interrogatÓrio sintomatolÓgico (is) parte 1 · revisão de sistemas, constitui, na verdade, um...

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1 INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO (IS) PARTE 1 Essa parte da anamnese, denominada também anamnese especial ou revisão de sistemas, constitui, na verdade, um complemento da história atual. O IS documenta a presença ou ausência de sintomas comuns relacionados com cada um dos principais sistemas corporais. Além disso, é comum o paciente não relatar um ou outro sintoma durante a elaboração da história da doença atual. Tais omissões não querem dizer, necessariamente, que tudo foi informado. Simples esquecimento ou medo inconsciente de determinados diagnósticos podem levar o paciente a não se referir a padecimentos de valor crucial para chegar a um diagnóstico. OBS 1 : Para tirar o máximo proveito das atividades práticas, o estudante registrará os sintomas presentes e os negados pelo paciente. A principal utilidade prática do IS reside no fato de permitir ao médico levantar possibilidades e reconhecer enfermidades que não guardam relação com o quadro sintomatológico registrado na HDA. Em outras ocasiões, é no IS que se origina a suspeita diagnóstica mais importante. ATENÇÃO! Enquanto se avalia o estado de saúde passado e presente de cada sistema corporal, aproveita-se para promover saúde, orientando e esclarecendo o paciente sobre maneiras de prevenir doenças e evitar riscos à saúde.

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Page 1: INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO (IS) PARTE 1 · revisão de sistemas, constitui, na verdade, um complemento da história atual. ... PORTO, C.C. Semiologia Médica. 7ª ed. Rio de

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INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO (IS) PARTE 1

Essa parte da anamnese, denominada também anamnese especial ou

revisão de sistemas, constitui, na verdade, um complemento da história atual.

O IS documenta a presença ou ausência de sintomas comuns

relacionados com cada um dos principais sistemas corporais.

Além disso, é comum o paciente não relatar um ou outro sintoma

durante a elaboração da história da doença atual. Tais omissões não querem

dizer, necessariamente, que tudo foi informado. Simples esquecimento ou

medo inconsciente de determinados diagnósticos podem levar o paciente a não

se referir a padecimentos de valor crucial para chegar a um diagnóstico.

OBS1: Para tirar o máximo proveito das atividades práticas, o estudante

registrará os sintomas presentes e os negados pelo paciente.

A principal utilidade prática do IS reside no fato de

permitir ao médico levantar possibilidades e reconhecer

enfermidades que não guardam relação com o quadro

sintomatológico registrado na HDA.

Em outras ocasiões, é no IS que se origina a suspeita

diagnóstica mais importante.

ATENÇÃO!

Enquanto se avalia o estado de saúde passado e

presente de cada sistema corporal, aproveita-se para

promover saúde, orientando e esclarecendo o paciente

sobre maneiras de prevenir doenças e evitar riscos à

saúde.

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SISTEMATIZAÇÃO DO INTERROGATÓRIO

SINTOMATOLÓGICO

Sintomas gerais;

Pele e fâneros;

Cabeça e pescoço;

Tórax;

Abdome;

Sistema geniturinário;

Sistema hemolinfopoético;

Sistema endócrino;

Coluna vertebral, ossos, articulações e extremidades;

Músculos;

Artérias, veias, linfáticos e microcirculação;

Sistema nervoso;

Exame psíquico e avaliação das condições emocionais.

o SINTOMAS GERAIS

Febre – sensação de aumento da temperatura corporal acompanhada

ou não de outros sintomas (cefaleia, calafrios, sede, etc);

Astenia – sensação de fraqueza;

Alterações do peso – especificar ganho ou perda de peso, quantos

quilos, intervalo de tempo e motivo (dieta, estresse, outros fatores);

Sudorese – eliminação abundante de suor. Generalizada ou

predominante nas mãos e pés;

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Calafrios – sensação momentânea de frio com ereção de pelos e

arrepiamento da pele. Relação com febre;

