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Interpretação dos Contratos FMU Prof. Rodrigo Ribeiro Bastos 2

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Interpretação dos Contratos

FMU

Prof. Rodrigo Ribeiro Bastos 2

Anderson Schreiber

Como saber qual o sentido correto?

Interpretar é: (1)  revelar todos os sentidos possíveis da norma; e (2) eleger, dentre os vários sentidos possíveis, o mais razoável à luz (i) dos vários elementos ou aspectos da norma (literalidade, história, fins, valores etc.) e (ii) das várias regras de interpretação.

Não há sentido correto

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Anderson Schreiber

O Objeto da Interpretação

O problema do In claris non fit interpretatio

A clareza como “conseqüência frágil” da interpretação

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Anderson Schreiber

Elementos de Interpretação

1.  Elemento Literal, Gramatical ou Filológico

Código Civil de 2002 Art. 488. Convencionada a venda sem fixação de preço ou de critérios para a sua determinação, se não houver tabelamento oficial, entende-se que as partes se sujeitaram ao preço corrente nas vendas habituais do vendedor. Parágrafo único. Na falta de acordo, por ter havido diversidade de preço, prevalecerá o termo médio.

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Anderson Schreiber

Elementos de Interpretação

2 Elemento Lógico-Sistemático Código Civil de 2002 Art. 489. Nulo é o contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbítrio exclusivo de uma das partes a fixação do preço.

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Anderson Schreiber

Elementos de Interpretação

3. Elemento Histórico Lei de Introdução ao Código Civil (1942) Art. 9o. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. (...)

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Anderson Schreiber

Elementos da Interpretação

4. Elemento Teleológico Art. 32. É proibido o ingresso de cães.

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Anderson Schreiber

Elementos de Interpretação

5. Elemento Axiológico

Direito Civil-Constitucional Exemplo do bem de família Lei 8.009/90 , art. 6º (EC 26)

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Como aplicar os elementos aos Contratos?

(i)  literal - redação da cláusula (ii)  lógico-sistemático - cotejo das cláusulas com outras

cláusulas do mesmo contrato e com as normas gerais do ordenamento jurídico

(iii)  histórico - negociações preliminares ao contrato, eventuais minutas trocadas e discutidas pelos advogados, e outros dados que contribuíram para a formação do contrato

(iv) teleológico - fim buscado pelas partes com aquele contrato e com a cláusula contratual específica

(v)  axiológico - valores que o ordenamento pretende tutelar por meio dos contratos, a função social do contrato, a solidariedade social etc.

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Anderson Schreiber

Regras Legais de Interpretação Contratual

(1) Intenção das Partes Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.

Diferença fundamental com a interpretação das leis

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Interpretação e Qualificação dos Contratos – Anderson Schreiber

Regras Legais de Interpretação Contratual

(2) Interpretação conforme a boa-fé e os usos do lugar Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

Boa-fé Objetiva

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Anderson Schreiber

Regras Legais de Interpretação Contratual

Função hermenêutica da boa-fé objetiva Padrão de comportamento leal e transparente “Cláusula 7a. Findo este Contrato de Locação, o Locatário é obrigado a entregar o Imóvel em boas condições, pintado, e com todos os acessórios listados no Anexo I – Inventário dos Bens Móveis (...)”

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Regras Legais de Interpretação Contratual

Boa-fé objetiva Valorização do comportamento das partes como instrumento de interpretação Venire contra factum proprium

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Regras Legais de Interpretação Contratual

Boa-fé objetiva “Denota-se, assim, que a almejada declaração de nulidade do título exeqüendo está nitidamente em descompasso com o proceder anterior do recorrente (a ninguém é lícito venire contra factum proprium). (…) Interpretação que conferisse o desate pretendido pelo recorrente, no sentido de que se declare a inexeqüibilidade do contrato entabulado entre as partes, em razão de vício formal, afrontaria o princípio da razoabilidade, assim como o da própria boa-fé objetiva, que deve nortear tanto o ajuste, como o cumprimento dos negócios jurídicos em geral.” (STJ, REsp 681.856/RS)

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Anderson Schreiber

Regras Legais de Interpretação Contratual

(33) Interpretação restritiva dos contratos gratuitos

Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. “Cláusula 19. O Fiador neste ato renuncia expressamente ao benefício de ordem, estando o Credor apto a cobrá-lo da forma mais plena e mais eficiente.”

