordam em boa parte com essa concluso.

    3. extremamente importante, para os psiclogos, que os existencialistas possam suprir a Psicologia de uma Filosofia subjacente que lhe falta agora. O positivismo l-gico foi um fracasso, especialmente para os psiclogos clnicos e da personalidade. De qualquer modo, os proble-mas filosficos bsicos certamente sero reabertos para

  • O QUE A PSICOLOGIA PODE APRENDER 37

    discusso e talvez os psiclogos deixem de confiar em pseudo-solues ou em Filosofias inconscientes, no exa-minadas, que aprenderam quando crianas.

    4. Um enunciado alternativo do mago (para ns, americanos) do existencialismo europeu que se ocupa, radicalmente, daquela situao humana criada pelo hiato entre as aspiraoes e as limitaes do homem (entre o que o ser humano , o que ele gostaria de ser e o que poderia ser). Isso no est to longe quanto poder pa-recer, primeira vista, do problema de identidade . Uma pessoa realidade e potencialidade.

    No tenho dvida alguma, em meu esprito, de que uma preocupao sria com essa discrepncia poderia re-volucionar a Psicologia. Vrias literaturas j apiam tal concluso, por exemplo, os testes projetivos, a individua-o, as vrias experincias culminantes* (em que esse hiato superado) , as Psicologias de raiz junguiana, os vrios pensadores teolgicos etc.

    No s isso, mas tambm levantam os problemas e tcnicas de integrao dessa natureza dupla do homem, a inferior e a superior, a sua condio de criatura e a sua sublimao divina. De um modo geral, a maioria das fi-losofias e religies, tanto as orientais como as ocidentais, procedeu a uma dicotomia dessa dupla natureza, ensinan-do que a forma de nos tornarmos "superiores" renun-ciando e subjugando "o inferior " . Contudo, os existencia-listas nos ensinam que ambas so, simultaneamente, ca-ractersticas definidoras de uma natureza humana . Ne-nhuma delas pode ser repudiada; s podem ser integradas.

    Mas j conhecemos alguma coisa dessas tcnicas de integrao - a introviso (insight), o intelecto, na sua mais ampla acepo, o amor, a criatividade, o humor e a tragdia, o jogo, a arte . Desconfio que focalizaremos do-ravante os nossos estudos nessas tcnicas integradoras, mais do que fizemos no passado.

    Outra conseqncia para o que penso a respeito dessa nfase sobre a dupla natureza do homem a compreenso

    * O Prof. Maslow deu-ll1es o nome de peak-experiences . Creio que a m inha tradu o para ' experincias culminantes" corresponde fielmente Idia do Au-tor. Cf. por exemplo, no capitulo 7: "3. A pessoa nas experincias culmi-nantes sente-se no auge de seus pOderes, usando todas Wl suas caJ.>acldades dl' melhor e dl' mal~ completa torm.a". (N. do T .)

  • 38 INTRODUO PSICOLOGIA DO SER

    de que alguns problemas devem permanecer eternamente insolveis.

    5 . Disso decorre, naturalmente, um interesse pelo ser humano ideal, autntico, perfeito ou de essncia di-vina, um estudo das potencialidades humanas tal como existem agora, num certo sentido, como realidade corrente cognoscvel. Isso pode tambm soar com um timbre mera-mente literrio, mas no . Lembro ao leitor que isso apenas uma maneira diferente de formular as velhas e ir-respondidas perguntas : "Quais so as metas da terapia? Da educao? Da criaio dos filhos? "

    Tambm implica outra verdade e outro problema que requer ateno urgente . Praticamente, toda e qualquer descrio sria da "pessoa autntica" existente implica que uma tal pessoa, em virtude daquilo em que se tornou, assume uma nova relao com a sua sociedade e, de fato, com a sociedade em geral. Ela no s se transcende, de vrios modos, como transcende tambm a sua cultura . A pessoa resiste encul turao . Torna-se mais desligada da sua cultura e da sua sociedade. Passa a ser um pouco mais um membro da sua espcie e um pouco menos um membro do seu grupo local . O meu pressentimento que a maioria dos socilogos e antroplogos tero dificuldade em aceitar isso. Portanto, aguardo confiantemente uma controvrsia nessa rea . Mas isso constitui, claramente, uma base para o "universalismo" .

    6 . Dos autores europeus, podemos e devemos apro-veitar a sua maior nfase sobre o que designam como "Antropologia Filosfica", isto , a tentativa de definir o homem, as diferenas entre o homem e quaisquer outras espcies, entre o homem e os objetos, e entre o homem os robs . Quais so as suas caractersticas mpares e defini-doras? O que to essencial ao homem que, sem isso, ele no poderia continuar sendo definido como homem?

    De um modo geral, essa uma das tarefas de que a Psicologia americana abdicou . Os vrios beha viorismos no geram qualquer definio desse gnero, pelo menos, nenhuma que possa ser tomada a srio (como seria um homem E-R? E quem gostaria de ser um deles?) . O retrato do homem de Freud era claramente inadequado, deixando

  • O QUE A PSICOLOGIA PODE APRENDER 39

    de fora suas aspiraes, suas esperanas realizveis, suas qualidades divinas . O fato de Freud nos ter fornecido os mais completos e abrangentes sistemas de Psicopatologia e Psicoterapia no vem ao caso, como os egopsiclogos contemporneos esto descobrindo .