Cãibras – contrações involuntárias de um músculo ou grupo muscular;

o PELE E FÂNEROS

Alterações da pele – cor, textura, umidade, temperatura, sensibilidade,

prurido, lesões;

Alterações de fâneros – queda de cabelos, pelos faciais em mulheres,

alterações nas unhas

OBS2: Exposição solar (hora do dia, uso de protetor solar) cuidados com

pele e cabelos (bronzeamento artificial, tinturas)

o CABEÇA E PESCOÇO

CRÂNIO, FACE E PESCOÇO:

Dor – localizar o mais corretamente possível a sensação dolorosa, a

partir daí indaga-se sobre as outras características semiológicas da dor;

Alterações do pescoço – dor, tumorações, alterações dos movimentos,

pulsações anormais;

OLHOS:

Diminuição ou perda da visão – uni ou bilateral, súbita ou gradual,

relação com a intensidade da iluminação, visão noturna, correção

(parcial ou total) com óculos ou lentes de contato;

Dor ocular e cefaleia – bem localizada pelo paciente ou de localização

imprecisa no globo ocular;

Sensação de corpo estranho – sensação desagradável, quase sempre

acompanhada de dor;

Prurido – sensação de coceira;

Queimação ou ardência – acompanhando ou não a sensação dolorosa;

Lacrimejamento – eliminação de lágrimas, independentemente do choro;

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Sensação de olho seco – sensação de secura, como se o olho não

tivesse lágrimas;

Xantopsia – visão amarelada;

Iantopsia – visão violeta;

Cloropsia – visão verde;

Diplopia – visão dupla, constante ou intermitente;

Fotofobia – hipersensibilidade à luz;

Nistagmo – movimentos repetitivos rítmicos dos olhos, tipo de nistagmo;

Estocomas – manchas ou pontos escuros no campo visual, descritos

como manchas, moscas que voam diante dos olhos ou pontos

luminosos;

Secreção – líquido purulento que recobre as estruturas externas do olho;

Vermelhidão – presença de congestão de vasos na esclerótica;

Alucinações visuais – sensação de luz, cores ou reproduções de objetos;

OBS3: Lembrar de perguntar pelo uso de óculos ou lentes de contato e

quando foi realizado o último exame oftálmico.

OUVIDOS:

Dor – localizada ou irradiada de outra região;

Otorreia – saída de líquido pelo ouvido;

Otorragia – perda de sangue pelo canal auditivo, relação com

traumatismo;

Transtornos da acuidade auditiva – perda parcial ou total da audição, uni

ou bilateral; início súbito ou progressivo;

Zumbidos – sensação subjetiva de diferentes tipos de ruídos

(campainha, grilos, apito, chiado, cachoeira, jato de vapor, zunido);

Vertigem e tontura – sensação de estar girando em torno dos objetos

(vertigem subjetiva), ou os objetos girando em torno de si (vertigem

objetiva);

OBS4: Perguntar sobre uso de aparelhos auditivos, exposição a ruídos

ambientais, uso de equipamentos de proteção individual (EPI), limpeza do

pavilhão auditivo (cotonete, outros objetos, pelo médico).

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NARIZ E CAVIDADES PARANASAIS:

Prurido – pode resultar de doença local ou sistêmica;

Dor – localizada no nariz ou na face. Verificar todas as características

semiológicas da dor;

Espirros – isolados ou em crises. Indagar em que condições ocorrem,

procurando detectar locais ou substâncias relacionadas com os espirros;

Obstrução nasal – rinorreia; aspecto do corrimento (aquoso, purulento,

sanguinolento); cheiro;

Corrimento nasal – aspecto do corrimento (aquoso, purulento,

sanguinolento);

Epistaxe – hemorragia nasal;

Dispneia – falta de ar;

Diminuição do olfato – diminuição (hiposmia) ou abolição (anosmia);

Aumento do olfato – transitório ou permanente;

Alterações do olfato – percepção anormal de cheiros;

Cacosmia – consiste em sentir mau cheiro sem razão para tal;

Parosmia – perversão do olfato;

Alterações da fonação – voz anasalada (rinolalia).