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Anderson Schreiber

Regras Legais de Interpretação Contratual

(4) Interpretação pró-aderente Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. (5) Interpretação pró-consumidor Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.

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Anderson Schreiber

Regras Legais de Interpretação Contratual

Planos de Saúde “Cláusula 8a. Estão excluídos de cobertura neste contrato: i)  casos crônicos e suas conseqüências (...)”

A questão da Função Social do Contrato como suposto fundamento para a exclusão de limites contratuais

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Anderson Schreiber

Regras Costumeiras de Interpretação Contratual

(1) Não há palavras inúteis na norma CC1916: Art. 485. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício pleno, ou não, de algum dos poderes inerentes ao domínio, ou propriedade.

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Anderson Schreiber

Regras Convencionais de Interpretação Contratual

Ainda (1) Não há palavras inúteis na norma Resolução 2770, CMN: “Art. 11. O descumprimento das disposições desta Resolução sujeita os responsáveis às penalidades previstas na legislação e na regulamentação em vigor, sem prejuízo da aplicação de outras sanções cabíveis.”  

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Anderson Schreiber

Regras Convencionais de Interpretação Contratual

Palavras Inúteis no Novo Código Civil

"Art. 1.072. (...) §1o. A deliberação em assembléia será obrigatória se o número dos sócios for superior a 10 (dez). (...) §6o. Aplica-se às reuniões dos sócios, nos casos omissos no contrato, o disposto na presente Seção sobre a assembléia." "Art. 1.079. Aplica-se às reuniões dos sócios, nos casos omissos no contrato, o estabelecido nesta Seção sobre a assembléia, obedecido o disposto no §1o. do art. 1.072."

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Regras Convencionais de Interpretação Contratual

Palavras Inúteis em Contratos

“Cláusula 11 - Qualquer tolerância, exercício parcial ou concessão entre as partes no exercício de seus direitos será considerada mera liberalidade, e não configurará renúncia ou abdicação, ou resultará na perda de qualquer direito, faculdade, privilégio, prerrogativa, ou poderes conferidos, nem implicará em novação, alteração, transigência, transação, remissão, modificação ou redução dos direitos e obrigações daqui decorrentes.”

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Anderson Schreiber

Regras Convencionais de Interpretação Contratual

Palavras Inúteis em Contratos

“Cláusula VII – Em caso de não-reedição, o Autor renuncia, desde já, a pleitear em juízo, reivindicar ou cobrar direta ou indiretamente da Editora qualquer valor, quantia ou montante.”

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Anderson Schreiber

Regras Convencionais de Interpretação Contratual

(2) Entre duas ou mais interpretações possíveis, deve-se optar por aquela que não invalida ou torna ineficaz a cláusula contratual. “Artigo III. Além do Espaço (conforme descrito no Anexo), o Cedente fornecerá à Cessionária equipamento de iluminação, estrutura básica de desenvolvimento e edição de som e imagem, instalações e rede contínua de energia elétrica, disponibilizando também técnicos especializados em manutenção.”

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Regras Convencionais de Interpretação Contratual

Ainda (2) Interpretação Pró-Validade.

“Cláusula 9a. Direitos do Banco. O Banco poderá a qualquer tempo reavaliar a capacidade de pagamento do Cliente, que cooperará com a reavaliação fornecendo os dados necessários, bem como poderá cancelar, a seu exclusivo critério, o Contrato.”

CDC, art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas (...) que: XI – autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor

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Anderson Schreiber

Cláusulas Restritivas de Interpretação

Cláusula 22 – O título das cláusulas deste Contrato não afetará a interpretação acerca do seu conteúdo.

Cláusula 33 – Este Contrato substitui todos os acordos orais ou escritos celebrados previamente entre as partes, e sua validade e interpretação não serão afetadas por minutas ou documentos preliminares trocados entre as partes.

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Anderson Schreiber

Casos controversos

Contrato de Compra e Venda de Ações

6.1. Todos os Vendedores, no que se refere a atos, fatos, contingências, ações ou processos existentes e que não estejam provisionados no Balanço de Fechamento de 31.8.1998 e que não tenham sido considerados para determinação do preço, como indicado na coluna garantia de passivo do Anexo 4, serão, individual e solidariamente entre si, responsáveis perante à Compradora.