    7. Alguns filsofos existenciais esto enfatizando de forma demasiado exclusiva a autoformao do eu. Sartre e outros falam do "eu como um projeto", o qual inteira-mente criado pelas contnuas (e arbitrrias) escolhas da prpria pessoa, quase como se ela pudesse fazer-se qual-quer coisa que tivesse decidido ser. claro, numa forma to extrema, isso ser quase certamente uma afirmao exagerada, que diretamente contraditada pelos fatos da Gentica e da Psicologia Constitucional . De fato, no passa de um rematado disparate.

    Por outra parte, os freudianos, os terapeutas existen-ciais, os rogerianos e os psiclogos do crescimento pessoal falam-nos todos mais sobre descobrir o eu e sobre terapia de desvendamento, e talvez tenham menosprezado os fato-res de vontade, deciso, bem como os processos pelos quais nos fdiZemos a ns prprios, atravs das nossas opes pessoais .

    (No devemos esquecer , claro, que ambos esses gru-pos podem ser considerados superpsiologizantes e subso-ciologizantes . Quer dizer, no destacam suficientemente, em seu pensamento sistemtico, o grande poder das de-terminantes sociais e ambientais autnomas, de tais foras estranhas ao indivduo como a pobreza, a explorao, o nacionalismo, a guerra e a estrutura social. Por certo, nenhum psiclogo em seu so juzo sonharia sequer em neg(JJ'f um certo grau de impotncia pessoal, perante essas foras. Mas, afinal de contas, a sua obrigao profissional precpua o estudo da pessoa individual e no de deter-minantes sociais extra psquicas. Do mesmo modo, os psi-clogos acham que os socilogos esto destacando exclu-sivamente demais as foras sociais e se esquecem da autonomia da personalidade, da vontade, da responsabi-lidade etc. Seria melhor pensar em ambos os grupos como especialistas, em vez de cegos ou insensatos.)

    Em qualquer dos casos, parece como se, simultanea~ mente, nos descobrssemos e desvendssemos e tambm

  • 40 INTRODUO PSICOLOGIA DO SER

    decidssemos sobre o que seremos. Esse choque de opinies um problema que pode ser resolvido empiricamente.

    8. No s temos estado a evitar o problema da res-ponsabilidade e da vontade, mas tambm os seus corolrios de fora e coragem . Recentemente, os egopsiclogos psi-canalticos despertaram para essa grande varivel humana e passaram a dedicar enorme ateno "fora do ego". Para os behavioristas, isso ainda um problema intocado.

    9. Os psiclogos americanos escutaram o apelo de Allport para a formulao de uma Psicologia Idiogrfica, mas no fizeram muita coisa a respeito . Nem mesmo os psiclogos clnicos o fizeram. Temos agora um novo im-pulso nessa direo pelos fenomenologistas e existencia-listas - impulso esse a que ser muito difcil resistir ; na verdade, penso que, teoricamente, ser impossivel re-sistir-lhe. Se o estudo da singularidade do indivduo no se ajusta ao que sabemos de cincia, ento pior para esse conceito de cincia . Tambm ele ter de sofrer uma re-criao .

    10. A fenomenologia tem uma histria no pensa-mento psicolgico americano (87), mas, de um modo geral, creio que definhou . Os fenomenologistas europeus, com as suas demonstraes excruciantemente meticulosas e la-boriosas, podem reensinar-nos que a melhor maneira de compreender outro ser humano ou, pelo menos , uma maneira necessria para alguns fins , penetrar na Weltanschauung desse ser humano e ser capaz de ver o seu mundo, atravs dos seus olhos . claro, uma tal con-cluso rudimentar, luz de qualquer Filosofia positivista da cincia.

    11. A nfase existencialista sobre a solido funda-mental do indivduo um til lembrete para ns , no s para uma elaborao mais completa dos conceitos de deciso, ou responsabilidade, de escolha, de formao do eu e autonomia, enfim, o prprio conceito de identidade. Tambm torna mais problemtico e mais fascinante o mistrio da comunicao entre solides, atravs, de por exemplo, intuio e empatia, amor e altrusmo, identifi-

  • O QUE A PSICOLOGIA PODE APRENDER 41

    cao com :Jutros e a homonomia em geral. Consideramos tais coisas axiomticas. Seria melhor que as considers-semos milagres a serem explicados .

    12 . Outra preocupao dos autores existencialistas pode ser, creio eu, descrita de maneira muito simples. Trata-se da seriedade e profundidade da existncia (ou, talvez, o "sentimento trgico da vida") , em contraste com a vida superficial e frvola, que uma espcie de existn-cia diminuda, uma defesa contra os problemas funda-mentais da vida. Isso no um mero conceito literrio. Tem verdadeiro significado operacional, por exemplo, na psicoterapia . Tenho ficado (como outros) cada vez mais impressionado com o fato da tragdia poder, por vezes, ser teraputica, e da terapia parecer, com freqncia, atuar melhor quando as pessoas so impelidias paxa ela pela dor. quando a vida frvola no funciona que posta em dvida e ocorre ento um apelo aos valores fundamentais. A superficialidade tampouco funciona em Psicologia, como os existencialistas esto demonstrando muito claramente.