CAVIDADE BUCAL E ANEXOS:

Alterações do apetite – polifagia ou hiperorexia; inapetência ou anorexia;

perversão do apetite (geofagia ou outros tipos);

Sialose – excessiva produção de secreção salivar;

Halitose – mau hálito;

Dor – dor de dente, nas glândulas salivares, na língua (glossalgia), na

articulação temporomandibular. Trismo;

Ulcerações/sangramentos – causa local ou doença do sistema

hemopoético;

OBS5: Perguntar sobre a escovação de dentes e língua (vezes/dia) e

quando foi o último exame odontológico.

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FARINGE:

Dor de garganta – espontânea ou provocada pela deglutição. Verificar

todas as características semiológicas da dor;

Dispneia – dificuldade para respirar relacionada com a faringe;

Disfagia – dificuldade de deglutir localizada na bucofaringe (disfagia

alta);

Tosse – seca ou produtiva;

Halitose – mau hálito;

Pigarro – ato de raspar a garganta;

Ronco – pode estar associado à apneia do sono.

LARINGE:

Dor – espontânea ou à deglutição. Verificar as outras características

semiológicas da dor;

Dispneia – dificuldade para respirar;

Alterações da voz – disfonia; afonia; voz lenta e monótona, voz fanhosa

ou anasalada;

Tosse – seca ou produtiva; tosse rouca; tosse bitonal;

Disfagia – disfagia alta;

Pigarro – ato de raspar a garganta;

OBS6: Perguntar sobre os cuidados com a voz (gargarejos, produtos

utilizados).

TIREOIDE E PARATIREOIDES:

Dor – espontânea ou à deglutição. Verificar as outras características

semiológicas;

Outras alterações – nódulos, bócio, rouquidão, dispneia, disfagia.

VASOS E LINFONODOS:

Dor – localização e outras características semiológicas;

Adenomegalias – localização e outras características semiológicas;

Pulsações e turgência jugular.

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o TÓRAX

PAREDE TORÁCICA:

Dor – localização e demais características semiológicas, em particular

a relação da dor com os movimentos do tórax;

Alterações da forma do tórax – alterações localizadas na caixa torácica

como um todo;

Dispneia – relacionada com dor ou alterações da configuração do

tórax;

MAMAS:

Dor – relação com a menstruação e outras características

semiológicas;

Nódulos – localização e evolução; modificações durante o ciclo

menstrual;

Secreção mamilar – uni ou bilateral, espontânea ou provocada; aspecto

da secreção.

OBS7: Perguntar se realiza o autoexame mamário; quando fez a última

mamografia/USG (mulheres > 40 anos).

TRAQUEIA, BRÔNQUIOS, PULMÕES E PLEURAS:

Dor – localização e outras características semiológicas;

Tosse – seca ou com expectoração. Frequência, intensidade,

tonalidade, relação com o decúbito, período em que predomina;

Expectoração – volume, cor, odor, aspecto e consistência. Tipos de

expectoração: mucoide, serosa, purulenta, mucopurulenta, hemoptoica;

Hemoptise – eliminação de sangue pela boca, através da glote,

proveniente dos brônquios ou dos pulmões. Obter os dados para

diferenciar a hemoptise da epistaxe e da hematêmese;

Vômica – eliminação súbita, através da glote, de quantidade abundante

de pus ou liquido de aspecto mucoide ou seroso;

Dispneia – relação com esforço ou decúbito; instalação súbita ou

gradativa; relação com tosse ou chieira; tipo de dispneia;

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Chieira – ruído sibilante percebido pelo paciente durante a respiração;

relação com tosse e dispneia; uni ou bilateral; horário em que

predomina;

Cornagem – ruído grave provocado pela passagem de ar pelas vias

respiratórias altas reduzidas de calibre;

Estridor – respiração ruidosa, algo parecido com cornagem;

Tiragem – aumento da retração dos espaços intercostais.