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Anderson Schreiber

O debatido ‘como’... “O debatido ‘como’ assume caráter indicativo, denotando ‘conformidade’ à listagem prevista no anexo que integra o instrumento contratual. Nem se poderia entender diversamente. Em que pesem os argumentos da parte ré, a interpretação que atribui ao contrato não reservaria à listagem qualquer utilidade, contrariando princípio geral de direito, de secular sabedoria, segundo o qual na norma não há palavras inúteis. (...) Ademais, a responsabilidade do vendedores não é, na hipótese contratada, a regra da lei, daí mesmo ter sido prevista no contrato, sua fonte única. Não sendo da regra, tal responsabilidade é de ser interpretada de modo restritivo, a exemplo do que dispõe a codificação brasileira em seu art. 114. (...) Nada é devido pelos vendedores, a título daquelas dívidas que devem ser assumidas como parte do risco do negócio.”

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Anderson Schreiber

O Caso do Jogador de Golfe Contrato de Patrocínio Cláusula 12. O presente contrato resolver-se-á de pleno direito, independentemente de notificação judicial ou extrajudicial, e sem direito a perdas e danos de quem quer que seja, se (i) o Patrocinado vier a sofrer doença grave, ou lesão que o incapacite para a prática do esporte; (...)

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Anderson Schreiber

O caso do Jogador de Golfe “As minutas anteriormente trocadas entre as partes revelam o real intento dos contratantes (...) A finalidade evidente da cláusula resolutiva era impedir a manutenção do vínculo obrigacional diante de um estado de saúde que impedisse o prosseguimento na prática desportiva, objeto último do contrato. (...) A boa-fé objetiva impõe que se conserve o contrato sempre que dele se possa extrair resultado útil ao interesse originário de ambas as partes. Recomenda, ainda, que não se abandone o parceiro contratual em momento delicado como o da descoberta de enfermidade congênita (...)”

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DA CESSÃO DE DIREITOS EM FAVOR DA CONTRATANTE.

Cláusula 3.1. A Contratada e a Interveniente, por este instrumento e na melhor forma de direito, cedem e transferem à Contratante, bem como autorizam que esta utilize, a título universal, de forma irrevogável e irretratável (...) os direitos sobre a imagem e sobre a voz da Interveniente, bem como os direitos autorais patrimoniais sobre suas atuações, interpretações e execuções, reconhecendo, ainda, expressamente, que a Contratante será a única e exclusiva titular de todos os direitos autorais patrimoniais sobre a Obra, seus extratos, trechos ou partes, sobre todos os direitos autorais patrimoniais, de imagem e voz da Interveniente, independentemente do suporte em que venha a ser posteriormente fixada, bem como sobre o(s) personagem(ns) pela Interveniente interpretado (s) por ocasião do presente contrato.

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Anderson Schreiber

DA CESSÃO DE DIREITOS EM FAVOR DA CONTRATANTE.

Cláusula 3.2.. Em virtude do disposto no item 3.1. acima, declaram a Contratada e a Interveniente que a Contratante, na qualidade de única e exclusiva detentora de todos os direitos patrimoniais autorais sobre a Obra contendo a interpretação, imagem e voz da interveniente poderá livremente dela dispor, bem como de seus extratos, trechos ou partes, dando-lhe qualquer utilização econômica, sem que à contratada e/ou à Interveniente caiba qualquer remuneração ou compensação, além daquelas estipuladas no presente instrumento.

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Anderson Schreiber

“Por certo que a cláusula procura evitar que a interveniente e contratada explorem a ´obra´ pronta, mas não quer dizer que o ´passe´ da autora fora comprado de forma definitiva pela primeira ré. (...) Ora, a disposição elencada na cláusula acima destacada pode ser entendida como a intenção da primeira ré em fazer a publicidade e divulgação da ´obra´. (...) Portanto, não há no contrato questionado, a princípio, previsão de exploração da obra e imagem da autora para promover produtos de terceiros, fato que deverá ser objeto de prova em juízo de cognição exauriente. (...) Isto posto, presentes os requisitos legais do artigo 273 do Código de Processo Civil, CONCEDO a antecipação dos efeitos da tutela para determinar que a segunda ré, Todeschini S/A Indústria e Comércio, proceda a retirada, no prazo de 48 horas, de todas as publicidades e mídias com a imagem da autora vinculada aos seus produtos, sob pena de multa diária que fixo em R$ 10.000,00 (dez mil reais). P.R.I.” (Processo n.º 2009.001.117778-7 Autora: Glória Maria Cláudia Pires de Morais) Prof. Rodrigo Ribeiro Bastos 33