    13. Os existencialistas, a par de muitos outros gru-pos, esto ajudando a ensinar-nos os limites da raciona-lidade verbal, analtica e conceptual. Fazem parte do atual retorno experincia concreta, como anterior a quaisquer conceitos ou abstraes . Isso equivale ao que acredito ser uma justificada crtica a todo o modo de pensar do mundo ocidental no sculo XX, incluindo a Cincia e a Filosofia positivistas ortodoxas, as quais esto precisando urgentemente de reexame.

    14. Possivelmente, a mais importante de todas as mudanas a serem forjadas pelos fenomenologistas e exis-tencialistas uma revoluo, h muito esperada, na teoria da Cincia . Eu no devia dizer "forjadas", mas "coadju-vadas", porque h muitas outras foras ajudando a des-truir a Filosofia oficial da Cincia, ou o "cientificismo". No apenas a diviso cartesiana entre sujeito e objeto que precisa ser superada. H outras mudanas radicais que se tornaram necessrias pela incluso da psique e da experincia concreta na realidade ; e tal mudana afetar no s a Cincia da Psicologia, mas tambm todas as outras cincias, por exemplo, a parcimnia, a simplicidade,

  • 42 INTRODUO PSIOOLOGIA DO SER

    a preciso, a ordem, a lgica, a elegncia, a definio etc., so mais do domnio da abstrao do que da expe-rincia.

    15. Termino com o estmulo que mais poderosamente me afetou na literatura existencialista, a saber, o proble-ma do tempo futuro em Psicologia. No que isso, como todos os outros problemas ou influncias que mencionei at agora, me fosse totalmente estranho nem, imagino eu, para qUJalquer estudioso srio da teoria da ,personalidade. Os escritos de Charlotte Buhler, Gordon Allport e Kurt Goldstein tambm nos devem ter sensibilizado para a ne-cessidade de abordar e sistematizar o papel dfomico do futuro na personalidade atualmente existente, por exem-plo, o crescimento, o devir e a possibilidade apontam, necessariamente, para o futuro; o mesmo pode dizer-se dos conceitos de potencialidade e de expectativa, de dese-jar e de imaginar; a reduo ao concreto uma perda de futuro; a ameaa e a apreenso apontam para o futuro (sem futuro = sem neurose); a individuao des-provida de significado sem referncia a um futuro cor-rentemente ativo; a vida pode ser uma gestalt no tempo etc . etc .

    Entretanto, a importncia bsica e central desse pro-blema para os existencialistas tem algo a ensinar-nos, por exemplo, o estudo de Erwin Strauss no volume de Rollo May (110). Acho que de justia dizer-se que nenhuma teoria da Psicologia ser jamais completa se no incor-porar, de forma central, o conceito de que o homem tem o seu futuro dentro dele prprio, dinamicamente ativo neste momento presente. Nesse sentido, o futuro pode ser tratado como a-histrico, no sentido de Kurt Lewin. Tam-bm devemos compreender que somente o futuro , em princpio, desconhecido e incognoscvel, o que significa que todos os hbitos, defesas e mecanismos de resistncia so duvidosos e ambguos, visto que se baseiam na experin-cia passada. Somente a pessoa flexivelmente criadora pode realmente dominar o futuro, unicamente aquela que capaz de enfrentar a novidade com confiana e sem medo. Estou convencido de que muito do que chamamos hoje Psicologia consiste no estudo dos artifcios que usamos para evitar a ansiedade da novidade absoluta, fazendo acreditar que o futuro ser como o passado.

  • O QUE A PSICOLOGIA PODE APRENDER 43

    Concluso

    Estas consideraes corroboram a minha esperana de que estamos testemunhando uma expanso da Psico-logia, no o desenvolvimento de um novo "ismo" que possa redundar numa antipsicologia ou uma anticincia .

    possvel que o existencialismo no s enriquea a Psicologia, mas constitua tambm um impulso adicional no sentido do estabelecimento de outro ramo da Psicolo-gia: a Psicologia do Eu autntico e plenamente desen-volvido, e de seus modos de ser. Sutich sugeriu que se desse a isso o nome de Ontopsicologia.

    Sem dvida, parece cada vez mais evidente que aquilo a que chamamos "normal" em Psicopatologia , realmente, uma Psicopatologia do indivduo comum, to vulgar e to generalizada que, habitualmente, nem a notamos . O es-tudo existencialista da pessoa autntica e da existncia autntica ajuda a colocar esse artificialismo geral, essa existncia baseada em iluses e no medo, sob uma luz crua e forte que revela claramente a sua natureza doentia, ainda que amplamente compartilhada .