DIAFRAGMA E MEDIASTINO:

Dor – localização e demais características semiológicas;

Soluço – contrações espasmódicas do diafragma, concomitantes com o

fechamento da glote, acompanhadas de um ruído rouco. Isolados ou

em crises;

Dispneia – dificuldade respiratória;

Sintomas de compreensão – relacionados com o comprometimento do

simpático, do nervo recorrente do frênico, das veias cavas, das vias

respiratórias e do esôfago;

OBS8: Perguntar sobre exposição a alergênicos (qual); última radiografia

de tórax.

CORAÇÃO E GRANDES VASOS:

Dor – localização e outras características semiológicas; dor isquêmica

(angina do peito e infarto do miocárdio); dor da pericardite; dor de

origem aórtica; dor de origem psicogênica;

Palpitações – percepção incômoda dos batimentos cardíacos; tipo de

sensação, horário de aparecimento, modo de instalação e

desaparecimento; relação com esforço ou outros fatores

desencadeantes;

Dispneia – relação com esforço e decúbito; dispneia paroxística

noturna; dispneia periódica ou de Cheyne-Stokes;

Intolerância aos esforços – sensação desagradável ao fazer esforço

físico;

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Tosse e expectoração – tosse seca ou produtiva; relação com esforço

e decúbito; tipo de expectoração (serosa, serosanguinolenta);

Chieira – relação com dispneia e tosse; horário em que predomina;

Hemoptise – quantidade e características do sangue eliminado. Obter

dados para diferenciar da epistaxe e da hematêmese;

Desmaio e síncope – perda súbita e transitória, parcial ou total, da

consciência; situação em que ocorreu; duração; manifestações que

antecederam o desmaio e que vieram depois;

Alterações do sono – insônia, sono inquieto;

Cianose – coloração azulada da pele; época do aparecimento (desde o

nascimento ou surgiu em tempos depois); intensidade; relação com

choro e esforço;

Edema – época em que apareceu; como evoluiu; região em que

predomina;

Astenia – sensação de fraqueza;

Posição de cócoras – o paciente fica agachado, apoiando as nádegas

nos calcanhares.

OBS9: Perguntar se o paciente está exposto a fatores estressantes; último

check-up cardiológico.

ESÔFAGO:

Disfagia – dificuldade à deglutição; disfagia alta (bucofaríngea); disfagia

baixa (esofágica);

Odinofagia – dor retroesternal durante a deglutição;

Dor – independente da deglutição;

Pirose – sensação de queimação retroesternal; relação com a ingestão

de alimentos ou medicamentos; horário em que aparece;

Regurgitação – volta à cavidade bucal de alimento ou de secreções

contidas no esôfago ou no estômago;

Eructação – relação com a ingestão de alimentos ou com alterações

emocionais;

Soluço – horário em que aparece; isolado ou em crise; duração;

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Hematêmese – vômito de sangue; características do sangue eliminado;

diferenciar de epistaxe e de hemoptise;

Sialose (sialorreia ou ptialismo) – produção excessiva de secreção

salivar.

o ABDOME

PAREDE ABDOMINAL

Dor - Localização e outras características semiológicas

Alt e do volume - c

Dor -

-

Dispepsia - Con

empanzinament

Pirose - Sensação de queimação retroesternal.

INTESTINO DELGADO

Dor -

Diarreia - fezes.

Esteatorreia - Aumento da quantidade de gorduras excretadas nas

fezes..

- de

alimentos.

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OBS: Hemorragia digestiva

melena enterorragia

Dor -

Diarreia - desinteria,

- aspecto das fezes.

Sangramento anal -

Prurido -

-

Dor -

fezes;

prurido.

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CREAS

Dor - gicas.

- fezes;

prurido.

Diarreia e esteatorreia -

-

REFERÊNCIA

PORTO, C.C. Semiologia Médica. 7ª ed. Rio de janeiro. Guanabara, 2014;