internacao compulsoria crp

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saude mental; psiquiatria

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  • CONSIDERANDO QUE:

    A internao compulsria, prevista em lei, uma medida tomada em casos pontuais e especficos, respaldada por ordem judicial, indicada apenas quando a pessoa est pondo em risco sua prpria vida ou a de terceiros e quando j se esgotaram todos os outros recursos de interveno; A internao compulsria uma poltica governamental que no se configura como cuidado, mas como uma violncia do Estado populao; A internao compulsria apenas contribui para a excluso e o isolamento social, sem trazer benefcios para o (a) usurio (a) de crack, lcool e outras drogas; A internao compulsria, como medida nica e sensa-cionalista, uma clara violao dos direitos e dos princpios da Reforma Psiquitrica Antimanicomial.

    Posicionamo-nos CONTRRIOS a poltica de Internao Compulsria de usurios (as) de crack, lcool e outras drogas e reiteramos as razes para defender o tratamento com LIBERDADE e DIGNIDADE:

    Toda pessoa tem direito ao acesso a servios ordenados e organizados para garantia da promoo, preveno, proteo, tratamento e recuperao da sade; direito de todos (as) ter atendimento adequado, com qualidade, no tempo certo e com garantia de continuidade do tratamento; direito da pessoa, na rede de servios de sade, ter atendi-mento humanizado, acolhedor, livre de qualquer discriminao, restrio ou negao em virtude de idade, raa, cor, etnia, religio, orientao sexual, identidade de gnero, condies econmicas ou sociais, estado de sade, de anomalia, patologia ou deficincia; Nas situaes de urgncia/emergncia, qualquer servio de sade deve receber e cuidar da pessoa, bem como encaminh-la para outro servio caso necessrio; Todos (as) tm direito a informaes claras sobre as diferentes possibilidades teraputicas, a escolher outras formas de tratamento e liberdade de aceitar ou recusar a liberdade de aceitas ou recusar a proposta oferecida;

    Cada pessoa deve responsabilizar-se pela recusa a procedimen-tos, exames ou tratamentos recomendados e pelo descumprimento das orientaes do(a) profissional ou da equipe de sade; O isolamento como forma de tratamento possibilita maus-tratos, pois essas pessoas deixam de ter o contato, a convivncia e o cuidado de seus (suas) familiares e de sua comunidade de referncia; Existem, no Brasil, municpios nos quais gestores(as), trabalhadores(as), familiares e usurios(as) trabalham juntos(as) para cuidar dignamente da sade mental da populao usuria de crack, lcool e outras drogas, nesses municpios foram criados os seguintes servios: Centros de Ateno Psicossocial de Alcool e Drogas (CAPS AD), Leitos em Hospitais Gerais, Casas de Acolhimento Transitrio, Consultrios de Rua e outras invenes que so necessrias para garantir o cuidado em liberdade; O atendimento de sade somente um dos servios necessrios s pessoas que usam drogas. As aes de cuidado devem acontecer em conjunto com projetos de moradia, gerao de trabalho e renda, qualifi-cao do espao urbano, educao, lazer, esporte, cultura, etc; As sociedades h muito tempo convivem com diversas drogas, lcitas ou ilcitas. As pessoas que usam drogas de forma prejudicial precisam de acolhida, dignidade, apoio, amizade e de redes pblicas de ateno que garantam cuidado, cidadania e liberdade; As chamadas crackolndias so efeitos da negligncia pblica e hipocrisia social. A populao moradora desses locais no tm casa, no tm famlia, est numa situao dramtica nas ruas. Precisamos contribuir para buscar uma soluo, que no a de recolhimento e isolamento por meio de corporaes policiais; Toda pessoa tem o direito de estar e permanecer na rua. O atendi-mento populao em situao de rua passa pela aproximao grada-tiva, criao de vnculos e confiana pessoal dos(as) usurios(as) com os(as) profissionais, e, aos poucos, a incluso das pessoas nos servios a partir das demandas reveladas por cada um(a); A Internao Compulsria representa uma falsa ideia de soluo mgica, que leva a sociedade a aceitar medidas sem a reflexo necessria. Os (As) familiares so levados (as) a crer que esta a nica soluo para os problemas enfrentados, justificando e legitimando a violncia contra estes cidados (s);

    Sem um tratamento que inclua o apoio da famlia e a ateno psicossocial, o isolamento promovido pela internao compulsria violento com a pessoa que j est debilitada pelo uso abusivo. Alm disso, uma medida que no tem efeito: dados de pesquisas comprovam que 98% dos (as) que so internados contra a sua vontade voltam ao uso e, consequentemente, so reinternados (as); A poltica de internao compulsria uma das formas de fazer o repasse de dinheiro publico a entidades privadas: as chama-das Comunidades Teraputicas. O Sistema Conselhos e outros rgos tm reiteradamente denunciado as situaes extrema-mente graves de violao de direitos, nas quais se praticam torturas, sendo a vida humana reduzida a condies precrias, cada vez mais afastados da dignidade e da possibilidade de recuperao.

    No podemos esquecer que quem usa drogas vizinho(a), pai/me, filha/filho, irmo/irm, amigo/amiga, parente de algum, meu(minha) ou seu(sua). Precisamos superar a ideia de que o(a) usurio(a) de drogas no tem autonomia sobre o atestado de sade, perigoso, perdido ou irrecupervel. No podemos voltar aos tempos em que isolvamos os leprosos e tuberculosos e os abandonvamos sua prpria sorte!

    (Vide: http://site.cfp.org.br/publicacao/relatorio-da-4a-inspecao-nacional-de-direitos-humanos-locais-de-internacao-para-usuarios-de-drogas-2a-edicao/)