    No creio que necessitemos tomar excessivamente a srio o martelar exclusivo dos existencialistas europeus sobre o temor, a angstia, o desespero etc., para os quais o nico remdio parece ser a manuteno de uma conduta de altaneira superioridade e estoicismo. Essa lamria em torno de um alto QI numa escala csmica ocorre sempre que uma fonte externa de valores deixa de funcionar. Eles deveriam ter aprendido com os psicoterapeutas que a perda de iluses e a descoberta de identidade, embora dolorosas no comeo, podem ser, finalmente, estimulantes e fortalecedoras . E depois, claro, a ausncia de qualquer meno de experincias culminantes, de experincias de jbilo ou xtase, ou mesmo de felicidade normal, leva forte suspeita de que esses autores so "no-culminati-vos'', isto , pessoas que no experimentam alegria em toda a sua plenitude. como se pudessem ver apenas com um olho e esse olho tivesse sua viso deformada. A maioria das pessoas experimenta tragdia e alegria em diversas propores. Qualquer Filosofia que deixe de fora uma ou

  • 44 INTRODUO PSICOLOGIA DO SER

    outra no pode ser considerada abrangente.1 Colin Wil-son (307) distingue claramente entre existencialistas "afirmativos" e existencialistas "negativos " . Quanto a esta distino, devo concordar completamente com ele.

    J . Para uma exposio mais detalhada des te mesmo tema, ver o meu livro Eupsychian Management (Irwln-Dorsey, 1965), pgs. 194-201 .

  • PARTE II

    CRESCIMENTO E MOTIVAAO

  • 3

    Motiva.o de Deficincia e Motivao de Crescimento

    O conceito de "necessidade bsica" pode ser definido em funo das perguntas a que responde e das operaes que o desvendam (97) . A minha interrogao original foi sobre psicopatognese . "O que que faz as pessoas neu-rticas?" A minha resposta (uma modificao e, penso eu, um progresso em relao resposta analtica) foi, em re-sumo, que a neurose parecia ser, em seu ncleo e em seu comeo, uma doena de deficincia; que se originava na privao de certas satisfaes, a que chamei necessidades, no mesmo sentido em que a gua, os aminocidos e o cl-cio so necessidades, isto , a sua ausncia produz doena. A maioria das neuroses envolve, a par de outras determi-nantes complexas, desejos insatisfeitos de segurana, de filiao e de identificao, de estreitas relaes de amor, de respeito e prestgio . Os meus "dados" foram reunidos ao longo de doze anos de trabalho piscoteraputico e pes-quisa, e de vinte anos de estudo da personalidade. Uma bvia .pesquisa de controle (feita ao mesmo tempo e na mesma operao) foi sobre o efeito da terapia de substi-tuio, a qual mostrou, com muitas complexidades, que as doenas tendiam a desaparecer quando essas deficin-cias eram eliminadas .

    Essas concluses, que hoje, de fato, so compartilha-das pela maioria dos psiclogos clnicos, dos psicotera-peutas e dos psiclogos infantis (muitos deles usariam

    47

  • 48 INTRODUO PSICOLOGIA DO SER

    uma fraseologia diferente da minha) tornaram mais pos-svel, ano aps ano, definir necessidade, de uma forma natural, fcil e espontnea, como uma generalizao dos dados experienciais concretos (em vez de, arbitrria e pre-maturamente, por "decreta", antes da acumulao de co-nhecimentos e no subseqentemente (141), to-s por uma questo de maior objetividade) .

    As caractersticas de deficincia so, pois, a longo prazo, as seguintes. Ela uma necessidade bsica ou ins-tintide se

    1. a sua ausncia gerar doena, 2. a sua presena evitar a doena, 3 . a .5ua restaurao curar a doena, 4. em certas situaes (muito complexas) de livre es-

    colha, for preferida a outras satisfaes pela pessoa privada,

    5. for comprovadamente inativa, num baixo nvel, ou funcionalmente ausente na pessoa sadia.

    Duas caractersticas adicionais so subjetivas, a saber, o anseio e desejo consciente ou inconsciente, e a sensao de carncia ou deficincia, como de algo que falta , por uma. parte, e, por outra, de palatabilidade . ("Isso sabe bem.")

    Uma ltima palavra sobre definio. Muitos dos pro-blemas que tm flagelado os autores nessa rea, quando tentaram definir e delimitar a motivao, so uma con-seqncia da demanda exclusiva de critrios comporta-mentais, externamente observveis . O critrio original de motivao e aquele que ainda usado por todos os seres humanos, exceto os psiclogos behavioristas, o subjetivo. Sou motivado quando sinto desejo, ou carncia, ou anseio, ou desejo, ou falta. Ainda no foi descoberto qualquer estado objetivamente observvel que se correlacione decen-temente com essas informaes subjetivas, isto , ainda no foi encontrada uma boa definio comportamental de motivao.

    Ora, evidentemente, ns devemos persistir na procura de correlatos ou indicadores objetivos de estados subjetivos. No dia em que descobrirmos um tal indicador pblico e externo do prazer, da ansiedade ou do desejo, a Psicologia ter avanado um sculo. Mas, at que o descubramos, no devemos fazer crer que j o conseguimos . Nem deve-

  • MOTIVAO DE DEFICINCIA E DE CRESCIMENTO 49

    mos negligenciar os dados subjetivos de que dispomos . uma pena que no possamos pedir a um rato que nos for-nea informaes subjetivas. Felizmente, porm, pode?TWs pedi-las ao ser humano e no existe razo alguma no mundo que nos impea de faz-lo, enquanto no dispuser-mos de melhor fonte de dados.

    Essas necessidades que constituem, essencialmente, deficits no organismo, por assim dizer, buracos vazios que devem ser preenchidos a bem da sade e, alm disso, devem ser preenchidos de fora por outros seres humanos que no Sejam o prprio sujeito; e s que eu chamo neces-sidades por deficit ou de deficincia para os fins dessa exposio e para situ-las em contraste com outra e muito diferente espcie de motivao.

    No ocorreria a ningum pr em dvida a afirmao de que "necessitamos" de iodo ou vitamina e. Quero lem-brar que a prova de que "necessitamos" de amor exa-t amente do mesmo tipo.

    Em anos recentes, um nmero cada vez maior de psiclogos viu-se compelido a postular alguma tendncia para o crescimento ou autoperfeio, a fim de suplementar os conceitos de equilbrio, homeostase, reduo de tenso, defesa e outras mtivaes conservadoras. Isso ocorreu por vrias razes.

    1. Psicoterapia. A presso no sentido da sade tor-na possvel a terapia. um sine qua non absoluto. Se no existisse tal tendncia, a terapia seria inexplicvel, na medida em que vai alm da construo de defesas contra a dor e a ansiedade (6, 142, 50, 67).

    2. Soldados com leses cerebmis. O trabalho de Goldstein ( 55) bem conhecido de todos. Ele considerou necessrio inventar o conceito de individuao para ex-plicar a reorganizao das capacidades da pessoa, depois da leso.

    3. Psicanlise. Alguns analistas, notadamente, Fromm (50) e Horney (67), consideraram impossvel com-preender at as neuroses, a menos que se postule que elas so uma verso destorcida de um impulso para o cresci-mento, a perfeio do desenvolvimento, a plena realizao das possibilidades da pessoa.

  • 50 INTRODUO PSICOLOGIA DO SER

    4. Criatividade. Muita luz est sendo projetada so-bre a questo geral da criatividade pelo estudo do cresci-mento de pessoas sadias, especialmente em contraste com pessoas doentes. Em particular, a teoria da arte e da educao artstica requer um conceito de crescimento e espontaneidade (179, 180).

    5. Psicologia Infantil. A observao de crianas mos-tra-nos cada vez mais claramente que as crianas sadias compnaJzem-se no crescimento e no movimento para diante ou progresso, na aquisio de novas aptides, capacidades e poderes. Isso est em franca contradio com aquela verso da teoria freudiana que concebe cada criana como se ela se aferrasse desesperadamente a cada ajustamento que realiza e a cada estado de repouso ou equilbrio . Segundo essa teoria, a criana relutante e conservadora tem que ser continuamente espicaada para cima, desalo-jando-a do seu confortvel e preferido estado de repouso para jog-la numa nova e aterradora situao.

    Conquanto essa concepo freudiana seja continua-mente confirmada pelos clnicos, ela predominantemente verdadeira no caso de crianas inseguras e assustadas; e, se bem que seja parcialmente verdadeira para todos os seres humanos, ela substancialmente inverdica no caso de crianas sadias, felizes e seguras. Nessas crianas, ob-servamos claramente uma nsia de crescer, de amadu-recer, de abandonar o velho ajustamento como algo im-prestvel e gasto, como um velho par de sapatos. Vemos nelas, com especial clareza, no s a avidez de novas apti-des, mas tambm o mais bvio prazer em desfrut-las repetidamente, aquilo a que Karl Buhler (24) chamou Funktionslust [prazer de funo.]

    Para os autores nesses vrios grupos, notadamente, Fromm (50) , Horney (67), Jung (73), C. Buhler (22), Angyal (6), Rogers (143) e G. Allport (2), Schachtel (147) e Lynd (92), e, recentemente, alguns psiclogos catli-cos (9, 128), crescimento, autonomia, auto-atualizao, in-dividuao, autodesenvolvimento, produtividade, auto-rea-lizao, so todos sinnimos, de uma forma rudimentar, designando mais uma rea vagamente percebida do que um conceito nitidamente definido. Na minha opinio, no possvel definir atualmente essa rea em termos precisos.

  • MOTIVAO DE DEFICINCIA E DE CRESCIMENTO 51

    Tampouco desejvel faz-lo, visto que uma definio que no surge fcil e naturalmente de fatos bem conhecidos mais suscetvel de inibir e destorcer do que de ajudar, porquanto bem provvel que esteja errada ou equivocada se tiver sido estabelecida por um ato de vontade, em bases apriorsticas . Simplesmente, ainda no sabemos o bas-tante sobre crescimento para podermos defini-lo bem.

    O seu significado pode ser mais indioado do que defi-nido, em parte assinalando positivamente e em parte con-trastando negativamente, isto , indicando o que no . Por exemplo, no o mesmo que equilbrio, homeostase, reduo de tenso etc .

    A sua necessidade apresentou-se aos seus proponentes, em parte, por causa da insatisfao decorrente do fato de certos fenmenos recm-observados no serem, simples-mente, cobertos pelas teorias existentes; e, em parte, pela necessidade positiva de teorias e conceitos que servissem melhor aos novos sistemas humanistas de valor que esta-vam surgindo do colapso dos antigos sistemas de valor.

    Contudo, esse tratamento atual deriva, em grande parte, de um estudo direto de indivduos psicologicamente sadios . Esse estudo foi empreendido no s por razes de interesse pessoal e intrnseco, mas tambm para fornecer uma base mais slida teoria da terapia, da patologia e, portanto, de valores . As verdadeiras metas da educao, do adestramento familiar, da psicoterapia e do desenvol-vimento do eu s podem ser descobertas, segundo me parece, por meio desse ataque direto. O produto final do crescimento nos ensina muito sobre os processos de cres-cimento . Num livro recente (97), descrevi o que era aprendido atravs desse estudo e, alm disso, teorizei muito livremente sobre vrias conseqncias possveis, para a Psicologia Geral, desse gnero de estudo direto dos seres humanos bons, em vez de maus, de pessoas sadias, em vez de doentes, do positivo assim como do negativo. (Devo advertir que os dados s podem ser considerados idneos quando o estudo for repetido por outrem. As possibili-dades de projeo so muito concretas num tal estudo e, claro, tm poucas probabilidades de ser percebidas pelo prprio investigador.) Quero agora examinar algumas das diferenas cuja existncia observei entre a vida motiva-cional de pessoas sadias e outras, isto , pessoas motivadas

  • 52 INTRODUO PSICOLOGIA DO SER

    por necessidades de crescimento, em contraste com as que so motivadas pelas necessidades bsicas.

    No que diz respeito ao status motivacional , as pessoas sadias satisfizeram suficientemente as suas necessida-des bsicas de segurana, filiao, amor, respeito e amor-prprio, de modo que so primordialmente motivadas pelas tendncias para a individuao (definida como o processo de realizao de potenciais, capacidades e talen-tos, como realizao plena de misso (ou vocao, destino, apelo), como um conhecimento mais completo e a aceita-o da prpria natureza intrnseca da pessoa, co~o uma tendncia incessante para a unidade, a integrao ou si-nergia, dentro da prpria pessoa).

    A essa definio genrica seria muito prefervel uma definio de carter descritivo e operacional, que por mim j foi publicada (97) . Essas pessoas sadias so a definidas mediante a descrio de suas caractersticas clinicamente observadas. S.o elas :

    1. Percepo superior da realidade. 2. Aceitao crescente do eu, dos outros e da natureza. 3. Espontaneidade crescente. 4 . Aumento de concent rao no problema. 5. Crescente distanciamento e desejo de intimidade. 6. Crescente autonomia e resistncia enculturao. 7. Maior originalidade de apreciao e riqueza de rea-

    o emocional. 8 . Maior freqncia de experincias culminantes. 9. Maior identificao com a espcie human a.

    10. Relaes interpessoais mudadas (o clnico diria, neste caso, melhoradas) .

    11 . Estrutura de ca rter mais democr tica . 12. Grande aumento de criatividade. 13 . Certas mudanas no sistema de valores.

    Alm disso, tambm descrevemos neste livro as limi-taes impostas definio por inevitveis deficincias na amostragem e na acessibilidade dos dados .

    Uma grande dificuldade nessa concepo, tal como foi apresentada at agora, consiste no seu carter algo esttico. A individuao, dado que a tenho estudado sobretudo em pessoas mais velhas, tende a ser vista como um estado final ou ltimo de coisas, uma meta distante, em vez de um processo dinmico e ativo durante a vida inteira, Ser em vez de Vir a Ser .

  • MOTIV AO DE DEFICINCIA E DE CRESCIMENTO 53

    Se definirmos o crescimento como os vrios processos que levam a pessoa no sentido da sua individuao final, ento isso ajusta-se melhor ao fato observado que se est desenrolando o tempo todo, na biografia do indivduo. Tambm desencoraja a concepo gradativa, saltante, de tudo ou nada, da progresso motivacional para a indivi-duao, em que as necessidades bsicas so completamente satisfeitas, uma por uma, antes de surgir na conscincia a necessidade seguinte e mais elevada. Assim, o cresci-mento visto no s como a satisfao progressiva de necessidades bsicas, at ao ponto em que elas "desapa-recem'', mas tambm na forma de motivaes especficas do crescimento, alm e acima dessas necessidades bsicas, por exemplo, talentos, capacidades, tendncias criadoras, potencialidades constitucionais. Dessa maneira, somos tambm ajudados a compreender que necessidades bsicas e individuao no se contradizem entre si mais do que a infncia e a maturidade . Uma pessoa transita de uma para a outra e a primeira condio prvia e necessria da segunda.

    A diferenciao entre essas necessidades de crescimen-to e as necessiddes bsicas, que iremos explorar aqui, uma conseqncia da percepo clnica de diferenas qua-litativas entre a vida motivacional dos que conquistaram a sua prpria autonomia ou individuao e das outras pes-soas. Essas diferenas, abaixo enumeradas, so razoavel-mente, ainda que no perfeitamente, descritas pelos nomes de necessidades por deficincias e necessidades de cresci-mento . claro que nem todas as necessidades fisiolgicas so deficits, por exemplo, sexo, eliminao, sono e re-pouso.

    Em qualquer dos casos, a vida psicolgica da pessoa, em muitos dos seus aspectos, vivida de forma diferente quando ela propensa satisfao das necessidades de deficincia e quando dominada pelo crescimento, ou "metamotivada", ou motivada pelo crescimento ou pela necessidade de individuao. As seguintes diferenas dei-xam isso bem claro. 1. Atitude em Relao ao Impulso: Rejeio de lmfYUlso e Aceitao de lmfYUlso

    Praticamente, todas as teorias histricas e contempo-rneas de motivao se une~ na considerao das neces-

  • 54 INTRODUO PSICOLOGIA DO SER

    sidades, impulsos e estados motivadores, em geral, como importunas, irritantes, indesejveis, desagradveis, enfim, como algo de que nos devemos livrar. O comportamento motivado, a procura de metas, as respostas consumatrias, so tcnicas para reduzir esses tipos de desconforto. Essa atitude assumida, de maneira muito explcita, em nume-rosas descries amplamente usadas da motivao como reduo de necessidade, reduo de tenso, reduo de impulso e reduo de ansiedade.

    Tal abordagem compreensvel na Psicologia Animal e no Behaviorismo, que se baseia to substancialmente no trabalho com animais. possvel que os animais tenham unicamente necessidades por deficincia . Se assim ou no, temos tratado os animais, em todo o caso, corrw se assim fosse, a bem da objetividade. Um objeto-meta tem de ser algo fora do organismo animal, para que possamos medir o esforo despendido pelo animal na realizao desse objetivo .

    Tambm compreensvel que a Psicologia Freudiana tenha sido erguida sobre a mesma atitude em relao motivao, ou seja, que os impulsos so perigosos e devem ser combatidos. No fim de contas, essa Psicologia baseia-se, toda ela, na experincia com pessoas doentes, pessoas que, de fato, sofrem de ms experincias com as suas ne-cessidades, e com as suas satisfaes e frustraes. No admira, pois, que essas pessoas temam ou odeiem at os seus impulsos que lhes causaram tais perturbaes e que elas manipulam to mal; e que uma forma usual de ma-nipulao seja a represso.

    Essa degradao do desejo e da necessidade tem sido, claro, um tema constante ao longo da histria da Filosofia, Teologia e Psicologia. Os esticos, a maioria dos hedonis-tas, praticamente todos os telogos, muitos filsofos pol-ticos e a maior parte dos teorizadores econmicos uniram-se na afirma do fato de que o bem, ou felicidade, ou prazer, essencialmente a conseqncia da melhoria desse desagradvel estado de coisas de carncia, de desejo, de necessidade .

    Para diz-lo da maneira mais sucinta possvel, todas essas pessoas acham que o desejo ou impulso um incon-veniente ou mesmo uma ameaa; e, portanto, tentaro livrar-se dela, neg-lo ou evit-lo.

  • MOTIVAO DE DEFICINCIA E DE CRESCIMENTO 5'5

    Essa assero , por vezes, uma explicao exata do caso . As necessidades fisiolgicas, as necessidades de se-gurana, amor, respeito, informao, constituem, de fato, com freqncia, inconvenientes para muitas pessoas, fato-res de perturbao psquica e geradores de .problemas, es-pecialmente para aquelas que tiveram experincias mal sucedidas na tentativa de satisfaz-las e para aquelas que no podem contar agora com a sua satisfao.

    Contudo, mesmo no caso dessas deficincias, as ale-gaes no sublinham adequadamente o que se passa: podemos aceitar e desfrutar as nossas necessidades e aco-lh-las na conscincia se a) a experincia passada com elas foi satisfatria e b) se podemos contar com a satisfa-o presente e futura. Por exemplo, se uma pessoa sentiu, em geral, prazer em comer e se dispe agora de boa co-mida, o surgimento de apetite na conscincia bem rece-bido, em vez de ser temido. ("O inconveniente de comer que mata o meu apetite.") Algo do mesmo gnero ver-dadeiro no tocante sede, ao sono, ao sexo, s necessidades de dependncia e s necessidades de amor. Contudo, uma refutao muito mais poderosa da teoria da "necessidade--um-inconveniente" encontrada na conscincia emer-gente da motivao de crescimento (individuao) e na preocupao com esta.

    A multido de motivos idiossincrsicos que abran-gida pela designao geral de "individuao" dificilmente pode ser enumerada, visto que cada pessoa tem diferentes talentos, capacidades e potencialidades. Mas algumas ca-ractersticas so gerais para todas elas . E uma que esses impulsos so desejados e bem acolhidos, so desfrutveis e agradveis, a pessoa prefere mais do que menos desses impulsos e, se acaso constituem tenses, so tenses agra-dveis. Usualmente, o criador acolhe favoravelmente os seus impulsos criadores; a pessoa talentosa gosta de usar e expandir os seus talentos.

    simplesmente inexato falar, nesses casos, de reduo de tenso, subentendendo com isso que a pessoa se desen-vencilha de um estado incmodo . Pois esses estados nd so, em absoluto, incmodos. 2. Efeitos Diferenciais da Satisfao

    Quase sempre associ'da s atitudes negativas em relao necessidade est a concepo de que a finalidade

  • 56 INTRODUO PSICOLOGIA DO SER

    primordial do organismo livrar-se da necessidade inc-moda e, por conseguinte, lograr uma cessao de tenso, um equilbrio, uma homeostase, uma aquietao, um esta-do de repouso, uma ausncia de dor.

    O impulso ou necessidade pressiona no sentido da sua prpria eliminao. O seu nico esforo para a cessao, para a sua prpria extino, para um estado de inexis-tncia. Levado ao seu extremo lgico, vamos acabar no instinto de morte de Freud.

    Angyal, Goldstein, G. Allport, C. Buhler, Schachtel e outros criticaram com eficcia essa posio essencialmente circular. Se a vida motivacional consiste, em sua essncia, numa remoo defensiva de tenses irritantes e se o nico produto final da reduo de tenso um estado de ex-pectativa passiva de que surjam mais irritaes indese-jveis que, por seu turno, tero de ser dissipadas, ento como que ocorrem mudanas, como se d o desenvolvi-mento, ou movimento, ou se define uma direo? Por que que as pessoas melhoram ou se aperfeioam ou progri-dem? Como ficam mais experientes ou mais criteriosas? O que significa o gosto pela vida?

    Charlotte Buhler (22) sublinhou que a teoria da h o-meostase diferente da teoria do repouso . Esta ltima teoria fala, simplesmente, de remoo de tenso, o que implica que a tenso zero a melhor. Homeostase signi-fica chegar, no a zero, mas a um nvel timo. Isso quer dizer por vezes, reduo da tenso, outras vezes aumento da tenso, por exemplo, a presso sangunea pode ser ex-cessivamente baixa ou excessivamente elevada .

    Num caso ou noutro, a falta de direo constante durante o perodo de vida bvia . Em ambos os casos, o crescimento da personalidade, os aumentos em sabedoria, individuao, fortalecimento do carter e o planejamento da nossa prpria vida no esto nem podem ser explicados. Algum vector a longo prazo ou tendncia direcional ter de ser invocado para dar sentido ao desenvolvimento du-rante todo o tempo de vida (72) .

    Essa teoria deve ser abandonada como uma descrio inadequada at da prpria motivao por deficincia . O que est faltando, neste caso, a conscientizao do prin-cpio dinmico aue conjuga e relaciona entre .si todos esses distin.tos epis'dlos motivacionais. As diferentes neces.si:-

  • MOTIVAO DE DEFICINCIA E DE CRESCIMENTO 57

    dades bsicas esto mutuamente relacionadas numa ordem hierrquica, de tal modo que a satisfao de uma neces-sidade e sua conseqente remoo do centro do palco provocam no um estado de repouso ou de apatia estica, mas, antes, o aparecimento na conscincia de outra neces-sidade "mais alta"; a carncia e o desejo continuam, mas em nvel "superior". Assim, a teoria de "retorno ao re-pouso" no adequada nem mesmo para a motivao por deficincia .

    Contudo, quando examinamos pessoas que so predo-minantemente motivadas para o crescimento, a concep-o motivacional de "retorno ao repouso " torna-se Gomple-tamente intil. Em tais pessoas, a satisfao gera uma crescente, no decrescente, motivao, uma excitao in-tensificada, no atenuada . Os apetites so intensificados. Avolumam-se e, em vez de auerer cada vez menos, a pessoa quer cada vez mais, por xemplo, educao. Em vez de chegar a um estado de repouso, a pessoa torna-se mais ativa. O apetite de crescimento estimulado pela satis-fao, no aliviado. O crescimento , em si mesmo, um processo compensador e excitante, por exemplo, a reali-zao de anseios e ambies, como ser um bom mdico ; a aquisio de aptides admiradas, como tocar violino ou ser um bom carpinteiro; o recrudescimento constante da compreenso sobre outras pessoas ou sobre o universo, ou sobre ns prprios; o desenvolvimento da criatividade em qualquer campo ou, mais importante ainda, a simples ambio de ser um bom ser humano.

    Wertheimer (172) salientou h muito tempo outro aspecto dessa mesma diferenciao, ao afirmar, num apa-rente paradoxo, que a atividade para a realizao de autnticos objetivos cobre menos de 10 % do seu tempo. A atividade pode ser desfrutada intrinsecamente (a ativi-dade pela atividade) ou ento s tem valor porque cons-titui um instrumento para gerar uma satisfao desejada. Neste ltimo caso, perde o seu valor e deixa de ser agra-dvel quando no consegue ser eficiente ou bem sucedida. Mais freqentemente, no motivo de p1Y'

  • 58 INTRODUO PSICOLOGIA DO SER

    de individuao desfrutam a vida em geral e, praticamente, em todos os seus aspectos, enquanto que as outras pessoas gozam apenas de momentos dispersos de triunfo, de rea-lizao ou de clmax ou experincias culminantes.

    Em parte, essa validade intrnseca da existncia pro-vm da natureza inerentemente agradvel do crescimento e do ser crescido. Mas tambm promana da capacidade das pessoas sadias para transformarem a atividade-meio em experincia-fim, de modo que at a atividade instru-mental desfrutada como se fosse uma atividade final (97). A motivao do crescimento pode ter um carter a longo prazo. A maioria do tempo de vida poder estar envol-vida em tornarmo-nos bons psiclogos ou bons artistas. Todas as teorias de equilb1io, ou homeostase, ou repouso, tratam apenas de episdios a curto prazo, cada um dos quais nada tem a ver com os outros. Allport, em parti-cular, sublinhou esse ponto. Traar planos e pensar no futuro, acentuou ele, fazem parte da substncia central ou da natureza humana sadia. Concorda Allport (2) que "os motivos de deficit requerem, de fato, a